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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA
ELIZABETE DOS SANTOS
TV DIGITAL INTERATIVA:
contribuições ao programa de formação continuada de professores da rede
pública estadual de educação básica no Paraná.
DISSERTAÇÃO
Curitiba
2010
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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA
ELIZABETE DOS SANTOS
TV DIGITAL INTERATIVA:
contribuições ao programa de formação continuada de professores da rede
pública estadual de educação básica no Paraná.
Dissertação apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em
Tecnologia, do Programa de Pós-Graduação
em Tecnologia, Universidade Tecnológica
Federal do Paraná. Área de Concentração:
Tecnologia e Interação.
Orientador: Prof. Dr. Hilton José da Silva de
Azevedo
Curitiba
2009
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Ata da defesa da Dissertação
Dedico ao meu pai,
homem inquieto e curioso,
que olhava para as coisas do mundo
com olhos de aprendiz!
AGRADECIMENTOS
A ciência e a sociedade demandam, de seus mestres e doutores acadêmicos,
a contribuição com novas pesquisas, para que ciência e sociedade se aprimorem.
Meus agradecimentos, portanto, dirigem-se, em primeiro lugar, ao meu
orientador, Professor Hilton José da Silva de Azevedo, por sua dedicação e
seriedade na orientação e pela confiança depositada nesses meus primeiros passos
como pesquisadora. Meu reconhecimento, também, às professoras Luciana Martha
Silveira, Rosa Maria Cardoso Dalla Costa e Monica Fort, cujas ponderações e
sugestões foram estimulantes em meu processo de qualificação.
A coleta de dados necessária ao desenvolvimento de uma pesquisa
acadêmica demanda a disposição daqueles que, em suas esferas de atividade,
trabalham e dispõem das informações necessárias à investigação em curso.
Registro, assim, meu agradecimento, ao professor Álvaro Veiga da PUC/RJ e
à equipe de educação a distância da SEED/PR, pelas informações e reflexões tão
valiosas à pesquisa. Quero estender também esse agradecimento à Rita de Cássia
Teixeira Gusso e Zélia Maria H. Garcia pela necessária ajuda técnica.
No transcurso de um trabalho de mestrado, são indispensáveis as pessoas
que, trilhando conosco caminhos da profissão e da amizade, dão-nos o apoio nos
momentos precisos.
Agradeço, aqui, aos companheiras de caminhada, Alayde, Yvelise, Fátima,
Gilian, Aldemara, Marcos, Mônica, Eziquiel, Leda Maria, Leda Regina, Vanilza e Ana
pelo incentivo e solidariedade em momentos decisivos.
E aqueles que, participando das esferas de nossa intimidade, são capazes
de alicerçar um trabalho como este com a sua generosidade.
Meu agradecimento especial, quando concluo este trabalho, aos “meninos e
meninas de casa”: Vitor, Yasmin, Tiago e Halina, generosos no apoio e
compreensivos com as ausências.
Minha gratidão, por fim, ao Ricardo, meu querido, presença sensível e
incentivadora, pelo acolhimento tão essencial na realização deste trabalho.
RESUMO
SANTOS, Elizabete dos. TV Digital Interativa: contribuições ao programa de
formação continuada de professores da rede pública estadual de educação básica
no Paraná. 177 f. Disseração (Mestrado em Tecnologia) Programa de Pós-
Graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná.
Curitiba, 2005.
A partir de uma pesquisa qualitativa que combina a pesquisa bibliográfica e a
exploratória, é apresentado um panorama conceitual, abrangendo distintas áreas do
conhecimento que podem auxiliar a tomada de decisão na implantação de políticas
públicas na área de formação de professores e nas ações referentes ao uso
interativo da Televisão Digital no contexto educacional, no Estado do Paraná. Para
contextualizar a problemática existente, além da pesquisa bibliográfica sobre os
quadros teóricos que tratam de televisão e interatividade, é traçado um panorama
oficial da implantação da Televisão Digital, por meio do resgate de documentos
oficiais que tratam do tema. O quadro teórico é complementado com dados
documentais relativos às ações existentes na rede pública do estado do Paraná
que tangenciam o objeto de pesquisa. O percurso é finalizado com uma pesquisa de
campo que traz as visões de dois grupos distintos afeitos à questão: os
desenvolvedores técnicos da plataforma tecnológica de interatividade da Televisão
Digital no Brasil e os responsáveis pela definição de programas de formação
continuada, na modalidade a distância, de professores da rede pública estadual de
educação básica do Paraná. Os resultados iniciais da pesquisa apontam para um
desenvolvimento de interatividade ainda incipiente com relação à expectativa dos
educadores; pouco conhecimento, por parte dos educadores, das possibilidades da
televisão digital do Brasil e abertura para incorporação de uma tecnologia que
articule linguagem televisual e interatividade nos programas de formação continuada
de professores do Paraná.
Palavras-chave: Identidade cultural, televisão, interação, ferramentas de
interatividade, formação continuada de professores.
ABSTRACT
This study describes a conceptual overview from a qualitative research that
combines bibliographic and exploratory researches, including different areas of
knowledge that can help in decision making in the implementation of public policies in
teacher training and in actions concerning the interactive use of digital television in
educational context in Paraná state. To contextualize the existing problem, in
addition of the bibliographic research on the theoretical figure that deal with television
and interactivity, it describes an official overview of the Digital Television introduction,
through the survival of official documents dealing with the issue. The theoretical
figure is complemented by documentary data relating to existing actions in public
education of Paraná related to the research object. At the end, a field research brings
the vision of two distinct groups about the question: the technical developers of
technological platform of interactivity for Digital Television in Brazil and the
responsible for defining continuing education programs, in distance mode, for public
school teachers in Paraná. The initial results point to an incipient development of
interactivity in relation to the teachers' expectations; few knowlegde, by the teachers,
about the possibilities of digital television in Brazil and access to incorporate a
technology that articulates televisual language and interactivity in continuing
education programs for teachers in Paraná.
Keywords: Cultural identity, television, interaction, interactivity tools, continuous
education program for teachers.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – FERRAMENTAS INTERATIVAS E SUAS CARACTERÍSTICAS.......87
QUADRO2 – RESUMO DO PANORAMA CONCEITUAL SOBRE A TELEVISÃO
DIGITAL INTERATIVA........................................................................89
QUADRO 3 – PERSPECTIVAS TECNOLÓGICAS DA TELEVISÃO DIGITAL
INTERATIVA.....................................................................................107
QUADRO 4 – FERRAMENTAS DE INTERAÇÃO DISPONÍVEIS NO AMBIENTE
VIRTUAL DE APRENDIZAGEM E-ESCOLA....................................123
!
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................9
2 METODOLOGIA DA PESQUISA............................................................................15!
2.1 OBJETIVOS DA PESQUISA...........................................................................18!
2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................19!
3 PANORAMA CONCEITUAL DA TELEVISÃO DIGITAL INTERATIVA....................26!
3.1 CULTURA E INTERAÇÃO...............................................................................26
3.2 TELEVISÃO E CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS......................................35
3.2.1 SURGIMENTO DA TELEVISÃO E CARACTERÍSTICAS DA
SUA LINGUAGEM.................................................................................................41
3.2.2 RECEPÇÃO E EDUCAÇÃO.........................................................................58
3.3 TELEVISÃO E INTERATIVIDADE...................................................................73
4 TELEVISÃO DIGITAL INTERATIVA.......................................................................96
5 ANÁLISE DE DADOS...........................................................................................114!
5.1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA...........................................................................115
5.2 TV PAULO FREIRE: UM CANAL PARA A LIBERDADE...............................125
5.3 ENTREVISTAS..............................................................................................129
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................161!
REFERÊNCIAS........................................................................................................186
APÊNDICE...............................................................................................................194
ANEXOS..................................................................................................................195
9
1 INTRODUÇÃO
Com a inserção da televisão digital no cenário brasileiro, novos rumos se
anunciam para a linguagem televisiva, especialmente quando consideradas as
possibilidades de interação com o público. A relevância da investigação proposta neste
trabalho reside na temática que contempla uma inovação na área da comunicação,
cujas possibilidades de uso educacional ainda não foram plenamente exploradas.
Particularmente na área educacional, o aspecto interativo da TV digital abre novos
caminhos e, por isso mesmo, se constitui em objeto de estudo desta pesquisa. Nesse
sentido, vale destacar as considerações apresentadas por Amaral e Pacata (2003),
A educação para o uso da TV digital interativa encontra sua máxima
expressão quando professores e alunos têm a oportunidade de criar e
desenvolver através dos meios suas próprias mensagens. A expressão
através da TV interativa, como estratégia motivadora e desmistificadora,
requer, portanto, não apenas decifrar a linguagem da comunicação,
mas sim servir-se dela... alunos e professores podem perceber
significativamente a construção da realidade que todo conteúdo
midiático comporta. Esta faceta expressiva é fundamental para
conseguir o objetivo de uma educação com os meios. (p.2)
É possível vislumbrar que a TV digital interativa também pode se configurar
como uma ferramenta integradora e transformadora das experiências decorrentes do
uso do computador e da televisão em programas educacionais na modalidade a
distância. Uma ferramenta que, inclusive, possibilita mudanças na relação entre este
veículo e seu público. Com isso, fazem-se necessárias, por parte dos envolvidos na
gestão desses programas, ações adequadas com os avanços que esse cenário
apresenta, principalmente na produção de conteúdos e sua utilização nas propostas de
cursos de formação.
Cabe, inicialmente, esclarecer que o desenvolvimento do software Ginga
1
, que
oferecerá aplicativos para esta interação (chamado pela comunidade de
1
Ginga é o nome do Middleware Aberto do Sistema Brasileiro de TV Digital.
10
desenvolvedores de middleware ou camada intermediária), ainda encontra-se em
pesquisa e experimentação. Quando concluído, esse software deverá disponibilizar
recursos de interação, de integração e de comunicação bidirecional. No que diz respeito
à interatividade, ainda estão sendo definidas as suas possibilidades dentro do Sistema
Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD).
A tecnologia necessária para implantação de um sistema de transmissão e
recepção digital de sinais de vídeo se caracteriza como inovadora e complexa e, se por
um lado aponta para a melhoria da qualidade de imagem e som, por outro lado
estabelece o desafio do acesso à nova tecnologia por toda sociedade, nos mesmos
níveis conquistados pela televisão convencional. Ressalta-se o fato de que a televisão
convencional está presente em 94,8 por cento dos lares brasileiros
2
.
Outro fator relevante no quadro atual do SBTVD, diz respeito aos esforços de
pesquisa e desenvolvimento de uma plataforma tecnológica brasileira que, além de
garantir independência tecnológica e flexibilidade de utilização, amplie o potencial de
recursos interativos a serem disponibilizados para o usuário final, considerando os
objetivos relacionados à inclusão digital, ampliação de oferta de serviços públicos,
educação a distância e orientações na área da saúde pública.
A complexidade do tema em questão gera, como conseqüência, uma diversidade
de abordagens, em diferentes áreas do conhecimento. Entretanto, cabe destacar aqui
as abordagens que tratam do processo interativo e, portanto, perpassam o contexto de
análise sobre a implantação desta nova tecnologia. É possível afirmar que, pelo
ineditismo dos objetivos e peculiaridade do processo de implantação, ainda em estágio
incipiente com relação aos recursos interativos, configura-se um quadro marcado pela
inexistência de dados de pesquisa relativos ao uso da televisão digital em programas
governamentais, particularmente na área de formação a distância.
Desta maneira, evidenciou-se a necessidade de se construir um arcabouço
conceitual juntamente com uma definição de requisitos acerca da interatividade, que
possam fundamentar e orientar a definição de políticas educacionais de maneira a
potencializar o uso deste recurso tecnológico, particularmente na implantação de ações
2
Dado do IBGE 2007.
11
que visam à formação continuada de professores, na modalidade a distância, pela
Secretaria de Estado da Educação (Seed), no Paraná.
Os elementos encontrados conduziram à opção pela condução de uma pesquisa
qualitativa, norteada por dois objetivos gerais: apresentar um panorama conceitual
sobre a televisão digital interativa, considerando a perspectiva de utilizá-la em programa
de formação continuada; e identificar, na tecnologia da televisão digital, os requisitos de
interatividade necessários a um programa de formação continuada.
Cabe sinalizar que a busca bibliográfica não teve a intenção de exaurir todos os
conceitos que permeiam o objeto, mas oferecer ao leitor uma perspectiva de liberdade
conceitual, percorrendo áreas diversas, porém afins. Desta maneira, o panorama
conceitual tem como ponto de partida os estudos sobre cultura, especialmente
identidade cultural e saberes locais. Os aspectos conceituais, considerados neste
processo de reflexão sobre a linguagem televisiva interativa, foram abordados sob a
perspectiva da identidade cultural do público usuário. A televisão recebe, neste capítulo,
inicialmente, uma abordagem geral para, em seguida ser focalizada a partir do contexto
educacional. Desta maneira, a primeira sessão do segundo capítulo discorre sobre
cultura e interação, explorando os conceitos de cultura, diversidade cultural, passando
por etnocentrismo e hibridação de cultura e, por fim, identidade cultural, particularmente
identidades locais. Buscou-se, também, a articulação entre os conceitos de identidade
local e saberes locais, considerando a maneira como as representações dos saberes
são expressas nos diversos meios de comunicação. Ainda, dentro da perspectiva da
identidade cultural, os estudos de design e cultura, e cultura material, apresentam
contribuições teóricas para a análise das implicações culturais existentes nas
produções televisivas, especialmente aquelas voltadas para a educação.
Televisão e construção de significados, temática presente na segunda secção do
capítulo, traz conceitos relevantes para a compreensão da linguagem televisiva,
destacando-se os gêneros dos programas, que possibilitam situar a percepção e o
entendimento de especialistas de outras áreas com relação a alguns elementos
implícitos na produção desta linguagem. Desta maneira, apresentam-se formatos de
programas de televisão, a partir dos estudos sobre mídias e artes, televisão e gêneros
12
de programas de Machado e gêneros e formatos da televisão brasileira de Souza.
Diversos gêneros de discursos presentes na tela da tevê, tais como: narrativo, ficcional,
entretenimento, entrevistas, entre outros, são abordados, tendo em vista o seu
potencial educativo. São apresentados, também, os estudos da recepção, destacando-
se as contribuições de Martín-Barbero e a relação entre educação e mídia televisual.
A terceira secção do capítulo três destaca televisão e interatividade, os
processos interativos mediados por instrumentos de comunicação, como as recentes
produções científicas na área de televisão digital, destacadamente as pesquisas de
Primo (2008b) sobre interação e a busca pela tevê interativa, as contribuições da
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação - Compós
(2008a), além dos os estudos de Arlindo Machado e Marco Silva sobre interatividade.
As reflexões acerca dos sistemas complexos contribuíram para ampliar o campo de
visão relativo à televisão interativa.
O quarto capítulo desta pesquisa apresenta os resultados de um levantamento
bibliográfico de cunho informativo sobre o objeto em estudo, televisão digital interativa,
com seus recursos e ferramentas disponíveis ou potenciais. O objeto da pesquisa é
analisado a partir das características que possui com vistas a possíveis contribuições
para programas de formação continuada de professores. São destacados aspectos do
processo de implantação da televisão digital no Brasil, como a criação do SBTVD, as
questões relativas às definições dos padrões de uso e suas implicações legais, escolha
do modelo, finalidades e objetivos da nova tecnologia, repercussão e expectativas nas
esferas pública e privada. Estão presentes, neste levantamento teórico, as recentes
pesquisas na área, como a TV digital no Brasil e no mundo, de Bolaño e Vieira (2004);
estudos e pesquisas realizadas na fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
em Telecomunicações (CPqD); a televisão digital com foco na produção interativa
comunitária de Crocomo (2007); os atributos tecnológicos e princípios pedagógicos da
televisão digital de Sacrini (2008); os apontamentos sobre comunicação e interação
com ênfase na televisão digital de Primo (2008a).Cabe citar o site oficial do software
Ginga que registra e divulga os resultados das pesquisas desenvolvidas pelas equipes
responsáveis.
13
A utilização da televisão convencional na Seed, particularmente sua relação com
a formação continuada de professores, as concepções adotadas por essa secretaria de
estado sobre educação, educação a distância, formação continuada, tecnologias de
informação e comunicação, e o uso de ferramentas interativas constituem o contexto da
pesquisa e, portanto, são consideradas no trabalho de investigação científica. De
maneira complementar, a partir de documentos institucionais, buscou-se levantar
contribuições significativas para a resolução das questões formuladas para o
desenvolvimento desta pesquisa. Os procedimentos metodológicos dessa investigação,
juntamente com registro de seus resultados, estão descritos no quarto capítulo.
Compõem, também, o quinto capítulo, os dados coletados junto aos especialistas
atuantes no campo da pesquisa, quais sejam a formação continuada de professores na
modalidade a distância, além de informações complementares sobre a interatividade na
televisão digital, recolhidas diretamente com integrante da equipe de desenvolvimento
do Ginga na PUC/RJ. Tais materiais informativos são apresentados e analisados neste
capítulo e compõem o arcabouço da pesquisa que busca responder a questão sobre os
requisitos de interatividade presentes na tecnologia da televisão digital e que podem
contribuir com a formação continuada de professores.
Como instrumentos para coleta de dados foram utilizados entrevistas individuais
semi-estruturadas, com os especialistas de educação a distância da Seed e com o
integrante da equipe de desenvolvimento do software interativo Ginga e,
posteriormente, entrevista coletiva, novamente com a equipe de especialistas da Seed,
a partir da técnica de grupo de discussão.
Para a análise do material que compõe o corpus
3
da pesquisa, sejam eles os
documentos levantados na Seed e as transcrições das entrevistas mencionadas, foi
empregada, como procedimento, a análise qualitativa de conteúdos a partir do
estabelecimento de categorias temáticas. A metodologia da pesquisa com seus
procedimentos para análise dos dados encontram-se justificados e descritos de forma
mais ampla, incluindo os registros das inferências e interpretações que resultaram da
3
Segundo Bardin (2010) corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta que serão submetidos à
análise.
14
análise dos materiais, no primeiro capítulo, que versa sobre a metodologia, e no quarto
capítulo, que trata da análise dos dados.
A televisão digital interativa, como inovação tecnológica, foi apresentada e vem
sendo discutida pela sociedade, governo, instituições de pesquisa, redes comerciais,
empresas de desenvolvimento tecnológico e população em geral desde o início deste
século. Primeiramente, as discussões e debates concentravam-se na perspectiva
política, social, comercial e legal de sua implantação, depois, como conseqüência deste
primeiro momento, na perspectiva de desenvolvimento tecnológico e possibilidades de
uso. Entre os objetivos apresentados pelo governo e que justificam os investimentos no
desenvolvimento e implantação desta tecnologia aparecem aqueles vinculados à
inclusão social, educação a distância e melhoria no atendimento dos serviços públicos
de saúde e educação, entre outros. Tais temáticas se inserem de forma significativa na
sociedade e os possíveis avanços nestas áreas podem representar saltos de qualidade
na vida das pessoas e no desenvolvimento do país. A presente pesquisa busca
identificar as contribuições que esta inovação tecnológica pode oferecer na área de
educação a distância, e as possíveis modificações nas atividades realizadas nesta
área. Pesquisar a televisão digital interativa na perspectiva de seu uso em cursos de
formação continuada de professores, na modalidade a distância, pode ampliar a visão
sobre as reais possibilidades de uso dessa tecnologia na ação educacional, ampliando
o acesso aos professores, com novas alternativas de formação que agreguem maior
diversidade, dinamismo e qualidade aos processos formativos.
15
2 METODOLOGIA DA PESQUISA
Quais quadros conceituais podem subsidiar a apropriação da tecnologia da
televisão digital interativa com vistas à formação continuada de professores da rede
pública de educação básica do estado do Paraná?
Quais requisitos de interatividade, presentes na tecnologia da televisão digital,
atendem às necessidades do programa de formação continuada de professores da rede
pública de educação básica do estado do Paraná?
Considerando a complexidade do objeto em estudo, televisão digital interativa, e
a importância de uma abordagem detalhada com foco na perspectiva de uso para a
formação continuada de professores, fiz opção por realizar uma pesquisa qualitativa
para responder a estas questões. A razão da escolha se sustenta no argumento que “a
pesquisa qualitativa é caracterizada como compreensiva, holística, ecológica,
humanista, bem adaptada para a análise minuciosa da complexidade, próxima das
lógicas reais, sensível ao contexto no qual ocorrem os eventos estudados, atenta aos
fenômenos de exclusão e de marginalização.” (SILVA; SILVEIRA, 2007, p.151).
Os princípios e procedimentos adotados para buscar as informações necessárias
têm como eixo norteador o método histórico-sócio-antropológico, na medida em que
este realiza a captação e interpretação dos dados considerando o contexto no qual
estão inseridos. O método adotado para a construção deste conhecimento se traduz em
procedimentos diversificados e configura-se no que Silva e Silveira (2007) chamaram
de pluralismo metodológico. No entanto, é importante ressaltar que tais procedimentos
obedecem a uma lógica a fim de preservar os resultados a serem atingidos, dentro de
uma coerência que alinha os diferentes enfoques dos diversos materiais que compõe o
corpus da pesquisa.
Para Flick (2004), a pesquisa qualitativa busca resolver o problema por meio do
planejamento de “métodos tão abertos que façam justiça à complexidade do objeto em
16
estudo. Aqui, o objeto em estudo é o fator determinante para a escolha de um método e
não o contrário. Os objetos não são reduzidos a variáveis únicas, mas são estudados
em sua complexidade e totalidade em seu contexto diário.” (p.21).
Com relação à primeira questão formulada quais quadros conceituais podem
subsidiar a apropriação da tecnologia da televisão digital interativa com vistas à
formação continuada de professores da rede blica de educação básica do estado do
Paraná?” entre os tipos de pesquisa qualitativa existentes, optei por realizar,
inicialmente, uma pesquisa bibliográfica, a fim de construir um panorama conceitual
sobre o objeto televisão digital interativa. Dada sua abrangência, identifiquei conceitos
inerentes ao objeto ou que o tangenciam em função do novo lugar que este objeto é
passível de ocupar. Dessa maneira, foram investigados conceitos relacionados à
interação e cultura, recepção e passividade, interatividade e televisão, ferramentas
interativas nos processos comunicacionais, televisão e construção de significados
sociais e culturais, televisão e educação, e linguagem televisiva na educação com foco
nos gêneros e formatos de programas.
Do ponto de vista do contexto educacional existente, seja ele o uso da televisão
e a formação continuada de professores na modalidade a distância da Seed, outros
aspectos conceituais foram explorados por meio de documentos institucionais. Tais
documentos revelaram as concepções teóricas adotadas pela secretaria de educação
acerca dos seguintes temas: educação, formação continuada, educação a distância,
tecnologias de informação e comunicação, ferramentas interativas e televisão e escola.
Quanto à segunda questão proposta nesta pesquisa “Quais os requisitos de
interatividade presentes na tecnologia da televisão digital que atendem as
necessidades do programa de formação continuada de professores da rede pública de
educação básica do estado do Paraná?” comecei com a investigação do campo
político e tecnológico que marcou o surgimento da televisão digital no Brasil. Busquei,
também, levantar dados na Seed, oriundos de entrevistas, com o intuito de identificar a
importância da interação nas propostas de formação continuada na modalidade a
distância, ferramentas interativas mais utilizadas, forma e intencionalidade de uso da
17
televisão tradicional, qual a importância da televisão como ferramenta e/ou estratégia
metodológica na oferta dos cursos, entre outras.
Como abordagem complementar, busquei junto à equipe de Telemídia
4
da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), responsável, juntamente
com o Lavid
5
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pelo desenvolvimento do
software interativo da televisão digital, identificar quais são as possibilidades de
interatividade que se encontram desenvolvidas ou potencialmente definidas.
Na continuidade, realizei, junto aos especialistas de educação a distância da
Seed, um levantamento das perspectivas de uso da televisão digital interativa para
formação continuada de professores, procurando identificar suas expectativas em torno
dessa tecnologia.
A pesquisa qualitativa desta etapa do trabalho é caracterizada como do tipo
exploratória, pois buscou levantar, no campo delimitado da pesquisa, qual seja a
formação continuada de professores na modalidade a distância da Seed, os processos
comunicacionais envolvendo televisão e interatividade. Este processo exploratório
objetivou identificar, também, no contexto do objeto da pesquisa, o conhecimento
existente sobre a televisão digital interativa e as perspectivas de sua utilização como
ferramenta e/ou estratégia metodológica nas propostas de cursos.
A definição do corpus da pesquisa foi feita de maneira intencional, considerando
que, a partir da delimitação do seu campo, foi possível constatar a presença da mídia
televisiva e o uso de ambiente virtual de aprendizagem com ferramentas interativas nos
cursos realizados pela Seed. Tais elementos oferecem parâmetros para que a equipe
de especialistas, responsável pelo programa de formação, possa fornecer os dados
necessários na definição de requisitos de interatividade essenciais em uma proposta de
implantação da televisão digital interativa naquele programa.
4
Telemídia O Instituto de Tecnologia de Software do Departamento de Informática da PUC-Rio é
constituído por Laboratórios Temáticos. Entre essas unidades está o Laboratório TeleMídia, que tem
como finalidade oferecer suporte à pesquisa e desenvolvimento de projetos nas áreas de Sistemas
Multimídia/Hipermídia e Comunicação de Dados Multimídia.
5
Lavid O Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (LAVID) está integrado ao Departamento de
Informática da Universidade Federal da Paraíba. O laboratório surgiu da proposta de desenvolver
projetos de pesquisa em hardware e software voltados às áreas de Vídeo Digital, Redes de
Computadores, TV Digital e Interativa e Middleware.
18
2.1 OBJETIVOS DA PESQUISA
Esta pesquisa foi norteada por dois objetivos:
a) apresentar um panorama conceitual sobre a televisão digital interativa,
considerando a perspectiva de utilizá-la em programa de formação continuada
de professores da rede pública estadual de educação básica do Paraná;
b) identificar os requisitos de interatividade, na tecnologia da televisão digita,l
necessários a programas de formação continuada de professores da rede
pública estadual de educação básica do Estado do Paraná.
O caminho percorrido para alcançá-los foi sistematizado e desmembrado em
objetivos específicos:
a.1 - apresentar um panorama conceitual sobre televisão digital interativa,
destacando-se interação e cultura, interatividade e televisão, televisão e construção de
significados;
a.2 - levantar as concepções de educação, formação de professores, educação a
distância e tecnologias de informação e comunicação da Seed;
a.3 - identificar as relações existentes entre a televisão da Seed - TV Paulo
Freire
6
e a formação de professores;
b.1 - levantar os recursos de interatividade disponíveis na tecnologia da televisão
digital do Brasil;
b.2 - identificar a presença da linguagem televisiva, utilizada com intenção
educativa, nos cursos de formação continuada na modalidade a distância, da Seed;
b.3 - conhecer as demandas relativas à interatividade por parte dos
organizadores dos cursos de formação continuada na modalidade a distância, da Seed;
6
TV Paulo Freire canal de televisão criado pela secretaria de estado da educação do Paraná, com
transmissão digital via satélite e recepção por antena parabólica em todas as escolas públicas estaduais
da rede de educação básica.
19
b.4 - levantar o conhecimento existente, relacionado ao uso da tecnologia da
televisão digital do Brasil, junto à equipe de especialistas responsáveis pelo programa
de formação continuada na modalidade a distância, da Seed;
b.5 apresentar, para a equipe de especialistas responsáveis pelo programa de
formação continuada na modalidade a distância, da Seed, os recursos de interatividade
da televisão digital do Brasil, levantados junto à equipe de desenvolvedores,
identificando perspectivas de uso no programa.
2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Considerando as duas questões propostas para a pesquisa e que resultaram na
definição metodológica por dois tipos de pesquisa: uma bibliográfica e uma exploratória,
os procedimentos para a coleta de dados foram escolhidos e organizados.
Na pesquisa bibliográfica, foi utilizada a técnica da “bola de neve”
7
, que consiste
na leitura de autores que levam a outros autores, de temáticas que levam a outras
temáticas, de abordagens que levam a outras abordagens, até que os dados comecem
a se repetir ou se apresentam de maneira redundante. Esta etapa teve como princípio
apresentar um panorama conceitual sobre a televisão digital interativa, considerando o
contexto sócio-cultural e a perspectiva de utilizá-la no programa de formação
continuada de professores da rede pública estadual de educação básica do Paraná.
Contribuindo para o estabelecimento deste panorama conceitual, foi realizado,
também, o procedimento de análise de conteúdo dos seguintes documentos: Caderno
Temático sobre a Educação a Distância da Seed (Anexo A), a fim de apresentar as
concepções de educação, formação de professores, educação a distância e uso de
tecnologias de informação e comunicação presentes naquela rede educacional; e o
documento sobre a TV Paulo Freire (Anexo B), com o objetivo de revelar relações
existentes entre a televisão da Seed e a formação de professores;
7
Técnica da “bola de neve” apresentada por Bailey em 1982.
20
Com relação à pesquisa exploratória, os procedimentos metodológicos foram
definidos de maneira a identificar se os requisitos de interatividade presentes na
tecnologia da televisão digital atendem as necessidades do programa de formação
continuada de professores da rede pública de educação sica do estado do Paraná.
Nessa direção, foram selecionados, como materiais para a análise, as transcrições das
seguintes técnicas: entrevista para levantar os recursos de interatividade disponíveis na
tecnologia da televisão digital do Brasil junto a um integrante da equipe do Laboratório
de Telemídia da PUC/RJ (Anexo C), responsável pelo desenvolvimento do software
interativo; entrevistas individuais para identificar a presença da linguagem televisiva
utilizada com intenção educacional, as demandas relativas à interatividade e o
conhecimento existente relacionado ao uso da tecnologia da televisão digital do Brasil
no programa de formação continuada na modalidade EaD, junto a especialistas de
educação a distância da Seed (Anexo D); e entrevista coletiva a fim de realizar uma
reflexão conjunta sobre a perspectiva de uso dos recursos de interatividade da televisão
digital no programa de formação continuada de professores da Seed, junto ao grupo de
especialistas de educação a distância da Seed (Anexo E).
Para Silva e Silveira (2007), os textos escritos, ou qualquer comunicação oral,
visual ou gestual, podem ser tratados pela análise de conteúdos a fim de compreender
de maneira crítica o sentido da comunicação, seja ele latente ou manifesto.
Na análise de conteúdos de comunicações, segundo Bardin (2010), de uma
forma geral, está implícito um trabalho minucioso com divisões, contagens e
aperfeiçoamentos do seu próprio processo, e lançar mão do seu uso é colocar-se ao
lado dos que
(...) querem dizer não „a ilusão da transparência‟ dos fatos sociais,
recusando ou tentando afastar os perigos da compreensão espontânea.
É igualmente “tornar-se desconfiado relativamente aos pressupostos,
lutar contra a evidência do saber subjetivo, destruir a intuição em
proveito do “construído”, rejeitar a tentação da sociologia ingênua que
acredita poder apreender intuitivamente as significações dos
protagonistas sociais, mas que somente atinge a projeção de sua
própria subjetividade. (p. 30).
O autor sugere o emprego de “técnicas de ruptura” que poderão ser
especialmente úteis ao especialista das ciências humanas que possui alguma
21
familiaridade frente ao objeto de análise, sugerindo que a objetividade e sistematização
do procedimento podem revelar sentidos ocultados por esta familiaridade. Com a
análise de conteúdos, é possível buscar a superação das incertezas pelo compromisso
com o rigor e com a verificação prudente, além do enriquecimento da leitura quando
esta se articula à necessidade de descobrir e à capacidade de interpretar do
pesquisador.
Qual a razão ou finalidade de se utilizar esse instrumento? Como ele funciona?
Como pode ser utilizado?
Para Bardin (2010), quando se fala em análise de conteúdos, não se está
falando de um único instrumento, mas de um conjunto de técnicas, com formas diversas
e possibilidade de se adaptar ao campo de pesquisa. O autor sistematiza os tipos de
comunicação, objetos da análise de conteúdos, a partir de dois critérios, sejam eles, o
número de pessoas envolvidas na pesquisa e a natureza do código e do suporte da
mensagem. No caso específico dos dados levantados na presente dissertação,
considerando o número de pessoas envolvidas, eles se caracterizam como
comunicações de massa, caso dos cadernos temáticos distribuídos pela Seed e
comunicações de grupo restrito, como as entrevistas realizadas com especialistas da
Seed ou da PUC/RJ. E, ainda, com relação ao código e suporte da mensagem, estes
mesmos dados podem ser classificados como escritos e orais.
A análise de conteúdos, para Bardin (2010), funciona a partir de procedimentos
sistemáticos e objetivos para descrição dos conteúdos das mensagens, podendo ser
uma análise de significados, como é o caso da análise temática, ou uma análise de
significantes, como é o caso da análise lexical. Ainda sobre o seu funcionamento, a
descrição se apresenta como primeira etapa da análise de conteúdos, a inferência
como procedimento intermediário e a interpretação como última fase. O autor atribui ao
processo de inferência a característica de permitir a passagem, explícita e controlada,
da descrição à interpretação.
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por
procedimentos sistemáticos os objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência
de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção
(variáveis inferidas) destas mensagens. (p. 44).
22
A organização de uma análise de conteúdos é apresentada por Bardin (2010), da
forma que segue:
a) A pré-análise realizada para tornar operacionais e sistematizar as idéias iniciais
de maneira a conduzir a um esquema que servirá de plano de análise. Nesta
primeira fase se dá a escolha dos documentos; a formulação das hipóteses e dos
objetivos; e a elaboração dos indicadores que fundamentam a interpretação.
Tem por objetivo a organização e não a exploração sistemática dos documentos.
Uma das técnicas empregadas nesta etapa é a leitura flutuante a fim de
estabelecer contato com os documentos, conhecer o texto e se deixar invadir por
impressões e orientações. Na seqüência, a escolha dos documentos delimitará
um corpus a partir de um universo demarcado. Tais documentos, fontes de
informação, devem se adequar ao objetivo que suscitou a análise e, desta
maneira, é necessário realizar a formulação de hipóteses transitórias e os
objetivos a que nos propomos.
b) Exploração do material aplicação sistemática das decisões tomadas. Consiste
essencialmente em operações de codificação, decomposição ou enumeração,
em função das regras que foram previamente formuladas.
c) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação são sínteses e seleção de
resultados, inferências e interpretações que podem constituir orientações para
uma nova análise ou resultados de análise com fins pragmáticos ou teóricos.
Outros autores, de uma forma mais detalhada e um pouco diferenciada, também
apresentam etapas para o desenvolvimento deste procedimento, como Flick (2004),
baseado nos estudos de Mayring:
a) primeiro, ocorre a definição do material, quando se selecionam as entrevistas ou
as suas partes relevantes para a pesquisa;
b) depois, é realizada a análise da situação de coleta de dados;
c) na terceira etapa, o material é caracterizado de maneira formal, sobre a forma
como foi realizado o registro do material, como ele foi transcrito, editado, etc.;
d) a quarta etapa define a direção da análise, quando se explicita o que se espera
encontrar nos textos;
23
e) na quinta etapa, faz-se uma diferenciação ainda maior do texto com base nas
teorias, partindo da questão geral e estabelecendo sub questões;
f) a sexta etapa define uma técnica analítica e;
g) finalmente, definem-se as unidades analíticas. As unidades analíticas podem ser
subdivididas em unidade de codificação o menor elemento possível de ser
analisado, unidade contextual o maior elemento do texto que pode ser
categorizado e unidade analítica quais passagens serão analisadas.
Para Flick (2004) este procedimento metodológico pode incluir três técnicas:
abreviação da análise do conteúdo quando o material é parafraseado, com a omissão
de trechos e parágrafos menos relevantes e condensação e resumo de parágrafos
semelhantes; análise explicativa do conteúdo que busca esclarecer trechos difusos,
ambíguos ou contraditórios, por meio de materiais do contexto da pesquisa; e análise
estruturada do conteúdo que identifica os tipos ou estruturas formais no material.
Esse autor, ao falar sobre as contribuições deste procedimento, reforça que o
caráter esquemático, implícito na análise qualitativa de conteúdo, torna este método
mais claro, com menos ambigüidade e com maior facilidade de controle. Outro aspecto
importante diz respeito à possibilidade de redução do material a partir de regras que
buscam uma maior clareza dos dados.
A partir das características dos dados selecionados para a presente dissertação,
quais sejam os documentos impressos da Seed e as entrevistas individuais e em grupo,
cabe aqui apresentar, também, algumas discussões e aportes teóricos sobre análise
global e análise documental que, em função das aproximações possíveis com análise
de conteúdos podem, em alguns momentos, se confundirem com esse procedimento.
Tais estudos poderão contribuir para a realização de um procedimento analítico que
considere a especificidade do material em questão, uma vez que, segundo Bardin, “a
técnica da análise de conteúdo adequada ao domínio e aos objetivos pretendidos tem
de ser reinventada a cada momento” (FLICK, 2010, p. 32).
Segundo Flick (2004), a análise global pode ser compreendida como um
procedimento suplementar a outros procedimentos que envolvem métodos de
24
categorização, destacando-se, aqui, a análise qualitativa de conteúdos, com o objetivo
de se obter uma visão geral do material a ser analisado.
É possível realizar a análise global a partir das seguintes etapas: esclarecimento
do próprio conhecimento de fundo e da questão da pesquisa; leitura e destaque das
palavras-chave da transcrição e estruturação dos trechos extensos; marcação dos
conceitos ou enunciados centrais idéias, identificadas como informações relevantes
para a pesquisa; produção de uma tabela de conteúdos para o texto, com palavras
chave com os temas colocados em ordem alfabética e as idéias anotadas na forma de
lista; resumo do texto e julgamento de sua inclusão ou não na interpretação da
pesquisa.
Para Bardin (2010), alguns procedimentos utilizados para tratamento da
informação documental apresentam algumas analogias com as técnicas de análise de
conteúdo e, por outro lado, “se a esta suprimirmos a sua função de inferência e se
limitarmos as suas possibilidades técnicas apenas à análise categorial ou temática,
podemos, efetivamente, identificá-la como a análise documental.” (p. 47).
A pesquisa documental, segundo Santos, apud Silva e Silveira (2007), é realizada,
principalmente, por historiadores que se debruçam sobre fontes de informação que não
receberam organização, tratamento analítico e publicação. Entretanto, para Slype apud
Bardin (2010), a análise documental é “uma operação ou um conjunto de operações
visando representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original,
a fim de facilitar, num estado ulterior, a sua consulta e referenciação.”
O objetivo da análise documental, segundo Bardin (2010), é tratar a informação
por procedimentos de transformação, de forma a representá-la de outro modo ou de
modo mais conveniente. Consiste, assim, em armazenar os dados de uma forma
variável e permitir o acesso à informação com o máximo de pertinência. Uma de suas
etapas mais importantes é o processo de indexação.
Na análise documental, também ocorre o recorte da informação, a divisão em
categorias segundo o critério da analogia, a representação de forma condensada,
procedimentos estes comuns ao tratamento da mensagem em certas análises de
conteúdo. Entretanto, para Bardin (2010), é possível distingui-las a partir dos seguintes
25
pontos: a pesquisa documental trabalha com documentos e a análise de conteúdos
com mensagens ou comunicações. A análise documental classifica por indexação
enquanto a análise de conteúdos estabelece categorias temáticas. E, ainda, o objetivo
da análise documental é a representação condensada da informação para consulta e
armazenamento e a análise de conteúdo manipula as mensagens buscando
indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade. Nesta pesquisa, estamos
considerando os documentos da Seed como comunicações destinadas aos professores
e optando pela análise de conteúdo.
Dessa maneira, embora em alguns momentos, no procedimento adotado nesta
pesquisa, seja possível tangenciar a análise global tendo em vista seu caráter
suplementar e ainda, em outros momentos este procedimento possa também se
confundir com a análise documental, especialmente na análise dos documentos da
Seed, é importante reforçar a definição pelo procedimento de análise chamado de
análise de conteúdos. Particularmente, uma análise qualitativa de conteúdos, uma vez
que, no tratamento aqui realizado, não haverá quantificação das categorias ou das
unidades de análise.
Segundo Flick (2004), um dos procedimentos clássicos para se analisar material
textual é a análise qualitativa do conteúdo. Para realizá-la, é necessário o
estabelecimento de categorias obtidas a partir de modelos teóricos que se prestam a
avaliar o material coletado e, em muitas vezes, tais categorias passam por modificações
em função da própria análise.
Cabe, aqui, uma interrupção, para dar início à apresentação da pesquisa
propriamente dita. A questão ora abordada, relativa ao estabelecimento de categorias
de análise, será retomada de forma mais ampla no capítulo quatro desta dissertação,
no qual o procedimento de análise e seus resultados serão apresentados. No capítulo a
seguir, discorrerei sobre alguns conceitos revelados pela pesquisa bibliográfica, com a
intenção de contribuir com a formulação de um panorama conceitual sobre televisão
digital interativa.
26
3 PANORAMA CONCEITUAL DA TELEVISÃO DIGITAL INTERATIVA
Embora este capítulo inclua conceitos e reflexões significativas para o
entendimento do objeto em estudo, não busca, aqui, estabelecer uma relação de
sustentação teórica, a priori. Apresentam-se, aqui, diversos olhares, que, por vezes,
podem ser contraditórios, mas que oferecem uma visão ampla e menos definitiva
acerca da questão. Não se configura, este capítulo, como uma escolha conceitual, mas
possibilita o contato com reflexões relevantes, inusitadas, diferenciadas, para explicar e
entender o objeto. Sua emergência culminou em um segundo objetivo nesta pesquisa
a construção de um panorama conceitual sobre a televisão digital interativa.
Com o objetivo de contribuir com esta construção, foram investigados aspectos
relacionados ao objeto em estudo, entre os quais destaco interação e cultura, mídia
televisiva e contexto cultural, recepção e passividade, interatividade, ferramentas
interativas nos processos comunicacionais, televisão e construção de significados
sociais e culturais, relação entre televisão e educação, e linguagem televisiva na
educação com foco nos gêneros e formatos de programas, entre outros.
Do ponto de vista da sistematização, o capítulo está organizado em três seções:
Cultura e Interação; Televisão e Construção de Significados; e Televisão e
Interatividade.
3.1 CULTURA E INTERAÇÃO
Cabe, inicialmente, apontar para a decisão, ao longo desta pesquisa, de se
buscar um conceito de interação pautado pelos estudos da cultura, que pode se
configurar como um dos sustentáculos para o entendimento da televisão digital
interativa e suas possibilidades de uso na ação educacional, particularmente na
formação continuada de professores.
27
O conceito naturalista de cultura, predominante desde o Iluminismo, tinha como
premissa a existência de “uma natureza humana o regularmente organizada, tão
perfeitamente invariante e tão maravilhosamente simples como o universo de
Newton”.(GEERTZ, 1989, p.46). Tal conceito passou por mudanças a partir do século
XIX e deu lugar a uma concepção científica que buscou revelar a complexidade
humana, qual seja suas diferenças, crenças, valores e costumes, a partir das suas
relações no espaço e no tempo. Entretanto, este olhar mais voltado às ciências sociais,
carregou inicialmente, ainda como herança da visão naturalista, a preocupação com o
caráter essencialista do homem, buscando aquilo que o universalizava e procurando
identificar os seus elementos uniformizadores.
Com as contribuições da Antropologia, esse pensamento também se transformou
com “a firme convicção de que não existem de fato homens não-modificados pelos
costumes de lugares particulares, nunca existiram e, o que é mais importante, não o
poderiam pela própria natureza do caso” (GEERTZ, 1989, p.65). Ao adotar a
perspectiva de que existe uma diversidade de costumes que vai além da indumentária
ou da aparência e que considera a humanidade variada em sua essência e em sua
expressão, essa corrente da Antropologia passou a se movimentar por quadros teóricos
e filosóficos que oscilavam entre concepções relativistas e evolucionistas. Geertz (1989)
considera o risco de, a partir de tais concepções, se construir um entendimento
estratificado da vida humana, onde os fatores culturais se apresentariam como mais
uma camada que surge em decorrência de fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Como saída, sugere a substituição da concepção estratigráfica dos fatores humanos
por uma concepção sintética, onde tais fatores são entendidos como variáveis dentro
de um sistema unitário de análise.
(...) descer aos detalhes, além das etiquetas enganadoras, além dos
tipos metafísicos, além das similaridades vazias, para apreender
corretamente o caráter essencial não apenas das várias culturas, mas
também dos vários tipos de indivíduos dentro de cada cultura, se é que
desejamos encontrar a humanidade face a face. (GEERTZ, 1989, p.65).
Por outro lado, as discussões sobre a cultura no âmbito da Antropologia também
se desdobraram em estudos sobre o etnocentrismo e neste caminho cabe uma reflexão
para não se incorrer na armadilha de uma abordagem limitada e fragmentada, que pode
28
promover um entendimento absoluto e impermeável de cultura. “O etnocentrismo é o
termo técnico para esta visão das coisas, segundo a qual, nosso próprio grupo é o
centro de todas as coisas e todos os outros grupos são medidos e avaliados em relação
a ele” (SUMMER, apud CUCHE, 2002. p 46).
Cuche (2002) ressalta, dentro da discussão sobre etnocentrismo, o risco dessa
visão tomar formas extremas de intolerância cultural, religiosa e até política. Ou ainda,
de uma maneira mais sutil, reconhecer a diversidade cultural, mas conce-la apenas
como uma etapa diferente de um único processo civilizatório. Como contraponto a esta
visão, a antropologia cultural apresenta a idéia de relatividade das culturas e a
impossibilidade de estabelecer entre elas uma relação hierarquizada.
Contribuindo com a discussão acerca do relativismo, Rocha (1984) destaca o
trabalho do alemão Franz Boas, no início do século XX. A partir das idéias de Boas, a
Antropologia passa por transformações, relativizando as concepções evolucionistas e
as idéias de cultura e história, revolucionando o pensamento sobre as culturas
humanas, particularizando-as e apresentado-as como plurais e diferentes. Rompe,
assim, com a postura centrada e absoluta do “eu” e as diversas culturas do “outro”
passam a ser percebidas e estudadas. Inicia-se, também, um processo de investigação
sobre a relação entre cultura e o ambiente, que busca conhecer a história das
sociedades humanas, a relação entre cultura e personalidade individual, visando à
compreensão do processo de formação das mentalidades e, por fim, a relação entre
cultura e linguagem que levanta questões sobre os significados das coisas, a natureza
dos símbolos e códigos utilizados.
Para Cuche (2002), a cultura oferece a possibilidade de conceber a unidade do
homem na diversidade de seus modos de vida e de crença, enfatizando, ora a unidade,
ora a diversidade. Dessa maneira, o conceito de cultura passa, necessariamente, por
reflexões sobre as relações entre etnocentrismo e relativismo sendo assim possível
apresentar algumas imbricações teóricas que incorporam as identidades regionais e as
experiências locais como “lentes” para a abordagem das diferenças culturais e suas
representações.
29
De maneira sintética, a identidade é entendida como uma construção social que
se expressa por meio de uma representação. A identidade se constrói no interior dos
contextos sociais, determinando e orientando as escolhas e as representações dos
agentes envolvidos. Por se construir nas relações sociais, a identidade incorpora a
complexidade presente nestas relações sociais e, portanto, pode se caracterizar como
multidimensional. Neste caso, cada indivíduo pode ter uma identidade variável
considerando seu grupo de referência ou as relações sociais que ele estabelece.
(CUCHE, 2002).
Outra contribuição relevante para construção desse arcabouço teórico que busca
nortear a análise dos processos comunicacionais presentes na mídia televisual
interativa, ou seja, processos de interação permeados por elementos oriundos deste
caráter multidimensional das identidades culturais, é o conceito de Identidade
Relativizada, de Canclini (2003), que considera, além da diversidade cultural, o
processo de hibridação intercultural. Segundo este autor, dentro de uma rede de
conceitos que passa pela contradição, mestiçagem, sincretismo, transculturação e
crioulização, entre outros, o conceito de hibridação pode promover o pensamento e as
práticas mestiças como recursos para o reconhecimento do diferente e o entendimento
das tensões oriundas das diferenças, o que permite considerar as divergências, as
contradições, reconhecendo o que elas conm “de desgarre e o que não chega e se
fundir”. O processo de hibridação, decorrente da expansão urbana, rompe ou mescla
sistemas culturais organizados, gerando, entre outras consequências , a
desterritorialização dos processos simbólicos, a reestruturação da comunicação e o
anonimato do processo de produção. A mídia de massa passa, então, a ser entendida
como um importante elemento para a superação da fragmentação e, com isso, as
inovações tecnológicas assumem um novo papel rompendo, dessa forma, com os
isolamentos locais.
Canclini (2003) destaca, também, o papel dos processos globalizadores na
construção da interculturalidade moderna. A criação de mercados mundiais para o
capital, bens materiais, informação e serviços, promoveram interações que tiveram
como conseqüência, além da diminuição das fronteiras e alfândegas, também a
30
diminuição da autonomia das tradições locais. Para Canclini (1999) a partir dos fluxos
globalizantes “as nações se convertem em cenários multideterminados, onde diversos
sistemas culturais se interpenetram e se cruzam”.(p. 166) Dessa maneira, não se
torna possível definir uma identidade cultural relacionada a uma única comunidade
nacional, esta identidade tornou-se “poliglota, multiétnica, migrante, feita com
elementos de várias culturas”.(p. 166)
Entretanto, ao analisar as relações entre o regional e o global nos processos
multimidiáticos, particularmente no cinema e na televisão, Canclini (1999), pondera que
as culturas regionais persistem. O desafio está na redefinição dos seus papéis
considerando tanto as potencializadas pela multimídia como o caráter multicontextual
das identidades nacionais e locais.
As nações e as etnias continuam existindo. Estão deixando de ser para
as maiorias as principais produtoras de coesão cultural. Mas o problema
não parece ser o risco de que a globalização as arrase, mas entender
como as identidades étnicas, regionais e nacionais se reconstroem em
processos de hibridação intercultural. Se concebermos as nações como
cenários multiderminados, onde diversos sistemas simbólicos se cruzam
e se interpenetram, a pergunta é: que tipo de cinema e de televisão
pode narrar a heterogeneidade e a coexistência de vários códigos em
um mesmo grupo e até em um mesmo indivíduo? (CANCLINI, 1999, p.
172).
Nessa perspectiva, destacam-se, também, as contribuições de Martín-Barbero
(1997), ao definir os espaços sociais como lugares onde se constroem a materialidade
do social e a expressividade cultural por meio do discurso, identificando este processo
de construção como mediações, ou seja, situações de interação que se verificam em
lugares caracterizados como espaços sociais. São nesses lugares que se negociam as
identidades locais. A interação, portanto, se constitui como um processo de negociação
de sentidos que se constrói pela circulação dos discursos. Esta negociação se na
forma como uma mensagem é interpretada e, a partir de sua interpretação, comunicada
aos outros. Partindo desta premissa, ele inova o entendimento acerca do papel dos
meios tecnológicos, promovendo-os à condição de mediadores de identidades locais.
Dessa maneira, estabelece-se uma relação entre a cultura local e a cultura midiática,
construindo assim novas identidades locais.
31
Ao romper com as concepções funcionalistas e estruturalistas Martín-Barbero
(1997) discute o movimento social presente na comunicação e a comunicação como
processo. Considera que a sistematização e a dialética presentes na Escola de
Frankfurt impediram o surgimento de um pensamento próprio que contemplasse a
realidade social e cultural da América Latina. Sustenta este pensamento na abordagem
das massas como “efeito de processos de legitimação e lugar de manifestação da
cultura em que a lógica da mercadoria se realiza”. (p.63) Para ele, o conceito de
indústria cultural, apresentado pelos pensadores da Escola de Frankfurt, tem como
cenário a Alemanha nazista e a democracia de massas norte-americana e “partindo da
razão ilustrada, desemboca na irracionalidade que articula totalitarismo político e
massificação cultural como duas faces de uma mesma dinâmica”. (p.65) Como
contraponto, apresenta o conceito de cultura popular, onde o popular constitui uma
heterogeneidade na produção do pensamento, com valores, crenças e formatos que, na
sua tradução, muitas vezes se opõem. A cultura popular é autônoma e independente da
cultura de massas. Martín-Barbero se contrapõe à idéia de que qualquer prática ou uso
da arte que não se enquadre no modelo erudito, seja considerada como “arte inferior”
relegada ao papel de diversão alienante, e argumenta sobre a importância de se
“aceitar a existência de uma pluralidade de experiências estéticas, uma pluralidade de
modelos de fazer e usar socialmente a arte”. (MARTÍN-BARBERO, 1997, p.70)
Ao refletir sobre o mal-estar na modernidade e o des-ordenamento cultural na
América Latina, Martín-Barbero e Rey (2004) argumentam que o mal-estar latino-
americano não é decorrente da inconclusão do projeto moderno, nem da hegemonia da
razão comunicativa que, diante do consenso dialogal se traduz em opacidade
discursiva e ambigüidade política. Para ele, é o protagonismo das tecnologias, dos
meios, “ao instalar-se em não importa em que região ou país como elemento exógeno
às heranças culturais e às demandas locais” e ao “converter-se em (...) dispositivo
estrutural de produção em escala planetária” (MARTÍN-BARBERO; REY, 2004, p.31)
que seria o responsável pelo des-ordenamento cultural e mal-estar na modernidade.
Fala de uma fragmentação que desloca e descentra”, de um fluxo que globaliza e
comprime”, de uma “conexão que desmaterializa e hibrida” (MARTÍN-BARBERO; REY,
32
2004, p.31) como dispositivos que agenciam o devir mercado da sociedade. Na
materialização desta idéia, apresenta a televisão como a “mídia que mais radicalmente
irá desordenar a idéia e os limites do campo da cultura: suas constantes separações
entre realidade e ficção, entre vanguarda e Kitsch, entre espaço de ócio e de trabalho.”
(MARTÍN-BARBERO; REY, 2004, p.33)
Entretanto, ao considerar as complexas relações sociais e culturais presentes
nos processos comunicacionais, Martín-Barbero não apresenta uma visão pessimista
para as transformações em curso na América Latina. Pautado pelo importante resgate
da cultura oral, o autor acredita que a experiência audiovisual possibilita que as
maiorias possam se apropriar da modernidade sem abrir mão da sua oralidade,
expressando-as a partir de gêneros, narrativas, linguagens e saberes próprios desta
experiência. Tal fato se daria pela cumplicidade existente entre oralidade e visualidade.
Existe, na técnica audiovisual, uma possibilidade constitutiva que oferece novas formas
de perceber, ver, ouvir, ler e aprender novas linguagens e a visualidade pode produzir
um saber a partir de um processo de ressignificação do ver.
Nessa busca dos aspectos conceituais a serem considerados na construção de
um panorama teórico para o entendimento da televisiva digital interativa, a perspectiva
da identidade cultural se apresenta como uma importante categoria de análise, uma vez
que este caráter identitário se configura como uma construção social que determina
escolhas e forja representações. Considerar a identidade cultural, para a significação de
um artefato ou produto interativo, conduz a trajetória para a identificação dos elementos
constitutivos deste artefato. Assim, torna-se oportuno, para a análise dos elementos
interativos da produção televisiva, apresentar algumas discussões sobre o conceito de
design de interação.
O conceito de design de interação surge, segundo Winograd apud Huang e
Deng (2008), tendo seu foco direcionado à tecnologia da informação, mais
precisamente, “interação ser humano computador”. Para ele, o design de interação
deveria ultrapassar a preocupação com usabilidade e eficiência, buscando atender ao
lúdico exploratório e à interação emocional. Entretanto, o foco do conceito tem se
ampliado, como em Silva (2006), ao apresentar as considerações de Preece, Roger e
33
Sharp, onde “Design de Interação é design de produtos interativos que fornecem
suporte às atividades cotidianas das pessoas, seja no lar ou no trabalho.”
Do ponto de vista dos critérios de análise, Markussen e Krogh (2008),
argumentam acerca de uma tendência de se tratar, no design de interação, aspectos de
experimentação e aspectos estéticos, deixando para segundo plano aspectos sócio-
culturais. Nesta direção, Yoe apud Markussen e Krogh (2008), apresenta o conceito de
CUI (Cultural User Interface) que leva em consideração, como elementos da interface,
todos os fatores implícitos e necessidades que estão no âmbito da cultura. As
diferenças culturais podem se refletir na compreensão e recepção do visual gráfico, das
cores, da funcionalidade, da arquitetura de informação e metáforas aplicadas no design
da interface do usuário.
Ancorada na área do design dos objetos, Ono (2006) destaca a contribuição
dessa área para o “desenvolvimento de conceitos e suportes materiais que traduzem as
necessidades e os aspectos da diversidade cultural dos indivíduos e sociedades”
(ONO, 2006, p.30). Chama atenção, no processo de produção dos objetos, para a
necessidade de uma postura de respeito aos valores culturais fundamentais
considerando, entretanto, que tais valores não podem ser representados de maneira
hermética e devem possibilitar que as culturas locais absorvam as novas contribuições
do mundo de forma consciente e autônoma na definição de seus caminhos. A
identidade cultural deve ser entendida a partir de seu caráter dinâmico e
multidimensional e no âmbito do design “não cabem conceitos herméticos e absolutos,
fronteiras, legitimidades e parâmetros fixos” (ONO, 2006, p.98).
A cultura material “influencia a composição do universo simbólico e o modo de
viver e se relacionar das pessoas na sociedade. Os artefatos que compõem a cultura
material são referenciais que contribuem para o conhecimento dos povos e sociedades
que os desenvolvem.” (p.47) Nesta perspectiva, Ono (2006) chama a atenção para que,
no desenvolvimento dos artefatos, sejam considerados, além do seu uso e aplicação,
também as necessidades dos usuários e os contextos para os quais os artefatos são
desenvolvidos.
34
Com o objetivo de favorecer a compreensão da relevância dos objetos
produzidos no mundo em que vivemos, Denis (1998) faz uma abordagem dialética do
campo do design, onde os objetos produzidos e os processos de projetar os objetos se
articulam e se conjugam de tal maneira que seria possível afirmar que os processos
atribuem significados aos produtos. Este processo poderia ser descrito como uma forma
de fetichismo do objeto”
8
e oferece condições de se pensar como os objetos são
produzidos e investidos de significados.
De onde advêm esses significados? São imputados pelos fabricantes,
pelos distribuidores, pelos vendedores, pelos consumidores, pelos
usuários ou, normalmente, pela conjunção de todos estes e outros mais,
pois os objetos podem adquirir significados a partir da
intencionalidade humana. Nenhum significado, nem mesmo os que
estou chamando de „inerentes‟, preexiste à transformação da matéria-
prima pela atividade humana. De que maneira imputam-se-lhes esses
significados? Existem apenas dois mecanismos básicos para investir o
artefato de significados: a atribuição e a apropriação, os quais
correspondem, em linhas gerais, aos processos paralelos de
produção/distribuição e consumo/uso. (DENIS, 1998, p. 33).
A partir do conceito de cultura material, Denis (1998) busca o entendimento da
produção e do consumo dos artefatos na sociedade, propondo uma maneira de
conceber como estes artefatos respondem aos sistemas simbólicos e ideológicos. A
expressão „cultura material‟ cunhada para designar „objetos indignos‟ na sociedade
capitalista de compra e venda, cuja relevância estava apenas no seu caráter de objeto
de estudo antropológico ou de curiosidade, demarcando assim uma separação entre
sociedades civilizadas e selvagens, passa a ser utilizada com objetivo de se buscar um
melhor entendimento do papel dos artefatos dentro de uma sociedade onde o consumo
e a mercadoria são notadamente fenômenos de grande importância social e cultural.
Ao realizar o ato de projetar, o indivíduo que o faz não somente projeta
uma forma ou um objeto mas, necessariamente, também se projeta
naquela forma ou naquele objeto. Quero dizer com isto, muito
simplesmente, que a coisa projetada reflete a visão de mundo, a
consciência do projetista e, portanto, da sociedade e da cultura às quais
o projetista pertence.Toda sociedade projeta (investe) na sua cultura
material os seus anseios ideológicos e/ou espirituais e se aceitamos
esta premissa, logo é possível conhecer uma cultura pelo menos em
8
„Fetichismo do objeto‟ é o ato de investir os objetos de significados que não lhes são inerentes. (DENIS,
1998, p. 28)
35
parte através do legado de objetos e artefatos que ela produz ou
produziu. (DENIS, 1998, p. 37).
` Silva (2006) aponta para a necessidade de uma reflexão crítica sobre o
desenvolvimento de artefatos digitais, uma vez que este processo de desenvolvimento
possui forte vinculação com a dinâmica do mercado, cujos objetivos são direcionados
ao aumento de ganhos e à diminuição de custos e, ainda, por estar inserido no mundo
do trabalho, esse processo acontece de maneira pragmática, destacando-se os
princípios de utilidade, racionalidade e controle. Tal reflexão apontaria para as possíveis
mediações entre os sujeitos e os artefatos, a fim de ampliar a análise sobre o processo
de desenvolvimento desses artefatos, permitindo resultados menos absolutos e
reducionistas.
Pensar o desenvolvimento de tecnologias digitais, em particular, a televisão
digital a partir de uma abordagem cultural, significa considerar as implicações dessa
tecnologia de maneira dinâmica, considerando as interações e mediações que se
estabelecem a partir de uma lógica social e cultural, lógica esta que se sobrepõe a uma
abordagem mais pragmática e utilitarista. Nessa perspectiva, as contribuições
apresentadas sobre identidade, processos de hibridação, espaços sociais mediados,
tecnologias comunicacionais, cultura material, entre outros, se configuram como
elementos norteadores da análise de dados apresentada nesta pesquisa.
3.2 TELEVISÃO E CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS
Pensar a televisão como veículo de comunicação significa pensar a comunicação
na sociedade, e esse é o tema inicial desta segunda secção, que sugere a reflexão
sobre este veículo de massa, no contexto de contradições presentes na sociedade.
Televisão e construção de significados, além de apresentar um histórico sobre o
surgimento da televisão, transita por conceitos relevantes para compreensão da
linguagem televisiva, destacando-se os gêneros dos programas, que possibilitam situar
36
a percepção e o entendimento de especialistas de outras áreas com relação a alguns
elementos implícitos na produção desta linguagem. Os diversos gêneros de discurso
presentes na televisão, tais como: narrativo, ficcional, telejornal, entrevistas, debates,
entre outros, são apresentados tendo em vista a possibilidade de interface educacional.
Outra abordagem presente nesta secção diz respeito aos estudos da recepção e
mediação e a relação entre educação e mídia televisual. O enfoque acerca da televisão
e educação tem como contexto as discussões sobre televisão educativa e sobre
tecnologias de informação e comunicação na prática pedagógica.
Segundo Wolton (2004), o pensamento sobre a comunicação tem como base o
pensamento sobre um modelo de sociedade. Ao se pensar a sociedade moderna como
ocidental, de tradição européia e herança cristã, o pensamento sobre a comunicação se
constitui permeado pelos valores, contradições e ideologias presentes nesse modelo.
“Ela não vem apenas e somente da eficácia das ferramentas, nem do progresso da
indústria do mesmo nome. Resulta, em primeiro lugar, da ligação existente entre a
„explosão da comunicação‟ e os valores fundamentais da cultura ocidental em sua
definição de indivíduo e de um certo modelo de relações sociais.”(p.59)
Considerando a sociedade ocidental moderna, a comunicação se consolida
como característica essencial e necessidade fundamental desta sociedade, tendo por
princípios o reconhecimento de que faz parte da condição humana a aspiração por
comunicação, a linguagem está no centro da experiência humana, a busca pela relação
com o outro é mediada pela comunicação, e ainda, a comunicação manifesta o desejo
de expressão e a vontade de compreensão mútua do ser humano.
Também é importante considerar que se encontram implícitos, nesse modelo de
sociedade, os movimentos contraditórios de liberdade individual e busca pela
igualdade, o que gera, nos processos comunicacionais, um duplo papel: um de cunho
funcional que oscila entre versões otimistas de transformação da sociedade e versões
pessimistas de controle social e político, e outro de cunho normativo, pautado nas
regras do mercado econômico. A abordagem funcional tem por suporte uma ideologia
da técnica que apregoa o determinismo tecnológico e a abordagem normativa é
suportada por uma ideologia do mercado que defende uma evolução nas técnicas de
37
comunicação, das mídias de massa, generalistas, para as mídias temáticas
individualizadas. Tais ideologias apresentam, como conseqüência, o surgimento da
sociedade da informação com prenúncios de crescimento e avanços sociais e
econômicos.
Entretanto, para Wolton (2004), é necessária uma reflexão crítica sobre o papel
das mídias nessa sociedade, a fim de estabelecer uma lógica social e cultural de
maneira predominante sobre a lógica das técnicas. Para o autor, tal reflexão
apresentaria uma vantagem implícita:
(...) a de apagar, a dicotomia que opõe as mídias audiovisuais
dominadas pela oferta de programas, nos quais o público estaria em
posição de „passividade‟, às mídias de teleinformática que, do
microcomputador às redes, colocariam o público numa posição „ativa‟,
ligada a uma lógica de demanda. Essa distinção é parcialmente exata,
porque em ambos os casos o usuário é ativo. Quando a oferta
predomina, o público decodifica, filtra, aceita ou recusa as mensagens
recebidas. Quando a procura predomina, o público escolhe também.
(WOLTON, 2004, p.66)
Dessa maneira, Wolton (2004) busca resgatar a “inteligência do público”, e diante
do processo de desvalorização da recepção, da suposta falta de capacidade de
discernimento do público, contrapõe-se com o argumento acerca do reconhecimento do
sufrágio universal como meio legitimador do processo democrático. O mesmo cidadão
que “é suficientemente inteligente para distinguir as mensagens políticas e a origem da
legitimidade, ele é igualmente capaz de distinguir as mensagens de comunicação.” (p.
66). Para Wolton (2004) o mais importante é pensar as relações existentes entre a
tirania exercida pela comunicação e as técnicas comunicacionais, instrumentos dessa
sociedade.
Lopes (1996), em suas pesquisas sobre recepção a partir da perspectiva do
cotidiano, se propõe a (re)discutir os meios de comunicação, considerando os
“diferentes graus de dependência ou a interdependência entre os sistemas de
comunicação, além dos mecanismos de sedução e cumplicidade que unem produtores
e receptores.”(p.44). Para a autora, essa discussão permite constatar que este não se
trata de um sistema impositivo de mão única, numa relação de dominantes e
dominados, mas sim um sistema de mediações.
38
Desta forma, o cotidiano seria uma dimensão a ser apreendida por
instrumentos finos de pesquisa e análise, capazes de mostrar como as
práticas cotidianas aparecem ligadas à recepção da televisão, por
exemplo, conferindo-lhes novos sentidos ou influem na própria maneira
a partir da qual estes são lidos, isto é, entendidos e apreendidos. Os
diferentes modos de ler estão muito ligados às tradições, preocupações
e expectativas da vida prática, incorporando-se, muitas vezes, a ela nas
discussões familiares, alterando valores e comportamentos. (LOPES,
1996, p. 44).
Ao refletir sobre as dinâmicas do projeto moderno de urbanização, Martín-
Barbero (1998) destaca a presença das novas tecnologias comunicacionais na
configuração de novas relações sociais:
(...) as novas tecnologias comunicacionais, que pressionam para uma
sociedade mais aberta e interconectada, que agilizam os fluxos de
informações e as transações internacionais, que revolucionam as
condições de produção e de acesso ao saber, mas ao mesmo tempo
apagam memórias, transformam o sentido do tempo e a percepção do
espaço, ameaçando as identidades, pois é nelas que se configuram os
imaginários em que se plasmam os novos sentidos que, em sua
heterogeneidade, hoje cobrem tanto o local quanto os modos de
pertencimento e reconhecimento que fazem a identidade nacional.
(MARTÍN-BARBERO, 1998, p.56)
Martín-Barbero (1998) pensa o espaço urbano como um espaço comunicacional
que estabelece a conexão entre os diversos territórios das cidades e também destes
com o mundo. Para o autor, a expansão e a fragmentação das cidades se refletem no
crescimento e no adensamento dos meios e das redes eletrônicas. Os meios de
comunicação permitem a vivência do que ele chama de experiência/simulacro de uma
cidade que, de tão disseminada, não pode mais ser percebida na sua globalidade.
É na televisão, onde a câmera do helicóptero nos permite ter acesso a
uma imagem da densidade do tráfego nas avenidas ou da vastidão e
desolação dos bairros de invasão. É na TV ou na rádio que
cotidianamente conectamos com o que acontece na cidade "que
vivemos" e nos envolvemos com os acontecimentos, por mais longe que
deles estejamos: do massacre do palácio da justiça ao contágio de AIDS
no banco de sangue de uma clínica, do acidente de tráfego que bloqueia
a avenida pela qual devo chegar ao meu trabalho, aos avatares da
política que fazem cair os valores na bolsa. (MARTÍN-BARBERO, 1998,
p.62)
Os sistemas de comunicação e informação, por seu desenvolvimento dinâmico,
de maneira ágil, criam novas estratégias nas relações sociais, promovendo
39
fragmentações nestas relações e redefinindo a velocidade do fluxo de interações e,
dessa maneira, alteram significativamente a dinâmica da vida moderna. Mas, de quais
alterações está se falando? Para Martín-Barbero (1998), os ritmos do cotidiano,
decorrentes das inovações comunicacionais, têm promovido novas relações entre o
público e o privado, superpondo estes espaços e diluindo suas fronteiras. O autor ilustra
essa dinâmica focalizando o papel que exerce a televisão no contexto atual.
O público gira hoje em torno do privado não apenas no plano
econômico, mas também no político e cultural. E, reciprocamente, estar
em casa não significa ausentar-se do mundo: "a televisão é hoje em
dia a representação mais aproximada do demiurgo plutônico; e a
fascinação que exerce sobre os seres humanos não tem que ver
unicamente com a informação ou com o entretenimento: a oferta
televisiva principal é o mundo, o telespectador é um cosmopolita". O que
promove a identificação da cena pública com aquilo que se “passa'' na
televisão não são unicamente as inseguranças e violências da rua. Os
meios massivos, e de modo decisivo a televisão, são hoje o equivalente
do antigo agora: o cenário, por antonomásia, da coisa pública. (MARTÍN-
BARBERO, 1998, p.65)
Segundo Martín-Barbero (1998) ao se investigarem esses “novos modos de estar
juntos” (p.54) surgem, de imediato, as transformações da sensibilidade, conseqüência
dos acelerados processos de modernização urbana e novos cenários de comunicação
que constituem a cidade virtual, permeada de fragmentações e fluxos, conexões e
redes. São as novas possibilidades comunicacionais que, juntamente com a televisão,
constituem a força e a eficácia da cidade virtual, onde os “fluxos informáticos e as
imagens televisivas entretecem” (p.62), não pelo poder das tecnologias em si mesmas e
sim pela capacidade que possuem de “acelerar - de amplificar e aprofundar -
tendências estruturais de nossa sociedade”. (p.62)
Entre os sistemas de comunicação e informação, a televisão, objeto desta
pesquisa, pode ser entendida, para além de suporte de comunicação do mundo
moderno, como aquela que, ao se inserir de maneira profunda e significativa no
cotidiano das pessoas, desencadeia processos culturais e mudanças sociais. É
possível afirmar que a televisão interfere nas relações sociais e na construção da
subjetividade humana, por meio de diferentes maneiras de apreender e representar a
realidade.
40
Martín-Barbero e Rey (2004) consideram que a televisão deve ter a necessária
atenção dos pesquisadores, a fim de revelar sua preciosa contribuição no processo de
construir imagens da diversidade cultural das regiões, dos municípios, da sociedade
civil”. Também argumenta que a televisão pode ter um papel de destaque na formação
de uma consciência social crítica.
(...) formar uma visão crítica que distinga entre informação independente
e informação submissa ao poder econômico e político, entre programas
que buscam se conectar com as contradições e as esperanças de
nossos países e aqueles que nos oferecem evasão e consolo, entre
cópias baratas do que é imperante e trabalhos que fazem experiências
com as linguagens, entre o esteticismo formalista que explora as
tecnologias de maneira exibicionista e a investigação estética que
incorpora o vídeo e o computador à construção de nossas memórias e à
imaginação de nossos futuros. (MARTÍN-BARBERO; REY, 2004, p.27).
A mídia televisual, segundo Moran (2005), caracteriza-se por ser múltipla, tanto
em termos de produção, quanto de veiculação: imagens, sons, informação, divertimento
e publicidade. É capaz de articular, sobrepor e combinar linguagens totalmente
diferentes, através de uma narrativa fluida, uma lógica pouco delimitada, onde
conteúdos e limites éticos são pouco precisos, o que a caracteriza como um meio pleno
de ambigüidade, possibilitando interferências por parte dos consumidores.
Por outro lado, Santaella (2003) apresenta a televisão como veículo híbrido de
comunicação, e que se configura como um canal esvaziado de sentido se não fosse
pela mensagem que apresenta. Mensagem esta permeada por diferentes linguagens e
sistemas sígnicos que possibilitam processos comunicacionais e formas de cultura de
acordo com o potencial e limites deste veículo. Se, por um lado, como veículo
comunicacional é responsável pelo crescimento e multiplicação de códigos e
linguagens, por se caracterizar como meio, não pode ser considerado responsável pelo
processo de mediação social, uma vez que esta mediação é promovida pelos signos,
pela linguagem e pelo pensamento que veicula.
É possível distinguir, nessas duas abordagens acerca da mídia televisual, o
enfoque apresentado por Moran (2005), que ressalta as possibilidades de interação que
o público pode estabelecer com a televisão a partir da sua linguagem, e outro olhar
41
mais direcionado para a mensagem televisual, com seus elementos constitutivos,
estabelecendo o sentido da comunicação, tese enfatizada por Santaella (2003). Esta
dupla possibilidade de análise da linguagem televisual estará permeando esta pesquisa
a partir dos estudos realizados por diferentes autores da área da comunicação que
contribuem para o desvelamento desta mídia.
Na continuidade, a televisão será apresenta desde seu surgimento, avançando
para uma maior identificação de sua dinâmica de funcionamento, sua linguagem, para,
em seguida, a partir dos estudos sobre recepção e mediação, estabelecer suas
relações com a educação.
3.2.1 SURGIMENTO DA TELEVISÃO E CARACTERÍSTICAS DA SUA LINGUAGEM
Costa (2005) afirma que a história da televisão, do ponto de vista da sua
estrutura técnica, tem sua origem no início do século XX, como conseqüência de
pesquisas científicas relacionadas ao processo de produção e transmissão de imagens,
notadamente com os experimentos do pesquisador russo naturalizado americano,
Vladimir K. Zworykin que, em 1923, criou o primeiro tubo de câmara que permitiu a
projeção de imagens em uma tela fotoelétrica, adequado à teledifusão (iconoscópio). A
esta invenção somaram-se as pesquisas do engenheiro norte-americano Philo Taylor
Farnsworth que, através de um tubo de raios catódicos, conhecido como tubo
dissecador de imagens, em 1927, conseguiu transmitir imagens estáveis de um lugar
para outro. As imagens são construídas por meio de linhas formadas por um ponto
percorrendo a tela. Da junção desses dois inventos foi desenvolvida a televisão, capaz
de transmitir imagens de um emissor para um receptor, por meio de uma corrente de
vídeo, reproduzindo-as na sua recepção de forma semelhante as da sua emissão.
Para Sartori (1987), “a invenção da televisão não foi um acontecimento isolado
ou uma única série de acontecimentos” (p.249), está inicialmente relacionada às
pesquisas em torno da eletricidade, fotografia, cinematografia e radiofonia, realizadas
42
nos séculos XVIII e XIX, que ele identifica como a “pré-história” da televisão. A partir do
final do século XIX, alguns acontecimentos marcam o período “histórico” de surgimento
da televisão, são eles: o disco de Nipkow para escandimento de imagens, em 1883; as
células fotoelétricas de Elster e Geitel, em 1890; o tubo de raios catódicos de Braun, em
1897; o receptor de raios catódicos de Tosing, em 1907; o projeto de telecâmera
eletrônica de Campbell Swinton, em 1911. Para Sartori (1987) esses acontecimentos
marcam o período “histórico” da televisão porque os pesquisadores migraram suas
buscas dos possíveis meios técnicos para transmissão de imagens e passaram a
desenvolver um “objetivo tecnológico” específico que possibilitasse “a visão a distância
de imagens em movimento”. (p.251)
Ainda relacionado ao surgimento da televisão, Sartori (1987), reflete acerca da
pouca expectativa e interesse no campo social e econômico que marcaram o seu início,
quando os investimentos financeiros e políticos eram ainda incipientes. Foi com o
desenvolvimento do rádio e do cinema, no início do século XX, que a televisão passou
a ser vista como um terceiro pólo de um novo setor que estava surgindo.
(...) a idéia da televisão transforma-se no terceiro pólo de um setor agora
inconfundível com os outros que lhes estão próximos (o rádio, o cinema
e a nascente televisão são inteiramente diferentes da eletricidade, da
telefonia, da telegrafia, etc.) e manifesta, no núcleo deste setor, os
primeiros sintomas de uma autonomia tecnológica, econômica, cultural e
social (ou seja, os precursores daquela “força” que depois do pós-guerra
será ratificada e reinará definitivamente). (SARTORI, 1987, p.252).
Nos Estados Unidos e na Europa, dois processos paralelos se estabeleceram,
culminando com o lançamento da televisão em escala industrial. Enquanto nos Estados
Unidos o modelo econômico de televisão é lançado pela RCA, em 1938, marcado pelas
disputas corporativas entre Westinghouse, Farnsworth Television, RCA, Philco e
General Electric, em torno dos avanços científicos atingidos e dos registros de patentes,
na Europa, a partir dos avanços tecnológicos alcançados por Baird, na Inglaterra, a
nova invenção passa a receber investimentos de diversos governos: “a Alemanha
realiza as primeiras experiências públicas de televisão em 1929, seguida pela Inglaterra
em 1929, pela Itália em 1930 e pela França em 1932”. (SARTORI, 1987, p.254) Em
1936, a Inglaterra inicia o serviço público de televisão.
43
Do ponto de vista da sua estrutura de programação e origem dos seus formatos
de comunicação, de acordo com Costa (2005), a televisão está fortemente associada
ao rádio e, sob influência deste poderoso veículo de comunicação, promoveu “um
processo de identificação cultural nunca experimentado antes na nossa história, esta
sempre tão regionalista e fragmentária.” (2005, p.128) Ao analisar o desenvolvimento
da televisão no Brasil, a partir da década de 50, a autora destaca o seu caráter híbrido,
marcado pela multiplicidade e fragmentação, que se apresenta nas características dos
diversos programas que se mesclam e se sobrepõem, na heterogeneidade das histórias
que culminaram nas redes de transmissão, na diversidade de vocação das emissoras e
nas prioridades estabelecidas pelos diversos horários de suas programações. “Num
país de forte cultura oral e parcos recursos financeiros, a televisão se popularizou e
rapidamente alcançou a posição de maior entretenimento nacional, fonte de
identificação e integração cultural.” (2005, p. 129).
Martín-Barbero e Rey (2004) também destacam o caráter popular da televisão,
forjado na diversidade de seus gêneros de programas, contribuindo para o
desvelamento de uma identidade cultural latino-americana. Para os autores, o processo
de colonização da América foi singular em cada país, no entanto existem características
comuns que ligam os povos latinos. Tais características se traduzem, por exemplo, no
melodrama, que revela esta identidade cultural, e encontra-se presente na narrativa
televisiva. “(...) um gênero que catalisa o desenvolvimento da indústria audiovisual
latino-americana, justamente ao mesclar os avanços tecnológicos da mídia com as
velharias e anacronismos narrativos, que fazem parte da vida cultural desses povos.”
(MARTÍN-BARBERO; REY, 2004 p.115).
Machado (2009) traz importantes contribuições para o entendimento deste
veículo de comunicação, ao se propor analisá-lo numa abordagem qualitativa, a fim de
descortinar, a partir da análise dos programas veiculados, sua dinâmica e potencial de
funcionamento. O autor esclarece, inicialmente, que são duas as formas de se analisar
a televisão: a primeira, numa perspectiva sociológica, parte do entendimento de que a
televisão representa um fenômeno de massa que produz grande impacto na vida social
moderna. O objetivo deste tipo de análise é identificar e mensurar a influência social
44
deste meio tecnológico na construção de significados no cotidiano das pessoas,
desencadeando processos culturais e mudanças sociais. O segundo enfoque, escolhido
pelo autor no desenvolvimento do seu livro “A Televisão Levada a Sério”, parte de uma
perspectiva qualitativa que permite abordar a televisão como uma variedade de
produções audiovisuais, diversas, desiguais e contraditórias. Desta forma, a análise do
contexto, da estrutura externa e tecnológica está diretamente relacionada às imagens e
sons que compõem a mensagem televisual. “(...) como um dispositivo audiovisual
através do qual uma civilização pode exprimir a seus contemporâneos os seus próprios
anseios e dúvidas, as suas crenças e descrenças, as suas inquietações, as suas
descobertas e os vôos de sua imaginação.“ (MACHADO, 2009 p.11).
Nessa perspectiva de análise qualitativa de programas televisuais, Machado
(2009) apresenta e desenvolve algumas reflexões sobre os conceitos de programa,
gênero e enunciado, que permitem compreender o processo de construção de
significados desencadeados pelas mensagens deste meio tecnológico. Identifica-se
aqui, novamente, a abordagem teórica que focaliza a mensagem e seus elementos
constitutivos.
Inicialmente, cabe resgatar o conceito de programa que, segundo o autor, “é
qualquer série sintagmática que possa ser tomada como uma singularidade distintiva,
com relação às outras séries sintagmáticas da televisão.” (2009, p.27) Machado
destaca como programa uma única peça, um telefilme, um especial, uma série em
capítulos definidos, um horário reservado que se prolonga durante anos e até mesmo a
programação inteira no caso de emissoras ou redes “segmentadas” ou especializadas.
Na televisão não existem limites entre os programas, eles podem se misturar ou, ainda,
um programa estar inserido dentro do outro, sem permitir uma maior distinção entre o
programa que contém e o programa “conteúdo”. São os programas, bem como os
gêneros de programas, as referências que constituem a televisão como um fato cultural.
Tanto a produção como a recepção têm como base de significações os programas e os
gêneros de programas.
Para o entendimento de gênero, Machado busca em Bakhtin “um conceito mais
flexível, ou melhor, adaptável a um mundo em expansão e em rápida mutação.” (2009,
45
p.68). Embora a discussão de gênero, para Bakhtin, tivesse como foco a área
lingüística e literária, Machado viu, no pensador russo, teorias de gênero que podem
ser dirigidas para a análise de audiovisuais.
(...) gênero é uma força aglutinadora e estabilizadora dentro de uma
determinada linguagem, certo modo de organizar idéias, meios e
recursos expressivos, suficientemente estratificado numa cultura, de
modo a garantir a comunicabilidade dos produtos e a continuidade
dessa forma junto às comunidade futuras. Num certo sentido, é o gênero
que orienta todo o uso da linguagem no âmbito de um determinado
meio, pois é nele que se manifestam as tendências expressivas mais
estáveis e mais organizadas da evolução de um meio, acumuladas ao
longo de várias gerações de enunciadores. (...) as tendências que
preferencialmente se manifestam num gênero não se conservam ad
infinitum, mas estão em contínua transformação no mesmo instante em
que buscam garantir uma certa estabilidade. (MACHADO, 2009, p. 68).
Os gêneros discursivos, uma vez entendidos como uma das possibilidades de
atividade humana, possuem riqueza e diversidade ilimitadas, “porque cada esfera de
atividade contém um repertório inteiro de gêneros discursivos que se diferenciam e se
ampliam na mesma proporção que cada esfera particular se desenvolve e se torna
cada vez mais complexa.
9
“ (BAKHTIN, apud MACHADO, 2009 p. 71)
Para Machado (2009), os gêneros televisivos são categorias por princípio
mutáveis e heterogêneas, são esferas de acontecimentos, são modos de trabalhar a
matéria audiovisual. A heterogeneidade e mutabilidade dos gêneros têm, como base,
não apenas suas diferenças, mas também sua característica de replicar, em cada
enunciado, muitos gêneros ao mesmo tempo.
Os eventos audiovisuais, constituídos eletronicamente de imagem e som e
transmitidos, também, por via eletrônica, caracterizam o meio televisivo. Para Machado
(2009), a singularidade desses eventos, sejam eles, programas, capítulos de
programas, blocos de um capítulo, vinhetas, spots publicitários, reportagens ao vivo,
constituem aquilo que os semioticistas chamam de enunciado. Esses enunciados
televisuais possuem uma variedade de apresentação praticamente infinita.
A rigor, poder-se-ia dizer que cada enunciado concreto é uma
singularidade que se apresenta de forma única, mas foi produzido dentro
de uma certa esfera de intencionalidades, sob égide de uma certa
9
BAKHTIN, Mikhail Speech Genres & Other Late Essays. Austin: University of Texas, 1986.
46
economia, com vistas a abarcar um certo campo de acontecimentos,
atingir um certo segmento de telespectadores e assim por diante. Dessa
maneira, malgrado único em sua ocorrência singular, ele ilustra ou
espelha uma determinada possibilidade de utilização dos recursos
expressivos da televisão, um certo conceito de televisão, e isso se
expressa não apenas nos conteúdos verbais, figurativos, narrativos e
temáticos, como também no modo de manejar os elementos dos
códigos televisuais.(MACHADO, 2009, p. 70).
Numa perspectiva complementar, Souza (2004) define a expressão programação
como o conjunto de programas transmitidos por uma rede de televisão e o elemento
que marca uma programação é o horário de transmissão de cada programa. As redes
de televisão abertas criaram o conceito de horizontalidade da programação, ou seja,
definir um horário fixo para determinado gênero com o objetivo de criar, no
telespectador, o hábito de assisti-lo. No caso das televisões a cabo, é possível falar em
programação diagonal ou vertical, com os programas mudando de horário durante a
semana, por meio de reprises, para garantir audiência em vários horários.
Com relação a gênero, Souza (2004) apresenta como princípio o fato de que os
programas de televisão constituem um conjunto de elementos com características
comuns, e os define como um “grupo distinto ou tipo de filme e programa de televisão,
categorizados por estilo, forma, proposta e outros aspectos.”(ELLMORE apud SOUZA,
2004, p.41). O autor articula gênero com as categorias de programas citando
Kaminsky, que estabelece uma relação entre gênero e ordem. “A própria palavra
gênero significa simplesmente ordem. (...) No entanto, as questões básicas são: Que
categorias existem para se ordenar? Como chegaram aí? Quais são as relações entre
as várias categorias? O que essas categorias significam?(p.42). Propõe, assim, tratar
os gêneros levando em consideração, em especial, o que os mesmos dizem acerca dos
contextos culturais e históricos, na medida em que estes influenciam a ordem que se
procura estabelecer na televisão.
Machado (2009) apresenta, na sua análise, alguns gêneros de programas
televisuais, identificando-os e caracterizando-os de forma bastante ampla. Sua intenção
foi proceder à análise de programas selecionados a partir de alguns gêneros, a fim de
estabelecer referências de qualidade para produção televisual. Considerando a
47
relevância de se promover o entendimento acerca de gêneros de programas para a
presente pesquisa, serão apresentados, a partir dos estudos do autor, alguns
elementos identificatórios dos gêneros, com o objetivo de revelar sua diversidade de
recursos e possível pertinência educacional.
É importante, também, esclarecer, que não se pretende resgatar a análise de
programas propriamente dita, realizada por Machado (2009), e embora esta análise
possa se configurar como uma leitura importante para as pessoas preocupadas com a
qualidade da televisão, não se aplica ao nosso objeto de discussão neste trabalho. Os
gêneros pautados por seus estudos, destacados e apresentados na seqüência, são: as
formas fundadas no diálogo, as narrativas seriadas, o telejornal, as transmissões ao
vivo, o videoclipe e o grafismo televisual.
Com o objetivo de estabelecer amplitude e possíveis contrapontos nesta
pesquisa, será feita uma articulação, sempre que possível, do trabalho de Machado
(2009), com a pesquisa sobre gêneros e formatos na televisão brasileira, realizada por
Souza (2004).
a) Gênero de programa fundado no diálogo
Este gênero de programa tem no rádio a sua origem, no discurso oral a sua base
e “faz da palavra sua matéria-prima principal.” (MACHADO, 2009, p.71) A maioria da
programação televisual está fundada no modelo que tem um apresentador (também
chamado de talking head ou cabeça falante) que serve de suporte para um protagonista
ou mais protagonistas. Este formato de programa tem sua origem em determinantes
técnicos e econômicos, uma vez que se caracterizam por oferecer menos problemas
para a transmissão direta ou para o ritmo veloz de produção e, ainda, representam
baixo custo. Machado acredita que isto possa justificar o fato de que a televisão tenha
marcadamente esta característica, direcionando sua produção para a facilidade,
comodidade e banalidade dos talk shows - quando um grupo de pessoas é reunido para
discutir um ou vários assuntos sob a mediação de um apresentador. Entretanto, esse
gênero de programa possibilitou, também, que as formas discursivas mais antigas e
48
arraigadas da nossa cultura, aquelas fundadas no diálogo, ressurgissem na televisão,
assumindo as mais variadas formas como: a entrevista, o debate, a mesa redonda ou o
monólogo, cuja interlocução se dá com diretor oculto ou com o telespectador.
O retorno à oralidade ou, mais exatamente, o advento de uma
segunda fase da oralidade, mediada por tecnologia de gravação e
transmissão - proporcionado pelo rádio e pela televisão, abriu um
espaço novo para o ressurgimento do diálogo em condições muito
próximas do modelo socrático. Mas essa possibilidade teórica rendeu
resultados reais em algumas propostas mais ousadas de programas, em
geral praticadas por televisões que fogem dos esquemas das grandes
redes nacionais e internacionais. (MACHADO, 2009, p. 74)
Segundo Machado, é na Grécia antiga que Bakhtin localiza o surgimento do
diálogo, por meio, principalmente, do método socrático, que consistia em colocar as
pessoas umas diante das outras, incentivando-as ao debate. Tal debate evidenciava as
oposições e contradições dos debatedores, sendo que Sócrates conduzia os
debatedores “a encarar as questões sobre todos os ângulos, mas sem jamais propor
um caminho ou induzir uma conclusão final.” (MACHADO, 2009 p.73).
Para Machado, do ponto de vista cnico o diálogo socrático utilizava vários
procedimentos dos quais, Bakhtin ressaltou dois: a síncrise confrontação entre dois
ou mais pontos de vista sobre um mesmo assunto e a anácrise que consiste em
provocar a palavra do interlocutor, forçando-o a apresentar sua opinião de forma clara.
Uma vez incorporados ao diálogo como debatedores, de forma voluntária ou não, os
protagonistas dos diálogos socráticos eram considerados homens de idéias, chamados
por Bakhtin de “ideólogos” e, no espaço público destinado ao debate o ágora, eles
encenavam aquele que, talvez, seja o drama maior da humanidade: „a procura e a
experimentação da verdade‟ (Bakhtin). Desta forma, é possível afirmar que a questão
relevante deste todo não é a abordagem técnica do diálogo como forma, mas o fato
do diálogo servir de “alicerce de toda uma cosmivisão filosófica que acredita na
natureza dialógica (plurívoca e contraditória) da verdade.” (MACHADO, 2009 p. 73)
Souza (2004) apresenta o debate e a entrevista como dois gêneros distintos e os
identifica a partir de sua dinâmica de produção considerando uma categoria de
programa. O debate é caracterizado como produção de baixo investimento com
49
duração elástica, dentro da categoria de programas informativos. Sua característica
principal é o número de entrevistados e entrevistadores que também podem exercer o
papel de comentaristas. Os temas de debate são variados e atendem as propostas das
emissoras: um tema e vários entrevistados ou vários temas com vários entrevistados. A
utilização deste gênero pelas pequenas afiliadas das grandes redes permite a presença
das produções locais na programação. O formato mais usado nos debates é a mesa
redonda, embora alguns debates também possam compor com um auditório para
eventuais intervenções. Outros recursos que podem fazer parte dos debates são
pequenas reportagens para ilustrar o tema, ou entrevistas com os próprios convidados
ou com o público.
O gênero entrevista, para Souza (2004), está ligado aos programas jornalísticos.
Sua característica principal é trazer o apresentador frente a frente com pessoas das
mais diversas áreas. O autor distingue a entrevista do talk show, que na primeira o
entrevistado é o foco e no segundo o show sob o comando do apresentador é que se
destaca. As entrevistas podem ser ilustradas por reportagens que auxiliam com a
temática. Os locais de gravação podem ser estúdios ou em locações externas e as
transmissões podem ser ao vivo ou gravadas.
b) A narrativa seriada
A narrativa seriada é definida por Machado como o programa com edição diária,
semanal ou mensal, constituído por um conjunto de blocos e fazendo parte de uma
totalidade maior que se apresenta por semanas, meses ou anos. “Chamamos de
serialidade essa apresentação descontínua e fragmentada do sintagma televisual.”
(MACHADO, 2009, p.83) Quando se trata das formas narrativas, o enredo é organizado
em capítulos ou episódios, apresentados em dia ou horários específicos subdividido,
por sua vez, em blocos menores. Estes blocos são separados por breaks que permitem
a entrada de comerciais ou de chamadas de outros programas. A televisão possui,
basicamente, três tipos de narrativas seriadas: a narrativa única ou várias narrativas
entrelaçadas que se apresentam de forma linear ao longo de capítulos; a história
50
completa e autônoma, com começo, meio e fim, sendo que o que se repete, em cada
episódio, são os personagens e o contexto da narrativa, com variantes diversas; e a
forma de episódios que preserva apenas a proposta geral das histórias ou temáticas,
sendo que cada episódio possui histórias, personagens, atores, cenários e até
roteiristas e diretores diferentes, mantendo apenas o tulo genérico e os estilos das
histórias.
A principal forma de estruturação da produção audiovisual na televisão é a
serialização e, para muitos, isto se deve ao fato de que a televisão, fruto da revolução
industrial, funciona, também, segundo um modelo industrial, tendo como estratégia
produtiva o mesmo funcionamento da produção em série herdado da indústria
automobilística. Desta forma, parte-se do entendimento de que esta escolha tem como
base fatores econômicos, ou seja, existe uma maior economia ao se definir e reproduzir
um padrão de produção. Entretanto, Machado relembra que não foi a televisão que deu
origem às séries. Elas estavam presentes na literatura e é possível lembrar As mil e
uma noites ou a técnica do folhetim, na radiodifusão e até mesmo no cinema que, no
início do século XX, produzia filmes para serem vistos de uma única vez, nas grandes
salas de cinema, ou divididos em partes e apresentados em salas que o ofereciam
conforto ao espectador. Para o autor, existem razões inerentes ao meio que também
explicam a opção da televisão pela produção seriada.
A recepção de televisão em geral se da em espaços domésticos
iluminados, em que o ambiente circundante concorre diretamente com o
lugar simbólico da tele pequena, desviando a atenção do espectador e
solicitando-o com muita freqüência. Isso quer dizer que a atitude do
espectador em relação ao enunciado televisual costuma ser dispersiva e
distraída em grande parte das vezes. Diante dessas contingências, a
produção televisual se permanentemente constrangida a levar em
consideração as condições de recepção e essa pressão acaba
finalmente por se cristalizar em forma expressiva. (...) A televisão logra
melhores resultados quanto mais a sua programação for do tipo
recorrente, circular, reiterando idéias e sensações a cada novo plano, ou
então quanto ela assume a dispersão, organizando a mensagem em
painéis fragmentários e híbridos, como na técnica da collage.
(MACHADO, 2009, p. 87).
Outro elemento presente da narrativa seriada e importante a ser considerado é a
incorporação do break à estrutura da obra. Embora, aparentemente, o break cumpra
51
uma função estrutural de natureza econômica, Machado argumenta que ele não se
limita a esta função e cumpre, também, um papel organizativo “para garantir, de um
lado, um momento de “respiração” para absorver a dispersão e de outro, explorar
ganchos de tensão que permitem despertar o interesse da audiência, conforme o
modelo do corte com suspense, explorado do folhetim.” (2009 p. 88)
Outra questão, relevante para o entendimento desta recorrência do uso da
narrativa seriada na televisão, diz respeito aos princípios da alternância e da repetição.
Machado resgata o conceito de alternância desigual dos estudos de Lorenzo Vilches
que identifica na serialização um conjunto de seqüências sintagmáticas que se alternam
permitindo que cada episódio repita um conjunto de elementos conhecidos e que
fazem parte do repertório do receptor, no entanto, introduzindo algumas variações ou
novos elementos. Na mesma linha de abordagem, outro estudioso desse campo, Omar
Calabrase, também contribui para as formulações acerca da repetição na linguagem
televisual, segundo Machado:
Omar Calabrese, por sua vez, rejeitando o senso comum que considera
o repetitivo e o serial com o contrário do original e artístico, vem afirmar
que a produção seriada da televisão nos permite pensar numa coisa
nova, uma espécie de “estética da repetição”, baseada na dinâmica que
brota da relação entre os elementos invariantes e os variáveis.
(MACHADO, 2009, p. 90)
Deste processo é possível resultar uma riqueza da serialização televisual, que
consiste em fragmentar e embaralhar uma narrativa com objetivo de estabelecer
modelos de organização mais complexos, menos previsíveis e abertos ao acaso.
Segundo Souza (2004), os programas classificados como séries se destinam a
todo o tipo de público e o seu conteúdo vai do educativo ao policial. O telespectador
não precisa ter conhecimento prévio da história, nem mesmo há necessidade que tenha
assistido aos outros capítulos da série. Elas possuem um caráter internacional e estão
presentes em todo o mundo. No Brasil, apenas os programas infantis superam a
exibição de séries. Como produção nacional, as ries nasceram das novelas e podem
ser baseadas em temáticas históricas ou cotidianas. Os textos são originais ou
adaptados a partir da literatura. Embora tenha sua origem nas novelas, as séries têm
seu período de duração bem menor.
52
As séries e minisséries brasileiras suprem a necessidade da ficção nacional de
compor a grade de programação das emissoras, em especial, nos horários nobres. Sua
produção se dá em capítulos, sendo que nas minisséries a continuidade se dá no dia
seguinte, com um número de capítulos que varia em torno de vinte e cinco, podendo
ser ampliado a partir da aprovação da audiência. Por outro lado, as séries, com
capítulos independentes, mantêm apenas os personagens centrais e a história se
resolve no próprio capítulo. Neste caso, sua duração pode ser variável assim como é
possível que sua exibição se dê em intervalos de tempo maiores.
c) O telejornal
O telejornal também teve sua origem na prática radiofônica, tendo um locutor
como base e um script para leitura. Este modelo foi, aos poucos, sendo substituído pela
ação de vários sujeitos que passaram a assumir a tarefa de construir o noticiário, com a
participação de repórteres, pessoas que viram o fato ou sabem sobre ele, e falam sobre
o que viram e sabem. O telejornal tem como estrutura significante a forma de
apresentação destes sujeitos.
(...) o telejornal não pode ser encarado como um simples dispositivo de
reflexão dos eventos, de natureza especular, ou como um mero recurso
de aproximação daquilo que acontece alhures, mas antes como um
efeito de mediação. A menos que nós próprios sejamos os
protagonistas, os eventos surgem para nós, espectadores, mediados
através dos repórteres (literalmente: aqueles que reportam, aqueles que
contam o que viram), porta-vozes, testemunhas oculares e toda uma
multidão de sujeitos falantes considerados competentes para construir
“versões” do que acontece. (MACHADO, 2009 p.102).
Desta forma, para Machado, o telejornal é constituído por mediações. O relato
telejornalístico está totalmente mediado pelos enunciados de repórteres e protagonistas
da notícia. É nele que se a enunciação sobre os eventos. Os diferentes sujeitos se
revezam, se sucedem e se contrapõem uns aos outros, construindo um discurso sobre
os fatos relatados. A partir desse modelo, é possível afirmar que “a principal
característica do telejornal é o da polifonia de vozes, cada uma delas existindo de forma
mais ou menos autônoma e prescindindo de qualquer síntese global.” (2009, p. 108)
53
Do ponto de vista da organização da tarefa de construção do telejornal, existem
dois modelos principais: centralizado e opinativo, também chamado de moderno ou
pós-moderno quando o âncora tem poderes para decidir sobre as vozes que estarão
presentes na notícia e é o principal organizador dos enunciados; e polifônico, também
conhecido como tradicional ou convencional quando o apresentador expressa a
opinião, de forma esparsa e difusa, de um grupo de redatores e todo este grupo possui
a mesma importância na apresentação da notícia.
De acordo com Souza (2004), o telejornal possui características próprias, um
apresentador no estúdio chamando matérias e reportagens sobre fatos e
acontecimentos recentes. Nas televisões, os departamentos de jornalismo são
independentes, com equipamentos e produção preparados para programas
informativos. O primeiro formato de telejornal foi o noticiário com o apresentar lendo as
notícias sem qualquer imagem ou ilustração. É possível perceber que até hoje, mesmo
se mantendo no formato a figura do apresentador (um ou mais), ele, além de ler as
notícias, apresenta reportagens, gravadas ou ao vivo. A transmissão também se ao
vivo na maioria dos telejornais. Compartilham dos departamentos de telejornalismo, nas
emissoras de televisão, os debates, as entrevistas, os documentários e as reportagens
especiais. Nos telejornais estão presentes os seguintes formatos: reportagem,
entrevista, nota, indicadores econômicos, editorial, crônica, depoimentos, entre outros.
d) Transmissão ao vivo
A transmissão direta pode ser entendida como o primeiro gênero televisual, uma
vez que as primeiras produções televisuais foram transmissões ao vivo de eventos que
aconteciam independente da televisão, como por exemplo, os Jogos Olímpicos de
Berlim (1936), a coroação do rei Jorge VI da Inglaterra (1937), a convenção do Partido
Republicano norte-americano na cidade da Filadélfia (1940) entre outros.
Machado argumenta que a principal novidade relacionada ao surgimento da
televisão, dentro do campo das imagens técnicas, é a transmissão em tempo presente.
A grande diferença com relação aos outros meios é a possibilidade da reflexão sobre a
54
mensagem, pelo telespectador, acontecer enquanto o processo de emissão ainda está
em andamento. Este processo de emissão consiste num fluxo de imagens e sons que
se desenvolve diante do receptor provocando nele a formação de opinião. Tal
perspectiva, para o autor, possibilita a ação política, podendo resultar em mobilização.
E, ainda, no que diz respeito à criação e recepção de mensagens audiovisuais, o que
constitui o ineditismo deste processo é a possibilidade de tornar as mensagens legíveis
ao espectador enquanto elas estão sendo enunciadas.
Outra característica, presente na televisão ao vivo, está relacionada ao controle
de qualidade imposto aos produtos destinados à circulação midiática, na medida em
que tudo que era considerado excesso se transforma em elemento formador impondo
ao produto final “marcas da incompletude, da indomesticabilidade e, num certo sentido,
da bruteza, que constituem algumas de suas características mais interessantes.” (2009,
p. 131)
A transmissão direta, para Machado, pode gerar experiências humanas e
estéticas intensas e privilegiadas. Remetendo-se a Umberto Eco, o autor relaciona a
transmissão direta às experiências de arte contemporânea que incorporam o aleatório e
o imprevisível na construção da obra, quebrando, assim, uma noção de coerência
estrutural que tem como resultado o estabelecimento de sentidos únicos.
(...) Para que seja possível experimentar, em todas as suas
consequências , as perspectivas abertas por essa modalidade de
enunciação televisual, é preciso que as pessoas que a praticam e
também aquelas que a subvencionam estejam realmente imbuídas de
uma visão de mundo menos esclerosada e se mostrem dispostas a
colocar entre parênteses os esquemas adquiridos à custa do hábito. Isso
requer, naturalmente, sensibilidade renovada, reflexão crítica e decisão
ideológica que são encontradas hoje em práticas autônomas de
televisão, fora de esquemas institucionais e mercadológicos habituais.
(MACHADO, 2009, p.137).
Uma importante diferenciação que faz Machado, para a compreensão da
transmissão do vivo, diz respeito às noções de tempo presente e tempo real. Quando a
transmissão ocorre no mesmo momento em que ocorre um determinado evento, seus
intervalos de tempo não podem ser suprimidos ou estendidos, devendo a transmissão
absorver sua morosidade e os seus vazios. Considerando tal processo, diz-se que a
55
transmissão acontece em tempo real. Por outro lado, segundo Machado, quando se fala
em tempo presente, está se referindo a um procedimento exclusivo da televisão que
apresenta o tempo da enunciação da mensagem como um tempo presente para o
espectador. Por isso diz-se da efemeridade dos produtos televisuais, que são obras que
se tornam “entidades passantes” sem qualquer vestígio de perenidade ou durabilidade.
A transmissão ao vivo não é classificada por Souza (2004) como gênero, mas
como um formato de programa. Pode ser uma transmissão em tempo real, ou a
gravação de um programa ao vivo, neste caso, a gravação acontece sem interrupção e
o espetáculo (programa) ocorre de forma independente do processo de gravação.
Nesse formato, é possível que a gravação se dê ao vivo, porém a transmissão acontece
em outro momento, o que permite um trabalho de edição, chamado de pós-produção,
adequando o programa gravado aos horários da emissora.
e) Videoclipe
Machado (2009) caracteriza o videoclipe com “um formato enxuto e concentrado,
de curta duração, de custos relativamente modestos se comparados com os de um
filme ou de um programa de televisão, e com um amplo potencial de distribuição.”
(2009, p.173) Para o autor, o conceito de videoclipe está se redefinindo, tendo em vista
as várias tendências de estilo que se sobrepõem ao “clichê publicitário” de produção de
clipes pautados pela exploração das imagens de astros e bandas de música pop, com
uma proposta de tratamento mais livre para as imagens. Surgem, então, nos
videoclipes, as imagens de paisagens vagas, com as mais variadas formas e até
mesmo imagens abstratas tendo, em algumas vezes, as figuras dos vocalistas e
instrumentistas apresentadas de forma “furtiva e secundária”. Desta maneira, é possível
caracterizar o videoclipe como forma mais autônoma, onde acontecem “exercícios de
audiovisual mais ousados”.
Outra tendência importante do atual videoclipe é ao abandono ou a
rejeição total de regras do “bem fazer” herdadas da publicidade e do
cinema comercial. O que vale agora é a energia que se imprime ao fluxo
audiovisual, a fúria desconstrutiva e libidinosa que sacode e dissolve as
formas bem definidas impostas pelo aparato técnico. Nada daquele
56
controle de qualidade que poderia imprimir ao produto a chancela de um
acabamento industrial. Em lugar da competência profissional ou da mera
demonstração de um bom aprendizado das regras e truque do feudo
audiovisual, agora presenciamos o retorno a um primitivismo deliberado,
à imagem “suja”, mal iluminada, mal ajustada, mal focada e granulada, o
corte na rebarba, a câmera sem estabilidade e sacudida por verdadeiros
terremotos, todas a regras mandadas para o vinagre e todo o visível
reduzido a manchas disformes, deselegantes, gritantes, inquietantes.
(MACHADO, 2009, p.177).
O videoclipe é marcado pela descontinuidade. De um plano para outro, é
possível mudanças de figurino, espaço físico, iluminação, etc. Cada plano do videoclipe
funciona como uma unidade independente, sem qualquer compromisso com as “idéias
tradicionais de sucessão e linearidade” que são substituídas por “conceitos mais
flutuantes como os de fragmentação e dispersão”. (2009, p. 180)
Segundo Souza (2004), o videoclipe surgiu como um formato de apoio ao gênero
musical e passou também a contribuir com outros gêneros: nos documentários, para
deixar o programa mais leve e destacar os temas levantados por meio de letras de
música; nos programas de humor, com paródias musicais ilustradas por cenas fictícias;
como tema musical em programas de esportes para colocar em evidência momentos da
competição, entre outros. Os videoclipes são representações que envolvem criatividade
e qualidade no processo de produção e edição.
f) Grafismo televisual
Teve sua origem na década de 50, no cinema norte-americano, quando alguns
cineastas contrataram artistas gráficos ou artistas plásticos para fazer a abertura dos
filmes, com o objetivo de dar maior dinamismo para a apresentação dos créditos.
Segundo Machado, grafismo televisual são recursos como títulos, créditos,
textos, lettering, logotipos e design gráficos concebidos de forma dinâmica, podendo ser
tridimensionais ou não, que compõem a identidade visual de uma emissora de
televisão, de um programa, ou de um produto. Um determinado programa, como por
exemplo, um telejornal pode, para melhor apresentar uma notícia, fazer uso de mapas,
reconstituições, esquemas, identificação de fontes, etc. Todo o fluxo televisual possui
57
efeitos gráficos fazendo parte da estrutura dos enunciados e, em muitas vezes, o
próprio programa é planejado a partir do seu potencial gráfico. Um recurso amplamente
utilizado no meio televisual são as letras tridimensionais, figuras geométricas, texturas,
formas e cores, que surgem em movimento, geralmente sincronizados a uma trilha
sonora, transformando-se em outras formas, textos e figuras, num processo de
deslocamento e condensação que, ao final, se funde formando um título de programa
ou logo empresarial. Trata-se de um efeito gráfico que resulta de um agrupamento de
letras que, depois de trabalhadas, compõem uma forma gráfica que será utilizada para
representar uma instituição ou marca comercial. Um papel importante da logo no fluxo
televisual é estabelecer marcações entre os programas ou dentro de um programa,
desempenhando, assim, uma ação organizativa.
Machado, considerando os estudos de Margaret Morse, destaca o papel
estrutural do grafismo na televisão na medida em que sua utilização induz a velocidade,
sugere “monumentalidade”, provoca imersão, simula um mundo sem gravidade, com o
objetivo de promover a construção de prestígio e credibilidade de uma marca.
Entretanto, sua utilização supera a finalidade comercial ao estabelecer novas
alternativas de interação com os meios eletrônicos.
A verdade é que, nos termos da extensão e alcance da cultura de
massa, nada tem contribuído melhor para a renovação da sensibilidade
e do gosto coletivos, no campo da visualidade, do que o grafics de
televisão. Mais que isso: o grafismo televisual preparou toda uma
geração para o desafio da “escritura” no meio eletrônico, ensinou a lidar
com os problemas particulares da distribuição e otimização de
informação na tela doméstica, bem como resgatou o prazer de ler, de
ver e de ouvir num veículo novo, conquistas essas que estão sendo
absorvidas e desenvolvidas em outros meios digitais e telemáticos
(multimídia para CD-ROM ou Web, jornal eletrônico, etc.). (MACHADO,
2009, p. 203).
As vinhetas são utilizadas em praticamente todos os gêneros de programas e
são classificadas por Souza (2004) em: vinheta para abertura, vinheta de passagem,
vinheta que anuncia a próxima atração e vinhetas comerciais.
Na pesquisa realizada por Souza (2008), é possível identificar outros gêneros e
formatos de programas que podem se aproximar do universo educacional, como os
programas interativos cujo apresentador, ao vivo, mostra resultados de uma
58
determinada consulta realizada com o público; os documentários que, além de
demonstrar a qualidade da equipe de jornalismo da emissora, abordam temas de
relevância histórica, social, política, científica, econômica, além de aprofundar, de forma
crítica, assuntos do cotidiano; o formato instrucional, produzido para orientar o público
na realização de uma tarefa ou atividade, na resolução de problemas, no desempenho
de funções especializadas; e a teleaula, considerada como um formato de baixo custo
para a educação, principalmente por apresentar, na maioria das vezes, um professor
em um cenário comum, que reproduz o espaço das salas de aulas, com algumas
inserções de gráficos.
Segundo o autor, todos esses gêneros e formatos de programas contribuem com
a identificação da linguagem televisual que hoje se encontra presente na televisão
brasileira. Entretanto, “resta saber se a programação das TVS do século XXI vai
continuar utilizando as categorias, os gêneros e os formatos aqui apresentados ou se
os novos meios eletrônicos virão também com novos padrões de linguagem.” (SOUZA,
2004, p.185).
Com essa indagação, é possível encerrar, na presente investigação, os estudos
acerca da televisão, no que diz respeito às dinâmicas de organização, funcionamento e
produção, presentes na linguagem televisual. Neste mapeamento de conceitos, as
reflexões teóricas aqui apresentadas podem contribuir para a ampliação do olhar
acerca das possibilidades educacionais do uso da televisão. Dessa maneira, pensar a
educação a partir dos estudos da recepção se configura com a temática a ser explorada
na seqüência desta pesquisa.
3.2.2 RECEPÇÃO E EDUCAÇÃO
Para Machado (2007), ver televisão sugere um comportamento mais distraído e
dispersivo, sendo que o espectador, por estar inserido no ambiente doméstico, não se
encontra tão envolvido pelo fascínio hipnótico da tela grande e da sala escura do
cinema. A programação televisiva é seriada, fragmentada, interrompida a todo o
momento e não conta com o rigor da continuidade. A produção audiovisual ou televisual
59
se caracteriza por uma mistura de gêneros, demandas e procedimentos, de forma a
construir uma objetividade enunciativa.
Segundo esse autor, o conceito de enunciação, de cunho estruturalista, extraído
das teorias linguísticas e psicanalítica, e especialmente formulado para o entendimento
da linguagem cinematográfica, nunca foi suficientemente aprofundado com vistas a um
melhor entendimento da televisão. Acrescente-se, a este quadro, a entrada em cena do
pensamento culturalista que estabeleceu, no campo da comunicação, uma crise do
pensamento estruturalista e, como conseqüência, os estudos da enunciação passaram
a ser substituídos pelos estudos da recepção, tendo como base os estudos culturais, a
filosofia analítica e as ciências cognitivas. O processo de recepção ganhou autonomia
em relação à produção e passou a ser visto de forma independente das possíveis
determinações implícitas na mensagem e das intenções do sujeito enunciador.
O vídeo e a televisão principalmente, e depois por contaminação,
também o próprio cinema, passou a ser produzido não mais
prioritariamente para a sala escura, mas para os mercados do
videocassete, laserdisc e DVD. Com o surgimento e generalização
desses novos meios, o dispositivo, o „texto‟ e o espectador começam a
mudar de estatuto. Num primeiro momento, o vídeo e a televisão
parecem já não jogar nenhuma ênfase na construção de uma
subjetividade que possa funcionar como porta de acesso aos novos
enunciados. (MACHADO, 2007 p.133).
De maneira complementar, a contribuição de Martín-Barbero (2002) consiste em
não desvincular o estudo da recepção dos processos de produção. Seria prejudicial ao
entendimento da recepção a exclusão dos saberes mais especializados e profundos
dos produtores. Para ele, é impossível desligar o receptor do produtor. A recepção em
grande medida se orienta pela produção e, ao mesmo tempo, existe um saber do
receptor que assegura o êxito do produtor. A relevância do estudo da recepção, para
Martín-Barbero, se expressa nesta passagem em que ele apresenta sua finalidade:
(...) o estudo da recepção, no sentido em que estamos discutindo, quer
resgatar a vida, a iniciativa, a criatividade dos sujeitos: quer resgatar a
complexidade da vida cotidiana, como espaço de produção de sentido;
quer resgatar o caráter lúdico da relação com os meios; quer romper
com aquele racionalismo que pensa a relação com os meios somente
em termos de conhecimento ou de desconhecimento, em termos
ideológicos; quer resgatar, além do caráter lúdico, o caráter libidinal,
desejoso, da relação com os meios. (MARTÍN-BARBERO, 2002 p.54)
60
Se, por um lado, é possível identificar em Arlindo Machado o enfoque dos
processos de interação a partir da dinâmica da produção audiovisual, dos significados
que a mesma é capaz de suscitar no público, buscando nos enunciados dos discursos
televisuais a fonte de provocação e instigação do espectador para a interação com os
conteúdos das mídias, por outro lado, em Martín-Barbero a interação aparece vinculada
ao processo de recepção a partir do contexto cultural do público. Dessa maneira, a
interação se constitui como uma negociação de sentidos que se estabelece na
circulação dos discursos, na forma como uma mensagem é recebida e interpretada e
depois comunicada aos outros.
Martín-Barbero (2002) destaca a recepção no domínio das ciências da
comunicação não apenas como uma etapa do processo, mas sim como um novo lugar
para repensar os estudos e a pesquisa de comunicação. Para ele, o receptor não é um
simples decodificador de mensagem, mas também um produtor. Recepção é um
espaço de interação “temos que estudar não o que fazem os meios com as pessoas,
mas o que fazem as pessoas com elas mesmas, o que elas fazem com o meio, sua
leitura” (p.55). No entanto, propõe o estudo da recepção sem o idealismo de acreditar
que o leitor (receptor) pode tudo, mas sim que existem limites claros para aquele que
consome, limites estes oriundos das escolhas que ele mesmo faz do que vai consumir.
Esta condição pode representar uma distorção ao processo de recepção na medida em
que foi construída na nossa sociedade a falsa idéia de que o processo de escolha está
centrado no consumidor, como se fosse dele a decisão do que ver, do que ler, do que
escutar.
É no âmbito da investigação em recepção que se reorienta
fundamentalmente a compreensão da comunicação para além da
análise do conteúdo das mensagens ou da estrutura dos meios, visando
uma revalorização do universo cultural e do cotidiano dos sujeitos como
mediadores dos sentidos produzidos no campo da recepção. A
comunicação se tornou questão das mediações. Mais do que meios,
a questão de cultura e, portanto, não de conhecimentos, senão de
reconhecimentos. (MARTÍN-BARBERO, apud FORT, 2005, p. 77).
Considerando o foco desta pesquisa, TV digital interativa e formação de
professores, faz-se necessário redirecionar a abordagem sobre televisão com o
61
propósito de buscar uma articulação da linguagem televisual ao campo educacional. A
incorporação de programas televisuais pela escola tem como premissa o
reconhecimento, no espaço escolar, de novas maneiras de representar a realidade.
Isso significa admitir que as linguagens oral e escrita não são as únicas possibilidades
para a apropriação do conhecimento. Significa, também, conceber a televisão como
aliada do processo ensino-aprendizagem.
De maneira mais ampla, Bolaño e Brittos (2003) propõem o olhar sobre os
espaços públicos a partir da compreensão do papel das tecnologias de informação e
comunicação, uma vez que estas, ao se inserirem na sociedade de modo
historicamente determinado, trazem consigo as contradições presentes numa esfera
pública burguesa, e é nestas contradições que “se situam as alternativas democráticas
de uma comunicação popular organizada a partir dos movimentos sociais.” (p.48) É
possível afirmar que as técnicas de informação e comunicação, desenvolvidas para
atender aos interesses do capital, são o principal canal de interação social para
disseminar, fortalecer e retrabalhar as experiências alternativas, populares e locais.
Na nova esfera pública globalizada, a tecnologia e os novos meios
geram impactos, tanto econômicos, quanto políticos e nas formas de
sociabilidade, atingindo o espaço público. É na disputa para vencer os
limites pelo capital e pela expansão da cultura ligada aos ditames do
consumo, que se opõem à concretização de uma comunicação popular
libertadora, articulando democracia e cidadania e testando e construindo
potencialidades, que incide o atual movimento de digitalização geral,
fruto da revolução microeletrônica e da reestruturação do capitalismo.
(BOLAÑO; BRITTOS, 2003, p. 48).
Em entrevista
10
para Fernando Irigaray, na Universidad Nacional de Rosário, na
Argentina, em 2005, Martín-Barbero acrescenta alguns elementos necessários para o
entendimento do processo de mediação - interação que se realiza em espaços sociais -
a partir dos meios. Inicialmente, destaca a competência histórica entendida como
aquela que oferece condições para a manipulação dos artefatos tecnológicos com
criatividade, possibilitando se estabelecer nexo entre os formatos tecnológicos e as
narrativas e gêneros. Discute também a competência lógico-simbólica necessária para
10
Entrevista disponível no Portal dos Fóruns Eja que realiza a conexão entre o movimento social pela
EJA e as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC´S). http://www.forumeja.org.br/node/1065
62
manejar a complexidade tecnológica, complexidade esta vinculada ao sentido das
possibilidades: possibilidades de interação, de interatividade, de fazer coisas novas e
não apenas ver coisas novas. Esta competência tem origem na lógica matemática, mas
necessita de um desenvolvimento mais amplo para que se possa aproveitar as
possibilidades apresentadas pelas tecnologias. Por fim, afirma a importância da
apropriação dos saberes estéticos que mudam o eixo mercantil do mundo audiovisual
na nossa sociedade, definido por Martín-Barbero (2005) como esgotado e barato, para
um eixo criativo e identitário. Para o autor entrevistado, nunca se estabeleceu uma
relação tão forte entre experimentação científica e estética, nunca o conhecer se
articulou tanto à criação estética.
Outro ponto levantado por Martín-Barbero, em Rosário, diz respeito às
potencialidades das redes como um novo modo de relação social. Os laços sociais que
se estabeleciam a partir da presença física das pessoas em um espaço concreto,
criando líderes e caudilhos, cedem lugar para as relações sociais na rede que, embora
mais desencantadas e menos carismáticas, o capazes de repontencializar o
sentimento de emoção da rua que provoca a conexão entre estas novas interações e a
potencialidade do social. Surge, assim, uma maneira diferente para se entenderem as
relações sociais e, conseqüentemente, o mundo. Sob essa perspectiva, a tecnologia
provoca novos modos de relação entre as novas experiências do cidadão e os modos
de comunicação. O conhecimento ganha espaço como matéria prima e, diferentemente
do tempo em que as máquinas substituíam a energia muscular, agora, as máquinas
complementam o pensamento.
Entretanto, para se avançar nas discussões acerca das tecnologias de
informação e comunicação presentes nos espaços públicos, em especial nos espaços
educacionais, faz-se necessário apresentá-las de maneira mais explícita, a fim de
identificar o contexto sobre o qual esta análise tem se debruçado. De quais tecnologias
de informação e comunicação está se falando? Para Primo (2007), as possibilidades
comunicacionais advindas com os avanços das novas tecnologias de informação
acabam por promover uma transgressão no modelo de comunicação existente antes do
advento do computador conectado pela internet. Tal mudança resulta em uma nova
63
lógica comunicacional presente na rede de computadores, que o autor apresenta em
duas gerações: a primeira geração marcada pela presença de sites isolados, cuja
ênfase era dada ao processo de publicação de conteúdos; e a segunda geração,
chamada de web 2.0, marcada pela oferta de serviços online, que potencializam as
publicações, o compartilhamento e a organização das informações, além de criar novos
espaços de interação para os participantes da rede.
A título de ilustração, cabe registrar que, nesta segunda geração, estão os blogs
com comentários substituindo as home-pages mais estáticas e atomizadas; os álbuns
virtuais sendo preteridos aos flickr que, além de publicarem imagens, as organizam por
associações livres e permitem a sua busca no sistema; e, no lugar das enciclopédias
online e jornais online, surgem as enciclopédias escritas colaborativamente e os sites
de web jornalismo participativo. Também é importante citar as redes de relacionamento
como o Orkut ou Gazzag, definindo novos protocolos nas relações sociais e, ainda,
mais recentemente, o Twiter, um microblog integrado a uma rede social que permite
aos seus usuários enviarem e lerem atualizações pessoais de outros contatos. (PRIMO,
2007).
Entretanto, novas tecnologias sempre causaram apreensão no universo
educacional. Segundo Eco (1996), a própria invenção da escrita, um dispositivo
tecnológico, gerou temor, pois poderia enfraquecer a mente, os livros substituiriam o
pensamento, o conhecimento. No entanto, hoje, os livros são considerados pelos
educadores como estimuladores dos pensamentos e importantes aliados no processo
ensino-aprendizagem. Da mesma maneira, o uso de programas veiculados na TV
também se apresenta como alternativa pedagógica, desde que esteja implícito, no
processo de apropriação de suas linguagens como fonte de conhecimento, a
perspectiva de reflexão crítica, o que, conseqüentemente, representa um desafio. Não é
uma tarefa fácil reconhecer a sutileza e a ambigüidade da linguagem televisiva e
aprender a olhá-la de forma a buscar os significados expostos e ocultos das imagens.
Em texto apresentado pela Seed/PR (2009), aos professores da rede pública
estadual de educação básica, sobre o lugar das tecnologias de informação e
comunicação na escola, o acesso às chamadas tecnologias educacionais é entendido
64
como possibilidade de ampliação das transformações sociais desencadeando
mudanças na forma de se construir o conhecimento, não podendo ser desconsiderado
por todos aqueles que pensam o currículo escolar, especialmente quando se detêm na
consideração das práticas educacionais.
Frente a este cenário de desenvolvimento tecnológico e das mudanças
sociais dele oriundas, na educação se tem procurado construir novas
estratégias pedagógicas elaboradas sob a influência do uso dos novos
recursos tecnológicos, resultando em práticas que promovam o currículo
nos seus diversos campos dentro do sistema educacional. A extensão
do uso desses recursos tecnológicos na educação não deve se limitar
simplesmente ao treinamento de professores para o uso de mais uma
tecnologia, tornando-os meros repetidores de experiências que nada
acrescentam de significativo à Educação. O fundamental é levar os
agentes do currículo a se apropriarem criticamente dessas tecnologias,
de modo que descubram as possibilidades que elas oferecem no
incremento das práticas educacionais, além de ser uma prática
libertadora, pois contribui para a inclusão digital. (SEED/PR, 2009, p.44)
O uso das mídias, para a Seed/PR (2009), uma vez aliado a processos de
reflexão sobre a prática pedagógica, não pode ser compreendido apenas como
utilização de ferramentas e aparatos para “animar” e/ou ilustrar os conteúdos, mas sim,
como estratégias pedagógicas que oportunizam novas formas de ver, ler e escrever o
mundo. Dessa maneira, o uso das tecnologias de informação e comunicação pode
aprimorar as leitura de mundo e enriquecer o imaginário, tendo em vista que promovem
a aproximação entre os protagonistas da ação educacional com os artefatos culturais
que podem ser produzidos a partir de outras linguagens, com outros padrões estéticos,
oriundos da cultura popular e diferentes daqueles promovidos pela indústria cultural.
Na esfera de um currículo público, a inserção de novos recursos
tecnológicos é capaz de criar dentro do currículo as condições para que
frutifiquem valores educacionais tais como o do entendimento crítico, o
da solidariedade, o da cooperação, o da curiosidade, que leva ao saber,
e, por fim, os dos valores éticos de uma cidadania participativa se
contrapondo aos pensamentos e práticas totalizantes. A inserção de
novos recursos tecnológicos encurta as distâncias, promove novos
agenciamentos, aproxima dentro do mesmo currículo as esferas político-
administrativas das salas de aula; aproxima as salas de ala entre si,
dentro da escola e entre as escolas, numa atividade de interação
solidária com vistas tanto à apropriação do conhecimento quanto à
criação de novos saberes. (SEED/PR, 2009, p.44)
65
As tecnologias de informação e comunicação tornam-se, assim, impulsionadoras
e potencializadoras das práticas pedagógicas, promovendo o diálogo dos protagonistas
da ação educacional, alunos e professores, com o conhecimento, oportunizando a
reflexão acerca das produções humanas, e assim, neste exercício dialógico, por meio
das tecnologias, “permitir que os sujeitos se façam ao facultar estas relações.” (p.44)
De maneira complementar às discussões até agora apresentadas, sobre a
importância dos processos comunicacionais no estabelecimento das culturas locais, a
Seed/PR (2009), apresenta também uma reflexão permeada pelas inquietações
provocadas pela diversidade cultural.
O tema que estamos tratando tem correlação com aqueles outros da
igualdade e da diversidade. Tomadas pelos pontos de vistas inerentes a
um currículo público, em qualquer de suas esferas de manifestação, as
tecnologias devem ter o seu uso engajado tanto na eliminação, quanto
na produção das diferenças. É preciso que diminuam aquelas diferenças
oriundas da exclusão econômica, racial e étnica ou de gênero. Mas, do
ponto de vista dos usos das diferentes linguagens, da proliferação de
novas formas de arte, das manifestações mais genuínas das culturas
dos diversos povos, é necessário que as diferenças aumentem.
(SEED/PR, 2009, p.44)
Na mesma direção, Fischer (2007) propõe refletir sobre as novas tecnologias
considerando-as como transformações históricas nos modos de fazer a aprender. Neste
sentido, as práticas cotidianas, inclusive nas escolas, transformam-se, alterando as
relações com os saberes, com as trocas entre os sujeitos, nas formas de se inscrever o
social, nos registros de escrita, no jeito de falar e pensar o mundo e os sujeitos do
mundo. Para a autora, estas alterações apontam para o excesso e acúmulo de
informações; para a velocidade de acesso aos fatos, às imagens e aos dados; para
novos modos de viver a intimidade, a vida privada, em relação às práticas sociais e os
espaços públicos; para uma compreensão diferente sobre as práticas do mercado,
sempre ávidas por novidades; para a centralidade do corpo e da sexualidade na cultura
com superexposição de corpos infantis e juvenis; e, para uma miscigenação de
linguagens oriundas dos diferentes meios, criando as narrativas, sejam elas, ficcionais,
publicitárias, didáticas ou jornalísticas.
Com relação às complexas relações entre mídia e educação, a autora defende
“um movimento incessante do pensamento”, partindo da consciência crítica de que, ao
66
se escolher a expressão “novas tecnologias”, se está assumindo uma verdade que é
hegemônica,
(...) pela qual se privilegia o novo pelo novo, promovendo apagamentos
(como o citado anteriormente, sobre a techné, um saber-fazer
inseparável do objeto a que se refere, seja ele de que ordem for um
filme,um livro, uma cadeira, um prato de culinária, uma peça de
vestuário, uma mensagem enviada pelo Orkut, uma obra de Frida
Kahlo). Outro apagamento comum nessa discussão, de caráter
eminentemente conservador,é o que separa em mundos diferentes
homens e máquinas, arte e tecnologia como se isso fosse de algum
modo possível. Como se a linguagem, a aprendizagem da fala, da leitura
e da escrita, por exemplo, não fossem também elas tecnologias
absolutamente sofisticadas como nos alerta Arlindo Machado (1996),
no livro Máquina e imaginário. (FISCHER, 2007, p. 293)
Para problematizar as imagens audiovisuais e as narrativas midiáticas como
objetos de estudo no meio escolar, Fischer (2007) destaca alguns aspectos da
produção, veiculação e consumo, tais como “a velocidade, a supressão dos períodos
mais longos, a ausência de pausas, a dificuldade com os períodos mais longos
(confundidos com velhice, obsolescência, morosidade) e o correspondente fascínio
pelos superlativos.” (p.296) Para a autora, estes elementos estão presentes nos
discursos do cotidiano e as crianças se relacionam com eles desde o nascimento, de tal
forma que estes discursos fazem parte da suas vidas, e permeiam a construção das
suas subjetividades, transformando “seus modos de aprender e existir.” (p. 296)
Fischer (2007) defende a importância de se estudar as imagens, os processos de
produção, as formas de recepção, o uso das informações, das narrativas, das
interpelações dos programas televisivos, dos filmes, dos vídeos, dos jogos eletrônicos,
como práticas eminentemente pedagógicas, das quais o professor não pode se
ausentar. É indispensável, segundo a autora, que se reconheça o trabalho de
simbolização presente naquele que imagina, planeja, produz e veicula as diferentes
mídias, como também naquele que se apropria do que vê ou ouve.
(...) são essas mesmas tecnologias, essas mesmas “máquinas de
imagens” que nos fascinam, que interpelam com seus produtos as
crianças, jovens, adultos de todas as idades. Estudá-las, na
complexidade de todas as relações em jogo, de produção e criação, de
veiculação e consumo, de fruição e apropriação, significa pensar o
tempo presente, dizer a nós mesmos como nos tornamos o que
chegamos a ser hoje, sujeitos de determinadas verdades e de certos
67
modos de existência tecnológica” vividos como encantamento e
fascínio, e ao mesmo tempo como frustração e sensação de impotência.
(FISCHER, 2007, p. 297)
Para Delaunay (2008), os jovens nascem conhecendo as novas tecnologias,
como a televisão, vídeogames, computadores, internet, telefones celulares. Para eles,
essas tecnologias são instrumentos para se comunicar, informar, jogar ou realizar
trabalhos escolares. Por outro lado, para os educadores, essas “últimas novidades
tecnológicas” se apresentam no seu cotidiano e o desafio é aproveitá-las com o objetivo
de estabelecer novas estratégias de aprendizagem.
Mas, se esses instrumentos lhes são assim familiares, isso não significa
que esses jovens compreendam sua complexidade, nem que os utilizam
adequadamente ou aproveitando todas as suas possibilidades. Além
disso, as crianças não são iguais nem têm o mesmo acesso a esses
diversos meios e aos serviços que eles podem oferecer. Na França,
como em toda a Europa, e mais ainda nas diferentes partes do mundo,
existem grandes disparidades tanto de equipamentos como de consumo
e acesso aos meios, e é justamente por isso que a escola continua
sendo um lugar privilegiado - ainda que imperfeito - para atenuar as
desigualdades e para desenvolver não apenas uma prática instrumental,
mas, sobretudo, um uso racional e uma cultura crítica dos meios e das
redes que constituem o contexto do século XXI. (DELAUNAY, 2008,
p.278).
A identificação de um potencial positivo nos processos comunicacionais advindos
de meios tecnológicos foi apresentada por Fernando Meirelles, responsável pelo projeto
Castelo Tim Bum, no ciclo de debates “Rede imaginária:Televisão e Democracia”,
organizado por Adauto Novaes, onde destacou a importância da televisão para a
educação, particularmente para a formação de professores:
É preciso deixar de lado esta bobagem de encarar a televisão como um
eletrodoméstico nocivo. Ela é hoje no Brasil uma ferramenta
insubstituível se quisermos recuperar o atraso educacional no qual
vivemos. Para termos cidadãos mais preparados, precisamos antes ter
os professores, e para formarmos uma geração de professores
capacitados e em número suficiente para dar um bom ensino básico a
toda uma geração de brasileiros, caso haja interesse, levará no mínimo
20 anos. A televisão, com sua incrível penetração, poderia catalisar este
processo, principalmente no que diz respeito a atualização, reciclagem e
aprimoramento dos professores (...) (MEIRELLES, In: NOVAES, 1991 p.
267).
68
O autor, na ocasião, apresentou uma previsão pessimista de uma demora de no
mínimo 20 anos para mudar o quadro de formação de professores e atingir um número
suficiente de professores para o atendimento da necessidade educacional brasileira.
Hoje, quase 20 anos depois, esta defasagem permanece, haja vista a implantação da
Universidade Aberta do Brasil, pelo governo federal, em 2005, que prevê a utilização de
recursos tecnológicos como alternativa para ampliar o atendimento à formação de
professores que se encontram em serviço com carências na formação. Cabe também
destacar que, neste período, surgiram, na esfera pública, algumas iniciativas pontuais,
de incorporação da televisão como estratégia para formação docente, como a TV
Escola do Ministério da Educação, a TV Multirio da Prefeitura do Rio de Janeiro, a TV
Paulo Freire da Seed/PR e mais recentemente, em 2009, TV Anísio Teixeira, da
Secretaria de Educação da Bahia.
Segundo Orozco (2005), na América Latina existe uma forte percepção de que
os meios de comunicação não possuem legitimidade para ensinar, não possuem
intencionalidade educativa e não poderiam prestar tal serviço público aos receptores.
Este quadro resulta do fato de que os meios de comunicação, enquanto empresas,
priorizam o lucro e produzem “mercadorias” que visam apenas ganhos financeiros, e
como conseqüência, assumem a posição de isenção diante da responsabilidade de
educar, assumindo apenas a intenção de divertir o público. Reforçando esta situação, o
autor também identifica, nos professores, um entendimento dos meios de comunicação
como algo nocivo, que não pode ser confundido com o ato de educar. Como resultado,
construiu-se no imaginário social uma sensação de que os meios de comunicação,
vinculados ao mercado, o realizam nenhum tipo de educação. Entretanto, para o
autor, se instala um erro de análise contextual, considerando que esta dinâmica
promove um certo tipo de educação, porém está educação não se encontra
comprometida com ninguém.
Chega-se então a pensar que os meios de comunicação não têm nada
que ver com educação. Essa é uma idéia generalizada. Todavia, me
parece muito importante se mudar essa idéia social de que os MC
somente servem para divertir e informar. Porque, justamente, divertindo
e informando estão produzindo aprendizagens em todos os setores, mas
isso não se entende porque há uma definição muito estreita, muito
reducionista da educação: Educação é aquilo que é instrução, tudo
69
aquilo que eu quero ensinar, que a sociedade diz que devo ensinar às
crianças, isso é educação. Então, educação é aquilo que faz a escola.
Nenhuma outra instituição pode educar. Educação é aquilo que se faz
seriamente, com muito esforço. Aquilo que é divertido não é educação.
(OROZCO, 2005, p. 19)
Ao se referir às múltiplas mediações presentes na sociedade moderna, Orozco
(2005), destaca as transformações dos processos perceptivos, especialmente nas
crianças que hoje “são capazes de receber mais informações por minuto e de processar
mais informações, de receber informações através de imagens, sons e textos diversos.
O que está acontecendo é um fenômeno onde a lógica tradicional da linguagem escrita
está se modificando por outra; sobretudo do hipertexto, do digital.” (p.23). Esta lógica,
decorrente do crescimento de diferentes meios e tecnologias, além de provocar um
desencontro com o que é exigido pela escola, pautada apenas pela linguagem escrita,
ainda provoca modificações na capacidade de percepção das novas gerações.
Também se está modificando nossa capacidade de construir
conhecimento através de diferentes linguagens, não somente a
linguagem oral e escrita, mas também a linguagem visual e digital, e as
crianças são um exemplo disso. Creio que uma capacidade de
constituir entendimento a partir de diferentes linguagens. O problema é
que não existe uma pedagogia que nos permita alcançar este efeito e
por isso nos causa um mal estar, pois não sabemos como agarrá-lo,
como ensiná-lo. (OROZCO, 2005, p.23)
Para Braga (2009), em entrevista que concedeu para a Revista do Instituto
Humanitas Unisinos, IHU On-Line, existe um tensionamento nas interfaces entre
educação e comunicação. Ao se deparar com o fato de que a aprendizagem ultrapassa
o âmbito da escola e se insere num contexto não controlado, como o campo da mídia,
onde “para o bem ou para o mal” é possível se aprender de tudo, se desfaz a relação
de hierarquia e de autoridade, implícitos nesta esfera formal de apropriação do
conhecimento, e o controle da aprendizagem passa a se dar apenas a partir da crítica.
A produção de TV Educativa mostra o quão delicada é essa relação
entre comunicação e educação. Não se trata apenas de problemas
práticos, mas de visões completamente diferentes e de como superar
isso. O trabalho educacional é o de enfrentar diretamente a delicadeza
dessas questões. Devemos trabalhar o tensionamento, ao invés de
tentar “resol-lo”, no sentido de colocá-lo para debaixo do tapete. A
dificuldade de trabalhar em harmonia acontece porque os objetivos, os
processos e as lógicas da educação e da comunicação são diferentes.
70
Trata-se de construir algo novo, para trabalhar uma aprendizagem que
não será totalmente controlada pela escola. Estamos na área da
invenção social, onde aprendizagem e socialização estão integradas.
(BRAGA, 2009, p.1)
Fort (2005) alerta para a importância de se buscar, nas análises relacionadas à
televisão educativa, a qualidade de audiência, uma vez que se espera desta audiência
um posicionamento crítico e reflexivo. Para pensar a qualidade na televisão educativa,
a autora encontrou nos estudos realizados na América Latina, por Martín-Barbero,
Orozco e Fuenzalida, algumas reflexões.
A televisão que propõe transmitir cultura busca uma identidade
institucional com base em proposta peculiar de programação com
referência visual expressiva, articulação de gêneros e configuração de
abordagens temáticas. Para Martín-Barbero, a televisão será cultural
quando for um cenário social de produção e apropriação de significados,
de construção de imaginários, memórias e identidades sociais, na qual o
educativo seja dimensão fundamental. (FORT, 2005, p.87).
A autora observa, ainda, que o crescimento do número de aparelhos receptores
nos lares brasileiros, a partir da década de 80, não representa necessariamente uma
apropriação educativa dos mesmos, uma vez que esse crescimento trouxe, como
conseqüência, o aumento de serviços de entretenimento e publicidade, sem que os
envolvidos com a produção e a transmissão desse meio aproveitassem as
“possibilidades oferecidas por tais recursos tecnológicos às áreas profissionais e para
fins de ensino, treinamento, atualização e divulgação de informação técnica e
científica.” (p.91)
Com base nos estudos de Orozco, Fort (2005) apresenta o potencial educativo
da televisão como uma perspectiva revolucionária. Argumenta que, por este meio estar
organizado a partir do digo visual de caráter universal, apresenta de forma
concomitante o significante e o significado da mensagem, facilitando seu entendimento
e tornando a recepção um processo mais agradável.
Além disso, para Orozco, o fator audiovisual se diferencia do texto
escrito porque, automática e diretamente, a televisão se conecta aos
sentidos dos interlocutores (visão e audição), assim como,
freqüentemente, cativa espectadores despreocupados ou audiências
fundamentalmente sensoriais e emocionais. Interatuar como uma fonte
educativa que interpela aos sujeitos-audiência essencialmente através
dos sentidos e das emoções é uma transformação paradigmática
71
importante nas teorias e entendimentos educativos e, particularmente,
nas concepções e compreensões da aprendizagem contemporânea.
(FORT, 2005 p. 92).
Outro enfoque importante é apresentado por Fort (2005) a partir das reflexões de
Valério Fuenzalida, ao destacar a necessidade de se ensinar gêneros televisivos para
que os receptores possam fazer uma leitura plena, uma interpretação do que se passa
dentro da televisão. “Tem de se entender o gênero (televisivo) com suas regras de
produção, seus limites, seus estereótipos, entre outros”. (p. 93).
Fort (2005) defende a utilização desse veículo de comunicação com o objetivo
de proporcionar uma aprendizagem consciente por meio de estratégias e recursos
incorporados à própria programação existente. Enfoca a importância das instituições
educativas e culturais realizarem uma desconstrução da televisão a partir dos “sujeitos-
audiência” (expressão cunhada por Orozco) e, neste processo, considerar a
contribuição que eles m a dar no sentido de fazerem escolhas mais seletivas,
explorando os programas e reconhecendo-se neles, dominando a linguagem televisiva
a ponto de perceber suas manipulações, estereótipos e exclusões. Pautada por Orozco,
a autora destaca que a convergência pedagógica entre a televisão e a educação pode
se fortalecer e ampliar, com a televisão oferecendo mais conteúdos para suas
audiências e a educação aprendendo mais com a televisão.
Orozco (2001) afirma que levar a televisão a sério não implica fazê-la
dentro de um formato sério. Isto significa que além de ver, escutar e
desfrutar é preciso “falar televisãoe usá-la inteligentemente focalizando
a necessidade dos sujeitos-audiência. A análise da programação deve
ser acompanhada por estratégias pedagógicas e materiais didáticos que
permitam a desconstrução do processo comunicativo (...) (FORT, 2005,
p.101).
Para Orozco (2005), é necessário que se faça “alfabetização aos meios de
comunicação”, numa perspectiva de se criarem situações de aprendizagem para tornar
evidente, aos receptores, aquilo que não está evidente.
A partir do entendimento da seqüência dos movimentos de câmera, das
ênfases em uma tomada - de baixo para cima, de cima para baixo -, da
compreensão da linguagem da representação, pode-se perceber como é
possível manipular com esse meio. É isso que entendo por
alfabetização, a alfabetização crítica ao meio, na qual os elementos
72
fundamentais são a linguagem e os códigos dos meios de comunicação.
(OROZCO, 2005, p.18)
Para Martín-Barbero (2000), a questão que se apresenta é “(...) se a escola está
formando o cidadão que não sabe ler livros, mas também noticiários de televisão e
hipertextos informáticos.” (p.57). Se a escola é capaz de ensinar a ler livros como ponto
de partida, que também se volte para outra alfabetização, a alfabetização da informática
e das multimídias. Que consiga fazer uso criativo e crítico dos meios audiovisuais e das
tecnologias informáticas.
O cidadão de hoje pede ao sistema educativo que o capacite a ter
acesso à multiplicidade de escritas, linguagens e discursos nos quais se
produzem as decisões que o afetam,seja no campo de trabalho como no
âmbito familiar, político e econômico. Isso significa que o cidadão
deveria poder distinguir entre um telejornal independente e confiável e
um outro que seja mero porta-voz de um partido ou de um grupo
econômico, entre uma telenovela que esteja ligada ao seu país,
inovando na linguagem e nos temas e uma telenovela repetitiva e
simplória.Para tanto, necessitamos de uma escola na qual aprender a ler
signifique aprender a distinguir,a tomar evidente, a ponderar e escolher
onde e como se fortalecem os preconceitos ou se renovam as
concepções que temos sobre política,família, cultura e sexualidade.
(MARTÍN-BARBERO, 2000, p. 58)
Entretanto, para o autor, a escola precisa transformar a sua práxis de
comunicação, passando de um modelo linear e unidirecional, organizado por graus,
idades e grupos de conhecimento, para um modelo descentralizado e plural que
promova uma escrita não seqüencial, que estabeleça conexões em rede, que
transforme a escrita por meio de uma multiplicidade de percursos.
Nesta pesquisa, a concepção de educação que norteará a análise do objeto,
televisão digital interativa, será apresentada no processo de tratamento de dados no
capítulo 4, quando se fará uma análise de conteúdos do documento sobre a Educação
a Distância da Seed, a fim de identificar o contexto educacional do campus da
pesquisa. Por ora, cabe aprofundar a discussão acerca da interatividade, outro
conceito importante neste panorama que a presente pesquisa procura construir.
73
3.3 TELEVISÃO E INTERATIVIDADE
De acordo com Silva (2000), a discussão sobre interatividade, que teve início na
década de 70, no campo da informática, ampliou-se com o surgimento do computador
conversacional na década de 80, especialmente porque esta tecnologia representava
um novo paradigma comunicacional, na medida em que os computadores de difícil
linguagem alfanumérica foram substituídos pelos “atuais, onde se „clica‟ com um mouse
e abrem-se „janelas‟ ltiplas, veis, „em cascatana tela do monitor, permitindo ao
usuário adentramento e manipulação fáceis” (SILVA, 2000, p.14). Partindo deste
contexto, o autor propõe o estudo sobre a interatividade numa perspectiva de transição
que teve início no final do século XX, em que a modalidade comunicacional massiva
lugar à modalidade interativa. Alerta para a necessidade de se considerar a
complexidade conjuntural que faz emergir essa nova modalidade comunicacional para
não simplificá-la, não reduzi-la às contingências ou promover sobre ela um único
entendimento.
A comunicação engendrada pelos meios de massa rádio, cinema,
imprensa e televisão sedimentou uma pragmática e uma teoria
assentadas no mesmo paradigma da transmissão que separa emissão e
recepção. Ocorre que a “lógica da distribuição”, própria da fábrica, da
mídia e da escola, que predominou desde Gutenberg, passando pela
Revolução Industrial, pelo ideal de “escola para todos” até chegar aos
meios de comunicação de massa, perde terreno com a emergência da
“lógica da comunicação”. Esta apresenta-se como modo dialógico que
se introduz em todos os níveis da produção e da socialização dos
signos. Nesse ambiente, a interatividade não se reduz ao modismo, ao
marketing e à dominação da técnica. (SILVA, 2000, p.9).
O surgimento da interatividade, para Silva (2000), está diretamente vinculado a
fatores contextuais como o surgimento das tecnologias informáticas conversacionais, a
fatores de ordem tecnológica como a necessidade de se ampliar o diálogo entre
consumidor, produto e produtor, e a fatores de ordem mercadológica. Entretanto, na
esfera social, algumas transformações também estavam em curso, com o
enfraquecimento dos grandes referentes sociais como igreja, política, família, escola,
mídia de massa e suas verdades acabadas, não se admitindo mais a passividade do
74
receptor nas relações comunicacionais em prol da autonomia “num ambiente polifônico
e polissêmico”. Dessa maneira, sua proposta é pensar a interatividade num “contexto
complexo de múltiplas interferências, de múltiplas causalidades”. (SILVA, 2000, p.10)
Machado (1997), por outro lado, apresenta como questionamento inicial a
banalização do termo interatividade que, segundo o autor, tem sido empregado para as
situações mais “desencontradas e estapafúrdias”, o que inclui desde o movimento das
cadeiras em salas de cinema até a escolha, pelos espectadores, por telefone, do final
das novelas de televisão. Retomando a origem do uso deste termo, o autor retoma
Bertolt Brecht que, em 1932, ao se referir ao sistema radiofônico na Alemanha, falava
em interatividade como a “inserção democrática dos meios de comunicação numa
sociedade plural, com participação direta dos cidadãos”. (1997, p. 144) Ezensberger, na
década de 70, ao refletir sobre as possibilidades dos meios de comunicação deixarem
de funcionar de modo unidirecional, aponta a interatividade como um “sistema de trocas
e intercâmbio, de conversação” (1997, p.144) entre os envolvidos no processo de
comunicação, sugerindo uma troca permanente de papéis entre emissores e
receptores. Por outro lado, Raymond Williams apud Machado, também na década de
70, questiona a definição de tecnologias interativas como aquelas que oportunizavam
ao usuário apenas a escolha de uma alternativa a partir de algumas opções,
considerando que essas tecnologias seriam reativas. Para Williams, a interatividade
tinha como premissa a possibilidade de autonomia e criatividade na resposta e a
substituição do emissor e receptor por agentes intercomunicadores. (1997, p. 145).
A partir desse histórico, Machado (1997) destaca que não foi a informática quem
primeiro apresentou a discussão sobre a interatividade, uma vez que ela se fazia
presente, com importantes contribuições da área da comunicação. Por outro lado, o
diferencial introduzido pela informática diz respeito ao aporte técnico que ela deu à
questão.
As memórias de acesso aleatório dos computadores, bem como os
dispositivos de armazenamento não lineares possibilitam uma
recuperação interativa dos dados armazenados, ou seja, eles permitem
que o processo de leitura seja cumprido como um percurso, definido
pelo leitor-operador, ao longo de um universo textual onde todos os
elementos são dados de forma simultânea. Com os mais recentes
formatos de armazenamento das informações computacionais, o
75
receptor pode entrar no dispositivo textual a partir de qualquer ponto,
seguir para qualquer direção e retornar a qualquer “endereço”
percorrido. (MACHADO, 1997 p.146).
Esse desenvolvimento técnico do computador, de acordo com Silva (2000),
permitiu que a informação e a comunicação passassem a ser processadas como uma
teia que conecta um texto a muitos outros um hipertexto. A arquitetura do
computador, caracterizada como uma estrutura múltipla e combinatória, passa, então, a
permitir que seus usuários realizem associações não-lineares, interferências e
modificações. Destaca-se, também, que com a conexão em rede ampliaram-se as
possibilidades de navegação autônoma, permitindo o acesso a banco de dados, de
maneira não-seqüencial, por caminhos diferenciados e com múltiplas articulações.
Segundo Machado (1997), esse aporte técnico possibilitou o surgimento, no
campo comunicacional, de uma nova dinâmica interacional, na medida em que o texto,
identificado como “verbo-audiovisual” (1997, p. 146), torna-se um campo de
possibilidades, onde o sujeito enunciador apresenta o programa e o sujeito atualizador
realiza algumas possibilidades deste programa. Os papéis se modificam e o leitor do
texto passa então a desempenhar a ação de co-criador da obra, contribuindo de forma
significativa para sua realização. Este processo retoma a tradição oral, em que narrativa
passava de boca a boca, com interferências na sua criação.
O que se apresenta, ainda para o mesmo autor, é uma mudança de concepção
do próprio texto, pensado inicialmente de forma linear, passando pelos textos presentes
no cinema clássico, “como sucessão retilínea de caracteres ou de elementos
audiovisuais, apoiados num suporte plano” (MACHADO, 1997, p. 147), que se altera a
partir da arquitetura não linear das memórias do computador e de uma estrutura
dinâmica que viabiliza obras tridimensionais, definidas como hipermidiáticas.
Hipermídia é, portanto, uma forma combinatória, permutacional e
interativa de multimídia, em que textos, sons e imagens (estáticas e em
movimento) estão ligadas entre si por elos probabilísticos e veis que
podem ser configurados pelos receptores de diferentes maneiras, de
modo a compor obras instáveis em quantidades infinitas. Na sua forma
mais avançada e limítrofe, a hirpermída seria algo assim como um texto
verbo-audiovisual escrito no eixo do paradigma, ou seja, um texto que
traz dentro de si várias outras possibilidades de leitura e diante do qual
se pode escolher dentre as várias alternativas de atualização. Na
76
verdade, não se trata mais de um texto, mas de uma imensa
superposição de textos, que se pode ler na direção do paradigma, como
alternativas virtuais da mesma escritura, ou na direção do sintagma,
como textos que correm paralelamente ou tangenciam em determinados
pontos, permitindo optar entre prosseguir na mesma linha ou enveredar
por um caminho novo. (MACHADO, 1997, p.147).
Essa compreensão da hipermídia pode oferecer uma representação importante
das funções mentais superiores, notadamente a consciência e a imaginação que, para
Machado (1997) operam por meio de “processos de associação contínua e
reestruturação de imagens e conceitos selecionados pela memória”. (1997, p.147) Tal
representação é considerada, pelo autor, mais adequada que os códigos seqüenciais
de textos lineares que operam de forma restritiva ao pensamento. Para melhor entender
esta construção, Machado recorre ao pensamento complexo de Morin:
O pensamento complexo trabalha com um número extremamente
elevado de interações e as interferências que se dão entre as unidades
do sistema considerado são também as incertezas, as ambigüidades, as
indeterminações, as interferências de fatores aleatórios e o papel de
modelador do acaso. A complexidade é um tecido (complexus: aquilo
que é tecido em conjunto) cujos constituintes heterogêneos e
contraditórios encontram-se inseparavelmente associados (Morin, 1991,
p.17-8). A hipermídia permite justamente exprimir tais situações
complexas, polissêmicas e paradoxais que uma escritura seqüencial e
linear, plena de módulos de ordem, jamais poderia representar. Um
documento hipermidiático não exprime jamais um conceito, no sentido
de uma verdade dada através de uma linha de raciocínio; ele se abre
para a experiência plena do pensamento e da imaginação, como um
processo vivo que se modifica sem cessar, que se adapta em função do
contexto, que enfim joga com os dados disponíveis. Através das
bifurcações, de suas proposições múltiplas e ambíguas, das ligações
móveis e provisórias entre suas partes, a hipermídia permite representar
o pensamento não assentado dos espíritos que contendem entre si,
como confirmar a máxima de Mikhail Bakhtin de que a verdade tem
sempre uma expressão polifônica. (MACHADO, 1997, p. 147).
Também dentro desta mesma perspectiva teórica, Silva (2000) propõe uma
compatibilização entre a epistemologia da complexidade de Morin e a modalidade
comunicacional interativa, presente nas tecnologias hipertextuais, considerando ser
esta referência conceitual de grande importância para fundamentar a interatividade.
Como ponto de partida, destaca dois princípios da epistemologia de Morin, que podem
contribuir para o entendimento da interatividade. O primeiro princípio diz respeito à
77
ausência de fundamentos e à destruição de certezas, o que leva o sujeito a buscar
interações “em tudo o que o pensamento simplificador, sustentado por imperativos
categóricos, costuma separar, dissociar” (SILVA, 2000, p.19) e, dessa maneira, a
complexidade sugere uma razão aberta que se fortalece na insegurança e instabilidade
da ausência de fundamentos. Por analogia, Silva (2000) destaca o novo espectador
11
que diante da ausência dos grandes referentes se depara com uma realidade polifônica
e polissêmica e, portanto, se encontra aberto para novas interações, para o mais
comunicacional.
(...) a emergência da interatividade na esfera social, entendida como
disposição inusitada a um mais comunicacional, tem neste princípio o
grande e último cenário situado ao fundo do palco em que se dá a trama
de interações humanas e, ao mesmo tempo em que ele sentido à
cena, ele convida à trama, ao mais comunicacional. (SILVA, 2000, p.19).
O conceito de pensamento complexo, particularmente a dialógica de suas
interações, a multiplicidade e recursividade
12
, são destacadas por Silva (2000), como o
segundo princípio da epistemologia de Morin que contribui para a análise e
posicionamento crítico sobre as interações e a interatividade. Dessa maneira, a
comunicação interativa tem, no pensamento complexo, na perspectiva da
multiplicidade, um reforço para a busca de novas interações e para a liberdade
comunicacional e, ainda, na recursividade, a possibilidade de uma reconfiguração do
social, como novos espectadores que buscam novas disposições comunicacionais.
As novas tecnologias, para Silva (2000), rompem com a linearidade e com a
separação emissor-receptor, permitindo maior participação, intervenção, junção do
emissor-receptor, por meio da bidirecionalidade e multiplicidade de conexões.
O usuário vem aproximando-se gradativamente desta experiência desde
o controle remoto, quando aprendeu a construir sua própria
programação em meio à diversidade de emissões; e desde o vídeo
game, quando aprendeu a manipular imagens na tela da televisão. À
medida que faz uso das tecnologias hipertextuais, ele tende a tornar-se
menos passivo diante da separação da produção e consumo, da
separação da distribuição e comunicação. Ele aprende que dele mesmo
11
Com esta expressão Silva (2000) se refere ao usuário dos media que transita da condição de receptor
para a interatividade ou, ainda, o usuário que convive com os media de massa e com as novas
tecnologias de comunicação ao mesmo tempo.
12
Segundo Primo (2007) a recursividade acontece quando um novo intercâmbio atualiza a interação
exercendo novos condicionamentos nos atos futuros.
78
depende o gesto instaurador que cria e alimenta a experiência
comunicacional entendida como diálogo com e na multiplicidade. Ele
aprende a não aceitar passivamente o que é transmitido. Diante da
informação, da mensagem, ele pode interferir, modificar, produzir e
compartilhar. (SILVA, 2000, p.15).
Para Machado (2007), depois da hegemonia da televisão, ao final da cada
de 80, com o surgimento de novos recursos tecnológicos, como por exemplo,
hipermídia, realidade virtual, videogames, ambientes colaborativos em rede, entre
outros, a questão da subjetividade volta a se apresentar e nos remete novamente à
reflexão sobre o processo de enunciação do discurso, sobre o princípio da narrativa em
ambiente digitais. O autor afirma que, de uma forma geral, o que diferencia os meios
digitais é a interatividade, que ele chama de “agenciamento do espectador”
(MACHADO, 2007, p.143), ou seja, são as decisões, ações e iniciativas do usuário do
computador que vão definir o que acontecerá na tela.
Se for verdade, portanto, que, nas situações simuladas por computador,
os ambientes e seres virtuais que aparecem na tela podem ser
alterados, introduzidos, dispostos e destruídos por essa
megapersonagem que é o usuário, a “narrativa” (ou seja lá o que for que
ocorra nesses espaços e tempos virtuais) já não pode se definida antes.
Ela deve pelo contrário, aparecer como um campo de possibilidades
governado por um programa, ela deve existir como um repertório de
situações manejado por uma espécie de máquina de simulação, capaz
de tomar decisões em termos narrativos, com base em uma avaliação
das ações exercidas por esse receptor ativo e imerso, que vamos a
partir de agora passar a chamar de interator, uma vez que expressões
como usuário, espectador, receptor não dão conta da nova situação
participativa. (MACHADO, 2007, p.143).
Dessa maneira, os sistemas capazes de responder às ações do usuário são
considerados interativos, ou seja, estão sob efeito desse agenciamento do espectador.
Como conseqüência, a forma aberta de jogo, onde é exigida a intervenção do usuário, é
a tendência das narrativas para computador, em contraponto às narrativas mais
conhecidas da literatura e do cinema, marcadas pela seqüência irreversível de
acontecimentos. Enquanto, por exemplo, no videogame, não é possível o transcurso
dos acontecimentos sem a intervenção do interator, nas narrativas chamadas por
Machado (2005, p.212) de “passivas”, os eventos seguem um curso predeterminado,
79
cabendo ao leitor ou espectador apenas ações no plano mental como interpretação,
projeção, identificação com as personagens, etc. Pode-se afirmar que, nos meios
digitais, o ambiente é explorado por meio da participação do interator que experimenta
“um evento como o seu agente, como aquele que age dentro do evento e como o
elemento em função do qual o próprio evento ocorre.” (2007, p. 211)
Machado (2007) aponta, também, a necessidade de se tratar de um conceito
fundamental para o entendimento do processo de subjetivação nos meios digitais, o
conceito de imersão. O termo está diretamente relacionado às pesquisas para o
desenvolvimento de projetos de realidade virtual e se refere ao modo como o sujeito
entra ou mergulha dentro das imagens e sons virtuais. Entretanto, o autor propõe sua
utilização a partir de uma análise mais ampla, como conceito também presente no
processo de imersão no cinema.
Entrar dentro do filme, atravessar a fronteira entre o atual e o virtual,
passar para o lado de lá, escapar para dentro do universo de pura ficção
do cinema, esse talvez tenha sido o sonho maior de toda a aventura
cinematográfica, o sonho de um cinema permeável ao espectador, um
cinema capaz de transformar o espectador em protagonista e mergulhá-
lo inteiramente dentro da história. (MACHADO, 2007, p.164).
Como conseqüência desta aproximação com a linguagem cinematográfica, é
possível identificar dois tipos de imersão nos meios digitais: aquela que o interator,
enquanto dirige o personagem dentro da cena, acompanha a ação a partir de um ponto
de vista externo, ou como se estivesse dentro da cena, visualizando a ação do ponto de
vista interno, utilizando-se da técnica da câmera subjetiva.
(...) a técnica da câmera subjetiva, marginal na história do cinema,
converte-se agora em regra e princípio absoluto de uma nova
dramaturgia que faz do lugar do espectador a força centrípeta da
imagem... Ela é responsável principal pelo efeito de assujeitamento
necessário à imersão, ou seja, à impressão de experimentar a história
como alguém que faz parte dela, e não como um observador externo.
(MACHADO, 2007, p.223).
Uma abordagem complementar faz vy (1999), ao problematizar a questão da
interatividade. Parte do argumento de que embora o termo tenha uma relação direta
com a participação ativa do receptor de uma informação, não é neste fato que reside à
importância da sua análise, uma vez que não existe passividade na ação do receptor.
80
“Mesmo sentado na frente de uma televisão sem controle remoto, o destinatário
decodifica, interpreta, participa, mobiliza seu sistema nervoso...” (p.79) e o faz de uma
forma diferente de qualquer outro que esteja no mesmo momento fazendo a mesma
coisa. Desta maneira, a importância de problematizar a interatividade reside na
proposta de se avaliar do grau interativo de umadia ou de um dispositivo de
comunicação.
A possibilidade de reapropriação e de recombinação material da
mensagem por seu receptor é parâmetro fundamental para avaliar o
grau de interatividade de um produto. Encontramos esse parâmetro em
outras mídias: Podemos acrescentar nós e links e um hiperdocumento?
Podemos conectar este hirperdocumento a outros? No caso da
televisão, a digitalização poderia aumentar ainda mais as possibilidades
de reapropriação e personalização da mensagem e permitir, por
exemplo, uma descentralização da emissora do lado do receptor:
escolha da câmara que filma o evento, possibilidade de ampliar as
imagens, alternância personalizada entre as imagens e comentários,
seleção dos comentaristas etc. (LÉVY, 1999, p. 79).
Acerca desta análise sobre o grau de interatividade de um produto, Lévy (1999)
destaca alguns eixos, como as possibilidades de apropriação e personalização da
mensagem; a reciprocidade da comunicação; a virtualidade que se manifesta pelo
conjunto de respostas possíveis considerando o modelo digital e os dados de entrada; a
implicação da imagem que representa os participantes no resultado da mensagem,
como por exemplo, nos simuladores de vôo; e a telepresença que promove a ilusão de
interação sensório-motora com um modelo computacional. Desta maneira, os
dispositivos comunicacionais apontam para a necessidade de se estabelecer uma
“cartografia fina” dos meios de comunicação que contemple o caráter híbrido das
mídias, a virtualização da informação, o progresso das interfaces, o aumento das taxas
de transmissão a fim de responder as demandas políticas, culturais, estéticas,
econômicas, sociais, educacionais e epistemológicas da nossa sociedade.(p. 82)
Uma contribuição importante para a formulação do conceito de interatividade é
apresentada por Primo (2005), ao construir um referencial teórico para a abordagem da
interatividade, numa perspectiva de “interação mediada por computador”. O autor
analisa alguns enfoques existentes, particularmente aqueles decorrentes dos estudos
81
da comunicação e da informação, identificando aspectos relativos à ação recíproca e a
interdependência entre os interagentes.
O primeiro enfoque de análise apresentado por Primo (2005) tem como
referência o modelo transmissionista de Shannon e Weaver em que o “emissor é o
agente criativo que molda a mensagem que deverá afetar o outro pólo (em uma posição
hierarquicamente inferior): o receptor” (2005, p.3). Tal abordagem parte do
entendimento da interatividade como a polarização entre webdesigner e usuário, onde
se destaca a ação do webdesigner na configuração de sites, procurando melhorar a
navegabilidade do usuário. Nesse sentido, esta concepção reproduz o modelo
transmissionista herdado dos meios de massas, apenas com o diferencial de que o
emissor que transmite é substituído pelo webdesigner que disponibiliza. Também o
conceito de bidirecionalidade, característica fundamental da interatividade neste
modelo, é questionado, uma vez que a noção de bidirecionalidade está relacionada à
estrutura de hardware, com foco no tempo e quantidade de reação, e pouca
importância ao conteúdo trocado entre os interagentes. E, ainda, este modelo
contempla a possibilidade de retroalimentação, estratégia herdada do modelo
transmissionista e de cunho tecnicista.
Na continuidade de sua análise, Primo (2005) discute o enfoque informacional da
interatividade, cuja base se encontra na teoria da informação que valoriza as
possibilidades de escolhas decorrentes das possíveis alternativas apresentadas ou
programadas. Neste caso, o autor ressalta que os estudos sobre a freqüência de uma
reação, amplitude das escolhas e o impacto que elas têm, proposto por Brenda Laurel
(PRIMO, 2005, p.5), são considerados insuficientes para explicar e entender a
produção compartilhada ou mesmo o diálogo como possibilidade da rede.
No enfoque tecnicista, a abordagem teórica esta vinculada à especificidade do
meio, neste caso o computador, o que torna a discussão mais técnica, pautada nas
características da máquina, das redes e dos programas. Primo (2005) ressalta que o
que se evidencia neste enfoque sobre a interatividade é a capacidade do canal (do
meio), e não “um processo desenvolvido entre os interagentes”. ( p.8)
82
Como enfoque decorrente do uso crescente e banalizado do termo
interatividade, Primo (2005) apresenta, sustentado nos estudos de Sfez, a perspectiva
interativa relacionada a “uma ilusão de expressão” (PRIMO, 2005, p.9) criando uma
falsa sensação, ao usuário, de se ver incluído na cena, como um espetáculo que serve
aos interesses econômicos. Dessa maneira, a abordagem da interatividade passa pelo
enfoque classificado de mercadológico. A interatividade se apresenta como uma
estratégia de venda de produtos em que o usuário tem a falsa sensação de estar
realizando escolhas.
Para finalizar o mapeamento dos diversos enfoques sobre interatividade,
destaca-se o enfoque antropomórfico que diz respeito à existência de um possível
diálogo entre o usuário e o computador. Parte-se da premissa de que a máquina
estabelece uma relação inteligente com o usuário. Primo (2005) alerta que, num
contexto de imprecisão conceitual, expressões como inteligência e diálogo passam a
ser utilizadas de forma indiferenciada para explicar e compreender o funcionamento
humano e das máquinas. “Se tudo é visto como dialógico e inteligente, o que resulta é
uma generalização achatadora que se aproxima das opiniões populares ou dos
discursos da indústria da informática, prejudicando uma análise teórica mais
aprofundada, que procura distinguir intensidades diferenciadas”. (PRIMO, 2005, p.10)
Ao realizar uma leitura panorâmica da discussão sobre a interatividade, o autor
revela seu objetivo de traçar um caminho para propor outra abordagem, uma nova
proposta de estudo.
Apesar disso, como se viu, alguns modelos e teorias utilizados para o
estudo da comunicação de massa são transpostos para a discussão da
dita “interatividade” (conceito este que este autor prefere evitar, diante
de seu uso elástico e impreciso). Diante das dificuldades que daí
emergem, e reconhecendo que o estudo das interações mediadas por
computador demandam um certo olhar que as teorias da comunicação
de massa (“um-todos”) não dão conta, este trabalho vai buscar
justamente na comunicação interpessoal (interações de tipo um-um” e
“todos-todos”) sua fundamentação. Este trabalho, porém, não se deterá
nas características particulares do interagente, nem na especificação
técnica dos sistemas informáticos. Importa investigar o que se passa
entre os sujeitos, entre o interagente humano e o computador, entre
duas ou mais máquinas. Para tanto, este estudo abordará o problema a
partir de uma pespectiva sistêmico-relacional, que enfatiza o aspecto
83
relacional da interação e busca valorizar a complexidade do sistema
interativo. (PRIMO, 2005, p.10-11).
Dessa maneira, considerando o que se passa entre os sujeitos, Primo (2000)
propõe dois tipos de interação mediada por computador: a interação mútua e a
interação reativa. Na interação mútua, o ponto de partida são problematizações cujas
soluções, momentâneas, resultam de constantes negociações entre os interagentes. As
relações entre os interagentes provocam modificações recíprocas que se definem no
processo. Dessa forma, o que caracteriza a interação mútua “é um constante vir a ser,
que se atualiza através das ações de um interagente em relação à(s) do(s) outro(s). Ou
seja, a interação não é mera somatória de ações individuais.” (PRIMO, 2005, p.13) a
interação reativa está pautada na automatização das trocas. As condições iniciais
determinam as possíveis reações do sistema interativo. Tem como característica “uma
forte roteirização e programação fechada que prende a relação em estreitos corredores,
onde as portas sempre levam a caminhos já determinados à priori.” (PRIMO, 2000, p.6)
Cabe, aqui, destacar, nos estudos realizados por Primo (2000), a diferenciação
entre interação mútua e reativa a partir de algumas dimensões presentes nos sistemas
interativos, sejam elas: o próprio sistema, o processo, a operação, o fluxo, troughput
13
,
a relação e a interface.
Considerando a dimensão do sistema, pode-se afirmar que a interação reativa
faz parte de um sistema fechado, enquanto a interação mútua é característica de um
sistema aberto. Como sistema aberto, suas partes são interdependentes e existem
permanentes trocas com o contexto no qual o sistema está inserido. A condição inicial
do sistema não interfere nos resultados alcançados que são decorrentes do
engajamento dos agentes do sistema. Nos sistemas fechados, reativos, as relações
entre agentes e reagentes são lineares e unilaterais, não existe troca com o contexto e,
portanto, o sistema não evolui e, ainda, para que se atinjam resultados, a situação
precisa ser inicialmente prevista.
13
Throughput, o que se passa entre a decodificação e a codificação, inputs e outputs (para usar termos
comuns no jargão tecnicista) (PRIMO, 2000, p.7)
84
Na dimensão relativa ao processo, a evolução dos acontecimentos em sistemas
de interação mútua acontece a partir da negociação entre os agentes e, portanto, não
pode ser prevista apriori. “Cada agente é uma multiplicidade em evolução. E como a
própria relação está em constante redefinição, nenhuma relação pode se reduzir a um
par perene e definido.” (PRIMO, 2000, p.8) Por outro lado, os sistemas interativos
reativos partem da relação estímulo-resposta e têm como premissa o entendimento
que, no processo de interação, um mesmo estímulo irá gerar sempre uma mesma
resposta.
Com relação à operação dessas interações, entendida como “a produção de um
trabalho ou a relação entre a ação e a transformação” (PRIMO, 2000, p.7), pode-se
afirmar que, na interação mútua, as ações são interdependentes, cada agente
influencia e é influenciado, assim como também se estabelece uma relação entre os
interagentes e o ambiente no qual o sistema está inserido. Em contrapartida, nos
sistemas reativos, o princípio é da ação e reação e se estabelece uma relação
hierárquica entre os agentes.
Quanto à dimensão relativa ao processo de codificação e decodificação da
mensagem, a interação mútua caracteriza-se pela interpretação da mensagem a partir
da confrontação “da mensagem recebida com a complexidade cognitiva do interagente”
(PRIMO, 2000, p.8), ou seja, a mensagem é decodificada considerando os elementos já
conhecidos pelo interagente. Este processo não acontece de maneira pré-estabelecida
ou mecânica. na interação reativa, o processo de codificação e decodificação
funciona a partir de estímulos, de forma reflexa ou automática, prevista por
programação. Embora a resposta possa parecer interpretativa, ela é pré-determinada,
devendo estar prevista no programa, caso contrário o sistema não reconhece a
interação.
Com relação ao fluxo, nos sistemas de interação mútua ele é dinâmico e está
sempre em desenvolvimento, enquanto nos sistemas reativos o movimento das
informações é linear e pré-estabelecido. Um interagente emite a mensagem que é
recebida pelo usuário reativo, e esta reação deve acontecer dentro dos limites previstos
no programa, “ao mesmo tempo em que parece que o usuário age criativamente na
85
escolha, ele apenas circula por perguntas que foram feitas antes de sua chegada na
interação, e obtém respostas que foram emitidas antes mesmo desse relacionamento
se estabelecer” (PRIMO, 2000, p.9).
De acordo com Primo (2000), do ponto de vista da relação, na interação mútua
ela é negociada e constantemente construída pelos interagentes, e se define no
processo. Dessa maneira, não se pode pré-determinar que uma ação terá como
conseqüência determinado efeito, sendo possível afirmar que a relação, na interação
mútua, tem como premissa o relativismo. Em contrapartida, na interação reativa a
relação é causal: na sucessão de dois eventos, um é causado pelo outro. Por se tratar
de sistema fechado, as relações são pré-determinadas e fundamentadas na premissa
da causalidade, tendo como suporte a lógica e o objetivismo.
Na dimensão da interface dos sistemas interativos, os reativos possuem interface
potencial e os sistemas mútuos interface virtual. Pode-se afirmar que, nas interações
mútuas, a relação é definida e redefinida constantemente, “cada interagente interpreta a
relação em que se engaja” (PRIMO, 2000, p.10), num processo virtualizante que tem,
como conseqüência, atualizações imprevisíveis. Na interface potencial, própria da
interação reativa, são programadas potencialidades a serem selecionadas pelo
reagente e qualquer escolha que fuja as alternativas pré-definidas é considerada erro
do usuário.
Como observação final na sua proposta de estudo sobre a interatividade, Primo
(2000) apresenta o aspecto dinâmico relacionado à tipologia apresentada,
considerando, principalmente, que em se tratando de interatividade existe uma
simultaneidade de relações que impossibilitam qualquer classificação mais rígida.
Necessita-se porém afirmar que um interagente não “cairá” em um ou
outro tipo de interação (mútua ou reativa). Em muitas ocasiões, esse
interagente transitará por sistemas que então se apresentam em modo
fechados, com interfaces potenciais, para, mais tarde, entrar em um
modo aberto e virtual. Por exemplo, um CD-ROM ou site que traga uma
série de informações pré-codificadas, de links fechados, pode em
determinada janela ou seção permitir a abertura de um chat onde o
interagente humano possa se encontrar e debater com outros que
tenham acabado de “navegar” pelo mesmo produto, estabelecendo,
então, uma interação mútua. (PRIMO, 2000, p.11-12).
86
Para Silva (2001), os processos comunicacionais nos cursos a distância ainda
permanecem centrados na lógica da distribuição, desprovidos de interatividade, seja via
TV, quando acontece a transmissão massiva de informações, ou via Internet, em que os
sites educacionais subutilizam a tecnologia digital e promovem apenas a transmissão
de dados sem criação coletiva. O que se vê, comumente, são escolas e cursos via web
que, embora se auto-intitulem interativos, utilizam-se das soluções tecnológicas apenas
para modernizar o conhecido modelo transmissionista de educação, fazendo uso de
sites estáticos, disponibilizando textos para leitura sem recursos para intervenção nos
conteúdos, para co-criação e para aprendizagem colaborativa.
Partindo de conceito complexo, para que haja interatividade, de acordo com
Silva (2001), é necessário que se possibilitem, no processo comunicacional, duas
disposições: a dialógica, que associa emissão e recepção como pólos antagônicos e
complementares na co-criação da comunicação; e a intervenção do usuário ou receptor
no conteúdo da mensagem ou do programa, abertos a manipulações modificações.
Kretz, segundo Silva (2001), propõe uma graduação para os processos
interativos, sendo de “grau zero” aquela cuja disposição é linear e seqüencial (um filme
ou um texto); “grau um” quando o usuário pode movimentar imagens na tela (um
videogame); “grau dois” quando ocorre a seleção do usuário dentro de um banco de
dados, permitindo certa navegabilidade (um DVD); “grau três” quando ocorre imersão
em ambiente virtuais, mas o usuário não pode modificar os conteúdos; e “grau quatro”
em que o usuário, além dos recursos anteriores, pode modificar o conteúdos da
mensagem (texto, imagem ou som). Este grau mais elevado estaria disponível na
arquitetura hipertextual, do computador, por exemplo, permitindo o exercício de
aspectos fundamentais da interatividade como a participação-intervenção
interferência na mensagem, bidirecionalidade-hibridação produção conjunta da
emissão e da recepção, e permutabilidade-potencialidade múltiplas redes de
conexões além de trocas, associações e significações potenciais.
Considerando que, no recorte desta pesquisa, elegeu-se o programa de
formação continuada de professores da rede pública de educação básica do Paraná, na
modalidade de educação a distância, como campo para análise das perspectivas de
87
uso da televisão digital interativa, cabe articular algumas discussões aqui apresentadas
acerca da interatividade com os processos comunicacionais que envolvem esta
modalidade educativa, particularmente as ferramentas interativas disponibilizadas em
ambientes virtuais de aprendizagem.
Para Prado (2002), a organização, o gerenciamento e as mais variadas formas
de interação, em cursos na modalidade a distância, têm como suporte as ferramentas
disponíveis em ambientes virtuais de ensino aprendizagem. Tais ferramentas podem
ser categorizadas em dois grupos: aquelas utilizadas para disponibilizar materiais
didáticos como textos de conteúdos, informativos, arquivos de leitura, etc.; e aquelas
destinadas a promover a interação entre os participantes como, Chat, Fórum de
Discussão, Correio Eletrônico, Portfólio. Prado (2002) propõe que se façam
interligações entre as diversas ferramentas de interação e que se estabeleça, também,
relação destas com aquelas que organizam e disponibilizam os materiais didáticos
sobre os conteúdos específicos. São as interligações entre as diversas ferramentas do
ambiente virtual, integradas aos saberes de alunos e professores, que constituirão a
“rede humana de aprendizagem.”
Numa abordagem complementar, Primo (2001), parte da classificação de
interação mútua ou reativa, para realizar a análise das “ferramentas disponíveis para a
mediação em ambientes de educação através do computador.” (p.8) O quadro a seguir
apresenta algumas características dessas ferramentas considerando sua análise.
Características
Permite uma discussão assíncrona entre, no mínimo, duas pessoas.
Através de e-mails, é possível o debate sobre os mais diversos
assuntos. Caracteriza-se por promover interações mútuas onde os
interagentes promovem transformações uns nos outros através de
mensagens textuais, e vão, aos poucos, qualificando a relação que
constróem entre si.
É um serviço que recebe e distribui mensagens de todos seus
“assinantes”. Esta é uma ferramenta que permite interações mútuas
entre diversas pessoas. As listas permitem discussões de “muitos
para muitos”. A grande maioria das listas de discussão tem por
objetivo uma temática específica e muitas são as comunidades
virtuais que se organizam a partir e em torno desse serviço
88
eletrônico. Os participantes dessas comunidades demonstram
responsabilidade pelo bom andamento das discussões e pela
manutenção da coesão do grupo.
Oferecem um ambiente para a livre discussão em tempo real, de
forma síncrona. A interface comum desse serviço permite ao
participante saber quem são as outras pessoas que estão
conectadas e interagindo naquele momento. Além de enviar
mensagens que serão mostradas na janela principal de todos
participantes, cada interagente pode se comunicar em canal
privativo com outra pessoa sem que o resto da “sala” visualize o
diálogo. O chat é uma das ferramentas mais poderosas para a
interação mútua, pois devido à velocidade de intercâmbio de
mensagens textuais oferece um palco para diálogos de alta
intensidade.
Incorpora as vantagens dos chats somando o recurso de emissão e
visualização de imagens em vídeo dos interlocutores. Se, em outras
ferramentas, mensagens faciais não-verbais não podiam ser
valorizadas, através do uso de pequenas webcams os interagentes
podem ver como se comporta fisicamente seu parceiro no diálogo, e
vice-versa.
Trata-se de um programa que pretende simular o uso de um painel
onde todos possam escrever e desenhar. Além de todos os
participantes verem o que os outros fazem, é possível também que
cada um deles interfira, acrescente ou mesmo apague o texto ou
ilustração do outro. Os programas de quadro branco se constituem
em uma poderosa ferramenta para a construção cooperativa de
documentos.
Serve de interface tanto para interações mútuas quanto reativas,
dependendo de seu uso e objetivo. São muito usados para que os
visitantes de um site deixem suas opiniões e sugestões sobre as
páginas visitadas. O serviço é normalmente usado para simples
registro linear de opiniões, mantendo-as em uma estrutura estática
que pouco motiva o intercâmbio de idéias. Por outro lado, pode
servir de ambiente para debate de certos temas propostos.
89
Por apresentarem textos e imagens em uma estrutura determinada
por uma linguagem de programação, são apresentados como
interfaces de interação reativa. Por outro lado, se o internauta
encontra a sua disposição, no site, ferramentas como chats ou
mesmo links para intercâmbio de e-mails, ele depara-se, então, com
uma interface para interações mútuas. Porém, esse tipo de relação
se estabelece se tais serviços forem, de fato, aproveitados em
seu potencial dialógico.
Apresentam características que limitam a interação. Trata-se de
sistemas fechados que carregam gravados no disco compacto todos
os arquivos necessários. Como vantagem, apresentam maior
velocidade na apresentação, que não dependem de download de
informações. Por outro lado, o “usuário” pode apenas manipular e
disparar aquelas funções programadas no CD. Além disso, sempre
que enviar o mesmo input, receberá o mesmo output, tendo em vista
que essa é a relação determinada no produto.
Quadro 1 Ferramentas interativas e suas características.
Fonte: Primo (2001, p. 127-149).
Para finalizar este capítulo que apresentou um panorama conceitual sobre a TV
Digital Interativa, alguns conceitos foram destacados compondo um resumo das
temáticas relevantes para o prosseguimento da pesquisa. Tais conceitos estão
organizados no quadro a seguir.
Área do
conhecimento
Conceito - Autor
Definição
Sociologia
Identidade
Cuche
“(...) entendida como uma construção social que se
expressa por meio de uma representação. A identidade
se constrói no interior dos contextos sociais,
determinando e orientando as escolhas e as
representações dos agentes envolvidos. Por se construir
nas relações sociais, a identidade incorpora a
complexidade presente nestas relações sociais e,
portanto, pode se caracterizar como multidimensional.”
(p.29)
Sociologia
Hibridação na
comunicação
Canclini
“O processo de hibridação, decorrente da expansão
urbana, rompe ou mescla sistemas culturais organizados,
gerando, entre outras consequências a
desterritorialização dos processos simbólicos, a
reestruturação da comunicação e o anonimato do
processo de produção. A mídia de massa passa, então, a
ser entendida como um importante elemento para a
superação da fragmentação e, com isso, as inovações
tecnológicas assumem um novo papel rompendo, dessa
forma, com os isolamentos locais.” (p.29)
90
Comunicação
Social
Espaços sociais
Martín-Barbero
“(...) definir os espaços sociais como lugares onde se
constroem a materialidade do social e a expressividade
cultural por meio do discurso, identificando este processo
de construção como mediações, ou seja, situações de
interação que se verificam em lugares caracterizados
como espaços sociais. São nesses lugares que se
negociam as identidades locais.” (p.30)
Comunicação
Social
Tecnologias
comunicacionais
(audiovisual)
Martín-Barbero
(...) a experiência audiovisual possibilita que as maiorias
possam se apropriar da modernidade sem abrir mão da
sua oralidade, expressando-as a partir de gêneros,
narrativas, linguagens e saberes próprios desta
experiência. Tal fato se daria pela cumplicidade existente
entre oralidade e visualidade. Existe na técnica
audiovisual uma possibilidade constitutiva que oferece
novas formas de perceber, ver, ouvir, ler e aprender
novas linguagens e a visualidade pode produzir um saber
a partir de um processo de ressignificação do ver.” (p.32)
Design
Cultura material
Ono
“A cultura material influencia a composição do universo
simbólico e o modo de viver e se relacionar das pessoas
na sociedade. Os artefatos que compõem a cultura
material são referenciais que contribuem para o
conhecimento dos povos e sociedades que os
desenvolvem.‟(p.47)” (p.33)
Comunicação
Social
Lógica das
técnicas
Wolton
“(...) o que gera, nos processos comunicacionais, um
duplo papel: um de cunho funcional que oscila entre
versões otimistas de transformação da sociedade e
versões pessimistas de controle social e político, e outro
de cunho normativo, pautado nas regras do mercado
econômico. A abordagem funcional tem por suporte uma
ideologia da técnica que apregoa o determinismo
tecnológico e a abordagem normativa é suportada por
uma ideologia do mercado que defende uma evolução
nas técnicas de comunicação, das mídias de massa,
generalistas, para as mídias temáticas individualizadas.”
(p.36)
Comunicação
Social
Papel das
mídias
Wolton
(...) é necessária uma reflexão crítica sobre o papel das
mídias nessa sociedade, a fim de estabelecer uma lógica
social e cultural de maneira predominante sobre a lógica
das técnicas.” (p. 37)
Comunicação
Social
Sistema de
mediações
Lopes
(...) considerando os diferentes graus de dependência
ou a interdependência entre os sistemas de comunicação,
além dos mecanismos de sedução e cumplicidade que
unem produtores e receptores.(p.44) Para a autora, esta
discussão permite constatar que este não se trata de um
sistema impositivo de mão única, numa relação de
dominantes e dominados, mas sim um sistema de
mediações.” (p. 37)
Comunicação
Social
Urbanidade e
tecnologias
(...) o espaço urbano como um espaço comunicacional
que estabelece a conexão entre os diversos territórios
91
educacionais
Martín-Barbero
das cidades e também destes com o mundo. Para o autor
a expansão e a fragmentação das cidades se refletem no
crescimento e no adensamento dos meios e das redes
eletrônicas. Os meios de comunicação permitem a
vivência do que ele chama de experiência/simulacro de
uma cidade que, de tão disseminada, não pode mais ser
percebida na sua globalidade.” (p.38)
Comunicação
Social
Inovações
comunicacionais
Martín-Barbero
“Os sistemas de comunicação e informação, por seu
desenvolvimento dinâmico, de maneira ágil, criam novas
estratégias nas relações sociais, promovendo
fragmentações nestas relações e redefinindo a velocidade
do fluxo de interações e desta maneira alteram
significativamente a dinâmica da vida moderna. Mas, de
quais alterações está se falando? Para Martín-Barbero
(1998), os ritmos do cotidiano, decorrentes das inovações
comunicacionais, têm promovido novas relações entre o
público e o privado, superpondo estes espaços e diluindo
suas fronteiras.” (p.38)
Comunicação
social
Televisão
Martín-Barbero
e Rey
(...) a televisão deve ter a necessária atenção dos
pesquisadores, a fim de revelar sua preciosa contribuição
no processo de construir imagens da diversidade cultural
das regiões, dos municípios, da sociedade civil‟.” (p.40)
Comunicação
e Educação
Televisão
Moran
“A mídia televisual, caracteriza-se por ser múltipla, tanto
em termos de produção, quanto de veiculação: imagens,
sons, informação, divertimento e publicidade. É capaz de
articular, sobrepor e combinar linguagens totalmente
diferentes, através de uma narrativa fluida, uma lógica
pouco delimitada, onde conteúdos e limites éticos são
pouco precisos, o que a caracteriza como um meio pleno
de ambigüidade, possibilitando interferências por parte
dos consumidores.” (p.40)
Comunicação
e Semiótica
Televisão
Santaella
(...) a televisão como veículo híbrido de comunicação, e
que se configura como um canal esvaziado de sentido se
não fosse pela mensagem que apresenta. Mensagem
esta permeada por diferentes linguagens e sistemas
sígnicos que possibilitam processos comunicacionais e
formas de cultura de acordo com o potencial e limites
deste veículo. Se, por um lado, como veículo
comunicacional é responsável pelo crescimento e
multiplicação de códigos e linguagens, por se caracterizar
como meio, não pode ser considerado responsável pelo
processo de mediação social, uma vez que esta
mediação é promovida pelos signos, pela linguagem e
pelo pensamento que veicula.” (p.40)
Comunicação
e Semiótica
Televisão
Machado
“(...) a televisão como uma variedade de produções
audiovisuais, diversas, desiguais e contraditórias. Desta
maneira, a análise do contexto, da estrutura externa e
tecnológica está diretamente relacionada às imagens e
sons que compõem a mensagem televisual. „(...) como
92
um dispositivo audiovisual através do qual uma civilização
pode exprimir a seus contemporâneos os seus próprios
anseios e dúvidas, as suas crenças e descrenças, as
suas inquietações, as suas descobertas e os vôos de sua
imaginação. (MACHADO, 2009 p.11).”(p.44)
Comunicação
e Semiótica
Gêneros de
programas
Machado
“(...) os gêneros televisivos são categorias por princípio
mutáveis e heterogêneas, são esferas de
acontecimentos, são modos de trabalhar a matéria
audiovisual. A heterogeneidade e mutabilidade dos
gêneros têm como base, não apenas suas diferenças,
mas também sua característica de replicar em cada
enunciado, muitos gêneros ao mesmo tempo.
Os eventos audiovisuais, constituídos eletronicamente de
imagem e som e transmitidos, também por via eletrônica,
caracterizam o meio televisivo. A singularidade destes
eventos, sejam eles, programas, capítulos de programas,
blocos de um capítulo, vinhetas, spots publicitários,
reportagens ao vivo, constituem aquilo que os
semioticistas chamam de enunciado. Esses enunciados
televisuais possuem uma variedade de apresentação
praticamente infinita.”(p.45)
Comunicação
e Semiótica
Interação
Machado
(...) o enfoque dos processos de interação se a partir
da dinâmica da produção audiovisual, dos significados
que a mesma é capaz de suscitar no público, buscando
nos enunciados dos discursos televisuais a fonte de
provocação e instigação do espectador para a interação
com os conteúdos das mídias, (...)” (p.60)
Comunicação
social
Interação
Martín-Barbero
(...) a interação se constitui como uma negociação de
sentidos que se estabelece na circulação dos discursos,
na forma como uma mensagem é recebida e interpretada
e depois comunicada aos outros.” (p.60)
Comunicação
social
Recepção
Martín-Barbero
“Recepção é um espaço de interação temos que
estudar não o que fazem os meios com as pessoas, mas
o que fazem as pessoas com elas mesmas, o que elas
fazem com o meio, sua leitura (p.55). No entanto, propõe
o estudo da recepção sem o idealismo de acreditar que o
leitor (receptor) pode tudo, mas sim que existem limites
claros para aquele que consome, limites estes oriundos
das escolhas que ele mesmo faz do que vai consumir.
Esta condição pode representar uma distorção ao
processo de recepção na medida em que foi construída
na nossa sociedade a falsa idéia de que o processo de
escolha está centrado no consumidor, como se fosse dele
a decisão do que ver, do que ler, do que escutar.”(p.60)
Comunicação
social
Interação social
e as tecnologias
de informação e
comunicação
Bolaño e Brittos
“É possível afirmar que as técnicas de informação e
comunicação, desenvolvidas para atender aos interesses
do capital, são o principal canal de interação social para
disseminar, fortalecer e retrabalhar as experiências
alternativas, populares e locais.” (p.61)
93
Comunicação
e Informação
Lógica
comunicacional
das novas
tecnologias
Primo
“(...) uma nova lógica comunicacional presente na rede de
computadores, que o autor apresenta em duas gerações:
a primeira geração marcada pela presença de sites
isolados, cuja ênfase era dada ao processo de publicação
de conteúdos; e a segunda geração, chamada de web
2.0, marcada pela oferta de serviços online, que
potencializam as publicações, o compartilhamento e a
organização das informações, além de criar novos
espaços de interação para os participantes da rede.”
(p.63)
Educação
Tecnologias de
informação e
comunicação na
educação
Seed
“(...) o acesso as chamadas tecnologias educacionais é
entendido como possibilidade de ampliação das
transformações sociais desencadeando mudanças na
forma de se construir o conhecimento, não podendo ser
desconsiderado por todos aqueles que pensam o
currículo escolar, especialmente quando se detêm na
consideração das práticas educacionais.” (p. 64)
“O uso das mídias, uma vez aliado a processos de
reflexão sobre a prática pedagógica, não pode ser
compreendido apenas como ferramentas e aparatos para
“animar” e/ou ilustrar os conteúdos, mas sim, como
estratégias pedagógicas que oportunizam novas formas
de ver, ler e escrever o mundo. Dessa maneira, o uso das
tecnologias de informação e comunicação pode aprimorar
as leitura de mundo e enriquecer o imaginário, tendo em
vista que promovem a aproximação entre os
protagonistas da ação educacional com os artefatos
culturais que podem ser produzidos a partir de outras
linguagens, com outros padrões estéticos, oriundos da
cultura popular e diferentes daqueles promovidos pela
indústria cultural.”(p. 64)
Educação
Novas
tecnologias na
educação
Fischer
“(...) as novas tecnologias como transformações históricas
nos modos de fazer a aprendizagem. Neste sentido as
práticas cotidianas, inclusive nas escolas, transformam-
se, alterando as relações com os saberes, com as trocas
entre os sujeitos, nas formas de se inscrever o social, nos
registros de escrita, no jeito de falar e pensar o mundo e
os sujeitos do mundo. Para a autora, estas alterações
apontam para o excesso e acúmulo de informações; para
a velocidade de acesso aos fatos, às imagens e aos
dados; para novos modos de viver a intimidade, a vida
privada, em relação às práticas sociais e os espaços
públicos; para uma compreensão diferente sobre as
práticas do mercado, sempre ávidas por novidades; para
a centralidade do corpo e da sexualidade na cultura com
superexposição de corpos infantis e juvenis; e, para uma
miscigenação de linguagens oriundas dos diferentes
meios, criando as narrativas, sejam elas, ficcionais,
publicitárias, didáticas ou jornalísticas.” (p.65)
94
Educação
Novas
tecnologias na
educação
Delaunay
“(...) os jovens nascem conhecendo as novas
tecnologias, como a televisão, vídeogames,
computadores, internet, telefones celulares. Para eles
estas tecnologias são instrumentos para se comunicar,
informar, jogar ou realizar trabalhos escolares. Por outro
lado, para os educadores, essas „últimas novidades
tecnológicas‟ se apresentam no seu cotidiano e o desafio
é aproveitá-las como o objetivo de estabelecer novas
estratégias de aprendizagem.” (p.67)
Comunicação
e Educação
Múltiplas
mediações e
educação
Orozco
“(...) destaca as transformações dos processos
perceptivos, especialmente nas crianças que hoje „são
capazes de receber mais informações por minuto e de
processar mais informações, de receber informações
através de imagens, sons e textos diversos. O que está
acontecendo é um fenômeno onde a lógica tradicional da
linguagem escrita está se modificando por outra;
sobretudo do hipertexto, do digital. (p. 23). Esta lógica,
decorrente do crescimento de diferentes meios e
tecnologias, além de provocar um desencontro com o que
é exigido pela escola, pautada apenas pela linguagem
escrita, ainda provoca modificações na capacidade de
percepção das novas gerações.”(p.69)
Comunicação
e Educação
Alfabetização
aos meios de
comunicação
Orozco e Martín
Barbero
“(...) numa perspectiva de se criarem situações de
aprendizagem para tornar evidente, aos receptores,
aquilo que não está evidente. (p.72)
Se a escola é capaz de ensinar a ler livros como ponto
de partida, que também se volte para outra alfabetização,
a alfabetização da informática e das multimídias. Que
consiga fazer uso criativo e crítico dos meios audiovisuais
e das tecnologias informáticas.”(p. 72)
Comunicação
e Semiótica
Hipermídia
Machado
“(...) o texto, identificado como „verbo-audiovisual‟ torna-
se um campo de possibilidades, onde o sujeito
enunciador apresenta o programa e o sujeito atualizador
realiza algumas possibilidades deste programa. Os
papéis se modificam e o leitor do texto passa então a
desempenhar a ação de co-criador da obra, contribuindo
de forma significativa para sua realização. Segundo
Machado, este processo retoma a tradição oral, em que
narrativa passava de boca a boca, com interferências na
sua criação.” (p.75)
“Na verdade, não se trata mais de um texto, mas de uma
imensa superposição de textos, que se pode ler na
direção do paradigma, como alternativas virtuais da
mesma escritura, ou na direção do sintagma, como textos
que correm paralelamente ou tangenciam em
determinados pontos, permitindo optar entre prosseguir
na mesma linha ou enveredar por um caminho novo.
(MACHADO, 1997, p.147). (p.76)
Sociologia e
Comunicação
“(...) à ausência de fundamentos e à destruição de
95
Educação
interativa
Silva
certezas, que leva o sujeito a buscar interações em tudo
o que o pensamento simplificador, sustentado por
imperativos categóricos, costuma separar, dissociar‟ e,
dessa maneira, a complexidade sugere uma razão aberta
que se fortalece na insegurança e instabilidade da
ausência de fundamentos. Por analogia, Silva destaca o
novo espectador que diante da ausência dos grandes
referentes se depara com uma realidade polifônica e
polissêmica (...) (p. 77)
“(...) a comunicação interativa tem, no pensamento
complexo, na perspectiva da multiplicidade, um reforço
para a busca de novas interações e para a liberdade
comunicacional e, ainda, na recursividade, a possibilidade
de uma reconfiguração do social, como novos
espectadores que buscam novas disposições
comunicacionais.” (p.78)
Sociologia e
Ciência da
Informação
Interatividade
vy
(...) a importância de problematizar a interatividade reside
na proposta de se avaliar do grau interativo de uma mídia
ou de um dispositivo de comunicação. (p.80)
“(...) as possibilidades de apropriação e personalização
da mensagem; a reciprocidade da comunicação; a
virtualidade que se manifesta pelo conjunto de respostas
possíveis considerando o modelo digital e os dados de
entrada; a implicação da imagem que representa os
participantes no resultado da mensagem, como por
exemplo, nos simuladores de vôo; e a telepresença que
promove a ilusão de interação sensório-motora com um
modelo computacional.” (p. 80)
Comunicação
e Informação
Interação mútua
Primo
“Na interação mútua, o ponto de partida são
problematizações cujas soluções, momentâneas,
resultam de constantes negociações entre os
interagentes. As relações entre os interagentes provocam
modificações recíprocas que se definem no processo.
Dessa forma, o que caracteriza a interação mútua é um
constante vir a ser, que se atualiza através das ações de
um interagente em relação à(s) do(s) outro(s). Ou seja, a
interação não é mera somatória de ações individuais.‟
(PRIMO, 2005, p.13)”. (p. 83)
Comunicação
e Informação
Interação
reativa
Primo
(...) a interação reativa está pautada na e automatização
das trocas. As condições iniciais determinam as possíveis
reações do sistema interativo. Tem como característica
uma forte roteirização e programação fechada que
prende a relação em estreitos corredores, onde as portas
sempre levam a caminhos determinados à priori.’
(PRIMO, 2000, p.6). (p. 83)
Quadro 2 - Resumo do panorama conceitual sobre a televisão digital interativa.
96
4 TV DIGITAL INTERATIVA
“Televisão Interativa” é um termo para o qual não existe ainda uma
definição formal. Entretanto, o seu conceito existe desde a década de
60, como testemunham os livros e filmes de ficção científica da época,
segundo os quais a televisão do futuro seria capaz de exibir exatamente
a informação desejada pelo usuário, no momento desejado, e atendendo
a um comando meramente vocal, quando não telepático. Seria uma
contraposição à televisão convencional, na qual as pessoas assistem
passivamente à programação que está sendo transmitida, sem nenhum
controle sobre o conteúdo da informação exibida, exceto a possibilidade
de troca de canais. (AMARAL, 2004, p.59).
Bolaño e Vieira (2004) caracterizam a TV Digital como um sistema de
radiodifusão televisiva que transmite sinais digitais em lugar dos analógicos,
apresentando inovações do ponto de vista estético, com melhor qualidade de imagem
mais larga (com relação largura/altura de 19/5 ao invés de 4/3 da TV analógica) e
melhor resolução (até 1080 linhas ao invés de 525 linhas da TV analógica), som
“estéreo envolvente”, disponibilidade de transmissão simultânea de vários programas
em um mesmo canal. Sua maior novidade, no entanto, parece ser a capacidade de
possibilitar a convergência entre diversos meios de comunicação eletrônicos, entre eles
a telefonia fixa e móvel, a radiodifusão, a transmissão de dados e o acesso à Internet.”
(2004, p. 102)
Por ocasião da publicação do decreto 4.901/03 que criou o SBTVD - Sistema
Brasileiro de Televisão Digital, visando, entre outras atividades, à escolha de um padrão
para a implantação da TV Digital no Brasil, Bolaño e Vieira (2004) destacam a
responsabilidade do governo no estabelecimento de uma política que considere os
esforços realizados, conciliando interesses econômicos e sociais. No modelo a ser
adotado pelo Brasil, era necessário assegurar tanto o desenvolvimento do parque
industrial eletrônico como, ao mesmo tempo, promover “a inclusão digital, a
democratização dos meios de comunicação e a veiculação de conteúdos
locais/regionais, sem acabar com o caráter de integração nacional que a TV assumiu no
país”. E, ainda, outro aspecto apresentado é de ordem política, uma vez que a definição
97
do padrão representaria o fortalecimento da participação democrática e da política
externa brasileira.
De acordo com Sacrini (2008), no SBTVD foram criados um Comitê de
Desenvolvimento e um Comitê Consultivo, além de um Grupo Gestor que tinham como
objetivo a elaboração de um documento chamado de Modelo de Referência,
14
a ser
adotado pela televisão digital no Brasil. Esse documento deveria apresentar uma
exposição de motivos para orientar a escolha do padrão brasileiro de televisão digital
que contemplasse não apenas questões tecnológicas, mas também questões de ordem
socioeconômicas e político-regulatórias. Foram firmados convênios com a fundação
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), de Campinas,
com recursos do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações
(Funttel) e com outras instituições nacionais de pesquisa e desenvolvimento com
recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Além da elaboração do
Modelo de Referência pelo CPqD, as demais instituições envolvidas assumiram o
compromisso de desenvolver soluções tecnológicas voltadas à realidade brasileira.
Nas discussões que antecederam a definição desse modelo, Mota (2006) chama
a atenção para o fato da escolha estar atrelada ao modelo analógico, de um para todos,
verticalizado e centralizado, e orientado pelas perspectivas do mercado. Para a autora,
o modelo que deve nortear a implantação é o da rede de internet, horizontal, de todos
para todos e de estrutura descentralizada, e desta maneira considerar a nova
tecnologia a partir das suas características e o das características do modelo que a
precede. Tal enfoque coloca em destaque que o verdadeiro diferencial que terá a TV
14
Marcelo K. Zuffo (2006), do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo apresenta a seguinte diferenciação entre modelo, sistema e padrão:
“O Modelo de TV Digital incorpora a visão de longo prazo e o conjunto de políticas públicas. O Modelo
deve articular todas as iniciativas, atividades e ações relacionadas à questão. O Modelo define as
condições de contorno para o estabelecimento do Sistema e respectiva definição do Padrão.
O Sistema de TV Digital é o conjunto de toda a infra-estrutura e atores (concessionárias, redes,
produtoras, empresas de serviços, ONGs, indústrias de conteúdo e de eletroeletrônicos).
O Padrão de TV Digital é o conjunto de definições e especificações técnicas necessárias para a correta
implementação e implantação do Sistema a partir do Modelo definido.”(p.3)
98
Digital é a interatividade e a reversibilidade
15
, possibilitando seu uso da mesma maneira
que se utiliza a internet, dando autonomia ao espectador que passa a ser o usuário que
fará escolhas entre as ofertas, deixando o aprisionamento da grade de programação.
Seria útil visitar algumas formas de relacionamento, criação e circulação
de informação que a internet possibilita e que podem ser potencializadas
pela TV Digital quando forem solucionados os desafios tecnológicos de
criação de canais de retorno, provedores e processadores das páginas
de HTML. Essa nova mídia, que não será nem televisão nem Internet,
permitirá teoricamente uma ampliação sem precedentes de
comunidades virtuais, não apenas daquelas alfabetizadas na linearidade
do texto escrito, mas possivelmente uma outra que possa emergir de
novas linguagens que se utilizem de sons, imagens e da tatibilidade. O
espantoso sucesso da televisão brasileira, presente em 90% dos
domicílios brasileiros e seus milhões de telespectadores antenados nos
acontecimentos reais e fictícios que vão ao ar de sul ao norte de todo o
país, se deve em grande medida, a nossa tradição oral que se mantém
viva, a despeito da pasteurização sofrida nas interpretações generalistas
que ela veicula. (MOTA, 2006, p.3).
Segundo Mota (2006), a criação do SBTVD em 2003, representou um marco
histórico, envolvendo cerca de 1400 pesquisadores e técnicos em 80 instituições.
Foram criados consórcios para pesquisas sobre os mais diversos aspectos da
tecnologia, que culminaram em um relatório com o objetivo de subsidiar o governo
sobre a capacidade técnica do Brasil de elaborar um sistema próprio para a TV Digital.
Para Mota (2006), os resultados apontaram para uma capacidade criativa e
inovadora, em condições de desenvolvimento, de um sistema mais avançado que os
modelos existentes, priorizando aspectos de interatividade até então pouco
desenvolvidos. Vislumbrou-se a possibilidade do Brasil construir um modelo que
contemplasse aspectos tanto de ordem econômica como sociais e, desta maneira,
“diminuir as enormes diferenças comunicacionais que hoje estratificam as sociedades
polarizadas entre poucos ricos e inúmeros excluídos que precisam ter acesso aos
serviços de governo eletrônico, de educação à distância e da telemedicina entre outras
possibilidades da oferta digital.” (2006, p.6)
15
Com relação ao significado da expressão reversibilidade, Mota (2008), em artigo publicado na revista
“América Del Sur”, aborda o “potencial de reversibilidade do modelo atual de emissão de um para todos,
com a multiplicação de produtores, que poderão funcionar em rede, recebendo e emitindo
mensagens, produções televisuais e serviços, elaborando novos conhecimentos de forma coletiva.” (p.4)
99
Segundo Crocomo (2007) os três padrões
16
principais de televisão digital
existentes no mundo foram testados no Brasil no período de outubro de 1999 a abril de
2000, com transmissão realizada pela TV Cultura de São Paulo. O fato da maioria da
população brasileira utilizar canal aberto
17
pesou na escolha brasileira e,
consequentemente, a melhor capacidade de sintonia pelo sistema terrestre,
apresentado pelo sistema japonês nos testes realizados, foi decisiva para a escolha do
padrão.
Para o então ministro das comunicações, Miro Teixeira (2003), na exposição de
motivos do decreto que instituiu o SBTVD, a escolha do padrão deveria atender às
necessidades da população brasileira, considerando o seu perfil de renda e aos
requisitos de possibilidades abertas para a interatividade. Não se tratava apenas de
uma evolução tecnológica, do analógico para o digital, mas um novo modelo de
comunicação com impactos na sociedade.
Em junho de 2006, durante a cerimônia em que o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva assinou o decreto que dispõe sobre a implantação do Sistema Brasileiro de
Televisão Digital Terrestre - SBTVD-T, na plataforma de transmissão e retransmissão
de sinais de radiodifusão de sons e imagens, o ministro das Comunicações, Hélio
Costa, faz a seguinte justificativa para o modelo escolhido: “com essa decisão, ao invés
de simplesmente comprarmos os direitos de uma televisão digital, decidimos criar o
16
Segundo a consultora da Cepal/Unesco, Cosette Castro (2007), “...o Governo Federal passou a estudar
e fazer testes com os diferentes padrões existentes. São eles:
1. O norte-americano, com sistema proprietário, que obrigaria o país a pagar royalties
constantemente para as indústrias daquele país e que logo foi colocado de lado por não oferecer
interatividade, ou seja, não incluía a possibilidade de que o público pudesse participar ativamente
da programação;
2. O europeu, com sistema gratuito, mas que não conseguiu comprovar, nos testes realizados pela
comunidade científica brasileira, as condições de uso do modelo para multiprogramação e
interatividade;
3. O japonês, que passou nos testes de robustez, isto é, resistiu às diferenças geográficas que o
país apresenta para atender aos sinais de transmissão e à recepção de TV do Brasil, e que
oferece sistema aberto e gratuito, sem ônus a população. Além disso, o modelo japonês
comprovou, nos testes, as possibilidade de usar a interatividade e também apresentou
portabilidade, ou seja, a possibilidade de seu usado em qualquer lugar, como em um carro, ou
fora de casa.”(p.6)
17
Segundo indicadores de 2008 publicados no Portal da Anatel Agência Nacional de
Telecomunicações, apenas 11,7% dos domicílios brasileiros possuem Televisão por Assinatura. Fonte:
http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do# Acesso em abril 2010.
100
Sistema Brasileiro de Televisão Digital, com características brasileiras, um projeto não
apenas para aqueles que podem pagar por um serviço a cabo ou por satélite.” (COSTA,
2006)
Para o governo brasileiro, a robustez do processo de modulação, a flexibilidade e
portabilidade dos padrões ISDB-T, somadas à oportunidade de compartilhar com o
Japão da evolução do sistema, superaram os padrões americano e europeu. Outro
ponto importante diz respeito à mobilidade do sistema que permite sua instalação em
aparelhos celulares e veículos em movimentos, sem custos para o usuário.
Primo (2008b) destaca que, com a definição do padrão da TV digital no Brasil, o
debate sobre as possibilidades interativas deste meio de comunicação ganhou força, e
neste contexto, retoma, baseado em Lemos (2002), aspectos relacionados às formas
de interação que esse meio sempre ofereceu, desde aquelas mais básicas como ligar e
desligar o televisor, trocar de canais e regular contraste e brilho, acrescentando outras
que foram desenvolvidas ao longo do tempo, como o controle remoto, videocassete,
câmeras de vídeo, videogame, interferência por telefone, fax, internet e, mais
recentemente, a interação com o conteúdo em tempo real via telemática.
A digitalização da TV, segundo Primo (2008b), pode concretizar o canal de
retorno
18
, desde que a estrutura tecnológica necessária se viabilize, a despeito do alto
custo. Nessa perspectiva, a venda de produtos e de conteúdos representa, para as
redes televisivas, a oportunidade de arcarem com esses custos. Outro serviço, que se
vislumbra com a TV digital, a partir das redes comerciais, são as enquetes que, hoje,
se fazem presentes por meios paralelos, com a internet e a telefonia. Entretanto, é
importante destacar que esta alternativa de promover enquetes e quantificar os
resultados não pode ser entendida com um diálogo entre produtores e telespectadores.
Apenas a possibilidade de bidirecionalidade não oferece a este veículo de massa a
condição de promover uma interação social.
Primo (2008a) destaca que o problema de interação está muito presente, hoje,
nos debates da área da comunicação, embora, de forma paradoxal, apareça como algo
18
Canal de retorno (...) para que o usuário, da mesma forma como recebe o sinal digital, possa enviar
de volta ao provedor daquele conteúdo um sinal de resposta com uma informação digital gerada por ele.
(SACRINI, 2008, p. 114)
101
dado e inquestionável. Alerta para o fato de que a indústria da informática promoveu um
esvaziamento e uma imprecisão ao termo “interativo”, utilizando-o de forma genérica
como uma característica inerente ao meio. Entretanto, para Primo, a principal questão
desta discussão é “valorizar o que existe no „entre‟ da interação” (2008a, p.15), ou seja,
que “os padrões de relacionamento construídos pelos participantes na interação
influenciam os processo interativos, a maneira como eles se vêem e como definem a
própria relação em si.” (2008a, p.15)
Considerando os tipos de interatividade possíveis na TV Digital, Teixeira e
Casella (2008) os resumem a três aspectos: (I) TV expandida, quando a interatividade
está vinculada ao programa como nas enquetes, reality shows, merchandising; (II)
serviços interativos, quando o televisor se torna um terminal de acesso a conteúdos não
vinculados a programação como tv-mail, tv-banking, previsão do tempo; e (III) infra-
estrutura, interfaces e mapas de navegação que acessam conteúdos que não são os
conteúdos dos programas, como guias de programação, menus.
As pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias de interatividade,
realizadas, no Brasil, por meio dos consórcios promovidos pelo SBTVD, focaram seus
esforços também em três instâncias: no aplicativo com o objetivo de definir se o
mesmo estará vinculado ou não ao tempo de exibição de um vídeo; no canal de retorno
que define as possibilidades de resposta do receptor; e nas interfaces dos aplicativos
que podem ser gerenciadas por software ou pelo próprio usuário. (TEIXEIRA e
CASELLA, 2008) Dentro destas perspectivas, são apresentadas três situações que as
ilustram: (I) um programa interativo de perguntas e respostas pode transmitir, vinculado
e sincronizado com o vídeo, um aplicativo que armazena localmente as respostas do
usuário ou as envia a emissora por meio de uma conexão permanente; (II) um reality
show que recebe os votos por meio de um aplicativo não sincronizado com o vídeo,
pode utilizar uma conexão intermitente como um SMS ou um envio por linha telefônica;
ou, ainda, (III) um serviço de previsão do tempo que, por meio de uma interface gráfica,
faz o acesso localmente.
Pesquisadores vinculados ao CPqD , em 2004, desenvolverem serviços na área
de teleducação, considerando os potenciais recursos da TV Digital Interativa, e
102
apontaram para mudanças significativas decorrentes do processo de digitalização
aliada à expectativa de se utilizar a televisão como instrumento de apoio à formação,
além, é claro, da comprovada familiaridade da população com o seu uso. Nesse
sentido os resultados identificaram a TV Digital Interativa como uma tecnologia capaz
de promover mudanças na sua inserção social, deixando de ser um objeto de consumo
passivo
19
e tornando-se um mecanismo de acesso à informação de maneira mais rica e
complexa.
O futuro parece nos conduzir inevitavelmente para o estabelecimento de
redes baseadas na fibra óptica por onde circulam áudio, vídeo e dados,
em pacotes condensados que permitirão a interatividade e o fim do
consumo televisivo ingênuo e unidirecional. No ano de 2010,
provavelmente, as televisões serão digitais, nos ocuparemos mais com a
seleção e controle do bit, ou seja, com a informação. Estaremos diante
de um meio diferente, poderemos ver e escutar as notícias ou ver uma
partida de futebol quando desejarmos e, o mais importante estaremos
diante de uma TV Interativa. (AMARAL, 2004, p.56).
Embora, do ponto de vista cronológico, tais avanços ainda não tenham se
concretizado e o processo de implantação esteja ocorrendo de maneira mais lenta que
a expectativa inicial, as perspectivas da TV Digital como meio de comunicação capaz
de contribuir para o processo de inclusão social ainda se apresentam. Sacrini (2008) ao
prospectar sobre o papel das emissoras educativas, afirma que as mesmas “deverão
propiciar ao telespectador formas de acesso aos programas culturais interativos e de
entretenimento educativo numa perspectiva de utilização da televisão como aparato
realmente voltado para a promoção social e efetivamente inclusivo.” (p. 146)
Prevê-se que a difusão da televisão digital no Brasil se de forma gradativa, a
partir de um cronograma de implantação que teve início em São Paulo, em dezembro
de 2007, com transmissão de sinais para imagem em alta definição, e ocorrendo nas
demais cidades brasileiras até abril de 2011. Entretanto, para Sacrini (2008), isto não
19
A rigor, essa passividade em muitos casos não existe. A palavra talvez esteja sendo usada de
maneira equivocada. O que existe é a impossibilidade de o telespectador devolver a informação pela TV,
dar a opinião dele, porque não retorno. E, mesmo que exista, é ele que deve decidir se quer ou o
interagir. Mas não é possível generalizar, e muitos programas que a TV vem exibindo há mais de 50 anos
mexem com a vida das pessoas. Isso não é uma queso de tecnologia, mas de formato dos programas.”
(CROCOMO, 2007, p. 93).
103
significa que todas as pessoas serão obrigadas a adquirir os aparelhos necessários
para a recepção do sinal.
Conforme o decreto que definiu o modelo de tecnologia, haverá
obrigatoriedade de transmissão simultânea dos canais existentes tanto
em sistema analógico como no sistema digital, até que todos os
aparelhos de televisão do país estejam adaptados para a inovação. (...)
A cobertura e o conteúdo de cada canal digital devem ser os mesmos do
canal analógico correspondente. A previsão inicial é de que em até dez
anos o sistema analógico possa ser desativado no país e as concessões
desses espectros analógicos sejam então devolvidos pelas emissoras
para o Estado.(SACRINI, 2008, p. 111).
Com relação ao aparato tecnológico, Sacrini (2008) destaca que a noção usual
que se tem sobre a televisão digital está vinculada à idéia de uma junção entre a
televisão e o computador, com acesso à internet. Entretanto, a televisão digital se
configura em um novo aparato tecnológico, diferente dessas tecnologias, que opera
para permitir o acesso aos conteúdos e sistemas digitais. Com relação ao processo de
transmissão, o autor retoma que quando se iniciou no Brasil sua implantação, para que
o sinal digital fosse recebido pelos aparelhos existentes nas residências, tinha que
passar por outro aparelho chamado set-top-box. Sendo digital o sinal enviado às
antenas, para recebê-lo o aparelho televisor precisava transformá-lo em imagens
analógicas. Assim, as Unidades Receptoras Decodificadoras (URD), ou set-top-box,
funcionavam como conversores para decodificar o sinal digital para televisão
convencional analógica. Além do processo de conversão, os set-top-box possuem uma
estrutura similar a dos computadores, para receber e manipular os dados digitais e
exibi-los na tela da televisão. Entretanto, os set-top-box também podem permitir outros
desempenhos à televisão digital, especialmente aqueles vinculados à interatividade.
Dessa maneira, é possível abrigar processamento interno, memórias para execução de
programas, aplicativos e armazenamento de informações, disco rígido para gravação de
dados e, ainda, um dispositivo de conexão com redes digitais de computação, de
telefonia e de comunicação.
Em Crocomo (2007), é possível encontrar a seguinte explicação para o set-top-
box ou terminal de acesso:
104
Na verdade, é um computador que permite a interatividade. Nele é
possível o acesso a informações adicionais, compras pela TV,
participação em programas, etc. Com o terminal de acesso, vai ser
possível receber o sinal e tornar as informações, como, por exemplo,
quando se responde a uma pergunda. O mais comum é o uso de um
modem (dentro da caixinha) ligado à linha telefônica que envia
informações, garantindo alguma forma de interatividade (bidirecional).
(CROCOMO, 2007, p. 66).
O sistema de TV digital, ao permitir a transmissão de dados e serviços além do
fluxo de áudio e vídeo, disponibiliza uma fonte de dados, caracterizados como
aplicativos, que chegam até o usuário da televisão e ficam armazenados no terminal de
acesso, sendo possível acioná-los por meio do controle remoto. Dessa maneira, a
informação armazenada passa a ser utilizada de forma individualizada pelo usuário.
Crocomo (2007), considera este nível de interatividade como nível um‟, que permite o
acesso aos dados armazenados no terminal, possibilitando ao usuário “navegar” dentro
dos dados armazenados. Neste caso, a emissora envia dados extras relacionados à
programação normal que, armazenados, podem ser acessados a qualquer tempo,
complementando o conteúdo do programa. Este nível de interatividade também é
chamado de interatividade local e a sua lógica é a mesma do uso do controle remoto
pelo usuário na direção do aparelho.
No „nível dois‟ de interatividade estão previstos, além do armazenamento de
conteúdo, também o uso do canal de retorno, este, porém, oriundo de outra via, como
por exemplo, a telefônica. Nesse caso, é possível retornar a mensagem, mas não em
tempo real. (...) “as informações chegam com a exibição de um determinado programa,
outras são armazenadas no terminal e existe a possibilidade de o usuário enviar
informações por meio de um modem, por exemplo.” (COCROMO, 2007, p. 83) É
possível fazer escolhas de opções que aparecem na tela, utilizando o controle remoto,
e enviá-las do terminal de acesso ao servidor da emissora ou a um provedor que
poderá computar o dado em um resultado geral.
Destaca, ainda, a interatividade de „nível três‟, que permite o uso de canal de
retorno em tempo real, enviando e recebendo mensagens. Nesse caso, o usuário
poderia, por exemplo, participar de um jogo interativo.
105
A utilização desses recursos, entretanto, está atrelada às leis de
funcionamento dessa nova televisão, aos formatos dos programas, à
linguagem a ser utilizada, e às políticas e prioridades públicas. Um nível
alto de interatividade em que a comunidade pode enviar vídeos é uma
possibilidade real, mas ela não será viabilizada somente pela tecnologia.
(CROCOMO, 2007, p. 84).
Nos documentos oficiais que formalizam os princípios da implantação da TV
Digital, é recorrente a vinculação dessa nova tecnologia a benefícios sociais,
destacando-se seu potencial educativo e inclusivo. O governo tem anunciado a
perspectiva de oferecer serviços públicos, como agendamento de consultas médicas e
pagamentos de taxas, de forma mais acessível à população, evitando filas e
desperdício de tempo. Outra vantagem amplamente debatida diz respeito à
possibilidade de se ampliarem os programas de educação a distância, com aumento de
oferta, mas principalmente de acesso por parte da população. Tais potencialidades
estão diretamente relacionadas à capacidade de interatividade que se vislumbra nesta
tecnologia. Entretanto, para que estas potencialidades se desenvolvam e se efetivem é
condição prévia a decisão política voltada para estes interesses aliada a investimentos
financeiros em pesquisa tecnológica nesta área.
Segundo Castro (2007), foi anunciada pelo Ministério da Educação a intenção
de desenvolver projetos de educação a distância por meio da TV digital, com
transmissão em tempo real de conteúdos vinculados à formação, e a possibilidade de
se responder às dúvidas dos alunos também em tempo real. Entretanto, qualquer
iniciativa nessa direção tem como um dos pressupostos fundamentais o nível de
interatividade possível a ser atingido por esta tecnologia. Com relação ao software
interativo do Sistema Brasileiro de TV Digital, a decisão tomada pelo governo foi a de
realizar investimentos no seu desenvolvimento, criando uma alternativa nacional. Assim
nasceu o Ginga, nome dado ao Middleware
20
aberto do Sistema Brasileiro de TV
Digital, “constituído por um conjunto de tecnologias padronizadas e inovações
20
Middleware é uma camada de software posicionada entre o código das aplicações e a infra-estrutura
de execução (plataforma de hardware e sistema operacional). Um middleware para aplicações de TV
digital consiste de máquinas de execução das linguagens oferecidas, e bibliotecas de funções, que
permitem o desenvolvimento rápido e fácil de aplicações.” (GINGA, 2010)
106
brasileiras que o tornam a especificação de middleware mais avançada e a melhor
solução para os requisitos do país.” (GINGA, 2010)
O Ginga é uma camada intermediária de software e está interposto entre as
aplicações do sistema e os outros módulos que fazem parte do sistema e que são
implementados por hardware. Do ponto de vista dos requisitos relativos às aplicações a
serem desenvolvidas, destacam-se os seguintes: aspectos de interatividade,
sincronismo espaço-temporal entre objetos de mídia, adaptabilidade, suporte a
múltiplos dispositivos e suporte à produção ao vivo de programas interativos não-
lineares.”(GINGA, 2010). Outras aplicações são requisitadas para o modelo brasileiro,
quais sejam a inclusão social, o uso da televisão digital para o ensino entre outros.
As aplicações do Ginga estão sendo desenvolvidas a partir de dois paradigmas
de programação, Ginga-J, em Java, para aplicações procedurais
21
, desenvolvido pelo
Lavid
22
, da Universidade Federal da Paraíba, e Ginga-NCL, para aplicações
declarativas
23
, sob responsabilidade do laboratório Telemídia da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Para os sistemas de TV digital, os dois tipos de aplicação
devem coexistir em um dispositivo receptor que os integre como é o caso do
middleware Ginga. Dessa maneira, a arquitetura do software pode ser dividido em três
módulos: o núcleo comum, o ambiente de apresentação declarativo e o ambiente de
execução procedural. É o núcleo comum que suporte aos dois ambientes e tem
21
Nas linguagens procedurais, o programador possui um maior poder sobre o código, sendo capaz de
estabelecer todo o fluxo de controle e execução de seu programa, necessariamente o computador deve
obrigatoriamente ser informado sobre cada passo a ser executado, o que denota um grau de
complexidade muito maior.” (CRUZ, 2009)
22
Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital.
23
(...) linguagem que enfatiza a descrição declarativa do problema, ao invés da sua decomposição em
uma implementação algorítmica. (...) Lembrando que as aplicações do tipo declarativas o muito mais
fáceis de se usar, muito mais intuitivas, geralmente não necessitando que a pessoa que vá desenvolver
seja um perito em programação, já as aplicações do tipo procedurais devem necessariamente ser
desenvolvidas por peritos em programação, pois a complexidade é muito maior.” (CRUZ, 2009)
107
como funções principais a exibição dos objetos de mídia, o controle do plano gráfico, o
tratamento do canal de retorno, entre outras. (GINGA, 2010)
Sacrini (2008) retoma algumas características presentes ou potenciais da
televisão digital interativa no Brasil, a partir dos estudos realizados por Becker e Montez
(2004) e publicados no livro TV digital interativa: conceitos, desafios e perspectivas para
o Brasil. De forma complementar Castro (2007) também apresenta alguns elementos
desenvolvidos ou em fase de desenvolvimento presentes nesta nova tecnologia. Tais
características e elementos serão apresentados a seguir, de forma sintética, com o
objetivo de construir um quadro geral sobre as perspectivas deste artefato tecnológico:
Recursos
Características
Tecnologia Digital
- sinais digitais, uma vez processados por computadores, podem ser
manipulados com facilidade, assim o conteúdo transformado em dado
numérico, em seqüência de bits, com uma representação oriunda dos
computadores, pode ser mais facilmente alterado inserido, retirado,
corrigido; (SACRINI, 2008)
- a possibilidade de simultaneidade de acesso ao conteúdo por um
número ilimitado de pessoas decorrentes da digitalização do sinal e da
informação; (SACRINI, 2008)
Transmissão
- o espaço de banda do espectro eletromagnético de freqüência,
concedido pelo Estado numa largura fixa de 6Mhz, não é todo ocupado
para a transmissão do conteúdo audiovisual da televisão digital, podendo
ser utilizado para envio de outras informações adicionais imagens, sons
ou dados; (SACRINI, 2008)
- a organização da banda também permite a transmissão de conteúdos
complementares ou informações adicionais ao programa que está em
exibição; (SACRINI, 2008)
Qualidade de som
e imagem
- as possíveis interferências nas transmissões do sinal não alteram a
qualidade da informação transmitida, uma vez que, por ser codificada no
envio e decodificada na recepção, esta decodificação acontece de
uma forma completa; (SACRINI, 2008)
- a qualidade de som e imagem do sistema digital é considerada superior
em relação ao sistema analógico, podendo aumentar ou diminuir
dependendo da quantidade de banda a ser utilizada; (SACRINI, 2008)
Interface
- o formato da tela do sistema digital de televisão é retangular e obedece
a proporção 16:9, semelhante à tela do cinema, permitindo a
apresentação do conteúdo em uma área menor e a utilização do espaço
restante com informações complementares ou serviços interativos;
(SACRINI, 2008)
- composição de elementos audiovisuais e gráficos na tela de forma que
o usuário possa manipular, apreciar, fruir e transitar por esses elementos,
dentro de uma perspectiva de multimídia e hipertexto; (SACRINI, 2008)
108
Inclusão digital
- o aparelho de televisão existente nas casas poderá ser utilizado a partir
da aquisição de uma caixa conversora para o modelo digital, também
chamada de set-top-box; (CASTRO, 2007)
- a caixa conversora permitirá o acesso à internet por meio do aparelho
de televisão, para uso de e-mails e outros serviços via internet,
promovendo, desta forma, a inclusão digital para a população que não
possui computadores; (CASTRO, 2007)
Interatividade
- a possibilidade de interatividade do usuário, seja com o programa em
exibição, com a emissora (provedor da mensagem) ou com outros
usuários; (SACRINI, 2008)
- com relação à interatividade, é importante destacar que o público
poderá participar de forma mais ativa nos programas transmitidos. O
nível de interatividade tem relação direta com o tipo de equipamento que
cada pessoa adquirir. Quanto mais sofisticado o equipamento, maior o
nível de interatividade. Desta maneira, parte-se de uma interatividade
mais restrita, que permite apenas o uso de guias de programação e
acesso a serviços públicos, até interatividades mais complexas que
possibilitem responder a programação e acionar conteúdos
complementares; (CASTRO, 2007)
- o canal de retorno como recurso técnico permitirá interatividade efetiva
do telespectador com a emissora, enviando conteúdo em tempo real;
(SACRINI, 2008)
Multiprogramação
- possibilidade de transmissão de multiprogramação decorrente das
alternativas de uso da banda do espectro eletromagnético de freqüência.
A possibilidade de transmissão é de até 06 programas simultâneos;
(SACRINI, 2008)
Portabilidade
- a portabilidade da TV digital permitirá que ela seja assistida em
diferentes aparelhos, inclusive, aparelhos móveis, como celular e TV de
veículo; (CASTRO, 2007)
Usabilidade
- a usabilidade compreendida como uma evolução e adequação, para a
televisão, do que é usado, experimentado e consagrado na interface
gráfica da web; (SACRINI, 2008)
- considerados aspectos que garantam simplicidade e praticidade de uso
relativos à interface, controle remoto e manipulação da set-top-box;
(SACRINI, 2008)
- existe uma preocupação com a usabilidade da TV digital e, para tal,
está previsto controle remoto adaptado para pessoas com necessidades
especiais. (CASTRO, 2007)
Quadro 3 Perspectivas Tecnológicas da Televisão Digital Interativa.
Outra questão que se apresenta, na discussão acerca das perspectivas da TV
Digital, está relacionada à produção de conteúdos. Para o antropólogo Hermano Viana
(2003), a eminência de um novo modelo de comunicação coloca em discussão a
importância de a TV pública encabeçar a discussão sobre a produção de conteúdo
109
digital, promovendo a reflexão crítica sobre a televisão e estimulando a experimentação
de novos formatos. Em sua apresentação sobre Televisão e Identidade Cultural,
realizada no Encontro “O desafio da TV pública”, promovido pela TVE Rede Brasil em
2003, o antropólogo trouxe o seguinte questionamento:
A tradição é discutir a televisão no âmbito do Ministério das
Comunicações, como se a discussão fosse apenas técnica. Parece que
não se reconhece na televisão o elemento central da cultura brasileira.
Agora mesmo, no caso da TV digital, o enfoque da discussão tem sido,
mais uma vez, técnico. Como e quando é que a gente vai preparar o
Brasil para produzir conteúdo para a TV digital, para a TV interativa?
(VIANA, 2003, p. 92).
Crocomo (2007) chama atenção para a perspectiva da TV Digital Interativa
possibilitar a participação da comunidade, para a importância da experimentação e do
aprofundamento de estudo da linguagem televisiva como apoio ao processo de
“alfabetização digital”, tendo em vista ser este processo diferente daquele que ocorre de
interatividade na internet. Para o autor, é possível vislumbrar, a partir da linguagem e do
diálogo presentes na televisão, alternativas que levem a um processo mais amplo de
interatividade. A partir da reflexão, do planejamento e da produção, deve-se buscar na
nova TV aberta uma direção que integre os novos recursos de interatividade à
linguagem dialógica da TV. Os aplicativos interativos devem se integrar à linguagem
consolidada da televisão, não para mantê-la da mesma forma, mas, respeitando aquilo
que já é conhecido, propiciar um uso mais eficaz da interatividade.
Portanto, a forma de se pensar os novos programas deve
necessariamente passar pela reflexão das novas tecnologias, sob pena
de acesso aos recursos interativos, mas sem evolução nos formatos dos
programas. Ou do uso de uma interatividade parcial, limitante, que
considere o usuário como um mero selecionador de temas, de itens de
consumo, e não como um efetivo participante do processo, que opina,
que apresenta sugestões, que seleciona seus conteúdos. (CROCOMO,
2007, p.39).
Ultrapassar os limites existentes nos modelos interativos que circulam nos
formatos dos programas de televisão, como as entradas ao vivo e conversas entre
apresentadores/repórteres e entrevistados, e enfrentar o desafio de permitir uma
participação mais acentuada das comunidades, é o que propõe Crocomo (2007) nos
apontamentos finais de sua pesquisa. O acesso aos recursos tecnológicos, a
110
alfabetização digital, o formato dos programas e a relação direta entre a escolha dos
conteúdos com as histórias de vida e os cotidianos das comunidades são os novos
elementos que marcam um processo diferenciado, envolvendo a participação dos
moradores das comunidades. E, ainda, numa perspectiva mais ousada, afirma que “a
informação comunitária pode gerar conhecimento. A televisão, pelo uso que faz das
imagens e da oralidade, é e pode se tornar um elemento ainda mais eficaz na
transmissão de conhecimentos tácitos
24
.” (p.154)
Para Fonseca (2007), a televisão que produz e reproduz cultura tem uma ligação
umbilical com a educação. A produção televisiva como produção cultural é objeto da
educação, uma vez que a finalidade educacional é “desenvolver ao máximo as
potencialidades das pessoas, as quais se expressam como verdadeiramente
humanas na esfera de uma cultura.” (p.26) A educação formal e não formal não podem
deixar de considerar as narrativas veiculadas pela TV, uma vez que estas estão
“impregnadas de significados e consequências ”. É possível afirmar que a televisão,
mesmo tendo como característica principal da sua linguagem o fluir da comunicação por
meio da informação quase que em uma direção única, promove impactos nos
processos comunicacionais da população de maneira muito significativa, como nenhum
outro meio consegue fazer.
Entretanto, Fonseca (2007) destaca que a TV Digital que emerge resulta de
mudanças oriundas da digitalização do processo de produção de conteúdos
audiovisuais e difusão do sinal, que transforma os dispositivos eletrônicos em
processos comunicacionais, ampliando assim as formas e comportamentos relativos à
comunicação humana. Essa transformação vem gerando expectativas de inovação no
cenário da comunicação em geral e, em particular, da educação. As possibilidades de
multiprogramação e interatividade interessam, de forma especial, à área educacional,
apontando para mudanças no cenário de soluções técnico-pedagógicas, seja na
educação presencial, a distância ou híbrida.
24
Crocomo (2004) apresenta a definição de conhecimento tácito como o conhecimento pessoal
incorporado à experiência individual e envolve fatores intangíveis como, por exemplo,crenças pessoais,
perspectivas e sistemas de valor. (p.154)
111
Do ponto de vista da multiprogramação, com o aumento significativo de canais,
dois aspectos relevantes são apresentados por Fonseca (2007): um deles a
possibilidade de se atender de maneira mais direcionada e focalizada as diferentes
necessidades de desenvolvimento educacional da população brasileira; depois, o
volume de produção de conteúdos que abre espaço para a diversidade de produtos e
de protagonismos, rompendo com a centralização da produção.
No entanto, mais do que a multiprogramação, para a educação a maior
expectativa deve ser o desenvolvimento de interação na programação. A
interação vai alterar a gigantesca assimetria dos processos de
comunicação televisivos. Por isso, nada terá mais impacto na linguagem
televisiva do que a interação: quando ela amadurecer, a televisão será
muito diferente do que hoje entendemos por televisão. (FONSECA,
2007, p.).
Moran (2007) argumenta que, com a televisão digital, o inúmeras as
possibilidades para se ampliar a oferta de cursos, conteúdos educacionais e interação.
Poderemos ter aulas interativas a distância, vendo-nos facilmente,
participando em ambientes ricos de recursos de aprendizagem. Todos
os cursos podem ter uma combinação de interação da Internet com a
riqueza da imagem da TV, para combinar momentos presenciais com
outros virtuais. (MORAN, 2007, p.3).
A TV digital, substituindo a TV convencional, trará consequências para a
educação, notadamente pelo aumento de canais e recursos que poderão ser
disponibilizados para cursos, debates com especialistas e discussão entre os alunos.
Continuando nesta linha de raciocínio, Moran (2007) apresenta uma série de situações
educacionais que ilustram essas consequências . Conteúdos produzidos por
professores estarão disponíveis para os alunos dentro das suas possibilidades de
tempo e espaço para o acesso, o que já acontece, hoje, com o computador, porém sem
a qualidade de imagem inerente à TV digital. A portabilidade também poderá assegurar
o acesso a um conteúdo educacional específico, possibilitando a interação entre os
alunos, por meio de um celular, em qualquer lugar em que o aluno se encontre. E,
ainda, a produção de conteúdos pelos alunos será mais facilitada. Da mesma maneira
que acontece hoje no computador, o aluno poderá apresentar suas produções,
acrescentando recursos de pesquisa, de navegação e “hiper-realistas”, por meio da
televisão.
112
Do ponto de vista da gestão de projetos na área de educação a distância, Moran
(2007) chama a atenção para o fato de que a tecnologia digital, notadamente a
televisão, se apresenta apenas como um suporte tecnológico, para atender aos
interesses e objetivos institucionais:
De um lado, introduzem modelos altamente complexos e sofisticados de
tele-aulas, de ambientes virtuais com conteúdos disponibilizados e
formas de avaliação comuns e simples. São modelos para grandes
grupos, para países inteiros, oferecidos de modo uniforme para todos,
com algum apoio de instituições locais. São modelos oferecidos pelas
mega-universidades que estão se consolidando agora, que vêem na TV
digital uma forma ideal de realizar este modelo massivo.
Do outro lado, teremos as instituições que oferecerão propostas
educacionais mediadas pelas tecnologias digitais para grupos menores,
com mais interação, focadas na aprendizagem, no aluno, em criação de
grupos de pesquisa, de projetos e aprendizagem colaborativa. (MORAN,
2007, p. 16).
Segundo Amaral (2004), particularmente no campo educacional, a tecnologia
digital direcionada à televisão, com custos mais acessíveis de produção, possibilita a
ampliação do conhecimento:
A TV Digital abre as portas, de uma maneira muito especial, para a
alfabetização audiovisual permanente, possibilita e fomenta nos
espectadores a capacidade de produzir e analisar suas próprias
mensagens. Utilizando a TV desta forma, a educação estaria
promovendo a intervenção social, potenciando uma educação dinâmica,
cooperativa e solidária, e a partir de um conceito social de liberdade,
estaria desenvolvendo a imprescindível formação para a cidadania.
(AMARAL, 2004, p.57)
Numa análise comparativa entre a televisão analógica (convencional) e a
televisão digital, Amaral (2004) destaca, no modelo analógico, a seqüência linear e
ininterrupta de programas dentro de uma grade de programação, bem como a
composição destes programas sustentados por imagens e sons. Por outro lado, a
televisão digital, além de imagens e sons, é composta por dados textos, gráficos,
ícones, programas executáveis, entre outros. Tais dados são considerados elementos
de informação que, ao serem reproduzidos no aparelho de televisão, se tornam “objetos
clicáveis” à espera da ação do usuário. Essa nova característica, introduzida nos
programas da televisão digital, estabelece um diferencial significativo em relação ao
113
modelo analógico. Quando um programa se apresenta com possibilidade de responder
a um comando do usuário, estabelece-se uma relação não-linear que permite vários
pontos de entrada e saída, vários roteiros interligados.
A TV Digital, por sua vez, representa uma revolução, combinando as
características tradicionais da televisão analógica com as
potencialidades do computador pessoal e com o impacto da Internet na
sociedade. Além disso, ao utilizar parte significativa da infra-estrutura
existente da televisão analógica, se beneficiará do alto grau de
penetração dessa tecnologia.
Para a população a TV Digital incorporada ao dia-a-dia implicará em
mudanças de hábitos, nova relação de consumo e outras alterações que
serão provocadas ao longo da convivência com esta nova tecnologia,
pois além o conhecido do aparelho de TV e controle remoto, a TV
apresentará novos componentes de interatividade, estabelecendo novos
relacionamentos e novas formas de comunicação, abrindo mundos e
possibilidades antes desconhecidos e limitados. (AMARAL, 2004, p. 62)
Considero que as discussões dos autores apresentadas até o momento, nos
capítulos dois e três, oferecem uma importante contribuição para a reflexão sobre o
objeto de estudo, TV digital interativa. Entretanto, parto do entendimento que as
mesmas não se configuram como esgotadas dada a complexidade presente neste
movimento de aproximação de diferentes conceitos e de promoção do diálogo entre
diferentes autores. Neste sentido, procurando delimitar sua abrangência, considero que
cabe agora buscar junto aos documentos da Seed e das produções decorrentes da
transcrição das entrevistas realizadas, informações e discussões, oriundas do contexto
delimitado na pesquisa. Tais informações e discussões irão complementar o quadro
teórico e também oferecer subsídios para a definição dos requisitos de interatividade
dessa tecnologia, necessários para o programa de formação continuada de
professores. Dessa maneira, o capítulo a seguir estará apresentando a análise dos
dados levantados.
114
5 ANÁLISE DE DADOS
Dando continuidade ao trabalho, apresento, a seguir, a análise qualitativa de
conteúdos dos materiais que compõem o corpus desta pesquisa, sistematizados em
três etapas. Inicialmente, a análise do documento sobre educação a distância da Seed,
seguida pela análise das informações sobre a TV Paulo Freire e, finalmente, análise
dos textos transcritos das entrevistas com especialistas da Seed e da PUC/RJ. Ressalto
que tais procedimentos foram apresentados, discutidos e justificados no primeiro
capítulo desta dissertação.
Acredito que, para se avançar na análise, cabe uma breve apresentação acerca
do processo de categorização, entendida aqui como “a divisão das componentes das
mensagens analisadas em rubricas ou categorias” (BARDIN, 2010, p. 145). Na
categorização, os elementos constitutivos da mensagem são classificados pelo que os
diferencia e depois são reagrupados, segundo a analogia, com critérios previamente
definidos. Tais critérios podem ser semânticos, quando se agrupam todos os recortes
relacionados ao mesmo tema; sintáticos, quando se agrupam verbos, advérbios,
substantivos, etc.; léxicos, quando o princípio que direciona o agrupamento são os
sinônimos ou os antônimos; e expressivos, que agrupam pelo critério de perturbações
da linguagem ou expressões específicas. Classificar em categorias significa investigar,
nos elementos, o que eles têm em comum, permitindo o agrupamento dessa parte
comum existente entre eles.
A categorização pode ser realizada a partir da decomposição do documento em
categorias, a fim de, segundo Chizotti, apud Silva e Silveira (2007), desvelar o sentido
do texto, revelar o significado dos conceitos nos diferentes meios sociais, decodificar as
comunicações por meio de uma forma inovadora.
Para Bardin (2010), a análise por categorias é a mais antiga e a mais utilizada
das técnicas de análise e consiste no desmembramento do texto em unidades, e
115
reagrupamento por categorias analógicas. Entre as possibilidades de categorização, a
investigação por temas é rápida e eficaz quando aplicada aos discursos diretos e
simples, como é caso dos materiais selecionados nesta pesquisa.
5.1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Para apresentar as concepções de educação, formação de professores,
educação a distância e tecnologias de informação e comunicação da Seed, recorri à
análise de conteúdos do Caderno Temática sobre Educação a Distância (Anexo A), que
se encontra ainda no prelo, em fase de revisão ortográfica, além de algumas
informações disponíveis no ambiente e-escola
25
, particularmente sobre ferramentas
interativas.
É importante assinalar que, sendo a presente pesquisa direcionada para a
formação continuada de professores na modalidade a distância, na rede pública
estadual de educação básica do Paraná, coube que se buscasse, junto à Secretaria de
Estado da Educação (Seed), os documentos que apresentam o registro teórico
metodológico das ações de formação continuada de professores nesta modalidade.
Inicialmente, por meio dos dados disponíveis no site da Seed
26
, Portal Dia-a-dia
Educação, foi possível identificar a coordenação de educação a distância, criada em
2007, com o objetivo de ampliar o acesso dos profissionais da rede estadual de ensino
à formação continuada. Nesse endereço eletrônico, também se encontra disponível o
Anexo A desta pesquisa, bem como as informações sobre o ambiente e-escola, como
as ferramentas de interatividade utilizadas nos cursos.
25
Ambiente Virtual de Aprendizagem desenvolvido na Plataforma Moodle (Modular Object-Oriented
Dynamic Learning Environment ), acessível pelo endereço: <https://www.e-escola.pr.gov.br/>.
26
No site da SEED, página dedicada a coordenação de educação a distância está acessível no endereço
<http://www.diaadia.pr.gov.br/ead/index.php>
116
No Anexo A, é possível encontrar um breve histórico da educação a distância no
Brasil e, em particular, na rede pública de educação básica do Paraná, os fundamentos
teóricos e os aspectos metodológicos característicos desta modalidade. A organização
da coordenação de educação a distância, suas atribuições e sua articulação com os
demais departamentos e coordenações da Seed, assim como as parcerias realizadas
com algumas instituições de Ensino Superior e o Ministério da Educação, também estão
descritos nesse documento. Na sua apresentação, ele é definido como “Diretrizes que
se destinam a todos os profissionais envolvidos direta e indiretamente com a Educação
a Distância da Seed-PR, esperando que contribuam para as discussões educacionais
relativas ao tema.” (p. 200)
Como procedimento de análise, pretendo destacar pontos relevantes que
demarcam alguns conceitos a partir do campo teórico eleito pela Secretaria de Estado
da Educação. Tenho, como intenção, apresentar, diretamente do locus desta pesquisa,
as concepções que norteiam as ações nesta área. Esta opção se configura como uma
delimitação teórica, uma demarcação relacionada aos conceitos da esfera educacional
que caracterizam o contexto da pesquisa. Entendo que, se por um lado, por se
constituir como demarcação ou delimitação teórica acabe por limitar o campo teórico de
análise, por outro lado, a definição desse campo teórico cumpre seus objetivos, pois diz
respeito à opção assumida pela Seed no processo de formação continuada dos
professores da rede pública estadual.
Dessa maneira, para a análise desse documento, estabeleci cinco categorias
que organizam e sistematizam o trabalho. Procurei identificar a concepção de
educação; a concepção de formação continuada de professores; a concepção de
educação distância; a proposta de uso de tecnologias de informação e comunicação
para formação continuada; e as ferramentas interativas disponíveis para os cursos.
1) Concepção de educação
No documento, é possível encontrar menção ao trabalho realizado pela Seed no
sentido de uma reformulação curricular:
117
(...) a Seed-PR desencadeou um processo de discussão coletiva para reformulação
curricular, com o objetivo de se contrapor aos referenciais nacionais cuja concepção de
educação atrelava a escola pública às necessidades do mercado. (p. 208)
Percebe-se que essa reformulação visava romper com a interferência do
mercado no currículo das escolas blicas do Paraná. Tal pressuposto se reafirma na
continuidade do texto:
Muitos foram os movimentos nesse sentido: simpósios, reuniões técnicas, grupos de
estudo,
27
o Projeto Folhas,
28
os Objetos de Aprendizagem Colaborativa (OAC),
29
o Livro
Didático Público,
30
entre outros. (...) Todos esses encaminhamentos previam a formação
continuada dos professores, atendendo a um dos princípios assumidos pela gestão
(2003-2010) valorização dos profissionais da educação , buscando ir ao encontro das
necessidades reais da escola pública e garantindo a efetivação de sua função social, ou
seja, atender aos estudantes oriundos das classes populares. (p. 208)
Outro aspecto, presente na concepção de educação que norteia a proposta de
EaD, diz respeito ao desenvolvimento da autonomia dos sujeitos e os desdobramentos
desta prática:
Essa autonomia propicia que os “sujeitos construam sentidos para o mundo, que
compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que, pelo
acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção cidadã e transformadora na
sociedade” (p. 201)
É possível, também, destacar, a partir da concepção de educação presente na
Secretaria de Educação do Paraná, o lugar do conhecimento na escola.
Para tanto, o conhecimento que se concebe é construído histórica e dialeticamente pelo
conjunto da humanidade, não é efêmero ou relativizado, mas reconstruído a partir das
práticas sociais e como imperativo do modo humano de produção social da existência.
Isso implica que o conhecimento se dá na e pela práxis. A práxis, segundo Frigotto (2004,
p. 81), expressa a unidade indissolúvel de duas dimensões distintas, diversas no
processo de conhecimento, a teoria e a ação: “A reflexão teórica sobre a realidade não é
uma reflexão diletante, mas uma reflexão em função da ação para transformar. Portanto,
27
Modalidade de formação continuada descentralizada na qual as orientações são encaminhadas
aos grupos que se organizam nas escolas. Ver: <http://www.diaadia.pr.gov.br/cfc/>.
28
Programa de Formação Continuada que propõe uma metodologia específica de produção de
material didático; o material passa por discussão e orientação no ambiente Folhas. Após validado, é
publicado no Portal Educacional do Paraná. Ver: <http://www.diaadia.pr.gov.br/projetofolhas/>.
29
Proposta de Formação Continuada que “objetiva viabilizar meios para que professores da Rede
Pública Estadual do Paraná pesquisem e aprimorem seus conhecimentos, buscando a qualidade teórico-
metodológica da ação docente”. Ver: <http://www.diaadia.pr.gov.br/oac/>.
30
Livro didático produzido por profissionais da Rede Pública Estadual paranaense, elaborado no
formato de material didático construído a partir do Projeto Folhas. Ver:
<http://www.diaadia.pr.gov.br/projetofolhas/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=10>.
118
o processo de apropriação do conhecimento deve ser concebido como práxis no campo
educacional”. (p. 214)
Ressalte-se, ainda, a ênfase dada à interação no processo de apropriação do
conhecimento. Interação esta entendida como uma ação que se estabelece entre
interagentes, numa perspectiva de compartilhamento e colaboração:
Os conhecimentos teóricos, os estudos permanentes, a prática pedagógica e o
comprometimento são princípios fundamentais que levam à ação docente de mediação, a
partir de movimentos de interação, estabelecer as diversas relações existentes no
espaço escolar, sejam elas de ordem econômica, política, social e/ou cultural. Interação,
aqui, entendida como a “ação entre” participantes de um encontro, ou interagentes,
focando a relação estabelecida pelo compartilhamento, numa dimensão coletiva e
colaborativa. (p. 215)
2) Concepção de formação continuada
A formação continuada tem como princípio trabalhar o conteúdo como via de
emancipação social e, neste processo, a educação a distância é um meio para realizar
a oferta de formação. Isto está explicitado no documento quando caracteriza esta
modalidade:
A EaD, na Seed-PR, configura-se como um dos meios de oferta da formação
continuada pela qual os conteúdos devem ser concebidos como vias de emancipação.
(p. 210)
É reafirmada, também, neste documento, a modalidade EaD como uma
perspectiva a mais de formação continuada, destacando-se que o seu uso não tem por
objetivo substituir a formação presencial, enfatizando-se, ainda, que esta formação não
busca atender aos interesses do mercado. Dessa maneira, vincula os objetivos da
formação continuada à concepção de educação vigente na Seed:
Dessa forma, na Seed-PR, a EaD apresenta-se como uma possibilidade a mais de
qualificação dos profissionais da educação, com vistas ao aperfeiçoamento da prática
docente, de modo que haja melhoria do processo de ensino e de aprendizagem nas
escolas. Não há, nessa concepção de EaD, pretensão de substituir a formação presencial
nem de servir aos interesses do mercado de trabalho, regulados pela lógica da
competição e do individualismo. (p. 209)
119
O documento ressalta, também, os investimentos realizados em infraestrutura e
soluções tecnológicas, para a promoção da formação continuada com vistas a garantir
a universalidade de acesso aos professores, por meio da diversificação e ampliação da
oferta:
Os investimentos da Seed-PR têm sido significativos, tanto em ações que
promovem a formação continuada, quanto em infraestrutura e soluções tecnológicas que
visam à diversificação e ampliação da oferta de cursos, com consequente universalidade
de acesso. (p. 210)
Com relação à oferta da modalidade a distância na Seed, esta se encontra assim
explicitada:
Com base nos princípios que balizam as ações da Seed-PR, a modalidade a distância
ofertada por ela acontece, preferencialmente, na formação continuada de profissionais
da educação. Atendendo, também, demanda específica, nas parcerias com o MEC:
formação técnica profissional, em nível médio; formação subseqüente, especialmente
nos municípios nos quais não oferta de cursos presenciais; e, expecionalmente na
formação inicial de professores da educação básica, que se encontram em serviço. (p.
210)
3) Concepção de educação a distância
A concepção de educação a distância se faz presente no texto introdutório do
documento, ressaltando-se seu caráter emancipatório pela via do acesso ao
conhecimento e aos saberes, destacando-se o desenvolvimento da autonomia dos
sujeitos e apontando para uma maior liberdade no processo ensino aprendizagem,
particularmente para os estudos e pesquisas:
Nessas Diretrizes, a EaD é entendida como integrante de um campo teórico mais
amplo, que é o da Educação. Assim, a exemplo das demais modalidades de educação, a
EaD viabiliza, por meio de suas especificidades, o acesso aos saberes, ao conhecimento,
à emancipação. Além disso, oportuniza o desenvolvimento da autonomia do sujeito nos
processos de ensino e de aprendizagem, apontando caminhos para se trabalhar com
mais liberdade em seus estudos e pesquisas. (p. 201)
Entretanto, ao apresentar a evolução da EaD no Brasil, o documento destaca,
entre outros aspectos, o fato desta modalidade se vincular historicamente aos
interesses do mercado de trabalho, ao processo de globalização e aos processos de
produção mundial.
120
Esse breve percurso histórico da EaD no Brasil, possibilita a percepção de que as
diferentes tendências (ensino por correspondência, multimeios e uso de TIC), que
marcaram o desenvolvimento da modalidade, entrecruzaram-se em vários momentos
(BELLONI, 2002). Além disso, a EaD esteve, muitas vezes, a serviço das necessidades do
mercado de trabalho, do processo de globalização e das dinâmicas da produção mundial.
(p. 208)
Por outro lado, sinaliza também que estes princípios permeavam a educação
como um todo, apontando para a posição, assumida pela Seed, de promover uma
reformulação curricular. Nesta reformulação, caberia dar à educação a distância o
mesmo tratamento dado às outras modalidades de ensino.
É oportuno afirmar que não a EaD se pautava em tais princípios, mas a
Educação, como um todo, caminhou a partir dessas premissas.(...) Dessa forma, na
Seed-PR, a EaD apresenta-se como uma possibilidade a mais de qualificação dos
profissionais da educação, com vistas ao aperfeiçoamento da prática docente, de modo
que haja melhoria do processo de ensino e de aprendizagem nas escolas. (p. 208)
Destaca, também, aspectos inerentes a esta modalidade, como as mudanças
nas relações educacionais, decorrentes de outras relações com o tempo e o espaço:
Aliada à ideia de democratização, a EaD possibilita, também, o aprendizado sem
fronteiras, nos diversos níveis da Educação, independente do espaço e tempo,
possibilitando, desse modo, novas formas de interação e de aprendizagem. (p. 201)
Basicamente, o que diferencia a EaD da educação presencial é o fato de que
professores e alunos estão em locais diferentes em parte ou durante todo o período que
aprendem e ensinam; dessa forma, dependem de algum tipo de tecnologia para
transmitir as informações e propiciar meios para interação (MOORE, 2008). Assim, as
características básicas, peculiares à EaD, são a separação espaço/temporal e a
realização de interação por meio das TICs. É importante deixar claro que, nesse
processo, as tecnologias são consideradas meios e não fins educacionais. (p. 210)
No documento é possível identificar a perspectiva de promover por meio da
educação a distância novas formas de interação e aprendizagem. A questão da
mediação é amplamente explorada:
A EaD pressupõe uma concepção de educação que privilegia a atividade
mediadora dentro da prática social, possibilitando, pela via da interlocução expressa na
figura dos professores-tutores, a mediação no processo de elaboração e apropriação do
conhecimento. (p. 213)
Faz-se necessário, em qualquer programa de educação a distância, partir de
conhecimentos historicamente produzidos, que serão trabalhados estabelecendo uma
relação que não seja somente de ensino desses conteúdos, mas de significação humana
e social. Assim sendo, se o objetivo é privilegiar a aquisição do saber vinculado às
121
realidades sociais, “é preciso que os métodos favoreçam a correspondência dos
conteúdos e reconheçam neles o auxílio ao esforço de compreensão da realidade”
(LIBÂNEO, 1983). (p. 213)
Nas ações realizadas em ambientes de aprendizagem, a interação é a
possibilitadora de discussões e reflexões acerca do conhecimento. As influências da
ação e do discurso do sujeito sobre a forma de pensar e agir do outro, presentes num
processo de elaboração e apropriação do conhecimento, poderão ser potencializadas por
diversos elementos de interatividade, decorrentes de diferentes mídias, que de forma
integrada, são de grande importância para o desenvolvimento de sistemas de EaD que
vislumbrem a aprendizagem. (p.215)
As ações realizadas nos ambientes de aprendizagem deverão ser orientadas pelo
professor-tutor que tem a função de mediar pedagogicamente as interações, o conteúdo
e o meio, como também de orientar, presencialmente e a distância, o trabalho, além de
contribuir para o aprofundamento teórico, o encaminhamento metodológico e a avaliação
das atividades dos cursistas. O professor-tutor, também, realiza ações técnicas
referentes a organização de ferramentas e conteúdos do curso em ambiente virtual de
aprendizagem. (p.216)
4) Tecnologias de informação e comunicação para formação continuada
O lugar das tecnologias de informação e comunicação está claramente
explicitado no documento que as aponta como meios para o processo de apropriação
do conhecimento:
(...) a EaD deve ser entendida como parte de um todo, como modalidade
educacional que vai além do mero uso de meios tecnológicos e da situação presencial ou
não do docente; como sendo uma modalidade que possibilita a apropriação dos
conteúdos necessários para a formação profissional e humana. (p. 213)
Particularmente, ao apresentar a evolução da EaD no Brasil, o documento
destaca uma terceira fase desta modalidade vinculando-a ao uso das novas tecnologias
digitais e promovendo inovações no processo de aprendizagem:
(...) Surge na década de 1990 e caracteriza-se por associar as tecnologias digitais
aos meios anteriores. A televisão, as redes telemáticas e os produtos multimídias
ilustram algumas das TIC decorrentes do mundo globalizado, que passam a ser
incorporadas à educação, inaugurando novas formas de aprender (GUIMARÃES, 2007).
(p.203)
Belloni (2002) acredita que para entender o conceito e a prática da EaD é preciso
refletir sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na educação. É
a partir dessas novas fronteiras que apresentamos a EaD como um fenômeno que faz
122
parte de um processo de inovação educacional mais amplo, o qual integra as novas TIC
nos processos educacionais. (p. 202)
A estrutura dos cursos oferecidos, nessa modalidade, devem seguir um
planejamento que permita a incorporação das diferentes mídias (a impressa, a televisiva
com conteúdos gravados e/ou ao vivo e a mídia web), visando à interação, pesquisa e
produção coletiva em ambientes virtuais, buscando sempre atender à especificidade da
EaD. (p. 211)
O entendimento de tecnologia, quando vinculada a EaD, aparece, no documento,
como meio para democratizar o conhecimento e promover a mudança da prática social
e profissional.
Nesse processo, a tecnologia é entendida como meio que, na EaD, potencializa e,
por isso, democratiza o acesso ao conhecimento. Mesmo caracterizada pelos estudos
autônomos, a apropriação do conhecimento por meio de interação é a principal
finalidade no processo de formação continuada na modalidade, sendo, também, um meio
para mudança da prática social e profissional. Esse conhecimento é mediado pela
interlocução entre o sujeito que aprende, o sujeito que ensina (neste caso, figura
representada pelo professor-tutor) e o objeto do conhecimento, ou seja, o conteúdo da
formação continuada. (p. 213)
As tecnologias de informação e comunicação, quando utilizadas na ação
educacional, podem oportunizar novas formas de ver, ler e escrever o mundo. Destaca-
se a possibilidade de articulação teoria e prática nos ambientes virtuais, a integração de
mídias e o uso de novas a antigas tecnologias para promover diferentes representações
do conteúdo.
Mais do que ferramentas e aparatos que podem simular a realidade e/ou ilustrar a
apresentação de conteúdos, o uso das mídias, de forma integrada em educação, mobiliza
e oportuniza novas formas de ver, ler e escrever o mundo. A partir dos conteúdos, são
estabelecidos momentos de diálogo, reflexão e ação, voltados à teoria e à prática nos
ambientes de aprendizagem, que cercam educandos e educadores, dando a
possibilidade de múltiplas decodificações advindas da integração de mídias e de novos e
antigos recursos tecnológicos. (p.216)
Foi escolhida a denominação e-escola para o Ambiente Virtual de Aprendizagem
criado para a realização das atividades de discussão, de interação e de
compartilhamento de experiências, nos cursos da modalidade a distância ofertados pela
Seed-PR. Para viabilizá-lo, foi usado o Moodle como plataforma, por ser desenvolvido em
software livre e aprimorado em colaboração por comunidades virtuais de pesquisa e
instituições de ensino superior. (p. 216)
123
5) Ferramentas interativas para formação continuada
Com o objetivo de identificar as ferramentas de interação utilizadas nos cursos
de formação continuada da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, realizei um
levantamento no curso de professores-tutores disponível na plataforma de cursos da
Seed, ambiente e-escola. As diretrizes de educação a distância da Seed apresentam
diversas tecnologias de informação e comunicação como possibilidades para as
diversas propostas de cursos, como é possível verificar neste recorte:
(...) cursos oferecidos nesta modalidade devem seguir um planejamento que
permita a incorporação das diferentes mídias (a impressa, a televisiva com conteúdos
gravados e/ou ao vivo e a dia web), visando à interação, pesquisa e produção coletiva
em ambientes virtuais, buscando sempre atender à especificidade da EaD. (p. 211)
Entretanto, no levantamento de conteúdos do curso de tutor-professor para a
formação continuada de professores da Seed, encontram-se descritas as ferramentas
de interação disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem, não estando ali incluídas
aquelas possíveis de serem utilizadas para promover interação de forma integrada a
outras tecnologias como televisão e mídia impressa. Nesse curso, é possível encontrar
as ferramentas de interação disponíveis no ambiente e-escola com suas características
e alternativas de uso. O quadro a seguir apresentará estas ferramentas assim como
suas definições.
Ferramentas
Definições
Fórum
O fórum é considerado um espaço de reunião virtual no qual é possível
discutir, responder e comentar assuntos específicos referentes à
determinados temas. Discutir é atividade que, em um espaço virtual,
apresenta características diferentes daquelas que percebemos quando
estabelecemos a mesma discussão em um ambiente presencial. A
discussão assíncrona (tempo diferente não simultâneo), por exemplo, é
uma particularidade dos fóruns estabelecidos em espaços virtuais: as
mensagens postadas ficam registradas e disponíveis para a leitura de
todos os participantes e a discussão acontece quando os participantes
respondem e/ou realizam comentários sobre as postagens uns dos outros.
Diário
O diário é um espaço pessoal, utilizado para relatar caminhos de
aprendizagem, reflexões e/ou diferentes atividades. Esses
encaminhamentos são pessoais, ou seja, não podem ser vistos por outros
participantes de um mesmo curso. Nessa ferramenta, o contato é restrito
entre professor-tutor e cursista. Somente o professor-tutor poderá
124
adicionar comentários de feedback ou avaliar cada anotação postada. O
cursista pode reeditar e aperfeiçoar suas considerações sempre que
necessário.
Wiki
O wiki permite a composição colaborativa de documentos com o uso do
navegador web. Para isso, é adotado um formato simples de linguagem de
marcação."Wiki wiki" significa "super veloz", em língua havaiana, e a
velocidade de criação e atualização das páginas é uma das características
que define a tecnologia wiki. Normalmente, não há revisão anterior à
publicação ou aceitação de mudanças e a maioria dos wikis é aberta a
todo mundo ou às pessoas que têm acesso ao mesmo wiki.
O módulo Wiki permite que os participantes trabalhem juntos, adicionando
novas páginas web ou completando e alterando o conteúdo das páginas
publicadas. As versões anteriores não são canceladas e podem ser
restauradas.
Chat
Por ser considerado um momento de descontração, o chat traz marcas
históricas que o tornam uma das ferramentas mais complexas para se
trabalhar em uma plataforma de Educação a Distância. Para Prado (2002,)
“O chat permite uma conversa em tempo real entre os participantes. A sua
utilização pode ser diversificada […]. Este tipo de encontro online pode
caracterizar-se como um momento criativo, construído coletivamente para
gerar novas ideias e temas a serem estudados e aprofundados. No chat, a
explicitação dos alunos é feita de forma espontânea, uma vez que este
recurso exige uma escrita rápida. Diferentemente dos demais recursos
(Fórum de Discussão, o Blog ou o Correio Eletrônico), onde a explicitação
é feita, geralmente, de forma mais elaborada.
Para um mediador, interpretar as ideias de várias pessoas, ao mesmo
tempo, em um chat, não é fácil, sendo o número de participantes um dos
aspectos a se considerar.
Uma sugestão de utilização do chat é fazer, após a sua realização, o
registro da "conversa", tratando-o como um texto "desorganizado" a ser
explorado tanto pelo professor como pelos alunos, categorizando as
questões emergentes para serem discutidas, por exemplo, no Fórum de
Discussão.
Tarefa
Uma tarefa consiste na descrição ou no enunciado de uma atividade a ser
desenvolvida pelo participante, que pode ser enviada em formato digital ao
servidor da plataforma e será verificada, posteriormente, pelo professor(a)-
tutor(a). A ferramenta tarefa, mormente, é utilizada para envio de
atividades que exijam a escrita de textos ou relatos mais extensos, como
projetos finais, redações, resenhas, relatórios, imagens, etc.
Blog
Blogs são espaços, na internet, para registros de temas e assuntos que
sejam de interesse do autor. No ambiente e-escola, a ferramenta Blog é
utilizada como espaço destinado ao registro de atividades (um caderno
virtual), que refletem a aprendizagem dos alunos. No blog do ambiente e-
escola, também é possível enviar e receber arquivos e imagens.
Quadro 4 - Ferramentas de interação disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem e-
escola.
Fonte: www.e-escola.pr.gov.br
125
5.2 TV PAULO FREIRE: UM CANAL PARA A LIBERDADE
Com o objetivo de revelar a relação existente entre a televisão da Seed, TV
Paulo Freire, e a formação de professores, apresento, a seguir, alguns aspectos da sua
proposta de implantação, por meio de recortes realizados no documento TV Paulo
Freire Um Canal para a Liberdade, Anexo B, produzido em 2006 e que se encontra,
neste momento, em processo de adaptação para publicação como Caderno Temático
da Seed, para posterior distribuição junto aos professores da rede pública estadual de
educação básica.
Este documento tem sua análise direcionada pela temática formação de
professores. Por meio de recortes no documento em questão, procuro identificar a
relevância atribuída ao processo de formação de professores e como este se manifesta
nos objetivos desse canal de televisão e no estabelecimento da sua identidade
institucional.
Com a intenção de complementar e enriquecer esta análise, busquei, também
realizar sua articulação com a pesquisa desenvolvida por Canziani (2009) sobre a TV
Paulo Freire, que oferece algumas contribuições ao tema investigado. Trata-se de
incluir, neste procedimento de pesquisa, no tratamento de seu conteúdo, a articulação
com produções teóricas que podem servir de base para a análise de conteúdos.
O documento apresenta e justifica a criação de um canal de TV na Seed, com o
argumento que a programação exclusiva para professores e a integração com outras
mídias constituem a composição de uma política pública midiática articulada com os
avanços do mundo contemporâneo, buscando, também, a qualidade na educação, por
meio da formação de professores com vistas ao seu aprimoramento:
A proposta de implantação de um canal de tv TV PAULO FREIRE - com uma
programação concebida exclusivamente para a comunidade escolar do Estado do Paraná
e, ainda, integrada com outras mídias existentes, compõe o que podemos denominar
de uma política pública midiática. Política esta que proporciona à escola pública uma
educação articulada com os avanços do mundo contemporâneo e busca a qualidade no
processo educacional, uma vez que aprimora tanto a formação dos professores quanto
as fontes de pesquisa na relação ensino-aprendizagem. (p. 230)
126
Ao destacar as duas principais ações vinculadas à TV Paulo Freire, o documento
apresenta a ampliação da política pública de formação continuada de professores, de
forma diferenciada da existente:
1) ampliar a política pública de formação continuada de professores, com aportes
diferenciados da modalidade já existente. Essa nova modalidade apresenta-se
mais ágil, minimiza custos e possibilita o envolvimento de um número maior de
professores. Outro aspecto relevante é que essa forma de capacitação permite a
integração de diferentes realidades regionais, no âmbito educacional, do Estado
do Paraná, na medida em que professores de diversas localidades têm a
possibilidade de interagir nos programas. (p. 230)
Percebe-se, na defesa dessa ação, o argumento da agilidade, redução de custos
e maior acesso à formação, além de contemplar as diferenças regionais por meio da
interação dos professores com os programas.
Ao se buscarem, na pesquisa de Canziani (2009), os achados acerca da
temática, verifica-se que esta aparece de forma contundente na sua interpretação final.
Essa análise apresentada no capítulo anterior constatou como fator
relevante que, o Canal paranaense se utiliza da linguagem televisão
para promover principalmente a formação continuada de professores,
opinião tanto apresentada pelos entrevistados nos questionários, como
também no documento divulgado pelo Cetepar (PARANÁ, 2006).
Conforme exposto no capítulo anterior, é possível afirmar, baseado
nas respostas dos profissionais da TV Paulo Freire que responderam
aos questionários que, existe uma preocupação do Canal em produzir
fontes audiovisuais para serem utilizadas pelos docentes em sua prática
pedagógica, porém essa temática proposta nos objetivos do Canal
(PARANÁ, 2006) não se de modo prioritário. Isso ocorre porque a
programação voltada para o professor está mais relacionada a essa
formação continuada (sala dos professores) do que ao trabalho
específico com o conteúdo através do audiovisual (sala de aula).
(CANZIANI, 2009, p.)
Com relação à formação de professores e os objetivos propostos no documento
de implantação da TV Paulo Freire, é importante destacar:
Objetivo Geral
Desenvolver programas educativos para televisão a partir da produção de conteúdos
pedagógicos, para transmissão via satélite, web e multimídia, direcionados à
comunidade escolar e à formação continuada dos profissionais da Rede Pública do
Estado do Paraná. (p. 237)
Objetivos Específicos
127
- Desenvolver programação televisiva voltada ao Programa de Formação Continuada dos
Professores da Rede Estadual de Educação;
- Apresentar a produção acadêmica proveniente das IES, que corresponda às
necessidades pedagógicas dos professores da Rede Estadual de Educação;
- Produzir programas articulados com outras tecnologias disponíveis na Seed (Portal,
Livro Didático Público, Projeto Folhas, material didático impresso de apoio ao professor
e Paraná Digital); (p. 237)
Notadamente, aparece a preocupação com a formação continuada de
professores, particularmente no desenvolvimento da programação, na divulgação da
produção acadêmica oriundas das Instituições de Ensino Superior e na articulação com
outras iniciativas de cunho formativo, como é o caso do Livro Didático, do Projeto
Folhas e do Portal da Seed. Tais iniciativas podem ser consideradas iniciativas voltadas
à formação, como ficou constatado no documento sobre a formação continuada na
modalidade a distância, analisado na secção anterior.
Esses aspectos também foram abordados por Canziani (2009) em sua análise
final, primeiramente ao apresentar algumas considerações sobre a presença da
produção acadêmica na programação da TV Paulo Freire:
A atuação da comunidade acadêmica na co-produção da programação
veiculada pela TV Paulo Freire merece destaque conforme análise dos
questionários aplicados aos profissionais do Canal. Não há, portanto,
motivos para não configurar a TV Paulo Freire como TV Educativa uma
vez que está presente tanto no projeto da TV (PARANÁ, 2006, p.9)
como foi confirmado nas entrevistas, existe uma preocupação do canal
paranaense em “Co-produzir programas com professores e alunos, de
forma a valorizar a produção de saberes escolares e permitir o acesso à
diversidade regional do Estado.” (CANZIANI, 2009, p. )
E, também, ao se referir à articulação da produção da TV Paulo Freire com a
política púbica educacional da Seed:
Quando se indagou aos funcionários da TV Paulo Freire sobre a
harmonia entre o que é produzido pelo Canal e o que é proposto pela
Secretaria Estadual de Educação do Paraná, verificou-se que por tratar-
se de uma ação realizada por um órgão pertencente à Seed, seus
princípios são cumpridos à risca com relação ao que se projeta para a
escola. Contudo, esse ponto constituiu-se como resposta ao
questionamento deste estudo que se propunha a investigar se existem
entraves institucionais que limitam/direcionam a produção elaborada e
veiculada pela TV Paulo Freire por ser um canal criado e mantido pelo
governo do estado do Paraná. (CANZIANI, 2009, p.)
128
Para Canziani (2009), pautada por Martín-Barbero, esta vinculação com uma
política pública instituída pelo poder público representa um elemento limitador para a
TV Paulo Freire nesse processo de se constituir como uma televisão educativa. Outras
considerações apresentadas reforçam os argumentos neste sentido:
Entretanto, nesse momento inicial de existência, conforme opinião dos
entrevistados, o Canal não prioriza a produção de fontes audiovisuais
para os professores trabalharem em sala de aula e nem apresenta de
modo regular o que se propõe a mostrar com relação à produção
acadêmica proveniente das Instituições de Ensino Superior (IES)
pertinentes às necessidades pedagógicas dos professores da Rede
Estadual de Ensino do Paraná. Limitando-se muitas vezes à exibição de
programação voltada para a formação de professores. (CANZIANI,
2009, p.)
Cabe considerar que, por ocasião de sua implantação, a questão da sua
vinculação com uma política pública institucional estava claramente apresentada, como
é possível identificar nestes recortes abaixo:
A Formação Continuada dos Profissionais da Rede Estadual, como política da Seed, visa
a qualificação dos profissionais da Educação, focada na prática de ensino, no princípio
da ação-reflexão-ação e no aprofundamento de conhecimento nas áreas específicas,
compreendendo Aperfeiçoamento e Atualização. (p. 234)
A TV PAULO FREIRE contribui com esta política da Seed, pois se caracteriza como um
meio de comunicação que amplia de forma significativa o acesso as mais recentes
discussões do universo educacional, contemplando em sua grade, programas com a
finalidade específica de formação continuada. (p. 234)
Fica, portanto, evidenciado, um emparelhamento teórico com a concepção de
formação continuada presente na Seed, identificada no documento sobre Educação a
Distância. Esta convergência teórica se concretiza na proposição das ações e dos
processos de produção da sua programação. É possível identificar, nesta passagem, a
articulação com outras ações da Seed.
Os programas apresentam e debatem temas de acordo com a demanda da Rede
Educacional, visando aprofundar conhecimentos pertinentes à Educação, com enfoques
diferenciados:
a) orientação curricular: apresentam e debatem as Diretrizes Curriculares a partir da
perspectiva de técnicos pedagógicos dos diversos Departamentos de Ensino da
Seed. Tais discussões estarão integradas com os projetos de produção de
material didático em andamento: Folhas, OACs do Portal Dia-a-Dia Educação,
Livro Didático Público, Cadernos de Apoio ao Professor, Cadernos Temáticos,
entre outros.
129
b) teórico: apresentam e debatem grandes temas com a participação de profissionais
das IES e personalidades de destaque no cenário estadual e nacional;
c) metodológico: apresentam, debatem e valorizam os encaminhamentos
metodológicos de profissionais da rede a partir de suas experiências e
alternativas bem sucedidas, incluindo o uso de tecnologias que contribuem na
relação ensino-aprendizagem. (p. 235)
Entretanto, embora esteja fortemente presente a vinculação da TV Paulo Freire com
a diretriz institucional da Seed, é possível reconhecer alguns aspectos teóricos oriundos
do universo comunicacional da televisão, aspectos esses que se apresentam na sua
concepção teórica com o intuito de contribuir e aprimorar a comunicação presente nas
escolas e enfrentar os desafios das novas linguagens midiáticas:
(...) repensar o papel da escola como parte integrante desse mundo moderno, é assumir-
se também frente aos desafios da novas linguagens midiáticas, como fenômeno
complexo das sociedades contemporâneas e, no caso da televisão, é inegável que seja, a
grande mediadora entre nós e a realidade. (p. 233)
A incorporação da mídia televisiva pela escola implica em reconhecer uma forma
diferenciada de experimentar e construir a realidade. Nesse sentido, as linguagens oral e
escrita não são as únicas que possibilitam a apropriação do conhecimento. Portanto, é
necessário que a escola repense as formas de utilização da televisão, concebendo-a
como aliada do processo ensino-aprendizagem. (p. 233)
Constata-se a dualidade entre a construção de uma autonomia produtiva
implícita na identidade de um veículo comunicacional, especialmente na área da
educacional, que busca contribuir como o processo de “mediação da realidade” e a
responsabilidade de ampliar as fontes de pesquisa e o acesso à formação continuada
dentro de uma política pública instituída.
5.3 AS ENTREVISTAS
Para Silva e Silveira (2007), as entrevistas são instrumentos metodológicos
realizados por meio de um gravador ou vídeo, com o assentimento dos entrevistados,
com ou sem um roteiro prévio, com a finalidade de obter informações junto às pessoas,
leigos ou especialistas.
130
Do ponto de visa da análise de conteúdos, a análise de entrevista é muito
delicada e “exige uma perícia muito mais dominada que a análise de respostas a
questões abertas ou à análise de material impresso”. (BARDIN, 2010, p.90).
No caso de entrevistas semi-estruturadas, Silva e Silveira (2007) destacam que
as perguntas são abertas, feitas de maneira oral, sem uma rigidez seqüencial, podendo
ter questões acrescidas para esclarecer ou instigar o entrevistado. Para Bardin (2010),
as entrevistas semidiretivas ou semi-estruturadas têm como característica o fato de
serem mais curtas e menos complexas que as entrevistas abertas.
Segundo Flick (2006), as entrevistas semi-estruturadas possuem as seguintes
características:
a) o entrevistador pode e deve decidir, durante a entrevista, quando e em que
seqüência fazer quais perguntas;
b) se uma pergunta, por acaso, tiver sido respondida en passant e puder ser
omitida, isso somente poderá ser decidido ad hoc;
c) existe, em muitas vezes, a vida de quando investigar com mais detalhes e
auxiliar o entrevistado em divagações e quando fazê-lo, ou, ao contrário, de
quando retornar ao guia da entrevista nos momentos de digressão do
entrevistado;
d) faz-se necessário escolher entre tentar mencionar certos tópicos apresentados
no guia da entrevista, e ao mesmo tempo, estar aberto ao modo individual do
entrevistado de falar sobre esses tópicos e outros de relevância para ele,
exigindo um alto grau de sensibilidade para o progresso concreto da entrevista e
do entrevistado;
e) está presente a exigência de uma boa visão geral daquilo que já foi dito e de sua
relevância para a questão de pesquisa do estudo e;
f) ocorre a mediação permanente entre o curso da entrevista e o guia da entrevista.
Considerando que as entrevistas semi-estruturadas realizadas na presente
pesquisa foram protagonizadas por especialistas da área, seja da área de
desenvolvimento do software interativo da televisão digital, seja da área de educação a
distância, possível campo de uso da interatividade da televisão digital, faz-se
131
necessário, também, refletir acerca de algumas especificidades que envolvem a
utilização desse instrumento com especialistas.
Em contraste com as entrevistas bibliográficas, aqui um menor
interesse no entrevistado enquanto pessoa (como um todo) de que em
sua capacidade de ser um especialista para um certo campo ou
atividade. Ele é integrado ao estudo não como um caso único, mas
representando um grupo. (...) A variedade das informações
potencialmente relevantes fornecidas pelo entrevistado é muito mais
restrita do que em outras entrevistas. Por essa razão, o guia da
entrevista, aqui, possui um função muito forte no tocante à exclusão de
tópicos improdutivos. (FLICK, 2004, p. 104)
Flick (2004) destaca, também, a importância do pesquisador desenvolver um
roteiro que garanta que a entrevista não se perca em tópicos sem relevância e, ao
mesmo tempo, permita ao especialista apresentar a sua opinião sobre o assunto. Cabe
ressaltar que, no caso dessa pesquisa, o roteiro desenvolvido para a entrevista semi-
estruturada individual com os especialistas foi previamente testado com um integrante
do grupo e depois adaptado e aplicado para os demais.
Outra modalidade de entrevista se apresenta integrando os instrumentos de
coleta de dados utilizados nesta pesquisa. Estreitamente relacionado às entrevistas
coletivas, trata-se das discussões em grupo. Esta técnica foi utilizada junto aos
especialistas da Seed com o objetivo de identificar os possíveis usos da televisão
interativa nos cursos de formação continuada. É possível justificar o seu uso a partir do
argumento de Pollock, apud Flick (2004), onde destaca que, nas entrevistas individuais,
ocorre um estudo de atitudes, opiniões e práticas em situações de isolamento, que
segundo o autor são artificiais e deveriam ser evitadas.
O ponto de partida aqui é o fato de que as opiniões que são apresentadas
ao entrevistador em entrevistas e levantamentos estão desvinculadas das
formas cotidianas de comunicação e de relações. As discussões em
grupo, por outro lado, correspondem à maneira pela qual as opiniões são
geradas, expressadas e cambiadas na vida cotodiana. Outra
característica dessas discussões é a disponibilidade das correções pelo
grupo no que se refere a visões que não estejam corretas, que não
sejam socialmente compartilhadas ou que sejam radicais como um meio
de validar enunciados e pontos de vista. O grupo transforma-se em uma
ferramenta que reconstrói opiniões individuais de forma mais adequada.
(FLICK, 2004, p. 126).
132
Outro aspecto a se considerar nesta modalidade de entrevista coletiva diz
respeito à abordagem deste procedimento, realizada por Flick (2007), que tem como
base o entendimento de que as discussões em grupo possibilitam um meio para se
chegar a uma opinião comum que ultrapassa os limites das opiniões individuais.
Do ponto de vista do processo de moderação da discussão em grupo, Flick
(2007) apresenta o papel do moderador em três perspectivas: direcionamento formal,
apenas determinando o início, o curso e o fim da discussão; direcionamento tópico que
envolve por parte do moderador a inserção de novas perguntas visando o
aprofundamento e ampliação de alguns tópicos; e direcionamento das dinâmicas que
busca evitar a polarização da discussão ou a ausência de participação por parte de
algum membro e ainda, refratar discussões mais acaloradas ou instigar a discussão
com questões provocativas.
Flick (2004) propõe um esquema para orientar o avanço de uma discussão em
grupo, particularmente, nos chamados grupos reais ou naturais, ou seja, aqueles
grupos que já existem na vida cotidiana, como é caso desta pesquisa:
a) inicialmente, dá-se uma explicação (formal) do procedimento;
b) a discussão começa a partir de um estímulo, o qual pode ser uma tese
provocativa, um filme de curta duração, uma palestra sobre um texto ou o
desdobramento de um problema concreto para o qual é necessário achar uma
solução;
Ressalto que a abordagem mais detalhada desse procedimento se justifica tendo
em vista que, na última etapa dessa pesquisa, foi realizada uma discussão em grupo
com a equipe de especialistas da Seed, quando foram apresentadas algumas
características da televisão digital interativa a fim de instigar a discussão acerca das
suas possibilidades de uso.
Com a intenção de concluir o enfoque teórico sobre os procedimentos, técnicas e
instrumentos adotados neste trabalho, é necessário apresentar, ainda, algumas
discussões sobre o processo de transcrição das entrevistas. É comum, nos
apontamentos sobre entrevistas, a orientação para que a transcrição seja realizada
respeitando-se o vocabulário, o estilo e as possíveis contradições dos entrevistados.
133
Para Flick (2004), a transcrição de mensagens gravadas se configura como etapa
necessária para sua interpretação, embora não exista um padrão estabelecido para a
realização desse processo. Alerta para o risco de, pelo rigor do método, ao se buscar a
exatidão para classificar e apresentar os dados, encobrir os possíveis significados
revelados pela mensagem.
Quando os estudos analíticos lingüísticos e conversacionais
concentrarem-se na organização da linguagem, esse tipo de exatidão
pode ser justificada. Porém, em questões mais psicológicas ou
sociológicas, nas quais o intercâmbio lingüístico é um meio para o
estudo de determinados conteúdos, somente caso excepcionais
justificam padrões exagerados de exatidão das transcrições. Parece
mais racional que a transcrição atenha-se apenas ao limite da
quantidade e da exatidão exigido pela questão de pesquisa (Strauss,
1987). Primeiramente uma transcrição de dados excessivamente exata
absorve tempo e energia que poderiam ser investidos de forma mais
racional em sua interpretação. Em segundo lugar, a mensagem e o
significado transcrito são, às vezes, ocultados ao invés de revelados na
diferenciação da transcrição e da conseqüente obscuridade dos
protocolos produzidos. (FLICK, 2004, p. 184)
Flick (2004) argumenta, baseado nos estudos de Van Maanen, que a transcrição
resulta numa ação de substancialidade da realidade na forma de texto, o que permite o
acesso a um campo de interpretação e reconstrução da realidade que foi textualizada.
“Gravar os dados, tomar notas adicionais e transcrever as gravações transforma
realidades interessantes em texto, e o resultado é a produção de contos a partir do
campo” (p.186). Para trabalhar com os textos o autor sugere duas estratégias: a
codificação e/ou categorização da teoria e a análise, de certa forma estritamente
seqüencial, do texto, para reconstrução da estrutura do texto e do caso.
No trabalho realizado nessa pesquisa, optei pela transcrição seqüencial do texto
e pelo estabelecimento de algumas categorias de análise que podem ser identificadas
de forma mais detalhada nas análises das entrevistas apresentadas seguir. Cabe
esclarecer que esta apresentação está organizada a partir das etapas definidas nos
procedimentos metodológicos, quais sejam, a entrevista com desenvolvedor do
software da PUC/RJ, as entrevistas individuais com os especialistas da Seed e a
entrevista coletiva com os especialistas da Seed.
134
5.3.1 ENTREVISTA COM INTEGRANTE DA EQUIPE DO LABORATÓRIO DE
TELEMÍDIA DA PUC/RJ
A entrevista com o especialista que integra o grupo de pesquisa do Laboratório
Telemídia da PUC/RJ, aqui identificado como E1, se caracteriza como um procedimento
de coleta de dados que tem por objetivo investigar os recursos de interatividade
disponíveis na tecnologia da televisão digital do Brasil. As pesquisas desenvolvidas
pelo Laboratório buscam contribuir com o SBTVD no que tange aos requisitos de
interatividade da nova tecnologia. Esse grupo de trabalho integra os grupos técnicos
que, por meio de convênios firmados com o governo federal, buscam soluções e
estabelecem normas de funcionamento, registradas na ABNT, que definem o padrão
brasileiro do sistema de televisão digital. Do ponto de vista do desenvolvimento do
software interativo, ele acontece dividido em duas partes: o Ginga NCL e o Ginga Java,
sendo que o Ginga NCL é desenvolvido dentro da PUC/RJ e o Ginga Java pela
Universidade da Paraíba. Trata-se de um midleware, um sistema operacional
especializado em questões de televisão e, com ele, é possível desenvolver uma
aplicação para rodar na televisão, sendo interpretada por esse software que está dentro
da própria televisão.
Com base nos estudos realizados no capítulo sobre a TV Digital Interativa, bem
como na leitura preliminar dos dados da entrevista realizada no Telemídia, transcritos
em texto no Anexo C, estabeleci algumas categorias temáticas para a análise
qualitativa de conteúdos, quais sejam: software interativo; interatividade; canal de
retorno; uso da interatividade na educação; enfoque regional na TV digital interativa;
produção de conteúdos; e a exigência do público.
1) Sobre o software interativo
Para o especialista na área de desenvolvimento do software, a capacidade
interativa do midleware desenvolvido no Brasil é superior a qualquer modelo que exista
135
em outros países, com recursos mais poderosos e avançados. Isto se deve ao
reconhecimento, por parte do governo federal, da capacidade de pesquisa e
desenvolvimento de tecnologia presentes nas instituições brasileiras.
E1 - O midleware, o midleware do sistema de TV digital, ele não é nem o japonês, nem o
americano e nem o europeu, ele é o brasileiro, foi desenvolvido aqui no Brasil. (p. 255)
E1 - Agora, na parte de software, na parte de midleware, que não é o sistema, é uma parte
do sistema, o sistema é o sistema brasileiro de TV Digital, então o midleware é uma parte
deste sistema, o sistema brasileiro especifica todas as suas partes como elas vão
funcionar, uma das partes é o sistema de midleware, que o Brasil percebeu que ele
tinha uma capacidade de fazer um midleware muito melhor do que as soluções que
existiam la fora. Então, por exemplo, a gente acha isso, e muita gente diz isso, que a
Ginga é um midleware muito mais moderno do que os midlewares europeus, japoneses e
americanos, as soluções deles são mais fracas que as nossas. Então, quando você
escolhe uma solução de midleware pensando na interatividade, a gente tem, hoje,
recursos muito mais poderosos para desenvolver a interatividade do que eles têm lá fora.
(p. 256)
2) Sobre a interatividade
A interatividade possível na televisão é uma interatividade diferente do
computador. O princípio tecnológico da televisão é a imagem e o áudio e a
interatividade se configura como um algo a mais que se acrescenta nesta tecnologia. O
entrevistado chama a atenção para a característica da linguagem televisiva e para os
recursos oriundos desta linguagem, diferente do computador. Seu dispositivo de
acesso, por exemplo, é um controle remoto e não um mouse que permite fazer
variações mais rápidas. Outro elemento limitador do processo interativo está
relacionado ao equipamento da ponta, ou seja, o aparelho de televisão que, por se
constituir como um eletrodoméstico popular, não pode ter um alto custo e, portanto, terá
limites de processamento de dados.
E1 - Quando você tem um processador e uma linguagem onde você pode escrever um
programa, uma linguagem de uso geral, você pode fazer qualquer aplicação que você
imaginar, então, do ponto de vista do computador e da televisão, nos dois casos você
tem capacidade de processamento e você tem linguagem, então o que você imaginar em
princípio você pode fazer. Na televisão, você vai ter limitações do tipo, o governo quer
que a televisão seja barata, então você não vai colocar dentro da televisão uma grande
capacidade de memória, quer dizer algumas televisões que vão ter isto, mas você vai ter
muita televisão que vai ter um computador que vai ter uma capacidade de
processamento de um computador de 08 anos atrás, 06 anos atrás. (...) Porque você não
vai desenvolver, na televisão, interatividade como você tem no computador, porque o
computador é eminentemente interativo, então você o tempo todo está interagindo e
136
você quer que ele responda rápido aquilo, você quer que ele processe muito rápido
aquilo, no caso da televisão o principal ali é você ter um vídeo e um áudio, de tal forma
que você com uma capacidade de processamento coloca um algo a mais naquele áudio e
vídeo que você tá vendo, mas a interatividade que você vai ter, a principio, é uma
interatividade que não exige recursos muito sofisticados. (p. 256)
E1 - (...) considerando que o que vai limitar a interatividade na TV é você fazer uma
aplicação interessante, adequada também àquela linguagem, e na TV você não vai ter
muito interatividade, você ter dez mil interatividades significa que você está prestando
atenção no controle remoto, você não vendo o vídeo mais, então o que você vai ter de
interatividade na TV são pequenas escolhas que você vai fazer. (p. 257)
3) Sobre o canal de retorno
Duas possibilidades de interatividade são apresentadas: com canal de retorno e
sem canal de retorno. A interatividade sem canal de retorno precisa estar prevista na
produção do programa ou ser produzida como recursos complementares ao programa
sendo que a transmissão destes recursos se juntamente com a programação. Tais
recursos compõem um banco de dados que fica armazenado no aparelho de televisão
e pode ser acessado pelo usuário a partir de estímulos presentes no próprio programa.
a interatividade com canal de retorno tem, como pré-requisito, a utilização de outro
meio de comunicação como a internet ou o telefone. Nesse caso, o usuário da sua casa
pode interagir com quem está apresentado o programa ou com a emissora de transmite
a programação.
E1 - Vamos separar o seguinte, você tem dois tipos de interatividade, a interatividade
sem canal de interatividade, sem canal de retorno e uma com canal de retorno ou de
interatividade. (...) repare bem se você tiver em um computador que não esteja ligado na
internet, você tem interatividade, você clica num botão aqui ele mostra outra tela, você
vai no Word manda dar um zoom a tela aumenta, você da um zoom menos a tela diminui,
você ta interagindo, quem é que está respondendo a você? é o programa que ta dentro
do teu computador, então na televisão acontece a mesma coisa, se você tiver um
programa que foi transmitido e esinstalado la na tua televisão o que você fizer ela
entende e responde a você, eu posso fazer um questionário, responder as perguntas e no
final dizer assim, você acertou todas as respostas. Por quê? Porque todas as respostas
estavam dentro da tua televisão, ela sabia quais são as respostas certas. (...) o cara
na emissora ta dando uma palestra e ele quer saber se as pessoas estão entendendo,
então você da sua casa tem que transmitir para a emissora uma informação dizendo
verde, to entendo, vermelho não to entendo, você não consegue transmitir isso da
mesma forma que a emissora ta fazendo, a emissora joga o sinal no ar, pra pessoa que ta
la na emissora saber se você ta entendendo ou não tem que de alguma forma você
conseguir transmitir alguma coisa pra emissora, mas como é que se transmite uma coisa
pra emissora? O sistema de TV não prevê o usuário transmitir para a emissora, o sistema
de TV ele aloca bandas de freqüência (...) então pra você transmitir alguma coisa pra
137
emissora você tem que usar de meios que existem, tipo internet ou celular, (...) você
pode dentro da televisão você pode ter um chip de celular aí esse cara que fez esta
televisão ele botou ali dentro um celular de tal forma que quando você quiser dar uma
resposta na realidade você vai estar fazendo uma ligação de celular para a emissora (...)
a televisão ela pode ter internet, celular, o equipamento, agora ela ta usando uma rede
que não é uma rede de televisão ela ta usando uma rede que é exatamente a rede que ta
ligada no computador. (p. 257)
4) Sobre o uso da interatividade na educação
Quanto à discussão sobre os possíveis ganhos da televisão digital interativa para
a área da educação, o entrevistado reforça seu entendimento de que a televisão digital
deve ser comparada com a televisão analógica e não com o computador, uma vez que
o computador é outro tipo de mídia, possui outra linguagem. Ressalta a previsão de se
ter, na política de concessão das emissoras, um canal da educação com o objetivo de
massificar o conhecimento e viabilizar que a produção de conteúdos no campo da
educação sepor meio de um recurso onde o telespectador possa interagir com essa
produção. Na seqüência, destaco algumas das possíveis alternativas de interatividade
direcionadas à educação apresentadas pelo entrevistado.
E1 - (...) você pode fazer um questionário, de tal forma que o cara vendo, você ta
fazendo perguntas e ele ta respondendo e mesmo sem canal de retorno você pode falar
“não, isso não é assim, é assim, pensa bem direitinho, leia isso, ou compre um livro tal e
leia sobre isso” você pode agregar qualquer tipo de informação que você queira. Você
pode enquanto você ta botando o programa a pessoa pode também entrando em
informações adicionais sobre aquilo, eu quero me aprofundar mais sobre esse assunto,
você ta oferecendo ali possibilidade dele ficar vendo outras coisas, você poderia fazer
coisas desse tipo, a pessoa ta dando uma aula ao vivo e você ta percebendo se as
pessoas tão entendendo ou não e se você está explicando mais ou menos, se está
passando mais ao largo ou não. (...) você poderia por exemplo falar eu vou dar uma aula
sobre história do Brasil, tem as pessoas que tem uma visão da história do Brasil mais
dentro de uma linha, dessa forma, outros tem outra, eu apresento os dois e a pessoa
pode ver os dois, isso daí eu não acho assim, quero dizer se você considerar que hoje
em dia nas televisões a cabo tem muita repetição de programa, porque não como
gerar conteúdo pra tanta emissora assim,então você oferecer uma.. “eu vou falar sobre
história do Brasil aí vou falar de uma forma mais complexa e de uma forma mais
simples”, você poderia fazer também em dois horário diferentes, você poderia falar
assim, “já que eu gerei estes dois conteúdos eu vou transmitir o programa simples na
sexta feira as 10 horas e o complexo ao sábado 10 horas”, (...) você ta dando uma aula
sobre um assunto e você ta tendo uma reorientação se as pessoas estão entendendo e aí
você poder dimensionar isso, mais devagar ou mas rápido, dependendo de como as
pessoas estão entendo, isso me parece que você ta percebendo quem é o teu público e
ta adequando a tua linguagem mais aquele público, parece uma coisa legal. (...) você ter
138
um programa educativo, onde você no final do programa educativo você tem alguns
trechos de avaliação onde a pessoa vai ver, “Ih não to entendendo nada, errei tudo ou
acertei tudo” entendeu? isso é simples de fazer, você ta interagindo ali. (p. 258)
E1 - (...) você ta vendo o programa, ta ouvindo o programa e ali embaixo tem uns
comentários que as pessoas estão fazendo, certo? dúvidas, fulano ta perguntando se
isso daqui é assim assim assim,ai enquanto você ta vendo aquilo também tem um texto
correndo ali, respondendo algumas perguntas, as mais comuns, quer dizer você ta, você
não ta fazendo um programa e dane-se quem ta assistindo, você ta fazendo um programa
e você esta tentando capturar um pouquinho quais são as repercussões que aquilo ta
tendo pra quem você esta transmitindo aquele programa. (...) eu posso ao final do
programa ter uma informação que 90% das pessoas gostariam que aquele programa
fosse transmitido novamente, ou ele fosse aprofundado porque aquele assunto foi muito
interessante, como é que você faz isso com a televisão analógica? (p. 259)
5) Enfoque regional na TV Digital Interativa
E1 - (...) você pode ter na televisão uma identificação de qual é a região que você ta
passando, então por exemplo a televisão poderia transmitir um programa que numa certa
hora ele transmitiria uma programa que seria muito adequado para região sudeste, outro
pra nordeste, outro pra Amazônia, outro pra região sul e aí nas televisões que estão
localizados na região sudeste vai passar a da sudeste... (...) você é homem ou mulher?
Eu sou homem, então esse programa o exemplos que eu vou ter serão mais voltados ao
universo masculino, e outro vai ver mais o feminino. Como aquela orquestra que você viu
(...) (p. 259)
6) Sobre produção de conteúdos
Uma questão apresentada como limitadora para o processo interativo da
televisão digital está relacionada com a capacidade de produção de conteúdos. É
possível vislumbrar uma explosão de demandas por conteúdos, de uma forma simplista,
é possível imaginar que, naquele canal, onde um produto era transmitido, a tecnologia
digital permite que este produto seja multiplicado por três, ou mais.
E1 - (...) o problema disso é você ter uma explosão de produção de conteúdos, por
exemplo a TV digital ela vai criar uma demanda por produção de conteúdos muito
grande, mas agora ao mesmo tempo isso daí tem a demanda de produção de conteúdo
para IPTV que é a TV digital por IP, então se você começar a desenvolver conteúdos que
tem muitas alternativas, na realidade você em uma hora de programa você ta produzindo
três horas de programa. (p. 259)
7) Sobre a exigência do público
` Para o entrevistado, a exigência do público que assiste televisão também muda
com a interatividade. Apresenta a possibilidade de uma maior atividade deste público
139
frente aos programas, gerando mais reflexão, mais dinamismo e posicionamento diante
do que está sendo veiculado.
E1 - (...) uma pessoa que é interativa ela se coloca mais, eu acho que a televisão
sempre... eu tenho filhos que hoje não são mais pequenos, mas quando eles eram mais
pequenos eu tinha muita preocupação da TV ser uma coisa passiva que não exigisse
deles nenhum tipo de movimento que eles poderiam ficar assistindo aquilo como puro
entretenimento ou sem pensar muito naquilo. Hoje em dia está completamente diferente
porque você pode ter programa de televisão que exercita tremendamente a sua reflexão,
agora no momento que você tem o poder de responder, de interagir seguramente vai ser
mais reflexivo naquilo, a televisão analógica você pode ser um telespectador passivo, na
TV digital você vai ser um usuário ativo, você muda o ponto de equilíbrio entre a
passividade e a atividade, seguramente. (p. 259)
5.3.2 ENTREVISTAS INDIVIDUAIS COM ESPECIALISTAS DE EDUCAÇÃO A
DISTÂNCIA DA Seed
Foram realizadas nove entrevistas individuais semi-estruturadas com integrantes
da coordenação de educação a distância da Seed. Toda a equipe que trabalha
diretamente com esta modalidade, na secretaria, foi entrevistada. Inicialmente, o roteiro
a ser utilizado nas entrevistas foi testado com um dos integrantes, identificado neste
documento como E2. Após sua aplicação, foram feitas adequações nesse roteiro,
conforme pode ser identificado na transcrição das entrevistas, Anexo D, se
compararmos as questões formuladas para o entrevistado E2 com as formuladas para
os demais entrevistados (do E3 ao E10).
As entrevistas serviram de instrumento para levantamento de dados, visando o
atendimento dos seguintes objetivos: identificar a presença da linguagem televisiva
utilizada com intenção educativa nos cursos de formação continuada na modalidade a
distância; conhecer as demandas dos organizadores dos cursos relativas à
interatividade; levantar o conhecimento existente, relacionado ao uso da tecnologia da
televisão digital do Brasil, na equipe de especialistas responsáveis pelo programa de
formação continuada.
140
Do ponto de vista da linguagem televisiva, é importante esclarecer que o recorte
de investigação foi pautado nos gêneros e formatos de programas utilizados com mais
freqüência, no processo de recepção a partir da questão da passividade, e ainda sobre
a relevância de se considerar as identidades regionais e locais no processo de
produção dos programas.
Quanto às demandas relativas à interatividade, por parte da equipe de
especialistas em educação a distância, foi necessário iniciar o processo de coleta de
dados verificando, junto aos entrevistados, os níveis de interação esperados nos cursos
e a maneira como são utilizadas as ferramentas interativas. Assim, no roteiro de
questões, Apêndice A, são apresentadas tais temáticas, para sistematizar e organizar
os conhecimentos teóricos e práticos dessa equipe acerca da questão. Considerei
importante saber sobre quais conceitos e estratégias a questão da interatividade se
apresenta.
Por fim, com relação ao objetivo de levantar o conhecimento existente, junto à
equipe de especialistas, sobre a tecnologia da televisão digital interativa, o roteiro de
entrevista limitou a exploração desta questão a duas indagações principais: se conhece
ou se ouviu falar de televisão digital interativa e qual possibilidade de uso vislumbra
para os cursos de formação continuada.
Para a análise de conteúdos das entrevistas transcritas, estabeleci algumas
categorias temáticas, quais sejam: níveis de interação na modalidade a distância;
ferramentas interativas na modalidade a distância; uso da televisão em programas de
formação continuada, com os sub temas gêneros e formatos de programas, a questão
da recepção e o público alvo; e televisão digital interativa.
1) Sobre os níveis de interação na modalidade a distância
Para todos os entrevistados, a interação deve estar contemplada numa proposta de
curso na modalidade EaD, podendo acontecer em dois níveis: interação com os
conteúdos e interação entre os agentes, seja entre alunos e professores, alunos e
tutores, e alunos e alunos.
141
E2 - O que é essencial na EaD é a interação. Porque eu não entendo que aconteça
aprendizagem se não houver interação entre os sujeitos do processo, que é o aluno, o
professor, professor/tutor, todos os alunos interagindo entre si. (p. 262)
E3 - Interação do material, já tem que estar no material, aquela questão da dialogicidade,
e com o professor tutor muito (...) nesta construção do material ta promovendo esta
interação, que vai ser na verdade o conteúdo direto com o cursista. Mas muito maior é a
interação em relação ao tutor que vai ser no caso o mediador didático pedagógico do
conteúdo. (p. 264)
E7- Primeiro é com relação ao conteúdo, que ele venha ao encontro da necessidade do
cursista, aquilo que a gente quer do cursista. Além do conteúdo a interação com o tutor e
com as questões colocadas no ambiente de aprendizagem, que sejam questões bem
claras, bem objetivas e que possam realmente desenvolver esta interação. (p. 276)
E8 - A interação professor aluno, acho que essa é a principal, a interação professor
aluno. A interação aluno aluno, entre os cursistas também é importante, mas acho que é
imprescindível assim a interação professor aluno. (p.278)
Embora apareça a interação diretamente com o conteúdo, constata-se uma
relevância atribuída ao papel do professor que, no processo de ensino-aprendizagem,
não pode ser substituído por recursos midiáticos. Existe, também, a defesa de interação
dinâmica, exercida em particular por aquele de atua com os conteúdos e com o
cursista.
E8 (...) esta interação aluno com o conteúdo pode ser que não de conta, a
importância do professor ali para poder complementar o que o conteúdo não deu conta,
é só o professor que conta de outras necessidades, não existe nenhuma mídia que dê
conta, eu penso assim, que o impresso não vai dar conta, que o vídeo não vai dar conta,
que é com o professor, a interação mais importante, que é o professor que consegue
fazer este laço entre tudo. (p. 278)
E4 - O curso necessita ter uma interação bem dinâmica entre o professor tutor, no caso
aquele que está atuando com os conteúdos e o cursista. (p. 267)
Outra questão apresentada está relacionada à simultaneidade no processo de
interação, à importância da interação acontecer no momento que se recebe a
informação.
E10 - (...) é a interação onde o professor, o cursista tenha maior possibilidade de interagir
mesmo, de trazer contribuições para aquele curso, então eu pensaria num primeiro
momento de usar as ferramentas de maior interação mesmo, não só aquelas ferramentas
onde o aluno deposita, digamos assim, um conteúdo, ou devolve um texto, não que não
tenha interação porque muitas vezes o professor pode estar onde tiver que ele vai dar
resposta pra aquela atividade, mas eu penso muito nas ferramentas de chat, acho
importante, penso que isso seria fundamental, não sei se chat, mas até a questão da web
142
conferência, ou a tele conferência, situações aonde o cursista tem essa possibilidade.
Quanto mais simultâneo pra mim, eu vejo que é mais interativo, ele se sente mais
presente, sente mais parte do curso, quando ele consegue contribuir. (p. 285)
E, ainda, o conceito de interação articulado ao conceito de interatividade e que
se efetiva realmente no processo de produção e reconstrução das mensagens.
E5 - (...) esse conceito de interação e de interatividade, agende sabe que por conta do
desenvolvimento tecnológico estes dois termos eles entraram um pouco em conflito,
porque a gente pega muitos autores que dizem que a interação ela é a relação entre duas
pessoas e quando a gente ta trabalhando com equipamentos, mediado por equipamentos
a gente fala em (...) eu uso o Marco Silva que é um autor que fala sobre a interatividade e
é o foco disso que a gente tem na web 2, dessa novidade que deixa de ser ele
recebe a informação mas ele passa a receber e transformar, a construir e a elaborar, ele
deixa de ser só o receptor e passa a ser emissor também de informação. (p. 270)
2) Sobre ferramentas interativas na modalidade a distância
Destaca-se a importância do fórum no discurso de todos os entrevistados,
qualificado por alguns como a ferramenta que melhor promove a interação com os
cursistas com vistas à aprendizagem reflexiva. Também parece ser a ferramenta mais
utilizada nos cursos da Seed.
E2 - (...) pode ser um fórum, pode ser um chat, eu acho que têm que ser usadas todas as
possíveis, porque dependendo do que se discute, dependendo do perfil do aluno,
dependendo do conteúdo que está sendo tratado uma ou outra vai ser melhor para
atingir os objetivos de aprendizagem. (p. 262)
E3 - (...) o fórum eu considero extremamente importante porque é ali que acontecem as
discussões onde se permeiam, se crescem as discussões pra realização das atividades
em outras ferramentas, no caso na tarefa, no diário. (...) então eu considero o fórum de
discussão a melhor ferramenta que tem para interação, acho que é onde se produz muito,
onde se preparam para outras atividades e por isso que tem que ter uma mediação muito
ativa do tutor, do professor tutor. (p. 264)
E4 - (...) eu acredito que as ferramentas que são mais interativas que eu considero mais
importante são os fóruns. (...) mas o fórum, ele privilegia aquela interação assim
praticamente dialógica. As pessoas entram existe um posicionamento, outro às vezes
não concorda, se posiciona, então eu vi coisas muito interessantes acontecerem nos
fóruns, nos cursos de formação, nos nossos cursos, de defesa de conceitos, de defesa
de cursista, de posicionamento de cursista. (p. 267)
E5 - (...) a plataforma moodle que a gente usa aqui, o e-escola, a partir do fórum, porque
no fórum tá presente, todo discurso, todo o diálogo, então na hora que você entrar ali,
você pode retomar, você pode voltar e pode sei lá, daqui a algum tempo rever aquilo que
você escreveu no fórum, no próprio diário. (...) cada ferramenta que eu vou usar eu tenho
143
que pensar pra que ela serve, falando o fórum por exemplo o que eu percebo é que o
próprio fórum ele tem maneiras de se dispor, você pode colocar o fórum pra uma
resposta simples, aí fica só a questão lá em cima, e alinhado embaixo as respostas, e tem
um outro tipo de fórum que a pessoa cria o tópico e a gente vê isso nos cursos do PDE e
fica aquela “tripa” de novos fóruns (...) mas eu considero assim a ferramenta mais
importante o fórum, eu acho o mais bacana, assim que fomenta, que deixa o registro e
que traz a interatividade. (p. 270)
E7 - Fórum. A gente fez uma proposta com blog e viu que não funcionou muito bem.
Então é o fórum, o diário e a tarefa. Mas que tem interatividade é o fórum. (p. 276)
É possível identificar, também, o uso de outras ferramentas disponíveis para o
processo de interação que contribuem, na opinião dos entrevistados, com o processo
de aprendizagem nos cursos de formação continuada. Tais ferramentas fazem parte do
ambiente e-escola e são descritas pelos entrevistados a partir das suas possibilidades
de uso.
E4 - (...) eu entendo assim, que o diário ele funcionaria como registro, um registro diário
e que as pessoas ainda não desenvolveram este hábito de fazer o seu passo a passo no
curso, eu vejo o diário dessa forma. Sei que ele também serve, e nós usamos inclusive
isso, para você solicitar reflexões mais profundas, mas as pessoas não estão habituadas.
(p. 267)
E5 - (...) trabalha com o fórum, com o diário, com a tarefa e o chat, dependendo do curso.
No curso de tutoria a gente apresenta o chat, porque é uma possibilidade também. (p.
270)
E6 - Nos utilizamos o fórum para as discussões entre os professores da rede e os
professores tutores, utilizamos os diários que é uma maneira de por atividade, que é
mais individual e é só o professor tutor e o professor da rede que tem acesso, e
passamos também a utilizar este ano, que nós começamos a utilizar a tarefa (...) começou
a utilizar e o e-mensagem que é aquele espaço de mensagem direta entre o professor
tutor e professor da rede. (...) E este nível de interação que não pode faltar de forma
nenhuma é por meio dos fóruns e o email mesmo, a mensagem. Porque eu vejo assim, eu
tenho meus professores que estão distantes mas eu me sinto muito perto. Porque
sempre que eu preciso eu envio uma mensagem hoje a noite, amanha eu recebo, eu
estou sempre em contato com eles. (p. 273)
E8 - Então a gente tem o ambiente virtual que a gente pode considerar como ferramenta
de interação com sub ferramentas, tem o fórum, o diário, o chat, a gente usa mais fórum
e diário que interação direta. A tarefa é uma forma de interação, mais é assim uma
tarefa entregue e o professor corrige, mais não é aquela interação que leve mais a uma
discussão, é mais no sentido de discutir a tarefa que foi feita,de corrigir a tarefa que foi
feita, da tarefa que foi solicitada. Se for considerar os outros recursos eu posso
considerar também os vídeos que a gente usa como uma ferramenta de interação, então
o ambiente pode ser uma ferramenta de interação, os vídeos utilizados pode ser uma
144
ferramenta de interação, o material impresso pode ser uma ferramenta de interação. (p.
278)
E9 - Quando se trata de educação a distância, nós pensamos que o fórum seria
importante, uma web conferência, seria muito..., seria imprescindível, no trato do uso dos
recursos tecnológicos. Então eu acredito que, sendo a distância, a web conferência seria
o principal. (...) Bem, nós temos utilizado a plataforma de educação a distância do
Estado, que é o e-escola, e as ferramentas que nós utilizamos, basicamente, o fórum, os
diários, as tarefas, usamos esporadicamente o blog, temos também a possibilidade de
fazer a interação a partir do e-mensagem, que é também um dos recursos que estão
disponíveis, e a biblioteca que serve de repositório de conteúdos. (p.282)
E10 - (...) temos também o diário que é uma ferramenta mais pessoal, como se fosse um
diário de bordo, é utilizado para atividade mais longas, ali o aluno pode escrever mais do
que no fórum, o fórum geralmente são questões mais curtas, então ele pode escrever
mais, e tem essa possibilidade, e o tutor vizualiza aquele atividade, então é mais
pessoal mesmo onde ele pode até colocar questões mais de dificuldades, mais pessoais.
(...) nós temos a tarefa que é um recurso onde o aluno pode enviar um documento de
texto, um documento de áudio, ele produz o que esta sendo solicitado e envia, onde a
interação ela acontece porque o tutor dá o feedback, que o aluno não dá o retorno, no
diário, também, eu respondo o diário, o tutor vai lá e responde pra mim, mas nem sempre
há continuidade. (p. 285)
Cabe ressaltar algumas considerações sobre a ferramenta chat que, por ser
síncrona, atende à exigência de simultaneidade, cuja importância foi destacada pelos
entrevistados ao discorreram sobre a interação. Entretanto, esta ferramenta não está
identificada, pelos entrevistados, entre aquelas mais utilizadas ou que apresentam
maior eficácia quanto ao seu uso, seja por questões técnicas ou de cultura de uso. É
possível inferir que ainda não existe uma familiaridade com relação a este recurso
interativo.
E6 - no caso mesmo do curso que eu tenho lá, semi presencial, a gente tem a condições
de usar o 0800 em alguns momentos, mas o que a gente mais utiliza o tempo todo é
através de email, não é nem o chat, é o email e o fórum mesmo, porque as vezes o chat
você não consegue a resposta naquele momento e a gente não pode ficar o tempo
todo(...) (p. 273)
E5 - (...) mas daí no chat tem que ter a mediação, há a necessidade de ter a mediação, se
bem que no fórum também precisa ter a mediação. Eu acho que se a gente olhar por este
ângulo o papel do mediador é importante também para que aconteça a interatividade ou a
interação. (p. 270)
E10 - (...) o fórum que é mais utilizado, o chat, ele não está sendo muito utilizado por uma
questão técnica, que é a questão do servidor, quando muitos alunos estão no mesmo
momento aconteceu do curso acabar, mas estar disponível é uma questão mais
145
técnica de capacidade e também de cultura de uso, porque o chat é visto como uma
ferramenta muito complicada para o tutor utilizar no sentido de dar conta de moderar.
Então começa-se o chat se você não tem direcionamento, se você não tem as questões
ou a iniciativa de agora nesse momento eu chamo o “fulano” pra conversa ele se perde, é
muito fácil de se perder. Então alguém sai com uma questão Ah! Ontem você foi no
curso?” que não tem nada haver, que é deslocada. (p. 285)
3) Sobre o uso da televisão em programas de formação continuada, os gêneros e
formatos de programas, a questão da recepção e o público alvo
O uso da televisão nos cursos de formação continuada, na opinião da maioria dos
entrevistados, ocorre de maneira restrita, seja o uso da televisão como um veículo de
comunicação, seja como produtora de conteúdos. É possível perceber que seu uso é
um pouco mais frequente quando se trata de produção televisiva disponibilizada, nos
cursos, aos professores, do que como um veículo de comunicação. Entretanto, embora
o uso diretamente da programação apareça de forma pontual em iniciativas isoladas, o
nível de aprovação e interesse por essa possibilidade aparece de forma contundente.
E2 - (...) é o uso da TV como, eu não sei se é teleconferência, acho que é
teleconferênica/videoconferência, quando o professor ta falando direto com os cursistas,
ao vivo. Acho rica, acho bastante rica esta possibilidade por conta da troca, da
possibilidade dos cursistas fazerem questionamentos, perguntas, interagir de alguma
forma, ou por e-mail ou por telefone com o docente que trabalhando com eles. Em
momentos que não são ao vivo, em mídia gravado ou programa gravado, existe a
vantagem do cursista poder assistir a qualquer tempo, que é uma das vantagens da EaD,
dele poder ter acesso ao material do curso a qualquer tempo de acordo com a
possibilidade de horário ou de localização, enfim, independente de qualquer coisa, pode
ver no carro, pode ver em casa, isso é bom, porém não tem a interação que ele teria num
programa ao vivo. (p. 261)
E3 - (...) eu acho que é um ótimo recurso mas tudo tem haver com o que realmente você
propõe, com os objetivos que você propõe no curso, com o que você quer passar. E é
justamente pelo fato que numa videoconferência numa teleconferência você poder estar
fazendo com que o aluno tenha o contato direto com o docente no caso, então neste
sentido é que eu acho que ela é rica. (p. 264)
E4 - (...) nos cursos que eu participei de formação continuada não houve assim um uso
muito grande da televisão, praticamente ele foi nulo, muito pouco. Pede-se mais vídeo,
remete-se pra internet, eu entendo assim, que havendo a possibilidade de promover a
mesma interação que a rede te oferece via televisão, eu acho ela muito mais prática,
porque hoje em dia você tem n possibilidades de acessar uma televisão. Mas nos nossos
cursos nós não temos utilizado a televisão com muita freqüência. (...) Nos cursos que
nós organizamos aqui nós temos utilizado muito os programas da TV Paulo Freire, mas
146
sempre direcionando, para entrar no portal e no portal selecionar o programa. Entrar no
link que dá acesso aquela programação. (p. 267)
E5 - Eu acho necessário o uso da televisão. A televisão ela está presente em todos os
lugares, em todos os ambientes, acho que se fizer uma pesquisa é difícil hoje quem não
tenha acesso (...) pra nós nos cursos eu traria televisão, mas com as nossas gravações,
nossos trabalhos, com fragmentos pequenos, nada muito grande para poder ficar
disponível no próprio ambiente, clicou assistiu ali um videozinho, um pequeno trecho,
alguma informação e dar continuidade porque isso ajuda também, a parte estética. (p.
271)
E6 - (...) com a TV Pendrive, a TV Multimídia, passaram uma forma diferente de nós
trabalharmos. Então nós assistíamos algumas palestras, algumas discussões, pela TV e
dávamos continuidade na sala de aula. Eu acho que isto facilitou bastante porque é
muito melhor a qualidade do vídeo, das imagens passaram a ficar bem melhor, e também
do áudio. (p. 273)
E7 - Eu considero importante na TV é a análise dos programas, do que é veiculado nesta
televisão, a análise crítica. Fazer a análise crítica de tudo que é veiculado na televisão e
as possibilidades pedagógicas de trabalhar com tudo que veiculado na televisão com o
aluno (...) (p.276)
E8 - (...) teve uma vez que nós usamos com teleconferência que foi ao vivo. Assim nessa
experiência que a gente teve, então teve a apresentação da professora ela fez a fala e
depois vieram os questionamentos ou pro chat ou por 0800, que a gente fez com o PDE.
Assim eu não vi nenhuma limitação, neste modelo, agora se for o modelo que é gravado,
o programa que foi gravado e depois passa num determinado dia para o grupo assistir,
se não tiver a figura do tutor presencial para poder sanar as possíveis dúvidas, daí eu
vejo como limitação. (p.278)
E9 - O uso propriamente da TV na educação a distância ele ocorre esporadicamente e em
alguns cursos nós chegamos a utilizar, mas em se tratando de tela de vídeo nós temos
links para vídeos que estão disponíveis na internet, então a gente tem utilizado quando é
possível. E também a disponibilidade de alguns recursos via o próprio portal da
TV do Estado que nós utilizamos quando queremos dar ênfase em algum conteúdo,
algum evento. (p.282)
E10 - (...) experiências que eu tive, por exemplo, com o PDE, quando eu estava no
núcleo, e nós tivemos um momento que foi por meio da TV Paulo Freire que os
professores tiveram uma conferência com um professor sobre determinado tema, todos
se reuniram no núcleo para assistir e era ao vivo. Então a apresentadora fazia as
questões e o pessoal tinha oportunidade de mandar, as pessoas enviavam questões por
chat, ou por 0800 e foi muito interessante, ...Então eu penso que seria uma ferramenta a
mais, assim como a web conferência que é simultânera e também porque ele não se
expõe muito, porque ele não se expõe mais pode participar, quero dizer “ninguém me
vendo mas eu to participando e nossa! minha pergunta ela foi válida”. (p. 286)
147
Para os entrevistados, as limitações de uso da televisão são identificadas na
comparação com o computador e a internet, considerando os limites da interação, a
falta de dinamismo no processo de recepção da mensagem, o poder de manipulação
pela repetição, e um certo isolamento do usuário da televisão.
E10 - (...) a TV como o grande canal de comunicação, que apesar da internet é como se
fosse insubstituível, não é bem essa palavra que eu quero usar, mas ela é digamos
poderosa, ela tem esse poder de atração de ser atrativa, enfim de formar opinião mas ao
mesmo tempo, dependendo da programação ela pode ter essa questão de ser
persuasiva, influenciar.... Então quando eu vejo a TV digital, começando esta questão da
TV digital me parece que a TV ta acordando para aquilo que ela ta perdendo que é
digamos esta questão interativa, interativa que a internet proporciona. ... então o lado
negativo é que as vezes a programação, principalmente canal de TV aberta que é a
maioria da população tem acesso a TV aberta, então é aquilo que ele recebe e é isso.
(p.286)
E5 - (...) o “cara” fica duas horas lá gravando, daí eles colocam o vídeo para a pessoa que
ta fazendo o curso ficar assistindo duas horas daquilo. Eu acho que neste sentido limita
porque pelo cansaço, pelo exagero, por mais que a pessoa fique se movimentando.
(p.271)
E6 - O que atrapalha um pouquinho é que neste momento você apenas ouve você não
tem como participar junto, então você ta ouvindo e se você tiver alguma dúvida ela tem
que ser esclarecida entre as pessoas que estão no grupo, se nós precisarmos ir atrás
fica um pouco mais difícil. (p.273)
Sobre os gêneros e formatos de programas mais utilizados na ação educacional,
percebe-se que existe uma predominância na aprovação de formatos como entrevistas,
mesas redondas e debates, embora, para os profissionais envolvidos na organização
dos cursos, esta escolha o aconteça de forma mais reflexiva e intencional e sim a
partir de modelos pré-estabelecidos. Para a maioria dos entrevistados, esses
programas, característicos do gênero chamado por Arlindo Machado de “programas
pautados no diálogo”, possuem uma afinidade imediata com o processo de formação.
E2 - Nos nossos cursos nós utilizamos em geral pequenos documentários, sobre o
assunto ou tema tratado, pequenos documentários, usamos programas de entrevistas e
programas de debate, mesas redondas e também usamos pequenos trechos de filmes de
ficção e também teleconferências (...) eu particularmente gosto de programas de
documentários, de entrevistas... pra minha aprendizagem estes são legais, são
informativos, tem bastante informação(...) (p. 263)
E4 - Eu gosto muito de programas de entrevista, gosto de mesa redonda. Sou professora
da área de língua portuguesa, então pensando assim que às vezes um videoclipe auxilia
muito na compreensão, porque não é palavra é imagem também. Mas eu acredito que
148
eu ficaria com estes formatos assim, mesa redonda, para formação de professores né, a
entrevista. (p.268)
E6 - a entrevista, com certeza a entrevista. Alguns tele jornais, documentários, e até os
seriados também, hoje eu penso que nós temos seriados muito bons, não estou falando
exatamente das mini-séries, mas de seriados mesmo que tratam de temas que se pode
trabalhar num único programa, são mais curtos e não ficam tão longos. (...) No caso da
mesa redonda porque são debates, eu acredito que sim porque são maneiras de você
conhecer outras idéias, outras pessoas, porque se você tem uma única entrevista muitas
vezes a pessoa está simplesmente passando o que ela pensa e não se confronta com
outros pensamentos. A mesa redonda eu acho interessante por isso. (p.274)
E7 - Eu acho uma mesa redonda, sempre acho que você sai, quando tem uma mesa
redonda eu acho que você sai muito mais fortalecido com palestras, com várias
exibições, várias falas, então eu acho bastante interessante. (p. 277)
E8 - Nas propostas de curso o que a gente mais utiliza é o de entrevista, daí seja uma
pessoa entrevistando um docente, ou várias pessoas conversando, não sei se isto entra
no mesmo gênero, uma mesa redonda (...) Eu acho que pelo modelo que a gente ja tem
estabelecido na cabeça. Agora que você falou eu posso pensar, qual é o modelo que a
gente tem que conhece, é o da TV escola, e a formação de professores é sempre neste
formato, e quando aparece alguma coisa de ficção não é pra formar um professor é um
conteúdo complementar, geralmente, pra ser usado com aluno na sala de aula. (p. 280)
E9 - Bem, eu tenho visto os programas e acredito que as mesas redondas seriam
essências para ampliar os conhecimentos. Eu acho que se nós tivéssemos a
possibildiade de além dessas mesas redondas pudéssemos ter seminários em que
tivesse a possibilidade das pessoas fazerem as diferentes interações auxiliaria bastante
a nossa caminhada na educação. (p. 283)
E10 - (...) acho que mesa redonda, penso que seria bem interessante, com palestrantes
ou até como foi nesta experiência que foi uma entrevista que eu acho que é outra
situação, quando a pessoa está sendo entrevistada, mas em alguns momentos ela para
pra ser entrevistada por quem está assistindo. Então, entrevistas, mesas redondas. (p.
268)
Em algumas entrevistas, é sugerido o uso de imagens, de maneira a
complementar os conteúdos tratados em um seminário ou conferência. A questão de
integrar o uso da televisão a outras ferramentas de comunicação como o telefone, o e-
mail ou chat também aparece de forma frequente nas respostas.
E4 - acho que da pra você enriquecer alguns deles trazendo uns videoclips, deixar de
uma forma mais ilustrativa trabalhar mais com a questão das imagens, um documentário,
mas inserido dentro deste formato de entrevista sendo necessário o diálogo sobre as
imagens. (p. 268)
E9 - eu acho que se nós tivéssemos seminários possibilitaria que às pessoas que estão
distantes participarem, ampliaria o leque, e a troca de informações, as interações
149
propriamente ditas poderiam evidenciar como se dá cada questão em cada localidade. (p.
283)
E10 - quando a gente fala em educação, a primeira idéia que a gente tem é seminário,
mesa redonda, mas quando eu falo em outros programas que poderiam ser bem
atrativos. Não é porque é uma mesa redonda que vai ser séria, fechada, chata, não é
naquele sentido de sentar e ouvir. Teria que ter um roteiro diferenciado, talvez aquele
professor poderia estar falando e entrasse imagem ou no momento que ele abordou tal
assunto, “ah! então vamos saber com o pessoal do Estado tal o que eles acham?” (p.
289)
A questão da escolha do formato dos programas para a formação continuada é
apresentada, por alguns entrevistados, sob a mesma perspectiva das ferramentas
interativas, ou seja, segundo eles, a escolha deve se adequar a um planejamento que
contemple a finalidade do curso.
E3 - (...) cai novamente em planejamento de curso. Quer dizer os objetivos, o que eu me
proponho, pode ter momentos em que eu possa usar partes de um filme, vai ter momento
em que uma entrevista vai caber muito bem, acho que tudo tem haver com o que você
propõe no curso. Penso que da pra utilizar vários gêneros, a própria videoconferência,
mas tudo tem que haver com o conteúdo que eu estou propondo no meu curso. (p.265)
E5 - Dependendo do curso pode ser um videoclipe, pode ser uma entrevista, dependo do
planejamento, da intencionalidade que se tem, do público, pode ser utilizado qualquer
tipo de programa, acho que não precisa fechar. (p. 272)
E7 - (...) mas dependendo da proposta que você quer eu acho que talvez caberiam vários
outros formatos. Por exemplo, um curso de EJA, educação de jovens e adultos, então
talvez seria uma entrevista com a comunidade por exemplo, se a gente pega a educação
profissional, poderia usar outro formato, como uma ficção, ou um programa de estúdio
que mostrasse como que se faz, indo lá na empresa trazendo como um documentário. (p.
277)
No procedimento de coleta de dados, os entrevistados foram instigados a refletir
sobre o processo de recepção da mensagem televisiva a partir do argumento da
passividade. De uma forma geral, os especialistas em educação a distância contrapõem
a passividade à interação. Alguns argumentam acerca da possibilidade reativa implícita
na recepção da mensagem. Outros relacionam a passividade a uma certa manipulação
ou cooptação pela mensagem.
E4 - (...) acho que na maioria dos casos ela acaba sendo passiva você recebe a
informação e digamos assim por uma média, a maioria recebe passivamente, mas você
vai encontrar também pessoas que no momento em que recebem a informação eles
interagem, eles tem uma reação, de concordância, de discordância, comentam com o
outro, então eu acho que depende muito da própria pessoa. (p. 268)
150
E5 - Eu acho que pra muitos é. Pra muitas pessoas é. E é interessante porque se você vê,
daí você de novo, daí você de novo, pode até ser uma inverdade, mas você viu
tanto aquilo que você mesmo passa a reproduzir. (p. 271)
E7 - Ele é passivo porque ele não participa, mas ele não é passivo com relação ao
pensamento, ou a mensagem que é veiculada, que o receptor recebe, ele na hora que
recebe aquela mensagem ele faz uma... ele compreende ou não compreende aquela
mensagem, ele consegue fazer uma interpretação, ele consegue se perceber com relação
aquilo, mas assim passividade total não. (...) só não tem interação. (p.276)
E8 - Não é passivo, né. Não é passivo porque quando você recebe você faz um filtro
assim, não tem nada que você receba e que chegue diretamente a você e você aceite do
jeito que você recebeu, tem as leituras anteriores, as vivências anteriores que fazem com
que você leia aquilo que você ta recebendo de uma forma diferenciada. Não chega direto
e te influencia, você tem que tomar decisão se você vai ouvir aquilo que você recebeu
e tomar uma atitude ou não. (p.278)
E9 - A forma como se estruturam os conteúdos e a forma como se ensina ainda é, ela é
um fator limitante. Ela faz com que o cidadãos sejam passivos, ainda. Falta muito, acho
que por questão de cultura, falta muito ainda para esse avanço, para que aja interação,
essa interatividade. (...) na verdade eu creio que a televisão deveria avançar de forma que
as pessoas pudessem fazer uma interação mais efetiva e muitas vezes a TV na forma que
está hoje, lógico que avançando, mas ainda falta muito para que o cidadão possa
realmente se tornar crítico a partir da tela. (p. 282)
E10 - Eu vejo que hoje ela ainda é, eu diria assim, ela é mais passiva, eu recebo esta
mensagem e..., se eu vejo uma programação que eu não gosto, (...) eu quero emitir a
minha opinião sobre aquilo que eu não gostei (...) eu posso escrever uma carta, posso
mandar um email para a emissora, é o que eu posso fazer hoje, então, mas pra essas
pessoas escrever essa carta, mandar esse email, deixar uma opinião de repúdio dela
enfim, ela tem que ter outras questões, outros fatores culturais pra tomar essa iniciativa,
que hoje pensando um pouco na educação, eu não vejo. (p.287)
Alguns entrevistados relacionaram a questão da recepção ao processo de
formação, quando a televisão é utilizada em cursos. Neste caso, o entendimento é que
a possibilidade de reação ao que se apresenta é significativo para a aprendizagem,
gerando reflexão sobre o conteúdo e provocando a ampliação do conhecimento.
E3 - Na recepção... passivo... Acho que não, acho que é ativo. A não ser que não aja
interesse de alguma das partes, mas senão eu acredito que seja ativo. Na verdade é
assim, se você ta trabalhando em um curso, você ta passando algo interessante e
quem la ele vai em busca daquele conteúdo, daquele conhecimento que ta sendo
transmitido, então não tem como ser passivo. (p. 265)
E6 - Seria digamos assim, se eu visse sozinha ali e tivesse que aceitar, mas a forma
como são feitas as capacitações eu não considero assim porque vem o material para que
a gente assista e nós temos a condição de discutir entre o grupo de professores que
151
estão ali naquele momento e geralmente nós elaboramos um documento enviado a Seed,
pelo menos foi este o trabalho que nós sempre procuramos fazer nas escolas. (p. 274)
É possível, também, identificar alguns posicionamentos acerca da recepção, a
partir de uma reflexão sobre a ausência de um canal de retorno que possibilitaria uma
interação do sujeito mais efetiva com mensagem.
E8 - o é interação. É interação mas não com o conteúdo. É uma interação do conteúdo
comigo mas não eu com o conteúdo. Da forma como é posta da TV que a gente conhece
hoje ou do conteúdo veiculado hoje via televisão aquele conteúdo não vai ser modificado
com o que eu to pensando. Eu posso ser modificada ou não, pelas leituras que eu faço,
mas nesse momento, da forma que ta posta, do jeito que eu conheço televisão hoje, esse
conteúdo não vai ser influenciado, então eu não considero que eu que assisto em relação
ao conteúdo, por enquanto não tem interação. Vem de lá pra cá, mas não daqui pra lá. (p.
279)
E10 - Eu diria que recebe passivamente, hoje a maioria da população recebe
passivamente. ... até os programas estilo você decide, mas ele te três opções de
ligação, você pode ligar pra A, B ou C e as vezes eu quero, eu gostaria que tivesse a
alternativa D, mas eu também não tenho uma reação e por isso acho que essa
passividade predomina. Ele tem situações para reagir mas ele tem que ter por trás uma
questão cultural de acesso as outras informações pra ele ter esse despertar de que ele
pode influenciar aquilo. (p. 287)
Para finalizar o levantamento de dados sobre o uso da televisão em cursos
destinados à formação continuada de professores, foi proposto, aos entrevistados,
pensarem acerca da produção televisiva a partir da perspectiva de se considerar ou não
o público alvo, particularmente nos aspectos relacionados a suas identidades. Com
relação a esta questão, duas posições diferentes foram apresentadas. Aqueles que
vinculam a produção televisiva às necessidades do curso, do conteúdo, do
conhecimento e aqueles que entendem como necessário refletir, na produção, as
característica presentes no público ao qual ela se destina. Aqueles que defendem uma
abordagem mais geral nos programas apresentam os seguintes argumentos:
E4 - (...) se nós formos pensar num curso de formação continuada para professores da
rede do Paraná nós não podemos pensar em identidades menores que o Paraná, porque
senão você vai reduzir muito. Você vai ter que fazer diversos cursos com o mesmo
conteúdo buscando estabelecer as relações. Eu acredito que você tem que pensar assim,
este conteúdo X para professores da área de língua portuguesa, para professores da área
de história, pode ser o mesmo conteúdo, um conteúdo interdisciplinar, mas pensando
nesta especificidade, de que forma que eu vou adequar a minha linguagem para atingir
melhor esse público. (p.269)
152
E7 - como nós estamos falando em curso para formação continuada aos professores, eu
acho que ele vai se aprofundar naquilo que faz a formação continuada dele, ele vai ter
todo um aspecto geral, do curso todo, mas ele vai estar se aprofundando um pouquinho
mais em determinado conteúdo, na área mesmo de atuação dele, direto, mais direta.
Fortalecendo está área também, porque é um curso de formação continuada. (p. 277)
E9 - (...) a produção desse tipo de programa ele deve atender de forma geral a todas as
classes, todas as regiões. Assim, por exemplo, se eu estou na região sul e o
desenvolvimento é maior na região sul, porque o pessoal de uma outra região que não
seja do sul não pode saber de como é tratado o conhecimento naquela localidade.
Acho que nós temos que ter a oportunidade de fazer a inclusão, então a partir do
momentos que você ultrapassa essas barreiras regionais a chance de você ter uma
amplitude do conhecimento (...) uma programação mais aberta, vamos dizer assim, ela
vai possibilitar que todas as pessoas, se o se aproximarem, podem chegar perto do
real que existe em cada lugar do Estado. (...) mas se trata de formação eu penso que
visão deve ser outra, porque se a intenção é formar você tem que ter o olhar mais
elaborado pra essa questão, mais abrangente. (p. 284)
Entre aqueles que fazem a defesa de uma produção mais voltada às diferentes
identidades, as reflexões estão assim traduzidas:
E2 - O perfil da maioria dos cursistas que a gente pode colocar como iguais, mas o perfil
deles, são professores de alguma disciplina, eles são professores do interior, eles são
professores indígenas. Considerar o perfil pode ajudar, cada perfil tem uma preferência,
de programas e acho que pode ajudar. (p. 263)
E5 - Quem a gente tem? Professor. Mas que tipo de professor é esse? E é pra eles que a
gente escreveu. Então eu acho que a gente tem que olhar o público sim. No nosso caso.
Não digo assim grandes massas porque daí fica difícil, você vai ter uma diversidade
muito grande de pessoas. (p. 272)
E6 - Porque pra mim cultura é tudo, o local que ele vive, a escola que ele estudou, o
conhecimento que ele tem da vida, dele mesmo, porque cultura é toda a pessoa, então a
cultura tem que ser considerada sim, o aspecto cultural tem que ser levado em conta. (p.
275)
E8 - Eu penso que sim porque tem que ficar mais próximo de quem ta recebendo, mas
não é uma preocupação nossa, é uma preocupação de quem produz (...) então eu penso
que quem produz é que deveria pensar nisso, deveria. Acho que quando pega a demanda
deveria perguntar pra quem que é, mas nem sempre os programas que foram utilizados,
foram demandas para aquele curso, porque a gente pega muita coisa pronta. (...) porque
é mais fácil do grupo se reconhecer e de internalizar questões que sejam necessárias, de
aprendizagem, pra trabalho, eu penso que sim. Nessa demanda iria contemplar. Assim
como se fosse considerar professores que estão em início de carreira, tinha que ser um
enfoque diferente de professores que estão(...) porque os professores que estão em
início de carreira tem necessidades diferentes de professores que estão em fim de
carreira (...) (p. 280)
153
E10 - (...) porque quem oferta um programa, as vezes pra mim ta maravilhoso, ta lindo, ta
fantástico, mas não é o que quem do outro lado, ele não necessita daquilo, ele vai
assistir um programa que vai falar de uma coisa muito urbana e daí penso na escola
que eu trabalhei, (...) e de repente os professores iriam ficar perdidos, até seria
interessante mas, e os exemplos, talvez a primeira observação que ele iria fazer “é mas
só ta vendo Curitiba”. (p. 289)
4) Sobre a televisão digital interativa
O objetivo, no levantamento de dados acerca deste tema, foi buscar, junto aos
especialistas de educação a distância da Seed, o conhecimento existente sobre as
possibilidades de interatividade da televisão digital e ainda, se possível, identificar as
expectativas em torno do seu uso nos cursos. De uma maneira geral, a maioria dos
entrevistados, embora tenha ouvido ou lido a respeito, possui poucas informações
mais concretas sobre as perspectivas de uso deste recurso tecnológico.
E2 - Eu sei muito pouco sobre a TV Digital interativa, mas eu imagino que como a TV
digital permite um acesso em lugares diferenciados, como no celular, no aparelho do
carro, TV pra carro tal e qual, o cursista vai ter maior facilidade de acesso ao curso, aos
conteúdos, podendo interagir com o que sendo apresentado pra ele. (...) a
possibilidade de interação é um ganho para a aprendizagem, na educação a
distância,(...) (p. 261)
E3 - ouvi falar, mas só de ouvir falar mesmo. ...tem tudo a coloborar pra nós porque
seria uma maneira de ser mais, aquilo que eu falei antes, que o custo de uma web
conferência ou teleconferência seria alto, neste sentido se você tem todo um aparato
seria uma maneira de você estar promovendo o curso, utilizando esta ferramenta e onde
o cursista poderia ter uma outra opção de estar interagindo com os docentes ou com o
tutores. (p. 265)
E4 - Utilizar a TV Paulo Freire para trabalhar conteúdos da formação continuada ofertada
para os nossos professores e a possibilidade desses professores estarem recebendo
isso através do seu celular, através de uma TV portátil que ele tenha. Acho que é possível
se atingir um número maior de pessoas, independente de lugar, através da TV digital. (p.
268)
E5 - Pelo que eu vi assim num futuro muito próximo é a integração de tudo. É acoplar
todas as coisas. ...Todas essas coisas elas estarem acopladas num só. Você vai ter o lap
top, a televisão, a internet, tudo unido em uma coisa só. Então eu penso que favorece, só
tem a favorecer, acho que a gente caminha pra isso. (...) Porque a TV ela é interativa pelo
que eu conheço é a possibilidade de você estar interagindo nas programações, é você
estar respondendo, mais que um big brother, uma coisa que é assim uma emissão e
recepção. (p. 272)
154
E7 - Eu acharia bastante interessante, TV interativa, TV digital, pela interatividade, por
proporcionar interatividade... é que ela proporciona ao mesmo tempo que você veicula o
programa, veicula uma proposta, e ao mesmo tempo o telespectador, o receptor possa
estar interagindo com ela, ao mesmo tempo.(...) Eu acho que seria, por estar ao mesmo
tempo apresentando e “conversandoe você alcançaria um público grande. A vantagem
é o grande público, o maior alcance e ao mesmo tempo interagir com o conteúdo. (p. 276)
E9 - eu tenho conhecimento da questão da mobilidade, da questão da própria
interatividade que é possível através do uso desse recurso. eu acredito que a
videoconferência seria um fator preponderante no uso da TV digital. ...eu acho que as
escolas poderiam fazer interações, trocas permanentes de conteúdos, de saberes, de
questão cultural mesmo. (p. 282)
E10 - (...) eu não sei como vai funcionar, dizem que é por controle remoto, que você vai
poder, vai ter por exemplo o chat, que você vai poder conversar por chat, fórum essas
coisas. Eu não entendo muito como vai funcionar na prática, mas se for como tem se
comentado, eu penso que as alternativas assim, principalmente pra cursos que não tem
ambientes virtuais de aprendizagem e nós sabemos que ainda existem cursos a distância
no modelo que é a TV, ainda existe aquele modelo em que o grupo de encontra, senta
coloca a fita , assiste, manda as questões pelo correio. Ainda existem cursos assim.
Neste sentido eu penso que seria maravilhoso pela questão da interação mesmo. A
questão de ser simultâneo. (...) Não sei se vão poder produzir ou não, estou supondo,
não tenho idéia, mas talvez até poder produzir e enviar. (p. 288)
Existe, por parte dos entrevistados, o estabelecimento imediato de uma relação
de comparação da televisão digital interativa com o computador, buscando, nesta
mídia, as possíveis alternativas de uso para a televisão, ou ainda, em alguns
momentos, o computador é colocado como ideal de aprimoramento para a televisão.
Outro ponto importante a ser destacado, apresentado apenas por um dos entrevistados,
mas com um argumento de grande coerência, diz respeito ao questionamento acerca
do possível ganho desta tecnologia, considerando que existe o computador
oferecendo os serviços que ela se propõe a oferecer.
E8 - (...) eu vejo com as mesmas possibilidades que a gente tem no computador, porque
o digital que eu conheço e que eu imagino é o digital que eu lido é o de arquivo digital de
computador e eu penso que a TV digital vai ter todas as possibilidades que tenho no
computador de entrar e comentar um vídeo e vou ter de entrar e comentar um
vídeo, de fazer o meu vídeo e agregar e continuar a história, ...então tudo que tem no
computador hoje eu penso que vai ser possível com a TV digital, pela característica do
digital. (...) Eu não sei se amplia as possibilidades de interação, porque se ela tiver as
mesmas características amplia por ser uma outra possibilidade de acessar a internet em
outro lugar. Então amplia na televisão e não amplia como perspectiva dentro das
alternativas de interação existentes. (...) eu não sei se vai ter mais possibilidades
diferentes do que eu tenho no computador, pode ser que tenha, daí no caso ampliaria,
mas da forma que eu leio, que eu entendo, tudo que eu tenho no computador eu vou
155
transpor pra TV, então vai ampliar porque além de acessar no computador eu vou
acessar na TV ou eu vou acessar no celular mas são as mesmas coisas na verdade. (p.
279)
E10 - (...) acho que a TV digital ela tá indo pra esse caminho... “a gente tem que
acompanhar a internet, a gente tem que acompanhar esse usuário,” que na verdade não
é mais um usuário, ele não quer mais ser usuário, ele quer interagir. (...) a TV acordou
para o que a internet tá. Nesta convergência assim, hoje você tem tudo no celular, tem
tudo, TV, rádio. Acho que ela acordando pra essa convergência de todas as mídias. A
primeira coisa que me vem. Qual vai ser o maior ganho? É a questão da interação é a
questão da proximidade. (p. 288)
5.3.3 ENTREVISTA COLETIVA COM ESPECIALISTAS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
DA Seed
Com o objetivo de apresentar, para equipe de especialistas de educação a
distância da Seed, os recursos de interatividade da televisão digital do Brasil, com
vistas ao seu uso no programa de formação continuada de professores, optei pela
realização de entrevista coletiva, como instrumento de coleta de dados. As informações
levantadas foram transcritas, Anexo E, e passaram pelo procedimento de análise
global, permitindo complementar as interpretações oriundas das entrevistas individuais
e dos documentos analisados neste capítulo.
Realizada com seis integrantes da coordenação de educação a distância da
Seed, identificados na análise como G1 a G6, a entrevista coletiva foi conduzida a partir
da técnica de discussão em grupo. Como se tratava de um grupo natural, ou seja, que
se constitui como grupo no cotidiano de suas atividades profissionais, não foi
necessário realizar a apresentação dos integrantes do grupo. O procedimento foi
explicado aos participantes, conforme esquema proposto por Flick (2004),
mencionado nesse trabalho, com objetivo de orientar o avanço da discussão em grupo.
Em seguida, foi realizada uma apresentação sobre a televisão digital interativa com
dados e informações coletadas no transcorrer da pesquisa teórica. As características e
elementos presentes ou potenciais do artefato tecnológico, sintetizados no Quadro 2
dessa dissertação, foram projetados por multimídia e comentados para o grupo de
especialistas.
156
Para alguns especialistas, a interatividade da TV digital aparece como uma
perspectiva remota, considerando, inclusive, as dificuldades encontradas pela
população brasileira com a conexão para o uso da internet.
G1 - Acho que essa interatividade está longe. Veja, temos dois problemas que eu acho
que são graves do Brasil que é questão da banda larga e a questão da fibra ótica. Como
que nós podemos falar em interatividade na televisão se nós não damos conta hoje de
usar a internet com qualidade. Como que fica esta questão de interatividade se você for
verificar que o custo que é alto, pra maioria da população brasileira? (p. 291)
Outras reflexões são mais otimistas, vislumbrando possibilidades mais imediatas,
inclusive comparando com recursos de comunicação que já se encontram disponíveis.
G2 - (...) mas daí ele se aproxima assim de alguma coisa tipo telemarketing. Eu fico
pensando porque esses dias eu recebi uma ligação em casa e dizia assim “Boa noite,
aqui é da net, estamos avisando que em tantos dias a senhora vai receber a sua fatura. A
sua fatura será no valor de tal e vai vencer em tal. A senhora está satisfeita...” era uma
gravação (...) então eu pensei que pode caminhar para uma coisa mais ou menos assim
de ter questões possíveis, respostas possíveis e que daí você vai acompanhando (...) eu
to falando pra dar o retorno. Como que vai ser o retorno? Por exemplo, eu tenho uma
pergunta a partir de determinado programa de repente não fica alguém para responder, já
tem as opções de questões possíveis e respostas possíveis, perguntou, se aproxima
disso, pronto, já manda esta resposta. (p. 292)
G4 - Mas a gente entraria no que se usa hoje que é a tal da ajuda. Se você vai usar o
computador, você tem a ajuda, você seleciona a tua pergunta e vem uma resposta pra
você, que tem várias, n respostas, você escolhe a que se aproxima ao que você pede.
(p. 293)
Outra questão presente nos argumentos dos integrantes do grupo se refere às
possíveis dificuldades de uso, se ocorreriam em função do custo da tecnologia ou da
cultura de uso. Nessa direção, destaco algumas contribuições.
G2 - Mas daí talvez, eu até concordo com o que ele falou, é uma questão de hábito. Você
ter diponível, você ter o acesso e você começar a utilizar e conhecer. Porque se a gente
pensar, sobre os teclados. Isso é real. A gente tinha um modelo de teclado, hoje tem o
teclado digital no celular, e se você pega um celular que não seja digital, para quem não
tem o hábito, quando você vê você tá na telinha batendo também. Mas é um processo de
aprendizagem, precisou passar por um processo, no começo era mais, lento (...) (p. 294)
G5 - Talvez nesta questão de acesso tenha a questão do custo para cada pessoa. Talvez
demore mais. Quando nós falamos aqui sobre os dez anos, talvez nem tanto pelo
desenvolvimento da tecnologia, acho até que ela tá caminhando rápido demais, mas pelo
custo para as pessoas. (p. 294)
G4 - Pensando no que você falou eu acho que tem o problema do custo, porque a
questão do hábito eu não fico assim preocupada (...) (p. 294)
157
Quando provocados sobre as possíveis dificuldades que o grupo enfrentava para
utilizar televisão como recurso tecnológico na formação de professores, considerando a
informação de que existe a TV Paulo Freire e que as entrevistas individuais
mostraram que ela é pouco utilizada, algumas manifestações demonstram limites
pessoais e culturais, além de pouco conhecimento e familiaridade com a produção na
mídia televisiva.
G3 - Eu penso assim, eu particularmente não gosto nem de web conferência, eu não
gosto de me ver falando, mas eu ainda prefiro a web conferência porque da impressão
que a estrutura pra web conferência, esta questão da organização ela é menor, ela
acontece muito mais informal do que a TV. A gente, até pelo uso, a TV a gente acha que
tem que ter começo, meio e fim, programadinho os tempos, ali no computador, a gente
nem se preocupa se vai ter conexão, porque pode cair né, a gente acha que tem mais
tempo, penso que é por esta questão da informalidade. Da impressão que pelo
computador é informal e na Paulo Freire é uma coisa mais formal. Da essa impressão,
porque o computador ele é mais pessoal (...) (p. 295)
G4 - Para a TV eu vejo que seriam mais pessoas envolvidas no processo, seria um
trabalho mais dispendioso, maior com uma equipe maior, deve ser, eu não tenho muito
idéia, mas eu acredito que sim. Enquanto que na web é mais fácil. A informalidade da
impressão de maior facilidade. (p. 296)
G6 - Eu to entendendo assim, quando eu ouvi as questões que eu respondi eu pensei no
todo, da TV como um todo, e se for fazer essa comparação entre uma web conferência,
sem pensar a nossa e se fosse pensar no formato da TV eu acho que cai nesta questão
que (...) falou, parece que em qualquer lugar eu vou poder entrar, vou poder conversar,
então eu posso fazer uma conferência nacional daqui cinco dias (...) (p. 296)
G3 - É quando eu respondi pra você porque que a gente não usa outros formatos, é
cultura. Porque a gente usa sempre entrevista, porque eu falei que eu acho que a gente
usa mais o modelo de entrevista, culturalmente a gente acha que a TV é pra isso, a
maioria do grupo de educação a distância lida mais com computador, ninguém é da TV,
é do computador, internet, e a gente acha que o computador pra isso, pra esse modelo,
ele da mais conta, e é o que a gente melhor domina. É cultura de uso e do modelo que a
gente tem estabelecido, a gente acha que TV tem que ter o roteiro mais organizado. (p.
296)
Um dos integrantes faz uma retomada histórica do modelo tradicional de ensino
no Brasil e estabelece uma analogia com o modelo de transmissão da televisão e, partir
disso, se revela, entre alguns integrantes do grupo, um entendimento que vincula o uso
da televisão em cursos de formação continuada à baixa qualidade dos cursos e ao
pouco respeito às necessidades dos alunos. Entretanto, esta opinião não é
158
compartilhada por todos e se manifesta, em particular, na posição de uma das
integrantes do grupo, que tem experiência pessoal como aluna de curso na modalidade
a distância onde a televisão é a solução tecnológica. Alguns recortes deste debate
aparecem nesta seqüência:
G1 - Mas eu vejo assim que é uma questão de formação feita até o momento, seja no
Brasil, porque em outro lugar a gente não tem visto, o uso da TV foi um uso passivo,
historicamente isso é um fator complicador, e a transposição do modelo tradicional de
ensino também não colaborou porque enquanto tinha o professor no púlpito, a
televisão tinha ali aqueles debatedores sentados numa mesa lá atrás em um vídeo só pra
transmitir a formação, o conhecimento, e ficou a questão da transmissão, a TV ficou com
essa coisa de transmitir, de transmitir, então fazer esta transposição implica em estar
internalizado nas pessoas que vão fazer a formação de refletir sobre como a pessoa
aprende de forma diferenciada. (p. 298)
G4 - Mas voltando a idéia da TV, lembra quando eu falei da faculdade? Da graduação que
eu estou fazendo (...) a primeira coisa, eu queria fazer uma graduação a distância, então
eu optei por esta, que todas as graduações que eu ia procurar quando eu chegava no
local era aquela gravada então eles colocam uma gravação, eu sempre perguntava
mas como é feita a interação, como que eu vou ter uma resposta do professor, “ah! você
deixa a questão que daí eu ligo” na próxima semana, então sabe aquilo não me
convenceu e quando eu fui na que eu estou terminando este ano, o que eu achei
interessante é que é por via satélite, então é ao vivo, então o professor ele está dando
a aula e eu estou aqui, mas eu sei que no mesmo momento ele está lá, (...) ele vai
trabalhando, as imagens vão passando, as vezes existem somente os slides que ele vai
passando e há momentos em que ele passa imagem mesmo, (...) Então hoje a TV, ela está
muito presente e nós temos ali, o professor trabalhando, a imagenzinha ali do lado do
pessoal que trabalha com libras, e se você precisa fazer uma pergunta você liga no 0800,
daí ele para e fala “agora estamos recebendo uma interação da (...) ele vai falar
comigo (...) (p. 299)
G3 - Ele transmite para quantas turmas ao mesmo tempo? (p. 299)
G4 - Para o Brasil inteiro. Tanto que nós estamos lá e de repente tem uma interação lá da
Bahia, de Manaus, então de vez em quando acontece. (p. 299)
G4 - Quando nós ligamos, eles têm uma banca de várias pessoas que atendem o 0800,
são os monitores, os monitores recebem. Então os monitores fazem esse trabalho (...)
eles vão selecionar qual é a questão ali que é mais pertinente, porque tem coisas assim
que são questões menos pertinentes que vão ser respondidas depois, você deixa e
depois vão enviar para você. (p. 300)
G3 - Pois é, então pra algumas pessoas (...) (p. 300)
G4 - Para algumas pessoas eles vão enviar depois. (p. 300)
G3 - Então é porque o professor ta ali na hora porque a tua resposta vai demorar do
mesmo jeito. Pode ser que demore. É só porque ele ta ali na hora. (p. 300)
159
G2 - Eu ainda acho que é uma questão de cultura. Acho que a nova geração é bem
diferente o jeito deles encararem. (p. 300)
Antes do encerramento da discussão do grupo, foi solicitado que seus
integrantes refletissem sobre a questão do canal de retorno utilizado para enviar
respostas mais simples, como um questionário ou um termômetro de opinião, sobre a
portabilidade e sobre a questão da multiprogramação. Cabe esclarecer que a questão
da multiprogramação foi apresentada a partir das informações disponibilizadas pelo
integrante da equipe do Telemídia de PUC/RJ em sua entrevista. Os comentários dos
participantes do grupo foram se construindo no debate que realizaram e, ao final, é
possível perceber que alguns foram modificando sua opinião no processo, outros
passaram a imaginar possibilidades de uso.
G3 - Eu penso assim, quanto ao retorno e a portabilidade eu penso que não agrega
muito, a questão da portabilidade eu acho que não agrega por que? Quem é ligado a
questão do uso do recurso ta com as coisas todas no celular. Então acessa o meio
virtual, já vê TV. Então por que na TV e não no computador? Então eu penso que ele não
vai agregar pra formação continuada, nesse momento eu penso que não. E a questão do
retorno da forma que sendo pensada que é pra resposta ou pra você dar resposta pra
compra de um produto eu penso que não agrega, se não tiver sendo pensado deu poder
estar contribuindo com o conteúdo. Eu to me formando e fui lá, to fazendo uma curso
pra formação em matemática, fiz um trabalho com os meus alunos e quero gravar e
disponibilizar o que eu fiz com meus alunos, uma experiência que eu vivenciei na TV
para que todo mundo possa assistir, acessar. Se esse retorno não for nesse nível eu
penso que vai ficar da mesma forma que acontece na internet e já acontece com a
televisão com o 0800 ou pelo chat paralelo, por que daí não vai ter muita diferença, essa
minha contribuição de retorno. Agora a questão da multiprogramação eu vejo como
interessante porque daí eu posso mergulhar onde eu tenho dúvida, eu posso tentar saber
mais sobre aquele assunto, como você falou da orquestra, eu posso me aprofundar no
instrumento que eu tenho interesse ou aquele que eu estudo, então no conteúdo que eu
preciso mais, eu posso selecionar naquele todo o mais importante ou o que eu mais
precise aprofundar. (p. 300)
G6 - Comparando, sei que não é pra gente comparar, a web conferência e a
teleconferência eu penso que daí é muito mais rico em relação ao recorte a levar pra
uma outra situação, mostrar uma imagem acho que é incontestável, não que isso não
possa acontecer, mas a forma como pode acontecer la na frente. (p. 301)
G3 - E esta multiprogramação ela pode, to pensando, se for um conteúdo de biologia,
com essa TV três D que ta saindo, nossa, daí vai ser o que há... você põe o óculos “quero
aprender melhor sobre o corpo humano”, põe o óculos pega o controle remoto e entra
dentro do corpo humano em casa, aprofundando o conteúdo, to dentro do copo de
Beck o troço borbulhando e eu ali, eu penso que neste sentido... o que vocês acham? (p.
301)
160
G5 - Eu concordo (...) sobre a multiprogramação, eu acho que seria maravilhoso, essa
possibilidade, acho que poderia aprofundar bastante em conhecimento específicos de
acordo com curso, de acordo com o objetivo do curso, poderia aprofundar bastante em
determinadas áreas. (...) E a questão de marcar x, quando você falou eu pensei na nossa
realidade, e penso que o canal de retorno poderia contribuir porque daí tem um grupo
menor, nesse sentido pensando pra formação, pensando geral em termos de Brasil,
talvez tenha que ter outra estrutura, outro encaminhamento, mas pensando na nossa
realidade, Paraná, formação continuada, eu acho que o canal de retorno poderia
funcionar. (p. 302)
G6 - Pensando na frente a gente sempre quer o melhor mas, pensando hoje, você termina
a formação daí você manda um questionário pro pessoal, tem uma demora pra ter esse
retorno, e eu não sei se de repente, pensando bem (...) (p. 302)
G3 - Eles poderiam responder o questionário na hora. (p.302)
G6 - Todo mundo reunido, pro último dia da formação, e que pudesse ali deixar algum
comentário, já não seria válido? (p. 302)
G3 - Por mais que fosse um termômetro, já ia chegar na hora a resposta. (p. 302)
G6 - E poderia também, pensando na multiprogramação, poderia se pensar assim, em
formatos de programas com pessoas específicas, e não precisa centrar todos em uma
única pessoa, mas poderiam passar por partes, tantas pessoas poderiam ver situações
diferentes que pudessem atender (...) (p. 302)
Considero oportuno encerrar essas reflexões promovidas pelos integrantes do
grupo com uma observação que fez um dos participantes:
G3 - Eu vi um professor que tá usando celular, tem mandado tarefa, tem até um
software lá em inglês, manda tarefa por celular. Daí saiu em duas revistas, fui pra ver o
serviço do professor, entrei fui ver no blog, aí ele ta mandando problema de física,
querendo saber a distância x (...), o mesmo tipo de problema. O que aquilo muda dele
pegar e passar num pedaço de papel e ele levar pra casa ou colocar por caixinha de
problema na sala pro aluno catar e levar pra casa? (...) Tudo depende do que você vai
fazer do recurso, eu sempre falo assim, a tecnologia vai potencializar o que tem de
bom ou ruim, o que o professor faz de bom, e o faz de ruim. (p. 301)
Esta análise de conteúdo realizada com as entrevistas transcritas e parcialmente
destacadas, a partir de categorias previamente definidas, será retomada a seguir, nas
considerações finais, a fim de apresentar, por um lado, uma visão geral dos requisitos
de interatividade propostos pelos desenvolvedores, e por outro lado, a expectativa
presente na equipe de especialistas em educação a distância da Seed, com vistas ao
uso da TV digital interativa em programa de formação continuada de professores.
161
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a diversidade de abordagens, em diferentes áreas do
conhecimento, que poderiam nortear estudos e pesquisas sobre a TV Digital Interativa,
destaco, aqui, as abordagens que tratam do processo interativo e, portanto, perpassam
o contexto desta análise. É possível afirmar que, com relação aos objetivos propostos
por ocasião do lançamento deste artefato tecnológico na área educacional, a
peculiaridade do processo de implantação, ainda em estágio inicial com relação aos
recursos interativos, configurou um quadro marcado pela inexistência de dados de
pesquisa acerca do seu uso, particularmente na área de formação a distância.
O direcionamento deste trabalho esteve pautado por duas questões
fundamentais: Quais quadros conceituais podem subsidiar a apropriação da tecnologia
da televisão digital interativa com vistas à formação continuada de professores da rede
pública de educação básica do estado do Paraná? E, quais requisitos de interatividade,
presentes na tecnologia da televisão digital, atendem às necessidades do programa de
formação continuada de professores da rede pública de educação básica do estado do
Paraná?
Para respondê-las, optei por realizar uma pesquisa qualitativa, considerando a
complexidade do objeto em estudo e a importância de uma abordagem detalhada com
foco na perspectiva de uso para a formação continuada de professores. Os princípios e
procedimentos adotados para a busca dos dados necessários tiveram como eixo
norteador o método histórico-sócio-antropológico, a fim de assegurar na captação e
interpretação dos dados o contexto no qual eles estão inseridos. Tal método possibilitou
a construção desse conhecimento a partir procedimentos diversificados, configurando-
se no que Silva e Silveira (2007) chamaram de pluralismo metodológico. Entretanto, é
importante ressaltar que tais procedimentos obedecem a uma lógica que buscou
preservar os resultados a serem atingidos, dentro de uma coerência que procurou
162
alinhavar os diferentes enfoques dos diversos materiais que fazem parte do corpus da
pesquisa.
Com relação à primeira questão formulada, realizei, inicialmente, uma pesquisa
bibliográfica, a fim de construir um panorama conceitual acerca do objeto televisão
digital interativa. Dessa maneira, identifiquei alguns conceitos inerentes ao objeto ou
que o tangenciam, em função do novo lugar que este objeto se propõe a ocupar.
Investiguei conceitos relacionados à interação e a cultura, explorei a televisão e a
construção de significados sociais e culturais, procurei analisar a televisão no contexto
das novas tecnologias, busquei elementos sobre a relação entre televisão e educação,
pesquisei a linguagem televisiva com foco nos gêneros e formatos de programas e, por
outro lado, busquei, também, elementos de contraponto nos estudos da recepção,
investiguei a televisão na perspectiva da interatividade o que me levou a discutir as
possibilidades de interação e as ferramentas interativas nos processos
comunicacionais. o conceitos e reflexões significativas para o entendimento do
objeto em estudo, a partir de diversos olhares, por vezes contraditórios, que podem
oferecer uma visão ampla, porém, não definitiva acerca de questão.
O conceito de interação foi pautado pelos estudos da cultura e configura-se
como um dos sustentáculos para o entendimento da televisão digital interativa e suas
possibilidades de uso na ação educacional, particularmente na formação continuada de
professores.
Os processos comunicacionais presentes na mídia televisual interativa, ou seja,
processos de interação permeados por elementos oriundos deste caráter
multidimensional das identidades culturais, em especial o conceito de Identidade
Relativizada de Canclini (2003), que considera, além da diversidade cultural, o processo
de hibridação intercultural, que gera, entre outras consequências, a reestruturação da
comunicação e o anonimato do processo de produção. A mídia de massa, nesse
contexto, passa, então, a ser entendida como um importante elemento para a
superação da fragmentação e as inovações tecnológicas assumem um novo papel ao
romperem com os isolamentos locais.
163
Igualmente relevantes são as contribuições de Martín-Barbero (1997), ao definir
os espaços sociais como lugares onde, por meio do discurso, se constroem a
materialidade do social e a expressividade cultural. Processos de construção, de
mediações, ou seja, situações de interação que se dão em lugares caracterizados como
espaços sociais. A interação é entendida como um processo de negociação de sentidos
que se constrói pela circulação dos discursos, ou seja, pela maneira como uma
mensagem é interpretada e, a partir de sua interpretação, comunicada aos outros.
Partindo desta premissa, ele inova o entendimento acerca do papel dos meios
tecnológicos, promovendo-os à condição de mediadores de identidades locais,
estabelecendo, assim, uma relação entre a cultura local e a cultura midiática, o que tem,
como conseqüência, a construção de novas identidades locais.
Martín-Barbero destaca, na técnica audiovisual, uma espécie de resgate entre a
oralidade e a visualidade, uma possibilidade constitutiva que oferece novas formas de
perceber, ver, ouvir, ler e aprender novas linguagens, sendo que a visualidade pode
produzir um saber a partir de um processo de ressignificação do ver.
Na busca dos possíveis conceitos a serem considerados na construção desse
panorama teórico para o entendimento da televisão digital interativa, a perspectiva da
identidade cultural, como uma construção social que determina escolhas, forja
representações, imprime significações para um artefato ou produto interativo, encontrei
em Ono (2006), ao se referir ao processo de produção dos objetos, o alerta para uma
postura de respeito aos valores culturais fundamentais, sem considerar tais valores de
maneira hermética, possibilitando, assim, que as culturas locais absorvam as novas
contribuições do mundo de forma consciente e autônoma na definição de seus
caminhos. Considerar a identidade cultural a partir de seu caráter dinâmico e
multidimensional no âmbito do design dos objetos me levou ao conceito de cultura
material, apresentado por Denis (1998) que buscou o entendimento da produção e do
consumo dos artefatos na sociedade e se propôs a refletir sobre como estes artefatos
respondem aos sistemas simbólicos e ideológicos e, dessa maneira, buscou o
entendimento do papel dos artefatos dentro de uma sociedade onde o consumo e a
mercadoria são notadamente fenômenos de grande importância social e cultural.
164
Entretanto, pensar a televisão como veículo de comunicação significa pensar a
comunicação na sociedade, pensar esse veículo a partir das contradições presentes na
sociedade. Para Wonton (2004) é importante se considerar que, neste modelo de
sociedade, os movimentos contraditórios de liberdade individual e busca pela igualdade
se encontram presentes e geram, nos processos comunicacionais, um duplo papel: um
de cunho funcional, de caráter determinista, e outro de cunho normativo, pautado pelas
regras do mercado econômico. Na perspectiva funcional, pautada pela ideologia da
técnica, para o bem ou para o mal, a sociedade se determinada pela tecnologia.
na perspectiva normativa, a ideologia de mercado defende uma evolução nas técnicas
de comunicação, de mídias de massa, consideradas generalistas, para as mídias
temáticas, mas individualizadas. Diante deste quadro, Wolton (2004) sugere uma
reflexão crítica sobre o papel das mídias na sociedade, estabelecendo uma lógica
social e cultural de maneira predominante sobre a lógica das técnicas.
Os sistemas de comunicação e informação, por seu desenvolvimento dinâmico,
de maneira ágil, criam novas estratégias nas relações sociais, promovendo
fragmentações e redefinindo a velocidade do fluxo de interações e, dessa maneira,
alteram significativamente a dinâmica da vida moderna. Mas, de quais alterações está
se falando? Para Martín-Barbero (1998), os ritmos do cotidiano, promovidos pelas
inovações comunicacionais, têm promovido novas relações entre o público e o privado,
superpondo estes espaços e diluindo suas fronteiras. A televisão, objeto desta
pesquisa, passa, assim, a ser entendida para além de suporte de comunicação do
mundo moderno, mas também como aquela capaz de desencadear processos culturais
e mudanças sociais. Martín-Barbero e Rey (2004) consideram que a televisão deve ter
a necessária atenção dos pesquisadores, a fim de revelar sua preciosa contribuição no
processo de construir imagens da diversidade cultural das regiões, dos municípios, da
sociedade civil”. Também argumenta que a televisão pode ter um papel de destaque na
formação de uma consciência social crítica.
Para compreensão da linguagem televisiva, destaco os gêneros dos programas,
a fim de situar a percepção e o entendimento de especialistas de outras áreas, como é
o caso dos especialistas da educação a distância da Seed, com relação a alguns
165
elementos implícitos na produção desta linguagem. Os diversos gêneros de discursos
presentes na televisão, tais como: narrativo, ficcional, telejornal, entrevistas, debates,
entre outros, são apresentados tendo em vista a possibilidade de interface educacional.
Machado (2009) trouxe para pesquisa importantes contribuições para o
entendimento deste veículo de comunicação, ao propor analisá-lo numa abordagem
qualitativa, a fim de descortinar, a partir da análise dos programas veiculados, sua
dinâmica e potencial de funcionamento. O objetivo da análise de Machado foi abordar a
televisão como uma variedade de produções audiovisuais, diversas, desiguais e
contraditórias. Dessa maneira, a análise do contexto está diretamente relacionada às
imagens e sons que compõem a mensagem televisual. Nessa perspectiva de análise,
Machado (2009) apresenta e desenvolve reflexões sobre os conceitos de programa,
gênero e enunciado, que permitem compreender o processo de construção de
significados, desencadeados pelas mensagens desse meio tecnológico. Identifica-se,
aqui, uma abordagem teórica que focaliza a mensagem e seus elementos constitutivos.
Nesse enfoque, a interação se dá a partir de um comportamento mais distraído e
dispersivo, com o espectador inserido no ambiente doméstico, definindo uma
programação televisiva seriada, fragmentada, interrompida a todo o momento, sem
contar com o rigor da continuidade. Trata-se de uma mistura de gêneros, demandas e
procedimentos, de forma a construir uma objetividade enunciativa.
Essas reflexões acerca da dinâmica enunciativa contribuem para a ampliação do
olhar sobre as possibilidades educacionais do uso da televisão. Entretanto, é
necessário pensar também a televisão a partir dos estudos da recepção, e este
direcionamento se configurou em outra temática explorada nesta pesquisa.
É Machado (2007) quem faz a transição entre os estudos da mensagem para os
estudos da recepção. Segundo o autor, o conceito de enunciação, de cunho
estruturalista, extraído das teorias linguísticas e psicanalítica, e especialmente
formulado para o entendimento da linguagem cinematográfica, nunca foi
suficientemente aprofundado com vistas a um melhor entendimento da televisão. Por
outro lado, quando o pensamento culturalista se debruça sobre o campo da
comunicação, os estudos da enunciação passaram a ser substituídos pelos estudos da
166
recepção. O processo de recepção ganhou, então, autonomia em relação à produção e
passou a ser visto de forma independente das possíveis determinações implícitas na
mensagem e das intenções do sujeito enunciador.
Martín-Barbero (2002) procura não desvincular o estudo da recepção dos
processos de produção. Seria prejudicial, ao entendimento da recepção, a exclusão dos
saberes mais especializados e profundos dos produtores. Para ele, é impossível
desligar o receptor do produtor. A recepção, em grande medida, se orienta pela
produção e, ao mesmo tempo, existe um saber do receptor que assegura o êxito do
produtor. A recepção, no domínio das ciências da comunicação, não se constitui
apenas como uma etapa do processo, mas sim como um novo lugar para repensar os
estudos e a pesquisa de comunicação. Para ele, o receptor não é um simples
decodificador de mensagem, mas também um produtor. Recepção é um espaço de
interação. No entanto, o estudo da recepção não pode estar pautado pelo idealismo de
acreditar que o leitor (receptor) pode tudo, mas sim que existem limites claros para
aquele que consome, limites estes oriundos das escolhas que ele mesmo faz do que
vai consumir.
Se, por um lado, é possível identificar, em Arlindo Machado, o enfoque dos
processos de interação a partir da dinâmica da produção audiovisual, dos significados
que a mesma é capaz de suscitar no público, buscando nos enunciados dos discursos
televisuais a fonte de provocação e instigação do espectador para a interação com os
conteúdos das mídias, por outro lado, em Martín-Barbero, a interação aparece
vinculada ao processo de recepção a partir do contexto cultural do público. Dessa
maneira, a interação se constitui como uma negociação de sentidos que se estabelece
na circulação dos discursos.
Retomando o foco desta pesquisa, TV digital interativa e formação de
professores, busquei uma articulação da linguagem televisual ao campo educacional. A
incorporação de programas televisuais pela escola tem como premissa o
reconhecimento, no espaço escolar, de novas maneiras de representar a realidade.
Significa admitir que as linguagens oral e escrita não são as únicas possibilidades para
a apropriação do conhecimento. Significa, também, conceber a televisão como aliada
167
do processo ensino-aprendizagem. O uso de programas veiculados na TV se apresenta
como alternativa pedagógica, desde que esteja implícito, no processo de apropriação
de suas linguagens como fonte de conhecimento, a perspectiva de reflexão crítica, o
que, conseqüentemente, representa um desafio. Não é uma tarefa fácil reconhecer a
sutileza e a ambigüidade da linguagem televisiva e aprender a olhá-la de forma a
buscar os significados expostos e ocultos das imagens.
Para Seed/PR (2009), o lugar das tecnologias de informação e comunicação na
escola, o acesso às chamadas tecnologias educacionais é entendido como
possibilidade de ampliação das transformações sociais, desencadeando mudanças na
forma de se construir o conhecimento e deve ser considerado por todos aqueles que
pensam o currículo escolar. O uso das mídias, uma vez aliado a processos de reflexão
sobre a prática pedagógica, não pode ser compreendido apenas como ferramentas e
aparatos para “animar” e/ou ilustrar os conteúdos, mas, sim, como estratégias
pedagógicas que oportunizam novas “formas de ver, ler e escrever o mundo.” (p.44).
Fischer (2007) apresenta as novas tecnologias como transformações históricas
nos modos de fazer a aprender. As práticas cotidianas, inclusive nas escolas,
transformam-se, alterando as relações com os saberes, com as trocas entre os sujeitos,
nas formas de se inscrever o social, nos registros de escrita, no jeito de falar e pensar o
mundo e os sujeitos do mundo. Essas alterações apontam para o excesso e acúmulo
de informações; para a velocidade de acesso aos fatos, às imagens e aos dados; para
novos modos de viver a intimidade, a vida privada, em relação às práticas sociais e os
espaços públicos; para uma compreensão diferente sobre as práticas do mercado,
sempre ávidas por novidades; para a centralidade do corpo e da sexualidade na cultura
com superexposição de corpos infantis e juvenis; e, para uma miscigenação de
linguagens oriundas dos diferentes meios, criando as narrativas, sejam elas, ficcionais,
publicitárias, didáticas ou jornalísticas.
Delaunay (2008) destaca uma certa assincronia na maneira como crianças,
jovens e professores se relacionam com as novas tecnologias: enquanto os jovens
nascem conhecendo estas tecnologias, utilizando-as como instrumentos para se
comunicar, informar, jogar ou realizar trabalhos escolares, para os educadores, estas
168
“últimas novidades tecnológicas” se apresentam no seu cotidiano e o desafio é
aprovei-las como o objetivo de estabelecer novas estratégias de aprendizagem.
Existe uma lógica, decorrente do crescimento de diferentes meios e tecnologias,
que provocam um desencontro com o que é exigido pela escola, pautada apenas pela
linguagem escrita, e ainda estabelece modificações na capacidade de percepção das
novas gerações. Orozco (2005) destaca as transformações dos processos perceptivos,
especialmente nas crianças que, hoje, “são capazes de receber mais informações por
minuto e de processar mais informações, de receber informações através de imagens,
sons e textos diversos. O que está acontecendo é um fenômeno onde a lógica
tradicional da linguagem escrita está se modificando por outra; sobretudo do hipertexto,
do digital.” (p.23). Como enfretamento dessa situação, sugere uma “alfabetização aos
meios de comunicação”, criando situações de aprendizagem para tornar evidente aos
receptores, aquilo que não está evidente.
Para Martín-Barbero (2000), a questão que se apresenta é “(...) se a escola está
formando o cidadão que não sabe ler livros, mas também noticiários de televisão e
hipertextos informáticos.” (p.57). Se a escola é capaz de ensinar a ler livros, como ponto
de partida, que também se volte para outra alfabetização, a alfabetização da informática
e das multimídias. Que consiga fazer uso criativo e crítico dos meios audiovisuais e das
tecnologias informáticas. Para tal, a escola precisa transformar a sua práxis de
comunicação, de um modelo linear e unidirecional, organizado por graus, idades e
grupos de conhecimento, para um modelo descentralizado e plural que promove uma
escrita não seqüencial, que estabelece conexões em rede, que transforme a escrita por
meio de uma multiplicidade de percursos.
O enfoque sobre a interatividade parte da premissa, pautada por Machado
(1997), de que não foi a informática quem introduziu a discussão, uma vez que ela já se
fazia presente, com importantes contribuições da área da comunicação. O diferencial,
introduzido pela informática, diz respeito ao aporte técnico que ela deu à questão. O
desenvolvimento técnico do computador, para Silva (2000), permitiu que a informação e
a comunicação passassem a ser processadas como uma teia que conecta um texto a
muitos outros um hipertexto. A arquitetura do computador, caracterizada como uma
169
estrutura múltipla e combinatória, passou, então, a permitir que seus usuários realizem
associações não-lineares, interferências e modificações. Com a conexão em rede,
ampliaram-se as possibilidades de navegação autônoma, permitindo o acesso a bancos
de dados de maneira não-seqüencial, por caminhos diferenciados e com múltiplas
articulações. Foi esse aporte técnico, segundo Machado (1997), que possibilitou o
surgimento, no campo comunicacional, de uma nova dinâmica interacional, tornando-se
um campo de possibilidades, onde o sujeito enunciador apresenta o programa e o
sujeito atualizador realiza algumas possibilidades desse programa. Os papéis se
modificam e o leitor do texto passa, então, a desempenhar a ão de co-criador da
obra. Além disso, a dinâmica da hipermídia pode representar os processos mentais da
consciência e da imaginação, que operam por associação contínua, reestruturação de
imagens e seleção de registros da memória. Essa forma de representação, possibilitada
pelos processos interativos decorrentes dos novos aportes técnicos, é considerada,
pelo autor, mais adequada que os códigos seqüenciais de textos lineares que operam
de forma restritiva ao pensamento.
Silva (2000) propõe uma compatibilização entre a epistemologia da
complexidade de Morin e a modalidade comunicacional interativa, presente nas
tecnologias hipertextuais, considerando ser esta referência conceitual de grande
importância para fundamentar a interatividade. Dessa maneira, sugere lançar mão do
princípios da ausência de fundamentos e destruição de certezas como mobilizador de
interações, numa razão aberta que se fortalece na insegurança e instabilidade da
ausência de fundamentos. Diante dessa ausência, surge uma realidade polifônica e
polissêmica e, portanto, aberta para novas interações. O pensamento complexo,
particularmente a dialógica de suas interações, a multiplicidade e recursividade, são
destacadas, por Silva (2000), como o segundo princípio da epistemologia de Morin que
contribui para a análise e posicionamento críticos sobre as interações e a interatividade.
Dessa maneira, a comunicação interativa tem, na perspectiva da multiplicidade, um
reforço para a busca de novas interações e para a liberdade comunicacional e, ainda,
na recursividade, a possibilidade de uma nova configuração do social, onde novos
espectadores buscam novas possibilidades comunicacionais. Rompe-se, assim, com a
170
linearidade e com a separação emissor-receptor, permitindo maior participação,
intervenção, junção do emissor-receptor, por meio da bidirecionalidade e multiplicidade
de conexões.
Para Machado (2007), os novos recursos tecnológicos que surgem depois da
hegemonia da televisão, como, por exemplo, hipermídia, realidade virtual, videogames,
ambientes colaborativos em rede, entre outros, trazem de volta a questão da
subjetividade e, conseqüentemente, provocam a reflexão sobre o processo de
enunciação do discurso, sobre o princípio da narrativa, em ambiente digitais. São as
decisões, ações e iniciativas do usuário do computador que o definir o que
acontecerá na tela. Assim, são considerados interativos os sistemas capazes de
responder às ações do usuário, aos agenciamentos do espectador. Pode-se afirmar
que, nos meios digitais, o ambiente é explorado por meio da participação do interator
que experimenta “um evento como o seu agente, como aquele que age dentro do
evento e como o elemento em função do qual o próprio evento ocorre.” (p. 211)
vy (1999) problematiza a questão da interatividade a partir do argumento de
que, embora o termo tenha uma relação direta com a participação ativa do receptor de
uma informação, não é nesse fato que reside à importância da sua análise, uma vez
que não existe passividade na ão do receptor. “Mesmo sentado na frente de uma
televisão sem controle remoto, o destinatário decodifica, interpreta, participa, mobiliza
seu sistema nervoso...” (p.79) A importância está em se avaliar o grau interativo de uma
mídia ou de um dispositivo de comunicação: o grau de interatividade de um produto,
como as possibilidades de apropriação e personalização da mensagem; a reciprocidade
da comunicação; a virtualidade que se manifesta pelo conjunto de respostas possíveis;
a implicação da imagem que representa os participantes no resultado da mensagem; e
a telepresença que promove a ilusão de interação sensório-motora com um modelo
computacional. Os dispositivos comunicacionais apontam para a necessidade de se
estabelecer uma “cartografia fina” dos meios de comunicação, que contemple o caráter
híbrido das mídias, a virtualização da informação, o progresso das interfaces, o
aumento das taxas de transmissão a fim de responder as demandas políticas, culturais,
171
estéticas, econômicas, sociais, educacionais e epistemológicas da nossa sociedade.
(p.82)
Outra contribuição, importante para a formulação do conceito de interatividade, é
apresentada por Primo (2005), ao analisar aspectos relativos à ação recíproca e a
interdependência entre os interagentes, considerando o que se passa entre os sujeitos,
e propondo dois tipos de interação mediada por computador: a interação mútua e a
interação reativa. Na interação mútua, o ponto de partida são problematizações cujas
soluções, momentâneas, resultam de constantes negociações entre os interagentes. As
relações entre os interagentes provocam modificações recíprocas que se definem no
processo. a interação reativa está pautada na automatização das trocas. As
condições iniciais determinam as possíveis reações do sistema interativo. Considerando
a dimensão do sistema, pode-se afirmar que a interação reativa faz parte de um
sistema fechado, enquanto a interação mútua é característica de um sistema aberto.
Como sistema aberto, suas partes são interdependentes e existem permanentes trocas
com o contexto no qual o sistema está inserido.
Voltando, agora, à questão do contexto educacional, particularmente a formação
continuada de professores na modalidade a distância da Seed e o uso de uma televisão
educativa, a TV Paulo Freire, outros aspectos conceituais foram explorados por meio de
documentos institucionais. Tais documentos revelaram as concepções teóricas
adotadas pela secretaria de educação acerca do próprio conceito de educação, de
formação continuada, de educação a distância, de tecnologias de informação e
comunicação, de ferramentas interativas e das possíveis contribuições da televisão
para a escola.
O documento inicialmente analisado é definido, na sua apresentação, como
“Diretrizes que se destinam a todos os profissionais envolvidos, direta e indiretamente,
com a Educação da Distância da Seed-PR, esperando que contribuam para as
discussões educacionais relativas ao tema.” (p. 200) No procedimento de análise, foram
destacados pontos relevantes que demarcam alguns conceitos eleitos pela Secretaria
de Estado da Educação que representam a opção teórica presente no processo de
formação continuada dos professores da rede pública estadual.
172
Com relação à concepção de educação é possível encontrar menção ao trabalho
realizado pela Seed no sentido de uma reformulação curricular “(...) a Seed-PR
desencadeou um processo de discussão coletiva para reformulação curricular, com o
objetivo de se contrapor aos referenciais nacionais, cuja concepção de educação
atrelava a escola pública às necessidades do mercado.” (p.208). Essa reformulação
visava romper com a interferência do mercado no currículo das escolas públicas do
Paraná. Outro aspecto presente diz respeito ao desenvolvimento da autonomia dos
sujeitos e os desdobramentos dessa prática, fazendo com que os “sujeitos construam
sentidos para o mundo, que compreendam criticamente o contexto social e histórico de
que são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção
cidadã e transformadora na sociedade(p.201). A partir da concepção de educação, é
identificado o lugar do conhecimento, na escola, o que se na e pela práxis. E, ainda,
o papel da interação no processo de apropriação do conhecimento. Interação essa
entendida como uma ação que se estabelece entre interagentes, numa perspectiva de
compartilhamento e colaboração.
Como dado encontrado na pesquisa, a formação continuada tem como princípio
trabalhar o conteúdo como via de emancipação social e, nesse processo, a educação a
distância é um meio para realizar a oferta de formação. A modalidade EaD é
reafirmada, também, como uma perspectiva a mais de formação continuada,
destacando-se que o seu uso não tem por objetivo substituir a formação presencial e
enfatizando-se, ainda, que essa formação não busca atender aos interesses do
mercado. Dessa maneira, vincula os objetivos da formação continuada à concepção de
educação vigente na Seed. Destaca que os investimentos realizados em infraestrutura
e soluções tecnológicas para promoção da formação continuada visam à universalidade
de acesso aos professores por meio da diversificação e ampliação da oferta.
Sobre a educação a distância, ressalta-se seu caráter emancipatório pela via do
acesso ao conhecimento e aos saberes, destacando-se o desenvolvimento da
autonomia dos sujeitos e apontando para uma maior liberdade no processo ensino
aprendizagem, particularmente para os estudos e pesquisas. Ao apresentar a evolução
da EaD no Brasil, o documento destaca, entre outros aspectos, o fato dessa
173
modalidade se vincular, historicamente, aos interesses do mercado de trabalho, ao
processo de globalização e aos processos de produção mundial. Por outro lado,
sinaliza que estes princípios permeavam a educação como um todo, apontando para a
posição, assumida pela Seed, de promover uma reformulação curricular. Destaca,
também, aspectos inerentes a essa modalidade, como as mudanças nas relações
educacionais, decorrentes de outras relações com o tempo e o espaço. É possível
identificar a perspectiva de promover, por meio da educação a distância, novas formas
de interação e aprendizagem, com ênfase na mediação. A EaD pressupõe uma
concepção de educação que privilegia a atividade mediadora dentro da prática social,
possibilitando, pela via da interlocução expressa na figura dos professores-tutores, a
mediação no processo de elaboração e apropriação do conhecimento.” (p. 213)
Com relação ao uso das tecnologias de informação e comunicação na formação
continuada, ele está claramente explicitado no documento que as aponta como meios
para o processo de apropriação do conhecimento. Particularmente, ao apresentar a
evolução da EaD no Brasil, destaca uma terceira fase desta modalidade, vinculando-a
ao uso das novas tecnologias digitais que promovem inovações no processo de
aprendizagem. As tecnologias de informação e comunicação, quando utilizadas na
ação educacional, podem oportunizar novas formas de ver, ler e escrever o mundo.
Destaca-se a possibilidade de articulação teoria e prática nos ambientes virtuais, a
integração de mídias e o uso de novas a antigas tecnologias para promover diferentes
representações do conteúdo. As diretrizes de educação a distância apresentam
diversas tecnologias de informação e comunicação como possibilidades para as
diversas propostas de cursos. “(...) cursos oferecidos nesta modalidade devem seguir
um planejamento que permita a incorporação das diferentes mídias (a impressa, a
televisiva com conteúdos gravados e/ou ao vivo e a mídia web), visando à interação,
pesquisa e produção coletiva em ambientes virtuais, buscando sempre atender à
especificidade da EaD.”(p. 211)
Por fim, com relação às ferramentas interativas utilizadas para formação
continuada, realizei um levantamento no curso de professores-tutores disponível na
plataforma de cursos da Seed, no ambiente e-escola, onde se encontram descritas as
174
ferramentas de interação disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem, não
estando incluídas aquelas possíveis de serem utilizadas para promover interação de
forma integrada a outras tecnologias como televisão e mídia impressa. As ferramentas
disponíveis, bem como suas características e alternativas de uso, foram apresentadas
no quadro 3 da presente dissertação.
Para revelar a relação existente entre a televisão da Seed, TV Paulo Freire, e a
formação de professores, foram apresentados alguns recortes do documento TV Paulo
Freire Um Canal para a Liberdade, produzido em 2006. Procurei identificar a
relevância atribuída ao processo de formação de professores e como esta se manifesta
nos objetivos deste canal de televisão e no estabelecimento da sua identidade
institucional.
Como justificativa para a criação de um canal de TV na Seed, entre outros
argumentos como a programação exclusiva para professores, a integração com outras
mídias, a composição de uma política pública midiática articulada com os avanços do
mundo contemporâneo, ressalta-se a promoção da qualidade na educação por meio da
formação de professores com vistas ao seu aprimoramento. A TV Paulo Freire se
caracteriza como uma ação que busca a ampliação da política pública de formação
continuada de professores de forma diferenciada da existente, de maneira mais ágil,
com custos minimizados e com o envolvimento de um número maior de professores.
Esta forma de capacitação possibilitaria a integração de diferenças regionais, no âmbito
educacional, uma vez que professores de diversas localidades podem de interagir nos
programas.
Nos objetivos propostos por ocasião da implantação da TV Paulo Freire,
aparecem a preocupação com a formação continuada de professores, observada na
organização da programação, na divulgação da produção acadêmica oriunda das
Instituições de Ensino Superior e na articulação com outras iniciativas de cunho
formativo, como é o caso dos materiais didático pedagógicos, impressos ou digitais,
produzidos em processos de formação. Outro aspecto a ser destacado refere-se à
articulação da produção da TV Paulo Freire com a política púbica educacional instituída
pela Seed para a formação continuada dos profissionais da rede estadual, visando sua
175
qualificação, focada na prática de ensino, no princípio da ação-reflexão-ação e no
aprofundamento de conhecimento nas áreas específicas, compreendendo
Aperfeiçoamento e Atualização.” (p.234) É possível identificar, também, a articulação
com outras ações da Seed, uma vez que os programas apresentam e debatem temas
sob demanda da rede educacional, com objetivo de aprofundar conhecimentos teóricos,
de orientação curricular e metodológicos.
Por outro lado, embora exista a vinculação da TV Paulo Freire à diretriz
institucional da Seed, é possível reconhecer alguns aspectos teóricos oriundos do
universo comunicacional da televisão norteadores da sua concepção teórica com o
intuito de contribuir e aprimorar a comunicação presente nas escolas e enfrentar os
desafios das novas linguagens midiáticas. Constata-se, a dualidade na constituição da
sua identidade que oscila entre a construção de uma autonomia produtiva implícita na
identidade de um veículo comunicacional, a fim de contribuir como o processo de
“mediação da realidade” e a responsabilidade de ampliar as fontes de pesquisa e o
acesso à formação continuada, dentro de uma política pública, com diretriz pedagógica
instituída.
Depois de constituído este panorama conceitual, com o objetivo de apresentar
elementos teóricos que perpassam o contexto de análise da TV Digital Interativa, e,
antes de apresentar os resultados advindos da pesquisa exploratória com os
especialistas envolvidos, tanto no desenvolvimento de seu software interativo, como
aqueles que poderão fazer uso desta interatividade em cursos de formação, na
Seed/PR, cabem, aqui, algumas reflexões sobre o surgimento deste artefato
tecnológico, bem como de suas perspectivas de uso, particularmente na educação.
Mota (2006) chama a atenção para o fato da escolha do modelo da TV Digital no
Brasil, estar atrelada ao modelo analógico, de um para todos, verticalizado e
centralizado, orientado pelas perspectivas do mercado, quando sua implantação
deveria ser norteada pelo modelo oriundo da rede de internet, horizontal, de todos para
todos e de estrutura descentralizada, considerando a nova tecnologia a partir das suas
características e não das características do modelo que a precede. Destaca-se, neste
enfoque, o verdadeiro diferencial da TV Digital, a interatividade e a reversibilidade, com
176
autonomia do espectador, que passa a ser o usuário que faz escolhas entre ofertas,
deixando de se aprisionar à grade de programação.
Primo (2008b) destaca que, com a definição do padrão da TV digital no Brasil, o
debate sobre as possibilidades interativas deste meio de comunicação ganhou força, e
considerando as formas de interação presentes neste meio, é necessário se concretizar
o canal de retorno a partir de uma estrutura tecnológica economicamente viável. Do
ponto de vista comercial, esta viabilidade pode se efetivar pela venda de produtos e
conteúdos, e enquetes sobre assuntos diversos.
Pesquisadores vinculados ao CPqD, em 2004, identificaram a TV Digital
Interativa como uma tecnologia capaz de promover mudanças na sua inserção social,
deixando de ser um objeto de consumo passivo e tornando-se um mecanismo de
acesso à informação de maneira mais rica e complexa. Entretanto, tais avanços ainda
não se concretizaram efetivamente e o processo implantação está acontecendo de
maneira mais lenta que a expectativa inicial.
Sacrini (2008), ao prospectar sobre o papel das emissoras educativas, afirma
que as mesmas “deverão propiciar ao telespectador formas de acesso aos programas
culturais interativos e de entretenimento educativo numa perspectiva de utilização da
televisão como aparato realmente voltado para a promoção social e efetivamente
inclusivo.” (p. 146)
O sistema de TV digital, por se configurar como um sistema de transmissão de
dados e serviços, além do fluxo de áudio e vídeo, disponibiliza uma fonte de dados,
aplicativos que chegam até o usuário da televisão e ficam armazenados no terminal de
acesso, sendo possível acioná-los por meio do controle remoto. Esta informação
armazenada passa a ser utilizada de forma individualizada, possibilitando ao usuário
“navegar” dentro dos dados armazenados. Neste caso, a emissora envia dados extras
relacionados à programação normal, dados que, armazenados, podem ser acessados a
qualquer tempo, complementando o conteúdo do programa. Porém, também está
previsto, neste sistema, além do armazenamento de conteúdo, o uso do canal de
retorno, oriundo de outra via, como por exemplo, a telefônica. Assim, é possível retornar
a mensagem, mas não em tempo real. É possível fazer escolhas de opções que
177
aparecem na tela, utilizando o controle remoto, e enviá-las do terminal de acesso ao
servidor da emissora ou a um provedor que poderá computar o dado em um resultado
geral. E ainda, como alternativa mais avançada, o sistema permitirá o uso de canal de
retorno em tempo real, enviando e recebendo mensagens. Neste caso, o usuário
poderia, por exemplo, participar de um jogo interativo.
É recorrente a vinculação dessa nova tecnologia a benefícios sociais,
destacando-se seu potencial educativo e inclusivo. Dessa maneira, faz parte de suas
perspectivas oferecer serviços públicos, como agendamento de consultas médicas e
pagamentos de taxas, evitando filas e desperdício de tempo, ou, ainda, ampliar os
programas de educação a distância, com aumento de oferta, mas principalmente de
acesso por parte da população. Tais potencialidades estão diretamente relacionadas à
capacidade de interatividade que se vislumbra nesta tecnologia. Qualquer iniciativa
nesta direção tem, como um dos pressupostos fundamentais, o nível de interatividade
possível a ser atingido por esta tecnologia.
Com base nos estudos de Sacrini (2008) e Castro (2007), algumas
características presentes ou potenciais da televisão digital interativa no Brasil foram
apresentados no quadro 2, de forma sintética, com o objetivo de construir um quadro
geral sobre as perspectivas deste artefato tecnológico.
Nessa mesma direção, Crocomo (2004) chama atenção para a importância da
experimentação e do aprofundamento de estudo da linguagem televisiva como apoio ao
processo de “alfabetização digital”, tendo em vista ser este processo diferente do que
ocorre de interatividade na internet. A linguagem e o diálogo presentes na televisão
podem ser alternativas para um processo mais amplo de interatividade. Cabe buscar,
na nova TV aberta, uma direção que integre os novos recursos de interatividade à
linguagem dialógica da TV, integrando a linguagem consolidada da televisão aos
aplicativos interativos para propiciar um uso mais eficaz da interatividade.
Para Fonseca (2007), a educação formal e não formal não podem deixar de
considerar as narrativas veiculadas pela TV, uma vez que estas estão “impregnadas de
significados e consequências ”. É possível afirmar que a televisão, mesmo tendo como
característica principal da sua linguagem o fluir da comunicação por meio da informação
178
quase que em uma direção única, promove impactos nos processos comunicacionais
como nenhum outro meio consegue fazer. Com a perspectiva da multiprogramação
aumentando significativamente os canais, abrem-se novas possibilidades de se
atender, de maneira mais direcionada e focalizada, as diferentes necessidades de
desenvolvimento educacional da população brasileira e, ainda, o volume de produção
de conteúdos decorrentes desta perspectiva cria espaço para a diversidade de produtos
e de protagonismos, rompendo com a centralização da produção.
A TV digital substituindo, a TV convencional, trará consequências para a
educação, notadamente pelo aumento de canais e recursos que poderão ser
disponibilizados para cursos, debates com especialistas e discussão entre os alunos.
Nessa linha de raciocínio, Moran (2007) apresenta uma série de situações educacionais
que ilustram essas consequências . Conteúdos produzidos por professores estarão
disponíveis para os alunos, dentro das suas possibilidades de tempo e espaço para o
acesso, o que já acontece, hoje, com o computador, porém sem a qualidade de imagem
inerente à TV digital. A portabilidade também poderá assegurar o acesso a um
conteúdo educacional específico, possibilitando a interação entre os alunos, por meio
de um celular, em qualquer lugar em que o aluno se encontre.
Cabe, agora, retornar à segunda questão proposta nesta pesquisa - requisitos de
interatividade presentes na tecnologia da televisão digital que atendem às
necessidades do programa de formação continuada de professores da rede pública de
educação básica do estado do Paraná. Para respondê-la, busquei, junto à equipe de
Telemídia da PUC/RJ, conhecer as possibilidades de interatividade que se encontram
desenvolvidas ou potencialmente definidas no software interativo da televisão digital.
Como abordagem complementar, levantei dados, na Seed, oriundos de entrevistas,
com o intuito de identificar a importância da interação nas propostas de formação
continuada na modalidade a distância, ferramentas interativas mais utilizadas, a
incidência de uso da televisão em cursos, como se esse uso, qual a importância da
televisão como ferramenta e/ou estratégia metodológica na oferta dos cursos, entre
outras. E, para finalizar, realizei, junto aos especialistas de educação a distância da
Seed, um levantamento acerca das perspectivas de uso da televisão digital interativa
179
para formação continuada de professores, procurando identificar as expectativas em
torno dessa tecnologia.
Para o especialista na área de desenvolvimento do software, a capacidade
interativa do midleware desenvolvido no Brasil é superior a qualquer modelo que exista
em outros países, com recursos mais poderosos e avançados. Isto se deve ao
reconhecimento, por parte do governo federal, da capacidade de pesquisa e
desenvolvimento de tecnologia presentes nas instituições brasileiras. A interatividade
possível na televisão é uma interatividade diferente daquela do computador. O princípio
tecnológico da televisão é a imagem e o áudio e a interatividade se configura como um
algo a mais que se acrescenta nesta tecnologia. O entrevistado chama atenção para a
característica da linguagem televisiva e para os recursos oriundos desta linguagem.
Diferente do computador, seu dispositivo de acesso, por exemplo, é um controle remoto
e não um mouse que permite fazer variações mais rápidas. Outro elemento limitador do
processo interativo está relacionado ao equipamento da ponta, ou seja, o aparelho de
televisão que, por se constituir como um eletrodoméstico popular, não pode ter um alto
custo e, portanto, terá limites de processamento de dados.
Duas possibilidades de interatividade são apresentadas, pelo especialista da
PUC/RJ: interatividade com canal de retorno e sem canal de retorno. A interatividade
sem canal de retorno precisa estar prevista na produção do programa ou ser produzida
na forma de recursos complementares ao programa e a transmissão destes recursos se
juntamente com a programação. Tais recursos compõem um banco de dados que
fica armazenado no aparelho de televisão e pode ser acessado pelo usuário a partir de
estímulos presentes no próprio programa. a interatividade com canal de retorno tem,
como pré-requisito, a utilização de outro meio de comunicação como a internet ou o
telefone. Neste caso, o usuário, da sua casa, pode interagir com quem está
apresentando o programa ou com a emissora que transmite a programação.
Quanto à discussão sobre os possíveis ganhos da televisão digital interativa para
a área da educação, o entrevistado reforça seu entendimento de que a televisão digital
deve ser comparada com a televisão analógica e não com o computador, uma vez que
o computador é outro tipo de mídia, possui outra linguagem. Ressalta a previsão de se
180
ter, na política de concessão das emissoras, um canal da educação com o objetivo de
massificar o conhecimento e viabilizar que a produção de conteúdos no campo da
educação sepor meio de um recurso onde o telespectador possa interagir com essa
produção.
Uma questão apresentada como limitadora para o processo interativo da
televisão digital está relacionada com a capacidade de produção de conteúdos. É
possível vislumbrar uma explosão de demandas por conteúdos e, de uma forma
simplista, é possível imaginar que naquele canal, onde um produto era transmitido, a
tecnologia digital permite que este produto seja multiplicado por três, ou mais.
` Para o entrevistado, a exigência do público que assiste televisão também muda
com a interatividade. Ele acredita que, com a possibilidade de uma maior atividade do
público frente aos programas, ocorrerá maior reflexão, mais dinamismo e
posicionamento diante do que está sendo veiculado.
Para todos os entrevistados da Seed/PR, a interação deve estar contemplada
numa proposta de curso na modalidade EaD, podendo acontecer em dois níveis:
interação com os conteúdos e interação entre os agentes, seja entre alunos e
professores, alunos e tutores, e alunos e alunos. Embora apareça a interação
diretamente com o conteúdo, constatou-se uma relevância atribuída ao papel do
professor que, no processo de ensino-aprendizagem, não pode ser substituído por
recursos midiáticos. Existe, também, a defesa de interação dinâmica, exercida em
particular por aquele atua com os conteúdos e com o cursista.
Outra questão apresentada está relacionada à simultaneidade no processo de
interação, quando se ressaltou a importância da interação acontecer no momento que
se recebe a informação. E, ainda, o conceito de interação articulado ao conceito de
interatividade e que se efetiva realmente no processo de produção e reconstrução das
mensagens.
Foi destacada a importância do fórum no discurso de todos os entrevistados,
qualificado por alguns como a ferramenta que melhor promove a interação com os
cursistas, com vistas à aprendizagem reflexiva. Também parece ser a ferramenta mais
utilizada nos cursos da Seed. É possível identificar, também, o uso de outras
181
ferramentas disponíveis para o processo de interação que contribuem, na opinião dos
entrevistados, com o processo de aprendizagem nos cursos de formação continuada.
Tais ferramentas fazem parte do ambiente e-escola e são descritas pelos entrevistados
a partir das suas possibilidades de uso.
Cabe ressaltar algumas considerações sobre a ferramenta chat que, por ser
síncrona, atende à exigência de simultaneidade, cuja importância foi destacada pelos
entrevistados ao discorreram sobre a interação. Entretanto, esta ferramenta não está
identificada, pelos entrevistados, entre aquelas mais utilizadas ou que apresentam
maior eficácia quanto ao seu uso, seja por questões técnicas ou de cultura de uso. É
possível inferir que ainda não existe uma familiaridade com relação a este recurso
interativo.
Com relação ao uso da televisão nos cursos de formação continuada, na opinião
da maioria dos entrevistados ocorre de maneira restrita, seja o uso da televisão como
um veículo de comunicação, seja como produtora de conteúdos. É possível perceber
que seu uso é um pouco mais frequente quando se trata de produção televisiva
disponibilizada nos cursos, aos professores, do que como um veículo de comunicação.
Entretanto, embora o uso diretamente da programação apareça de forma pontual em
iniciativas isoladas, o nível de aprovação e interesse por essa possibilidade aparece de
forma contundente.
Para os entrevistados, as limitações de uso da televisão são identificadas na
comparação com o computador e a internet, considerando os limites da interação, a
falta de dinamismo no processo de recepção da mensagem, o poder de manipulação
pela repetição, e um certo isolamento do usuário da televisão.
Sobre os gêneros e formatos de programas mais utilizados na ação educacional,
percebe-se que existe uma predominância na aprovação de formatos como entrevistas,
mesas redondas e debates, embora, para os profissionais envolvidos na organização
dos cursos, esta escolha o aconteça de forma mais reflexiva e intencional e sim a
partir de modelos pré-estabelecidos. Para a maioria dos entrevistados, estes
programas, característicos do gênero chamado por Arlindo Machado de “programas
pautados no diálogo”, possuem uma afinidade imediata com o processo de formação.
182
Em algumas entrevistas, é sugerido o uso de imagens de maneira a
complementar os conteúdos tratados em um seminário ou conferência. A questão de
integrar o uso da televisão a outras ferramentas de comunicação como o telefone, o e-
mail ou chat também aparece de forma frequente nas respostas.
A questão da escolha do formato dos programas para a formação continuada é
apresentada, por alguns entrevistados, sob a mesma perspectiva das ferramentas
interativas, ou seja, que a escolha deve se adequar a um planejamento que contemple
a finalidade do curso.
No procedimento de coleta de dados, os entrevistados foram instigados a refletir
sobre o processo de recepção da mensagem televisiva a partir do argumento da
passividade. De uma forma geral, os especialistas em educação a distância contrapõem
a passividade à interação. Alguns argumentam acerca da possibilidade reativa implícita
na recepção da mensagem. Outros relacionam a passividade a uma certa manipulação
ou cooptação pela mensagem.
Alguns entrevistados relacionaram a questão da recepção ao processo de
formação, quando a televisão é utilizada em cursos. Neste caso, o entendimento é que
a possibilidade de reação ao que se apresenta é significativo para a aprendizagem,
gerando reflexão sobre o conteúdo e provocando a ampliação do conhecimento. É
possível, também, identificar alguns posicionamentos acerca da recepção a partir de
uma reflexão sobre a ausência de um canal de retorno que possibilitaria uma interação
mais efetiva do sujeito com a mensagem.
Para finalizar o levantamento de dados sobre o uso da televisão em cursos
destinados à formação continuada de professores, foi proposto aos entrevistados
pensarem acerca da produção televisiva a partir da perspectiva de se considerar ou não
o público alvo, particularmente nos aspectos relacionados a suas identidades. Com
relação a esta questão, duas posições diferentes foram apresentadas. Aqueles que
vinculam a produção televisiva às necessidades do curso, do conteúdo, do
conhecimento e aqueles que entendem como necessário refletir na produção as
características presentes no público ao qual ela se destina.
183
Também se levantaram dados, junto aos especialistas da Seed, acerca do
conhecimento existente sobre as possibilidades de interatividade da televisão digital e,
ainda, identificar as expectativas em torno do seu uso nos cursos. De uma maneira
geral, a maioria dos entrevistados, embora tenha ouvido ou lido a respeito, possui
poucas informações sobre as perspectivas de uso deste recurso tecnológico.
Existe, por parte dos entrevistados, o estabelecimento imediato de uma relação
de comparação da televisão digital interativa com o computador, buscando, nesta mídia
as possíveis alternativas de uso para a televisão, ou ainda, em alguns momentos, o
computador é colocado como ideal de aprimoramento para a televisão. Outro ponto
importante a ser destacado, apresentado apenas por um dos entrevistados, mas com
um argumento de grande coerência, diz respeito ao questionamento acerca do possível
ganho desta tecnologia considerando que existe o computador oferecendo os
serviços que ela se propõe a oferecer.
Finalizando a pesquisa, apresentei para equipe de especialistas de educação a
distância da Seed, os recursos de interatividade da televisão digital do Brasil, com
vistas ao seu uso no programa de formação continuada de professores, optando pela
realização de entrevista coletiva, como instrumento de coleta de dados.
Para alguns especialistas, a interatividade da TV digital aparece como uma
perspectiva remota, considerando, inclusive, as dificuldades encontradas pela
população brasileira com a conexão para o uso da internet. Por outro lado, algumas
reflexões são mais otimistas, vislumbrando possibilidades mais imediatas, inclusive
comparando com recursos de comunicação que se encontram disponíveis. Outra
questão presente nos argumentos dos integrantes do grupo se refere às possíveis
dificuldades de uso, se ocorreriam em função do custo da tecnologia ou da cultura de
uso.
Quando provocados sobre as possíveis dificuldades que o grupo enfrentava para
utilizar televisão como recurso tecnológico na formação de professores, considerando
de que já existe a TV Paulo Freire e as entrevistas individuais mostraram que ela é
pouco utilizada, algumas manifestações demonstram limites pessoais e culturais, além
de pouco conhecimento e familiaridade com a produção na mídia televisiva. Um dos
184
integrantes fez uma retomada histórica do modelo tradicional de ensino no Brasil,
estabelecendo uma analogia com o modelo de transmissão da televisão e, a partir
disso, se revelou entre alguns integrantes do grupo um entendimento que vincula o uso
da televisão em cursos de formação continuada à baixa qualidade dos cursos e pouco
respeito às necessidades dos alunos. Entretanto, esta opinião o é compartilhada por
todos e manifesta-se, em particular, na posição de uma das integrantes do grupo que
tem experiência como aluna de curso na modalidade a distância onde a televisão é a
solução tecnológica.
Com relação aos recursos da TV digital interativa o grupo de discussão refletiu
sobre algumas questões como: uso do canal de retorno para enviar resposta mais
simples como um questionário ou um termômetro de opinião; a portabilidade e a
multiprogramação. As posições dos participantes do grupo foram se construindo no
debate que realizaram e, ao final, é possível perceber que alguns foram modificando
sua opinião no processo, passando da postura de resistência e desvalorização do uso à
imaginação de possibilidades e avanços decorrente do uso.
A partir das análises realizadas, foi possível identificar que, na perspectiva dos
usuários desta nova tecnologia visando à formação a distância, pouco se conhece e as
expectativas em torno do seu uso estão diretamente vinculadas ao computador e à
internet, e que, por outro lado, na perspectiva do desenvolvimento, as alternativas de
uso, relacionadas ao campo educacional, ainda são incipientes e seu desenvolvimento
tem como premissa o aprimoramento da televisão convencional. Considero que são
pontos de partida diferentes que levam a expectativas e a resultados diferentes.
Aponto para a importância de se aprofundar questões em torno do preconceito
com o uso da televisão para formação continuada de professores. Da necessidade de
se considerar as expectativas de interatividade nos possíveis usuários e
consequentemente, a importância de se articular ao campo educacional o
desenvolvimento do software interativo, a linguagem televisiva e seus processos de
produção.
Outro aspecto importante a ser destacado, oriundo das discussões apresentadas
pela equipe de especialistas da Seed, diz respeito ao conceito de interação e às
185
ferramentas de interatividade. Aparece nos discursos desta equipe, de maneira
significativa, o entendimento de que o processo de interação homem homem deveria
ser preservado, mesmo na presença de em artefato, de uma ferramenta interativa.
Neste sentido, a tecnologia como meio, deveria ocupar um lugar de neutralidade no
estabelecimento desse processo interacional. Entretanto, também é possível identificar
nas discussões apresentadas que esta neutralidade não existe. Dito de outra maneira,
não é viável assegurar a transparência do artefato em qualquer processo de
aprendizagem que utiliza uma tecnologia como meio. No caso da mídia televisiva, é
possível afirmar, a partir dos estudos apresentados sobre televisão e construção de
significados, que existe uma linguagem que é própria do meio e que de alguma forma
interfere na mensagem. Dessa maneira, em contraponto a idéia de “transparência do
meio” pode-se pensar em “opacidade do meio”, que não apenas na televisão, mas
também no uso do computador e da internet interferem no processo de aprendizagem,
uma vez que as características do meio estão imbricados no conteúdo da mensagem.
Esta discussão pode se apresentar como uma possível contribuição para continuidade
de estudos e pesquisa na área de tecnologia e sociedade.
Por fim, considero relevante apresentar algumas reflexões sobre o aspecto
político presente nesta pesquisa. Este trabalho trouxe materialidade para duas ações
institucionais do governo do estado do Paraná, nas gestões 2003-2006 e 2007-2010: a
criação da TV Paulo Freire e a implantação da Educação a Distância para formação
continuada de professores. São ações pautadas pelo investimento na ampliação do
processo de formação continuada de professores e pela defesa da universalidade de
acesso às diferentes tecnologias educacionais pelas comunidades escolares. A
finalização desta pesquisa coincide com o encerramento dessas gestões e a mudança
do grupo político que fará a gestão das políticas públicas na área da educação no
Paraná. Portanto, cumpre apontar, como pesquisadora na área de tecnologia e
sociedade, a relevância de se continuar avançando na construção de uma linguagem
televisiva que possa efetivamente contribuir com a educação, particularmente, com a
formação continuada de professores.
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APÊNDICE A – Roteiros para as entrevistas
Roteiro para entrevista individual semi-estruturada com desenvolvedor da
PUC/RIO
1 – Qual é o histórico de desenvolvimento do software?
2 A escolha realizada pelo Brasil interferiu nas alternativas de interatividade
do software?
3 – O que deste desenvolvimento pode ser considerado tecnologia brasileira?
4 – Quais os níveis de interatividade podem ser alcançados com a TV Digital?
5 Na sua avaliação como desenvolvedor, os níveis de interatividade a serem
alcançados podem contribuir com a área educacional, mais precisamente na
formação de professores?
6 Existe por parte da equipe de desenvolvedores algum indicativo ou critério
de qualidade apontando para o uso educacional, particularmente em
programas de formação?
7 O que você destacaria como significativo para um programa de formação
continuada de professores no modelo que está em desenvolvimento?
8 Considerando a possibilidades de interatividade, até que ponto as
identidades e os saberes locais poderão estar contemplados na produção dos
programas?
Roteiro para entrevistas individuais semi-estruturadas com especialistas de
Educação a Distância da SEED/PR
1 - Quais ferramentas interativas são utilizadas nos curso do programa de
formação continuada na modalidade EaD?
2 - Quais elementos interativos você considera essenciais numa proposta de
curso para formação continuada na modalidade EaD?
3 A televisão é utilizada nos cursos de formação continuada? O que vc
destaca como positivo no uso da televisão e o que você considera limitador ou
negativo?
4 - Você ouviu falar sobre a televisão digital interativa? Quais as
possibilidades de uso você identifica nesta tecnologia voltada aos cursos do
programa de formação continuada de professores?
5 - Você considera que a TV digital pode ampliar o processo de interação? De
que maneira?
6 Que gênero de programas, ou quais os formatos de programas são
utilizados nos cursos, entrevistas, videoaulas, conferência, mesas redondas,
ficcional, outros?
8 - Quais aspectos relacionados ao gênero ou ao formato dos programas você
considera relevante para as propostas de curso de formação continuada de
professores?
9 Você acha que o público alvo deve ser considerado no estabelecimento do
gênero ou formato dos programas voltados a formação continuada, de que
maneira?
Roteiro para entrevista coletiva com o grupo de especialistas de Educação a
Distância da SEED/PR
1 - Como os elementos interativos da tv digital podem ser explorados no
desenho de um curso para formação continuada de professores?
195
ANEXO A – Caderno temático sobre a Educação a Distância da SEED
196
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
ASSESSORIA DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL
COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CURITIBA
SEED-PR
2010
Série Cadernos Temáticos da Educação a Distância, v. 1
É permitida a reprodução total ou parcial desta obra desde que seja citada a fonte.
197
Autoria
Equipe técnico-pedagógica da Coordenação de Educação a Distância: Ana Rita Serenato
Bortolozzo; Ana Sueli Ribeiro Vandresen; Eliane Aparecida Dias; Gílian Cristina Barros;
Leda Maria Corrêa Moura; Marco Antonio Amaral; Sandra Mara Pereira Paranhos; Suelen
Fernanda Machado
Colaboradores
Adalnice Passos Lima; Andréia Carla Catapan; Arilete Regina Cytrynski; Daniela Effgen
Dada; Eguimara Selma Branco; Eliane Scaff Moura; Elisabete de Almeida; Eliz Freitas
Kappaum; Elisane Fank; Flávia Motta; Izabel Cristina Slomp Osternack; Joseane Cintia
Piechnicki; Katia Vania Wagner Ribeiro; Kleine Karol Assis; Maria Goreti Amboni
Stadtlober; Rosalina de Fátima Ferrer da Rosa Pinto; Sissi Pereira; Sueli de Fátima
Fernandes;Valéria Antunes Frederico; Wilson Brasilio; Ricardo Hasper; Ricardo K.
Fernandes; Andrea Polizel
Capa, projeto gráfico e diagramação
Coordenação de Multimeios
Revisão Textual
Bárbara Reis Chaves Alvim
Tatiane Valéria Rogério de Carvalho
Secretaria de Estado da Educação do Paraná
Superintendência da Educação
Assessoria de Formação dos Profissionais da Educação
Diretoria de Tecnologia Educacional
Coordenação de Educação a Distância
Rua Salvador Ferrante, 1651 - Boqueirão
Telefone: (41) 3376-1906
Página da CEaD na Internet: http://www.diadia.pr.gov.br/ead
CEP 81670-390 Curitiba – Paraná – Brasil
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
IMPRESSO NO BRASIL
198
Governador do Estado do Paraná
Orlando Pessuti
Secretária de Estado da Educação
Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde
Diretor-geral da Secretaria de Estado da Educação
Ricardo Fernandes Bezerra
Superintendente da Educação
Alayde Maria Pinto Digiovanni
Assessora de Formação dos Profissionais da Educação
Maria de Fátima Navarro
Diretora de Tecnologia Educacional
Elizabete dos Santos
Coordenadora de Educação a Distância
Gílian Cristina Barros
199
Apresentamos, neste caderno, as Diretrizes de Educação a Distância da
Secretaria de Estado da Educação (SEED-PR). A Educação a Distância (EaD) tem se
consolidado como auxiliadora nos processos de ensino e de aprendizagem e, na SEED-PR,
configura-se como uma oportunidade de ampliação da oferta de formação continuada aos
profissionais da educação.
Com ferramentas que oportunizam o rompimento das barreiras espaço-
temporais, a modalidade a distância busca democratizar o acesso aos recursos tecnológicos
disponibilizados nas escolas, bem como aprofundar a reflexão sobre o uso da tecnologia na
prática profissional dos trabalhadores da educação do estado.
Este caderno, além de apresentar o contexto histórico do surgimento da
educação a distância e sua trajetória no Estado do Paraná e na SEED-PR, define a
formação continuada como princípio de adoção dessa modalidade pela Secretaria.
A EaD, na SEED-PR, contribui, numa perspectiva consciente e transformadora,
com o desenvolvimento de práticas profissionais e sociais reflexivas e emancipadoras por
parte dos profissionais da educação em formação e, nesse sentido, este caderno vem
somar-se a outras ações desenvolvidas pela Secretaria, que visam a uma educação
democrática e de qualidade.
Alayde Maria Pinto Digiovanni
Superintendente da Educação
200
Apresentação
As ações de formação por meio da modalidade a distância são uma prática na Secretaria de
Estado da Educação (SEED-PR) algum tempo. No entanto, a criação e a implementação da
Coordenação de Educação a Distância (CEaD), na Diretoria de Tecnologia Educacional do Paraná
(DITEC), em 2008, foi um avanço no sentido de ampliar o acesso dos profissionais da Rede Estadual de
Ensino à formação continuada.
A criação da CEaD, a sua demanda de trabalho e as novas leituras sobre o ensinar e o aprender
que a modalidade a distância imprime trouxeram a necessidade da escrita destas Diretrizes.
O texto apresenta um breve histórico, os fundamentos teóricos e os aspectos metodológicos
característicos da modalidade. Traz, também, a organização da CEaD que tem como papel principal
atender às demandas advindas dos departamentos e das coordenações da Secretaria, assim como das
parcerias realizadas com algumas instituições de Ensino Superior e o Ministério da Educação.
Esse documento foi redigido colaborativamente buscando refletir as diretrizes de educação que
a SEED-PR quanto a formação continuada.
Para tanto, após a produção de um texto-base, foi criada uma comissão para sua revisão e
aprofundamento. Nessa comissão, coordenada pela Superintendência da Educação, participaram
representantes da Coordenação de Gestão Escolar (CGE), Coordenação de Formação Continuada
(CFC), Coordenação de Apoio ao Uso de Tecnologias (CAUTEC), Departamento de Educação Especial
e Inclusiva (DEEIN) e Departamento de Educação e Trabalho (DET). O grupo reuniu-se inúmeras vezes
durante o ano de 2007 para chegar a um documento que, em 2008, passou a ser utilizado nos cursos de
Formação de Professores-tutores para EaD, como forma de ampliar a discussão e aprimorar seu
conteúdo.
No decorrer de 2008, o texto foi reformulado a partir das contribuições recebidas dos
participantes dos cursos ofertados e da leitura crítica feita pelo especialista na área, Professor Oreste
Pretti. Já em 2009, o texto foi, também, encaminhado ao Departamento de Educação Básica (DEB) para
leitura crítica. A seguir, o texto foi encaminhado para a Assessoria de Formação dos Profissionais de
Educação (ASFOPE) para nova leitura crítica. As contribuições foram discutidas, analisadas e
incorporadas ao documento.
Esta versão tem, portanto, a característica da escrita coletiva, na qual a participação dos
professores em serviço na SEED-PR e nos Núcleos Regionais de Educação, bem como dos professores
da Rede Estadual que participaram dos Cursos de Formação de Professores-tutores para Educação a
Distância, no decorrer de 2008, foi fundamental.
Além do texto das Diretrizes para Educação a Distância, este Caderno traz artigos que podem
auxiliar na discussão sobre o trabalho quanto: aos instrumentos de avaliação utilizados nos cursos
ofertados com vistas à aprendizagem e ao uso das mídias na EaD e apresenta relatos de experiências de
ações de formação continuada na EaD desenvolvidas pela SEED. Aborda e apresenta formulários
utilizados para demanda de produtos e organização dos cursos em EaD.Completa o Caderno a indicação
da legislação de EaD vigente no país, no momento desta publicação.
Enfim, apresentamos essas Diretrizes que se destinam a todos os profissionais envolvidos,
direta e indiretamente, com a Educação a Distância da SEED-PR, esperando que contribuam para as
discussões educacionais relativas ao tema.
Elizabete dos Santos
Diretora de Tecnologia Educacional
Gílian Cristina Barros
Coordenadora de Educação a Distância
201
1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: CONTEXTO HISTÓRICO
As origens da Educação a Distância (EaD)são, geralmente, apresentadas como
tendo início nos cursos por correspondência, cujo primeiro registro se no Reino Unido,
em fins do século XIX. Embora seja possível identificar outras experiências desenvolvidas
por europeus e norte-americanos, é, realmente, no século XX que a modalidade estende
seus domínios a todos os continentes, sendo considerada uma importante aliada à
manutenção das relações de produção vigentes (ZAMLUTTI, 2006).
Nestas Diretrizes, a EaD é entendida como integrante de um campo teórico mais
amplo, que é o da Educação. Assim, a exemplo das demais modalidades de educação, a
EaD viabiliza, por meio de suas especificidades, o acesso aos saberes, ao conhecimento, à
emancipação.
1
Além disso, oportuniza o desenvolvimento da autonomia do sujeito nos
processos de ensino e de aprendizagem, apontando caminhos para se trabalhar com mais
liberdade em seus estudos e pesquisas.
Essa autonomia propicia que os “sujeitos construam sentidos para o mundo, que
compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que, pelo
acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção cidadã e transformadora na
sociedade” (PARANÁ - DCE História, p. 31).
Aliada à ideia de democratização, a EaD possibilita, também, o aprendizado sem
fronteiras, nos diversos níveis da Educação, independente do espaço e tempo,
possibilitando, desse modo, novas formas de interação e de aprendizagem.
Na sociedade contemporânea, inúmeros são os contextos nos quais a EaD se
apresenta e também são muitos os autores que estudam a modalidade:
Preti(1996) afirma que a EaD não deve ser simplesmente confundida com o
instrumental ou com as tecnologias a que recorre, mas deve ser compreendida como
uma prática de se fazer educação.
1
Entende-se emancipação como a conquista de igualdade entre os cidadãos e destes perante o Estado e perante a
lei, independente de suas convicções políticas, religiosas ou econômicas.
202
Belloni (1999) diz que a EaD aparece na sociedade contemporânea como
uma modalidade de educação adequada e desejável para atender às demandas
educacionais oriundas da nova ordem econômica mundial.
2
Lobo Neto (2001) discorre que a EaD deve ser entendida no contexto mais
amplo da educação e constituir-se em um objeto de reflexão crítica, capaz de
fundamentá-la.
Pretto (2003) acredita que o desafio da EaD é o mesmo desafio da educação
como um todo e sua discussão precisa estar inserida nas discussões teóricas da
educação, bem como das políticas públicas.
Alonso (2005) afirma que a EaD não é algo isolado da educação em geral,
pois liga-se à ideia de democratização e facilitação do acesso à escola e não à ideia
de suplência ao ensino regular, nem tampouco à implantação de sistemas
provisórios.
Os argumentos utilizados pelos autores se aproximam, pois defendem a EaD como
uma modalidade importante e necessária para a democratização da educação.
Belloni (2002) acredita que para entender o conceito e a prática da EaD é preciso
refletir sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na educação. É a
partir dessas novas fronteiras que apresentamos a EaD como um fenômeno que faz parte de
um processo de inovação educacional mais amplo, o qual integra as novas TIC nos
processos educacionais.
Com base nos estudos da autora, propomos a trajetória de desenvolvimento da EaD
demarcada por três grandes tendências,
3
considerando a perspectiva do uso de inovações
tecnológicas:
primeira, caracterizada pelo ensino por correspondência Essa etapa tem
seu início no final do século XIX em razão do desenvolvimento da imprensa,
dentro da área da comunicação; e, das estradas de ferro, na área do transporte.
2
Forma de organização que substituiu o mundo bipolar configurado no s-guerra. Na nova ordem mundial os
centros de poder passam a ser supranacionais, onde os países ricos se organizam em blocos econômicos e os países
pobres são agregados aos blocos de modo marginal.
3
As três grandes tendências do desenvolvimento da EaD apresentadas por Belloni (1999) são, também, citadas
por Ropolli, Meneguel e Franco (2003), mais especificamente quanto ao tipo de tecnologia utilizada para a realização da
EaD no Brasil.
203
Nessa primeira geração, observa-se grande flexibilidade entre as dimensões de
espaço e tempo, bem como o amadurecimento da autonomia do estudante,
manifestado na escolha do lugar para realizar seus estudos e pela separação, quase
absoluta, do professor.
segunda, relaciona-se ao ensino por multimeios Nesse caso, os meios de
difusão são o impresso, os programas de vídeo e áudio com uso de antena e, mais
tarde, os computadores, porém, de maneira limitada. Essa tendência desenvolve-se
na década de 1960, desdobrando-se na década de 1980, e é, ainda hoje, o modelo
predominante na maioria das experiências de EaD.
terceira, dissemina-se com o uso de TIC – Surge na década de 1990 e
caracteriza-se por associar as tecnologias digitais aos meios anteriores. A televisão,
as redes telemáticas e os produtos multimídias ilustram algumas das TIC
decorrentes do mundo globalizado, que passam a ser incorporadas à educação,
inaugurando novas formas de aprender (GUIMARÃES, 2007).
Essas tendências desenvolveram-se de acordo com o contexto emergente das
sociedades industrializadas, como contribuição para o desenvolvimento social e
econômico, tanto dos países desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento.
Belloni (1999) alude à análise de Peters, para quem a EaD emerge em um contexto
econômico que tem como modelo industrial dominante o fordismo.
4
Esse modelo foi
desestabilizado apenas em meados do século XX, em virtude do avanço tecnológico que
colocou em crise seus princípios básicos: a racionalização, a divisão do trabalho e a
produção em massa. Na Educação, o fordismo caracteriza-se por atender às demandas de
educação de trabalhadores e dirigentes a partir de uma clara definição de fronteiras entre as
ações intelectuais e instrumentais, em decorrência de relações de classe bem demarcadas
que determinavam o lugar e as atribuições de cada um (KUENZER, 2002).
Peters (2004) analisa que as experiências iniciais da EaD reproduzem esses
princípios sob a forma de expansão da oferta de educação e de estratégias de
4
Organização da produção caracterizada pela intensa mecanização e pela total separação do trabalho intelectual
da execução das tarefas. O trabalho é rotinizado e fragmentado.
204
implementação que caracterizaram essa modalidade: centralização do planejamento,
otimização de recursos e, destacadamente, o uso de tecnologias. Suas críticas manifestam
os equívocos de uma educação que reflete, em sua organização institucional e pedagógica,
os princípios da produção industrial: a divisão do trabalho de ensinar com a mecanização e
automação da metodologia de ensino, transformando radicalmente o papel do professor em
burocrata. Sua tese foi considerada nas propostas de EaD que se seguiram e foram
fundamentais para a elaboração de modelos mais abertos e flexíveis de organização.
Na análise de Giddens (1997), muitos estudos enfocam o desenvolvimento
tecnológico como fator determinante da globalização, graças às transformações das
relações de espaço e de tempo que permitem. A disponibilidade de novas TIC influenciou
a reestruturação do capitalismo por meio da flexibilização dos processos e mercados de
trabalho; e, também, pela variabilidade de produtos e padrões de consumo.
Mesmo no capitalismo, a defesa da EaD como uma política educacional baseou-se
nos argumentos de que essa modalidade poderia contribuir para o crescimento econômico e
a inclusão social, pois, como estratégia de democratização do acesso ao conhecimento
propiciaria a justiça social. Malanchen (2007) observa que essa tese tem fundamentado os
argumentos em defesa da EaD e constitui a base da elaboração de políticas nessa
modalidade. Essa perspectiva capitalista de produção propaga a necessidade de um
trabalhador com novas características, configurando um perfil que se reproduz na área da
educação, o que muitas vezes orienta os “novos” requisitos para docentes e alunos.
É necessário ressaltar que não houve êxito na fase que engloba as primeiras
iniciativas em EaD no Brasil, em função da falta de incentivo dado pelas autoridades
educacionais e pelos órgãos governamentais à modalidade; e, também, em virtude da
função do sistema deficitário dos correios naquela época (NOVA; ALVES, 2003).
Entretanto, na primeira metade do século XX, agregado ao meio impresso, o rádio começa
a ser utilizado como forma de comunicação. A EaD, então, passa a ganhar espaço,
principalmente, na educação destinada a adultos e na educação profissionalizante
(FREITAS, 2003). São relevantes, naquele momento, as iniciativas de Roquete Pinto
(Rádio MEC, Rádio Escola Municipal); do Instituto Rádio Técnico Monitor; do Instituto
Universal Brasileiro; do Movimento de Educação de Base (MEB); da Fundação
205
Educacional e Cultural Padre Landell de Moura (FEPLAM); do Sistema de Rádio
Educativo Nacional (IRENA) e da Universidade do Ar, reorganizada pelo Serviço Social
do Comércio (SESC), juntamente com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(SENAC) e as emissoras associadas.
Na década de 1960, inicia-se uma nova fase da EaD Nacional, denominada
analógica, graças à maior utilização de programas de áudio e vídeo, além do uso de
material impresso. Nela, o foco é a oferta de cursos voltados à formação inicial de
professores do Ensino Fundamental e Médio. Ocorrem iniciativas da Secretaria de
Educação de São Paulo (1961), com a oferta de cursos preparatórios para o Ensino Médio
veiculados pela TV; e da TV Rio (1962), que passa a transmitir aulas periodicamente.
Além disso, visando ao estabelecimento de um sistema nacional de tele-educação
utilizando satélite, foi criado em 1967, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), numa parceria com a Universidade de Stanford, o Projeto SACI - Satélite
Avançado de Comunicações Interdisciplinares (SANTOS, 2002), voltado à valorização do
professor por meio da qualificação permanente.
As décadas seguintes apresentaram diversos momentos relacionados à EaD, como a
parceria da Universidade de Brasília (UnB) com a Open University, do Reino Unido,
ofertando cursos de nível superior e educação profissionalizante; o projeto Minerva; o
Ensino Supletivo pela TV e o projeto João da Silva, implantados pela Fundação Anchieta
(SP), TV Educativa e FEPLAM (SP); a implantação do tele-ensino no Ceará,
disponibilizado por meio da TV Educativa, cujo objetivo era o de atender o ensino regular
de 5.ª a 8.ª séries e cursos profissionalizantes.
Um destaque deve ser dado ao programa nacional de tele-educação, criado em 1972
pelo Decreto 70.185, que possuía a finalidade de integrar, em âmbito nacional, as
atividades didáticas e educativas por meio do rádio, da televisão e de outros meios, de
forma articulada com a Política Nacional de Educação (SANTOS, 2002).
Ressaltam-se nesse período, os cursos de 1.º e 2.º graus e de formação
profissionalizante, que eram ofertados pelo Instituto Padre Réus e ministrados por meio de
materiais impressos; e o Telecurso 2.º grau, das Fundações Roberto Marinho e Padre
Anchieta, transmitido pela Rede Globo de Televisão, utilizando rádio e material impresso.
206
Uma nova proposta, agora voltada ao Ensino de 1.º grau, é lançada pelo mesmo grupo em
1981, bem como uma versão reformulada do Telecurso 2.º grau, realizada em parceria com
a Fundação Bradesco.
A UnB, em 1985, por meio do Centro de Educação Aberta Continuada e a
Distância, ofereceu um curso com material impresso, vídeo e tutoria a distância. Por sua
vez, a Fundação Roquete Pinto (1989), tendo por objetivo a formação e o aperfeiçoamento
de docentes das séries fundamentais, ofertou cursos que abordavam conteúdos do 1.º grau.
Esses cursos eram veiculados através de séries de televisão, de rádio e de material
impresso.
Em 1991, a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino da Ciência
(FUNBEC) ofereceu cursos de Matemática por correspondência. Esses cursos foram
veiculados no jornal da Educação “Salto para o Futuro” e tinham como público os
professores de 1º grau.
As iniciativas do Ministério da Educação (MEC) para a EaD, acontecidas no final
da década de 1980, possibilitaram uma nova guinada para a modalidade e deram início à
chamada fase digital.
Nessa fase, ocorre a disseminação das TIC, na modalidade a distância, associadas
aos meios de veiculação existentes. É a era das redes telemáticas e dos produtos
multimídias, por isso a denominação digital.
A EaD ganha relevância devido a ações como as da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), que, utilizando a Rádio MEC e o seu Laboratório de Ensino a Distância
(LED), a partir de 1995, promoveu cursos para as crianças das escolas de 1.º grau e
programas de formação continuada. Houve, também, o Programa de Educação a Distância
em Ciência e Tecnologia (EDUCADI), que, fazendo uso de computadores, preparava
pessoas para o mercado de trabalho, e a iniciativa da Fundação Vanzolini, que visava à
atualização dos professores por meio de teleconferências via satélite.
Apesar das ações na modalidade a distância estarem presentes, no Brasil, desde fins
do século XIX e de existirem diversas iniciativas durante o século XX, apenas no final
deste, em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) passa a tratar da EaD,
possibilitando a modalidade em todos os níveis de educação:
207
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de
programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e
de educação continuada.
§ 1.º A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais, será
oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União.
§ 2.º A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registro
de diploma relativos a cursos de educação a distância.
§ 3.º As normas para produção, controle e avaliação de programas de educação a
distância e a autorização para sua implementação, caberão aos respectivos
sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os diferentes
sistemas.
§ 4.º A educação a distância gozará de tratamento diferenciado, que incluirá:
I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora
e de sons e imagens;
II - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas;
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos
concessionários de canais comerciais.
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições de ensino
experimentais, desde que obedecidas as disposições desta Lei. ( Lei n. 9394/96)
A presença da EaD na legislação favoreceu a ampliação de cursos na modalidade
em instituições públicas e privadas. Começa a oferta de cursos de graduação em todo o
país, com ênfase em cursos de licenciatura. Além disso, são criados cursos de
especialização a distância pela internet como resultado das parcerias entre empresas e
universidades.
A consolidação da EaD, no Brasil, ocorreu em 2000, com a criação da Universidade
Virtual Pública do Brasil (UNIREDE), que ofertou cursos de graduação e formação de
professores. Ainda em 2000, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) estabeleceu
convênios com fundações em três estados brasileiros, oferecendo, inicialmente, o curso de
Capacitação de Tutores para que atuassem no curso de graduação em Pedagogia Anos
Iniciais do Ensino Fundamental na modalidade a distância, que atendeu a alunos
oriundos de diferentes municípios do Paraná.
Como política pública em âmbito nacional foi criada, em 2005, a Universidade
Aberta do Brasil (UAB), que propõe a articulação das Instituições de Ensino Superior
(IES) públicas. A UAB possibilita a oferta de ensino superior em municípios onde a oferta
208
não existe ou é insuficiente. Um dos propósitos da iniciativa é a formação de professores
para a educação básica.
O sistema integra as IES públicas com os municípios: as IES ofertam os cursos e os
municípios montam os polos de apoio presencial onde infraestrutura para atendimentos
aos estudantes. Os polos devem contar com tutores presenciais, laboratórios e biblioteca,
sendo que um mesmo polo pode atender as ofertas de mais de uma IES.
Esse breve percurso histórico da EaD, no Brasil, possibilita a percepção de que as
diferentes tendências (ensino por correspondência, multimeios e uso de TIC), que
marcaram o desenvolvimento da modalidade, entrecruzaram-se em vários momentos
(BELLONI, 2002). Além disso, a EaD esteve, muitas vezes, a serviço das necessidades do
mercado de trabalho, do processo de globalização e das dinâmicas da produção mundial.
É oportuno afirmar que não a EaD se pautava em tais princípios, mas a
Educação, como um todo, caminhou a partir dessas premissas. Assim, em 2003, com vistas
à superação dessas práticas, a SEED-PR desencadeou um processo de discussão coletiva
para reformulação curricular, com o objetivo de se contrapor aos referenciais nacionais
cuja concepção de educação atrelava a escola pública às necessidades do mercado. Muitos
foram os movimentos nesse sentido: simpósios, reuniões técnicas, grupos de estudo,
5
o
Projeto Folhas,
6
os Objetos de Aprendizagem Colaborativa (OAC),
7
o Livro Didático
Público,
8
entre outros.
Todos esses encaminhamentos previam a formação continuada dos professores,
atendendo a um dos princípios assumidos pela gestão (2003-2010) – valorização dos
profissionais da educação –, buscando ir ao encontro das necessidades reais da escola
5
Modalidade de formação continuada descentralizada na qual as orientações são encaminhadas aos grupos que
se organizam nas escolas. Ver: <http://www.diaadia.pr.gov.br/cfc/>.
6
Programa de Formação Continuada que propõe uma metodologia específica de produção de material didático;
o material passa por discussão e orientação por meio do ambiente Folhas. Após validado, é publicado no Portal
Educacional do Paraná. Ver: <http://www.diaadia.pr.gov.br/projetofolhas/>.
7
Proposta de Formação Continuada que “objetiva viabilizar meios para que professores da Rede Pública
Estadual do Paraná pesquisem e aprimorem seus conhecimentos, buscando a qualidade teórico-metodológica da ação
docente”. Ver: <http://www.diaadia.pr.gov.br/oac/>.
8
Livro didático produzido por profissionais da Rede blica Estadual paranaense, elaborado no formato de
material didático construído com o Projeto Folhas. Ver:
<http://www.diaadia.pr.gov.br/projetofolhas/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=10>.
209
pública e garantindo a efetivação de sua função social, ou seja, atender aos estudantes
oriundos das classes populares (PARANÁ, 2007).
Dessa forma, na SEED-PR, a EaD apresenta-se como uma possibilidade a mais de
qualificação dos profissionais da educação, com vistas ao aperfeiçoamento da prática
docente, de modo que haja melhoria do processo de ensino e de aprendizagem nas escolas.
Não há, nessa concepção de EaD, pretensão de substituir a formação presencial nem de
servir aos interesses do mercado de trabalho, regulados pela lógica da competição e do
individualismo.
2 AÇÕES DE EAD NA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ
Muitas foram as iniciativas que antecederam a efetivação institucional da EaD pela
SEED-PR, entre elas podemos citar: cursos oferecidos pelo MEC, no ambiente virtual de
aprendizagem (e-Proinfo), a partir de 2000; Cooperativa NTE dos Núcleos de Tecnologia
Educacional, em 2001; Clube de Matemática, em 2002; Fórum da Coordenação Estadual
de Tecnologia, em 2003; Grupos de Trabalho (GT), por meio do ambiente Dokeos, em
2004; e o Estudo Piloto da Plataforma Teleduc, também em 2004, realizado por
profissionais da equipe do Portal Dia a dia Educação.
Outras iniciativas de formação continuada na modalidade foram realizadas em
parcerias, tais como: UNB e MEC (Educação e Africanidade); Escola Superior de
Administração Fazendária (Educação Fiscal); MEC e Universidade de Brasília
(Profuncionário); MEC/UFPR (Curso de Mídias na Educação); em parceria com o
Conselho Britânico (Curso Internet English da Open University); MEC em parceria com a
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Espírito
Santo, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná e a Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (Especialização em Informática/Tecnologias na Educação); e cursos
oferecidos por programas da TV Escola (Salto para o Futuro, TV na Escola e Os Desafios
de Hoje, entre outros).
Como ação institucional de formação continuada, estabeleceu-se em 2003, no
Portal Dia a dia Educação, o Ambiente Pedagógico Colaborativo, no qual foram
210
produzidos: Objetos de Aprendizagem Colaborativa (OAC); os Grupos de Estudo (2004);
o Projeto Folhas (2004) ações citadas anteriormente; a TV Paulo Freire (2006) e o
Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná – PDE (2007).
Os investimentos da SEED-PR têm sido significativos, tanto em ações que
promovem a formação continuada, quanto em infraestrutura e soluções tecnológicas que
visam à diversificação e ampliação da oferta de cursos, com consequente universalidade de
acesso.
Com base nos princípios que balizam as ações da SEED-PR, a modalidade a
distância ofertada por ela acontece, preferencialmente, na formação continuada de
profissionais da educação. Atendendo, também, demanda específica, nas parcerias com o
MEC: formação técnica profissional, em nível médio; formação subsequente,
especialmente nos municípios nos quais não oferta de cursos presenciais; e formação
inicial de professores da educação básica.
3 CARACTERIZAÇÃO DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA MODALIDADE A
DISTÂNCIA DA SEED-PR
A EaD, na SEED-PR, configura-se como um dos meios de oferta da formação
continuada pela qual os conteúdos devem ser concebidos como vias de emancipação.
Quando se fala em EaD, o conceito de Educação assume um papel democrático,
pois contribui para a socialização do conhecimento e, assim, amplia as possibilidades de
compreensão do mundo e de autonomia.
Basicamente, o que diferencia a EaD da educação presencial é o fato de que
professores e alunos estão em locais diferentes em parte ou durante todo o período que
aprendem e ensinam; dessa forma, dependem de algum tipo de tecnologia para transmitir
as informações e propiciar meios para interação (MOORE, 2008). Assim, as características
básicas, peculiares à EaD, são a separação espaço/temporal e a realização de interação por
meio das TIC. É importante deixar claro que, nesse processo, as tecnologias são
consideradas meios e não fins educacionais.
211
Ainda segundo Moore (2008), é preciso prever a utilização dos tipos de técnicas de
criação e comunicação específicas de cada tecnologia, diferentes do uso que os professores
fazem em sala de aula. Tanto quanto na educação presencial, empregar adequadamente as
tecnologias e técnicas para a EaD exige organização e planejamento.
A estrutura dos cursos oferecidos, nessa modalidade, devem seguir um
planejamento que permita a incorporação das diferentes mídias (a impressa, a televisiva
com conteúdos gravados e/ou ao vivo e a mídia web), visando à interação, pesquisa e
produção coletiva em ambientes virtuais, buscando sempre atender à especificidade da
EaD.
Os cursos a distância devem ser ofertados com formatos preestabelecidos a partir
da carga-horária. Devem ser previstos encontros presenciais, sendo opcionais em cursos
com duração de até 64 horas e obrigatórios nos cursos com carga-horária maior. Esses
encontros podem acontecer a qualquer tempo – no início, meio ou final do curso –,
conforme as necessidades e objetivos do proponente.
A preparação do professor para trabalhar na modalidade configura-se, também,
como um dos desafios da Coordenação de EaD, pois faz-se necessário investir na
construção da identidade do professor-tutor, profissional que irá atuar nos cursos a
distância ofertados pela SEED-PR. O professor-tutor deve ser especialista no conteúdo do
curso e sua formação segue a mesma perspectiva que a SEED-PR propõe para o
profissional da educação, como:
[...] aquele que estuda e que em meio a tantas demandas, busca aprimorar-se,
formar-se e capacitar-se, portanto é o sujeito que tem domínio do saber e deve
mediar este saber oferecê-lo ao seu aluno de forma organizada e sistematizada.
É aquele que ensina . Com certeza não ensina qualquer conteúdo apenas como
via de desenvolver capacidades mentais [...] mas é aquele que seleciona o recorte
do conteúdo, o qual não é aleatório e sim planejado, movido por uma intenção
social, política, histórica e cultural. (PARANÁ, 2009, p. 11, grifo do autor).
212
Dessa forma, acreditamos que a EaD alcança grande significado no panorama atual da
educação porque permite a busca por novos caminhos no aprimoramento da prática
profissional, contribuindo assim para uma educação de qualidade.
213
4 CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA
A EaD pressupõe uma concepção de educação que privilegia a atividade
mediadora dentro da prática social, possibilitando, pela via da interlocução expressa na
figura dos professores-tutores, a mediação no processo de elaboração e apropriação do
conhecimento.
Faz-se necessário, em qualquer programa de educação a distância, partir de
conhecimentos historicamente produzidos, que serão trabalhados estabelecendo uma
relação que não seja somente de ensino desses conteúdos, mas de significação humana e
social. Assim sendo, se o objetivo é privilegiar a aquisição do saber vinculado às
realidades sociais, “é preciso que os métodos favoreçam a correspondência dos
conteúdos e reconheçam neles o auxílio ao esforço de compreensão da realidade”
(LIBÂNEO, 1983).
Partindo desse pressuposto, a EaD, além de veicular conteúdos necessários para
a formação da prática profissional consciente e transformadora, possibilita a prática
social reflexiva e emancipadora.
Nesse processo, a tecnologia é entendida como meio que, na EaD, potencializa
e, por isso, democratiza o acesso ao conhecimento. Mesmo caracterizada pelos estudos
autônomos, a apropriação do conhecimento por meio de interação é a principal
finalidade no processo de formação continuada na modalidade, sendo, também, um
meio para mudança da prática social e profissional. Esse conhecimento é mediado pela
interlocução entre o sujeito que aprende, o sujeito que ensina (neste caso, figura
representada pelo professor-tutor) e o objeto do conhecimento, ou seja, o conteúdo da
formação continuada.
O papel da educação é oferecer aos estudantes os instrumentos necessários para
mudar sua prática social e possibilitar o acesso à emancipação. Para tanto, a própria
formação do docente precisa partir desse pressuposto.
Assim, a EaD deve ser entendida como parte de um todo, como modalidade
educacional que vai além do mero uso de meios tecnológicos e da situação presencial ou
não do docente; como sendo uma modalidade que possibilita a apropriação dos
conteúdos necessários para a formação profissional e humana.
Dessa forma, tanto na escola como na formação continuada, o ponto de partida
do trabalho docente é a prática social que, a partir da instrumentalização, do saber, do
214
conhecimento socialmente produzido e elaborado, promove um retorno a uma nova
prática social ressignificada.
O conhecimento, segundo Arce (2000), deve inquietar, ser uma vacina contra a
apatia e o egoísmo; e, para tal, nada melhor que a leitura e o ensino. Sob essa
perspectiva, a formação na modalidade EaD não pode prescindir da figura do mediador
desse conhecimento. Figura aqui representada no papel de professor-tutor.
Considerando de forma mais específica a formação do professor, Duarte (2000,
p. 59) assinala a necessidade de contemplar as diversas áreas do conhecimento humano:
[…] existe sim um conhecimento objetivo da realidade natural e social,
conhecimento este que deve ser transmitido [...] Acreditamos que é possível
conhecer a realidade de forma objetiva e abarcar a totalidade. Os parâmetros
não são o cotidiano de cada indivíduo, mas a humanidade seu
desenvolvimento e seus patrimônios intelectuais e culturais, que devem ser
disponibilizados para todos [...] o trabalho educativo passa [...] a possuir um
significado muito mais profundo tocando na essência do ser humano, não
sendo mero instrumento de adaptação, mas condição imprescindível para
mudança.
Uma concepção de EaD, nessa perspectiva, implica em não pressupor que seja
possível e adequado ajustar a formação continuada ao mundo contemporâneo, uma vez
que tal tese reforçaria a ideia em tomá-la como fim, colocando a primazia do método
sobre o conteúdo. Uma vez explicada a realidade em suas contradições, não se pode
pretender, do ponto de vista das políticas públicas, que seja adequado ajustar o sujeito a
essa realidade contraditória e excludente. A EaD não tem um fim em si mesma. É um
dos meios de oferta da formação, pelo qual os conteúdos devem ser concebidos como
vias de emancipação.
Para tanto, o conhecimento que se concebe é construído histórica e
dialeticamente pelo conjunto da humanidade, não é efêmero ou relativizado, mas
reconstruído a partir das práticas sociais e como imperativo do modo humano de
produção social da existência. Isso implica que o conhecimento se na e pela práxis.
A práxis, segundo Frigotto (2004, p. 81), expressa a unidade indissolúvel de duas
dimensões distintas, diversas no processo de conhecimento, a teoria e a ação: “A
reflexão teórica sobre a realidade não é uma reflexão diletante, mas uma reflexão em
função da ação para transformar. Portanto, o processo de apropriação do conhecimento
deve ser concebido como práxis no campo educacional”.
215
O conhecimento, nessa perspectiva, não está para um diferencial competitivo
expresso numa nova “Teoria do Capital Humano”, conforme analisado por Catani
(1996).
Assim, é necessário considerar que todo programa em educação compreende
objetivamente a formação de sujeitos situados histórica, econômica, cultural e
socialmente, vinculando-se, portanto, às condições concretas para sua viabilização;
sujeitos que, uma vez situados em sua concretude, são condicionados por sua realidade
ao mesmo tempo em que podem modificá-la. Isso se faz possível uma vez que se
relacionam, dialeticamente, com seu processo de aprendizagem, retomando, a partir de
elaborações abstratas e concretas, uma nova forma de pensar e fazer a educação.
5 FLUXO DE TRABALHO AETODOLOGIA
A questão central da educação e, consequentemente da EaD, está no conteúdo
pedagógico. Prioriza-se, assim, a ação pedagógica com o trabalho de tutoria, de forma
que se privilegie a compreensão do conhecimento em suas dimensões científica,
filosófica e artística.
O processo de ensino e de aprendizagem se efetiva ao ritmo dos envolvidos
cursistas e professores-tutores –, de forma gradual e contínua, sendo que essa
construção vai depender das relações que esses protagonistas estabelecem com o
ambiente, com o conhecimento e com os outros, bem como das suas percepções e
representações da realidade concreta que os formam.
Os conhecimentos teóricos, os estudos permanentes, a prática pedagógica e o
comprometimento são princípios fundamentais que levam à ação docente de mediação,
a partir de movimentos de interação estabelecer as diversas relações existentes no
espaço escolar, sejam elas de ordem econômica, política, social e/ou cultural. Interação,
aqui, entendida como a “ação entre” participantes de um encontro, ou interagentes,
focando a relação estabelecida pelo compartilhamento, numa dimensão coletiva e
colaborativa.
Nas ações realizadas em ambientes de aprendizagem, a interação é a
possibilitadora de discussões e reflexões acerca do conhecimento. As influências da
ação e do discurso do sujeito sobre a forma de pensar e agir do outro, presentes num
processo de elaboração e apropriação do conhecimento, poderão ser potencializadas por
diversos elementos de interatividade, decorrentes de diferentes mídias, que de forma
216
integrada, são de grande importância para o desenvolvimento de sistemas de EaD que
vislumbrem a aprendizagem.
As ações realizadas nos ambientes de aprendizagem deverão ser orientadas pelo
professor-tutor que tem a função de mediar pedagogicamente as interações, o conteúdo
e o meio, como também de orientar, presencialmente e a distância, o trabalho, além de
contribuir para o aprofundamento teórico, o encaminhamento metodológico e a
avaliação das atividades dos cursistas. O professor-tutor, também, realiza ações técnicas
referentes a organização de ferramentas e conteúdos do curso em ambiente virtual de
aprendizagem.
Mais do que ferramentas e aparatos que podem simular a realidade e/ou ilustrar a
apresentação de conteúdos, o uso das mídias, de forma integrada em educação, mobiliza
e oportuniza novas formas de ver, ler e escrever o mundo. A partir dos conteúdos, são
estabelecidos momentos de diálogo, reflexão e ação, voltados à teoria e à prática nos
ambientes de aprendizagem, que cercam educandos e educadores, dando a possibilidade
de múltiplas decodificações advindas da integração de mídias e de novos e antigos
recursos tecnológicos.
Foi escolhida a denominação e-escola
9
para o Ambiente Virtual de
Aprendizagem criado para a realização das atividades de discussão, de interação e de
compartilhamento de experiências, nos cursos da modalidade a distância ofertados pela
SEED-PR. Para viabilizá-lo, foi usado o Moodle
10
como plataforma, por ser
desenvolvido em software livre e aprimorado em colaboração por comunidades virtuais
de pesquisa e instituições de ensino superior.
6 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
Entre os atores para encaminhamento das ações pertinentes à formação
continuada na modalidade a Distância, apresentam-se a ASFOPE, a CEaD, Tutoria e
Coordenação de Tutoria, Monitoramento e Assessoria de Tecnologia Educacional.
As delimitações e atribuições de cada uma dessas esferas, apresentadas na
imagem que segue, estão descritas posteriormente.
9
Ambiente Virtual de Aprendizagem desenvolvido na Plataforma Moodle (Modular Object-Oriented
Dynamic Learning Environment ), acessível pelo endereço: <https://www.e-escola.pr.gov.br/>.
10
Ver: <http://moodle.org/>.
217
6.1 Assessoria de Formaçao dos Profissionais da Educação
À ASFOPE cabe receber as propostas dos cursos, tomar decisões sobre as
ofertas, encaminhar diretrizes para a avaliação dos cursos ofertados e, a partir da análise
dos resultados, tomar decisões sobre novas proposições, além de realizar o
acompanhamento da aplicação dos recursos financeiros.
6.2 Coordenação de Educação a Distância
Cabe à CEaD da DITEC/SEED-PR desenvolver novas políticas educacionais,
gerir cursos, pesquisar meios, organizar e administrar ambientes virtuais de
aprendizagem e preparar professores para o trabalho na modalidade como professores-
tutores, com vistas à ampliação da oferta de formação continuada aos profissionais da
educação da rede pública.
A CEaD atende às demandas de formação continuada advindas dos diversos
departamentos e coordenações da SEED-PR. Esta Coordenação se encarrega da
implementação da concepção pedagógica, da organização dos cursos e de sua gestão.
Numa ação conjunta com o proponente dos cursos, tem como principais atribuições:
preparação da equipe de tutoria;
estabelecimento do fluxo técnico e pedagógico dos cursos;
orientação quanto a produção ou aquisição de materiais didáticos de caráter
multimidiático, vinculados aos conteúdos dos cursos, previamente definidos;
estabelecimento da estrutura de funcionamento de cada curso, provendo a
capacitação das equipes envolvidas na operacionalização dos mesmos, acompanhando e
apoiando o seu trabalho e promovendo a sua articulação;
participação na elaboração, na implementação e no acompanhamento do
processo de avaliação dos cursos e cursistas;
avaliação da Formação Continuada na modalidade.
A CEaD está organizada de acordo com as ações desenvolvidas:
Formação: oferta de cursos de Formação de Professores-tutores para EaD e de
Produção de materiais para EaD.
Assessoria para EaD: contato com os departamentos da SEED-PR e
instituições parceiras para orientação e auxílio quanto à rotina e aos procedimentos do
curso, bem como à forma que os conteúdos serão disponibilizados impressa, digital e
218
televisiva. Também oferece apoio na organização do trabalho dos coordenadores de
tutoria.
Produção de material: elaboração de materiais teóricos e guias para os
cursos ofertados pela CeaD, orientação aos departamentos da SEED-PR na elaboração
de material específico para EaD.
Avaliação e registro: elaboração de instrumentos de avaliação;
sistematização das avaliações nos cursos; e manutenção da página da CEaD.
Monitoramento: criação e organização, no e-escola, dos cursos ofertados;
acompanhamento dos cursos em ambientes virtuais de aprendizagem; orientação para os
tutores na organização dos ambientes; coleta de dados e elaboração de relatórios
relativos a acessos e postagens.
Inserir infográfico que represente a coordenação (fluxograma,
organograma?
A CEaD trabalha em conjunto com as demais coordenações da DITEC, a saber:
Coordenação de Multimeios, responsável pela produção de animações, imagens e
projetos gráficos para as publicações impressas e web; Coordenação de Mídias Impressa
e Web, responsável pelas publicações no Portal Dia a dia Educação e pela publicação
impressa; Coordenação de Apoio ao Uso de Tecnologias, responsável pela assessoria
dos profissionais da educação básica para o uso de tecnologias; e TV Paulo Freire,
responsável pela organização e produção de programas televisivos. Esse trabalho
conjunto é necessário para garantir a infraestrutura dos cursos a distância.
No que se refere aos conteúdos dos cursos de formação continuada na
modalidade a distância, a CEaD trabalha integrada às demais diretorias, departamentos
e coordenações da SEED-PR. Integração essa que deve acontecer desde o início da
proposta de oferta de cursos na modalidade.
Cada departamento, quando entender que deve ofertar cursos a distância, fará
contato com a CEaD para preparar os professores-tutores; discutir as mídias a serem
utilizadas; organizar o curso no ambiente e-escola e definir as ações do monitoramento
e de assessoria na realização, quando o curso for realizado nele.
Quando os cursos forem realizados em parceria da SEED-PR com outra
instituição, o ambiente virtual a ser utilizado será, preferencialmente, o e-escola.
219
6.3 Tutoria e Coordenação de Tutoria
O tutor, um dos principais atores da Educação a Distância, é personagem
presente e constante em cursos de formação na Modalidade a Distância. Masuda (2003),
Machado & Machado (2004); Souza (2004); e Mill (2007) apresentam o tutor como
sujeito importante para o êxito de cursos a distância, nos quais ele tem a função de
“orientar o aluno e esclarecer dúvidas relativas ao estudo da disciplina pela qual é
responsável”, como apresentado por Barros (2002, p, 15).
Pretti (1996, p. 40) defende que a área de atuação do tutor está “entre o
estudante, o material didático e o professor”, atribuindo-lhe características de função
intermediária. Neste contexto, o tutor assume e desempenha o papel de mediador entre o
material didático e o cursista, tendo papel diferente do professor que organiza o
conteúdo e elabora o material a ser utilizado nos cursos.
Cada instituição poderá determinar funções específicas aos tutores que atuarão
em seus cursos. A concepção de educação da instituição determinará as características e
papéis a serem desempenhados pelos tutores.
Outra questão que poderá influenciar o modelo de trabalho do tutor são
especificidades de ordem cultural e regional dos programas desenvolvidos e adotados
pela instituição promotora de cursos a distância. Pretti (1996).
Sendo o tutor aquele que media, guia, orienta e apoia, que interage
permanentemente, levando a construção de autonomia nos estudos por parte do aluno,
ele assume muitas das características e funções do professor. Assim, a SEED-PR, optou
pela nominação de professor-tutor. Pois se o tutor instiga, provoca e apresenta
situações-problema, leva a pesquisa e reflexão, relaciona e articula teoria e prática,
motiva, busca e propõe tarefas que auxiliem na aprendizagem, proporciona, promove e
avalia a aprendizagem, ele desempenha o papel de docência, logo, é professor.
A atuação do professor-tutor requer o estabelecimento de atribuições, funções,
tarefas e responsabilidades, que precisam ultrapassar a visão tecnocrática
tradicionalmente concebida e ir ao encontro de um perfil de mediador na socialização
do conhecimento.
Na formação continuada a distância ofertada pela SEED-PR, a organização da
tutoria será organizada tendo em vista as demandas e necessidades de cada curso. A
escolha dos professores-tutores deverá passar por critérios de seleção, definidos em
parceria com a CEaD.
220
Dentre tais critérios, serão colocados, a priori, a formação específica na área de
conhecimento do curso e a participação do Curso de Formação de Professores-tutores
para Educação a Distância, ofertado pela CEaD/DITEC.
A equipe de professores-tutores será responsável por:
mediar as discussões, orientar os cursistas, contribuir para o aprofundamento
teórico e encaminhamento metodológico, bem como realizar a avaliação das atividades;
articular, com a coordenação de tutoria, as necessidades de infraestrutura;
esclarecer a respeito da dinâmica dos cursos;
estabelecer, colaborativamente, a dinâmica de trabalho entre a tutoria presencial
e a distância;
mediar, facilitar, orientar e buscar equilibrar os movimentos de aprendizagem
oportunizados nos diversos ambientes, tendo como referência o conteúdo específico do
curso;
encaminhar à coordenação de tutoria as dúvidas, sugestões e situações que
exijam alterações no desenvolvimento dos cursos;
acompanhar e avaliar as atividades propostas no curso;
enviar à coordenação de tutoria os documentos e relatórios de caráter acadêmico
e administrativo decorrentes do processo de tutoria.
Haverá, ainda, Coordenação de Tutoria em todo curso com dois ou mais
professores-tutores; sendo limite 15 professores-tutores para cada coordenador. Caso
haja até 15 professores-tutores, o próprio coordenador do curso exercerá as funções de
coordenador de tutoria.
A Coordenação de Tutoria deverá ficar sob responsabilidade do proponente do
curso, e para definição e escolha de coordenadores de tutoria de um curso, devem ser
criados critérios pelo proponente, os quais serão acrescidos aos da CeaD, a saber:
1. ter participado com aproveitamento do Curso de Formação de Professores-
tutores para Educação a Distância ofertado pela SEED-PR;
2. ter realizado função de tutoria pelo menos uma vez em cursos da SEED-PR;
3. ter formação na área de conhecimento à qual o curso se refere.
São atribuições da Coordenação de Tutoria:
trabalhar de modo integrado e articulado com a coordenação do curso e
professores-tutores;
acompanhar a tramitação de documentos e dados referentes aos cursistas;
colaborar para fazer cumprir o cronograma do curso;
221
verificar, acompanhar e responder, em tempo hábil, os e-mails recebidos da
coordenação do curso, professores-tutores e cursistas;
orientar a abertura das ferramentas onde foram inseridas as atividades,
conforme cronograma do módulo/unidade em curso;
orientar os professores-tutores para o preenchimento das planilhas de
acompanhamento dos cursistas (com conceitos e/ou anotações);
verificar a atuação dos professores-tutores, elaborar relatório de avaliação do
desempenho deles e encaminhar à coordenação do curso;
informar à coordenação do curso eventuais dificuldades no desempenho da sua
função, do ambiente ou da tutoria.
6.4 Assessoria de Tecnologia na Educação
No Programa de Formação Continuada na modalidade de EaD, os assessores de
tecnologia dos Núcleos Regionais de Educação (NRE) terão as seguintes atribuições:
oferecer assessoria técnica e pedagógica para a utilização dos recursos
tecnológicos;
promover e incentivar, por relações dialógicas, a análise crítica e reflexiva
acerca do uso de recursos tecnológicos em Educação;
subsidiar a formação continuada dos educadores paranaenses em ações
reflexivas vindas de suas realidades concretas e, consequentemente, o trabalho
pedagógico;
buscar o fortalecimento da integração de mídias como suporte à prática docente.
7 AVALIAÇÃO
Concebe-se cursos a distância pelo seu caráter diferenciado de oferta. Esses
cursos devem ser acompanhados e avaliados em todos os seus aspectos, de forma
sistemática, contínua e abrangente.
Os mecanismos utilizados no processo de avaliação devem ultrapassar os limites
impostos pela simples análise quantitativa (a mera quantificação), estabelecendo um
processo de corresponsabilidade entre os profissionais envolvidos.
222
Portanto, será por meio da avaliação que se revelará o compromisso maior com a
qualidade na oferta da formação continuada na modalidade de EaD aos profissionais da
Educação.
A proposta do sistema de avaliação na modalidade a distância da SEED-PR
contempla três dimensões avaliativas: a que diz respeito à aprendizagem do cursista; a
que se refere ao curso, incluindo os materiais didáticos; e, por último, a que diz respeito
aos profissionais que nela atuam.
A avaliação da aprendizagem dos cursistas deve ser prioritariamente qualitativa,
processual, formativa com métodos, processos e instrumentos diferenciados, incluindo a
autoavaliação. A avaliação dos cursos oferecidos na modalidade de EaD deve ocorrer,
obrigatoriamente, durante todo o processo.
Na modalidade a distância, devem ser avaliados os cursistas e os professores-
tutores de forma coletiva e individualizada, como também suas interações, participações
e produções.
Os professores-tutores, ao avaliarem os cursistas, devem considerar o ritmo de
aprendizagem de cada um. Essa é uma das características da modalidade a distância
que, também, deve levar o cursista à aquisição de conhecimentos, possibilitando-lhe
alcançar os objetivos propostos.
Mais que uma formalidade legal, a avaliação deve permitir ao cursista sentir-se
seguro quanto aos resultados que irá alcançar no processo de ensino e de aprendizagem.
No decorrer do curso, serão consideradas para a avaliação as postagens nos
fóruns de discussão, tanto respondendo aos questionamentos do professor-tutor, quanto
interagindo com os colegas a partir das suas postagens; a realização de todas as
atividades propostas e o cumprimento de prazos. Tais proposições devem estar em
conformidade com os critérios gerais de avaliação das atividades e, ainda, com outros
mais específicos, diretamente relacionadas à ferramenta utilizada para a realização da
atividade.
Vários são os critérios gerais explicitados para os cursistas ao início do curso
11
,
porém se privilegia em todas as postagens e tarefas, a pertinência e consistência.
Além da avaliação processual, ação realizada pelo professor-tutor, será feita,
também, uma autoavaliação do cursista e avaliação do curso. Nelas, o cursista preenche
um instrumento de avaliação que permite a investigação a respeito da aprendizagem dos
11
O cursista recebe o texto Como serei avaliado, no qual são explicitados os critérios de avaliação.
223
conteúdos, da metodologia, da ação dos professores-tutores e assessores, da estrutura
tecnológica e comunicacional utilizada e do material didático.
Com o uso desse instrumento, busca-se detectar as opiniões e posturas dos
cursistas em relação ao desenvolvimento do curso em todas as suas dimensões e a sua
qualificação enquanto modalidade de oferta na formação continuada e os recursos
utilizados para sua realização.
Por fim, os resultados oriundos de todo o processo avaliativo subsidiarão a
organização dos cursos na modalidade e novas metodologias de avaliação,
vislumbrando a melhoria da qualidade nos eventos futuros.
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226
ANEXO B – Documento sobre a TV Paulo Freire
227
TV PAULO FREIRE
PROJETO DE CANAL DE TV DA SECRETARIA DE
ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ
Autores:
Elizabete dos Santos (org.)
Ricardo Mendonça Petracca (org.)
Aldemara Pereira de Melo
Rosangela G. Oliveira
Tania Luiza Bonassa
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ
CENTRO DE EXCELÊNCIA EM TECNOLOGIA EDUCACIONAL DO PARANÁ
228
Roberto Requião de Mello e Silva
Governador do Paraná
Maurício Requião de Mello e Silva
Secretário de Estado da Educação
Ricardo Fernandes Bezerra
Diretor Geral
Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde
Superintendente da Educação
Elizabete dos Santos
Diretora do Centro de Excelência em Tecnologia
Educacional do Paraná
Abril de 2006
229
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .....................................................................................................01
CONCEPÇÃO TEÓRICA-PEDAGÓGICA .................................................................03
OBJETIVOS ..............................................................................................................08
PRODUÇÃO..............................................................................................................10
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO ........................................................................14
DIVULGAÇÃO ...........................................................................................................19
AVALIAÇÃO ..............................................................................................................20
CRONOGRAMA ........................................................................................................21
REFERÊNCIAS .........................................................................................................22
ANEXO 1 - QUESTÕES PARA PESQUISA DIAGNÓSTICA – CETEPAR
CENTRO DE EXCELÊNCIA EM TECNOLOGIA EDUCACIONAL
DO PARANÁ ..........................................................................................23
ANEXO 2 - CATEGORIAS DA PROGRAMAÇÃO ....................................................24
ANEXO 3 - RESUMO DOS PROGRAMAS...............................................................25
ANEXO 4 – QUADRO DEMONSTRATIVO – EQUIPE TÉCNICO
PEDAGÓGICA .......................................................................................38
ANEXO 5 - PRESTADORES DE SERVIÇO .............................................................39
ANEXO 6 - ESTAGIÁRIOS .......................................................................................39
230
APRESENTAÇÃO
A proposta de implantação de um canal de tv TV PAULO FREIRE - com
uma programação concebida exclusivamente para a comunidade escolar do Estado
do Paraná e, ainda, integrada com outras mídias já existentes, compõe o que
podemos denominar de uma política pública midiática. Política esta que proporciona
à escola pública uma educação articulada com os avanços do mundo
contemporâneo e busca a qualidade no processo educacional, uma vez que
aprimora tanto a formação dos professores quanto as fontes de pesquisa na relação
ensino-aprendizagem.
Essa política pública midiática tem como recurso facilitador, a estrutura de
equipamentos existentes nas escolas, tais como: receptores digitais de satélite,
antenas parabólicas e laboratórios de informática com conexão, por meio de fibra
ótica em implantação. Outro fator fundamental que contribui com esta iniciativa é a
parceria estabelecida com a Rádio e Televisão Educativa do Paraná - RTVE-PR, por
meio da qual foi disponibilizado espaço físico para a instalação do Canal, além de
viabilizar a transmissão da programação por meio do satélite Brasil Sat.
A implementação da TV PAULO FREIRE possibilita ações importantes, tais
como:
1) ampliar a política pública de formação continuada de professores, com
aportes diferenciados da modalidade existente. Essa nova modalidade
apresenta-se mais ágil, minimiza custos e possibilita o envolvimento de um
número maior de professores. Outro aspecto relevante é que essa forma de
capacitação permite a integração de diferentes realidades regionais, no
âmbito educacional, do Estado do Paraná, na medida em que professores de
diversas localidades têm a possibilidade de interagir nos programas.
2) ampliar as fontes de pesquisa, pois a programação veiculada na TV PAULO
FREIRE, além de aliar rapidez e custos minimizados, contribui para que as
práticas de comunicação na escola se ampliem, uma vez que é uma
linguagem visual de fácil acesso e propiciadora do processo de construção do
231
conhecimento. Isto reflete na qualidade de ensino na escola pública,
representando avanços na prática docente.
É preciso ressaltar que historicamente tanto a oralidade quanto a escrita,
oferecem base às práticas de comunicação no processo ensino-aprendizagem, na
escola. A televisão integrada com outras mídias apresenta-se como possibilidade de
ampliação dessas práticas, pois se configura como veículo democrático e de fácil
acesso e, além disso, o público já possui familiaridade com a linguagem televisual.
A partir dessa reflexão, cabe enfatizar a importância da escola assimilar na
sua cultura, de forma crítica, a linguagem da televisão como aliada do processo
ensino-aprendizagem. Nesse sentido e com fins exclusivamente educativos, a TV
PAULO FREIRE apresenta-se como uma possibilidade inovadora, que propõe uma
programação preocupada em despertar um olhar consciente sobre o conteúdo
apresentado.
Os programas do serão transmitidos via satélite para 2.100 escolas, atingindo
diretamente um público-alvo em torno de 1.500.000 pessoas (comunidade escolar)
e, indiretamente, o público em geral, visto que o sinal transmitido poderá ser captado
por qualquer antena parabólica, com receptor de sinal digital, direcionada para o
satélite Brasil Sat.
A relação com o público alvo torna-se importante na medida em que sua co-
participação na construção da programação é relevante nessa política midiática.
Para o levantamento de dados a respeito da implantação da TV PAULO FREIRE,
realizou-se uma consulta junto a alunos, professores e profissionais da Educação de
várias escolas da rede. A criação deste Canal educativo foi aprovada por 98% dos
entrevistados, o que sinaliza um público receptivo para sua programação.
A proposta de programação da TV PAULO FREIRE é concebida a partir das
políticas e ações da SEED por meio de seus Departamentos e de seus Eventos,
visando uma articulação com as Diretrizes Curriculares e um diálogo com as ações
pedagógicas. A proposta está organizada em cinco categorias de programas:
formação do professor, informativos, de conteúdos complementares ao currículo
escolar, campanha de mobilização, e outros.
232
CONCEPÇÃO TEÓRICO-PEDAGÓGICA
TECNOLOGIA DE COMUNICAÇÃO
Vivemos numa sociedade onde, cada vez mais, as Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) assumem um papel fundamental nas relações
humanas e, conseqüentemente, nas transformações sociais.
A cada dia aprimoram-se os sistemas de comunicação de massa que,
dinâmicos em seu desenvolvimento, possibilitam que novos ambientes humanos
sejam criados e que outros sejam destruídos. Esses sistemas, de forma ágil,
também aproximam e confrontam indivíduos e sociedades diversas, acelerando o
ritmo da própria vida. E, além disso, nos colocam num “mar de informações” que, em
síntese, representa o ritmo da vida moderna.
Esses sistemas de comunicação, como é o caso da mídia televisual, com
suas novas tecnologias, inserem-se de maneira tão profunda e significativa em
nosso cotidiano, que não podem ser entendidos apenas como suporte de
comunicação do mundo contemporâneo, pois de fato, desencadeiam processos
culturais e mudanças sociais. Modificam as formas de nos relacionarmos,
interferindo diretamente na construção de nossa subjetividade através de maneiras
diversas de apreender e representar a realidade.
A mídia televisual caracteriza-se por ser múltipla, tanto em termos de
produção, quanto de veiculação: imagens, sons, informação, divertimento e
publicidade. É capaz de articular, sobrepor e combinar linguagens totalmente
diferentes, através de uma narrativa fluida, uma lógica pouco delimitada, onde
conteúdos e limites éticos são pouco precisos, o que lhe caracteriza como um meio
pleno de ambigüidade, possibilitando interferências por parte dos consumidores
(MORAN, 2005).
Na imagem em movimento, encontra-se um princípio de sociabilidade, pois
ela se apresenta como um elo de religação para a cultura contemporânea, capaz de
superar os abismos instaurados entre os indivíduos e entre os grupos (COELHO,
233
1997). A imagem pode explicar a relação entre sujeito e mundo, uma vez que o olhar
se constitui como um dos primeiros aparatos de apreensão e significação do mundo.
De um modo geral, tudo passa pela imagem, tanto o que existiu quanto o que
pode existir. A imagem relaciona-se com o indivíduo através de seu mundo imediato,
mas também de seu mundo distante, passível de produzir a união entre a
sensibilidade e o entendimento, fato que não elimina o conhecimento, ao contrário,
cria o terreno para que o conhecimento se manifeste.
Em meio a essas reflexões, repensar o papel da escola como parte integrante
desse mundo moderno, é assumir-se também frente aos desafios das novas
linguagens midiáticas, como fenômeno complexo das sociedades contemporâneas
e, no caso da televisão, é inegável que seja, a grande mediadora entre nós e a
realidade.
MÍDIA TELEVISIVA NA EDUCAÇÃO
A incorporação da mídia televisiva pela escola implica em reconhecer uma
forma diferenciada de experimentar e construir a realidade. Nesse sentido, as
linguagens oral e escrita não são as únicas que possibilitam a apropriação do
conhecimento. Portanto, é necessário que a escola repense as formas de utilização
da televisão, concebendo-a como aliada do processo ensino-aprendizagem.
Novas tecnologias sempre causam apreensão. A própria invenção da escrita,
um dispositivo tecnológico, gerou temor, pois poderia enfraquecer a mente, os livros
substituiriam o pensamento, o conhecimento (ECO, 2003). No entanto, hoje, os
livros estimulam os pensamentos e são importantes aliados no processo ensino-
aprendizagem. A incorporação da mídia televisiva, como fonte de aprendizagem e
de formação, não exclui outras práticas comunicativas utilizadas pela escola. Pelo
contrário, valoriza elementos culturais que o aluno já possui (NAPOLITANO, 2003).
Fazer uso de programas veiculados na TV e, conseqüentemente, apropriar-se
de suas linguagens como fonte de conhecimento não é tarefa fácil. O desafio é
utilizar a televisão de maneira crítica, perceber a sutileza da ambigüidade da
linguagem televisiva e aprender a “olhá-la” de forma a se buscar sentidos expostos
ou ocultos nas imagens.
234
A criação de um canal de TV articulado com a apropriação do conhecimento e
concebido a partir da escola, de suas finalidades e de suas características, dentro de
um conceito de mídias integradas, pode indicar um caminho para que as tecnologias
sejam efetivamente incorporadas como uma das práticas comunicativas na escola.
A TV PAULO FREIRE, ao vincular-se de maneira estreita com a escola, dará
relevância aos discursos e às representações dos protagonistas da educação,
incorporará outros olhares e contribuirá com a valorização da diversidade regional,
presente nas escolas públicas do Paraná.
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES
A Formação Continuada dos Profissionais da Rede Estadual, como política da
SEED, visa a qualificação dos profissionais da Educação, focada na prática de
ensino, no princípio da ação-reflexão-ação e no aprofundamento de conhecimento
nas áreas específicas, compreendendo Aperfeiçoamento e Atualização.
O Aperfeiçoamento se por meio de cursos de graduação, programas de
pós-graduação e de formação continuada, ofertados por IES; a Atualização, por
meio de eventos ofertados pela SEED, em programas de capacitação. Esses
programas de formação continuada prevêem eventos nas seguintes modalidades:
encontros pedagógicos, congressos, cursos, seminários, fóruns, teleconferências,
feiras, entre outros.
Os Programas de Formação Continuada incluem ainda o PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional), que tem como objetivo aprimorar a qualidade da
Educação Básica no Estado, de acordo com as necessidades educacionais e
socioculturais da comunidade escolar.
O PDE é integrado às atividades previstas no FOCO (Professores em
Formação Continuada) a ser implantado pela SEED, com cursos e atividades nas
modalidades Presencial e À Distância, apoio logístico e meios tecnológicos
necessários para o seu funcionamento.
A TV PAULO FREIRE contribui com esta política da SEED, pois se
caracteriza como um meio de comunicação que amplia de forma significativa o
235
acesso as mais recentes discussões do universo educacional, contemplando em sua
grade, programas com a finalidade específica de formação continuada.
Os programas apresentam e debatem temas de acordo com a demanda da
Rede Educacional, visando aprofundar conhecimentos pertinentes à Educação, com
enfoques diferenciados:
a) orientação curricular: apresentam e debatem as Diretrizes Curriculares a
partir da perspectiva de técnicos pedagógicos dos diversos Departamentos de
Ensino da SEED. Tais discussões estarão integradas com os projetos de
produção de material didático em andamento: Folhas, OACs do Portal Dia-a-
Dia Educação, Livro Didático Público, Cadernos de Apoio ao Professor,
Cadernos Temáticos, entre outros.
b) teórico: apresentam e debatem grandes temas com a participação de
profissionais das IES e personalidades de destaque no cenário estadual e
nacional;
c) metodológico: apresentam, debatem e valorizam os encaminhamentos
metodológicos de profissionais da rede a partir de suas experiências e
alternativas bem sucedidas, incluindo o uso de tecnologias que contribuem na
relação ensino-aprendizagem.
Considerando que, no caso do PDE, o professor aprovado para ingresso
nesse programa deverá produzir como resultado da sua participação, um material
didático-pedagógico, este poderá ser apresentado na forma de um audiovisual, com
possibilidade de veiculação na TV PAULO FREIRE.
DIAGNÓSTICO DO USO DAS MÍDIAS TELEVISIVAS
Tendo em vista a comunidade das escolas públicas do Paraná e sua
importância para a concepção da TV PAULO FREIRE, foi elaborada uma proposta
de programas em consonância com as diretrizes curriculares e com as possíveis
demandas desse público escolar. Nesse sentido, as sinopses dos programas
propostos foram submetidas à análise junto a docentes, discentes e equipes
pedagógicas de várias escolas do Estado do Paraná.
Esse diagnóstico é importante, pois o perfil do público telespectador é um
dado fundamental para se elaborar uma estimativa de audiência dos programas
236
onde as demandas escolares, o nível de interesse e as necessidades de formação
se configuram como elementos fundamentais na definição da programação.
A pesquisa diagnóstica foi elaborada contendo quinze sinopses de programas
e seis questões acerca da importância do canal de tv, da audiência de um canal
educativo, da qualidade de programas educativos, da escolha de três sinopses mais
interessantes, de programas considerados desnecessários e sugestões, conforme
questionário no anexo 1.
A pesquisa foi encaminhada pelos coordenadores regionais de tecnologia
educacional nos 32 CRTEs (Coordenadoria Regional de Tecnologia em Educação).
Cada coordenador entrevistou um aluno, um professor e um membro da Equipe
Pedagógica.
Os resultados obtidos por meio da aplicação da sondagem mostram que a
proposta de programação foi bem aceita pelo público potencial do canal de tv.
Conforme afirmado, 98% dos entrevistados consideram de grande importância a
instalação de um canal de TV e, desse universo, 80% se mostra interessado em
assistir a programas educativos.
As três sinopses mais interessantes para os entrevistados foram: Histórias do
Paraná; Extra-Classe e Em cada canto um encanto, descritos no anexo 3
A sondagem identificou lacunas na grade de programação como, por
exemplo, programas que abordem mais especificamente conteúdos de Matemática,
Física, Química, Biologia e Educação Física.
Sugestões de temáticas também foram indicadas na sondagem, como por
exemplo, adolescência, sexualidade, drogas, relação família-escola, violência e
ética. Essas temáticas, embora não se configurem como programas específicos,
estarão contempladas nas pautas que fundamentam a programação.
237
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Desenvolver programas educativos para televisão a partir da produção de
conteúdos pedagógicos, para transmissão via satélite, web e multimídia,
direcionados à comunidade escolar e à formação continuada dos profissionais da
Rede Pública do Estado do Paraná.
Objetivos Específicos
Veicular programas de conteúdos complementares ao currículo, em
consonância com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná;
Desenvolver programação televisiva voltada ao Programa de Formação
Continuada dos Professores da Rede Estadual de Educação;
Integrar a programação da TV PAULO FREIRE ao Portal Dia-a-Dia Educação,
direcionando as ações para uma política pública midiática efetiva;
Apresentar a produção acadêmica proveniente das IES, que corresponda às
necessidades pedagógicas dos professores da Rede Estadual de Educação;
Informar a comunidade escolar sobre as ações e políticas públicas
governamentais de interesse social;
Divulgar a história, a cultura, as produções artísticas, literárias, científicas e o
potencial turístico e ambiental do Estado do Paraná;
Co-produzir programas com professores e alunos, de forma a valorizar a
produção de saberes escolares e permitir o acesso à diversidade regional do
Estado;
Provocar a reflexão crítica e estética da linguagem midiática;
Produzir fontes audiovisuais para serem utilizadas pelos professores em sua
prática pedagógica;
238
Produzir programas em parceria com instituições de iniciativa pública e
privada, que respondam às necessidades pedagógicas e políticas das
escolas da Rede Estadual de Ensino;
Veicular programas produzidos por instituições parceiras, de iniciativa pública
e/ ou privada, que respondam às necessidades pedagógicas e políticas das
escolas da Rede Estadual de Ensino;
Produzir programas articulados com outras tecnologias disponíveis na SEED
(Portal, Livro Didático Público, Projeto Folhas, material didático impresso de
apoio ao professor e Paraná Digital);
Veicular programas integrados com eventos da SEED (Fera e Com Ciência).
239
PRODUÇÃO
PRODUÇÃO DE PROGRAMAS
Princípios norteadores da produção de programas
Discussão e formatação das sinopses dos programas em Grupos de Trabalho
interdisciplinares, compostos por membros da equipe da TV PAULO FREIRE,
equipe técnico-pedagógica dos diversos departamentos da SEED
(convidados, conforme o tema a ser discutido), técnicos e especialistas em
Comunicação;
Apropriação de conteúdos sugeridos pela comunidade escolar em programas
com formato pré-estabelecido;
Construção de uma linguagem com elementos criativos, interativos,
contemporâneos e diversificados, propiciando aos educadores e educandos
novas leituras e representações da realidade;
Veiculação dos conteúdos pertinentes às diversas áreas do conhecimento,
possibilitando aos educadores e educandos a ampliação de entendimento,
compreensão e reflexão da realidade.
A partir desses princípios os programas estão organizados em cinco
categorias, conforme tabelas no anexo 2:
1) campanha de mobilização: neste primeiro ano da TV PAULO FREIRE a
campanha de mobilização terá como tema “A Alfabetização”, com o objetivo
de despertar nos espaços escolares, ações que busquem a superação do
analfabetismo;
2) programas informativos: visam apresentar e discutir nas escolas as ações
da SEED e também oferecer ao professor informações relacionadas ao
universo educacional;
3) programas de formação continuada: são programas direcionados à troca
de experiência entre professores, à discussão metodológica e utilização dos
240
diversos materiais didáticos e ao acesso às mais recentes discussões
educacionais.
4) programas de conteúdos: com a finalidade de apresentar conteúdos
complementares ao currículo escolar, como um recurso adicional,
principalmente no que diz respeito a regionalidade desses conteúdos.
5) outros programas: são aqueles que possuem todas as características dos
apresentados acima.
FLUXO DE PRODUÇÃO
O fluxo operacional de produção abrange:
Pauta dos programas (script);
Roteiros;
Pré-produção;
Coleta de imagens, reportagens, matérias;
Edição de som, dublagens, efeitos;
Edição de imagens;
Geração entre estações;
Distribuição do sinal via satélite e via web.
A pauta (roteiro ou script) antecede cada programa. Toda a linha de produção
da TV PAULO FREIRE é conduzida conforme os critérios de concepção dos
programas.
Após a elaboração da pauta, a equipe de pré-produção atua para alocar e
agendar os contatos (apresentadores, professores, alunos, especialistas, atores e
outros), buscar as locações e cenários, providenciar figurinos e criar os efeitos de
computação. A captação de imagens externas e em estúdio é realizada prevendo
um planejamento de gravação que inclui iluminação, fotografia, maquiadores,
figurinista e equipe técnica, sob responsabilidade do diretor de cena.
Todo o material audiovisual gravado passa pela pré-edição, quando são
marcadas as cenas e as falas principais, seguem então para a finalização, quando é
realizada a montagem completa do programa, incluindo sonorização, animação,
efeitos, etc.
241
A imagem finalizada vai ao ar depois da aprovação da equipe técnica,
artística e pedagógica de acordo com critérios de qualidade.
MODALIDADES DE PRODUÇÃO
Os programas, no que diz respeito à infra-estrutura, equipamento e recursos
humanos, poderão ser produzidos com recursos advindos de fontes diversas, tais
como:
recursos próprios;
recursos oriundos de empresas privadas (produtoras de áudio e vídeo)
contratadas por meio de licitação pública;
recursos viabilizados por meio de parcerias com outros canais de televisão;
recursos advindos de patrocínios ou incentivados por meio de leis de
incentivo.
Recursos Próprios
Nessa modalidade, os recursos para a produção de programas serão
repassados pela SEED e por parcerias internas, tais como:
Secretaria de Estado da Comunicação;
Secretaria de Estado da Cultura;
RTV Educativa/ PR;
Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior;
Instituições de Ensino Superior do Estado do Paraná.
Recursos oriundos de empresas privadas contratadas por meio de licitação
pública
Farão parte do projeto as produtoras de vídeo e áudio, contratadas via edital,
para produção terceirizada de algumas séries de programas previamente
formatados.
Os critérios para avaliação das produtoras compreenderão três aspectos:
portifólio de produções da produtora;
242
experiência profissional do diretor e roteirista sugeridos pela produtora;
proposta de roteiro para execução do programa, que será avaliada por uma
banca a ser constituída para esta finalidade.
Recursos viabilizados por meio de parcerias com outros canais de televisão
Para compor a grade de programação, a TV PAULO FREIRE contará com a
participação de outras redes de televisão, com a finalidade de diversificar e ampliar a
programação dentro das categorias propostas pelo Canal.
São parceiros potenciais:
televisões educativas dos diversos Estados;
televisões vinculadas a fundações, associações e federações, entre outros;
televisões universitárias;
televisões comunitárias.
Recursos advindos de patrocínios ou incentivados por meio de leis de
incentivo
A TV PAULO FREIRE buscará também recursos destinados à produção de
programas por meio de Leis de Incentivo (municipal, estadual e federal), assim como
por meio de fundações e organizações nacionais e internacionais de apoio à cultura
e à educação que possam vir a apoiar este projeto.
ORGANIZAÇÃO DA PROGRAMAÇÃO
A organização da programação da TV PAULO FREIRE obedece aos
seguintes critérios:
duração dos programas: os programas terão duração de 3 minutos
(programetes), 13, 26, 39 e 52 minutos.
reapresentação dos programas: considerando o funcionamento da escola
em três turnos, a programação exibida no turno da manhã será reapresentada
nos turnos da tarde e noite.
243
ESTRUTURA DE FUNCIONAMENTO
Considerando os objetivos propostos, a produção dos programas, o fluxo e
modalidades de produção, bem como a organização da programação, faz-se
necessário dimensionar uma estrutura de funcionamento adequada para a TV
PAULO FREIRE.
EQUIPE TECNICO-PEDAGÓGICA
Estarão envolvidos diretamente no projeto da TV PAULO FREIRE professores
convidados do Quadro Próprio do Magistério da Rede Estadual, com experiência em
produção de TV e, profissionais da área da Comunicação e estagiários.
Os profissionais e técnicos da área de comunicação serão contratados, via
edital, considerando a experiência profissional na área de produção audiovisual,
veiculada nos meios de comunicação, comprovada por meio de portfolio.
Os estagiários serão contratados mediante parceria com instituições de
ensino e pesquisa.
Dentro de uma proposta inicial de funcionamento e considerando os
equipamentos adquiridos e a equipe técnica necessária para operá-los, estima-se a
formação de equipes para os núcleos de produção, estúdio de vídeo e áudio,
gravações externas, ilhas de edição e suporte técnico, conforme tabelas nos anexos
4,5 e 6.
ESTRUTURA FÍSICA E TECNOLÓGICA
As operações técnicas, administrativas e de gestão da TV PAULO
FREIRE estarão sob responsabilidade do Centro de Excelência em Tecnologia
Educacional do Paraná (CETEPAR), onde está localizada a estrutura operacional do
Portal Dia-a-dia Educação, com o qual o Canal fará integração. Aliada a essa
estrutura, a RTVE – PR disponibilizou, nas suas dependências, o espaço físico
necessário para as instalações dos núcleos de produção, estúdios de áudio e vídeo
e ilhas de edição.
244
Estas estruturas darão suporte físico para a instalação da TV PAULO
FREIRE, tanto no que diz respeito à produção, quanto no que se refere ao suporte
tecnológico voltado para a distribuição da programação do Canal.
No que concerne à minimização dos custos e, até mesmo, aos fatores
facilitadores da implantação da TV PAULO FREIRE, a transmissão do sinal será
feita via satélite e web, totalmente gratuita para todos os usuários de antena digital e
Internet. Para tal, a SEED realizou uma parceria com a RTVE-PR e alugou um
espaço de transmissão digital no Satélite Brasil Sat, viabilizando assim, a recepção
desse sinal por meio de antenas parabólicas existentes nas escolas públicas
estaduais do Paraná e laboratórios de informática com conexão de fibra ótica, em
implantação.
Com relação aos equipamentos adquiridos, a assessoria técnica da SEED
promoveu cuidadoso estudo com o objetivo de atender à expectativa de implantação
dos Núcleos de Produção de Conteúdos Pedagógicos para os programas, assim
como dimensionou o parque de equipamentos adquiridos, de forma a assegurar que
os mesmos reunissem os atributos de qualidade e quantidade adequadas ao uso
previsto. Desse modo, e com a intenção de identificar tais equipamentos, é possível
descrevê-los a partir de quatro segmentos que caracterizam a cadeia produtiva da
atividade audiovisual.
1) Captação de áudio e vídeo: foram adquiridas ENGs (unidades externas de
captação) e a estrutura de captação em estúdios de áudio e vídeo. Integram-
se a esse bloco, câmeras digitais, microfones, teleprompter, monitores,
iluminação portátil e de estúdio, gravador de áudio digital, sistema de
monitoramento de som e acessórios de integração. Tais equipamentos serão
utilizados na produção de programas pedagógicos, entrevistas, debates,
matérias de cunho jornalístico, cobertura de eventos e atividades escolares e
na criação de recursos de áudio e vídeo a serem produzidos para os
programas.
2) Processamento da produção de áudio e vídeo: nesta etapa, a imagem e o
som captados serão manipulados operacionalmente, de modo a adquirir
características que configurem o padrão técnico almejado, seguindo então
245
para a etapa de formatação de linguagem. São necessários, neste momento,
switcher (mesa de corte), console de mixagem, equipamentos de equalização
e medição de nível de A/V, roteadores, gerador de caracteres, monitores,
máquinas gravadoras e reprodutoras de A/V, acessórios e equipamentos de
integração.
3) Edição e finalização audiovisual: nesta fase, o conteúdo captado e
processado receberá seu formato definitivo, conforme o roteiro original, com a
inserção de locução, trilhas sonoras, vinhetas de abertura, passagem e
encerramento, ilustrações com gráficos, animações e outros efeitos digitais.
Basicamente, compõe-se de ilhas de edição não linear e ilhas de edição de
som, que via de regra, são formadas por estações de trabalho com softwares
específicos para a atividade, gravadores, monitores e reprodutores de som e
imagem com seus acessórios e equipamentos de integração.
4) Central de transferência de mídia, distribuição de sinal e gerenciamento
de acervo: as etapas anteriores foram direcionadas à produção dos materiais
audiovisuais específicos. Nesta fase, as sobras de material bruto serão
arquivadas com uma metodologia própria. Cópias do produto final serão feitas
para distribuição física do mesmo em diferentes formatos que se mostrem
necessários VHS, BETACAM, MDV, DVCAM, etc. Esta mesma central de
transferência, que permite a copiagem, possibilita também a alimentação do
sistema com material de arquivo em diferentes formatos. Finalmente, a matriz
do produto é gerada nessa central para o exibidor da RTVE PR, que fará a
elevação do sinal, via up-link, até o satélite, de modo a transmitir a
programação em todo o Estado do Paraná. A Central compõe-se,
basicamente, de máquinas gravadoras e reprodutoras em diferentes formatos,
roteadores, periféricos, equipamentos de integração, Servidor e interface com
o Sistema de Archive da RTVE - PR.
Com relação às características técnicas, a escolha dos equipamentos
contempla a convergência tecnológica em curso, prevendo a migração do sistema
analógico para o digital e HDTV, sem a necessidade de se replicar investimentos.
246
Assim, com a configuração proposta, assegura qualidade, confiabilidade técnica e
compatibilidade com as novas tecnologias em implantação.
No que se refere ao dimensionamento do parque de equipamentos e sua
quantidade, buscou-se atender a uma demanda estimada potencialmente, que
contemple a produção de conteúdos pedagógicos, programas de formação
continuada e programas de cunho informativo, projetando para tanto a montagem de
um estúdio de gravação completo, composto por três câmeras, mesa de corte,
console de mixagem, monitores, controles técnicos, luz e microfones, gravadores e
reprodutores de A/V, além dos acessórios necessários.
Prevendo a captação de imagens externas, cobertura de eventos, gravação
de entrevistas etc., sugere-se a aquisição de duas unidades de captação externa
completas: câmeras, tripés, microfones, luz, cases para acondicionamento dos
mesmos, gravadores de áudio digital, cabos e acessórios.
Para a minutagem organização do material gravado e decupagem
primeiro corte do material, estima-se a necessidade de dezesseis estações de
trabalho em baixa resolução com acesso ao banco de dados e arquivo de imagens
do Sistema, o que implica a aquisição de dezesseis licenças de uso do programa
operacional que venha a ser adquirido para as ilhas.
Para a edição e finalização dos produtos sugere-se a aquisição de quatro
ilhas de edição-não-linear de alta resolução, que possibilitem também a confecção
de animação em duas e três dimensões e computação gráfica para produção de
vinhetas, aberturas, e chamadas de programação. Deverá ser montado, também,
um estúdio de áudio com cabine de locução e console de mixagem.
A central técnica, de transferência e arquivamento será composta conforme
descritivo técnico, com a capacidade estrita ao atendimento da produção projetada e
das funções que lhe são pertinentes.
O projeto visa também garantir a perfeita integração com os novos
equipamentos, recentemente adquiridos pela RTVE - PR, considerando que a
mesma, além de disponibilizar espaço físico e seu acervo, estará compartilhando o
sistema de arquivo e gerenciamento de acervo storage, bem como a estrutura de
elevação de sinal, ressalvada a locação do segmento satelital e equipamentos que
necessitem ser locados diretamente com a operadora do Satélite.
247
TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO
Como mencionado anteriormente, a transmissão da programação da TV
PAULO FREIRE será feita por meio do Satélite Brasil Sat para todas as escolas
públicas estaduais do Paraná, utilizando-se, para recepção do sinal, das antenas
parabólicas já existentes nas escolas.
A TV PAULO FREIRE deverá funcionar experimentalmente pelo prazo de 30
dias, transmitindo sua proposta de programação. Este período tem o objetivo de
avaliar e equacionar equipamentos e equipes, assim como a receptividade dos
programas por parte do público-alvo.
Está prevista também a distribuição para as escolas, da programação
veiculada na televisão por meio de mídia em DVD. Isto garantirá que as mesmas
organizem, considerando os conteúdos apresentados, um acervo dos programas
para disponibilizar aos professores e alunos a partir dos planejamentos de trabalho.
É importante acrescentar que durante ano de 2006, todas as escolas do Estado do
Paraná estarão recebendo aparelhos de DVD Player e Televisão.
248
DIVULGAÇÃO
A TV PAULO FREIRE utilizará mídias impressas, radiofônicas, televisivas e
web para divulgar seus programas. Essa divulgação poderá se dar através de redes
de comunicação pertencentes ao Governo do Paraná ou à rede de comunicação
privada.
Os eventos realizados pela SEED, tais como FERA e COM CIÊNCIA, também
oferecem condições de divulgação extremamente favoráveis. Além disso, cada
escola, cidade e região poderá utilizar eventos elaborados a partir de datas
específicas no calendário, para a difusão de informações sobre este novo Projeto,
como, por exemplo, em festas populares, exposições, festivais, etc.
Ainda, na fase de implantação da TV PAULO FREIRE, todos os pontos de
recepção receberão um kit de lançamento composto por cartazes, folders e folheto
de programação.
249
AVALIAÇÃO
METODOLOGIA
Os programas veiculados pela TV PAULO FREIRE deverão atender aos
objetivos propostos neste projeto, considerando o feed-back do público-alvo.
Para isso, a TV PAULO FREIRE buscará aferir a dimensão de sua audiência
com base na demanda dos professores e alunos e também nas condições de
captação do sinal, utilizando-se de pesquisas e estudos. Disponibilizará também
para seus telespectadores linha direta via Internet, com o intuito de conhecer e
absorver possíveis sugestões da comunidade escolar.
Grupos de discussão poderão ser criados visando avaliações periódicas, de
forma a auxiliar na eficácia e pertinência da programação.
CRITÉRIOS
O trabalho de análise será direcionado por alguns critérios:
Administrativo: avalia concretamente os números obtidos como resposta
à veiculação da programação;
Pedagógico: avalia e acompanha a implantação e o desenvolvimento da
proposta pedagógica da TV PAULO FREIRE;
Tecnológico: avalia a atualização do setor no que diz respeito a
equipamentos, software e soluções tecnológicas para a mídia televisiva.
250
CRONOGRAMA (2005/2006)
MÊS
AÇÕES
Ago.
a nov.
Dez.
Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Maio
Institucionais externa e interna
X
Instalações estrutura e funcionamento
x
x
Equipamentos - Aquisição/instalação
X
x
x
x
x
x
Mobiliário - Aquisição/ instalação
x
x
x
Liberação do sinal/satélite/web
x
Formação de equipe
X
x
x
x
x
x
Elaboração de Propostas de Programação
X
x
x
x
x
x
x
Produção dos Programas
x
x
x
Testes com equipamentos
x
x
x
Campanha de Marketing Interno-Externo
x
x
Definição de Parcerias
x
x
x
Inicio de transmissão
x
251
REFERÊNCIAS
ANDI. Remoto controle: linguagem, conteúdo e participação nos programas de
televisão para adolescentes. São Paulo: Unicef, Petrobrás & Cortez, 2004
BERMAN, M. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade.
São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
ECO, U. From Internet to Gutenberg. Disponível em
<http://www.hf.ntnu.no/anv/Finnbo/tekster/Eco/Internet.htm> Acesso em 01 set.
2005.
COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Iluminuras, 1997.
FISCHER, R.M.B. Televisão e educação: fruir e pensar a TV. Belo Horizonte:
Editora Autêntica, 2001.
FRAZ, J.N. A representação do real: crise política, televisão e educação.
Disponível em <www.educamidia.unb.br/03-noar/real_joanne.htm> Acesso em 27
fev.2006
MORAN, J.M. Desafios da televisão e do vídeo à escola. In: ALMEIDA, M.E.B. de;
MORAN, J.M. (org.) Integração das tecnologias na educação. Secretaria de
Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, Seed, 2005.
NAPOLITANO, M. Como usar a televisão na sala de aula. São Paulo: Contexto,
2003.
ROSETTI, F.F. Mídia e escola: perspectivas para políticas públicas. São Paulo:
Edições Jogo de Amarelinha, 2005.
Debate: Televisão e Educação. Disponível em
<http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2003/dte/teimp.htm>. Acesso em 27 fev.
2006
252
ANEXO 1
QUESTÕES PARA PESQUISA DIAGNÓSTICA
CETEPAR - CENTRO DE EXCELÊNCIA EM TECNOLOGIA EDUCACIONAL DO
PARANÁ
Enquete de apreciação da Programação do Canal de TV junto a professores,
alunos e equipe através dos CRTEs:
1. Você acha importante que a SEED tenha um canal de TV educativo voltado às questões
educacionais?
( ) sim
( ) não
2. A partir destas sinopses de programas pré-elaboradas, escolha 3 que você considere
interessante veicular num canal de TV:
a).........................................................
b).........................................................
c).........................................................
3. Qual destes programas você NÃO considera importante?
a).........................................................
b).........................................................
c).........................................................
( ) nenhum
4. Existe algum conteúdo ou temática que você considere fundamental e que não tenha
sido contemplado neste rol de programação?
a).........................................................
b).........................................................
c).........................................................
( ) nenhum
5. Você assiste à programação de algum canal educativo?
( ) sim ( ) não
Qual(is)? ................................................
6. Qual destes canais de TV você considera ter uma programação de qualidade?
( ) TV Educativa do PR
( ) TV Cultura
( ) Canal Futura
( ) TVE (RJ)
( ) TV-S (Rede SESC-SENAC de Televisão)
( ) TV Escola
( ) outros. Quais..............................................................
253
ANEXO 2
CATEGORIAS DA PROGRAMAÇÃO
CAMPANHA
Escrevendo o Mundo
PROGRAMAS INFORMATIVOS
Dia-a-dia Educação
Extra-Classe
Por Dentro da Escola
PROGRAMAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA
Hora Atividade
Nós da Educação
Registro de Classe
PROGRAMAS DE CONTEÚDOS
Acesso Música
Conte Outra
(Des)folheando
Em Cada Canto um Encanto
Escola & Ambiente
Faces e Olhares
Histórias do Paraná
Ofícios
Tramas da Arte
OUTROS PROGRAMAS
Aluno.com.pr
Educação Com Ciência
Eureka
Habla América / Fala América
Sala de Espetáculo
Tempo de Brincar
TV do Avesso
TV Fera
254
ANEXO C- Entrevista com integrante da equipe do Laboratório de Telemídia da
PUC/RJ
Entrevistado 1 (E1) Alvaro Veiga da PUC/RJ.
Gostaria de começar, para ter um registro do desenvolvimento do software aqui na PUC/RJ,
perguntando sobre como que se deu o histórico, como vcs entraram no processo de
desenvolvimento do software e em que estágio se encontra hoje este desenvolvimento.
Desde que vcs conceberam a equipe ahoje.
E1 - O trabalho desta área de Multimídia, é o trabalho do laboratório de telemídia, que é o
grupo de multimídia da informática, este trabalho o Luis Fernando que é o professor
coordenador do trabalho todo, trabalha com isso quase 20 anos, ele trabalha com
linguagem, com inscrição de multimídia. Quando chegou em 2005 o governo queria definir
um sistema de TV digital ele foi buscar nas universidades, nas instituições de pesquisa, foi
buscar se existia conhecimento, alguma coisa sobre TV digital e ele se surpreendeu que
havia muita gente que trabalhava não especificamente com TV digital, até porque a TV
digital era muito nova mas trabalhava com conceitos que faziam parte da TV digital. Cara
que trabalha com antena, cara que trabalha com codificação, com compressão de áudio e
vídeo, trabalha com linguagem de sincronismo de mídia, cada instituição trabalhava com um
aspecto específico. Então o governo em 2005, em termos de MEC, ele criou 20 grupos de
trabalho por meio de convênios, 20 grupos de trabalho onde cada grupo de trabalho devia
estudar e apresentar o conhecimento existente sobre aquela área específica de trabalho.
Isso foi em 2005. Demorou em ano. No final de 2005 o governo tinha 20 relatórios, cada um
sobre uma área do conhecimento, falando sobre o estado da arte do conhecimento naquela
área e colocando algumas idéias que poderiam ser usadas no sistema brasileiro de TV
digital. Quando chegou em final de 2006, quase 2007, o governo então selecionou poucos
grupos, falou bem, agora pelo que vi vocês fazerem, vocês tem mais experiência e
qualidade, nós precisamos definir o sistema brasileiro de TV digital. Então estes grupos
fizeram uma proposta tecnológica, na realidade quem definiu foi um grupo de ministro e tal,
mas ministro não entende de tecnologia para definir um sistema, então estes grupos de
tecnologia geraram as especificações que aprovadas viraram a especificação do sistema
brasileira de TV digital. Estes grupos técnicos tinham representantes das universidades, das
televisões, das empresas de receptores, toda a sociedade interessada estava representada
ali, de tal forma que vc falava,”eu queria, vou botar isso no sistema “oh não, isso aqui é
inviável do ponto de vista da recepção”, “isso aqui não pode”, então na realidade era uma
representatividade bem ampla que terminou gerando a norma que hoje é a norma ABNT,
que é o padrão brasileiro do sistema brasileiro de TV digital, então hoje não pode ser de
uma forma diferente, porque quando uma emissora transmite a televisão tem que receber,
então não pode dizer “eu vou transmitir assim” “Ah, mas eu posso receber assim”, então
quem define isso é o governo. Vai se transmitir pro ar, vai ocupar o ar, uma freqüência ou
várias freqüências, então vc tem que obedecer a um padrão, este padrão hoje está definido
pela ABNT que é a associação brasileira de normas técnicas, existe uma ABNT número tal
que define o sistema brasileiro de TV digital. E esta proposta ela foi construída, muito, a
partir de um conhecimento existente nas universidades que as empresas foram se ligando,
estudando e foram participando desse processo todo.
Tenho conhecimento que eram dois grupos e hoje me parece que tem um terceiro que
discute o software, sei da Paraíba que tinha um grupo de pesquisadores lá, aqui na PUC e
recentemente a Unicamp também entrou? Também está fazendo parte dos grupos que
estão discutindo software interativo? Porque no início a Unicamp tinha outra atribuição,
pelas informações que eu pesquisei.
E1- Pelo que eu sei, o grupo da Unicamp tá bem abaixo do grupo da PUC e da Parba, por
exemplo o pessoal da Paraíba é um pessoal que estudou durante estes anos, antes de
255
2005, eles fizeram um doutorado aqui e foram pra lá e montaram grupo de pesquisa
também, trabalhando com a gente.
E vcs continuam trabalhando juntos nesta proposta? O Ginga agente pode dizer que é
resultado desta pesquisa da PUC e da Universidade da Paraíba?
E1- É, acho que sim, porque na realidade, o que é o Ginga? Vc tem, quando vc vai executar
uma aplicação, no caso da televisão ela é transmitida, esta aplicação chega na televisão,
então, ela está escrita numa certa linguagem. Vc tem que ter para esta linguagem gerar o
que vc imaginou, vc tem que ter um hardware, tem que ter um equipamento, tem que ter um
vídeo, a parte de som, vc tem que ter uma capacidade de processamento, coisa que a
televisão antigamente não tinha, a TV antiga pega um vídeo e jogava nela, agora ela tem um
programa que ele chega e ele é como se fosse instalado dentro da televisão e ele passa a
ser executado dentro da televisão então vc deu capacidade de processamento para a
televisão, então o que vc fez, vc pegou um computadorzinho e botou lá dentro e esse
computador vai executar esse programa, agora esse programa, esse hardware ele tem um
sistema operacional e ele tem uma camada de software que é o ginga, que é o midleware
que faz com que aquele ambiente seja especializado em televisão, ele tem vários recursos
de tal forma que quando vc vai desenvolver um programa pra televisão vc pode falar de uma
forma mais inteligente que ele vai te entender, na medida que vc quer, ele o vai rodar
aplicações gerais, ele vai rodar aplicações ligadas a televisão. Então o midleware é como se
vc tivesse um sistema operacional que fosse especializado em questões de televisão, então
com isso vc pode desenvolver uma aplicação que vai rodar na televisão sendo interpretada
por esse software que dentro. Agora o ginga ele tem duas partes, tem o Ginga NCL e o
Ginga Java. O ginga NCL ele foi desenvolvido aqui dentro da PUC e o Ginga Java foi
desenvolvido pela Universidade da Paraíba. O NCL a parte NCL executa aplicações que
foram desenvolvidas ou na linguagem NCL ou na linguagem LUA, todas essas aplicações
que eu te mostrei ele foi desenvolvido na linguagem NSL ou LUA. O Ginga J ele executa
programa que foram desenvolvidos em linguagem Java. O ginga NCL já é norma brasileira e
parte Java está ainda em votação, em discussão, porque havia uma questão royalties,de
cobrança de royalties que o governo não aceitou, então ele criou algumas dificuldades pra
isso. Mas esta parte que nós trabalhamos a parte NCL ela é padrão, já especificada, já
tem uma norma e qualquer empresa que disser “olha eu quero trabalhar com isso”.
Consulta a norma, faz conforme a norma e vai funcionar. Então, na realidade, vc tem o
Ginga NCL e a Paraíba com o Ginga J. O que eu soube é que Campinas chegou a fazer
alguns projetos de avaliação, mas eles não, que eu saiba eles não estão no processo de
desenvolvimento como agente está.
Quero retomar uma questão com relação a escolha do modelo. Com relação e escolha que
se deu no Brasil, vc avalia que de alguma forma a escolha interferiu nas alternativas, nas
possibilidades de interatividade. Ou foi ao contrário, na época se discutia que os três
modelos apresentavam alternativas diferenciadas, algumas com mais alternativas ou com
mais possibilidades do ponto de vista de qualidade de imagem, ou outro padrão com mais
possibilidades do ponto de vista de compatibilizar mídias de recepção, e com relação a
interatividade, qual é a sua avaliação do modelo escolhido considerando o potencial de
interatividade?
E1 - Neste caso no Brasil, nós não escolhemos nem o europeu, nem o americano e nem o
japonês. O midleware, o midleware do sistema de TV digital ele não é nem o japonês, nem o
americano e nem o europeu ele é o brasileiro, foi desenvolvido aqui no Brasil.
Da pra dizer que a escolha do sistema não interferiu em nada?
E1 - Não. As pessoas confundem padrão com o sistema. O que é pado? Por exemplo, eu
vou na televisão, eu vou transmitir um vídeo, o padrão de compressão de vídeo no Brasil é
MP4, no sistema japonês é o MP2, todos os dois são padrões mundiais, nem um dos dois foi
feito no Brasil, MP4 existe e ele é muito mais recente quando o Japão foi escolher o
sistema dele ele falou, eu tenho que pegar um padrão de compressão de vídeo, o que é que
tinha naquela época, o MP2, então ele pegou o MP2, quando fomos montar o sistema
brasileiro existia o MP2 mas existia também um padrão com uma capacidade de
256
compressão muito maior, se eu estou fazendo o meu agora porque eu não vou usar o
melhor? Com uma capacidade muito melhor, então o Brasil escolheu para fazer o seu
sistema de TV Digital um padrão de compressão de vídeo que é o MP4. Então quando vc
faz um sistema vc tem que escolher, como por exemplo, tem que escolher um fígado, vc tem
que escolher um coração, vc tem que escolher um braço, vc tem que fazer um organismo
que é composto de várias partes, para cada uma destas partes vc vai usar padrões
internacionais, porque desenvolver um padrão seria uma coisa muito complicada. Agora na
parte de software, na parte de midleware, que não é o sistema, é uma parte do sistema, o
sistema é o sistema brasileiro de TV Digital, então o midleware é uma parte deste sistema, o
sistema brasileiro especifica todas as suas partes como elas vão funcionar, uma das partes
é o sistema de midleware, que o Brasil percebeu que ele tinha uma capacidade de fazer
um midleware muito melhor do que as soluções que existiam la fora. Então por exemplo,
agente acha isso, e muita gente diz isso que a Ginga é um midleware muito mais moderno
do que os midlewares, europeus, japoneses e americanos, as soluções deles são mais
fracas que as nossas. Então quando vc escolhe uma solução de midleware pensando na
interatividade, agente tem hoje recursos muito mais poderosos para desenvolver a
interatividade do que eles tem la fora. E aí, isso daí, não foi um processo de escolha, vou
escolher qual é o melhor, o japonês, o europeu e o americano, não foi isso, na realidade foi
feito uma solução que é considerada melhor do que a que eles tem la fora.
Se vc fosse analisar a partir do estágio em que se encontra hoje este desenvolvimento e
agente pudesse fazer um paralelo com esse conceito de interatividade no computador. A
minha pergunta é, quais os níveis de interatividade que hoje o software, o Ginga daria conta
de fazer?
E1- Quando vc tem um processador e uma linguagem onde vc pode escrever um programa,
uma linguagem de uso geral, vc pode fazer qualquer aplicação que vc imaginar, então, do
ponto de vista do computador e da televisão, nos dois casos vc tem capacidade de
processamento e vc em linguagem, então o que vc imaginar em princípio vc pode fazer. Na
televisão vc vai ter limitações do tipo, o governo quer que a televisão seja barata, então vc
não vai colocar dentro da televisão uma grande capacidade de memória, quer dizer algumas
televisões que vão ter isto, mas vc vai ter muita televio que vai ter um computador que vai
ter uma capacidade de processamento de um computador de 08 anos atrás, 06 anos atrás.
Vc vai na loja hoje e compra o melhor computador que vc pode comprar para sua casa, vc
nunca vai ter isso na televisão ou vc vai ter isso daqui a 10 anos, talvez isso, mas hoje vc vai
ter um computador de muitos anos atrás. Por quê? Porque vc não vai desenvolver na
televisão interatividade como vc tem no computador, porque o computador é eminentemente
interativo, então vc o tempo todo está interagindo e vc quer que ele responda rápido aquilo,
vc quer que ele processe muito rápido aquilo, no caso da televisão o principal ali é vc ter um
vídeo e um áudio, de tal forma que vc com uma capacidade de processamento coloca um
algo a mais naquele áudio e vídeo que vc tá vendo, mas a interatividade que vc vai ter a
principio é uma interatividade que não exige recursos muito sofisticados, então eu
responderia da seguinte forma, se vc pensar do ponto de vista de pra que serve a
interatividade na TV, ela é diferente da do computador, ela vai exigir menos recursos, vc vai
ter um dispositivo que é um controle remoto, vc o vai ter uma mouse que ter permite fazer
variações rápidas, ou um teclado que permita isso. Mas toda a queso da interatividade por
ela envolver o ser humano ela é lenta, agente é tão mais lento que o computador que toda a
vez que o computador ele pára pra atender uma coisa que vc queira, ele muito a vontade
pra fazer isso, porque agente não é rápido. O problema quando vc vai fazer uma ..., quando
vc pede pro computador fazer um processamento matemático muito grande pra trabalhar
com gráficos, com imagens em três D, pra fazer coisa assim vc vai obrigar o computador
fazer muito processamento, vc não vai ter isso na televisão, vc vai pedir pro computador
fazer... trocar isso pra isso, são coisas rápidas.
Vc tá dizendo que como princípio não teria diferença...
E1 - Conceitualmente não tem limite.
257
Mas no momento em que vc tem um equipamento local necessário para fazer uso para por
esse conceito em operação daí vc tem os limites que são os limites deste equipamento, ou o
que seria o uso desse equipamento, da complexidade desse equipamento.
E1 - Exato e, considerando que o que vai limitar a interatividade na TV é vc fazer uma
aplicação interessante, adequada também aquela linguagem, e na TV vc não vai ter muito
interatividade, vc tiver dez mil interatividades significa que vc está prestando atenção no
controle remoto, vc não tá vendo o vídeo mais, então o que vc vai ter de interatividade na TV
são pequenas escolhas que vc vai fazer, Ah eu vou preferir isso, isso aqui tá legal ouo tá,
mas eu não imagino que vc vai ficar igual vc fica no computador onde vc clicando o
mouse o tempo todo.
Gostaria que vc esclarecesse algo, que vc amostrou na apresentação que é a questão do
canal de retorno, é onde ainda permanecem algumas dúvidas. O canal de retorno ele
sempre vai depender que, para que, quem produz o conteúdo, quem ta apresentando o
conteúdo, tenha alguma informação do usuário, daquele que ta recebendo, ele vai sempre
ter que usar um canal de retorno paralelo a televisão, não existe a previsão de canal de
retorno no próprio equipamento?
E1- É, sempre. Mas, não não espera aí...(dúvida)
Vc quer dar uma resposta na tela, aquilo que vc mostrou, mais verde ou mais vermelho vc ta
entendo menos ou mais, isso é um retorno, no momento que eu apertar o botão eu estou
dando um retorno, estou entendo mais ou estou entendo menos, vc vai receber esta
informação pelo retorno da própria televisão, vc o precisa que essa informação se por
uma via de retorno paralela? Ou precisa?
E1 - Vamos separar o seguinte, vc tem dois tipos de interatividade, a interatividade sem
canal de interatividade, sem canal de retorno e uma com canal de retorno ou de
interatividade. Por exemplo, se vc manda um programa falando sobre, sei lá, um programa
educativo falando sobre conservação do meio ambiente no Paraná, vc a qualquer momento
vc pode junto com o vídeo transmitir alguma coisa o usuário vai interagindo com isso
respondendo pergunta e esse próprio programa que dentro da televisão vai trocando
informações contigo, com as respostas que vc ta dando pelo controle remoto, que a tua
televisão percebe e ela responde pra vc então, vc ta falando com a televisão sem nenhuma
ligação externa da tua televisão, isso é chamado interatividade sem canal de retorno.
Repare bem se vc tiver em um computador que não esteja ligado na internet, vc tem
interatividade, vc clica num botão aqui ele mostra outra tela, vc vai no Word manda dar um
zoom a tela aumenta, vc da um zoom menos a tela diminui, vc ta interagindo, quem é que
está respondendo a vc? é o programa que ta dentro do teu computador, então na televisão
acontece a mesma coisa, se vc tiver um programa que foi transmitido e está instalado la na
tua televisão o que vc fizer ela entende e responde a vc, eu posso fazer um questionário,
responder as perguntas e no final dizer assim, vc acertou todas as respostas. Por quê?
Porque todas as respostas já estavam dentro da tua televisão, ela já sabia quais são as
respostas certas. Agora, outra coisa é o seguinte, o cara na emissora ta dando uma
palestra e ele quer saber se as pessoas estão entendendo, então vc da sua casa tem que
transmitir para a emissora uma informação dizendo verde, to entendo, vermelho não to
entendo, vc não consegue transmitir isso da mesma forma que a emissora ta fazendo, a
emissora joga o sinal no ar, pra pessoa que ta la na emissora saber se vc ta entendendo ou
não tem que de alguma forma vc conseguir transmitir alguma coisa pra emissora, mas como
é que se transmite uma coisa pra emissora? O sistema de TV não prevê o usuário transmitir
para a emissora, o sistema de TV ele aloca bandas de freqüência, oh aqui é da globo, aqui
da bandeirantes, aqui e da UFTV, o UFTV pode chegar e jogar uma informação aqui no ar e
todo mundo vai receber então pra vc transmitir alguma coisa pra emissora vc tem que usar
de meios que existem, tipo internet ou celular, então o que vc pode fazer é o seguinte,
então o que vc pode fazer é o seguinte, vc pode dentro da televisão vc pode ter um chip de
celular aí esse cara que fez esta televisão ele já botou ali dentro um celular de tal forma que
quando vc quiser dar uma resposta na realidade vc vai estar fazendo uma ligação de celular
para a emissora. De celular da mesma forma que eu posso chegar aqui agora ligar pra globo
e falar, “oh globo não to entendendo” e desligar. Vc pode fazer uma televisão que tem um
258
cabo que vai ligar na internet, aí, quando vc disser não to entendendo a televisão via internet
vai mandar pro endereço do computador la da emissora uma informaçãoeu não to
entendendo”. Então vc não pode confundir o seguinte: aparelho com o sistema. A Televisão
ela pode ter internet, celular, o equipamento, agora ela ta usando uma rede que não é uma
rede de televisão ela ta usando uma rede que é exatamente a rede que ta ligada no
computador.
Como desenvolvedor do software, vc acredita que este processo interativo pode contribuir
com a área educacional, ou com uma proposta de formação de professores? Esta
possibilidade de interatividade, vc acha que ela pode dar alguma contribuição nesta área?
E1 - Seguramente, dentro daquilo que agente conversou, a televisão digital ou vou comparar
o que ela pode oferecer com a televisão analógica, eu não to comparando ela com o
computador, o computador é outro tipo de mídia, então se eu tenho..., existem vários
programas educativos hoje, dentro da TV digital existe a previsão de vc ter um canal da
educação de modo que vc possa massificar conhecimento, toda essa produção de conteúdo
no campo da educação ele passa a ter um recurso para que vc possa interagir com o
telespectador, o que vc pode fazer? agente aconversou algumas coisas, vc pode fazer
um questionário, de tal forma que o cara tá vendo, vc ta fazendo perguntas e ele ta
respondendo e mesmo sem canal de retorno vc pode falar “não, isso não é assim, é assim,
pensa bem direitinho, leia isso, ou compre um livro tal e leia sobre isso” vc pode agregar
qualquer tipo de informação que vc queira. Vc pode enquanto vc ta botando o programa a
pessoa pode também entrando em informações adicionais sobre aquilo, eu quero me
aprofundar mais sobre esse assunto, vc ta oferecendo ali possibilidade dele ficar vendo
outras coisas, vc poderia fazer coisas desse tipo, a pessoa ta dando uma aula ao vivo e vc
ta percebendo se as pessoas tão entendendo ou o e se vc está explicando mais ou
menos, se es passando mais ao largo ou não.
Parece que está estratégia que vc chamou de multiprogramação quando estava
apresentando, me parece que é uma estratégia muito interessante, a possibilidade de ver
determinado conteúdo da programação sobre olhares diferentes ou sobre complexidades
diferente. E então a multiprogramação serve para esses dois casos, complexidades
diferente ou diversidade de olhar sobre um tema?
E1- Poderia ser, poderia qualquer um dos dois, vc poderia por exemplo falar eu vou dar uma
aula sobre história do Brasil, aí tem as pessoas que tem uma visão da história do Brasil mais
dentro de uma linha, dessa forma, outros tem outra, eu apresento os dois e a pessoa pode
ver os dois, isso daí eu não acho assim, quero dizer se vc considerar que hoje em dia nas
televisões a cabo tem muita repetição de programa, porque não há como gerar conteúdo pra
tanta emissora assim,então vc oferecer uma.. “eu vou falar sobre história do Brasil vou
falar de uma forma mais complexa e de uma forma mais simples”, vc poderia fazer também
em dois horário diferentes, vc poderia falar assim, “já que eu gerei estes dois conteúdos eu
vou transmitir o programa simples na sexta feira as 10 horas e o complexo ao sábado 10
horas”, quer dizer quando vc ta transmitindo os dois juntos e ta dando alternativa da pessoa
escolher, vc também ta obrigando ele a não ver os dois, vc ta dando uma opção, e eu não
sei como o mercado vai fazer isso, quer dizer, seguramente se vc tem um evento que é
único, tipo por exemplo, eu tenho, eu vou ter um jogo de futebol amanhã, ele é amanhã, eu
vou assistir ao vivo, então se eu dou a alternativa de uma analise dessas pessoas isso
vai existir naquele momento que é ao vivo, eu acho que eu to dando uma opção legal.
Agora do ponto de vista de educação eu acho que essas coisas tem que começar até a ser
guardadas, então eu vejo que se vc gerou dois conteúdos eu tenho que poder assistir os
dois conteúdos e não simplesmente eu fazer uma opção, então me parece assim uma coisa
oportuna do ponto de vista de tempo mas não é uma coisa que exclua a outra oportunidade.
Agora vc ta dando uma aula sobre um assunto e vc ta tendo uma reorientação se as
pessoas estão entendendo e vc poder dimensionar isso, mais devagar ou mas rápido,
dependendo de como as pessoas estão entendo, isso me parece que vc ta percebendo
quem é o teu público e ta adequando a tua linguagem mais aquele público, parece uma
coisa legal. Agora o mais interessante que eu acho, desses todos é o que é o mais simples
que é vc ter um programa educativo, onde vc no final do programa educativo vc tem alguns
259
trechos de avaliação onde a pessoa vai ver, “Ih não to entendendo nada, errei tudo ou
acertei tudo” entendeu? isso é simples de fazer, vc ta interagindo ali. Teoricamente vc
poderia... aquilo que a acho que foi o Luis Fernando que falou, vc poderia estar vendo um
programa e ter algumas pessoas fazendo uma discussão, onde vc ta vendo o programa, ta
ouvindo o programa e ali embaixo tem uns comentários que as pessoas estão fazendo,
certo? dúvidas, fulano ta perguntando se isso daqui é assim assim assim,ai enquanto vc ta
vendo aquilo também tem um texto correndo ali, respondendo algumas perguntas, as mais
comuns, quer dizer vc ta, vc não ta fazendo um programa e dane-se quem ta assistindo, vc
ta fazendo um programa e vc esta tentando capturar um pouquinho quais são as
repercussões que aquilo ta tendo pra quem vc esta transmitindo aquele programa. Eu
apresento uma programa sobre um certo assunto, eu posso ao final do programa ter uma
informação que 90% das pessoas gostariam que aquele programa fosse transmitido
novamente, ou ele fosse aprofundado porque aquele assunto foi muito interessante, como é
que vc faz isso com a televisão analógica? Tem uma pessoa que escolhe a grade de
programação transmite aquilo e dane-se quem pegou e quem não pegou, o máximo que vc
pode ter é uma medida de audiência, mas vc não tem quando acaba um programa vc não
tem uma informação que 95% das pessoas querem saber mais informações sobre isso, isso
eu acho que do ponto de vista de educação é muito interessante.
Tenho uma questão sobre o publico usuário, do ponto de vista da sua identidade regional do
seu saber local que num processo de formação é algo importante que precisa ser
considerado no conteúdo que está sendo veiculado, como desenvolvedor, vc acha que os
recursos interativos que estão sendo desenvolvidos, pensados, propostos, eles podem
contribuir com essa incorporação das identidades regionais, desse saber local?
E1 - Eu acho que sim porque por exemplo, vc pode ter na televisão uma identificação de
qual é a região que vc ta passando, então por exemplo a televisão poderia transmitir um
programa que numa certa hora ele transmitiria uma programa que seria muito adequado
para região sudeste, outro pra nordeste, outro pra Amazônia, outro pra região sul e nas
televisões que estão localizados na região sudeste vai passar a da sudeste... mas isso
também é um pouco parecido de vc escolher, vc poderia estar transmitindo abordagens
diferentes e vc vai escolher qual é abordagem, sei lá... vc é homem ou mulher? Eu sou
homem, então esse programa o exemplos que eu vou ter serão mais voltados ao universo
masculino, e outro vai ver mais o feminino. Como aquela orquestra que vc viu...
Aquela orquestra onde eu ouço o violino ou escolho outro instrumento, ou me coloco no
lugar do maestro...
E1 - Exatamente, o problema disso é vc ter uma explosão de produção de conteúdos, por
exemplo a TV digital ela vai criar uma demanda por produção de conteúdos muito grande,
mas agora ao mesmo tempo isso daí tem a demanda de produção de conteúdo para IPTV
que é a TV digital por IP, então se vc começar a desenvolver conteúdos que tem muitas
alternativas, na realidade vc em uma hora de programa vc ta produzindo três horas de
programa. Se hoje vc tem vc uma televisão que vc bota no ar e é aquilo, pra vc sei la, novela
dizem que vc fica dez horas pra conseguir produzir dois minutos, agora se vc ta fazendo três
finais pra esses dois minutos, vc ta produzindo pra dois minutos seis e então ao invés de vc
fica 10 horas pra produzir dois minutos vc vai ter que ficar 30 horas pra produzir seis.
Vc acha que o público da TV digital vai ser mais exigente?
E1 - Eu acho que uma pessoa que é interativa ela se coloca mais, eu acho que a televisão
sempre... eu tenho filhos que hoje não são mais pequenos, mas quando eles eram mais
pequenos eu tinha muita preocupação da TV ser uma coisa passiva que não exigisse deles
nenhum tipo de movimento que eles poderiam ficar assistindo aquilo como puro
entretenimento ou sem pensar muito naquilo. Hoje em dia está completamente diferente
porque vc pode ter programa de televisão que exercita tremendamente a sua reflexão, agora
no momento que vc tem o poder de responder, de interagir seguramente vai ser mais
reflexivo naquilo, a televisão analógica vc pode ser um telespectador passivo, na TV digital
vc vai ser um usrio ativo, vc muda o ponto de equilíbrio entre a passividade e a atividade,
seguramente.
260
Quando vc tava apresentando as alternativas, no site o telemídia vc tem disponível algumas
referências de aplicações?
E1 - Tem, mas não é bem no site do telemídia, mas existe uma coisa chamada clube NCL
que é um site onde vc o objetivo é que as pessoas coloquem aplicações lá, vc entra
nesse site, vc pode ver aplicações desenvolvidas por outras pessoas, para TV digital. Então
o objetivo desse site é fazer um grande depósito de idéias, de aplicações de tal forma que a
pessoa está estudando isso ela fala assim “ah vou dar uma espiada o que as pessoas já
publicaram”.
Então esse Clube NCL ele hoje estaria convergindo as idéias, as sugestões ou as criações
que as pessoas estão pensando para a TV digital?
E1 - É, isso é uma coisa que agente começou ha muito pouco tempo, mas ainda é... por
exemplo agente tem que tomar um certo cuidado porque vc não pode usar a propriedade, vc
tem que respeitar as propriedades de mídia, então por exemplo se agente deixar qualquer
pessoa botar qualquer coisa la, vc pode pegar um filme que não é seu fazer uma
interatividade e publicar e a responsabilidade é enorme. Mas o objetivo do NCL é publicar
as aplicações desenvolvidas e estimular pessoas, ideais, perceber o que o outro fez e “ai
caramba, tive uma idéia” senão fica muito abstrato, e vc pode caminhar pra idéias de
internet e agente acha que o meio da televisão ele é diferente, vc tem que produzir conteúdo
pensando no telespectador e não na pessoas que ta na frente do computador, então ele ta
começando, tem poucas aplicações, mas agente espera que com o tempo as pessoas
coloquem aplicações la. Fora isso, existe um fórum de discussão do ginga e aí ele é textual,
mas onde as pessoas tiram dúvidas do ginga, perguntam, discutem, quer dizer, qualquer
assunto pode ser conversado neste fórum. Nós estamos sempre olhando para não deixar as
coisas sem muitas respostas. Na realidade o fórum é uma construção coletiva, então nós
não somos donos do fórum, por exemplo a medida que vc vai estudando, vai entendendo vc
começa... a pessoa pergunta uma coisa e vc sabe responder vc responde, não tem um
professor e um aluno lá. Uma dúvida que agente sabe responder, por exemplo eu não to la
24 horas por dia, mas agente tem um giro de olhar o fórum, então eu entro no fórum e
vejo que tem uma pessoa que botou uma coisa que ainda sem resposta, eu respondo,
mas se vc entrasse antes do que eu vc teria respondido, se eu achar que vc respondeu
alguma coisa errada eu vou falar “ah, não é bem assim não, é assim” se eu falar alguma
coisa errada vc pode estar sabendo mais do que eu vc vai me corrigir, é um ambiente livre e
aberto, não tem um dono.
261
ANEXO D Entrevistas individuais com especialistas de Educação a Distância
da SEED
Entrevistado 2 (E2)- Leda Maria Moura da SEED/PR
A primeira questão, é que vc me diga quais as ferramentas tecnológicas que
hoje são utilizadas nos cursos do programa de formação continuada na
modalidade EaD da Secretaria de Estado da Educação.
E2 - As ferramentas tecnológicas são: mídia impressa, nós usamos material
impresso para/com os conteúdos, que também são usadas de forma digital, em
alguns cursos com mídia em CD e alguns cursos na web; usamos ambiente
virtual de aprendizagem-base moodle que é o e-escola onde tem diversas
complicado “ferramenta” da gente usar porque...) diversas ferramentas de
comunicação como fórum, como chat, diário, possibilidade também de
publicação; usamos também o próprio e-mail da seed ou outro e-mail pessoa
física que a pessoa tem; usamos telefone; usamos a TV, ou por meio da
transmisssão da TV Paulo Freire, transmissão direta, ou por meio de uso de
programas gravados que estão disponibilizados na página da TV, ou ainda
disponibilizando em CD, os vídeo... então, quero lembrar... acho que é isso.
Bem, com relação ao uso da televisão que é o foco da minha pesquisa, então
com relação ao uso da televisão nos cursos de formação continuada, o que vc
considera importante e positivo e o que vc considera limitador e negativo?
E2 - A TV, eu citei como opção, mas é uma das opções que agente usa
também é o uso da TV como, eu não sei se é teleconferência, acho que é
teleconferênica/videoconferência, quando o “fulano” ta falando direto com os
cursistas, ao vivo. Acho rica, acho bastante rica esta possibilidade por conta da
troca, da possibilidade dos cursistas fazerem questionamentos, perguntas,
interagir de alguma forma, ou por e-mail ou por telefone com o docente que
trabalhando com eles. É uma vantagem nesta situação. Em momentos que não
são ao vivo, em mídia gravado ou programa gravado, existe a vantagem do
cursista poder assistir a qualquer tempo, que é uma das vantagens da EaD,
dele poder ter acesso ao material do curso a qualquer tempo de acordo com a
possibilidade de horário ou de localização, enfim, independente de qualquer
coisa, pode ver no carro, pode ver em casa, isso é bom, porém não tem a
interação que ele teria num programa ao vivo. Então, as vantagens são
também desvantagens, no ao vivo o cursista também tem que ter horário
marcado, um local marcado, um dia marcado pra assistir...
Vc já ouviu falar sobre a Televisão Digital Interativa?
E2 - Já
Quais a possibilidades, em cima do que vc ouviu falar, que vc identifica que a
TV Digital Interativa pode estar oferecendo em cursos do programa de
formação continuada de professores?
E2 - Eu sei muito pouco sobre a TV Digital interativa, mas eu imagino que
como a tv digital permite um acesso em lugares diferenciados, como no celular,
no aparelho do carro, TV pra carro tal e qual, o cursista vai ter maior facilidade
de acesso ao curso, aos conteúdos, podendo interagir com o que sendo
apresentado pra ele.
262
Vc considera que a TV Digital, que ela possa ampliar o processo de interação
utilizando conteúdos televisivos? E de que maneira, se vc acredita nisso, de
que maneira vc acha que ela pode ampliar?
E2 - Pois é, eu acredito. que eu não sei exatamente como. a
possibilidade de interação é um ganho para a aprendizagem, na educação a
distância, mas eu não sei como, como eu não sei o funcionamento, pra mim é
difícil dizer como vai acontecer esse ganho.
Mas então, que elementos interativos, independente da TV Digital, que
elementos interativos vc considera que são essenciais numa proposta de curso
para formação continuada na modalidade EaD?
E2 - Pode repetir...
Que elementos interativos, que ferramentas, que recursos interativos vc
considera que são essenciais, quando vc, quando vcs propõem um curso de
formação continuada na modalidade EaD, independente do que exista ou não
na televisão como recurso.
E2 - O que é essencial na EaD é a interação. Porque eu não entendo que
aconteça aprendizagem se não houver interação entre os sujeitos do processo,
que é o aluno, o professor, professor/tutor, todos os alunos interagindo entre si,
fazendo... agente não usa mais a expressão troca porque ninguém e fica
sem, mas é o que agente chamava antes de trocas mesmo, por conta daquilo
que cada um tem construído e que pode contribuir para a construção do outro.
Então, vc não localizaria, por exemplo (vou dar um exemplo), “um curso na
modalidade EaD não pode ‘abrir mão’ de um fórum”, por exemplo, colocando
isso como essencial, ele tem que ter um fórum de discussão, ou “um curso na
modalidade EaD têm que ter um canal de retorno onde o professor que
trabalha possa interagir com o aluno”. Neste sentido que estou colocando como
recursos, recursos tecnológicos, que possibilitam... Vc diz assim: não pra
não existir a interação, mas vc não localiza esta ou aquela ferramenta como
essencial, vc acha que ela pode ser substituída por outra?
E2 - Pode, pode ser um fórum, pode ser um chat, eu acho que elas têm que ser
usadas todas as possíveis, porque dependendo do que se discute,
dependendo do perfil do aluno, dependendo do conteúdo que está sendo
tratado, uma ou outra vai ser melhor para atingir os objetivos de aprendizagem.
Estou trabalhando com gêneros de programas televisivos entrevistas,
conferências, mesas redondas, a ficção, todos gêneros de discursos presentes
na linguagem televisual. Que gêneros de programas, a partir dos programas
que vc conhece, ou que tipo de formato de programa que vcs utilizam nos
cursos?
E2 - Nos nossos cursos nós utilizamos em geral pequenos documentários,
sobre o assunto ou tema tratado, pequenos documentários, usamos programas
de entrevistas e programas de debate, mesas redondas e também usamos
pequenos trechos de filmes de ficção e também teleconferências.
Séries ficcionais de televisão vcs não usam? Digo formato ficcional de
televisão, novelas, seriados?
263
E2 - Nunca usamos, mas não é... existe a possibilidade sim...
Que aspectos, considerando estes gêneros ou estes formatos de programas e
da identidade visual, quando vc pega um programa no que diz respeito ao
formato, ou forma, a identidade visual que esse programa tem, que vc
considera relevante, pensando que tua finalidade é formar professores?
E2 - Que formato que o programa tem que ter para formar professores?
Sim. “Ou aquilo que forma”, formato no sentido de gênero de programa, eu
entendi que vc deu uma resposta bastante ampla, então eu entendi que vc
trabalha com formatos diversos, e se vc trabalha com formatos diversos então
eu posso supor que todos eles tem alguma coisa que pode contribuindo. E
eu também pergunto se a forma, se a identidade visual interfere ou não nesta
finalidade de formação?
E2 - Eu acredito que interfere. Mas eu não vou saber te dizer e esmiuçar isso e
dizer o que é melhor ou o que não é para todo mundo... eu particularmente
gosto de programas de documentários, de entrevistas... pra minha
aprendizagem estes são legais, são informativos, tem bastante informação...
Mas vc não diria que eles tem que ser assim para ensinar?
E2 - Não, eu acho que tem uma liberdade com relação ao formato.
Vc acha que o público alvo deve ser considerado quando se vai produzir um
programa para um curso de formação, então vc acha que o público alvo deve
ser considerado ao se estabelecer esse formato ou esse gênero programa?
E2 - Acho que sim, acho que sim. O perfil da maioria dos cursistas que agente
pode colocar como iguais, mas o perfil deles, são professores de alguma
disciplina, eles são professores do interior, eles são professores indígenas.
Considerar o perfil pode ajudar, cada perfil tem uma preferência, de programas
e acho que pode ajudar. Por exemplo, para professor indígena, eu não vou
colocar um programa muito diferente do que eles conhecem porque vai chamar
a atenção deles pra outra coisa diferente daquela que estou querendo
“conversar com eles”.
264
Entrevistado 3 (E3) - Ana Rita S. Bortolozo da SEED/PR
Quando se estrutura, quando se pensa uma proposta de curso, e vc como
integrante da equipe, na tua avaliação que tipo de interação vc entende que é
imprescindível ou que não pode deixar de ser contemplada em um curso na
modalidade ead, para formação de professores?
E3 - Interação do material, que tem que estar no material, aquela questão
da dialogicidade, e com o professor tutor muito mais imediato, que na verdade
quem constrói o material ele tem que nesta construção do material ta
promovendo esta interação, que vai ser na verdade o conteúdo direto com o
cursista. Mas muito maior é a interação em relação ao tutor que vai ser no caso
o mediador didático pedagógico do conteúdo e a interação na realidade vai
acontecer muito mais com o tutor e é claro com os colegas de curso. Isto tem
que estar previsto.
Quais as ferramentas interativas que são mais utilizadas hoje nos cursos do
programa de formação continuada, na modalidade EaD da Secretaria?
E3 Ferramentas de interação, não é? O fórum eu considero extremamente
importante porque é ali que acontecem as discussões onde se permeiam, se
crescem as discussões pra realização das atividades em outras ferramentas,
no caso na tarefa, no diário. O diário tem a questão da interação entre ele,
por ser assíncrona, e o tutor, para relações mais pessoais, então a interação
acaba sendo menor. Então eu considero o fórum de discussão a melhor
ferramenta que tem para interação, acho que é onde se produz muito, onde se
preparam para outras atividades e por isso que tem que ter uma mediação
muito ativa do tutor, do professor tutor.
A televisão foi utilizada ou vem sendo utilizada em programa de formação
continuada, ou nas iniciativas de formação continuada da Secretaria. E se vem
o que vc sente de positivo no uso , de ganho no uso e o que vc sente de
limitador com o uso da televisão.
E3 Bom, foi usada mais eu acho que ainda é muito pouco, acho que na
verdade poderia ser melhor aproveitado. Que foi na questão da
videoconferência que aconteceu no PDE. Eu acho que é um ótimo recurso
mas tudo tem haver com o que realmente vc propõe, com os objetivos que vc
propõe no curso, com o que vc quer passar. E é justamente pelo fato que numa
videoconferência numa teleconferência vc poder estar fazendo com que o
aluno tenha o contato direto com o docente no caso, então neste sentido é que
eu acho que ela é rica. Porque daí a interação ela pode ocorrer num mesmo
momento, se for vídeo se for tele daí vai depender de que outras ferramentas
vc esta utilizando durante a conferência. Agora, a limitação...Ah! e tem a
questão das webaulas que eu acho super interassante mas, é aquilo que eu
disse, tudo tem haver com a proposta de curso que vc coloca, depende muito
do objetivo do próprio curso. Agora, limitação, não sei que limitação, a limitação
acho que é a questão do custo mesmo com a produção, depende muito se for
uma teleconferência, uma videoconferência, o custo mesmo dos equipamentos
que acabam sendo o impeditivo na verdade, mas acho que a limitação se
mais por isso, agora o aproveitamento, acho muito bom...
265
Vc considera que no processo de recepção de uma mensagem veiculada pela
televisão, este processo é passivo?
E3 Na recepção... passivo... Acho que não, acho que é ativo. A não ser que
não aja interesse de alguma das partes, mas senão eu acredito que seja ativo.
Na verdade é assim, se vc ta trabalhando em um curso, vc ta passando algo
interessante e quem la ele vai em busca daquele conteúdo, daquele
conhecimento que ta sendo transmitido, então não tem como ser passivo. O
“cara” de alguma forma ele vai se envolver, pode ser que não venha ocorrer
aprendizagem mas que alguma coisa ele vai reter por mínimo que seja, então
nesse sentido não concordo que seja passivo.
Vc ouviu falar de televisão digital interativa? E se vc ouviu que tipo de
possibilidade vc acha que esta nova tecnologia pode estar trazendo para um
curso na modalidade EaD?
E3 ouvi falar, não fundo, mas de ouvir falar mesmo. Mas eu vejo
assim, que a proposta digital de vc poder ..., vamos supor o cursista em relação
a quem num programa ou seja o que foi criado dentro desta perspectiva
de interativa, eu acho que tem tudo haver e tem tudo a coloborar pra nós
porque aí seria uma maneira de ser mais, aquilo que eu falei antes, que o custo
de uma web conferência ou teleconferência seria alto, neste sentido se vc tem
todo um aparato seria uma maneira de vc estar promovendo o curso,
utilizando esta ferramenta e onde o cursista poderia ter uma outra opção de
estar interagindo com os docentes ou com o tutores.
Vc acha então que a TV digital interativa pode ampliar o processo de interação
do cursista com os docentes ou tutores...
E3 – com certeza. No meu ponto de vista sim.
Vc tem acompanhado ou vc conhece na produção televisiva os diversos
formatos de programas que existem, os gêneros de programas? Vc por
exemplo falou em web aula, web conferência, existem também programas de
entrevistas, mesas redondas, gravações ao vivo, documentários, série de TV,
existem videoclips, enfim... então considerando estes gêneros de programas
que existem, quais que vc considera mais adequado para uso em programas
de formação continuada em especial de professores da rede?
E3 - cai novamente em planejamento de curso. Quer dizer os objetivos, o que
eu me proponho, pode ter momentos em que eu possa usar partes de um filme,
vai ter momento em que uma entrevista vai caber muito bem, acho que tudo
tem haver com o que vc propõe no curso. Penso que da pra utilizar vários
gêneros, a própria videoconferência, mas tudo tem que haver com o conteúdo
que eu estou propondo no meu curso. Acho que na verdade todo tipo de
produção televisiva é aproveitável, nem que seja por exemplo as vezes até um
desenho animado, uma animação, que vai ser passada para uma criança, mas
eu posso utilizar para demonstrar alguma coisa, mas tem que haver com o
conteúdo do curso que estou me propondo a fazer.
Com relação ao público alvo, quando agente fala em perfil, em identidade do
público alvo, o quanto vc acha que esta identidade, este perfil tem que ser
considerado quanto vc estabelece uma produção de audiovisual. Vc falou em
considerar os objetivos do curso e eu estou perguntando se a característica do
266
público, se ele também tem que ser considerado na produção de um
audiovisual voltado a formação continuada?
E3 Penso que é bem importante isso. Independente do que vc vai estar
trazendo, vc tem que pensar até que ponto e como vc vai tratar isso que vc
trazendo. Na verdade acho que tudo vai cair no planejamento e o perfil é
imprescindível vc detectar no planejamento de determinado curso. Então assim
por exemplo quando vc está estabelecendo que vou trazer aquela animação lá,
eu to estabelecendo que eu to trazendo para professores então eu o estarei
levando pro curso apenas pra ver a animação mas sim para fazer por exemplo
a análise de algum elementos, seja lá uma mensagem subliminar, seja lá o que
tá trazendo de valor, ou ... assim eu tenho que analisar pra este perfil, o que eu
estou querendo como objetivo, então o enfoque vai ser diferente do que levar
esta mesma animação para uma criança, onde teria outro objetivo e outra
situação.
267
Entrevistado 4 (E4) - Ana Sueli Ribeiro Vandrezen da SEED/PR
Como profissional especialista, educador que trabalha nesta área de organizar
proposta de curso de formação continuada na modalidade EaD, que tipo de
interação que acontece nos cursos que vc considera essencial, que um curso
não poderia deixar de ter?
E4 - O curso necessita ter uma interação bem dinâmica entre o professor tutor,
no caso aquele que está atuando com os conteúdos e o cursista. Pode ser
através da web, pode ser através de telefone. Eu acho que está interação ela é
necessária entre estes dois atores e ela pode ser promovida de diversas
formas. Como eu trabalho mais com a questão da web, não aqui, mas
também fora daqui, então eu fico assim de uma certa forma meio direcionada
para as interações que a própria rede possibilita. Fica meio complicado de se
pensar fora daqui, mas eu sempre penso no ambiente moodle, nos chats, nos
fóruns, neste sentido de interação como comunicação entre agentes.
No caso do programa de formação continuada aqui da SEED. Que tipo de
ferramentas interativas são mais utlizadas, ou que pra vc são mais importantes,
que vc destacaria?
E4 - Nos cursos que agente oferece aqui e que nos trabalhamos no ambiente
moodle, eu acredito que as ferramentas que são mais interativas que eu
considero mais importante são os fóruns. Eu entendo assim, que o diário ele
funcionaria como registro, um registro diário e que as pessoas ainda não
desenvolveram este hábito de fazer o seu passo a passo no curso, eu vejo o
diário dessa forma. Sei que ele também serve, e nós usamos inclusive isso,
para vc solicitar reflexões mais profundas, mas as pessoas não estão
habituadas. Mas o fórum, ele privilegia aquela interação assim praticamente
dialógica. As pessoas entram existe um posicionamento, outro as vezes não
concorda, se posiciona, então eu vi coisas muito interessantes acontecerem
nos fóruns, nos cursos de formação, nos nossos cursos, de defesa de
conceitos, de defesa de cursista, de posicionamento de cursista, que eu acho
muito importante, e de pessoas que não, que nem sabem quem é o outro,
tem aquela imagem, aquela fotografia, e esta questão de posicionamento, de
defesa de uma idéia, de uma conceito, eu acho muito legal.
Vcs utilizam a televisão nos cursos de formação continuada? E se utilizam, o
que vc de positivo neste uso e o que vc de limitador ou negativo, neste
uso?
E4 - Nos cursos que eu participei de formação continuada não houve assim um
uso muito grande da televisão, praticamente ele foi nulo, muito pouco. Pede-se
mais vídeo, remete-se pra internet, eu entendo assim, que havendo a
possibilidade de promover a mesma interação que a rede te oferece via
televisão, eu acho ela muito mais prática, porque hoje em dia vc tem n
possibilidades de acessar uma televisão, falando de televisão digital
especificamente, e acho que acaba oportunizando um acesso muito maior, a
acessibilidade se torna maior. Mas nos nossos cursos nós não temos utilizado
a televisão com muita freqüência. Nos cursos que nós organizamos aqui nós
temos utilizado muito os programas da TV Paulo Freire, mas sempre
direcionando, para entrar no portal e no portal selecionar o programa. Entrar no
link que dá acesso aquela programação.
Com relação a televisão. Vc considera que a recepção da mensagem é passiva
para aquele que está assistindo a um programa?
268
E4 - eu entendo assim, que isso tem haver um pouco com a pessoa, que está
assistindo, acho que na maioria dos casos ela acaba sendo passiva vc recebe
a informação e digamos assim por uma média, a maioria recebe passivamente,
mas vc vai encontrar também pessoas que no momento em que recebem a
informação eles interagem, eles tem uma reação, de concordância, de
discordância, comentam com o outro, então eu acho que depende muito da
própria pessoa, tem pessoas que são por natureza passivas e tem pessoas
que não são, então estas pessoas que são passivas toda e qualquer forma que
vc trabalhe com elas, elas vão estar recebendo sempre desta forma, e as
outras não, não quer dizer que vão discordar. Eu tive um caso muito
interessante uma vez, de um aluno que comentou que ele escutou uma notícia
e ele se pegou dialogando com o repórter, reclamando com o repórter na hora
da transmissão... daí ele parou e falou, mas o que é que eu estou fazendo pois
é uma televisão. Mas foi uma reação imediata, de discordância dele. Mas ele
era um aluno assim, era uma pessoa assim, que falava e se era diferente do
que ele imaginava na hora ele tinha uma reação pronta. Acho que depende
muito da pessoa.
Vc comentou alguma coisa sobre televisão digital interativa. Vc consegue, pelo
que vc ouviu falar, ver possibilidades de uso desta tecnologia voltada aos
cursos de formação continuada e que possibilidades seriam estas?
E4 - eu penso assim. Vou dar um exemplo bem prático. Utilizar a TV Paulo
Freire para trabalhar conteúdos da formação continuada ofertada para os
nossos professores e a possibilidade desses professores estarem recebendo
isso através do seu celular, através de uma TV portátil que ele tenha. Acho que
é possível se atingir um número maior de pessoas, independente de lugar,
através da TV digital.
Do ponto de vista do processo de interação. Vc acha que a TV Digital interativa
pode ampliar esse processo de interação do usuário ou do receptor com os
programas?
E4 - por ser televisão digital interativa eu acredito que sim, mas também vai
depender da maneira como esses programas forem elaborados, como eles
forem produzidos. Enquanto tecnologia sim, mas também tem o lado da
produção. Quer dizer vc tem uma tecnologia de ponta e por problemas de
projetar a ação vc não consegue otimizar esse uso.
Quero agora conversar um pouco sobre gêneros de programas, sobre formatos
de programas. Por exemplo, entrevistas, mesas redondas, séries de ficção,
transmissão ao vivo, videoclipe, isso pra dar alguns exemplos. Considerando
os diversos formatos de programas quais vc acha que podem ser utilizados em
programa de formação de professores? Vc elegeria alguns formatos e outros
não?
E4 - eu vou colocar minha visão pessoal. Eu gosto muito de programas de
entrevista, gosto de mesa redonda. Sou professora da área de língua
portuguesa, então pensando assim que às vezes um videoclipe auxilia muito na
compreensão, porque não é palavra é imagem também. Mas eu acredito
que eu ficaria com estes formatos assim, mesa redonda, para formação de
professores né, a entrevista, e acho que da pra vc enriquecer alguns deles
trazendo uns videoclips, deixar de uma forma mais ilustrativa trabalhar mais
com a questão das imagens, um documentário, mas inserido dentro deste
formato de entrevista sendo necessário o diálogo sobre as imagens. Acho que
é importante sempre que vc tenha a palavra, o texto verbal, mas que ele seja
269
complementado pela imagem, eu acho que a imagem chama a atenção,
prende mais.
Pensando na produção desses programas voltados a formação de professores.
Vc acha que o perfil do público ao qual se destina estes programas deve ser
considerado na produção? Vc acha que as identidades culturais, regionais
devem ser consideradas na forma como se produz um programa e que deveria
se estabelecer uma relação entre o que se produz e o público usuário? Ou vc
acha que isso não interfere na apropriação do conteúdo trabalhado, no
processo de aprendizagem?
E4 - eu acho que identificar o público pra quem vc está destinando aquele
programa é fundamental para todo e qualquer processo de comunicação mas
eu entendo assim, se nós formos pensar num curso de formação continuada
para professores da rede do Paraná nós não podemos pensar em identidades
menores que o Paraná, porque senão vc vai reduzir muito. Vc vai ter que fazer
diversos cursos com o mesmo conteúdo buscando estabelecer as relações.
Por exemplo relações do conteúdo X com a região metropolitana de Curitiba,
que é diversa da região de Toledo, que é diversa da região de Foz, então
vc vai ter um trabalho imenso. Eu acredito que vc tem que pensar assim, este
conteúdo X para professores da área de língua portuguesa, para professores
da área de história, pode ser o mesmo conteúdo, um conteúdo interdisciplinar,
mas pensando nesta especificidade, de que forma que eu vou adequar a minha
linguagem para atingir melhor esse público. Neste sentido sim, e procurar
então manter. Achei interessante esses dias, que de vez em quando agente
comenta, que no Paraná as vezes é difícil de perceber a identidade
paranaense, porque nós temos várias etnias que tem uma força muito grande
nas suas tradições, na manutenção de suas tradições, e nós acabamos
percebendo assim, qual é a tradição do Paraná? qual é a nossa identidade
cultural? enquanto povo, o povo paranaense, então acho que a gente deve
procurar atender desta forma, por área e mantendo a identidade cultural
paranaense.
270
Entrevistado 5 (E5) - Eguimara Selma Branco da SEED/PR
Vc como integrante de uma equipe que organiza e estrutura cursos a distância,
que tipo de interação que vc considera imprescindível num curso na
modalidade EaD?
E5- Sabe que é uma coisa bem engraçada, porque é exatamente isso que eu
estava escrevendo hoje, porque vc sabe que eu estou terminando a minha
dissertação também, esse conceito de interação e de interatividade, agende
sabe que por conta do desenvolvimento tecnológico estes dois termos eles
entraram um pouco em conflito, porque agente pega muitos autores que dizem
que a interação ela é a relação entre duas pessoas e quando agente ta
trabalhando com equipamentos, mediado por equipamentos agente fala em
interatividade e eu pessoalmente, particularmente, eu gosto deste termo, até
por conta da ..., eu uso o Marco Silva que é um autor que fala sobre a
interatividade e é o foco disso que agente tem na web 2, dessa novidade que
deixa de ser ele recebe a informação mas ele passa a receber e
transformar, a construir e a elaborar, ele deixa de ser o receptor e passa a
ser emissor também de informação e eu entendo a interação a partir deste viez
da interatividade do Marco Silva.
Então vc acha que em um curso esta interatividade ela deveria estar presente e
de que forma ela deveria estar presente?
E5- Ela fica implícita no ambiente, na maneira como vc organiza o ambiente,
como vc cria um ambiente para que ele propicie a interatividade, o próprio... se
agente pensar as plataformas que nos temos hoje elas permitem isso, então
por exemplo, a plataforma moodle que agente usa aqui, o e-escola, a partir do
fórum, porque no fórum presente, todo discurso, todo o diálogo, então na
hora que vc entrar ali, vc pode retomar, vc pode voltar e pode sei lá, daqui a
algum tempo rever aquilo que vc escreveu no fórum, no próprio diário. Vamos
dizer assim que de certa forma o moodle é interativo, ele traz os elementos
para esta interatividade.
Mas a interação de um fórum por exemplo é diferente da interação em um
chat...
E5- Ah, mas daí no chat tem que ter a mediação, a necessidade de ter a
mediação, se bem que no fórum também precisa ter a mediação. Eu acho que
se agente olhar por este ângulo o papel do mediador é importante também
para que aconteça a interatividade ou a interação.
A segunda questão que eu tenho aqui diz respeito as ferramentas que a
Secretaria usa nos cursos a distância. Vc acabou falando um pouco sobre
isso, quais as ferramentas que a Secretaria mais usa neste ambiente virtual.
E5- É agente trabalha com o fórum, trabalha com o diário, com a tarefa e o
chat, dependendo do curso. No curso de tutoria agente apresenta o chat,
porque é uma possibilidade também. É que cada curso que agente faz, cada
curso que agente trabalha ele tem uma característica e essa é uma outra
questão também que agente tem que pensar, vc tem que ter uma
intencionalidade. Cada ferramenta que eu vou usar eu tenho que pensar pra
que ela serve, falando o fórum por exemplo o que eu percebo é que o próprio
fórum ele tem maneiras de se dispor, vc pode colocar o fórum pra uma
resposta simples, fica a questão em cima, e alinhado embaixo as
respostas, e tem um outro tipo de fórum que a pessoa cria o tópico e agente
271
isso nos cursos do PDE e fica aquela “tripa” de novos fóruns e assim pouca
conversa porque cada um entra e cria um e na verdade não foi pensado o tipo
de fórum pra questão, porque quando vc abre um fórum, pra vc criar um novo
tópico vc tem que abrir espaço pra pessoa criar uma nova questão e isso não
foi trabalhado e é uma das coisas que agente tem que rever. Mas eu considero
assim a ferramenta mais importante o fórum, eu acho o mais bacana, assim
que fomenta, que deixa o registro e que traz a interatividade.
Vc acha que é possível a utilização da televisão em cursos de formação
continuada? Eu gostaria que vc me destacasse o que vc considera positivo no
uso e o que vc considera limitador no uso da televisão?
E5- A televisão no sentido geral. Eu acho necessário o uso da televisão. A
televisão ela está presente em todos os lugares, em todos os ambientes, acho
que se fizer uma pesquisa é difícil hoje quem não tenha acesso e a maneira em
que as informações, vou usar da TV que agente tem nos canais abertos, são
despejadas as informações da maneira como as pessoas querem que as
informações sejam despejadas, então se pudesse fazer um trabalho no sentido
destas informações, como isso chega, o que está por trás disso, acho que seria
bem interessante pra educação. Porque vc percebe que ta faltando alguma
coisa. Por exemplo, a vuvuzela, porque é vuvuzela ou a jabulane, são termos
que são africanos, é a charanga, é a corneta que agente tinha, mas em outras
épocas não tinham uma ênfase tão grande e porque agora tem, porque foi
dada essa ênfase que ta toda a molecada tocando e gritando. Então é pensar o
porque dessas coisas, o que tem por trás disso, qual é a mensagem que está
implícita nesta coisas. Até mesmo no contexto da copa. Pensar nas épocas
que elas acontecem, tantas outras coisas acontecendo e porque o foco em
cima disso. Acho que neste sentido seria bem importante e necessário fazer
um trabalho, da educação mesmo, no contexto geral. Pra nós nos cursos eu
traria televisão, mas com as nossas gravações, nossos trabalhos, com
fragmentos pequenos, nada muito grande para poder ficar disponível no próprio
ambiente, clicou assistiu ali um videozinho, um pequeno trecho, alguma
informação e dar continuidade porque isso ajuda também, a parte estética.
Vc acha que a televisão como linguagem e como proposta tecnológica ela tem
limites para a formação continuada?
E5- Do jeito que agente em alguns cursos sim, porque se vc pensar esses
cursos de formação que agente por aí. Por exemplo, o “cara” fica duas
horas gravando, daí eles colocam o vídeo para a pessoa que ta fazendo o
curso ficar assistindo duas horas daquilo. Eu acho que neste sentido limita
porque pelo cansaço, pelo exagero, por mais que a pessoa fique se
movimentando, mas não é a mesma coisa, mas não é a mesma coisa que a
comunicação poder se diferente, acho que na hora que vc pega o mouse é
outra coisa.
Vamos falar um pouco sobre esta questão da recepção. Quando se usa a
televisão uma mensagem é veiculada e existe a recepção da mensagem. Vc
acha que essa recepção é passiva?
E5- Eu acho que pra muitos é. Pra muitas pessoas é. E é interessante porque
se vc vê, daí você de novo, daí vc de novo, pode até ser uma inverdade,
mas vc viu tanto aquilo que vc mesmo passa a reproduzir. Se agente pensar
nas músicas, nas letras de música, nas propagandas, quando vc você
cantando, vc tá repetindo aquilo, vc sabe as letras.
Vc cria um automatismo...
272
E5- Com certeza.
Vc ouviu falar da televisão digital interativa? Dentro do que vc ouviu falar,
que tipo de possibilidade vc acha que essa nova tecnologia pode trazer para
um curso de formação continuada, pra educação a distância?
E5- Pelo que eu vi assim num futuro muito próximo é a integração de tudo. É
acoplar todas as coisas. A televisão, o próprio Google lançando a
televisão deles. Todas essas coisas elas estarem acopladas num só. Vc vai ter
o lap top, a televisão, a internet, tudo unido em uma coisa só. Então eu penso
que favorece, tem a favorecer, acho que agente caminha pra isso. Eu até vi
um negócio engraçado que dizem que tudo que vc comprar tem que ter USB,
microondas, geladeira, tudo, porque a intenção é conectar tudo.
Vc considera que a TV digital interativa pode ampliar o processo de interação
quando utilizada essa mídia?
E5- Pra ser bem franca eu não saberia te responder. Eu penso que sim, mas
eu teria que fazer mais leituras, conhecer, até mesmo olhar como que
funcionar. Porque a TV ela é interativa pelo que eu conheço é a possibilidade
de vc estar interagindo nas programações, é vc estar respondendo, mais que
um big brother, uma coisa que é assim uma emissão e recepção é passada da
imagem que agente tem. Eu acho que precisava ler mais para eu saber se vai,
mas penso que vai, pelo próprio desenvolvimento das coisas.
Sobre a linguagem televisiva. Que gêneros e programas ou quais gêneros e
formatos de programas são mais adequados para o uso em curso? Gêneros e
formatos são por exemplo, entrevistas, ficção, videoclipe, mesas redondas, etc.
Quase vc considera mais adequado ou mais interessante de ser utilizado em
um curso?
E5- Eu penso que dependo do curso. Dependendo do curso pode ser um
videoclipe, pode ser uma entrevista, dependo do planejamento, da
intencionalidade que se tem, do público, pode ser utilizado qualquer tipo de
programa, acho que não precisa fecha.
Falando em público. O público usuário de uma televisão, televisão como
alternativa tecnológica de um curso, deve ser considerado quando se
estabelece o formato do programa, a forma como vai se trabalhar o conteúdo
neste programa? E particularmente o perfil no que diz respeito as identidades.
E5- Com certeza, acho que sim. Eu acho que as televisões fazem isso. Eles
ja tem mais ou menos a idéia de quem vai assistir, eles destinam, pensam
na programação...
Mas vc, se tivesse organizando um curso vc acha que teria que pensar nisso e
de que forma?
E5- eu penso que sim. Quando agente fez os nossos cursos, agente pensou
nisso. Quem a gente tem? Professor. Mas que tipo de professor é esse? E é
pra eles que agente escreveu. Então eu acho que agente tem que olhar o
público sim. No nosso caso. Não digo assim grandes massas porque daí fica
difícil, vc vai ter uma diversidade muito grande de pessoas. Uma UBRA por
exemplo, que tem, sei mais de cem mil. Mas no nosso caso eu acho que
sim. Até porque o nosso público ele é diferenciado, eles já tem formação
tecnológica, vc não precisa começar de uma coisa muito simples vc pode
começar com uma coisa mais elaborada.
273
Entrevistado 6 (E6) – Eliane Aparecida Dias da SEED/PR
Vamos começar falando de interação. Quando vc pensa uma proposta de
curso na área de educação a distância, para formação de professores, que tipo
de interação vc acha que é imprescindível para que o curso tenha qualidade e
tenha sucesso na aprendizagem?
E6- Primeiro quero falar que eu sou uma imigrante nesta área tanto de
educação a distância e mesmo em tecnologias na educação. Eu comecei a
trabalhar e a entender e procurar entender um pouquinho mais de tecnologias
na educação em 2006 quando chegou nas escolas. Até então nem sequer
computador eu tinha em casa. A partir de 2007 eu passei a fazer pedagogia a
distância, eu entrei em um curso a distância para conhecer um pouco mais e
em seguida resolvi fazer também pós graduação a distância em tecnologia na
educação. E são duas formas diferentes. Na faculdade é a educação a
distância semi presencial, eu vou uma vez por semana, eu tenho uma tutora, é
um outro nível, digamos assim, de curso a distância. No de Tecnologias que
estou fazendo na pós graduação é totalmente a distância mesmo,só através
do ambiente virtual. E este nível de interação que não pode faltar de forma
nenhuma é por meio dos fóruns e o email mesmo, a mensagem. Porque eu
vejo assim, eu tenho meus professores que estão distantes mas eu me sinto
muito perto. Porque sempre que eu preciso eu envio uma mensagem hoje a
noite, amanha eu recebo, eu estou sempre em contato com eles. No caso
mesmo do curso que eu tenho lá, como semi presencial, agente tem a
condições de usar o 0800 em alguns momentos, mas o que agente mais utiliza
o tempo todo é através de email, não é nem o chat, é o email e o fórum
mesmo, porque as vezes o chat vc não consegue a resposta naquele momento
e agente não pode ficar o tempo todo. Mas agente consegue trabalhar. Então
pra mim seria a parte da mensagem, dos emails mesmo e do fórum que não
tem como faltar.
No caso dos cursos organizados aqui na secretaria de educação, quais são as
ferramentas interativas mais utilizadas?
E6- Nos utilizamos o fórum para as discussões entre os professores da rede e
os professores tutores, utilizamos os diários que é uma maneira de por
atividade, que é mais individual e é o professor tutor e o professor da rede
que tem acesso, e passamos também a utilizar este ano, que nós começamos
a utilizar a tarefa, que até então agente não utilizava em 2009 e em 2010
agente começou a utilizar e o e-mensagem que é aquele espaço de mensagem
direta entre o professor tutor e professor da rede.
A televisão ela foi utilizada ou é utilizada em cursos de formação continuada
aqui na secretaria? E se foi utilizada o que vc considera positivo neste uso e
o que vc considera limitador?
E6- Vou falar como professora de escola, enquanto eu estava na escola ainda.
Então em 2006 nós começamos a utilizar nas capacitações, então muitos
materiais que são enviados que eram somente através daqueles textos ou
chegavam para agente utlizar no vídeo e as vezes o vídeo não estava bom,
ou o DVD, depois com a TV Pendrive, a TV Multimídia, passaram uma forma
diferente de nós trabalharmos. Então nós assistíamos algumas palestras,
algumas discussões, pela TV e daí dávamos continuidade na sala de aula. Eu
acho que isto facilitou bastante porque é muito melhor a qualidade do deo,
das imagens passaram a ficar bem melhor, e também do áudio. O que
atrapalha um pouquinho é que neste momento você apenas ouve vc não tem
274
como participar junto, então vc ta ouvindo e se vc tiver alguma dúvida ela tem
que ser esclarecida entre as pessoas que estão no grupo, se nós precisarmos
ir atrás fica um pouco mais difícil. Mas... facilitou bastante.
Vc considera que o processo de recepção da mensagem veiculada por uma
televisão é um processo passivo?
E6 - Seria digamos assim, se eu visse sozinha ali e tivesse que aceitar, mas a
forma como são feitas as capacitações eu não considero assim porque vem o
material para que agente assista e nós temos a condição de discutir entre o
grupo de professores que estão ali naquele momento e geralmente nós
elaboramos um documento enviado a SEED, pelo menos foi este o trabalho
que nós sempre procuramos fazer nas escolas.
Vc já ouviu falar alguma coisa sobre TV digital interativa? E, que tipo de
possibilidade vc identifica nesta tecnologia que pode contribuir com os cursos?
E6 - Quanto a TV interativa agente tem ainda poucas informações. Agente ta
começando a ler um pouquinho sobre o assunto, mas eu precisaria de mais
discussão de mais leitura para ter uma idéia clara, realmente eu não me acho
agora em condições de responder, eu não tenho, não consigo formular ainda
uma maneira de utilizar. As expectativas são grandes, agente deseja que
tenha, que traga essas inovações e essa qualidade para os nossos cursos,
principalmente para a formação continuada, mas neste momento eu não me
sinto em condições de responder quais seriam estas mudanças que poderiam
ocorrer.
Gostaria de conversar um pouco sobre os formatos de programas, gêneros de
programas que são veiculadas na televisão. Por exemplo, os programas de
entrevistas tem um formato, as séries de TV, as transmissões ao vivo, etc. vc
pensando nos possíveis formatos de programas que podem ser utilizados para
curso quais os que vc considera mais interessante para a formação
continuada?
E6 - Bom, a entrevista, com certeza a entrevista. Alguns tele jornais,
documentários, e até os seriados também, hoje eu penso que nós temos
seriados muito bons, não estou falando exatamente das mini-séries, mas de
seriados mesmo que tratam de temas que se pode trabalhar num único
programa, são mais curtos e não ficam tão longos. O que me preocupa, mesmo
os professores, eles vão por exemplo, trabalhar filmes, são filmes muito longos
que acabam distraindo, cansam e se perde muito tempo. Os seriados eles são
mais curtos eles tratam de temas mais pontuais e isso eu acho interessante pra
ser trabalhado, mesmo no caso das entrevistas, dos jornais, dos tele jornais,
tem muita coisa que vc pode desenvolver o assunto de n maneiras.
Vou destacar mais alguns para saber sua opinião: as mesas redondas, os
documentários, os clipes, vc acha que contribuem?
E6 - No caso da mesa redonda porque são debates, eu acredito que sim
porque são maneiras de vc conhecer outras idéias, outras pessoas, porque se
vc tem uma única entrevista muitas vezes a pessoa está simplesmente
passando o que ela pensa e não se confronta com outros pensamentos. A
mesa redonda eu acho interessante por isso. No caso de clipe também é uma
visão, se vc constrói um clipe ele é construído sobre uma determinada visão,
então, vários clipes vão ter várias visões. Então vc pode ter o mesmo tema com
visões diferentes então vc cria clipes de modelos diferentes.
275
Vc acha que o perfil do público ao qual se destina o processo de formação
deve ser considerado quando no processo de produção vão se estabelecer os
gêneros e os formatos de programas?
E6 - Com certeza o público tem que ser considerado porque não da pra se
trabalhar com um determinado programa que não atinja. Porque todo programa
ele tem um público alvo, isso com certeza e então, mesmo pra vc preparar um
curso a distância, seja ele semi presencial ou totalmente a distância, o primeiro
momento é ver a que público ele se destina e de acordo com o público são
as ferramentas, é o planejamento que nos vamos desenvolver, eu acredito que
na TV com os programas é a mesma coisa ele tem que ter, ser montado, ser
organizado de acordo com o público a que se destina porque senão talvez ele
não atinja da forma que se pretende, não atinja o objetivo planejado.
Vc acha que quando se tá falando em perfil do público, vc considera neste
perfil a sua identidade cultural?
E6 - Tem que ser considerado. Porque pra mim cultura é tudo, o local que ele
vive, a escola que ele estudou, o conhecimento que ele tem da vida, dele
mesmo, porque cultura é toda a pessoa, então a cultura tem que ser
considerada sim, o aspecto cultural tem que ser levado em conta.
276
Entrevistado 7 (E7) - Elis Silvana de Freitas Capal da SEED/PR
Quando vc pensa uma proposta de curso ou está estruturando uma proposta
de curso a distância, que tipo de interação vc acha que é imprescindível que
ocorra para que se dê o processo de aprendizagem?
E7- Primeiro é com relação ao conteúdo, que ele venha ao encontro da
necessidade do cursista, aquilo que agente quer do cursista. Além do conteúdo
a interação com o tutor e com as questões colocadas no ambiente de
aprendizagem, que sejam questões bem claras, bem objetivas e que possam
realmente desenvolver esta interação, porque se elas forem bem claras e
objetivas elas vão proporcionar isto.
Quais as ferramentas de interatividade que são utilizadas nos cursos da
Secretaria de Educação na modalidade EaD?
E7- Fórum. Agente fez uma proposta com blog e viu que não funcionou muito
bem. Então é o fórum, o diário e a tarefa. Mas que tem interatividade é o fórum.
Vc já usaram televisão nos cursos de formação continuada?
E7 - Que eu lembre televisão não. Talvez vídeos, material audiovisual, mas
televisão não.
O que vc considera positivo no uso da televisão e o que vc considera limitador
neste uso, para um programa de formação continuada?
E7 - Eu considero importante na TV é a análise dos programas, do que é
veiculado nesta televisão, a análise crítica. Fazer a análise crítica de tudo que é
veiculado na televisão e as possibilidades pedagógicas de trabalhar com tudo
que veiculado na televisão com o aluno. E negativo, dentro da televisão...
talvez... como assim?
Quando vc pensa em utilizar a televisão o que pode ser considerado limitador?
E7 - Talvez a questão da própria tecnologia, que pode não funcionar... eu não
vejo aspecto limitador desde que vc faça um bom planejamento com
antecedência, prevendo tudo que vc quer alcançar, qual é o teu objetivo, pra
vc colocar a televisão como meio para formação.
Quando vc pensa na televisão, na mensagem exibida pela televisão, vc acha
que no processo de recepção existe passividade?
E7 - Acho que existe. Ele é passivo porque ele não participa, mas ele não é
passivo com relação ao pensamento, ou a mensagem que é veiculada, que o
receptor recebe, ele na hora que recebe aquela mensagem ele faz uma... ele
compreende ou não compreende aquela mensagem, ele consegue fazer uma
interpretação, ele consegue se perceber com relação aquilo, mas assim
passividade total não, por mais que ele não tenha conhecimento nenhum
daquele assunto ele se colocar a pensar sobre aquilo, acho que não existe uma
passividade, uma neutralidade...total. Só não tem interação.
Vc já ouviu falar em televisão digital interativa? E do que vc já ouviu falar, vc
alguma perspectiva ou alguma possibilidade de uso desta tecnologia para
formação continuada de professores?
E7 - Eu acharia bastante interessante, TV interativa, TV digital, pela
interatividade, por proporcionar interatividade.
O que vc ouviu dessa interatividade? O que vc imagina que é possível utilizar?
E7 - O que eu vi, o que eu li alguma coisa, é que ela proporciona ao mesmo
tempo que vc veicula o programa, veicula uma proposta, e ao mesmo tempo o
telespectador, o receptor possa estar interagindo com ela, ao mesmo tempo.
Não sei se está certo.
E isso vc acha que é um ganho para educação, para um curso de formação.
277
E7 - Eu acho que seria, por estar ao mesmo tempo apresentando e
“conversando” e vc alcançaria um público grande. A vantagem é o grande
público, o maior alcance e ao mesmo tempo interagir com o conteúdo. Ao
mesmo tempo que existe uma dúvida num curso de formação, vc até manda
para o tutor mas se na hora vc sana a dúvida e puder colocar diante de todos.
Então vc considera que é possível ampliar o processo de interação dessa
mídia?
E7 - eu acho que sim.
Do ponto de vista da programação televisiva existem os gêneros de programas,
os formatos de programas. Por exemplo, as entrevistas, uma mesa redonda,
uma ficção, um programa de auditório, uma transmissão ao vivo, um
documentário, etc. Que tipo de formato vc acha que é mais adequado ou traria
melhor resultado de aprendizagem em cursos de formação?
E7 - Eu acho uma mesa redonda, sempre acho que vc sai, quando tem uma
mesa redonda eu acho que vc sai muito mais fortalecido com palestras, com
várias exibições, várias falas, então eu acho bastante interessante, mas
dependendo da proposta que vc quer eu acho que talvez caberiam vários
outros formatos. Por exemplo, um curso de EJA, educação de jovens e adultos,
então talvez seria uma entrevista com a comunidade por exemplo, se agente
pega a educação profissional, poderia usar outro formato, como uma ficção, ou
um programa de estúdio que mostrasse como que se faz, indo na empresa
trazendo como um documentário. Acho que dependendo do depto que vai estar
relacionado com o curso seria a necessidade do formato.
Quando se pensa no público alvo, o perfil do publico alvo, na sua identidade,
ou nas diversas identidades deste público alvo, vc acha que elas precisam ser
consideradas na produção ou no estabelecimento do formato de programa com
finalidade educacional para formação continuada?
E7 - Eu acho que sim. Porque, considerando a identidade, quando vc falou em
identidade eu considerei a questão da regionalidade, e daí eu fiquei pensando
por exemplo, na educação profissional que envolve a educação no campo.
Tem a educação do campo também que não é educação profissional é outro
departamento. Mas dentro da educação profissional tem vários cursos, que
dependendo da região é ofertado um curso, por exemplo, pecuária, no outro
agricultura, mais vinculado a agricultura, outro vinculado a pecuária. Acho que
neste aspecto teria que ser considerado. Na perspectiva de quem ta assistindo,
de quem vc vai... qual o foco, porque por exemplo, se vc vai pegar um curso de
um depto como um todo, se vc não considerar as especificidades de cada um,
em algum momento, não no curso todo, mas em algum momento vc vai ter
que... acho que nesse momento é o momento de considerar as identidades.
Então vc acha que contemplar esta identidade contribui com a aprendizagem?
E7 - Porque como nós estamos falando em curso para formação continuada
aos professores, eu acho que ele vai se aprofundar naquilo que faz a formação
continuada dele, ele vai ter todo um aspecto geral, do curso todo, mas ele vai
estar se aprofundando um pouquinho mais em determinado conteúdo, na área
mesmo de atuação dele, direto, mais direta. Fortalecendo está área também,
porque é um curso de formação continuada.
Vc vincula então a área de formação, a área do conhecimento?
E7 - Isto, dentro do formato do programa, então ofertar neste sentido.
278
Entrevistado 8 (E8) - Gilian Cristina Barros da SEED/PR
Na tua avaliação que tipo de interação que vc considera imprescindível quando
vc vai montar uma proposta de curso na modalidade EaD?
E8 - A interação professor aluno, acho que essa é a principal, a interação
professor aluno. A interação aluno aluno, entre os cursistas também é
importante, mas acho que é imprescindível assim a interação professor aluno.
Até porque o aluno vai em busca de aprender alguma coisa, e ele com o
conteúdo, esta interação aluno com o conteúdo pode ser que não de conta,
a importância do professor ali para poder complementar o que o conteúdo não
deu conta, é o professor que conta de outras necessidades, não existe
nenhuma mídia que conta, eu penso assim, que o impresso não vai dar
conta, que o vídeo não vai dar conta, que o professor, que é a interação mais
importante, que é o professor que consegue fazer este laço entre tudo.
Quais as ferramentas interativas que são utilizadas nos cursos do programa de
formação continuada na modalidade EaD da Secretaria?
E8 - Ferramentas de interação. Então agente tem o ambiente virtual que
agente pode considerar como ferramenta de interação com sub ferramentas,
tem o fórum, o diário, o chat, agente usa mais fórum e diário que interação
direta. A tarefa é uma forma de interação, mais é assim uma tarefa entregue e
o professor corrige, mais não é aquela interação que leve mais a uma
discussão, é mais no sentido de discutir a tarefa que foi feita,de corrigir a tarefa
que foi feita, da tarefa que foi solicitada. Se for considerar os outros recursos
eu posso considerar também os vídeos que agente usa como uma ferramenta
de interação, então o ambiente pode ser uma ferramenta de interação, os
vídeos utilizados pode ser uma ferramenta de interação, o material impresso
pode ser uma ferramenta de interação. É a leitura que eu faço de interação, eu
posso interagir com o outro, com o material impresso, ou com o ambiente
virtual.
A televisão, ela é utilizada nos cursos de formação continuada e se for, nessa
utilização o que vc considera positivo no uso de uma TV e o que vc considera
limitador ou que vc pode destacar como um problema no uso da TV?
E8 - Nós usamos diretamente a TV, como TV, teve uma vez que nós usamos
com teleconferência que foi ao vivo. Assim nessa experiência que agente teve,
então teve a apresentação da professora ela fez a fala e depois vieram os
questionamentos ou pro chat ou por 0800, que agente fez com o PDE. Assim
eu o vi nenhuma limitação, neste modelo, agora se for o modelo que é
gravado, o programa que foi gravado e depois passa num determinado dia para
o grupo assistir, se não tiver a figura do tutor presencial para poder sanar as
possíveis dúvidas, daí eu vejo como limitação, porque daí é aquela fala que foi
gravada, se eu for usar e reprisar noutro momento as vezes ela não da conta
das necessidades, quando é transmissão a vivo, eu penso que, não vejo
nenhum ponto negativo assim que precisasse ser complementado. Agora
quando é gravado e depois disponibilizado sim. Falta esse complemento.
Vc considera que o processo de recepção da mensagem veiculada pela
televisão, que esse processo de receber essa mensagem é um processo
passivo?
E8 - Não é passivo, né. Não é passivo porque quando vc recebe vc faz um filtro
assim, não tem nada que vc receba e que chegue diretamente a vc e vc aceite
do jeito que vc recebeu, tem as leituras anteriores, as vivências anteriores que
fazem com que vc leia aquilo que vc ta recebendo de uma forma diferenciada.
279
Não chega direto e te influencia, vc tem que tomar decisão se vc vai ouvir
aquilo que vc recebeu e tomar uma atitude ou não, ou quando vc senta por
exemplo pra assistir um filme vc sabe que vai assistir e é um filme que pode
ser real ou pode não ser real, então não é assim, não é tão passivo, porque o
simples fato de vc escolher o que vc vai assistir vc não ta passivo porque
teve uma oportunidade de escolher o que vc queria.
Vc acha que esta possibilidade de fazer algumas escolhas, ou de fazer filtros,
ou de vir com uma interpretação prévia, vc acha que isso também é um
processo de interação com o conteúdo que está sendo veiculado, com a
mensagem que tá sendo transmitida?
E8 - Não é interação. É interação mas não com o conteúdo. É uma interação
do conteúdo comigo mas não eu com o conteúdo. Da forma como é posta da
TV que agente conhece hoje ou do conteúdo veiculado hoje via televisão
aquele conteúdo não vai ser modificado com o que eu to pensando. Eu posso
ser modificada ou não, pelas leituras que eu faço, mas nesse momento, da
forma que ta posta, do jeito que eu conheço televisão hoje, esse conteúdo não
vai ser influenciado, então eu não considero que eu que assisto em relação ao
conteúdo, por enquanto não tem interação. Vem de pra cá, mas não daqui
pra lá.
Vc já ouviu falar da televisão digital interativa?
E8 - Já
E do que vc ouviu falar quais as possibilidades de uso que vc identifica nesta
tecnologia e que pode ser utilizada na formulação de proposta de curso na
modalidade EaD?
E8 - eu vejo com as mesmas possibilidades que agente tem no computador,
porque o digital que eu conheço e que eu imagino é o digital que eu lido é o de
arquivo digital de computador e eu penso que a TV digital vai ter todas as
possibilidades que tenho no computador de entrar e comentar um vídeo e
vou ter de entrar e comentar um vídeo, de fazer o meu vídeo e agregar e
continuar a história, que isso tem na internet, eu penso que vai ser tudo isso
vai ser possível na TV digital, de comentar um áudio ou um programa de áudio,
até tem sites que começam a contar a historinha e vc continua eu penso que
isso vai ser possível, de pegar aquele conteúdo e editar e depois postar da
minha forma, então tudo que tem no computador hoje eu penso que vai ser
possível com a TV digital, pela característica do digital que eu imagino, que eu
conheço.
Então nesse sentido com essa compreensão que vc tem que vc imagina, vc
acha que a TV digital pode ampliar o processo de interação utilizando esta
mídia numa proposta de curso de formação?
E8 - Eu não sei se amplia, porque se ela tiver as mesmas características
amplia pela uma outra possibilidade de acessar a internet em outro lugar.
Então amplia na televisão e não amplia como perspectiva dentro das
alternativas de interação existentes.
E8 - Eu não sei se vai ter mais possibilidades diferentes do que eu tenho no
computador, pode ser que tenha, daí no caso ampliaria, mas da forma que eu
leio, que eu entendo, tudo que eu tenho no computador eu vou transpor pra TV,
então vai ampliar porque além de acessar no computador eu vou acessar na
TV ou eu vou acessar no celular mas são as mesmas coisas na verdade.
Vc ouviu falar em gênero de programas, formatos de programas, por
exemplo, programas de entrevistas, séries ficcionais, programas de autitório,
280
transmissão ao vivo, etc.? Existe algum gênero de programa, formato de
programa que vcs privilegiam, que vcs utilizam mais nas propostas de curso
que vcs desenvolvem?
E8 - Nas propostas de curso o que agente mais utiliza é o de entrevista, daí
seja uma pessoa entrevistando um docente, ou várias pessoas conversando,
não sei se isto entra no mesmo gênero, uma mesa redonda, não sei se é o
mesmo gênero?
É, tem autores que chamam este tipo de programa de “pautados no diálogo”.
E8 - Então é neste formato, pautados no diálogo, os que agente mais utiliza na
formação.
Que aspectos relacionados ao gênero definem uma escolha, como por
exemplo porque vcs fazem a escolha de um programa neste formato e não
uma série ficcional?
E8 - Por que? Eu acho que pelo modelo que agente ja tem estabelecido na
cabeça. Agora que vc falou eu posso pensar, qual é o modelo que agente tem
que conhece, é o da TV escola, e a formação de professores é sempre neste
formato, e quando aparece alguma coisa de ficção não é pra formar um
professor é um conteúdo complementar, geralmente, pra ser usado com aluno
na sala de aula. E geralmente com o professor é pouco usado. É pelo modelo
que tem e agente segue o modelo.
Vc acha que o perfil do público deve ser considerado quando se estabelece um
gênero, um formato de programa, pensando na formação continuada? Perfil no
sentido das características, as identidades de cada grupo. Vc acha que isso
precisa ser considerado quando vc vai fazer a produção ou definir um formato
de um programa?
E8 - Eu penso que sim porque tem que ficar mais próximo de quem ta
recebendo, mas não é uma preocupação nossa, é uma preocupação de quem
produz, porque quando agente faz a demanda, as vezes agente nem faz a
demanda, pega o que já ta pronto, vc escolhe entre um rol de programas que já
estão feitos para disponibilizar, e tem haver com o conteúdo. Então eu penso
que quem produz é que deveria pensar nisso, deveria. Acho que quando pega
a demanda deveria perguntar pra quem que é, mas nem sempre os programas
que foram utilizados, foram demandas para aquele curso, porque agente pega
muita coisa pronta.
Vou pegar um exemplo: vcs estão envolvidos em um programa de gênero e
diversidade sexual, pra dar um exemplo, e vcs estão envolvidos com
ferramentas de interação ou ferramentas da educação a distância para
trabalhar os conteúdos, se tivesse na tua mão definir, fazer a solicitação de
produção, vc acha que a identidade do público, nesse caso público vinculado a
gênero e a diversidade sexual, ele teria que se considerado na formatação e na
produção desse programa?
E8 - Eu penso que sim. Porque é mais fácil do grupo se reconhecer e de
internalizar questões que sejam necessárias, de aprendizagem, pra trabalho,
eu penso que sim. Nessa demanda iria contemplar. Assim como se fosse
considerar professores que estão em início de carreira, tinha que ser um
enfoque diferente de professores que estão... se agente fosse classificar assim
pra formação continuada de professores que é o que agente mais trata, seria
interessante porque os professores que estão em início de carreira tem
necessidades diferentes de professores que estão em fim de carreira, que
faltam poucos anos pra se aposentar, então um formato para um curso de
281
formação para esses professores, ou de um programa televisivo para esse
grupo tinha que ser diferenciado.
Ou por exemplo, se fosse para professores que trabalham em uma
comunidade indígena diferente das comunidades quilombolas e diferente de
quem trabalha no espaço urbano, do ponto de vista de se considerar as
necessidades.
E8 - Sim as necessidades.
E o que vc falou de se reconhecer com aquilo que tá se apresentando.
E8 - Isso de se reconhecer, vc leu daquela filosofia OBUNTU. Esse
OBUNTU que agente usa, o software, é uma filosofia e logo que saiu eu fui
procurar, é da Africa do Sul, outro dia saiu na televisão e eu lembrei, e tem um
movimento que até os programas de televisão eles não aceitam como agente
aceita, essas séries que vem enlatadas, Lost, 24 horas, eles tem um
movimento de se reconhecerem, produções locais, e o grupo tem que assistir
essas produções. Num ponto é fechado e num ponto é a necessidade de se
auto afirmar assim.
Na tua avaliação vc acha que isso contribui para a aprendizagem?
E8 - Eu penso que contribui para a aprendizagem, para o fortalecimento,
enquanto classe, porque fortalece, daí vc consegue se aprofundar nas suas
coisas, nas suas raízes, não para brigar com o outro, mas pra poder conseguir
entender as diferenças e as necessidades do outros, porque vc se fortaleceu
nas suas raízes. E essa filosofia, é todo um movimento, porque agente
recebe o CD, mas é todo um movimento de programas de televisão que eu
achei bem interessante. Logo que saiu eu li e agora tem várias questões sobre
isso.
282
Entrevistado 9 (E9) – Marco Antonio Amaral da SEED/PR
Que tipo de interação que vc considera imprescindível numa proposta de
curso?
E9- Pensando na TV eu creio que é importante a forma como as pessoas
podem tratar dos conteúdos, os tipos de recurso que eles podem escolher pra
poder fazer a interação, eu penso que isso seria importante, e as ferramentas
que estão disponíveis nos diferentes ambientes que possibilitam fazer essa
interação, acho que isso é importante.
Por exemplo, de qual ferramenta vc está pensando quando vc fala?
E9- Quando se trata de educação a distância, nós pensamos que o fórum seria
importante, uma web conferência, seria muito..., seria imprescindível, no trato
do uso dos recursos tecnológicos. Então eu acredito que, sendo a distância, a
web conferência seria o principal.
Quais são as ferramentas que vcs utilizam nos cursos da Secretaria na
modalidade EaD?
E9- Bem, nós temos utilizado a plataforma de educação a distância do Estado,
que é o e-escola, e as ferramentas que nós utilizamos, basicamente, o fórum,
os diários, as tarefas, usamos esporadicamente o blog, temos também a
possibilidade de fazer a interação a partir do e-mensagem, que é também um
dos recursos que estão disponíveis, e a biblioteca que serve de repositório de
conteúdos.
Vcs utilizam televisão nos cursos de formação continuada? E se utilizam o que
vc destaca neste uso como positivo nessa mídia e o que vc destaca como
limitador?
E9- O uso propriamente da TV na educação a distância ele ocorre
esporadicamente e em alguns cursos nós chegamos a utilizar, mas em se
tratando de tela de vídeo nós temos links para vídeos que estão disponíveis na
internet, então agente tem utilizado quando é possível. E também a
disponibilidade de alguns recursos via o próprio portal da
TV do Estado que nós utilizamos quando queremos dar ênfase em algum
conteúdo, algum evento, alguma atividade, então também podemos citar. Mas,
como vídeo mesmo nós utilizamos também vídeos disponíveis na própria
internet, como recurso para cursos a distância.
Vc considera na televisão de que o processo de recepção da mensagem
veiculada na televisão é um processo passivo?
E9- Sim. Porque na verdade eu creio que a televisão deveria avançar de forma
que as pessoas pudessem fazer uma interação mais efetiva e muitas vezes a
TV na forma que está hoje, lógico que avançando, mas ainda falta muito para
que o cidadão possa realmente se tornar crítico a partir da tela.
Mas isso vc atribui a passividade diante do conteúdo que é transmitido?
E9- A forma como se estruturam os conteúdos e a forma como se ensina ainda
é, ela é um fator limitante. Ela faz com que o cidadãos sejam passivos, ainda.
Falta muito, acho que por questão de cultura, falta muito ainda para esse
avanço, para que aja interação, essa interatividade.
Vc ouviu falar de televisão digital interativa? E se vc ouviu falar o que vc
identifica como possibilidade de uso para cursos de formação de professores?
E9- Eu conheço não muito de TV digital, mas eu tenho conhecimento da
questão da mobilidade, da questão da própria interatividade que é possível
através do uso desse recurso. eu acredito que a videoconferência seria um
fator preponderante no uso da TV digital. Hoje nós percebemos e temos visto
283
na mídia que as TVs tem sido utilizadas para tratar da questão dos presos,
eu acho que se nós formos partir neste mesmo caminho, eu acho que as
escolas poderiam fazer interações, trocas permanentes de conteúdos, de
saberes, de questão cultural mesmo. Então eu acho que a videoconferência
poderia agilizar bastante em tempo real.
Quando vc tá falando em videoconferência, vc tá falando do que? Por que cada
um define a videoconferência de uma forma, e eu gostaria de saber estamos
falando da mesma coisa?
E9- Eu entendo assim, a videoconferência interativa que eu entendo, seria a
possibilidade de ao mesmo tempo em que alguém está fazendo uma
conferência vc possa fazer interação com ela, por meio de um chat por
exemplo. Eu creio que se pudéssemos trabalhar nesta dinâmica haveria um
avanço substancial.
Vc acha que o 0800 ao vivo presente como uma ferramenta paralela a
videoconferência também contribui? Poder telefonar, perguntar naquele
momento?
E9- Eu creio que contribui. fiz, participei e acho muito boa essa dinâmica
porque possibilita que as pessoas sejam mais ativas, não sejam passivas, de
alguma forma ela se torna mais ativa.
Vc acha que a TV digital interativa pode ampliar as possibilidades de interação
dessa mídia com o receptor?
E9- Eu acredito que sim. Acho que pode deixar bem mais próxima.
Quais os gêneros de programas que vc acha que são mais apropriados para se
utilizar em curso de formação? Ou que vcs utilizam ou que vc considera mais
apropriados?
E9- Bem, eu tenho visto os programas e acredito que as mesas redondas
seriam essências para ampliar os conhecimentos. Eu acho que se nós
tivéssemos a possibildiade de além dessas mesas redondas pudéssemos ter
seminários em que tivesse a possibilidade das pessoas fazerem as diferentes
interações auxiliaria bastante a nossa caminhada na educação.
Seminário que vc está dizendo é aquele no formato da videoconderência?
E9- É da videoconferência. Eu acho que se nós tivéssemos seminários
possibilitaria que às pessoas que estão distantes participarem, ampliaria o
leque, e a troca de informações, as interações propriamente ditas poderiam
evidenciar como se cada questão em cada localidade. Discutir a forma de
se trabalha cada conteúdo na região sul, como se trabalha na região norte.
Qual a visão que as pessoas tem em relação ao contexto de cada aluno, aos
percursos que devem ser tratados na educação, os avanços em relação aos
conteúdos presentes na diversidade, a questão da indisciplina na escola por
exemplo, como que é tratada no norte, como é tratada no sul. Se houvesse
essa possibilidade de fazer essas interações, de incluir estas pessoas
espalhadas em vários lugares seria interessante, porque na verdade o
crescimento está em saber como o outro vive, como o outro lida com aquela
situação.
Vc me aponta pra questão final que é a seguinte: na tua opinião o perfil do
público alvo de um determinado programa, nas perspectiva da identidade, da
região, disso que vc tava falando, vc acha que isso tem que ser considerado
pra que se realize melhor o processo de ensino aprendizagem quando vai se
produzir não apenas dando a oportunidade para o outro falar, mas no momento
em que se produz esse programa?
284
E9- A produção desse tipo de programa ele deve atender de forma geral a
todas as classes, todas as regiões. Assim, por exemplo, se eu estou na região
sul e o desenvolvimento é maior na região sul, porque o pessoal de uma outra
região que não seja do sul não pode saber de como é tratado o conhecimento
naquela localidade. Acho que nós temos que ter a oportunidade de fazer a
inclusão, então a partir do momentos que vc ultrapassa essas barreiras
regionais a chance de vc ter uma amplitude do conhecimento ela é maior e é
importante que as diferentes regiões se percebam enquanto cidadãos.
As diferentes regiões, os diferentes públicos, as diferentes características...
E9- Lugares... exatamente, acho que tem que haver uma troca, não vai chegar
a ser homogêneo nunca, mas nós devemos tentar buscar essa caminhada.
Veja se eu entendi. Vc acha que o ganho de usar esta mídia nesta condição
estaria em abordar da forma mais ampla possível uma determinada temática e
permitir que a diversidade aparecesse na interação que o público fizesse com
esse programa. E não fechar, as questões do sul para o público do sul, as
questões de índio para os públicos indígenas, as questões de gênero e de
diversidade sexual para o público vinculado à estas questões. Vc acha que
seria importante que isso fosse mais amplo na perspectiva da produção dos
programas?
E9- Exatamente.
Dando espaço para que a diversidade pudesse aparecer.
E9- É isso. Uma programação mais aberta, vamos dizer assim, ela vai
possibilitar que todas as pessoas, se não se aproximarem, podem chegar perto
do real que existe em cada lugar do Estado.
Mas vc como usuário vc acha que vc precisa se reconhecer na programação
para criar o interesse por ela?
E9- Acho que isso é uma coisa que está presente em cada um de nós e acho
que isso faz com que alguns programas não tenham tanta audiência. Isso
interfere, mas se trata de formação eu penso que visão deve ser outra, porque
se a intenção é formar vc tem que ter o olhar mais elaborado pra essa questão,
mais abrangente.
285
Entrevistado 10 (E10)– Suellen Fernanda Machado da SEED/PR
Quando vc está planejando, organizando um curso a distância para
professores da rede, que tipo de interação vc considera que é imprescindível
que aconteça nesse curso?
E10- Penso que é a interação onde o professor, o cursista tenha maior
possibilidade de interagir mesmo, de trazer contribuições para aquele curso,
então eu pensaria num primeiro momento de usar as ferramentas de maior
interação mesmo, não aquelas ferramentas onde o aluno deposita, digamos
assim, um conteúdo, ou devolve um texto, não que não tenha interação porque
muitas vezes o professor pode estar onde tiver que ele vai dar resposta pra
aquela atividade, mas eu penso muito nas ferramentas de chat, acho
importante, penso que isso seria fundamental, não sei se chat, mas até a
questão da web conferência, ou a tele conferência, situações aonde o cursista
tem essa possibilidade. Quanto mais simultâneo pra mim, eu vejo que é mais
interativo, ele se sente mais presente, sente mais parte do curso, quando ele
consegue contribuir. Então quando eu penso em interação eu penso nessas
ferramentas que ele poderia contribuir cada vez mais, produzir.
Quais as ferramentas que possibilitam essa interação, interatividade que hoje
são utilizadas nos cursos do programa de formação continuada da SEED?
E10- Hoje nós temos dentro do ambiente virtual de aprendizagem que nós
temos o fórum que é mais utilizado, o chat, ele não está sendo muito utilizado
por uma questão técnica, que é a questão do servidor, quando muitos alunos
estão no mesmo momento aconteceu do curso acabar, mas estar disponível
é uma questão mais técnica de capacidade e também de cultura de uso,
porque o chat é visto como uma ferramenta muito complicada para o tutor
utilizar no sentido de dar conta de moderar. Então começa-se o chat se vc não
tem direcionamento, se vc não tem as questões ou a iniciativa de agora nesse
momento eu chamo o “fulano” pra conversa ele se perde, é muito fácil de se
perder. Então alguém sai com uma questão “Ah! Ontem vc foi no curso?” que
não tem nada haver, que é deslocada, então... nas primeiras experiências eu
tive oportunidade de participar como cursista e era utilizado o chat e os
professores se perdiam muito, daí, eu não sei se é cultura de uso mas, por
essas duas questões ele não sendo utilizado, mas ele está disponível. E nós
temos também o diário que é uma ferramenta mais pessoal, como se fosse um
diário de bordo, é utilizado para atividade mais longas, ali o aluno pode
escrever mais do que no fórum, o fórum geralmente são questões mais curtas,
então ele pode escrever mais, e tem essa possibilidade, e o tutor vizualiza
aquele atividade, então é mais pessoal mesmo onde ele pode até colocar
questões mais de dificuldades, mais pessoais. Então, eu falei do chat, do
diário, do fórum, nós temos a tarefa que é um recurso onde o aluno pode enviar
um documento de texto, um documento de áudio, ele produz o que esta sendo
solicitado e envia, onde a interação ela acontece porque o tutor o feedback,
que o aluno não o retorno, no diário, também, eu respondo o diário, o
tutor vai e responde pra mim, mas nem sempre continuidade. Eu leio o
que o meu tutor respondeu mas dificilmente eles retornam, diferente do fórum.
Vc comentou quando falou de interação e do que vc considerava importante, vc
falou que a teleconferência pode ser uma solução que oportuniza essa
interatividade. De que forma vc vê isso acontecendo?
E10- Vou ser sincera em dizer, até quando agente fala em diferença de web
conferência, da teleconferência ou até sobre a televisão digital, TV digital, eu
286
não tenho muito leitura, mas o que eu percebo das experiências que eu tive,
por exemplo, com o PDE, quando eu estava no núcleo, e nós tivemos um
momento que foi por meio da TV Paulo Freire que os professores tiveram uma
conferência com um professor sobre determinado tema, todos se reuniram no
núcleo para assistir e era ao vivo. Então a apresentadora fazia as questões e o
pessoal tinha oportunidade de mandar, as pessoas enviavam questões por
chat, ou por 0800 e foi muito interessante, porque quando a apresentadora
disse, agora nós temos aqui a questão de Campo Mourão, nossa!, eles ficaram
contentes com aquilo, eles estavam presentes naquele momento, então todo
mundo aprovou, que teria que ter outros momentos daquele, então eles,
quando até falavam de “tal professor de Cianorte” como eles faziam curso
juntos “Ah! Ele perguntando”, como eles tinham conhecimento um do outro
por conta do PDE. Então eu penso que seria uma ferramenta a mais, assim
como a web conferência que é simultânera e também porque ele não se expõe
muito, porque ele não se expõe mais pode participar, quero dizer “ninguém
me vendo mas eu to participando e nossa! minha pergunta ela foi válida” então
eles gostaram bastante, foi uma experiência bem bacana, eu vejo que até eu
não sei se isso entraria aqui na questão, mas nós tínhamos que usar mais a
teleconferência e nesse sentido já tá programando para que seja utilizada
porque eu penso, e sinto assim, que eles sentem que está mais presente, que
tá mais próximo.
Então eu entendi que vcs já trabalharam com a televisão em curso de formação
continuada?
E10- Neste momento eu estava no Núcleo a equipe de EaD que trabalhou, que
proporcionou este momento.
Quando se dá esse uso, o que vc avalia, destaca como positivo no uso da TV e
o que vc considera de limitador ou negativo no uso dessa tecnologia?
E10- Na televisão de uma forma geral?
Sim, na teleconferência vc até falou um pouco, mas pensando o uso da
televisão?
E10- Das leituras que fiz, ela ainda é, eu vejo a TV como o grande canal de
comunicação, que apesar da internet é como se fosse insubstituível, não é bem
essa palavra que eu quero usar, mas ela é digamos poderosa, ela tem esse
poder de atração de ser atrativa, enfim de formar opinião mas ao mesmo
tempo, dependendo da programação ela pode ter essa questão de ser
persuasiva, influenciar... eu estou pensando na TV como um todo. Então
quando eu vejo a TV digital, começando esta questão da TV digital me parece
que a TV ta acordando para aquilo que ela ta perdendo que é digamos esta
questão interativa, interativa que a internet proporciona. Agente na família
assim por exemplo, meu pai tem 55 anos e ele é uma pessoa que estudou até
a quarta série, então apesar disso, ele assiste jornal, ele tem a sua sabedoria,
e eu pensava nunca meu pai vai se sentar na frente de um computador e pela
história de vida dele. Hoje ele passa horas em frente ao Youtube, ele descobriu
a ferramenta então... esses dias eu tava pensando, ele tá escolhendo o que ele
quer assistir, ele senta ali e, ele descobriu que ali tem programas, tem recortes
de programas antigos, daqueles cantores sertanejos que hoje dia não passam
muito na TV, ou programas... enfim, ele passa horas. Eu fiquei pensando
assim, é meio que pensar assim, aqui eu posso escolher o que eu quero
assistir, então acho que a TV digital ela indo pra esse caminho... “agente
tem que acompanhar a internet, agente tem que acompanhar esse usuário,”
287
que na verdade não é mais um usuário, ele não quer mais ser usuário, ele quer
interagir. Até tem um livro do Alex Primo bem interessante que ele trabalha
bem esta questão ele não gosta de usar nem usuário, nem receptor, que ele
diz que são termos que hoje em dia não daria mais para utilizar, porque eles
dão essa característica de consumidor mesmo, então recebo e eu não tenho...
então o lado negativo é que as vezes a programação, principalmente canal de
TV aberta que é a maioria da população tem acesso a TV aberta, então é
aquilo que ele recebe e é isso. Então esse seria negativo que eu vejo. Mas, ela
tem esse poder, lógico que outras mídias também tem, mas eu vejo ela como
uma mídia de muito poder de influência, de persuasão.
Vc falou sobre a questão do receptor. Vc considera que o processo de
recepção de uma mensagem veiculada pela televisão, vc considera que este
processo é passivo? Ou existe alguma possibilidade de quem está assistindo a
televisão interagir com ela?
E10- A TV como está hoje?
Sim da televisão como está hoje.
E10- A vejo que hoje ela ainda é, eu diria assim, ela é mais passiva, eu recebo
esta mensagem e... eu volto a falar do livro, porque é uma leitura que pouco
tempo eu fiz e achei muito interessante, ele vai dizer o seguinte, se eu vejo
uma programação que eu não gosto, ou que eu acho que... não sei, eu quero
emitir a minha opinião sobre aquilo que eu não gostei... eu posso escrever uma
carta, posso mandar um email para a emissora, é o que eu posso fazer hoje,
então, mas pra essa pessoas escrever essa carta, mandar esse email, deixar
uma opinião de repúdio dela enfim, ela tem que ter outras questões, outros
fatores culturais pra tomar essa iniciativa, que hoje pensando um pouco na
educação, eu não vejo. Eu diria que recebe passivamente, hoje a maioria da
população recebe passivamente. É o caso da rede Globo por exemplo, um
exemplo que ta muito forte é a questão do futebol, muita gente tem falado
“nossa! o treinador da seleção sendo mal educado” mas pouca gente tem
acesso a internet pra por exemplo, eu li as matérias dizendo, que o pode ter
privilégio, o que o treinador dizendo, “não, eu não to privilegiando ninguém,
eu vou sentar, vou dar a entrevista pra todo mundo” que a globo nesse
processo de dizer “o treinador é ruim, ele se negando”, sabe de colocar
contra, mas se eu não tenho acesso a outros.., se eu não converso com as
pessoas que trazem outras informações, eu vou dizer “ah! é isso é realmente
isso” e isso é uma coisa que me incomoda. Então como ele recebe ele,
pesando hoje, ele não tem muita possibilidade, pensando hoje. Ta evoluindo
um pouquinho, mas até pelos jogos vc percebe, vem uma notícia da catástrofe
de Alagoas e no mesmo segundo vem uma notícia que tal time ganhou... então
entra em choca com uma notícia mas não se reflete sobre aquilo, não te
oportunidade nenhuma... até os programas estilo vc decide, mas ele te três
opções de ligação, vc pode ligar pra A, B ou C e as vezes eu quero, eu gostaria
que tivesse a alternativa D, mas eu também não tenho uma reação e por isso
acho que essa passividade predomina. Ele tem situações para reagir mas ele
tem que ter por trás uma questão cultural de acesso as outras informações pra
ele ter esse despertar de que ele pode influenciar aquilo.
Pelo que eu vejo vc ouviu falar da TV digital interativa. Que tipo de
possibilidade vc identifica nesta tecnologia que pode ser utilizada em proposta
de curso de formação continuada?
288
E10- Eu ouvi muito pouco e tenho pouco conhecimento, e o que eu percebo
das leituras, talvez eu não esteja procurando as fontes que devem existir,
mas ainda está nesta discussão como ela pode ser usada? Como ela pode ser
usada? Mas ainda não tão... porque é muito novo. Questões concretas
assim. Mas pelo que eu percebo, eu não sei como vai funcionar, dizem que é
por controle remoto, que vc vai poder, vai ter por exemplo o chat, que vc vai
poder conversar por chat, fórum essas coisas. Eu não entendo muito como vai
funcionar na prática, mas se for como tem se comentado, eu penso que as
alternativas assim, principalmente pra cursos que não tem ambientes virtuais
de aprendizagem e nós sabemos que ainda existem cursos a distância no
modelo que é a TV, ainda existe aquele modelo em que o grupo de encontra,
senta coloca a fita , assiste, manda as questões pelo correio. Ainda existem
cursos assim. Neste sentido eu penso que seria maravilhoso pela questão da
interação mesmo. A questão de ser simultâneo. Eu não sei, porque eu fiz a
minha pesquisa também e a minha pesquisa falava sobre mediação em
ambiente virtuais de aprendizagem e o que eu mais ouvi quando eu fiz as
entrevistas é a questão da solidão que eles sentem em cursos a distância e a
solidão de ouvir a voz, de ver a pessoas, por isso a primeira coisa que agente
pede nos cursos é que o professor mude, coloque a foto, pelos menos a foto,
porque fica aquela imagem amarelinha do ambiente mesmo, e é horrível vc
conversar com aquela bolachinha porque vc não vendo a pessoa e o que
eles diziam era justamente isso, que se passava muito tempo sem contar com
o tutor, principalmente quando o tutor era relapso no sentido de feedback,
então eu penso que com a TV, quando se tem um ambiente virtual, ela vai ser
um recurso muito poderoso assim a mais, pra se falar um recurso a mais,
parece que é ela tão pequenininha, mas não é nesse sentido, é vai ser muito
poderoso, talvez ela até mais... talvez até ultrapasse os ambientes virtuais, não
sei. Dependendo de como for a configuração como ela vai funcionar. Por conta
disso mesmo, de ter momentos que eu vou poder tá lá, assistindo o palestrante
de tal lugar, poder conversar, poder interagir. E nos locais onde não tem
ambientes, ou os cursos não acontecem em ambiente, acontecem onde o
meio é a TV, então vai acrescentar por conta de que vai ser tudo mais
interativo, com mais participação. Não sei se vão poder produzir ou não, estou
supondo, não tenho idéia, mas talvez até poder produzir e enviar. Eu vejo, me
passa assim essa coisa de que a TV acordou para o que a internet tá. Nesta
convergência assim, hoje vc tem tudo no celular, tem tudo, TV, rádio. Acho que
ela acordando pra essa convergência de todas as mídias. A primeira coisa
que me vem. Qual vai ser o maior ganho? É a questão da interação é a
questão da proximidade, neste sentido.
Gostaria de falar com vc sobre os gêneros de programas de televisão, sobre
formatos de programas de televisão. Por exemplo, entrevistas, videoaula,
conferência, mesa redondas, série ficcional, entre outros. Que gênero de
programas ou formatos que podem ser utilizados em cursos na modalidade a
distância.
E10- eu penso que vários. Vários gêneros, principalmente acho que mesa
redonda, penso que seria bem interessante, com palestrantes ou até como foi
nesta experiência que foi uma entrevista que eu acho que é outra situação,
quando a pessoa está sendo entrevistada, mas em alguns momentos ela para
pra ser entrevistada por quem está assistindo. Então, entrevistas, mesas
redondas, até programações assim, programas que talvez naquele momento
289
ele não vai interagir, programas fechados mas que depois ele tem um retorno,
com diferentes finais, diferentes desfechos, ou desfecho que ele vai produzir.
Uma história, uma ficção por exemplo que depois de alguma forma ele tem
uma interação. Mas eu acho que cabe vários gêneros.
O que vc relaciona, quando vc ta falando de gênero, o que vc relaciona entre o
gênero e a finalidade da formação continuada? O que te leva a achar que um
determinado gênero é mais interessante que outro.
E10- Pela especificidade, agente ta falando em formação de professores, eu
estou participando desta formação, eu sei que ela vai ter uma característica
própria e quando agente fala em educação, a primeira idéia que agente tem é
seminário, mesa redonda, mas quando eu falo em outros programas que
poderiam ser bem atrativos. Não é porque é uma mesa redonda que vai ser
séria, fechada, chata, não é naquele sentido de sentar e ouvir. Teria que ter um
roteiro diferenciado, talvez aquele professor poderia estar falando e entrasse
imagem ou no momento que ele abordou tal assunto, “ah! então vamos saber
com o pessoal do Estado tal o que eles acham?” Neste sentido, então eu
pensei nestes recursos, que veio a minha cabeça, por conta de estar
relacionando a formação continuada, relacionando a educação, porque agente
acaba pensando neste tipo de programa, nestes formatos, mais comuns. Mas
nada impede, mas é que eu não tenho essa capacidade, criatividade, de...
talvez uma pessoa que trabalhe com a TV tenha, de pensar outros, não sei
talvez, num curso de formação de tutores, uma simulação, poderia ser uma
encenação de como agem tutores e alunos, pro exemplo, numa pequena
ficção, ou do que não poderia acontecer num curso a distância pra eles se
verem naquela situação, que entraria como uma pequena novelinha por
exemplo, é que vem esses primeiros na cabeça porque agente pensa a
educação.
Com relação ao público que assiste televisão, no caso assiste televisão com
finalidade de formação. Vc acha que o perfil do blico ele tem que ser
considerado quando se estabelece esse formato de programa, esse gênero de
programa? E quando falo em perfil do público, estou falando da identidade do
público.
E10- Vc diz assim pensar em cada grupo, em cada região, por exemplo.
Pode ser.
E10- Acho que seria uma das coisas mais importantes a ser considerada. Até
pensando na TV aberta e que agente tem hoje de programação, por exemplo, a
RPC tem aquele programa, não lembro o nome e que passa no domingo.
Revista eletrônica? Alguma coisa assim, revista RPC e tem aqueles causos,
meu gosta de assistir por exemplo, porque é voltado as questões do Paraná,
para questões que de repente ele vivenciou eu acho, ele se identifica com
aquilo. Lógico que eu to pensando uma coisa muito aberta.
Vc acha que esse processo de identificação é importante para aprendizagem?
E10- Eu considero ele, to considerando a característica dele. Por que se eu
digamos eu for é isso, independente, é isso. Aquela discussão que agente
teve com a professora Monica, acho que vc não estava, achei bem interessante
que ela comentou assim, “vcs deveriam ir até as escolas e fazer questionários,
sentar em pequenos grupos, pra perceber o que o professor quer, ouvir deles.”
Eu achei bem interessante o que ela falou é isso, vc dizer “olha eu quero te
conhecer primeiro” porque quem oferta um programa, as vezes pra mim ta
290
maravilhoso, ta lindo, ta fantástico, mas não é o que quem do outro lado, ele
não necessita daquilo, ele vai assistir um programa que vai falar de uma coisa
muito urbana e daí penso na escola que eu trabalhei, eu trabalhei numa
escola em Roncador que tem 4 mil habitantes por exemplo, e de repente os
professores iriam ficar perdidos, até seria interessante mas, e os exemplos, o
nosso exemplo, talvez a primeira observação que ele iria fazer “é mas ta
vendo Curitiba” sabe assim, então tem que considerar, eu penso que tem que
considerar.
291
!
ANEXO E Entrevista coletiva com o grupo de especialistas de Educação a
Distância da SEED
Discussão em Grupo (DG) – Especialistas da SEED/PR
Marcos – G1
Eguimara – G2
Gilian G3
Eliane – G4
Elis – G5
Suellen – G6
- Fale Marcos, o que vc iria comentar sobre a interatividade.
G1 -Acho que essa interatividade está longe. Veja, temos dois problemas que
eu acho que são graves do Brasil que é questão da banda larga e a questão da
fibra ótica. Como que nós podemos falar em interatividade se nós não damos
conta hoje dele usar a internet com qualidade. Como que fica esta questão de
interatividade se vc for verificar que o custo que é alto, pra maioria da
população brasileira.
Eu acho que é o caso de dar algumas informações que não tem relação
diretamente com a pesquisa. A perspectiva inicial de implantação da TV digital
era de 10 anos, acredito que pelo ritmo de implantação 2016 é pouco. Mas
mesmo assim se agente pensar 2020, daqui 10 anos, o que exista 10 anos
atrás é muito diferente do ponto de vista de acesso, conexão, em 2000, do que
existe hoje em 2010.Se vc pensar em conexão em alternativas de Banda
Larga, então eu acho difícil de se mensurar esta capacidade do país de dar
resposta. Do ponto de vista de política pública de conexão agente ta aí com um
a proposta, uma perspectiva de retorno de uma empresa pública de
telecomunicações para chegar onde, para as empresas privadas, não
compensa chegar. Assim eu imagino que a questão da banda ela tende a se
diluir com o tempo, acredito que não seria ela a questão impeditiva, porque ela
seria também para o computador.
G2 - Acho que é o possível. Do que é possível? É possível.
G1 Eu não diria que não seja possível, talvez daqui dez anos, daí sim, mas
antes disso acho que não da pra gente contar. Prazo menor do que dez anos.
Eu coloquei até porque existe a possibilidade agora de usar a internet e eu não
sei se o governo vai rifar a rede ou vai trazer outras alternativas para poder
ampliar.
292
!
G2 - Mas acho que a questão é ver se é possível e é possível. (Eguimara)
G1 - É, mas eu tinha pensando em um prazo menor. (Marcos)
G3 É a questão do tempo mesmo, vc falou por exemplo em 10 anos, eu acho
muito. (Gilian)
G2 Mas talvez nem isso, vejam se agente acompanhar o desenvolvimento, eu
acho que é menos tempo. Eu vejo como sendo possível, porque as coisas
estão acontecendo rápido demais. Até para ser bem franca as coisas que vc
apresentou, já tinham experiências, já tinham modelos, já estavam testando.
No caso do canal de retorno em especial, para que as comunidades produzam,
sempre também foi uma bandeira defendida na implantação desse programa, a
questão das comunidades produzirem, tanto que se fala muito em trazer essa
diversidade cultural, das comunidades locais, das regiões e o que existe hoje é
simulação de retorno, não efetivamente, simular para ver como seria, mas não
que já esteja implantado. Na UTFPR no seminário que agente participou,
porque eles também estão envolvidos em pesquisa nesta área, eles trouxeram
pouca informação de progresso nesta área do canal de retorno. Parece que
tem obstáculos que precisam ser resolvidos.
G3 Esse Ginga que vc falou é um software?
Para que aconteça a interatividade é preciso que tenha um software. Quando
se buscou o modelo de televisão digital no Brasil, a questão da escolha do
modelo japonês se deu porque ele permitia a mobilidade, tinha a questão da
robustez da solução para que ela possa atingir todos os lares, solução para
uma massa, mas com relação da interatividade não estava resolvida em
nenhum dos modelos que o Brasil buscou parceria, japonês, europeu ou
americano. Então no que fiz respeito a interatividade foi montada equipes de
pesquisa para desenvolver um software nacional. Então eles deram o nome de
Ginga, Ginga Brasil é o nome do software. Que começa a trazer estes recursos
interativos.
G2 Mas daí ele se aproxima assim, eu fico pensando, de alguma coisa tipo
telemarketing. Eu fico pensando porque esses dias eu recebi uma ligação em
casa e dizia assim “Boa noite, aqui é da net, estamos avisando que em tantos
dias a senhora vai receber a sua fatura. A sua fatura será no valor de tal e vai
vencer em tal. A senhora está satisfeita...” era uma gravação, eu fiquei
pensando, até desliguei, falei “ah, não vou ouvir até o final, por favor, ainda a
noite...” pensei comigo, ligar pra vc, saber qual é a sua fatura, e se eu tivesse
uma questão diferente das opções que eu tinha lá para seguir. Então eu pensei
que pode caminhar para uma coisa mais ou menos assim de ter questões
possíveis, respostas possíveis e que daí vc vai acompanhando...
293
!
Como qualquer informação, o uso da informação é limitada neste sentido por
uma programação prévia... não sei se eu entendi
G2 Eu to falando pra dar o retorno. Como que vai ser o retorno? Por exemplo,
eu tenho uma pergunta a partir de determinado programa de repente não ficar
alguém para responder, tem as opções de questões possíveis e respostas
possíveis, perguntou, se aproxima disso, pronto, já manda esta resposta.
G4 Mas agente entraria no que usa hoje que é a tal da ajuda. Se vc vai usar
o computador, vc tem a ajuda vc seleciona a tua pergunda e vem uma resposta
pra vc, que tem várias, n respostas, vc escolhe a que se aproxima ao que vc
pede.
G3 É não deixa de ser.
Eu acho que o grande diferencial, tudo que agente faz no computador existe
como possibilidade, se existe banda, se existe como retornar a informação,
tudo é possível, pra mim o inédito é relacionar isso com uma linguagem que é
diferente do computador. Essa é a questão. Existe algo na linguagem da
televisão, na forma como se assiste televisão, na forma como a televisão nos
atinge que é diferente do computador. Assistir a isso de forma passiva, se é
que existe passividade neste processo, mas assistir sem poder interferir ou
opinar nos coloca numa posição diante dessa mídia. No momento que
permanece isto que nos fascina e envolve e que de alguma forma estabelece
um padrão de relação nas casas, na relação com aquele conteúdo, manter
aquilo e acrescentar as alternativas de interação é que poderia fazer a
diferença. Porque também é diferente pensar o audiovisual no computador.
Existe ali um limite, de som, de imagem, é uma outra coisa que tá presente. Eu
li que no último censo, mais de 94% dos lares brasileiros tem televisão. A
televisão perde pro fogão, mas não perde pra geladeira, pra dar um exemplo.
Se existe essa relação e ela cria nas famílias, nas casas, uma relação, ela se
organiza para atender a esta relação, ela tem uma linguagem interrompida, a
televisão não provoca imersão, o ritmo é outro. Tem o comercial, tem a
repetição, ele vai e volta, a repetição nos sinais sonoras do que está pro vir.
Ele cria vinhetas e trilhas para avisar o que vai acontecer, mesmo que vc não
esteja na frente. Isto é uma linguagem, tá se comunicando conosco. De alguma
forma, faz com que agente se relacione com este veículo de forma cotidiana.
Até que ponto os elementos dessa linguagem podem contribuir com o
processo de formação. Considerando que aquilo que é “caro” numa formação
que é poder interagir com nossos alunos, poder receber as suas questões,
poder responder as suas questões, passa a ser preservado. Então o que
agente ganharia, o que ampliaria no processo de formação usar essa solução
tecnológica.
294
!
G2 Mas daí talvez, eu até concordo com o que o Marco com o que ele falou é
uma questão de hábito. Vc ter diponível, vc ter o acesso e vc começar a utilizar
e conhecer. Porque se agente pensar, sobre os teclados. Isso é real. Agente
tinha um modelo de teclado, hoje tem o teclado digital no celular, e se vc
pega um celular que não seja digital, para quem não tem o hábito, quando vc
vc na telinha batendo também. Mas é um processo de aprendizagem,
precisou passar por um processo, no começo era mais, lento e agora vc já Tum
Tum Tum, tanto é que passa a fazer com os dois dedos diferente de quando no
início agente faz com um só. Então, mais é processo, vc vai aprendendo, vc vai
conhecendo pra daí vc ir usando. Eu penso que pra isso também é um
processo de conhecimento daí talvez seja o panorama que vc falou. Um tempo
mais longo, que vc ter. Como que eu uso, como que eu faço pra entrar, como
eu faço pra chamar.
G5 Talvez nesta questão de acesso tenha a questão do custo para cada
pessoa. Talvez demore mais. Quando nós falamos aqui sobre os dez anos,
talvez nem tanto pelo desenvolvimento da tecnologia, acho até que ela
caminhando rápido demais, mas pelo custo para as pessoas.
G2 Se agente pensar o computador, em 95 por exemplo, as pessoas
começaram a comprar computador, um ou outro professor que tinha, gente que
tava mais na frente nesta questão, mas quase ninguém tinha. Era muito pouco.
Hoje em dia todo mundo tem, as crianças tem.
G3 Eu lembro, tinha um computador em casa e tinha uma TV, agora tem
cinco TVs e dois computadores, tem o PC e o lap.
G4 Pensando no que vc falou eu acho que tem o problema do custo, porque a
questão do hábito eu não fico assim preocupada... pensando como a
Eguimara, eu ainda comentei hoje, minha sobrinha vai fazer um aninho, ela
pega o celular do meu filho e fica passando o dedinho lá, o tempo todo, ela
sabe... tem um ano e sabe que pegou o celular e tem que passar o dedinho, e
vai direitinho, não sabe o que fazendo, mas sabe como fazer... Agente a
brincou no curso são os nativos digitais, e eles conseguem e nós temos que
pensar que toda esta evolução, os nossos adolescentes... se eu pensar no meu
filho, ele vai fazer 15 anos, daqui a dois anos e meio ele vai fazer vestibular,
então daqui a 05 ou 10 anos, os nossos adolescentes é que estarão
trabalhando nesta área. E eles tem hábito, acho que já nasce com eles, eu não
consigo entender isso. Se nos dessem um celular em 80, eu lembro que eu
viajei em 88 e fiquei impressionada porque foi a primeira vez que eu vi um
celular, vi no aeroporto, quando o telefone tocou e um senhor atendeu o
celular, nós nem tínhamos ainda, depois é que começou a ter esse acesso.
(Eliane)
295
!
Mas eu quero fazer uma colocação. A Secretaria colocou em uso e web
conferência e o que a web conferência permite? Que se fale com os 32 NREs,
32 locais, a imagem sai quase boa, mas saí num cantinho porque se estender
para inteira ela fica com problemas e para o retorno tem alguém que fica junto
na sala para selecionar as questões, o conferencista pode até ler ali mas nem
da tempo de responder e ir lendo é preciso alguém para ajudar, e parece uma
solução bem legal que auxilia no processo de formação. Por outro lado, desde
2006, a Secretaria tem uma televisão, que permite a comunicação ao vivo com
todos os 32 NRE do mesmo jeito. A qualidade de imagem é muito melhor, da
pra colocar um vídeo com imagens cobrindo a fala, ou seja, falar do “leopardo
correndo” e mostrar o “leopardo correndo” as questões podem vir do mesmo
jeito que vem na web conferência, no caso da TV digital é necessário um
software interativo nesta TV e as questões vem da mesma forma que vem na
web conferência, mas no caso da TV comum pode ser acionado um chat em
paralelo para receber estas questões. A equipe de Ead tem avaliado que o usa
da web conferência tem sido revolucionário no programa de formação,
entretanto, essa possibilidade existe pela TV Paulo Freire desde 2006, e isto
não foi pensando para a TV, mesmo existindo todas as possibilidades e a
qualidade de transmissão estivesse garantida. Se comparada a qualidade de
transmissão da TV é muito maior que da web conferência, pela limitação da
câmera e da própria tela do computador. E numa transmissão de TV poderia se
apresentar a questão e ilustrar com outros conteúdos complementares, como
entrevistas gravadas de especialistas que abordassem o mesmo assunto. A
televisão permite isso, permite que o programa se estruture para ir ao vivo, faz
parte da linguagem televisiva, permite que se insira pequenos documentários,
ou outros programas gravados, ou enquetes, ou especialistas, e ainda a
possibilidade do retorno, no limite do retorno de uma web conferência. Então
quando se fala da não interatividade da televisão, de que é uma mídia mais
passiva, seria importante refletir até que ponto ela é explorada no seu
potencial.
G5 Acho esta questão interessante. Por exemplo, o jogo de futebol vc vai
assistir o jogo pelo computador, não sei, eu não consigo me concentrar, agora
na copa, vc fica lá assistindo, vc olha, eu me disperso. Mas se eu ligo a
televisão, a impressão que vc está dentro do campo,vc vibra junto, é
diferente. Tem a questão da imagem, do som. (Elis)
G3 Não sei se eu entendi o que vc quis dizer. Por que agente não faz a
transposição do serviço nós temos feito na web conferência porque agente não
faz isso pela TV. Assim, porque agente tem feito o uso de web conferência com
mais freqüência do que na TV. Eu penso assim, eu particularmente não gosto
nem de web conferência, eu não gosto de me ver falando, mas eu ainda prefiro
a web conferência porque da a impressão que a estrutura pra web conferência,
296
!
esta questão da organização ela é menor, ela acontece muito mais informal do
que a TV. Agente, até pelo uso, a TV agente acha que tem que ter começo,
meio e fim, programadinho, os tempos, ali no computador, agente nem se
preocupa se vai ter conexão, porque pode cair né, agente acha que tem mais
tempo, penso que é por esta questão da informalidade. Da impressão que pelo
computador é informal e na Paulo Freire é uma coisa mais formal. Da essa
impressão, porque o computador ele é mais pessoal, eu penso que é por isso
que agente não consegue transpor. Fazer um uso tão acentuado, em tanta
quantidade da TV como agente faz do computador.
G4 Para a TV eu vejo que seriam mais pessoas envolvidas no processo, seria
um trabalho mais dispendioso, maior com uma equipe maior, deve ser, eu não
tenho muito idéia, mas eu acredito que sim. Enquanto que na web é mais fácil.
A informalidade da a impressão de maior facilidade.
Se pensar no todo é muito mais fácil ter duas pessoas operando a web
conferência, mas este não seria o problema de vcs, diante da demanda caberia
a televisão analisar se ela pode dar a resposta, por exemplo, não posso parar
de fazer aquilo para fazer isso, mas este não seria o problema de vcs. Parece
que não é isso que impede a demanda.
G3 É mais de uso mesmo.
G2 Cultura de uso.
G6 Acho que a Beti falou de uma questão bem específica que é nossa. Eu to
entendendo assim, quando eu ouvi as questões que eu respondi eu pensei no
todo, da TV como um todo, e se for fazer essa comparação entre uma web
conferência, sem pensar a nossa e se fosse pensar no formato da TV eu acho
que cai nesta questão que a Gilian falou, parece que em qualquer lugar eu vou
poder entrar, vou poder conversar, então eu posso fazer uma conferência
nacional daqui cinco dias, agente vai sentar vai se reunir no ambiente e tal, me
parece que pensando na TV já teria que ter uma programação pensada como a
Gilian falou com bastante antecedência.
G3 É quando eu respondi pra vc porque que agente não usa outros formatos, é
cultura. Porque agente usa sempre entrevista, porque eu falei que eu acho que
agente usa mais o modelo de entrevista, culturalmente agente acha que a TV é
pra isso, a maioria do grupo de educação a distância, a lida é mais, ninguém é
da TV, é do computador, internet, e agente acha que o computador pra isso,
pra esse modelo da mais conta, e é o que agente melhor domina. É cultura de
uso e do modelo que agente tem estabelecido, agente acha que TV tem que ter
o roteiro mais organizado. Agente fez uma vez só, nesse modelo, e foi com o
PDE, aquela que o professor ao final ligava no 0800, agente acha por dominar,
297
!
eu penso assim, por dominar aquela ferramenta da menos serviço. Por mais
que o serviço não seja meu, seja do outro.
G6 Eu até participei, eu comentei com vc, no núcleo, nós nos reunimos com
quase 70 professores do PDE e foi muito bacana, eles adoraram, foi muito
legal, “ah! minha questão está sendo respondida”, só que eu estava sentada no
computador, alguém tava no telefone e eram 70 pessoas com todo mundo
querendo falar. Que aparecesse a questão, que eu enviasse a questão, então
nada dava pra atender todo mundo. Enquanto que se eu estivesse na web
conferência eu teria 70 computadores e todo mundo vai poder colocar, ali a sua
questão. Ali, ainda houve uma pequena limitação porque eu tinha que
selecionar daqueles 70 uma ou duas pra enviar, pra ter resposta.
A questão não é comparar um com outro. Apenas usei uma referência para
entender o outro recurso. Se fosse comparar existe uma série de questões de
um e de outro que são pertinentes a um e outro. A intenção é transpor de uma
tecnologia, se é possível transpor pra outra e se a outra acrescenta alguma
coisa. Pra fazer uma web conferência do jeito que é uma web conferência
acontece não precisaria migrar para TV. Se não tiver um ganho adicional que
venha da linguagem audiovisual, que venha da televisão, continua na web
conferência. Daí vc tem razão pra que se aqui se faz com 2 pra que reunir 10
pra fazer uma transmissão de um programa. Mas se ela consegue acrescentar
que é oriundo da linguagem televisiva que é identificado como importante,
interessante, necessário para provocar uma aprendizagem, que se pensar.
Tem mitos também. Nas entrevistas eu percebi algumas coisas. Quase todo
mundo defende a interação pergunta e resposta, vai e vem, todo mundo fala da
importância disso, que a televisão não tem a possibilidade de ser ouvido, e
respondido, naquele momento. Por outro lado, no ambiente interativo da web
não é o chat a ferramenta que vc consideram mais importante. Do ponto de
vista teórico deveria ser, quando vcs teorizam sobre o processo de interação,
mas quando vcs vão dar o uso pra ele, e quando pensam no ganho da
aprendizagem eu lembro que o que vcs consideram mais importante é o fórum.
Não digo que 100% de vcs pensam assim, mas a maioria sim. Em resumo é,
poder perguntar e ser respondido, e um dia ser respondido, de preferência
próximo. Confesso que minha expectativa é que na questão das ferramentas
aparece mais o chat, pela forma como se discute a interação, mútua, síncrona,
que aconteça de imediato, ela vem com muita força, muitas vezes no discurso
do que é um processo interativo, mas daí na hora de fazer a eleição daquilo
que funciona mais num processo de aprendizagem a questão que se coloca é
outra.
G2 Mas eu acho que é por conta de vc poder pensar, porque o fórum ele te dá
essa possibilidade.
298
!
É isto mesmo. Não estou questionando, inclusive todos justificaram muito bem,
de uma forma muito consistente e clara, eu estou chamando atenção apenas
para identificar aquilo que agente diz “não serve por isso”, mas não é por isso
que não serve, é por outro motivo. Tem outros motivos, que parece ser da
cultura de uso, porque existe uma discussão da EaD muito formatada pro
ambiente web, porque a EaD na televisão é vista como uma EaD menor, do
ponto de vista do que se construiu ao redor. Mas quando se pensa exatamente
no tipo de ferramenta, no tipo de retorno que pode dar, e não se trata nem da
TV interativa, porque a interativa vai colocar naquele aparelho as
possibilidades que hoje estão no email do lado, ou 0800, ou chat, o resultado é
o mesmo.
G1 Mas eu vejo assim que é uma questão de formação feita até o momento,
seja no Brasil, porque em outro lugar agente não tem visto, o uso da TV foi um
uso passivo, historicamente isso é um fator complicador, e a transposição do
modelo tradicional de ensino também não colaborou porque enquanto tinha o
professor lá no púlpito, a televisão tinha ali aqueles debatedores sentados
numa mesa atrás em um vídeo pra transmitir a formação, o
conhecimento, e ficou a questão da transmissão, a TV ficou com essa coisa de
transmitir, de transmitir, então fazer esta transposição implica em estar
internalizado nas pessoas que vão fazer a formação de refletir sobre como a
pessoa aprende de forma diferenciada. Acho que é isso primeiro que tem que
estar implícito neste discurso e até internalizado nas pessoas que estão
fazendo a formação de como que pode ultrapassar essa fase de transmitir o
conhecimento.
G2 Isso é tão forte...
G1 Que é questão da colaboração, acho que tem que ver alguns conceitos.
G2 Fazendo uma analogia, isso que o Marco falou é tão forte e agente tem
assim essa bandeira “vermelha” pra rede globo que o manifesto que começou
com um menino, um menino do wordnerd, alguma coisa assim, no blog lá,
abaixo a globo porque brigou com o Dunga, e num instante aquilo tomou uma
dimensão, gente eu recebi, mais de 20 emails dizendo que não era pra assistir
a globo no dia do jogo la na sexta-feira, que foi feita uma manifestação e se vc
pensar até o livro do Alex Primo que escreveu daí, quem que usa o twiter que
foi quem deu este start e virou ttt lá e falava disso, ao falava disso, então é
jovem, é adolescente que é esse público que vc falou que ta habituado a
esse movimento, eles começaram, eles com esse abaixo a rede globo, porque?
Porque a rede globo é manipuladora, por que ela transmite, nananan, todo
esse discurso que a gente tem guardado, num instante então isso virou
uma massa e todo mundo fez e não sei se as pessoas assistiram, mas eu não
assisti na globo o futebol, assisti na Band com aquele outro cara, mas eu não vi
299
!
na globo, então foi um movimento grande, e por que isso? E é uma coisa,
adolescente... e de repente se se trabalhar com esses adolescentes essas
questões que vc ta apontando, vai ser uma coisa completamente diferente.
Uma impressão diferente e um raciocínio diferente.
G4 Mas voltando a idéia do Marco ali, ele falando da TV, lembra quando eu falo
da faculdade? Da graduação que eu estou fazendo, quando eu fui escolher,
porque eu optei pela que eu estou hoje, a primeira coisa, a primeira coisa eu
queria fazer uma graduação a distância, então eu optei por esta, que todas
as graduações que eu ia fazer quando eu chegava no local era aquela gravada
então eles colocam uma gravação, eu sempre perguntava mas como é
feita a interação, como que eu vou ter uma resposta do professor, “ah! vc deixa
a questão que daí eu ligo” na próxima semana, então sabe aquilo não me
convenceu e quando eu fui na que eu estou terminando este ano, o que eu
achei interessante é que lá é por via satélite, então é ao vivo, então o professor
ele está dando a aula e eu estou aqui, mas eu sei que no mesmo momento ele
está lá, então não é que ele esteve lá no estúdio, ele está naquele momento no
estúdio, e ele vai trabalhando, as imagens vão passando, as vezes existem
somente os slides que ele vai passando e momentos em que ele passa
imagem mesmo, então agente tem essa condição. Matemática eu aprendi
matemática com o professor da graduação, eu aqui e ele la na tela, eu até
então eu nem escolhi matemática porque eu odiava matemática, porque eu no
ensino médio tive um professor muito ruim e agora eu fui aprender matemática
com o professor la longe de mim. Outro dia nós discutimos, eu e o professor,
por telefone, ele com telefone e eu com telefone e ele me respondendo porque
tinha uma questão que eu não concordava e nós ficamos um tempo discutindo
até que ele falou “Eliane vamos fazer o seguinte, entra no chat, amanhã a
noite, neste horário e nós vamos continuar a conversa”. No dia seguinte, 8
horas da noite la estava eu no chat pra gente continuar a conversa até ele me
convencer do que ele estava falando. Então hoje a TV, no nosso caso ali ela
está muito presente e nós temos ali, o professor trabalhando, a imagenzinha ali
do lado do pessoal que trabalha com libras, e se vc precisa fazer uma pergunta
vc liga no 0800, daí ele para e fala “agora estamos recebendo uma interação
da Eliane de...” ele vai falar comigo, daí eu vou conversar ele vai me
responder, e pergunta, ta ok? Entendeu? Se vc disser que sim ele desliga,
caso contrário vc fala novamente.
G3 Ele transmite para quantas turmas ao mesmo tempo?
G4 Para o Brasil inteiro. Tanto que nós estamos e de repente tem uma
interação lá da Bahia, de Manaus, então de vez em quando acontece.
Como que ele escolhe responder para vc ou pra outro?
300
!
G4 Quando nós ligamos eles tem uma banca de várias pessoas que atendem o
0800, são os monitores, os monitores recebem. Então os monitores fazem esse
trabalho que a Suellem falou, eles vão selecionar qual é a questão ali que é
mais pertinente, porque tem coisas assim que são questões menos pertinentes
que vão ser respondidas depois, vc deixa e depois vão enviar para vc.
G3 Pois é, então pra algumas pessoas...
G4 Para algumas pessoas eles vão enviar depois.
G3 Então é porque o professor ta ali na hora porque a tua resposta vai
demorar do mesmo jeito. Pode ser que demore. É só porque ele ta ali na hora.
G2 Eu ainda acho que é uma questão de cultura. Acho que a nova geração é
bem diferente o jeito deles encararem.
Para encerrar eu queria a opinião de vcs sobre três questões bem específicas:
portabilidade, canal de retorno e multiprogramação. Pensando de forma
direcionada a formação continuada de professores. Até que ponto vem para
contribuir, ou não é necessário...
G3 Eu penso assim, quanto ao retorno e a portabilidade eu penso que não
agrega muito, a questão da portabilidade eu acho que não agrega por que?
Quem é ligado a questão do uso do recurso já ta com as coisas toda no celular.
Então acessa o meio virtual, TV, então por que na TV e não no
computador. Então eu penso que ele não vai agregar pra formação continuada,
nesse momento eu penso que não. E a questão do retorno da forma que sendo
pensada que é pra resposta ou pra vc da resposta pra compra de um
produto eu penso que não agrega, se não tiver sendo pensado deu poder estar
contribuindo com o conteúdo. Eu to me formando e fui lá, to fazendo uma curso
pra formação em matemática, fiz um trabalho com os meus alunos e quero
gravar e disponibilizar o que eu fiz com meus alunos, uma experiência que eu
vivenciei na TV para que todo mundo possa assistir, acessar. Se esse retorno
não for nesse nível eu penso que vai ficar da mesma forma que acontece na
internet e acontece com a televisão com o 0800 ou pelo chat paralelo, por
que daí não vai ter muita diferença, essa minha contribuição de retorno. Agora
a questão da multiprogramação eu vejo como interessante porque daí eu posso
mergulhar onde eu tenho dúvida, eu posso tentar saber mais sobre aquele
assunto, como vc falou da orquestra, eu posso me aprofundar no instrumento
que eu tenho interesse ou aquele que eu estudo, então no conteúdo que eu
preciso mais, eu posso selecionar naquele todo o que mais forma importante
ou o que eu mais precise aprofundar. Esse eu penso que pode contribuir, mas
as outras duas questões da forma que eu to compreendendo que vai chegar ,
penso que não vai agregar.
301
!
G2 Porém se chegar diferente aí pode. Porque pense, se vc puder estar
interagindo pelo retorno da forma como a Beti apresentou que pode ser
possível, mesmo que ainda não esteja sendo feito, com certeza porque daí
vai ser imediato, e mesmo a portabilidade também, depende, né. Eu acho que
tudo depende do planejamento, do que vc ta pensando, do tipo de curso, se vc
quer disponibilizar, se vc não quer.
G3 Porque esta portabilidade é assim. Eu vi um professor que tá usando
celular, tem mandado tarefa, tem até um software em inglês, manda tarefa
por celular. Daí saiu em duas revistas, fui pra ver o serviço do professor, entrei
fui ver no blog, aí ele ta mandando problema de física, querendo saber a
distância, o mesmo tipo de problema, o que aquilo muda dele pegar e passar
num pedaço de papel e ele levar pra casa ou colocar por caixinha de problema
na sala pro aluno catar e levar pra casa. Não vai agregar, assim, ele tem que
agregar de uma forma que consiga que o outro aprenda melhor ou...
G2 Então é o que vc falou na apresentação de deixar disponível de ...
G3 Isso depende do que vc vai fazer do recurso, eu sempre falo assim, a
tecnologia vai potencializar o que tem de bom, o que o professor faz de
bom, e o faz de ruim, então, igual a Eliane contanto do professor que tava
usando a tv pendrive pra passar os textos, pra não ter o serviço de escrever.
Espeta lá e tem o texto e os alunos copiam da TV.
G2 Isso é triste mas é verdade. Tudo vai da intencionalidade, se for.. claro que
agrega.
G3 Agora essa multiprogramação por ser algo que o computador não tem... eu
posso até fazer sei lá...
G2 Posso baixar software específico, mas...
G5 É eu acho que se isso acontecer vai ser muito legal. Isso pode agregar.
Pode ser um diferencial.
G6 Comparando, sei que não é pra gente comparar, a web conferência e a
teleconferência eu penso que daí é muito mais rico em relação a recorte a
levar pra uma outra situação, mostrar uma imagem aí acho que é incontestável,
não que isso não possa acontecer, mas a forma como pode acontecer la na
frente.
G3 E esta multiprogramação ela pode, to pensando, se for um conteúdo de
biologia, com essa TV três D que ta saindo, nossa, daí vai ser o que há... vc
poe o óculos “quero aprender melhor sobre o corpo humano”, poe o óculos
pega o controle remoto e entra dentro do corpo humano em casa,
302
!
aprofundando o conteúdo, to dentro do copo de Beck o troço borbulhando e
eu ali, eu penso que neste sentido... eu não sei o que vcs pensam..
G5 Eu concordo com o que a Gilian falou sobre a multiprogramação, eu acho
que seria maravilhoso, essa possibilidade, acho que poderia aprofundar
bastante em conhecimento específicos de acordo com curso, de acordo com o
objetivo do curso, poderia aprofundar bastante em determinadas áreas.
G5 E a questão de marcar x, quando vc falou eu pensei na nossa realidade, e
penso que o canal de retorno poderia contribuir porque daí tem um grupo
menor, nesse sentido pensando pra formação, pensando geral em termos de
Brasil, talvez tenha que ter outra estrutura, outro encaminhamento, mas
pensando na nossa realidade, Paraná, formação continuada, eu acho que o
canal de retorno poderia funcionar. A curto prazo.
G2 Tudo depende do teu objetivo, da intencionalidade.
G6 Pensando na frente agente sempre quer o melhor mas, pensando hoje, vc
termina a formação daí vc manda um questionário pro pessoal, tem uma
demora pra ter esse retorno, e eu não sei se de repente, pensando
bem...(Suellem)
G3 Eles poderiam responder o questionário na hora. (Gilian)
G6 Todo mundo reunido, pro último dia da formação, e que pudesse ali deixar
algum comentário, já não seria válido? (Suellem)
G3 Por mais que fosse um termômetro, já ia chegar na hora a resposta. (Gilian)
G6 E poderia também, pensando na multiprogramação, poderia se pensar
assim, em formatos de programas com pessoas específicas, e não precisa
centrar todos em uma única pessoa, mas poderiam passar por partes, tantas
pessoas poderiam ver situações diferentes que pudessem atender...
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