166
profissionais porque eles queriam melhorar. Eles iam lá porque tinham
obrigação, tanto é que quando eu saí da clínica, eles pararam de ir, eles não
iam mais, e o início da minha recuperação foi um inferno, né, porque,
assim... eu não sai da instituição onde eu fiquei internado, querendo jogar
tudo para o alto e botar fogo na minha vida, querer detonar tudo, ninguém
me entende. Pelo contrário, eu encontrei profissionais muito bons, que me
deram um super auxilio, que por trás do profissional tinha um ser humano.
Esses camaradas me ajudaram bastante. Mas, assim, quando eu voltei para
casa, eu tinha uma rotina no primeiro ano de recuperação limpo na rua, fim
de 2004, 2005. 2004, se eu não me engano. É, foi 2004... entre 2004,
2005, eu não estou muito certo agora. Então, assim, eu acordava às cinco
horas da manhã, eu ia para a aula de manhã ainda, porque eu queria
concluir os estudos, né... porque assim, por mais que eu estivesse no fundo
do poço, eu tinha os meus sonhos. Eles ficaram afastados de mim, mas eu
fiz esse resgate quando eu estava internado. Isso foi importantíssimo. Isso
está me movendo até hoje. Então, eu saia da escola, eu ia trabalhar com a
minha família, alguns meses eu trabalhei de graça pra eles, né. Depois
disso eu ia pra a academia, e depois disso, eu ia pra um grupo anônimo. Ia
pro Alcoólicos Anônimos, pros Neuróticos Anônimos. Não falo em nome
deles, de jeito nenhum, mas foram duas coisas que me ajudaram
bastante... só que assim, a vivência na minha casa era um inferno, né,
porque por mais que eu tivesse razão em algum assunto, eu não podia falar
nada porque eu tinha usado droga, né. Ou quando eu tinha algum plano,
algum planejamento de dia de vida, né, isso era como boicotado por eles,
ou não ia dar certo, ia dar tudo errado, não era bem assim... era um horror.
Ou quando eles tinham problemas, que tavam estressados, isso eu percebia
claramente, a culpa era minha, né, porque, assim, a minha família não
falava pra mim, “Oh!... eu tô estressado e com raiva... e sai de perto de
mim!”. Eles me criticavam de outro jeito: “olha, você não arruma as suas
coisas”, “só falta você usar droga mesmo”, “eu não te suporto”, “drogado”,
“você não presta”, “você continua o mesmo”, e era uma mentira. Isso me
deixava bastante revoltado. E é verdade isso que eu estou falando, pelo
amor de Deus. Em muitos momentos, pra ser bastante sincero e aberto,
rigorosamente honesto, eu pensei em voltar ao uso por causa dessas
coisas, né?... Assim que eu falo que existe uma hipocrisia, porque eu