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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 18 JAN. 2008
mônio arquitetônico e a história da cidade e, mesmo assim, destacam,
principalmente, aspectos negativos e caracterizam os prédios apenas
como velhos, feios e sem cores, reforçando valores estéticos em relação
a esse patrimônio. Os olhares pesquisados enfatizam a necessidade de
políticas de revitalização e conservação do patrimônio arquitetônico do
centro histórico de Goiânia, a fim de torná-lo mais vivo para as pessoas
e, especialmente, possibilitar o reconhecimento da identidade cultural
do goianiense.
Introdução
Este artigo traz algumas reflexões sobre a percepção que os usuários do
centro histórico de Goiânia – moradores, transeuntes, comerciantes e ou-
tros trabalhadores – têm do patrimônio cultural art déco
1
nele presente. A
importância cultural, os valores e significados atribuídos a esse legado tam-
bém são elucidados nesta discussão. A delimitação desse estudo foi orien-
tada a partir da concepção de que a conservação do patrimônio cultural é
essencial para qualquer comunidade, já que possibilita a ela o reencontro
com suas raízes e a reafirmação da sua identidade. Goiânia já caminha
neste sentido com o tombamento
2
federal de 23 edifícios e equipamen-
tos públicos representativos do estilo art déco, além do traçado viário do
núcleo pioneiro. O patrimônio conservado e valorizado transforma-se em
potencial cultural, no planejamento turístico.
Consideramos prudente começar esta discussão reportando alguns
conceitos no sentido de eleger uma possibilidade de compreensão para a
expressão “patrimônio cultural”. O conceito de “patrimônio cultural”, ini-
cialmente, instituído como Patrimônio Histórico e Artístico no Brasil, foi,
paulatinamente, substituído por um outro, mais amplo, estabelecido pela
Constituição Federal de 1988, no artigo 216 como:
[...] os bens de natureza material e imaterial, tomados individual-
mente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à
ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os
modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas
e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e
demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V
– os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico
(BRASIL, 1998, grifo nosso).
Vale ressaltar que a concepção de “patrimônio cultural” foi ampliada
para coadunar-se com a de cultura. Ela, a cultura, é, segundo HORTA:
“(...) um processo eminentemente dinâmico, transmitido de geração em
geração, que se aprende com os ancestrais e se cria e recria no cotidiano
do presente, na solução dos pequenos e grandes problemas que cada so-
ciedade e indivíduo enfrentam” (HORTA et alii, 1999).
Desta forma, o conceito de patrimônio cultural, também, remete à idéia
de memória, uma vez que é através dela – memória – que se evoca o pas-
sado para rever o presente, definindo os elementos representativos de uma
Clarinda Aparecida da Silva
é doutoranda em Geografia
na Universidade Federal de
Goiás (UFG), professora da
Coordenação de Turismo e
Hospitalidade do Centro Federal
de Educação Tecnológica
de Goiás e Orientadora do
PBIC/Cefet (2006/2007) nas
linhas de pesquisas: Paisagem,
Cultura e Turismo; Planejamento
Turístico e Assessora Técnica
da Secretaria de Turismo de
Goiânia.
Cristiane Ricci Mancini é
graduanda do Curso de
Tecnologia em Gestão Turística
do Cefet/GO, bolsista do
Programa de Iniciação à
Pesquisa Científica do Cefet/GO
(2006/2007) nas linhas de
pesquisa: Turismo,
Patrimônio Cultural e
Planejamento Turístico.
1. O art déco surgiu na França,
na década de 1920, era chamado
de futurismo, estilo moderno
ou ziguezague. Em 1975, na
comemoração dos 50 anos da
Exposição Internacional de Artes
Decorativas e Industriais, em
Paris, esse estilo foi nomeado art
déco (UNES, 2004a). A cidade
de Goiânia/GO foi construída na
década de 1930, época em que se
expandia pelo mundo esse padrão
arquitetônico e artístico. Esse modelo
de arquitetura foi, então, escolhido
pelos planejadores da capital goiana
como algo novo a ser experimentado
em termos de urbanismo.
2. O tombamento é uma das formas
de proteção administrativa ao
patrimônio cultural. Ele tem por
objetivo conservar o patrimônio
em suas características originais e
perpetuá-lo na história como símbolo
da identidade cultural da sociedade
6,/9$