26
voltar para o exterior para complementar seu trabalho. Bruno fica com o
pai, os irmãos mais velhos, e uma babá, escolhida cuidadosamente, mas
que até então ele não conhecia. O retorno da mãe se dá quando Bruno
tinha entre oito e nove meses, e, evidentemente, ele não a reconhece.
Os anos seguintes se passam sem problemas somáticos. Bruno tem
uma “saúde de ferro”; seu desenvolvimento é lento, mas as etapas vão se
dando aproximadamente dentro dos tempos previstos, com exceção da
linguagem. Bruno só vai começar a falar por volta dos três anos e meio.
Sua história escolar foi sempre difícil, com inúmeras mudanças. Na
primeira escola maternal escolhida por utilizar uma língua estrangeira do
país onde ele nascera Bruno vive uma péssima relação com a professora,
que chega a bater nele, impaciente porque ele “não entendia o que ela
pedia”. Desde então, ele é acompanhado por uma fonoaudióloga, que
nessa etapa se preocupa principalmente com sua incapacidade de contar
histórias, de fazer relatos que tenham início, meio e fim. A pedagoga, por
sua vez, ressalta a discrepância entre seus resultados nos instrumentos de
avaliação, e a pobreza de sua produção, sua impossibilidade de criar
qualquer brincadeira ou história, sua dificuldade em fantasiar.
Socialmente, os pais descrevem Bruno como simpático, afetuoso,
conversador, fácil com os amigos.
É assim que Bruno chega em suas primeiras sessões: simpático,
afável, mas com um ar “pedinte”, como mendigando algo, esperando algo
de mim, com um olhar que se prega ao meu, esperando... o quê?
Conseguiu, recentemente, alfabetizar-se, mas não pode contar histórias.
Por vezes, em sua fala, parece desorientado no tempo, perdido em suas
referências de lugar, de cidade, de país. Em suas primeiras sessões aplica-
se a fazer um helicóptero, que ele já encontrou pronto ao chegar e foi