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Jameson sugeriu que era preciso uma nova estética do mapeamento cognitivo, um
novo modo de pensamento espacial, que nos permitiria ao menos registrar a
complexidade do nosso mundo. Uma década depois de Jameson ter escrito esse
ensaio, o pós-modernismo encontrou seus objetos básicos (...) os objetos do pós-
modernismo agora existem fora da ficção científica. Eles existem nas informações
e conexões da Internet, no World Wide Web [www] e nas janelas, ícones e
camadas do computador pessoal (...) Tudo isso é vida na tela. Com esses objetos,
as idéias abstratas nos escritos de Jameson sobre o pós-modernismo tornaram-se
recentemente acessíveis, até mesmo, consumíveis.” (Turkle, 1997, p. 44-5)
7
Além de fazer essa analogia entre as novas tecnologias e a descrição da
pós-modernidade feita por Jameson, Turkle deixa claro que está de acordo com
algumas outras considerações e posturas deste autor no que diz respeito ao
sujeito contemporâneo. Assim como Jameson, Turkle acredita no fim da unidade
e da centralidade que consideram típicos da organização subjetiva da
modernidade. E, também tal como Jameson, Turkle parte de um quadro clínico
clássico da psiquiatria para propor uma nova organização subjetiva. (Enquanto,
como já visto, Jameson parte da esquizofrenia, Turkle, como será abordado
adiante, parte do transtorno de múltipla personalidade.)
Na citação abaixo, por exemplo, Turkle parece justificar por que concorda
com Jameson quando este declara o fim do modelo subjetivo da mônada. Em
suas próprias palavras:
1.1.1.1.1.1.1.1.3.“Fredric Jameson escreveu que num mundo pós-moderno, o
sujeito não é alienado, mas fragmentado. Ele explicou que a noção de alienação
supõe um eu unitário e centrado que poderia ser perdido. Mas se, como um pós-
moderno vê, o eu é descentrado e múltiplo, o conceito de alienação cai por terra
(...) Na simulação [que a realidade virtual permite], a identidade pode ser fluida e
múltipla, um significante não mais aponta claramente para algo que é significado,
e a interpretação é menos provável proceder pela análise do que pela navegação
no mundo virtual.” (Turkle, 1997, p. 49)
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7 “A decade ago, Fredric Jameson wrote a classic article on the meaning of postmodernism. He
included in his characterization of postmodernism the precedence of the surface over depth, of
simulation over the real, of play over seriousness, many of the same qualities that characterize the
new computer aesthetic. At that time, Jameson noted that postmodern era lacked objects that could
represent it. The turbine, smokestack, pipes, and conveyor belts of the late nineteenth and early
twentieth centuries had been powerful objects-to-think-with for imaging the nature of industrial
modernity (…) Jameson suggested that what was needed was a new ‘aesthetic of cognitive
mapping’, a new way of spatial thinking, that would permit us at least to register the complexities of
our world. A decade after Jameson wrote his essay, postmodernism has found its basic objects (...)
postmodernism’s objects now exist outside science fiction. They exist in the information and
connections of the Internet and the World Wide Web, and in the windows, icons, and layers of
personal computing (...) All of these are life on the screen. And with these objects, the abstract
ideas in Jameson account of postmodernism became newly accessible, even consumable”
(tradução minha)
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“Fredric Jameson wrote that in a postmodern world, the subject is not alienated but fragmented.
He explained that the notion of alienation presumes a centralized, unitary self who could become
lost to himself or herself. But if, as a postmodernist sees it, the self is decentered and multiple, the
concept of alienation breakes down (...) In simulation, identity can be fluid and multiple, a signifier
no longer clearly points to a thing that is signified, and understanding is less likely to proceed
through analysis that by navigation through virtual space.” (tradução minha)