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O meu pai, entre aspas, ele tem minha mãe que está e sempre esteve do lado
dele, mas ele reinou sozinho este tempo todo e não que ele tenha... Assim,
“ah, ele não quer dividir o poder”, não isso, mas é difícil você dividir a
tomada de decisão, você participar todo mundo da sua tomada de decisão.
Era mais prático antes para ele, o que ele decidia, pronto. Hoje não, ele tem
que trazer, tem que debater, quer dizer, o processo fica um pouco mais
demorado sempre. [...] Ele dá o espaço quando é conveniente para ele.
Quando ele tem um ponto e ele não está a fim de abrir mão daquela
decisão, ele não divide e pronto. E o que a gente sempre reclama “poxa, de
novo, tomou a decisão sozinho”... (Giovana, sucessora, 33 anos,
Copacabana).
A parte bobinha da empresa, a parte administrativa da empresa, de quem fica
na empresa, quem não fica... “Isso aí é com vocês”, porque ele nem gosta
assim, sabe? Agora, quando é grande assim, um novo empreendimento, uma
coisa assim, aí ele já... Eu acho X, o Gustavo acha X, minha mãe acha X, se
ele acha Y é Y e acabou. Não adianta fazer um comitê, vale o que ele
achar (Michelle, sucessora, 23 anos, Ipanema).
Outro ponto abordado pela sucessora Giovana diz respeito ao suposto
“consenso” existente na empresa, que é, de fato, a seu ver, fictício:
Todo mundo reclama dele, até meus tios, a gente reclama dele pra caramba...
Acho que o pior é isso, com o meu pai, a gente não discorda, ele concorda
com tudo, só que ele faz do jeito dele, então não teve... não tem embate,
porque eu acho que seria até... não teria essa sensação de frustração que a
gente tem, se a gente sentasse e discutisse “mas eu não concordo, mas eu
quero por aqui”, sabe, então eu fui um voto vencido. Eu nunca fui voto
vencido, ele está sempre do meu lado, mas quando foi pôr em prática,
saiu do jeito dele... (Giovana, sucessora, 33 anos, Copacabana).
Lansberg (1988, p. 126) destaca que “fundadores debatendo-se com a sucessão
com frequência experimentam poderosos sentimentos de rivalidade e inveja em direção
aos sucessores potenciais”. Fato este que é observado na empresa Arpoador, onde Nilo,
o filho-sucessor, percebe, segundo suas próprias palavras, um “conflito constante” no
pai em relação à passagem de poder na empresa familiar. “É um duelo com ele mesmo.
Um duelo com ele mesmo e um duelo comigo, porque ele é muito competitivo, eu
também sou, então sou muito parecido com meu pai”, diz. “Eu sinto que, para ele, cada
decisão que eu tomo é um conflito. Eu sinto isto”.
Prossegue Nilo:
O difícil para ele é realmente passar o poder de uma maneira mais tranquila
assim... Ele, ao mesmo tempo, que ele deixa [eu] tomar a decisão, reluta
em aceitar a minha decisão e fica numa... Eu percebo nele um conflito
constante: “pô, deixo o cara fazer do jeito dele, ou o seguro e faço do meu
jeito?” [...] Dos irmãos, sou o que mais bato de frente com ele. Eu bato de
frente mesmo, eu falo, ponho a minha ideia, defendo a minha ideia até o
último com ele, então é um conflito constante dentro da empresa. Mas saio
daqui, eu até sento no colo do meu pai, então é... não levo este conflito que
tem dentro da empresa. [...] É uma luta para ele, é uma luta porque às vezes