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própria. Quer dizer que você levanta cedo, arruma sua casa, dá café a
seus filhos, quando é sete e meia, oito horas, você tá descansada, aí
trabalha até onze horas, onze e meia, você pára e vai fazer a comida, dá
pra você cuidar dos seus filhos suficientes, ganhar seu dinheirinho. É
pouco, mas foi assim que eu criei meus filhos, e hoje tem uma filha que tá
criando os dela assim também. Ela sobrevive disso aqui, sobrevive de tudo,
de roupa, calçado, de comer. Mas é como eu tô dizendo, não é comendo
como tem que se comer, o suficiente, mas sobrevive, nunca deu pra morrer
não.
Assim é que a palmeira Syagrus Coronata, o licuri, é considerada “ouro” verde
no sertão da Bahia, exatamente por conta de sua utilidade para sustentar famílias
inteiras, como bem disse Gervácio Maciel.
Além de todas as potencialidades já apresentadas, o licuri também foi
utilizado como cosmético, principalmente pelas mulheres que, de maneira bastante
artesanal, fabricavam o óleo de licuri para hidratar o cabelo e a pele. Anatilde da
Silva conta como é o processo de fabricação:
Olha, é assim. Você quebra o licuri, quebra depois tira, e depois pega mais
os caroços depois de tirado. Torra, bota na torradeira, torra, quando ele
tiver torradinho, de acordo como você quiser ou mais queimado ou mais
cru um pouquinho. Aí bota no pilão ou no moinho, depois que tá
machucadinho, depois que ele tiver oleoso, bem oleoso, bem pisadinho,
que você embalança ele assim, ela já tá pingando, é porque já tá o óleo,
certo? Aí, você bota um tacho de água no fogo, quando a água tiver
fervendo você joga dentro o licuri pisado. Ele cozinha bem e o bagaço fica
no fundo e óleo na beirada, aquele caldo. Você tira o óleo e bota em outra
vasilha e bota ele pra apurar, ele ferve, ferve, ferve. Você pega um tição de
fogo e joga dentro; se ele não zoar, já tá no óleo puro, não tem nada de
água, apuradinho, apuradinho. Aí você bota numa vasilha pra esfriar e
depois é só usar.
É importante enfatizar que os extrativistas, independente da idade e sexo,
cônscios do potencial da palmeira utilizavam-na para diferentes fins. Mas não se
pode negar que, em muitas atividades provenientes do ouricuri (artesanato,
raspagem do pó da palha, fabricação do bró, preparação de alimentos e “quebras” e
“tiras”), as mulheres lideravam tanto em quantidade, quanto em qualidade.
Deuzuita Maria de Jesus, artesã. Entrevista cedida à autora em Barra Nova, povoado da cidade de
Várzea do Poço, em 09 de janeiro de 2008.
Anatilde Maria da Silva, extrativista. Entrevista cedida à autora em Maracujá, povoado de
Serrolândia, em 18 de maio de 2002.