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Entre os raros poetas negros que conheço neste Brasil mestiço, Solano
Trindade é o que melhor me satisfaz. Porque Solano Trindade não se
encerrou na torre de marfim da arte pura e tampouco escreveu poesia negra
com linguagem de “negro-branco”, desses que se envergonham de abordar
o típico das gafieiras e das macumbas como legítimas expressões do
anseio estético e da misteriosa espiritualidade negra. Ele é Negro, sente
como Negro, e como tal cantou as dores, as alegrias e as aspirações
libertárias do afro-brasileiro. Para mim Solano Trindade é o brado da raça, o
maior poeta Negro do Brasil contemporâneo.
Sérgio Milliet, por sua vez, enaltece a luta do poeta Solano Trindade na
busca da independência cultural do Negro em nossa terra, ao dizer que: “poucos
fizeram tanto quanto ele pelo ideal da valorização do negro.” (Sérgio Milliet, IN:
Solano Trindade: O Poeta do Povo, 1999, p. 31). No que concerne à obra de Solano
Trindade, Sérgio Miliet em comentário feito em 1961, quando da publicação do livro
“Cantares ao meu povo”, escreveu:
Ei-lo que se lança novamente à poesia e o faz dentro do mesmo espírito de
antes: o da tomada de consciência disso a que Sartre chamou de
“Negritude”. E temos a glorificação da mulher de pele escura, da ternura, da
alegria, da vitalidade da raça, mas também de seus anseios, de seus ideais.
Não se trata apenas de mais um livro de poesias: trata-se também de um
depoimento apaixonado e vibrante. (Sérgio Milliet, IN: Solano Trindade: O
Poeta do Povo, 1999, p. 31-32).
O poeta Nestor de Holanda ao se debruçar na análise mais acurada do
livro “Poemas D’uma Vida Simples”, uma das primeiras obras do poeta Solano
Trindade, declara:
Para mim, o Poeta não se revela na vastidão de sua Obra nem no que de
prosódico e prolixo existir no seu trabalho, revela-se num nada, numa frase
apenas, numa síntese. Senti o Poeta Solano na expressão da Negra: “Servi
de Amor”. Senti o poeta Solano, quando ele, pedindo perdão à “Senhora
Gramática” pelos seus “Pecados Gramaticais”, pediu a “Benção à Dindinha
Lua” [...] “O Poema das Marias” é o maior livro de Solano Trindade. Nele há
a revelação completa do Poeta! Sentimento imponente, alma, poesia enfim.
Em nenhum outro trabalho o autor é tão majestoso como nesse. Mas há
também grandes realizações estéticas no livro de Solano Trindade. “O
Canto da Liberdade” é uma delas. “Convocação”, lembrando Whitman,
falando-nos de um “Profundo Amor de Camarada”, é outra; e muito grande,
também, é o “Mulher Barriguda”. (Nestor de Holanda, IN: Solano Trindade:
O Poeta do Povo, 1999, p. 33).
E conclui entusiasticamente:
Nenhum outro preto no Brasil cantou a raça com tamanho sentimento nem
tamanha angústia. [...] A cor preta no Brasil está tendo agora, com o
surgimento de Solano, o seu primeiro Poeta nato, o seu primeiro cantor