Morrison havia escolhido para sua obra – War (“Guerra”, em português) – mas que
acabou sendo substituído após uma decisão dos editores. Segundo eles, o nome
proposto por Morrison poderia afastar os leitores, opinião essa não-compartilhada pela
autora: “Eu ainda não estou convencida de que eles estavam certos”(nossa tradução)
7
.
Paraíso foi publicado cinco anos após Morrison ter recebido o Nobel. O
compromisso de escrever uma obra que justificasse o prêmio, além do fato de a
escritora fazer parte do contexto acadêmico, provavelmente tenha fornecido ao romance
características que apontam para múltiplas vias de abordagem, uma vez que, segundo
Paul Gray, jornalista da Revista Time, “ler o romance é ser puxado para dentro de um
mundo pungente, polêmico e, algumas vezes, violento e encarar questões tão antigas
quanto a própria civilização humana”(nossa tradução)
8
. Para desenvolver o livro em
questão, Morrison recorreu a um episódio da história dos Estados Unidos no século
XIX, após a Guerra Civil: a emigração de ex-escravos de territórios como o Mississippi
e a Louisiana para cidades negras localizadas em Oklahoma. Essas pessoas seguiram o
referido trajeto atraídas pela incitação Come prepared or not at all, presente nos
anúncios de jornal da década de 1870
9
, a qual poderia ser traduzida como “Se não
estiver preparado, não venha”. A partir desse fato, Morrison compôs uma narrativa
complexa, contada a partir de vários pontos de vista, de forma não-linear. Esse é um dos
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Texto original: “I’m still not convinced they were right”. (MORRISON, Toni. In: MURLINE, Anna.
This side of Paradise: Toni Morrison defends herself from criticism of her new novel Paradise.
Disponível no site
http://www.swarthmore.edu/Humanities/pschmid1/engl52a/engl52a.1999/morrison.html, acessado em
acessado em 07 de abril de 2006)
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Texto original: “To read the novel is to be pulled into a passionate, contentious and sometimes violent
world and to confront questions as old as human civilization itself”. (GRAY, Paul. Paradise found.
Revista Time, 19 de janeiro de 1998. Disponível no site
http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,987690-5,00.html, acessado em 29 de maio de 2006)
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Essas informações foram baseadas no seguinte trecho: “Constant reading, a habit and passion she [Toni
Morrison] developed as a little girl, eventually led her to an obscure chapter in 19th century U.S. history,
shortly after the Civil War: the westward emigration of former slaves into the sparsely settled territories
of Oklahoma and beyond. Some found the promise of a new life in wide-open spaces, touted in numerous
newspaper advertisements in the 1870s, irresistible, and a challenge besides. Morrison was struck by a
caveat that often appeared in those ads: ‘Come prepared or not at all’”. (GRAY, Paul. Paradise found.
Revista Time, 19 de janeiro de 1998. Disponível no site
http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,987690,00.html, acessado em 29 de maio de 2006)