Belvedere III: um estudo de caso da influência do mercado imobiliário na produção da paisagem e espaço urbanos
Flávia P. Amorim
PROARQ-UFRJ/2007
Em março de 2000, segundo publicação da época
10
, a região já era considerada o maior
canteiro de obras do país, com 19 obras finalizadas, 10 com conclusão prevista para junho de
2000 e 44 em construção. Obras em sua maioria com apartamentos com áreas entre 135 m² e
550 m², alguns de 70 m², todos com alto padrão e preços entre 120 mil e 1 milhão de reais.
Sinai Waisberg, responsável pelo desenvolvimento do bairro afirma que este é “o único bairro da
zona sul de Belo Horizonte que foi totalmente planejado” e acrescenta que “seu planejamento
vem sendo seguido a risca.”
11
Em 2003, o bairro contava com 80% de área construída e 90%
dos apartamentos prontos, ocupados.
O quadro 1 apresenta um resumo dos eventos que envolveram a criação do bairro Belvedere III,
uma ocupação que se desenvolveu em uma velocidade surpreendente – em cinco anos já se
apresentava quase que completamente consolidado – mudando totalmente a paisagem da
região. Segundo publicações do Jornal do Belvedere, atualmente, não existem mais lotes para
vender no bairro. Como podemos ver no mapa abaixo grande parte dos lotes encontram-se
edificados, poucos ainda estão em construção e uma pequena parcela ainda permanece
desocupada.
O rápido crescimento do bairro pode ser notado por meio de dados sobre o “HABITE-SE” que
refletem o ano em que as obras foram concluídas e a quantidade de obras em cada ano.
Analisamos dados do cadastro da Prefeitura de Belo Horizonte, contendo todas as baixas
ocorridas desde 1997.
10
ALBUQUERQUE, Fernando. “Belvedere já tem cara de bairro”. Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, caderno Habitar, 25 mar. 2000 p. 13)
11
Revista Siduscon. “Qualidade de vida em primeiro lugar”. Belo Horizonte, ano V, p. 10, 20 maio 2000.
Quadro 1 – Cronologia dos
acontecimentos:
relação entre fatos nacionais, regionais e
locais
Data Acontecimentos
1973 Área atualmente ocupada pelo Belvedere
III passa a integrar a reserva do
cercadinho sob responsabilidade da
COPASA.
1978 Área que atualmente é ocupada pelo
Belvedere III é alvo de ação pelos irmãos
Guimarães reivindicando propriedade.
1980 Primeiro pedido de urbanização do
Belvedere III.
1984 Novos questionamentos quanto à
propriedade dos Irmãos Guimarães.
1988 Laudo indica a improbidade de ocupação
de área.
Novo pedido de aprovação do loteamento
do Belvedere III e aprovação pelo prefeito
em exercício com alteração do
zoneamento.
1989 Tentativas da prefeitura, com outro
prefeito de alteração do gabarito aprovado
anteriormente.
1992 A empresa Guimarães obtém ganho de
causa na justiça para edificar o que havia
sido aprovado em 1988.
1994 Novos pedidos judiciais de impedimento
de que o bairro seja edificado ocorrem,
mas um despacho judicial libera o
loteamento.
Pedido de realização de EIA-RIMA é
ignorado.
1995 Mandado judicial libera definitivamente o
loteamento.
1998 Inicio das obras do bairro.
2003 80% de área construída e 90% dos
apartamentos prontos, ocupados.