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ESUMO
Oliveira, Jaime Lopes da Mota. Comportamento do dicofol e da atrazina nos
processos de tratamento de esgoto por lodo ativado e de pós-tratamento do lodo
por biodigestores anaeróbios. 2008. Tese de Doutorado em Ciências (Microbiologia)
Instituto de Microbiologia, Centro de Ciência da Saúde, UFRJ, Rio de Janeiro. 2008.
Muitas substâncias orgânicas foram desenvolvidas e utilizadas ao longo dos anos
sem um conhecimento mais aprofundado de seus efeitos negativos. Por exemplo, os
pesticidas muito usados no controle de pragas são bastante conhecidos pelo potencial
carcinogênico, sua genotoxicidade e como desregulador hormonal. Uma possível rota
para essas substâncias atingirem o meio ambiente é pelo esgotamento sanitário sendo
que pouco se sabe sobre a remoção e/ou degradação desses compostos pelo processo
convencional de tratamento de esgoto. O objetivo desse trabalho foi medir a
mineralização, a distribuição e o comportamento do acaricida dicofol e do herbicida
atrazina por um processo de tratamento aeróbio por lodo ativado em batelada e pós-
tratamento do lodo por biodigestores anaeróbios. Além disso, foi avaliado o potencial
estrogênico do dicofol pelo ensaio YES. Os tratamentos foram realizados em escala
laboratorial para que fossem usadas marcação isotópica e medido diretamente o
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C-
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. Os ensaios foram realizados adicionando-se esgoto bruto, lodo biológico e o
poluente orgânico em reatores aeróbios. O processo biológico foi avaliado em regime de
batelada de 24 horas por 7 dias. As concentrações de dicofol e de atrazina adicionadas
ao reator aeróbio foram de 1 mg/L. Após esse período, o lodo foi estabilizado em
biodigestores anaeróbios. A eficiência dos processos foi medida pelas análises de
demanda química de oxigênio (DQO), sólido em suspensão volátil (SSV), índice
volumétrico de lodo (IVL), sólido total (ST), sólido total volátil (STV) e a produção de
gases e o lodo biológico foi monitorado microscopicamente quanto à ocorrência de
protozoários. Os resultados do teste YES mostraram que não foi possível avaliar a
atividade estrogênica do dicofol devido às limitações do teste e a alta toxicidade do
dicofol. A eficiência do processo aeróbio em relação a remoção de DQO foi afetada
pelo dicofol, mas não pela atrazina. Essas substâncias não foram mineralizada por este
processo, mas é provável que elas tenham sido parcialmente degradadas. A maior parte
da radioatividade no ensaio aeróbio com dicofol foi medida no lodo biológico, já no
experimento com atrazina essa radioatividade foi arrastada com o efluente tratado. O
dicofol e a atrazina não afetaram o desempenho dos biodigestores anaeróbios. O lodo
contendo dicofol foi estabilizado com 18 dias de processo e o lodo contendo atrazina foi
estabilizado com 11 dias, provavelmente devido ao baixo teor de ST que este processo
foi iniciado. Na biodigestão do lodo com dicofol por um tempo prolongado foi
observada uma pressão negativa no biodigestor, possivelmente decorrente da inibição às
enzimas do ciclo metanogênico. Não foi medida remoção significativa da radioatividade
no lodo digerido com dicofol, mas no lodo com atrazina esta remoção foi de 50% sendo
possível sua degradação a compostos voláteis. A atrazina e o dicofol não foram
mineralizados pela biodigestão anaeróbia. Para comprovar a degradação parcial desses
dois compostos nesses processos de tratamento é necessária uma análise química para
quantificar os seus resíduos e identificar seus metabólitos. Pelos resultados obtidos, a
sugestão seria a inversão dos processos, isto é, o esgoto passaria inicialmente pelo
processo anaeróbio e em seguida pelo processo aeróbio. Dessa forma, acredita-se que a
atrazina seria metabolizada pela etapa anaeróbia, enquanto que nesta mesma etapa
ocorreria degradação inicial do dicofol que seguiria para a posterior etapa aeróbia.