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Sudaneses (noroeste africano - Nigéria, Togo e Benin). Os primeiros vieram em maior
quantidade e, talvez por isso, foram os que mais influenciaram a cultura brasileira, seja
na música, na culinária ou na língua. Se espalharam em quase todas as áreas litorâneas
do Brasil e também pelo interior, principalmente nos Estados de Minas Gerais e Goiás.
Já os sudaneses, oriundos da África ocidental, vieram para o Brasil de meados do século
XVII até metade do século XIX, ocupando, principalmente, a região açucareira do
Pernambuco e Bahia. “São, entre outros, os iorubás ou nagôs (subdivididos em queto,
ijexá, egbá, etc.), os jejes (eué ou fon) e os fante-axantes. Entre os sudaneses, também
vieram algumas nações islamitas como os hauçás e mandingas” (SILVA; AMARAL,
1996, p.198).
Foi através das manifestações religiosas, da estética pessoal, da literatura, da
história, da música e da cultura em geral que se deu a negociação dos escravizados em
tal sistema desigualitário, não se acomodando à mera colonização do regionalismo
lusitano e criando, portanto, novas formas identitárias (GIL, 2005). Esse processo teve
início com a chegada dos africanos traficados para o país, por volta do século XVI,
sendo que o artifício de apropriação da chamada cultura negra
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como “caráter” da
identidade nacional brasileira
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se deu em torno da década de 1930, através do elogio
incipiente da miscigenação e da nova concepção “racial” voltada ao culturalismo.
Anteriormente a isso, durante o século XIX e início do XX, era o conceito biologizante
“racial”
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que predominava na produção intelectual da época, fazendo perdurar no
imperativamente não respeitaram as diversas formas de divisões étnicas, familiares e culturais então
existentes em tal continente.
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Até os anos de 1930 o termo “negro”, segundo a minuciosa pesquisa de Donald Pierson na Bahia em
fins dessa década, era um adjetivo mais depreciativo que “preto”, só ganhando status político positivo e
posterior popularidade respectivamente com os primeiros etnógrafos da chamada cultura negra brasileira
(Manuel Querino, Nina Rodrigues, Arthur Ramos, Edson Carneiro e Gilberto Freyre) e as primeiras
organizações negras (principalmente a pioneira Frente Negra Brasileira, também nos idos de 1930).
Relativo às diferenças geracionais, “chamar a si mesmo de negro, preto, pardo ou escuro não depende
unicamente da cor, mas também da idade e, até certo ponto, do nível de instrução” (SANSONE, 2007,
p.87). Ver SANSONE, Livio. Negritude sem etnicidade. Salvador/Rio de Janeiro: Edufba; Pallas, 2007.
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Como veremos, “(...) a questão da identidade nacional aflorou principalmente em três grandes
conjunturas históricas: com a independência inserida no poder monárquico de 1822, lançou-se a semente
da nacionalidade a partir da reivindicação em relação à metrópole portuguesa; com a abolição do regime
escravo, em 1888, e o surgimento da República, em 1889; e com a revolução de 1930” (MUNANGA,
1996, p.181). Ver MUNANGA, Kabengele. Mestiçagem e experiências interculturais no Brasil. In:
SCHWARCZ, Lilia Moritz; REIS, Letícia Vidor de Sousa (orgs.). Negras Imagens. São Paulo: Edusp,
1996.
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O geneticista Sérgio Pena (2005) afirma que desde Lineu (1707-1778) foram feitas as classificações
taxonômicas dos grupos humanos pelo viés da “raça”, sendo que a ótica geográfica de tal termo teve sua
origem com o antropólogo alemão Johan Friedrich Blumenbach, em 1795, que definia os nativos da
Europa, Oriente Médio, Norte da África e Índia como “caucasóides” uma vez que, para ele, o “tipo”
humano perfeito era visto nas montanhas de Cáucaso, região da Geórgia, que o mesmo acreditava ser o
berço da humanidade. Já no século XIX, tal conceito passa a se basear primordialmente nas questões
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