O formalismo é acrescido pelo centralismo, que também engendra o gigantismo.
Também no setor educacional sofremos de macrocefalia. No prédio do MEC, em Brasília,
há 12.498 funcionários. Somente os 300 e poucos professores universitários que tra-
balham na SESU poderiam constituir uma Universidade, possivelmente de excelente
nivel, abrigando mais de 15 mil novos universitários. Nos Estados, a situação não é
menos crítica. Em Minas Gerais, por exemplo, há 240 mil funcionários nos quadros da
Secretaria de Educação, dos quais cerca de 180 mil em atividade. Mas desses, apenas 40
mil estão na sala de aula. Portanto, há 140 mil pessoas infernizando a vida dos 40 mil
professores "condenados" à atividade do magistério. Essa situação é agravada pela
indevida e imoral ingerência política, com p minúsculo, sobretudo por parte dos podê-
res executivos e legislativos locais: em qualquer lugarejo, o emprego precário da profes-
sora, da bibliotecária, da merendeira, até da substituta, depende de sua lealdade polí-
tica. E vai se contratando gente. E caem os secretários que tentam imprimir um míni-
mo de seriedade à questão.
No quadro atual, a burocracia instalada logo perde o contato com a realidade:
tudo vira projeto, tudo vira processo. O processo adquiriu autonomia funcional: ganhou
vida própria. O processo anda, o processo vai, o processo vem; o processo é informado,
carimbado, autenticado, devolvido, apensado; o processo some. 0 processo recebe
pareceres; às vezes o processo é devolvido para diligências. E a realidade continua. A
substituição de uma datilografa de qualquer universidade autárquica (autárquica quer
dizer dotada de autogoverno) leva pelo menos 15 meses, num processo de 100
páginas, inúmeras visitas a Brasília e toda a boa vontade que o Reitor, pessoalmente,
conseguir grangear no MEC ou no DASP.
A burocracia é alimentada, mesmo nos dias atuais, pelas expectativas e modelos
abstratos que mais atrapalham do que ajudam. No momento atual, é particularmente
paralisante e perigoso o centralismo estadual, a recentralização que ocorre ao nível das
burocracias estaduais, que, tendo aprendido bem as coisas más com o centro, ainda
insistem em superadas teses relativas à incapacidade dos municípios, e arvoram-se em
novos tutores dos mesmos. A administração centralizada, em Brasília ou nas Capitais,
acaba por tornar-se incompetente, menos por culpa das pessoas, e mais pela crescente
incapacidade do centro em entender e dar respostas oportunas e adequadas aos proble-
mas da periferia.
Essas estruturas, assim montadas, dificultam cada vez mais as chances de aprendi-
zagem por parte das organizações envolvidas. A periferia tem que preencher quadri-
nhos, fazer relatórios, enquadrar-se formalmente nas exigências centralizadas, provar
que não é desonesta e corrupta, ainda que para tanto tenha que ser muito ineficiente.
Ás críticas — quando vocalizadas — não são ouvidas, não são debatidas, não são enten-
didas. Pouco se aprende da realidade. Nada se muda.
Na sua visão onipotente e regulatória, o centro aprende e difunde inadequados
sistemas e mecanismos de controle. Os controles, excessivos, se exercem sobre as coisas
erradas. Não se procuram resultados, o que preocupa são os processos, as titulações, os
registros nos diplomas, os carimbos, as notas, as porcentagens, os números frios e inin-
terpretáveis.
No caso do governo central, em particular, o Ministério da Educação e Cultura
tem sofrido, ao longo dos anos, de uma incapacidade estrutural de lidar com o sucesso,
sobretudo naquelas iniciativas que configurariam seus papéis mais criativos. Raros são
os casos de sucesso de órgãos de dentro do Ministério que conseguem sobreviver, como