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BOAS PRÁTICAS
NO ABASTECIMENTO DE ÁGUA:
Procedimentos para a minimização de riscos à saúde
Manual para os responsáveis pela vigilância e controle
© 2006 Ministério da Saúde
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que
o seja para venda ou qualquer m comercial.
A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Virtual do Ministério da
Saúde: http://www.saude.gov.br/bvs
Tiragem: 7.000 exemplares.
Elaboração, distribuição e informações
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Vigilância em Saúde
Coordenação-Geral de Vigincia em Saúde Ambiental
Apoio técnico
Representação da Opas/OMS no Brasil
Endero
Esplanada dos Ministérios, bloco G,
Edicio Sede, 1
o
andar
CEP: 70058-900, Brasília - DF
E-mail: svs@sde.gov.br
Home-page: www.saude.gov.br
Produção editorial
Coordenação: Fabiano Camilo
Capa, projeto gfico e diagramação:
Grau Design Gfico (Designer responsável: Fernando Rabello)
Revisão e normalização: Sonja Cavalcanti
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Ficha catalográfica
_________________________________________________________________________________________________________
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Boas pticas no abastecimento de água : procedimentos para a minimização de riscos à saúde /
Minisrio da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília : Minisrio da Saúde, 2006.
252 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos)
ISBN 85-334-1243-6
1. Abastecimento de água. 2. Controle da qualidade da água. 3. Saúde blica. I. Título. II. Série.
NLM WA 675
__________________________________________________________________________________________________________
Catalogação na fonte Coordenação-Geral de Documentão e Informação Editora MS OS 2006/1028
tulos para indexão:
Em inglês: Good Practices on Water Supply: Procedures for the Minimization of Health Peril
Em espanhol: Buenas Prácticas en el Abastecimiento de Agua: Procedimientos para la Minimización de Riesgos
a la Salud
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MINISTÉRIO DA SAÚDE
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE
COORDENAÇÃO-GERAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL
BOAS PRÁTICAS
NO ABASTECIMENTO DE ÁGUA:
Procedimentos para a minimização de riscos à saúde
Manual para os responsáveis pela vigilância e controle
BRASÍLIA - DF
2006
Equipe de coordenação e responsável técnica pela edição
Nolan Ribeiro Bezerra – CGVAM/SVS/MS
Isaías da Silva Pereira – CGVAM/SVS/MS
Marta Helena Paiva Dantas CGVAM/SVS/MS
Maria de Lourdes Fernandes Neto – CGVAM/SVS/MS
Jacira Azevedo Cancio – Opas/OMS
Elaboradores
Rafael Kopschitz Xavier Bastos – UFV
Leo Heller – Coordenão – UFMG
Aloisio de Araujo Prince – UFMG
Cristina Célia Silveira Brandão – UnB
Silvano Silverio da Costa – ASSEMAE
Paula Dias Bevilacqua – UFV
Rejane Maria de Souza Alves – COVEH/CGDT/DEVEP/SVS/MS
Colaboradores
Valter Lúcio de Pádua – UFMG
Armando Perez Flores – AAHM/Sabesp
Cícero Dédice de Goés Júnior – CGVAM/SVS/MS
Denise Maria Elisabeth Formaggia – Secretaria Estadual de Saúde – Caraguatatuba-SP
Fernanda Bitercurt – DENSP/Funasa
Johnny Ferreira dos Santos – DENSP/Funasa
Marcelo Gil Faccin – DMAE de Porto Alegre – Representante da Assemae
Márcia K. Amoedo – Embasa
Marcia Regina Lima de Oliveira – CGVAM/SVS/MS
Marcos Helano Montenegro – Ministério das Cidades
Mariely Helena Barbosa Daniel – CGVAM/SVS/MS
Milton Luis Joseph – Semasa – Representante da Assemae
Vera Regina Estuqui – Caesb – Representante da Aesbe
Vilma Ramos Feitosa – CGVAM/SVS/MS
Equipe de revisão da edição
Nolan Ribeiro Bezerra – CGVAM/SVS/MS
Mariely Helena Barbosa Daniel – CGVAM/SVS/MS
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS, 6
LISTA DE TABELAS, 8
LISTA DE QUADROS, 9
APRESENTAÇÃO, 11
1 MARCOS REFERENCIAIS, 13
1.1 MARCO CONCEITUAL, 15
1.2 MARCOS LEGAIS, 17
1.3 MARCOS INSTITUCIONAIS, 29
2 BOAS PRÁTICAS NO ABASTECIMENTO DE ÁGUA SOB A PERSPECTIVA
DOS RISCOS À SAÚDE HUMANA, 33
2.1 MANANCIAL, 36
2.2 CAPTAÇÃO, 48
2.3 TRANSPORTE (ADUÇÃO), 56
2.4 TRATAMENTO, 58
2.5 DISTRIBUIÇÃO, 138
2.6 SOLUÇÕES ALTERNATIVAS COLETIVAS DESPROVIDAS
DE DISTRUIÇÃO POR REDE,
141
2.7 PRODUTOS E INSUMOS, 144
2.8 SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA, 152
2.9 CUIDADOS NA FASE DE IMPLANTAÇÃO, 162
3 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO, 165
3.1 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO, 167
3.2 AMOSTRAGEM DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO, 198
3.3 CONTROLE DE QUALIDADE EM LABORATÓRIOS, 205
4 INFORMAÇÃO SOBRE A QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO, 207
4.1 GERENCIAMENTO DE INFORMAÇÕES EM SISTEMAS E SOLUÇÕES
ALTERNATIVAS COLETIVAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA, 209
4.2 INFORMAÇÃO ÀS AUTORIDADES DE SAÚDE PÚBLICA, 221
4.3 INFORMAÇÃO AO CONSUMIDOR, 224
REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA, 235
APÊNDICE – MÉTODOS ANALÍTICOS RECOMENDADOS PELO STANDARD
METHODS FOR WORLD WATER ASSOCIATION RESEARCHERS PARA
PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS, 241
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Ciclo hidrológico, 38
Figura 2.2 – Terraços de inltração em curva de nível, 43
Figura 2.3 – Pequenas bacias de inltração de enxurradas em encosta de morro
(planta esquemática), 43
Figura 2.4 – Pequenas bacias de inltração de enxurradas em encosta de morro
(perl esquemático), 44
Figura 2.5 Pequena bacia de infiltração de enxurrada proveniente
de estrada de terra (observar a lombada feita na estrada para o desvio
da enxurrada), 45
Figura 2.6 – Locação de pequena bacia de inltração de água de enxurrada
em estrada de terra (planta), 45
Figura 2.7 – Localização, em planta, de captação em curso d’água, 49
Figura 2.8 – Posicionamento da descarga de fundo e da tomada de água, 49
Figura 2.9 – Caixa de tomada para captação de água de fonte, com dispositivo
de proteção, 52
Figura 2.10 – Poço raso, revestido com alvenaria de pedra, incluindo medidas
de proteção, 52
Figura 2.11 – Proteção sanitária em revestimento de poço profundo perfurado
em rocha fendilhada, 54
Figura 2.12 – Proteção sanitária em revestimento de poço profundo perfurado
em solos argilosos, 54
Figura 2.13 – Instalação de poço profundo equipada com bomba submersa,
incluindo medidas de proteção, 55
Figura 2.14 – Ilustração de boa manutenção da área de captação, 56
Figura 2.15 – Técnicas de tratamento com uso da ltração lenta em areia, 60
Figura 2.16 – Técnicas de tratamento com uso da ltração rápida, 61
Figura 2.17 – Diagrama de coagulação – período de estiagem, 72
Figura 2.18 – Exemplo de unidade de mistura rápida (calha Parshall): vazão
excessiva e extravasamento de água, 74
Figura 2.19 – Exemplo de unidade inadequada de mistura rápida (calha Parshall):
instalações e controle precários da mistura rápida e coagulação, 76
Figura 2.20 – Detalhe de dispositivo adequado de aplicação do coagulante
com difusores de simples execução, 77
Figura 2.21 – Floculador hidráulico, duas séries de câmaras de oculação
em paralelo, porém com distribuição inadequada de uxo, 81
Figura 2.22 – Exemplo de unidade com funcionamento inadequado de
oculador: excesso de vazão e transbordamento nas câmaras de oculação, 81
Figura 2.23 – Trajetória da sedimentação de partículas em unidade
de decantação com escoamento horizontal, 84
Figura 2.24 – Decantador convencional com escoamento horizontal, 85
Figura 2.25 – Qualidade da água visivelmente distinta em séries paralelas
de decantadores, provavelmente por aplicação não homogênea do coagulante
e distribuição não uniforme do uxo, 87
Figura 2.26 – Decantador circular de uxo radial desnivelado com a instalação
de bordas vertedouras ajustáveis para corrigir problema de desnivelamento, 88
Figura 2.27 Dispositivo inadequado de entrada de água oculada no decantador,
provocando quebra de ocos, 88
Figura 2.28 – Floculador de bandejas ao centro de um decantador circular
de uxo radial, dois ltros rápidos em paralelo, de difícil acesso para operação
e manutenção, ETA de pequeno porte, antiga, com operação e manutenção
precárias, 94
Figura 2.29 – Operação adequada de lavagem de ltro, com visualização
de dispositivo de lavagem supercial, 95
Figura 2.30 Evolão do teor de cloro residual em função da dosagem de cloro, 105
Figura 2.31 – Unidade bastante precária de desinfeão com hipoclorito
de cálcio, 109
Figura 2.32 – Aplicação correta de produtos químicos no tanque de contato:
“cloro”-gás na entrada e “cal” na saída, 109
Figura 2.33 – Aparelho de teste de jarros, 128
Figura 2.34 – Exemplo de calibração de vazões em uma calha Parshall, 129
Figura 2.35 – Proteção sanitária para tampa de entrada em reservatórios
e tanques, 139
Figura 2.36 – Proteção sanitária para passagem de tubulação em lajes
ou paredes de reservatórios e tanques, 140
Figura 3.1 – Turbidez da água de manancial supercial (médias mensais), 179
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Parâmetros de qualidade da água bruta sugeridos para as técnicas
de ltração lenta, 62
Tabela 2.2 – Parâmetros de qualidade da água bruta sugeridos para as técnicas
de ltração rápida, 62
Tabela 2.3 – Valores de CT para a inativação de organismos patogênicos
(99,9%), 106
Tabela 2.4 – Recomendações para a ecácia da desinfecção, 107
Tabela 2.5 – Limites recomendados para a concentração de íon uoreto
segundo a Portaria BSB n
o
635/1975, 117
Tabela 3.1 – Padrão de turbidez para água pós-ltração ou pré-desinfecção, 180
Tabela 6 – Número mínimo de amostras para o controle da qualidade
da água de sistema de abastecimento, para ns de análises físicas, químicas
e de radioatividade, em função do ponto de amostragem, da população
abastecida e do tipo de manancial, 199
Tabela 8 – Número mínimo de amostras mensais para o controle da qualidade
da água de sistema de abastecimento, para ns de análises microbiológicas,
em função da população abastecida, 200
Tabela 9 – Número mínimo de amostras e freqüência mínima de amostragem
para o controle da qualidade da água de solução alternativa, para ns
de análises físicas, químicas e microbiológicas, em função do tipo de manancial
e do ponto de amostragem, 203
Tabela I – Métodos analíticos para substâncias químicas que representam
risco à saúde, 243
Tabela II – Métodos analíticos para os parâmetros relacionados ao padrão
de aceitação para consumo humano, 247
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1 – Exemplos de situações ou práticas indesejáveis na mistura
rápida/coagulação, 75
Quadro 2.2 – Exemplos de situações ou práticas indesejáveis na oculação, 80
Quadro 2.3 – Exemplos de situações ou práticas indesejáveis na decantação, 86
Quadro 2.4 Exemplos de situões ou pticas indeseveis naltração pida, 93
Quadro 2.5 – Remoção de microorganismos patogênicos e indicadores
de contaminação pela ltração lenta, 98
Quadro 2.6 Exemplos de situões ou pticas indeseveis naltração lenta, 101
Quadro 2.7 – Características dos principais desinfetantes utilizados
no tratamento da água para consumo humano, 102
Quadro 2.8 – Exemplos de situações ou práticas indesejáveis na desinfecção, 108
Quadro 2.9 – Aplicabilidade de processos de tratamento de água
para a remoção de contaminantes, 119
Quadro 2.10 – Recomendações, 138
Quadro 3.1 – Organismos patogênicos veiculados pela água e de transmissão
feco-oral e sua importância para o abastecimento de água, 170
Quadro 3.2 – Padrão microbiológico de potabilidade, 176
Quadro 3.3 Subsncias químicas inorgânicas que representam risco à saúde, 184
Quadro 3.4 – Substâncias químicas orgânicas que representam risco à saúde, 185
Quadro 3.5 – Agrotóxicos, 186
Quadro 3.6 – Desinfetantes e produtos secundários da desinfecção, 189
Quadro 3.7 – Padrão de aceitação para consumo humano, 190
Quadro 3.8 – Métodos analíticos empregados na aplicação da Portaria
MS n
o
518/2004 – parâmetros microbiológicos, 195
Quadro 3.9 – Métodos analíticos empregados na aplicação da Portaria
MS n
o
518/2004 – parâmetros físico-químicos, 196
Quadro 4.1 – Informações relevantes para a caracterização de sistemas
e soluções alternativas de abastecimento de água, 210
APRESENTAÇÃO
O manual Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimi-
zação de riscos à saúde foi produzido para preencher importante lacuna na área de
abastecimento de água: a de estabelecer diretrizes para a adoção das chamadas boas
práticas no abastecimento de água, a partir de um olhar de saúde pública.
Pode-se afirmar que se trata de lacuna histórica, pois muito os respon-
sáveis pelo funcionamento das instalações de abastecimento de água, tradicio-
nalmente com formação profissional alinhada com os princípios da engenharia,
não dispõem de uma clara orientação sobre como amoldar seus planejamentos,
estratégias, concepções e, sobretudo, sua rotina operacional a uma perspectiva
de minimização dos riscos à saúde. Na outra direção, profissionais da área de
saúde, particularmente da atividade de vigilância, mais modernamente com sua
especialidade em vigilância ambiental, também se têm ressentido da ausência de
instrumentos cnico-normativos para bem orientá-los em seus procedimentos
nos serviços de abastecimento de água.
o se pode pleitear que o manual representa iniciativa inédita nessa di-
reção, pois a Portaria n
o
443/BSB, de outubro de 1978, destinava-se a trazer
tais orientões. Contudo, por raes imprecisas, o instrumento não encontrou
a aplicabilidade necessária, caindo em um quase esquecimento e abandono.
Deve-se enfatizar, no entanto, que, a despeito de sua desatualizão, perma-
nece em vigor, nas determinões não conflitantes com a legislão posterior,
sobretudo a Portaria n
o
518/2004, do Ministério da Saúde, devendo ser adotada
sempre que conveniente.
A motivação maior para a elaboração deste manual, porém, foi a publicação
da Portaria MS n
o
518/2004, que, ao estabelecer “os procedimentos e responsabi-
lidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo hu-
mano e seu padrão de potabilidade”, determina o emprego das “boas práticas” no
abastecimento como forma de minimizar os riscos à saúde humana decorrentes da
utilização de água insegura pela população. Pode-se sugerir mesmo que o uso reite-
rado da expressão “boas práticas naquela Portaria cumpriu o papel de provocar os
envolvidos no controle e na vigilância da qualidade da água para consumo humano
a definir seu significado. Esta seria, pois, a função do manual: procurar preencher
de sentido a expressão adotada na legislação.
É importante assinalar ainda que o conceito está longe de ser exclusivo do
campo do abastecimento de água. Trata-se, em verdade, de expressão empre-
gada em diversas outras áreas relacionadas com a saúde pública, como a de
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
12
Secretaria de Vigilância em Saúde
prodão de alimentos e de controle de qualidade de pticas laboratoriais,
bem como na ppria literatura internacional sobre abastecimento de água,
especialmente a mais recente.
O conteúdo do manual, como princípio orientador de sua elaboração, procurou
ser atravessado pela seguinte premissa, contida na Portaria MS n
o
518/2004: para a
minimização de riscos à saúde humana decorrentes do abastecimento de água, tão
ou mais importante que manter os parâmetros de qualidade da água enquadrados
nos limites dos padrões de potabilidade, é o emprego daquelas práticas que possi-
bilitam prevenir o surgimento desses riscos. Para essa abordagem, o documento foi
estruturado em 18 seções, distribuídos pelos seguintes capítulos:
1 Marcos referenciais.
2 Boas práticas no abastecimento de água sob a perspectiva dos riscos
à saúde humana.
3 Avaliação da qualidade da água para consumo humano.
4 Informação sobre a qualidade da água para consumo humano.
Dessa maneira, sem prejzo de emprego do manual como fonte de consulta, o que
sue buscar partes isoladas do documento, concebeu-se uma estrutura que encadeasse
os diversos aspectos do tema. Assim, pretendeu-se que, tendo por base os marcos concei-
tuais, legais e institucionais do tema, fossem descritas as melhores práticas recomendadas
em cada uma das unidades dos sistemas e solões alternativas de abastecimento de água,
com suas diversas variantes; em seguida, indicaram-se os melhores procedimentos para
a avaliação qualitativa da água, para, por m, se apresentarem informões necessárias
aos responsáveis pelo controle e às autoridades sanitárias, bem como aquelas a que tem
direito a populão usuária. Completam o manual as referências bibliográficas citadas e a
bibliograa recomendada.
Os autores e as entidades promotoras deste manual esperam que o documento
ora apresentado à comunidade militante no campo do abastecimento de água pos-
sa constituir importante subsídio para que controle e vigilância da qualidade da
água para consumo humano passem a atuar crescentemente de forma integrada,
cooperativa e construtiva, contribuindo para a proteção da saúde da população
brasileira consumidora e usuária da água de abastecimento. Espera-se que, para
o aperfeiçoamento dessa prática, nessa direção apontada, contribuam este e três
outros documentos que, em seu conjunto, formam uma coleção para a implemen-
tação de práticas de controle e qualidade da água para consumo humano: a própria
Portaria n
o
518/2004 do Ministério da Saúde, o documento Comentários sobre a
Portaria n
o
518/2004: subsídios para implementação e o Manual de procedimentos
de vigilância em saúde ambiental relacionada à qualidade de água para consumo
humano – Vigiagua.
MARCOS REFERENCIAIS
1
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
15
Secretaria de Vigilância em Saúde
1.1 MARCO CONCEITUAL
Para a adequada compreensão do presente manual, alguns conceitos e definições
devem estar presentes, como a seguir:
BOAS PRÁTICAS
Por boas práticas no abastecimento de água entendem-se aqueles proce-
dimentos adotados nas fases de concepção, projeto, constrão, operão e
manutenção de um sistema ou solução alternativa de abastecimento de água,
que propiciam a minimização dos riscos à saúde humana advindos do uso
daquela água. Boas práticas (ou “melhores práticas”) representam um con-
ceito corrente na área de saúde e em atividades industriais e compreendem
um conjunto de recomendões quanto aos procedimentos que mais bem se
ajustam aos objetivos pretendidos no caso do objeto do presente manual,
a minimização dos riscos. É importante salientar que, para serem atingidas
as boas práticas, um conjunto de recomendações, tal como o apresentado
neste manual, constitui apenas um dos elementos. Tais recomendões não
serão obedecidas se não estiverem acompanhadas de um adequado suporte
físico (as caractesticas físicas do sistema ou da solão alternativa), técnico,
humano, financeiro, organizacional, político-institucional e legal (inclusive
quanto a regulamentos no nível local).
RISCO À SAÚDE HUMANA
Risco é definido como “uma característica de uma situação ou ação em que dois
ou mais efeitos o possíveis, mas que o efeito particular que ocorrerá é incerto
e pelo menos uma das possibilidades é indesevel” (COVELLO; MERKHOFER,
1993). Devem ser enfatizados, na definição de risco, os termos incerto e indese-
jável. Nesse conceito, um abastecimento de água pode conduzir a diferentes e
incertos efeitos sobre a saúde do usuário da água, alguns deles benéficos e ou-
tros nocivos, logo indesejáveis. Dessa forma, as boas práticas buscam exatamente
minimizar a probabilidade de ocorrência dos efeitos indesejáveis, para a saúde
humana, do abastecimento de água.
É importante ainda distinguir o termo risco do termo perigo, muito utiliza-
do em estudos de avaliação de risco. Enquanto risco esassociado à probabili-
dade de ocorncia de um efeito, perigo é uma característica intrínseca de uma
substância ou de uma situação. Por exemplo, uma água para consumo humano
que contenha agentes patogênicos seria um perigo, enquanto seu fornecimento
à população traz um risco, que pode ser quantificado e expresso em termos de
probabilidade.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
16
Secretaria de Vigilância em Saúde
ABASTECIMENTO DE ÁGUA – SISTEMA E SOLUÇÃO ALTERNATIVA
A Portaria MS n
o
518/2004 classifica as instalações para abastecimento de água
em duas categorias:
sistema de abastecimento de água instalação composta por conjunto
de obras civis, materiais e equipamentos, destinada à produção e à
distribuição canalizada de água potável para populações, sob a respon-
sabilidade do poder público, mesmo que administrada em regime de
concessão ou permissão.
solução alternativa coletiva – toda modalidade de abastecimento cole-
tivo de água distinta do sistema de abastecimento de água, incluindo,
entre outras, fonte, poço comunitário, distribuição por veículo trans-
portador, instalações condominiais horizontal e vertical.
As seguintes diferenciações podem ser observadas nas duas definições:
INSTALAÇÃO
CARACTERÍSTICA
COLETIVO/INDIVIDUAL DISTRIBUIÇÃO
CANALIZADA
RESPONSABILIDADE
DO PODER PÚBLICO
Sistema de abastecimento
de água
Coletivo Obrigatoriamente Obrigatoriamente
Solução alternativa coletiva
Coletivo Não obrigatoriamente Não obrigatoriamente
Como pode ser notado, do ponto de vista físico, determinados tipos de so-
luções alternativas podem ser idênticos aos sistemas de abastecimento, como as
instalações condominiais horizontais, por exemplo. Nesse caso, a diferenciação
estaria apenas no fato de a responsabilidade não ser do poder blico e sim do
próprio condomínio.
Poder-se-ia perguntar: por que a legislação sobre potabilidade da água encon-
trou necessidade de diferenciar as duas categorias de instalações? A resposta é: com
a finalidade de diferenciar as exigências de controle da qualidade da água. Como
essa diferenciação clara não existia na legislação anterior (Portaria MS n
o
36/1990),
as soluções alternativas não se viam obrigadas a exercer o controle da qualidade da
água, nem as autoridades sanitárias a sua vigilância, submetendo seus usuários, que
correspondem a uma parcela significativa da população brasileira, a maiores riscos
à saúde humana. Ademais, a atual legislação assume como adequada a diferencia-
ção quanto às exigências de controle da qualidade da água, pelas particularidades,
sobretudo gerenciais, dos dois grupos de instalações.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
17
Secretaria de Vigilância em Saúde
Controle e vigilância da qualidade da água
para consumo humano
Na Portaria n
o
518/2004 encontram-se as seguintes definições:
controle da qualidade da água para consumo humano conjun-
to de atividades, exercidas de forma contínua pelo(s) responsável(is)
pela operação de sistema ou solução alternativa de abastecimento de
água, destinadas a vericar se a água fornecida à população é potável,
assegurando a manutenção desta condição.
vigilância da qualidade da água para consumo humano – conjunto
de ações adotadas continuamente pela autoridade de saúde pública
para vericar se a água consumida pela população atende a esta Nor-
ma e para avaliar os riscos que os sistemas e as soluções alternativas de
abastecimento de água representam para a saúde humana.
Para efeito deste manual, cabe destacar as diferentes responsabilidades: o con-
trole deve ser exercido pelo(s) responsável(is) pelo sistema ou solução alternativa;
a vigilância, pela autoridade de saúde pública. Simetricamente, as boas práticas
devem ser exercidas pelo(s) responsável(is) pelo sistema ou solução alternativa
e devem ser verificadas e avaliadas pela autoridade de saúde blica, sobretudo
visando a avaliar os riscos à saúde humana representados pelas instalações.
1.2 MARCOS LEGAIS
A legislação central que referencia este manual é a Portaria MS n
o
518/2004, que
estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância
da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade e
outras providências”. A relação entre a Portaria MS n
o
518/2004 e este manual é
mais evidenciada nos seguintes artigos e incisos, do seu anexo, que explicitamente
mencionam as boas práticas no abastecimento de água:
Art. 7
o
o deveres e obrigações das Secretarias Municipais de Saúde:
IV. efetuar, sistemática e permanentemente, avaliação de risco à saúde
humana de cada sistema de abastecimento ou solução alternativa,
por meio de informações sobre:
b) as características sicas dos sistemas, práticas operacionais e de controle
da qualidade da água;
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
18
Secretaria de Vigilância em Saúde
...................................................................................................................
d) a associação entre agravos à saúde e situações de vulnerabilidade
do sistema.
Art. 9
o
Ao(s) responsável(is) pela operação de sistema de abastecimento de
água incumbe:
I. operar e manter sistema de abastecimento de água povel para a
população consumidora em conformidade com as normas técnicas
apliveis publicadas pela Associão Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) e com outras normas e legislações pertinentes;
II. manter e controlar a qualidade da água produzida e distribda, por meio de:
a) controle operacional das unidades de captação, adução, tratamento,
reservação e distribuição;
b) exincia do controle de qualidade, por parte dos fabricantes de produtos
químicos utilizados no tratamento da água e de materiais empregados na
prodão e distribuão que tenham contato com a água;
c) capacitação e atualização técnica dos prossionais encarregados da ope-
ração do sistema e do controle da qualidade da água; e
d) análises laboratoriais da água, em amostras provenientes das diversas
partes que compõem o sistema de abastecimento.
III. manter avalião sistetica do sistema de abastecimento de água, sob a
perspectiva dos riscos à sde, com base na ocupação da bacia contribuinte ao
manancial, no histórico das características de suas águas, nas características físi-
cas do sistema, nas práticas operacionais e na qualidade da água distribuída;
IV. encaminhar à autoridade de saúde pública, para ns de comprovação
do atendimento a esta Norma, relatórios mensais com informações sobre
o controle da qualidade da água, segundo modelo estabelecido pela refe-
rida autoridade;
V. promover, em conjunto com os órgãos ambientais e gestores de re-
cursos hídricos, as ações cabíveis para a proteção do manancial de abas-
tecimento e de sua bacia contribuinte, assim como efetuar controle das
características das suas águas, nos termos do artigo 19 deste Anexo,
noticando imediatamente a autoridade de saúde pública sempre que
houver indícios de risco à saúde ou sempre que amostras coletadas apre-
sentarem resultados em desacordo com os limites ou condições da res-
pectiva classe de enquadramento, conforme denido na legislação espe-
cíca vigente;
VI. fornecer a todos os consumidores, nos termos do Código de Defesa
do Consumidor, informações sobre a qualidade da água distribuída, me-
diante envio de relatório, dentre outros mecanismos, com periodicidade
mínima anual e contendo, pelo menos, as seguintes informações:
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
19
Secretaria de Vigilância em Saúde
a) descrição dos mananciais de abastecimento, incluindo informações
sobre sua proteção, disponibilidade e qualidade da água;
b) estatística descritiva dos valores de parâmetros de qualidade detecta-
dos na água, seu signicado, origem e efeitos sobre a saúde; e
c) ocorrência de não conformidades com o padrão de potabilidade e as
medidas corretivas providenciadas.
VII. manter registros atualizados sobre as características da água distribuí-
da, sistematizados de forma compreensível aos consumidores e disponibi-
lizados para pronto acesso e consulta pública.
Art. 21. O sistema de abastecimento de água deve contar com responsável
técnico, prossionalmente habilitado.
Art. 22. Toda água fornecida coletivamente deve ser submetida a processo
de desinfecção, concebido e operado de forma a garantir o atendimento
ao padrão microbiológico desta Norma.
Art. 23. Toda água para consumo humano suprida por manancial supercial
e distribuída por meio de canalização deve incluir tratamento por ltração.
Art. 24. Em todos os momentos e em toda a sua extensão, a rede de distri-
buição de água deve ser operada com pressão superior à atmosférica.
§ 1
o
Caso esta situação não seja observada, ca o responsável pela operação
do serviço de abastecimento de água obrigado a noticar a autoridade de
saúde pública e informar à população, identicando períodos e locais de
ocorrência de pressão inferior à atmosférica.
§ 2
o
Excepcionalmente, caso o servo de abastecimento de água necessite
realizar programa de manobras na rede de distribuão, que possa submeter
trechos a pressão inferior à atmosrica, o referido programa deve ser previa-
mente comunicado à autoridade de saúde blica.
Art. 25. O responvel pelo fornecimento de água por meio de vculos deve:
a) garantir o uso exclusivo do veículo para este m;
b) manter registro com dados atualizados sobre o fornecedor e, ou, sobre
a fonte de água; e
c) manter registro atualizado das alises de controle da qualidade da água.
§ 1
o
A água fornecida para consumo humano por meio de veículos deve
conter um teor mínimo de cloro residual livre de 0,5 mg/L.
§ 2
o
O veículo utilizado para fornecimento de água deve conter, de forma
visível, em sua carroceria, a inscrição: “ÁGUA POTÁVEL”.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
20
Secretaria de Vigilância em Saúde
Portanto, a Portaria MS n
o
518/2004, por meio das determinações apresentadas,
enfatiza que a adoção de limites de presença de substâncias e organismos poten-
cialmente nocivos à saúde humana na água consumida, embora necessária, não é
suficiente para garantir a desejável proteção à saúde. Além do acompanhamento
desses limites, procedimentos complementares são essenciais, como a promoção de
boas práticas em todo o abastecimento de água.
Além da Portaria MS n
o
518/2004, outros instrumentos legais dão suporte ao
conceito de boas práticas no abastecimento de água, podendo ser citados os seguin-
tes, de nível federal:
NORMAS DA ABNT
Dentre outras, as seguintes normas da Associação Brasileira de Normas Téc-
nicas versam sobre concepção, projeto e execução de componentes de sistemas de
abastecimento de água e devem ser rigorosamente observadas nas situações em que
se aplicam. Não se incluem nesta listagem as normas para a determinação analítica
de parâmetros de qualidade da água e nem para procedimentos na rotina laborato-
rial, contudo devem ser sempre observadas.
Projeto
NBR 5626 – Instalações prediais de água fria
Fixa condições exigíveis quanto à maneira e aos critérios pelos quais
devem ser projetadas as instalações prediais de água fria, para atender
às exigências técnicas mínimas de higiene, segurança, economia e con-
forto dos usuários. Aplica-se a quaisquer tipos de instalações de água
fria para uso e consumo humano.
NBR 12211 Estudos de concepção de sistemas públicos de abasteci-
mento de água
Fixa condições para os estudos de concepção dos sistemas públicos
de abastecimento de água.
NBR 12212 Projeto de poço para captação de água subterrânea
Fixa condições nimas a serem obedecidas na elaboração de projetos
de poços para captão de água subterrânea para abastecimento público.
NBR 12213 Projeto de captação de água de superfície para abasteci-
mento público
Fixa condições mínimas a serem obedecidas na elaboração de projetos
de captação de água de superfície para abastecimento público.
NBR 12214 Projeto de sistema de bombeamento de água para abaste-
cimento público
Fixa condições mínimas a serem obedecidas na elaboração de projetos
de sistema de bombeamento de água para abastecimento público.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
21
Secretaria de Vigilância em Saúde
NBR 12215 – Projeto de adutora de água para abastecimento público
Fixa condições exigíveis na elaboração de projetos de sistema de adução
de água para abastecimento público.
NBR 12216 – Projeto de estação de tratamento de água para abasteci-
mento público
Fixa condições mínimas a serem obedecidas na elaboração de projetos
de estação de tratamento destinada à produção de água potável para
abastecimento público.
NBR 12217 Projeto de reservatório de distribuição de água para
abastecimento público
Fixa condições exigíveis na elaboração de projeto de reservatório
de distribuição de água para abastecimento público.
NBR 12218 Projeto de rede de distribuição de água para abasteci-
mento público
Fixa condições exiveis na elaboração de projeto de rede de distribuão
de água para abastecimento blico.
Materiais
NBR 5649 – Reservatório de brocimento para água potável
Fixa condições exigíveis para aceitação e recebimento de reservatórios
de brocimento para água potável.
NBR 5650 Reservatório de brocimento para água potável: verica-
ção de estanqueidade e determinação dos volumes útil e efetivo
Prescreve método de vericação da estanqueidade e de determinação dos
volumes útil e efetivo dos reservatórios de brocimento para água potável.
NBR 8220 – Reservatório de poliéster reforçado com bra de vidro para
água potável para abastecimento de comunidades de pequeno porte
Fixam-se condições nimas exigíveis para o recebimento de reservató-
rios de poliéster reforçado com bra de vidro, apoiados ou elevados,
utilizados para armazenagem de água potável para uso domiciliar ou
público, em comunidade de pequeno porte.
NBR 11799 – Material ltrante: areia, antracito e pedregulho
Fixa condições exigíveis para recebimento e colocação do material
ltrante, abrangendo a areia, o antracito e o pedregulho da camada
suporte, em ltros para abastecimento público de água.
NBR 13194 Reservario de brocimento para água povel: estocagem,
montagem e manuteão
Fixa condições exigíveis para estocagem, montagem e manutenção
de reservatórios de brocimento para água.
NBR 13210 –
Caixa de poliéster reforçado com bra de vidro para água
potável
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
22
Secretaria de Vigilância em Saúde
Fixa condições exigíveis para o recebimento de caixas de poliéster
refoado com fibra de vidro, utilizadas para armazenamento de
água povel.
Tubulações: assentamento, especicações, desinfecções e testes
NBR 5647 – Tubos de PVC rígido para adutoras e rede de água
Fixa condições exigíveis no recebimento de tubos de PVC rígido, de
seção circular, e respectivas juntas, destinados à execução de adutoras
e redes de água.
NBR 5648 Tubo de PVC rígido para instalões prediais de água fria
Fixa condões exigíveis para o recebimento de tubos de PVC rígido de seção
circular, e respectivas juntas, destinados à condução de água potável em
instalações prediais de água fria com aproximadamente 20 graus Celsius.
NBR 5689Materiais para revestimento de base asfáltica empregados
em tubos de aço para condução de água de abastecimento
Estabelece tipos de materiais e requisitos mínimos exigíveis para os
mesmos quando empregados em revestimento de base asfáltica para
tubos de aço usados na condução de água de abastecimento.
NBR 7665Tubo de PVC rígido defofo com junta elástica para adutoras
e rede de água
Fixa condições exigíveis no recebimento de tubos de PVC rígido, com
diâmetro externos e equivalente, ao dois tubos de ferro fundido e res-
pectivas juntas elásticas, destinados à execução de adutoras e redes
enterradas de água.
NBR 7968 Diâmetros normais em tubulações de saneamento nas
áreas de rede de distribuição, adutoras, redes coletoras de esgoto e
interceptores
Padroniza diâmetros nominais a serem utilizados no projeto e na
fabricão de tubos, conees, aparelhos e respectivos acesrios.
Aplica-se a tubos, conees, aparelhos e acessórios para utilizão
em saneamento, nas áreas de rede de distribuição, adutoras, redes
coletoras de esgoto e interceptores para os dmetros nominais de
50 a 1500.
NBR 9650 – Vericação da estanqueidade no assentamento de adutoras
e redes de água
Fixa condições exiveis para vericão da estanqueidade durante o assen-
tamento de tubulações destinadas à adução de água sob pressão.
NBR 9797 Tubo de aço-carbono eletricamente soldado para condução
de água de abastecimento
Fixa condições exigíveis para fabricação de tubos de aço-carbono desti-
nados à condução de água de abastecimento, eletricamente soldados.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
23
Secretaria de Vigilância em Saúde
NBR 9822 Execução de tubulações de PVC rígido para adutoras e re-
des de água
Fixa condições exigíveis para locação, demarcação, abertura e regula-
rização da vala, transporte, manuseio, disposição, assentamento, exe-
cução das juntas, envolvimento, ancoragem, ensaios de estanqueidade
e reaterro na execução de tubulações de PVC rígido para adutoras e
redes de água.
NBR 10156 – Desinfecção de tubulações de sistema público de abaste-
cimento de água
Fixa condições exigíveis para lavagem e desinfecção de tubulações de
sistemas públicos de abastecimento de água, usando gás cloro ou com-
postos clorados. Aplica-se também à lavagem e à desinfecção de peças
e acessórios que completam a tubulação, devendo ser considerados os
casos de tubulações recém-construídas, das tubulações que sofreram
reparos e das tubulações em uso.
NBR 12266 Projeto e execução de valas para assentamento de tubu-
lações de água, esgoto ou drenagem urbana
Fixa condições exigíveis para projetos de execução de valas para assen-
tamento de tubulações de água, esgoto ou drenagem urbana. Esta-
belece também critério para posicionamento de vala na via pública e
dimensionamento do escoramento.
NBR 12595 Assentamento de tubulações de ferro fundido dúctil para
condução de água sob pressão
Fixa condões para o assentamento de tubulações de ferro fundi-
do dúctil utilizadas na condução de água sob preso enterradas,
semi-enterradas ou reas e para temperatura de serviço máxima
de 90 graus Celsius.
Laboratórios
NBR 13035 Planejamento e instalação de laboratórios para análises
e controle de água
Fixa condições exigíveis para planejamento e instalação de laboratórios
para análises e controle de águas, a m de que sejam economicamente
viáveis, funcionais, ecientes e seguros em seu desempenho sob os
pontos de vista biológico, microbiológico e físico-químico.
ABNT ISO/IEC GUIA 25 – Requisitos gerais para a capacitação de labo-
ratórios de calibração e de ensaios
Fixa requisitos gerais para capacitação de laborarios de calibração
e de ensaios.
ABNT ISO/IEC GUIA 58 Sistema de credenciamento de laboratórios de
calibração e ensaios. Requisitos gerais para operação e reconhecimento
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
24
Secretaria de Vigilância em Saúde
Estabelece requisitos gerais para a operação de um sistema de creden-
ciamento de laboratórios de calibração e/ou ensaios, de tal modo que os
credenciamentos concedidos, e os servos abrangidos por estes creden-
ciamentos, possam ser reconhecidos em nível nacional ou internacional, e
o organismo que opera o sistema de credenciamento possa ser reconheci-
do, em nível nacional ou internacional, como competente e conável.
Produtos químicos utilizados no tratamento da água
NBR 6471Cal virgem e cal hidratada: retirada e preparão de amostra
Determina o modo pelo qual se deve proceder para retirar e preparar
amostra de cal hidratada a ser remetida ao laboratório para ensaios de
controle e de recebimento.
NBR 6473 – Cal virgem e cal hidratada: análise química
Prescreve o método pelo qual deve ser feita a análise química de cal
virgem hidratada, abrangendo cal cálcica e cal dolomítica.
NBR 9414Solução de hipoclorito de sódio comercial: determinação
do teor de ferro pelo método colorimétrico com o fenantrolina
Prescreve todo para determinação de teor de ferro no hipoclorito
de sódio pelo método colorimétrico com fenantrolina.
NBR 9425 Solução de hipoclorito de sódio comercial: determinação
do teor de cloro ativo pelo método volumétrico
Prescreve método para determinação do teor de cloro ativo em solu-
ções de hipoclorito de sódio comercial.
NBR 9432 Solução de hipoclorito de sódio comercial: determinação
do teor de cloreto pelo método volumétrico
Prescreve método para determinação do teor de cloreto no hipoclorito
de sódio pelo método volumétrico.
NBR 9433 Solução de hipoclorito de sódio comercial: determinação
do teor de clorato pelo método volumétrico
Prescreve método para determinação do teor de clorato no hipoclorito
de sódio pelo método volumétrico.
NBR 9559 Solução de hipoclorito de sódio comercial: determinação
do teor de hidróxido e carbonato de sódio
Prescreve método para determinação do teor de hidróxido e carbonato
de sódio no hipoclorito de sódio comercial.
NBR 9852 Solução de hipoclorito de sódio comercial: determinação
do teor de matérias insolúveis
Prescreve método de ensaio para determinação do teor de matérias
insolúveis de hipoclorito de sódio comercial.
NBR 10790 Cal virgem e cal hidratada para tratamento de água de
abastecimento público
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
25
Secretaria de Vigilância em Saúde
Fixa condições exigíveis de aceitação e recebimento de cal virgem e cal
hidratada, utilizadas no tratamento de água de abastecimento público.
NBR 11176 – Sulfato de alumínio
Fixa condições exigíveis para o fornecimento e recebimento do produto
sulfato de alumínio, utilizado, entre outros ns, no tratamento de água
destinada ao abastecimento público.
NBR 11177 – Amostragem de sulfato de alumínio
Fixa condições exigíveis para coleta de amostras de sulfato de alu-
mínio, no estado sólido (embalado e a granel) ou no estado líquido
(veículo-tanque).
NBR 11179 Sulfato de alumínio: determinação de resíduo insovel
em água
Prescreve método para determinação de resíduo insolúvel em água,
no sulfato de alumínio sólido e líquido.
NBR 11180 Sulfato de alumínio: determinação do alumínio total
solúvel em água
Prescreve método para determinação do teor de alumínio sólido e quido.
NBR 11181 – Sulfato de alumínio: determinação do ferro total solúvel
em água, no sulfato de alumínio sólido e líquido
Prescreve método para determinação de ferro total solúvel em água,
no sulfato de alumínio sólido e líquido.
NBR 11182 Sulfato de alumínio: determinação de acidez livre e
basicidade
Prescreve método para determinação de acidez livre e basicidade
no sulfato de alunio lido e líquido.
NBR 11887 – Hipoclorito de cálcio
Fixa condições exigíveis para o hipoclorito de cálcio, utilizado entre ou-
tros ns como desinfetante no tratamento de água destinada ao abas-
tecimento público e piscinas de uso geral.
NBR 12144 Hipoclorito de cálcio: determinação de resíduo insolúvel
em água
Prescreve método de determinação de resíduo insolúvel em água no
hipoclorito de cálcio.
NBR 12145 Hipoclorito de cálcio: determinão granulométrica
Prescreve todo de determinação granulométrica de hipoclorito
de cálcio
NBR 12279 Amostragem de hipoclorito de dio
Fixa condições exigíveis para coleta de amostras de hipoclorito de sódio.
NBR 12308 – Amostragem de hipoclorito de cálcio
Fixa as condições exigíveis para a coleta de amostras de hipoclorito
de cálcio.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
26
Secretaria de Vigilância em Saúde
Construção de poços
NBR 12244 Construção de po para captação de água subterrânea
Fixa condições exigíveis na construção de poço para captão de água sub-
ternea, destinada ao abastecimento blico. Aplica-se a todos os tipos de
poços perfurados em rochas de caractesticas físicas as mais diversas.
LEGISLAÇÃO DA ÁREA DE SAÚDE
Na vasta legislação relacionada à saúde pública, localizam-se três grupos de
temas que diferentemente se relacionam com este documento: a legislação que
cria e regulamenta o SUS (em especial a Lei n
o
8.080/90), a legislação que es-
tabelece procedimentos para os sistemas de abastecimento de água (Portaria
MS n
o
443/1978) e a legislação sobre a potabilidade da água, além da Portaria MS
n
o
518/2004, com ênfase para a legislação que estabelece as condições de
aplicação de flúor na água. Descrevem-se a seguir os referidos instrumentos:
Lei n
o
8.080, de 19 de setembro de 1990
Trata-se da legislação que regulamenta o capítulo sobre saúde da Consti-
tuição Federal de 1988, dispondo “sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e outras providências”. As interseções dessa
legislação com o tema do presente manual podem ser observados em:
Art. 2
o
A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1
o
O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e exe-
cução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos
de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que
assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua
promoção, proteção e recuperação.
§ 2
o
O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas
e da sociedade.
Art. 3
o
A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre
outros, [...] o saneamento básico, o meio ambiente [...]
Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
27
Secretaria de Vigilância em Saúde
do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à
coletividade condões de bem-estar físico, mental e social.
Art. 6
o
Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único
de Sde (SUS):
II - a participação na formulação da política e na execução de ações
de saneamento básico;
...................................................................................................................
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido
o do trabalho;
Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete:
I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde
e gerir e executar os serviços públicos de saúde;
...................................................................................................................
IV - executar serviços:
d) de saneamento básico
Portaria MS n
o
443/BSB de 3 de outubro de 1978
A rigor, trata-se de uma legislão sobre boas práticas em sistemas de
abastecimento de água. Interessante observar que data de 1978, mas que
teve baixa obserncia no terririo nacional, tanto pelos prestadores de ser-
viços de saneamento quanto pelas autoridades sanirias. Porém, permanece
em vigor e deve ser observada como um instrumento complementar, no que
o colide com a Portaria MS n
o
518/2004. Em seu caput, estabelece que o
Ministro de Estado da Saúde resolve: I - Aprovar as normas, que com esta se
baixam sobre protão saniria dos mananciais, dos serviços de abasteci-
mento blico e controle de qualidade da água nos mesmos e das instalações
prediais, elaboradas por especialistas do Ministério da Saúde, da Fundão
Estadual de Engenharia do Meio Ambiente do Rio de Janeiro (FEEMA) da
Secretaria Especial do Meio Ambiente, do Ministério do Interior e da Com-
panhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), de São Paulo.
Legislação sobre uoretação
Sobre o tema, constam:
A Lei n
o
6.050, de 24 de maio de 1974, quedispõe sobre a uore-
tação da água em sistemas de abastecimento quando existir estão
de tratamento”.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
28
Secretaria de Vigilância em Saúde
O Decreto n
o
76.872, de 22 dezembro de 1975, que “regulamenta a Lei
n
o
6.050, de 24 de maio de 1974, que dispõe sobre a uoretação da
água em sistemas públicos de abastecimento”.
A Portaria n
o
635/BSB, de 26 de dezembro de 1975, que aprova nor-
mas e padrões sobre a uoretação da água dos sistemas públicos de
abastecimento, destinada ao consumo humano.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
Da vasta legislação ambiental existente no país, nos diversos níveis federativos,
possui estreita aplicabilidade ao abastecimento de água para consumo humano a
Resolução Conama n
o
357, de 17 de março de 2005, que estabelece critério para
classificação das águas doces, salobras e salinas do Território Nacional, em refor-
mulação quando da elaboração deste manual. Essa legislação, ao definir os usos e
os requisitos de qualidade da água que cada uma das nove classes de águas naturais
sendo cinco classes de águas doces devem apresentar, tem possibilitado o en-
quadramento das águas de todo o território brasileiro e, em decorrência, o zelo pela
manutenção de sua qualidade.
Mesmo que essa legislação seja dinâmica, certamente se constitui na principal
referência para a averiguação da qualidade das águas dos mananciais, conforme
previsto nos artigos 7, 9 e 10 da Portaria MS n
o
518/2004.
LEGISLAÇÃO SOBRE RECURSOS HÍDRICOS
Deve ser atentamente observada a Lei n
o
9.433, de 8 de janeiro de 1997, que
institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Pontos importantes definidos nessa
legislação incluem:
Art. 1
o
A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes
fundamentos:
I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III - em situões de escassez, o uso prioritário dos recursos dricos é
o consumo humano e a dessedentão de animais;
IV - a gestão dos recursos dricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo
das águas;
V - a bacia hidrogca é a unidade territorial para implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
29
Secretaria de Vigilância em Saúde
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com
a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.
Art. 2
o
São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade
de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo
o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem
natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.
Art. 3
o
Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos:
I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos
de quantidade e qualidade;
II - a adequão da gestão de recursos hídricos às diversidades sicas, bióticas,
demográcas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País;
III - a integração da gestão de recursos hídricos com a geso ambiental;
IV - a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores
usuários e com os planejamentos regional,estadual e nacional;
V - a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo.
Art. 5
o
São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos
preponderantes da água;
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V - a compensação a municípios.
São ainda estabelecidas nessa legislação as figuras dos comitês de bacia hidrográ-
fica, com competência para arbitrar os conflitos relacionados aos recursos hídricos,
aprovar e acompanhar o Plano de Recursos Hídricos da bacia e estabelecer os me-
canismos de cobrança pelo uso da água, e das agências de água, com a função de
secretaria executiva dos comitês.
1.3 MARCOS INSTITUCIONAIS
Para que se empreguem adequadamente as boas práticas no abastecimento de
água, torna-se indispensável reconhecer e observar a estrutura institucional que
suporte à área de abastecimento de água, nos níveis federal, estadual, distri-
tal e municipal. Na atual estrutura do país, a área de saneamento encontra lugar
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
30
Secretaria de Vigilância em Saúde
principalmente em três estruturas institucionais: a de desenvolvimento urbano
representada no nível federal pelo Ministério das Cidades –, a de saúde e a de
meio ambiente. Além disso, encontra inúmeras interfaces com outras áreas. Apenas
analisando os atuais órgãos federais, o campo do saneamento apresenta maiores
ou menores relações com o Ministério das Cidades, por meio de suas Secretarias
de Saneamento Ambiental, Habitação, Transportes e Mobilidade Urbana, Progra-
mas Urbanos; o Ministério do Meio Ambiente, com suas Secretarias de Recursos
Hídricos, Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos, Políticas para o De-
senvolvimento Sustentável, Biodiversidade e Floresta; o Ministério da Saúde, além
dos Ministérios de Ciência e Tecnologia, Educação, Cultura; Agricultura, Pecuária
e Abastecimento; Integração Nacional, Turismo.
Na atual estrutura do Ministério da Saúde, localiza-se a Secretaria de Vigilância
em Saúde e, subordinada a ela, a Coordenação-Geral de Vigilância Ambiental em
Saúde, responsável pela vigilância da qualidade da água para consumo humano.
Pela concepção institucional descentralizada estabelecida pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), essa estrutura tem correspondências, ainda que com diferenciações
no formato, nos níveis estadual e municipal.
Quanto à posição do saneamento no governo federal, o Ministério das Cidades
estruturou-se a partir de 2003, compondo-se de quatro secretarias nacionais: Sanea-
mento Ambiental; Habitação; Transportes e Mobilidade Urbana e Programas Urba-
nos. A Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental apresenta-se com a missão de
assegurar os direitos humanos fundamentais de acesso à água potável e à vida em
ambiente salubre nas cidades e no campo, mediante a universalização do abaste-
cimento de água e dos serviços de esgotamento sanitário, coleta e tratamento dos
resíduos sólidos, drenagem urbana e controle de vetores e reservatórios
de doenças transmissíveis.
Logo, compete a essa secretaria ações como financiamento, avaliação, implemen-
tação e estabelecimento de diretrizes para a área de saneamento, tornando-se a
principal referência, em nível federal, para a área.
Nos níveis estadual e municipal, as ações de saneamento são realizadas por órgãos
com diferentes formatos institucionais e administrativos. Em cada estado da federa-
ção encontram-se as companhias estaduais de saneamento, responsáveis pela opera-
ção, mediante concessão municipal, de um grande número de sistemas de abasteci-
mento de água. Além disso, um número razoável de sistemas é de responsabilidade
direta do poder municipal, com gestão organizada por meio de serviços autônomos,
empresas públicas, órgãos da administração direta e outras formas. Um pequeno nú-
mero deles, no Brasil,rmou contrato de concessão com empresas privadas.
No Ministério do Meio Ambiente também se localizam estruturas relaciona-
das ao saneamento, em especial a Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assenta-
mentos Humanos, além da Secretaria Nacional de Recursos Hídricos. Esta última,
responsável pela formulação da Política Nacional de Recursos Hídricos, pela inte-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
31
Secretaria de Vigilância em Saúde
gração da gestão dos recursos hídricos com a gestão ambiental e por exercer a se-
cretaria-executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, coordena as ações
de recursos hídricos, com importantes interfaces com o abastecimento de água.
Nessa mesma política de recursos hídricos, a Agência Nacional de Águas
(ANA), autarquia sob regime especial com autonomia administrativa e finan-
ceira criada pela Lei n
o
9.984, de 17 de julho de 2000, tem por atribuição “imple-
mentar a Política Nacional de Recursos Hídricos e coordenar o Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos dricos”. Por determinação legal, dentre outras
funções, cabe à agência:
supervisionar, controlar e avaliar as ões e atividades decorrentes do
cumprimento da legislão federal pertinente aos recursos hídricos;
disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalizão, o con-
trole e a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos dricos;
outorgar [...] o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água
de domínio da Uno [...];
scalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da Uno;
implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica,
a cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União;
planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos
de secas e inundões [...];
promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos
financeiros da União em obras e serviços de regularização de cursos de água,
de alocação e distribuição de água, e de controle da poluição hídrica, em
consonância com o estabelecido nos planos de recursos hídricos;
definir escalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos
e privados, visando a garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos [...];
organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informões sobre Recursos
dricos;
propor ao Conselho Nacional de Recursos dricos o estabelecimento de
incentivos, inclusive financeiros, à conservação qualitativa e quantitativa
de recursos hídricos.
É importante ainda destacar a existência dos Conselhos Nacionais, de seus corres-
pondentes estaduais e em alguns casos municipais, bem como a realização de Confe-
rências periódicas, reconhecidas como instâncias máximas de definição de diretrizes
para as políticas nos diversos campos. Assim, identificam-se no nível federal o Con-
selho Nacional das Cidades, com sua mara de Saneamento Ambiental; o Conselho
Nacional de Saúde, com sua Comissão Intersetorial de Saneamento e Meio Ambiente,
e o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, dentre outras, com suas câmaras técni-
cas de águas subterrâneas, de cobrança pelo uso de recursos hídricos e de gestão de
recursos hídricos transfronteiriços.
BOAS PRÁTICAS NO ABASTECIMENTO
DE ÁGUA SOB A PERSPECTIVA DOS RISCOS
À SAÚDE HUMANA
2
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
35
Secretaria de Vigilância em Saúde
Neste capítulo, as diversas unidades empregadas para o fornecimento de
água às populões o abordadas a partir de um olhar sobre os potenciais ris-
cos à saúde que podem ser a elas atribdos. Assim, parte-se do pressuposto de
que, para se assegurar a potabilidade da água para consumo humano nos termos
definidos pela Portaria MS n
o
518/2004 (antiga Portaria MS n
o
1.469/2000), é
essencial que a conceão, o projeto, a construção e, sobretudo, a operação
dessas unidades sejam desenvolvidos com a preocupão de minimizar riscos à
saúde. E, além disso, que tais cuidados podem implicar modificões nas prá-
ticas tradicionalmente vigentes, quando estas se baseiam exclusivamente nas
recomendações dos manuais cnicos e nos livros-textos em uso no ps.
A estrutura do capítulo considera, conforme definido pela Portaria, que
o fornecimento de água às populações pode ser realizado por dois diferen-
tes tipos de instalão: o sistema de abastecimento de água para consumo
humano e a solução alternativa coletiva de abastecimento de água para consumo
humano. O quadro a seguir relembra as definões expressas na Portaria MS
n
o
518/2004:
sistema de abastecimento de água instalação composta por conjunto
de obras civis, materiais e equipamentos, destinada à produção e à
distribuição canalizada de água potável para populações, sob a respon-
sabilidade do poder público, mesmo que administrada em regime de
concessão ou permissão.
solução alternativa coletiva – toda modalidade de abastecimento cole-
tivo de água distinta do sistema de abastecimento de água, incluindo,
entre outras, fonte, poço comunitário, distribuição por veículo trans-
portador, instalações condominiais horizontal e vertical.
Para efeito do desenvolvimento da presente seção, assumiu-se que, fisicamente,
um sistema de abastecimento de água assemelha-se às soluções alternativas que
distribuem água por meio de canalizações. Em outras palavras, do ponto de vista
físico, configuram-se duas modalidades de fornecimento de água, classificação que
orientou o presente manual.
Portanto, as divies iniciais deste catulo (2.1 a 2.5) referem-se à pri-
meira modalidade, o item 2.6 é específico para a segunda modalidade e as
demais divies (2.7 a 2.9) aplicam-se igualmente a ambos. A orientação das
divisões iniciais (2.1 a 2.6) é a de enfatizar aspectos operacionais e de projeto,
enquanto o item 2.9 versa especificamente sobre cuidados a serem observados
na fase de constrão.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
36
Secretaria de Vigilância em Saúde
2.1 MANANCIAL
É a fonte ou a origem da água utilizada para o abastecimento, podendo ser
de três tipos:
água supercial: são os córregos, os ribeirões, os rios ou os lagos, isto é, os
corpos de água formados pela água que escorre sobre a superfície do solo;
água subterrânea: formada pela água que se inltra e se movimenta
abaixo da supercie do solo, ou seja, no interior da crosta terres-
tre, e que se manifesta por meio de nascentes, pos rasos, pos
profundos, drenos, etc. Pode pertencer ao leol o-connado ou
frtico, no qual a água mantém a pressão atmosférica, ou ao lençol
connado, onde a água está sob pressão, entre camadas imperm-
veis do subsolo;
água de chuva: água que se precipita em direção à superfície do
planeta e é aproveitada antes que atinja essa superfície, durante
as chuvas.
A ocorrência de cada um desses tipos de manancial está diretamente associada
à circulação da água no planeta, conhecida como ciclo hidrológico.
CICLO HIDROLÓGICO
“Ciclo hidrológico é o nome dado à dimica permanente da água no pla-
neta. Descreve as etapas ou os mecanismos (formas) de transferência ou mo-
vimentação da água em seus diversos estados (líquido, sólido ou gasoso), quais
sejam, a precipitação, a evapotranspiração, a infiltração e o escoamento super-
ficial (figura 2.1).
As diferentes etapas do ciclo hidrológico podem ser assim caracterizadas:
Precipitação
Por precipitação atmosférica entende-se o conjunto de águas origina-
das do vapor d´água atmosférico, que cai em estado líquido (chuva, nebli-
na, orvalho) ou sólido (granizo, geada, neve) sobre a superfície da Terra.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
37
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Evapotranspiração
A evapotranspiração inclui a água retirada de uma rego pelos seguintes
mecanismos:
evaporação: passagem da água supercial do estado líquido para o
gasoso, fenômeno que depende diretamente da temperatura e da umi-
dade relativa do ar;
transpiração: processo pelo qual as plantas retiram a umidade do solo,
por meio de suas raízes, e liberam-na no ar sob a forma de vapor, por
meio dos estômatos existentes nas folhas.
Inltração
A infiltração é o processo pelo qual parte da água precipitada so-
bre a supercie do planeta atinge seu subsolo, formando os leóis
de água subterrânea. Esses leóis de água podem ser de dois tipos
(OLIVEIRA, 1976):
lençol freático: aquele em que a água se encontra livre, com sua su-
perfície sob a ação da pressão atmosférica. É típico das águas que
comumente ocorrem em poços freáticos e em nascentes que uem
com a pressão da atmosfera;
lençol confinado: aquele em que a água se encontra confinada por
camadas impermeáveis do subsolo, sujeitas, portanto, a pressão
superior à pressão atmosférica.
Escoamento supercial
O escoamento supercial é o deslocamento sobre o terreno, por
efeito da ação da gravidade, da parcela da água precipitada da at-
mosfera que não se inltra no solo ou que não retorna diretamente à
atmosfera pela evapotranspiração. As formas mais conhecidas de es-
coamento supercial são as enxurradas, os córregos, os ribeirões
e os rios.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
38
Secretaria de Vigilância em Saúde
Figura 2.1 – Ciclo hidrológico
DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO PLANETA
Dos 1.386 quatrilhões de toneladas de água existentes no planeta, apenas 2,5%
são água doce. Dessa reduzida parcela, tão-somente 0,3% corresponde à água
existente em rios e em lagos (REBOUÇAS, 1999).
Logo, da pequena parcela de água doce disponível, uma proporção de apenas
0,3% apresenta-se como água superficial, de utilização mais fácil pelo ser huma-
no. Tal realidade ressalta a grande importância da preservação da quantidade e
da qualidade dos recursos hídricos disponíveis no planeta, em especial das águas
superficiais, que a cada dia se tornam relativamente mais escassos em função do
acelerado crescimento populacional, da utilização dos recursos naturais pelo
homem e da poluição.
Ainda que o total da água que participa do ciclo hidrológico não se altere,
por se tratar de um ciclo fechado, podem-se modificar a sua distribuição e a sua
qualidade nos principais ambientes que retêm a água, ainda que transitoriamente
(atmosfera, oceanos e continentes). Ou seja, mesmo não se alterando o total de
chuva, se cuidados não forem tomados para a sua permanência em boas con-
dições de uso no local de interesse, a água pode car cada vez mais inacessível
àqueles que dela necessitam.
Nesse sentido, a vegetação é de fundamental importância para a retenção da
água nos continentes, pois dela depende a maior ou a menor quantidade da água
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
39
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que se infiltra no solo, parcela esta que garante as vazões das nascentes e dos poços,
além de ser a grande responsável pela perenidade dos corpos de água superficial.
Portanto, o desmatamento predatório pode comprometer seriamente os recursos
hídricos numa dada região, podendo levar até mesmo à sua exaustão e à conse-
qüente desertificação de vastas áreas, como ocorre em diversas regiões do mundo
e do próprio Brasil.
A qualidade da água é um atributo dinâmico no tempo e no espaço e bastante
susceptível às ações antrópicas. Normalmente, os recursos hídricos prestam-se a
múltiplos usos, tais como: a geração de energia, a irrigação, a criação de animais,
o abastecimento para consumo humano e fins industriais, a recreação e a pesca, a
composição e a harmonia paisagística e até mesmo a recepção de efluentes domés-
ticos e industriais, desde que de forma controlada. A cada uso corresponde uma
certa demanda de água, em quantidade e qualidade necessárias e suficientes. Entre-
tanto, a concentração demográfica, a expansão industrial, as atividades agropecuá-
rias, enfim, o uso e a ocupação do solo na bacia hidrográfica de um manancial po-
dem introduzir na água substâncias em excesso ou indesejáveis, comprometendo
diversos usos. De forma análoga, a captação de água para suprir uma demanda
específica pode comprometer a oferta de água para outros fins. Portanto, o dese-
quilíbrio entre a oferta e a demanda de água, ou entre as funções de um recurso
hídrico como manancial de abastecimento e corpo receptor, podem fazer dos usos
múltiplos usos conflitantes.
Portanto, a preservação da vegetação, o uso e a ocupação adequados do solo
nas bacias contribuintes influenciam diretamente na preservação da qualidade das
águas dos mananciais.
A tênue linha que separa as possibilidades múltiplas do conflito requer racio-
nalidade e hierarquia (prioridades)
1
no uso da água, o que inclui necessariamente
disciplina de uso, preservação da qualidade da água, controle de perdas e de desper-
dícios e reciclagem. O conflito demanda arbitragem, que, no caso do uso da água,
deve ser exercida pela própria sociedade, amparada por um arcabouço legislativo-
institucional que possibilite a gestão democrática dos recursos hídricos.
Neste sentido, muito se avançou no país, culminando na promulgação da
Lei Nacional de Recursos Hídricos, a qual incorpora dispositivos tais como: o da
gestão por bacias hidrográficas, exercida pelos Comitês de Bacias (o “Parlamento
das águas) e as Agências da Água (órgãos técnicos executores); o do usuário-paga-
dor, exercido por meio do mecanismo de outorga da água (direito de uso); e o do
poluidor-pagador.
No que diz respeito à preservação da qualidade da água e do controle de polui-
ção, também muito se avançou, ao menos no que tange aos aspectos normativos e
fiscalizadores, haja vista o moderno aparato de licenciamento ambiental e controle
de emissão de efluentes existentes na legislação federal e de vários estados.
1 A legislação brasileira sempre foi muito clara, desde o Código das Águas da década de 1930 até a
atual Lei Nacional de Recursos Hídricos: em situações de escassez, os usos prioritários da água são
o abastecimento para consumo humano e a dessedentação de animais.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
40
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Entretanto, em que pesem os avanços, há que se reconhecer que da intenção ao
gesto e à ação o caminho a ser percorrido ainda é longo.
IMPORTÂNCIA DA ESCOLHA CORRETA
E DA PROTEÇÃO DOS MANANCIAIS
O manancial é uma das partes mais importantes do abastecimento de água, pois
de sua escolha criteriosa depende o sucesso das demais unidades do sistema, no que se
refere tanto à quantidade como à qualidade da água a ser disponibilizada à populão.
O manancial é a primeira e fundamental garantia da quantidade
e da qualidade da água em serviço de abastecimento de água.
Deve ser lembrado também que, se a água captada estiver poluída por determina-
das substâncias, não será possível torná-la potável pelos processos de tratamento de
água usualmente utilizados. Os fatos a seguir descritos esclarecem essa afirmação.
O chamado tratamento convencional da água (composto por coagulação, flocu-
lação, decantação e filtração), mesmo complementado por oxidação, não é capaz de
remover satisfatoriamente substâncias como: antimônio, bário, cromo (+6), ciane-
to, fluoreto, chumbo, mercúrio (inorgânico), níquel, nitrato, nitrito, selênio (+6),
tálio, compostos orgânicos sintéticos, pesticidas e herbicidas, rádio, urânio, cloreto,
sulfato e zinco (AWWA, 1999).
Tal problema chega a assumir uma proporção tão crítica que em países desen-
volvidos têm se priorizado estratégias em que um município de maior porte supor-
ta financeiramente regiões vizinhas, indústrias e produtores agrícolas para proteger
as bacias hidrográficas. No cômputo final, os custos inerentes a tal apoio podem ser
muito menores do que tentar transformar água poluída em água potável. Relatos
de 1999 dão conta de que a cidade de Nova York planejava despender U$ 1,4 bilhão
para proteger seus mananciais, até mesmo adquirindo grandes extensões de terra
nas bacias, o que evitaria um gasto de U$ 3 a 8 bilhões para a implantação de um
novo sistema de tratamento de água (WORLDWATCH INSTITUTE, 1999).
A Declaração Universal dos Direitos da Água, promulgada pela ONU em 1992,
em seu artigo 3
o
lembra que:
“Os mecanismos naturais de transformação da água bruta em água
potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser
manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.”
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
41
Secretaria de Vigilância em Saúde
Todos esses importantes alertas apontam numa só direção:
A imperiosa necessidade da proteção dos mananciais utilizados pelas
populações humanas e demais seres vivos
Por isso é que, em diversos países, as bacias hidrográficas de mananciais são
cuidadas e declaradas como verdadeiros santuários ambientais.
PRÁTICA NÃO RECOMENDADA PRÁTICA RECOMENDADA
Muitas vezes, o prossional de abas-
tecimento de água, ao escolher o ma-
nancial, pensa apenas na suciência
de sua vazão (quantidade de água) e
na facilidade de adução de suas águas
até a comunidade.
Ao escolher um manancial,
o profissional de abastecimento
de água deve considerar aspectos
relacionados à quantidade de água,
à facilidade de adução e à proteção
do manancial (qualidade da água),
lembrando-se de que, geralmente,
quanto maior a vazão do manan-
cial, tanto maior é sua bacia hidro-
gfica, o que vale dizer, tanto mais
difícil será garantir a proteção da
respectiva bacia hidrográfica e, por
conseguinte, a qualidade da água
a ser captada.
Assim sendo, todo o esfoo deve ser feito pelos prestadores dos serviços de
abastecimento de água, juntamente com as populões abastecidas, para que
seja garantido − inclusive, maso apenas, pela atuão dos órgãos ambientais
responveis que as atividades desenvolvidas na bacia a montante das capta-
ções de águao comprometam, mas favoram a quantidade e a qualidade da
água. A seguir, apontam-se algumas provincias a serem adotadas para atingir
esses objetivos:
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
42
Secretaria de Vigilância em Saúde
MEDIDAS DE ORDEM GERAL PARA PROTEÇÃO DE MANANCIAIS
Ter o adequado conhecimento da bacia hidrográca a montante da captação de
água, incluindo fatores físicos, bióticos e socioeconômicos; aspectos relacionados à
geologia, ao relevo, ao solo, à vegetação, à fauna e às atividades humanas aí desenvol-
vidas. Para tanto, é essencial que se realizem periodicamente diagnósticos de uso
e ocupação do solo e inspeções sanitárias nas bacias contribuintes aos mananciais.
Proceder ao enquadramento dos mananciais, nos termos e no “espírito” da legisla-
ção pertinente (Resolução Conama n
o
257/2005).
“ENQUADRAMENTO: estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da água
(classe) a ser alcançado ou mantido em um segmento de corpo d’água, de acordo
com os usos preponderantes pretendidos, ao longo do tempo.”
Promover a gestão dos recursos hídricos, nos termos da Lei n
o
9.433, de 8 de janeiro
de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, incorporando princípios
e instrumentos, tais como:
• a gestão por bacia hidrográca;
• a constituição de Comitês de Bacias;
• a elaboração de Planos Diretores de Recursos Hídricos;
• a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
• a participação comunitária e o controle social.
Se possível deverão ser criados e implementados, no âmbito local, dispositivos legais,
tais como:
• leis de proteção de mananciais;
• zoneamento ambiental;
• leis de uso e ocupação do solo;
• criação de Áreas de Proteção Ambiental.
Além dessas medidas de ordem geral, destacam-se as seguintes iniciativas práticas
para garantir a qualidade e a quantidade de água necessária ao manancial:
1) Conservação ou recomposição da vegetação das áreas de recarga do lençol
subterrâneo, áreas estas geralmente situadas nas chapadas ou nos topos dos
morros.
2) Manutenção da vegetação em encostas de morros, além da implantação de
dispositivos que minimizem as enxurradas e favoreçam a infiltração da água
de chuva, como, por exemplo, pequenas bacias de captação de enxurradas
em encostas de morros.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
43
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Figura 2.2 – Terraços de inltração em curva de nível
Figura 2.3 – Pequenas bacias de inltração de enxurradas em encosta
de morro (planta esquemática)
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
44
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Figura 2.4 – Pequenas bacias de inltração de enxurradas
em encosta de morro (perl esquemático)
3) Proteção das áreas de nascentes de água.
4) Conservação ou replantio, com vegetação nativa, das matas ciliares, que se
situam ao longo dos cursos de água e são importantes para minimizar o
carreamento de solo e de poluentes às coleções de água superficial.
5) Utilização e manejo corretos de áreas de pasto, a fim de evitar a degradação
da vegetação e o endurecimento do solo por excessivo pisoteamento de
animais (o que dificulta a infiltração da água de chuva).
6) Utilização e manejo adequados do solo nas culturas agrícolas visando a pre-
venir a erosão e o carreamento de sólidos para os cursos de água, por meio de
técnicas apropriadas, como plantio em curvas de nível e previsão de faixas de
retenção vegetativa, cordões de contorno e culturas de cobertura, além do uso
criterioso de maquinário agrícola, evitando a impermeabilização do solo.
7) Desvio de enxurradas que ocorrem em estradas de terra para bacias de infil-
tração a serem implantadas lateralmente às estradas vicinais, procedimento
que evita o carreamento de solo aos cursos de água e favorece a infiltração da
água de chuva no subsolo (figuras 2.5 e 2.6).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
45
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Figura 2.5 Pequena bacia de inltrão de enxurrada proveniente de estrada
de terra (observar a lombada feita na estrada para o desvio da enxurrada)
FONTE: SAAE – Viçosa / CBCN
Figura 2.6 – Locação de pequena bacia de inltração de água de enxurrada
em estrada de terra (planta)
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
46
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8) Utilização correta de agrotóxicos e de fertilizantes para evitar a contamina-
ção de aqüíferos e das coleções de água de superfície.
9) Destinação adequada dos esgotos e dos resíduos sólidos (“lixo”) originados
em residências, criatórios de animais e atividades fabris, com a mesma fina-
lidade do tópico anterior, valorizando técnicas de minimização, reutilização
e reciclagem de resíduos, assim como o reuso da água em aplicações que não
representem riscos à saúde humana e animal.
10) Estímulo à utilização de sistemas de irrigação mais eficientes no consumo
de água e de energia pelos agricultores.
11) Incentivo a atividades econômicas que não agridam o meio ambiente,
tais como agricultura orgânica e turismo ecológico.
12) Oferecimento de condições à participação democrática, empreendedora e
organizada dos cidadãos, desenvolvendo trabalhos em parceria com insti-
tuições e comunidades.
Por fim, vale ressaltar que dois dos principais problemas “emergentes” de qua-
lidade da água para consumo humano guardam relação direta com o uso e a ocu-
pação do solo na bacia de captação: a transmissão de protozooses (ex.: giardíase
e criptosporidiose) e o desenvolvimento de cianobactérias.
Importância da atenção ao manancial
Giardíase e criptosporidiose são zoonoses, sendo as atividades agrope-
cuárias e os esgotos sanitários fontes inquestionáveis de contaminação de
mananciais (ROSE et al., 1998); cistos de Giardia e oocistos de Cryptospo-
ridium vêm sendo detectados em mananciais de nosso país em densidades
elevadas, superiores ao registrado na literatura estrangeira (BASTOS et al.,
2001). Cianobactérias encontram habitat propício ao seu desenvolvimen-
to em ambientes eutrozados e constituem sérios problemas de saúde
pública, ao, com a lise das células, liberarem toxinas letais ao seres huma-
nos (CHORUS; BARTRAM, 1999).
Em que pesem os avanços analítico-metodológicos na pesquisa de pro-
tozoários e de cianotoxinas em amostras de água, seu emprego rotineiro
ainda é uma possibilidade distante, quer pelas limitações pendentes dos
próprios métodos, quer pelos custos envolvidos. Em extensão considerável,
a ‘”emergência” dessas duas questões colocam em xeque os paradigmas
tradicionais de avaliação da qualidade da água e, em relação aos proto-
zoários, alguns autores sugerem que tanto ou mais importante que a pes-
quisa acerca deles são medidas tais como: inspeção sanitária das fontes de
abastecimento e respectivas bacias de captação (uso e ocupação do solo,
potenciais fontes de contaminação, etc.); programas de proteção de bacias
e fontes de abastecimento (CRAUN et al., 1998; ALLEN et al., 2000).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
47
Secretaria de Vigilância em Saúde
Em programas de inspeção de mananciais, especial atenção deve ser
dirigida à existência de focos de poluição pontuais ou difusos, tais como:
ocupação residencial na bacia de captação, atividades agropecuárias e
industriais. Assumem particular importância: (i) os focos de poluição as-
sociados à carga de nutrientes (ex.: atividades agrícolas), que concorrem
para a eutrozação de mananciais e as devidas conseqüências para o trata-
mento da água e para a saúde humana em razão da proliferação de algas
e cianobactérias; (ii) as atividades pecuárias como fonte de contaminação
de mananciais com organismos patogênicos com potencial zoonótico, em
especial os protozoários, em função da reconhecida maior diculdade de
remoção por meio de processos convencionais de tratamento de água.
A mesma abordagem aplica-se a subsncias de dicil remão por
meio de processos convencionais de tratamento de água. Assim, a aten-
ção aos mananciais deve tamm considerar as atividades agrícolas,
industriais e extrativistas (ex.: garimpo) como fontes de contaminão
de substâncias qmicas refratárias aos processos de tratamento con-
vencional da água, tais como agrotóxicos e metais pesados.
Assim torna-se nítida e justificável a visão sistêmica pretendida na Portaria MS
n
o
518/2004, dando conta da dinâmica da água do manancial ao consumo:
Portaria MS n
o
518/2004 – atenção ao manancial
Art. 9
o
Ao(s) responsável(is) pela operação de sistema de abastecimento
de água incumbe:
III - manter avaliação sistemática do sistema de abastecimento de água,
sob a perspectiva dos riscos à saúde, com base na ocupação da bacia con-
tribuinte ao manancial, no histórico das características de suas águas, nas
características físicas do sistema, nas práticas operacionais e na qualidade
da água distribuída;
V - promover, em conjunto com os óros ambientais e gestores de
recursos hídricos, as ações cabíveis para a proteção do manancial de
abastecimento e de sua bacia contribuinte, assim como efetuar con-
trole das características das suas águas, nos termos do artigo 19 des-
te Anexo, noticando imediatamente a autoridade de saúde blica
sempre que houver indícios de risco à sde ou sempre que amostras
coletadas apresentarem resultados em desacordo com os limites ou
condões da respectiva classe de enquadramento, conforme denido
na legislação especíca vigente.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
48
Secretaria de Vigilância em Saúde
2.2 CAPTAÇÃO
Costuma-se afirmar, com muita propriedade, que:
O tratamento da água começa na sua captação.
Além da relação com a qualidade da água, a captação também tem uma fun-
ção crucial no abastecimento quanto à regularidade do fornecimento da água.
As estruturas de captação, sobretudo em mananciais de superfície, em geral se
localizam junto – em alguns casos até sobre – aos cursos de água, que, no regime
climático brasileiro, quase sempre sofrem grandes variações (de vazão, de veloci-
dade, de vel) ao longo do ano. Por essa razão, é freqüente ocorrerem acidentes
com tais estruturas, provocando colapso no abastecimento, que o reparo dos
acidentes pode ser complexo e demorado. Logo:
A captação tem função crucial no abastecimento, em vista dos riscos
de acidente que enfrenta e, em conseqüência, dos possíveis colapsos no
fornecimento de água.
Por isso, toda atenção deve ser dada à escolha correta, à manuteão e à
operação adequadas do local da captação de água. Para tanto, sugerem-se as
seguintes medidas:
CAPTAÇÃO EM CURSOS D’ÁGUA (CÓRREGOS, RIBEIRÕES E RIOS)
1) Localizar a captação em trechos retilíneos do curso d’água. Quando isto não
for possível, deve-se evitar a localização da captação na parte convexa das
curvas, por favorecerem o depósito de material sólido, preferindo-se o lado
côncavo, cujas margens devem ser protegidas contra a erosão favorecida pela
maior velocidade da água nesses trechos (figura 2.7).
2) Não permitir, sobretudo em mananciais integrantes de pequenas ou de
microbacias hidrográficas, a instalação de indústrias, clubes, plantações ou
outras formas de exploração que requeiram o uso intensivo de agrotóxi-
cos e de fertilizantes, como também o lançamento de esgotos domésticos
e industriais ou o funcionamento de estações de tratamento de esgotos,
a montante e nas proximidades da tomada de água.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
49
Secretaria de Vigilância em Saúde
Figura 2.7 – Localização, em planta, de captação em curso d’água
3) Implantar, quando necessários, dispositivos que impeçam o assoreamento
ou o carreamento de solo para o local da tomada de água (tais como vegeta-
ção e bacias de captação de enxurradas em áreas vizinhas e a montante).
4) Existindo barragem de nível, com soleira para garantir nível mínimo de
água, esta deve ser dotada de descarga de fundo, que garanta o fluxo residual
de água para jusante e também a limpeza do reservatório de água, sobretudo
para remoção do material sólido aí naturalmente decantado (figura 2.8).
5) Para favorecer a captação de água de melhor qualidade, a tubulação de toma-
da deve ser colocada a uma distância de segurança acima do fundo do curso
d’água e abaixo do seu nível mínimo de água.
6) Devem ser colocadas grades e telas em tomadas de água instaladas à superfície
da água.
Figura 2.8 – Posicionamento da descarga de fundo e da tomada de água
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
50
Secretaria de Vigilância em Saúde
7) Em cursos d’água com transporte intenso de sólidos, deve haver dispositivo
para retenção de areia (caixa de areia).
8) Para os casos de mananciais com grandes lâminas de água, deve ser adotada,
no mínimo, uma tubulação de tomada para cada 1,50 m de altura de água.
9) A velocidade da água nos condutos livres ou forçados da tomada de água
deve ser adequada (por exemplo, não ser inferior a 0,60 m/s), para evitar a
deposição de material sólido.
10) As tubulações de tomada de água devem ser ancoradas e protegidas contra
a ação das águas superficiais.
11) Os passadiços devem ter largura mínima necessária para a adequada manu-
tenção (por exemplo, 0,60 m) e possuir, pelo menos, um corrimão.
CAPTAÇÃO EM LAGOS E EM REPRESAS
1) Os responsáveis pelo abastecimento de água devem providenciar uma zona
de proteção à tomada de água, com a interdição, para outros usos, de uma
zona de segurança com raio mínimo a seu redor (por exemplo, 500 m); e
assegurar a vigilância sistemática para que se cumpra a legislação, que de-
termina como área de preservação permanente as margens de contorno das
lagoas ou dos reservatórios naturais ou artificiais, com as seguintes larguras:
100 m em áreas rurais (exceto lagos e represas com até 20 ha de superfície,
cuja faixa marginal de proteção é de 50 m); 30 m em áreas urbanas e 100 m
para represas hidrelétricas.
2) Deve ser mantida permanente vigilância sobre as atividades desenvolvidas
na bacia hidrográfica a montante do lago ou da represa, a fim de impedir
o desenvolvimento daquelas que possam prejudicar a quantidade e a qua-
lidade da água afluente, acionando, para tanto, as entidades ambientais do
Executivo, do Ministério Público e do Judiciário responsáveis por esse tipo
de fiscalização, além de mobilizar a comunidade para pressionar os respon-
sáveis pela degradação da água.
3) Nessa mesma bacia hidrográfica, devem ser desenvolvidas e incentivadas me-
didas de conservação e de recomposição da vegetação, assim como o correto
uso do solo, para favorecer a infiltração da água de chuva e evitar erosões e a
perda de solos pelas enxurradas.
4) Quando necesrios, devem ser implantados dispositivos que impam o
assoreamento ou o carreamento de solo para o local da tomada de água
(tais como vegetação e bacias de captação de enxurradas em áreas vizi-
nhas e a montante).
5) Para lidar com eventuais problemas de floração de algas, prováveis de
ocorrer em ambientes lênticos, prever tomadas de água a diferentes
profundidades.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
51
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CAPTAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA DE LENÇOL FREÁTICO
(POÇOS RASOS, DRENOS, NASCENTES, ETC.)
1) Manter a área de captação devidamente cercada (garantindo uma distância
mínima das estruturas de, por exemplo, 15 m), limpa e com aparência agra-
dável (sempre que possível gramada e arborizada).
2) Posicionar os dispositivos de captação em cota superior à da localização de
possíveis fontes de poluição, garantindo também afastamentos horizontais
mínimos em relação a essas mesmas possíveis fontes de poluição, observado
o tipo de solo, conforme referências a seguir:
de fossas secas, tanques sépticos, linhas de esgoto: 15 m;
de depósitos de lixo e de estrumeiras: 15 m;
de pos absorventes e de linhas de irrigação subsuperficial de esgotos: 30 m;
de estábulos ou currais: 30 m;
de fossas negras (fossas cujo fundo atinge o lençol freático): 45 m.
3) Proteger as tomadas de água em nascentes ou fontes com a utilização de
caixas de tomada de água cobertas, fechadas e dotadas de tubulações de des-
carga de fundo e de extravasão (figura 2.9).
4) Dotar os pos frticos e os poços de visita ou de bombeamento das
galerias de infiltração (drenos de captação de água) de tampas seladas,
com caimento para fora dos poços (figura 2.10).
5) Construir paredes impermeabilizadas até a profundidade de três metros
abaixo da superfície do solo, para os poços rasos e os poços das galerias de
infiltração (figura 2.10).
6) Posicionar as coberturas dos pos rasos, das caixas ou dos pos de
tomada de água de nascentes ou de galerias de infiltrão em cota alti-
trica superior à cota do terreno e à cota de inundação da área corres-
pondente (pelo menos 0,30 m acima dessas cotas) (figura 2.10).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
52
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Figura 2.9 – Caixa de tomada para captação de água de fonte,
com dispositivo de proteção
Figura 2.10 – Poço raso, revestido com alvenaria de pedra,
incluindo medidas de proteção
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
53
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7) Construir e manter valetas de desvio de águas superficiais para as áreas onde
se situam os poços rasos ou as caixas de tomada de nascentes (figuras 2.9
e 2.10).
8) Dotar os poços freáticos e as galerias de infiltração de dispositivos adequa-
dos e seguros para a extração de água, inclusive do ponto de vista sanitário
(figuras 2.9 e 2.10).
CAPTAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA DE LENÇOL CONFINADO
(POÇOS JORRANTES OU NÃO JORRANTES)
1) A captação com poço(s) deve garantir vazão constante e contínua sem
prejuízo da qualidade da água.
2) O funcionamento de cada poço deve ser adequadamente monitorado, como
parcela integrante dos recursos hídricos regionais.
3) Em resposta a áreas dotadas de mais de um poço, os ensaios de vazão devem
levar em conta a interferência entre os poços.
4) A área onde se localizam os poços deve ser dotada de perímetro de proteção
sanitária com condições de segurança (cerca e portão) e aspecto agradável
(gramado, pintura de moirões, etc.), além de disponibilidade de espaço e de
facilidades, na superfície, para a instalação e a manutenção dos equipamen-
tos e das instalações de bombeamento.
5) Para prevenir riscos de contaminação ou mineralização, o po deve
ser cimentado em toda a exteno necessária ao seu isolamento (figuras
2.11 e 2.12).
6) A profundidade de instalação da bomba deve ser definida com base na
posição prevista para o nível dinâmico relativo à vazão explotada e no tipo
de equipamento de extração de água.
7) A tubulação na saída do poço deve ser dotada de válvulas que evitem o retor-
no da água (válvula de retenção) e possibilitem a interrupção ou o controle
do fluxo de água (válvula de parada); essa tubulação deve ser provida tam-
bém de ventosa e de derivação aberta para a atmosfera e dotada de válvula
de parada, com a finalidade de permitir operações de medição de vazão, lim-
peza do poço e descarga da adutora (figura 2.13).
8) Os poços devem ser sempre desinfetados após sua construção e após a exe-
cução de serviços de desenvolvimento, de limpeza e de manutenção (inclusi-
ve dos equipamentos de extração de água).
9) Os poços abandonados devem ser adequadamente vedados, a fim de impedir
a poluição do aqüífero ao qual se encontram conectados.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
54
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Figura 2.11 – Proteção sanitária em revestimento de poço profundo
perfurado em rocha fendilhada
Figura 2.12 – Proteção sanitária em revestimento de poço profundo
perfurado em solos argilosos
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
55
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Figura 2.13 – Instalação de poço profundo equipada com bomba
submersa, incluindo medidas de proteção
CAPTAÇÃO DE ÁGUAS DE CHUVA
1) Manter os telhados e as calhas sempre limpos antes de cada estação de chuva.
2) Dotar o reservátorio que acumula a água da chuva de dispositivos que pro-
piciem o desvio das águas das primeiras chuvas e as das chuvas fracas por
aproximadamente 5 a 10 minutos ou até que estejam limpas.
3) Dotar o reservatório de dispositivos de extravasão, limpeza de fundo e ven-
tilação devidamente protegidos com telas, para evitar o eventual acesso de
animais e de impurezas ao seu interior.
4) Construir o reservatório com tampas seladas e removíveis.
5) Dotar os reservatórios de canalizações para extração da água, tomando
cuidado para que a tomada de água seja feita com crivo ou tela de proteção
para evitar a entrada de impurezas no seu interior.
6) Deve-se cuidar para evitar condições propícias ao criadouro de vetores que
procriem na água, a exemplo de mosquitos transmissores de dengue.
7) Desinfetar o reservatório antes do uso e zelar para a não-contaminação dos
dispositivos de extração de água.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
56
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MEDIDAS DE CARÁTER GERAL
1) Deve-se providenciar a outorga do direito de uso da água.
2) A área de captação deve ser devidamente cercada, limpa, gramada, arborizada
e mantida com aparência agradável (figura 2.14).
3) Deve-se cuidar da adequada e permanente conservação das suas vias de acesso.
4) Deve-se ter à disposição, em local protegido e de fácil e rápido acesso, ferra-
mentas e materiais que permitam a eficiente operação, manutenção e execu-
ção de reparos na tomada de água.
5) Devem-se limpar e desinfetar as instalões de tomada de água após
qualquer atividade de constrão, de reparos ou manutenção.
Figura 2.14 – Ilustração de boa manutenção da área de captação
2.3 TRANSPORTE (ADUÇÃO)
Basicamente, o transporte da água, seja bruta ou tratada, ocorre por meio
de combinações entre adutoras e tubulações ou canais e estações elevatórias.
Para a garantia da qualidade da água em estações elevatórias, devem ser tomados
os seguintes cuidados operacionais:
1) No escorvamento de bombas, utilizar água de qualidade compatível com
aquela que estiver sendo recalcada.
2) Os poços de suão devem ter sua cobertura acima do nível do terreno e, am
disso, deve haver medidas de proteção para evitar a inltração de água supercial.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
57
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3) Dotar as tubulações de sucção de crivos que impeçam a entrada de sólidos
grosseiros.
4) Manter sempre cobertos os poços de sucção das elevatórias de água tratada,
bem como dotá-los de telas, extravasores e ventilações.
5) Assegurar a adequada impermeabilização das paredes dos poços de sucção
das elevatórias de água tratada.
6) Para as elevatórias que exijam a presença permanente de operadores, dotá-las
de instalações sanitárias adequadas ao uso desse pessoal, inclusive no que se
refere à disposição de esgotos.
7) Lavar e desinfetar periodicamente os poços de sucção, com especial atenção
para aqueles de água tratada.
8) Limpar e desinfetar as tubulações, as bombas e os poços de sucção das eleva-
tórias de água tratada após a execução de serviços de construção, de reparos
ou de manutenção.
9) Manter a área onde se situa a elevatória adequadamente cercada, limpa
e com aparência agradável (sempre que possível gramada e arborizada).
Nas adutoras, os cuidados operacionais nimos a serem tomados para
a garantia da qualidade da água aduzida são os seguintes:
1) Evitar que as adutoras de água tratada se esvaziem, visto que essa situação
pode favorecer a contaminação por água poluída.
2) Instalar e manter adequadamente, nas adutoras, válvulas de descarga e ven-
tosas que possibilitem sua conservação e limpeza e evitem a ocorrência de
pressão negativa no interior das tubulações, situação que pode favorecer
a sucção de águas de qualidade inferior.
3) Dar a necessária manutenção às estruturas de sustentação das tubulações,
à vegetação destinada a evitar erosões nos terrenos e às valetas de desvio de
enxurradas.
4) Ter especial atenção às travessias, que podem se constituir em locais propícios
para a retirada clandestina de água, com conseqüente contaminação da água
transportada pela adutora, bem como acidentes com colapso do trecho.
5) Evitar o assentamento de ocupações humanas e de construções nas faixas
de terreno sob as quais estejam implantadas as tubulações das adutoras.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
58
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2.4 TRATAMENTO
O tratamento da água para consumo humano tem por nalidade primeira torná-la
povel. Em síntese, procura-se tornar a água atrativa e segura para o consumo. Portan-
to, os principais objetivos do tratamento são de ordem sanitária (remão e inativação
de organismos patonicos e substâncias qmicas que representem riscos à saúde) e
estética/organoléptica (por exemplo: remão de turbidez, cor, gosto e odor).
Em uma abordagem mais ampla, o tratamento da água para consumo humano
tem por objetivos:
Atender ao padrão de potabilidade exigido pelo Ministério da Saúde:
prevenindo a veiculação de doenças de origem microbiológica ou
química;
estimulando a aceitação para consumo.
Prevenir a cárie dentária, por meio da uoretação.
Proteger o sistema de abastecimento dos efeitos da corrosão e da
deposição/incrustação.
Considerando esses objetivos, as estações de tratamento geralmente contemplam
a combinação das seguintes etapas:
claricação, com o objetivo de remover impurezas por meio da com-
binação dos seguintes processos unitários: coagulação, oculação,
sedimentação, otação e ltração;
desinfecção, para a inativação de organismos patogênicos;
uoretação, para a prevenção da cárie dentária;
estabilização da água, destinada ao controle da sua corrosividade
ou de sua capacidade de formar desitos excessivos de substâncias
insoveis na água.
A potabilização da água pode requerer a adoção de processos especiais
em seu tratamento, destinados à remoção de contaminantes, como substân-
cias químicas inorgânicas e orgânicas, inclusive metais pesados e agrotóxicos.
A maioria desses processos exige operação especializada e muitas vezes instalações e
manutenção dispendiosas, o que reforça as considerações, apresentadas no item 2.1
deste capítulo, sobre a importância da correta seleção e protão dos mananciais.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
59
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SELEÇÃO DE PROCESSOS VISANDO À CLARIFICAÇÃO
Em tese, do ponto de vista tecnológico, qualquer água pode ser tratada, porém
nem sempre a custos acessíveis ou por meio de métodos apropriados à realida-
de local. Decorre daí o conceito de tratabilidade da água, relacionado à viabilida-
de técnico-econômica do tratamento, ou seja, de dotar a água de determinadas
características que permitam ou potencializem um determinado uso. Portanto,
água potabilizável é aquela que, em função de suas características in natura, pode
ser dotada de condições de potabilidade por meio de processos de tratamento
viáveis do ponto de vista técnico-econômico.
O conhecimento das características da água bruta permite uma avaliação de sua
tratabilidade, ou seja, da escolha do processo de tratamento mais adequado e viável
para torná-la potável.
Em linhas gerais, as cnicas de tratamento de clarificação podem ser divi-
didas em dois grupos: as que se baseiam na filtração rápida e as que se baseiam
na filtração lenta. O primeiro grupo apresenta a coagulação química e a filtração
rápida como etapas fundamentais para a clarificação da água, ao passo que, no
segundo grupo, a etapa básica é a filtração lenta e é dispensável o uso de coagu-
lantes. Em ambos os grupos, a ltração pode ou não ser precedida por outros
processos de clarificação.
A filtração lenta, quando usada como etapa única de clarificação da água, é
geralmente adequada para o tratamento de águas de “boa qualidade, por exem-
plo, águas com baixa turbidez, cor e densidade de algas. Dotada de sistemas de
pré-tratamento, essacnica pode ser a opção para tratar águas com valores me-
dianos de turbidez e de densidade de algas, porém não será, em hipótese alguma,
aplicável a águas que contenham cor verdadeira acima de poucas unidades.
Águas brutas com presença de cor ou valores mais elevados de turbidez e
algas exigem o uso de uma das variantes da técnica de filtrão rápida. Essas va-
riantes englobam seqüências de tratamento conhecidas como de ciclo completo
ou convencional, nas quais, em função de elevados teores de impurezas, a filtra-
ção rápida é precedida de outro processo de clarificação a sedimentão ou
a flotação. Englobam também as seências conhecidas como filtrão direta,
nas quais o filtro é responvel único pela remão do material em suspensão;
geralmente são adequadas para o tratamento de águas que apresentam teores
de turbidez, cor e algas de médio a alto, porém não suficientemente elevados
para justificar o uso de uma ETA de ciclo completo. É importante lembrar que,
em qualquer das variantes da filtrão rápida, a etapa de coagulão é parte
fundamental da seqüência de tratamento.
Nas seqüências de filtração direta, os filtros podem ser de escoamento as-
cendente ou descendente e, neste último caso, podem ser precedidos ou não
de uma etapa de floculação. O uso em série de filtros ascendentes e descen-
dentes é também uma opção considerada como filtração direta e é denomi-
nado dupla filtração.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
60
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Nas figuras 2.15 e 2.16 apresentam-se, respectivamente, os fluxogramas mais
usuais das técnicas de filtração lenta e de ltração rápida; nas tabelas 2.1 e 2.2
estão sintetizadas algumas recomendações gerais para a seleção de processos de
tratamento em função da qualidade da água bruta.
Figura 2.15 – Técnicas de tratamento com uso da ltração lenta em areia
Na avaliação de recomendações como as apresentadas nas tabelas 2.1 e 2.2, é im-
portante considerar que se trata apenas de um referencial para a seleção de técnicas
de tratamento, tendo por base os valores-limites de alguns parâmetros de qualidade
da água. Deve sempre ser lembrado que a qualidade da água, especialmente de ma-
nanciais superficiais, sofre grandes variações ao longo das estações do ano. Logo,
devem ser cuidadosamente analisadas as conseqüências advindas de um período
em que ocorra deterioração da qualidade da água, sobre o processo de tratamento
em consideração.
Exemplificando, se a turbidez da água de um determinado manancial aumenta
muito em épocas de chuvas, porém esse aumento tem duração em geral de algumas
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
61
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horas, deve ser avaliado o impacto desse pico de turbidez sobre o desempenho do
tratamento. Caso o impacto, em um processo de tratamento mais simplificado,
resulte apenas em diminuir a carreira dos filtros, mas sem afetar sua eficiência na
remoção dos sólidos e dos microorganismos indicadores, esse manancial poderia
ser tratado com essa técnica simplificada.
Figura 2.16 – Técnicas de tratamento com uso da ltração rápida
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
62
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Tabela 2.1 – Parâmetros de qualidade da água bruta sugeridos
para as técnicas de ltração lenta
CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA BRUTA
TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO
FILTRAÇÃO LENTA
PRÉ-FILTRAÇÃO DINÂMICA
+ FILTRAÇÃO LENTA
FIME
Turbidez (uT)
95% ≤ 10 95% ≤ 25 95% ≤ 100
100% ≤ 25 100% ≤ 50 100% ≤ 200
Cor verdadeira (uC)
95% ≤ 5 95% ≤ 10 95% ≤ 10
100% ≤ 10 100% ≤ 25 100% ≤ 25
Sólidos em suspensão (mg/L)
95% ≤ 10 95% ≤ 25 95% ≤ 100
100% ≤ 25 100% ≤ 50 100% ≤ 200
Coliformes totais (NMP/100 mL)
1000 5000 20000
E. coli (NMP/100 ml)
500 1000 5000
FONTE: Adaptado de Di Bernardo (1993) e de Di Bernardo et al. (1999)
Tabela 2.2 – Parâmetros de qualidade da água bruta sugeridos
para as técnicas de ltração rápida
CARACTERÍSTICAS
DA ÁGUA BRUTA
TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO
FILTRAÇÃO
DIRETA
DESCENDENTE
FILTRAÇÃO
DIRETA
ASCENDENTE
DUPLA FILTRAÇÃO
PEDREG.+AREIA
DUPLA
FILTRAÇÃO
AREIA G+AREIA
CICLO
COMPLETO
Turbidez
(uT)
90% ≤ 10 90% ≤ 10 90% ≤ 100 90% ≤ 50 90% ≤ 1500
95% ≤ 25 95% ≤ 25 95% ≤ 150 95% ≤ 100
100% ≤ 100 100% ≤ 100 100% ≤ 200 100% ≤ 150
Cor verdadeira
(uC)
90% ≤ 20 90% ≤ 20 90% ≤ 50 90% ≤ 50 90% ≤ 150
95% ≤ 25 95% ≤ 25 95% ≤ 75 95% ≤ 75
100% ≤ 50 100% ≤ 50 100% ≤ 100 100% ≤ 100
Sólidos em
suspensão (mg/L)
95% ≤ 25 95% ≤ 25 95% ≤ 150 95% ≤ 100
100% ≤ 100 100% ≤ 100 100% ≤ 200 100% ≤ 150
Coliformes totais
(NMP/100 mL)
1000
1
1000
1
5000
1
5000
1
E. coli
(NMP/100 ml)
500
1
500
1
1000
1
1000
1
Taxa de ltração
(m/dia)
200-600
2
160-240 FAP: 80-180
FRD: 180-600
2
FAAG: 80-180
FRD: 180-600
2
200-600
2
FONTE: Adaptado de Di Bernardo et al.(2003); Cepis (1992)
1
Limites mais elevados podem ser praticados com a adoção de pré-desinfecção;
2
Na faixa sugerida, as taxas mais elevadas são aplicáveis somente quando é utilizado o meio granu-
lar de dupla camada e testes piloto revelarem que a qualidade da água não fica comprometida.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
63
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Além disso, atualmente é amplamente reconhecido o conceito de ltiplas
barreiras de proteção no sistema de tratamento, ou seja, sabe-se que o mero
de etapas/processos independentes que compõem a estão de tratamento de-
termina seu grau de confiabilidade ou estabilidade. Um sistema de tratamento
com apenas uma etapa de remoção–inativão de patogênicos e que apresenta
eficncia de 4 log, em tese, é menos confvel que um sistema de tratamento
com duas etapas de remoção–inativação, cada uma com eficncia de 2 log. Isso
porque a probabilidade de que o segundo sistema apresente uma falha total é
menor que no caso do primeiro sistema.
A literatura mais atual inclui informações de remoção–inativação de orga-
nismos patogênicos em termos loagarítmicos (log 10) ou percentuais (%), cuja
equivalência pode ser calculada como a seguir:
Y = (100/10 x) - 100
Sendo y = % remoção/inativação
x = log remoção/inativação
Portanto:
LOG REMOÇÃO/INATIVAÇÃO % REMOÇÃO/INATIVAÇÃO
0,5 log
68%
1,0 log
90%
1,5 log
96,8%
2,0 log
99%
2,5 log
99,7%
3,0 log
99,9%
4,0 log
99,99%
Portanto, em épocas de chuvas, se alterações bruscas na qualidade da água
bruta puderem se fazer sentir na qualidade do efluente final, o uso de seqüências
de tratamento com menor número de etapas/processos deve ser evitado.
Propositadamente, não foram incluídos nas tabelas 2.1 e 2.2 valores-guias para
a densidade de algas na água bruta, pois a ampla diversidade de espécies, com as
mais variadas características (tamanho, mobilidade, toxicidade, entre outras), pode
interferir de maneira muito particular na eficiência dos processos de tratamento.
Quando a água a ser tratada conm algas em quantidade significativa, é par-
ticularmente importante avaliar o desempenho dos processos e das seqüências
de tratamento com base em estudos experimentais. Particular atenção deve
ser dada ao tratamento de mananciais com presença de cianobatérias (al-
gas cianofíceas), isso porque, além das dificuldades operacionais associadas
à presea de algas, esses organismos são potenciais produtores de toxinas.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
64
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Assim, ao se avaliar a aplicabilidade de um processo, ou de uma seqüência de
processos, no tratamento de águas com presea de cianobactérias, é funda-
mental observar não apenas a eficiência de remoção de células sadias, como
também a remoção de cianotoxinas. Deve-se ainda avaliar a possibilidade de
o processo promover a indesejada lise celular e a liberação das toxinas para a
água. Estudos têm revelado que os processos de tratamento mais usualmen-
te adotados (ciclo completo, por exemplo) são pouco eficientes na remoção
dessas toxinas, fazendo-se necessária a adão de etapas complementares de
tratamento.
Pode-se mesmo dizer que a observação de boas práticas em tratamento de água
se inicia já na etapa de projeto, tomando-se como primeiras “lições”:
A escolha denitiva do manancial de abastecimento e a seleção da
alternativa de tratamento devem levar em consideração séries histó-
ricas de informações sobre a qualidade da água, contemplando as
variações sazonais.
A seleção da alternativa de tratamento e a determinação dos pa-
râmetros de projeto devem, preferencialmente, ser baseados em
ensaios de tratabilidade, em experimentos de bancada ou em es-
cala piloto, de forma que se obtenham os parâmetros ótimos de
operão.
A determinação dos parâmetros de projeto deve contemplar as possí-
veis variações de vazões auentes à ETA, decorrentes de alternativas
de operação e de aumento de demanda de consumo ao longo do
período de projeto.
Por fim, independentemente da qualidade da água bruta, cabe destacar o
disposto na Portaria MS n
o
518/2004:
Art. 22. Toda água fornecida coletivamente deve ser submetida a pro-
cesso de desinfecção, concebido e operado de forma a garantir o aten-
dimento ao padrão microbiológico.
Art. 23. Toda água para consumo humano suprida por manancial su-
percial e distribuída por meio de canalização deve incluir tratamento
por ltração.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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ENSAIOS DE TRATABILIDADE
Na etapa de projeto, os ensaios de tratabilidade podem ser realizados em escala
de bancada, geralmente com o uso do aparelho de teste de jarros, ou em escala pi-
loto. Tais estudos permitem a definição da opção tecnológica de tratamento mais
adequada, fornecem informações sobre os produtos químicos mais apropriados,
suas dosagens e seqüências de aplicação e sobre parâmetros de projeto ótimos para
as diferentes unidades de tratamento. Os ensaios de tratabilidade podem servir ain-
da como ferramenta para a otimização de condições operacionais, para a reforma
ou para a ampliação de estações existentes.
Os estudos de tratabilidade devem considerar a possibilidade de ocorrerem mu-
danças de qualidade na água do manancial, bem como variações de vazões afluen-
tes à ETA decorrentes de alternativas de operação e de aumento de demanda de
consumo ao longo do período de projeto. Para informações mais detalhadas so-
bre ensaios de tratabilidade, deve-se recorrer à literatura especializada, como, por
exemplo, Di Bernardo et al. (2002).
Com o emprego do equipamento de teste de jarros, em geral, simulam-se os
processos de coagulação/mistura, floculação e sedimentação. Testes mais comple-
tos podem, adicionalmente, incluir a simulação da filtração. A título de ilustração,
inclui-se um exemplo real de um ensaio de tratabilidade.
Ensaio de tratabilidade – exemplo com emprego do Jar Test
Característica da água bruta
turbidez inicial (To) – 63 uT
pH – 7,07
Alcalinidade – 35 mg/L
ETAPA 1 – Aproximação inicial da dosagem ótima de sulfato
de alumínio
Os ensaios foram realizados em duas repetições, a m de abranger
uma faixa mais ampla de doses de sulfato de alunio. Na execução
dos ensaios, foram adotados como parâmetros: para a mistura pida,
um gradiente de velocidade de 1.000 s
-1
e tempo de mistura de 3 se-
gundos; para oculação, um gradiente de 50 s
-1
e tempo de detenção
de 20 minutos; e para decantação, uma taxa de aplicação supercial de
10 m
3
/m
2
.dia, que corresponde a um tempo de coleta das amostras de
10 minutos (tempo contado as o término da simulão do processo
deoculão).
Esta etapa é conduzida como uma aproximação inicial e orientação
para as etapas seguintes. Nesse sentido foi encontrada uma dosagem
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
66
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ótima de coagulante de 14 mg/L, correspondente ao menor valor de
turbidez remanescente (4,9 UT).
ENSAIO 1 ENSAIO 2
JARRO DOSE DE SULFATO
DE ALUMÍNIO
(mg/L)
TF
(UT)
JARRO DOSE DE SULFATO
DE ALUMÍNIO
(mg/L)
TF
(UT)
1
14 4,9 1 8 12,2
2
17 5,4 2 11 7,5
3
20 9,2 3 14 4,6
4
23 12,7 4 17 6,2
5
26 16,0 5 20 7,7
6
29 12,1 6 23 9,4
TF = turbidez nal, após sedimentação das amostras
ETAPA 2 – Determinação da concentração ótima
de sulfato de alumínio
Foram preparadas seis soluções de sulfato de alumínio com concentra-
ção entre 0,5 e 10%. Nessa etapa o ensaio foi conduzido com a dose de
sulfato xa em 14 mg/L e com os mesmos parâmetros hidráulicos da etapa
anterior. Apesar de os resultados não terem demonstrado diferenças tão
marcantes de turbidez da água decantada, por razões de economia a con-
centração da solução de coagulante determinada como ótima é de 1%.
ETAPA 3 – Determinação do par de valores ótimos dose x pH
Com a concentração de sulfato de alumínio xa em 1%, os ensaios
foram conduzidos variando o pH de 6,5 a 8 e as doses de sulfato de 8 a
23 mg/L. Na condução de cada ensaio, o pH era ajustado nos seis jarros
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
67
Secretaria de Vigilância em Saúde
ao valor desejado, variando-se as doses de 8 a 23 mg/L. Os parâmetros
hidráulicos da mistura, oculação e sedimentação permaneceram os mes-
mos das etapas anteriores.
Do gráco a seguir percebe-se nitidamente que a coagulação em pH
7,0 e com doses de sulfato a partir de 11 mg/L fornece os melhores resul-
tados de turbidez de água decantada (< 5 UT). Por razões econômicas,
foram assumidos como parâmetros ótimos de coagulação: pH 7,0 e dose
de sulfato de 11 mg/L.
ETAPA 4 – Determinação dos parâmetros ótimos de oculação
Com os parâmetros de coagulação (pH, dose e concentração de sulfa-
to) xados, a m de determinar o gradiente e o tempo de oculação óti-
mos, esses parâmetros de controle foram testados em faixas de gradientes
entre 80 e 20 s
-1
(controlados pela velocidade de rotação do equipamento
de jar test) e tempos de oculação entre 5 a 30 minutos.
G(S
-1
)
TEMPO DE FLOCULAÇÃO / TURBIDEZ REMANESCENTE (UT)
5 min 10 min 15 min 20 min 25 min 30 min
80
22,0 11,2 8,3 6,1 7,7 4,9
60
12,6 7,8 3,8 5,4 2,6 2,9
40
26,2 11,0 6,7 5,1 3,7 4,3
20
45,9 19,1 12,2 10,0 7,7 6,4
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
68
Secretaria de Vigilância em Saúde
ETAPA 5 – Determinação da velocidade ótima de sedimentação
Aplicando gradientes decrescentes de 60–40 s
-1
em um tempo de o-
culação total de 20 minutos, amostras da água decantada foram coleta-
das aos tempos de 1, 2, 3, 4, 5 e 10 minutos, simulando diferentes taxas
de aplicação supercial (velocidades de sedimentação).
De acordo com os resultados de turbidez da água decantada, a velo-
cidade de sedimentação não deve superar 0,039 cm/s, correspondendo
a aproximadamente 30 m
3
/m
2
.dia como taxa de aplicação supercial.
Velocidades inferiores a 0,039 cm/s poderiam ser consideradas uma
opção antiecomica.
T (seg.)* VS (cm/s)** TURBIDEZ
REMANESCENTE (UT)***
60 0,117 22,6
120 0,058 12,8
180 0,039 5,4
240 0,029 4,6
300 0,023 3,8
600 0,012 3,0
* tempo de coleta das amostras em profundidade constante (7 cm);
** velocidade de sedimentação = tempo de coleta/7 cm;
*** média dos seis jarros.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
69
Secretaria de Vigilância em Saúde
A seguir discorre-se sobre os principais processos unitários de tratamento de
água, apresentando-se uma breve base conceitual, acompanhada de exemplos de
situações ou práticas indesejáveis de projeto e operação e possíveis soluções, ou
seja, as boas práticas.
COAGULAÇÃO
Coagulação refere-se ao fenômeno químico da desestabilização das cargas su-
perficiais, geralmente negativas, das partículas coloidais e em suspensão presentes
na água, a partir da adição de um coagulante. Os coagulantes mais utilizados no
Brasil são os sais de alumínio e de ferro.
Com a adição do coagulante, o que se busca é a minimização ou a elimina-
ção das forças de repulsão eletrostáticas existentes entre as parculas de im-
purezas, tornando possível a predomincia das forças de atrão entre elas
e, portanto, possibilitando sua aglomeração formação de flocos na etapa
de floculação, que segue a de coagulação. Os flocos formados, em função de
seu tamanho, densidade e caractesticas físico-químicas, poderão ser remo-
vidos da água por processos de separação tais como sedimentão, flotação e
filtração.
A coagulação pode ocorrer por mecanismos distintos:
Varredura ocorre na situação em que os hidróxidos metálicos pre-
cipitam e os colóides (partículas de impurezas) presentes na água
podem ser envolvidos pelos aglomerados do precipitado, quando es-
ses se formam ou com eles colidem. Tal mecanismo, conhecido como
“captura” ou “varredura”, ocorre nos oculadores e decantadores.
Dessa maneira, são formados aglomerados de hidróxido e impurezas
(ocos) com maior dimensão e densidade e, geralmente, boas carac-
terísticas de sedimentabilidade.
Adsorção é formão de pontes interpartículas fenômeno predomi-
nante quando se utilizam polímeros orgânicos como coagulantes ou
auxiliares de oculação. Grupos reativos presentes nesses compos-
tos de cadeia longa podem ser adsorvidos na superfície de uma par-
cula, deixando segmentos livres para serem adsorvidos por outras
partículas, fazendo a ligação entre elas, e assim formar um agrega-
do partícula–polímero–partícula no qual o polímero atua como uma
“ponte”. Para serem usados como coagulantes, faz-se necesrio
que esses pomeros possuam tios positivamente carregados (po-
lieletrólitos catiônicos), que, além da adsorção, garantam tamm a
neutralização das cargas negativas de parculas de impurezas.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
70
Secretaria de Vigilância em Saúde
Quando os sais de alumínio e ferro são utilizados como coagulantes, as reações
do coagulante na água e as espécies hidrolisadas formadas dependem das caracterís-
ticas da água (principalmente pH e alcalinidade) e da dosagem de coagulante aplica-
da. Como na prática não se utilizam valores extremos de pH de coagulação (valores
muito ácidos ou muito básicos), o mecanismo de coagulação predominante em uma
determinada água será ou adsorção-neutralização de cargas ou varredura.
A coagulão é um fenômeno complexo, pom sua compreensão é fundamental
para o sucesso dos tratamentos que envolvem a ltração pida. Dessa forma, recomen-
da-se a leitura de textos especializados (AMIRTHARAJAH E O’MELIA, 1990; CEPIS,
1992; DI BERNARDO, 1993; entre outros). Para efeito desse manual, cabe destacar:
Os mecanismos de coagulação predominantes devem ser ajustados
às características da água e à alternativa de tratamento empregada.
Quando a tecnologia de tratamento é uma das variantes da ltração
direta, o mecanismo de adsorção-neutralização de cargas deve ser
predominante, uma vez que se deseja a desestabilização eletrostá-
tica das partículas a serem removidas nos ltros. Geralmente, esse
mecanismo é favorecido pelo uso de baixas dosagens de coagulan-
tes e valores de pH entre 5 e 6.
O mecanismo de varredura deve ser favorecido quando o tratamen-
to inclui o processo de sedimentação, que requer ocos de maiores
dimensões e densidade.
Mecanismos diversos de coagulação podem ocorrer simultaneamente.
Para cada água devem ser selecionados o coagulante mais adequado e
os parâmetros ótimos de operação: concentração da solução coagulan-
te, dosagem do coagulante e pH de coagulação.
No mecanismo de adsorção-neutralização de cargas existe uma
faixa relativamente estreita de dosagem de coagulante na qual a
coagulação (desestabilização das partículas) é efetiva. O uso de do-
sagem superiores à ótima leva ao processo de re-estabilização das
partículas. Ou seja, há a adição de excesso de espécies hidrolisadas
positivas que são adsorvidas na superfície da partícula tornando-as
de carga positiva e com novo potencial de repulsão.
Uma melhor aproximação do problema pode ser obtida com uma abordagem
mais ampla, mediante a elaboração dos diagramas de coagulação. Com essa avalia-
ção, podem-se conhecer mais adequadamente os mecanismos de coagulação pre-
dominantes, ou a serem favorecidos, propiciando otimizar com melhor eficiência
o processo de coagulação. A seguir apresentam-se diagramas construídos para o
mesmo estudo de caso anterior.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
71
Secretaria de Vigilância em Saúde
Exemplo de ensaio de tratabilidade – elaboração de diagramas de coa-
gulação com o emprego do Jar Test
Para a determinação da concentração ótima de sulfato de alumínio cor-
respondente à época de seca (turbidez média de 7,0 UNT), primeiramente
xou-se a concentração em 0,5%, variando-se a dosagem de 2 a 32 mg/L
(em três ensaios consecutivos: 2 a 12 mg/L, 12 a 22 mg/L e 22 a 32 mg/L);
a seguir, variou-se a concentração em 1, 2, 3, 5 e 10% e a dosagem, como
descrito, para cada concentração.
Os pontos de maior remoção foram: 0,5%–10mg/L e 0,5%–18 mg/L,.
Diante disso, e levando em consideração o fator economia, optou-se pela
concentração ótima da época de seca 0,5% (concentração utilizada para a
realização do diagrama).
Nos ensaios do diagrama, para cada valor de pH variou-se a dosagem
de 2 a 24 mg/L (de 2 em 2 mg/L), com intervalos de variação do pH de 5,0
a 9,0 (de 0,4 em 0,4). Com os valores de turbidez remanescente e inicial,
calculou-se a remoção em porcentagem, como a seguir:
R = (Tf – Ti) x 100 / Ti
De posse dos valores dosagem–pH–remoção, utilizou-se o programa
topográco DATA-GEOSIS para plotar o diagrama (curvas de isoeciência).
A área hachurada é a região de maior eciência, no caso 90%.
Percebe-se que na região de maior eciência a dosagem e o pH estão,
respectiva e aproximadamente, entre 8 e 14 mg/L e 7,9 e 8,3. Sendo essas
dosagens relativamente baixas, sugere-se que nesta área pode ocorrer a
desestabilização por adsorção. Os ensaios sugerem a possibilidade de ado-
ção da ltração direta durante os períodos de seca, requerendo, entretan-
to, e eventualmente, a correção do pH, uma vez que a água bruta natural
mantém-se próxima à neutralidade.
Para a realização do diagrama correspondente ao período de chuva,
foi utilizada uma concentração ótima de 1%, determinada anteriormente
para uma turbidez inicial de 63 uT. Para cada valor de pH, variou-se a do-
sagem de 8 a 30 mg/L (de 2 em 2 mg/L), com intervalo de variação do pH
de 5,0 a 9,0 (de 0,2 em 0,2). Observa-se que a área hachurada de maior
eciência (95%) abrange amplas faixas de pH e dose de sulfato e, prova-
velmente, diversos mecanismos de coagulação (adsorção, varredura e/ou
combinação de ambos).
Considerando que o pH da água bruta auente à ETA mantém-se pró-
ximo do neutro, a eciência máxima obtida, sem correção de pH, seria
alcançada com doses de sulfato em torno de 12 mg/L
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
72
Secretaria de Vigilância em Saúde
A figura 2.17 ilustra o diagrama de coagulação.
Figura 2.17 – Diagrama de coagulação – período de estiagem
Mistura rápida
A unidade de mistura é destinada à dispersão rápida e homogênea do coagu-
lante na água a ser tratada. Uma boa mistura deve ser realizada no menor tempo
possível e sob condições de elevada turbulência da água, medida pelo parâmetro
gradiente de velocidade (G, em s
-1
).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
73
Secretaria de Vigilância em Saúde
Uma mistura efetiva apresenta-se como um fator imprescindível quando a tec-
nologia de tratamento é a filtração direta e, portanto, o mecanismo de coagulação a
ser favorecido é o da adsorção-neutralização de cargas. Quando os sais de alumínio
e ferro são usados como coagulantes, a hidrólise ocorre em menos de um segundo
e, portanto, a adsorção das espécies hidrolisadas solúveis às partículas coloidais
ocorre quase que imediatamente. Ou seja, o projeto da unidade de mistura rápida
deve considerar essa escala de tempo.
Na coagulação por varredura, predominante no tratamento convencional, o
mais importante é a garantia de uma boa homogeneização do coagulante e uma
floculação adequada. Nesse caso, a unidade de mistura rápida pode operar com va-
lores de gradiente de velocidade menores que na adsorção-neutralização de cargas,
e pode-se dispor de tempos de mistura mais elevados, pois o tempo de formação de
precipitados metálicos é um pouco mais lento.
A norma brasileira que dispõe sobre o projeto de estações de tratamento de
água, a NBR 12216 (ABNT, 1992), no seu item 5.8.2, ressalta que, para o projeto das
unidades de mistura rápida,
as condições ideais em termos de gradiente de velocidade, tempo de mistura e
concentração de coagulante devem ser determinadas preferencialmente através
de ensaios de laboratório. Quando esses ensaios não podem ser realizados, deve
ser observada a seguinte orientação.
(a) a dispersão de coagulantes metálicos hidrolisáveis deve ser feita a gra-
dientes de velocidade compreendidos entre 700 s
-1
e 1100 s
-1
, em um tempo
de mistura o superior a 5 segundos;
(b) a dispero de polieletrólitos, como coagulantes primários ou au-
xiliares de coagulação, deve ser feita obedecendo às recomendações do
fabricante.
As condições de gradiente de velocidade e tepo de mistura previstas no item
(a) nem sempre são as necessárias para promover uma mistura efetiva quando se
deseja promover a adsorção-neutralização de cargas como mecanismo predomi-
nante. Assim, para o projeto de ETAs com técnica de filtração direta, os estudos de
bancada são imprescindíveis.
As unidades de misturapida podem ser classificadas em dois grandes gru-
pos: hidulicas e mecanizadas. As unidades de mistura rápida hidulicas, de
modo geral, apresentam menos problemas operacionais que as mecanizadas,
em face da ausência de pas e motores. Entretanto, apresentam menor fle-
xibilidade operacional. Muitas estações de tratamento no Brasil valem-se da
turbuncia existente no ressalto hidulico das calhas Parshall para o processo
de mistura (figura 2.18).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
74
Secretaria de Vigilância em Saúde
Figura 2.18 – Exemplos de unidades de mistura rápida (calha Parshall):
vazão excessiva e extravasamento de água
Situações ou práticas não recomendáveis
na mistura rápida/coagulação
A eficiência e a estabilidade de um sistema de tratamento dependem da boa per-
formance e do controle dos processos de tratamento unitários e seqüenciais, por-
tanto, em primeira instância, da otimização e do controle sistemático da mistura e
da coagulação. Segundo Kawamura (1991), a maioria das estações convencionais
de tratamento de água não tem unidades de mistura rápida operando em condi-
ções ótimas (gradiente de velocidade e tempo de contato) e consegue garantir a
produção de água tratada de qualidade adequada à custa de adição de coagulante
em excesso (25 a 30%).
Apresentam-se, a seguir, exemplos de situações ou práticas não recomendáveis,
desde a etapa de definição dos parâmetros de projeto até o controle de rotina.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
75
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Quadro 2.1 – Exemplos de situações ou práticas indesejáveis
na mistura rápida/coagulação
ITEM SITUAÇÕES OU
PRÁTICAS NÃO-
RECOMENDADAS
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO/ PREVENÇÃO
DO PROBLEMA
01
Falhas de projeto ou
construtivas de unidades
de mistura.
Exs.: escolha ou exe-
cução inadequada do
Parshall, comprometendo
a formação do ressalto e
a garantia do gradiente
desejado; tempo de de-
tenção ou potência intro-
duzida inadequados em
unidades mecanizadas.
Comprometimento da coagulação e, por
conseguinte, dos processos unitários subse-
qüentes (oculação, decantação, otação,
ltração, desinfecção) e do processo de
tratamento como um todo.
Falha mais freqüente:
• gradientes de velocidade inadequa-
dos, principalmente se insucientes.
Determinação criteriosa dos parâme-
tros de projeto e execução cuidadosa
das unidades de mistura.
Levantamento das dimensões exa-
tas das unidades executadas e em
operação; levantamento dos pers
hidráulicos e dos parâmetros reais de
operação; comparação com os parâ-
metros ótimos e realização dos ajustes
necessários.
Ex.: elevação da lâmina de saída na
calha Parshall e adequação do ressalto
com a instalação de stop-logs.
02
Seleção de coagulan-
te e dos parâmetros de
operação (concentração
e dose de coagulante,
pH de coagulação) sem a
realização de ensaios de
tratabilidade para a deter-
minação dos parâmetros
ótimos.
Comprometimento da coagulação e, por
conseguinte, dos processos unitários subse-
qüentes (oculação, decantação, otação,
ltração, desinfecção) e do processo de
tratamento como um todo.
Falha mais freqüente:
• operação do processo sem o controle
adequado dos mecanismos de coagu-
lação mais apropriados à qualidade da
água e à tecnologia de tratamento.
Realização de ensaios de tratabili-
dade e determinação dos parâmetros
ótimos, levando em consideração varia-
ções sazonais da qualidade da água.
03
Aplicação do coagulan-
te ou da cal em pontos ou
de forma inadequados.
Comprometimento da coagulação e, por
conseguinte, dos processos unitários subse-
qüentes (oculação, decantação, otação,
ltração, desinfecção) e do processo de
tratamento como um todo.
Falha mais freqüente:
• dispersão inadequada do coagulante.
O coagulante e, quando necessário, a
cal devem ser aplicados imediatamente
antes de pontos de maior dissipação de
energia (agitação da água). A aplicação
dos produtos químicos deve ser reali-
zada por meio de difusores. Os locais e
as seqüências de aplicação devem ser
determinados mediante ensaios feitos
localmente.
04
Controle inadequado
da coagulação – falhas de
processo.
Comprometimento da coagulação e, por
conseguinte, dos processos unitários subse-
qüentes (oculação, decantação, otação,
ltração, desinfecção) e do processo de
tratamento como um todo.
Falha mais freqüente:
• operação do processo sem o controle
adequado dos mecanismos de coagu-
lação mais apropriados à qualidade
da água e à tecnologia de tratamento
empregada.
Realização sistemática de teste de
jarros e controle dos parâmetros de
operação, abrangendo variações sazo-
nais da qualidade da água.
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
76
Secretaria de Vigilância em Saúde
ITEM SITUAÇÕES OU
PRÁTICAS NÃO-
RECOMENDADAS
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO/ PREVENÇÃO
DO PROBLEMA
05
Controle inadequado
da coagulação – falhas
de equipamentos ou de
operação.
Comprometimento da coagulação e, por
conseguinte, dos processos unitários subse-
qüentes (oculação, decantação, otação,
ltração, desinfecção) e do processo de
tratamento como um todo.
Falhas mais freqüentes:
solução e homogeneização inadequa
-
das do coagulante, ou da cal, nos tan-
ques de preparo;
controle inadequado da dosagem de
coagulante ou de cal.
No caso de produtos granulados,
controle sistemático dos equipamentos,
dos dispositivos e da rotina de homo-
geneização dos produtos químicos nos
tanques de preparo.
Calibração e aferição sistemáticas
dos dosadores.
Para uma abordagem mais detalhada sobre o projeto e o controle de unida-
des de mistura rápida e sobre processos de coagulão, pode-se consultar Ri-
chter e Azevedo Neto (1991), Cepis (1992), Di Bernardo (1993), Vianna (1997),
Di Bernardo et al. (2003), entre outras referências.
Figura 2.19 – Exemplo de unidade inadequada de mistura rápida (calha
Parshall): instalações e controle precários da mistura rápida e coagulação
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
77
Secretaria de Vigilância em Saúde
Figura 2.20 – Detalhe de dispositivo adequado de aplicação do coagulante
com difusores de simples execução
FLOCULAÇÃO
Após a desestabilização das partículas, deve-se propiciar o encontro entre elas para
que se agreguem e ganhem tamanho, peso e densidade compatíveis com o processo
de separação sólido–líquido subseqüente (decantação, flotação ou filtração).
Isso é obtido por meio da mistura lenta da água por um tempo determinado,
favorecendo a formação de flocos. Na floculação, a turbulência provocada, expressa
pelo gradiente de velocidade, deve ser bem menor que a empregada na mistura rá-
pida e ser gradualmente decrescente, para propiciar a boa formação dos flocos no
início do processo e evitar a ruptura dos flocos formados ao longo do floculador.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
78
Secretaria de Vigilância em Saúde
A adequada agitão da água pode ser obtida hidulica ou mecanicamente.
No primeiro caso, provoca-se um movimento sinuoso da água (floculadores hi-
dráulicos); no segundo, a agitão ocorre por meio de equipamentos menicos
(floculadores mecanizados). Os floculadores hidulicos apresentam menores
custos e complexidade operacionais; os mecanizados apresentam maior flexibi-
lidade operacional (maior possibilidade de variação e controle dos gradientes
de velocidade).
Os parâmetros de controle da floculação o: o(s) gradiente(s) de floculação
(G, em s
-1
) e o tempo de floculação ou tempo de detenção hidráulica no flocula-
dor (T, em minutos).
Para cada água, incluindo suas variações de qualidade sazonais, corres-
pondem condões ótimas de floculação (gradientes e tempo de floculação
ótimos), preferivelmente determinadas, na etapa de projeto, em ensaios de
laborario-teste de jarros.
Não sendo possível a realização desses ensaios, situão hoje em dia pouco
justificável, a norma brasileira (NBR 12216) recomenda a adoção dos seguin-
tes parâmetros:
gradiente de velocidade (G): máximo de 70 s
-1
e mínimo de 10 s
-1
entre o
início e o final do floculador;
previsão de um dispositivo que permita a variação de 20% em torno dos
gradientes de projeto;
tempo de oculação (T): 20-30 minutos para oculadores hidráulicos e
30-40 minutos para floculadores mecanizados.
A hidrodinâmica dos floculadores é de fundamental importância para a eficiên-
cia da operação. Os floculadores devem ser compartimentados, separados por cor-
tinas, chicanas ou paredes, e a conexão entre câmaras (passagens, orifícios, tubula-
ções) deve ser concebida de forma que evite caminhos preferenciais, estabelecendo
curtos-circuitos e zonas mortas. Além disso, as passagens devem apresentar geome-
tria tal que os gradientes de velocidade (devidos às perdas de carga localizadas) não
sejam superiores ao do compartimento anterior, sob risco de ruptura dos flocos.
A seguir, listam-se, de forma muito sucinta, os tipos de floculadores mais usuais.
Para uma melhor descrição dos princípios de funcionamento, critérios de proje-
to e cuidados operacionais, deve-se recorrer à literatura especializada (AZEVEDO
NETTO et al., 1979; RICHTER; AZEVEDO NETTO, 1991; CEPIS, 1992, 1993; DI
BERNARDO, 1993; VIANNA, 1997; VALENCIA, 1981).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
79
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Floculadores mecânicos
O gradiente de velocidade nos floculadores mecanizados depende da velocidade
de rotação do eixo, da geometria da câmara e do dispositivo de agitação, tais como
altura, largura e espaçamento das paletas, tipo e tamanho da turbina ou da hélice.
Ao longo da operação, os gradientes podem ser mais bem adequados às variações
de vazão e qualidade da água por meio do controle da velocidade de rotação dos
agitadores. Podem ser:
com agitadores de paletas de eixo vertical;
com agitadores de paletas de eixo horizontal;
com agitadores de fluxo axial (turbinas e hélices).
Floculadores hidráulicos
Nos oculadores hidráulicos, a agitação (gradiente de velocidade) é obtida
por sucessivas mudanças de direção, horizontais e/ou verticais, no fluxo da água.
Vale-se, portanto, da perda de carga (resistência hidráulica ao escoamento) nas
câmaras e nas passagens. A distribuição do uxo e os gradientes são determina-
dos pela geometria dasmaras, pelo posicionamento, tipo e geometria das pas-
sagens. Depreende-se então que, na operação, o controle e o ajuste de gradientes
a variações de qualidade da água e vazões são mais difíceis que nos oculadores
mecânicos. De toda forma, os operadores devem estar atentos ao necessário con-
trole dos gradientes. Alguns tipos são:
floculadores com chicanas horizontais ou verticais;
floculadores tipo Cox;
floculadores tipo Alabama;
floculadores hidráulicos de bandejas perfuradas, em que o fluxo é descen-
dente, passando por sucessivas bandejas perfuradas, em que a perda de carga
nos orifícios provoca a necessária turbulência (gradiente de velocidade) para
a floculação;
floculadores em meio granular e com telas, variante com emprego menos
freqüente, onde se vale da agitação obtida na passagem da água pelos in-
terstícios do meio granular (por exemplo, seixo rolado) ou através de telas
interpostas ao sentido de fluxo da água.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
80
Secretaria de Vigilância em Saúde
Quadro 2.2 – Exemplos de situações ou práticas indesejáveis na oculação
ITEM SITUAÇÃO OU PRÁTICA
INDESEJÁVEIS
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO/ PREVENÇÃO
DO PROBLEMA
01
Falhas de projeto ou
construtivas de unidades
de floculação.
Exs.: tempo de deteão
inadequados, favoreci-
mento de zonas mortas ou
curtos-circuitos; gradientes
de velocidade inadequados
nas câmaras e nas passa-
gens entre maras; veloci-
dades inadequadas.
Poncia introduzida
inadequada em unidades
mecanizadas.
Comprometimento da oculação
e, por conseguinte, dos processos
unitários subseqüentes (decanta-
ção, otação, ltração, desinfec-
ção) e do processo de tratamento
como um todo.
Falha mais freqüente:
gradientes de velocidade ina
-
dequados, não decrescentes,
ou gradientes excessivos nas
passagens, resultando em sedi-
mentação de ocos no ocula-
dor ou na ruptura dos ocos.
Determinação criteriosa dos parâ-
metros de projeto e execução cuida-
dosa das unidades de oculação.
Levantamento das dimensões exa-
tas das unidades executadas e em
operação; levantamento dos pers
hidráulicos e dos parâmetros reais de
operação; comparação com os parâ-
metros ótimos e realização dos ajus-
tes necessários.
Ex.: adequação da localização e
das dimensões das passagens entre
maras, promovendo uma melhor
distribuição do uxo e adequando
os gradientes de velocidade.
02
Seleção dos parâmetros
de operação (gradientes de
velocidade e tempo de o-
culação) sem a realização de
ensaios de tratabilidade para
a determinação dos parâme-
tros ótimos.
Comprometimento da oculação
e, por conseguinte, dos processos
unitários subseqüentes (decanta-
ção, otação, ltração, desinfec-
ção) e do processo de tratamento
como um todo.
Falha mais freqüente:
operação do processo inade
-
quada à qualidade da água e
à tecnologia de tratamento.
Realização de ensaios de tratabili-
dade e determinação dos parâmetros
ótimos, levando em consideração
variações sazonais da qualidade da
água e das vazões.
03
Controle inadequado da
oculação.
Comprometimento da oculação
e, por conseguinte, dos processos
unitários subseqüentes (decanta-
ção, otação, ltração, desinfec-
ção) e do processo de tratamento
como um todo.
Falha mais freqüente:
impossibilidade de variar os
gradientes de velocidade, de
acordo com as variações da
qualidade da água bruta e de
vazões.
Realização sistemática de teste de
jarros, com base nos parâmetros reais
de operação, abrangendo variações
sazonais da qualidade da água e de
vazões.
Instalação de dispositivos que per-
mitam a variação dos gradientes.
Controle e variação de vazões para
adequar os gradientes e o tempo de
oculação aos parâmetros ótimos, de
acordo com as variações da qualidade
da água.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
81
Secretaria de Vigilância em Saúde
Figura 2.21 – Floculador hidráulico, duas séries de câmaras de oculação
em paralelo, porém com distribuição inadequada de uxo
Figura 2.22 – Exemplo de unidade com funcionamento inadequado de
oculador: excesso de vazão e transbordamento nas câmaras de oculação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
82
Secretaria de Vigilância em Saúde
DECANTAÇÃO
A decantação é uma das técnicas mais antigas e simples de clarificação da água e
resulta da ação da força da gravidade sobre as impurezas, facilitando a sedimenta-
ção delas no fundo da unidade e resultando na clarificação do sobrenadante.
Nas ETAs, quando a água bruta apresenta cor verdadeira elevada ou alta concentra-
ção de partículas em suspeno, é necesria a construção de unidades que removam
parte dessas impurezas da água antes de encaminhá-las aos filtros, de modo que deve ser
adotada a tecnologia denominada “tratamento de ciclo completo ou convencional.
Tradicionalmente, as ETAs de ciclo completo são projetadas com unidades de
decantação antecedendo os filtros. Contudo, nos últimos anos, pesquisas mostra-
ram que em determinadas situações, como cor verdadeira elevada ou presença de
algas acompanhadas de baixa turbidez, a substituição dos decantadores por unida-
des de flotação apresenta vantagens significativas do ponto de vista da possibilidade
de redução do espaço físico ocupado pela ETA, melhoria da qualidade do afluente
do filtro, aumento da concentração de sólidos no lodo gerado e redução do con-
sumo de coagulante químico. Desde então, embora os flotadores exijam maiores
cuidados operacionais, algumas ETAs passaram a ser projetadas com unidades de
flotação e outras foram reformadas para possibilitar a substituição dos decantado-
res por flotadores. Por uma opção didática, este Manual aborda apenas a decanta-
ção, devendo ser consultada a bibliografia específica para detalhes sobre a flotação
(a exemplo de DI BERNARDO, 1993; DI BERNARDO et al., 2002).
No estudo da sedimentação, distinguem-se dois tipos de partículas: partícula dis-
creta e partícula floculenta. A primeira delas o sofre alteração de tamanho ou de
forma durante a sedimentação, ao contrário das partículas floculentas, as quais são
predominantes no tratamento de água quando se emprega coagulação química.
As unidades de decantaçãoo projetadas com base na taxa de aplicação supercial
(TAS), que está diretamente relacionada à velocidade de sedimentação das parculas sus-
pensas na água e é calculada dividindo-se a vazão afluente ao decantador pela sua área em
planta. A NBR-12216 (ABNT/1992) recomenda que a TAS seja determinada por meio de
ensaios de laboratório e que, o sendo possível a realização dos ensaios, sejam adotados
os seguintes valores, em função da capacidade das ETAs e de seu nível operacional:
TAS em função da vazão tratada na ETA (ABNT,1992)
ETA que trata até 1.000 m
3
/dia: TAS de 25 m
3
m
-2
d
-1
ETA que trata entre 1.000 e 10.000m
3
/dia: TAS de 35 m
3
m
-2
d
-1
quando
se tem bom nível operacional, caso contrário recomenda-se TAS de
até 25 m
3
m
-2
d
-1
ETA que trata mais de 10.000 m
3
/dia: TAS de até 40 m
3
m
-2
d
-1
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
83
Secretaria de Vigilância em Saúde
A redução na TAS possibilita melhoria na qualidade da água decantada. Con-
tudo, isso implica a construção de unidades maiores. Deve-se destacar que a defi-
nição da TAS depende fundamentalmente da qualidade da água bruta. A remoção
de flocos muito leves, tais como os resultantes de água com concentração elevada
de determinadas espécies de algas ou que possuem cor verdadeira elevada e baixa
turbidez, exige o projeto de decantadores com baixa TAS.
Exemplo: Uma ETA que tem bom nível operacional e que trata 180 L/s possui
dois decantadores, cada um com 8 m de largura e 30 m de comprimento.
Com base nesses dados, pede-se calcular a TAS dos decantadores e vericar se
o valor encontrado atende ao recomendado na NBR-12216 (ABNT/1992).
Solução
Cálculo da capacidade da ETA (C) em m
3
/dia
C = [vazão (L/s) x 86.400 (s/dia)]/1000 (L/m
3
)
C = 180 x 86.400/1000 = 15.552 m
3
/dia
Cálculo da TAS
TAS = C/Área total de decantação
TAS = 15.552/(2 x 8 x 30) = 32,4 m
3
m
-2
d
-1
Comentário: observa-se que sob essas condições a TAS atende à
recomendação da norma
Em um tanque de sedimentação ideal, as partículas que apresentam velocidade
de sedimentação maior ou igual ao valor da taxa de aplicação superficial são, teo-
ricamente, removidas. Entretanto, a eficiência da unidade real sofre influência de
diversos fatores, como densidade de corrente, ação de vento e ressuspensão de lodo.
Também uma fração de partículas com velocidade de sedimentação menor que a
correspondente à TAS é removida, dependendo da posição em que entra no decan-
tador e da intensidade da floculação adicional que ocorre no interior da unidade.
Na figura 2.23, as trajetórias das partículas 1 e 2 em um decantador com escoa-
mento horizontal são paralelas, o que indica que possuem a mesma velocidade de se-
dimentação. Entretanto, apenas a partícula 2 será, teoricamente, removida, supondo
que ambas não tenham o tamanho alterado à medida que sedimentam. Embora as
duas percorram a mesma distância vertical no tempo de detenção do decantador, a
partícula 1, por entrar próximo à superfície, não alcançará o fundo da unidade.
As formulões matemáticas para prever o desempenho das unidades de decantação
limitam-se a partículas não-floculentas, o havendo modelo satisfario para prever
o efeito da floculação que ocorre durante a sedimentação. Dessa forma, investigões
tricas tendem a produzir resultados de natureza qualitativa, sendo freqüentemente
indispensáveis estudos experimentais para se obterem informões de projeto e opera-
ção dessas unidades, nas quais se tem a sedimentação de suspensõesoculentas.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
84
Secretaria de Vigilância em Saúde
Pela figura 2.23, observa-se que durante a sedimentação floculenta (partículas
A e B) pode ocorrer contato entre os flocos, resultando na formação de outro com
velocidade de sedimentação superior à dos originais, em virtude do aumento no
diâmetro nominal daquele floco que se forma a partir dos dois primeiros (A e B),
com melhoria da eficiência da sedimentação. Na prática, contudo, o fenômeno da
floculação é muito mais complexo que o mostrado, uma vez que partículas de di-
ferentes formas e densidades estão envolvidas, sendo a floculação influenciada por
fatores como a concentração de partículas, o movimento da água no decantador e a
intensidade da ruptura dos flocos formados, em função de forças de cisalhamento.
Figura 2.23 – Trajetória da sedimentação de partículas em unidade
de decantação com escoamento horizontal
A introdão de módulos (dutos ou placas) no interior do decantador foi uma ino-
vação de grande importância iniciada na década de 1960, dando origem aos chamados
decantadores de alta taxa. Enquanto nos decantadores convencionais com escoamento
horizontal a taxa de aplicação superficial em geral é inferior a 50 m
3
m
-2
d
-1
, a introdão
de dutos ou de placas possibilita o projeto de unidades com taxas de até 150 m
3
m
-2
d
-1
.
Por possibilitarem maior TAS, os decantadores de alta taxa permitem reduzir o
espaço físico ocupado pelas ETAs. Entretanto, quando é necessária a aplicação de
produtos químicos que necessitam de maior tempo de contato, os decantadores de
alta taxa podem ser inadequados, em virtude de o tempo de detenção nesse tipo de
unidade em geral ser inferior a uma hora, enquanto nos decantadores convencio-
nais é de duas a quatro horas. O maior tempo de detenção também possibilita que
eventuais problemas durante o tratamento sejam detectados e corrigidos antes que a
água seja enviada à população, além de absorver picos de vazão e mudanças bruscas
de qualidade da água. Na figura 2.24 apresenta-se um exemplo de um decantador
convencional retangular.
Tanto na decantação convencional quanto na de alta taxa, a remoção do lodo depo-
sitado no fundo da unidade pode ser realizada mecânica ou manualmente. A freqüência
dessa operação depende da concentração de sólidos suspensos presentes na água. Em
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
85
Secretaria de Vigilância em Saúde
todo caso, o intervalo decorrido entre duas remões de lodo o deve ser longo a pon-
to de possibilitar a solubilização de metais e de outras subsncias prejudiciais à saúde
humana que estejam presentes na forma de precipitado no lodo da ETA.
Figura 2.24 – Decantador convencional com escoamento horizontal
A eficiência da unidade de decantação é diminuída quando ocorre mau fun-
cionamento das unidades de coagulação e floculação, o que pode acontecer por
problemas operacionais ou quando a água bruta apresenta baixa concentração de
partículas, fato que dificulta a coagulação, uma vez que resulta em menor taxa de
contato entre as partículas e nos produtos da hidrólise do coagulante, limitando
o transporte de massa. Com a finalidade de aumentar a eficiência da coagulação
nesses casos,autores que fazem referência à adição de argila na água bruta para
aumentar a eficiência da unidade de floculação e, conseqüentemente, da operação
de decantação. Por isso é comum ouvir de alguns operadores o relato de que é mais
fácil limpar” a água no período de chuva do que no período de seca.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
86
Secretaria de Vigilância em Saúde
Quadro 2.3 – Exemplos de situações ou práticas indesejáveis na decantação
ITEM SITUAÇÃO OU PRÁTICA
INDESEJÁVEIS
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO/ PREVENÇÃO
DO PROBLEMA
01
Seleção da taxa de aplicação
supercial sem a realização de
ensaios de tratabilidade para a
determinação dos parâmetros
ótimos.
Comprometimento da decanta-
ção, sobrecarga dos ltros, compro-
metimento da qualidade da água
ltrada e da desinfecção.
Falha mais freqüente:
operação do processo inade-
quada à qualidade da água e
às variações de vazão.
Realização de ensaios de tratabili-
dade e determinação dos parâmetros
ótimos, levando em consideração
variações sazonais da qualidade da
água e das vazões.
02
Falhas de projeto ou constru-
tivas de unidades de decantação
Exs.: tempo de detenção
inadequado; taxas de aplicação
supercial inadequadas.
Comprometimento da decanta-
ção, sobrecarga dos ltros, compro-
metimento da qualidade da água
ltrada e da desinfecção.
Falha mais freqüente:
operação do processo inade-
quada à qualidade da água e
às variações de vazão.
Determinação criteriosa dos parâ-
metros de projeto e execução cuidado-
sa das unidades de decantação.
Levantamento das dimensões exatas
das unidades executadas e em ope-
ração; levantamento dos parâmetros
reais de operação; comparação com
os parâmetros ótimos e realização dos
ajustes necessários.
03
Falhas de projeto ou cons-
trutivas de unidades de decan-
tação.
Exs.: distribuição desigual da
água oculada para os decanta-
dores, por deciência do canal
de distribuição ou da cortina
distribuidora; estruturas de
entrada inadequadas.
Comprometimento da decanta-
ção, sobrecarga dos ltros, compro-
metimento da qualidade da água
ltrada e da desinfecção.
Falhas mais freqüentes:
gradientes excessivos na cone-
xão oculador–decantador e
nas estruturas de entrada do
decantador, com possibilidade
de ruptura dos ocos;
favorecimento de zonas mortas
ou curtos-circuitos.
Levantamento das dimensões e das
características hidráulicas das unida-
des executadas e em operação e reali-
zação dos ajustes necessários.
Ex.: os gradientes na conexão ocu-
lador–decantador e nas estruturas de
entrada do decantador devem ser infe-
riores ao gradiente da última câmara
de oculação.
Otimizar a distribuição de uxo en-
tre decantadores e em cada unidade.
04
Falhas de projeto ou constru-
tivas de unidades de decantação
Ex.: coleta desigual de água
decantada por desnivelamento
dos vertedores ou das bordas
das calhas de coleta de água
decantada.
Comprometimento da decanta-
ção, sobrecarga dos ltros, compro-
metimento da qualidade da água
ltrada e da desinfecção.
Falhas mais freqüentes:
arraste de ocos;
favorecimento de zonas mortas
ou curtos-circuitos.
Implantar vertedores ajustáveis
devidamente nivelados ou nivelar os
vertedores existentes.
05
Controle operacional inade-
quado da decantação.
Comprometimento da decanta-
ção, sobrecarga dos ltros, compro-
metimento da qualidade da água
ltrada e da desinfecção.
Falhas mais freqüentes:
operação do processo inade-
quada às variações de qualida-
de da água e de vazões;
sobrecarga dos decantadores.
Realização sistemática de teste de
jarros, com base nos parâmetros reais
de operação, abrangendo variações
sazonais da qualidade da água e de
vazões.
Controle e variação de vazões a m
de adequar as taxas de aplicação su-
perciais aos parâmetros ótimos, de
acordo com as variações da qualidade
da água.
Otimização do processo com decan-
tação laminar.
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
87
Secretaria de Vigilância em Saúde
ITEM SITUAÇÃO OU PRÁTICA
INDESEJÁVEIS
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO/ PREVENÇÃO
DO PROBLEMA
06
Limpeza deciente dos decan-
tadores.
Comprometimento da decanta-
ção, sobrecarga dos ltros, compro-
metimento da qualidade da água
ltrada e da desinfecção.
Desenvolvimento de odores ofen-
sivos, desprendimento de gases
da zona de lodo, ressuspensão de
ocos.
Provisão de estruturas adequadas de
descarga de lodo e limpeza periódica
dos decantadores.
Figura 2.25 – Qualidade da água visivelmente distinta em séries paralelas
de decantadores, provavelmente por aplicação não homogênea
do coagulante e distribuição não uniforme do uxo
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
88
Secretaria de Vigilância em Saúde
Figura 2.26 – Decantador circular de uxo radial desnivelado
com a instalação de bordas vertedouras ajustáveis para corrigir
problema de desnivelamento
Figura 2.27 – Dispositivo inadequado de entrada de água oculada
no decantador, provocando quebra de ocos
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
89
Secretaria de Vigilância em Saúde
FILTRAÇÃO
A filtração no tratamento de água envolve a passagem da água através de um
meio granular estacionário, geralmente areia, embora outros materiais possam ser
utilizados (pedregulho, antracito, material granular plástico, etc.). A remoção de
impurezas nesse processo é complexa e pode envolver mecanismos físicos, quími-
cos e biológicos, a depender do tipo de filtro.
Os filtros são classificados e referenciados de várias formas. Talvez a forma mais
comum de classificação seja aquela baseada na taxa de filtração, ou seja, na vazão
de água que é tratada por unidade de área em planta do filtro. A taxa de filtração
é também denominada “velocidade de filtração” ou “velocidade de aproximação,
uma vez que se caracteriza em uma grandeza de velocidade. Nesse caso os filtros
são classificados como filtros rápidos (taxa de filtração usualmente de 120 a 600
m/d) ou filtros lentos (taxa de filtração usualmente de 2 a 6 m/d).
É importante ressaltar que a filtração rápida e a filtração lenta não diferem ape-
nas na taxa de filtração. Esses dois tipos de filtração diferenciam-se também no
mecanismo de remoção de impurezas, nas necessidades de pré-tratamento ou no
condicionamento da água bruta, nas características do material granular e nos mé-
todos de limpeza e operação. Por essa razão, nesse texto, esses dois tipos de filtração
são tratados separadamente.
Independentemente do tipo de filtro, em geral a filtração é o processo final de
remoção de impurezas realizado em uma estação de tratamento de água e, portan-
to, principal responsável por garantir a produção de água com qualidade compatí-
vel com o padrão de potabilidade.
De acordo com a AWWA (1991), os sistemas de tratamento que envolvem fil-
tração, quando projetados e operados adequadamente, levando em consideração a
qualidade da água bruta, são capazes de promover remoções de cistos de Giardia
de, no mínimo, 99% (2-log) e de, pelo menos, 90% (1-log) de remoção de vírus,
sem a etapa de desinfecção. Em função do papel importante da filtração na remo-
ção de organismos patogênicos e na garantia da qualidade microbiológica da água
para consumo humano, a Portaria MS n
o
518/2004, no seu artigo 23, determina que
“toda água para consumo humano suprida por manancial superficial e distribuída
por meio de canalização deve incluir tratamento por filtração”.
Filtração rápida
Como pôde ser visto na figura 2.16, para utilização da filtração rápida no tra-
tamento de água faz-se necessário, minimamente, o condicionamento químico da
água, com a adição de coagulante. A necessidade de outras etapas de condiciona-
mento ou pré-tratamento depende da qualidade da água bruta.
A necessidade da etapa de coagulação nos tratamentos com filtração rápida está
relacionada com os mecanismos de remoção de impurezas que atuam, ou devem
atuar, nesse tipo de filtro. Em função da taxa ou da velocidade de filtração, os meca-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
90
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nismos físico-químicos são predominantes na filtração rápida. Assim, considera-se
que a filtração rápida é o resultado da ação de três mecanismos distintos e comple-
mentares: transporte, aderência e desprendimento.
Em primeiro lugar, pela ão dos “mecanismos de transporte”, as partículas
devem-se aproximar das superfícies dos grãos do meio filtrante e, posterior-
mente, pelaão dos “mecanismos de adencia”, devem permanecer aderidas a
esses gos para resistir às forças de cisalhamento resultantes das caractesticas
do escoamento ao longo do meio filtrante (IVES, 1970). Quando as forças de
cisalhamento superam as forças responveis pela adencia, tem-se o despren-
dimento das parculas.
Segundo O’Mélia (1985) e outros autores (IVES, 1970; DI BERNARDO,
1993), os mecanismos de transporte são influenciados, principalmente, por
foas físicas como a adveão e a gravidade. Dentre os mecanismos de trans-
porte comumente considerados para explicar a aproximão das parculas aos
gos do meio filtrante, citamos: impacto inercial, interceptão, sedimenta-
ção, difusão e ação hidrodinâmica. Cleasby (1990) ressalta que o mecanismo
dominante depende das caractesticas físicas e químicas da suspeno e do
meio, da taxa de filtrão e das propriedades qmicas da água, contudo, para
Ives (1970), os mecanismos de sedimentação, interceptação e difusão m sido
considerados os mais importantes.
Como mencionado, quando próximas à superfície dos grãos do meio filtrante,
as partículas são capturadas e aderidas a estes por meio dos mecanismos de ade-
rência. A aderência é atribuída a duas categorias de fenômenos: interação entre as
forças elétricas e as de Van der Waals; e interação superficial de origem química,
que é fortemente influenciada pela coagulação (O’MÉLIA, 1985; DI BERNARDO,
1993). A eficiência da aderência entre partículas transportadas e grãos depende,
principalmente, das propriedades das superfícies de ambos. As partículas podem
tanto aderir diretamente às superfícies dos grãos como às partículas previamente
retidas. Assim, quando o processo de desestabilização de impurezas (coagulação)
não é eficiente, a aderência fica comprometida e a remoção de impurezas nos filtros
não é satisfatória.
A filtração rápida pode ser entendida como uma quantidade de subcamadas
que, progressiva e seencialmente, vão exaurindo sua capacidade de retenção
de partículas. Na filtrão descendente, por exemplo, a água com maior quanti-
dade de impurezas encontra, primeiramente, as subcamadas de menor porosi-
dade. À medida que as parculas são retidas nos vazios intergranulares, causam
o estreitamento dos canais do meio filtrante e o conseente aumento da ve-
locidade intersticial. Esse aumento da velocidade intersticial, responvel pelas
foas de cisalhamento, faz com que parte das parculas retidas seja arrastada
para subcamadas inferiores, ocorrendo a filtração com ação de profundidade
(IVES, 1970; DI BERNARDO,1993).
A filtração comão de profundidade é desejável na filtrãopida, pom
o controle da qualidade do efluente dos filtros é importante para evitar o sur-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
91
Secretaria de Vigilância em Saúde
gimento de quantidades indesejadas de impurezas na água filtrada, fenômeno
denominado “traspasse”.
Considerando os mecanismos de transporte e de aderência das partículas e a
forma como a filtração ocorre, pode-se dizer que a eficiência da filtração está rela-
cionada às propriedades físicas e químicas da suspensão a ser filtrada, às caracterís-
ticas do meio filtrante e às condições hidráulicas.
Após certo período de funcionamento, faz-se necessária a limpeza do filtro. Na
filtração rápida, o momento da limpeza do filtro, ou seja, da interrupção de uma
carreira de filtração (período de funcionamento dos filtros entre lavagens), é geral-
mente determinado pela condição que ocorrer primeiro dentre as duas seguintes:
traspasse de impurezas no efluente ou dissipação total da carga hidráulica disponí-
vel para operação do filtro.
A limpeza realiza-se por meio de lavagem com água no sentido ascensional, uti-
lizando taxa ou velocidade da água de lavagem que promova a fluidificação parcial
do meio filtrante e o conseqüente desprendimento das impurezas da superfície do
grão filtrante. Essa lavagem deve ser realizada com água tratada.
A lavagem efetiva do meio filtrante é essencial para o sucesso de longo prazo da
filtração. O objetivo imediato da lavagem do filtro é a recuperação da capacidade de
acumulação de impurezas no meio granular. Porém, a lavagem deve garantir que,
no médio e longo prazos, o filtro se apresente com grau de limpeza aceitável e que
problemas como bolas de lodo e “rachaduras” no meio filtrante sejam evitados.
A lavagem com água no sentido ascendente pode ser complementada pelas cha-
madas lavagens auxiliares, como a insuflação de ar precedendo a lavagem com água
no sentido ascensional, ou pela lavagem superficial ou subsuperficial, realizada, ou
não, de forma concomitante com a lavagem com água no sentido ascensional. Além
de melhorar a limpeza do meio filtrante, as lavagens auxiliares podem levar à di-
minuição do volume de água gasto na lavagem, minimizando as perdas de água e
facilitando o tratamento desse resíduo gerado no filtro.
Os filtros rápidos podem ser de escoamento ascendente ou descendente. Os fil-
tros de escoamento ascendente são utilizados nas seqüências de tratamento por
filtração direta ascendente e na primeira etapa da dupla filtração. No caso da dupla
filtração, eles podem ser de areia grossa ou de pedregulho.
Os filtros rápidos descendentes são adotados no tratamento convencional (ci-
clo completo), na filtração direta ou na segunda etapa da dupla filtração. Esses
filtros podem ter meio granular composto por mais de um material filtrante,
dispostos em camadas. A ordem de colocação das camadas é determinada pela
densidade dos materiais filtrantes, de forma que o material mais denso é coloca-
do na camada mais inferior e o menos denso na mais superior. A granulometria
das camadas decresce na direção do escoamento, favorecendo o melhor aprovei-
tamento da capacidade de acumulação de sólidos do meio filtrante, com menor
desenvolvimento da perda de carga. A versão mais conhecida desse tipo de filtro é
o de dupla camada de antracito, no topo, com granulometria mais grossa, e areia,
no fundo, com granulometria mais fina.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
92
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Di Bernardo et al. (2003) destacam algumas difereas básicas entre os fil-
tros ascendentes e descendentes quando empregados na filtração direta, entre
elas o fato de o meio filtrante empregado na filtração direta ascendente ser
geralmente constitdo de areia com grãos maiores que os do caso da filtração
descendente e com isso apresentar um maior consumo de água para lavagem.
Além disso, a coleta de água de lavagem nos filtros ascendentes é geralmente
efetuada nas mesmas calhas de coleta de água filtrada, fato que em muitos paí-
ses limita o uso dessa cnica, em face do risco de contaminão da água filtra-
da com água de lavagem como resultado de erro em uma manobra operacional
durante a lavagem.
Por sua vez, em meios filtrantes estratificados de um único material filtrante, o
afluente com maior quantidade de impurezas encontra, inicialmente, as subcama-
das com menores vazios entre os grãos na filtração descendente e, em contrapo-
sição, na filtração ascendente o afluente encontra inicialmente os maiores vazios
intergranulares. Com isso o desenvolvimento da perda de carga resulta menor, o
aproveitamento da profundidade do filtro pode ser maior e essa unidade geralmen-
te apresenta carreiras de filtração mais longas.
Durante a operação dos filtros, mudanças bruscas na taxa de filtração resultam
em deterioração da qualidade da água filtrada, isso porque o equilíbrio entre as for-
ças de aderência e as forças de cisalhamento podem favorecer o desprendimento de
material retido ou ainda não permitir que estes sejam retidos nos vazios intragranu-
lares. Para evitar tais problemas, os filtros devem ser cuidadosamente operados. São
reconhecidas quatro condições de operação de filtros rápidos: (i) carga hidráulica
disponível constante e resistência total do ltro variável; (ii) carga hidráulica dispo-
nível constante e resistência total do filtro constante; (iii) carga hidráulica disponível
variável e resisncia total do filtro constante; e (iv) carga hidráulica disponível variável
e resistência total do filtro variável. Segundo Cleasby (1990), é impossível fazer genera-
lizações sobre a aplicabilidade das diferentes formas de operação de filtros. Cada uma
tem sua aplicabilidade e deve ser utilizada quando as condições forem apropriadas.
Essas formas de operação são descritas com detalhes em vários livros-tex-
tos e não o aqui discutidas. Pom, cabe mencionar que as opções (ii) e (iii)
necessitam de instalão de dispositivos de controle de vao na tubulação de
saída dos filtros ou dispositivos de controle de vao e de vel. Os filtros ope-
rados com carga hidulica dispovel variável e resistência total do filtro va-
rvel dispensam tais dispositivos e podem ser de taxa constante ou varvel
(declinante), em função das caractesticas de entrada e sda dos filtros. Nos
filtros de taxa constante, a vazão afluente deve ser igualmente distribuída entre
os filtros de uma bateria, e essa distribuão é feita por meio de vertedores com
descarga livre. Por sua vez, nos filtros de taxa declinante, a alimentão dos
filtros é afogada, de modo que os filtros de uma mesma bateria se comportam
como vasos comunicantes. O quadro 2.4 apresenta algumas situões ou pti-
cas indesejáveis na operão de filtros pidos.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
93
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Quadro 2.4 – Exemplos de situações ou práticas indesejáveis
na ltração rápida
ITEM SITUAÇÃO OU PRÁTICA
INDESEJÁVEIS
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO/PREVENÇÃO
DO PROBLEMA
01
Falhas de projeto ou
construtivas das unidades
de ltração.
Ex.: velocidade de ltra-
ção ou granulometria do
leito ltrante inadequadas
à qualidade da água e
à técnica de tratamento
empregada.
Comprometimento da ltração,
da qualidade microbiológica da
água ltrada, comprometimento da
desinfecção.
Determinação criteriosa dos parâ-
metros de projeto e execução cuida-
dosa das unidades de ltração.
Levantamento das dimensões exa-
tas das unidades executadas e em
operação; levantamento dos parâme-
tros reais de operação; comparação
com os parâmetros de projeto e reali-
zação dos ajustes necessários.
02
Controle inadequado
da operação – permitir a
exposição do leito ltrante
sem a necessária submer-
são ou por tempo mais
longo que o recomendado.
Comprometimento da ltração, da
qualidade microbiológica da água
ltrada, comprometimento da desin-
fecção.
Falhas mais freqüentes:
formação de bolhas de ar e
de lodo no interior da camada
ltrante;
formação de caminhos preferen-
ciais da água.
Manter o leito ltrante sempre
afogado (isso pode ser facilmente
conseguido com um vertedor de altu-
ra adequada no canal ou no reserva-
tório de água ltrada ou em câmaras
individuais).
Impedir o total esvaziamento do
reservatório de água de lavagem.
03
Controle inadequado
das carreiras de ltração.
Comprometimento da ltração, da
qualidade microbiológica da água
ltrada, comprometimento da desin-
fecção.
Falha mais freqüente:
riscos de picos de turbidez e
traspasse de cistos e oocistos de
protozoários.
Controle rigoroso das carreiras de
ltração por meio do controle da per-
da de carga durante a ltração e da
qualidade da água ltrada em cada
unidade de ltração.
Manutenção da turbidez da água
ltrada inferior a 1,0 uT; idealmente
menor do que 0,5 uT.
04
Falhas de projeto, cons-
trutivas ou de operação
para a lavagem dos ltros.
Exs.: deciência na
distribuição da água de
lavagem; volume de
água, tempo de lavagem
e velocidade ascensional
insucientes; velocidades
ascensionais excessivas;
lavagem supercial de-
ciente do leito ltrante;
pressão excessiva durante
a lavagem.
Redução da duração das carreiras
de ltração e comprometimento do
processo de ltração, da qualidade
microbiológica da água ltrada,
comprometimento da desinfecção.
Falhas mais freqüentes:
• deterioração do leito ltrante
–formação de bolas de lodo, de
rachaduras e colmatagem;
• expansão excessiva, desperdício
de água, perda de material l-
trante e redução da espessura
do leito;
• formação de bolhas de ar no
interior da camada ltrante;
• formação de caminhos preferen-
ciais da água;
ruptura dos sistemas de drenagem.
Determinação criteriosa dos parâ-
metros de projeto e execução cuida-
dosa dos dispositivos de lavagem.
Levantamento dos parâmetros óti-
mos e reais de operação e realização
dos ajustes necessários.
Realização de ensaios de expansão
do leito e perda de material durante
a lavagem.
Otimização do tempo de lavagem
por meio do controle da turbidez da
água de lavagem.
Adoção de dispositivos que impe-
çam a formação de vórtices na entra-
da e na saída da tubulação de água
de lavagem.
Adoção de sistemas de lavagem
auxiliares.
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
94
Secretaria de Vigilância em Saúde
ITEM SITUAÇÃO OU PRÁTICA
INDESEJÁVEIS
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO/PREVENÇÃO
DO PROBLEMA
05
Falhas de projeto e cons-
trutivas ou deterioração dos
dispositivos de controle de
água ltrada e de lavagem.
Riscos de interconexões e contami-
nação da água ltrada.
Execução cuidadosa dos dispositivos
de controle e vericação sistemática de
estanqueidade.
06
Controle inadequado da
operação pós-lavagem
Risco de deterioração temporária da
água ltrada.
Controle rigoroso da qualidade da
água ltrada e, se necessário, descarte
temporário.
07
Recirculação de água de
lavagem sem controle da
qualidade microbiológica
dessa água.
Risco de comprometimento da quali-
dade da água tratada.
Melhoria do sistema de recuperação
de água de lavagem com produção de
água de melhor qualidade.
Controle microbiológico da água de
lavagem, inclusive de protozoários.
Recirculação para a chegada de água
bruta com controle da razão de recircula-
ção por meio de tanques de equalizão.
Evitar a operação quando a contami-
nação microbiológica for signicativa e
de risco, mesmo considerando o fator
de diluição.
08
Construção de ltros as-
cendentes sem cobertura.
Risco de comprometimento da quali-
dade da água tratada.
Previsão de cobertura para a unidade.
Figura 2.28 – Floculador de bandejas ao centro de um decantador circular
de uxo radial, dois ltros rápidos em paralelo, de difícil acesso
para operação e manutenção, ETA de pequeno porte, antiga,
com operação e manutenção precárias
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
95
Secretaria de Vigilância em Saúde
Figura 2.29 – Operação adequada de lavagem de ltro, com visualização
de dispositivo de lavagem supercial
Exemplo de Boas Práticas – Otimização do tempo de lavagem
de ltros por meio do controle da turbidez da água de lavagem
Turbidez da água de lavagem
AMOSTRA TEMPO DE COLETA (min) TURBIDEZ (UT)
1
0 523,0
2
1 153,0
3
2 77,8
4
3 40,5
5
4 21,2
6
5 17,5
7
6 11,6
8
7 6,4
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
96
Secretaria de Vigilância em Saúde
Comentários: o tempo ótimo de lavagem corresponderia à estabiliza-
ção da turbidez da água de lavagem em valores reduzidos e/ou além dos
quais o ganho já não seria justicável em termos de custo x benefício. No
caso apresentado, o último evento de coleta corresponde ao término da
operação por esgotamento do reservatório de água de lavagem; apesar
de permanecer dúvida se a continuidade da lavagem resultaria em redu-
ção adicional da turbidez da água de lavagem, com base nos resultados
pode-se inferir que 6 a 7 minutos são sucientes para uma boa operação
de lavagem do ltro.
Filtração lenta
A filtração lenta é um processo de tratamento de água que não requer o uso
de coagulantes nem de equipamentos sofisticados para seu controle, tampouco de
mão-de-obra especializada para sua operação. A inexistência, na filtração lenta, das
etapas de mistura rápida, floculação e decantação (etapas constituintes do sistema
convencional) permite, de modo geral, a produção de água com custos operacio-
nais muito baixos.
Os filtros lentos trabalham com taxas de filtração baixas e usam granu-
lometria fina. Os usos de baixas taxas de filtração levam a um maior tempo
de detenção da água sobre o meio filtrante e no seu interior, permitindo o
desenvolvimento, na interface água–meio filtrante, de uma camada composta
por organismos biológicos e detritos, a chamada schmutzdecke, assim como
de um biofilme” na supercie dos grãos filtrantes nos primeiros cenmetros
do meio filtrante.
Nessa condição, a purificação da água no filtro lento é resultado da combinação
da atividade biológica com a retenção físico-química das partículas. Assim, tanto
os mecanismos de transporte e aderência como os biológicos são importantes para
o bom desempenho do processo. Entretanto, a ação mais importante que ocorre na
filtração lenta é, sem dúvida, a atividade biológica.
Na schmutzdecke, também conhecida como superfície de coesão, a matéria
orgânica biodegradável é oxidada bioquimicamente, assim como as algas mortas
e algumas bactérias contidas originalmente na água. Uma fração considerável de
parculas inertes (turbidez mineral) é retida nessa camada pela ão de coar e
pela adsorção. No meio filtrante, abaixo da superfície de coesão, os grãos de areia,
durante o processo de amadurecimento do filtro, são gradativamente revestidos
com uma película (biofilme) com composição similar à da schmutzdecke, entre-
tanto com menor concentração de algas e partículas e maior conteúdo de micro-
organismos (bactérias, bacteriófagos, rotíferos, protozoários, etc.). Nessa região,
que pode se estender aos primeiros 30 a 50 cm de profundidade, a matéria
orgânica é degradada e assimilada pelo material celular que, por sua vez, é assi-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
97
Secretaria de Vigilância em Saúde
milado por outros microorganismos e convertido, finalmente, em gás carbônico,
água, nitratos e fosfatos, ocorrendo assim a mineralização. A atividade biológica
no ltro lento é complexa e, segundo Haarhoff e Cleasby (1991), envolve, além
dos aspectos citados anteriormente, a predação, a “saprofagia e a inativação ou
morte de organismos.
As algas têm um papel de fundamental importância na atividade biológica do
filtro lento, pois elas se reproduzem absorvendo gás carbônico, nitratos e fosfatos
e liberando oxigênio. O oxigênio liberado é utilizado pelas bactérias na atividade
bioquímica de assimilação e desassimilação da matéria orgânica. Para uma adequa-
da oxidação da matéria orgânica, a concentração de oxigênio dissolvido deve ser
superior a 3,0 mg/L.
Por sua vez, os protozoários exercem importante atividade predatória sobre
bactérias, algas, larvas de insetos e outros microorganismos. Sua concentração e
distribuição no interior do filtro são bastante desiguais, uma vez que dependem da
disponibilidade e da natureza dos alimentos (HAARHOFF; CLEASBY, 1991).
Considerando que as partículas de impurezas presentes na água bruta geral-
mente são eletronegativas, a tendência natural seria que elas, ao se aproximarem
dos grãos ltrantes por meio dos mecanismos de transporte, fossem repelidas.
Isso porque os gos de areia também apresentam cargas superficiais eletronega-
tivas; entretanto, essa repulsão é pequena no filtro lento. A maioria dos trabalhos
que discutem a questão dos mecanismos de aderência no filtro lento sugere a
adsorção como o principal responsável pela adesão de partículas nas ao meio
filtrante e associa a eficiência da adsorção ao grau de amadurecimento biológico
do filtro. Haarhoff e Cleasby (1991) apresentam uma boa discussão sobre as prin-
cipais hipóteses propostas para a explicação da aderência nos filtros lentos.
A formação da schmutzdecke pode levar alguns dias ou até semanas.
Esse intervalo de tempo é denominado “período de amadurecimento”
de um ltro lento.
A eciência da ltração lenta depende essencialmente do amadureci-
mento biológico do ltro. Somente após esse amadurecimento, o ltro
se encontra em condições adequadas de produzir água tratada de boa
qualidade.
A atividade biológica presente no ltro depende essencialmente da
quantidade de nutrientes presentes na água bruta e da temperatura.
Uma das principais vantagens atribuídas ao filtro lento é sua excelente capaci-
dade de remoção de organismos patogênicos. O quadro 2.5 mostra as porcentagens
de remoção de alguns organismos patogênicos segundo diversos autores.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
98
Secretaria de Vigilância em Saúde
Quadro 2.5 – Remoção de microorganismos patogênicos e indicadores
de contaminação pela ltração lenta
MICROORGANISMO PERCENTAGEM
DE REMOÇÃO
AUTOR
Coliformes totais
> 99% Bellamy et al. (1985)
Vírus (Polivírus 1)
98,25 – 99,99% Poynter e Slade (1977)
Cistos de Giardia
> 98% Bellamy et al. (1985)
Oocistos de Cryptosporidium
> 99,99% Timms et al. (1995)
Cercárias de Schistosomona
100% Galvis et al. (1997)
FONTE: Di Bernardo et al. (1999)
De acordo com os diferentes autores, o desempenho dos filtros lentos na re-
moção de microorganismos depende de fatores tais como: a taxa de filtração; a
temperatura; a profundidade do meio filtrante; o tamanho dos grãos da areia; o
coeficiente de desuniformidade; a maturidade do meio filtrante, entre outros.
Apesar de a ltração lenta ter uma excelente remoção microbiológica,
é obrigatória a desinfecção do euente do ltro, garantindo que haverá
um residual de cloro na rede distribuidora.
Quanto à cor verdadeira, a remoção no filtro lento não é eficaz, uma vez que ela
ocorre em razão da presença de partículas dissolvidas e coloidais, sendo, portanto,
necessário um pré-tratamento químico (coagulação) para removê-las.
A remoção de algas no filtro lento depende das características desse organismos
e de sua concentração. De acordo com o trabalho de Mouchet e Bennélye (1998),
uma remoção de algas da ordem de 99% no processo de filtração lenta. A col-
matagem dos filtros, em conseqüência da grande concentração de algas na água
afluente, pode ser evitada, ou minimizada, com a adoção de processos de pré-tra-
tamento, como a pré-filtração em pedregulho.
A filtração lenta é usada no tratamento de água para consumo humano desde
o século XIX. No Brasil, até a década de 1960 esse tipo de filtração tinha emprego
privilegiado, porém passou a ser desprezado a partir dos anos 1970. Dois aspec-
tos contribuíram para esse processo de substituição tecnológica: a deterioração da
qualidade de vários mananciais e a forte influência norte-americana na prática de
tratamento de água no Brasil. Com isso, mesmo em situações nas quais a filtração
lenta se mostrava a tecnologia mais sustentável (manancial preservado, comunida-
des rurais ou de pequeno ou médio porte), essa alternativa era esquecida.
Cabe mencionar que, atualmente, em diversos países europeus, pelas suas van-
tagens na remoção de cistos de Giardia e de oocistos de Cryptosporidium, a filtração
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
99
Secretaria de Vigilância em Saúde
lenta é a unidade final de uma seqüência de tratamento, sendo precedida de unida-
des como a pré-oxidação, a coagulação, a floculação, a flotação ou a decantação, a
filtração rápida e os filtros de carvão ativado granular.
O processo de filtração lenta convencional no qual o filtro lento é a única
unidade de clarificação da água bruta – é limitado a águas que tenham valores de
turbidez, cor verdadeira e teor de sólidos suspensos relativamente baixos. Porém,
como pode ser visualizado na figura 2.15 e na tabela 2.1, a filtração lenta prece-
dida de sistemas simples de pré-tratamento pode tratar água de qualidade mais
comprometida.
O objetivo do sistema de pré-tratamento é condicionar a água bruta para
permitir o bom funcionamento do filtro lento. No sistema conhecido como
“filtrão em múltiplas etapas” (Fime), a primeira etapa, de p-filtração di-
nâmica, é essencialmente voltada para a remão de sólidos grosseiros, porém
há tamm a remoção de organismos e de algum material fino. Na segunda
etapa do pré-tratamento, a pré-filtração em pedregulhos de granulometria
decrescente, ocorre a remoção de material mais fino, patogênicos e algas. Nes-
sa etapa, os pré-filtros de pedregulho podem ser de fluxo vertical (ascendente
ou descendente) ou horizontal. Estudos para o desenvolvimento dessas tec-
nologias têm sido de fundamental importância para a retomada do uso da
filtração lenta.
Como mencionado, a capacidade de remoção de impurezas no ltro lento
depende do adequado amadurecimento do filtro, ou seja, do desenvolvimento
da schmutzdecke e da maturidade biológica do meio ltrante. Por essa razão, no
início da operação do filtro lento, a água filtrada produzida geralmente se apre-
senta com qualidade insatisfatória, tanto do ponto de vista físico-químico como
do microbiológico.
Assim, durante o período de amadurecimento, a água produzida no filtro
lento deve ser desviada para o sistema de drenagem da estação. Para acelerar o
período de amadurecimento dos filtros lentos, recomenda-se que nos primeiros
dias de funcionamento essa unidade seja operada com taxas inferiores à taxa de
filtrão de projeto, iniciando-se com 25% dessa taxa e aumentando gradativa-
mente (50%, 75%) até atingir o valor de projeto. No caso do filtro lento precedi-
do de p-filtros de pedregulho, Di Bernardo e Valenzuela (1992) recomendam
que, nos dois ou ts primeiros dias de funcionamento, o filtro lento seja ali-
mentado diretamente com água bruta ou com efluente do pré-filtro dimico,
desviando-se a água do pré-filtro ascendente.
As tarefas diárias de operação de um filtro lento envolvem: o controle e o re-
gistro da vazão afluente; a medição e o registro da turbidez da água filtrada; a re-
moção do material flutuante; a medição e o registro da perda de carga. O controle
da vazão afluente ao filtro lento é fundamental, pois tanto a eficiência do filtro,
principalmente no que tange à remoção de microorganismos patogênicos, como o
desenvolvimento da perda de carga dependem da taxa de aplicação adotada. Perio-
dicamente faz-se necessária a limpeza das canaletas e das câmara de entrada.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
100
Secretaria de Vigilância em Saúde
Os filtros lentos podem ser operados com taxa constante e nível de água no seu
interior constante ou variável, sendo a última opção mais fácil de executar. Nesse
caso, quando o nível d’água no filtro atinge o limite estabelecido, com perda de car-
ga hidráulica máxima, faz-se necessário realizar a raspagem da superfície do meio
filtrante, bem como a limpeza das câmaras de entrada e saída de água e das paredes
internas do filtro.
A raspagem do meio filtrante é uma operação delicada e pode ser realizada de
forma manual ou mecanizada. A limpeza mecanizada é opção geralmente adotada
em grandes instalações e em países desenvolvidos, enquanto a limpeza manual é
comum nas pequenas instalações.
O procedimento de limpeza tem início com a interrupção da alimentação de
água para a unidade filtrante e a drenagem da lâmina d’água acumulada sobre a
areia. Não é recomendada a drenagem total da água do filtro. Recomenda-se que a
drenagem seja interrompida quando a lâmina de água do filtro se encontre cerca de
oito centímetros abaixo da superfície do meio filtrante.
A raspagem manual consiste na remoção de um a dois centímetros do topo da
areia, com o auxílio de uma pá. Para evitar o contato direto das botas e dos baldes
com a areia, recomenda-se o uso de pranchas de madeira como passarelas para os
operadores. Findo o procedimento de raspagem, o operador, com o auxílio de um
“rodo de madeira, deve nivelar a superfície do meio filtrante.
Ao repor o filtro em operação é necessário, inicialmente, alimentá-lo com água
filtrada no sentido ascencional, a fim de evitar a permanência de ar nos interstícios
do meio filtrante. Esse procedimento pode ser realizado por meio de um arranjo
apropriado da tubulação da câmara de saída dos filtros lentos e deve ser feito com
velocidade ascencional baixa, inferior à taxa de filtração do filtro lento. Somente
após o nível da água se encontrar acima do meio filtrante, a alimentação da água
afluente ao filtro lento deve ser iniciada.
A areia retirada do filtro lento no procedimento de raspagem deve ser rigo-
rosamente lavada, seca e estocada em local ventilado, para a futura reposição
no filtro. Recomenda-se que essa reposição seja realizada quando, após diversas
raspagens, a espessura da camada de areia diminuir para cerca de cinqüenta a
sessenta centímetros.
Nesse arranjo, a areia remanescente no filtro, que está colonizada com mi-
croorganismos, ficará na sua superfície, promovendo um amadurecimento
mais pido do filtro quando este é reposto em operação. De acordo com a
literatura, a drenagem total do meio filtrante, o revolvimento e a reposão da
areia limpa afetam negativamente a eficiência do filtro lento. O quadro 2.6 re-
sume algumas situações e pticas inadequadas ou indesejadas na operação de
sistemas de filtração lenta.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
101
Secretaria de Vigilância em Saúde
Quadro 2.6 – Exemplos de situações ou práticas indesejáveis
na ltração lenta
ITEM SITUAÇÃO OU PRÁTICA
INDESEJÁVEIS
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO / PREVENÇÃO DO PROBLEMA
01
Não aguardar o tem-
po de amadurecimento
da unidade ltrante
(desenvolvimento da
camada e da maturida-
de biológicas do meio
ltrante), após sua
limpeza.
Produção de água ltrada
com qualidade insatisfatória.
Após a limpeza de cada unidade ltrante, a
água nela produzida deve ser desviada para o
sistema de drenagem da instalação. Decorri-
dos alguns dias, ocorre a gradual melhora da
qualidade da água ltrada, mas o momento
a partir do qual a água poderá ser aproveita-
da dependerá da turbidez e da densidade de
coliformes na água ltrada, recomendando-se
os limites, respectivamente, de 2 uT e de 100
coliformes totais/100mL para a eciente de-
sinfecção da água.
02
Inexistência de no
mínimo duas unidades
ltrantes, para que
uma possa ser retirada
de operação, durante
sua limpeza e o ama-
durecimento referido
no item anterior.
Produção de água ltrada
com qualidade insatisfatória
no período de alguns dias que
se seguem à limpeza da única
unidade ltrante existente.
Construir pelo menos mais uma unidade
ltrante.
03
Limpeza inadequada
das unidades ltrantes
e das respectivas câma-
ras de entrada e saída.
Aumento do teor de matéria
orgânica na água ltrada, com
desenvolvimento de odores
ofensivos e subprodutos tóxicos
da cloração da água.
Além da adequada raspagem e limpeza da
camada mais supercial de cada unidade l-
trante, suas paredes e câmaras de entrada e
saída de água devem ser rigorosamente lim-
pas, para evitar a formação de lodo ou limo e
também o desenvolvimento de algas.
04
Limpeza e estocagem
inadequadas da areia
retirada dos ltros.
Deterioração da qualidade
da água por matéria orgânica,
quando do retorno da areia à
unidade ltrante.
A areia retirada por raspagem do ltro
lento deve ser cuidadosamente lavada, seca
e estocada em local ventilado, para posterior
retorno ao ltro. A lavagem deve ser feita em
tanque ou câmara de lavagem, dotada de
água corrente.
05
Não afogamento
da unidade ltrante
durante seu funciona-
mento.
Prejuízo à qualidade da água
ltrada, pela diculdade na
formação da camada biológica
e pelo desenvolvimento de bo-
lhas de ar na primeira camada
ltrante.
Implantar vertedor ou válvula de parada
(registro) na saída de água ltrada, a m de
manter sempre uma lâmina líquida sobre a
superfície do leito ltrante com espessura
mínima de 4 cm.
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
102
Secretaria de Vigilância em Saúde
ITEM SITUAÇÃO OU PRÁTICA
INDESEJÁVEIS
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO / PREVENÇÃO DO PROBLEMA
06
Água bruta com
qualidade incompatível
com a tecnologia de
ltração lenta – sobre-
carga de sólidos.
Carreira de ltração curta em
relação ao período de amadu-
recimento com baixa produção
efetiva de água.
Em caso de a sobrecarga de sólidos ser even-
tual e de curto prazo, uma redução na taxa de
ltração pode minimizar o impacto da sobre-
carga nos ltros. O uso de mantas sintéticas
sobre a areia também pode auxiliar.
Em caso de o manancial apresentar sinais de
degradação continuada da qualidade da água
bruta, implantar sistemas de pré-tratamento,
como, por exemplo, os pré-ltros de pedregulho.
07
Operação dos ltros
com taxas de ltração
superiores à taxa de
projeto.
Produção de água ltrada com
qualidade insatisfatória, parti-
cularmente do ponto de vista
microbiológico.
Aumento da taxa de cresci-
mento da perda de carga com
diminuição da duração da carrei-
ra de ltração e produção efeti-
va de água.
Observância no controle da vazão de alimen-
tação dos ltros lentos.
Instalação de dispositivos de controle, se
necessário.
DESINFECÇÃO
Após a clarificação da água, procede-se à desinfecção, ou seja, à destruição ou à
inativação de organismos patogênicos pela aplicação de um agente desinfetante. Os
mais empregados são: oxidantes químicos, como cloro, dióxido de cloro e ozônio,
e radiação ultravioleta.
Quadro 2.7 – Características dos principais desinfetantes utilizados
no tratamento da água para consumo humano
DESINFETANTE VANTAGENS DESVANTAGENS
Cloro
Elevada eciência na inativação de bac-
térias e vírus.
Efeito residual relativamente estável.
Baixo custo.
Manuseio relativamente simples.
Grande disponibilidade no mercado.
Limitada eciência na inativação de cistos de
protozoários e ovos de helmintos.
Na presença de matéria orgânica pode formar
subprodutos tóxicos, principalmente trihalome-
tanos (THM).
Em doses elevadas, pode produzir forte odor
e sabor.
Alguns subprodutos como clorofenóis provo-
cam também odor e sabor.
Dióxido de cloro
Desinfetante mais potente, inclusive na
inativação de cistos de protozoários CT
inferiores aos do cloro.
Não forma trihalometanos (THM).
Eciência estável em amplas faixas de pH.
Na presença de matéria orgânica pode formar
outros subprodutos tóxicos (clorito).
Residuais desinfetantes menos estáveis.
Em doses elevadas, pode produzir forte odor
e sabor.
Operação mais delicada e complexa.
Continuação
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
103
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DESINFETANTE VANTAGENS DESVANTAGENS
Ozônio
Desinfetante mais potente, inclusive na
inativação de cistos de protozoários.
Menor risco de formação de subprodu-
tos tóxicos.
Não provoca odor e sabor.
CT inferiores aos do cloro.
Pode formar outros subprodutos tóxicos (bro-
matos e bromofórmio).
Não apresenta poder residual.
Custos elevados.
Técnicas de aplicação mais sosticadas.
Radiação
ultravioleta
Elevada eciência na destruição dos
mais diversos microorganismos em tempo
de contato reduzido.
Não forma subprodutos.
Não provoca odor e sabor.
Não apresenta poder residual.
Redução signicativa da eciência com o au-
mento da cor ou da turbidez da água.
Custos elevados.
Controle menos preciso das doses aplicadas.
FONTE: Adaptado de Reiff & Witt (1995)
Embora o cloro apresente algumas limitações como desinfetante no tratamento
de água para consumo humano, ele continua sendo o mais utilizado, em virtude de
seus atributos positivos, principalmente seu poder residual, motivo pelo qual merece
maior atenção daqui em diante.
Princípios da cloração
O cloro gasoso reage com a água, formando o ácido hipocloroso (HOCl) e o
ácido clorídrico (HCl):
Cl
2
+H
2
O HOCl+HCl
O ácido hipocloroso se dissocia facilmente na água em íons hidrogênio e hipo-
clorito:
HOCl = H
+
+ OCl
-
O pH da água determinará qual a forma do cloro predominante:
pH < 5,0: cloro molecular (Cl
2
).
5,0 < pH < 7,5: ácido hipocloroso (HOCl).
pH < 7,5: íon hipoclorito (OCl
-
).
Portanto, para os valores de pH mais usuais de águas de abastecimento (pH >
5,0) prevalecerão as formas HOCl e OCl
-
, denominadas cloro livre.
Os sais de cloro (hipoclorito de cálcio e sódio) reagem com a água, formando:
Ca(OCl)
2
+ 2H2O Ca(OH)
2
+ 2HOCl
NaOCl + H
2
O NaOH + HOCl
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
104
Secretaria de Vigilância em Saúde
Entretanto, como o cloro é um oxidante potente, quando adicionado à água irá
reagir também com a matéria orgânica presente. Ao reagir com a amônia, forma
monocloroaminas, dicloroaminas e tricloroaminas:
NH
3
+ HOCl NH
2
Cl + H
2
O (monocloroamina)
NH
2
Cl + HOCl NHCl
2
+ H
2
O (dicloroamina)
NHCl
2
+ HOCl NCl
3
+ H
2
O (tricloroamina)
A forma predominante de cloro combinado é função do pH, da temperatura e
das quantidades relativas de amônia e cloro disponíveis. No que se refere ao valor
de pH, tem-se:
pH > 9,0: monocloroaminas
pH < 5,0: dicloroaminas e tricloroaminas.
5,0 < pH < 9,0: mono e dicloroaminas, com predominância das monocloro-
aminas para pH mais elevado.
O ácido hipocloroso (HOCl) é um desinfetante muito mais potente que
o íon hipoclorito (OCl
-
), assim como as dicloroaminas quando comparadas
às monocloraminas. Portanto, o poder desinfetante do cloro decresce em pH
elevado, rao pela qual a cloração deve ser efetuada antes da correção final
de pH. Por sua vez, o poder desinfetante do cloro livre é muito maior que o
do cloro combinado.
Ainda em função do seu poder oxidante, quando se aplica o cloro à água, parte
dele é consumido em reações com substâncias orgânicas e inorgânicas em suspen-
são ou dissolvidas, o que representa a demanda de cloro da água. Completadas as
reações, permanecem teores de cloro residual, que podem se apresentar nas formas
de cloro residual livre ou cloro residual combinado.
Em dosagens mais elevadas de cloro, as próprias cloroaminas formadas são oxi-
dadas, resultando em residuais de cloro apenas na forma de cloro livre.
Pelo exposto, conclui-se que a cloração deve ser preferencialmente realizada
em águas com a menor turbidez e cores possíveis (caso contrário pode-se aumen-
tar a demanda de cloro e os teores de cloro residual combinado). A figura 2.30
ilustra a questão.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
105
Secretaria de Vigilância em Saúde
Figura 2.30 – Evolução do teor de cloro residual em função
da dosagem de cloro
FONTE: Opas (1999)
AB: o cloro introduzido na água é inteiramente consumido na oxidação da
matéria orgânica. Enquanto esses compostos não forem destruídos, não
ocorrerá desinfecção e o cloro residual será nulo.
BB’: o cloro combina-se com compostos nitrogenados, produzindo cloro re-
sidual combinado.
B’C: o cloro oxida as cloroaminas formadas na fase anterior, reduzindo os
teores de cloro residual combinado.
C em diante: completada a oxidação do cloro residual combinado, elevam-se
os teores de cloro residual livre, mais eficaz como desinfetante (cloração ao
break point).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
106
Secretaria de Vigilância em Saúde
Eciência da desinfecção
A inativão dos microorganismos se dá pela ação de uma certa dose do
desinfetante por um determinado tempo de contato. A eficiência da desin-
fecção é determinada pelo pametro CT (residual desinfetante x tempo de
contato) necessário para alcançar uma dada remoção dos diversos microor-
ganismos, usualmente medida em percentual (%) ou unidades logarítmicas
(ex.: 99,9% ou 3 log).
K = C.T,
onde
K = constante para cada microorganismo; fuão da temperatura e do pH
(mg.min/L);
C = concentração do desinfetante (mg/L);
T = tempo de contato para uma dada eficiência de inativação (min).
A cinética da desinfecção obedece a uma reação de primeira ordem, ou seja, a
taxa de mortalidade dos organismos é proporcional à quantidade de organismos
remanescentes em qualquer instante, expressa na Lei de Chick-Watson:
-dN/dt = k NC
onde:
-dN/dt = taxa de decaimento;
C = residual desinfetante;
k = constante de decaimento;
N = número de organismos remanescentes em um instante t.
Na tabela 2.3 são apresentadas informações genéricas sobre a eficiência da de-
sinfecção. Tais informações são, de fato, genéricas na medida em que não são es-
pecificadas as condições de pH e temperatura da água, fatores estes determinantes
na cinética da desinfecção. Para informações mais detalhadas deve-se recorrer à
literatura especializada, por exemplo, a citada na tabela 2.3.
Tabela 2.3 Valores de CT para a inativação de organismos patogênicos (99,9%)
MICROORGANISMO CLORO LIVRE CLORAMINAS DIÓXIDO DE
CLORO
OZÔNIO
E. coli
< 1 > 50 < 1
< 1
Virus
2-6 > 500 1 - 6 0,5-5
Cistos de Giardia
50-60 > 1.000 ≈ 15 0,7-3
Oocistos de Cryptosporidium
> 1.000 ≈ 7.000 > 60 4-15
FONTE: Adaptado de Sobsey (1989), Reiff & Witt (1995), USEPA (1991,1998, 1999, 2001)
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
107
Secretaria de Vigilância em Saúde
Em geral, em ordem crescente de resistência à desinfecção, apresentam-se as
bactérias, os vírus, os protozoários e os helmintos. Observa-se que a inativação
de vírus é algo factível; cistos de protozoários são bem mais resistentes e ovos de
helmintos praticamente são imunes à ação da maioria dos desinfetantes. Porém,
apresentam tamanhos e densidades tais que favorecem a remoção por sedimenta-
ção (induzida em processos físico-químicos) e, principalmente, por filtração (ver
quadro 2.5). Da tabela 2.3, confirma-se ainda que as cloraminas (cloro combinado)
são desinfetantes fracos.
Em geral, considera-se que, observado o tempo de contato, um teor de cloro re-
sidual livre de 0,2-0,5 mg/L é adequado e suficiente para a desinfecção bacteriana.
Para a destruição de vírus, recomenda-se um teor mínimo de cloro residual livre de
0,5 mg/L após trinta minutos de tempo de contato em pH < 8,0 (REIFF & WITT,
1995; OMS, 1995). De modo geral, obtém-se desinfecção adequada de acordo com
as recomendações da tabela 2.4.
Tabela 2.4 – Recomendações para a ecácia da desinfecção
PARÂMETRO VALOR
Turbidez
< 0,5 UT
pH
< 8,0
Tempo de contato
> 30 minutos
Cloro residual livre
> 0,5 mg/L
FONTE:
Opas (1999)
Obs.: É essencial que o tratamento que precede a desinfecção final produza uma água cuja turbidez
não exceda na média 1 UT e que nenhuma amostra simples exceda 5 UT.
Estas recomendações estão incluídas na Portaria MS n
o
518/2004. Natu-
ralmente, como expresso na ppria Portaria (artigo 13, pagrafo único):
Admite-se a utilizão de outro agente desinfetante [que não o cloro livre]
ou outra condição de operação do processo de desinfecção, desde que fique
demonstrada pelo responvel pelo sistema de tratamento uma eficiência de
inativação microbiogica equivalente”. Para tanto, pode-se consultar publi-
cões como Comentários sobre a Portaria MS n
o
518/2004 subdios para
implementação, editadas pela Secretaria de Vigilância em Saúde (Ministério
da Saúde) ou USEPA (1991).
Na prática, a dose de cloro a ser aplicada na ETA deve ser fixada de forma que
garanta cloro residual livre em qualquer ponto da rede de distribuição cujo teor
mínimo, de acordo com o padrão de potabilidade brasileiro, é de 0,2 mg/L. Isso sig-
nifica dizer que a concentração de cloro a ser adicionada ao tanque de contato deve
considerar não apenas a demanda de cloro inerente à qualidade da água filtrada,
mas também o consumo no sistema de distribuição.
Quanto aos subprodutos da cloração, destacam-se os trihalometanos (THM).
O valor máximo permitido pela Portaria MS n
o
518/2004 é de 100 µg/L, porém
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
108
Secretaria de Vigilância em Saúde
a OMS ressalta que o cumprimento desse valor nunca deve vir em prejuízo
dos padrões microbiogicos (OMS, 1995). O quadro 2.8 e as figuras 2.31 e
2.32 mostram os exemplos de situações ou pticas desejáveis e indesejáveis
na desinfão.
Quadro 2.8 – Exemplos de situações ou práticas indesejáveis
na desinfecção
ITEM SITUAÇÕES OU PRÁTICAS
INDESEJÁVEIS
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO/ PREVENÇÃO DO PROBLEMA
01
Falhas de projeto ou
construtivas no tanque de
contato.
Exs.: dosagem e/ou tempo
de contato insucientes;
mistura inadequada no
tanque de contato.
Comprometimento da
eciência da desinfecção.
Falha mais freqüente:
favorecimento de zonas
mortas ou curtos-circuitos.
Determinação criteriosa dos parâmetros
de projeto (dose e tempo de contato) e exe-
cução cuidadosa na construção dos tanques
de contato.
Levantamento das dimensões exatas das
unidades executadas e em operação; levan-
tamento dos parâmetros reais de operação;
comparação com os parâmetros ótimos e
realização dos ajustes necessários.
Exs.: construção de chicanas para a me-
lhora da mistura e da distribuição de uxo,
aumento do volume do tanque de contato.
02
Falhas de processo con-
trole inadequado dos parâ-
metros de desinfecção.
Comprometimento da eci-
ência da desinfecção.
Falhas mais freqüentes:
dosagem e manutenção
de residuais insucientes.
Determinação da demanda de desinfetante
da água e, no caso do cloro, realização de
cloração ao break-point.
Monitoramento sistemático dos residuais
na saída do tanque de contato e, no caso do
cloro, garantia dos residuais recomendados
de cloro livre.
Monitoramento sistemático e controle do
pH de desinfecção.
03
Falhas de equipamentos
ou de operação.
Aplicação do desinfetante
em pontos inadequados.
Equipamentos em estado
precário de manutenção.
Controle inadequado da
dosagem.
Comprometimento da eci-
ência da desinfecção.
Falha mais freqüente:
dosagem insuciente.
Calibração e aferição sistemática dos equi-
pamentos de dosagem.
Aplicação do cloro e elevação nal de pH,
respectivamente, na entrada e na saída do
tanque de contato.
04
Controle inadequado da
formação de subprodutos
secundários da desinfecção.
Formação de produtos
secundários da desinfecção
em concentrações que repre-
sentam riscos à saúde.
Monitoramento e controle de precursores
da formação de produtos secundários da de-
sinfecção (ex.: carbono orgânico total – COT,
cor verdadeira).
Controle da dosagem de desinfetantes.
Monitoramento sistemático da qualidade
da água desinfetada.
NOTA: O tanque de contato deve ser objeto dos mesmos cuidados sanitários recomendados para os
reservatórios (ver seção 2.5, a)
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
109
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Figura 2.31 – Unidade bastante precária de desinfecção
com hipoclorito de cálcio
Figura 2.32 – Aplicação correta de produtos químicos no tanque
de contato: “cloro” – gás na entrada e “cal” na saída
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
110
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Exemplo de boas práticas – Determinação da dinâmica do cloro
na rede de distribuição como orientação à dosagem na ETA
(estudo de caso)
Com vistas à modelagem da dinâmica do cloro residual na rede de
distribuição, foram selecionados cinco trechos, que se estendiam da ETA
até cinco pontas de rede (PR) (ETA–PR1, ETA–PR2, ETA–PR3, ETA–PR4, ETA–
PR5) e, ao longo desses trechos, vários pontos de coleta de amostras. Du-
rante quatro meses, a água na rede de distribuição foi analisada para cloro
residual, turbidez, cor e ferro.
As informações foram tratadas com base nos dados médios, separados
em blocos de acordo com os teores de cloro residual na saída da ETA. Ana-
lisando diversas equações ajustadas às curvas de decaimento de cloro livre
(informações não incluídas), pode-se admitir que equações lineares bem
representem a dinâmica do cloro nos várias trechos da rede, conforme
visualizado no gráco a seguir.
Equações das curvas de decaimento de cloro na rede de distribuição
TRECHO EQUAÇÃO
ETA–PR1
y = -0,0006x + 0,8513
ETA–PR2
y = -0,0003x + 0,5326
ETA–PR3
y = -0,0003x + 0,5333
ETA–PR4
y = -0,0001x + 0,3592
ETA–PR5
y = -0,0003x + 0,594
Observa-se que o cloro permanece mais estável nos trechos ETA
PR3, ETA–PR4 e ETA–PR5 e que a água atinge os pontos extremos
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
111
Secretaria de Vigilância em Saúde
(1.000 a 1.800 m) com teores de cloro residual de acordo com as exi-
gências (≥ 0,2 mg/L). Nos trechos ETA–PR1 e PR2, o decaimento do cloro
é mais rápido e acentuado e, percorridos cerca de 1.000–1.300 m, se
atinge o limite mínimo de 0,2 mg/L, assim como, nas pontas de rede, cerca
de 1.500–1.800 m da ETA, os residuais são praticamente nulos.
Difícil e improvável seria explicar o observado com base em apenas
uma variável. Indiscutivelmente, um fator decisivo no decaimento do clo-
ro é o comprimento de rede. Os trechos até as pontas de rede PR3 e PR5
são dos menos extensos, mas o percurso até PR4 não é menos longo que
os trechos até o PR1 e PR2, e nos três primeiros o cloro mantém-se razoa-
velmente estável. Por sua vez, a boa qualidade da água decerto contribui
para a garantia dos residuais de cloro nos pontos mais distantes dos tre-
chos ETA–PR3 e PR4 e vice-versa, no caso dos trechos ETA–PR1 e PR2. Cabe
observar que a localização dos pontos críticos (em termos de elevação de
cor e turbidez dados não incluídos) dos trechos ETA–PR1 e PR2 guarda
certa correspondência com a exaustão dos residuais de cloro. Com base
nas informações disponíveis, o mais razoável seria considerar um somató-
rio de efeitos entre distância e qualidade da água, além de outros fatores
não analisados, tais como vazões e pressões na rede. De toda maneira,
torna-se nítida a necessidade de ajustes na dosagem de cloro na ETA de
modo que se garanta o residual mínimo nos pontos críticos, e a modela-
gem realizada fornece o subsídio para tal.
TRATAMENTO COMPLEMENTAR
São dois os processos usualmente empregados para complementar o tratamen-
to da água: (1) estabilização da água, para proteger as unidades do sistema contra
os efeitos da corrosão interna e da deposição de substâncias químicas que formam
incrustações no interior das tubulações e (2) fluoretação da água, visando à redução
da cárie dentária, em atendimento inclusive à legislação federal.
Estabilização da água
2
Quanto mais pura for a água, tanto mais corrosiva é aos materiais com que
estiver em contato, sendo estes basicamente as tubulações e as paredes de tanques
e reservatórios.
Os problemas causados pela corrosividade da água o de ordem sanitária,
estética e econômica.
2 O termo estabilização, neste capítulo, diz respeito ao condicionamento final da água antes da dis-
tribuição e não deve ser confundido com o estado de estabilização das partículas, que a coagulação
busca minimizar ou eliminar.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
112
Secretaria de Vigilância em Saúde
Os problemas sanitários são de dupla natureza: (i) incorporação à água (por
dissolução) de metais indesejáveis constituintes das tubulações (inclusive materiais
de juntas, como as soldas metálicas), a exemplo do chumbo, cádmio, cobre, que
representam risco à saúde quando presentes em concentrações superiores às esta-
belecidas na Portaria MS n
o
518/2004 e (ii) formação de incrustações na superfície
interna dos tubos por esses metais dissolvidos, por exemplo, o ferro, as quais favo-
recem o desenvolvimento de biofilmes na rede de distribuição, os quais, por sua
vez, podem abrigar bactérias patogênicas ou patogênicos oportunistas.
Os inconvenientes estéticos dizem respeito à coloração e aos resíduos sólidos
incorporados à água pelos produtos da corrosão, que dificultam a aceitação da água
pelos consumidores.
Já o problema econômico está associado à redução da capacidade de escoamen-
to e ao rompimento de tubulações; ao desenvolvimento de perfurações que cau-
sam vazamentos em tubos, conexões, peças especiais, aparelhos e equipamentos
condutores de água; ao comprometimento de estruturas metálicas e de concreto
retentoras de água, como tanques e reservatórios, pelo desgaste de suas paredes;
e ao desenvolvimento de manchas em louças sanitárias e em roupas lavadas com
água colorida por produtos de corrosão.
Para não ser corrosiva, a água deve possuir determinadas características, resu-
midas a seguir (LOEWENTHAL et al., 1986).
a) Para não agredir superfícies de concreto, de argamassa de cimento ou de
cimento amianto:
a água deve estar saturada de carbonato de cálcio, ou seja, seu pH deve ser
igual ao pH de saturação de carbonato de cálcio;
a concentração de sulfato na água deve ser inferior a 250 mg/L.
b) Para não corroer metais:
a água deve estar ligeiramente supersaturada de carbonato de cálcio
(CaCO
3
);
suas concentrações de cálcio e alcalinidade devem ser preferivelmente
iguais ou superiores a 50mg/L de CaCO
3
(ou 35 mg/L de CaCO
3
para
águas dotadas de baixos teores de alcalinidade e cálcio);
seus teores de cloreto e sulfato não devem resultar em valor superior a 0,2
para a relação “(cloreto+sulfato)/alcalinidade, calculada em equivalen-
tes-gramas.
Das duas condições anteriores, a mais difícil de conseguir, quando se utiliza
água de baixa alcalinidade e reduzida dureza, é a segunda, que visa à proteção de
metais. Isso porque, com esse tipo de água, o tratamento usual, à base simples-
mente da adição de um alcalinizante como a cal, costuma resultar em pH acima
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
113
Secretaria de Vigilância em Saúde
do limite máximo de 9,5 estabelecido pela Portaria MS n
o
518/2004. Quando isso
ocorre, a linha de tratamento teria de ser acrescida de um novo processo, a adição
de gás carbônico, que é o único produto químico capaz de reduzir o pH sem alterar
a dureza de cálcio e a alcalinidade da água. É notável, contudo, que, mesmo não se
conseguindo as condições ideais supracitadas para o controle da corrosão metálica,
o simples condicionamento da água com cal para aproximar seu pH do valor do
seu pH de saturação de carbonato de cálcio, além de praticamente eliminar a agres-
são a concreto e a outros produtos de cimento, é suficiente para reduzir significati-
vamente a corrosão metálica (ver estudo de caso no final deste tópico).
Como o condicionamento da água pela adição de cal ou de outro alcalinizante
costuma resultar em pH geralmente acima de 8 e considerando que a desinfecção
pelo cloro demanda quantidades inferiores de cloro quando o pH apresenta valores
menores, é importante que o referido condicionamento para o controle da corro-
são seja feito após concluído o processo de desinfecção, ou seja, na saída do tanque
de contato.
Para águas brutas muito coloridas ou poluídas, isto é, que contenham quantida-
des significativas de precursores de trihalometanos, e que sejam submetidas à clo-
ração em seu tratamento, o controle da corrosão pela aplicação de cal ou de outro
alcalinizante deve ser cuidadosamente avaliado, pois a literatura técnica indica que
o pH mais elevado favorece a formação de trihalometanos em águas muito colori-
das ou poluídas submetidas à cloração.
Ultimamente, no Brasil, tem-se disseminado a utilização de polifosfatos. Esse
produto, preponderantemente um agente desincrustante, freqüentemente tem sido
empregado de forma equivocada para o controle da corrosão. A American Water
Works Association (1999) ressalta as seguintes observações sobre o emprego dos
polifosfatos com essa finalidade: (i) os polifosfatos têm sido utilizados para o con-
trole de tuberculização e para a restauração da eficiência hidráulica das tubulações
metálicas; (ii) esses produtos podem fazer com que o tipo de corrosão seja pre-
ponderantemente uniforme, que resulta em menos vazamentos e reclamações por
motivos estéticos; (iii) tem sido constatado que os polifosfatos atacam e amolecem
significativamente os tubos de cimento amianto pela aceleração da dissolução do
cálcio; (iv) é razoável esperar efeito similar em tubos de concreto e em tubos reves-
tidos com argamassa de cimento (caso dos atuais tubos de ferro fundido).
Em suma, o tratamento da água com polifosfatos apresenta vantagens no que
tange ao controle da corrosão de metais, mas não resolve a agressão da água a pro-
dutos de cimento (tubos e paredes de concreto; revestimentos de argamassa de
cimento; tubos e caixas d’água de cimento amianto). Pelo contrário, pode agra-
var este último tipo de corrosão, sobretudo em águas ácidas e muito brandas, pela
capacidade dos polifosfatos de complexar o cálcio. Vale dizer, o tratamento com
polifosfatos é incompatível com a proteção de superfícies de cimento pelo processo
de adição de alcalinizante para obter o pH de saturação de carbonato de cálcio. E
deve ser lembrado que águas com pH ácido (menor ou igual a 7), insaturadas de
carbonato de cálcio e dotadas de baixa alcalinidade e dureza de cálcio, são extrema-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
114
Secretaria de Vigilância em Saúde
mente agressivas a estruturas, tubulações e revestimentos feitos com concreto ou
argamassa de cimento (ver estudo de caso no final deste tópico).
Com base nas considerações anteriores, pode-se concluir que tão ou mais im-
portante que o condicionamento da água, ainda que para apenas minimizar sua
corrosividade, é a utilização de materiais resistentes à corrosão ou à agressão da
água, incluindo a execução de estruturas com concreto impermeável e com consti-
tuintes menos sujeitos ao ataque de águas agressivas.
Am do controle da corrosividade da água, o tratamento complementar voltado à
estabilização da água tem ainda por finalidade evitar a deposão exagerada de partí-
culas ou subsncias químicas que formam incrustões no interior das tubulações, a
exemplo do próprio carbonato de cálcio que, quando em excesso, deixa de ser beco
e passa a ser prejudicial às tubulações. Para águas excessivamente duras, o processo de
tratamento a adotar é o abrandamento da água (descrito adiante neste catulo). Para
águaso excessivamente brandas, o importante é que, após a adão de alcalinizante,
resulte em água que seja, noximo, ligeiramente supersaturada de carbonato de l-
cio, com potencial de precipitão inferior a 5mg/L de CaCO
3
(LOEWENTHAL et al.,
1986), o que pode ser determinado laboratorialmente pelo teste de rmore ou por
lculo em computador com software específico.
Análise da saturação de carbonato de cálcio da água
(teste de mármore)
É uma análise laboratorial muito simples, que consiste basicamente de
análises de dureza de cálcio, abrangendo as etapas descritas abaixo.
1 Dividir a amostra da água em duas partes.
2 Realizar a análise de dureza de cálcio da primeira parte (AMOSTRA 1),
após sua vigorosa agitação.
3 Colocar a segunda parte em frasco de DBO de 300 ml (com tampa es-
merilhada), adicionando-lhe 0,1 a 0,2 g de carbonato de cálcio (CaCO
3
)
namente dividido (quantidade que é mais do que suciente para tor-
nar a amostra supersaturada de CaCO
3
). Essa alíquota de água deve
encher o frasco de DBO completamente. Tampar o frasco com a tampa
esmerilhada e misturar por rápidas inversões o seu conteúdo. Repetir
por diversas vezes essa forma de mistura durante as próximas duas ho-
ras. Deixar a garrafa em repouso durante à noite, à temperatura mais
próxima possível do uxo de água original.
4 No dia seguinte (± 24h após a operação anterior), ltrar a água a que
se adicionou CaCO
3
(o que fará com que essa porção de água que
supersaturada de CaCO
3
) e realizar a análise de dureza de cálcio da
porção ltrada (AMOSTRA 2).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
115
Secretaria de Vigilância em Saúde
5 A precipitação de CaCO
3
terá ocorrido se a AMOSTRA 2 apresentar con-
centração de CaCO
3
menor que a da AMOSTRA 1. Quando isso ocorrer,
a água em estudo (AMOSTRA 1) estará supersaturada de CaCO
3
, sendo
seu potencial de precipitação de CaCO
3
igual à diferea entre as
concentrações de cálcio das AMOSTRAS 1 e 2.
6 Se a concentração de cálcio da AMOSTRA 2 for maior que a da AMOS-
TRA 1, a água em estudo estará insaturada de CaCO
3
, e a diferença
entre os valores dessas concentrações medirá seu potencial de disso-
lução de CaCO
3
(equivalente a um potencial de precipitação de CaCO
3
negativo de igual valor absoluto), correspondendo à quantidade de
carbonato de cálcio que se deve adicionar à água para que ela que
saturada de CaCO
3
.
Se as concentrações de CaCO
3
das AMOSTRAS 1 e 2 forem iguais, a água
em estudo estará saturada de CaCO
3
.
Estudo de caso
A água tratada de importante cidade do Sudeste do Brasil apresentava
as seguintes características:
pH = 6,8; alcalinidade = 9,0 mg/L CaCO
3
; dureza de cálcio = 15,0 mg/L
CaCO
3
; condutividade elétrica = 3,8 mS/m; temperatura = 20
o
C; Índice de
Langelier = -2,9; potencial de precipitação de CaCO
3
=-9,5 mg/L CaCO
3
(água fortemente insaturada de carbonato de cálcio).
Essa água mostrou-se fortemente corrosiva a estruturas de concreto (a
superfície das paredes de reservatórios, mesmo revestidas com impermea-
bilizante à base de borracha, estavam desintegrando-se rapidamente) e a
tubos de ferro galvanizado (cuja vida útil não excedia a 12 anos). Sua taxa
de corrosão de 61 dias em tubos de aço carbono era de 80 mg/dm2.dia
contra o máximo recomendado de 20 mg/dm2.dia.
Para não ser corrosiva a materiais de cimento, a água teria de ser condi-
cionada para atingir seu pH de saturação de carbonato de cálcio, igual a 9,3.
Isso exigiria a adição de 3,95 mg/L Ca(OH)
2
de cal. A água passaria a ter alca-
linidade de 14,3 mg/L CaCO
3
e dureza de cálcio igual a 20,3 mg/L CaCO
3
.
Para não ser corrosiva a metais, a água deveria ser ligeiramente super-
saturada de CaCO
3
(ter potencial de precipitação 4 mg/L CaCO
3
) e possuir
alcalinidade e dureza iguais a, no mínimo, 35 mg/L CaCO
3
. Isto exigiria a
adição de 19,24 mg/L CaCO
3
de cal, o que resultaria em pH = 10,6; alcali-
nidade = 35,0 mg/L CaCO
3
e dureza de cálcio = 41,0 mg/L CaCO
3
. Como o
valor do pH resultante é impraticável para águas de abastecimento domés-
tico, teriam de ser adicionados também 17,63 mg/L CO
2
de gás carbônico
à água, para resultar em pH = 9,2, mantendo-se os valores da alcalinidade,
da dureza de cálcio e da precipitação de carbonato de cálcio.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
116
Secretaria de Vigilância em Saúde
Diante da decisão da empresa de não onerar o custo do sistema com a
aplicação de mais um produto químico (gás carbônico), a água foi condi-
cionada para ter pH em torno de 8,8, o que exigiu a adição de dosagens
de cal entre 2 e 4 mg/L Ca(OH)
2
, resultando nos seguintes valores médios:
alcalinidade = 18,7 mg/L CaCO
3
; dureza de cálcio = 23,5 mg/L CaCO
3
e
potencial de precipitação = -0,66 mg/L CaCO
3
. Mesmo com esse condi-
cionamento parcial, a taxa de corrosão da água a aço carbono em 61
dias reduziu-se a 51mg/dm2.dia (redução de 36%). A agressão a concreto
praticamente cessou.
Obs.: os cálculos teóricos foram feitos pelo software de Loewenthal et
al. (1988) e conrmados por exames laboratoriais. Poderiam ter sido feitos
também pelo teste de mármore. Os dados reais foram determinados por
exames laboratoriais.
As medidas a serem adotadas para a estabilização da água podem ser assim
sumarizadas:
a) Realizar a correção do pH final da água de modo que ele fique o mais próxi-
mo possível do pH de saturação do carbonato de cálcio, cujo valor pode ser
determinado por softwares específicos ou por ábacos e fórmulas aproxima-
das, a serem confirmados pelo teste de mármore. Essa providência é tanto
mais importante quanto menores forem as concentrações de lcio e de
alcalinidade da água (situação que caracteriza grande capacidade de corro-
são a metais e forte agressão a produtos de cimento).
b) Desde que o pH se mantenha inferior ao limite estabelecido na Portaria MS
n
o
518/2004 do Ministério da Saúde (pH 9,5) e que o potencial de precipi-
tação da água não exceda a 0,4 mg/L CaCO
3
, a água deve ser tratada para ter
alcalinidade e dureza de cálcio iguais a 50 mg/L CaCO
3
(ou 35 mg/L CaCO
3
para águas dotadas de baixos teores de cálcio e alcalinidade). O potencial de
precipitação de carbonato de cálcio pode ser determinado também pelo teste
de mármore.
c) Águas contendo concentração significativa de precursores de trihalometa-
nos (situação que geralmente ocorre com águas muito coloridas ou poluídas
com compostos orgânicos) devem ter esses precursores removidos antes de
serem submetidas ao ajuste de pH acima referido, visto que o pH mais eleva-
do favorece a formação de trihalometanos.
d) A concentração de sulfato na água deve ficar abaixo de 250 mg/L, e a soma
das suas concentrações de sulfato e de cloreto, dividida pela alcalinidade,
todas as concentrações medidas em equivalentes gramas, deve ser igual ou
inferior a 0,2.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
117
Secretaria de Vigilância em Saúde
Fluoretação da água
O papel do flúor na prevenção de cáries dentárias é mundialmente reconhecido.
Em uma concentração adequada, o flúor é seguro e eficaz; contudo, em excesso, o
flúor provoca a opacidade do esmalte ou fluorose.
No Brasil, a Portaria BSB n
o
635/1975, que dispõe sobre as normas e os padrões
da fluoretação da água dos sistemas públicos de abastecimento destinada ao con-
sumo humano, recomenda os limites de concentração do íon fluoreto como uma
função da média das temperaturas máximas.
Dessa forma, os teores de flúoreto “ótimos”
3
para a prevenção da cárie dentá-
ria devem ser, na maior parte do território brasileiro, em torno de 0,7 mg de íon
fluoreto por litro. A tabela 2.5 mostra a relação entre a temperatura e as dosagens
recomendadas de flúor.
Tabela 2.5 – Limites recomendados para a concentração de íon uoreto
segundo a Portaria BSB n
o
635/1975
MÉDIA ANUAL DAS
TEMPERATURAS MÁXIMAS
DIÁRIAS DO AR (ºC)
LIMITES RECOMENDADOS PARA A CONCENTRAÇÃO DO ÍON FLUORETO
(mg/L)
INFERIOR
ÓTIMO SUPERIOR
10,0 a 12,1
0,9 1,2 1,7
12,2 a 14,6
0,8 1,1 1,5
14,7 a 17,7
0,8 1,0 1,3
17,8 a 21,4
0,7 0,9 1,2
21,5 a 26,3
0,7 0,8 1,0
26,4 a 32,5
0,6 0,7 0,8
Especicamente, para cada localidade, a concentrão recomendada do íon fluoreto
pode ser obtida pelas seguintes rmulas:
C = 22,2/E
e
E = 10,3 + 0,725 T
onde:
C = concentração do íon fluoreto (F
-
) em mg/L;
T = valor médio das temperaturas ximas diárias observadas durante o período
de um ano (recomendado cinco anos), em graus centígrados.
3 “‘Ótimo’ é a concentração de flúor na água de abastecimento público que proporciona a máxima
redução na prevalência de cárie, sem causar interferência prejudicial na formação do esmalte; ou
seja, fluorose” (OLIVEIRA et al., 1997).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
118
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Para se estabelecer a dosagem do composto de úor a ser adicionado a uma
água destinada ao consumo humano, a m de atingir a concentração ótima de
fluoreto, deve-se determinar, entre outros parâmetros, o úor natural nela exis-
tente. A ocorrência de flúor natural é mais comum em águas de manancial pro-
fundo, sendo raro encontrá-lo em águas de superfície ou de lençol freático. Se a
ocorrência natural superar concentrações acima das recomendáveis, torna-se
necessária a remoção de flúor.
O sucesso da uoretação na preveão de cárie dentária depende das
dosagens dentro dos limites recomendados e da continuidade da aplicação.
Diversos compostos de for podem ser utilizados no tratamento da água
para consumo humano, merecendo destaque o fluorsilicato de sódio e o ácido
fluorsicico.
O fluorsilicato de sódio é um produto fornecido sob forma sólida (em pó) e apre-
senta solubilidade muito baixa (7,62 g/L). Assim, atenção deve ser dada ao preparo
das soluções tanto no aspecto da homogeneidade da solução quanto nos cuidados
com a exaustão e a segurança do trabalhador. Além disso, deve ser observada a du-
reza da água de preparo da solução. Em águas com dureza excedendo a 75 mg de
CaCO
3
/L, o íon fluoreto reagirá com o cálcio e o magnésio, resultando em um pre-
cipitado capaz de obstruir dosadores, com conseqüências negativas sobre a concen-
tração do íon fluoreto na água de abastecimento.
Os produtos a seco são aplicados na água após sua dissolução em tanque, que
recebe continuamente o sal de flúor e a água, ou são previamente dissolvidos na
água e dosados por meio de bombas. Quando a concentração do produto for supe-
rior à saturação, a solução deve ser mantida em constante agitação.
O ácido fluorsilícico é bem mais fácil de manipulação e dosagem, entretanto é
um ácido muito corrosivo, exigindo cuidados especiais na estocagem. Vale destacar
que, se a água apresenta baixa alcalinidade (baixa capacidade tampão), a aplicação
desse ácido, mesmo em baixas concentrações, pode levar à diminuição significativa
do valor do pH da água.
A aplicação do flúor deve ser feita na fase final do processo de tratamento da
água, pois os fluoretos podem ser removidos pelo tratamento com o sulfato de alu-
mínio, a cal e o carvão ativado. No ponto de aplicação deve haver boa agitação para
permitir a dispersão adequada do produto.
Cumpre esclarecer que o VMP estabelecido na Portaria MS n
o
518/2004 para o
íon fluoreto (1,5 mg/L) refere-se à concentração máxima a ser observada na água
por ocorrência natural e/ou por adição de flúor. Do ponto de vista de proteção
à saúde, concentrações superiores a 1,5 mg/L implicam riscos crescentes de flu-
orose dentária, e valores mais elevados podem provocar fluorose óssea. O VMP
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
119
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de 1,5 mg/L é, geralmente, superior aos limites recomendados na legislação sobre
fluoretação da água, com o propósito de prevenção de cáries (tabela 2.5).
Em síntese, o disposto na Portaria BSB n
o
635/1975, que aprova as normas e os
padrões sobre a fluoretação da água dos sistemas públicos de abastecimento desti-
nada ao consumo humano, e o VMP, estabelecido na Portaria MS n
o
518/2004, não
são excludentes ou contraditórios. Em resumo, quando da prática da fluoretação
deve ser observado o disposto na Portaria BSB n
o
635/1975 e, em qualquer situação,
deve ser atendido o VMP estabelecido na Portaria MS n
o
518/2004.
PROCESSOS ESPECIAIS DE TRATAMENTO
Na seqüência, apresenta-se breve descrão dos principais processos espe-
ciais de tratamento de água e no quadro 2.9 indica-se a sua aplicabilidade para
a remoção dos contaminantes específicos, em sua maioria regulados pela Portaria
MS n
o
518/2004.
Quadro 2.9 – Aplicabilidade de processos de tratamento de água
para a remoção de contaminantes
TIPOS DE CONTAMINANTES
COAGULAÇÃO,
SEDI-MENTAÇÃO
E FILTRAÇÃO
AERAÇÃO
ABRANDAMENTO /
PRECIPITAÇÃO QUÍMICA
OXIDAÇÃO QUÍMICA E
DESINFECÇÃO
ADSORÇÃO
TRAT. COM
MEMBRANA
TROCA
IÔNICA
CARVÃO ATIVADO
EM PÓ
CARVÃO ATIVADO
GRANULAR
ALUMINA
ATIVADA
OSMOSE INVERSA
ELETRODIÁLISE
NANOFILTRAÇÃO
ANIÔNICA
CATIÔNICA
Substâncias que representam risco à saúde
Contaminantes inorgânicos:
Antimônio
x x
Arsênio (+3)
xO xO x x x x
Arsênio (+5)
x x x x x x
Bário
x x x x
Cádmio
x x x x x
Cianeto
x
Chumbo
1
Cobre
1
Cromo (+3)
x x x x x
Cromo (+6)
x x x
Fluoreto
x x x x
Mercúrio (inorgânico)
x x x
Nitrato
x x x
Nitrito
x x x
Selênio (+4)
x x x x
Selênio (+6)
x x x x
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
120
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TIPOS DE CONTAMINANTES
COAGULAÇÃO,
SEDI-MENTAÇÃO
E FILTRAÇÃO
AERAÇÃO
ABRANDAMENTO /
PRECIPITAÇÃO QUÍMICA
OXIDAÇÃO QUÍMICA E
DESINFECÇÃO
ADSORÇÃO
TRAT. COM
MEMBRANA
TROCA
IÔNICA
CARVÃO ATIVADO
EM PÓ
CARVÃO ATIVADO
GRANULAR
ALUMINA
ATIVADA
OSMOSE INVERSA
ELETRODIÁLISE
NANOFILTRAÇÃO
ANIÔNICA
CATIÔNICA
Contaminantes orgânicos:
Voláteis
x x
Sintéticos
x x x
Herbicidas e pesticidas
x x x x
Carbono orgânico
dissolvido
x x x x x
Substâncias que prejudicam a aceitação da água (por problemas estéticos e organolépticos)
Alumínio
x x
Amônia
x x
Cloreto
x x
Cor
x x x x x x
Dureza
x
Etilbenzeno
A xA
Ferro
xO x x
Manganês
xO x x
Monoclorobenzeno
A xA
Odor e gosto
A x
Sódio
x x
Sólidos dissolvidos totais
x x
Sulfato
x x x
Sulfeto de hidrogênio
x x
Surfactantes
2
Tolueno
A xA
Turbidez
x
Zinco
x x x x
Xileno
A xA
Substâncias radioativas
Rádio
x x x x
Urânio
x x x
FONTES: AWWA (1999); De Zuane (1997); Haddad Filho e Regina (1993)
xO = em conjunto com oxidação;
A = processo auxiliar;
xA = em conjunto com aeração.
1
Como chumbo e cobre geralmente são produtos da corrosão, sua remoção deve ser feita preferen-
cialmente pelo tratamento da corrosividade da água.
2
O processo de remoção depende da natureza do surfactante (detergente): se nico, a remoção pode
ser por troca iônica ou por eletrodiálise; se aniônica, por adsorção ou por filtração em membrana.
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
121
Secretaria de Vigilância em Saúde
Aeração
É um processo que pode ser utilizado no tratamento da água com as seguintes
finalidades principais:
absorção de ar pela água, objetivando promover a oxidação e a precipitação
de contaminantes inorgânicos (ex.: ferro e manganês);
remoção de compostos orgânicos voláteis e de gases dissolvidos causadores
de gosto e odor, mediante sua liberação para a atmosfera.
A adoção de aeradores de superfície constituídos por cascata, tabuleiros ou repu-
xo foi procedimento comum no Brasil nas décadas de 1960/1970, com os pretensos
objetivos de: (i) volatilizar gases, como o gás carbônico (CO
2
); (ii) oxidar compostos
de Fe e Mn; (iii) elevar os teores de oxigênio dissolvido na água. Atualmente, essas
unidades encontram-se cada vez mais em desuso, tendo em vista suas limitações ou
especificidades, ficando sua utilização restrita aos sistemas de remoção de compos-
tos orgânicos voláteis como o benzeno, o tolueno e o xileno (estes últimos sistemas
são geralmente constituídos de dispositivos de aeração e de adsorção em carvão
ativado granular).
A aeração pode ser feita também por sistemas de aeração difusa, por dispo-
sitivos de aeração com spray e por colunas de aeração com enchimento (packed
column aeration – PCA).
Os sistemas de ar difuso também têm sido adotados nesses países para a remoção
de compostos causadores de odor e de compostos orgânicos voláteis.
Os sistemas com spray utilizam bocais especiais, destinados à aplicação atomi-
zada dos gases de tratamento. Seu campo de aplicação é semelhante aos dos siste-
mas de aeração difusa. Os bocais são instalados em unidades com a configuração
de torres ou semelhantes a fontes com jatos de água.
Os sistemas de colunas de aeração com enchimento consistem de uma torre
com enchimento de material plástico, em que a água a ser tratada entra pela parte
superior da torre e os gases de tratamento, pela sua parte inferior. Com o fluxo
lento da água através do material de enchimento da torre, é favorecido o contato
da água com os gases de tratamento e a subseqüente liberação dos compostos vo-
láteis a serem removidos. Dessa forma, têm sido usados para a remoção de amônia
(NH
3
), gás carbônico (CO
2
), gás sulfídrico (H
2
S) e compostos orgânicos voláteis.
Abrandamento
O abrandamento tem por finalidade a remoção de compostos responsáveis pela
característica conhecida como dureza da água, caracterizada pela capacidade de
reagir com o sabão, causando precipitados e impedindo a formação de espuma.
As espécies químicas responsáveis por essa característica da água natural são íons
metálicos polivalentes, principalmente o cálcio e o magnésio.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
122
Secretaria de Vigilância em Saúde
O abrandamento nada mais é do que um processo de precipitação química.
A esse respeito é importante observar que a precipitação química não se aplica
apenas para a redução da dureza da água, mas também para a remoção de mui-
tos outros contaminantes metálicos, a exemplo dos metais pesados (quadro 2.9).
Muitos metais encontram-se dissolvidos na água como íons positivos (cátions), e
diversos deles reagem com a própria água para formar hidróxidos e carbonatos,
compostos que apresentam baixa solubilidade. Assim sendo, se a água for tratada
para tornar insolúveis tais compostos, os contaminantes metálicos a eles associa-
dos podem também ser removidos pelo fenômeno da precipitação.
Para o abrandamento da água, como processo de precipitação química voltado
basicamente à remoção de excedentes de cálcio e de magnésio presentes na água,
em geral são utilizadas duas técnicas principais:
processo químico de cal e soda: consiste na aplicação de substâncias (cal e
carbonato de sódio) que reagem com os compostos de cálcio e magnésio
presentes na água, precipitando-os. As instalações para esse fim incluem câ-
mara de agitação, decantador, tanque de recarbonatação e filtração rápida;
processo iônico dos zeólitos ou permutitas: utiliza silicatos complexos de
sódio e alumínio (conhecidos como zeólitos ou permutitas) para trocar o
sódio de suas composições por outros íons como os de cálcio e magnésio
presentes na água. Uma instalação desse tipo é formada por leitos de zeóli-
tos, semelhantes a filtros rápidos, pelos quais a água passa, aí deixando seus
excedentes de cálcio e magnésio.
Em instalações industriais, costumam-se adotar também unidades de tratamen-
to de água baseadas no processo de troca iônica (ver tópico à frente), semelhantes
a filtros formados por resinas trocadoras de cátions, especificamente as que trocam
sódio por cálcio e magnésio (no caso de abrandamento da água).
Oxidação química
Os processos de oxidação química consistem basicamente na aplicação de um
oxidante à água, visando à oxidação de: (1) espécies inorgânicas reduzidas como
o íon ferroso (Fe
2+
), o íon manganoso (Mn
2+
) e o íon sulfeto (S
2-
); (2) compos-
tos orgânicos sintéticos perigosos como o tricloroetileno. Podem ser empregados
também para destruir compostos causadores de gosto e odor e para eliminação
da cor. Em alguns casos, podem ainda ser empregados para melhorar o desem-
penho e para reduzir a quantidade de coagulantes utilizados nos processos de
clarificação da água.
Graças às propriedades biocidas da maioria dos oxidantes, o processo em ques-
tão pode ser ainda empregado para controlar o crescimento (florações) de orga-
nismos aquáticos, tais como certos tipos de algas e de fungos, e também para a
pré-desinfecção de águas com maior grau de contaminação.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
123
Secretaria de Vigilância em Saúde
A pré-oxidação de águas com presença de cianobactérias é um assunto polêmi-
co, pois, se por um lado se reconhecem os efeitos benéficos da pré-oxidação sobre
a efetividade dos processos de clarificação da água, por outro, verifica-se o risco de
liberação das cianotoxinas e, no caso do uso da pré-cloração, da formação de sub-
produtos potencialmente cancerígenos.
Para garantir que a cianotoxina liberada das células danificadas pela ação do
agente oxidante seja posteriormente oxidada, faz-se necessário um controle rigoro-
so da dosagem de oxidante (levando em consideração a competição existente entre
as cianotoxinas e outras substâncias orgânicas presentes nas águas eutrofizadas) e
do tempo de contato. Esse controle operacional não é simples, sendo particular-
mente difícil durante a ocorrência de floração, quando a densidade de cianobac-
térias presentes na água bruta pode variar significativamente em curtos períodos
de tempo. Assim, a utilização da pré-oxidação deve ser precedida de uma reflexão
aprofundada sobre os prós e os contras.
Os oxidantes químicos mais usados no tratamento de águas de abastecimento
são: cloro, dióxido de cloro, permanganato e ozônio.
Ateão especial deve ser dada ao controle dos subprodutos da oxidação,
sobretudo em águas muito coloridas ou poluídas com matéria orgânica em
maior quantidade, situações que podem ser ainda mais perigosas com a pre-
sea do íon brometo. Alguns desses subprodutos, quando presentes na água
em dosagens acima de determinados níveis, podem causar efeitos adversos à
saúde, inclusive câncer e má-formão fetal, a exemplo dos trihalometanos,
originados quando da aplicão de cloro livre em água com as características
mencionadas anteriormente.
Adsorção
A adsorção é o processo pelo qual certos tipos de compostos dissolvidos na
água, sobretudo substâncias orgânicas, que nesse processo são denominados adsor-
vatos, transferem-se da solução aquosa para a superfície de um material adsorvente
como o carvão ativado.
A maioria das substâncias orgânicas que na água podem causar problemas de
sabor, odor, cor, mutagenicidade ou toxicidade — é adsorvida em carvão ativado.
Utilizam-se como materiais adsorventes aqueles que possuem elevada relação
área/volume e adequada distribuição de tamanhos dos vazios intergranulares, a
exemplo do que ocorre com o carvão ativado.
O carvão ativado resulta da carbonização ou pirólise (queima em temperatu-
ras inferiores a 700 ºC com ausência de ar), seguida da ativação (oxidação), de
materiais como madeira, lignita, caro betuminoso, caro sub-betuminoso ou
osso. A carbonização e a ativação (oxidação) são necessárias para desenvolver a
estrutura dos vazios internos dos grãos.
Os processos de adsorção com carvão ativado utilizados como tratamento espe-
cial em sistemas de abastecimento de água são de dois tipos:
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
124
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adsorção com carvão ativado em pó, em que este é aplicado como uma solu-
ção na água bruta ou na água decantada, ficando retido no decantador e no
filtro juntamente com o contaminante orgânico a ele adsorvido;
adsorção com carvão ativado granular, consistindo em se fazer passar a água
por uma coluna ou leito de carvão ativado, com características granulares
adequadas, durante um tempo suficiente para ocorrer a adsorção. Periodi-
camente, o leito de carvão deve passar por um processo de regeneração para
propiciar o restabelecimento de sua capacidade adsortiva.
No Brasil, tem sido mais usual o processo de adsorção com carvão ativado em
pó, por não exigir unidades adicionais na seqüência do tratamento de água.
Tratamento com membranas (ultraltração, microltração,
nanoltração, osmose inversa, eletrodiálise)
É o processo que utiliza membranas semipermeáveis especialmente fabricadas
para remover contaminantes dissolvidos numa solução como a água, ou seja, con-
taminantes dotados de dimensões extremamente reduzidas. Recebe as denomina-
ções “microfiltração, “ultrafiltração”,nanofiltração” ou “osmose inversa quando
o líquido a ser tratado atravessa a membrana pela aplicação de pressão hidrostática,
ficando os contaminantes retidos na membrana. O que caracteriza as variantes do
processo é o tamanho dos poros da membrana utilizada, a saber:
microfiltração, que utiliza membranas com poros de 0,10–0,20 µm de ta-
manho, adequadas para a remoção das partículas coloidais, protozoários,
bactérias, vírus e sólidos em suspensão de maiores dimensões;
ultrafiltração, em que as membranas possuem poros com dimensões de 0,01
µm, adequados para a retenção de partículas coloidais, microorganismos e
sólidos em suspensão de menores dimensões;
nanofiltração, cujas membranas são dotadas de poros com dimensões
da ordem de 0,001 µm, adequados para a remoção de contaminantes
dissolvidos com dimensões na faixa superior de tamanho de mocu-
las e íons, a exemplo de diversos compostos orgânicos dissolvidos na
água, naturais ou sinticos, inclusive pesticidas e herbicidas, e também
de alguns contaminantes inorgânicos presentes na água como íons de
maiores dimensões;
osmose inversa ou hiperfiltrão, quando as membranas possuem po-
ros com dimensões de 0,0001 µm, adequados para a remoção de sólidos
com dimensões na faixa inferior de tamanho das moléculas e íons, que
é o caso da maioria dos contaminantes orgânicos dissolvidos na água,
naturais ou sintéticos, inclusive pesticidas e herbicidas, e também de
alguns contaminantes inornicos presentes na água como íons de me-
nores dimensões.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
125
Secretaria de Vigilância em Saúde
Finalmente, dá-se a denominação de eletrodiálise ao processo em que se aplica
uma corrente elétrica na membrana, criando campos elétricos positivos e negativos
que atraem os contaminantes presentes no líquido sob a forma de íons, possibilitan-
do assim sua retenção na membrana. Aplica-se à remoção de metais pesados (íons
metálicos) e também de íons não metálicos, como nitrato, nitrito, cloreto e sulfato.
A microfiltração e a ultrafiltração apresentam grande potencial de aplicação na
remoção de organismos patogênicos, particularmente no caso dos protozoários, os
quais possuem elevada resistência à desinfecção (SCHNEIDER; TSUTIYA, 2001).
No Brasil, o tratamento de águas com membranas é um processo ainda mui-
to caro, razão pela qual tem-se limitado a instalações de pequena vazão, como a
osmose inversa destinada à dessalinização de água para consumo humano em pe-
quenas comunidades onde a água bruta é salobra; e à eletrodiálise em hospitais
dotados de unidades de hemodiálise. O processo apresenta potencial de utilização
futura visando à remoção de microorganismos patogênicos.
Troca iônica (aniônica ou catiônica)
Este processo consiste basicamente na utilização de um meio formado por
resina trocadora de íons, usualmente constituída por plástico. Aplica-se para a
remoção de contaminantes dissolvidos na água sob a forma de íons, a exemplo
do arsênio, do bário, do cádmio, do nitrato, etc.
Quando a água a ser tratada é colocada em contato com a resina trocadora de
íons, ocorre a substituição do íon dissolvido na água por outro da superfície eletri-
camente carregada da resina.
Existem resinas aniônicas ou catiônicas, dependendo da carga elétrica com que
são produzidas. A escolha de uma ou de outra é função do tipo de íon (cátion ou
ânion) que se queira remover da água a ser tratada.
Após saturar-se com os íons removidos, a resina é regenerada com uma solução
adequada, para poder continuar funcionando.
OTIMIZAÇÃO OPERACIONAL
O bom desempenho de uma estação de tratamento de água depende, inicialmente,
de uma selão adequada da técnica de tratamento e de um projeto criterioso, acom-
panhados da disponibilidade de recursos humanos e materiais que propiciem uma boa
rotina de operação. Nesse sentido, assumem importância fundamental o permanente
treinamento e a capacitação de operadores de ETAs. A boa operação passa ainda pelo
conhecimento, o mais detalhado possível, dos pametros operacionais.
Por sua vez, o controle de qualidade da água deve ir além do mero monitora-
mento do “que entra e do que sai” da ETA; requer o controle operacional e a ava-
liação permanente dos processos unitários de tratamento, fazendo das partes um
todo. Nesse sentido, o tradicional teste de jarros constitui importante ferramenta
no controle de ETAs convencionais e de filtração direta e deve ser utilizado em todo
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
126
Secretaria de Vigilância em Saúde
o seu potencial, qual seja, simular a operação dos processos unitários, empregando
os parâmetros reais de funcionamento da ETA e suas possíveis variações.
A boa rotina de operação inicia-se com um controle rigoroso da coagulação.
A dosagem correta do coagulante é fundamental para uma adequada floculação.
Do contrário, uma decantação deficiente pode sobrecarregar os filtros, compro-
metendo a qualidade da água ltrada, requerendo lavagens mais freqüentes e
provocando aumento da demanda de cloro e da produção de cloro residual com-
binado, o que propicia a proteção dos microorganismos à ão do cloro. Além
disso, uma filtração eficiente é a melhor garantia da remoção de protozoários.
A operação rotineira dos testes de jarro permite a identificação da faixa ótima de
pH (necessidade de alcalinização ou acidificação da água bruta) e dosagem ótima
de coagulante e auxiliares de floculação, quando for o caso. Assim, para o sucesso
do teste de jarro no controle operacional, faz-se necessário conhecer as condições
em que a instalação em escala real está sendo operada.
Teste de jarros
Procedimento padrão para a realização de teste de jarros para acompa-
nhamento operacional
Etapa preparatória
Separar as vidrarias necessárias, procurando sempre utilizar os mes-
mos recipientes (bem como pipetas) para cada solução a ser emprega-
da. Com isso objetiva-se a minimização de contaminação cruzada.
Preparar as soluções pertinentes (coagulante, acidicante, alcalinizan-
te, auxiliar de oculação) com concentrações compatíveis com as dosa-
gens a serem aplicadas.
Vericar se os jarros estão limpos e os equipamentos a serem utilizados
estão funcionando adequadamente e, quando for o caso, se estão de-
vidamente calibrados.
FONTE: Di Bernardo et al. (2003).
Teste de jarros
Passo 1: Colocar porções da água bruta, previamente aquecidas ou res-
friadas até a temperatura desejada, em cada um dos seis jarros, enchen-
do-os simultaneamente a m de assegurar a homogeneidade da água
contida em cada um dos jarros, aa obtenção do volume nal reco-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
127
Secretaria de Vigilância em Saúde
mendado pelo fabricante do equipamento, geralmente dois litros. A -
xação da temperatura é importante, pois ensaios com uma mesma água
e temperaturas diferentes podem conduzir a resultados desiguais, uma
vez que a temperatura inui signicativamente na viscosidade da água
e na constante da velocidade de reação das espécies de alumínio ou de
ferro utilizadas como coagulante. A temperatura crítica é a temperatura
da água no mês mais frio.
Passo 2: Colocar os volumes correspondentes às dosagens dos produtos
nos recipientes apropriados do teste de jarros (quando existirem) ou utili-
zando copos plásticos, pequenos béqueres ou tubos de ensaio.
Passo 3: Colocar os recipientes de descarte e coleta de amostra de água coa-
gulada ou oculada nas respectivas posições apropriadas do equipamento.
Passo 4: Ligar o equipamento de agitão e acertar a rotação para 100 rpm.
Passo 5: Adicionar, ao mesmo tempo em todos os jarros, o volume
correspondente à dosagem preestabelecida de alcalinizante ou acidi-
cante (ou ainda p-oxidante ou carvão ativado em quando for o
caso) nos jarros.
Passo 6: Após o tempo necessário para a homogeneização, acertar a rota-
ção do equipamento para o valor correspondente ao gradiente de veloci-
dade médio de mistura rápida da ETA.
Passo 7: Adicionar aos jarros do aparelho, concomitantemente, o volume
preestabelecido de coagulante contido nos recipientes de dosagem. Al-
guns equipamentos mais modernos já dispõem de recipientes especícos
para o coagulante e auxiliar de oculação, bem como sistema de adição
simultânea. Em equipamentos mais antigos utilizam-se recipientes auxilia-
res e a adição é manual.
Passo 8: Quando for o caso, aplicar a quantidade prevista de polímero con-
tida nos recipientes apropriados (após a introdução do coagulante).
Passo 9: Transcorrido o tempo de mistura rápida (similar ao observado
na ETA), reduzir a rotação do equipamento para o valor correspondente
ao gradiente de velocidade médio de oculação praticado na ETA, se a
seqüência de tratamento em estudo envolver tal etapa (ex: ltração direta
descendente com pré-oculação, tratamento convencional). Caso contrá-
rio, desligar o sistema de agitação do aparelho e imediatamente continuar
com o passo 12.
Passo 10: Transcorrido o tempo de oculação (similar ao vericado na ETA),
desligar o sistema de agitação do aparelho e imediatamente dar seqüência
ao procedimento. Se a ETA for do tipo convencional, proceder ao passo
11; caso a ETA seja do tipo ltração direta, proceder ao passo 12.
Passo 11: Coletar as amostras de água decantada após transcorrido o tem-
po Ts equivalente à velocidade de sedimentação da ETA. Como se reco-
menda que o ponto de coleta esteja situado a 7 cm de altura em relação
à superfície do líquido (a maioria dos jarros dispõem desse ponto de
coleta; se não for o caso, faz-se uso de um sifão posicionado na altura
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
128
Secretaria de Vigilância em Saúde
recomendada), Ts (mim) = [H/Vs] onde H = 7 cm e Vs é a velocidade de
sedimentação ou taxa de aplicação supercial do sedimentador expressa
em (cm.min-1). Antes do início de cada coleta, deve ser descartado um pe-
queno volume de água, para evitar a interferência da água remanescente
na mangueira de coleta. Continuar no passo 13.
Passo 12: Coletar as amostras de água coagulada ou oculada direta-
mente para o sistema de ltração em papel (geralmente utiliza-se ltro
Whatman
40 ou equivalente) ou para o sistema de ltração em areia.
Mais uma vez vale comentar que nos aparelhos mais modernos os jarros
são dotados de dispositivo para coleta de amostra que permite a dre-
nagem direta da água do jarro para o sistema de ltração. Os aparelhos
mais antigos às vezes o dispõem dessa facilidade. Nesse caso, reco-
menda-se a adaptação de sistema de sifonamento para viabilizar tal pro-
cedimento. Em qualquer caso, antes do início de cada coleta (2 s antes),
deve ser descartado um pequeno volume de água, para que a amostra
não sofra interferência da água remanescente na mangueira de coleta.
Passo 13: Ler os parâmetros de controle de qualidade das amostras decan-
tadas ou ltradas.
FONTE: Di Bernardo et al. (2003)
Figura 2.33 – Aparelho de teste de jarros
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
129
Secretaria de Vigilância em Saúde
AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
Na avaliação de desempenho de uma ETA, busca-se aferir, essencialmente, a adequa-
ção e a eciência dos diversos processos unitários de tratamento. Devem ser analisados
os fatores hidráulicos e operacionais que poderiam concorrer para um desempenho in-
suficiente, tais como possíveis falhas de projeto, discrepância entre parâmetros ótimos de
projeto e de funcionamento real, a capacidade instalada de operação e controle (recursos
humanos e materiais) e o efetivo controle operacional realizado. O primeiro passo para
uma boa avaliação de desempenho de uma ETA é o levantamento dos parâmetros reais
de cada processo de tratamento. Informões detalhadas sobre rotinas e metodologia de
avalião de desempenho de ETAs podem ser encontradas em Cepis (1992).
Levantamento e avaliação dos parâmetros reais de operação de
uma ETA convencional ou em ciclo completo (para cada vazão
de operação da ETA)
Calibração de vazões: o conhecimento o mais preciso possível das vazões afluen-
tes à ETA é fundamental, pois os diversos parâmetros de controle dos processos
unirios dependem da vazão. Em situações mais precárias, por vezes nem se-
quer se dise de catálogos de bombas ou de dispositivos de medão autoti-
ca deminas de água, portanto, de vazões, nas calhas Parshall. Mesmo quando
se dispõe, nunca é demais proceder-se a uma calibração freqüente.
A figura 2.34 ilustra um exemplo de calibração de vazões em uma calha Parshall
efetuada a partir da variação de vazões afluentes por meio de associação de bombas
em paralelo (de acordo com as variações usuais de operação ao longo do ano), da
medição das respectivas lâminas no Parshall e do ajuste dos resultados aos valores
fornecidos pelo medidor automático.
Figura 2.34 – Exemplo de calibração de vazões em uma calha Parshall
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
130
Secretaria de Vigilância em Saúde
Levantamento das características da mistura em calha Parshall
Levantamento das dimensões e do perfil hidráulico.
Determinação dos parâmetros hidraúlicos (caracterização do ressalto, gra-
diente de velocidade e tempo de mistura).
Comparão com as dimenes padronizadas e com os parâmetros re-
comendados para a mistura adequada (AZEVEDO NETTO et al., 1979;
RICHTER; AZEVEDO NETTO,1991; VIANNA, 1997).
Levantamento dos parâmetros reais de oculação
Levantamento das dimensões e do perfil hidráulico do floculador, do volume
útil total e de cada câmara e das dimensões das passagens entre câmaras.
Determinação dos gradientes reais nas câmaras e nas passagens com base no
levantamento das perdas de cargas.
Determinação do tempo de floculação real ou tempo de detenção hidráulica,
por meio de ensaios com traçadores (por exemplo, sal de cozinha). Informa-
ções sobre ensaios com traçadores podem ser encontradas em Cepis (1992).
Levantamento dos parâmetros reais e condições operacionais
de sedimentação
Levantamento das dimensões e do perfil hidráulico do decantador, do volu-
me útil, nivelamento dos dispositivos de saída (coleta de água decantada).
Levantamento das dimensões e da distribuição de fluxo nas estruturas de
entrada; determinação de gradientes de velocidade nas estruturas de entrada
(ex.: cortinas de distribuição).
Determinação do tempo de detenção hidráulica real e da hidrodinâmica do
fluxo, por meio de ensaios com traçadores (por exemplo, sal de cozinha).
Determinação da taxa de aplicação superficial, de projeto e real, por exem-
plo, no caso de distribuição desuniforme de vazões em unidades paralelas.
Levantamento dos parâmetros reais e condições operacionais
da ltração
Levantamento das dimensões e do estado de conservação dos leitos filtrantes.
Levantamento da distribuição de fluxo nas estruturas de entrada.
Determinação da taxa de filtração, de projeto e real, por exemplo, no caso de
distribuição desuniforme de vazões em unidades paralelas.
Determinação das perdas de carga na filtração, por exemplo, por meio da
instalação de manômetros.
Implementação de ensaios de expansão dos leitos filtrantes.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
131
Secretaria de Vigilância em Saúde
Determinação do tempo de lavagem ótimo, por meio do acompanha-
mento da turbidez da água de lavagem.
Avaliação de desempenho de ETAs: estudo de caso
São apresentados os resultados da avaliação de desempenho de duas
ETAs no Estado de Minas Gerais. As duas estações empregam o tratamen-
to convencional (ciclo completo): mistura rápida (calhas Parshall), ocula-
ção hidráulica, decantação, ltração rápida descendente e desinfecção por
cloração, com as seguintes particularidades:
ETA I: oculação com seis câmaras e orifícios retangulares de passagem
dispostos, alternadamente, nos bordos inferiores esquerdo e superio-
res direito; conexão entre o oculador e o decantador através de tubu-
lação de ferro fundido, diâmetro decantador circular com alimentação
central e uxo radial; dois ltros rápidos.
ETA II: duas séries de oculadores: uma com oito câmaras conectadas
através de curvas de 90
o
raio curto em ferro fundido e 60 cm de diâme-
tro, dispostas nas bordas inferiores das paredes em lados alternados;
outra com sete câmaras conectadas com curvas de 50 cm de diâmetro
alinhadas no fundo e ao centro das paredes; alimentação do decan-
tador através de canal; dois decantadores retangulares em paralelo;
quatro ltros rápidos.
A ETA I trata cerca de 50 L/s com períodos de operação médios diários
de oito horas; a ETA II é operada por 24 horas, com vazões oscilando apro-
ximadamente entre 140 e 200 L/s, respectivamente, durante os períodos
noturno e diurno.
Por meio de ensaios de laboratórios (teste de jarros), com base nos valo-
res típicos de turbidez da água bruta em épocas de estiagem e de chuvas,
foram determinados os seguintes parâmetros ótimos: concentração do coa-
gulante, pH e dosagem de coagulante, gradientes de velocidade e tempo de
detenção hidráulica de oculação, velocidade de sedimentação.
Com base na análise dos projetos das ETAs, complementada por medi-
ções de campo, foram levantados e/ou determinados parâmetros teóricos
e/ou reais de funcionamento, tais como: tempos teóricos de detenção hi-
dráulica, gradientes de velocidade, taxas de aplicação supercial dos de-
cantadores, etc.
Ensaios in loco permitiram a calibração de vazões e a determinação
de distribuição de uxo, a determinação dos tempos reais de detenção
hidráulica (ensaios com traçadores), etc.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
132
Secretaria de Vigilância em Saúde
GRADIENTES DE VELOCIDADE (S
1
)
UNIDADE ETA I ETA II
QMIN (162 L/S) QMAX (208 L/S)
Calha Parshall
2054 4068 4164
Calha Parshall/Floc.
1203 820 720
Floculador
Floc.I
(112,20 L/s)
Floc.II
(49,80 L/s)
Floc.I
(131,0 L/s)
Floc.II
(77 L/s)
Câmara 1
28,7 31,49 12,62 26,46 24,82
Câmara 2
25,2 17,42 7,72 27,72 27,63
Câmara 3
26,2 13,52 9,30 24,31 27,55
Câmara 4
26,5 20,39 10,25 26,20 22,31
Câmara 5
29,2 20,30 10,57 20,55 22,35
Câmara 6
18,0 20,34 8,03 22,80 19,13
Câmara 7
- 14,87 11,38 19,06 26,06
Câmara 8
- 13,12 - 14,18 -
Floculador/dec.
15,5 - - - -
Cortina distrib./dec.
27,0 - - - -
CARACTERÍSTICAS HIDRÁULICAS DOS FLOCULADORES
PARÂMETRO
ETA I ETA II
QMIN (162 L/
s) QMAX. (208 L/s)
FLOC. I
(112,2 L/s)
FLOC. II
(49,8 L/s)
FLOC. I
(131,0 L/s)
FLOC. II
(77,0 L/s)
TEÓRICO REAL TEÓRICO REAL TEÓRICO REAL TEÓRICO REAL TEÓRICO REAL
TDH (min)
32,6 28,0 31,9 37,0 59,0 51 27,4 25,0 33,0 39,8
Fluxo
pistão (%)
64 52,7 60,2 50,9 57,6
Fluxo mist.
completa
(%)
30 47,3 39,8 49,1 42,4
Zonas
mortas (%)
9 61,7 17,4 53,3 5,1
Teórico: parâmetros determinados com base nas dimensões das unidades;
Real: parâmetros determinados a partir de ensaios com traçadores;
TDH: tempo de detenção hidráulica; G: gradiente de velocidade.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
133
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CARACTERÍSTICAS HIDRÁULICAS DOS DECANTADORES
ETA I ETA II
PARÂMETRO QMIN. (138 L/
s) QMAX. (208 L/s)
DEC. I (91 L/
s) DEC. II (47 L/s) DEC. I (97 L/s) DEC. II (111 L/s)
TEÓRICO REAL TEÓRICO REAL TEÓRICO REAL TEÓRICO REAL TEÓRICO REAL
TDH (h) 4,10 2,75 2,4 2,1 4,7 3,2 2,2 1,4 2,0 1,1
Tx-(m
3
/m
2
.dia) 20 28 36,8 40,9 19,4 26,5 39,2 61,4 45,8 78,1
q (1/s.m) 0,98 1,3 - - - - - - - -
Fluxo pistão
(%)
50 52,0 40,0 55,8 47,0
Fluxo mist.
completa (%)
50 48,0 60,0 44,2 53,0
Zo
nas mortas
(%)
51 38,0 20,0 10,4 5,0
Qmin, max: valores próximos aos extremos na rotina de operação da ETA II;
TDH: tempo de detenção hidráulico;
Tx: taxa de aplicação superficial;
q: vazão de coleta nos vertedouros de saída.
Parâmetros reais
Observa-se que o oculador da ETA I apresenta um bom desempenho
hidráulico: tempos de detenção teórico e real próximos, com algum curto-
circuito, e predominância de uxo em pistão. Na ETA II, pode-se dizer que
em termos de tempo de detenção hidráulica as duas séries não apresen-
tam maiores problemas; entretanto, o processo de oculação pode ver-se
prejudicado pela ocorrência de espaços mortos, curtos-circuitos e elevadas
porcentagens de uxo em mistura completa, sendo esses fenômenos mais
acentuados no oculador I.
Pom, os gradientes de velocidade na ETA II mostram-se nitida-
mente inadequados, como resultado conjunto da má distribuição de
vazões e dimensões inapropriadas das passagens entre as câmaras.
Em resumo, o processo de floculação na ETA II demanda otimização
hidráulica.
Em relação aos decantadores, na ETA I observa-se uma elevada ocor-
rência tanto de curtos-circuitos quanto de zonas mortas, revelando uma
péssima distribuição do uxo radial, o que é reforçado pela discordância
entre os valores real e teórico de vazão de coleta nos vertedouros. De certa
forma, o mesmo se aplica à ETA II, somado a grandes oscilações de de-
sempenho hidráulico, muito provavelmente em razão da distribuição
de vazões entre os decantadores.
Análise comparativa entre parâmetros ótimos e reais
Ensaios de laboratório utilizando águas com turbidez em torno de 60 uT
indicaram os seguintes parâmetros ótimos para a ETA I: tempo deoculão
de 20-25 minutos, gradientes de oculação entre 60-40 s
-1
e taxa de aplicação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
134
Secretaria de Vigilância em Saúde
supercial de 30 m
3
/m
2
.dia, para a obteão de um euente do decantador
de 5 UT.
O tempo de detenção teórico do oculador é de 35 minutos e o real
é de 25 minutos; portanto, a unidade apresenta alguma folga em ter-
mos de tempo de oculação. Os gradientes de velocidade das câmaras
de oculação são inferiores aos ótimos de laboratório; entretanto, os
gradientes nos orifícios de passagem são bastante elevados (dados não
incluídos). O decantador encontra-se superdimensionado e, mesmo com
a precária distribuição de uxo (curto-circuito e zonas mortas), a taxa de
aplicação real permanece próxima à ótima determinada.
Para a ETA II, foram realizados ensaios com faixas de turbidez de 10-
100 uT e 100-300 uT. Em linhas gerais, os parâmetros ótimos foram deter-
minados como: tempo de oculação entre 20-30 minutos, gradientes de
oculação entre 40-20 s
-1
e taxa de aplicação supercial de 60 m
3
/m
2
.dia.
Conclui-se, pois, que os tempos de oculação reais das duas séries de
oculação, em geral, são sucientes, apesar dos problemas hidráulicos
mencionados. Entretanto, a determinação dos parâmetros ótimos revela
claramente que os gradientes de oculação reais são bastante reduzidos.
Nos decantadores, além das deciências hidráulicas (má distribuição de
uxo e curto-circuito), para as vazões mais reduzidas as taxas reais de apli-
cação permanecem bem abaixo do valor ótimo determinado, porém, para
as máximas vazões, as taxa reais superam o valor ótimo, fazendo com que
os decantadores trabalhem em sobrecarga.
A importância do conhecimento dos parâmetros
de funcionamento da ETA
O bom desempenho de uma Estação de Tratamento de Água passa pelo conheci-
mento, o mais detalhado possível, de seus pametros operacionais, e tanto mais isso é
verdade quanto mais desfavoráveis forem as condições de operação (ex.: infra-estrutura
preria e/ou alterões bruscas na qualidade da água bruta).
Este item é desenvolvido também com base em um estudo de caso (ETA I
do exemplo anterior). Reporta-se um episódio de elevação brusca da turbidez
da água bruta, bem acima das séries históricas, e o comprometimento da água
tratada. O problema foi resolvido com a interrupção da operação da ETA, o des-
carte da água, o ajuste dos parâmetros operacionais para a situação específica, a
recarga da estação e o acompanhamento detalhado dos processos unitários e da
qualidade da água tratada.
O sucesso da referida operão, em grande parte, deveu-se ao pleno conhe-
cimento dos parâmetros hidulicos reais de controle dos processos unirios
de tratamento.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
135
Secretaria de Vigilância em Saúde
ESTUDO DE CASO
A ETA em queso é composta pelas seguintes unidades:oculão com seis câma-
ras e orifícios retangulares de passagem, dispostos, alternadamente, nos bordos inferio-
res esquerdo e superiores direito, decantador circular com alimentão central e fluxo
radial, dois filtros rápidos. A operão obedece, basicamente, a duas rotinas distintas:
em períodos de chuva, com vao afluente de cerca de 60 L/s e tempo de operão
dio de oito horas/dia; em peodos de estiagem, com redão gradual de vazões
até cerca de 20L/s e aumento do tempo de operação até 24h/dia. A estão é operada
com rígido controle operacional, pom com sérias deficiências de infra-estrutura, tais
como recalque estrutural do decantador, gerando uxos preferenciais e zonas mortas,
deterioração dos leitos filtrantes, obsolesncia das bombas dosadoras.
Em trabalhos anteriores foram determinados os parâmetros teóricos ótimos e
reais de funcionamento da ETA, tais como: tempos teóricos de detenção hidráulica,
gradientes de velocidade, taxa de aplicação superficial do decantador. Ensaios in
loco permitiram a calibração de vazões, a medição de lâminas, a determinação de
perdas de carga e, portanto, dos gradientes de velocidade no floculador, bem como
dos tempos reais de detenção hidráulica do floculador e do decantador (ensaios
com traçadores). Em resumo, o floculador apresenta folga de tempo de floculação;
os gradientes de velocidade são inferiores ao adequados; o decantador apresenta
grandes volumes de zona morta e ocorrência significativa de curtos-circuitos, po-
rém encontra-se superdimensionado, havendo uma certa folga nos parâmetros da
decantação (velocidade de sedimentação), principalmente em época de estiagem.
Os parâmetros reais de funcionamento da ETA orientam a realização diária do
Jar Test e a operação da ETA:
PARÂMETROS REAIS DE FLOCULAÇÃO (ETA E JAR TEST)
VAZÃO (L/
s) GRADIENTE MÉDIO (S
-1
) ROTAÇÃO (RPM) TEMPO DE FLOCULAÇÃO
58
36,85 49 28 min 52s
52
33,84 46 32 min 03s
45
26,67 39 36 min 32s
42
23,73 36 38 min 58s
38
20,37 33 42 min 46s
31
14,23 26 52 min 00 s
28
13,00 25 57 min 27s
22
8,74 19 72 min 48 s
19
6,72 16 84 min 07 s
Geralmente, a turbidez da água bruta apresenta valores reduzidos, mesmo
em períodos de chuvas ( 70 uT), e o tratamento, um bom desempenho. En-
tretanto, no início de janeiro de 2001, uma chuva torrencial provocou uma
elevação brusca e inusitada da turbidez da água bruta (> 1.000 uT); descuidos
na operação resultaram no comprometimento da qualidade da água tratada.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
136
Secretaria de Vigilância em Saúde
O acompanhamento do problema, em tempo real, incluiu a realização de sucessivos
ensaios de Jar Test, a fim de orientar as alterações de operação da ETA simultanea-
mente ao monitoramento em escala real dos processos unitários de tratamento.
Uma primeira batelada de testes indicou que as mais diversas combinações de
controle da coagulação (dose e concentração de sulfato, pH) não eram suficientes
para a obtenção de uma turbidez da água decantada tal que propiciasse uma filtra-
ção adequada. Confirmada a superação da capacidade operacional da ETA, optou-
se pela interrupção do tratamento e pelo descarte da água.
Em seguida, com a ETA fora de operação, procurou-se uma primeira aproximação
para uma nova vazão de operação, e, com base no conhecimento das características
hidráulicas do decantador (ocorrência de significativos curtos-circuitos e zonas mor-
tas), sabia-se, a princípio, que seria necessário reduzir a taxa de aplicação superficial.
Por sua vez, os primeiros testes indicaram a necessidade de elevar, conside-
ravelmente, a dosagem de sulfato, do usual de aproximadamente 12 mg/L para
acima de 30mg/L. Uma nova batelada de Jar Test foi então conduzida em busca
do melhor par de valores dose de sulfato x vazão, sendo esta última variável
representada pelo tempo de coleta das amostras nos jarros a uma profundidade
fixa (7 cm). Após os testes ilustrados na tabela a seguir (dentre vários), fixou-se
a dosagem em 30 mg/L e uma vazão de 42 L/s, correspondente ao tempo de co-
leta de 6 minutos: velocidade de sedimentação de 1,17 cm/min, ou uma taxa de
aplicão superficial de 16,9 m
3
/m
2
.dia.
TURBIDEZ DA ÁGUA DECANTADA NOS ENSAIOS DE JAR TEST (UT)
TEMPO (min)
DOSE DE SULFATO (mg/L)
30 35 40 45 50 55
3,5
43,2 56,3 49,8 55,9 54,0 53,8
5
15,3 15,6 17,7 16,2 17,2 16,7
6
9,3 11,7 10,5 10,1 10,8 9,4
7
9,6 9,9 9,2 10,5 11,4 9,9
8
9,0 9,7 10,5 11,3 11,4 10,6
9
9,4 10,1 9,83 10,0 10,3 10,0
Água bruta – turbidez: 573 UT; pH: 6,8
TEMPO (min)
DOSE DE SULFATO (mg/L)
30 35 40 45 50 55
3,5
47,8 56,8 51,3 49,1 51,6 50,8
5
14,4 18,9 20,9 18,2 15,9 16,4
6
8,5 10,4 12,7 10,3 10,o 10,5
7
8,0 8,7 9,2 8,1 8,3 12,6
Água bruta – turbidez: 370 UT; pH: 6,6
Observe-se que se tornou necessário reduzir a taxa de aplicação de 30 m
3
/m
2
.dia
(Vs = 2,08 cm/min; tempo de coleta da amostra de 3,5 min) (taxa de aplicação óti-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
137
Secretaria de Vigilância em Saúde
ma para 60 UT, típica de época de chuvas) para cerca de 17 m
3
/m
2
.dia, ou seja, qua-
se 50%, sendo esta a mesma ordem de grandeza de zonas mortas no decantador.
Na seqüência – e com base no conhecimento dos gradientes de velocidade e dos
tempos de detenção hidráulica reais de floculação para as diversas vazões de pos-
sível operação da ETA –, os ensaios iniciais foram confirmados com o emprego de
novas velocidades de rotação e tempos de agitação no Jar Test (correspondentes à
vazão de 42 L/s e respectivos tempos de detenção e gradientes nas diversas câmaras
do floculador), mas variando-se o pH e as doses de sulfato. A essa altura, a turbidez
da água bruta já havia caído para cerca de 370 UT.
TURBIDEZ DA ÁGUA DECANTADA NOS ENSAIOS DE JAR TEST
DOSE DE SULFATO (mg/L)
22 24 26 28 30 32
TURBIDEZ DA ÁGUA DECANTADA
21,7 11,9 15,2 13,5 17,4 16,2
Água bruta - turbidez: 369 UT; pH: 6,69
TURBIDEZ DA ÁGUA DECANTADA
20,0 14,0 18,0 17,0 23,0 21,0
Água bruta – turbidez: 370 UT; pH: 6,62
Definida a rotina de operação (Q = 42,0 L/s, dose sulfato = 24,0 mg/L, pH natural
da água), foi dada nova partida na ETA, com controle freqüente dos efluentes dos
processos unitários (floculador, decantador e filtros) e descarte da água até sua com-
pleta renovação e estabilização em valores de turbidez de acordo com o padrão de
potabilidade (figura a seguir). De maneira análoga, acompanhou-se de perto a ope-
ração da ETA, por meio de sucessivos ensaios de parâmetros ótimos de operação, até
o retorno à normalidade, ou seja, aos valores mais usuais de turbidez da água bruta.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
138
Secretaria de Vigilância em Saúde
CONDIÇÕES GERAIS
As recomendações a seguir aplicam-se de modo geral a estações de tratamento
em qualquer situação:
Quadro 2.10 – Recomendações
ITEM SITUAÇÃO OU PRÁTICA
INDESEJÁVEL
CONSEQÜÊNCIA
SOLUÇÃO DO PROBLEMA
01
Localização da ETA em
ponto de difícil acesso ain-
da que em determinadas
épocas do ano.
Pode dicultar o forne-
cimento de produtos quí-
micos fundamentais para o
tratamento da água.
Dotar a ETA de estrada de acesso transitá-
vel em qualquer época do ano.
02
Unidades da ETA sujeitas
a invasão por água de en-
xurrada.
Contaminação da água
que estiver sendo tratada
por água de pior qualidade.
As bordas das unidades e dos pisos dos
recintos onde são feitos armazenamentos
ou localizam-se as unidades básicas para o
funciona-mento da ETA devem se situar a
pelo menos 1,0 m acima do nível máximo de
enchente.
Os dispositivos de descarga da ETA devem
ser dispostos de modo que as descargas pos-
sam se dar sob qualquer cota de enchente.
03
Acesso de pessoas estra-
nhas às instalações da ETA.
Prejuízo da qualidade da
água tratada por danos a
equipamentos ou a pro-
cessos indispensáveis ao
adequado funcionamento
da ETA.
A área da ETA deve ser fechada para impe-
dir o acesso de pessoas estranhas.
04
Má aparência das instala-
ções da ETA por deciência
de limpeza ou de conser-
vação.
Prejuízo à aceitação da
água pelo consumidor.
As unidades da ETA devem dispor de pisos
e paredes adequadamente revestidos ou
pintados e serem mantidas permanentemen-
te limpas. Os operadores devem ter acesso a
equipamentos e a dispositivos de segurança
para seu trabalho. A área da ETA deve ser
arborizada e gramada.
05
Unidades e reservatório
de água tratada com cotas
de fundo abaixo do nível
máximo do lençol freático.
Possibilidade de contami-
nação da água tratada pela
água do lençol freático que
seja de pior qualidade.
Existência de dispositivos que permitam
inspeções periódicas a essas unidades, visan-
do à identicação de defeitos causadores de
inltração pelas paredes ou pelo fundo.
2.5 DISTRIBUIÇÃO
Os reservatórios e a rede de distribuição são unidades estratégicas para a garan-
tia da adequada qualidade da água. De nada adiantam os cuidados tomados nas
unidades anteriores – captação, adução e tratamento – se atenção especial não for
dispensada aos reservatórios e à rede de distribuição para que eles não constituam
pontos de contaminação e de perda de água. Além disso, as instalações prediais têm
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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importância estratégica na manutenção da qualidade da água e proteção à saúde da
população consumidora. Por isso, recomendam-se os seguintes cuidados:
A) EM RELAÇÃO AOS RESERVATÓRIOS DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA
Garantir que os reservarios de distribuão sejam dotados de tubulações e vál-
vulas adequadas para seu controle, a fim de evitar perdas de água (válvulas de
ia) e para possibilitar a extravasão de água em situões de emergência e o seu
esvaziamento para limpeza e obras de manuteão (válvulas de parada).
Dotar os reservatórios de dispositivos de ventilação adequadamente conce-
bidos e mantidos para evitar a entrada de insetos e roedores e ainda ações de
vândalos que possam comprometer a qualidade da água. A área total de ven-
tilação deve ser igual ou superior às seções das tubulações de entrada ou de
saída do reservatório (lembrar que os reservatórios de distribuição não são
dimensionados para suportar esforços causados pela subpressão decorrente
de ventilação insuficiente).
Lavar e desinfetar periodicamente as câmaras de reservação de água, princi-
palmente após os serviços de construção ou de reparos.
Manter as áreas onde se situam os reservatórios de distribuição adequadamente
cercadas, limpas e com aparência agradável, sempre que posvel ajardinadas, cui-
dando-se também para evitar as erosões, sobretudo em áreas de corte e de aterro.
No caso de reservatórios enterrados ou semi-enterrados, deve-se garantir o
adequado afastamento de possíveis fontes de poluição de água.
Dotar os reservarios de dispositivos que impam a invasão de pessoas e a ão
de ndalos que possam colocar em risco, sobretudo, a qualidade da água.
Figura 2.35 – Proteção sanitária para tampa de entrada em reservatórios
e tanques
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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Figura 2.36 – Proteção sanitária para passagem de tubulação em lajes
ou paredes de reservatórios e tanques
B) EM RELAÇÃO À REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA
Garantir, no interior das tubulações, pressões dentro dos limites recomen-
dados pela ABNT, ou seja, preferencialmente entre 10 e 50 mca (pressões
elevadas favorecem perdas de água, enquanto pressões baixas dificultam o
abastecimento domiciliar e facilitam a contaminação da água no interior
das tubulações).
Evitar, ao ximo possível, situações em que as tubulações fiquem vazias ou des-
pressurizadas, para não permitir a entrada de águas poluídas ou contaminadas.
Dotar a rede de distribuição de registros de descarga adequadamente lo-
calizados para permitir as operações de limpeza que se façam necessárias,
inclusive para combater a ocorrência de “água colorida ou a formação de
biofilme que favoreça o desenvolvimento de microorganismos patogênicos
oportunistas no interior das tubulações.
Limitar, ao mínimo incontornável, os trechos de rede de distribuição que não
estejam interligados a outras tubulações, ou seja, que favoreçam a ocorrência
de baixas velocidades, situação condenável por possibilitar o acúmulo de re-
síduos, com a conseqüente formação de “água colorida e de biofilmes, bem
como o consumo do residual de cloro livre.
Substituir as tubulações muito antigas que sejam responsáveis pela freqüente
formação de “água colorida ou pelo comprometimento da qualidade bacte-
riológica da água distribuída.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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Evitar a imersão das tubulações em águas de qualidade inferior.
Assentar as tubulões em valas situadas, sempre que possível, a mais de
3,0 m das canalizões de esgoto (nos cruzamentos a tubulação de esgoto
deve estar sempre em posão inferior, com distância de pelo menos 0,5
m em relação à tubulação de água, que deve ser dotada de junta de bor-
racha estanque). Quando não for posvel guardar essas disncias, obras
especiais deverão ser executadas, tais como o envolvimento da tubulação
de esgoto com concreto ou a adoção de tubos de esgoto com junta de
borracha estanque.
Garantir que as tubulações estejam protegidas contra poluição ou conta-
minação durante serviços de reparos, substituições, remanejamentos ou
prolongamentos.
Desinfetar as tubulações após serviços de construção ou de reparos.
C) EM RELAÇÃO ÀS INSTALAÇÕES PREDIAIS
Para que a água colocada à disposição da população não venha a ser contami-
nada nos domicílios, devem ser realizadas campanhas de divulgação e de conscien-
tização da população para a adoção de práticas que garantam a qualidade da água
potável nas instalações domiciliares, sobretudo no que concerne à proteção e à lim-
peza de reservatórios ou de outros dispositivos utilizados para o armazenamento e
o tratamento de água nas residências.
Como medida importante para o uso racional e para a justa cobrança da
água utilizada, as ligões prediais devem ser sempre dotadas de medidores de
vao (hidmetros).
2.6 SOLUÇÕES ALTERNATIVAS COLETIVAS DESPROVIDAS
DE DISTRIBUIÇÃO POR REDE
Conforme conceituado na introdução deste capítulo, as soluções alternativas
desprovidas de distribuição apresentam vários arranjos possíveis. Esquematica-
mente, podem-se observar as seguintes combinações:
MANANCIAL/CAPTAÇÃO
• fonte / nascente / mina
• poço
• manancial de superfície
• água de chuva
DISTRIBUIÇÃO
• chafariz/torneira pública
• veículo transportador
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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MANANCIAL/CAPTAÇÃO
As recomendações quanto às boas práticas nos diversos tipos de mananciais e
respectivas modalidades de captação apresentadas nas seções 2.1 e 2.2 são em seu
todo aplicáveis aos mananciais e às captações empregados para a distribuição des-
provida de rede.
CHAFARIZES, TORNEIRAS PÚBLICAS E VEÍCULOS TRANSPORTADORES
Nas soluções alternativas coletivas desprovidas de rede de distribuição de
água, é posvel encontrar vários tipos de arranjos. O que se vê normalmen-
te são captações, seguidas ou não por algum tipo de tratamento, e posterior-
mente o armazenamento em um reservario dotado de torneira pública ou a
distribuição direta por chafariz. Do chafariz ou torneira pública, a população
abastece a sua residência, seja por intermédio de baldes ou por qualquer outro
recipiente. Outra possibilidade, igualmente corriqueira, é a situação em que,
ao invés da utilização do chafariz/torneira blica, a água é transportada a
os moradores por intermédio de veículos transportadores, muitas vezes os po-
pulares “caminhões-pipa”. Verificam-se ainda situações em que coexistem os
chafarizes/torneiras públicas e os camines-pipa.
São apresentadas a seguir algumas pticas recomendadas, a serem obser-
vadas no armazenamento e na distribuão da água nas condições expostas
anteriormente.
Para reservatórios com torneiras públicas
1) evitar o aparecimento de fendas que propiciem vazamentos e eventuais con-
taminações externas;
2) dotar o reservatório com dispositivos de extravasão, limpeza e ventilação
adequados, que evitem a entrada de pássaros, insetos, poeira e outros ani-
mais e substâncias indesejáveis;
3) cuidar para que o reservatório contenha tampa de inspeção devidamente
selada, para evitar a penetração de água de drenagem da cobertura ou a en-
trada de objetos indesejáveis;
4) efetuar a limpeza sistemática do reservatório, e em períodos adequados,
principalmente após serviços de reparos ou construções;
5) manter controle de qualidade da água adequado e de acordo com a legis
-
lação vigente;
6) evitar condições propícias ao criadouro de vetores que procriem na água, a
exemplo de mosquitos transmissores de dengue, especialmente nos locais
imediatamente abaixo da torneira;
7) requerer à autoridade de saúde blica autorização para o fornecimento de água,
apresentando laudo sobre a alise da qualidade da água a ser fornecida;
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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8) garantir que as torneiras tenham suas saídas em nível pouco acima do fundo
para evitar que eventual impureza acumulada no fundo do reservatório ve-
nha a ser transposta ao coletor de água;
9) manter cadastro apropriado das instalações;
10)realizar a desinfecção da água, mantendo residual adequado.
Para chafarizes
1) manter controle de qualidade da água adequado e de acordo com a legisla-
ção vigente;
2) garantir que a fonte supridora do chafariz seja segura;
3) evitar condições propícias ao criadouro de vetores que procriem na água, a
exemplo de mosquitos transmissores de dengue, especialmente nos locais
imediatamente abaixo da torneira;
4) requerer à autoridade de sde pública autorização para o fornecimen-
to de água, apresentando laudo sobre a análise da qualidade da água a
ser fornecida;
5) manter cadastro apropriado das instalações;
6) realizar a desinfecção da água, mantendo o residual adequado.
Para veículos transportadores
1) cuidar para que o veículo transportador tenha uso exclusivo para o trans-
porte de água para consumo humano;
2) manter a carroceria em ótimo estado de conservação, evitando ferrugem e
perda da estanqueidade;
3) manter os dispositivos de introdução e retirada de água (equipamentos
de suão, torneiras, mangueiras, válvulas, etc.) em perfeito estado de
conservão;
4) garantir que a fonte supridora de água dos veículos seja segura;
5) cuidar para que a água transportada tenha, de acordo com a legislação vi-
gente, o controle de qualidade assegurado e que o laudo desse controle de
qualidade seja transportado pelo condutor do veículo;
6) cuidar para que o abastecimento da população não seja comprometido pelo
mau manuseio do dispositivo de retirada da água e para que este esteja devi-
damente limpo e isento de contaminação;
7) efetuar a limpeza sistemática, e em períodos adequados, do veículo, princi-
palmente após serviços de reparos;
8) cuidar para que o veículo contenha, de forma visível, em sua carroceria, a
inscrição: “ÁGUA POTÁVEL”;
9) operar cuidadosamente a descarga de água, de modo que não haja ar-
raste da mangueira no co que possa danificá-la, comprometendo a
qualidade da água.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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10) requerer à autoridade de saúde blica autorizão para o fornecimento de
água, apresentando laudo sobre a alise da qualidade da água a ser fornecida;
11) realizar a desinfecção da água, mantendo o residual adequado.
2.7 PRODUTOS E INSUMOS
PRODUTOS E MATERIAIS EMPREGADOS
E CUIDADOS CORRESPONDENTES
Os produtos químicos utilizados no tratamento da água para consumo huma-
no, bem como os diversos materiais que entram em contato com a água, devem
apresentar qualidade compatível com o uso a que se destinam. Ou seja, os produtos
químicos não podem representar risco à saúde humana nas dosagens em que são
usualmente empregados, assim como os materiais em contato com a água não po-
dem liberar substâncias tóxicas em quantidade nociva.
A escolha adequada de produtos e insumos cabe ao responsável pela operação
de sistema ou solução alternativa de abastecimento de água e deve estar pautada
nos seguintes quesitos:
características da água in natura (físico-químicas e biológicas), as quais de-
terminarão o tipo de tratamento necessário à potabilização;
escala de produção (por exemplo, um determinado insumo pode ser econo-
micamente inviável para grandes vazões de água a ser tratada);
logística;
segurança no transporte, manuseio, armazenamento e aplicação.
A preocupação com a qualidade dos produtos químicos utilizados no trata-
mento da água ou dos materiais que tenham contato com a água para consumo
humano pode ser identificada no quadro abaixo, transcrito da Norma anexa à
Portaria MS n
o
518/2004:
Art. 9
o
Ao responsável pela operação de sistema de abastecimento de
água incumbe:
...................................................................................................................
II. Manter e controlar a qualidade da água produzida e distribuída, por
meio de:
...................................................................................................................
b) Exigência do controle de qualidade, por parte dos fabricantes de produ-
tos químicos utilizados no tratamento da água e de materiais empregados
na produção e distribuição que tenham contato com a água;
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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Com relação aos insumos empregados no tratamento de água para consumo
humano, estes podem ser agrupados da seguinte forma:
FUNÇÃO PRODUTOS MAIS UTILIZADOS
Coagulantes e auxiliares
de coagulação ou de
oculação e oculantes
• sulfato de alumínio;
• cloreto férrico;
• sulfato férrico;
• sulfato ferroso;
• cloreto de polialumínio (PAC);
• extratos vegetais (tanino);
• polímeros sintéticos (por exemplo, acrilamidas);
• polieletrólitos naturais (amidos).
Desinfetantes/ oxidantes
• cloro-gás;
• hipoclorito de sódio;
• hipoclorito de cálcio;
• dióxido de cloro;
• ozônio;
• permanganato de potássio.
Alcalinizantes
• óxido de cálcio (cal virgem);
• hidróxido de cálcio (cal hidratada);
• hidróxido de sódio (soda cáustica);
• carbonato de sódio (soda barrilha).
Fluoretantes
• ácido uorsilícico;
• uorsilicato de sódio.
Adsorventes
• carvão ativado.
Controladores dos efeitos
da corrosão
• ortopolifosfatos.
Redutores de dureza
(abrandamento)
• sais de cálcio e magnésio.
Algicidas/biocidas
• sulfato de cobre;
• sais de amônia quaternária.
Com relação aos materiais de construção que entram em contato com a água
para consumo humano, é importante observar a necessária ausência ou a baixa
reatividade destes à água potável, de modo que não se alterem os limites de subs-
tâncias que podem trazer riscos à saúde, elevando-as além dos Valores Máximos
Permitidos (VMPs) pela legislação vigente.
Dentre os principais representantes desse grupo, presentes nas unidades de
tratamento (floculadores, decantadores, filtros) e de distribuição (reservatórios,
adutoras, lvulas e conexões), destacam-se estruturalmente os materiais ferro-
sos, o concreto e os plásticos (PEAD, PVC, PP), além dos produtos empregados
na interface entre a água e os primeiros (pinturas, impermeabilizações, etc.).
Normas técnicas nacionais (ABNT) e internacionais (AWWA, ANSI, ASTM,
etc.) permitem validar o uso de diversos produtos e insumos relacionados à água
para consumo humano. Além disso, muitos fabricantes possuem certificações para
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
146
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seus produtos (tubulações, válvulas e conexões para água potável, por exemplo), as
quais atestam a qualidade dos materiais empregados e o não-comprometimento
das características da água em contato com eles.
PESQUISA
É desejável que os responsáveis pela operação de sistema e/ou solução alterna-
tiva se preocupem com a qualidade dos produtos químicos que utilizam no trata-
mento de água para consumo humano, exercendo esse controle pelo emprego de
normas técnicas da ABNT e de normas reconhecidas internacionalmente. Se possí-
vel, recomenda-se que eles acompanhem a elaboração de normas de especificação
e de controle da qualidade dos produtos químicos junto à ABNT.
A p-qualificação de fabricantes e de fornecedores de produtos químicos,
as auditorias nas fábricas para avaliação dos processos produtivos e do controle
de qualidade, o controle da toxicidade dos insumos são, entre outras, impor-
tantes ões para a garantia da qualidade dos produtos e dos insumos utilizados
nos servos.
Outrossim, a pesquisa de novas tecnologias de tratamento e de novos insumos e
o aperfeiçoamento constante dos quadros técnicos e operacionais dos prestadores
de serviço, aliados aos investimentos nas unidades de tratamento e de distribuição
de água e em ações de preservação dos mananciais, podem resultar em fornecimen-
to de água para consumo humano de melhor qualidade.
Procedimentos recomenveis para o bom uso de produtos e insumos:
Estudos de tratabilidade: para identificar a melhor opção de trata-
mento para cada situação, no que se refere ao tipo e à dosagem
de produtos químicos, à tecnologia de tratamento e às condições
operacionais.
Desenvolvimento prossional: para a qualicação técnica e operacional.
Investimentos operacionais: para assegurar adequados procedimentos
para tratamento e distribuição.
Preservação dos mananciais: para minimizar riscos.
AQUISIÇÃO
A aquisição de produtos e insumos adequados começa no conhecimento
do mercado produtor: quantas e quais empresas fabricam cada produto, quais
são as tecnologias empregadas na sua fabricação (por exemplo, determinada
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
147
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rota tecnogica pode resultar na presea de certos contaminantes no pro-
duto), onde estão localizadas as fábricas (lostica de custo e de tempo de
fornecimento), etc.
Estabelecido qual o produto a ser comprado, a correta especificação técnica
do material passa a ser a chave da boa aquisição. Quando o produto possui nor-
ma técnica, esta deverá nortear os elementos que constituem o objeto de compra.
Genericamente, sugere-se especificar o material conforme segue:
Nome do material.
Quantidade a ser fornecida.
Local para entrega.
Especicações detalhadas do material:
nome do fabricante;
tecnologia empregada na preparão do material e a origem
dos insumos;
características do material (aspecto, cor, etc.);
valores máximos e mínimos permitidos para substâncias ativas e
inertes.
Atestados de fornecimento do material.
Responsabilidade pelo transporte e pelo descarregamento do material
pela contratada.
Definição de laboratório credenciado para controle de qualidade
do material.
Solicitação de laudo do material por lote de fornecimento (garantia).
É importante que constem do contrato de fornecimento de produtos e insumos
cláusulas que assegurem que a qualidade do material ofertado e de seus constituin-
tes não compromete as características da água.
Lembre-se de que uma boa especicação técnica reduz a possibilidade
de o produto ou insumo representar risco à saúde.
RECEBIMENTO
Tendo sido contratado o fornecimento de determinado material, sugere-se adotar
os seguintes procedimentos, aos cuidados do responsável pelo seu recebimento:
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
148
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Ter conhecimento do contrato de fornecimento do material.
Vericar os seguintes dados da nota scal:
data;
nome do material;
local de entrega;
quantidade.
Vericar se o laudo corresponde ao material e ao lote especicado na
nota scal.
Comparar os dados constantes do laudo técnico com os valores previs-
tos no contrato de fornecimento do material.
Exigir do fornecedor a cha técnica e de segurança do produto, bem
como outros itens contratuais (amostras, por exemplo).
Vericar a integridade do material que está sendo entregue (existência
de lacres, embalagens fechadas, etc.).
Efetuar a contagem física (no caso de embalagens) ou proceder à pe-
sagem do material (fornecimento a granel), conferindo com os dados
constantes da nota scal.
Efetuar a amostragem do material (se necesrio), conforme nor-
ma ou procedimento operacional padronizado. Se possível, enca-
minhar a amostra para o laboratório credenciado e aguardar o re-
sultado das análises para liberão do procedimento de descarga
do material.
Liberar a descarga do material no local de entrega previamente pre-
parado para seu recebimento, conforme procedimento de armaze-
namento (atentar para o uso correto dos equipamentos de proteção
individual – EPIs).
O responsável deverá anotar no canhoto de recebimento e no corpo da
nota scal eventuais observações sobre o material recebido.
Acompanhar o descarregamento do material no local de entrega.
Liberar o canhoto da nota scal para o transportador apenas após se
certicar de que o recebimento foi concluído.
Observar os procedimentos de segurança em todas as etapas do traje-
to, desde o fabricante até o destinatário.
CONTROLE DE QUALIDADE
Ao encaminhar amostra de material para análise em laboratórios próprios
ou de terceiros, sugere-se adotar os seguintes procedimentos:
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
149
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A amostra deve ser representativa do material recebido, em quantida-
de suciente para possibilitar todos os ensaios analíticos em triplicata,
estar lacrada e conter os seguintes dados de identicação:
nome do material (por exemplo, cal virgem);
identicação da amostra (por exemplo, saída do caminhão-silo);
data da amostragem;
número da nota scal;
local de recebimento do material;
nome do responsável pela amostragem.
As análises devem seguir as normas técnicas aplicáveis ao produto ou
aos parâmetros ensaiados.
Os reagentes e as vidrarias empregados nas marchas analíticas devem
ser padronizados previamente.
Os instrumentos analíticos devem ser aferidos e calibrados.
Os processos de certicação intra e interlaboratorial são desejáveis,
para raticação dos resultados de análise obtidos.
Uma vez que o material tenha sido ensaiado e o resultado tenha atendido aos
critérios definidos no procedimento de compra (especificações técnicas), o labo-
ratório deve encaminhar o laudo de análise para a área operacional, certificando
a qualidade do material recebido. Esse laudo deverá ser anexado à documentação
existente, compondo o histórico de fornecimento do produto.
Na hipótese de algum parâmetro exceder os limites previstos no procedimento
de compra, sugere-se confirmar a não-conformidade por meio de nova amostra-
gem e análise. Verificando-se novamente uma irregularidade, o fornecedor deverá
ser acionado e sofrer as sanções contratuais.
O credenciamento do laboratório é o reconhecimento formal de que
ele está operando com um sistema de qualidade documentado e de que é
tecnicamente competente para realizar ensaios ou calibrações especícas,
conforme o Inmetro.
ARMAZENAMENTO
Para que a qualidade de um determinado material não seja alterada, é impor-
tante que ele seja adequadamente estocado e consumido dentro do prazo de vali-
dade estabelecido pelo fabricante. A correta armazenagem depende das caracterís-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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ticas do produto e da forma como este é entregue pelo fabricante. Recomendações
sobre área de armazenamento constam da NBR-12216. De modo geral, as situações
a seguir relacionadas procuram estabelecer os requisitos mínimos para um bom
acondicionamento dos materiais.
1) Para armazenamento de materiais sólidos e líquidos que
são entregues em embalagens individuais (sacos ou caixas):
A área externa deverá permitir fácil acesso ao depósito, possuir pa-
vimentação compatível com o trânsito de veículos de carga e incluir
espaço suciente para manobras dos caminhões (prever situação-limite
de recebimento de carretas).
Utilizar como depósito prédio em alvenaria com direito alto, boa
iluminação natural e ventilação adequada.
O piso e as paredes do depósito devem possuir revestimento compatível
com o uso, tanto nos aspectos de resistência mecânica (trânsito pesado)
quanto de resistência química aos produtos que serão armazenados.
Os produtos fornecidos em sacarias devem ser acondicionados sobre
estrados de madeira ou plástico, de modo a evitar o contato direto
com o piso e permitir o uso de empilhadeira no manuseio do material
dentro do depósito.
Produtos líquidos devem ser acondicionados em espaços connados
(bacias de contenção) ou que possuam sistema de expurgo para tan-
ques de emergência.
Internamente, deve-se distribuir a área útil do depósito de modo que se
permita o correto acondicionamento dos materiais nos volumes ximos
de cada um, respeitando os limites de empilhamento e as disncias entre
as pilhas. Sugere-se delimitar sicamente os limites dos diferentes produtos
pelo emprego de linhas pintadas no piso ou de cordões de isolamento.
Consumir os lotes por ordem de chegada, respeitando os prazos de
validade de cada produto.
Respeitar as capacidades máximas de armazenamento por local, dentro
dos critérios de higiene e segurança.
Respeitar os critérios de compatibilidade entre produtos químicos ar-
mazenados na mesma área.
Manter o ambiente limpo e organizado.
Sinalizar as áreas dos diferentes produtos.
Identicar as pilhas dos diferentes produtos químicos por meio de pla-
cas que contenham, entre outros dizeres, o nome, a classe do material
e os procedimentos de segurança.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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2) Para armazenamento de materiais sólidos e líquidos
que são entregues a granel:
A área externa deve permitir fácil acesso aos tanques ou silos, possuir
pavimentação compatível com o trânsito de veículos de carga e incluir
espaço suciente para manobras dos caminhões (prever situação-limite
de recebimento de carretas).
É desejável a cobertura de tanques e silos com revestimentos que pro
-
longuem a vida útil dos reservatórios.
Os tanques e silos devem possuir elevada resistência estrutural.
As superfícies internas dos tanques e silos devem possuir revestimen-
to compatível com o uso (resistência química aos produtos que serão
armazenados). Sugere-se, no caso dos revestimentos em resina, o uso
de barreira química de cor diferente da camada estrutural, o que per-
mitirá acompanhar a fadiga dos reservatórios e permitir sua recupe-
ração preventivamente.
Produtos líquidos devem ser acondicionados em espaços connados
(bacias de contenção) ou que possuam sistema de expurgo para tan-
ques de emergência.
No caso de áreas de armazenamento de diferentes produtos químicos,
sugere-se que cada produto tenha ao menos dois tanques e que estes
sejam construídos no interior de uma bacia de contenção com volume
útil equivalente à sua capacidade de armazenamento.
É fundamental que as bacias de contenção ou os tanques de emergên
-
cia sejam estruturalmente resistentes e apresentem a mesma resistên-
cia química aos produtos dos tanques de armazenamento.
Construtivamente, é solão preferencial posicionar a base de tan-
ques estacionários elevada em relação à bacia de contenção, evi-
tando passagens de tubulações nas paredes das bacias e permitin-
do a manobra dos registros de fundo dos tanques fora da área de
inundação.
Se possível, evitar a mistura de diferentes cargas em um mesmo tan-
que, enquanto se aguarda a liberação do novo lote.
Consumir os lotes por ordem de chegada, respeitando os prazos de
validade de cada produto.
Respeitar as capacidades máximas de armazenamento por local, dentro
dos critérios de higiene e segurança.
Respeitar os critérios de compatibilidade entre produtos químicos ar-
mazenados na mesma área.
Manter o ambiente limpo e organizado.
Sinalizar as áreas dos diferentes produtos.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
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Identicar os tanques e os silos dos diferentes produtos químicos por
meio de placas que contenham, entre outros dizeres, o nome, a classe
do material e os procedimentos de segurança.
BOAS PRÁTICAS NO USO
O emprego dos produtos e insumos no tratamento e na distribuição da água
para consumo humano deve basear-se em critérios técnicos e operacionais que
objetivem o pleno atendimento do padrão de potabilidade vigente.
A qualificação dos profissionais responsáveis pela operação de sistema e/ou so-
lução alternativa é de vital importância nesse contexto, seja mediante o conheci-
mento e a padronização das rotinas do dia-a-dia, seja pelo aperfeiçoamento das
técnicas operacionais e dos controles de qualidade.
Lembre-se que o transporte, o armazenamento, o manuseio e a aplicação dos
produtos químicos devem ser realizados de acordo com as recomendações do fa-
bricante e com as normas de segurança pertinentes a cada produto. Esse cuidado
reduz a chance de ocorrerem acidentes, alguns deles de muita gravidade, como
registrados em diversas estações de tratamento.
Além disso, deve-se manter um estoque dos produtos químicos, para que em
hipótese alguma faltem produtos indispensáveis ao tratamento da água, nem aque-
les utilizados no laboratório para monitorar a qualidade da água produzida. Em
algumas ETAs, nota-se a falta de equipamentos que permitem indicar a quantidade
de cloro restante nos cilindros utilizados na oxidação ou na desinfecção da água.
Essa situação não deve ser permitida, pois ela leva ao fornecimento de água sem
desinfecção até que se perceba a falta de cloro e se providencie a colocação em ope-
ração de outro cilindro.
2.8 SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA RELACIONADAS A ANOMALIAS
NO ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Em relação ao abastecimento de água, as situações de emergência podem ocor-
rer de duas formas: as de caráter natural e as de caráter operacional. Deve ser salien-
tado que, quase sempre, as chamadas situações de emergência de caráter natural
têm um determinante humano, em geral responsável pela desordenada exploração
do ambiente. As situações de emergência podem comprometer a qualidade e/ou a
quantidade da água distribuída à população.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
153
Secretaria de Vigilância em Saúde
Exemplos de situações de emergência de caráter natural
enchentes;
secas;
tempestades;
eutrozação das águas de lagos e reservatórios e ocorrência de algas
que coloquem em risco a qualidade da água.
Exemplos de situações de emergência de caráter operacional
rompimentos de adutoras;
corte e/ou restrição no fornecimento de energia elétrica;
paralisação do processo de desinfecção de água;
acidentes com produtos químicos junto ao manancial supercial;
falta de água por períodos prolongados em setores de abastecimento;
paralisação parcial ou total do fornecimento de água por períodos
prolongados.
Como exemplo de acidente com cargas e produtos perigosos, citam-
se os acidentes ocorridos nos municípios de Uberaba e Cataguases,
ambos em Minas Gerais. No acidente de Uberaba, na madrugada do
dia 10/06/2003, um trem descarrilhado laou subsncias qmicas
em um auente do Rio Uberaba, utilizado como manancial de abas-
tecimento de água do município. As subsncias químicas envolvidas
no acidente eram metanol (381 t), isobutanol (94 t), octanol (245 t) e
cloreto de possio (147 t).
Em Cataguases, o acidente foi conseqüência do rompimento de uma
barragem da Indústria Cataguases de Papel Ltda, que liberou mais de 1,4
milhão de metros cúbicos de resíduos industriais nos Rios Pomba e Paraíba
do Sul e no Ribeirão do Cágado. Dentre as substâncias químicas que foram
liberadas, destaca-se a soda cáustica.
Os serviços de abastecimento de água devem sempre adotar medidas de
prevenção e, na hitese de ocorrência de acidentes, contar com planos de
emergência dirigidos à rápida tomada de provincias. Esse plano deve con-
siderar, como parte operacional, a comunicação imediata ao público e à au-
toridade de saúde pública, para que com esta, em comum acordo, se possam
definir o plano de contingência a ser aplicado, como mesmo está previsto na
Portaria MS n
o
518/2004:
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
154
Secretaria de Vigilância em Saúde
Art. 29. Sempre que forem identicadas situações de risco à saúde, o res-
ponsável pela operação do sistema ou solução alternativa de abastecimen-
to de água e as autoridades de saúde pública devem estabelecer enten-
dimentos para a elaboração de um plano de ação e tomada das medidas
cabíveis, incluindo a ecaz comunicação à população, sem prejuízo das
providências imediatas para a correção da anormalidade.
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA RELACIONADAS À QUANTIDADE
E À QUALIDADE DA ÁGUA
SITUAÇÃO EMERGENCIAL
ENCONTRADA
MEDIDAS RECOMENDADAS
Redução parcial da vazão de água
produzida por período prolongado
(enchentes, secas, tempestades,
comprometimento da qualidade da
água bruta).
• Racionar a distribuição da água com a devida comunicação à autorida-
de de saúde pública e à população.
• Tomar providências para o pronto restabelecimento da produção.
• Buscar outro manancial para utilização emergencial.
• Garantir o abastecimento pleno às instituições de saúde e a outras
igualmente importantes a serem indicadas pelo setor saúde, por exem-
plo, por meio de caminhões-pipa.
Redução total da vazão de água
produzida por peodo prolongado
(enchentes, secas, tempestades,
comprometimento da qualidade da
água bruta, rompimento de adutoras,
acidentes com produtos químicos
junto ao manancial, paralisão de
processos de tratamento).
• Comunicar à autoridade de saúde pública e à população a interrupção
do fornecimento e o prazo previsto para a normalização.
• Buscar outro manancial para utilização emergencial e implantar novo
sistema de produção de água.
• Buscar outra fonte de abastecimento de água por caminhão-pipa para
o suprimento à população e às instituições de saúde.
Redução parcial da vazão de água
produzida por período curto
(comprometimento temporário
da qualidade da água bruta, corte
e/ou restrição no fornecimento
de energia elétrica, paralisação
temporária de processos de
tratamento).
• Racionar a distribuição da água com a devida comunicação à autorida-
de de saúde pública, divulgando o racionamento à população.
• Tomar providências para o restabelecimento da produção.
• Garantir o abastecimento pleno às instituições de saúde e a outras
igualmente importantes indicadas pelo setor saúde, por exemplo, por
meio de caminhões-pipa.
Redução total da vazão de água
produzida por período curto
(comprometimento temporário
da qualidade da água bruta, corte
e/ou restrição no fornecimento
de energia elétrica, paralisação
temporária de processos de
tratamento).
• Comunicar à autoridade de saúde pública e à população a interrupção
do fornecimento, informando o prazo previsto para a normalização.
• Buscar outra fonte de abastecimento de água por caminhão-pipa para
o suprimento à população e às instituições de saúde.
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
155
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SITUAÇÃO EMERGENCIAL
ENCONTRADA
MEDIDAS RECOMENDADAS
Interrupção de curta duração no
sistema de distribuição de água.
• Racionar a distribuição da água com a devida comunicação à autorida-
de de saúde pública e à população.
Tomar providências para a recolocão da rede de distribuição em operão.
• Garantir o abastecimento pleno às instituições de saúde e a outras
igualmente importantes a serem indicadas pelo setor saúde, por exem-
plo, por meio de caminhões-pipa.
Interrupção de longa duração no
sistema de distribuição de água.
• Racionar a distribuição da água com a devida comunicação à autorida-
de de saúde pública e à população.
Tomar providências para a recolocão da rede de distribuição em operão.
• Garantir o abastecimento pleno às instituições de saúde e a outras
igualmente importantes a serem indicadas pelo setor saúde, por exem-
plo, por meio de caminhões-pipa.
Contaminação da água distribuída
por microorganismo ou substância
que represente risco à saúde
humana.
• Interromper o abastecimento de água.
• Comunicar o fato à autoridade de saúde pública.
• Comunicar o fato à população exposta, orientando-a sobre a eventual
necessidade de esvaziar e lavar os reservatórios domiciliares, não se
devendo hesitar em orientar a população para desinfetar ou ferver a
água a ser utilizada para ingestão.
• Investigar a origem da contaminação, a iniciar pela vericação da qua-
lidade da água euente da estação de tratamento.
• Investigar possíveis falhas no tratamento.
• Realizar inspeções sanitárias na bacia do manancial, incluindo, quando
cabível, monitoramento rigoroso da qualidade da água.
Em caso de suspeita de contaminão no sistema de distribuição, investigar
a fonte da contaminação, por exemplo por meio de geofonamento (detec-
ção auditiva de vazamento por instrumento especo) da rede de distribui-
ção e ligações prediais ou por rastreamento da qualidade da água.
• Investigar possíveis conexões cruzadas das redes e das ligações de
água com redes e ramais de esgotos.
• Sanar o problema identicado.
• Efetuar a limpeza e a desinfecção da rede afetada.
• Proceder a novas coletas e análises da qualidade da água.
• Liberar a água para o consumo humano caso seja garantida a seguran-
ça da sua qualidade.
• Vericar a origem do problema e tomar medidas preventivas para evi-
tar o surgimento de situações futuras semelhantes.
Deterioração da qualidade da
água em relação a parâmetros
relacionados à aceitação para
consumo humano (cor, turbidez,
pH, dureza, ferro, manganês e
outros).
• Comunicar o fato à autoridade de saúde pública.
• Comunicar o fato ao público.
• Identicar a fonte da poluição, conforme item anterior.
• Vericar a possibilidade de ocorrência de possíveis incrustações e/ou
biolmes na rede de distribuição.
• Vericar a existência de água estagnada (ponta de rede) e, nesse caso,
programar a interligação das pontas de redes para propiciar a circula-
ção da água.
• Proceder a descargas da rede de distribuição.
• Sanar o problema identicado.
• Proceder a novas coletas e análises de qualidade da água.
• Vericar a origem do problema e tomar medidas preventivas para evi-
tar o surgimento de situações futuras semelhantes.
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
156
Secretaria de Vigilância em Saúde
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA RELACIONADAS
A EPIDEMIAS/SURTOS
Os responsáveis por sistemas ou soluções alternativas de abastecimento
podem, em determinados momentos, ter de enfrentar, juntamente com as
autoridades de saúde pública competentes, situações de emergência em que a
ocorrência de agravos na saúde da população es relacionada com a água de
consumo humano.
É muito tempo estabelecida a relação entre qualidade da água e saúde, d
a necessidade de a água de consumo passar por processos de tratamento que a
adeqüem aos requisitos de potabilidade estabelecidos na legislação. Em determi-
nadas situações, a água distribuída fora dos padrões de potabilidade pode desen-
cadear na população abastecida casos de doenças e/ou agravos relacionados com
a água de consumo.
Agravos relacionados com a água podem ser de natureza infecciosa ou não, ou
seja, estarão relacionados a, basicamente, dois tipos de ocorrências: a presença de
microorganismos patogênicos (vírus, bactérias ou protozoários) ou a de substân-
cias/produtos químicos na água.
A ocorrência de microorganismos patogênicos ou substâncias/produtos quí-
micos na água de consumo pode estar relacionada a um sistema de abasteci-
mento em que o exista tratamento ou este é inadequado; a uma situação em
que, em razão de uma falha no processo de tratamento, a qualidade da água dis-
tribuída não atende aos requisitos de potabilidade; a uma situação em que, em
função de uma alteração abrupta da qualidade da água bruta, pode ocorrer falha
no processo de tratamento usual (por exemplo, chuvas intensas com elevação da
turbidez da água bruta) ou ainda quando da ocorrência de acidentes com cargas
ou produtos perigosos.
As doenças infecciosas relacionadas com a água de consumo são, sem dúvida,
importantes agravos que podem acometer a população. São relevantes na medida
em que apresentam caráter agudo, podem acometer grande número de indivíduos
ao mesmo tempo, apresentam significativa abrangência espacial e, em alguns casos,
levam ao óbito.
Considerando as doenças infecciosas que têm na água de consumo importante
veículo de transmissão, a ocorrência aumentada de casos de doença diarréica aguda
na população deve sempre suscitar a suspeita de que a água consumida pode estar
relacionada com o fato.
Entretanto, alguns agentes infecciosos que podem ser veiculados pela água
não necessariamente apresentam como sintoma ou sinal clínico doença diarréica
aguda. Essa consideração também é válida para as substâncias ou os produtos
químicos que uma vez presentes na água de consumo podem vir a causar pro-
blemas na população consumidora. Nesse sentido, é importante a atenção para a
identificação, o mais precocemente possível, da ocorrência de eventos inusitados
em número aumentado.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
157
Secretaria de Vigilância em Saúde
Os agravos de natureza infecciosa transmitidos pela água de consumo podem
acometer a população de forma endêmica ou epidêmica. A forma endêmica ca-
racteriza-se por ocorrer com um padrão conhecido, ou seja, espera-se um deter-
minado número de casos de doença na população, sendo esse padrão repetido ao
longo do tempo. A forma epidêmica, podendo se caracterizar como epidemias ou
surtos, apresenta, genericamente, um número de casos acima do esperado. Segun-
do o Guia de vigilância epidemiológica (BRASIL, 2002), epidemias e surtos podem
ser definidos conforme a descrição a seguir:
epidemias: elevação do número de casos de uma doença ou agravo,
em determinado lugar e período de tempo, caracterizando de forma
clara um excesso em relação à freqüência esperada;
surtos: tipo de epidemia em que os casos se restringem a uma área
geográca pequena e bem delimitada ou a uma população institucio-
nalizada (creches, quartéis, escolas, entre outros).
A identificação de epidemias/surtos o mais precocemente possível está relacio-
nada, entre outros fatores, a um serviço de vigilância epidemiológica bem estrutu-
rado e operacionalmente funcional. A ocorrência de situações de epidemia/surto
suscita o desenvolvimento de atividades de investigação epidemiológica, o que re-
presenta uma ferramenta da vigilância utilizada para o esclarecimento de questões
relativas a um determinado evento em saúde.
De forma geral, no âmbito dos serviços de saúde, as investigações epidemiológi-
cas são realizadas quando da ocorrência de casos novos de uma doença ou agravo
à saúde, transmissíveis ou não, ou quando da ocorrência de agravos inusitados.
Segundo o citado Guia de vigilância epidemiológica, investigações epidemiológicas
são definidas como “um trabalho de campo, realizado a partir de casos notificados
(clinicamente declarados ou suspeitos) e seus contatos, que têm como principais
objetivos: identificar a fonte e o modo de transmissão; grupos expostos a maior
risco; fatores determinantes; confirmar o diagnóstico e determinar as principais
características epidemiológicas”.
Quando a investigação é iniciada durante a ocorrência de epidemias/surtos,
seus objetivos principais consistem na prevenção da ocorrência de casos novos do
agravo e na redução da duração da epidemia/surto.
Entretanto, na maioria das vezes, as ações de investigão de epidemias/
surtos são implementadas após estes terem terminado. Apesar disso, a in-
vestigação é importante, pois é a ocaso para o levantamento de informa-
ções que podem, em uma situação futura, auxiliar na identificação de novas
epidemias/surtos, contribuindo assim para seu controle ou mesmo para sua
prevenção.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
158
Secretaria de Vigilância em Saúde
A identificação da ocorrência de epidemia/surto de doença relacionado com
a água é uma atribuição dos serviços de vigilância, podendo ser resultante tanto
de um monitoramento sistemático e eficiente dos agravos ocorridos na população
como da notificação feita pela própria população ou ainda de notícias veiculadas
nos meios de comunicação.
que se destacar, entretanto, a relevância do envolvimento dos responsáveis
por sistemas ou soluções alternativas de abastecimento nas atividades de investi-
gação de epidemias/surtos, com a finalidade de, o mais rápido e eficientemente
possível, identificar a origem do problema e corrigi-lo.
A epidemia ou o surto deve ser descrito da forma mais completa possível, a fim
de caracterizar a situação estudada, com a adequada definição da população aco-
metida e da abrangência espacial e temporal dos casos.
Estudo de caso: Surto de gastroenterite aguda por astrovírus
no Município de Itatiaia-RJ
Em 13/08/2002, a Secretaria de Saúde do Munipio de Itatiaia
(SMS-Itatiaia) notificou um aumento do número de pessoas com
gastroenterite aguda. Em seis dias, foram notificados, por meio da
monitorização das doenças diarréicas agudas (MDDA), 615 casos de
diaria. Os principais sintomas apresentados pelos pacientes foram:
vômito, diarréia aquosa, dor abdominal e febre. Não houve registro
de óbitos.
Quadro – Casos de gastroenterite aguda por astrovírus segundo faixa
etária, no Município de Itatiaia-RJ, de 13 a 18/08/2002
FAIXA ETÁRIA
(ANOS)
NÚMERO DE CASOS PROPORÇÃO
(%)
< 1
7 3,1
1-4
73 8,7
5-9
91 13,7
> 10
428 71,2
Ignorada
16 3,5
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
159
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Gráco – Distribuição temporal dos casos de doença gastroenterite aguda
por astrovírus, Município de Itatiaia-RJ, de 11 a 18/08/2002
FONTE: Relatório nal da investigação epidemiológica (SVS/MS)
Os agravos relacionados com a água de consumo, quando é este o veículo de
transmiso de agentes infecciosos, normalmente apresentam como mecanismo
de transmissão a forma fecal-oral. Nesses casos, epidemias/surtos têm como
importante característica comum a ocorncia de casos concentrada em um
período de tempo, normalmente curto. A concentração temporal de casos é um
dos indicativos das epidemias/surtos denominados “por fonte comum”, os quais
m na água de consumo um dos veículos freentemente associados.
No exemplo, o surto apresentou concentração temporal de casos em poucos dias.
Outra característica relevante das epidemias/surtos por fonte comum é a con-
centração espacial dos casos. Entretanto, para a adequada confirmação da associa-
ção da água de consumo com a ocorrência de casos de doença na população consu-
midora é necessária a identificação, quando se está diante de doença infecciosa, do
agente envolvido, em amostras clínicas de pacientes e na água de consumo.
O isolamento de agentes patogênicos em amostras de água não é tarefa simples.
As técnicas disponíveis, de forma geral, apresentam limitações em termos de espe-
cificidade e sensibilidade, custo, tempo de execução e pessoal treinado. Adicional-
mente, como os microorganismos patogênicos normalmente podem-se apresentar
de forma intermitente, um resultado negativo não descarta o envolvimento da água
de consumo na origem da epidemia ou surto.
As técnicas usuais para a avalião da qualidade bacteriogica da água
não devem ser descartadas nessas situações, pois, conforme já explicitado, o
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
160
Secretaria de Vigilância em Saúde
mecanismo de transmissão é principalmente do tipo fecal-oral, a presea/
ausência de indicadores de contaminação fecal pode ser indicativa da pre-
sença/ausência de patogênicos que apresentam essa forma de transmissão,
permitindo, assim, a inferência da associão da água de consumo com a epi-
demia ou o surto.
Outra questão significativa, quando da investigação epidemiológica de epi-
demias/surtos relacionados com a água de consumo, é a descrição detalhada de
todas as formas de abastecimento de água existentes no local de ocorrência do
agravo. Essa atividade possibilita o levantamento de informações importantes
para a caracterização do problema, a orientação de ações para a verificação do
envolvimento da água de consumo e a definição da estratégia de controle e pre-
venção de situações futuras.
A seguir, apresenta-se a complementação da descrição do surto, com a aborda-
gem dos aspectos anteriormente discutidos.
Estudo de caso: Surto de gastroenterite aguda por astrovírus
no Município de Itatiaia-RJ (continuação)
O Município de Itatiaia possuía sistemas de captação de água respon-
sáveis pelo abastecimento de 16 bairros. A distribuição dos casos de diar-
réia segundo o sistema de abastecimento revelou uma maior concentra-
ção de casos nos bairros abastecidos pelo sistema de captação de Campo
Belo (ver quadro a seguir). Segundo informações dos gestores municipais,
o abastecimento desse sistema havia sido interrompido para limpeza e
manutenção aproximadamente três dias antes da ocorrência dos casos de
gastroenterite.
Quadro Incidência estimada dos casos de gastroenterite aguda por
astrovírus segundo o sistema de captação de água, Município de Ita-
tiaia-RJ, de 13 a 18/08/2002
SISTEMA DE
CAPTAÇÃO
NÚMERO
DE BAIRROS
ABASTECIDOS
TOTAL DE CASOS INCIDÊNCIA
ACUMULADA
(P/ 1.000 HAB.)
Campo Belo
12 447 28,2
Cazunga
1 16 26,7
Cazunga, Vila
Esperança e
Morro Cruzeiro
1 20 17,1
Penedo
1 10 1,7
Parque
1 2 8,0
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
161
Secretaria de Vigilância em Saúde
Algumas das características do sistema de captação de Campo Belo são
descritas: manancial de água bruta supercial (Rio Campo Belo); ausência
de monitoramento do manancial; existência de residências localizadas a
montante do ponto de captação (possível contaminação por esgotos do-
mésticos); adutora por gravidade; desinfecção com cloro-gás; ausência de
monitoramento de CRL na rede de distribuição; descontinuidade no for-
necimento de água durante a limpeza da adutora e em época de chuvas
torrenciais em função do aumento da turbidez da água bruta.
Um estudo laboratorial realizado envolvendo 29 pacientes com diarréia
apresentou resultado positivo para astrovírus em 16 (55%) das amostras
de fezes analisadas. Também foram realizadas pesquisas para protozoá-
rios, bactérias, rotavírus e adenovírus, sendo todas negativas.
Foram coletadas 15 amostras de água do sistema de captão de Campo
Belo (uma amostra de água bruta e 14 da rede de distribuição) para pesquisa
dos seguintes pametros: pH, turbidez, CRL e coliformes. Resultados labora-
toriais: 42,9% das amostras provenientes da rede de distribuão foram posi-
tivas para coliformes totais e E. coli, e 35,7% apresentaram ausência de CRL.
Quadro Resultados laboratoriais das análises realizadas em algumas
amostras de água para consumo humano, sistema de captação Campo
Belo, Município de Itatiaia-RJ, 08/2002
PONTOS DE
COLETA
PH TURBIDEZ
(UT)
CRL
(mg/L)
BACTERIOLÓGICO
(PRESENÇA/AUSÊNCIA)
Água bruta
7,23 2,53 - Presença de coliformes
totais e E. coli
Residência
após cloração
6,96 2,21 0,7 Ausência
Estrada
do Parque
Nacional de
Itatiaia
- - 0,3 Ausência
Interior do
reservatório da
Vila Pinheiro
- - 0,0 Presença de coliformes
totais e E. coli
Rede de
distribuição
Vila Odete
- - 0,4 Presença de coliformes
totais e E. coli
Rede de
distribuição
Vila Itatiaia
- - 0,5 Ausência
Durante a ocorrência do surto, a população foi orientada para que
fervesse ou clorasse a água domiciliar com hipoclorito de sódio a 2,5%.
Como medidas corretivas e preventivas, a recomendação, em relação ao
sistema de abastecimento, foi a necessidade da adequação do tratamen-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
162
Secretaria de Vigilância em Saúde
to da água de consumo do município em face do exigido na Portaria MS
n
o
1.469/2000. Considerando o sistema de captação Campo Belo, como
recomendações prioritárias citam-se: ltração da água bruta (manancial
supercial); adequação dos parâmetros de desinfecção; e monitoramento
do sistema (água bruta, pós-desinfecção e rede de distribuição).
2.9 CUIDADOS NA FASE DE IMPLANTAÇÃO
A fase de construção de uma instalação para abastecimento de água, ainda que
baseada em um projeto cuidadoso, por si só pode introduzir riscos à saúde huma-
na. Freqüentemente, empresas construtoras apresentam insuficiente compreensão
da importância da obra para a saúde pública após sua finalização e, por isso, cos-
tumam negligenciar os cuidados que devem ser tomados nessa fase. Esses cuida-
dos incluem, em primeiro lugar, a construção em obediência estrita aos projetos, a
menos que impropriedades sejam identificadas neles. Em segundo lugar, significa
assegurar a integridade sanitária e hidráulica das unidades do sistema, em especial
daquelas que armazenam ou transportam água tratada. Nos itens seguintes, pro-
cura-se pontuar alguns alertas a serem observados na fase de implantação, sendo
atribuição do responsável pelo sistema ou solução alternativa zelar para o cumpri-
mento das boas práticas também nessa etapa.
CAPTAÇÃO
Todas as unidades operacionais devem ser construídas acima do nível
máximo de inundação e deve ser assegurado o acesso a elas em qual-
quer época do ano.
As partes da captação sujeitas à inuência de materiais de grande por-
te carreados pela inundação devem ser protegidas e ancoradas com a
máxima segurança possível.
Margens de cursos de água alteradas para a implantação de captação
supercial devem ser adequadamente protegidas contra erosão
ESTAÇÃO DE TRATAMENTO
A estação deve ser cuidadosamente localizada e executada, de modo
que nenhum tubo, tanque ou outra estrutura, contendo ou conduzin-
do água no processo de tratamento, possa ser afetado por vazamento
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
163
Secretaria de Vigilância em Saúde
de qualquer canalização de água bruta ou de fase anterior na linha de
tratamento, esgoto, dreno ou outra fonte de contaminação.
Se localizada em um vale, o local deve ser convenientemente drenado,
para que nenhuma água subterrânea ou de superfície possa ter acesso
aos poços, tanques, ltros e outras unidades.
Todo dispositivo de medição de vazão deve ser perfeitamente calibrado
para que meça exatamente a faixa de vazão necessária.
Deve haver cuidado especial na impermeabilização de lajes e paredes
que separem diferentes fases da estação de tratamento (oculadores–
decantadores, decantadores–ltros, etc.).
Dispositivos de remoção de lodo de oculadores e decantadores devem ser
cuidadosamente testados e seu lançamento executado de forma que se mi-
nimizem impactos ambientais, cuidando para que seja a jusante de toma-
das de água e em pontos a salvo da inuência de correntes contrárias.
Para leitos ltrantes, deve haver extremo cuidado em respeitar a altura
da camada e as características granulométricas do meio, de acordo
com o especicado, e sua instalação deve observar a distribuição gra-
nulométrica segundo a profundidade denida em projeto.
Condutos de água de lavagem ou de descarga dos ltros não devem
ser diretamente ligados a nenhum conduto de drenagem e devem ser
protegidos por uma descontinuidade que admita ar e assegure a im-
possibilidade de reuxo em qualquer condição.
Sempre que se tratar de instalações e de cômodos para manuseio de
produtos químicos tóxicos, como o cloro, deve ser assegurada ventila-
ção adequada.
Juntas dos tubos que comunicam cilindros de cloro com cloradores
devem ser absolutamente estanques e instaladas com inclinação ascen-
dente a partir dos cilindros.
TANQUES DE CONTATO E RESERVATÓRIOS
Acessos e inspeções devem ser convenientemente fechados, a m de
impedir a entrada de pessoas estranhas à operação do sistema.
Ventilações devem ser executadas com área de passagem de ar estri-
tamente de acordo com o projeto e capazes de impedir a entrada de
água de chuva, poeira, insetos e outros portadores de contaminação,
bem como devem ser instaladas cuidando-se para que suas aberturas
não sejam obstruídas posteriormente (ninhos de aves, insetos, etc.).
As estruturas de parede, fundo e cobertura devem ser impermeáveis a
vazamentos tantos internos quanto externos, e, caso algum produto
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
164
Secretaria de Vigilância em Saúde
de impermeabilização seja empregado, este deve ser cuidadosamente
avaliado quanto a riscos de introdução de substâncias tóxicas à água.
Caso tanques ou partes deles se localizem abaixo do nível do terreno,
as águas de superfície devem ser adequadamente desviadas e afasta-
das das estruturas.
Caso não seja possível evitar que o fundo do tanque que abaixo do nível
original do lençol freático, este deve ser ecientemente rebaixado, can-
do o lançamento da drenagem subterrânea afastado das estruturas.
A superfície do solo em torno do reservatório deve ser em declive, para
drenar ou desviar dele as águas de superfície; e deve ser inclinado de
tal modo que não se formem empoçamentos de água supercial na
vizinhança do reservatório.
O extravasor deve descarregar livremente, de modo que, quando esti-
ver em funcionamento, a operação deve se aperceber do fato.
Caso haja possibilidade de que canalizações de drenagem quem sub-
mergidas em qualquer época por água de superfície ou de inundação,
estas devem ser munidas de válvula de retenção, para evitar reuxo.
TUBULAÇÕES PARA TRANSPORTE DE ÁGUA TRATADA
E REDE DE DISTRIBUIÇÃO
As tubulações devem ser estanques e convenientemente afastadas de
cursos de água e outros possíveis focos de contaminação, não devendo
haver a possibilidade de inundação por água ou esgoto durante o pro-
cesso de assentamento.
O lançamento das tubulações de descarga deve ser cuidadosamente
realizado, impedindo a contaminação da água no interior das tubula-
ções por essa via; além disso, deve haver condições permanentes para
que essa descarga seja realizada.
Os tubos da rede devem ser assentados o longe quanto posvel e em
vel superior ao de redes de esgotos; e onde essa condição não puder ser
estritamente observada, cuidados especiais devem ser tomados com rela-
ção à durabilidade, à resisncia à corroo e à estanqueidade das juntas.
Após a instalação, devem-se realizar ensaios de vazamento com ade-
quada pressão hidrostática.
Após instaladas e testadas, as tubulações devem ser conservadas cheias
de uma forte solução de cloro durante pelo menos 24 horas, devendo
ser esgotadas antes de postas em serviço.
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
PARA CONSUMO HUMANO
3
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
167
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3.1 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
PARA CONSUMO HUMANO
De início cabe destacar alguns aspectos fundamentais relacionados à quali-
dade da água:
A qualidade de uma água é um atributo determinado por suas carac-
terísticas, decorrentes das substâncias e dos microorganismos nela
presentes.
A qualidade da água é um conceito relativo aos usos de uma determi-
nada fonte.
A qualidade da água é variável (dinâmica) no tempo e no espaço.
uma estreita interdependência entre qualidade da água bruta, tra-
tamento da água e qualidade da água tratada.
O conceito de poluição deve ser entendido como perda de qualidade da água,
ou seja, alterações em suas características que comprometam um ou mais usos do
manancial. Por sua vez, contaminação é em geral entendida como um fenômeno de
poluição que apresente riscos à saúde.
Em linhas gerais, água potável é aquela que pode ser consumida sem riscos à
saúde e sem causar rejeição ao consumo. O padrão de potabilidade da água é com-
posto por um conjunto de características (parâmetros) que lhe confere qualidade
própria para o consumo humano.
De acordo com a definição da Portaria MS n
o
518/2004:
“Água potável é a água para consumo humano cujos parâmetros mi-
crobiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de pota-
bilidade e que não ofereça riscos à saúde.”
Porém, o tratamento da água, em si, não garante a manutenção da condição de
potabilidade, uma vez que a qualidade da água pode-se deteriorar entre o trata-
mento, a distribuição, a reservação e o consumo. Portanto:
A obtenção e a manutenção da potabilidade da água dependem de
uma visão sistêmica, abrangendo a dinâmica da água desde o manancial
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
168
Secretaria de Vigilância em Saúde
até o consumo, sendo explicitada na Portaria MS n
o
518/2004 por meio
de exigências tais como (artigo 9
o
, inciso III): “Manter avaliação sistemá-
tica do sistema de abastecimento de água, com base na ocupação da
bacia contribuinte ao manancial, no histórico das características de suas
águas, nas características físicas do sistema, nas práticas operacionais e
na qualidade da água distribuída.”
O padrão de potabilidade brasileiro é composto por: (i) padrão micro-
biológico; (ii) padrão de turbidez para a água pós-filtrão ou pré-desinfec-
ção; (iii) padrão para substâncias qmicas que representam riscos à saúde
(inornicas, orgânicas, agrotóxicos, desinfetantes e produtos secunrios
da desinfeão); (iv) padrão de radioatividade; (v) pado de aceitação para
consumo humano.
A potabilidade da água é aferida pelo atendimento, em simultâneo, aos va-
lores máximos permitidos (VMP concentrões-limite) estabelecidos para
cada pametro.
Na visão da OMS, incorporada ao conteúdo da Portaria MS n
o
518/2004, os ris-
cos microbiológicos de transmissão de doenças (de curto prazo, inquestionáveis),
são, em geral, de maior impacto que os riscos à saúde impostos pelas substâncias
químicas (de longo prazo, por vezes não muito bem fundamentados do ponto de
vista toxicológico e epidemiológico).
Guardada a imporncia relativa e espefica dos riscos microbio-
lógicos e daqueles associados às substâncias qmicas, em termos ge-
rais, a garantia da qualidade microbiológica da água deve receber
prioridade.
O padrão de aceitação para consumo humano inclui VMP para diversas subs-
tâncias que podem provocar rejeição ao consumo em função do aspecto estético da
água, do gosto ou do odor.
Em torno da classificação do padrão de potabilidade da Portaria MS n
o
518/2004,
apresentam-se a seguir alguns dos parâmetros de maior relevância para o controle
e a vigilância da qualidade da água para consumo humano, incluindo notas sobre
as respectivas fontes de ocorrência na água para consumo humano e seu significa-
do para a saúde humana.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
169
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PARÂMETROS DE QUALIDADE E SEU SIGNIFICADO
ORGANISMOS PATOGÊNICOS E INDICADORES DE CONTAMINAÇÃO
Organismos patogênicos
Como bem destaca a Organização Mundial da Saúde (OMS):
As doenças infecciosas causadas por bactérias, vírus e protozoários, ou
por helmintos, constituem o mais freqüente e disseminado risco à saúde
associado com o consumo de água.
No quadro 3.1, apresenta-se uma relação de organismos patogênicos e respecti-
vas características, organizada para facilitar a visualização da importância relativa
de cada um na transmissão de doenças via abastecimento de água. Em linhas gerais,
pode-se dizer que os seguintes fatores facilitam a transmissão:
sobrevivência prolongada na água;
possibilidade de reprodão na água, particularmente em sistemas de
distribuição;
resistência elevada à desinfecção;
baixa dose infectante;
existência de múltiplas fontes de infecção, como, por exemplo, reservatórios
animais.
Alguns organismos causam sérios agravos à saúde, por vezes letais, a exemplo
da febre tifóide, da cólera, da hepatite; outros são responsáveis por conseqüências
mais amenas, como diarréias provocadas por rotavírus e Cryptosporidium, porém
o quadro pode-se agravar se os acometidos forem grupos vulneráveis como idosos,
crianças subnutridas ou indivíduos imunocomprometidos.
Em resumo, observa-se a seguinte ordem crescente de resistência à desinfecção:
bactérias, vírus, cistos e oocistos de protozoários, ovos de helmintos. Em geral, pode-
se dizer que, no tratamento da água, bactérias e vírus são inativados no processo de
desinfecção, enquanto protozoários e helmintos são, preponderantemente, removi-
dos por meio da filtração. Embora possível, a associação de doenças causadas por
helmintos com o consumo de água é menos nítida, sendo o consumo de alimentos e
o contato com solos contaminados os modos de transmissão mais freqüentes.
Atenção crescente tem sido dada ao problema da transmissão de protozoários, no-
meadamente Giardia e Cryptosporidium. Giardíase e criptosporidiose são zoonoses cujas
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
170
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principais fontes de contaminão são os esgotos sanirios e as atividades agropecuárias.
Sua remoção por meio do processo de tratamento de água é mais difícil que a dos demais
organismos patonicos, e ascnicas de pesquisa em amostras de água ainda se encon-
tram em fase de consolidação. A elevada contaminação de mananciais é, portanto, em si,
um fator de risco potencial da presença de protozoários em efluentes de estações de tra-
tamento sem o devido rigor de controle operacional. Assim sendo, do ponto de vista do
controle e da vigilância da qualidade da água e da perspectiva da avaliação de riscos, a dis-
ciplina do uso do solo e a proteção dos mananciais assumem fundamental importância.
Quadro 3.1 – Organismos patogênicos veiculados pela água e de
transmissão feco-oral e sua importância para o abastecimento de água
AGENTE PATOGÊNICO
IMPORTÂNCIA
PARA A SAÚDE
PERSISTÊNCIA NA
ÁGUA
a
RESISTÊNCIA
AO CLORO
b
DOSE
INFECTANTE
RELATIVA
c
RESERVATÓRIO
ANIMAL
IMPORTANTE
Bactérias:
Campylobacter jejuni
Considerável Moderada Baixa Moderada Sim
Escherichia coli patogênica
Considerável Moderada Baixa Alta Sim
Salmonella typhi
Considerável Moderada Baixa Alta Não
Outras salmonelas
Considerável Prolongada Baixa Alta Sim
Shigella spp
Considerável Breve Baixa Moderada Não
Vibrio cholerae
Considerável Breve Baixa Alta Não
Yersinia enterocolitica
Considerável Prolongada Baixa Alta (?) Sim
Pseudomonas aeruginosa
d
Moderada Podem multiplicar-se Moderada Alta (?) Não
Aeromonas spp
Moderada Podem multiplicar-se Baixa Alta (?) Não
Vírus:
Adenovírus
Considerável ? Moderada Baixa Não
Enterovírus
Considerável Prolongada Moderada Baixa Não
Hepatite A
Considerável ? Moderada Baixa Não
Hepatite transmitida por via
entérica, hepatite E
Considerável ? ? Baixa Não
Vírus de Norwalk
Considerável ? ? Baixa Não
Rotavírus
Considerável ? ? Moderada Não (?)
Protozoários:
Entamoeba hystolitica
Considerável Moderada Alta Baixa Não
Giardia sp
Considerável Moderada Alta Baixa Sim
Cryptosporidium
parvum spp
Considerável Prolongada Alta Baixa Sim
FONTE: Adaptado da OMS (1995)
? Não conhecido ou não confirmado.
a
Período de detecção da fase infectante na água a 20 ºC: reduzida até 1 semana; moderada – de 1
semana a 1s; elevada – mais de 1 mês.
b
Quando a fase infectante encontra-se na água tratada em doses e tempos de contato tradicionais.
Resistência moderada o agente pode não ser completamente destruído; baixa resistência o
agente usualmente é destruído completamente.
c
Dose necessária para causar infecção em 50% dos voluntários adultos sãos; no caso de alguns
vírus, pode bastar uma unidade infecciosa.
d
Patogênico oportunista.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
171
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O quadro 3.1 não é, entretanto, conclusivo na listagem dos patogênicos pas-
síveis de transmissão via abastecimento de água para consumo humano, sendo
cada vez mais freqüentes as evidências de transmissão de doenças “emergentes”.
A própria tabela revela as muitas incertezas que ainda cercam os riscos associa-
dos aos rus. Outros protozoários têm sido identificados como agentes de surtos
associados com o consumo de água (inclusive no Brasil), incluindo Cyclospora,
Isospora, Microsporidium e Toxoplasma. Além da ingestão de água contamina-
da, alguns organismos, capazes de colonizar sistemas de distribuição, podem ser
transmitidos via inalação de aerosóis, como, por exemplo, bactérias do gênero
Legionella e os protozoários Naegleria fowleri e Acanthamoeba spp, agentes, res-
pectivamente, da encefalite meningocócica amebiana e da meningite amebiana.
Por sua vez, várias bactérias, usualmente de vida livre, porém reconhecidamen-
te patogênicas oportunistas, também apresentam capacidade de colonizar siste-
mas de distribuição de água, constituindo risco à saúde de grupos populacionais
vulneráveis (ex.: pacientes hospitalizados, indivíduos idosos, recém-nascidos ou
imunocomprometidos): Pseudomonas aeruginosa, Flavobacterium, Acinetobacter,
Klebsiella, Serratia, Aeromonas.
Do exposto brevemente, percebe-se o quanto ainda há de ser elucidado em
termos da epidemiologia das doenças transmisveis via abastecimento e con-
sumo de água. Além disso, por raes financeiras, limitações técnico-analíticas
e necessidade de respostas ágeis, no controle microbiogico da qualidade da
água usualmente se recorre ao emprego de organismos indicadores. Entretanto,
reconhecidamente, não existem organismos que indiquem a presença/ausência
da ampla variedade de patogênicos suscetíveis de ser removidos/inativados ou
capazes de resistir/traspassar os diversos processos de tratamento da água. Adi-
cionalmente, a qualidade microbiológica da água bruta, tratada e distribuída
pode sofrer alterações bruscas e o detectadas em tempo real, a porque a
amostragem para o monitoramento da qualidade da água se baseia em prin-
pio estatístico/probabistico, incorporando inevitavelmente uma margem de
erro/incerteza.
Por tudo isso, merecem destaque as seguintes observações:
O controle da qualidade da água baseado única e exclusivamente em
análises laboratoriais de amostras da água, ainda que freqüentes, não
constitui garantia absoluta da potabilidade.
Tão importantes quanto o controle laboratorial são:
A adoção de boas práticas em todas as partes constituintes e nas
etapas do abastecimento de água;
A vigilância epidemiológica e a associação entre agravos à saúde e
situações de vulnerabilidade no abastecimento de água.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
172
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Organismos indicadores de contaminação
A identificação dos microorganismos patogênicos na água é, geralmente,
morosa, complexa e onerosa. Por essa razão, tradicionalmente se recorre à
identificão dos organismos indicadores de contaminação, na interpretação
de que sua presença apontaria a introdução de matéria de origem fecal (hu-
mana ou animal) na água e, portanto, o risco potencial da presença de orga-
nismos patogênicos.
Um organismo indicador ideal deveria preencher os seguintes requisitos:
(i) ser de origem exclusivamente fecal; (ii) apresentar maior resistência que os
patogênicos aos efeitos adversos do meio ambiente e aos processos de tratamen-
to; (iii) ser removido e/ou inativado por meio do tratamento da água pelos mes-
mos mecanismos e na mesma proporção que os patogênicos; (iv) apresentar-se
em maior número que os patogênicos; (v) ser de fácil identificação; (vi) o se
reproduzir no meio ambiente.
De fato, não há um único organismo que satisfaça simultaneamente a todas es-
sas condições. Na ausência de um indicador ideal, deve-se trabalhar com o melhor
indicador, ou seja, aquele que apresente a melhor associação dos riscos à saúde
relacionados à contaminação da água.
O alcance e as limitações do emprego de indicadores e/ou a necessidade da
identificação de organismos patogênicos dependem do rigor necessário ao estudo
em questão (por exemplo, em investigações epidemiológicas).
Os indicadores de utilização tradicional e quase universal são as bactérias do
grupo coliforme, classicamente definidas como a seguir:
coliformes totais (bactérias do grupo coliforme) – bacilos gram-negati-
vos, aeróbios ou anaeróbios facultativos, não formadores de esporos,
oxidase-negativos, capazes de desenvolver na presença de sais bilia-
res ou agentes tensoativos que fermentam a lactose com produção
de ácido, gás e aldeído a 35,0 ± 0,5 ºC em 24-48 horas, e que podem
apresentar atividade da enzima ß-galactosidase. A maioria das bacté-
rias do grupo coliforme pertence aos gêneros Escherichia, Citrobacter,
Klebsiella e Enterobacter, embora vários outros gêneros e espécies per-
tençam ao grupo;
coliformes termotolerantes – subgrupo das bactérias do grupo colifor-
me que fermentam a lactose a 44,5 ± 0,2 ºC em 24 horas; tendo como
principal representante a Escherichia coli, de origem exclusivamente
fecal;
Escherichia coli – bactéria do grupo coliforme que fermenta a lactose e
o manitol, com produção de ácido e gás a 44,5 ± 0,2 ºC em 24 horas,
produz indol a partir do triptofano, oxidase-negativa, não hidrolisa a
uréia e apresenta atividade das enzimas ß-galactosidase e ß-glicoroni-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
173
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dase, sendo considerada o mais especíco indicador de contaminação
fecal recente e de eventual presença de organismos patogênicos.
EMPREGO DOS COLIFORMES NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE
DA ÁGUA BRUTA (in natura)
As bactérias do grupo coliforme estão presentes no intestino humano e de ani-
mais de sangue quente e são eliminadas nas fezes em números elevados (10
6
-10
8
/g).
Entretanto, o grupo dos coliformes inclui bactérias não exclusivamente de origem
fecal, podendo ocorrer naturalmente no solo, na água e em plantas. Além disso,
principalmente em climas tropicais, os coliformes apresentam capacidade de se
multiplicar na água. Assim, na avaliação da qualidade de águas naturais, incluindo
a avaliação de fontes individuais de abastecimento, os coliformes totais têm valor
sanitário limitado.
O grupo dos coliformes termotolerantes acaba também por incluir bactérias de
origem não exclusivamente fecal, embora em proporção bem menor que o grupo
dos coliformes totais, e, por isso, sua utilização na avaliação da qualidade de águas
naturais, principalmente em países de clima tropical, também tem sido questio-
nada. Não obstante, pelo fato de que a presença de coliformes termotolerantes,
na maioria das vezes, guarda melhor relação com a presença de E. coli, aliado à
simplicidade das técnicas laboratoriais de detecção, seu emprego ainda é aceitável.
De todo modo, o termo coliformes fecais deve ser evitado, empregando-se, prefe-
rencialmente, coliformes termotolerantes.
O indicador mais preciso de contaminação fecal é a E. coli. Mesmo em manan-
ciais bem protegidos, não se pode desconsiderar a importância sanitária da detec-
ção de E. coli, pois, no mínimo, indicaria a contaminação de origem animal silves-
tre, que pode conter agentes patogênicos ao ser humano.
O grau de contaminação das águas é usualmente aferido com base na densidade
de organismos indicadores, no pressuposto de que há uma relação semiquantitati-
va entre esta e a presença de patogênicos.
EMPREGO DOS COLIFORMES NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE
DA ÁGUA TRATADA
Na avaliação da qualidade da água tratada, ou seja, da eficiência do tratamento
na remoção ou na inativação de organismos patogênicos, o pressuposto do em-
prego de organismos indicadores é o de que a ausência dos indicadores expressa a
ausência dos patogênicos. A presença dos indicadores pode indicar falha ou insu-
ficiência no tratamento.
Rigorosamente, os coliformes só se prestam como indicadores da inativação de
bactérias patogênicas por meio da desinfecção. Portanto, na aferição da qualidade
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
174
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bacteriológica da água tratada, a ausência dos coliformes totais é um indicador
adequado e suficiente da eficiência do tratamento, uma vez que estes apresentam
uma taxa de decaimento (inativação) similar ou inferior à dos coliformes termo-
tolerantes e da E. coli.
Vírus são mais resistentes que os coliformes aos processos de desinfecção e, por-
tanto, na avaliação da qualidade virológica da água tratada, a ausência de colifor-
mes não constitui um indicador suficiente da qualidade da água. Torna-se então
necessário o emprego de indicadores complementares não-biológicos, no caso, a
turbidez da água pré-desinfecção e os parâmetros de controle da desinfecção ade-
quados à inativação de vírus: cloro residual livre mínimo de 0,5 mg/L, tempo de
contato mínimo de 30 minutos e pH da água inferior a 8. Cabe entretanto registrar,
que um fator de segurança é o fato de que a prática da dosagem de cloro como
forma de manter o residual mínimo exigido na pontas de rede (0,2 mg/L) pode ga-
rantir o residual indicativo de uma eficiente inativação de vírus na saída do tanque
de contato (> 0,5 mg/L).
Cistos e oocistos de protozrios são bem mais resistentes que bacrias
aos efeitos dos agentes desinfetantes, não sendo inativados com as doses
usualmente praticadas no tratamento da água. Por sua vez, cistos de Giar-
dia e oocistos de Cryptosporidium apresentam, respectivamente, diâmetros
de aproximadamente 8-15 µm e 4-6 µm, sendo, portanto, potencial e signifi-
cativamente removíveis por filtração. Assim, os coliformes pouco se prestam
como indicadores da qualidade parasitológica da água tratada, devendo-se
nesse caso recorrer a indicadores da eficiência da filtração, principalmente a
turbidez. Adicionalmente, tem-se recorrido à contagem de partículas, mais
especificamente à remoção de partículas em suspensão de dimensões aproxi-
madas às de cistos e oocistos de protozoários.
EMPREGO DOS COLIFORMES NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE
DA ÁGUA DISTRIBUÍDA
Mesmo que o tratamento seja adequado, a água pode muito bem se dete-
riorar ao longo da distribuão. A identificão de E. coli no sistema de dis-
tribuição é um sinal inequívoco de recontaminação ou falhas no tratamento
e, por medida de segurança, assim tamm deve ser interpretada a detecção
de coliformes termotolerantes. Por isso, na avaliação da qualidade da água
distribda, requer-se a auncia sistetica de E. coli ou de coliformes ter-
motolerantes.
o isolamento de coliformes totais, embora não guarde uma relação exclusi-
va com a recontaminação de origem fecal, serve como indicador da integridade
do sistema de distribuição. Águas insuficientemente tratadas (por exemplo, sem
a garantia de residual de cloro) ou infiltrações podem permitir o acúmulo de se-
dimentos ou da matéria orgânica e promover o desenvolvimento de bactérias no
sistema de distribuição, incluindo aquelas do grupo coliforme que não E. coli ou
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
175
Secretaria de Vigilância em Saúde
termotolerantes. Portanto, a detecção eventual de coliformes totais no sistema de
distribuição em um percentual das amostras analisadas (5%) não necessariamente
é indicativa de contaminação.
Logo, o alcance e as limitações do emprego dos coliformes como indicado-
res da qualidade da água para consumo humano podem ser resumidos como
a seguir.
O indicador mais preciso de contaminação da água é, em qualquer si-
tuação, E. coli, e sua presença é interpretada como sinal inequívoco de
contaminação.
Ainda que com ressalvas, os coliformes termotolerantes podem ser utili-
zados com uma alternativa à determinação de E. coli.
O termo coliformes fecais deve ser evitado, empregando-se, preferen-
cialmente, coliformes termotolerantes.
Coliformes totais não são indicadores adequados da qualidade da água
in natura, guardando validade apenas como indicadores da qualidade
da água tratada e distribuída.
Em amostras de água in natura, por exemplo de poços e minas, a pre-
sença de coliformes totais, principalmente em baixas densidades, pode
ser desprovida de qualquer signicado sanitário.
Em amostras de água tratada, a determinação de coliformes totais
é suciente, uma vez que apresentam taxa de inativação similar ou
inferior à dos coliformes termotolerantes e de E.coli. A auncia de
coliformes totais na água tratada é um indicador adequado da au-
ncia de bactérias patogênicas, e a presença, sinal de falhas no
tratamento ou de não-integridade do sistema de distribuão, in-
cluindo reservarios.
Coliformes não são indicadores plenos da eciência do tratamento de
água e devem ser empregados com critérios e ressalvas. Vírus e pro-
tozoários são mais resistentes à desinfecção que coliformes; portanto,
a simples ausência de coliformes o constitui garantia absoluta de
potabilidade. A vericação da eciência do tratamento depende de
indicadores complementares, tais como a turbidez da água pós-ltra-
ção ou pré-desinfecção, e dos parâmetros de controle da desinfecção
– dose, residual de desinfetante e tempo de contato.
Em linhas gerais, estes são os pressupostos implícitos no padrão microbiológico
de potabilidade da água para consumo humano (quadro 3.2).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
176
Secretaria de Vigilância em Saúde
Quadro 3.2 – Padrão microbiológico de potabilidade
PARÂMETRO VMP
1
Água para consumo humano
2
Escherichia coli ou coliformes termotolerantes
3
Ausência em 100 ml
Água na saída do tratamento
Coliformes totais Ausência em 100 ml
Água tratada no sistema de distribuição (reservatórios e rede)
Escherichia coli ou coliformes termotolerantes
3
Ausência em 100 ml
Coliformes totais
Sistemas que analisam 40
ou mais amostras por mês:
Ausência em 100 ml em 95% das amostras
examinadas no mês;
Sistemas que analisam menos
de 40 amostras por mês:
Apenas uma amostra poderá apresentar
mensalmente resultado positivo em 100 ml
FONTE: Portaria MS n
o
518/2004
1
Valor Máximo Permitido.
2
Água para consumo humano em toda e qualquer situação, incluindo fontes individuais como
poços, minas, nascentes, dentre outras.
3
A detecção de Escherichia coli deve ser preferencialmente adotada.
OUTROS ORGANISMOS INDICADORES
Contagem de bactérias heterotrócas
Contagem de bactérias heterotrócas – determinação da densidade de
bactérias que são capazes de produzir unidades formadoras de colônias
(UFC), na presença de compostos orgânicos contidos em meio de cultura
apropriado, sob condições preestabelecidas de incubação: 35,0 ± 0,5
o
C
por 48 horas.
A contagem de bactérias heterotróficas (genericamente definidas como mi-
croorganismos que requerem carbono orgânico como fonte de nutrientes) for-
nece informações sobre a qualidade bacteriológica da água de uma forma ampla.
O teste inclui a detecção, inespecífica, de bactérias ou esporos de bactérias de
origem fecal, componentes da flora natural da água ou resultantes da formação
de biofilmes no sistema de distribuição, sendo algumas patogênicas oportunis-
tas. Portanto, presta-se ao papel de indicador auxiliar da qualidade da água, ao
fornecer informações adicionais sobre: eventuais falhas na desinfecção, coloniza-
ção e formação de biofilmes no sistema de distribuição, eventuais alterações na
qualidade da água na reservação ou possível não-integridade do sistema de dis-
tribuição. Dentre os fatores que podem favorecer a formação de biofilmes, desta-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
177
Secretaria de Vigilância em Saúde
cam-se: temperatura elevada, estagnação de água em trechos de baixo consumo,
como em pontas de rede, disponibilidade de nutrientes e baixas concentrações
residuais de desinfetante. Adicionalmente, a contagem de bactérias heterotróficas
serve como um controle de qualidade das análises de coliformes, que elevadas
densidades de bactérias podem inibir o crescimento dos coliformes em meios de
cultura à base de lactose.
Na Portaria MS n
o
518/2004 (artigo 11, parágrafo 6
o
), encontra-se a seguinte
exigência:
“Em 20% das amostras mensais para análise de coliformes totais nos
sistemas de distribuição, deve ser efetuada a contagem de bactérias hete-
rotrócas e, uma vez excedidas 500 unidades formadoras de colônia (UFC)
por ml, devem ser providenciadas imediata recoleta, inspeção local e, se
constatada irregularidade, outras providências cabíveis”.
Enterococos
A classificação mais recente do grupo de bactérias por muito tempo denomi-
nado estreptococos fecais inclui dois subgrupos: um primeiro, dos enterococos
(pertencentes ao gênero Enterococcus), que inclui as espécies mais estreitamente
associadas aos dejetos humanos – muito embora várias espécies possam também
ser encontradas em fezes de animais ou mesmo no meio ambiente como organis-
mos de vida livre; e um segundo grupo, que retém a denominação genérica de es-
treptococos fecais (pertencentes ao gênero Streptococcus) e que inclui as espécies
Streptococcus bovis e Streptococcus equinus, ambas associadas a dejetos animais
(KNUDTSON; HARTMAN,1992). Os enterococos são, em geral, mais resistentes
que os coliformes e não se reproduzem na água. Portanto, guardam grande uti-
lidade como indicadores auxiliares da eficiência do tratamento da água e, prin-
cipalmente, da qualidade da água no sistema de distribuição por exemplo, em
amostras de recoleta após a detecção de coliformes ou no monitoramento após
reparos na rede.
Clostridium perfringens e outras bactérias
formadoras de esporos
Algumas escies de bacrias formadoras de esporos, como Clostridium
perfringens, são normalmente encontradas em fezes humanas, enquanto outras
o organismos de vida livre. Em geral, são bem mais resistentes que os coli-
formes às condões ambientais e aos processos de desinfeão e, por isso, o
o bons indicadores no monitoramento de rotina em sistemas de distribuição,
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
178
Secretaria de Vigilância em Saúde
sob o risco de superestimativa de deterioração da qualidade da água. Entretan-
to, tentativas mais recentes, ainda que incipientes, têm procurado avaliar sua
utilidade como indicadores da eficiência do tratamento em termos de remão
de vírus e protozrios.
Cianobactérias e cianotoxinas
A eutrofização de lagos e reservatórios decorre do excesso de nutrientes no ma-
nancial, o que provoca um aumento da atividade fotossintética ou de produção
primária de biomassa. O fenômeno da floração é caracterizado pela presença ex-
cessiva de algas, eventualmente acompanhadas de um grupo de bactérias fotossin-
téticas – as cianobactérias, também conhecidas como algas azuis. Algumas espécies
de cianobactérias, com a lise das células, produzem toxinas (substâncias químicas
orgânicas hepatotóxicas, neurotóxicas ou causadoras de irritações de pele) que re-
presentam riscos significativos à saúde humana, em especial de grupos vulneráveis,
tais como pacientes renais crônicos. Dentre as cianotoxinas, destaca-se a microcis-
tina, pela ocorrência mais freqüente da cianobactéria Microcystis em nossos ma-
nanciais, por evidências mais consistentes de riscos à saúde com base em estudos
toxicológicos, bem como pela disponibilidade de técnicas padronizadas de deter-
minação analítica.
Para informações mais detalhadas sobre cianobactérias e cianotoxinas, sua im-
portância para a saúde humana e medidas de controle, pode-se consultar Azevedo
e Brandão (2003).
Turbidez
A turbidez é uma característica da água resultante da presea de partículas
em estado coloidal, em suspensão, de matéria ornica e inornica finamente
dividida, de pncton e de outros organismos microscópicos. A turbidez ex-
pressa a interferência à passagem de luz através do líquido, portanto, simpli-
ficadamente, a transparência da água. Valores de turbidez em torno de 8 UT
ou menos o impercepveis visualmente. Águas represadas usualmente apre-
sentam turbidez mais reduzida, decorrente da sedimentação das parculas em
suspeno.
A turbidez da água bruta tem grande importância na medida em que é um dos
principais parâmetros para seleção de tecnologia de tratamento e controle opera-
cional dos processos de tratamento.
Em geral, a turbidez da água bruta de mananciais superficiais apresenta varia-
ções sazonais significativas entre períodos de chuva e estiagem (Figura 3.1), o que
exige atenção na operação da ETA.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
179
Secretaria de Vigilância em Saúde
Figura 3.1 – Turbidez da água de manancial supercial (médias mensais)
O exemplo ilustra um manancial cuja turbidez é relativamente reduzida,
portanto de fácil tratabilidade. Entretanto, mesmo em casos como estes, a aten-
ção cotidiana é indispensável: no manancial em questão, em janeiro de 2001,
chuvas torrenciais provocaram uma elevão brusca da turbidez a 1.000 uT,
valor este que inclusive acaba por não figurar em gráficos de médias mensais
como o apresentado.
Na água filtrada, a turbidez assume uma função de indicador sanitário e não
meramente estético. A remoção de turbidez por meio da filtração indica a remoção
de partículas em suspensão, incluindo oocistos de protozoários. Os critérios reco-
nhecidos internacionalmente como indicadores da remoção de protozoários são
(USEPA, 2000, 2001):
Remão/inativação conjunta, por meio da filtração–desinfecção, de
99,9% (3 log) de cistos de Giardia: turbidez da água filtrada inferior a
0,5 UT para a filtração rápida e 1,0 UT para a filtração lenta (2,5 log
de remão), complementada por desinfecção adequada para inativação
equivalente a 0,5 log e controlada pelo tempo de contato, pelo residual de
cloro livre e pela temperatura.
Remão de 99% (2,0 log) de oocistos de Cryptosporidium: turbidez da
água filtrada inferior a 0,3 UT para a filtrão rápida e 1,0 UT para a
filtrão lenta.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
180
Secretaria de Vigilância em Saúde
A turbidez da água pré-desinfecção, precedida ou não de filtração, é tam-
bém um parâmetro de controle da eficncia da desinfeão, no entendimento
de que partículas em suspensão podem proteger os microorganismos da ação
do desinfetante.
O padrão de turbidez da água pré-desinfecção ou pós-ltração é um
componente do padrão microbiológico de potabilidade da água, pois va-
lores baixos de turbidez indicam ao mesmo tempo eciência da ltração
na remoção de microorganismos e garantia de eciência da desinfecção.
Tabela 3.1 – Padrão de turbidez para água pós-ltração ou pré-desinfecção
TRATAMENTO DA ÁGUA VMP
1
Desinfecção (água subterrânea)
1,0 UT
2
em 95% das amostras
Filtração rápida (tratamento completo ou ltração direta)
1,0 UT
2
Filtração lenta
2,0 UT
2
em 95% das amostras
1
Valor máximo permitido.
2
Unidade de turbidez.
Na Portaria MS n
o
518/2004 (artigo 12, parágrafo 2
o
), encontra-se ainda a se-
guinte recomendação:
“Com vistas a assegurar a adequada eciência de remoção de enteroví-
rus, cistos de Giardia spp e oocistos de Cryptosporidium sp., recomenda-
se, enfaticamente, que, para a ltração rápida, se estabeleça como meta a
obtenção de euente ltrado com valores de turbidez inferiores a 0,5 UT
em 95% dos dados mensais e nunca superiores a 5,0 UT.”
CLORO RESIDUAL
Um dos mais importantes atributos de um desinfetante é sua capacidade de
manter residuais minimamente estáveis após sua aplicação e reações na água, sen-
do esta uma das principais vantagens do cloro.
Na saída do tanque de contato, a medida do cloro residual cumpre o papel de
indicador da eficiência da desinfecção, devendo ser observado um mínimo de 0,5
mg/L de cloro livre, pois, como visto, o cloro livre apresenta potencial desinfetante
bem superior ao do cloro combinado.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
181
Secretaria de Vigilância em Saúde
No sistema de distribuição, a manutenção de residuais de cloro tem por objeti-
vo a prevenção à pós-contaminação, sendo sua medida também um indicador da
segurança da água distribuída. Apenas para reforçar a informação, no sistema de
distribuição deve ser mantido um teor de cloro residual livre de 0,2 mg/L.
Portanto, em qualquer situação, o cloro residual é um parâmetro indicador de
potabilidade microbiológica da água.
Em geral, considera-se que os problemas de odor e sabor na água são mais sen-
tidos em concentrações acima de 1 mg/L e que nenhum efeito adverso à saúde é
observado até teores de cloro livre de 5 mg/L (OMS, 1995).
SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS QUE REPRESENTAM RISCO À SAÚDE
A presença de substâncias químicas dissolvidas pode ser natural e decorrente do
elevado poder solvente da água ou de natureza antropogênica (poluição). É, por-
tanto, resultado das características específicas da bacia, incluindo aspectos geomor-
fológicos, da intensidade e da natureza de atividades industriais e agrícolas, além de
características inerentes à própria substância, tais como solubilidade e persistência
no solo e na água.
No estabelecimento do padrão de potabilidade para substâncias químicas (or-
gânicas e inorgânicas) que representam risco à saúde, são levados em consideração
os efeitos crônicos resultantes de exposição prolongada, ou seja, da ingestão contí-
nua de água com uma dada concentração de uma substância. O padrão para cada
substância (VMP) é usualmente estabelecido a partir da aceitação de um nível de
risco (ex.: 10
-5
, o que significa que se considera aceitável um caso de dano à saúde
em cada 100 mil pessoas dentre uma população consumidora ao longo de setenta
anos) e de evidências toxicológicas ou epidemiológicas, que permitam estimar um
Nível de Efeito Não Observado (Noael). Estima-se assim a dose abaixo das quais
as pessoas poderiam estar expostas sem que ocorressem danos à saúde – a Ingestão
Diária Tolerável (IDT) (OMS,1995).
Dentre os critérios levados em consideração para estabelecer os parâmetros quí-
micos e seus respectivos VMP na Portaria MS n
o
518/2004, merecem destaque:
análise das evidências epidemiológicas e toxicológicas dos riscos à saúde as-
sociados às diversas substâncias;
potencial tóxico das substâncias químicas que podem estar presentes na
água (naturalmente ou por contaminação), levando-se em consideração a
classificação das respectivas substâncias pelo IARC (International Agency
for Research on Cancer);
possibilidade de obtenção de padrões analíticos e limitação de técnicas ana-
líticas atualmente empregadas;
emprego das substâncias no tratamento da água;
intensidade de produção, comercialização e uso no país.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
182
Secretaria de Vigilância em Saúde
Em razão das especificidades que determinam a presença das substâncias na
água, os planos de amostragem estabelecidos na Portaria MS n
o
518/2004 apresen-
tam a flexibilidade necessária:
O responsável pela operação do sistema ou solução alternativa de
abastecimento de água pode solicitar à autoridade de saúde pública a
alteração na freqüência mínima de amostragem de determinados pa-
râmetros estabelecidos (artigo 30).
Após avaliação criteriosa, fundamentada em inspeções sanitárias e, ou,
em histórico mínimo de dois anos do controle e da vigilância da qua-
lidade da água, a autoridade de saúde pública decidirá quanto ao de-
ferimento da solicitação, mediante emissão de documento especíco
(artigo 30, parágrafo único).
Em função de características não conformes com o padrão de potabi-
lidade da água ou de outros fatores de risco, a autoridade de saúde
pública competente, com fundamento em relatório técnico, determi-
nará ao responsável pela operação do sistema ou solução alternativa
de abastecimento de água que amplie o número mínimo de amostras,
aumente a freqüência de amostragem ou realize análises laboratoriais
de parâmetros adicionais ao estabelecido (artigo 31).
Para a maioria dos parâmetros, é dispensada a análise na rede de distribuição
quando não forem detectados na saída do tratamento e/ou no manancial, à exceção
de substâncias que potencialmente possam ser introduzidas no sistema ao longo da
distribuição.
Observe-se que nos planos de amostragem mínimos estabelecidos na Portaria
MS n
o
518/2004, dentre os diversos parâmetros químicos, a análise obrigatória no
sistema de distribuição recai apenas sobre fluoretos, trihalometanos e cianotoxinas,
por motivos de proteção à saúde; os dois primeiros, por serem incorporados à água,
respectivamente, na fluoretação e como produto secundário da cloração; as ciano-
toxinas, pela gravidade do problema.
Em contrapartida exige-se, semestralmente, porém com a flexibilidade já men-
cionada, o monitoramento completo na saída do tratamento, ou seja, de todos os
parâmetros que compõem o padrão de potabilidade.
Também com freqüência semestral se exige o monitoramento do manancial de
acordo com o estabelecido na Resolução Conama n
o
357/2005. A tal respeito, o
monitoramento de substâncias “extras” não deve ser entendido como demasiado,
até porque a exigência é de amostragem semestral e o espírito é o de estabelecer
a co-responsabilidade dos prestadores de serviço na atenção e nos cuidados do
manancial. De mais a mais, sempre resta a possibilidade de rever planos de amos-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
183
Secretaria de Vigilância em Saúde
tragem. Adicionalmente, se a Resolução Conama “pecar por omissão, espera-se do
prestador de serviço a responsabilidade e a sensibilidade em incluí-los no programa
de monitoramento, até porque esses parâmetros, de acordo com a Portaria MS n
o
518/2004, têm de ser monitorados semestralmente na saída do tratamento. Quanto
aos padrões propriamente ditos, se o padrão da Resolução Conama for mais rígido
que o da Portaria, não se vislumbra impasse algum, pois, em todo caso, estar-se-ia
atento aos objetivos estabelecidos nos artigos 9
o
e 19 da Portaria: avaliar preven-
tivamente, ou de forma a orientar medidas corretivas, indícios de risco à saúde e a
compatibilidade entre as características da água bruta e o tipo de tratamento existente.
Se, eventualmente, o padrão da Resolução Conama for mais tolerante que o da
Portaria, caberia a óbvia atenção para o significado de saúde do VMP estabelecido
na Portaria e suas conseqüências sobre a qualidade da água tratada.
Por m,o custa lembrar o quão pródiga e rápida é a indústria química no lança-
mento de novos produtos, particularmente a indústria de agrotóxicos, e que a maioria das
substâncias não é removida de forma efetiva em processos convencionais de tratamento.
Em síntese:
O diagnóstico do uso e da ocupação do solo na bacia e o histórico da
qualidade da água do manancial são, em si, importantes ferramentas de
orientação de planos de amostragem de controle da qualidade da água.
Nos quadros 3.3 a 3.6 apresentam-se informações resumidas sobre as substâncias
químicas que representam riscos à saúde, componentes do padrão de potabilidade
brasileiro. As informações referentes ao grupo cancerígeno das substâncias químicas
têm como fontes a Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (IARC) e a
USEPA (United States Environmental Protection Agency). A IARC avalia a carcino-
genicidade potencial das substâncias químicas com base em estudos a longo prazo
realizados com animais e, por vezes, em informações sobre carcinogenicidade para
os seres humanos procedentes de estudos epidemiológicos sobre exposição ocupa-
cional. A partir dos dados disponíveis, as substâncias químicas são classificadas em
cinco categorias, de acordo com o risco potencial (i) grupo 1: o agente é considerado
carcinogênico para os seres humanos; (ii) grupo 2A: o agente é provavelmente carci-
nogênico para os seres humanos; (iii) grupo 2B: o agente é possivelmente carcinogê-
nico para os seres humanos; (iv) grupo 3: o agente não é classificável com base na sua
carcinogenicidade para os seres humanos; (v) grupo 4: o agente provavelmente não
é carcinogênico. A USEPA classifica as substâncias de acordo com o seguinte critério:
(i) grupo A: carcinogênico para os seres humanos, por ingestão e inalação; (ii) grupo
B2: evidência de carcinogenicidade em animais, evidências insuficientes para classifi-
cação como carcinogênico via ingestão em seres humanos; grupo D: evidências insu-
ficientes para a classificação como carcinogênico via ingestão para seres humanos.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
184
Secretaria de Vigilância em Saúde
Quadro 3.3 – Substâncias químicas inorgânicas que representam
risco à saúde
SUBSTÂNCIAS EFEITOS POTENCIAIS
DECORRENTES DA INGESTÃO
DE ÁGUA
GRUPO
CANCERÍGENO
1
PRINCIPAIS FONTES
DE CONTAMINAÇÃO
IARC USEPA
Antimônio
Aumento de colesterol e redu-
ção de glicose no sangue.
2B D
Euentes de renaria de petróleo,
vidraria, cerâmicas e indústrias de
eletrônicos; substâncias de combate a
incêndios.
Arsênico
Danos de pele; problemas no
sistema circulatório; aumento de
risco de câncer de pele e pulmão. 1 A
Euentes de renaria de petróleo e
indústrias de semicondutores; preser-
vantes de madeira; herbicidas; aditivos
de alimentação animal; erosão de
depósitos naturais.
Bário
Estimula os sistemas neuromus-
cular e cardio-vascular, contribuin-
do para a hipertensão.
- D
Euentes de mineração; euentes
de renaria de metais; erosão de de-
pósitos naturais.
Cádmio
Lesões no fígado e disfunções
renais.
2B D
Corrosão de tubulações galvaniza-
das; euentes de renaria de metais;
indústria siderúrgica e de plásticos;
descarte de pilhas e tintas.
Cianeto
Afeta o sistema nervoso, proble-
mas de tireóide.
- D
Euentes de indústrias de aço, me-
tais, plásticos e fertilizantes.
Chumbo
Retardo no desenvolvimento físi-
co e mental de crianças; problemas
de rins e elevação de pressão em
adultos; interferência no metabo-
lismo da vitamina D.
2B B2
Corrosão de instalações hidráulicas
prediais; erosão de depósitos naturais.
Cobre
Exposição de curto prazo: desar-
ranjos gastrointestinais.
Exposição de longo prazo: danos
no fígado ou nos rins.
Especial atenção para os porta-
dores de Síndrome de Wilson.
- D
Corrosão de instalações hidráulicas
prediais; erosão de depósitos naturais;
preservantes de madeira.
Cromo
Possibilidade, a longo prazo, de
desenvolvimento de dermatites
alérgicas.
Cromo trivalente é essencial do
ponto de vista nutricional, sendo
o xico e pobremente absorvido
no organismo; cromo hexavalente
afeta os rins e o sistema respiratório.
Cromo
(VI) – 1
Cromo
(III) – 3
Cromo
(VI) – D
Euentes de indústrias de aço e celu-
lose; erosão de depósitos naturais.
Fluoreto
Fluorose em crianças e osteos-
porose.
3 -
Erosão de depósitos naturais; in-
trodução na água de abastecimento;
euentes de indústrias de fertilizantes
e de alumínio.
Mercúrio
inorgânico
Lesões no fígado; disfunções
renais; afeta o sistema nervoso
central.
D
Erosão de depósitos naturais; euen-
tes industriais; chorume de aterro sani-
tário; escoamento supercial de áreas
agrícolas.
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
185
Secretaria de Vigilância em Saúde
SUBSTÂNCIAS EFEITOS POTENCIAIS
DECORRENTES DA INGESTÃO
DE ÁGUA
GRUPO
CANCERÍGENO
1
PRINCIPAIS FONTES
DE CONTAMINAÇÃO
IARC USEPA
Nitrato (como N)
Metemoglobinemia (síndrome
dos bebês azuis). D
Escoamento supercial de áreas
agrícolas; erosão de depósitos natu-
rais; esgotos sanitários.
Nitrito (como N)
Metemoglobinemia (síndrome
dos bebês azuis). D
Escoamento supercial de áreas
agrícolas; erosão de depósitos natu-
rais; esgotos sanitários.
Selênio
Queda de cabelos e unhas; pro-
blemas circulatórios; problemas
no fígado; pode causar danos ao
fígado e aos rins
2 A D
Euentes de renaria de petróleo;
erosão de depósitos naturais; resíduos
de mineração.
FONTE: Adaptado de OMS (1995), USEPA (2000, 2001)
Quadro 3.4 – Substâncias químicas orgânicas que representam
risco à saúde
SUBSTÂNCIAS EFEITOS POTENCIAIS
DECORRENTES DA
INGESTÃO DE ÁGUA
GRUPO
CANCERÍGENO
1
PRINCIPAIS FONTES
DE CONTAMINAÇÃO
IARC USEPA
Acrilamida
Efeitos neurotóxicos;
deterioração da função
reprodutiva. 2B B2
Adicionado em processos
de tratamento de água e em
águas residuárias (coagulan-
te), na fabricação de papel e
em corantes e adesivos.
Benzeno
Anemia; redução de
plaquetas; aumento de
risco de câncer (tumores e
leucemia); afeta o sistema
nervoso central e imuno-
lógico.
1 A
Solvente comercial utiliza-
do na fabricação de deter-
gentes, pesticidas, borracha
sintética e corantes, assim
como na indústria farmacêu-
tica e na gasolina.
Cloreto de vinila
Exposição crônica causa
lesões de pele, ossos, fíga-
do e pulmão.
1 A
Tubulações de PVC, euen-
tes de indústrias de plásti-
cos; é também usado em
aerosóis.
1,2 Dicloroetano
Aumento de risco de
câncer; causa irritações
nos olhos e no nariz, além
de problemas renais e
hepáticos.
2B B2
Euentes de indústrias
químicas (inseticidas, deter-
gentes, etc.).
1-1 Dicloroeteno
Depressor do sistema
nervoso central, causador
de problemas no fígado
e rins.
3 D
Euentes de indústrias
químicas, contaminante
ocasional da água, em geral
acompanhado de outros
hidrocarbonetos clorados.
Continuação
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
186
Secretaria de Vigilância em Saúde
SUBSTÂNCIAS EFEITOS POTENCIAIS
DECORRENTES DA
INGESTÃO DE ÁGUA
GRUPO
CANCERÍGENO
1
PRINCIPAIS FONTES
DE CONTAMINAÇÃO
IARC USEPA
Diclorometano
Toxicidade aguda reduzi-
da, problemas no fígado.
2B B2
Euentes de indústrias
químicas e farmacêuticas,
está presente em remove-
dores de tintas, inseticidas,
solventes, substâncias de
extintores de incêndio.
Estireno
Toxicidade aguda bai-
xa, irritação de mucosas,
depressor do sistema
nervoso central, possível
hepatotoxicidade.
2B C
Euentes da indústria de
borracha e plástico; chorume
de aterros.
Tetracloreto de carbono
Problemas no fígado,
insuciência renal, expo-
sição crônica pode levar a
problemas gastrointesti-
nais e sintomas de fadiga
(sistema nervoso)
2B B2
Euentes de indústrias
químicas, fabricação de clo-
rouorrmetanos, extintores
de incêndio, solventes e pro-
dutos de limpeza.
Tetracloroeteno
Problemas no fígado e
nos rins.
2B B2
Euentes industriais e de
equipamentos de lavagem
a seco.
Triclorobenzenos
Toxicidade aguda mo-
derada, com efeitos no
fígado.
- D
Euentes da indústria têx-
til, usado como solvente no
tingimento de poliéster.
Tricloroeteno
Potenciais problemas
de tumores pulmonares e
hepáticos.
3 B2
Produtos de limpeza a
seco e removedor para lim-
peza de metais.
FONTE: Adaptado de OMS (1995), USEPA (2000, 2001)
Quadro 3.5 – Agrotóxicos
SUBSTÂNCIA EFEITOS POTENCIAIS
DECORRENTES DA
INGESTÃO DE ÁGUA
GRUPO
CANCERÍGENO
1
PRINCIPAIS FONTES
DE CONTAMINAÇÃO
IARC USEPA
Alaclor
Problemas nos
olhos, fígado, rins,
anemia.
3 B2
Herbicida (milho e feijão).
Aldrin e dieldrin
Efeitos no sistema
nervoso central e
fígado.
3 B2
Pesticidas de solo, proteção de
madeira e combate a insetos de
importância de saúde pública (diel-
drin), uso gradativamente proibido.
Atrazina
Problemas cardio-
vasculares e no siste-
ma reprodutivo.
2B C
Herbicidas (milho e feijão), sendo
relativamente estável no solo e na
água.
Continua...
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
187
Secretaria de Vigilância em Saúde
SUBSTÂNCIA EFEITOS POTENCIAIS
DECORRENTES DA
INGESTÃO DE ÁGUA
GRUPO
CANCERÍGENO
1
PRINCIPAIS FONTES
DE CONTAMINAÇÃO
IARC USEPA
Bentazona
Efeitos no sangue.
- E
Herbicida de amplo espectro,
persistência moderada no meio am-
biente, elevada mobilidade no solo.
Clordano
Problemas no fí-
gado e no sistema
nervoso.
2B B2
Resíduos de formicidas, elevada
mobilidade no solo, uso gradativa-
mente proibido.
2,4 D
Toxicidade aguda a
moderada, problemas
de fígado e nos rins.
2B D
Herbicida utilizado no controle
de macrótas em água, biodegra-
dável na água em uma ou mais
semanas.
DDT
Acumulação no
tecido adiposo e no
leite.
2B
Inseticida persistente e estável,
uso gradativamente proibido.
Endrin
Efeitos no sistema
nervoso.
D
Resíduos de inseticidas e ratici-
das, sendo praticamente insolúvel
em água, uso gradativamente proi-
bido.
Glifosato
Toxicidade redu-
zida, problemas no
fígado e no sistema
reprodutivo.
- D
Herbicida de amplo espectro,
utilizado na agricultura, estável na
água e com baixa mobilidade no
solo.
Heptacloro e
Heptacloro-epóxido
Danos no fígado;
lesões hepáticas.
3 B2
Inseticida de amplo espectro,
com ampla utilização como for-
micida, persistente e resistente no
meio ambiente, uso gradativamen-
te proibido.
Hexaclorobenzeno
Problemas no fíga-
do, nos rins e no sis-
tema reprodutivo.
2B B2
Fungicida, euentes de renarias
de metais e indústria agroquímica.
Lindano
Problemas no fíga-
do e nos rins.
3 C
Utilização de inseticidas em reba-
nho bovino, jardins ou em conser-
vante de madeira. Baixa anidade
com a água, persistente, com redu-
zida mobilidade no solo.
Metolacloro
Evidência reduzida
de carcinogenicidade.
- C
Herbicida, elevada mobilidade no
solo.
Metoxicloro
Possíveis efeitos
carcinogênicos no fí-
gado e problemas no
sistema reprodutivo.
3 B2
Utilização de inseticidas em fru-
tas, hortaliças e na criação de aves.
Molinato
Evidência reduzida
de toxicidade e carci-
nogenicidade.
- -
Herbicida (arroz), pouco persis-
tente na água e no solo.
Continuação
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
188
Secretaria de Vigilância em Saúde
SUBSTÂNCIA EFEITOS POTENCIAIS
DECORRENTES DA
INGESTÃO DE ÁGUA
GRUPO
CANCERÍGENO
1
PRINCIPAIS FONTES
DE CONTAMINAÇÃO
IARC USEPA
Pendimetalina
Evidência reduzida
de toxicidade e carci-
nogenicidade.
- -
Herbicida, baixa mobilidade e
elevada persistência no solo.
Pentaclorofenol
Problemas no fí-
gado e nos rins; fe-
totoxicidade; efeitos
no sistema nervoso
central.
3 D
Euentes de indústrias de conser-
vantes de madeira, herbicida.
Permetrina
Baixa toxicidade.
3 -
Inseticida na proteção de culti-
vos e da saúde pública (combate a
mosquitos em depósitos de água),
elevada anidade com o solo e
reduzida anidade com a água
Propanil
Evidência reduzida
de toxicidade e carci-
nogenicidade.
- -
Herbicida (arroz), elevada mobili-
dade no solo, persistente, reduzida
na água.
Simazina
Evidência reduzida
de toxicidade e carci-
nogenicidade.
3 C
Herbicida de amplo espectro,
elevada persistência e mobilidade
no solo.
Trifuralina
Evidência reduzida
de toxicidade e carci-
nogenicidade.
3
Herbicida de amplo espectro,
pouco solúvel em água.
FONTE: Adaptado de OMS (1995), USEPA (2000, 2001)
O emprego de desinfetantes no tratamento da água pode gerar produtos se-
cundários, potencialmente tóxicos, os quais são objetos de regulamentação cada
vez mais rigorosa.
Entretanto, na visão da OMS, o atendimento aos limites de produtos se-
cundários da desinfecção não deve vir em prejuízo ao atendimento ao pado
microbiogico da água (incluindo os teores residuais de desinfetantes), tendo
em vista a natureza dos riscos à sde impostos pelos produtos secundários
da desinfeão (de longo prazo, por vezes não muito bem fundamentados do
ponto de vista toxicogico e epidemiológico) e os riscos microbiogicos de
transmissão de doeas (de curto prazo, inquestioveis e de grande impacto)
(CRAUN; CASTRO, 1996).
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
189
Secretaria de Vigilância em Saúde
Quadro 3.6 – Desinfetantes e produtos secundários da desinfecção
SUBSTÂNCIA EFEITOS POTENCIAIS
DECORRENTES DA
INGESTÃO DE ÁGUA
GRUPO CANCERÍGENO
(1)
PRINCIPAIS USOS E FONTES
IARC USEPA
Bromato
Tumores renais. 2B - Produto secundário da ozo-
nização, decorrente da oxida-
ção de íons brometo.
Clorito
Pode afetar os he-
matócitos. Evidência
reduzida de toxicidade
e carcinogenicidade.
3 D Produto secundário da desin-
fecção com dióxido de cloro.
Cloro livre
Evidência reduzida
de toxicidade e carci-
nogenicidade.
3 D Higienização na indústria e
no ambiente doméstico, bran-
queador, desinfetante e oxi-
dante de ampla utilização no
tratamento da água.
Monocloroamina
Evidência reduzida
de toxicidade e carci-
nogenicidade.
- - Produto secundário da clo-
ração de águas contendo com-
postos nitrogenados.
2,4,6 Triclorofenol
Indícios de desenvol-
vimento de linfomas
e leucemia em experi-
mentos com animais.
2B B2 Produto secundário da clora-
ção de águas contendo fenóis
(ex.: biocidas e herbicidas).
Trihalometanos
Indícios de efeitos
no fígado, nos rins e
na tireóide.
2B B2 Produto secundário da clora-
ção de águas contendo subs-
tâncias húmicas e brometos.
FONTE: Adaptado de OMS (1995), USEPA (2000, 2001).
Padrão de aceitação para consumo humano
O pado de aceitação para consumo humano é estabelecido com base em
critérios de ordem estica e organoléptica (gosto ou odor) e visa a evitar a
rejeição ao consumo e a busca de outras fontes, eventualmente menos seguras
do ponto de vista da saúde. Algumas substâncias apresentam também risco à
sde, pom o limiar de perceão de gosto e odor dá-se em concentrações
inferiores ao cririo de saúde e, portanto, constam apenas como padrão de
aceitação para consumo. Assim, atendido o padrão de aceitação para consu-
mo para tais substâncias, estaria garantida a segurança saniria. Para outras
substâncias não há evidência alguma, ou minimamente suficiente, de risco
à saúde, ao menos nas concentrões usualmente encontradas em águas de
abastecimento.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
190
Secretaria de Vigilância em Saúde
Quadro 3.7 – Padrão de aceitação para consumo humano
PARÂMETRO VMP
1
EFEITO
Alumínio
0,2 mg/L Depósito de hidróxido de alumínio na rede de distribuição
à acentuação da cor devida ao ferro.
Amônia (como NH
3
)
1,5 mg/L Odor, acentuado em pH elevado.
Cloreto
250 mg/L Gosto.
Cor aparente
15 uH
2
Aspecto estético.
Dureza
500 mg/L Gosto, incrustações, comprometimento
da formação de s com o sabão.
Etilbenzeno
0,2 mg/L Odor – limite 100 vezes inferior ao critério de saúde.
Ferro
0,3 mg/L Aspecto estético – turbidez e cor.
Manganês
0,1 mg/L Aspecto estético – turbidez e cor.
Monoclorobenzeno
0,12 mg/L Gosto e odor – limite bem abaixo do critério de saúde.
Odor
Não objetável
3
Gosto
Não objetável
3
Sódio
200 mg/L Gosto.
Sólidos dissolvidos totais
1.000 mg/L Gosto, incrustações.
Sulfato
250 mg/L Gosto, limite referente ao sulfato de sódio.
Sulfeto de hidrogênio
0,05 mg/L Gosto e odor.
Surfactantes
0,5 mg/L Gosto, odor e formação de espuma.
Tolueno
0,17 mg/L Odor, limite inferior ao critério de saúde.
Turbidez
5 UT
4
Aspecto estético, indicação de integridade do sistema.
Zinco
5 mg/L Gosto.
Xileno
0,3 mg/L Gosto e odor – limite inferior ao critério de saúde.
FONTE: Adaptado de OMS (1995)
1
Valor máximo permitido.
2
Unidade Hazen (mg Pt–Co/L).
3
Critério de referência.
4
Unidade de turbidez.
A seguir, detalham-se algumas características mais comuns ou de mais freqüen-
te monitoramento em águas para consumo humano.
Cor
Em razão da presença de substâncias dissolvidas, decorrentes da de-
composição de matéria orgânica (plâncton, substâncias húmicas), da pre-
sença de substâncias tais como ferro e manganês, ou da introdução de
euentes industriais. Quando a determinação da cor é realizada após cen-
trifugação ou ltração da amostra para se eliminar a interferência de par-
tículas coloidais e suspensas, obtém-se a cor verdadeira. Caso contrário,
tem-se a cor aparente. Cor é um parâmetro essencialmente de natureza
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
191
Secretaria de Vigilância em Saúde
estética e componente do padrão de aceitação para consumo. Entretan-
to, a cor resultante da presença de substâncias orgânicas pode indicar a
existência de precursores de formação de trihalometanos, um subproduto
tóxico da cloração. Cor elevada no sistema de distribuição pode ainda con-
tribuir para o consumo do cloro residual.
pH
O pH (potencial hidrogennico) da água é a medida da atividade dos
íons hidronio e expressa a intensidade de condições ácidas (pH < 7,0) ou
alcalinas (pH > 7,0). Águas naturais tendem a apresentar um pH próximo da
neutralidade, em rao da sua capacidade de tamponamento. Entretanto, as
próprias caractesticas do solo, a presea de ácidos micos (cor intensa)
ou uma atividade fotossintética intensa podem contribuir para a elevação ou
para a redução natural do pH. O valor do pH inui na solubilidade de diversas
subsncias, na forma em que estas se apresentam na água e em sua toxi-
cidade. Além disso, o pH é um parâmetro-chave de controle do processo de
coagulação, fundamental para o bom desempenho de todo o processo de tra-
tamento da água, e a cada água corresponderá um pH ótimo de coagulação.
O condicionamento nal da água após o tratamento pode exigir também a
corrão do pH para evitar problemas de corroo. Mais importante, o pH é
um pametro fundamental de controle da desinfeão, e em pH elevado a
clorão perde ecncia. Na Portaria MS n
o
518/2004 recomenda-se o forne-
cimento de água em pH na faixa de 6,0-9,5.
Cloretos
Cloretos podem estar presentes naturalmente em águas salobras, ou
como resultado de poluição por euentes industriais ou domésticos, cons-
tituindo, portanto, indicador auxiliar de poluição ou contaminação.
Em águas para consumo humano, a concentração de cloretos está di-
retamente associada à alteração de sabor e, portanto, à aceitação para
consumo. Os cloretos presentes na água que alteram sabor são, princi-
palmente, os de sódio, os de potássio e os de cálcio, em concentrações
superiores a 200-300 mg/L. No padrão de potabilidade brasileiro, o valor
máximo permitido é de 250 mg/L. Cloretos não são removidos por proces-
sos convencionais de tratamento, sendo necessários processos especiais,
tais como osmose reversa ou eletrodiálise.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
192
Secretaria de Vigilância em Saúde
Ferro e Manganês
Os sais de ferro e mangas (por exemplo, carbonatos, sulfetos e cloretos)
quando oxidados formam precipitados e conferem à água sabor e uma colo-
ração que pode provocar manchas em sanitários, em roupas e em produtos
industriais como o papel. Salvo casos especícos, em virtude das caractes-
ticas geoquímicas das bacias de drenagem, os teores de ferro e mangas
soveis em águas superciais tendem a ser baixos. Águas subterneas eso
mais propensas a apresentar teores mais elevados. Na água distribda, pro-
blemas mais freentes eso relacionados com a corroo e com a incrus-
tação em tubulações. Como medidas preventivas à formão de depósitos e
ao crescimento de ferrobactérias em poços de águas subterneas, devem ser
mantidos elevados teores de oxigênio (>2 mg/L) e cloro residual superior a
0,2 mg/L. Em geral, essas subsncias não estão associadas a problemas de
saúde e por isso compõem o padrão de aceitação para consumo.
Alumínio
Embora o metabolismo do alumínio pelo organismo humano não seja
ainda bem conhecido e alguns trabalhos sugiram sua associação com o
Mal de Alzheimer, até o presente seus efeitos tóxicos não foram com-
provados. Ademais, o alumínio é um elemento abundante na natureza
e a exposição humana pelo consumo de água é relativamente reduzida.
Portanto, apesar de sua larga utilização no tratamento de água, as evidên-
cias disponíveis sugerem a manutenção de valores máximos permitidos
referentes apenas à aceitação para consumo: concentrações acima de 0,2
mg/L podem provocar depósitos de ocos de hidróxido de alumínio em
sistemas de distribuição e acentuar a coloração por ferro.
Turbidez
Na água distribuída, a turbidez informa sobre a estanqueidade do sis-
tema de distribuição, e sua elevação pode indicar inltrações na rede e
riscos de pós-contaminação. No ponto de consumo, a turbidez assume
também importância estético-organoléptica, podendo provocar rejeição
ao consumo. O padrão de turbidez para água distribuída é de 5,0 UT.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
193
Secretaria de Vigilância em Saúde
Gosto e odor
Gosto e odor podem ter origem natural, por exemplo em virtude da
presença de matéria orgânica ou de organismos aquáticos, ou podem ser
conferidos à água pela presença de contaminantes químicos ou de sub-
produtos da desinfecção.
Gosto e odor constam no padrão de potabilidade (padrão de aceita-
ção) apenas como critérios de referência, não constituindo análises obri-
gatórias. Apesar disso, gosto e odor não usuais em uma determinada água
podem servir como alerta de contaminação e de necessidade de investiga-
ção da sua origem, como no caso de algas e cianobactérias.
Sempre que possível, deve-se procurar implementar rotinas e técnicas de
detecção de gosto e odor, descritas, por exemplo, no Standard Methods for
the Examination of Water and Wastewater (APHA, 1998).
METODOLOGIAS ANALÍTICAS
Parâmetros microbiológicos
As técnicas de detecção de coliformes desenvolveram-se em paralelo ao co-
nhecimento sobre esse grupo de bactérias e, hoje, encontram-se baseadas na ve-
rificação de respostas bioquímicas em face do crescimento de microorganismos
em meios de cultura específicos.
Os métodos tradicionais valem-se fundamentalmente das seguintes caracterís-
ticas básicas das bactérias do grupo coliforme:
coliformes (totais): fermentação da lactose com produção de ácido e gás em
24-48 horas a 35-37
o
C;
coliformes termotolerantes (fecais): fermentação da lactose com produção
de ácido e gás em 24 horas a 44-45
o
C;
E. coli: fermentação da lactose com produção de ácido e gás e produção si-
multânea de indol a partir do triptofano em 24 horas a 44-45
o
C.
Como as condões ambientais em águas naturais e tratadas são adversas
às bacrias enricas, estas podem encontrar-se em condições de estresse me-
tabólico e, para se evitarem resultados falso-negativos, devem-lhes ser ofere-
cidas condões de crescimento as mais favoráveis possíveis. Por essa razão,
as amostras são inicialmente incubadas em meios de cultura pouco seletivos,
o que vem a constituir os ensaios presuntivos. Entretanto, os ensaios pre-
suntivos podem incluir resultados falso-positivos e, por isso, os testes devem
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
194
Secretaria de Vigilância em Saúde
ser confirmados em meios de cultura mais seletivos, constituindo os ensaios
confirmativos.
As técnicas de determinação de coliformes baseadas na fermentação da lactose
são trabalhosas: requerem duas temperaturas de incubação (35,5 ± 0,2
o
C para
coliformes totais e 44,5 ± 0,2
o
C para coliformes termotolerantes) e sucessivas repi-
cagens, podendo totalizar 72 h para leitura conclusiva.
Os métodos cromogênicos são superiores em sensibilidade e especificidade
na detecção de coliformes e de E. coli (menor ocorrência de resultados falso-
positivos e falso-negativos) por serem baseados na hidrólise de substratos de-
finidos por enzimas espeficas das espécies: ß-galactosidase dos coliformes;
ß-galactosidase e ß-glucoronidase da E. coli. Adicionalmente, apresentam a
dupla vantagem de dispensarem o emprego de temperatura elevada (o há
determinação de coliformes termotolerantes) e de fornecerem leitura em 24
horas, tanto para coliformes totais quanto para E. coli, em geral prescindindo
de testes confirmativos.
As análises podem também ser classificadas em qualitativas (presença/ausência
P/A) e quantitativas, quando se pretende, respectivamente, detectar a mera pre-
sença de um organismo na água ou determinar sua densidade em número de orga-
nismos em um dado volume (usualmente 100 mL). Os métodos quantitativos mais
comumente utilizados são os dos tubos múltiplos (TM) ou método da diluição e a
técnica da membrana filtrante (MF). A quantificação dos métodos cromogênicos
pode ser realizada com o emprego da técnica de tubos múltiplos ou em cartelas
comercialmente disponíveis.
A escolha das técnicas de análise deve ser resultado da avaliação da sensibilidade e
especificidade requeridas para o tipo de amostra (água bruta, tratada ou distribuída)
e de possibilidades técnico-financeiras.
Aplicando-se o exposto às exigências nimas estabelecidas na Portaria
MS n
o
518/2004 em termos de monitoramento bacteriogico, obtém-se o
seguinte esquema:
Fontes individuais de abastecimento
Coliformes totais, coliformes termotolerantes e/ou E. coli – exame qua-
litativo ou quantitativo, conrmativo.
Água bruta a receber processo de tratamento
Coliformes totais e/ou termotolerantes exame quantitativo, conrma-
tivo (Resolução Conama n
o
357/2005).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
195
Secretaria de Vigilância em Saúde
Saída do tratamento e sistema de distribuição
Coliformes totais:
exame qualitativo presuntivo – se positivo, exame conrmativo;
ensaio qualitativo conrmativo se positivo, exame qualitativo para
coliformes termotolerantes e/ou E. coli.
Coliformes termotolerantes e/ou E. coli exame qualitativo conrmativo.
Da Portaria MS n
o
518/2004 destaca-se:
“No controle da qualidade da água, quando forem detectadas amos-
tras com resultado positivo para coliformes totais, mesmo em ensaios
presuntivos, novas amostras devem ser coletadas em dias imediata-
mente sucessivos até que as novas amostras revelem resultado satisfa-
tório. Nos sistemas de distribuição, a recoleta deve incluir, no mínimo,
três amostras simultâneas, sendo uma no mesmo ponto e duas outras
localizadas a montante e a jusante” (artigo 11, parágrafo 1
o
).
Amostras com resultados positivos para coliformes totais devem ser
analisadas para Escherichia coli e, ou, coliformes termotolerantes, de-
vendo, neste caso, ser efetuada a vericação e conrmação dos resul-
tados positivos” (artigo 11, parágrafo 2
o
).
Cabe reforçar o fato de que em qualquer situação o indicador mais
preciso de contaminação é a E. coli, portanto sua deteção deve ser pre-
ferencialmente adotada.
O quadro 3.8 resume os princípios analíticos recomendáveis para os parâmetros
microbiológicos da Portaria MS n
o
518/2004.
Quadro 3.8todos anaticos empregados na aplicação da Portaria
MS n
o
518/2004 – parâmetros microbiológicos
PARÂMETROS PRINCÍPIO ANALÍTICO REFERÊNCIAS
Organismos indicadores
Coliformes (totais)
Tubos múltiplos fermentação da lactose; Membranaltrante;
Técnica do substrato denido métodos cromogênicos.
9221 B D, 9222 B, 9223
Coliformes
termotolerantes
Tubos múltiplos – fermentação da lactose;
Membrana ltrante.
9221 E, 9222 D
E. coli
Tubos múltiplos fermentação da lactose; Membranaltrante;
Técnica do substrato denido métodos cromogênicos.
9221 F, 9223
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
196
Secretaria de Vigilância em Saúde
PARÂMETROS PRINCÍPIO ANALÍTICO REFERÊNCIAS
Contagem
de bactérias
heterotrócas
Contagem em placas. 9215 B C D
Organismos patogênicos
Giardia
Concentração – identicação em microscopia
de imunouorescência.
EPA 1622 1623
Cryptosporidium
Cianobactérias
Microscopia. Chorus e Bartram (1999)
Vírus
Soro neutralização, ELISA, PCR, outros. 9150
PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS
No quadro 3.9 são apresentados os parâmetros físico-químicos previstos na
Portaria MS n
o
518/2004 e os respectivos métodos analíticos recomendados. Em
apêndice, apresenta-se uma breve descrição dos princípios analíticos.
Quadro 3.9 – Métodos analíticos empregados na aplicação da Portaria MS
n
o
518/2004 – parâmetros físico-químicos
PARÂMETROS PRINCÍPIO ANALÍTICO/EQUIPAMENTO REFERÊNCIAS (*)
Químicos inorgânicos que representam riscos à saúde
Antimônio
Espectrofotometria de absorção atômica, espectrometria de massa. 3500 – Sb
Arsênio
Espectrofotometria de absorção atômica, espectrometria de massa. 3500 – As (A e B)
Bário
Espectrofotometria de luz visível,
espectrofotometria de absorção atômica.
3500 – Ba
Cádmio
Espectrofotometria de luz visível,
espectrofotometria de absorção atômica.
3500 – Cd
Cianeto
Espectrofotometria de luz visível, potenciometria –
eletrodo seletivo.
4500 -CN
-
(B,C,E,F)
Chumbo
Espectrofotometria de luz visível,
espectrofotometria de absorção atômica.
3500 – Pb
Cobre
Espectrofotometria de luz visível,
espectrofotometria de absorção atômica.
3500 – Cu
Cromo
Espectrofotometria de luz visível,
espectrofotometria de absorção atômica.
3500 – Cr (A e B)
Fluoreto
(2)
Potenciometria eletrodo seletivo, espectrofotometria de luz vivel. 4500 – F
-
Mercúrio
Espectrofotometria de luz visível,
espectrofotometria de absorção atômica.
3500 – Hg
Nitrato
Espectrofotometria de luz visível, potenciometria eletrodo seletivo. 4500 – NO
3
Nitrito
Espectrofotometria de luz visível. 4500 – NO
2
Selênio
Espectrofotometria de luz visível,
espectrofotometria de absorção atômica.
3500 – Se (A, B e C)
Químicos orgânicos que representam riscos à saúde
Benzeno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6200 B,C
Continua...
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
197
Secretaria de Vigilância em Saúde
PARÂMETROS PRINCÍPIO ANALÍTICO/EQUIPAMENTO REFERÊNCIAS (*)
Benzo[a]pireno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6410 B; 6440 – B
Cloreto de Vinila
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6200 B,C
1,2 Dicloroetano
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6200 B,C
1,1 Dicloroeteno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6200 B,C
Diclorometano
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6200 B,C
Estireno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6200 B,C
Tetracloreto de
Carbono
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6200 B,C
Tetracloroeteno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6040 B; 6200 B,C
Triclorobenzenos
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6040; 6200 B,C; 6410 B
Tricloroeteno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6040 B; 6200 B,C
Agrotóxicos
Aldrin e Dieldrin
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6410 B, 6630 B,C
Bentazona
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6640 B
Clordano (isômeros)
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6410 B, 6630 B,C
2,4 D
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6640 B
DDT (isômeros)
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6410 B, 6630 B,C
Endossulfan
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6410 B, 6630 B,C
Endrin
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6410 B, 6630 B,C
Glifosato
Cromatograa líquida. 6651 B
Heptacloro e
Heptacloro epóxido
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6410 B, 6630 B,C
Hexaclorobenzeno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6040 B; 6410 B
Lindano (γ-BHC)
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6630 B
Metoxicloro
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6630 B
Pentaclorofenol
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6410 B; 6420 B; 6640 B
Triuralina
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6630 B
Cianotoxinas
Microcistinas
(3)
Cromatograa líquida (LD 1 µg/L); imunoensaio
(ELISA – Kits comerciais, LD 16 ppb).
Chorus e Bartram (1999)
Desinfetantes e produtos secundários da desinfecção
Clorito
Amperometria, titulometria, colorimetria (DPD). 4500 ClO2 C, D, E
Cloro livre
Amperometria, titulometria, colorimetria (DPD). 4500 Cl- D, E, F, G, H
Monocloramina
Amperometria, titulometria, colorimetria (DPD). 4500 Cl- D, F, G
2,4,6 Triclorofenol
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6251, 6410 B, 6420 B
Trihalometanos
Totais
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6232 B,C,D
Químicos inorgânicos – padrão de aceitação para consumo
Alumínio
Espectrofotometria de luz visível, espectrofotometria de absor-
ção atômica, espectrometria de massa.
3500 – Al
Amônia
Espectrofotometria de luz visível, potenciometria – eletrodo
seletivo.
4500 – NH
3
D, E, F, G, H
Continuação
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
198
Secretaria de Vigilância em Saúde
PARÂMETROS PRINCÍPIO ANALÍTICO/EQUIPAMENTO REFERÊNCIAS (*)
Cloreto
Titulometria, espectrofotometria de luz visível.
4500 – Cl- B, C, D, E
4110
Dureza
Titulometria. 2340
Ferro
Espectrofotometria de luz visível, espectrofotometria
de absorção atômica.
3500 – Fé
Manganês
Espectrofotometria de luz visível, espectrofotometria
de absorção atômica.
3500 – Mn
Sódio
Espectrometria de chama. 3500 – Na
Sulfato
Turbidimetria, gravimetria, cromatograa iônica. 4500 – SO4 2-, 4110
Sulfeto de
Hidrogênio
Potenciometria – eletrodo seletivo. 4500 – S 2-
Surfactantes
Espectrofotometria de luz visível. 5540
Zinco
Espectrofotometria de luz visível espectrofotometria
de absorção atômica.
3500 – Zn
Químicos orgânicos – padrão de aceitação para consumo
Etilbenzeno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6040 B; 6200 B, C
Monoclorobenzeno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6040 B; 6200 B, C
Tolueno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6200 B,C
Xileno
Cromatograa gasosa/espectrometria de massa. 6040 B; 6200 B, C
Físicos – padrão de aceitação para consumo
Cor verdadeira
Comparação visual com padrões de Pt-Co. 2120 B
Sólidos dissolvidos
totais
Método gravimétrico com secagem a 180
o
C. 2540 C
Turbidez
Método nefelométrico. 2130
* A menos que especificado em contrário, as referências são do
Standard Methods for the Examina-
tion of Water and Wastewater (APHA,1998), da Environmental Protection Agency (EPA) (EUA)
3.2 AMOSTRAGEM DA QUALIDADE DA ÁGUA
PARA CONSUMO HUMANO
A amostragem constitui uma etapa crucial para as boas práticas no abasteci-
mento de água. O princípio que a orienta é o de que as características da água são
modificadas em seu percurso nos sistemas e nas soluções alternativas de abasteci-
mento de água. Essas variações necessitam ser conhecidas, pois fornecem impor-
tantes elementos para:
subsidiar a avaliação do risco ao qual os consumidores estão submetidos, no
uso de água contaminada por diversos agentes e em setores específicos da
distribuição;
permitir a correção do problema específico de contaminação identificado;
permitir a correção dos problemas operacionais geradores da anomalia.
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
199
Secretaria de Vigilância em Saúde
O planejamento de uma estratégia de amostragem é uma tarefa complexa por-
que, além das determinações da legislação, deve-se procurar observar o melhor
procedimento para a detecção das eventuais anomalias e para a proteção da saúde
da população. Para tanto, a Portaria MS n
o
518/2004 estabelece orientações para
diversos aspectos da amostragem do controle de qualidade da água para consumo
humano, conforme desenvolvido nos itens a seguir. A Portaria estabelece ainda que
a autoridade de saúde pública, no exercício das atividades de vigilância, deve imple-
mentar seu plano próprio de amostragem.
NÚMERO DE AMOSTRAS E FREQÜÊNCIA DE AMOSTRAGEM
O número mínimo de amostras em sistemas de abastecimento de água varia de
acordo com o parâmetro de qualidade da água, o ponto de amostragem (saída do
tratamento e reservatórios/rede), o porte da população abastecida e o tipo de ma-
nancial. A Tabela 6 da Portaria, transcrita a seguir, apresenta as condições.
Tabela 6
Número mínimo de amostras para o controle da qualidade da água
de sistema de abastecimento, para ns de análises físicas, químicas
e de radioatividade, em função do ponto de amostragem, da população
abastecida e do tipo de manancial
PARÂMETRO TIPO DE
MANANCIAL
SAÍDA DO TRATAMENTO
(NÚMERO DE AMOSTRAS
POR UNIDADE
DE TRATAMENTO)
SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO (RESERVATÓRIOS E REDE)
POPULAÇÃO ABASTECIDA
< 50.000
HAB.
50.000 A
250.000 HAB.
>
250.000 HAB.
Cor
Turbidez
pH
Supercial
1 10 1 para cada
5.000 hab.
40 + (1 para cada
25.000 hab.)
Subterrâneo
1 5 1 para cada
10.000 hab.
20 + (1 para cada
50.000 hab.)
CRL
1
Supercial
1 (Conforme § 3
o
do artigo 18).
Subterrâneo
1
Fluoreto Supercial ou
Subterrâneo
1 5 1 para cada
10.000 hab.
20 + (1 para cada
50.000 hab.)
Cianotoxinas Supercial
1 (Conforme § 5
o
do artigo 18) - - -
Trihalometanos
Supercial
1 1
2
4
2
4
2
Subterrâneo
- 1
2
1
2
1
2
Demais
parâmetros
3
Supercial ou
Subterrâneo
1 1
4
1
4
1
4
1
Cloro residual livre.
2
As amostras devem ser coletadas, preferencialmente, em pontos de maior tempo de detenção da
água no sistema de distribuição.
3
Apenas será exigida obrigatoriedade de investigação dos parâmetros radioativos quando da evi-
dência de causas de radiação natural ou artificial.
4
Dispensada análise na rede de distribuição quando o parâmetro não for detectado na saída do
tratamento e, ou, no manancial, à exceção de substâncias que potencialmente possam ser intro-
duzidas no sistema ao longo da distribuição.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
200
Secretaria de Vigilância em Saúde
A freqüência mínima de amostragem em sistemas de abastecimento de água é
dependente das mesmas variáveis, conforme a seguir:
Tabela 8
Número mínimo de amostras mensais para o controle da qualidade da
água de sistema de abastecimento, para ns de análises microbiológicas,
em função da população abastecida
PARÂMETRO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO (RESERVATÓRIOS E REDE)
POPULAÇÃO ABASTECIDA
< 5.000 HAB. 5.000 A 20.000
HAB.
20.000 A 250.000
HAB.
> 250.000 HAB.
Coliformes
totais
10 1 para cada
500 hab.
30 + (1 para cada
2.000 hab.)
105 + (1 para cada 5.000
hab.) Máximo de 1.000
NOTA: Na saída de cada unidade de tratamento devem ser coletadas, no mínimo, 2 (duas) amostras
semanais, recomendando-se a coleta de, pelo menos, 4 (quatro) amostras semanais.
A aplicação das tabelas é direta, conforme exemplo a seguir.
ESTUDO DE CASO
Dimensionar a rede de amostragem para um sistema de abastecimento de água
com população abastecida de 62.000 habitantes, captação em mananciais superfi-
ciais, com duas estações de tratamento de água que empregam cloro para a desin-
fecção e sem evidências de radiação de origem natural ou artificial.
SOLUÇÃO
Número mínimo de pontos de amostragem
Coliformes totais (amostras mensais)
Saída do tratamento 2
Reservatórios e rede: 30 + (62.000/2.000) = 61
Total 63
Contagem de bactérias heterotróficas – amostras mensais (atendendo
à recomendação do artigo 18, parágrafo 4
o
)
Saída do tratamento 2
Reservatórios e rede: 0,20 x 61 = 12,2 13
Total 15
Cloro residual livre – amostras mensais (conforme artigo 18 pagrafo 3
o
) 63
Turbidez – amostras mensais (atendendo à recomendação do artigo 18,
parágrafo 4
o
) 63
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
201
Secretaria de Vigilância em Saúde
Cor e pH
Uma amostra na saída de cada ETA 02
Reservatórios e rede: 62.000/5.000 = 12,4 13
Total 15
Fluoreto
Uma amostra na saída de cada ETA 02
Reservatórios e rede: 62.000/10.000 = 6,2 07
Total 09
Cianotoxinas (assumindo a não-detecção de mais de 20.000 células/mL
no manancial)
Trihalometanos
Uma amostra na saída de cada ETA 02
Reservatórios e rede (pontos de maior tempo de detenção) 04
Total 06
Demais parâmetros (exceto radiativos)
Uma amostra na saída de cada ETA 02
Reservatórios e rede (dispensados quando não for detectado
na saída do tratamento e/ou no manancial, à exceção de substâncias
que potencialmente possam ser introduzidas na distribuição) 01
Total 03
ainda a recomendação de pesquisa de organismos patogênicos, entre
outros, enterovírus, cistos de Giardia spp. e oocistos de Cryptosporidium sp
(artigo 11, parágrafo 7
o
).
Freqüência mínima de amostragem
Coliformes totais
Saída do tratamento 4 amostras/semana (recomendação)
Reservatórios e rede mensal
Contagem de bactérias heterotróficas (recomendação)
Saída do tratamento semanal
Reservatórios e rede mensal
Cloro residual livre, turbidez, cor, pH e fluoreto
Saída de cada ETA a cada 02 horas
Reservatórios e rede mensal
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
202
Secretaria de Vigilância em Saúde
Trialometanos
Saída de cada ETA trimestral
Reservatórios e rede (pontos de maior tempo de detenção) trimestral
Demais parâmetros (exceto radiativos)
Saída de cada ETA semestral
Reservatórios e rede (dispensados quando não for detectado na saída do
tratamento e/ou no manancial, à exceção de substâncias que potencial-
mente possam ser introduzidas na distribuição) semestral
Obs.: O exemplo não inclui detalhamento da amostragem no(s) manancial(is),
que deve semestral.
Resumo – Número total de análises em um período de um ano
PARÂMETRO DIMENSIONAMENTO TOTAL
Coliformes totais
(2 x 4 x 52) + (61 x 12) 1.148
Contagem de bactérias heterotrócas
1.148 x 0,2 230
Cloro residual livre
(2 x 365 x 24/2) + (61 x 12) 9.492
Turbidez
(2 x 365 x 24/2) + (61 x 12) 9.492
Cor e pH
(2 x 365 x 24/2) + (13 x 12) 8.916
Fluoreto
(2 x 365 x 24/2) + (7 x 12) 8.844
Trihalometanos
6 x 4 24
Demais parâmetros
1
2 x 2 4
Demais parâmetros
2
3 x 2 6
1
Não detectado na saída do tratamento nem no manancial, sendo substância que não possa poten-
cialmente ser introduzida na distribuição.
2
Detectado na saída do tratamento ou no manancial ou ainda substância que possa potencialmen-
te ser introduzida na distribuição.
Para o caso de soluções alternativas, aplica-se o disposto na tabela 9, que
define o mero nimo de amostras e a freência nima de amostragem
em função do tipo de manancial e do ponto de amostragem. Observe-se que
são exigidas análises apenas dos pametros coliformes totais, cor, turbidez,
pH e cloro residual livre.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
203
Secretaria de Vigilância em Saúde
Tabela 9
Número mínimo de amostras e freqüência mínima de amostragem para o
controle da qualidade da água de solução alternativa, para ns de análises
físicas, químicas e microbiológicas, em função do tipo de manancial e do
ponto de amostragem
PARÂMETRO TIPO DE
MANANCIAL
SAÍDA DO
TRATAMENTO
(PARA ÁGUA
CANALIZADA)
NÚMERO DE AMOSTRAS
RETIRADAS NO PONTO DE
CONSUMO
1
(PARA CADA 500 HAB.)
FREQÜÊNCIA DE
AMOSTRAGEM
Cor, turbidez,
pH e coliformes
totais
2
Supercial 1 1 Semanal
Subterrâneo 1 1 Mensal
CRL
2
3
Supercial ou
subterrâneo
1 1 Diário
1
Devem ser retiradas amostras em, no mínimo, três pontos de consumo de água.
2
Para veículos transportadores de água para consumo humano, deve ser realizada 1 (uma) análise
de CRL em cada carga e 1 (uma) análise, na fonte de fornecimento, de cor, turbidez, pH e colifor-
mes totais com freqüência mensal, ou outra amostragem determinada pela autoridade de saúde
pública.
3
Cloro residual livre.
REQUISITOS PARA A ESCOLHA DOS PONTOS DE AMOSTRAGEM
A escolha dos pontos de amostragem é uma atividade crucial no planejamento
do controle da qualidade da água, tratando-se de uma definição muito específica
para cada sistema de abastecimento. A Portaria MS n
o
518/2004 fornece diretrizes
gerais para o tema, conforme expresso no primeiro parágrafo do artigo 18.
§ 1
o
A amostragem deve obedecer aos seguintes requisitos:
I. distribuição uniforme das coletas ao longo do período; e
II. representatividade dos pontos de coleta no sistema de distribuição (re-
servatórios e rede), combinando critérios de abrangência espacial e pon-
tos estratégicos, entendidos como aqueles próximos a grande circulação
de pessoas (terminais rodoviários, terminais ferroviários, etc.) ou edifícios
que alberguem grupos populacionais de risco (hospitais, creches, asilos,
etc.), aqueles localizados em trechos vulneráveis do sistema de distribui-
ção (pontas de rede, pontos de queda de pressão, locais afetados por
manobras, sujeitos à intermitência de abastecimento, reservatórios, etc.)
e locais com sistemáticas noticações de agravos à saúde, tendo como
possíveis causas agentes de veiculação hídrica.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
204
Secretaria de Vigilância em Saúde
Como se observa na amostragem, sobretudo em redes de distribuição, a Porta-
ria MS n
o
518/2004 orienta para:
Distribuição uniforme das coletas ao longo do período, ou seja: se é neces-
sária a análise de 61 amostras por mês para coliformes totais na rede (ver
Estudo de Caso), essas coletas não devem concentrar-se em alguns poucos
dias do mês, mas sim ser distribuídas uniformemente ao longo do mês, por
exemplo, com cerca de duas coletas por dia. Além disso, é conveniente que a
hora da coleta varie de dia para dia e a ordem dos pontos varie de mês para
mês, de modo que garanta maior aleatoriedade na amostragem e se evite a
coincidência de eventos que variem segundo o dia do mês.
Que a distribuição dos pontos obedeça ao critério de representatividade,
conciliando duas condições: abrangência espacial e adoção de pontos estra-
tégicos. Estes últimos devem considerar quatro critérios:
proximidade a locais de grande circulação de pessoas;
edificações que alberguem grupos populacionais particularmente
vulneráveis;
localização em trechos vulneráveis do sistema de distribuição;
locais com sistemáticas notificações de agravos à saúde possivelmente de-
terminados por agentes de veiculação hídrica, definição esta que necessita
de participação da área da saúde pública.
Logo, a distribuição dos 61 pontos ao longo do sistema de distribuição deveria
buscar um equilíbrio entre certo número deles nos pontos estratégicos e o restante
com uma adequada e representativa distribuição espacial.
Em relação a este último ponto o que significa uma adequada abrangência
espacial? – alguns estudos vêm praticando o conceito de cobertura de amostragem,
buscando maximizar a capacidade de detecção de contaminantes com a localização
dos pontos (VASCONCELOS NETO ET AL., 2000).
CONDIÇÕES GERAIS PARA A AMOSTRAGEM
Diversas condições devem ser observadas na amostragem, algumas delas pre-
vistas na própria Portaria MS n
o
518/2004 e outras lembradas na literatura, con-
forme a seguir:
O plano de amostragem relativo ao controle da qualidade da água de sistema
ou solução alternativa de abastecimento de água deve ser aprovado pela au-
toridade de saúde pública (artigo 18).
No mero nimo de amostras coletadas na rede de distribuição, o se in-
cluem as amostras microbiológicas extras (recoletas) (artigo 18, parágrafo 2
o
).
Quando o manancial é superficial, devem ser coletadas amostras semestrais
da água bruta, junto do ponto de captação, para análise de acordo com os
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
205
Secretaria de Vigilância em Saúde
parâmetros exigidos na legislação vigente de classificação e enquadramento
de águas superficiais, avaliando-se a compatibilidade entre as características
da água bruta e o tipo de tratamento existente (artigo 19).
O monitoramento de cianobactérias na água do manancial, no ponto de cap-
tação, deve obedecer a freqüência mensal, quando o número de cianobactérias
não exceder 10.000 lulas/mL (ou 1mm
3
/L de biovolume), e semanal, quando
o número de cianobactérias exceder este valor (artigo 19, parágrafo 1
o
).
É vedado o uso de algicidas para o controle do crescimento de cianobactérias
ou qualquer intervenção no manancial que provoque a lise das células desses
microorganismos, quando a densidade das cianobactérias exceder 20.000 cé-
lulas/mL (ou 2mm
3
/L de biovolume), sob pena de comprometimento da ava-
liação de riscos à saúde associados às cianotoxinas (artigo 19, parágrafo 2
o
).
A freqüência de amostragem deve aumentar em períodos de epidemias, en-
chentes, operações de emergência ou após a interrupção do abastecimento e
reparos no sistema (WHO, 1993).
Em sistemas que servem pequenas comunidades, inspeções sanitárias pe-
riódicas podem fornecer mais informações que a amostragem com baixa
freqüência (WHO, 1993).
A coleta de amostra deve ser muito cuidadosa, para evitar a contaminação
da amostra e/ou a alteração de suas características durante o transporte, de-
vendo ser rigorosamente observadas as normas técnicas aplicáveis.
3.3 CONTROLE DE QUALIDADE EM LABORATÓRIOS
Programas de controle de qualidade em laboratórios podem ser genericamente
definidos como um conjunto de ações com o objetivo de garantir a produção de
resultados com a máxima confiabilidade. Devem, preferencialmente, ser formali-
zados em documentação específica, abrangendo os seguintes aspectos, atividades
e/ou metas:
Recursos humanos: descrição da qualificação e da capacitação necessárias às
diversas atividades técnicas ou gerenciais.
Equipamentos e instrumentação: cadastro dos equipamentos, estado de
conservação, procedimentos de calibração, requerimentos e freqüência de
manutenção.
Especificação de suprimentos: a fim de garantir que todos os reagentes e
suprimentos em geral atendam aos requisitos específicos de qualidade, assim
como para orientar testes de controle de qualidade.
Padronização de procedimentos: documentação detalhada de todos os
procedimentos de rotina do laboratório, incluindo regras de segurança,
métodos e técnicas analíticas, procedimentos de coleta e armazenamen-
to de amostras, calibração de instrumentos, preparo de armazenamento
de reagentes, etc. Métodos analíticos devem ser padronizados e/ou va-
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
206
Secretaria de Vigilância em Saúde
lidados, mantendo-se documentadas as respectivas precisões, sensibili-
dade e especificidade.
Organização de banco de dados: incluindo fluxo de informações e arquivo.
Medidas de controle de qualidade analítica: incluindo verificações de roti-
na por meio de análises em réplicas, controles positivos e negativos, controle
interlaboratorial, calibração de instrumentos e equipamentos, etc.
As informações ora apresentadas têm caráter genérico e de orientação básica.
Para a implementação de programas de qualidade internos e externos, deve-se re-
correr a publicações específicas, tal como o Standard Methods for the Examination
of Water and Wastewater (APHA, 1998).
4
INFORMAÇÃO SOBRE A QUALIDADE DA ÁGUA
PARA CONSUMO HUMANO
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
209
Secretaria de Vigilância em Saúde
4.1 GERENCIAMENTO DE INFORMAÇÕES EM SISTEMAS
E SOLUÇÕES ALTERNATIVAS COLETIVAS
DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
CARACTERÍSTICAS SICAS E OPERACIONAIS DE SISTEMAS E
SOLUÇÕES ALTERNATIVAS COLETIVAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
A caracterização física e operacional de sistemas e soluções alternativas de abas-
tecimento de água é um instrumento valioso de gestão, de identificação de fatores
de risco à saúde e de avaliação de sua distribuição e evolução espacial e temporal.
Para tanto, é essencial que os responsáveis pelos serviços procurem manter um
cadastro o mais detalhado possível das instalações físicas, que deve ser atualizado
sempre que alguma modificação for introduzida. Essa atividade deve ser prevista
na rotina operacional de todos os sistemas ou soluções alternativas de abasteci-
mento de água.
Funções do cadastro
Permitir aos prossionais que atuam nos sistemas ou soluções alterna-
tivas conhecer os detalhes das suas instalações físicas.
Perpetuar as informações para os novos prossionais que assumem os
serviços, por ampliação da equipe ou por eventuais substituições.
Informar tais características à vigilância da qualidade da água para con-
sumo humano, para que esta possa exercer efetivamente sua função.
Para o cadastro de sistemas ou solões alternativas, não há necessariamen-
te uma padronização. Trata-se, essencialmente, da constrão e da atualiza-
ção permanentes de uma base de informações, as mais completas possíveis, de
todo o sistema: desde o manancial e a captão, até o tratamento e o sistema de
distribuição. Na medida do possível, e quando cabível, as informações devem
ser traduzidas em plantas e mapas e, idealmente, guardadas e manipuladas
em meios eletrônicos, por exemplo, com recursos de Sistemas de Informações
Geogficas (SIG).
Naturalmente que, para se cumprirem metas ambiciosas e detalhadas, não
“fórmulas. O que segue constitui apenas sugestões de caráter geral.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
210
Secretaria de Vigilância em Saúde
Quadro 4.1 – Informações relevantes para a caracterização de sistemas
e soluções alternativas de abastecimento de água
ITEM DESCRIÇÃO
Informações
gerais
Nome do sistema, regiões que abastece (distritos, bairros, etc.), população abastecida, consu-
mo per capita médio anual, taxa de crescimento populacional e evolução do consumo de água.
Manancial
Tipo e descrição do manancial, descrição/diagnóstico da bacia uso e ocupão do solo, fon-
tes pontuais e difusas de poluão, condições de proteção do manancial, vaes mínima, dia
e xima (séries históricas), volume de água armazenado, histórico da qualidade da água.
Captação
Descrição e localização das unidades de captação, vazão de adução, capacidade instalada
de adução, número e estado de conservação de bombas.
Tratamento
Projeto da ETA, parâmetros de projeto e reais de operação de cada processo unitário de
tratamento, capacidade instalada de tratamento (infra-estrutura, equipamentos e insumos),
condições de operação e manutenção, controle operacional realizado, histórico da qualida-
de da água.
Distribuição
Localização e descrição de reservatórios de distribuição, cadastro detalhado da rede de
distribuição, materiais utilizados, estado de conservação, mapeamento de zonas de consu-
mo (distribuição espacial de consumo per capita) e zonas de pressão, mapa de pressões da
rede de distribuição, mapeamento de pontos críticos (ex.: vazamentos constantes, zonas
de baixa pressão, zonas de intermitência de abastecimento), controle operacional realizado
(ex.: manobras, reparos, descarga e limpeza de rede), histórico da qualidade da água.
Como orientação geral, para o cadastramento dimensional das unidades dos sis-
temas e soluções alternativas coletivas, que pode ter como referência, para sua reali-
zação, os projetos desenvolvidos e implantados, cabem as seguintes observações:
As dimensões das estruturas como tanques diversos, captações, estações
elevatórias, estações de tratamento e reservatórios devem ser registradas
em planta e em elevações em escalas adequadas. As elevações das estruturas e
do terreno devem ser apresentadas com base em referências de nível seguras.
Tubulações e equipamentos eletromecânicos também dever ser especifica-
dos, com atenção para a correta apresentação de diâmetros e materiais.
Adutoras e rede devem ser cuidadosa e devidamente cadastradas, com aten-
ção para aquelas enterradas. Nesse caso, diâmetros, material, profundidades
e posições nas ruas, bem como peças e acessórios, entre outras informações,
devem ser registrados.
HISTÓRICO DA QUALIDADE DA ÁGUA
Nunca é demais lembrar que a qualidade da água pode variar, intensamente, no
tempo e no espaço. Torna-se então de fundamental importância compor um histó-
rico da qualidade da água que permita avaliar sua distribuição e evolução espacial
e temporal.
A avaliação da água tratada visa à verificação do atendimento sistemático, ao
longo do tempo, ao padrão de potabilidade. Apresenta-se também como um meca-
nismo indispensável de controle dos processos de tratamento empregados.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
211
Secretaria de Vigilância em Saúde
Já o monitoramento na entrada do sistema de distribuição permite a
detecção inicial de qualquer comprometimento da qualidade da água pós-
tratamento, por exemplo, em reservatórios de distribuição malconservados.
O mesmo papel cumpre o monitoramento da qualidade da água ao longo
da rede de distribuição.
Em resumo, o monitoramento, como parte das atividades de controle da quali-
dade da água, visa a e consiste em:
compor um histórico da dinâmica da qualidade da qualidade da água,
do manancial ao sistema de distribuição;
comprovar a potabilidade da água fornecida para consumo humano;
vericar pontos críticos do sistema e fornecer subsídios para a área
operacional;
corrigir as possíveis anomalias detectadas.
Para efeito de comprovação perante o setor saúde, o cumprimento dos planos
de amostragem e do padrão de potabilidade deve ser verificado mensal e semestral-
mente, com base nos relatórios de envio obrigatório.
Por sua vez, a produção sistemática de água de boa qualidade depende de um
bom controle operacional dos diversos processos unitários de tratamento, o que
nem sempre é observado mesmo que se trate de controle de rotina, podendo
mesmo comprometer o primeiro e principal papel das estações de tratamento de
água: o de efetivas barreiras sanitárias. Portanto, torna-se necessário dispor de
ferramentas de rotina que permitam a pronta sistematização e o fácil acesso a um
banco de dados organizado de tal forma que se possa, continuamente, avaliar o
desempenho dos processos unitários de tratamento e intervir quando necessário,
com o objetivo último de otimização do processo como um todo. Mais recente-
mente, a tendência crescente de automação de ETAs permite o monitoramento
on-line (em tempo real).
A seguir, procura-se ilustrar o exposto recorrendo-se a banco de dados de estu-
dos de casos reais, sempre do mesmo sistema de abastecimento.
A organização e a análise de bancos de dados em séries temporais permi-
tem a identificação de variações sazonais da qualidade da água, o que pode
bem orientar a operação do tratamento e a especulação sobre posveis fon-
tes de contaminão do manancial, subsidiando inclusive eventuais inspeções
sanitárias.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
212
Secretaria de Vigilância em Saúde
Sistematização de informações sobre a qualidade da água bruta
(exemplo)
CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DO MANANCIAL –
RESERVATÓRIO DE ACUMULAÇÃO
COLETA
(MÊS/
ANO)
PARÂMETROS
BACTERIOLÓGICOS PROTOZOÁRIOS FÍSICO-QUÍMICOS
CT
1
E. COLI
1
GIARDIA
SP.
2
CRYPTOSPORIDIUM
SPP.
3
TURBIDEZ
4
OD
5
DBO
5
DQO
5
09/00
1,7x10
3
2,4x10
2
ND 1,6x10
1
11,40 6,76 2,4 8,23
10/00
6,9x10
3
1,0x10
2
5,6x10
1
2,6x10
2
14,00 5,10 3,9 25,6
12/00
1,1x10
4
2,2x10
3
1,4x10
2
5,1x10
2
49,70 4,22 4,2 26,7
01/01
1,6x10
4
4,1 x10
1
1,9x10
1
2,1x10
1
13,60 5,93 3,7 21,2
01/01
3,4x10
3
4,1 x10
1
7,00 ND 30,20 5,38 4,7 32,0
02/01
3,3x10
4
1,1x10
2
7,98 8,0 6,62 4,28 2,1 18,9
03/01
4,0x10
3
1,0 x10
1
8,00 1,6x101 4,19 4,75 2,6 17,4
04/01
2,4x10
2
3,1 x10
1
4,62 1,2x101 6,78 5,05 4,5 22,0
05/01
3,7x10
3
1,0x10
2
ND ND 5,73 6,31 5,7 23,3
07/01
>2,4x10
3
7,4x10
1
ND 2,0 3,85 4,70 1,8 13,7
08/01
>2,4x10
3
1,6x10
2
ND ND 8,65 5,53 2,4 46,5
12/01
3,4x10
3
1,1x10
2
ND ND 9,7 5,87 1,4 7,60
CT: coliformes totais;
ND: não detectado;
1
NMP/100 mL;
2
cistos/L;
3
oocistos/L;
4
UNT;
5
mg/L.
TURBIDEZ DA ÁGUA (MÉDIAS MENSAIS)
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
213
Secretaria de Vigilância em Saúde
Comentários:
A bacia de captação do manancial em questão em nada poderia ser
considerada como protegida. Destacam-se vetores de crescimento urbano
relativamente próximos ao ponto de captação e a presença de atividades
de produção animal relativamente intensas, se considerada a reduzida va-
zão do curso d’água.
Entretanto, com base nos parâmetros físico-químicos e mesmo nas
concentrações de coliformes, concluir-se-ia tratar-se de um manancial de
qualidade razoável de água, pouco poluída.
Depara-se com um manancial de turbidez relativamente reduzida, por-
tanto de fácil tratabilidade. Entretanto, mesmo em casos como estes a
atenção cotidiana é indispensável: no manancial em questão, em janeiro
de 2001, chuvas torrenciais provocaram uma elevação brusca da turbidez
até 1.000 UT.
Em que pese a aparente boa qualidade da água, Giardia e Cryptos-
poridium são freqüentemente detectados em concentrações elevadas. Tal
constatação parece obedecer a padrões similares de ocorrência temporal
e em termos de densidade: os picos de ocorrência de protozoários, bem
como da maioria dos demais parâmetros, correspondem, com algumas
exceções, à época de chuvas.
Com base nas densidades de cistos de Giardia e oocistos de Cryptos-
poridium detectadas, requer-se atenção ao manancial de abastecimento
e um tratamento da água bastante rigoroso, particularmente em épocas
de chuvas
CONTROLE DOS PROCESSOS UNITÁRIOS DE TRATAMENTO
E DA QUALIDADE DA ÁGUA TRATADA
A organização de banco de dados deve facilitar a análise o mais detalhada possí-
vel do desempenho do tratamento. Nesse sentido, tão importante quanto à eficiên-
cia global do sistema, é a avaliação do desempenho e a estabilidade/vulnerabilidade
de cada processo unitário.
A análise sistemática das estatísticas diárias, mensais e anuais geradas permite a
identificação de eventuais falhas no processo ou de controle operacional, facilitan-
do inclusive a percepção de sua origem ou natureza, além de orientar as correções
e/ou as intervenções porventura necessárias.
Dentre os recursos para uma boa interpretação do banco de dados, incluem-se:
médias temporais, eficiência de remoção, distribuição de freqüência, estudos de
correlação, etc.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
214
Secretaria de Vigilância em Saúde
Sistematização de informações sobre a qualidade da água bruta,
decantada e ltrada (exemplo)
Distribuição de freqüência da turbidez da água bruta, 1999
Eciência de remoção de turbidez, 1999 (%)
MÊS TURBIDEZ MÉDIA (UT) EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO (%)
BRUTA DECANTADA FILTRADA DECANTAÇÃO FILTRAÇÃO
Janeiro
26,1 5,4 0,7 79,5 86,9
Fevereiro
9,0 3,0 0,4 66,2 86,8
Março
27,5 4,7 0,3 83,0 93,6
Abril
10,7 3,2 0,3 70,4 90,5
Maio
7,4 2,8 0,3 62,7 88,7
Junho
9,3 3,3 0,2 64,9 92,9
Julho
8,5 3,4 0,2 60,7 94,0
Agosto
6,3 2,4 0,3 62,4 89,5
Setembro
6,0 1,9 0,3 68,0 85,5
Outubro
10,3 2,2 0,3 79,1 83,6
Novembro
19,5 4,7 0,4 75,9 90,6
Dezembro
15,4 4,4 0,3 71,7 92,2
Anual
13,0 3,4 0,3 70,4 89,6
Com base nos valores médios mensais, percebe-se que durante os peo-
dos de estiagem a ecncia de remão de turbidez na decantação variou de
60% a 70% e nos peodos de chuva de 70% a 80%, o que poderia indicar a
necessidade de otimização do tratamento de águas de mais baixa turbidez.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
215
Secretaria de Vigilância em Saúde
Entretanto, o trado da curva de freqüência da turbidez da água decantada
permite identicar que, durante o ano, em mais de 90% do tempo o proces-
so de decantão pode ser avaliado como excelente (< 5,0 UT). A ecncia
de remoção de turbidez na ltrão variou de 84% a 94%, o que demonstra
uma certa instabilidade do processo; nesse caso o desempenho mais fraco é
observado nos períodos de chuvas. De toda forma, os valores de turbidez da
águaltrada neste peodo permaneceram sistematicamente baixos.
A sistematizão dos dados de turbidez da água ltrada, em termos de
distribuão de freência e percentual de atendimento ao pado e às metas
de turbidez, permite avaliar a performance e a estabilidade do processo.
Sistematização de informações sobre a qualidade da água bruta,
decantada e ltrada (exemplo)
Distribuição de freqüência anual da turbidez da água ltrada,
ltro 1, abr. 2002-mar. 2003
Distribuição de freqüência anual da turbidez da água ltrada,
ltro 2, abr. 2002-mar. 2003
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
216
Secretaria de Vigilância em Saúde
Distribuição de freqüência da turbidez da água ltrada,
abr. 2002-mar. 2003
TURBIDEZ
(UT)
FILTRO 1 FILTRO 2
ABR2002/
MAR2003
NÚMERO DE
OCORRÊNCIAS
%
ACUMULADO
(%)
NÚMERO DE
OCORRÊNCIAS
%
ACUMULADO
(%)
0,00 - 0,09
64 2,8 2,8 64 2,8 2,8
0,10 - 0,19
164 7,2 10,1 139 6,1 8,9
0,20 - 0,29
598 26,4 36,4 545 24,0 32,9
0,30 - 0,49
748 33,0 69,4 767 33,8 66,7
0,50 - 0,74
406 17,9 87,3 410 18,0 84,7
0,75 - 0,99
159 7,0 94,3 191 8,4 93,1
1,00 - 1,24
63 2,8 97,1 87 3,8 97,0
1,25 - 1,49
31 1,4 98,5 33 1,5 98,4
1,50 - 1,74
11 0,5 98,9 14 0,6 99,0
≤ 1,75
24 1,1 100,0 22 1,0 100,0
Total
2268 100,0 100,0 2272 100,0 100,0
Percentual de atendimento ao padrão e às metas de turbidez
de água ltrada
MÊS
FILTRO 1 (%) FILTRO 2 (%)
≤0,3 UT ≤0,5 UT ≤1,0 UT ≤0,3 UT ≤0,5 UT ≤1,0 UT
Abr. 2002
60,0 97,8 99,5 50,0 95,1 99,5
Mai. 2002
85,8 97,6 100,0 82,8 99,4 100,0
Jun. 2002
82,3 97,2 99,1 80,0 96,7 99,5
Jul. 2002
63,6 93,9 99,6 58,3 96,1 99,1
Ago. 2002
33,3 79,1 100,0 23,6 78,2 97,3
Set. 2002
8,6 36,0 78,5 4,3 25,8 72,0
Out. 2002
21,0 69,0 96,7 15,8 66,2 95,9
Nov. 2002
4,0 29,9 83,1 2,0 15,5 82,5
Dez. 2002
0,0 21,1 82,9 0,0 18,9 76,9
Jan. 2003
43,3 72,5 93,3 47,2 69,1 96,1
Fev. 2003
70,5 91,1 100,0 67,1 92,5 98,6
Mar. 2003
5,3 50,7 98,7 4,7 54,0 98,7
Anual
36,4 69,4 94,3 32,9 66,7 93,1
Percebe-se que o desempenho do ltro 1 é superior ao do ltro 2, o
que revela a importância da avaliação individual de cada ltro. A siste-
matização dos resultados permite ainda identicar um pior desempenho
em épocas de chuvas. O padrão de potabilidade exigido no Brasil ( 1,0
UT) é quase sistematicamente atendido, mas registram-se valores pontuais
elevados, o que pode ser decorrente de descuidos na operação. Entretan-
to, o recomendado para a remoção de cistos de Giardia é 0,5 UT (2,5
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
217
Secretaria de Vigilância em Saúde
log de remoção) e para oocistos de Cryptosporidium é 0,3 UT (2,0 log
de remoção). Em tese, dependendo da ocorrência desses organismos na
água bruta, estar-se-ia, potencialmente, em face de riscos de ocorrência
também na água ltrada.
ÁGUA DISTRIBUÍDA
A seguir apresentam-se resultados do monitoramento da qualidade da água nas
pontas de rede de sistema em questão, com os respectivos índices de atendimento à
Portaria MS n
o
518/2004 e estatísticas descritivas.
Teores de cloro residual nas pontas de rede (mg/L)
PONTOS DE AMOSTRAGEM
DATA
PA1 PA2 PA3 PA4
21/08/01 0,15 0,18 0,48 0,55
28/08/01 0,37 0,27 0,85 0,68
04/09/01 0,46 1,10 1,40 1,21
12/09/01 0,01 0,00 0,02 0,00
19/09/01 0,00 0,00 0,00 0,19
15/10/01 0,03 0,02 0,10 0,20
22/10/01 0,02 0,06 0,27 0,57
29/10/01 0,02 0,03 0,03 0,01
05/11/01 0,02 0,01 0,39 0,60
12/11/01 0,04 0,03 0,29 0,09
20/11/01 0,01 0,00 0,12 0,16
26/11/01 0,00 0,02 0,33 0,20
03/12/01 0,02 0,00 0,08 0,15
10/12/01 0,02 0,00 0,10 0,19
18/12/01 0,00 0,00 0,24 0,41
10/01/02 0,02 0,00 0,26 0,50
17/01/02 0,11 0,00 0,23 0,32
24/01/02 0,01 0,04 0,45 0,53
05/02/02 0,02 0,02 0,10 0,12
21/02/02 0,44 0,18 0,18 0,15
28/02/02 0,02 0,01 0,26 0,17
14/03/02 0,00 0,00 0,27 0,52
22/03/02 0,59 0,40 0,35 0,50
28/03/02 0,00 0,00 0,39 0,48
12/04/02 0,00 0,04 0,36 0,45
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
218
Secretaria de Vigilância em Saúde
DATA PA1 PA2 PA3 PA4
18/04/02 0,67 0,59 0,50 0,60
25/04/02 0,00 0,01 0,39 0,52
29/04/02 0,01 0,01 0,53 0,56
06/05/02 0,02 0,12 0,49 0,47
15/05/02 0,00 0,00 0,26 0,31
27/05/02 0,02 0,01 0,24 0,35
04/06/02 0,03 0,46 0,25 0,50
25/06/02 0,78 NR 1,01 1,15
08/07/02 0,03 0,01 0,51 0,55
15/07/02 0,00 0,37 0,56 0,66
ICR (%) 17,1 17,7 74,3 71,44
ICR: índice de cloro residual (número de amostras com cloro residual
≥ 0,2 mg/L / número de amostras analisadas).
Turbidez da água nas pontas de rede (UT)
DATA
PA1 PA2 PA3 PA4
21/08/01 0,7 1,1 0,5 0,7
28/08/01 0,8 2,5 0,8 0,9
04/09/01 1,0 1,0 1,0 1,0
12/09/01 1,0 1,2 0,8 0,9
19/09/01 2,0 1,5 1,5 1,4
15/10/01 1,8 NR 0,9 0,5
22/10/01 2,5 7,9 2,0 1,1
29/10/01 4,4 6,3 2,8 1,3
05/11/01 4,0 1,1 0,8 0,7
12/11/01 1,4 1,3 1,1 1,1
20/11/01 1,1 1,3 3,0 0,8
26/11/01 1,1 1,0 1,4 0,7
03/12/01 3,7 2,9 2,7 2,8
10/12/01 1,7 2,0 2,0 1,5
18/12/01 2,9 5,7 1,2 1,2
10/01/02 4,1 1,0 0,8 0,8
17/01/02 20,1 1,5 1,6 1,1
24/01/02 1,3 1,4 0,8 0,9
05/02/02 3,6 1,4 1,4 1,2
21/02/02 0,8 0,7 0,7 0,5
28/02/02 3,2 1,4 3,1 1,0
14/03/02 2,2 3,7 0,5 0,4
28/03/02 0,9 1,7 0,5 0,4
11/04/02 3,8 NR 0,5 0,4
12/04/02 2,4 0,5 0,4 0,4
Continua...
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
219
Secretaria de Vigilância em Saúde
DATA
PA1 PA2 PA3 PA4
18/04/02 0,4 0,4 0,5 0,6
25/04/02 1,2 7,3 0,4 0,4
29/04/02 0,9 1,5 0,4 0,4
06/05/02 1,0 0,6 0,6 0,5
15/05/02 1,7 2,0 0,5 0,5
27/05/02 2,2 2,0 0,4 0,4
04/06/02 5,3 1,3 0,2 0,3
25/06/02 1,0 NR 0,5 0,5
08/07/02 0,4 0,8 4,3 4,9
15/07/02 2,9 2,0 0,4 0,3
IT (%) 94,3 97,0 100,0 100,0
Estatística descritiva
PARÂMETRO
PA1 PA2 PA3 PA4
Mínimo
0,4 0,4 0,2 0,3
Máximo
20,1 7,9 4,3 4,9
Mediana
1,8 1,4 0,8
0,7
1
o
quartil
1,0 1,1 0,5 0,5
3
o
quartil
3,1 2,0 1,5 1,1
Média
2,6 2,163 1,2 0,7
IT: índice de turbidez (número de amostras com turbidez
≤ 5,0 uT/número de amostras analisadas).
Estatística descritiva dos dados de cor, ferro, coliformes totais
e contagem de bactérias heterotróficas no período analisado
COR
PARÂMETRO
PA1 PA2 PA3 PA4
Mínimo
3,3 0,0 0,0 0,0
Máximo
120,0 36,0 21,0 14,3
Mediana
10,9 12,9 5,0 5,0
1
o
quartil
5,6 8,7 4,9 2,33
3
o
quartil
25,0 20,0 8,8 6,9
Média
17,8 15,0 6,7 5,2
IC (%)
67,0 56,3 97,0 100,0
FERRO
Mínimo
0,07 0,02 0,00 0,00
Máximo
3,02 3,42 0,74 0,66
Mediana
0,54 0,31 0,08 0,03
1
o
quartil
0,34 0,25 0,03 0,00
3
o
quartil
0,81 0,47 0,14 0,07
Média
0,68 0,59 1,19 0,07
IFe (%)
24,0 50,0 92,0 96,0
Continuação
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
220
Secretaria de Vigilância em Saúde
PARÂMETRO PA1 PA2 PA3 PA4
CONTAGEM DE BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS
ICH (%)
100,0 100,0 100,0 100,0
COLIMETRIA
ICT (%)
100,0 100,0 100,0 100,0
IC: índice de cor (número de amostras com cor ≤ 15,0 uC/número de amostras
analisadas).
IFe: índice de ferro (número de amostras com ferro 0,3 mg/L/número de amostras
analisadas).
ICH: índice de bactérias heterotrócas (número de amostras com contagem
≤ 500 UFC por mL/número de amostras analisadas).
ICT: índice de coliformes totais (número de amostras com ausência de coliformes
por 100 mL/número de amostras analisadas).
Comentários:
Muito embora a Portaria MS n
o
518/2004 não faça menção a trata-
mentos estatísticos desse tipo de dados, os exemplos anteriores explicitam
como análises individuais apenas revelam pontualmente a qualidade da
água. Na medida do possível de ser realizada, a sistematização dos dados
em séries históricas e espaciais presta-se bem aos objetivos do controle da
qualidade da água.
Observa-se que nas pontas de rede PA1 e PA2 a manutenção do
teor de cloro residual mínimo (0,2 mg/L) é problemática; em PA3 e
PA4 a situação é mais esvel, embora no período analisado não se
tenham alcaado os 100% de atendimento. Os pontos PA1 e PA2
mostram-se também mais problemáticos no atendimento aos padrões
de ferro e cor.
Em relação à turbidez, com exceção de dois eventos nos pontos
PA1 e PA2, a água permaneceu de acordo com o limite estabelecido.
Chama atenção o elevado valor de turbidez no dia 17/01 em PA1,
possivelmente em decorrência de algum problema na própria rede
de distribuão. A análise da estatística descritiva dos dados de tur-
bidez confirma a estabilidade do sistema no atendimento ao pado,
podendo-se interpretar o evento do dia 17/01 como um problema
pontual.
Embora a água atenda sistematicamente ao padrão bacteriológico, a
julgar pelos resultados de cloro residual, ferro e cor, ela seria considerada
não conforme. O problema sugere necessidades de correção da dosagem
de cloro na ETA e a vericação do estado de conservação da rede em dire-
ção aos pontos PA1 e PA2.
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
221
Secretaria de Vigilância em Saúde
4.2 INFORMAÇÃO ÀS AUTORIDADES DE SAÚDE PÚBLICA
CONJUNTO DE INFORMAÇÕES A SEREM PRESTADAS
Cabe ressaltar que a informação às autoridades de saúde pública constitui exi-
gência da Portaria MS n
o
518/2004, como destacado a seguir:
Portaria MS n
o
518/2004 Informação às autoridades de saúde blica
Artigos 9
o
e 10 Ao(s) responsável(is) pela operação de sistema ou
solução alternativa de abastecimento de água incumbe:
encaminhar à autoridade de saúde pública, para ns de comprovação
do atendimento a esta Norma, relatórios mensais (no caso de sistemas
de abastecimento de água) e trimestrais (no caso de soluções alternati-
vas coletivas) com informações sobre o controle da qualidade da água,
segundo modelo estabelecido pela referida autoridade;
Obs.: No caso das soluções alternativas coletivas a análise é mensal e o
envio é trimestral.
promover, em conjunto com os órgãos ambientais e gestores de recur-
sos hídricos, as ações cabíveis para a proteção do manancial de abaste-
cimento e de sua bacia contribuinte, assim como efetuar o controle das
características das suas águas, nos termos do artigo 19, noticando
imediatamente a autoridade de saúde pública sempre que houver indí-
cios de risco à saúde ou sempre que amostras coletadas apresentarem
resultados em desacordo com os limites ou condições da respectiva
classe de enquadramento, conforme denido na legislação especíca;
comunicar, imediatamente, à autoridade de saúde pública e informar,
adequadamente, à população a detecção de qualquer anomalia opera-
cional no sistema ou não-conformidade na qualidade da água tratada,
identicada como de risco à saúde, adotando-se as medidas previstas
no artigo 29 (da Portaria).
Em resumo, as informações a serem prestadas, por exincia da Portaria
MS n
o
518/2004 são:
Relatório de controle da qualidade da água para consumo humano de sistemas
(mensais) e de soluções alternativas de abastecimento de água (trimestrais).
Notificação de indícios de riscos à saúde em caso de comprometimento da
qualidade da água do manancial.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
222
Secretaria de Vigilância em Saúde
Notificação de qualquer anomalia operacional detectada no sistema ou o con-
formidade na qualidade da água tratada, identificada como de risco à sde.
Além disso, no âmbito do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade
da Água para Consumo Humano (Sisagua), devem ser fornecidas informações ca-
dastrais mínimas sobre os sistemas e as soluções alternativas coletivas de abasteci-
mento de água.
RELATÓRIO DE NOTIFICAÇÃO DE INDÍCIOS DE RISCOS À SAÚDE
DEVIDO AO COMPROMETIMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA
DO MANANCIAL
Vale repetir a redação do inciso V do artigo 9
o
da Portaria MS n
o
518/2004:
Promover, em conjunto com os órgãos ambientais e gestores de recur-
sos hídricos, as ações cabíveis para a proteção do manancial de abaste-
cimento e de sua bacia contribuinte, assim como efetuar o controle das
características das suas águas, nos termos do artigo 19 (da Portaria), no-
ticando imediatamente a autoridade de saúde pública sempre que
houver indícios de risco à saúde ou sempre que amostras coletadas
apresentarem resultados em desacordo com os limites ou condições
da respectiva classe de enquadramento, conforme denido na legis-
lação especíca.
São, portanto, duas condições específicas em que a Portaria MS n
o
518/2004 exi-
ge a notificação à autoridade de saúde pública por parte dos prestadores de serviços
de abastecimento de água.
Quando se solicita notificar sempre que houver indícios de risco à saúde, deve-se
estar atento àqueles parâmetros de remoção limitada pelo processo de tratamento
empregado no sistema existente, tanto as substâncias químicas que representam
riscos à saúde, quanto as que compõem padrão de aceitação para consumo huma-
no, dentre as quais se destacam: cloretos, ferro, manganês, agrotóxicos, mercúrio,
metais pesados, cianotoxinas e cianobactérias. A notificação pode decorrer da de-
tecção em monitoramento de rotina ou de casos de acidentes.
Na segunda situação sempre que amostras coletadas apresentarem resultados em
desacordo com os limites ou condições da respectiva classe de enquadramento, conforme
definido na legislação específicaestá se referindo mais especificamente à Resolução
Conama n
o
357/2005, que estabelece critério para classificação das águas de acordo
com os usos preponderantes e os respectivos requisitos de qualidade. Trata-se, por-
tanto, de uma medida de caráter gerencial, ampla e de avaliação preventiva de riscos.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
223
Secretaria de Vigilância em Saúde
A título de sugestão, inclui-se um exemplo de modelo de notificação.
Nome do sistema/solução alternativa coletiva:___________________________
Nome do manancial:_______________________________________________
Data da coleta: ____/____/____ Local de coleta:__________________
(ponto de captação, meio da represa, etc.)
Parâmetro analisado com não-conformidade:
_______________________________________________________________
Resultado da análise laboratorial:___________(unid.)
Valor máximo permissível:__________(unid.)
Importância sanitária da não-conformidade:
________________________________________________________________
________________________________________________________________
_____________________________________________________________
Providências tomadas:
________________________________________________________________
________________________________________________________________
_____________________________________________________________
Prazo previsto de permanência da não-conformidade:________________dias.
Data da notificação:____/____/______
Responsável técnico do sistema/solução alternativa:______________________
Documento de classe profissional:____________________________________
RELATÓRIO DE NOTIFICAÇÃO SOBRE ANOMALIAS OPERACIONAIS
NOS SISTEMAS OU SOLUÇÕES ALTERNATIVAS
OU NÃO-CONFORMIDADES NA QUALIDADE DA ÁGUA TRATADA
No inciso V do artigo 9
o
da Portaria MS n
o
518/2004 encontra-se:
Comunicar, imediatamente, à autoridade de saúde blica e informar,
adequadamente, à população a detecção de qualquer anomalia operacional
no sistema ouo-conformidade na qualidade da água tratada, identicada
como de risco à sde, adotando-se as medidas previstas no artigo 29.
No item 2.8 (Situações de emergência”) foram apresentadas algumas situações emer-
genciais em que o responsável pela operação dos serviços de abastecimento de água deve
comunicar à autoridade de saúde pública os riscos à sde decorrentes de questões opera-
cionais. Além das apontadas, devem-se adicionar as situações mais freqüentes de intermi-
tência na distribuição de água e, eventualmente, os problemas na qualidade da água.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
224
Secretaria de Vigilância em Saúde
De toda maneira, as situações de intermitência no fornecimento de água e de
não-conformidade da sua qualidade em relação aos diversos parâmetros da Porta-
ria MS n
o
518/2004 devem ser apontadas nos relatórios periódicos a serem encami-
nhados à autoridade de saúde pública (ver, na seção 4.2, a subseção “Relatórios de
controle da qualidade de água”).
A seguir é apresentada uma sugestão de modelo de notificação a ser encami-
nhado à autoridade de saúde pública com as informações que configurem fatores
operacionais de risco à saúde.
Nome do sistema/solução alternativa coletiva:___________________________
Localidades afetadas pela não-conformidade:
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Descrição da inconformidade:_______________________________________
Importância sanitária da não conformidade:
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Providências tomadas:
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Período da ocorrência do problema:____/____/______ a ____/____/_____
Prazo previsto para solução do problema a partir da data da notificão:______dias.
Data da notificação:____/____/______
Responsável técnico do sistema/solução alternativa:______________________
Documento de classe profissional:________________________
4.3 INFORMAÇÃO AO CONSUMIDOR
A regulamentação da informação ao consumidor sobre a qualidade da água
para consumo humano é uma obrigação dos responsáveis por sistemas e soluções
alternativas coletivas de abastecimento de água, explicitada na Portaria MS n
o
518
de 25 de março de 2004, que trata das responsabilidades:
Art. 9
o
Ao(s) responsável(is) pela operação de sistema de abasteci-
mento de água incumbe:
...................................................................................................................
VI – fornecer a todos os consumidores, nos termos do digo de Defesa
do Consumidor, informões sobre a qualidade da água distribda,
mediante envio de relario, dentre outros mecanismos, com periodici-
dade mínima anual e contendo, pelo menos as seguintes informações:
a) descrição dos mananciais de abastecimento, incluindo informações so-
bre sua proteção, disponibilidade e qualidade da água;
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
225
Secretaria de Vigilância em Saúde
b) estatística descritiva dos valores de parâmetros de qualidade detecta-
dos na água, seu signicado, origem e efeitos sobre a saúde; e
c) ocorrência de não conformidades com o padrão de potabilidade e as
medidas corretivas providenciadas.
VII – manter registros atualizados sobre as características da água distri-
buída, sistematizados de forma compreensível aos consumidores e dis-
ponibilizados para pronto acesso e consulta pública;
VIII comunicar, imediatamente, à autoridade de saúde pública e infor-
mar, adequadamente, à população a detecção de qualquer anomalia ope-
racional no sistema ou não conformidade na qualidade da água tratada,
identicada como de risco à saúde, adotando-se as medidas previstas no
artigo 29 desta Norma; e
IX – manter mecanismos para recebimento de queixas referentes às carac-
terísticas da água e para a adoção das providências pertinentes.
Art. 10. Ao responsável por solução alternativa de abastecimento de
água, nos termos do inciso XIII do artigo 7
o
desta Norma, incumbe:
...................................................................................................................
VI manter registros atualizados sobre as características da água distri-
buída, sistematizados de forma compreensível aos consumidores e dis-
ponibilizados para pronto acesso e consulta pública;
VII comunicar, imediatamente, à autoridade de saúde pública compe-
tente e informar, adequadamente, à população a detecção de qualquer
anomalia identicada como de risco à saúde, adotando-se as medidas
previstas no artigo 29; e
VIII manter mecanismos para recebimento de queixas referentes às
características da água e para a adão das providências pertinentes.
...................................................................................................................
Art. 29. Sempre que forem identicadas situações de risco à saúde, o res-
ponsável pela operação do sistema ou solução alternativa de abastecimen-
to de água e as autoridades de saúde pública devem estabelecer enten-
dimentos para a elaboração de um plano de ação e tomada das medidas
cabíveis, incluindo a ecaz comunicação á população, sem prejuízo das
providências imediatas para a correção da anormalidade.
(Obs.: grifos nossos.)
O direito do consumidor à informação é mundialmente consagrado e abrange
a oferta de todos os produtos, inclusive a de água, estando suficientemente expresso
na Lei Federal n
o
8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumi-
dor), que trata dos direitos básicos do consumidor.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
226
Secretaria de Vigilância em Saúde
Artigo 6
o
São direitos básicos do consumidor:
...................................................................................................................
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e ser-
viços, com especicação correta de quantidade, características, composi-
ção, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem.
Também o artigo 3
o
, que trata da oferta de produtos e serviços, determina que:
A oferta e a apresentação de produtos ou serviços devem assegurar infor-
mações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre
suas características, qualidade, quantidade, composição, preço, garantia,
prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os ris-
cos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.”
O Código de Defesa do Consumidor trata, ainda sobre essa questão, a
respeito de necessidades de instrumentos adequados de informação em
situações de risco à saúde.
Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produ-
to ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade
ou periculosidade à saúde ou segurança.
§ 1
o
O fornecedor de produtos ou serviços que, posteriormente à sua in-
trodução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade
que apresentam deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades
competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
§ 2
o
Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão
veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do
produto ou serviço.
§ 3
o
Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou
serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.
(Obs.: grifos nossos)
A Lei n
o
8.987 de 13 de fevereiro de 1995, que trata do Regime de Concessão
e Permissão da Prestação de Serviços Públicos regulamentados no artigo 175 da
Constituição Federal, determina em seu artigo 7
o
que:
Art. 7
o
Sem prejuízo do disposto na Lei n
o
8.078, de 11 de setembro de
1990, são direitos e obrigações dos usuários:
...................................................................................................................
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
227
Secretaria de Vigilância em Saúde
II. receber do poder concedente e da concessionária informações para a
defesa de interesses individuais e coletivos:
Cabe ao setor, nos termos da Portaria MS n
o
518/2004:
Art. 7
o
São deveres e obrigações das secretarias municipais de saúde:
...................................................................................................................
VI garantir à população informações sobre a qualidade da água e riscos à
saúde associados, nos termos do inciso VI do artigo 9o deste anexo;
VII – manter registros atualizados sobre as características da água distri-
buída, sistematizados de forma compreensível à população e disponibili-
zados para pronto acesso e consulta pública;
VIII – manter mecanismos para recebimento de queixas referentes às ca-
racterísticas da água e para a adoção das providências pertinentes;
(Obs.: grifos nossos)
Com vista à regulamentão dos dispostos nas Leis n
o
8.078, de 11 de se-
tembro de 1990, n
o
8.080, de 19 de setembro de 1990, n
o
9.433, 8 de janeiro de
1997, e pelo Decreto n
o
79.367, de 9 de março de 1977, o Governo Federal e
outras instituões participaram do processo de elaboração dos mecanismos e
dos instrumentos para divulgão de informação ao consumidor sobre a qua-
lidade da água para consumo humano, regulamentado pelo Decreto n
o
5.440,
de 4 de maio de 2005.
O processo de construção desse Decreto iniciou-se no Ministério da Saúde no
âmbito da Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde Ambiental em parceria com
os Ministérios da Justiça, das Cidades e do Meio Ambiente e contou com a cola-
boração da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), do Instituto Brasileiro
de Defesa do Consumidor (Idec), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O acompanhamento do cumprimento desse Decreto será exercido pelos órgãos
competentes dos Ministérios da Saúde, da Justiça, das Cidades e do Meio Ambiente
e pelas autoridades estaduais, do Distrito Federal, dos Territórios e municipais, no
âmbito de suas respectivas competências.
Para garantir o direito à informação sobre a qualidade da água para consumo
humano foram estabelecidos dois instrumentos: conta da água e relatório com
os seguintes prazos:
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
228
Secretaria de Vigilância em Saúde
Art. 3
o
Os órgãos e as entidades dos Estados, Municípios, Distrito Federal
e Territórios e demais pessoas jurídicas, às quais este Decreto se aplica, de-
verão enviar as informações aos consumidores sobre a qualidade da água,
nos seguintes prazos:
I - informações mensais na conta de água, em cumprimento às alíneas “a”
e “b” do inciso I do art. 5
o
do Anexo, a partir do dia 5 de junho de 2005;
II - informações mensais na conta de água, em cumprimento às alíneas “c” e
“d” do inciso I do art. 5
o
do Anexo, a partir do dia 15 de março de 2006; e
III - relatório anual até quinze de março de cada ano, ressalvado o primeiro
relatório, que terá como data limite o dia 1
o
de outubro de 2005.
De acordo com o artigo 3
o
a informação a ser prestada pelos responsáveis pelos
sistemas e soluções alternativas coletivas de abastecimento de água tem de:
I - ser verdadeira e comprovável;
II - ser precisa, clara, correta, ostensiva e de fácil compreensão, es-
pecialmente quanto aos aspectos que impliquem situações de perda
da potabilidade, de risco à sde ou aproveitamento condicional da
água; e
III - ter caráter educativo, promover o consumo sustentável da água e
proporcionar o entendimento da relação entre a sua qualidade e a saúde
da população.
Cabe aos responsáveis pelos sistemas e soluções alternativas coletivas de abaste-
cimento de água disponibilizar as seguintes informações para cada ligação predial:
Art. 5
o
Na prestação de serviços de fornecimento de água é assegurado ao
consumidor, dentre outros direitos:
I - receber nas contas mensais, no mínimo, as seguintes informações sobre
a qualidade da água para consumo humano:
a) divulgação dos locais, formas de acesso e contatos por meio dos quais
as informações estarão disponíveis;
b) orientação sobre os cuidados necessários em situações de risco à saúde;
c) resumo mensal dos resultados das análises referentes aos parâmetros
básicos de qualidade da água; e
d) características e problemas do manancial que causem riscos à saúde e
alerta sobre os possíveis danos a que estão sujeitos os consumidores,
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
229
Secretaria de Vigilância em Saúde
especialmente crianças, idosos e pacientes de hemodiálise, orientando
sobre as precauções e medidas corretivas necessárias;
II - receber do prestador de serviço de distribuição de água relatório anual
contendo, pelo menos, as seguintes informações:
a) transcrição dos arts. 6o, inciso III, e 31 da Lei n
o
8.078, de 1990, e
referência às obrigações dos responsáveis pela operação do sistema
de abastecimento de água, estabelecidas em norma do Ministério da
Saúde e demais legislações aplicáveis;
b) razão social ou denominação da empresa ou entidade responsável pelo
abastecimento de água, endereço e telefone;
c) nome do responsável legal pela empresa ou entidade;
d) indicação do setor de atendimento ao consumidor;
e) órgão responsável pela vigilância da qualidade da água para consumo
humano, endereço e telefone;
f) locais de divulgação dos dados e informações complementares sobre
qualidade da água;
g) identicação dos mananciais de abastecimento, descrição das suas
condições, informações dos mecanismos e níveis de proteção existen-
tes, qualidade dos mananciais, fontes de contaminação, órgão respon-
sável pelo seu monitoramento e, quando couber, identicação da sua
respectiva bacia hidrográca;
h) descrição simplicada dos processos de tratamento e distribuição da
água e dos sistemas isolados e integrados, indicando o município e a
unidade de informação abastecida;
i) resumo dos resultados das análises da qualidade da água distribuída
para cada unidade de informação, discriminados mês a mês, mencio-
nando por parâmetro analisado o valor máximo permitido, o número
de amostras realizadas, o número de amostras anômalas detectadas,
o número de amostras em conformidade com o plano de amostragem
estabelecido em norma do Ministério da Saúde e as medidas adotadas
face às anomalias vericadas; e
j) particularidades próprias da água do manancial ou do sistema de abas-
tecimento, como presença de algas com potencial tóxico, ocorrência de
úor natural no aqüífero subterrâneo, ocorrência sistemática de agro-
tóxicos no manancial, intermitência, dentre outras, e as ações correti-
vas e preventivas que estão sendo adotadas para a sua regularização.
As informões deveo ser disponibilizadas ao consumidor por área de abrann-
cia do fornecimento de água pelo sistema de abastecimento, ou seja, sistemas isolados
(sistemas que abastecem isoladamente bairros, setores ou localidades) e sistemas inte-
grados (sistemas que abastecem diversos munipios simultaneamente ou quando mais
de uma unidade produtora abastece um único município, bairro, setor ou localidade).
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
230
Secretaria de Vigilância em Saúde
As informações a serem veiculadas na conta mensal e no relatório anual deverão
trazer esclarecimentos quanto ao significado dos parâmetros neles mencionados,
em linguagem acessível ao consumidor, e deverão ser disponibilizadas a cada liga-
ção predial. No caso de condomínios verticais ou horizontais atendidos por uma
mesma ligação predial, o fornecedor deverá orientar a administração, por escrito, a
divulgar as informações a todos os condôminos.
Os responsáveis pelas soluções alternativas coletivas, incluindo os veículos
transportadores de água para consumo humano, como os carros-pipa, deverão
apresentar aos consumidores, no momento do fornecimento, as informações de
que trata o seguinte artigo do Decreto 5.440/05:
Art. 9
o
Os prestadores de serviço de transporte de água para consumo humano,
por carros-pipa, carroças, barcos, dentre outros, deveo entregar aos consumi-
dores, no momento do fornecimento, no mínimo, as seguintes informações:
I - data, validade e número ou dado indicativo da autorização do órgão de
saúde competente;
II - identicação, endereço e telefone do órgão de saúde competente;
III - nome e número de identidade do responsável pelo fornecimento;
IV - local e data de coleta da água; e
V - tipo de tratamento e produtos utilizados.
§ 1
o
Cabe aos órgãos de saúde fornecer formulário padrão onde estarão
contidas as informações referidas nos incisos I a V.
§ 2
o
Os prestadores de serviço a que se refere o caput deverão prover in-
formações aos consumidores sobre cor, cloro residual livre, turbidez, pH e
coliformes totais, registrados no fornecimento.
Cabe ressaltar que para as demais formas de soluções alternativas coletivas, as in-
formações referidas no artigo 5o serão veiculadas, dentre outros meios, por relatórios
anexos ao boleto de pagamento do condomínio, demonstrativos de despesas, bole-
tins afixados em quadros de avisos ou ainda mediante divulgação na imprensa local.
Todas as informações prestadas pelos responveis pelas deverão manter registros
atualizados sobre as caractesticas da água distribuída, sistematizados de forma com-
preensível aos consumidores e disponibilizados para pronto acesso e consulta blica.
As informações sobre a qualidade da água a ser disponibilizada no relatório
anual deverão contemplar todos os parâmetros analisados com freqüência trimes-
tral e semestral que estejam em desacordo com a Portaria MS n
o
518/2004, seguidos
da expressão: “FORA DOS PADRÕES DE POTABILIDADE”.
O acesso às informações pelos consumidores deverá possibilitar um maior con-
trole social sobre a qualidade dos serviços prestados à população, bem como a ado-
ção de medidas de prevenção dos riscos e dos danos para a saúde humana.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
231
Secretaria de Vigilância em Saúde
O Decreto traz também a orientação de disponibilização em outros canais de
comunicação complementar, tais como:
Art. 12. Os responsáveis pelos sistemas de abastecimento devem disponi-
bilizar, em postos de atendimento, informações completas e atualizadas
sobre as características da água distribuída, sistematizadas de forma com-
preensível aos consumidores.
Art. 13. A m de garantir a efetiva informação ao consumidor, serão ado-
tados outros canais de comunicação, tais como: informações eletrônicas,
ligações telefônicas, boletins em jornal de circulação local, folhetos, car-
tazes ou outros meios disponíveis e de fácil acesso ao consumidor, sem
prejuízo dos instrumentos estabelecidos no art. 5
o
deste Decreto.
A título de exemplo, recomenda-se manter registros atualizados sobre as carac-
terísticas da água distribuída, sistematizados de forma compreensível aos consumi-
dores e disponibilizados para pronto acesso e consulta pública.
O Decreto tem um caráter preventivo quando em seus artigos 14, 15 e 16 prevê
a comunicação entre a autoridade de saúde pública e os responsáveis pelos sistemas
e soluções alternativas coletivas:
Art. 14. Os responsáveis pelos sistemas de abastecimento e soluções al-
ternativas coletivas deverão comunicar imediatamente à autoridade de
saúde pública e informar, de maneira adequada, à população a detecção
de qualquer anomalia operacional no sistema ou não-conformidade na
qualidade da água tratada, identicada como de risco à saúde, inde-
pendentemente da adoção das medidas necessárias para a correção da
irregularidade.
Parágrafo único. O alerta à população atingida deve contemplar o pe-
ríodo que a água estará imprópria para consumo e trazer informações
sobre formas de aproveitamento condicional da água, logo que detectada
a ocorrência do problema.
Art. 15. O responsável pelo sistema de abastecimento de água para consumo
humano, ao realizar programas de manobras na rede de distribuição, que, ex-
cepcionalmente, possam submeter trechos a pressões inferiores à atmosférica,
deverá comunicar essa ocorrência à autoridade de saúde pública e à população
que for atingida, com antecedência mínima de setenta e duas horas, bem como
informar as áreas afetadas e o período de duração da intervenção.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
232
Secretaria de Vigilância em Saúde
Parágrafo único. A população deverá ser orientada quanto aos cuidados
especícos durante o período de intervenção e no retorno do fornecimen-
to de água, de forma a prevenir riscos à saúde.
Art. 16. Os responsáveis pelos sistemas de abastecimento e soluções alter-
nativas coletivas deverão manter mecanismos para recebimento de recla-
mações referentes à qualidade da água para consumo humano e para a
adoção das providências pertinentes.
Parágrafo único. O consumidor deverá ser comunicado, formalmente, por
meio de correspondência, no prazo máximo de trinta dias, a partir da sua
reclamação, sobre as providências adotadas.
Quanto à comunicação em situação de risco à saúde, em função de anomalias
operacionais ou não-conformidades na qualidade da água, o prestador do serviço
deve, em conjunto com a autoridade de saúde pública municipal, reunir a popu-
lação-alvo de tais anomalias e transmitir informações quanto ao problema, sua
origem, extensão, as ações já tomadas e a serem tomadas para a superação das ano-
malias, os cuidados que devem ser tomados pelos moradores em relação à ingestão
da água distribuída e demais informações pertinentes.
Caberá ao órgão de saúde responsável pela vigilância da qualidade da água para
consumo humano:
Art. 17. Compete aos órgãos de saúde responsáveis pela vigilância da qua-
lidade da água para consumo humano:
I - manter registros atualizados sobre as características da água distribuí-
da, sistematizados de forma compreensível à população e disponibilizados
para pronto acesso e consulta pública;
II - dispor de mecanismos para receber reclamações referentes às caracte-
rísticas da água, para adoção das providências adequadas;
III - orientar a população sobre os procedimentos em caso de situações de
risco à saúde; e
IV - articular com os Conselhos Nacionais, Estaduais, do Distrito Federal,
dos Territórios e Municipais de Saúde, Saneamento e Meio Ambiente, Re-
cursos Hídricos, Comitês de Bacias Hidrográcas e demais entidades repre-
sentativas da sociedade civil atuantes nestes setores, objetivando apoio na
implementação deste Anexo.
§ 1
o
Os órgãos de saúde deverão assegurar à população o disposto no
art. 14 deste Anexo, exigindo maior efetividade, quando necessário, e
informar ao consumidor sobre a solução do problema identicado, se
houver, no prazo máximo de trinta dias, após o registro da reclamação.
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
233
Secretaria de Vigilância em Saúde
§ 2
o
No caso de situações de risco à sde de que trata o inciso III e o
§ 1
o
deste a rtigo, os óros de sde deveo manter entendimentos
com o responvel pelo sistema de abastecimento ou por solução al-
ternativa coletiva quanto às orientões que deveo ser prestadas à
população por ambas as partes.
Art. 18. Caberão aos Ministérios da Saúde, da Justiça, das Cidades, do
Meio Ambiente e às autoridades estaduais, municipais, do Distrito Federal
e Territórios, o acompanhamento e a adoção das medidas necessárias para
o cumprimento do disposto neste Anexo.
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Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
240
Secretaria de Vigilância em Saúde
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APÊNDICE
MÉTODOS ANALÍTICOS RECOMENDADOS
PELO STANDARD METHODS FOR WORLD
WATER ASSOCIATION RESEARCHERS
PARA PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
243
Secretaria de Vigilância em Saúde
Tabela I
Métodos analíticos para substâncias químicas que representam
risco à saúde
PARÂMETRO UNIDADE VMP
1
MÉTODOS RECOMENDADOS
PRINCÍPIO ANALÍTICO
NÚMERO
DO MÉTODO
NO SM
INORGÂNICAS
Antimônio
mg/L 0,005 Espectrofotometria de absorção atômica com va-
porização eletrotérmica; Espectrometria de massa
com plasma induzido, ICP-MS.
3500-Sb
Arsênio
mg/L 0,01
Espectrofotometria de absorção atômica com va-
porização eletrotérmica; Espectrofotometria de absor-
ção atômica com geração de hidretos; Espectrometria
de massa com plasma induzido, ICP-MS; Método
colorimétrico, baseado na reação da arsina (AsH3
– arsina é gerada a partir da reação do arsênio, na
forma de arsenito e arsenato, com o hidreto de sódio
e boro) com o dietilditiocarbamato de prata.
3500-As
(A e B)
Bário
mg/L 0,7
Espectrofotometria de absorção atômica de chama
ou de vaporização eletrotérmica; Espectrometria de
plasma indutivamente acoplado – ICP (ICP-AES ou
ICP-MS).
3500-Ba
Cádmio
mg/L 0,005
A espectrofotometria de absorção atômica de vapo-
rização eletrotérmica é o método mais recomendado.
A espectrofotometria de absorção atômica de chama,
a espectrometria de plasma indutivamente acoplado
– ICP e o método colorimétrico da “dithizone” podem
ser utilizado em situações especícas.
3500-Cd
Cianeto
mg/L 0,07
Método colorimétrico; Método potenciométrico com
eletrodo seletivo para esse íon. Em ambos os casos, o
método de determinação deve ser precedido de cuida-
doso preparo da amostra com vistas à eliminação/mi-
nimização de impurezas e procedimento de destilação.
4500-CN
(B, C, E e F)
Chumbo
mg/L 0,01
Espectrofotometria de absorção atômica de chama
ou de vaporização eletrotérmica; Espectrometria de
plasma indutivamente acoplado – ICP (ICP-AES ou
ICP-MS); Método colorimétrico da “dithizone”.
3500-Pb
Cobre
mg/L 2
Espectrofotometria de absorção atômica de chama
ou de vaporização eletrotérmica; Métodos colorimé-
trico “bathocuproine”; Método colorimétrico “neocu-
proine”.
3500-Cu
Cromo
mg/L 0,05
Espectrofotometria de absorção atômica de chama
ou de vaporização eletrotérmica; Espectrometria de
plasma indutivamente acoplado – ICP (ICP-AES ou
ICP-MS); Método colorimétrico. Para determinação
de cromo total pelo método colorimétrico, faz-se
necessário oxidação para promover a conversão de
todas as espécies de cromo para cromo hexavalente.
3500-Cr (A e B)
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
244
Secretaria de Vigilância em Saúde
PARÂMETRO UNIDADE VMP
1
MÉTODOS RECOMENDADOS
PRINCÍPIO ANALÍTICO
NÚMERO
DO MÉTODO
NO SM
INORGÂNICAS
Fluoreto (2)
mg/L 1,5 Potenciométrico com eletrodo seletivo para esse
íon; Método colorimétrico SPADNS; O método co-
lorimétrico “Cloplexome” (automatizado e exige
equipamento especíco). Os métodos colorimétricos
envolvem etapa de destilação prévia.
4500-F
-
Mercúrio
mg/L 0,001 A espectrofotometria de absorção atômica de
geração de vapor-frio é o método de determinação
recomendado.
3500-Hg
Nitrato (como N)
mg/L 10 Método colorimétricos da redução por cádmio
(realizado com ou sem auxílio de equipamento es-
pecíco para automatização do método); Método
colorimétrico automatizado da redução com hidra-
zina; Método potenciométrico com eletrodo de íon
especíco para nitrato.
4500-NO
3
Nitrito (como N)
mg/L 1 Método colorimétrico (reação com sulfanilamida
em meio ácido).
4500-NO
2
Selênio
mg/L 0,01 A espectrofotometria de absorção atômica de va-
porização eletrotérmica ou de geração de vapor-frio;
Método colorimétrico (derivatização).
3500-Se
(A, B e C)
ORGÂNICAS
Acrilamida
µg/L
0,5
Benzeno
µg/L 5 CG/MS precedido de extrão em fase gasosa (“Purge
& Trap”) ou CG utilizando detector de fotoionização e
detector de condutividade eletrolítica em série.
6200-B,C
(LD 0,036 µg/L)
Benzo[a]pireno
µg/L 0,7 CG/MS precedido de extração em fase líquida.
Extração em fase líquida seguido de análise em
HPLC utilizando detector UV ou de uorescência (LD
0,023 µg/L) ou, opcionalmente, análise em CG utili-
zando detector de ionização de chama.
6410-B*
6440-B
Cloreto de Vinila
µg/L 5 CG/MS precedido de extração em fase gasosa
(“Purge & Trap”) ou CG utilizando detector de fo-
toionização e detector de condutividade eletrolítica
em série.
6200-B,C
(LD 0,120 µg/L)
1,2 Dicloroetano
µg/L
10
6200-B,C
(LD 0,055 µg/L)
1,1 Dicloroeteno
µg/L
30
6200-B,C
(LD 0,130 µg/L)
Diclorometano
µg/L
20
6200-B,C
(LD 0,099 µg/L)
Estireno
µg/L
20
6200-B,C
(LD 0,031 µg/L)
Tetracloreto
de Carbono
µg/L
2
6200-B,C
(LD 0,042 µg/L)
Tetracloroeteno
µg/L 40 Extração em fase gasosa (closed-loop stripping)
seguida de análise em CG/MS ou, alternativamente,
CG com detector de ionização de chama.
CG/MS precedido de extrão em fase gasosa (“Purge
& Trap”) ou CG utilizando detector de fotoionização e
detector de condutividade eletrolítica em série.
6040-B
(LD 0,100 µg/L)
6200-B,C
(LD 0,047 µg/L)
Continuação
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
245
Secretaria de Vigilância em Saúde
PARÂMETRO UNIDADE VMP
1
MÉTODOS RECOMENDADOS
PRINCÍPIO ANALÍTICO
NÚMERO
DO MÉTODO
NO SM
INORGÂNICAS
Triclorobenzenos
µg/L 20
Extração em fase gasosa (closed-loop stripping)
seguido de análise em CG/MS ou, alternativamente,
CG com detector de ionização de chama.
CG/MS precedido de extração em fase gasosa
(“Purge & Trap”) ou CG utilizando detector de fo-
toionização e detector de condutividade eletrolítica
em série.
CG/MS precedido de extração em fase líquida.
6040-B
(LD < 0,010 µg/L)
6200-B,C
(LD 0,047 µg/L)
6410-B*
Tricloroeteno
µg/L 70
Extração em fase gasosa (closed-loop stripping)
seguida de análise em CG/MS ou, alternativamente,
CG com detector de ionização de chama.
CG/MS precedido de extração em fase gasosa
(“Purge & Trap”) ou CG utilizando detector de fo-
toionização e detector de condutividade eletrolítica
em série.
6040-B
(LD 0,100 µg/L)
6200-B,C
(LD 0,045 µg/L)
AGROTÓXICOS
Alaclor
µg/L
20,0
Aldrin e Dieldrin
µg/L 0,03
CG/MS precedido de extração em fase líquida.
CG com utilização de detector de captura de elé-
trons, precedido de extração em fase líquida.
6410-B*
6630-B,C **
Atrazina
µg/L 2
Bentazona
µg/L 300
Extração em fase líquida (micro) e análise em CG
dotado de detector de captura de elétrons.
6640-B
(LD 0,010 µg/L)
Clordano
(isômeros)
µg/L 0,2
CG/MS precedido de extração em fase líquida.
CG com utilização de detector de captura de elé-
trons, precedido de extração em fase líquida.
6410-B*
6630-B,C**
2,4 D
µg/L 30
Extração em fase gasosa (closed-loop stripping)
seguido de análise em CG/MS ou, alternativamente,
CG com detector de ionização de chama.
6640-B
(LD 0,100 µg/L)
DDT (isômeros)
µg/L 2
CG/MS precedido de extração em fase líquida.
CG com utilização de detector de captura de elé-
trons, precedido de extração em fase líquida.
6410-B*
6630-B,C**
Endossulfan
µg/L
20
6410-B*
6630-B,C**
Endrin
µg/L
0,6
6410-B*
6630-B,C**
Glifosato
µg/L 500
HPLC dotado de detector de uorescência e reator
de derivatização pós-coluna.
6651-B
(LD 25 µg/L)
Heptacloro e
Heptacloro
epóxido
µg/L 0,03
CG/MS precedido de extração em fase líquida.
CG com utilização de detector de captura de elé-
trons, precedido de extração em fase líquida.
6410-B*
6630-B,C**
Hexaclorobenzeno
µg/L 1
Extração em fase gasosa (closed-loop stripping)
seguido de análise em CG/MS ou, alternativamente,
CG com detector de ionização de chama.
CG/MS precedido de extração em fase líquida.
6040-B
6410-B *
Continuação
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
246
Secretaria de Vigilância em Saúde
PARÂMETRO UNIDADE VMP
1
MÉTODOS RECOMENDADOS
PRINCÍPIO ANALÍTICO
NÚMERO
DO MÉTODO
NO SM
INORGÂNICAS
Lindano (γ-BHC)
µg/L 2 CG com utilizão de detector de captura de
elétrons, precedido de extração em fase líquida.
6630-B **
Metolacloro
µg/L 10
Metoxicloro
µg/L 20 CG com utilização de detector de captura de
elétrons, precedido de extração em fase líquida.
6630-B **
Molinato
µg/L 6
Pendimetalina
µg/L 20
Pentaclorofenol
µg/L 9 CG/MS precedido de extração em fase líquida.
Extração em fase líquida e análise em CG dotado
de detector de ionização de chama, seguida de de-
rivatização e análise em CG dotado de detector de
captura de elétrons.
Extração em fase líquida (micro) e análise em CG
dotado de detector de captura de elétrons.
6410-B *
6420-B
6640-B
(LD 0,020 µg/L)
Permetrina
µg/L 20
Propanil
µg/L 20
Simazina
µg/L 2
Triuralina
µg/L 20 CG com utilização de detector de captura de elé-
trons, precedido de extração em fase líquida.
6630-B **
CIANOTOXINAS
Microcistinas (3)
µg/L 1,0 Extração/concentração em fase sólida (cartuchos
C-18) seguido de eluição da microcistina adsorvida
à fase lida e evaporação do solvente utilizado. O
material seco é resuspendido em metanol e pode
ser analisado em HPLC dotado de detector UV. O
material seco pode ser guardado em freezer e res-
suspendido no momento da análise. O limite de
detecção usual para esse método é de 1 µg/L.
O imunoensaio tipo ELISA (Enzyme-Linked Immu-
no Sorbent Assay) pode ser usado para detecção
de microcistina em água sem a necessidade de pro-
ceder-se à concentração da amostra. Existem kits
comerciais disponíveis para análise de microcistina,
apresentando um limite de detecção de 16 ppb.
Chorus e
Bartram
(1999)
DESINFETANTES E PRODUTOS SECUNDÁRIOS DA DESINFECÇÃO
Bromato
mg/L 0,025
Clorito
mg/L 0,2 Alguns métodos usados para detecção de dióxido
de cloro permitem a detecção de clorito, são eles:
Métodos amperométricos I e II e DPD (titulométrico
e colorimétrico).
4500-ClO
2
C,D,E
Cloro livre
mg/L 5 Titulação amperométrica (2); DPD titulométrico;
DPD colorimétrico; “syringaldazine” colorimétrico.
4500-Cl-
D,E,F,G,H
Continua...
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
247
Secretaria de Vigilância em Saúde
PARÂMETRO UNIDADE VMP
1
MÉTODOS RECOMENDADOS
PRINCÍPIO ANALÍTICO
NÚMERO
DO MÉTODO
NO SM
INORGÂNICAS
Monocloramina
mg/L 3 Alguns métodos usados para detecção de cloro
total permitem a determinação especíca da mono-
cloroamina, são eles: titulação amperométrica; DPD
titulométrico; DPD colorimétrico.
4500-Cl-D,F,G
2,4,6 Triclorofenol
mg/L 0,2 Extração em fase líquida (micro) e análise em CG
dotado de detector de captura de elétrons. Coluna
analítica e de conrmação podem ser usadas em
paralelo ou uma após a outra.
CG/MS precedido de extração em fase líquida.
Extração em fase líquida e análise em CG dotado
de detector de ionização de chama, seguida de de-
rivatização e análise em CG dotado de detector de
captura de elétrons.
6251
(LD 0,034 µg/L)
6410-B*
6420-B
Trihalometanos
Total
mg/L 0,1 Extração em fase líquida e análise em CG dotado
de detector de captura de elétrons. Extração em fase
gasosa (“Purge & Trap”) e análise em CG/MS ou CG.
6232-B,C,D
(LD 0,100 a
200 µg/L)
* O método 6410-B geralmente apresenta menor sensibilidade do que os outros métodos indicados
para o mesmo composto.
** O limite de detecção dos todos 6630-B e 6630-C depende da sensibilidade do detector, da
eficiência dos procedimentos de extração, limpeza e concentração, além da relação sinal/ruído.
O método 6630-C permite o uso de outra coluna para confirmação de resultados.
Tabela II
Métodos analíticos para os parâmetros relacionados ao padrão
de aceitação para consumo humano
PARÂMETRO UNIDADE VMP
1
MÉTODOS RECOMENDADOS
PRINCÍPIO ANALÍTICO
NÚMERO DO
MÉTODO NO
SM
Alumínio
mg/L
0,2
Espectrofotometria de absorção atômica (de cha-
ma, vaporização eletrotérmica, geração de hidreto,
geração de vapor frio); Espectrometria de plasma
indutivamente acoplado – ICP (espectrometria de
emissão atômica com fonte de plasma, ICP-AES e es-
pectrometria de massa com fonte de plasma, ICP-MS);
método colorimétrico do “Eriochrome Cyanine R”
3500-Al
Amônia
(como NH
3
)
mg/L 1,5 Método potenciométrico com eletrodo seletivo
para esse íon; método colorimétrico do fenato, com
ou sem automatização.
4500-NH
3
D,E,F, G e H
Continuação
Continua...
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
248
Secretaria de Vigilância em Saúde
PARÂMETRO UNIDADE VMP
1
MÉTODOS RECOMENDADOS
PRINCÍPIO ANALÍTICO
NÚMERO
DO MÉTODO
NO SM
Cloreto
mg/L 250 Método argentométrico (titulação); Método do
Nitrato Mercúrico (titulação); Método da Titulação
Potenciométrica; Método colorimétrico do cianeto
férrico; Cromatograa Iônica.
4500-Cl
-
B,C,D,E
4110
Cor Aparente
uH
2
15 Comparação visual com padrões Pt-Co. 2120 B
Dureza
mg/L 500 Calculada a partir da determinação de Ca
2+
e
Mg
2+
; Titulação com EDTA
2340
Etilbenzeno
mg/L 0,2 Extração em fase gasosa (closed-loop stripping)
seguido de análise em CG/MS ou, alternativamente,
CG com detector de ionização de chama.
CG/MS precedido de extração em fase gasosa
(“Purge & Trap”) ou CG utilizando detector de fo-
toionização e detector de condutividade eletrolítica
em série.
6040 B
(LD 0,050 µg/L)
6200 B,C
(LD 0,052 µg/L)
Ferro
mg/L 0,3 Espectrofotometria de absorção atômica; Espec-
trometria de plasma indutivamente acoplado - ICP ;
Método colorimétrico da fenantrolina.
3500-Fe
Manganês
mg/L 0,1 Espectrofotometria de absorção atômica; Espec-
trometria de plasma indutivamente acoplado - ICP ;
Método colorimétrico do persulfato (usando cubeta
de 5 cm de caminho ótico).
3500-Mn
Monoclorobenzeno
mg/L 0,12 Extração em fase gasosa (closed-loop stripping)
seguida de análise em CG/MS ou, alternativamente,
CG com detector de ionização de chama.
CG/MS precedido de extração em fase gasosa
(“Purge & Trap”) ou CG utilizando detector de fo-
toionização e detector de condutividade eletrolítica
em série.
6040 B
(LD 0,010 µg/L)
6200 B,C
Odor
- NO
3
Gosto
- NO
3
Sódio
mg/L 200 Espectrofotometria de absorção atômica de cha-
ma; Espectrometria de plasma indutivamente aco-
plado – ICP; Fotometria de emissão de chama.
3500-Na
Sólidos dissolvidos
totais
mg/L 1.000 Método gravimétrico com secagem a 180
o
C. 2540 C
Sulfato
mg/L 250 Cromatograa iônica; Métodos gravimétricos;
Método turbidimétrico; Método automatizado de
azul de metiltymol.
4500-SO
4
2-
4110
Continua...
Continuação
Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à saúde
249
Secretaria de Vigilância em Saúde
PARÂMETRO UNIDADE VMP
1
MÉTODOS RECOMENDADOS
PRINCÍPIO ANALÍTICO
NÚMERO
DO MÉTODO
NO SM
Sulfeto de
Hidrogênio
mg/L 0,05 Sulfeto de hidrogênio pode ser calculado a par-
tir da medida de sulfeto total dissolvido, do pH da
amostra e da constante de ionização do sulfeto de
hidrogênio. O sulfeto em concentrações baixas, por
sua vez, pode ser determinado por meio de eletrodo
seletivo para esse íon ou pelo método automatizado
da diálise gasosa-azul de metileno.
4500-S
2-
Surfactantes
mg/L 0,5 O surfactante é separado da água por sublation
e em seguida as frações aniônicas e não iônicas são
determinadas por métodos de extração e quantica-
das por métodos colorimétricos especícos.
5540
(LD 0,047 µg/L)
Tolueno
mg/L 0,17 CG/MS precedido de extração em fase gasosa
(“Purge & Trap”) ou CG utilizando detector de fo-
toionização e detector de condutividade eletrolítica
em série.
6200 B,C
Turbidez
UT
(4)
5 Método nefelométrico. 2130
Zinco
mg/L 5 Espectrofotometria de absorção atômica; Espec-
trometria de plasma indutivamente acoplado – ICP;
Método colorimétrico “zincon”.
3500-Zn
Xileno
mg/L 0,3 Extração em fase gasosa (closed-loop stripping)
seguida de análise em CG/MS ou, alternativamente,
CG com detector de ionização de chama.
CG/MS precedido de extração em fase gasosa
(“Purge & Trap”) ou CG utilizando detector de fo-
toionização e detector de condutividade eletrolítica
em série.
6040 B
(LD <
0,100 µg/L m,
p-xileno e o-xileno)
6200 B,C
(LD 0,038 µg/L m,
p-xileno e
oxileno )
1
Valor Máximo Permitido.
2
Unidade Hazen (mg Pt-Co/L).
3
Não Objetável − critério de referência.
4
Unidade de Turbidez.
Continuação