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Helena, olhei para Sandro e lhe ofereci três opções de histórias para contar-lhe,
Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, ou O gato de botas.
Sandro chorava um pouco. Dizia que estava com dor na barriga. Encorajado
pela mãe, optou por Chapeuzinho Vermelho
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. Assim, passei a contar essa
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Era uma vez uma menina tão encantadora e meiga, que não havia quem não gostasse dela.
A avó, então, a adorava, e não sabia o que inventar para agradá-la.
Um dia presenteou-a com um chapeuzinho de veludo vermelho que agradou tanto à menina,
que ela não quis mais saber de usar outro. Desde então, só a chamavam de Chapeuzinho Vermelho.
Certa manhã, a mãe chamou-a e disse:
- Filha, leve esse pedaço de bolo e esta garrafa de vinho para a sua avó, que está doente e
fraquinha, Vá logo, antes que fique tarde e esfrie. Não deixe o caminho e não invente de correr pela
mata. Você pode cair, quebrar a garrafa e a vovó ficará sem o vinho. Chegando lá, não esqueça de
lhe dar o bom-dia, e nada de mexer nos guardados da sua avó.
- Não se preocupe, mamãe, que eu faço tudo direitinho – prometeu a menina. E, pegando a
garrafa de vinho e o bolo, despediu-se e saiu.
A avó morava a uma meia hora distante da aldeia, no meio de uma floresta. Mal entrou na
mata, a menina encontrou-se com o lobo. Porém, como não o conhecia, nem sabia o bicho malvado
que ele era, não sentiu medo.
- Bom dia, Chapeuzinho Vermelho! – cumprimentou o lobo.
- Bom dia, lobo!
- Aonde vai assim tão cedinho?
- Vou à casa da minha avó.
- E o que vai levando no seu avental?
- É uma garrafa de vinho e um pedaço de bolo que a mamãe fez ontem. A vovó está doente e
fraquinha. Precisa comer bem para sarar logo.
- E sua avó mora longe?
- A uns vinte minutos daqui. A casa dela fica à sombra de três grandes carvalhos e é cercada
por uma sebe de aveleiras.
O lobo pensou: “Ela é jovenzinha… tem a carne mais macia que a avó…fica para
sobremesa…”E, por algum tempo, acompanhou a menina conversando com ela.
- Já reparou nas flores lindas que há por aqui, Chapeuzinho Vermelho?Não está ouvindo os
passarinhos cantando tão bonito? Que é isso, menina! Só anda olhando para frente!
Chapeuzinho Vermelho olhou para cima, viu o Sol piscando ao atravessar a irrequieta
ramaria, fazendo cintilar as flores de tão variadas cores que havia por ali, e pensou: “A vovó bem que
gostaria de ganhar um ramo de flores fresquinhas… vou colher algumas… ainda é cedo, tenho tempo
de sobra…”E, deixando o caminho, entrou na mata. Sempre que apanhava uma flor, avistava mais ao
longe outra mais bonita, e ia atrás dela. Assim, foi se embrenhando pela floresta. Enquanto isso, o
esparto lobo chegou numa disparada na casa da avó da menina e já estava batendo na porta.
- Quem está aí? – perguntou a velhinha.
- O lobo disfarçou a voz:
- Sou eu, Chapeuzinho Vermelho!Vim trazer um pedaço de bolo e uma garrafa de vinho.
- Vá entrando, que a porta está só encostada. Não me levanto porque estou muito fraca.
O lobo entrou, e sem lhe dar tempo de dizer um ai, engolia-a. Depois vestiu as roupas dela,
pôs sua touca de dormir, deitou-se na cama, fechou o cortinado, e ficou esperando Chapeuzinho
Vermelho.
E, todo esse tempo, a menina na mata colhendo flores. Foi só quando juntou tantas, que mal
podia segurar, que se lembrou da avó. Então retomou o caminho para a casa dela. Lá chegando,
encontrou a porta aberta assustou-se.
“O que será que está acontecendo?”, pensou. “Nunca senti um medo assim, na casa da
vovó…”. E ela chamou alto:
- Vovó! Bom dia! – e como ninguém respondesse, foi até a cama abriu o cortinado.
A avó estava lá, com sua touca de dormir escondendo parte do rosto. Estava tão diferente…
- Vovó! Por que a senhora tem orelhas tão grandes?
- É para te ouvir melhor.