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para lá se dirigiram as queixas dos feirantes atacadistas quanto a uma desorganização
112
. Ora, o
que se constatou da realidade do CAF, na perspectiva de Araújo, é que “a antiga feira livre,
origem comercial da cidade, determinou regras tão fortes, que mesmo passadas mais de duas
décadas, os comerciantes, que utilizam o espaço do CA se transformaram de acordo com suas
necessidades, ao invés de adequar-se a ele.
113
. Isto quer dizer também que o controle do
mercado pelos atacadistas vinha a se reproduzir no CAF sob outras roupagens.
Os feirantes de baganas se depararam, em outras circunstâncias, com o controle do espaço
central da cidade como justificativa para o cerceamento de suas atividades. A mudança de local
de vendas, por exemplo, fez parte do cotidiano dos feirantes em momentos antecedentes ao CAF
e algumas pessoas refizeram, em 1977, suas rotinas de trabalho nas ruas e no Centro.
Eu cheguei aqui no dia 1 de Agosto de 1970. O que eu trouxe pra aqui só foi minha
esposa e o menino, o fogão e uma lata de carvão e uma lona pra dormir. Ficava aqui na
Getúlio Vargas. Quando eu cheguei aqui, foi assando milho e o ponto era lá... ali por
baixo, em frente à clínica de doutor Nilson, ali eu fiquei os dias que eu tava assando
aquele milho na frente da clínica de doutor Nilson, entendeu? Quando terminava o
milho, eu trabalhava no carrinho de mão. (...) A maioria quando mudou pra lá, a maioria
reclamou, o pessoal reclamava, ainda hoje tem gente aí que tá vivo e que teimou que era
aquilo, que hoje não tem mais negócio, mas eu, graças a Deus, o meu negócio é o meu
carrinho de mão
114
.
É... comecei a vender, em 1962... em 1962... eu comecei a barraca aqui... mas minha
barraca era... comecei na Rua do Sol. Da rua do Sol, fui pra Getúlio Vargas... da Getúlio
Vargas fui pra frente da prefeitura..., da frente da Prefeitura vendi na Praça da Bandeira.
Ali onde era o mercado velho...
115
.
A lembrança que eu tenho de lá, que lá a gente vendia era.... lá a gente começou era lá
no mercado Municipal que hoje é o Mercado de Arte. E ali eu trabalhei bem perto de
onde é o hospital EMEC. Dali, a gente retornou... dali a gente saiu e veio pra Estação
Nova
116
.
_____________
112
Ata da Associação dos Feirantes das Feiras Livres de Feira de Santana, 1991.
113
ARAUJO, Alessandra. Op. cit. 2006, p.117.
114
Apresentaremos um dos nossos colaboradores. O Sr. José Santos trabalha na Av. Getúlio Vargas desde 1970. Migrante,
chegou com a esposa e aqui começou a trabalhar como feirante na rua. Segundo ele, continuou no local porque procurou por Sr.
Newton, que ainda não sei direito quem seja especificamente (há alguns Newtons e Niltons importantes em Feira). Ele é bastante
rancoroso com a reação de alguns amigos que deixaram de ser feirantes ou que na época da transferência para o Centro reagiram
às medidas da prefeitura. Encontra apoio em políticos locais desde sua chegada, segundo ele. Há uma relação de busca de
protecionismo. Ele relata a história de um ex companheiro de feira, Sr. Zequinha, que hoje é vigilante e reagiu negativamente as
mudanças, e, segundo ele, abandonou o trabalho na feira depois de algumas contendas com fiscais e pessoas que conseguiram
permanecer nos locais de venda. Sua história traz informações de experiências trocadas no cotidiano da feira e da chegada de
mudanças no comércio, como o horário de fechamento das lojas que os feirantes tiveram de acompanhar. Apesar de certa
melancolia na sua fala, se apresenta como alguém ordeiro e a favor da organização do comércio, elemento de sua fala que se poe
em diálogo com as especificidades vividas por um outro grupo de feirantes que se negaram a ficar no Centro de Abastecimento
disputando espaço e não tiveram um ponto fixo mantido na principal avenida da cidade.
115
MOREIRA, Vicente. Op. cit. 2001.
116
Junto com Sr. Cláudio há outras pessoas em condições bastante semelhantes à dele: trabalhadores rurais que vendem seus
produtos no mercado da Estação Nova, relativamente distante do centro da cidade. Muitos se apresentam como feirantes da