Leva o corpo compungido meu,
livra minh’alma da vida eterna,
horizonte mau, vertente do olhar,
domingo de Ramos, festa, palmas,
horizonte do sal, horto das almas.
Verga, mastro, vela mor, cordame,
nave das almas, espírito oscilante,
seqüestra deuses pra garantir vaga
na base de mármore do altar mor,
sangue de sacrifício, alvo, sem cor.
Maria não machuca, não me morde,
tira a boca de sobre a minha glande,
deixa-me suspirar, deixa-me aspirar,
sol do meu sol, luz da minha luz,
magia da magia, carta negra e cruz.
Calmo espírito das almas benditas,
Maria
per omnia secula seculorum,
Maria mãe de mim, mãe das almas,
arruína as almas que sobreviveram
à própria ruína e dita a oração viva.
Se alma fosse pedra sem lágrima,
sem fosso, tesouro oculto, ideologia,
derreteria alma criança em vôo cego,
garça vermelha no céu azul plúmbeo,
onde a beleza mata a luz que carrego.
Passarinhos pipilam, pombos brancos,
gatos ariscos, cães que não ladram,
ó mãe das mães, ó alma das almas!
padres não rezam missas matinais,
adolescentes ditam amor entre ruínas.
Vê o nobre semblante das negras,
a estatura das Caixeiras do Divino,
o olhar milenar pousado na criatura
vem de longe despertar a tradição,
livre sem medo, livre da escravidão.
Ame a leveza hercúlea, o corpo ágil,
alma nobre que recusa se arruinar,
assusta a ladeira, pedra escorregadia,
debatem garças no clamor do vento,
recusa de moradia o limo do tempo.