Ao contrário do que podem proclamar essas idéias equivocadas, as línguas
de sinais são passíveis de análise em todos os níveis lingüísticos tradicionais
(fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático), assim como em áreas
de investigação mais recentes da Lingüística, representadas pela análise da
conversa, pela análise do discurso, por vários ramos da sociolingüística, dentre
outras, o que leva Quadros e Karnopp (2004, p. 30) a afirmarem que “As línguas de
sinais são, portanto, consideradas pela lingüística como línguas naturais ou como
um sistema lingüístico legítimo e não como um problema do surdo ou como uma
patologia da linguagem”. Pelo fato de o canal auditivo encontrar-se insuficientemente
funcional, para as crianças e jovens surdos, a aquisição da língua portuguesa, na
modalidade oral, ou seja, produzida pelo aparelho fonoarticulatório, é limitada. A
língua oral será aprendida, em razão disso, por meios formais, logopedia e
fonoterapia
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, motivo pelo qual se torna, para a maioria das pessoas surdas,
funcionalmente, sua segunda língua, ainda que tenham sido expostas a ela antes do
que à língua de sinais. Este fato origina a necessidade de intérpretes para as
pessoas surdas que compartilham o mesmo espaço geográfico em que se utiliza a
mesma língua vocal que os ouvintes.
Quanto à sua estrutura, diferentemente da Língua Portuguesa ou de qualquer
outra língua oral, a relação entre os elementos lingüísticos, na Libras, se dá,
principalmente, pela sua disposição espacial
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. Segundo Brito (1995, p. 12), o estudo
das línguas sinalizadas pode influenciar o modo como a Lingüística concebe a
linguagem, pois algumas noções teriam que ser revistas com uma mente aberta às
possibilidades dos seres humanos ditos normais ou daqueles com algum
impedimento sensorial ou motor que, mesmo assim, desenvolvem suas capacidades
lingüísticas. Além disto, o estudo da língua de sinais propicia uma outra perspectiva
sobre as pessoas surdas, não só nos lingüistas, mas nos educadores, em geral, pois
não há como não considerar toda a problemática da comunidade surda quanto a
questões sobre o poder entre as línguas: trata-se de uma língua de um grupo
minoritário e considerado “deficiente” que tem que lidar com as conseqüências desta
marca negativa dada pela comunidade ouvinte, em geral.
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Métodos para o ensino da oralização e do aproveitamento de resíduos auditivos, respectivamente.
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Existe, ainda, a língua de sinais tátil, utilizada por pessoas surdocegas, que não é muito conhecida,
pois, em geral, é preciso ter aprendido a língua de sinais, antes de perder a visão, para utilizá-la de
maneira funcional.