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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL
Centros de Ciências Sociais Aplicadas
Departamentos de Administração
MARISTELA REGINA MORAIS
AÇÃO RACIONAL SUBSTANTIVA E AÇÃO RACIONAL INSTRUMENTAL:
A HISTÓRIA DE UMA INSTITUIÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS -
O Caso do Lar Escola da Criança de Maringá
Maringá
2004
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL
Centros de Ciências Sociais Aplicadas
Departamentos de Administração
MARISTELA REGINA MORAIS
AÇÃO RACIONAL SUBSTANTIVA E AÇÃO RACIONAL INSTRUMENTAL:
A HISTÓRIA DE UMA INSTITUIÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS -
O Caso do Lar Escola da Criança de Maringá
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Administração da Universidade
Estadual de Maringá, como requisito parcial para
a obtenção do título de Mestre em
Administração.
Orientadora: Profª. Drª. Elisa Yoshie Ichikawa
Maringá
Dezembro de 2004
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À minha mãe Geni, pelo amor incondicional que me fortaleceu em
todos os momentos e me confortou quando eu mais precisei.
À minha orientadora, profª. Drª. Elisa Yoshie Ichikawa, pela paciência
e pelos preciosos ensinamentos que me permitiram refletir sobre o
tema desta pesquisa e muitas outras questões, minha profunda
admiração.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer imensamente a todos que colaboraram para a realização deste
sonho:
Aos professores, funcionários e colegas do Programa de Pós-Graduação em Administração
– Mestrado em Gestão de Negócios – da Universidade Estadual de Maringá em consórcio
com a Universidade Estadual de Londrina, em especial às professoras Drª. Hilka Vier
Machado e Drª. Maria Iolanda Sachuk e ao Bruhmer César Forone Canonice;
À profª. Elisa Yoshie Ichikawa, pela dedicação e preocupação com que me orientou, pelas
sugestões, observações e críticas oferecidas durante o processo de dissertação, que me
fizeram perceber o quanto é importante superar os desafios.
Aos professores que fizeram parte da Banca Examinadora, de pelas críticas e contribuições
a esse estudo.
Aos meus estimados mestres e ex-professores que me despertaram o interesse e a paixão
pela vida acadêmica, principalmente Ariston Azevêdo Mendes, João Marcelo Crubellate,
Renata O. Albernaz e Paulo Grave.
À direção e funcionários do Lar Escola da Criança de Maringá, como também aos ex-
participantes da instituição, pelas informações fornecidas e, sobretudo, por compartilharem
comigo um pouco da sua história de vida;
À minha amada família – “mamy”, pai e Márcia - que em nenhum momento mediu esforços
para que meus estudos fossem uma das prioridades da minha vida e que me fez acreditar
que eu poderia terminar essa jornada.
Aos meus queridos amigos, pelo carinho, pelas orações e por terem compreendido a minha
ausência durante todo esse processo, em especial aos meus “anjos da guarda”: Paula, Luis,
Keiko, Viviane, Priscila, Gláucia, Ana Sanchez, Élcio, Maria Helena, e Teresa.
Finalizando, agradeço à Deus, por me iluminar e me ajudar nessa caminhada difícil e
angustiante, algumas vezes, mas também de extrema alegria e realização pessoal.
O importante é a ação,
E não o resultado da ação.
Mahatma Ghandi
RESUMO
As mudanças sociais, políticas e econômicas das últimas décadas têm fomentado o debate
sobre o Terceiro Setor, bem como influenciado as ações e processos organizacionais
estabelecidos nas instituições sem fins lucrativos. Em decorrência de disso, algumas destas
instituições, comumente caracterizadas por ações que promovem valorização humana
individual e coletiva, acabam sofrendo pressões para a adoção de critérios instrumentais de
eficiência, na gestão e práticas organizacionais, evidenciando, assim, um dilema entre ação
racional substantiva e ação racional instrumental. Diante dessa consideração, a presente
pesquisa, caracterizada por um estudo de caso, tem como objetivo geral compreender
como se manifestam as ações racionais instrumentais e substantivas nos processos e
ações organizacionais desenvolvidos no Lar Escola da Criança de Maringá ao longo de sua
história. Para atender a esse propósito, o estudo inicia-se com uma discussão sobre as
influências sociais no campo organizacional, onde uma análise crítica sobre o surgimento e
desenvolvimento do Terceiro Setor é empreendida, juntamente como a exposição de alguns
estudos recentes realizados sobre o tema. Em seguida, são apresentadas algumas
considerações acerca das ações racionais instrumental e substantiva, ressaltando como
ambas se manifestam no campo organizacional, tendo como influência principal as reflexões
de Ramos (1989 e 1991). Esse arcabouço teórico serviu de base para a elaboração de um
quadro referencial de análise, adaptado de Serva (1996) e Dornelles e Dellagnelo (2003),
que foi utilizado para se observar a manifestação dessas ações racionais em cada período e
dimensão investigados para, assim, poder descrevê-las e analisá-las. De maneira
complementar, também se desenvolveu uma análise específica da manifestação de cada
uma das ações racionais em questão. As conclusões decorrentes de tais análises recaem
sobre três apontamentos essenciais: a) O Lar Escola da Criança de Maringá, ao longo de
sua história, sofreu mudanças e reestruturações nos seus processos e ações desenvolvidas
pelos participantes, em decorrência das transformações sociais; b) não ocorreu, na trajetória
histórica do Lar Escola da Criança de Maringá, predominância de nenhum dos tipos de ação
racional analisados, o que ocorre na maioria das vezes é mescla deles; c) as ações
racionais instrumentais e substantivas estabelecidas no Lar Escola de Criança, não se
“confrontam”.
ABSTRACT
The social, political and economical changes in the recent decades have promoted the
debate about “the third sector”, as well as influenced the organizational actions and
processes established in the non-profit institutions. Due to this fact, some of these
institutions, commonly characterized by actions that promote the individual and collective
human valorization, are lead to adopt efficiency instrumental criteria in the organizational
practice and management, what clearly shows a dilemma between substantive rational
action and instrumental rational action. Based on this consideration, the present research,
characterized by a case study, has as its general purpose to understand as the instrumental
and substantive rational actions are shown on the organizational actions and processes
developed in Lar Escola da Criança de Maringá during its history. With this purpose, this
study starts with a discussion about the social influences in the organizational field, where a
critical analysis about the emersion and development of the third sector is accomplished, as
well as the exhibition of some recent studies about this subject. After that, some
considerations about instrumental and substantive rational actions are shown highlighting
how they behave in the organizational field having Ramos’s reflexions (1989 and 1991) as its
main influence. This theoretical framework was used as a basis for the development of a
referential table of analysis, adapted from Serva (1996) and Dornelles & Dellagnello (2003)
that was used to observe the manifestation of these rational actions in each investigated
period and dimension and, then, describe and analyze them. Furthermore a specific analysis
on the manifestation of each of the studied rational actions was also accomplished. The
results from such analysis occur upon three essential indications: a) Lar Escola da Criança
de Maringá, during its history, suffered changes and reestructuration on its actions and
processes developed by its members due to the social transformations; b) There was no
predominance of any kind of rational actions analyzed in Lar Escola da Criança de Maringá
history. Most of the time there was a mix of them; c) The instrumental and substantive
actions established in Lar Escola da Criança de Maringá have no “confrontations”.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Representação do Organograma do Lar Escola da Criança (gestão das
senhoras do Clube da Amizade).................................................................................. 79
Figura 2 - Representação do Organograma do Lar Escola da Criança (gestão das
Irmãs da Congregação Murialdinas)............................................................................ 81
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Quadro Referencial de Análise dos Dados............................................... 59
Quadro 2 – Processos e Ações Organizacionais Estabelecidos no Lar Escola da
Criança ao Longo de sua História x Ação Racional Substantiva e Ação Racional
Instrumental................................................................................................................. 116
LISTA DE SIGLAS
AMENCAR Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente
ANPAD Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração
CENAEM Centro Nacional de Aprendizagem Empresarial
CESUMAR Centro de Ensino Superior de Maringá
COPEL Companhia de Energia Elétrica do Paraná
COCAMAR Cooperativa de Cafeicultores e Agro pecuarista de Maringá
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
ENANPAD Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação
em Administração
FUNDACIM Instituto de Responsabilidade Social de Maringá
FUNDESC Fundação de Desenvolvimento Social e Cidadania de Maringá
MPT Ministério Público do Trabalho
ONG Organização não Governamental
TCCC Transporte Coletivo Cidade Canção
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 1
1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA. ................................................................. 1
1.2 OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS................................................................. 7
1.3 JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA................................................................ 7
2. INFLUÊNCIAS DAS MUDANÇAS SOCIAIS NO CAMPO ORGANIZACIONAL.... 10
2.1 AS CONFIGURAÇÕES DA RELAÇÃO ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL
PARA O SURGIMENTO DO TERCEIRO SETOR................................................. 17
2.1.1 Os estudos sobre o Terceiro Setor........................................................................ 28
2.2 AS DIFERENTES AÇÕES RACIONAIS................................................................ 34
2.2.1 Teoria Administrativa e Racionalidade.................................................................. 38
3. METODOLOGIA.................................................................................................... 42
3.1 PERGUNTAS DE PESQUISA............................................................................... 42
3.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS.......................................................................... 42
3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA................................................................................ 46
3.4 COLETA DE DADOS............................................................................................. 48
3.5 ANÁLISE DE DADOS............................................................................................ 54
3.5.1 QUADRO REFERENCIAL DE ANALISE.............................................................. 57
3.5.1.1 Definição Constitutiva dos Termos e Caracterização da Racionalidade
Instrumental........................................................................................................... 60
3.5.1.2 Definição Constitutiva dos Termos e Caracterização da Racionalidade
Substantiva............................................................................................................ 61
3.6 DEFINIÇÃO CONSTITUTIVA DE OUTROS TERMOS......................................... 62
4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS............................................................... 65
4.1 HISTÓRICO DO LAR ESCOLA DA CRIANÇA DE MARINGA: PROCESSOS E
AÇÕES ORGANIZACIONAIS................................................................................ 65
4.2 AS MUDANÇAS E REESTRUTURAÇÕES ENFRENTADAS PELO LAR
ESCOLA DA CRIANÇA DE MARINGÁ................................................................ 75
4.2.1 Impactos das Mudanças e Reestruturações Ocorridas no Lar Escola da Criança
de Maringá............................................................................................................ 77
4.2.1.1 Normas e Hierarquia.............................................................................................. 77
4.2.1.2 Controle e Avaliação.............................................................................................. 83
4.2.1.3 Processo decisório................................................................................................. 87
4.2.1.4 Relações interpessoais e Comunicação.............................................................. 90
4.2.1.5 Recrutamento e promoção dos participantes........................................................ 93
4.2.1.6 Conflitos............................................................................................................... 97
4.2.1.7 Reflexão sobre a organização............................................................................... 101
4.2.1.8 Satisfação individual.............................................................................................. 103
4.3 ANÁLISE DOS ASPECTOS QUE CARACTERIZAM A AÇÃO RACIONAL
INSTRUMENTAL NO LAR ESCOLA..................................................................... 105
4.4 ANÁLISE DOS ASPECTOS QUE CARACTERIZAM A AÇÃO RACIONAL
SUBSTANTIVA NO LAR ESCOLA...................................................................... 109
4.5 TIPO DE AÇÃO RACIONAL EXISTENTE OU PREDOMINANTE NO LAR
ESCOLA DA CRIANÇA DE MARINGÁ................................................................. 114
5. CONCLUSÃO........................................................................................................ 118
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 123
7. ANEXOS................................................................................................................ 129
Anexo 1 – Carta de Apresentação para Entrevista Presencial............................. 129
Anexo 2 – Roteiro de Entrevista (presidente atual).............................................. 130
Anexo 3 – Roteiro de Entrevista (funcionários).................................................... 131
Anexo 4 – Roteiro de Entrevista (ex-presidente).................................................. 132
Anexo 5 – Roteiro de Entrevista (ex-funcionário)................................................. 133
Anexo 6 – Carta de Apresentação para Entrevista à Distância............................ 134
Anexo 7 – Roteiro de Entrevista à distância (ex-presidentes)............................. 135
Anexo 8 – Roteiro de Entrevista à distância (arcebispo responsável pela
fundação da Instituição)................................................................................... 136
Anexo 9 – Planejamento Estratégico Participativo do Lar Escola da Criança de
Maringá.................................................................................................................. 137
1 INTRODUÇÃO
1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA
Considerando que o desenvolvimento dos estudos organizacionais esteja fortemente
caracterizado pela diversidade e até mesmo pela divergência de perspectivas, entendemos
como relevantes muitas das tentativas que orientam a compreensão da Administração,
enquanto área do conhecimento e prática do administrador. Todavia, seria limitante supor
que alguma delas pudesse revelar seu sentido exato, já que, dado o caráter paradoxal,
dinâmico e complexo do fenômeno administrativo, cada perspectiva revela um de seus
“ângulos”, e não sua totalidade.
Vários são os enfoques que buscam oferecer explicações para esse campo das Ciências
Sociais, constituindo um aglomerado de teorias, escolas, abordagens e práticas.Todas
desenvolvidas de acordo com a ênfase em determinado aspecto da realidade
organizacional, como apontam Burrell e Morgan (1979).
Há estudiosos e pesquisadores da Administração que optam por leituras, interpretações e
explicações desse fenômeno a partir de uma visão subjetiva de realidade, e é essa
subjetividade que lhes permite tratar de modo predominante tal fenômeno, haja vista que em
cada perspectiva evidencia-se alguma dimensão, ao passo que se omitem outras. Neste
sentido, poderíamos relacionar a diversidade de abordagens ao modo de cada um pensar a
realidade administrativa e explicitá-la metaforicamente, tal como defende Morgan (1996).
Segundo o autor citado, “muitas das idéias convencionais sobre organizações e
administração foram construídas sobre um pequeno número de imagens tidas como certas”
(MORGAN, 1996, p. 16), deste modo, por tratar-se de um fenômeno complexo e paradoxal,
é possível ser compreendido e explicado de maneiras diferentes.
2
Numa perspectiva semelhante, Seixas (1999), destaca que a questão administrativa “não é
um elemento objetivo” e sim explicitado a partir de “tendências de explicação”. Para ela,
estas tendências “constituem uma inclinação do pensamento, seja sobre a realidade geral,
seja sobre a realidade organizacional (no caso específico), que interfere, inevitavelmente, no
próprio modo administrativo de pensar”.
Outro argumento que fomenta as discussões acerca das tentativas de entendimento do
campo administrativo recai sobre o fato de se tratar de uma ciência em processo contínuo
de construção e reconstrução (como todo fenômeno social) ou, utilizando termos de
Rodrigues Filho (1998), em estágio “pré-paradigmático de desenvolvimento”, sendo passível
de ser explorada, desafiada, percebida e explicada de diferentes modos.
Uma outra questão também é apontada por Clegg, Hardy e Nord (1999) ao salientarem a
evidência e a importância da diversidade na análise organizacional. Segundo tais autores, “à
medida que novas perspectivas têm proliferado, as oportunidades crescentes apresentam-
se como ponto de partida para novos debates: maior diversidade, maior desacordo; mas
também mais pontos de intersecção e maior razão para o diálogo, debate e disputa”
(CLEGG, HARDY e NORD, 1999, p. 27).
Provavelmente sejam estas algumas das principais razões que levaram e ainda levam
teóricos da administração a desenvolverem sistematizações das variadas abordagens
existentes. Tal como sugere Wahrlick (1986), por meio de um esquema classificatório que,
basicamente, agrupa as perspectivas em “concepção dos engenheiros, dos anatomistas,
dos psicólogos e dos sociólogos”; Chiavenato (1993) e Prestes Motta (1998), optando pelo
enquadramento das abordagens em “Escolas” ou “Teorias”; Morgan (1996) propondo o uso
de “metáforas” para a classificação das perspectivas; ou ainda, Clegg, Hardy e Nord (1999)
através de uma visão macro (apresentada a partir de modelos de análise dominantes e
3
temas emergentes) de como a teoria e a prática organizacional têm mudado nas três últimas
décadas.
Tais sistematizações, no entanto, parecem não oferecer possibilidade de discussões acerca
de questões essenciais ao ato de perceber/explicar a gestão e as relações organizacionais
desenvolvidas em organizações sem fins lucrativos. Da maneira que estão postas, tais
abordagens parecem dificultar o entendimento da prática administrativa em relação à
natureza organizacional do Terceiro Setor. Tal fato é revelado por estudos que apontam
para a necessidade de se tratar as questões administrativas das organizações sem fins
lucrativos de modo distinto ao tratamento dispensado a empresas privadas e órgãos
públicos (SERVA, 1993; MORAIS et al, 2000; VAN BELLEN, 1997; MENDES, 1998;
TEOSÓDIO, 2002; ALVES, 2002).
Como afirma Van Bellen (1997), as organizações pertencentes ao Terceiro Setor
apresentam características peculiares que as diferenciam das organizações que estão
primordialmente inseridas no âmbito do Estado e do Mercado, o que implica na necessidade
de uma forma própria para apreendê-las e geri-las. Nesta mesma perspectiva, Serva (1993)
enfatiza a existência de determinados tipos de organizações (definidas por ele como
substantivas), onde se configuram práticas sócio-organizacionais relativamente
descompromissadas com o estatuto essencialmente sistêmico da sociedade burocratizada.
Para ele, a singularidade, como também a multiplicidade desses espaços exige uma
fundamentação “nova”, que possa dar conta da compreensão tanto de seus aspectos
emergentes, quanto de suas formas de gestão e das relações interpessoais estabelecidas
por seus participantes.
Em consonância com esses autores, acredita-se que sem abordar as particularidades das
organizações inseridas no Terceiro Setor não se conseguirá vislumbrar meios adequados
para administrá-las e, muito menos, propor alternativas para que os desafios aos praticantes
4
e estudiosos destas sejam superados. Entende-se, ainda, que estas organizações estejam
passando por um momento de profunda transição entre sua característica assistencialista e
a necessidade de profissionalização (face à dificuldade de obter recursos para desenvolver
suas atividades). Daí a urgência de delineamentos próprios tanto teóricos, quanto práticos
para esse setor.
Como se pode observar, pesquisas sobre o tema (FISCHER e FALCONER, 1998; CUNHA,
1997; FALCONER, 1999; BARROS, 2002; MARÇON e ESCRIVÃO FILHO, 2001;
TEODÓSIO, 2001; MEIRELES e EL-AOUAR, 2002; ROESCH, 2002; SANTOS e
ICHIKAWA, 2004) mostram que, de um modo geral, as organizações sem fins lucrativos
passam por dilemas e desafios relacionados à sua finalidade essencial e os meios para
atingir os objetivos da instituição. Um desses dilemas apontados é a “necessidade” de
profissionalização, revelada na pressão pela adoção (muitas vezes, acrítica) de
metodologias e técnicas de gestão desenvolvidas para empresas econômicas.
Como destaca Barros (2002), a utilização de uma série de tentativas para profissionalizar as
organizações sem fins lucrativos é exigida pelos parceiros e financiadores destas, “que
requerem, cada vez mais, maior eficiência e resultados objetivos em contrapartida aos seus
investimentos” (BARROS, 2002, p. 1). Na mesma linha, autores como Drucker (1995),
Tenório (1997) e Tavares (2000) defendem a urgência da profissionalização dos que atuam
em instituições sem fins lucrativos, principalmente dos gestores e administradores destas
organizações. Para eles, a adoção de modelos, técnicas e tecnologias gerenciais
otimizariam o desenvolvimento das atividades e conseqüentemente, a eficiência.
Em contrapartida, outros estudos apontam para o fato de que a profissionalização pode
levar à descaracterização destas organizações, a partir da possibilidade de se sobrepor os
meios aos fins, ou seja, a preocupação em se tornar mais eficiente (meio) torna-se mais
eminente do que o resgate da condição humana (fim). Para Teodósio (2001, p. 7), por
5
exemplo, as “estratégias de captação de recursos podem incorrer na perda de foco no
objetivo principal da organização ou movimento social, despendendo energias e recursos
mais para a sobrevivência da própria do que no ataque aos problemas sociais”.
Deste modo, supõe-se que a busca pela eficiência através da profissionalização ou da
“modernização” gerencial possa ser, em muitos casos, um elemento determinante da forma
de gestão das organizações sem fins lucrativos e também das relações estabelecidas entre
seus participantes, do mesmo modo que os principais valores (sociais e de emancipação
humana) que regem as atividades desenvolvidas pelos membros destas instituições. Em
outras palavras, percebe-se que a eficiência, eficácia e efetividade exigidas (pressupostos
inerentes de empresas econômicas) podem orientar as ações estabelecidas por seus
participantes, tal como os critérios substantivos (de resgate da condição humana e
promoção social), manifestando-se assim, no cotidiano destas organizações, a relação
entre ação racional instrumental e ação racional substantiva.
No intuito de verificar se a necessidade de se tornar eficiente tem impactado nos processos
organizacionais e nas ações desenvolvidas pelos participantes de uma instituição do
Terceiro Setor, este trabalho busca compreender como se manifestam as ações racionais
instrumentais e substantivas ao longo da história de uma organização sem fins lucrativos
maringaense.
A organização escolhida para o presente estudo é o Lar Escola da Criança de Maringá, uma
instituição sem fins lucrativos, que realiza atividades direcionadas para o desenvolvimento
educativo, humano e cultural de crianças e adolescentes.
Tendo iniciado suas atividades em 10 de maio de 1963 e atuando na cidade de Maringá até
os dias atuais, o Lar Escola da Criança, passou por diversas mudanças ao longo de sua
história que podem revelar alteração, reestruturação ou manutenção de aspectos que
6
interferem nos seus processos de gestão, na dinâmica organizacional e na relação entre os
participantes. Daí a justificativa para a nossa escolha.
De acordo com dados preliminares levantados a partir de uma pesquisa anterior realizada
na instituição (MORAIS et al, 2000) e também coletados no site do Lar Escola, a
organização em questão conta com a participação de funcionários e voluntários para
desenvolver suas atividades; possui o apoio da Prefeitura Municipal de Maringá (que
remunera os funcionários) e também mantém parceria com instituições e empresas. O Lar
Escola é uma das organizações sem fins lucrativos mais conhecidas na cidade, haja vista
ter conseguido manter suas atividades desde sua fundação e também por ter recebido o
Troféu Asas em Destaque (em 1998), que a premiou como a principal instituição sem fins
lucrativos de Maringá e o Prêmio Bem Eficiente
1
(em 1999 e 2003), um prêmio de âmbito
nacional concedido às principais cinqüenta organizações sem fins lucrativos do Brasil. Fatos
que repercutiram em toda a região.
Considerando essa temática, ou seja, a carência de estudos críticos acerca do Terceiro
Setor, esta pesquisa procura analisar os processos e ações organizacionais desenvolvidos
pelos membros do Lar Escola da Criança, buscando compreender os tipos de ação racional
que se manifestaram na entidade em questão, desde sua fundação, tendo como pano de
fundo a seguinte pergunta de pesquisa:
Como se manifestam as ações racionais instrumental e substantiva no Lar
Escola da Criança de Maringá ao longo de sua história?
7
1.2 OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS
A partir do problema proposto, esta pesquisa tem como objetivo geral compreender como se
manifestam as ações racionais instrumentais e substantivas, reveladas nos processos e
ações organizacionais desenvolvidos no Lar Escola da Criança de Maringá ao longo de sua
história. Assim, especificamente, busca-se:
¾ Descrever as ações e processos organizacionais estabelecidos no Lar
Escola da Criança de Maringá, desde sua fundação até os dias atuais;
¾ Descrever os impactos sofridos pelo Lar Escola da Criança, decorrentes
das possíveis mudanças e reestruturações enfrentadas ao longo de sua
história;
¾ Analisar as ações e processos organizacionais que permitam perceber a
existência da ação racional instrumental, no Lar Escola da Criança,
mediante sua contextualização histórica;
¾ Analisar as ações e processos organizacionais que permitam identificar a
existência da ação racional substantiva, no Lar Escola da Criança,
mediante sua contextualização histórica;
¾ Verificar, a partir desta análise, o tipo de ação racional existente e/ou
predominante ao longo de sua história.
1.3 JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA
Notadamente, percebe-se que a teoria administrativa foi articulada de forma a direcionar
suas atenções aos elementos relacionados ao processo de gestão de organizações
econômicas e órgãos públicos (RAMOS, 1989; REZENDE, 1984; SERVA, 1993). Por assim
1
O Prêmio Bem Eficiente é entregue anualmente para as 50 organizações sem fins lucrativos do Brasil
consideradas mais bem administradas pelo instituto Kanitz & Associados. Maiores informações acessar
8
estar direcionada, oferece uma visão restrita de homem, de organização e de sociedade. O
homem, da forma como se encontra representado nessa teoria, é apenas um "meio"; um
mero instrumento utilizado pela organização. Ainda segundo a teoria administrativa, o tipo
econômico de organização é supervalorizado em detrimento a outros diversos tipos de
organizações que hoje se manifestam no espaço social humano.
Essa visão no pensamento administrativo resulta, hoje, em hegemônica abordagem da
condição humana e do universo organizacional caracterizados, muitas vezes, pelo
aprisionamento teórico do homem às práticas e relações organizacionais desenvolvidas em
empresas econômicas tradicionais e órgãos públicos. Enquanto isso, se destaca cada vez
mais, o crescimento (quantitativo e qualitativo) de uma "nova" categorização de sistema
produtivo denominado por alguns autores de Terceiro Setor, sendo este formado por
organizações não-estatais e sem fins lucrativos.
O universo organizacional, portanto, mostra-se muito mais amplo que o espaço ocupado por
organizações econômicas e públicas. Nele também se encontram organizações nas quais
as práticas de gestão, os relacionamentos entre os participantes, e os valores centrais
diferem dos encontrados em ambientes econômicos ou governamentais. Eis uma das
principais razões para que a Teoria das Organizações incorpore em seu escopo de pesquisa
estas instituições e as relações que nelas se estabelecem. Considerando, ainda, as
limitações que a teoria administrativa impõe para aqueles que almejam delinear
organizações não-econômicas, ressalta-se aqui a importância de uma abordagem que
contemple os aspectos próprios do chamado Terceiro Setor.
Assim, apesar das recentes pesquisas realizadas em organizações sem fins lucrativos
apontarem para uma forma de gestão e participação distintas das encontradas nas
organizações citadas anteriormente, percebe-se, ainda, uma carência muito grande de
www.melhores.com.br.
9
estudos que auxiliem a compreender o fenômeno das organizações sem fins lucrativos, as
relações desenvolvidas por seus membros, como também o tipo de ação racional
predominante nessas entidades. Há, portanto, contribuições a serem dadas em termos de
estudo do Terceiro Setor e da análise das racionalidades manifestadas nesse espaço social.
10
2 INFLUÊNCIAS DAS MUDANÇAS SOCIAIS NO CAMPO ORGANIZACIONAL
Vive-se hoje em uma sociedade constituída por organizações. Como enfatiza Etzioni (1984,
p. 01), “nascemos em organizações, somos educados por organizações, e quase todos nós
passamos a vida a trabalhar para organizações”. Estas organizações constituem a trama
que compõe o tecido social da vida moderna, de modo que analisar as relações
estabelecidas no contexto organizacional possibilita, entre outras coisas, um melhor
entendimento das relações sociais.
Conforme mostram alguns autores (TRAGTEMBERG, 1980; ETZIONI, 1984; CLEGG, 1996;
HELOANI, 2000), questões inerentes à sociedade, como a contradição entre capital e
trabalho, as relações de poder e dominação, a ideologia, bem como as tentativas de
fortalecimento e reprodução do capital
2
, podem muito bem ser retratadas a partir da análise
organizacional e também da teoria administrativa.
Para Heloani (2000), as formas de exercício do poder nas organizações se sofisticam cada
vez mais e se orientam em busca de aceitação das regras ou normas das empresas por
parte do trabalhador. Tratam-se, deste modo, de formas inconscientes de poder,
denominadas pelo autor de “gestão da percepção e da subjetividade” (HELOANI, 2000, p.
105), consentidas pelo trabalhador levando a uma “dimensão psicológica de dominação”
(HELOANI, 2000, p. 94).
2
Cientistas sociais como Weber (1989, 1991) e Marx (1971) trataram de forma ampla e aprofundada tais
questões, que abordaremos de forma indireta, nos próximos tópicos. Neste momento, apresentamos apenas
algumas considerações desses autores sobre esses temas. Segundo Weber (1989, p.107), poder compreende
na “oportunidade existente dentro de uma relação social que permite a alguém impor a sua própria vontade
mesmo contra a resistência e independentemente da base na qual esta oportunidade se fundamenta”; e, por
dominação “entende-se a oportunidade de ter um comando de um dado conteúdo específico, obedecido por um
grupo de pessoas”. Em Marx (1971), encontra-se a base de discussão sobre a relação trabalho/capital, bem
como as tentativas de manutenção e reprodução do capital. Segundo ele, a realidade social deve ser concebida
como um “processo histórico”, desenvolvido fundamentalmente por meio das lutas de classe, estas articuladas a
partir da contradição entre capital e trabalho.
11
Propostas como a “ação comunicativa” de Habermas (1989), por exemplo, baseada em
interações comunicativas, no entendimento coletivo e ético através da linguagem, mostram-
se distantes das relações organizacionais, já que o campo organizacional tem se revelado,
na maioria das vezes, fértil para a manifestação de interesses particulares ou de grupos
específicos.
Como afirma Sachuk (2002, p.121), os meios de participação nas organizações “não
contemplam uma reflexão e uma argumentação clara, calcada na justiça, na verdade e na
veracidade, ou seja, agridem a dignidade humana pela ocultação dos verdadeiros objetivos
almejados por seus dirigentes”. Neste sentido, os interesses organizacionais são priorizados
e os indivíduos são tratados, muitas vezes, como meios pra alcançá-los.
Na mesma linha, Tragtemberg (1980), destaca que a Teoria Geral da Administração é
ideológica, pois reflete e reforça interesses socioeconômicos dominantes e, ao mesmo
tempo, busca minimizar as tensões entre capital e trabalho, numa tentativa de se
estabelecer o que ele chamou de “harmonia administrativa”. Neste sentido, se pode inferir
que compreender o contexto organizacional como reflexo da condição social, implica em
reconhecer que as transformações decorrentes de todo processo histórico-social influenciam
e são influenciadas pelas organizações.
Não há como ignorar, portanto, o fato de que as mudanças no mundo do trabalho
(BRIDGES, 1995; ZEBRAL FILHO, 1997; ANTUNES, 2001), a introdução de novos
discursos organizacionais (RODRIGUES, CARRIERI e LUZ, 2000), e o “surgimento” de
novos tipos de organizações (ALVES, 2002; SALAMON, 1998; TEODÓSIO, 2002; SERVA,
1993; FERNANDES, 1994), compõem hoje o retrato da nossa sociedade. Reconhecer a
força dessas alterações e o impacto produzido por elas mostra-se tão necessário como
refletir criticamente acerca dessa “nova” realidade, composta por novos discursos e novas
formas organizacionais.
12
Quanto às mutações ocorridas no mundo do trabalho, é importante destacar que, em vários
países, mas principalmente nos em desenvolvimento como o Brasil, as transformações nas
relações de trabalho, a diminuição do número de empregos formais e aumento dos
informais, os altos níveis de desemprego, as demissões em massa e, conseqüentemente, a
exclusão social, fazem parte do cotidiano das pessoas.
Tais transformações apontam para a urgência de debates críticos sobre o tema e,
principalmente de articulações que minimizem o problema. Como apontam alguns autores
(HELOANI, 2000; ANTUNES, 2001; SARSUR e CRUZ, 2001; CALDAS, 2000), seriam estes
um dos principais desafios sociais e, também, organizacionais da atualidade.
A reflexão crítica acerca das questões anteriormente relacionadas, no entanto, ocupa lugar
de destaque apenas entre sociólogos e cientistas políticos (ANTUNES, 2001; SADER e
GENTILLI, 1995; ANDERSON, 1995; ZEBRAL FILHO, 1997). No campo organizacional, a
exploração analítico/crítica e aprofundada sobre as transformações no mundo do trabalho,
tal como realizam Carrieri e Sarsur (2002), Sarsur e Cruz (2001) e Heloani (2000), é ainda
bastante tímida em relação a outras temáticas desenvolvidas no Brasil, tais como
empreendedorismo, estratégia, fusão e aquisição, competitividade, ócio criativo,
responsabilidade social e voluntariado. Termos estes que têm sido utilizados com grande
freqüência, não só no meio empresarial (aqui incluímos consultores de empresas,
administradores, gerentes e, ainda, funcionários de médio e baixo nível hierárquico) e
acadêmico (os Encontros Anuais da ANPAD – Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Administração - retratam essa preferência), mas também na sociedade de um
modo geral.
13
Do mesmo modo, o que se observa é que questões como as lutas de classe e direitos
sociais têm perdido cada vez mais espaço para os discursos
3
gerenciais pró-globalização,
competitividade, privatizações e empregabilidade. A exemplo disso, observa-se que tais
temas têm sido alvo de publicações diversas, não sendo difícil encontrar argumentações
semelhantes à de Lahós (2000)
4
, que tratam a globalização como um processo inevitável e
até extremante benéfico à sociedade ou, ainda, considerações parecidas com a de Bridges
(1995)
5
, que defendem a empregabilidade como pré-requisito fundamental para se ter
acesso ou manter o emprego num mercado altamente competitivo como o atual.
Como revelam Rodrigues, Carrieri e Luz (2000) e Carrieri e Sarsur (2002), os discursos
organizacionais são construídos por grupos sociais, que reelaboram ou até criam novos
índices, temas e vocábulos, buscando induzir, muitas vezes, a um novo debate sobre as
causas e também conseqüências das transformações sociais. Assim, diante dos temas e
conceitos bastante em voga, torna-se “fundamental” ao indivíduo adequar-se às ditas
necessidades sugeridas nesses discursos.
Com base nas considerações expostas, o que se percebe é um contexto social carente de
ações transformadoras, mas, contraditoriamente a essa eminente necessidade, não é isso
que ocorre, pois se opta pela resignação, de modo a aceitar o discurso das novas
possibilidades. Dessa forma, não se busca questionar, mas sim reforçar as novas formas
de gestão do trabalho (que, na maioria das vezes, transfere ao trabalhador a
responsabilidade de sucesso pessoal e também organizacional), os novos arranjos
organizacionais (com objetivo de tornar as organizações mais competitivas) e o
3
O termo é aqui empregado no sentido de “conjunto de temas (...) que materializam valores, normas, carências,
desejos, explicações, justificativas e racionalizações” (FIORIN apud CARRIERI e SANSUR, 2002, p. 4).
4
Segundo tal autor, “a globalização veio para ficar. O desafio para países com o Brasil é saber aproveitar as
oportunidades que ela cria e reduzir as desigualdades sociais” (LAHÓS, 2000, p. 135).
5
Conforme salienta Bridges (1995, p. 64), “...agora a estabilidade reside na pessoa, e não na posição (...) no
futuro, sua estabilidade de emprego dependerá de você desenvolver três características com trabalhador e
pessoa: (1) empregabilidade: sua estabilidade virá primeiro acima de tudo de você ser uma perspectiva atraente
14
redimensionamento no espaço social/organizacional (também caracterizado pelo
“surgimento” do Terceiro Setor).
O redimensionamento social/organizacional que se refere aqui é a questão do surgimento e
crescimento do chamado Terceiro Setor, tema que tem, cada vez mais recebido atenção,
tanto na área acadêmica como fora dela.
No âmbito acadêmico, em grande parte das abordagens realizadas, o Terceiro Setor é
tratado como um novo espaço social/organizacional - formado por organizações/instituições
sem fins lucrativos ou, como preferem outros autores, organizações não governamentais
(ONGs) - que “surgem” para atender aos interesses de grupos sociais distintos. Trata-se de
um fenômeno relativamente recente, mas que tem ocupado lugar de destaque no debate
organizacional, juntamente com os novos discursos gerenciais (alguns dos quais
mencionados anteriormente).
Alguns estudos sobre o tema (TENÓRIO, 1997; FISCHER e FALCONER, 1998; TEIXEIRA,
2002; MONTAÑO, 2003; ALVES, 2002) revelam que a partir da década de 1990, essas
novas formas organizacionais ganharam grande visibilidade no cenário brasileiro. Como
destacam Fischer e Falconer (1998, p.12), “nos últimos quinze anos assistiu-se ao
incremento quantitativo do universo das entidades sem fins lucrativos no país,
acompanhado da ampliação dos tipos de organização que se habilitaram a classificarem-se
nessa categoria”. Na mídia ou em locais antes reservados apenas para discutir questões
relacionadas à administração de organizações econômicas e estatais, o tema conquistou e
tem conquistado espaço e interessados em debatê-lo. Um exemplo disso se revela nos
ENANPADs (Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
para os empregadores, e essa atividade envolve ter as capacidades e atitudes que o empregador precisa no
momento...”
15
Administração). No evento em questão, ano a ano, é possível observar o crescimento de
publicações sobre Terceiro Setor.
Em decorrência do crescimento das organizações sem fins lucrativos, o campo da
administração tem se mobilizado para compreender melhor as características destas novas
formas organizacionais e analisar seu papel na sociedade. Tem-se observado que, nos
últimos anos, vários grupos de estudos sobre o tema foram formados em algumas das
principais universidades e faculdades brasileiras
6
, sendo crescente também o número de
publicações e pesquisas que tentam identificar, descrever e analisar essa nova esfera
organizacional, bem como suscitar discussões acerca do tema.
Os apontamentos bastante recorrentes nos estudos sobre o Terceiro Setor são: o
crescimento e a diversificação das organizações sem fins lucrativos (VIEIRA, 2001;
ROESCH, 2002; FERNANDES, 1994; SALAMON, 1998) as mudanças organizacionais - de
gestão e atuação - enfrentadas por elas, tendo em vista as transformações
sociais/político/econômicas (FALCONER, 1999; TEODÓSIO; 2001; TENÓRIO, 1997; DINIZ
e MATTOS, 2002; CARRION, 2000), a relação entre essas organizações e o Estado
(MEIRELES e EL-AOUAR, 2002; SOUZA, 1999; BRANDÃO, SILVA e GUADAGNI, 1998;
BRESSER PEREIRA e GRAU, 1999; JUNQUEIRA, 2001; FERNANDES, 1994; FISCHER e
FALCONER, 1998; FRANÇA FILHO, 2002); as tentativas de classificação das organizações
(BARROS, 2002; TAVARES, 2000); o voluntariado (TEODÓSIO, 2002; PINHEIRO, 2002;
GARAY, 2001; MASCARENHAS e ZAMBALDI, 2002), a discussão sobre a necessidade de
profissionalização (DRUCKER, 1994; BARROS, 1999; TENÓRIO, 1997; CARRION, 2000;
6
Tais como o CEATS – Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da FIA
(Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP – Universidade de São Paulo); o NIPETS –
Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos sobre o Terceiro Setor da UNISINOS (Universidade do Vale do Rio
dos Sinos); e CETS – Centro de Estudos do Terceiro da Fundação Getúlio Vargas - FGV; o NIPETS – Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos sobre o Terceiro Setor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande
do Sul); o NEPOL – Núcleo de Estudos sobre Poder e Organizações Locais da UFBA (Universidade Federal da
Bahia); e o Núcleo Interdisciplinar sobre Gestão em Organizações não Empresariais da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais).
16
NAMUS e DOBBS, 2000) e também o tipo de racionalidade manifestada nessas
organizações (SERVA, 1993; ALVES, 2002; MARÇON e ESCRIVÃO FILHO; 2001).
Contudo, o que mais chama a atenção nas pesquisas realizadas sobre o tema é a existência
de variadas interpretações deste espaço social. Variedade esta que conduz a diferentes
maneiras de defini-lo, como também compreender sua origem e suas características,
configurando-se no que Teixeira (2002, p.106) denominou de “campo impreciso e
indefinido”.
Como salienta Barros (2002, p. 1), “os estudos sobre as ONGs ainda são limitados e
carecem de consistência, demonstrando a necessidade enfática de que seja feita uma
investigação mais profunda do fenômeno pela comunidade acadêmica”. Exemplo disso é a
versatilidade no uso de termos para falar do mesmo fenômeno, ou seja, alguns autores
utilizam o termo “organizações privadas da sociedade civil”, “organizações públicas não
estatais”, outros preferem “instituição sem fins lucrativos”, há os que optam por “organização
privada da sociedade civil de interesse público” e ainda os que dão preferência pela sigla
ONG (entre outras variadas terminologias), para falar do conjunto de organizações que
fazem parte Terceiro Setor.
Ao que parece, intencionalmente ou não, o Terceiro Setor tem ganhado bastante visibilidade
sem ao menos atingir o mínimo consenso quanto à sua conceituação e abrangência. Nas
palavras de Teodósio (2002, p. 1):
...o Terceiro Setor se transformou numa daquelas palavras que explicam
tudo e não explicam nada, carregando muitas contradições em si. Uma
delas, talvez a mais importante, é que o Terceiro Setor virou sinônimo de
modernização da ação social ao mesmo tempo que o que mais se discute é
justamente a necessidade de modernização gerencial do próprio Terceiro
Setor.
17
Com base nessas considerações, na presente pesquisa empreenderemos a análise tendo
como foco de atenção uma, entre as variadas “novas” formas organizacionais que compõem
o chamado Terceiro Setor. Mais precisamente, será discutida a manifestação das ações
racionais em uma organização sem fins lucrativos. Contudo, não é possível discutir esse
tema sem antes considerá-lo como parte de um processo social mais amplo.
É neste sentido que a contextualização da origem do Terceiro Setor, bem como a
apresentação das diferentes e divergentes conceituações do termo tornam-se fundamentais
para se discutir as instituições sem fins lucrativos, bem como as ações racionais
instrumentais e substantivas que se manifestam nesses espaços. Assim, para atender aos
propósitos deste estudo, apresentam-se, num primeiro momento, considerações acerca de
concepções sobre Estado e sociedade civil. Há que se ressaltar, contudo, que dada a
complexidade que envolve esses temas, as considerações aqui apresentadas não esgotam
a discussão sobre o assunto.
2.1 AS CONFIGURAÇÕES DA RELAÇÃO ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL PARA O
SURGIMENTO DO TERCEIRO SETOR
Não há como discutir sobre o Terceiro Setor sem antes apresentar, mesmo que de forma
sucinta, algumas considerações acerca da configuração social que permitiu ou impulsionou
o surgimento de tal fenômeno. Assim, numa tentativa de refletir sobre as transformações
nas concepções de Estado, bem como acerca de sua relação com o mercado e a
sociedade civil, procura-se, aqui resgatar o conceito de Estado do Bem Estar Social e
descrever as transformações (ou redesenho, como preferem alguns autores) que
remodelaram a estrutura social atual.
18
Primeiramente, deve-se destacar que a cada momento histórico, principalmente em
momentos de crises, atores sociais pertencentes à classe dominante
7
procuram apresentar
ao conjunto da sociedade alternativas ditas de interesse geral quando, na verdade, buscam
apenas reforçar o processo de acumulação de poder econômico e político deste grupo
dominante. Tal consideração deve permear toda reflexão decorrente das abordagens
expostas neste e nos demais capítulos desta dissertação. Dito isto, remete-se ao século XIX
para discutir sobre algumas transformações que marcaram época.
Segundo Rodrigues (1995), no século XIX o argumento ideológico pró-capitalismo
retratava-o com um ideal de justiça distributiva. É neste cenário que surge o argumento da
“mão invisível”, formulado por Adam Smith (principal representante do liberalismo
econômico). O capitalismo, nesta perspectiva, era descrito como um sistema ideal em
termos de racionalidade e eficiência, em que o mercado era auto-regulável e ao Estado
cabia apenas cumprir os contratos e garantir a propriedade privada, fornecendo infra-
estrutura para o desenvolvimento do capitalismo.
De acordo com proposta de Adam Smith, o Estado só deveria interferir no meio sócio-
econômico quando uma situação realmente exigisse, sendo o mercado independente. Deste
modo, as formas de trabalho e de produção seriam articuladas a partir dos interesses e
necessidades do mercado. Tais idéias, como se observa na literatura sobre o tema,
influenciaram significativamente tal período, caracterizando, assim, a Economia Liberal
Clássica, que segundo Souza (2002, p. 2), requer:
1. A inviolabilidade da propriedade privada e o individualismo econômico;
2. A liberdade de comércio e de produção (função precípua do governo
deveria ser a manutenção da ordem, a preservação da propriedade
7
Utiliza-se no texto o termo “classe dominante” de acordo com o sentido defendido por Marx e apresentado por
Aron (1966). Segundo Aron (1966, p. 18), “em todos seu estudos históricos, Marx distinguiu várias classes,
embora no nível teórico afirmasse que a sociedade capitalista tende a polarizar-se em duas classes, o
proletariado e a burguesia. Da mesma forma, em seus estudos históricos, reconheceu e assinalou o papel
desempenhado pelo Estado, pelos partidos e mesmo pelos homens individualmente, ao passo que a teoria do
Estado é apenas um instrumento a serviço da classe economicamente dominante”.
19
privada, não sendo, pois, concebível ou tolerável a sua interferência no
mundo privado dos negócios);
3. A obediência às leis naturais da economia; a liberdade de contrato; a
livre concorrência e o livre câmbio.
Como é possível perceber, o mercado, nesta perspectiva, apresenta-se livre e autônomo,
favorecendo o fortalecimento do capitalismo e, em contraste, restringindo (praticamente
anulando, na verdade) a atuação do Estado. No entanto, já no final do século XIX, a
concorrência desenfreada gerada pela economia liberal, provocou uma significativa
concentração de poder nas grandes empresas, como aponta Rodrigues (1995, p. 4) ao
destacar que “a concorrência sem qualquer regulamentação passou a tornar-se muito cara
e aleatória para os grandes conglomerados”. Para tal autor, fica claro que a concentração de
poder decisório em empresas de grande porte aumentou sobremaneira a “desorganização”
do mercado, uma vez que reduziu a capacidade de ajuste que pudesse ter, resultando no
aumento da instabilidade do capitalismo.
A partir deste contexto, o chamado mercado auto-ajustável iniciou a dar sinais de
esgotamento, haja vista que seus argumentos ideológicos começavam a se enfraquecer.
Era cada vez mais evidente, como revelam alguns autores (MEIRELES e EL-AOUAR, 2002;
RODRIGUES, 1995; ANDERSON, 2003), que a própria manutenção do capitalismo corria
sérios riscos se a desordem do mercado não fosse contida. Assim, dada a instabilidade
cada vez maior do capitalismo, os críticos ao liberalismo começaram a se manifestar,
defendendo uma nova reordenação do mercado.
Segundo Anderson (2003), a crise se intensificou culminando na depressão de 1929.
Parecia que, diante desse contexto, o mercado independente e auto-ajustável tinha perdido
sua força, o que exigia uma nova reconfiguração e interdependência entre Estado e
mercado.
Em alguns estudos que abordam o tema, tais como o de Souza (2002) e Rodrigues (1995),
destaca-se que o economista John Maynard Keynes – Lorde Keynes (considerado como o
20
principal crítico da teoria liberal clássica), atacando o status do mercado e advogando uma
incisiva intervenção estatal na economia, consegue romper com a idéia do capitalismo auto-
regulador. Deste modo, a teoria keynesiana ecoa como uma resposta para uma sociedade
em crise, procurando estabelecer de que modo caberia ao Estado a função de regular o
nível de emprego até o pleno emprego, através do aumento da demanda provocado pelos
gastos públicos. Para Keynes:
À medida que uma sociedade ia ficando mais rica, maior será o seu nível de
poupança e maiores deverão ser os investimentos para que o equilíbrio
ocorresse com o pleno emprego. Dessa forma, os gastos públicos
aumentarão a renda nacional, o investimento (em conseqüência), gerando
ondas de crescimento por toda a economia (KEYNES apud SOUZA 2002,
p.3).
Assim, como aponta Covre (1986), a partir da teoria keynesiana algumas mudanças
relevantes puderam ser observadas. Segundo tal autora:
(...) os estados capitalistas avançados passaram a caracterizar-se por uma
nova relação Estado e Sociedade, e Estado e Mercado. São os estados
que intervêm nas relações sociais, para regular a atividade econômica e o
trabalho e, ao mesmo tempo, garantem alguns dos direitos civis e sociais do
trabalhador assalariado (COVRE, 1986, p. 171).
Neste sentido, a obra de Keynes apresentou-se como base sustentadora do Estado do Bem
Estar Social ou, como preferem alguns autores, Welfare State, influenciando o debate e
abordagens econômicas que auxiliaram no desenvolvimento de políticas públicas por muitas
décadas.
Deve-se salientar, entretanto, que toda alternativa social tem seu início, ascensão, desgaste
e crise. Com o Welfare State não foi diferente. Se por um lado, a teoria keynesiana
caracterizava-se pela organização, produção e comercialização de produtos e serviços
coletivos públicos ou privados regulados pelo Estado, por outro, esse traço intervencionista
do Estado orientou-o a desenvolver instrumentos burocráticos que se tornaram cada vez
mais crescentes e onerosos. Como observaram Meireles e El-Aouar (2002) “o Estado
providência foi hábil em visualizar a vasta gama de desigualdades existentes, mas ignorou o
21
fato de estas serem infinitas e que abarcá-las implicaria custos de manutenção
insuportáveis”.
Com revelam alguns autores (JUNQUEIRA, 2001; ANDERSON, 2003), a partir de 1970, o
modelo econômico keynesiano, de característica protecionista, começou a se esgotar em
decorrência da sobrecarga de responsabilidades sociais, tornando alvo fácil para os que já
articulavam uma redefinição do papel do Estado.
Neste sentido, o Estado de Bem Estar Social, que se apresentou como oportuna alternativa
em um determinado momento de crise, após o período de recuperação econômica e
mudanças positivas no campo social, começou a ser alvo de críticas. Uma dessas críticas
foi feita por Habermas (apud JUNQUEIRA, 2001) ao argumentar que o Welfare State,
caracterizou-se pela ambição de oferecer ao homem condições de vida emancipada e
digna, no entanto, são resultou em transformação nas condições de trabalho.
De forma mais contundente, outros críticos também se manifestaram contra o Estado
regulador, como nos atenta Anderson (2003). Segundo ele, um grupo de pesquisadores,
liderados por Friederich Hayek formou uma espécie de franco maçonaria neoliberal (termo
utilizado pelo autor) que criticava veementemente o Welfare State e, em contrapartida,
defendiam a preparação de bases para “um outro tipo de capitalismo, duro e livre de regras
para o futuro” (ANDERSON, 2003, p. 10).
Hayek posicionava-se radicalmente contra as intervenções estatais, afirmando que “toda
limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado devem ser vistas como uma
ameaça letal à liberdade, não somente econômica, mas também política” (HAYEK apud
ANDERSON, 2003, p.10). Para ele, o Estado de Bem Estar aniquilava a liberdade dos
cidadãos, o dinamismo da concorrência, enfim, a prosperidade social.
22
Apesar das críticas, foi apenas em 1973 que se evidenciou a crise do keynesianismo.
Segundo Anderson (2003, p.10), “a chegada da grande crise do modelo econômico do pós-
guerra, em 1973, quando todo mundo capitalista avançado caiu em uma longa e profunda
recessão, combinando, pela primeira vez, baixas taxas de crescimento com altas taxas de
inflação, mudou tudo”. Assim, o modelo de Keynes começou a desmantelar-se devido, entre
outros motivos subjacentes, à forte ação do Estado na economia, gerando enfraquecimento
da capacidade financeira estatal, crise fiscal, instabilidade, diminuição do ritmo de
crescimento econômico, entre outras conseqüências.
Como destaca Junqueira (2001, p. 2), “é a partir destas circunstâncias que a
descentralização surge como uma alternativa de mudança, como um instrumento para
racionalizar e dar eficácia ao aparato estatal das políticas sociais”. Para os defensores desta
descentralização, a transferência ou redistribuição de poder acabaria facilitando o acesso da
população às vias de transformação política e social, atendendo assim a demanda da
sociedade. Tal descentralização, de acordo com a literatura, se dá por meio de uma nova
concepção da relação entre Estado, mercado e sociedade, fundamentada nas idéias
neoliberais. Essa nova reestruturação do capital - o neoliberalismo - surge, portanto, como
reação teórica e política ao Estado de Bem Estar Social, apoiado por um meticuloso trabalho
político e ideológico, visando o reordenamento da estrutura social.
Vale destacar aqui, o comentário de Montaño (2003) acerca do capitalismo. Para ele:
O sistema capitalista tem demonstrado, historicamente, uma notável
capacidade de se refazer como a ‘fênix’, de ‘corrigir’, de ‘neutralizar’
(temporariamente) suas crises, mediante mecanismos (econômicos,
políticos, ideológicos, legais ou não), que interceptam e anulam
transitoriamente os efeitos da lei geral de tendência decrescente da taxa de
lucro. Dessa forma, no contexto de crise, o capital reage num duplo
movimento, como forma de enfrentar a crise e ampliar os níveis de lucro
esperado, o que conforma uma ‘nova estratégia’ hegemônica (MONTAÑO,
2003, p. 26).
23
Como é possível perceber, trata-se novamente de uma “necessidade” de reestruturação do
capital, no momento em questão, baseada na prioridade de um Estado mínimo e um
mercado forte, como principal regulador das relações sociais.
Segundo Anderson (2003), o neoliberalismo caracterizou-se pela fusão, difícil e
contraditória, de aspectos liberais e conservadores, de modo que o Estado deveria manter-
se o suficientemente forte para coibir os movimentos sindicais, mas o suficientemente fraco
no que diz respeito aos gastos com questões sociais e nas intervenções econômicas. Para
tal autor, as metas do neoliberalismo seriam:
¾ A estabilidade monetária, cujo alcance só seria possível por meio de uma
disciplina orçamentária (com a contenção de gastos com questões
sociais) e também da restauração “natural” da taxa de desemprego (o
autor explica tratar-se de criação de mão de obra reserva para a quebra
dos sindicatos);
¾ As reformas fiscais, com o objetivo de incentivar os agentes econômicos
(o que significaria reduções de impostos sobre os rendimentos mais altos
e sobre as rendas);
¾ Uma nova e saudável desigualdade econômica (grifo nosso), que
dinamizasse as economias avançadas e estimulasse o livre mercado.
Nesta mesma perspectiva, Théret (1994, p. 52) defende que “a coerência lógica do
neoliberalismo teórico, necessária a seu poder de persuasão, é assegurada a partir de três
princípios básicos” que, na versão mais radical da doutrina, são:
¾ A liberdade até o limite de seu abuso;
¾ A desigualdade até o limite tolerável;
¾ A flexibilidade até os limites da insegurança.
24
Ainda segundo Théret (1994), é a boa articulação desses três princípios que irão garantir
plena eficiência econômica de mercado, levando ao crescimento otimizado da produção e
ao progresso social.
A partir dessas considerações é possível notar que as idéias neoliberais se aproximam, e
muito, do capitalismo do século XIX criticado por Keynes, já que ambos estão calcados da
idéias de liberdade e que os homens devem ser considerados livres e desiguais por
natureza. Logo, os defensores do neoliberalismo advogam que tal reestruturação permite a
todo sujeito fazer escolhas racionais livres e ao mesmo tempo comprometidas com a
coletividade, haja vista que ele não estará submetido a intervenções do Estado ou de
grupos, mas exclusivamente de seus interesses.
De acordo com Anderson (2003), é neste contexto que surgem os primeiros Estados
neoliberalistas, quando Inglaterra e Estados Unidos elegem seus principais representantes,
Margareth Tatcher e Ronald Reagan, respectivamente, cujos governos foram
fundamentados em programas neoliberais, e por esse motivo transformaram-se em grandes
representantes deste movimento.
Como revela Souza (2003), as políticas advindas da reestruturação neoliberal obtiveram
resultados tanto positivos quanto negativos, mas é claro que a ênfase foi dada apenas aos
bons resultados do neoliberalismo (queda na taxa de inflação, significativo crescimento da
taxa de lucros das empresas) e estrategicamente foram pouco retratadas algumas
conseqüências bastante pontuais, tais como o aumento significativo das diferenças sociais,
a precarização das condições de trabalho e da mão de obra, a perda de direitos trabalhistas,
o crescimento do desemprego, o aumento da miséria. Aí que se revela o forte apelo
ideológico, pois a idéia de resgate da liberdade, da cidadania, do crescimento social e
econômico, preconizados pelos neoliberalistas, vai mais se propagando do que, de fato, se
concretizando.
25
À revelia das críticas, o neoliberalismo foi rapidamente ganhando hegemonia. O movimento
difundiu-se na Europa Ocidental, na América do Norte e, ganhando dimensão cada vez
maior como tendência ideológica, chegou na América Latina e no Brasil a partir de 1980
8
.
Para concluir esta discussão inicial, é relevante destacar que, apesar do neoliberalismo ser
ainda um processo em andamento, inacabado, alguns autores já apresentam sua análise.
Souza (2003), por exemplo, aponta para uma “pseudovitória”, já que a retórica tem se
mostrado mais evidente do que a prática. Anderson (2003), por sua vez, afirma que
economicamente este projeto fracassou, já que não conseguiu alcançar nenhum de seus
objetivos de retomada de altas taxas de crescimento estáveis e a revitalização do
capitalismo avançado; socialmente, conquistou muitos dos seus objetivos, criando
sociedades acentuadamente mais desiguais; contudo, foi política e ideologicamente que o
neoliberalismo alcançou seu maior êxito, difundindo a simples idéia que não há outra
alternativa, a não ser se ajustar às novas regras.
É nesse sentido que o capitalismo tem dado provas de que, a cada crise, se renova, se
reconstrói, se tornando, a cada reestruturação, surpreendentemente mais hegemônico.
Ignorar sua interferência nas relações estabelecidas entre Estado, Mercado e Sociedade
seria, no mínimo, ingenuidade. Contudo, nós, pretensos cidadãos
9
, muitas vezes
reforçamos o domínio do capital por não reconhecermos suas sutilezas e armadilhas
ideológicas.
Considerando o exposto acima é que se pode compreender um pouco melhor a gene do
contexto social atual, marcado por uma nova reestruturação do papel do Estado, das
organizações e da sociedade. Segundo Bresser Pereira e Grau (1999, p. 20), “para viabilizar
8
Maiores e mais aprofundados esclarecimentos acerca de todo impacto deste movimento nos diversos paises
que ele ocorre não é o propósito central desta pesquisa, por isso indica-se Sader e Gentili (2003) e Théret
(1994).
26
o desenvolvimento de círculos virtuosos entre Estado, mercado e sociedade é preciso hoje
revisar os modos de definir e realizar os interesses públicos”.
Apesar de ainda não haver um consenso entre pesquisadores sobre como será essa nova
configuração, alguns deles (BRESSER PEREIRA e GRAU, 1999; SOUZA, 2003;
JUNQUEIRA, 2001; BRANDÃO, SILVA e GUADAGNI, 1998; MONTAÑO, 2003) destacam a
descentralização do Estado como estratégia central desse redimensionamento, o que
representa, conseqüentemente, a delegação de funções para as outras esferas sociais.
Para Junqueira (2001, p. 5), por exemplo, “a descentralização, como um processo político-
administrativo de transferência de poder, viabiliza-se, sobretudo, através dos
reordenamentos do aparato estatal e no partilhamento com outras instâncias de poder, que
não se restringem ao Estado”. Segundo tal autor, essa reestruturação do aparato estatal
tem como objetivo aumento da eficácia das ações das políticas sociais. Na mesma linha,
Bresser Pereira e Grau (1999, p.16), ressaltam que “cresce a importância de uma forma
nem privada nem estatal de executar os serviços sociais garantidos pelo Estado”, daí a
emergência, segundo eles, de uma reforma estatal que contemple essa necessidade.
Por outro lado, Montaño (2003), numa perspectiva crítica, denomina de estratégia de
“desresponsabilização” estatal o que aqueles autores chamam de descentralização estatal.
Para ele, o afastamento do Estado das questões sociais, apresenta-se como uma estratégia
funcional aos interesses neoliberais, que transfere à população a responsabilidade de
prestar assistência a si mesma, através do discurso de participação social.
Independentemente dos verdadeiros motivos que levam à descentralização do Estado, é
fato que no contexto social atual são evidentes os reflexos desta transformação, seja a
9
O termo - pretensos cidadãos - é utilizado aqui numa alusão à cidadania que, de fato, não temos. Uma análise
desta questão é apresentada por Covre (1986).
27
partir das alterações no mercado de trabalho, como nas relações organizacionais e sociais.
As crescentes privatizações, fusões e aquisições, terceirizações, bem como a introdução do
discurso pró-empreendedorismo, empregabilidade e responsabilidade social são alguns
indícios da busca pela eficiência (social, organizacional e individual) defendida na reforma
estatal.
É neste contexto que cresce e se fortalece, de acordo com alguns autores (BRESSER
PEREIRA e GRAU, 1999; MEIRELES e EL-AOUAR, 2003; FERNANDES, 1994; TENÓRIO,
1997; SOUZA, 2003; JUNQUEIRA, 2001) a importância de um espaço social que assuma a
responsabilidade de articular as políticas sociais face ao reordenamento estatal. Conforme
afirmam Bresser Pereira e Grau (1999, p.16):
a globalização exige novas modalidades, mais eficientes, de administração
pública, cresce a importância de uma forma nem privada nem estatal de
executar os serviços sociais garantidos pelo Estado: as organizações de
serviço público não-estatais, operando na área de oferta de serviços de
educação, saúde e cultura com o financiamento do Estado.
Assim, à proposta descrita acima, aliam-se as considerações de Fernandes (1997), que
acredita na configuração de um setor que estaria fora do aparato estatal (Primeiro Setor,
segundo o autor), mesmo atendendo às necessidades públicas, e ao mesmo tempo
desvinculado do âmbito privado (considerado como Segundo Setor), por não visar
lucratividade. Dessa forma, chamou-se de Terceiro Setor o conjunto de organizações sem
fins lucrativos e não-governamentais.
Não se trata, entretanto, do surgimento de uma nova esfera social específica como
salientam autores tais como Junqueira (2001), haja vista que, como revela Salamon (1998)
pode se tratar simplesmente na redescoberta de um fenômeno já presente na sociedade,
mas que por alguma razão, foi muito tempo negligenciado, à revelia do seu crescimento.
28
2.1.1 Os estudos sobre o Terceiro Setor
O tema Terceiro Setor tem sido bastante comentado nos últimos anos. É crescente o
número de autores e pesquisadores que se dedicam ao assunto, como também significativo
é o espaço que a mídia tem dispensado para o debate sobre a origem, formação,
características e desafios deste “setor” da sociedade.
Entende-se, entretanto que a ampla discussão sobre o tema não tem sido acompanhada
pela merecida análise crítica, pois, como se verá adiante, existe uma abordagem dominante
sobre o tema, que muitas vezes acaba por negligenciar aspectos históricos relevantes no
que diz respeito ao papel deste na sociedade.
Há diferentes explicações para o “surgimento” do Terceiro Setor na sociedade (DRUCKER,
1994; FISHER e FALCONER, 1998; SALAMON, 1998; SERVA, 1997; BRANDÃO, SILVA e
GUADAGNI, 1998; TENÓRIO, 1997). Contudo, a maioria dos estudos advoga que a
formação desse setor ocorreu, principalmente, devido à “incapacidade” do Estado moderno
em prover algumas necessidades da sociedade civil. Um dos estudos que fornece essa
explicação é o realizado por Fischer e Falconer (1997). Para eles, o Terceiro Setor deriva do
“relacionamento entre Estado e sociedade civil, em que o primeiro não centraliza em si
todas as responsabilidades e os papéis necessários ao desenvolvimento social” (FISCHER
e FALCONER, 1997, p. 3).
Desse modo, segundo tais estudos, a sociedade civil, por meio de mobilizações e
movimentos sociais, se organiza e assume parte do papel do Estado, desenvolvendo, fora
do âmbito do mercado, ações que atendam a variadas necessidades sociais. Assim,
argumenta-se que no espaço social ocupado pela sociedade civil, entre o Estado e o
29
mercado, formam-se as organizações sem fins lucrativos que, juntas, compõem o chamado
Terceiro Setor - uma promissora esfera organizacional definida por Salamon (1998, p.5)
como “imponente ‘rede de organizações privadas autônomas’, não voltadas à distribuição de
lucros para acionistas ou diretores, atendendo propósitos públicos, embora localizada à
margem do aparelho formal do Estado”. Fazem parte dessa rede as organizações
conhecidas como voluntárias, comunitárias, não-governamentais (ONGs), privadas sem fins
lucrativos, públicas não-estatais e até mesmo substantivas, como denomina Serva (1997).
Por outro lado, alguns pesquisadores como Montaño (2002) apresentam uma abordagem
crítica acerca da origem e desenvolvimento do setor em que se encontram as organizações
sem fins lucrativos. Para ele, o Terceiro Setor seria mais uma, entre tantas “artimanhas
ideológicas do pensamento neoliberal para substituir o conceito gramsciano de sociedade
civil”.
Independentemente dos argumentos teóricos que cercam o tema, a emergência de um
Terceiro Setor expressivo, no que diz respeito às suas práticas e metodologias de gestão é
a grande responsável pelo crescente interesse de publicações, voltadas a explicar esse
“fenômeno”. Nesse sentido, entender a lógica de funcionamento dessas instituições passa a
ser um desafio não apenas intelectual e também de ordem prática, haja vista que a
compreensão das peculiaridades destas organizações propicia o desenvolvimento de um
modelo de gestão mais coerente com sua heterogeneidade.
Partindo dessa idéia, argumenta-se que qualquer tentativa de interpretação dos aspectos
práticos que envolvem as organizações sem fins lucrativos deve ser antecedida pela busca
de entendimento sobre as possíveis razões para a origem e desenvolvimento do Terceiro
Setor. Assim, tendo em vista tais considerações, procura-se, na seqüência, apresentar
algumas das características mais recorrentes nos estudos nacionais sobre o tema.
30
Os recentes estudos realizados em organizações pertencentes ao Terceiro Setor (SERVA,
1996 e 1997; FISCHER e FALCONER, 1997; SALAMON, 1998; VAN BELLEN, 1997;
MONTAÑO, 2003; GARY, 2001; TEOSÓDIO; 2002; BARROS, 2002; ROESCH, 2002;
FERNANDES, 1994) revelam uma forma de gestão e participação que se distingue
acentuadamente das encontradas nas organizações voltadas para o mercado ou reguladas
pelo Estado. A literatura sobre o tema revela que, mesmo obedecendo a alguns critérios
formais, as instituições sem fins lucrativos se destacam e chamam a atenção dos
pesquisadores devido aos seus aspectos mais marcantes, como democracia, flexibilidade,
autonomia, envolvimento e comunicação entre os participantes.
De acordo com Serva (1993, p.42), “estas organizações em geral, diferem bastante dos
modelos estruturais e das práticas empregadas pelas burocracias”. Ainda, reportando-se às
organizações públicas não estatais, o autor afirma que “existe uma preocupação com o
efetivo resgate da condição humana. Autenticidade, respeito à individualidade, dignidade,
solidariedade, afetividade, são alguns dos aspectos mais marcantes” (SERVA, 1993, p.38).
Por variadas razões, dentre elas a própria crise do Estado, algumas pesquisas apontam
para o fato de haver um rápido crescimento quantitativo dessas entidades, acompanhado de
uma diversificação surpreendente (SERVA,1993; FISCHER e FALCONER, 1998).
Encontram-se, por exemplo, organizações que atendem desde necessidades fundamentais
da sociedade, como saúde, educação e cultura, até as que direcionam suas atenções para
atividades ligadas a assuntos alternativos, como esoterismo e macrobiótica.
Percebe-se também, de acordo com algumas pesquisas realizadas junto a essas
organizações (TEODÓSIO, 2002; PINHEIRO, 2002; MASCARENHAS e ZAMBALDI, 2002;
GARAY, 2001), a importância da atuação voluntária. Os voluntários se envolvem e,
juntamente com os outros indivíduos participantes (entre eles funcionários), colaboram para
o alcance dos objetivos organizacionais.
31
De acordo com Pinheiro (2002, p.120), por exemplo, “o voluntário é toda pessoa ou
organização que, motivada pelos valores de participação e solidariedade, disponibiliza seu
tempo, vontade e talento, de maneira espontânea e não remunerada, para causas de
interesse social e comunitário”. Para esse autor, o trabalho voluntário deve objetivar o
estabelecimento de uma ação duradoura, de longo prazo, e não esporádica. É preciso
comprometer-se com a causa da identidade de quem vai atuar e buscar a realização
pessoal como principal recompensa pela ação.
No entanto, nota-se que em alguns casos, a ação voluntária apresenta-se de cunho
utilitarista, desvirtuando-se do seu real propósito. Muitas empresas de recrutamento e
seleção de pessoal, atualmente, têm privilegiado currículos de pessoas que de alguma
forma desenvolvem ou já desenvolveram alguma atividade voluntária. Nesses casos, o
voluntariado é utilizado como elemento alavancador de projeção ou promoção profissional,
ficando clara a descaracterização do ato em si. Como destaca Teodósio (2002), o
voluntariado tem adquirido característica de modismo gerencial, “principalmente devido ao
crescente volume de empresas privadas que lançam projetos de incentivo ao voluntariado
por parte de seus empregados, o chamado ‘Voluntariado Corporativo’” (TEODÓSIO, 2002,
p. 02).
A importância de se classificar as organizações que compõem o Terceiro Setor também é
um assunto bastante recorrente nas pesquisas sobre o tema. De acordo com os autores que
abordam essa questão (BARROS, 2002; ALVES, 2002; ROECSH, 2002; TAVARES, 2000)
um dos aspectos que mais dificulta o estudo empírico das organizações sem fins lucrativos
é o fato destas organizações exercerem papéis variados, dificultando a análise comparativa
de suas características.
A primeira tentativa de se classificar as organizações sem fins lucrativos, segundo a
literatura (BARROS, 2002; ALVES, 2002; ROECSH, 2002; TAVARES, 2000) foi elaborada
32
por uma equipe de pesquisadores do Johns Hopkins Comparative Nonprofit Sector Project,
coordenada por Salamon e Anheier.
De acordo com Alves (2002, p. 8), a base de classificação utilizada por aqueles
pesquisadores foi “uma definição estrutural/operacional, a partir da qual puderam identificar
as organizações do Terceiro Setor que lhes interessava estudar”. Assim, pela definição
estrutural/operacional, compõem o conjunto de organizações sem fins lucrativos aquelas
que apresentam, em maior ou menor grau, as características (ALVES, 2002, p. 08):
¾ Formalização;
¾ Natureza privada;
¾ Não distribuição de lucros;
¾ Auto-gestão;
¾ Participação voluntária.
Já no Brasil, algumas propostas têm sido sugeridas, mas ainda não há um estudo
consolidado. Aqui, a título de exemplo, são apresentadas duas, a de Barros (2002) e
Tavares (2000).
Segundo Barros (2002), boa parte das teorizações sobre o Terceiro Setor não reflete toda
sua a especificidade e diversidade, pelo contrário, transferem, com alguma adaptação,
instrumentos, técnicas, modelos e práticas desenvolvidos para atender às necessidades de
organizações econômicas tradicionais. Pensando nisso, o autor elabora uma tipologia
comparada das organizações não-governamentais, que busca estabelecer uma proximidade
ou distanciamento dessas organizações, de uma lógica estatal e empresarial tradicional.
Com base nesta tipologia, seria possível identificar as variadas ONGs como pertencentes de
um (ou mais) tipo principal denominado de: “organização sem fins lucrativos; organização
voluntária; organização de ajuda mútua e organização social” (BARROS, 2002, p. 3).
33
De forma semelhante, Tavares (2000), afirma que é freqüente o desencontro em identificar e
categorizar os diferentes segmentos de entidades sem fins lucrativos no Brasil. Para tal
autora, é possível, agrupar boa parte dessas organizações em quatro categorias,
relativamente, distintas (TAVARES, 2000, p.2):
Agências financiadoras, ou intermediárias na captação de recursos, as
quais existem para canalizar recursos para as agências que prestam
serviços. Como exemplos nacionais temos o Instituto Ayrton Senna;
Organizações de serviço aos membros, as quais existem principalmente
para promover bens ou serviços as seus integrantes ao invés da sociedade
ou comunidade como um todo. Todas as associações profissionais,
sindicatos, cooperativas entram nessa categoria;
Organizações de benefício público, as quais existem fundamentalmente
para prover bens ou serviços para o público externo – os que precisam de
auxílio ou contribuindo para o bem estar da sociedade. Exemplos dessa
categoria são as instituições de ensino e pesquisa, instituições culturais,
hospitais, asilos e creches comunitários, centros de recuperação para
portadores de necessidades especiais e o movimento social em geral;
Congregações e instituições religiosas, as quais buscam propósitos
espirituais (Igreja Universal do Reino de Deus, Seara Bendita).
Vale ressaltar que essa classificação não é excludente, haja vista que diversas
organizações pertencem a mais de uma categoria. Deste modo, Tavares (2000) sugere
que, na maior parte dos casos, a atuação dessas organizações têm o mesmo efeito que
uma política pública, quer seja pelo público atendido, quer pelo tipo de trabalho
desenvolvido.
Como é possível notar, a preocupação com o tema tem se intensificado de tal maneira
nunca encontrada na história destas instituições e tem mostrado como um tópico emergente
dos estudos organizacionais. Um exemplo disso são as iniciativas (já descritas
anteriormente) que surgiram no meio acadêmico dedicadas ao estudo do Terceiro Setor e à
sua gestão. Cabe observar, contudo, que apesar das diversas investigações científicas
sobre o fenômeno das organizações não governamentais, percebe-se ainda uma carência
de teorias que auxiliem os estudiosos organizacionais a compreender este fenômeno, bem
como que possibilitem a operacionalização dessas entidades.
34
É fato que, por não terem um arcabouço teórico e prático próprio para a gestão,
organizações sem fins lucrativos incorporam o grande arsenal composto pela teoria
administrativa de empresas privadas. Isto se reflete nas várias tentativas que os próprios
agentes destas organizações têm implementado no intuito de encontrar soluções
organizativas. Deste modo, um ponto crítico envolve o Terceiro Setor: parece que a ciência
das organizações não tem acompanhado, com merecida atenção, o processo de
desenvolvimento das instituições que o compõem. Parafraseando Ramos (1989), temos
uma teoria administrativa que insiste em ditar, indistintamente, um mesmo modelo de
abordagem organizacional, modelo este baseado na ação racional instrumental. A literatura
mostra, entretanto, que as organizações sem fins lucrativos são guiadas também por
critérios de ação racional substantiva, ligados à promoção social e individual (SERVA, 1993;
MORAIS et al., 2000; MARÇON e ESCRIVÃO FILHO, 2001). Como salienta Alves (2002),
trata-se de organizações “híbridas”, que mesclam racionalidades.
Ao que parece, um dos principais desafios do Terceiro Setor é lidar constantemente com a
relação entre essas duas ações racionais: a instrumental e a substantiva. Deste modo, para
uma compreensão melhor desta questão, torna-se necessário, neste momento, uma breve
exposição das ações racionais instrumental e substantiva nas organizações.
2.2 AS DIFERENTES AÇÕES RACIONAIS
A decisão de se tomar as ações racionais instrumental e substantiva como base de análise
das práticas e ações desenvolvidas no Terceiro Setor está ligada ao fato das organizações
sem fins lucrativos serem caracterizadas, em alguns estudos (SERVA, 1993; MARÇON e
ESCRIVÃO FILHO, 2001; MORAIS et al. 2000), como espaço de manifestação de ações
que promovam resgate da condição humana, tanto em nível social com também individual,
mas também apresentarem algumas características (como a adoção de metodologias de
gestão que visam a eficiência) que indicam práticas fortemente baseadas na racionalidade
35
instrumental, principalmente diante das pressões de um contexto social que reforçam a idéia
de competitividade, como condição para sua sobrevivência. Assim, para se compreender
melhor o Terceiro Setor mostra-se fundamental compreender a manifestação destas
racionalidades, bem como a relação entre elas.
De acordo com Ramos (1989), a racionalidade sempre ocupou lugar como fundamento
orientador de toda prática humana. Segundo ele, o termo resguarda seu sentido original na
sociedade antiga, sendo entendido como “força ativa da psique humana que habilita o
indivíduo a distinguir entre o bem e o mal, entre o conhecimento falso e o verdadeiro e,
assim, a ordenar sua vida pessoal e social” (RAMOS,1989, p.2-3). Contudo, o autor deixa
evidente a mudança sofrida no significado original do termo, ao alertar que na sociedade
moderna a racionalidade foi revestida enganosamente de um significado utilitarista. Deste
modo, para Ramos (1989) o entendimento atual de razão, que supervaloriza os princípios
funcionais e econômicos em detrimento dos valores pessoais, deve ser revisto.
Há que se ressaltar, contudo, que a revisão sobre ação racional instrumental e substantiva
não pode ser desenvolvida sem sua análise partir de Weber (1991). Foi ele, como afirma
Alves (2002), quem introduziu o termo ao tentar explicar as transformações da sociedade,
partido do pressuposto de que racionalidade é dependente da vontade do sujeito.
Antes de discutir racionalidade, Weber (1991, p. 5) destaca a importância de se entender o
termo sem separá-lo do contexto da ação social, que para ele é toda “ação na qual o sentido
atribuído pelo seu sujeito - ou sujeitos – se refere à conduta de outros, orientando-se por
essa para o seu desenvolvimento”. Assim, essas ações baseadas na motivação,
apresentam-se das seguintes formas:
1. Racional motivada pelos fins (racionalidade instrumental ou formal): apresenta-se
determinada por uma expectativa de resultados ou fins calculados;
36
2. Racional motivada pelos valores: esta se mostra determinada pela crença em valores
– éticos, estéticos, religiosos ou sob qualquer outra forma que se manifestem –
próprios e absolutos de uma conduta, sem relação algumas com o resultado;
3. Afetiva: especialmente emotiva, determinada por afetos e estados sentimentais do
momento. Nesse caso, se fala em ação social afetiva, motivada pela racionalidade
afetiva;
4. Tradicional: determinada por um costume arraigado. Nesse caso, se fala em ação
social tradicional, motivada pela racionalidade tradicional (WEBER, 1991).
Enriquez (1996, p.22) ressalta que a racionalidade instrumental foi a forma de razão que
predominou no mundo ocidental após o surgimento do capitalismo. De acordo com ele, esta
forma de racionalidade fez prevalecer a noção de que “todos deveriam trabalhar para o
aumento da riqueza, e onde tudo é passível de racionalização, quantificação, de
materialismo”.
Manhein (apud GUERREIRO RAMOS, 1981, p. 6), por sua vez, define a racionalidade
motivada por valores (ou substantiva) como “um ato de pensamento que revela percepções
inteligentes dada inter-relações de acontecimentos numa situação determinada”. Segundo
tal autor, essa racionalidade constitui a base da vida humana ética e responsável.
Considerando que cada um dos tipos de ação social definidos por Weber (1991) tem suas
peculiaridades, mostra-se necessário descrever suas características para uma possível
identificação do tipo de ação racional predominante na teoria administrativa e nas práticas
organizacionais. Tal identificação é fundamental para uma compreensão das bases que
fundamentam a gestão das organizações orientadas para o mercado como também das
organizações do Terceiro Setor.
37
A ação social puramente tradicional, por exemplo, se configura como uma resposta
esperada e padronizada a estímulos corriqueiros e habituais, de modo que quanto maior for
a institucionalização do contexto em que a ação é originada, mais intenso será o caráter
tradicional da ação. Como afirma Weber (1991, p.23), “neste tipo de ação social não há
espaço para a reflexão: a ação ocorre porque tem que ocorrer, porque é daquela forma que
se age desde tempos remotos, faz-se porque a tradição manda fazer”.
Para Weber (1991), a ação afetiva, é comumente confundida com a ação
valorativa/substantiva, pois, de forma semelhante, ambas não visam resultado. Contudo, ele
as distingue, ressaltando que a primeira é motivada por emoção espontânea, sem qualquer
reflexão e a segunda apresenta-se dependente de elaboração consciente.
Ainda de acordo com Weber (1991), no caso da ação social regida pela racionalidade
instrumental, como já mencionado, o indivíduo é orientado pelos fins da ação; assim, os
meios para se atingir um resultado específico são planejados e ponderados, bem como
todas as conseqüências possíveis de sua ação social. Para Weber (1991), nesta
racionalidade as decisões são baseadas no cálculo utilitário, na relação custo/benefício
entre fins, meios e conseqüências. Nesta perspectiva, qualquer característica de valor
extrínseco é desprezada.
Deve-se ressaltar que essas ações racionais devem ser compreendidas como tipos
conceituais ideais ou puros (RAMOS, 1989), haja vista que dificilmente a ação social é
regida por um único tipo de racionalidade (na realidade, o que se encontra são tipos
mesclados dessas racionalidades). Tratam-se, portanto, de construções teóricas para
efeitos didáticos ou, para orientar os métodos a serem adotados para cada tipo de pesquisa
social.
38
Em consonância com Ramos (1989), entende-se que a racionalidade sempre ocupou
espaço como fundamento ordenador da ação humana, contudo, seria inevitável admitir que
nos dias atuais apenas uma delas – a racionalidade instrumental - seja reconhecida como
principal motivação de todas as ações sociais.
Com o desenvolvimento e consolidação da sociedade capitalista, a disseminação da
racionalidade instrumental se mostrou triunfante e por esse motivo, muitos autores a
consideram como a pressuposto básico das relações humanas. Neste contexto, como
aponta Ramos (1989), ocorre um reducionismo do sentido original de razão, fazendo com
que a racionalidade instrumental prevaleça.
2.2.1 Teoria Administrativa e Racionalidade
De acordo com a literatura organizacional (PRESTES MOTTA,1991; CHIAVENATO, 1993),
o desenvolvimento da teoria administrativa ocorreu associado à origem do sistema
capitalista. Para esses autores, foi a partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, que
teóricos e práticos iniciaram a articulação de um campo de conhecimento que atendesse
aos interesses de um mercado econômico em ascensão.
As relações sociais começaram a ser regidas por necessidades econômicas e utilitaristas,
revelando a supremacia de um novo paradigma, baseado no cálculo material de
conseqüências. Partindo deste contexto, a Administração e suas escolas de pensamento
privilegiaram uma noção de razão motivada pelos fins. Percebe-se, assim, que seja na
abordagem realizada pela Administração Científica e pela Escola Clássica ou na perspectiva
desenvolvida através da Escola de Relações Humanas, as questões valorativas do indivíduo
são preteridas à eficiência e eficácia econômica. Como observou Alves (2002), o tema
racionalidade nas organizações foi tratado sob a perspectiva instrumental pelos teóricos
39
mais conhecidos. Assim, podemos considerar que a Administração, bem como suas
formulações teóricas e práticas foram conduzidas pela égide de uma única racionalidade.
Na sociedade atual e, sobretudo, nas organizações, as pessoas, cada vez mais
aprisionadas ao seu ambiente de trabalho, despersonalizam-se e sujeitam-se às regras, que
levam à produção de bens e serviços, mesmo que isto tenha que contrariar seus próprios
valores. Logo, é possível conjecturar que o desenvolvimento da Teoria das Organizações
não incorporou e ainda não incorpora toda a diversidade e complexidade organizacional
contemporânea, limitando-se ao universo das organizações empresariais. Fato que é
questionado por Burrell e Morgan (1979), quando argumentam que teoria administrativa vem
sendo desafiada por um conjunto de elementos que, embora pertencentes ao cenário
contemporâneo, são estranhos à concepção de organização formal e indicam um caminho
razoável para o rompimento com o paradigma utilitarista.
Outro fator de bastante relevância, no que diz respeito aos tipos de ação racional e teoria
organizacional é a questão de não se distinguir entre as diferentes faces da racionalidade,
ou seja, entre o significado do substantivo e do instrumental. Esta ausência de distinção faz
prevalecer a idéia de que só existe a organização formal, tornando obscuro o fato de que
este tipo de organização é um produto e uma exigência do sistema capitalista de produção.
Em consonância com essa idéia, Ramos (1989, p.121) destaca que “a organização
econômica formal não pode ser considerada um paradigma, segundo o qual devam ser
estudadas todas as formas de organizações, passadas, presentes e emergentes”.
Segundo Ramos (1989), numa oposição à generalização dos princípios econômicos para
todas as atividades humanas, o que hoje se denomina de racional, possui um sentido
extremamente funcionalista de visão da realidade, fazendo com que outros elementos
importantes da realidade social sejam, ou mal compreendidos, ou desconsiderados. Para
40
ele, as teorias e articulações administrativas pouco evoluíram, no que tange à questão da
racionalidade, do mesmo modo que o conceito continuou reduzido à esfera econômica.
Na tentativa de formular uma alternativa que contemplasse o sentido amplo (e original) de
racionalidade, Ramos (1989), em sua obra A nova ciência das organizações critica a
supremacia da razão instrumental às outras dimensões da vida humana e propõe a teoria
substantiva da vida humana associada. De acordo com ele, o homem é um ser complexo e
possui necessidades complexas, que vão além dos limites da materialidade:
Uma teoria substantiva da vida humana associada é algo que existe há
muito tempo e seus elementos sistemáticos podem ser encontrados nos
trabalhos dos pensadores de todos os tempos, passados e presentes,
harmonizados ao significado que o senso comum atribui à razão, embora
nenhum deles tenha jamais empregado a expressão razão substantiva
(RAMOS, 1989, p. 27).
É neste sentido que o autor defende que todo indivíduo deve ordenar sua vida pessoal e
social também pela racionalidade substantiva, orientada pelos valores e convicções, sendo
indiferente aos seus resultados. Segundo Ramos (1989), somente através da manifestação
deste tipo de racionalidade é possível atestar a transcendência do ser humano, sua
qualidade de criatura dotada de razão, e por este motivo, resguardar sua liberdade.
Percebe-se, assim, que a racionalidade substantiva, é muito diferente daquela que busca o
sucesso individual desprendido de julgamento ético, apenas pautado no cálculo utilitário e
no êxito econômico.
Muitos pesquisadores desenvolveram estudos acerca da racionalidade substantiva nas
organizações (VAN BELLEN, 1997; ALVES, 2002; DORNELES E GELLAGNELO, 2003;
MARÇON e ESCRIVÃO FILHO, 2001; ALVES, 2002; SERVA, 1993 e 1997). Dentre eles,
destaca-se aqui Serva (1993;1997) que em um de seus trabalhos, apresenta algumas das
principais características das ações motivadas pela razão substantiva. Segundo ele, os
elementos que compreendem esse tipo de ação são:
41
A autorealização: processo de concretização do potencial inato do indivíduo,
complementados pela satisfação;
Entendimento: ações pelas quais se estabelecem acordos e consensos
racionais, mediadas pela comunicação livre, e que coordenam atividades
comuns sob a defesa da responsabilidade e satisfação sociais;
Julgamento ético: deliberação baseada em juízos de valor (bom, mau,
verdadeiro, falso, certo, errado, etc.), que se processa através do debate
racional sobre as pretensões da validez emitidas pelos indivíduos nas
interações;
Autenticidade: integridade, honestidade e franqueza dos indivíduos nas
interações;
Valores emancipatórios: aqui se destacam os valores de mudança e
aperfeiçoamento do social nas direções do bem-estar coletivo, da
solidariedade, do respeito à individualidade, da liberdade e do
comprometimento, presentes nos indivíduos e no contexto normativo do
grupo;
Autonomia: condição plena dos indivíduos para poderem agir e
expressarem-se livremente nas interações (SERVA,1997, p.22).
Em convergência com as argumentações desenvolvidas por Serva (1999), acredita-se que
se mostra relevante um redirecionamento da teoria e prática administrativa, no que diz
respeito à abordagem substantiva da vida humana associada. É fundamental o
reconhecimento de que a racionalidade instrumental não pode ser ampliada para todas
ações humanas e espaços sociais.
Considerando, portanto, o referencial teórico aqui exposto e também o fato de algumas
pesquisas revelarem que no Terceiro Setor, ações racionais instrumentais e substantivas
mostram-se presentes de forma muito mais concomitante do que em organizações do
Primeiro e do Segundo Setor, abordar a manifestação destas racionalidades e os fatores
que influenciam sua manifestação na trajetória histórica de uma organização sem fins
lucrativos, é o que se busca com a presente pesquisa.
42
3 METODOLOGIA
3.1 PERGUNTAS DE PESQUISA
Nesta dissertação, pretende-se responder às seguintes perguntas de pesquisa:
¾ Como ocorreram os processos e ações organizacionais no Lar Escola da
Criança de Maringá, desde sua fundação até os dias atuais?
¾ Quais os impactos sofridos pelo Lar Escola da Criança, decorrentes das
mudanças e reestruturações enfrentadas ao longo de sua história?
¾ Ao longo de sua história, há ações e processos organizacionais que
permitam identificar a existência da ação racional instrumental?
¾ Ao longo de sua história, há as ações e processos organizacionais que
permitam identificar a existência da ação racional substantiva?
¾ Ao longo de sua história, é possível verificar se há um tipo de ação
racional (instrumental ou substantiva) predominante?
3.2 ASPECTOS METODOLOGICOS
Para os direcionamentos metodológicos aqui apresentados utilizou-se como base a
classificação proposta por Cooper e Schindler (1995). Desse modo, este estudo inicia-se
com uma revisão bibliográfica sobre questões pertinentes ao tema proposto, destacando-se
basicamente, as obras que abordam a relação entre Estado e sociedade civil e os tipos de
ação racional (em especial, a instrumental e a substantiva). Busca-se, também, em estudos
recentes sobre o Terceiro Setor, esclarecimentos sobre sua formação e característica.
Trata-se de uma pesquisa eminentemente qualitativa em que, como destacam Godoy (1995)
e Neves (1996), visa compreender o fenômeno social no contexto em que ele ocorre e a
43
partir da perspectiva das pessoas envolvidas. Godoy (1995), reforça esses argumentos
destacando que, além da ausência do uso de instrumentos estatísticos, as abordagens
qualitativas são caracterizadas por: admitirem o ambiente natural como fonte direta de
dados e o pesquisador como instrumento fundamental; possuírem caráter descritivo; e
também pelo fato do investigador ter como preocupação o significado que as pessoas dão
às coisas e à sua vida. Desta forma, a opção por tal método justifica-se por se considerar o
fenômeno investigado complexo e passível de ser analisado de forma interpretativa.
Com a presente pesquisa se pretende tanto descrever as características da população em
estudo, como também, discutir conceitos ainda não suficientemente abordados, como
racionalidade instrumental, racionalidade substantiva e o fenômeno do Terceiro Setor. Neste
sentido, pode ser classificada como descritiva e exploratória, tendo como base os
apontamentos de Cervo e Bervian (2002) e Triviños (1987) de que estudo descritivo é
aquele em que o pesquisador observa, registra e analisa os fenômenos sem manipulá-los,
como também as contribuições de Gil (1991) e Cervo e Bervian (2002) de que as
investigações exploratórias proporcionam maior familiaridade com o fenômeno, de modo a
torná-lo mais explícito.
Dentre as diversas formas que pode assumir uma pesquisa descritiva, optou-se aqui pelo
estudo de caso que, de acordo com Godoy (1995) e Triviños (1987), tem como propósito
analisar exaustivamente uma determinada unidade social (que pode ser um ambiente, um
fenômeno, um sujeito, ou uma situação em particular). Tal escolha se deve ao fato desse
tipo de pesquisa ser bastante indicado quando há pouca ou nenhuma possibilidade de se
controlar os fenômenos estudados ou eventos analisados, exigindo um exaustivo trabalho
de campo. Como revela Gil (1991), o estudo de caso permite que se mostre a variada gama
de dimensões contidas em uma determinada situação, considerando o caráter complexo e
multifacetado da realidade com que se quer interagir.
44
Deve-se destacar, contudo, a ponderação realizada por Triviños (1987) de que os resultados
de um estudo de caso são válidos apenas para o caso em estudo, pois não é possível
generalizar os resultados obtidos e atribuí-os a outros fenômenos. Esta é, segundo Gil
(1991), sua principal limitação ou, como contrariamente salienta Triviños (1987), seu grande
valor, já que pode oferecer uma compreensão aprofundada e singular do fenômeno
analisado.
No que diz respeito à delimitação deste estudo, objeto de análise desta pesquisa é o Lar
Escola da Criança - uma organização sem fins lucrativos que atua na cidade de Maringá –
Estado do Paraná, desde 1963. A escolha desse caso, em particular, justifica-se pelo fato da
instituição em questão ser uma das organizações sem fins lucrativos mais tradicionais da
cidade de Maringá e também por ter alcançado um grande reconhecimento da população
regional, com a repercussão por ter conquistado alguns prêmios de ampla divulgação. Um
desses prêmios foi em nível municipal - o Troféu Asas em Destaque – recebido em 1998,
pela destacada participação do Lar Escola dentro do seu segmento na sociedade
maringaense. Já o segundo prêmio, de amplitude nacional – o Prêmio Bem Eficiente
10
(concedido pelo instituto Kanitz & Associados) foi conquistado duas vezes (em 1998 e
2003).
A partir destas informações preliminares, parte-se do pressuposto de que o Lar Escola tenha
sofrido algumas mudanças ao longo de sua história, principalmente em seus processos
organizacionais. Deste modo, acredita-se que o estudo histórico desta organização,
considerando as mudanças ocorridas desde sua fundação até hoje, pode revelar algumas
características comuns às organizações pertencentes ao Terceiro Setor, em especial a
manifestação das ações racionais instrumental e substantiva, bem como apontar aspectos
peculiares da mesma.
45
A investigação referida tem como finalidade principal procurar, ao longo da história do Lar
Escola da Criança, apreender os processos de gestão e as ações desenvolvidas pelos seus
membros, caracterizando um estudo de caso histórico-organizacional (TRIVIÑOS, 1987).
Nesse sentido, foi realizada uma análise intensiva das características organizacionais e dos
grupos que participam ou participaram da instituição investigada, procurando identificar a
presença ou a ausência de certos elementos (no caso, da ação racional instrumental e da
ação racional substantiva), deste a fundação da organização até os dias atuais.
Assim, considerando os objetivos estabelecidos, foi realizado o levantamento preliminar de
informações pertinentes à instituição investigada, com o propósito de revelar algumas de
suas características, tais como:
¾ Histórico;
¾ Área de atuação;
¾ Número de participantes;
¾ Função desempenhada pelos participantes;
¾ Estrutura organizacional;
¾ Orientação filosófica;
¾ Aspectos legais e institucionais;
¾ Relações estabelecidas entre os participantes;
¾ Autonomia em relação às atividades desenvolvidas pelos membros;
¾ Principais limitações; e
¾ Perspectiva de atuação.
Como esses e os demais dados foram coletados, será esclarecido a seguir.
10
De acordo com o site www.melhores.com.br , “o objetivo do Prêmio Bem Eficiente é prestar justa homenagem
às entidades do Brasil, divulgando sua eficiência e seriedade a fim de atrair maior atenção e empenho do setor
46
3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA
De acordo com Cervo e Bervian (2002, p. 75), população refere-se ao “conjunto de pessoas,
de animais ou de objetos que representa uma totalidade de indivíduos que possuam as
mesmas características definidas para um estudo” e amostragem é considerada “uma parte
representativa da população, selecionada segundo critérios que garantam sua
representatividade”.
Com base nas definições acima, a população desse estudo foi compreendida pela totalidade
de participantes do Lar Escola da Criança de Maringá e a amostra constituída
intencionalmente por quinze participantes e ex-participantes da instituição – a presidente
atual, seis funcionários, duas ex-funcionárias (e atualmente voluntárias), cinco ex-
presidentes e o responsável pela fundação – extraídos da população, com base no critério
de terem vivenciado os principais momentos de mudança do Lar Escola da Criança, ao
longo de sua história.
Segundo Minayo (1996), diferentemente de um trabalho quantitativo, onde a ênfase está na
representatividade numérica, em um trabalho qualitativo a preocupação do pesquisador está
muito mais voltada para o aprofundamento e para a busca de compreensão do fenômeno
sob estudo a partir das percepções de um determinado grupo social. Sobre a escolha da
amostra, a autora ressalta que “seu critério, portanto, não é numérico. Podemos considerar
que uma amostra ideal é aquela capaz de refletir a totalidade nas suas múltiplas dimensões”
(MINAYO, 1996, p. 102).
privado à causa social”. Para maiores detalhes da informação consultar o site.
47
Dentre várias sugestões, a autora destaca ser necessário “definir claramente o grupo social
mais relevante para as entrevistas e para a observação” e, ao “mesmo tempo privilegiar os
sujeitos sociais que detêm os atributos que o investigador pretende conhecer” (MINAYO,
1996, p. 102). A intencionalidade da amostra, nesta pesquisa, conforma-se, portanto, com
os objetivos pretendidos na dissertação. Por isso, teve-se como critério básico de inclusão
na amostragem os sujeitos – dirigentes, ex-dirigentes, responsáveis pela fundação,
funcionários, ex-funcionários - que vivenciaram a história do Lar Escola da Criança, desde a
sua fundação até os dias atuais.
Assim, com base nas argumentações expostas, optou-se, neste estudo, por uma
amostragem intencional, na qual os indivíduos investigados foram selecionados pela técnica
snowball, ou bola de neve (BORGAN e BIKLEN, 1994). Trata-se, de acordo com tais autores
de uma técnica em que cada entrevistado sugere o próximo conforme o interesse
manifestado pela pesquisadora. Ainda segundo eles, partindo do primeiro contato-chave,
cada novo contato é feito com base na informação obtida junto aos contatos anteriores,
logo, cada indivíduo contatado indica outro, que por sua vez indica outro, e assim
sucessivamente. Este processo encerra-se apenas quando se percebe a saturação teórica
dos dados obtidos, ou seja, a coleta encerra-se à medida que as informações colhidas não
acrescentam novos dados, apenas se repetem.
Dessa forma, seguindo a sugestão dos autores citados, a investigação com os sujeitos
iniciou-se com o contato com a Irmã Cecília Ferraza (a atual presidente do Lar Escola da
Criança de Maringá e que atua na organização desde 1997), que indicou, conforme os
critérios e interesses por nós manifestados, alguns nomes de participantes e ex-
participantes, estes por sua vez indicaram outros que também foram procurados.
Mostra-se importante destacar que, apesar de não se conseguir encontrar todos os
indivíduos citados (alguns já falecidos, outros não se conseguiu identificar o endereço,
48
telefone ou e-mail para se estabelecer contato), a amostra, composta por quinze
participantes e ex-participantes da organização, encerrou-se apenas quando os relatos
começaram a se repetir.
No decorrer da pesquisa foi possível perceber pontos positivos e negativos, em relação à
adoção da técnica snowball. Por um lado, os contatos realizados por intermédio de outra
pessoa facilitaram nossa aproximação com os pesquisados, já que, na maioria das vezes,
quem indicava acabava apresentando o colega. Por outro lado, essa forma de estabelecer
contatos torna-se um pouco atrelada às relações entre essas pessoas, pois se notou grande
a possibilidade de que as indicações tenham sido baseadas nas afinidades entre os que
indicam e os que eram indicados.
3.4 COLETA DE DADOS
As primeiras informações acerca do Lar Escola da Criança de Maringá foram obtidas
através de uma pesquisa anterior (MORAIS et al, 2000). Naquele momento, muitas
questões chamaram atenção, mas como foco de pesquisa era outro (a análise era a atuação
voluntária), não se explorou muito sobre a organização em si e seus funcionários. A idéia
ficou latente por alguns anos e a autora desta dissertação decidiu se reaproximar da
organização para desenvolver esse estudo.
A reaproximação iniciou-se em junho de 2004, através do contacto com a atual presidente
da organização – Irmã Cecília Ferraza. O fato dela se lembrar da realização da pesquisa
anterior dispensou a necessidade de apresentar à instituição um pedido de autorização para
realização deste estudo, contudo foi necessário expor seus objetivos.
O contato manteve-se esporádico até final de julho, quando o trabalho de coleta de dados
iniciou-se efetivamente. A partir desta fase, as escolhas metodológicas começaram a se
49
evidenciar, revelando um pouco das inclinações preferências da pesquisadora, como
também as formas de abordagem exigidas na análise do fenômeno social em questão. A
seguir serão apresentadas algumas destas escolhas metodológicas.
Como destaca Gil (1993), Triviños (1987) e Minayo (1996), a coleta de dados pode ser
realizada através de vários instrumentos, tais como observação, entrevista, questionário e
análise documental. Nesta pesquisa, os dados foram do tipo primário, obtidos através de
fontes primárias, constituídas pelos próprios participantes da organização, e secundários,
provenientes de fontes secundárias como documentos disponíveis na instituição para
consulta.
Os dados primários foram coletados através de observação participante e não participante,
bem como, de entrevistas semi-estruturadas presenciais e à distância (por fax e e-mail), já
que em alguns casos não foi possível a realização das entrevistas face a face, seja por
opção do pesquisado ou pela dificuldade imposta pela distância (algumas das pessoas que
seriam entrevistadas moram no Rio Grande do Sul).
Na observação participante (bastante utilizada na Antropologia Social), o investigador, além
de se inserir no universo pesquisado, também se envolve ativamente no cotidiano do grupo
estudado, no seu ambiente natural, interagindo com os eventos pesquisados (SERVA e
JAIME JUNIOR, 1995). Assim, o pesquisador adquire um papel social frente ao fenômeno
que pesquisa à medida que, através de um contato direto, freqüente e prolongado com a
organização e seus participantes, se coloca na posição dos indivíduos investigados. Daí a
importância de um bom entrosamento e, principalmente, da confiança entre observador e
observado.
No caso desta investigação, a observação participante mostrou-se a base relevante para se
compreender como se manifestam os processos organizacionais, as tomadas de decisões
50
e, também, a comunicação e relacionamentos estabelecidos entre os participantes que
atuam na organização. A observação participante também auxiliou no reconhecimento da
existência (ou não) de algum tipo de controle, normas e regras na entidade.
Esse tipo de observação foi realizado através de visitas semanais (de, em média, quatro
horas cada) ao Lar Escola da Criança, iniciadas no começo do mês de julho de 2004 e
finalizadas no final de agosto do mesmo ano. Foi possível vivenciar as experiências dos
participantes da organização, seja acompanhando e participando com funcionários e alunos
da instituição de suas atividades corriqueiras, como também de situações mais especificas,
tal como reuniões, palestras e atividades educacionais.
Vale destacar aqui, a boa recepção que nos foi dada por parte da administração, dos
funcionários e também por parte das crianças e adolescentes atendidos. Na maioria das
vezes não se percebeu resistência à aproximação, pelo contrário, houve até convite para
participar dos projetos desenvolvidos por eles.
Já no caso da observação não participante, conforme salienta Godoy (1995, p. 27),
“baseado nos objetivos da pesquisa e num roteiro de observação, o investigador procura ver
e registrar o máximo de ocorrência que interessam ao seu trabalho”. Assim, nesta
investigação se fez uso de um diário de campo (ou de pesquisa, como preferem alguns
autores) para anotar os fatos relacionados aos interesses desta pesquisa. Conforme sugere
Minayo (1996), todas as informações, com exceção das obtidas através das entrevistas,
foram ali registradas. Sejam as conversas informais, comportamento dos participantes,
cerimônias, gestos, expressões, eventos, reuniões, entre outros aspectos relacionados com
os objetivos desta dissertação.
Há que se ressaltar, que o uso do diário de pesquisa auxiliou muito o presente estudo,
principalmente para as anotações relacionadas ao cotidiano dos participantes da
51
organização analisada, no que se refere à comunicação e relação entre os membros que
atuam da instituição. Esse instrumento se revelou útil também no momento que antecedeu a
seleção da amostra, pois as anotações indicavam quais eram, de fato, os participantes e ex-
participantes que poderiam fornecer informações oportunas para o presente estudo.
Quanto às técnicas de entrevistas, Honnignann (apud MINAYO, 1993) ressalta que, tendo
por base a forma como se estrutura uma entrevista, pode-se classificá-la em alguns tipos,
tais como: sondagem de opinião, entrevista aberta, entrevista não diretiva centrada ou
entrevista focalizada e entrevista semi-estruturada. Nesta investigação foi utilizada
entrevista semi-estruturada.
De acordo com Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada parte de alguns
questionamentos básicos, apoiados por teorias que interessam à pesquisa e que, na medida
que o entrevistador recebe respostas, surgem outras perguntas. Para tal autor, as
entrevistas podem ser realizadas, se necessário for, mais de uma vez, com o mesmo
entrevistado. Nessa linha, Gil (1993) chama a atenção para o fato de que a entrevista semi-
estruturada é guiada por uma relação de questões de interesse, tal como um roteiro que o
investigador vai explorando ao decorrer do seu desenvolvimento.
A escolha pela entrevista semi-estruturada nesta pesquisa justifica-se pelo fato deste tipo
ser o que melhor atende aos objetivos propostos, já que reúne características importantes
que consideram a participação do sujeito como um dos elementos principais para a
compreensão do fenômeno analisado.
Deste modo, realizou-se entrevistas semi-estruturadas (que foram registradas por um
gravador) com sete participantes (atual presidente e seis funcionários) e três ex-
participantes (uma ex-presidente e duas ex-funcionárias-atuais voluntárias) da organização
para investigar a percepção destes, quanto à existência de hierarquias e normas, aos
valores e objetivos organizacionais, às manifestações de poder, à existência de mecanismos
52
de controle, à comunicação e relação entre os membros, aos conflitos, à satisfação
individual e ao que pensam sobre a organização (no caso de ex-participantes, nos períodos
em que cada um atuou). Todas as entrevistas foram pré-agendadas e, para os
entrevistados, foi entregue um pedido de autorização para a gravação da entrevista, no qual
apresentava-se os propósitos do estudo (ver anexo 1).
Para Minayo (1996), o uso de um roteiro de entrevista é fundamental para a conversa entre
pesquisador e pesquisado. Segundo ela, “visando apreender o ponto de vista dos atores
sociais previstos nos objetivos da pesquisa, o roteiro contém poucas questões (...), ele deve
ser o facilitador de abertura, de ampliação e de aprofundamento da comunicação” (MINAYO,
1996; p. 99).
Com base nas considerações expostas, deu-se preferência para os sujeitos que tenham
participado ativamente dos processos de mudança pelos quais a organização passou no
decorrer de sua história. Assim, foram elaborados roteiros diferenciados (ver anexos 2, 3, 4
e 5) para a atual dirigente, ex-dirigentes, funcionários e ex-funcionários, pois se entendeu
que alguns temas poderiam ser mais explorados individualmente.
Apesar de, inicialmente, optar-se pela exclusiva utilização de entrevistas presenciais para
coleta dos relatos dos participantes e ex-participantes do Lar Escola da Criança de Maringá,
no decorrer da pesquisa percebeu-se a necessidade da utilização de entrevistas à distância,
já que não foi possível encontrar todas as pessoas indicadas.
Desse modo, devido ao fato de quatro das cinco ex-presidentes pesquisadas residirem em
outro estado (Rio Grande do Sul), foi necessário um contacto telefônico inicial e,
posteriormente, o envio por e-mail e por fax de uma carta de autorização para a pesquisa,
apresentando o tema, a pesquisadora e relatando os objetivos da dissertação (anexo 6),
juntamente com o roteiro com perguntas relacionadas com o resgate histórico da
53
organização e sobre os aspectos estabelecidos no quadro referencial de análise (anexo 7).
O outro caso em que houve substituição da entrevista presencial pela entrevista à distância,
ocorreu porque o principal responsável pela fundação do Lar Escola (segundo todos os
indivíduos entrevistados) e considerado como uma fonte relevante de informações acerca
da fundação da entidade em seus primeiros anos de atividade, mesmo residindo na mesma
cidade em que se localiza a organização e em que se realizou a pesquisa, se negou a
conceder uma entrevista, argumentando o provável mau uso do seu depoimento.
Mesmo ao ser explicitado que se tratava de uma pesquisa com interesses acadêmicos e
que o anonimato dos entrevistados seriam resguardados, não se obteve tal entrevista.
Contudo, o indivíduo em questão concordou em responder por escrito o roteiro que lhe foi
enviado, via fax. Há que se ressaltar que, só obteve-se resposta do responsável pela
fundação e de duas ex-presidentes, as demais não retornaram, mesmo após um novo
contato.
A coleta de dados secundários, por sua vez, corresponde à pesquisa documental (consulta
e análise de documentos disponibilizados pela instituição investigada). Desse modo,
pretendeu-se complementar as informações obtidas pelas observações e entrevistas com
as coletadas através da leitura dos documentos da organização (estatuto, regulamentos,
atas de reuniões, site, jornal interno e outros registros) que pudessem revelar as práticas
organizacionais estabelecidas ao longo de sua história.
A análise de documentos mostra-se de suma importância, neste estudo, principalmente por
permitir o levantamento de informações formalizadas acerca da estrutura hierárquica, do
estabelecimento de normas e controles, como também do registro dos principais processos
de mudança pelos quais o Lar Escola passou, desde sua fundação. Como ressalta Triviños
(1987), a análise de documentos deve ser vista como uma técnica complementar às
entrevistas e observações.
54
Neste sentido, é necessário expor que a maior dificuldade na coleta de dados foi em relação
a esse tipo de coleta, já que houve pouca disponibilização de documentos para análise. Não
se obteve acesso ao estatuto, às atas, aos registros e arquivos. O jornal da entidade
(informativo), o site e a cópia do Planejamento Estratégico Participativo e de alguns projetos
implementados foram os únicos materiais (de característica documental) possíveis de se
consultar para análise. Contudo, apesar desta limitação da pesquisa, acredita-se que os
dados obtidos através das observações e junto aos sujeitos investigados tenham
esclarecido as dúvidas não sanadas pela análise documental.
3.5 ANÁLISE DE DADOS
Mesmo considerando que a presença da pesquisadora possa ter provocado algumas
alterações no cotidiano real da organização e dos indivíduos pesquisados, a variedade e a
riqueza das informações coletadas não seriam as mesmas caso as escolhas metodológicas
fossem outras. Neste sentido, a adoção dos diferentes instrumentos de coleta de dados,
apresentados anteriormente, permitiu uma análise qualitativa que buscou contemplar, tanto
a percepção dos sujeitos envolvidos como, também, a natureza do fenômeno estudado.
Contudo, é importante destacar que, apesar da preferência de alguns pesquisadores pelo
uso de instrumentos e técnicas estatísticas como suportes para a análise, a análise
qualitativa (que tem gradativamente conquistado espaço no campo organizacional) foi
considerada a mais apropriada para essa pesquisa, devido ao tipo de organização
estudada, aos conceitos trabalhados, bem como ao enfoque que se pretendeu nessa
investigação. Além do mais, entende-se que a preocupação com o rigor científico deve
estar presente independente das escolhas metodológicas. Assim, o rigor na análise
qualitativa deve ser caracterizado pelo senso crítico do investigador e por sua habilidade em
55
interpretar as informações coletadas e relacioná-las com as questões e propósitos da
pesquisa, tal com salienta Godoy (1995).
Para Minayo (1994 e 1996) e Godoy (1995), a análise qualitativa, apesar de didaticamente
compreender uma fase específica da pesquisa, na prática permeia todo processo de
investigação. Tal apontamento evidenciou-se nesta pesquisa a partir da constatação de que,
desde o momento em que se iniciou a coleta de dados no Lar Escola da Criança, a análise
ocorria mentalmente ou através de anotações, simultaneamente às observações que eram
feitas. A exemplo disso, vale destacar que as anotações realizadas no diário de pesquisa
eram acompanhadas de comentários relacionados aos propósitos da investigação em
questão, do mesmo modo que no momento da transcrição das entrevistas também se
realizou anotações analíticas acerca do comportamento do entrevistado durante a
entrevista.
Como já mencionado, a diversidade de informações coletadas através de observações,
análise documental e entrevistas, compreendeu em uma riqueza de dados. Contudo, essa
mesma característica, contraditoriamente também representou uma dificuldade na análise,
já que nem todas as informações coletadas se mostravam pertinentes ao estudo
desenvolvido nessa dissertação. Foi neste momento que se compreendeu, de fato, a
afirmação de Godoy (1995, p.27) de que, “organizar e analisar todo o material obtido (...)
não é tarefa fácil e exige o domínio de uma metodologia bastante complexa”.
Mostrou-se então a necessidade de se desenvolver uma espécie de roteiro composto por
algumas etapas de atividades (não necessariamente ordenadas) desenvolvidas para
interpretação e análise do material coletado. Desta forma, as etapas que constituíram esse
processo de interpretação e análise foram:
Organização e leitura do material coletado através de análise documental;
56
Organização e leitura das anotações escritas no diário de pesquisa;
Organização e leitura das transcrições das entrevistas;
Agrupamento temático das transcrições, com base em cada elemento do quadro
referencial de análise;
Comparação e complementação entre as informações obtidas através dos dados
primários e secundários;
Caracterização e histórico do Lar Escola da Criança de Maringá;
Descrição dos processos de mudança enfrentados pelo Lar Escola da Criança de
Maringá ao longo do tempo;
Descrição e análise dos dados correspondentes a cada elemento do quadro
referencial de análise;
Análise dos aspectos que caracterizam a ação racional instrumental;
Análise dos aspectos que caracterizam a ação racional substantiva.
A seguir, são apresentadas o que corresponde às cinco últimas etapas: caracterização e
histórico do Lar Escola da Criança de Maringá; descrição dos processos de mudança
enfrentados pelo Lar Escola da Criança de Maringá ao longo do tempo; descrição e análise
dos dados correspondentes aos elementos do quadro referencial de análise. Estes três
primeiros serviram de base para as fases seqüentes: análise dos aspectos que caracterizam
a ação racional instrumental e; análise dos aspectos que caracterizam a ação racional
substantiva.
Deve-se destacar, ainda, que, ao invés da confrontação para validação dos dados, optou-se
pela comparação e complementação dos mesmos nas informações adiante apresentadas,
ou seja, nesta dissertação mesclam-se dados obtidos a partir das fontes primárias, como de
fontes secundárias, de modo que, em alguns momentos, se fará a transcrição literal de
trechos dos documentos analisados e das entrevistas. Neste sentido, quando ocorrer
57
transcrição de depoimentos (seja decorrente de entrevista presencial, no caso dos
entrevistados face a face, ou à distância, no caso dos entrevistados que responderam aos
roteiros enviados via fax ou e-mail), para resguardar a identidade dos pesquisados, se fará o
uso dos termos: entrevistado 1, entrevistado 2, entrevistado 3..., entrevistado 15.
Apoiando-se no estudo realizado por Ichikawa e Santos (2003) sobre história oral, buscou-
se privilegiar a memória individual dos pesquisados, dando preferência para palavra dita à
escrita. Assim, as lembranças e trajetórias individuais, como também as percepções
pessoais, são respeitadas de forma absoluta, mesmo quando estas se apresentam distintas
dos demais entrevistados. Somente no que diz respeito a datas e dados mais formais da
organização pesquisada deu-se preferência às informações provenientes da análise
documental.
3.5.1 Quadro referencial de análise
Também se mostra importante ressaltar que a presente pesquisa parte de um quadro
referencial elaborado a partir da mescla de dois modelos previamente construídos, o de
Serva (1996) e o de Dorneles e Dellagnelo (2003). Assim, a análise das ações racionais é
desenvolvida com base na interpretação dos processos organizacionais, bem como nos
elementos característicos das ações racionais instrumental e substantiva, salientados na
seqüência.
Neste sentido, para a construção do quadro são destacadas algumas categorias, já
abordadas pelos autores citados e entendidas como elementos característicos dos
processos e ações organizacionais. São elas: normas e hierarquia, controle e avaliação,
processo decisório, relações interpessoais e comunicação, recrutamento e promoção dos
participantes, conflitos, reflexão sobre a organização e satisfação individual. Serva (1996) e
58
Dorneles e Dellagnelo (2003), ainda destacam essas categorias como elementos que
podem revelar a manifestação da ação racional substantiva e/ou instrumental.
Na montagem do quadro de análise, empreende-se o reagrupamento dos elementos que
compõem os diferentes tipos de ação racional, observando a correspondência de cada um
deles com a natureza de cada processo e ação organizacional, de modo que seja possível
verificar a influência dos elementos no cotidiano organizacional da instituição investigada.
Assim, da relação entre os tipos de ação racional (substantiva e instrumental) e os
processos e ações organizacionais resultou o quadro de análise representado no Quadro 1.
59
Quadro 1 - Quadro Referencial de análise dos dados
Tipos de Ação Racional e
Processos e ações
organizacionais
Ação racional
Substantiva
Ação racional
Instrumental
1. Normas e hierarquia
1. Estabelecidas com base no
entendimento para o bem da
coletividade.
1. Estabelecidas para exercer o
controle e obter resultados e
desempenho maiores.
2. Controle e avaliação
2. Indiretos, sendo baseados no
entendimento e definidos para
preservar valores de
emancipação do grupo.
2. Realizados para obter a
maximização dos recursos
(financeiros e humanos), com
base no cálculo.
3. Processo decisório
3. Estabelecido com base no
consenso da coletividade e no
julgamento ético.
3. Estabelecido para extrair o
melhor resultado, visando fins
que aumentem o desempenho e
maximizem os recursos.
4. Relações interpessoais e
comunicação
4. Visa o consenso, o
entendimento e a autonomia,
com base nas pretensões de
validade de verdade,
autenticidade e partilha de
valores. A simbologia da
organização espelha os valores
de igualdade e emancipação,
4. Busca o êxito utilitário como
estratégia interpessoal. A
simbologia da organização
espelha interesses de
maximização de resultados e
desempenho.
5. Recrutamento e promoção
dos participantes
6. Busca de pessoas que
partilham os mesmos valores
emancipatórios, que tenham
uma atuação comunitária e
preocupação social.
6. Busca de pessoas com
qualificação para obter o
máximo de resultado.
6. Conflitos
7. Busca do entendimento e do
consenso. Relações de amizade
e partilha de valores, baseada
na autenticidade.
7. Relações sociais
estabelecidas estrategicamente
com fins egoísticos, visando o
desempenho máximo.
7. Reflexão sobre a
organização
8. Reflexões coerentes com os
valores de humanização da
sociedade, compartilhados pelo
grupo.
8. Reflexões que visem a
publicidade da organização e
manifestem interesses
financeiros e de rentabilidade
8. Satisfação individual
9. Baseada na autenticidade e
em valores emancipatórios e de
auto-realização.
9. Baseada no êxito e resultado
econômico, no desempenho e
no cálculo utilitário e na
maximização produtiva.
Fonte: Adaptado de Serva (1996) e Dorneles e Dellagnelo (2003).
60
3.5.1.1 Definição Constitutiva dos Elementos que caracterizam a Ação Racional Instrumental
Vale destacar aqui, com base em Serva (1996) alguns termos utilizados no quadro de
análise para descrever os elementos que caracterizam a as ações e processos
organizacionais fundamentados na ação racional instrumental. São eles:
¾ Cálculo: projeção utilitária das conseqüências dos atos humanos;
¾ Fins: preocupação com metas de natureza técnica, econômica ou política
(aumento de poder);
¾ Maximização de recursos: busca da eficiência e da eficácia máximas, no
tratamento de recursos disponíveis: humanos, materiais, financeiros,
técnicos, energéticos ou de tempo;
¾ Êxito e resultados: preocupação com o alcance em si mesmo de padrões,
níveis, estágios, situações, considerados como vencedores em processos
competitivos em uma sociedade centrada no mercado e no lucro;
¾ Desempenho: valorização de performances individuais elevadas na
realização de atividades, com ênfase em projeções utilitárias;
¾ Utilidade: consideração de que o caráter utilitário deva ser a base das
interações entre os indivíduos;
¾ Rentabilidade: medida de retorno econômico dos êxitos e resultados
pretendidos.
61
3.5.1.2 Definição Constitutiva dos Elementos que caracterizam a Ação Racional Substantiva
Do mesmo modo, destaca-se aqui, com base em Serva (1996), alguns termos utilizados no
quadro de análise para descrever os elementos que caracterizam a as ações e processos
organizacionais fundamentados na ação racional substantivas. São eles:
¾ Auto-realização: pode ser descrita como um conjunto de processos de
concretização do potencial inato do ser humano, que se complementa pelo
alcance da satisfação individual;
¾ Entendimento: forma pela qual os indivíduos estabelecem acordos e
consensos racionais, sempre mediados por processos de comunicação livre,
de onde decorrem atividades comuns coordenadas, ao amparo de
sentimentos de responsabilidade e satisfação social.
¾ Julgamento ético: processos decisórios baseados em emissão de juízos de
valor do tipo bom, mau, verdadeiro, falso, certo, errado, que se dão através
do estabelecimento de um debate racional sobre as pretensões de validez
emitidas pelos indivíduos em suas interações com os demais membros do
grupo;
¾ Autenticidade: são interações e relacionamentos interpessoais estruturados
em torno de sentimentos como integridade, honestidade e franqueza dos
indivíduos;
¾ Valores emancipatórios: preocupação e observância de valores que levem ao
aperfeiçoamento de grupo, na direção do bem-estar coletivo, da
solidariedade, do respeito às individualidades, da liberdade, do
comprometimento e da integração como o ambiente, presentes tanto nos
indivíduos que compõem o grupo, quanto no próprio grupo;
62
¾ Autonomia: é a condição plena dos indivíduos para poderem agir e
expressarem-se livremente nas interações, sem que estejam condicionados
por coações ou pressões exercidas por outros indivíduos.
Assim, tendo como base o quadro de análise adaptado de Serva (1996) e de Dorneles e
Dellagnelo (2003), os roteiros de entrevista que foram elaborados para dirigentes, ex-
dirigentes, funcionários, ex-funcionários, voluntários e ex-voluntários, contemplando cada
uma dos elementos, que segundo o autor caracterizam a ação racional instrumental ou ação
racional substantiva. A análise será realizada, portanto, conforme o Quadro 1 apresentado.
3.6 DEFINIÇÃO CONSTITUTIVA DE OUTROS TERMOS
Ação racional instrumental: É definida por Weber (1991) como racionalidade determinada
por uma expectativa de resultados e fins calculados.
Ação racional substantiva: Para Ramos (1999, p. 2-3), trata-se da “força ativa da psique
humana que habilita o indivíduo a distinguir entre o bem e o mal, entre o conhecimento falso
e o verdadeiro e assim, ordenar sua vida pessoal e social. Neste mesmo sentido, Serva
(1993, p. 41) complementa que a “racionalidade que possibilita o indivíduo a ordenar sua
vida eticamente, gerando ações que buscam concretizar um equilíbrio dinâmico entre a
satisfação pessoal e a satisfação social, como também da auto realização pela plena
concretização de suas potencialidades humanas”.
Terceiro Setor: Salamon (1998, p. 5) define tal setor como uma “imponente ‘rede de
organizações privadas autônomas’, não voltadas à distribuição de lucros para acionistas ou
diretores, atendendo propósitos públicos, embora localizada à margem do aparelho formal
do Estado”.
63
ONGs: Sigla que corresponde à Organizações Não Governamentais. De acordo com Alves
(2002), o termo passou a ser empregado por volta dos anos 1980, para designar entidades
que, originárias dos vários movimentos sociais dos anos 1970, vinham agregando quadros
de matrizes ideológicas diversas, como o marxismo e o cristianismo. Para Teodósio (2001),
Terceiro Setor e Organizações Não Governamentais são neologismos surgidos na esteira
do processo de expansão da lógica neoliberal de condução dos governos economistas
capitalistas centrais.
Organização Voluntária: Caracterizada como organização formal, de fundo privado e
separada do Estado, porém com funções e objetivos de âmbito público, sem fins lucrativos,
auto regulamentada através de diretrizes internas e formada com a participação voluntária
de seus membros (SALAMON, 1998).
Ações organizacionais: Para Serva (1996), ações organizacionais correspondem aos
comportamentos e atitudes do conjunto de atores participantes de uma organização. Para
ele, as “habilidades administrativas se concretizam em ações com níveis diferenciadas em
função de cada agente específico envolvido” na atividade organizacional (SERVA 1996, p.
212).
Processos organizacionais: De acordo com Serva (1997, p. 23) os processos
organizacionais são entendidos como “aqueles nos quais os indivíduos definem, mediante
ações específicas, o caráter básico do empreendimento grupal do qual participam”. Deste
modo, segundo o autor, os participantes do grupo “delineiam seus padrões de inter-relação
e também as fronteiras e limites ta ação grupal perante a sociedade”. Tal como nos estudos
de Serva (1996 e 1997), nesta pesquisa os processos organizacionais são entendidos com
o conjunto de ações desenvolvidas pelos membros de uma organização revelados no:
estabelecimento de hierarquia e normas, na configuração dos valores e objetivos
organizacionais, na manifestação de poder, nos mecanismos de controle, nas relações
64
interpessoais e formas de comunicação, na administração de conflitos e na reflexão desses
indivíduos sobre a organização.
65
4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
4.1 HISTÓRICO DO LAR ESCOLA DA CRIANÇA DE MARINGÁ: PROCESSOS E AÇÕES
ORGANIZACIONAIS.
A organização escolhida para a realização do estudo de caso é o Lar Escola da Criança de
Maringá. Trata-se de uma instituição sem fins lucrativos, localizada na cidade de Maringá,
estado do Paraná, que presta atendimento a crianças e adolescentes, em situação de risco
pessoal e social.
Conforme a documentação da organização e os depoimentos prestados por seus
participantes, o Lar Escola da Criança, atualmente, atende trezentos e cinco crianças e
adolescentes, de oito a dezoito anos, oferecendo a eles atividades educacionais, religiosas,
culturais e profissionalizantes.
Sob a coordenação da Congregação Irmãs Murialdinas de São José, a instituição conta com
trinta e cinco funcionários (entre educadores, assistente social, auxiliares de serviços gerais,
secretária, cozinheira, auxiliar administrativo, diretor e vice, supervisora pedagógica e
instrutores) e também com o apoio de voluntários permanentes e esporádicos. A
administração é feita por uma diretoria composta por uma presidente (cargo ocupado por
uma Irmã da referida congregação), vice-presidente, secretários, tesoureiros, diretores de
promoções e de relações públicas e conselho fiscal (ver anexo 9, p. 11).
O Lar Escola da Criança foi fundado em 1963, por um grupo de senhoras que faziam parte
do Clube da Amizade (um grupo vinculado ao Rotary Club), sob a influência e apoio do
arcebispo da cidade (no período em questão), com o objetivo de abrigar meninos
abandonados e órfãos, em regime de internato.
66
Segundo as informações coletadas, a Companhia Melhoramentos do Norte do Paraná doou
um terreno onde se construiu uma casa para abrigar os meninos, que foi mantida por esse
grupo de senhoras através de doações, já que dele fazia parte algumas mulheres da elite
maringaense, que se reuniam para promover festas e chás com fins assistenciais.
Algumas participantes do Clube da Amizade se revezavam na administração do Lar Escola,
mas não participavam do dia a dia da organização, para isso elas contratavam algumas
poucas famílias para ficar com os adolescentes (vistos como rebeldes e de difícil trato,
segundo os depoimentos). Era de responsabilidade das senhoras a manutenção financeira
das atividades desenvolvidas na entidade, através da realização de bingos e arrecadações
junto aos empresários locais (muitos deles pertencentes ao Rotary Club). Conforme os
depoimentos abaixo:
Depois que eu peguei... eles não tinham nada, não tinha nada deles. Então,
os meninos não tinham, por exemplo, sapato, aí eu pegava o telefone, e
arrecadava trinta pares de sapatos. Eu telefonava para trinta pessoas, eu
sabia os números e cada um trazia um par de sapatos. Assim que eu fazia
as coisas, o negócio não era fácil e as coisas eram assim, a gente fazia chá
(...)
. Entrevistado 10
Não tinha nada, fazíamos o chá no Hotel (...). Olha aqui (a entrevistada
mostra um documento), o Clube da Amizade, ele tinha mais de 300 sócias,
aqui tinha 224, não tenho certeza (...), essas 200 sócias participavam das
atividades. Todas não participavam diretamente, mas todas tinham uma
contribuição mensal.
Entrevistado 10
(...) foi nesta época, pedimos, até que deu certo, pedimos tanta coisa, pedi
para todo mundo, pedi para fazer um armário para cada criança, sabe. Era
um armário assim, para cada um guardar seu brinquedinho, que ganhava,
sapatinho, chinelinho, a sua roupinha. Eu consegui fazer isto, com a ajuda
de todos, lógico
. Entrevistado 10
Contudo, as dificuldades em nível pedagógico, estrutural e administrativo se mostravam
grandes e por essa razão, segundo os relatos dos entrevistados, acatou-se a sugestão do
então arcebispo da cidade, de se passar a responsabilidade de cuidar dos internos para
alguma congregação que já tivesse experiência com esse tipo de atividade.
67
Através do convite e orientação do então arcebispo, algumas congregações tentaram, mas
não conseguiram levar adiante a coordenação da entidade. Isto ocorreu, segundo alguns
relatos, devido às dificuldades no trato com os adolescentes carentes, e de acordo com
outros depoimentos, por causa dos problemas de relacionamento entre as Irmãs e as
senhoras do clube da amizade. Independente do motivo, tal fato dificultou, ainda mais, a
gestão do Lar Escola, como revelam trechos citados:
As últimas quando eu entrei, foram as Irmãs (...), mas elas são ótimas
educadoras, mas para outro tipo de jovem, para um jovem, não um jovem
rico, mas um jovem mais estruturado. Então, elas encontraram muita
dificuldade (...). Era uma coisa horrorosa. Ninguém queria saber, era
horrível!
Entrevistado 10
Não era o serviço delas, elas são ótimas (...), mas não era o trabalho delas.
Elas são preparadas para atender uma outra faixa da sociedade, então,
esta outra faixa elas atendem muito bem.
Entrevistado 10
(...) depois, com o passar do tempo, não deu certo das senhoras
administrarem esta entidade, o (...) (cita o nome do arcebispo) buscou
várias congregações de religiosas para constituir, fazer um trabalho, mas
não deu certo.
Entrevistado 8
(...) não havendo bom entendimento entre a administração externa e a
interna, as Irmãs (...), embora lamentando, deixaram sua colaboração junto
ao Lar Escola. Novamente, a dificuldade para as senhoras dirigentes do
clube da amizade: quem cuidaria da administração do Lar Escola, por certo
a mais difícil.
Entrevistado 11
(...) Insistiam, porém, para que eu conseguisse outras Irmãs para a direção
interna. Lembrei-me do ocorrido e elas prometeram prudência e respeito ao
trabalho das Irmãs.
Entrevistado 11
Em 1973, segundo informações coletadas, diante dos problemas enfrentados e de tentativas
que não deram muito certo, um outro grupo de religiosas (com experiência no trabalho com
crianças e adolescentes carentes) foi convidado pelo arcebispo para direcionar as atividades
do Lar Escola da Criança, tratava-se das irmãs da Congregação Murialdianas de São José.
De acordo com os relatos, a chegada das Irmãs Murialdinas na instituição, não foi nada fácil.
Mesmo com experiência no atendimento de crianças e famílias carentes, elas tiveram uma
68
primeira impressão “impactante” e quase desistiram, em função da falta de estrutura e do
comportamento dos meninos. Como ressaltam dois entrevistados:
No princípio elas nem desfizeram as malas, aqui era um horror, eram umas
crianças assim (pausa), muito rebeldes, sem controle nenhum, sem respeito
nenhum.
Entrevistado 3
(...) realmente, foi chocante, os meninos, a educação, a maneira como eles
se comportavam, o comportamento que eles tinham. Elas ficavam muito
chocadas
.
Inicialmente, elas achavam que não iam dar conta do recado,
que era muito exigente, eram rebeldes, fugiam (referindo-se aos internos).
Eles fugiam muito, eram meninos, têm temperamento mais forte (...) as
meninas são mais dóceis, os meninos não. Todas as irmãs contavam que
chegou uma hora, achavam que (pausa), “eu acho que não vamos nem
desfazer as malas, porque nós não vamos dar conta do recado”.
Entrevistado 5
Mesmo diante dos problemas mencionados, as irmãs optaram por ficar. Com o tempo e,
segundo elas, “graças às orações”, o ambiente foi ficando mais tranqüilo e, em 1978, a
instituição se transformou em semi-internato e o atendimento foi ampliado para meninas
também.
Vale destacar que, apesar de serem elas as responsáveis pelas atividades desenvolvidas e
de estarem permanentemente na instituição, a presidência do Lar Escola continuou sob a
responsabilidade das senhoras do Clube da Amizade até 1979, quando, de fato, as irmãs
assumiram a administração da organização. Um dos relatos pode ilustrar como foi essa
mudança:
(...) O Clube da Amizade, o que então fundou o Lar Escola, estava em uma
crise de diretoria. Ninguém queria assumir a diretoria. Mas já, na época, a
presidência já era das irmãs, por que as irmãs chegaram aqui em 1973.
Logo que chegaram não foram logo presidente. As senhoras do Clube de
Amizade continuavam na presidência. Só depois, alguns anos depois, que
começaram (referindo-se às irmãs) a assumir a presidência do Lar Escola,
porque quem vivia aqui dentro as vinte e quatro horas, eram as irmãs. E era
difícil sair daqui pra ir à procura do Clube da Amizade, da presidência, pra
qualquer decisão aqui ou até mesmo cheque, organizar problemas e tal...
Então, ser diretora, como a diretoria que não estava aqui dentro, era muito
complicado.
Entrevistado 1
69
Conforme ressaltam os entrevistados, a partir dessa mudança e com a Irmã à frente da
administração, o estatuto do Lar Escola da Criança foi alterado e, mesmo com a
participação de algumas senhoras do clube, a Irmã teve mais autonomia para as tomadas
de decisão e no desenvolvimento das atividades.
Aos poucos, a instituição se adaptou às necessidades da realidade social e também da lei,
mas foi mesmo nos anos noventa, que ocorreram novas mudanças relevantes na
organização. Assim, de acordo com alguns depoimentos e documentos analisados, em
1990, com base no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), o Lar Escola passou a
funcionar em regime sócio-educativo em meio aberto (atendendo somente no contra-turno
escolar) e passou a sofrer uma reestruturação, redefinindo novas práticas:
Nesse período, em face às mudanças sociais emergentes, as novas
políticas públicas, a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente,
começamos, primeiramente, fazer buscas da possível existência de
familiares ou parentes próximos dos internos, prevendo a possibilidade de
reintegrá-los às suas famílias
. Entrevistado 12
Antes do ECA, no caso, a entidade funcionava como um internato de
meninos e depois meninas também (...) e depois do ECA, no caso, começou
funcionar em regime sócio-educativo meio aberto. Aí começou atender só
no contra-turno escolar
. Entrevistado 8
Em 1990, com a criação da Lei nº 8.069 de 13 de junho – Estatuto da
Criança e do Adolescente - ECA – tanto o Regime como o Estatuto da
Entidade são modificados, projetando um atendimento mais qualificado, de
acordo com a nova Lei.
(Planejamento Estratégico Participativo do Lar
Escola da Criança, p. 9)
Foi também a partir deste período, que ocorreram as principais mudanças no processo de
gestão. O Lar Escola que, até então, caracterizava-se por práticas assistencialistas e pouco
profissionalizadas, começa a buscar “qualificação” nas atividades desenvolvidas, conforme
pode ser observado através das transcrições abaixo:
70
O Lar Escola, revendo sua proposta pedagógica e visando a preparação
para a cidadania, redefine as novas práticas, visualizando as novas
perspectivas e possibilidades. Sentindo-se desafiada, confronta a cada
momento o discurso teórico como compromisso pela mudança que o
mesmo deve gerar. Procurando ganhar significado a partir de um
compromisso vital e concreto, surgem novas ações, propostas,
necessidades com diferentes agentes.
(Planejamento Estratégico
Participativo do Lar Escola da Criança, p. 9).
Buscando vencer esse desafio e superando uma prática paternalista que
permeia a assistência social, o Lar Escola da Criança, entidade civil sem
fins lucrativos, sente a necessidade de reordenar suas ações, ou seja,
qualificar o atendimento, alterar a cultura assistencialista impregnada de
equívocos e contradições.
(Planejamento Estratégico Participativo do
Lar Escola da Criança, p. 35).
De acordo com os dados coletados, em 1991, o Lar Escola da Criança, com o apoio e
orientação da Amencar
11
, começou a definir um Comitê de Gerenciamento e elaborar seu
Planejamento Estratégico Participativo, ambos (segundo os documentos disponibilizados e
relatos de alguns entrevistados) com a finalidade de distribuição de atividades,
descentralizar as decisões e definir “quem faz o que”. Conforme ressaltam os investigados:
Quando cheguei aqui, já havia uma sensibilização da equipe que já estava
aqui quanto ao planejamento (...). Só não tinha assim... Ele ainda não
estava montado, mas ele estava sendo sensibilizado e (...) era a pessoa
que estava na administração que tinha que decidir. Então, chegava ou
trocava alguma irmã... Por exemplo, eu mesma, quando fui trocada e vim
pra cá, as pessoas ficavam olhando para mim e diziam assim, entre elas: “O
será que ela vai fazer? O que vai mudar, o que vai mudar, como vai ser?”
Hoje já não é mais assim, porque no momento que foi implementado o
planejamento, as pessoas perceberam que todos tinham sua fatia na
participação e na mudança...e tinham metas e projetos. Então, esse
“quando ia acontecer, já estava estipulado” (a longo prazo, a curto prazo).
Então, as pessoas já estavam, mais ou menos, em processo de
acompanhamento. Eu notei também que no momento que a gente
implementou, as pessoas começaram tomar consciência do processo que
somava com todos. Não era mais só aqui na frente (referindo-se à
administração). Um outro aspecto também que mudou antes do
planejamento, foi que a gente começou a já formar uma equipe de
gerenciamento, que se chama hoje um comitê - representante de vários
setores para decidir algo mais, para que depois que fosse implementado o
planejamento, essas pessoas fossem “os cabeças” de fazer andar esta
engrenagem.
Entrevistado 1 (grifo nosso)
71
(...) começamos em 1991 o planejamento, então não tinha esta participação,
mesmo das crianças, da comunidade, dos pais, dos funcionários, não
tínhamos. Agora sim, agora tem a participação de todo mundo, nada é
decidido pela irmã, então, todo mundo participa das decisões, inclusive tem
um comitê, então eu já participava do comitê, não era Comitê de
Gerenciamento, agora é comitê de gerenciamento. Então nós tínhamos era
mais participação pedagógica, uma coisa assim, não era comitê de
gerenciamento. Mas antes do planejamento, já tínhamos uma visão de está
pegando setores, de estar perguntando, de ter idéias, posições, inclusive
com as crianças
. Entrevistado 3
O Comitê de Gerenciamento, conforme mencionaram tais entrevistados, é formado por um
representante de cada setor da organização, ou seja, administrativo, financeiro, pedagógico,
de assistência social, serviços gerais. Cabe ao representante do setor, avaliar, definir metas
e cobrar resultados.
Com base nas informações obtidas, no que diz respeito aos processos e ações
organizacionais, nos últimos anos, o Lar Escola da Criança tem buscado a
profissionalização de suas atividades, através da utilização de instrumentos e técnicas de
gestão desenvolvidas para organizações econômicas. É neste sentido que se cita, como
exemplo, a elaboração e implementação de um “Planejamento Estratégico Participativo”, a
busca por parcerias, definição de um Comitê de Gerenciamento, a programação, controle e
avaliação (por vezes quantitativa, como mostra o anexo 9, p. 29 e 41) das ações
desenvolvidas pelos participantes, entre outros fatores.
Dessa forma, pode-se inferir que, em decorrência desta preocupação, o vocabulário
empregado por alguns de participantes esteja tão próximo (com observou-se nas
entrevistas) aos termos gerenciais empregados em empresas. Palavras como: metas,
resultados, estratégias, perfil do funcionário, plano de ação, know-how, vestir a camisa,
entre outras, foram mencionadas várias vezes pelos entrevistados, revelando que a
11
A AMENCAR – Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente é uma ONG que intermedia os
financiamentos (nacionais e internacionais) recebidos pelo Lar Escola da Criança de Maringá.
Maiores detalhes consultar o site: www.comunica.com.br/amencar
72
profissionalização, via adoção de instrumentos gerenciais é refletida não só na estrutura
organizacional, mas também na comunicação e relação entre os participantes.
Possivelmente, as mudanças implementadas na organização e aqui destacadas tenham
contribuído para que o Lar Escola da Criança recebesse alguns prêmios pelo desempenho
de suas atividades. Um deles foi em 1998 - o Troféu Asas em Destaque. De âmbito
municipal, o prêmio em questão é concedido anualmente às organizações que se
destacaram em seu setor específico. Em 1999 recebeu o Prêmio Bem Eficiente, concedido
pelo Instituto Kanitz & Associados às cinqüenta organizações sem fins lucrativos, mais bem
administradas do Brasil (de acordo com critérios do instituto). O prêmio em questão, de
acordo com o site www.melhores.com.br, tem como “objetivo prestar justa homenagem às
entidades do Brasil, divulgando sua eficiência e seriedade a fim de atrair maior atenção e
emprenho do setor privado à causa social”. Em 2003 a instituição novamente recebeu esse
prêmio, sendo dessa vez, divulgado em alguns órgãos da mídia impressa e televisiva,
atraindo a atenção da população local para o Lar Escola.
Quanto aos funcionários da instituição, o fato mais relevante, segundo os depoimentos,
ocorreu em 2001 e diz respeito aos educadores. Antes deste ano, os educadores que
trabalhavam no Lar Escola da Criança eram cedidos pela prefeitura e em alguns casos não
se comprometiam com as atividades nem com os propósitos da entidade, contudo com a
mudança da administração municipal acabou esse remanejamento de funcionários. Desde
então, a prefeitura repassa para ao Lar Escola um valor “x” e a seleção e contratação de
funcionários fica sob a responsabilidade da administração da organização. Isto, segundo
alguns entrevistados, influenciou positivamente no perfil dos novos educadores.
Apesar da grande repercussão causada pelo prêmio ter reforçado o reconhecimento por
parte da população, e conseqüentemente trazido mais credibilidade para o Lar Escola,
percebe-se que são as transformações mais recentes que têm provocado maior
73
envolvimento e entusiasmo na maioria dos participantes da organização. Nos últimos dois
anos a instituição tem desenvolvido projetos em parceria com empresas privadas e
instituições de ensino (públicas e privadas), visando a preparação profissional dos
adolescentes, como também de suas famílias. Esta mudança implicou, até mesmo, na
alteração do regimento interno, pois o foco de atendimento, que era para a faixa etária entre
7 e 14 anos, foi ampliado até 18 anos. Tal fato pode ser observado através do relato:
A partir, eu diria assim, de 2002 e 2001, nós começamos perceber os ecos
e a realidade... os sinais dos tempos que nós precisávamos investir mais na
continuidade do nosso trabalho. Porque os meninos e as meninas...as
crianças estavam tendo maiores problemas nas famílias e não estavam
conseguindo sair desta passiva para uma ativa, que era a mudança, e
voltavam novamente às ruas. Então, nós começamos aí então a pensar em
projetos de extensão, procurar priorizar a formação, a profissionalização,
preparação, aprendizagem, e também a olhar um pouco mais a mulher...
Por quê a mulher? Porque nós notávamos que as mães é que assumiam
praticamente as crianças. Os pais inexistiam, geravam e largavam, e as
mulheres que assumiam assim, 4 ou 5 filhos, tentando dar o que podiam.
Então a gente notou que o crítico estava maior na área de oportunidade de
emprego, a fome, a falta de condições de habitação, de alimentação,
saúde... Estava voltado então, mais para a mulher com os seus filhos. A
gente notou que elas começaram a pedir muitos trabalhos aqui pra gente:
“Você não precisa aqui, de diarista?” e coisa e tal. Mas a gente notava que
elas não sabiam fazer nada. Então, a gente começou a se preocupar com a
formação. Aí, no momento da matrícula, a gente começou perguntar para
elas: “O que você gostaria de aprender, se você tivesse uma oportunidade?”
Então, umas falaram costura, outras falaram noções de cozinha, de saber
trabalhar numa família (aí a gente começou a perceber que era assessoria
doméstica) e também algumas em costura. Porque elas não tinham nada,
nenhum certificado. E foi então que a gente foi montando esses pequenos
cursos, também voltado a elas, onde elas puderam não mais vir chorar
emprego... Chorar porque não tinha isso, pedir comida, mas começavam
ter mais oportunidade de ganhar o seu pão com o trabalho, com a
dignidade com o seu próprio esforço.
Entrevistado 1
Realmente, na atual gestão foram implementados muitos projetos no Lar Escola da Criança,
mas são destacados aqui apenas os mais relevantes, de acordo com os depoimentos.
¾ Coral: Vozes do Coração;
¾ Oficina de música;
¾ Capoeira;
¾ Projeto revelação (futebol);
74
¾ Projeto de Aprendizagem: auxiliar administrativo aprendiz (cursos
profissionalizantes e encaminhamento ao mercado de trabalho);
¾ Projeto 3Ds da delineação profissional (curso de informática
profissionalizante);
¾ Projeto Protagonista Juvenil (estimulação para os jovens atuem, como
“protagonistas” sociais);
¾ Projeto Luz das letras (alfabetização de adultos no computador),
destinados aos pais e à comunidade;
¾ Projeto Deletando Diferenças, Formatando Cidadania (informática);
¾ Projeto cozinha do saber (assessoria doméstica e panificação caseira),
destinado às mães;
¾ Projeto Tecendo a Cidadania (corte e costura para as mães);
Atualmente, de acordo com as informações coletadas, o Lar Escola se encontra envolvido
principalmente com os projetos voltados à profissionalização dos adolescentes, em especial
o projeto de aprendizagem: auxiliar administrativo aprendiz. Tal projeto, visando selecionar,
cadastrar, encaminhar e acompanhar os adolescentes aprendizes a cursos e às empresas
contratantes, consiste na parceria entre a instituição, o MPT-Ministério Público do Trabalho
e Procuradoria Regional do Trabalho, uma instituição de ensino superior - CESUMAR , a
FUNDACIM (Instituto de Responsabilidade Social de Maringá) e várias empresas de médio
e grande porte da cidade.
Diante das considerações expostas e face às transformações do contexto social/econômico,
percebe-se que as alterações nas formas de gestão, como também na maneira de
desenvolver as atividades no Lar Escola da Criança, ao longo de sua história, revelam-se
como fatores decorrentes de “necessidades” e pressões sociais. Necessidades estas que,
tanto indicam a eminência do resgate da condição humana, evidenciado pela mudança de
visão assistencialista (anteriormente adotada) para uma visão de promoção e inclusão social
75
do adolescente e sua família; como por outro lado, apontam a “exigência” de
profissionalização na gestão, diante da preocupação em conquistar e manter parcerias para
o desenvolvimento das atividades. Assim, com base nessas considerações e nos
depoimentos coletados, destacam-se no tópico a seguir os principais processos de
reestruturação ou mudanças pelas quais passou a organização pesquisada, desde sua
fundação até os dias atuais.
4.2 AS MUDANÇAS E REESTRUTURAÇÕES ENFRENTADAS PELO LAR ESCOLA DA
CRIANÇA
Com base no relato dos entrevistados e nos dados documentais da instituição, os principais
momentos de mudança e reestruturação pelos quais passou e ainda passa a organização
foram:
1963: Fundação do Lar Escola da Criança de Maringá.
1963 a 1979: Neste período, o Lar Escola da Criança de Maringá foi administrado
por um grupo de senhoras que pertenciam ao Clube da Amizade;
1973: Por intervenção do arcebispo da cidade, vieram do Rio Grande do Sul algumas
Irmãs da Congregação Murialdinas de São José, para desenvolver as atividades na
entidade;
1978: O atendimento, em regime de internato, que, até então, era direcionado
apenas para meninos, amplia-se também para meninas e muda para semi-internato;
1979: As Irmãs assumem a administração do Lar Escola da Criança;
76
1990: Sob influência do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, o estatuto da
entidade é modificado, o que levou à mudança do regime de semi-internato para
meio aberto;
1998: Elaboração e implementação do Planejamento Estratégico Participativo;
1999: A instituição ganha o Prêmio Bem Eficiente;
2001: A partir desse ano muda o critério de seleção de funcionários. Estes, que
antes eram cedidos pela prefeitura, começaram a ser contratados pelo Lar Escola;
2002: Desenvolvimento e implementação de projetos – “Protagonista Juvenil”, “Você
Apita”, “Cidadão Aprendiz” - ampliando o atendimento para adolescentes de quinze a
dezoito anos (inclusive aos que não eram vinculados à instituição). Esses
adolescentes têm acesso a cursos profissionalizantes (na área administrativa, de
informática e secretariado) e ao mercado de trabalho (via parceria):
¾ Estabelecimento de parcerias com o setor público (FUNDESC - Fundação de
Desenvolvimento Social e Cidadania de Maringá, Procuradoria do Estado) e
privado para viabilização do projeto;
¾ Várias empresas de Maringá contratam os adolescentes como aprendizes,
tais como Fiat, Companhia Paranaense de Energia Elétrica - COPEL,
Transportes Coletivos Cidade Canção - TCCC, Cooperativa dos Cafeicultores
e Agropecuaristas de Maringá - COCAMAR, Zacarias Veículos, Lojas
Americanas, Banco do Brasil, Dismar Atacado, Lojas Colombo, entre outras;
¾ Desenvolvimento de projetos voltados às famílias (Cozinha do Saber,
Deletando Diferenças, Tecendo Cidadania);
77
2003: A instituição recebe, pela segunda vez o Prêmio Bem Eficiente. Desta vez,
ocorre maior divulgação da premiação;
2004: Intensificação das parcerias e ênfase nos projetos que visam a
profissionalização dos adolescentes.
4.2.1 Impactos das Mudanças e Reestruturações Ocorridas no Lar Escola da Criança de
Maringá.
Na análise realizada, optou-se por privilegiar três momentos distintos que caracterizam bem
os processos de reestruturação e mudança pelos quais passou o Lar Escola da Criança ao
longo de sua história. Primeiramente, descreve-se e analisa-se o período que a instituição
estava sob a administração das senhoras do Clube da Amizade; depois a fase que a direção
fica sob a responsabilidade das ex-presidentes, que pertencem à Congregação das Irmãs
Murialdinas e, por fim, a gestão atual, que tem como presidente, também uma irmã da
referida Congregação.
4.2.1.1 Normas e hierarquia
De acordo com o quadro referencial de análise, normas e hierarquia podem tanto ser
estabelecidas tendo como base o entendimento para o bem comum da coletividade
(características de uma ação racional substantiva), como também para exercer o controle e
obter resultados e desempenho maiores (características de uma ação racional instrumental).
Neste sentido, as dimensões, normas e hierarquia são abordadas neste estudo com o
objetivo de descrever como elas se evidenciam e também analisar como os indivíduos as
percebem.
78
Segundo as observações, entrevistas, questionários e documentos analisados, as normas e
a hierarquia no Lar Escola da Criança sofreram alterações significativas, ao longo da sua
história, seja em decorrência das diferentes gestões, como também das mudanças nos
objetivos da instituição. No início, período que compreendeu a gestão das senhoras do
clube da amizade (em que a entidade atendia meninos carentes em regime de internato),
para alguns entrevistados, praticamente não existia normas e regras em relação às
atividades pedagógicas desenvolvidas, tampouco às atividades administrativas. Com
exceção do estatuto da organização, não havia qualquer outro controle documental das
atividades realizadas e havia apenas o estabelecimento mínimo de normas para o
desenvolvimento das ações dos participantes.
A hierarquia apresentava-se clara, baseada em uma estrutura formal centralizada, sem
distribuição equilibrada de autoridade entre os níveis da organização. Os depoimentos, a
seguir ilustram esta constatação:
Olha, antes, ainda quando era o Clube de Amizade, eu tinha que me
reportar a presidente. Todas as minhas prestações de contas, tudo era com
a presidente do Lar Escola. Então, tudo que eu fazia, eu pegava todos os
documentos e deixava pronto e elas iam lá para assinar ou mesmo eu tinha
que pegar o documento e ir à casa de cada uma, porque não podia deixar
para depois. Então, elas não se envolviam muito
. Entrevistada 7
(...) no início era uma casa em que moravam noventa crianças, tinha que ter
as normas, as regras, os horários, isto sempre teve. Agora, da parte
administrativa não tinha, estava começando, estava começando muito
lentamente, a princípio a gente fazia só para atender a parte legal da
contabilidade.
Entrevistada 7
Naquele período, a hierarquia do Lar Escola, então, administrado pelas senhoras do Clube
da Amizade pode ser representada pelo seguinte organograma:
79
Figura 1 – Representação do Organograma do Lar Escola da Criança (gestão das senhoras
do Clube da Amizade)
Em 1979, com a mudança na administração, em que uma Irmã da Congregação assume a
presidência e as senhoras do Clube da Amizade passam a fazer parte da diretoria
administrativa, as irmãs obtiveram mais autonomia. Na fase em questão, a administração
do Lar Escola passou para a responsabilidade das Irmãs e, de acordo com alguns relatos,
iniciou-se o estabelecimento de algumas normas, principalmente, relacionadas aos aspectos
legais (documentação, livro caixa e registros dos internos) e às atividades pedagógicas,
como por exemplo, normas para aceitação e permanência das crianças e adolescentes,
definição e programação das atividades a serem desenvolvidas (data, horário, e maneira de
realizar a atividade). Tal como revela um dos depoimentos:
A instituição só recebia crianças a partir de três anos de idade,
encaminhados via processo judicial; os semi-internos deviam ser
encaminhados pelas próprias famílias ou responsáveis, sendo que de
quatro a seis (anos) permaneceriam o tempo integral na instituição, e os
com idade escolar deviam freqüentar a escola num período e o outro turno
permanecer na instituição; outra norma de aceitação, as mães deviam estar
trabalhando e sem noções de cuidar dos filhos. d) definia-se o tempo para
reforço escolar, alimentação, atividades diversas, tais como bordado,
crochê, esporte, lazer...; e) programação de um passeio anual com as
crianças; programação de um passeio anual com os funcionários e
educadores; definição de uma hora semanal de lazer com os funcionários.
Entrevistado 12
Com o passar dos anos, segundo alguns entrevistados, a irmã presidente, algumas vezes
individualmente e outras em parceria com a diretoria (composta pela presidente, secretária e
as senhoras do Clube da Amizade), começou a definir algumas práticas organizacionais, tal
Senhoras do Clube da Amizade
Imãs Murialdinas Funcionários
80
como reuniões, formação pedagógica, planejamento das atividades internas e eventos
promocionais.
De acordo com as informações coletadas, a hierarquia explicitava-se diante do fato da
estrutura organizacional apresentar-se em três níveis distintos, um representado apenas
pela tomadora de decisão (a irmã), um pela diretoria (formada, em um primeiro momento,
senhoras do Clube da Amizade, depois por alguns poucos funcionários), e outro
representado pelos demais funcionários (educadores e demais funcionários), responsáveis
pela execução das tarefas. Assim, com base nos depoimentos destacados na seqüência, é
possível perceber tanto o estabelecimento de normas, como também a evidência de níveis
organizacionais bem distintos:
Nessa questão de ser humano, elas são iguais (...) Agora a Irmã (...) não
aceitava tanto a opinião: “Tem que fazer isto!” A gente falava: “não dá,
vamos tentar de outro jeito...” “Ah, não, mas a gente faz assim, pode dar
certo”. Já a Irmã (...) (a atual) não, ela fala: “ Faz tal coisa!”, a gente fala:
“não vai dar certo”. Então, procuramos um outro jeito, ela aceita opinião. A
Irmã (a anterior) não, tem esta questão, então é bem diferente.
Entrevistado 9 (grifo nosso)
Na época da Irmã (...) eu peguei no final da Irmã (...), fiquei um ano e pouco
com ela. Foi em 1989, ela saiu em 1990 e o que peguei assim... Na época,
não tínhamos o planejamento estratégico participativo. Então, era um tipo
assim, era uma cúpula que distribuía as suas tarefas, e aquela maneira.
Então, não tinha esta participação, que tem hoje (...)
Entrevistado 3 (grifo
nosso)
(...) na época da Irmã (...) não tínhamos o planejamento estratégico
participativo, era tomada decisão por uma cúpula, era a secretária
executiva, mais a presidente, e alguns membros da diretoria também, e do
tesoureiro e só, então não tinha a participação dos funcionários.
Entrevistado 3 (grifo nosso)
Contudo, percebeu-se que, independentemente à prorrogação de uma estrutura hierárquica
formal e da centralização nas tomadas de decisões, nas administrações realizadas pelas
Irmãs (que antecederam a atual), a mudança de gestão (das senhoras do Clube da Amizade
para as Irmãs Murialdinas) provocou algumas reações de coletividade entre os funcionários,
81
assim como é possível observar pelo relato de um entrevistado ao comentar sobre esse
processo de mudança:
A partir do momento em que as irmãs assumiram, os funcionários
assumiram que a causa da criança não era um caso isolado. Não mais da
elite, mas sim um compromisso de todo mundo. Se todo mundo não
envolvesse, a coisa não ia para frente. Houve um comprometimento a partir
deste momento, aquilo era de todos, não era só de uma elite.
Entrevistado
7 (grifo nosso)
(...) os funcionários passaram a participar disso. Houve muito mais
participação dos funcionários, porque antes (...). Era uma coisa assim,
muito... era impessoal, depois ficou uma coisa mais pessoal. As pessoas se
envolveram mais, se dedicaram muito mais, houve uma transformação
muito grande.
Entrevistado 7
Diante das considerações destacadas, o organograma do Lar Escola da Criança, no período
em questão, pode ser representado, com poucas alterações em relação ao período
anteriormente descrito, apresentando-se ainda sem muitos níveis hierárquicos.
Figura 2 – Representação do Organograma do Lar Escola da Criança (gestão das Irmãs
Murialdinas)
Contudo, é a partir da análise da gestão atual que se percebe relevantes alterações no que
diz respeito ao estabelecimento de normas e hierarquia. De acordo com as informações
coletadas, é possível afirmar que a partir de 1998, com a implementação do Planejamento
Estratégico, algumas normas foram explicitadas e documentadas para o desenvolvimento
de atividades, principalmente no que se refere à definição do que fazer e pessoas
responsáveis por cada atividade (abrangendo todas as áreas da organização).
Presidente (Irmã)
Diretoria
Funcionários
82
Em uma das etapas do Planejamento Estratégico Participativo (ver anexo 9, p. 41), por
exemplo, é possível identificar que o “Detalhamento de Operações” pode corresponder a
uma preocupação com desempenho, principalmente no quadrante “Indicadores de
Execução”, já que, de acordo com o que é explicitado em tal documento, o detalhamento
das operações mostra-se representado por itens específicos que buscam definir: “operação,
objetivo, quem faz, quando faz, indicadores de execução, ação, sub-ação, sub-ação”, tal
como em um processo de produção.
Também é possível observar a existência de uma programação para quase todas as
atividades desenvolvidas. A organização possui cronograma dos eventos, como também a
programação das atividades anuais, semanais e até diárias. De acordo com relato de um
entrevistado, todo final de tarde, o responsável pelo setor faz a “pauta” do dia seguinte,
registrando o que vai acontecer no seu setor, mesmo considerando a possibilidade de
imprevistos.
No que se refere ao estabelecimento de hierarquia, duas práticas organizacionais
chamaram atenção. Uma delas é a elaboração de um organograma (ver anexo 9, p. 12) que
dispõe cada participante em setores específicos e também divide suas responsabilidades.
Assim, para os entrevistados, os indivíduos encarregados de cada setor possuem mais
autonomia para decidir sobre os assuntos que dizem respeito ao setor a qual pertencem.
Fato que contribui, segundo eles, para que se sintam mais participativos e mais
responsáveis pelo alcance dos objetivos da entidade. Os relatos a seguir, são exemplos
desta percepção:
Hoje já não é mais assim, porque no momento que foi implementado o
planejamento, as pessoas perceberam que todos tinham sua fatia na
participação e na mudança (...) e tinham metas e projetos.
Entrevistado 1
Para deixar claro, “eu sou da cozinha, qual é o meu papel, o que eu faço lá
na cozinha...” Deixar claro, para ele e para quem está dentro do processo.
83
Para que eu saiba qual é a sua função, aqui no administrativo, no
pedagógico, nos serviços gerais, porque se eu não definisse, ficava muito
complicado pra todos.
Entrevistado 1
A outra constatação, que se faz em relação à hierarquia atual, é que, com desenvolvimento
de setores, criou-se também um comitê de gerenciamento (do qual fazem parte um
representante de cada setor), com o objetivo de que os processos e ações organizacionais,
ficassem menos centralizados, podendo, inclusive, os participantes de um setor específico,
tomar algumas decisões, independente dos outros setores. Embora, deva-se ressaltar que,
semanalmente, é realizada uma reunião entre os representantes para atualizar as
informações de cada setor e a trocar informações.
Por outro lado, conforme já mencionado, deve ficar claro que a utilização desses
instrumentos de gestão (desenvolvidos, originalmente, para empresas econômicas), no
estabelecimento de normas e hierarquia, pode refletir uma preocupação maior com
resultados quantificáveis e funcionais, do que com o entendimento coletivo.
Assim, com base na análise das normas e hierarquia do Lar Escola da Criança de Maringá,
ao longo de sua história, percebe-se que ambas foram estabelecidas, ora com base na ação
racional instrumental, ora com fundamentada pela ação racional substantiva, contudo o
primeiro caso mostra-se mais evidente nos últimos anos, possivelmente em decorrência de
pressões sociais, políticas ou econômicas.
4.2.1.2 Controle e Avaliação
Segundo o quadro referencial de análise, o controle e a avaliação estabelecidos em uma
organização podem ser baseados no entendimento definido que preserve valores de
emancipação do grupo (características de uma ação racional substantiva) ou realizados
para obter a maximização dos recursos financeiros, com base no cálculo (características de
84
uma ação racional instrumental). Desse modo, a descrição e análise de tais dimensões
podem revelar qual é o escopo destes processos, no espaço organizacional investigado.
Desse modo, ao longo da história do Lar Escola da Criança, é possível perceber propósitos
distintos para o estabelecimento do controle e da avaliação, bem como diferentes maneiras
de controlar e avaliar as atividades desenvolvidas e os participantes.
De acordo com as informações coletadas, quando a organização era administrada pelas
senhoras do Clube da Amizade, não havia nenhuma espécie de controle ou avaliação dos
participantes, só existia alguns controles relativos às atividades desenvolvidas e, ainda,
apenas os controles exigidos por lei. Como informa um dos entrevistados:
Desde o início que eu trabalhei, não tinha avaliação nenhuma, depois a
gente fazia assim, relatórios que eram obrigatórios por lei. Tudo que era
obrigado por lei fazer só que a gente fazia. Não tinha nada, nenhuma coisa
para buscar recursos, agora tem planejamento estratégico, você faz
relatório, o que melhorou.
Entrevistado 7
No período compreendido da gestão das Irmãs Murialdinas, de acordo com os pesquisados,
as atividades começaram a ser avaliadas de forma indireta, por meio de reuniões e
conversas informais. Nesta forma de avaliação recorria-se aos valores da entidade, visando
a manutenção de um grupo coeso de participantes. Tal como relata um ex-participante:
Mensalmente toda equipe se reunia, para rever, avaliar, planejar ou fazer
encaminhamentos necessários, e também pra um tempo de reflexão e
oração.
Entrevistado 12
Já na administração atual, de acordo com o relato de um dos entrevistados, percebe-se uma
grande preocupação com os processos de controle e avaliação. Tal é a preocupação que
foram desenvolvidos mecanismos que visam, não só controlar e avaliar as ações
desenvolvidas, como o comportamento participante da organização.
85
Então, a gente resolveu fazer um plano de ação, porque a gente cobrava
resultados, mas a gente não chegava a avaliar. Por exemplo, o
pedagógico... Eu chegava lá, para avaliar no setor pedagógico... “Eu não
sei o que o pedagógico faz...” Agora a gente começou fazer um plano para
todo mundo tomar conhecimento
. Entrevistado 1 (grifo nosso)
Assim, com base nas informações coletadas, pode-se dizer que os processos de controle e
avaliação, atualmente, estão focados, tanto nas práticas administrativas e pedagógicas
desenvolvidas, como também nos funcionários. Na primeira situação, o Planejamento
Estratégico Participativo serve como instrumento de monitoração, já que neste documento
consta, de forma detalhada, o que cada um deve fazer, qual a responsabilidade de cada
setor, qual o prazo para a realização das atividades e os indicadores de execução de tais
atividades (ver anexo 9, p. 41 e 50). Essa forma de controle e avaliação é ressaltada por
alguns entrevistados, como mostram os trechos abaixo:
Todos os funcionários, nós paramos, fazemos a avaliação semestral. Nós
pegamos o cronograma, verificamos as atividades maiores que foram
desenvolvidas, e, além disso, no mês passado, foi avaliado os setores. Foi
avaliada a ressonância de cada setor da entidade. Então, isto foi uma coisa
muito interessante, foi a primeira avaliação que nós fizemos neste sentido...
“Eu que estou lá no setor de limpeza, qual foi a ressonância do financeiro?”
Entrevistado 8.
(...) cada setor tem um representante e aí, no final deste semestre, a gente
se reúne novamente e cada setor avalia o seu setor, até o próprio setor,
além de avaliar os outros. Olhar o que os outros estão fazendo. A gente
avalia o nosso setor, mas, às vezes, o outro vê coisas que nós não
conseguimos ver.
Entrevistado 4.
Já o controle e avaliação com o foco nos participantes se deflagram, segundo os
entrevistados e observações realizadas, à medida que os funcionários tornam-se alvos de
supervisão direta e constante por outro participante, geralmente, pertencente a um nível
hierárquico superior. Também se identificou como controle, a necessidade do funcionário
estar comunicando, constantemente, o andamento e o resultado das atividades sob sua
responsabilidade. Vale ressaltar ainda que, em algumas situações, ocorre punição, caso o
comportamento ou desempenho não seja o esperado. Tal como apontam alguns
entrevistados:
86
(...) tudo tem um tempo, um prazo, você vai fazer tal coisa... “Quantos
meses, até quando?”. Coisas que a gente colocou, que é feito até agosto,
já deve ter sido feito.Então, é assim (...) na avaliação você vai ter que
explicar porque, porque não deu, o que tem ser feito, e a gente coloca, o
que precisa.
Entrevistado 9
Olha, inicialmente o comitê de gerenciamento faz uma avaliação,
semestralmente. Só que o que é ocorrido, assim, neste meio tempo, aí é
levado para o comitê. É uma coisa que eu fiz de errado, meu nome vai para
o comitê.
Entrevistado 6
(...) quando há alguma adversidade, algum problema, tenta-se resolver no
setor. É o setor que tem o controle, avaliação destas coisas... bem, deveria
ser, né? Aí, depois disso, que passa pelo setor (...). Eu mesma, se não
consigo resolver aqui, levo para lá, no último caso é chamado o funcionário
e tudo mais, aí já é advertência, né?
Entrevistado 6
Já aconteceu de pegar gente que não fechou não... E a gente trabalha
muito com o funcionário assim, a gente contrata para este perfil aqui: “ É
isto aqui que a gente quer de você...” ... e é avaliação constante... “ Disto
aqui, o que você está correspondendo e o que você não esta
correspondendo?” Porque não é simplesmente para se receber um salário,
não. Aqui você tem que ter um perfil, ter uma “mística” de trabalho.
Entrevistado 1
Diante dos depoimentos relatados, e considerando que eles reproduzem as percepções dos
participantes do Lar Escola da Criança acerca das transformações ocorridas ao longo da
história da organização, pode-se deduzir que as alterações nos processos de controle e
avaliação tornaram-se muito mais instrumentais na última gestão. Tal fato pode ser
resultado tanto do perfil da atual presidente, como também estar refletindo algumas
mudanças socioeconômicas deste período.
Com já abordado no referencial teórico, este tipo de organização acaba, muitas vezes,
cedendo às pressões das chamada “necessidade” de se tornarem mais competitivas e mais
profissionalizadas para despertar ou manter interesse de possíveis parceiros e
financiadores. Neste contexto, a busca pelo desempenho, via controle e avaliação, pode se
caracterizar pelo desenvolvimento de indicadores de resultados, monitoração das
atividades, punição e definição de perfil profissional adequado à organização, tal como se
evidenciou nos relatos apresentados.
87
4.2.1.3 Processo decisório
Com base no quadro referencial de análise, a dimensão processo decisório é descrita e
analisada, aqui, com o propósito de se compreender se as decisões são estabelecidas
mediante o consenso da coletividade e com base no julgamento ético (características da
ação racional substantiva) ou se são estabelecidas para extrair o melhor resultado, visando
o aumento da lucratividade (característica da ação racional instrumental). Antes disso,
porém, vale destacar a possível semelhança entre a análise da hierarquia (já realizada) e o
processo decisório (que se analisa nesse tópico), haja vista o fato da tomada de decisão
estar, em muitos casos, atrelada a um nível hierárquico específico.
Conforme a coleta de dados, o Lar Escola da Criança, desde sua fundação até os dias
atuais, revelou-se palco de tipos de decisão tomadas de forma centralizada e individual,
como também as que as manifestavam de forma coletiva.
Os relatos acerca do período em que a instituição foi administrada pelas senhoras do Clube
da Amizade mostram que as decisões eram bastante centralizadas, dificultando até mesmo
o andamento das atividades organizacionais. Isso ocorria, segundo os relatos, porque a
presidente não vivenciava os problemas diários da organização (tal como as Irmãs), ela
aparecia apenas eventualmente. Como já mencionado, um dos principais problemas
enfrentados nos primeiros anos da entidade era justamente o conflito entre as senhoras do
Clube da Amizade e as Irmãs que atuavam no Lar Escola, que por várias vezes
impossibilitou a permanência de algumas congregações. Como citam os pesquisados:
(...) às vezes, algum choque com as primeiras Irmãs (...), na parte interna, o
que as levou ao seu afastamento.
Entrevistado 11
88
(...) As senhoras do Clube de Amizade continuavam na presidência. Só
depois, em alguns anos depois que as irmãs começaram assumir a
presidência do Lar Escola, porque quem vivia aqui dentro, as 24 horas eram
as irmãs. E era difícil sair daqui pra ir a procura do Clube da Amizade, da
presidência, pra qualquer decisão aqui ou até mesmo cheque, organizar
problemas e tal..... Então, ser diretora, como a diretoria que não estava aqui
dentro, era muito complicado.
Entrevistado 1 (grifo nosso)
A partir do momento em que uma das Irmãs assumiu a presidência do Lar Escola, a
autonomia conquistada permitiu o redirecionamento de algumas atividades. A Irmã tornou-
se a principal responsável pelas tomadas de decisão, mesmo com a presença das senhoras
do Clube da Amizade na diretoria da entidade.
As decisões passaram a ser de uma Irmã e de uma diretoria composta,
também, por pessoas do Clube da Amizade, mas era a Irmã que tinha a
palavra final. Isto melhorou muito, por que as pessoas sabiam, a partir do
momento em que irmãs não eram mais só funcionárias do Lar Escola, e sim
gestoras do Lar Escola, isto mudou bastante até para parte administrativa,
a admissão de funcionários, contratação, demissão, contabilidade, e
também, informações. Todas as responsabilidades eram das Irmãs, daí.
Entrevistado 7 (grifo nosso)
Contudo, é importante pontuar que essa mudança na gestão da entidade não representou
uma maior participação dos funcionários nas decisões organizacionais, muito pelo contrário,
o processo permaneceu centralizado. Na maioria dos casos a Irmã decidia sozinha, em
outros as decisões eram tomadas junto com a diretoria (composta por poucos funcionários e
pelas senhoras do Clube da Amizade). A mudança no processo decisório somente ocorreu
na gestão atual, como é possível se observar através dos relatos:
(...) na época da Irmã (...), não tínhamos o planejamento estratégico
participativo, era tomada decisão por uma cúpula, era a secretária
executiva, mais a presidente, e alguns membros da diretoria também, e do
tesoureiro e só, então não tinha a participação dos funcionários, da
comunidade, das crianças, dos setores não tinham participação, e também
era mais assistencialista que hoje (...). Agora sim, agora tem a participação
de todo mundo, nada é decidido só pela irmã, então, “todo mundo” participa
das decisões, inclusive tem um comitê. Então, eu já participava do comitê,
não era comitê de gerenciamento, agora é comitê de gerenciamento. Então,
o que nós tínhamos era mais participação pedagógica, uma coisa assim,
não era comitê de gerenciamento.
Entrevistado 3 (grifo nosso)
89
Quando eu cheguei aqui, ainda, a Irmã era tudo. O processo decisório era
aqui na frente, hoje não. Hoje faz uma participação, através do comitê e da
diretoria, e também a gente procura considerar muito, toda a voz e a vez de
todos aqueles que fazem o processo participativo. Então, se a gente tem
que decidir, a gente não decide mais assim, ignorando o que eles estão
pensando lá, as crianças, os adolescente ou os professores, ou outros
setores... Hoje, pra eu te dar um exemplo, eu até esses dias comprei uns
rodinhos para limpeza. Eu chamei todo mundo da limpeza. “ Vocês topam?
É pra vocês... Eu estou achando bom... Vocês acham bom?” Quer dizer,
tem experiência... e como são eles os responsáveis, eu me guiei por eles.
Em vez de eu tomar uma decisão, cada setor na sua atividade contribui para
poder melhorar. Por que hoje, a gente tem que trabalhar em comunhão, em
partilha, né? Senão, não dá. Também nisso, a gente mudou.
Entrevistado 1
A Irmã (...) dá autonomia para nós. “-Faça, se não der certo, desfaz, mas
você tentou!”. (...) Você tentou, você sabe, você não errou, você aprendeu
que, por aquela forma, não pode ser feita aquela atividade
. Entrevistado 4
(grifo nosso)
As decisões principais têm que pensar melhor (...), então o comitê realiza,
tem uma decisão mais certa, mas se tratando de outras coisas, com relação
a cronograma, rotina da entidade, uma vez por mês, toda a equipe
educativa se reúne, conversa, decidem as coisas, juntos. Assim, o que é
possível, que toda a equipe educativa participe, a gente faz com que
participa. Até mesmo no começo da semana, para dar uns recados, uma
coisa que a gente participa, tem que saber tudo.
Entrevistado 8 (grifo
nosso)
Os depoimentos destacados revelam que na atual gestão as decisões são realizadas com
base no interesse coletivo e com a participação ativa dos funcionários. O entrevistados de
um modo geral, utilizam termos que remetem à igualdade, à autonomia, à coletividade e ao
bem comum. Nota-se ainda que alguns atribuem essa mudança no processo decisório ao
perfil da presidente atual e outros argumentam que a participação dos funcionários nos
processos de tomada de decisão é decorrência da implementação do Planejamento
Estratégico Participativo. Tal instrumento, segundo os depoimentos, possibilitou a divisão de
atividades e responsabilidades e, também, lhes garantiu poder discutir, debater e decidir
muitas das ações organizacionais. Observa-se ainda, que a existência de um Comitê de
Gerenciamento, constituído de um representante de cada setor organizacional
(administrativo, pedagógico, assistência social, serviços gerais e financeiro) também
contribui para a descentralização das tomadas de decisões como evidenciaram os relatos
citados.
90
Assim, o processo decisório no Lar Escola da Criança, ao que parece, transformou-se, no
decorrer do tempo, de centralizado para coletivo. Neste sentido, se deduz que, no período
em as senhoras do Clube da Amizade estavam na gestão da entidade e também nos anos
em que outras Irmãs foram presidentes, não se contemplava o consenso nas decisões e sim
o interesse de uma pequena minoria que, no primeiro caso, sequer vivenciava as
necessidades coletivas dos internos e dos funcionários. Contudo, o processo de tomada de
decisão nos dois primeiros períodos de gestão analisados, não pode ser caracterizado com
predominância de traços característicos de ação racional instrumental sobre a substantiva,
pois o fato das decisões serem centralizadas não pode ser entendido como indicativo de
que o objetivo era o aumento do desempenho. Já na fase que corresponde à administração
atual, nota-se a coexistência de ações racionais instrumentais, pelo uso de instrumentos de
gestão (tais como o Planejamento Estratégico Participativo o Comitê de Gerenciamento), e
ações racionais substantivas, evidenciadas através de manifestações de coletividade e de
participação.
4.2.1.4 Relações interpessoais e comunicação
Tendo como referência o quadro de análise apresentado, procura-se compreender se as
relações interpessoais e a comunicação estabelecidas, ao longo do tempo, entre os
participantes do Lar Escola da Criança, são baseadas no consenso, na autonomia, na
autenticidade e na partilha de valores de igualdade e emancipação (características da ação
racional substantiva), ou na busca o êxito utilitário e a maximização dos resultados.
Conforme os depoimentos coletados, quando as senhoras do Clube da Amizade dirigiam a
organização a relação entre os participantes (internos, funcionário e diretoria) era muito
difícil. Os adolescentes eram vistos como rebeldes e indisciplinados, pelas senhoras e pelos
funcionários. Assim, cada um desenvolvia seu papel, sem muito envolvimento. Também não
ocorriam reuniões para se discutir o desenvolvimento das atividades pedagógicas e
91
organizacionais. Como ressaltou o questionado 1, antes apenas existiam “reuniões sociais”.
Fato este confirmado por uma ex-presidente ao afirmar:
Nós tínhamos uma equipe (...) que tomava todas as providências, que
organizava chás, que organizava as festas (...). As reuniões do Clube de
Amizade nós fazíamos lá, porque nós não tínhamos sede, o Clube de
Amizade não tinha, nós nos reunimos no Lar.
Entrevistado 10
Conforme comenta um ex-funcionário, as senhoras do Clube da Amizade não estabeleciam
relações interpessoais mais próximas, seja com os internos, ou seja, com os funcionários.
Elas iam à organização apenas para suas reuniões sociais e para resolver algumas
atividades “burocráticas”. Tal como é retratado no depoimento abaixo:
Não tinha... Era só assim, se fosse para admitir e demitir alguém que elas
estavam lá, mas elas não gostavam de se envolver com os funcionários, até
porque tinham uma dificuldade muito grande de... Hoje não tem muito disso,
mas elas eram uma elite, eram considerados da elite. Então, não tinha
então envolvimento com os funcionários, eles não queriam se envolver.
Entrevistado 7
Já as informações obtidas referentes ao período em que administração do Lar Escola estava
sob a responsabilidade das Irmãs Murialdinas, revelam que o período que compreendeu ao
início da gestão das Irmãs ainda não havia reuniões, mas a partir da das gestões seguintes
(mesmo que de forma incipiente) as reuniões começaram a fazer parte do cotidiano dos
participantes da instituição, como também se estreitaram os laços entre os funcionários, as
irmãs e os adolescentes. Tal como mostra as afirmações do entrevistado 7 e 12,
respectivamente:
Não, não faziam reunião por que as irmãs que cuidavam, tinha cozinheira...
Cada um fazia a sua parte, não tinha, comunicação, interação.
Entrevistado 7
Quanto às formas de comunicação: Reuniões por setores , de acordo com
a necessidade; Reuniões bimestrais com os pais dos semi-internos; Visitas
a familiares ou parentes dos (as) internos; Conversas formais e informais
com voluntários, técnicos e profissionais
. Entrevistado 12
92
Hoje em dia, de acordo com os entrevistados e as observações realizadas, as reuniões são
bastante freqüentes (algumas são programadas no início do semestre) e algumas vezes
setorizadas. Nas reuniões se discute sobre as atividades desenvolvidas na instituição, sobre
as programações e também os problemas do dia a dia, com o objetivo de buscar a
participação de todos nos processos organizacionais. A seguir, são destacados alguns
relatos que reproduzem a percepção de alguns participantes quanto às reuniões
estabelecidas na instituição.
Bom, aqui dentro tem aquela reunião mensal, onde a gente procura sempre
trazer a voz e a vez de todos os setores da equipe. Então, todos eles têm
(oportunidade) pra contar novidade, falar o que pode ser diferente, pedir
opiniões, resolver problemas. Isso a gente sempre tem uma vez por mês.
Entrevistado 1 (grifo nosso)
Então eventualmente, todos reúnem para falar dos problemas de cada
setor. Uma vez no mês, todos os funcionários param, uma segunda-feira por
mês as crianças não vêm! Isso está no cronograma de 2004, quais as
segundas-feiras a gente pára. Toda sexta-feira o pedagógico se reúne às
seis horas. Aí, cada dia a gente tem que ver o que é mais gritante, se é
avaliação, se é o planejamento pedagógico, se é um problema de
relacionamento. Aí a gente conversa, sabe. Aí, você vê o que é mais
gritante, porque se não parar eu não sei o que acontece, porque chega
sexta-feira tem coisa para falar, tanta coisa!
Entrevistado 6 (grifo nosso)
Existe reunião de toda equipe, que é sempre na última segunda feira do
mês, de toda equipe, e a reunião do comitê, é sempre antes da reunião de
toda a equipe, a gente se reuni, e decide o que vai passar para toda a
equipe na segunda feira, na última segunda feira.
Entrevistado 9
Contudo, deve destacar que são as conversas informais, a principal forma de comunicação
entre os participantes. No período da investigação em que a pesquisadora participou do
cotidiano organizacional, foi possível perceber a interação entre os participantes de todos
os setores da organização e também a autenticidade nos comportamentos de alguns
funcionários, em especial os entrevistados. A demonstração de contentamento ou
descontentamento em situações específicas vivenciadas por eles e a maneira e um tratar o
outro e os vínculos afetivos percebidos, foram os principais indicativos para essa
constatação.
93
Ao se analisar esses três períodos de gestão, observou-se que, na administração das
senhoras do Clube da Amizade, o tipo de relacionamento interpessoal e comunicação
estabelecidos entre os participantes da entidade distanciava-se nitidamente das
características de ação racional substantiva. Por outro lado, não se pode afirmar que essas
dimensões se aproximavam muito de uma ação racional instrumental, haja vista que não se
considerou que, no caso em questão, utilizava-se estrategicamente das relações
interpessoais e da comunicação para a maximização produtiva, tal como retrata o quadro
referencial de análise.
Agora, quanto às gestões das Irmãs Murialdinas, sejam as anteriores, mas, principalmente,
a atual, percebeu-se que é dada uma grande importância para os relacionamentos
interpessoais e para as diferentes formas de comunicação, ambas visando a autenticidade e
a partilha de valores. Neste sentido, traços fortes de manifestação de ação racional
substantiva puderam ser observadas.
4.2.1.5 Recrutamento e promoção dos participantes
As dimensões recrutamento e promoção, conforme o quadro referencial de análise utilizado
para este estudo, podem se caracterizar pela busca de pessoas que partilham os mesmos
valores emancipatórios, que tenham uma atuação comunitária e preocupação social
(características de uma ação racional substantiva), como também, na busca de pessoas
com qualificação para obtenção do máximo de resultado (características de uma ação
racional instrumental). Dessa forma, pediu-se para que o pesquisado descrevesse como foi
sua admissão para trabalhar no Lar Escola, ou nomeação para a presidência (no caso da
presidente e ex-presidente) e, caso tivesse sido promovido ou demitido que também
comentasse a respeito.
94
Assim, principalmente com base no relato dos entrevistados, constatou-se que os critérios
para admissão de funcionários e nomeação de presidente, mostraram-se em alguns
momentos semelhantes e em outros significativamente distintos.
No início, período em que a gestão era realizada pelas senhoras do Clube da Amizade,
segundo alguns depoimentos, havia muito poucos funcionários e até, em algumas ocasiões
não havia funcionário algum, como revela um entrevistado:
Quando eu peguei, não tinha ninguém (referindo-se a funcionários). Aí uma
senhora, até me lembro, veio Dona (...) e outra senhora, que passaram a
tomar conta, e ficar lá.
Entrevistado 10
Em tempo, é importante ressaltar que as primeiras presidentes do Lar Escola da Criança
foram convidadas e o critério adotado para escolha era apenas que pertencessem ao Clube
da Amizade. Como já mencionado, o arcebispo da cidade (no período em questão) propôs
àquelas mulheres que, além de chás e festas beneficentes, desenvolvessem um trabalho
de assistência social por meio de uma entidade. Fundado o Lar Escola, essas senhoras se
revezavam como presidentes da organização, como pode ser exemplificado pelas citações
abaixo:
Entrei para o Lar por intermédio do Clube da Amizade. Convidaram-me para
ser sócia, participar do Lar. Então para entrar, eu entrei no Clube da
Amizade, comecei a participar, em 1964. Desde 1964 pertenço ao Clube da
Amizade que começou o Lar Escola. Eu trabalho no Lar Escola, por que
sempre trabalhei, desde que eu entrei.
Entrevistado 10
(...) por que era um ano cada uma, eu era vice da dona Nilza, todo mundo
estava no meio, alguma coisa, isto aqui é do clube, mas a gente estava
sempre, sempre juntas, trabalhávamos feito umas loucas.
Entrevistado 10
Já em relação às Irmãs, segundo as informações coletadas, elas foram convidadas pelo
arcebispo para cuidarem dos adolescentes do Lar Escola, e também foi por intermédio dele
que conquistaram, anos mais tarde, a presidência da instituição. As presidentes seqüentes
foram nomeadas pela referida Congregação, tal como pode ser observado pelos relatos
abaixo:
95
Falaram-me da Congregação das Irmãs Murialdinas de São José que, no
sul, trabalham, com bons resultados, com obras iguais a do Lar Escola.
Enquanto, por um tempo, as senhoras dirigiam o Lar, entrei em contato co a
Superiora Provincial das Murialdinas, convidando-as para assumir o Lar, o
que ocorreu em 1974
. Entrevistado 11
A Direção da Congregação a qual pertenço (...) achou por bem me confiar
esta tarefa de grande responsabilidade, e acredito que confiava e apostava
no meu trabalho e capacidade de dar continuidade a assistência e amparo
às crianças necessitadas da época.
Entrevistado 12
Após as Irmãs Murialdinas assumirem a presidência, segundo os relatos, alguns poucos
funcionários foram contratados e outros cedidos pela prefeitura. Não havia uma seleção dos
funcionários da prefeitura, se aceitava os que eram enviados. Quanto aos outros, os
critérios para a seleção baseavam-se no conhecimento da atividade que iram desenvolver e,
principalmente, tinham que compartilhar da missão da entidade.
Na administração atual, não há mais funcionários da prefeitura, é repassado um valor x para
que a própria organização os contrate. Tal fato, segundo alguns entrevistados, mostrou-se
positivo para a organização, haja vista que dessa forma fica mais fácil escolher o funcionário
que tenha “o perfil” desejado pela organização. Trata-se, de acordo com eles, de um
“carisma” para desenvolver esse tipo de atividade. Os relatos abaixo, exemplificam essa
percepção:
Para a contratação do funcionário, a gente faz uma entrevista, justamente,
já visando o perfil e depois, a gente faz um contrato temporário (três
meses), é um contrato de experiência. E a gente pede para ele todo um
conteúdo, de perfil, de conhecimento e tal, para ver se ele tem alguma coisa
que ele se amolda, ou não.
Entrevistado 1 (grifo nosso)
Aí ele passa pelo responsável pelo setor pra ver, de fato, se a pessoa
realmente tem esta vocação, esse dom. Eles observam os três meses de
adaptação...Alguns não passam de três meses porque, às vezes, engana
um pouco, né?
Entrevistado 6 (grifo nosso)
96
Outra característica que despertou atenção, quando se realizava a coleta de dados, via
observação participante, é que a maioria dos funcionários da entidade são católicos e
engajados em algum movimento religioso, tais como grupo de jovens e pastoral da criança.
Há que se destacar também o fato das contratações estarem baseadas muito mais em
critérios pessoais do que profissionais, já que, de acordo com a observação e entrevistas,
valoriza-se mais as habilidades humanas e sociais do que as técnicas e profissionais. A
preocupação com o perfil do participante, segundo alguns entrevistados, faz com que,
geralmente, sejam contratadas pessoas a partir de indicação de outros funcionários. Como
se pode perceber no relato abaixo:
Aqui, na verdade, o currículo não vale tanto, o que vale aqui mesmo é o
carisma, é o talento, por isto a gente pega mais por indicação... “Ah, o
fulano está lá porque fulano indicou...” É isto mesmo, porque a gente já
teve pessoa que passou por aqui com mestrado e... (balança a cabeça,
negativamente), usando só o currículo, não deu certo para gente. Então,
pessoas com mestrado, doutorado passou por aqui...Doutorado, e não se
adaptou, de jeito nenhum! Então, (...) a gente até pega o currículo, para ver
se tem formação básica, porém, o que vale mesmo é o carisma da pessoa,
o jeito, o talento...
Entrevistado 6 (grifo nosso)
Contudo, entre os depoimentos dos participantes sobre a dimensão recrutamento e
promoção, um chamou atenção por exemplificar bem que os critérios adotados para a
contratação e promoção de funcionários baseiam-se na identificação com os objetivos da
entidade de valorização humana, com a preocupação social do indivíduo:
Eu comecei no Lar Escola como serviços gerais, lavar calçada, na rua,
trabalhar com as crianças e, aí, faltava algum educador, eu supria a vaga
dele. Antes disso tudo, eu comecei a fazer trabalho voluntário aqui, porque
eu estava desempregado. Quando eu procurava serviço na parte da manhã,
levava os meus currículos, e, na parte da tarde eu fazia trabalho voluntário
aqui. Aí precisavam de um serviço geral e me contrataram, e na falta de um
educador eu supria a falta. Fui convidado para trabalhar em sala, eu
comecei a fazer atividade em sala, comecei a jogar futebol com os meninos,
projeto de extensão com o professor (...). Precisavam de uma pessoa para
jogar futebol e me convidaram. As aulas que eu fazia com professor (...), eu
adaptava e dava para os adolescentes e para crianças (...). Eu comecei a
fazer visitas nas famílias com a Irmã (...) que é assistente social (...), e aí fui
para auxiliar de assistente social. Daí eu comecei a trabalhar direto com as
famílias, mas ficou complicado fazer o atendimento lá, às vezes a assistente
97
social tem que resolver algum problema complicado. Como eu trabalhava na
mesma sala que ela, às vezes eu tinha que sair, fazer outra coisa, e aí
então, resolveram me passar para o pedagógico, voltei no pedagógico como
auxiliar de direção. Foi uma mudança em três anos, foram quatro funções.
Entrevistado 4
Como é possível perceber, o processo de recrutamento e promoção dos participantes do Lar
Escola da Criança de Maringá, desde sua fundação até os dias atuais, não se revelou
baseado na busca de profissionais altamente qualificados e competitivos, pelo contrário, a
escolha dos participantes da instituição revela-se fundamentada por valores cristãos,
humanos e sociais, tais como os que norteiam a organização. Assim sendo, considera-se,
nesta dimensão analisada, a predominância de ações racionais substantivas.
4.2.1.6 Conflitos
De acordo com o quadro referencial de análise, a administração dos conflitos em uma
organização pode ser baseada na autenticidade e na busca do entendimento e do consenso
(manifestação da ação racional substantiva) ou baseada em estratégias individualistas, que
visam o desempenho máximo (manifestação da ação racional instrumental). Desse modo, a
descrição e análise desta dimensão neste estudo, pode indicar qual é o possível propósito
da deflagração dos conflitos e sua administração no espaço organizacional investigado.
De acordo com os dados coletados, ao longo da história do Lar Escola da Criança, os
conflitos foram percebidos e tratados de forma distinta pelos participantes da entidade. Em
alguns momentos, foram vistos como fator impeditivo para a realização das atividades, já
em outros momentos, foram tratados como elementos naturais das relações
organizacionais.
Na gestão das senhoras do Clube da Amizade, como já mencionado anteriormente,
algumas Irmãs que vieram desenvolver atividades no Lar Escola não conseguiram continuar
98
e se afastaram da organização devido, segundo alguns relatos, aos conflitos entre elas e as
senhoras do clube. Ainda segundo os depoimentos, os conflitos eram decorrentes da
maneira centralizada que a presidente (uma das senhoras do clube) tomava as decisões.
Ainda mais levando em consideração o fato de que as Irmãs moravam no Lar, sabiam das
necessidades organizacionais, mas não podiam decidir nada. A falta de entendimento entre
elas foi até reportada por alguns dos pesquisados. Abaixo são reproduzidos, novamente, os
relatos sobre esse fato:
(...) depois, com o passar do tempo, não deu certo das senhoras
administrarem esta entidade, o (...) (cita o nome do arcebispo) buscou
várias congregações de religiosas para constituir, fazer um trabalho, mas
não deu certo.
Entrevistado 8
(...) não havendo bom entendimento entre a administração externa e a
interna, as Irmãs (...), embora lamentando, deixaram sua colaboração junto
ao Lar Escola. Novamente, a dificuldade para as senhoras dirigentes do
clube da amizade: quem cuidaria da administração do Lar Escola, por certo
a mais difícil.
Entrevistado 11
(...) Insistiam, porém, para que eu conseguisse outras Irmãs para a direção
interna. Lembrei-me do ocorrido e elas prometeram prudência e respeito ao
trabalho das Irmãs.
Entrevistado 11
A partir da gestão das Irmãs, segundo um dos entrevistados, os conflitos se manifestavam,
principalmente, em situações de mudança organizacional. Alguns não concordavam com os
novos delineamentos da entidade e, numa tentativa de manter a mesma forma de
desenvolver as atividades, entravam em choque com os demais. Como relata um dos
entrevistados:
Houve algumas resistências, principalmente os mais antigos tinham, por que
tudo que é novo, você tende a recear, e mesmo não querer. Resistência,
por isto que houve muitas reuniões. Estávamos construindo o planejamento,
muitas reuniões, muitos choros, realmente houve assim, brigas, discussões,
questionamento (...).
Entrevistado 3
99
Atualmente, os conflitos bastante eminentes, de acordo com os entrevistados, são
encarados como algo natural do dia a dia na entidade, tanto que para se lidar com situações
de conflito os participantes optam pela conversa, pelo diálogo entre as partes para se
alcançar o entendimento, em casos mais graves a situação é levada para a reunião.
Contudo, segundo eles, há, também, ocasiões em que o embate prevalece e o conflito abala
as relações entre os participantes. Os relatos abaixo revelam como alguns percebem e
administram o conflito:
Antes era assim, um outro grupo que tinha, da prefeitura mesmo. Um
querendo puxar o tapete do outro, sem se olhar... “Não vou falar com
fulano”. Não tem jeito mesmo, teve uma coisa, chegou uma hora, que o
clima ficou horrível. (...) Mas este (...) dá para conversar. São poucos que
não aceitam uma conversa, eu percebo que alguns, não me aceitam como
diretora
. Entrevistado 6 (grifo nosso)
Como em qualquer empresa isso acontece muito, aqui também. Então, a
gente, em alguns momentos, tem que parar, tem que conversar. Até as
pessoas do setor de recursos humanos conversam com o educador. Sabe,
independente do serviço que se desenvolve aqui, é educador dentro da
entidade, então chamamos o educador como responsável. “- Com quem
está tendo conflito?” Então, a gente senta, conversa, chama assistente
social dentro da entidade (...)
. Entrevistado 8 (grifo nosso)
Problemas que podem ser resolvidos na hora. Tem um problema aqui... A
(...) (o entrevistado cita o nome de um funcionário) teve um probleminha
aqui que foi resolvido na hora. “-Você está com problema, você fez uma
coisa que não gostei, mas não foi por querer” (...) a gente não leva nada
para casa, roupa suja a gente lava aqui. Não adianta nada chegar amanhã
e não chegar para ela (referindo-se à mesma pessoa citada anteriormente),
e não falar “bom dia”. É raro acontecer, mas é resolvido na hora, e toda
sexta-feira nós reunimos, no setor pedagógico aqui em cima para este tipo
de coisa.
Entrevistado 4 (grifo nosso)
Com certeza, a gente procura trabalhar muito em parceria, por isto que é
assim, como a gente tem esta mística, claro, nós Irmãs, procuramos passar
isto para os educadores (...), porque se você colocar competição no meio,
sobressair individualmente. É o que a sociedade capitalista coloca, aí pra
você poder subir, alguém vai ter que descer, e a gente não quer isto aqui
dentro. Sempre que uma coisa acontece, a gente é uma equipe, aí a equipe
vai bem só se todos nós formos, tanto que nós tivemos uma dinâmica ao
fechar o primeiro semestre. Foi desenhado um corpo de uma pessoa e lido
um texto bíblico que São Paulo que diz assim: “-o pé não pode dizer para
mão: você não me pertence, por que eu não sou a mão. Daí, você que se
vire, você que é mão eu não vou fazer mais nada”. Aí começamos montar
um corpo. Comparamos este corpo com o Lar Escola (...) Então, sempre se
faz essa reflexão, é parado para refletir sobre isto, como equipe
.
Entrevistado 2 (grifo nosso)
100
Um dos motivos dos conflitos é que o ser humano é muito competitivo, vive
numa sociedade competitiva, é aquela questão de vou fazer isto, e
sobressair. Então, às vezes, deve ser notada esta questão da
competitividade: “Vou fazer isso, para ter ganho com este pessoal, em cima
disso”. Você não está aqui dentro por causa dos adolescentes e das
crianças que estão aqui, então quando foge este nosso perfil...tsc, tsc, tsc.
(o entrevistado balança a cabeça negativamente).
Entrevistado 2 (grifo
nosso)
Com base nas informações coletadas e aqui apresentadas, constatou-se que a forma de
perceber e administrar os conflitos variou bastante, desde a fundação do Lar Escola de
Maringá, até a gestão atual. Quando as senhoras do Clube da Amizade administraram a
instituição, a centralização das decisões gerou muitos conflitos. De acordo com os
pesquisados, não havia espírito de equipe, como também não se buscava um entendimento
entre as partes, pelo contrário os conflitos se intensificaram e abalaram as relações entre a
presidente e as Irmãs de tal forma que estas optaram pelo afastamento. Nota-se, neste
ocorrido, um contra-senso entre o comportamento de tais participantes e os valores de
comunhão e coletivismo pregados na organização.
Já no período da gestão sob responsabilidade das Irmãs Murialdinas, tanto nas
administrações anteriores como na atual, os conflitos se manifestaram por diferentes
razões, mas de forma semelhante, os participantes buscam, através do diálogo e do
consenso, o entendimento, características da ação racional substantiva. A busca pela
competitividade é apontada por alguns entrevistados como principal causadora dos conflitos
mais recentes, o que revela a existência de participantes mais preocupados com interesses
“egoísticos” do que com os propósitos coletivistas da entidade, evidenciando assim ações
de cunho racional instrumental.
Nesse sentido, se pode considerar que, ao longo da história do Lar Escola da Criança, a
natureza dos conflitos como a maneira de administrá-los revelam a predominância de ação
racional instrumental em alguns momentos e, racionalidade substantiva, em outros.
4.2.1.7 Reflexão sobre a organização
101
Segundo o quadro referencial de análise, a reflexão sobre a organização pode se apresentar
coerente com os valores de humanização da sociedade, compartilhados pelo grupo,
revelando-se uma ação racional substantiva ou pode ser articulada com base em interesses
financeiros e de rentabilidade, visando, meramente, a publicidade da organização, numa
manifestação de ação racional instrumental. Dessa maneira, a análise de tal dimensão
busca compreender qual a percepção que os participantes e ex-participantes têm do papel
do Lar Escola e como essa percepção é manifestada.
Tanto participantes quanto ex-participantes, das diferentes gestões conformam suas
reflexões, destacando as influências das transformações e mudanças socioeconômicas nas
ações desenvolvidas na entidade ao longo de sua história. Como é possível observar nos
relatos apresentados na seqüência:
Que bom que vai acontecendo esta revolução na sociedade, daí é isto que
a gente tem que correr atrás (...) porque surgiu esta mudança, a própria
sociedade, com certeza, vai se modificando. Não vamos ficar com
marcenaria, que não existe mais no mercado de trabalho. Antes, no início
era excelente, agora a gente procura oferecer uma “oficina” que vai poder
estar mostrando uma perspectiva diferente para eles.
Entrevistado 2
No meu ponto de vista (...) é evidente que após quarenta anos de existência
do Lar Escola da Criança de Maringá, os avanços sejam notáveis. Isso, é
sinal de vida, de progresso, de evolução, de caminhada... As mudanças
pelas quais o Lar Escola passou, foram notáveis. E uma instituição que fez
história com a cidade de Maringá, e continua fazendo, por isso, a mesma
deve avançar, buscar novas alternativas, ser criativa, oferecer um espaço
digno de aprendizagem, e principalmente, para educar o coração das
crianças e jovens confiados a essa instituição.
Entrevistado 12
O Lar Escola hoje é bem social (...) Hoje, para Maringá, o Lar Escola
representa muito, as crianças atendidas aqui diariamente (são 300), mais os
projetos, as mães... Quer dizer, é um espaço que Maringá não pode perder.
É claro que se você tiver um Lar Escola em cada ponto da cidade, com um
trabalho como o que é desenvolvido aqui dentro hoje, acredito que, na área
de assistência social, Maringá estaria tranqüila. Mas, felizmente, tem várias,
mas que não desenvolvem trabalho desta visão, deste crescimento (...).
Mas às vezes dá vontade de ajudar, sair daqui de dentro, ajudar: “Vamos
fazer assim...” Como a gente trabalha em questão de planejamento, isto
ajuda que a entidade cresça mais, esteja aberta a esses novos desafios, se
você hoje, parar no tempo... Então, a entidade vai parar, e a entidade ficar
fazendo o trabalho de rotina, a entidade vai parar e não vai crescer.
Entrevistado 8 (grifo nosso)
102
Esta é uma característica muito forte que eu estava conversando com as
irmãs. Assim, estes projetos do Lar, principalmente desta grande mudança
dos cursos profissionalizantes. Antes, mesmo com essas idéias, com o
resgate da cidadania quando as crianças chegavam no Lar, chegavam
como a uma redoma. Era bacana, mas, e depois? (...) Então, o projeto
(referindo-se ao projeto profissionalizante) vem suprir esta lacuna, mas
justamente, não se mostrar assistencialista. Ele (o projeto) vem propor
profissionalização, mas desde que tenha alguns critérios. A Irmã conversou
com relação à escola, mas depende mais de uma atitude deles. Mas as
atividades assistencialistas também são importantes, só que a
transformação do Lar Escola foi, justamente, no propósito de dar uma
oportunidade para eles desenvolverem sozinhos.
Entrevistado 3
Neste sentido, percebe-se que o Lar Escola, ao longo de sua história, segundo o
entendimento dos seus participantes e ex-participantes, priorizou reflexões e ações que
visam a valorização humana, individual e coletiva. Observa-se também que a instituição
mantém um vínculo muito forte, não só com as crianças e adolescentes atendidos, mas
também com suas famílias e até com a comunidade onde está inserida.
Contudo, deve-se ressaltar que existe também uma preocupação em medir, avaliar e, em
alguns casos, até divulgar tais ações, seja por meio do jornal interno (o informativo “Olho
Vivo”) ou na mídia local (tal como ocorreu quando o Lar Escola divulgou em outdoors que
havia ganhado o Prêmio Bem Eficiente). Tal preocupação, segundo alguns relatos,
representa uma forma de buscar credibilidade na comunidade e, através dela, manter ou
conquistar novos parceiros. Deste modo, as reflexões sobre o papel da organização,
apresentam-se fundamentadas em ações racionais substantivas e ações racionais
instrumentais, concomitantemente.
4.2.1.8 Satisfação individual
Segundo o quadro referencial de análise, a satisfação individual pode se apresentar
baseada na autenticidade das ações e em valores emancipatórios de auto-realização
(características de uma ação racional substantiva), ou no êxito e resultado econômico, no
desempenho e no cálculo utilitário e na maximização produtiva (características de uma ação
103
racional instrumental). Desta maneira, tal dimensão é abordada nesta pesquisa, visando
compreender em que se fundamenta a satisfação individual dos participantes e ex-
participantes do Lar Escola da Criança.
A partir das observações e dos dados coletados, percebe-se que o Lar Escola da Criança,
desde sua fundação até hoje, fez, em algum momento, parte da história de vida de todos os
participantes e ex-participantes que compuseram a amostra deste estudo. Segundo seus
relatos, independentemente das dificuldades já enfrentadas pela organização ou das
dificuldades de cada um deles no desenvolvimento de suas atividades, a satisfação de ter
contribuído, de algum modo, para a formação e, em alguns casos, recuperação de crianças
e adolescentes, por vezes desacreditados, é a maior recompensa que se poderia receber. A
maioria destacou o fato das situações vivenciadas na entidade contribuírem para uma nova
maneira de ver a vida e as dificuldades. Alguns destes relatos são aqui reproduzidos:
É igual o que eu disse, é a segunda coisa mais importante que aconteceu
na minha vida. Não, foi a terceira, a primeira coisa ter nascido, a segunda
coisa foi ter casado e ter minha família, só por Deus mesmo, a melhor coisa
foi ter casado...e os adolescentes, isso foi a coisa que mudou a minha vida.
Pensar a maneira de eu agir, fazer a minha vida valer a pena. Eu sempre
digo uma coisa para eles, eu trabalho, gosto de trabalhar, porque eu gosto
da minha atividade, e o mais importante: eles me pagam para isto... e bem,
de “150 a 200 mil reais” (o entrevistado fala em tom de brincadeira). Aí eles
querem me matar, mas é verdade, eu faria isto de graça.
Entrevistado 4
(grifo nosso)
O lar escola é minha vida! A verdade é esta, você não consegue
desvincular, você não consegue abandonar, parece que esta em você. Eu
continuo no Lar Escola com o voluntariado.
Entrevistado 3
A gente passa a olhar a vida tão diferente! Vale tão pouco, coisas que a
gente acha que valia tanto, coisa material mesmo. Quando a gente vê as
crianças assim, que mal tem comida. O que tem é no Lar Escola. Para
alguns, a única alimentação que tem é a do Lar, mesmo. Às vezes a gente
quer tanta coisa na vida, tanta coisa... e eles não têm um olhar, um olhar
mesmo, uma atençãozinha, estão no limite. Quando você briga com eles,
eles sentem falta disso. Então, querendo ou não, no Lar Escola, se você é
educadora aqui, é educadora no sentido amplo, é mãe, é pai, é irmão, é
tudo, porque não é só para ser profissional, a gente está tentando, sem
querer, completar aquilo que eles não têm.
Entrevistado 6 (grifo nosso)
104
De um modo geral, o Lar Escola faz parte da minha vida, eu comecei lá com
15 anos. Então, o Lar Escola é muito fácil... Aconteceu o trabalho com as
crianças, trabalhar com eles, isto foi uma experiência muito boa, adorava o
Lar Escola.
Entrevistado 7
Vamos trabalhar pelo salário, a gente precisa, mas tem que gostar do que
faz. Eu gosto do que eu faço e faço o que posso. Eu vejo para mim que não
tem hora, qualquer hora. Estou sempre disponível e as outras pessoas, os
setores também. Então, a gente sempre tem que...é o que acabei de falar,
tem coisa que não dá para fazer no horário normal. Eu sempre conversei
com eles (referindo-se aos outros funcionários): “Então vamos fazer sábado
ou vamos fazer mais tarde?” Eles nunca falaram não. A gente pensa que
estando bem, é trabalhar com amor.
Entrevistado 9
É verdade, e me sinto muito feliz, mas muito mesmo, porque pelo menos
uma coisa na vida eu fiz, alguma coisa.Tem uma coisa mais bonita!!? De
vez em quando você encontra uma criança... Você não lembra deles, mas
eles lembram de você.
Entrevistado 10
Com base nos relatos expostos e nas observações realizadas, considera-se que no que se
refere à satisfação individual, ocorre uma forte predominância de ações racionais
substantivas. De fato, a auto-realização, independente da função que exerce ou exerceu o
pesquisado, possivelmente, seja um dos motivos que levam a essa satisfação.
A descrição e interpretação das ações e processos organizacionais desenvolvidos no Lar
Escola da Criança ao longo de sua história (até aqui realizadas), de acordo com o quadro
referencial, tem com objetivo compreender como as ações racionais e substantivas se
deflagraram em cada uma das dimensões abordadas. Tal procedimento, apesar de muito
útil para o entendimento das mudanças e transformações ocorridas na instituição não
evidencia os aspectos que caracterizam a manifestação de ambas ações racionais. Neste
sentido, nos próximos tópicos se retomará a discussão, agora analisando separadamente
ações e processos que caracterizam ação racional substantiva e ações e processos
organizacionais que caracterizam ação racional instrumental.
105
4.3 ANÁLISE DOS ASPECTOS QUE CARACTERIZAM A AÇÃO RACIONAL
INSTRUMENTAL NO LAR ESCOLA DA CRIANÇA DE MARINGÁ
Como foi possível observar, o Lar Escola da Criança de Maringá, ao longo de sua história,
passou por momentos em que as ações racionais instrumentais nortearam a gestão da
entidade e as relações entre dos participantes, mas também por situações em que esse tipo
de ação racional não se evidenciou.
Com relação à fundação da entidade, por exemplo, se reporta ao referencial teórico para
destacar que diferentemente do que é apontado por boa parte dos estudos sobre a origem
do Terceiro Setor e das organizações sem fins lucrativos (BRESSER PEREIRA E GRAU,
1999; MEIRELES e EL-AOUAR, 2003; FERNANDES, 1994; TENÓRIO, 1997; FISCHER e
FALCONER, 1997), o Lar Escola da Criança, não surgiu em decorrência da mobilização e
movimentos sociais que buscavam atender as necessidades não mais atendidas pelo
Estado. Como já mencionado, a instituição investigada foi fundada por um grupo da elite
social da cidade, com fins assistencialistas, ou seja, não se pretendia com a instituição
desenvolver ações que transformassem as relações sociais (de classe, principalmente), pelo
contrário, buscava-se justamente a manutenção destas relações, via segregação de um
grupo, tal como se pode notar pelo regime de internato, adotado para atender as crianças e
os adolescentes.
Deste modo, apesar da fundação da organização não ser uma dimensão contemplada no
quadro de análise utilizado, é possível observar, diante da argumentação apresentada, a
manifestação de ações racionais instrumentais, haja vista que no caso em questão, a
criação da instituição revela-se como um “instrumento funcional” à manutenção da
hegemonia de classes, tal como alerta Montaño (2003).
106
Quanto à administração do Lar Escola, ressalta-se que nas gestões anteriores, a definição
clara dos níveis hierárquicos, a centralização na tomada de decisão, a existência de
conflitos decorrentes de interesses pessoais e até mesmo a falta de interesse por parte das
senhoras do Clube da Amizade em participar do dia a dia da instituição, podem ser
interpretadas como traços, não muito evidentes, de ação racional instrumental, pois mesmo
considerando que esses aspectos indiquem idéia de racionalidade instrumental, não se
pode afirmar que os fins das ações analisadas mostravam-se vinculados à busca pelo
desempenho e maximização dos recursos.
Já em relação à administração vigente, a preocupação em profissionalização e com o
estabelecimento e manutenção de parcerias, evidenciados através da utilização de
instrumentos, técnicas e discursos gerenciais, podem ser caracterizados como uma forte
manifestação de ação racional instrumental, por esse motivo, há que se fazer, neste
momento, algumas considerações acerca da possível influência do contexto social na
definição e articulação destes processos e ações organizacionais.
Conforme já mencionado, a atual gestão iniciou-se em 1997 e foi a partir deste período que
a organização sofreu as principais mudanças administrativas, estruturais e nas atividades
desenvolvidas. Tal fato coincide com o período em que o debate sobre o Terceiro Setor
ganha força e espaço no campo acadêmico e também empresarial. Dessa forma,
considerando que o debate sobre o tema, como foi apresentado do referencial teórico dessa
dissertação, apresenta-se marcado por discussões sobre a carência de teorias e práticas
que auxiliem a administração destas organizações, como também, por divergentes opiniões
acerca da suposta necessidade eminente de profissionalização, é possível deduzir que a
instituição analisada tenha sucumbido à adoção de técnicas e instrumentos organizacionais
desenvolvidos originalmente para empresas econômicas.
107
Como se sabe, as organizações sem fins lucrativos, que sempre de viram diante do grave
problema de captação de recursos para desenvolvimento de suas atividades, atualmente,
estão competindo entre si por financiamentos e doações. É neste sentido que a
profissionalização tem se tornado a principal alternativa para se mostrarem mais “eficientes”
aos olhos da sociedade e de possíveis parceiros, já que atualmente o critério para
credibilidade é a eficiência.
Diante de tal fato, se retoma a análise para salientar que, a partir de 1997, através da
orientação da Amencar (Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente) – instituição que
atua na intermediação de alguns recursos financeiros recebidos - o Lar Escola recebeu
instrução e treinamento de um profissional para desenvolver e implementar o Planejamento
Estratégico Participativo, que deu origem à incorporação de várias outras práticas
organizacionais de características gerenciais.
De acordo com os dados coletados, essa mudança organizacional, apesar de algumas
resistências, por parte de um grupo funcionários (como citou um dos entrevistados),
encontrou bastante receptividade por parte da maioria dos participantes. Como não se
entrevistou nenhum participante que descordava do processo (não trabalham mais na
instituição ou não foi possível contatá-los), não é possível fazer uma análise dos motivos
que levaram à rejeição, mas em relação aos que foram entrevistados, se percebeu muitas
manifestações de orgulho por estarem na instituição desde o início do processo de
mudança.
O reflexo da implementação do Planejamento Estratégico mostra-se evidente em vários
aspectos. No que diz respeito à hierarquia, dividiu-se a organização em setores específicos,
desenvolveu-se um organograma, definiu-se um Comitê de Gerenciamento (do qual fazem
parte um integrante de cada setor, que define as metas e cobra os resultados do setor).
108
Quanto à normas, formulou-se o planejamento de atividades (anuais, semestrais, semanais
e diárias), realizou-se o “detalhamento de operações” e definiu-se de metas e estratégias.
Quanto aos mecanismos de controle e avaliação, definiu-se “quem faz o que” e o prazo para
realização de cada atividade, implementou-se a monitoração das atividades (realizadas pelo
responsável pelo setor), com base nos “indicadores de execução”, bem como punição ao
participante que não desempenha a atividade conforme o esperado.
Em relação a análise do recrutamento e seleção dos participantes do Lar Escola, vale
destacar que todas as presidentes foram nomeadas e não escolhidas pelo grupo, também
se chama atenção para o fato de atualmente se estabelecer um perfil de funcionário
desejado. Esses apontamentos apresentam-se como indicativos de ação racional
instrumental.
Ao que parece, a busca pela profissionalização, de fato efetivou-se, pois a variedade de
práticas e termos administrativos utilizados atualmente, não deixa dúvida de que a
afirmação de alguns autores (SERVA, 1993 E 1997; FISCHER E FALCONER, 1997; VAN
BELLEN, 1997; SALAMON, 1998; GARY, 2001; ROESCH, 2002) sobre as peculiaridades na
gestão e participação das organizações sem fins lucrativos, não se encaixa mais à
instituição analisada. Nesse sentido, não é nossa pretensão julgar se esta é ou não a melhor
alternativa, mesmo porque as dificuldades enfrentadas por esse tipo de organização não
são poucas e muitas vezes, a incorporação dessas práticas e discursos pró-modernização
gerencial apresentam-se como condição para a sua existência.
Não se pode deixar de comentar também que depois da incorporação destas práticas
gerenciais (e possivelmente em função desse processo), o Lar Escola recebeu, por duas
vezes, um dos principais prêmios concedidos às organizações sem fins lucrativos do Brasil –
o Prêmio Bem Eficiente - que segundo os entrevistados, certifica a idoneidade da instituição
109
e contribui para o aumento da sua credibilidade junto à comunidade e também aos
prováveis parceiros. Considerando essa possibilidade, na segunda vez que se ganhou o
prêmio, a organização divulgou o acontecimento em outdoors da cidade, revelando
provavelmente uma preocupação com a imagem organizacional para a obtenção e/ou
manutenção de parcerias.
Diante do exposto, entende-se que atualmente a ação racional instrumental mostra-se
bastante presente na gestão, manifestando-se nos processos organizacionais do Lar Escola
da Criança, como no caso do desenvolvimento e implementação do Planejamento
Estratégico Participativo e nas práticas dele decorrente. Tal fato revela o quanto a instituição
tem se mostrado receptiva à incorporação de instrumentos, técnicas e práticas
organizacionais gerenciais, como também oferece fortes indícios de que tenha ocorrido um
processo de adaptação da instituição ao mercado.
Assim, com base nas considerações apresentadas pode-se afirmar que, ao logo da história
do Lar Escola da Criança observou-se traços e aspectos marcantes de ação racional
instrumental.
4.4 ANÁLISE DOS ASPECTOS QUE CARACTERIZAM A AÇÃO RACIONAL
SUBSTANTIVA NO LAR ESCOLA DA CRIANÇA DE MARINGÁ
A análise dos processos e ações organizacionais que se caracterizam como ações racionais
substantivas foi desenvolvida, primeiramente, através do quadro referencial de análise.
Neste procedimento inicial foi possível constatar que, ao longo da história do Lar Escola da
Criança, as ações racionais substantivas evidenciam-se em situações em que a questão
humana e/ou social se mostram vitais.
O primeiro indício desse tipo de ação foi observado no tipo de atividade desenvolvida pela
organização investigada – formação social, humana, cristã, educativa, cultural e
110
profissionalizante para crianças e adolescentes. Contudo, considerando que não é
exclusivamente a missão ou o objetivo organizacional que orienta as práticas
organizacionais, bem como as relações estabelecidas entre os participantes, levou-se em
conta a manifestação de julgamentos éticos, autenticidade, de valores humanos, de auto-
realização, de coletividade e emancipação.
Assim, de acordo com alguns entrevistados, pode-se inferir que nos anos em que as
senhoras do Clube da Amizade administravam o Lar Escola, a convivência entre os
funcionários e os internos era tal como uma família, por isso não havia avaliação das
atividades desenvolvidas e eram mínimas as normas e os controles, que eram
estabelecidos “apenas para atender as obrigações legais”. No entanto, não se pode deduzir
com base neste quadro a manifestação de ações racionais substantivas, haja vista que o
estabelecimento da hierarquia e dos processos de tomada de decisão distanciavam-se,
claramente, do entendimento coletivo. Ao que parece, o grupo formado pelas senhoras do
Clube da Amizade, não tinha o interesse em vivenciar o cotidiano da organização, mas não
abriam mão de dirigir a entidade, cuidando dos aspectos legais e provendo manutenção da
organização através de eventos beneficentes.
Segundo alguns depoimentos, houve a aproximação de algumas congregações para
desenvolverem atividades na instituição, porém os conflitos entre as Irmãs e o grupo de
senhoras do Clube por causa da centralização das decisões, fizeram com que as irmãs
desistissem de ficar na entidade. Esse fato pode ser entendido como uma representação de
interesses divergentes e da falta de consenso entre as partes, como também pode ser visto
como um exemplo de autenticidade no comportamento das Irmãs, já que elas não
aceitavam a centralização e explicitaram seu descontentamento.
Com já mencionado, com a chegada das Irmãs Murialdinas e, posteriormente, com a
administração do Lar Escola sob a responsabilidade delas, é que algumas mudanças
111
puderam ser notadas. Inicialmente, o estatuto foi modificado, a Irmã conquistou mais
autonomia no processo decisório e no desenvolvimento de atividades. Essa autonomia,
entretanto não se estendeu aos outros participantes da organização.
Foi apenas a partir da gestão atual que ocorreram mudanças na forma de administrar, nos
processos e em algumas ações organizacionais. A elaboração e implementação do
Planejamento Estratégico Participativo, apesar de atender primordialmente os propósitos da
racionalidade instrumental, também permitiram a manifestação genuína de ações racionais
substantivas.
A setorização das áreas da entidade e a formação do Comitê de Gerenciamento, por
exemplo, ao distribuir as atividades e definir responsabilidades, despertou entre os
funcionários um alto senso de responsabilidade e comprometimento com os propósitos
estabelecidos. Todos os entrevistados ressaltaram que, com o Planejamento Estratégico, a
realização das atividades de tornou mais fácil, diante a descentralização das decisões, e
mais clara, haja vista que é detalhado para todos os participantes as funções e
responsabilidades de cada setor e participante (“quem faz o que”). Não se pode ignorar
também que o Comitê de Gerenciamento, apesar das características gerenciais, também
induz à paridade entre funções. Por exemplo, ao coordenador do setor dos serviços gerais
é delegada a mesma autonomia que é dispensada à coordenadora do setor administrativo.
Assim, mesmo considerando que se trata de um instrumento gerencial, não se pode ignorar
que o Planejamento Estratégico também permitiu a manifestação de ações racionais
substantivas, evidenciando o que Alves (2002) denominou de “mescla” de racionalidades.
No que diz respeito aos relacionamentos e à comunicação estabelecida entre os
participantes, as observações e as entrevistas realizadas permitiram perceber que (apesar
do Planejamento Estratégico), o senso de coletividade e a manifestação de valores comuns
112
(bastante evidenciados nos depoimentos) mostram-se como a base central para o
estabelecimento destas ações. Todos os investigados demonstraram estabelecer laços de
afetividade e respeito com os demais participantes e, apesar da existência de reuniões
semanais e mensais, a principal forma de comunicação estabelecida entre os participantes
da entidade são as conversas informais. A manifestação de ação racional substantiva,
nesse aspecto se efetiva, no caso, diante da forte idéia de grupo e senso de coletividade
que guia as os relacionamentos e comunicação estabelecidos.
Quanto aos conflitos, atualmente, são tratados pelos participantes com naturalidade, como
uma extensão dos relacionamentos interpessoais. Independente dos motivos, são
administrados, na maior parte dos casos, pelas partes envolvidas, buscando-se o
entendimento através do diálogo. Neste sentido, observou-se que não se negligencia ou
mascara o conflito, ele é evidenciado para ser resolvido, isso pode implicar, conforme
apontaram alguns entrevistados, em discussão, tensão, como também, dependendo da
gravidade, afetar as atividades organizacionais.
Na análise do recrutamento e seleção do Lar Escola, percebe-se que se mesclam ação
racional instrumental e substantiva. A ação racional instrumental, como comentado no tópico
anterior, de revela na escolha de presidentes, e na definição do perfil de funcionário
desejado. Já a ação racional substantiva é constatada pelo fato do critério para seleção de
um funcionário não estar baseado exclusivamente na experiência ou formação profissional.
Segundo alguns participantes isso não é o mais importante, o importante é o “dom” para
desenvolver a atividade em questão e o forte consenso com os propósitos sociais e
humanos da instituição.
De acordo com a reflexão de participantes e ex-participantes do Lar Escola da Criança
sobre a atuação da entidade na sociedade, a instituição desenvolve suas atividades com
base em valores de emancipação humana, julgamento ético e de coletividade,
113
independentemente do período de gestão investigado. Se a análise desta dimensão se
apoiar apenas na percepção dos indivíduos pesquisados a constatação será de tais
reflexões correspondem exclusivamente à ação racional substantiva. Contudo, observou-se
também, que na instituição há uma preocupação em medir e avaliar as ações
organizacionais com o objetivo, em alguns casos, de divulgação, visando despertar atenção
da comunidade e também de prováveis parceiros.
Como é possível perceber, nas análises realizadas até aqui, as ações e processos
organizacionais revelam traços de ação racional substantiva ou, ainda, a manifestação
“híbrida” de ações racionais, mas na dimensão analisadas em seguida, nota-se a exclusiva
manifestação de ação racional substantiva.
Conforme mencionado, a análise da satisfação individual foi a categoria que apresentou a
mais acentuada manifestação de racionalidade substantiva, isso porque foi possível
constatar que todos os pesquisados mostram-se muito satisfeitos em participar da
instituição. Para eles, o Lar Escola representa uma nova forma de ver a vida, o mundo e as
pessoas. Alguns destacaram motivos específicos de satisfação individual, mas a maioria
relatou que a formação ou, até mesmo, a recuperação de um adolescente representa o
maior motivo de alegria pessoal.
114
4.5 TIPO DE AÇÃO RACIONAL EXISTENTE OU PREDOMINANTE NO LAR ESCOLA DA
CRIANÇA DE MARINGÁ
Com já discutido, este estudo é caracterizado por uma abordagem qualitativa e, portanto,
não tem a pretensão de apresentar a mensuração da manifestação das ações racional
instrumental e substantiva no Lar Escola da Criança ao longo de sua história.
As descrições e análises realizadas permitiram perceber que, desde a fundação da
organização pesquisada até os dias atuais, os dois tipos de ação racional manifestam-se
através das ações e processos organizacionais. Constata-se que ação racional instrumental
e ação racional substantiva podem ser manifestadas simultaneamente (com a
predominância de uma ou do outra) em alguns momentos e exclusivamente em outros.
Nas situações em que se privilegia a busca por desempenho, o êxito e resultado econômico,
a maximização dos recursos econômicos, ocorre a predominância de ações racionais
instrumentais. Já nos momentos que se visa os valores de igualdade, de emancipação do
grupo, de julgamento ético, bem como a autonomia, a auto-realização e a autenticidade, são
as ações racionais substantivas que se manifestam (SERVA, 1996; DORNELES e
DELLAGNELO, 2003).
Com base na análise, também se infere que as mudanças sociais, políticas e econômicas,
exercem influência nas ações e processos organizacionais, tal como pôde ser verificado no
período que compreende a atual gestão do Lar Escola da Criança. Essa evidência parece
indicar que organizações sem fins lucrativos não podem ser consideradas como enclaves
sociais isolados, muito pelo contrário, elas afetam e são afetadas por um contexto social
mais amplo, do qual fazem parte empresas econômicas e públicas.
115
Para efeito didático, elaborou-se, com base no quadro referencial de análise, um quadro que
retrata as diferentes manifestações de ação racional substantiva e ação racional
instrumental no Lar Escola da Criança ao longo de sua história (Quadro 2). Entretanto, deve
ficar claro que se mostra difícil enquadrar as ações e processos organizacionais, em um tipo
ou outro de ação racional, pois, além de se tratarem de “tipos ideais”, neste estudo foi
possível perceber que instrumentalidade e substantividade nas ações não são,
necessariamente, dimensões excludentes.
Conforme destaca Ramos (1989), tipos ideais compreendem abstrações conceituais
empregadas com o objetivo de facilitar a compreensão concreta de fenômenos concretos.
Assim, o quadro resultante da interpretação das ações e processos desenvolvidos no Lar
Escola da Criança, desde sua fundação até os dias atuais, não representa a manifestação
absoluta de ação racional substantiva e instrumental e sim a aproximação de cada categoria
analisada a esses tipos ideais.
116
Quadro 2: Processos e ações organizacionais estabelecidos no Lar Escola da Criança ao
longo de sua história x ação racional substantiva e ação racional instrumental.
Tipos de Ação Racional
Processos e ações
organizacionais
Ação racional
Substantiva
Ação racional
Instrumental
1. Normas e hierarquia
- reações de coletividade em
alguns momentos;
- autonomia na realização de
algumas atividades;
- descentralização.
- estrutura formal centralizada;
-hierarquia estruturada em
poucos níveis;
- poucas normas e regras;
-escassez de controle
documental;
-Planejamento Estratégico
Participativo (organograma,
detalhamento de operações,
comitê de gerenciamento,
atribuição formal de atividades e
responsabilidades;
planejamentos das atividades);
-estabelecimento de algumas
normas.
2. Controle e avaliação
-mínimo controle;
- inexistência de avaliação.
-controle e avaliação focado nas
atividades administrativas e
pedagógicas;
-controle e avaliação de
funcionários;
-avaliação, definição e cobrança
de metas.
3. Processo decisório
- autonomia para as Irmãs;
- tomada de decisão com base no
interesse coletivo;
- participação do funcionário na
tomada de decisão.
- processo decisório
centralizado.
4. Relações interpessoais e
comunicação
- aproximação entre presidente,
funcionários e internos;
-reuniões freqüentes;
-relações interpessoais informais
(face a face).
-relações interpessoais quase
inexistentes;
-distanciamento entre presidente
e funcionários;
-inexistência de reuniões
relacionada às atividades;
-programação de reuniões,
mensais, semanais e diárias.
5. Recrutamento e promoção
dos participantes
-critério de contratação baseado
no “carisma”, no “dom”, na
preocupação social da pessoa, na
convergência com os propósitos
da entidade.
- nomeação de presidentes;
- desenvolvimento do perfil do
funcionário.
6. Conflitos
-conflitos percebidos como
aspecto normal da organização;
-busca pelo entendimento através
do diálogo.
- conflito entre Irmãos e
senhoras do Clube da Amizade
devido à centralização.
7. Reflexão sobre
a organização
-priorização de valores humanos,
cristãos e sociais;
-foco nos valores compartilhados
pelo grupo.
-preocupação em divulgar as
atividades desenvolvidas;
-preocupação em manter e
conquistar parcerias.
8. Satisfação individual
- vivência na entidade contribui
para nova maneira de ver a vida.
117
É necessário destacar também que o quadro em questão condiz com os três períodos de
gestão analisados na presente pesquisa. Assim, a cada período analisado, as práticas
organizacionais da entidade corresponderam às características e, conseqüentemente
“necessidades” sociais do período em questão.
Como já discutido, nas duas primeiras fases analisadas (gestão das senhoras do Clube da
Amizade e gestão das Irmãs da Congregação Murialdinas), nota-se que a proposta do Lar
Escola era apenas atender, de forma assistencial e paliativa a comunidade carente. Aos
poucos a entidade foi revendo suas ações e processos, se modificando e se
profissionalizando, de acordo com o discurso que tem prevalecido face às transformações
sociais – o discurso da competitividade, da eficácia e eficiência. Hoje, boa parte das ações e
processos organizacionais desenvolvidos são guiados pela preocupação de se
profissionalizar, de se adequar às “necessidades” vigentes. Daí um dos motivos de
determinadas ações e processos (relativas às administrações anteriores) serem
classificados, em um primeiro momento, na coluna correspondente à ação racional
substantiva e, posteriormente, no quadrante relativo à ação racional instrumental (quando
analisada a administração atual).
Outro motivo para a classificação das ações e dos processos organizacionais estabelecidos
ao longo da história do Lar Escola nas duas colunas fundamenta-se no entendimento de que
a realidade é muito mais complexa e dinâmica do que o quadro teórico utilizado como base
para a análise, e até mesmo do que a concepção de antagonismo entre ações racionais
instrumentais e ações racionais substantivas. Deste modo, compreende-se que, inclusive, a
utilização de um instrumento gerencial, tal como o Planejamento Estratégico Participativo,
não impede a manifestação de ações racionais substantivas, pelo contrário, pode até
oportunizar tal manifestação, como indicou este estudo.
118
5. CONCLUSÃO
Tendo em vista o referencial teórico apresentado sobre o Terceiro Setor, ação racional
instrumental e ação racional substantiva, bem como a análise dos processos e ações
organizacionais estabelecidos no Lar Escola da Criança de Maringá ao longo da história,
esta pesquisa buscou compreender, em última instância, a possibilidade de predominância
da ação racional instrumental ou ação racional substantiva na instituição investigada. Para
compreender a manifestação de ambas, se fez uso de um quadro referencial de análise,
adaptado de Serva (1996) e Dorneles e Dellagnelo (2003), composto por oito categorias de
análise. Também foi necessária a análise, em separado, dos aspectos que caracterizam
cada uma das ações racionais em foco.
Ao final desta empreitada, chegou-se a algumas conclusões e durante ela, a novos
questionamentos que serão aqui abordados. Contudo, antes, é importante ressaltar que as
conclusões desta pesquisa são, especificamente, relativas ao estudo de caso apresentado,
não cabendo generalizações, nem tampouco precipitada constatação que as organizações
sem fins lucrativos assimilam e reagem da mesma maneira às alterações sócio-econômicas
que o Lar Escola da Criança. Por outro lado, resguardando as devidas proporções, as
conclusões desta investigação podem ser consideradas na investigação de instituições
semelhantes, o que permitiria reforçar este estudo ou, ainda, refutá-lo. Acredita-se que em
qualquer uma dessas situações, se ampliaria o conhecimento sobre o tema.
A primeira conclusão que se chegou foi que a presente estudo revelou que o fato do Lar
Escola a Criança ser uma instituição sem fins lucrativos não foi pré-condição para
manifestação de ações racionais substantivas na maioria das ações ou processos
organizacionais implementados. Apesar de boa parte das pesquisas sobre organizações
sem fins lucrativos apontarem para formas de gestão e práticas organizacionais nitidamente
119
distantes das estabelecidas em empresas e no setor público, tal como foi exposto no
referencial teórico, no caso em questão não se pôde confirmar esse tipo de constatação.
Em relação os objetivos pretendidos, as análises permitiram concluir que ao longo de sua
história, o Lar Escola da Criança de Maringá sofreu profundas reestruturações nos seus
processos e ações empreendidas pelos seus participantes e ex-participantes. Alterações
estas decorrentes das mudanças sociais que influenciaram e influenciam no tipo de ação
racional manifestado. Não há como ignorar também o fato de que as transformações
sociais, políticas e econômicas vivenciadas nas últimas décadas tenham impactado na
adoção e/ou desenvolvimento de práticas organizacionais.
Quanto à manifestação da ação racional instrumental no Lar Escola da Criança, desde sua
fundação até os dias atuais, concluiu-se que em alguns períodos e categorias analisados as
ações e processos organizacionais de característica racional instrumental quase não se
manifestaram, em outros foram fortemente evidenciados. Contudo, de acordo com a análise
não ocorreu nenhum momento ou categoria, em que o tipo de ação racional instrumental se
mostrasse exclusivo.
Já em relação à manifestação da ação racional substantiva ao longo da trajetória histórica
do Lar Escola da Criança de Maringá, as análises possibilitaram concluir que em todas as
categorias e nas diferentes gestões da instituição os processos e ações organizacionais
puderam ser caracterizados (em uns casos em maior grau e em outros, em menor
intensidade) como ações racionais substantivas. Entretanto, se percebeu que em uma das
categorias analisadas, que compreende a satisfação individual, ocorreu a exclusiva
manifestação da ação racional substantiva. Tal constatação leva à conclusão de que,
independente ao processo de profissionalização subjacente às ações e processos
organizacionais estabelecidos na entidade estudada, há um forte o apego aos valores de
resgate da condição humana, à satisfação individual.
120
Quanto aos questionamentos que emergiram durante a realização desta pesquisa, eles
surgiram nas variadas etapas do processo de investigação. Na fase da revisão bibliográfica,
por exemplo, muitas vezes se defrontava com a tendência de se tratar as ações racionais
substantivas e instrumentais de forma maniqueísta, atribuindo significado “positivo” para
uma e “negativo” para a outra. Assim, tentou-se, ao máximo, fugir da visão valorativa e
dicotômica na descrição de tais ações racionais, questionando-se constantemente se
realmente havia essa suposta dualidade entre o bom – ação racional substantiva e o mal –
ação racional instrumental, já que a idéia inerente a essa interpretação é de uma relação de
“confronto” entre tais ações racionais. No entanto, por influência de alguns autores
utilizados e, principalmente, por pré-conceitos da própria pesquisadora, em alguns
momentos, incorre-se neste erro, o que poderia ser apontado aqui com uma limitação do
estudo ou como a evidência do quanto às pessoas (pesquisadores ou não), são tentadas a
“enxergar” a realidade de maneira tendenciosa.
Na fase de coleta e análise de dados, a realidade concreta da organização investigada
possibilitou compreender que ação racional instrumental e substantiva não duelam,
necessariamente, podendo se manifestar ao mesmo tempo e variar de intensidade, de
acordo com as influências sociais que afetam a organização ao longo de sua trajetória
histórica. Neste sentido, o Lar Escola da Criança, nos diferentes períodos analisados
caracterizou-se como uma organização de ações racionais híbridas. Tal fato, principalmente
nos momentos de classificação (no quadro referencial), levou a autora desta dissertação a
questionar em que coluna seria mais adequado classificar algumas das informações
coletadas.
Como exemplo, destaca-se aqui, a forte centralização no processo de tomada de decisão
durante a gestão das senhoras do Clube da Amizade e das Irmãs Murialdinas. Conforme
mencionado na análise, essa centralização não foi entendida neste estudo como
predominância da racionalidade instrumental, haja vista não se tratar de uma ação que
121
visasse a busca pelo desempenho e maximização dos recursos, mas por tampouco se
caracterizar como uma ação substantiva, optou-se pela classificação no quadrante
correspondente à ação racional instrumental. Outro exemplo que pode ser ressaltado
consiste na adoção de um instrumento gerencial (o Planejamento Estratégico) por parte da
instituição. Apesar de ser evidente que se trata de um instrumento que privilegia ações
racionais instrumentais, questionou-se, com base no depoimento da maioria dos
entrevistados, se esse instrumento poderia propiciar reflexões e ações de coletividade e
participação e autonomia, tal como afirmaram os entrevistados. Diante da situação exposta,
optou-se por caracterizar o Planejamento Estratégico Participativo como indicativo da
manifestação de ação racional instrumental e algumas ações dele decorrentes com
indicativos de ação racional substantiva. Ou seja, o que se quer dizer com esses exemplos,
é que a realidade é muito mais dinâmica que um quadro de análise, e tentar “encaixá-la”
nesse quadro é uma tarefa muito difícil.
Esse questionamento, bem como todo o processo que compreendeu esse estudo, permitem
reforçar a necessidade de novas pesquisas sobre o tema aqui apresentado tanto para se
desenvolver novos delineamentos teóricos como, também, para se articular modelos e
práticas de gestão, próprios para essas entidades. Desse modo, considerando o fato da
presente pesquisa se tratar, especificamente, de um estudo de caso, recomenda-se aqui a
realização de outras pesquisas que enfoquem, por exemplo:
¾ Análises comparativas entre organizações sem fins lucrativos, nas quais seja
possível perceber diferenças ou semelhanças, quanto a manifestação da ação
racional instrumenta e ação racional substantiva;
¾ Análises no Lar Escola da Criança de Maringá, daqui a alguns anos, que visem
perceber alguma alteração ou manutenção nas ações e práticas organizacionais;
¾ Estudo sobre as relações atuais estabelecidas entre o Lar Escola da Criança de
Maringá e as organizações privadas (parcerias) e públicas (Ministério Público do
122
Trabalho e prefeitura), decorrentes da implementação dos projetos
profissionalizantes desenvolvidos na instituição.
¾ Análises acerca da gestão, práticas organizacionais e relacionamentos estabelecidos
em organizações sem fins lucrativos;
¾ Análise dos elementos que tem influenciado no crescimento e desenvolvimento de
organizações sem fins lucrativos como, também, na “falência” (na falta de um termo
mais adequado) destas instituições.
É fundamental, portanto, que se discuta, reflita e, sobretudo, que se repense o papel
desempenhado pelas instituições sem fins lucrativos face às transformações sociais, bem
como no impacto destas transformações nos processos e ações desenvolvidos por essas
organizações.
123
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129
ANEXOS
ANEXO 1- Carta de Apresentação para Entrevista Presencial
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL
Centros de Ciências Sociais Aplicadas
Departamentos de Administração
Prezado (a) Sr. (a),
Primeiramente, eu, Maristela Regina Morais, aluna do Mestrado em
Administração (UEM/ UEL), gostaria de manifestar minha gratidão pela sua prontidão em
contribuir para que esta pesquisa acadêmica possa ser realizada.
Acredito que as pesquisas em administração devam abordar não só organizações
econômicas e públicas, mas também aquelas sem fins lucrativos. Desse modo, decidi
desenvolver um estudo no Lar Escola da Criança de Maringá.
Como se sabe, a instituição em questão, tem como objetivo o atendimento de
crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, visando, através das ações
de seus participantes, a valorização da vida humana individual e comunitária. Tal
característica, com toda certeza, apresenta-se como o principal ponto de convergência
entre o tema da pesquisa que estou realizando (“As ações desenvolvidas em uma instituição
sem fins lucrativos ao longo de sua história”) e as características do Lar Escola da Criança
de Maringá, o que demonstra a decisão acertada de se acompanhar e analisar o cotidiano
dessa organização, as relações estabelecidas entre seus participantes, as mudanças
enfrentadas, bem como resgatar informações acerca de sua fundação e administrações
anteriores.
Gostaria, neste sentido, que me concedesse uma entrevista (que será gravada), na
qual pudesse responder algumas questões relacionadas ao seu dia-a-dia na instituição e
sua percepção acerca das mudanças sofridas pelo Lar Escola.
Destaco, ainda, que os fins visados nessa pesquisa, bem como a forma de
tratamento que será dada às informações que fornecidas, são estritamente acadêmicos.
Assim, esclarecemos que as informações que o (a) senhor (a) julgar sigilosas, quer por
motivos pessoais ou da própria instituição, serão tratadas confidencialmente, de forma a não
ferirem a integridade do compromisso firmado entre pesquisadora e pesquisado.
Qualquer dúvida, entre em contato comigo pelos telefones abaixo:
- Resd: (44) 263-3680
- Cel.: (44) 9114-9792
- Com.: (18) 229-2030
Sem mais para o presente momento, novamente agradeço sua preciosa
colaboração.
Maristela Regina Morais
Maringá, agosto de 2004.
130
ANEXO 2 -Roteiro de Entrevista (presidente atual)
Dados Pessoais:
Nome:
Idade:
Estado Civil:
Escolaridade:
Informações sobre o histórico e os processos de mudança.
a) Desde quando atua no Lar Escola?
b) Descreva as atividades desenvolvidas no Lar Escola da Criança.
c) Descreva as principais mudanças pelas quais passou o Lar Escola ao longo da sua
história.
Informações relativas ao quadro referencial de análise.
1)Com relação às normas e hierarquia:
a) Quais as normas existentes no Lar Escola?
b) Por que essas normas foram estabelecidas?
c) As hierarquia e normas mudaram ao longo do tempo? Por que?
2) Com relação ao controle:
a) Quais as formas de controle sobre as atividades desenvolvidas no Lar Escola? Quais
os objetivos desse controle?
b) Houve, ao longo do tempo, alterações nas formas de controle? Por que?
3) Com relação ao poder e processo decisório:
a) Como ocorre o processo decisório no Lar Escola?
b) O processo de tomada de decisão mudou ao longo do tempo? Por que?
4) Com relação às relações interpessoais e à comunicação:
a) Quais as principais formas de comunicação entre os participantes do Lar Escola?
c) As formas de comunicação e as relações entre os participantes mudaram ao longo do
tempo? Por que?
5) Com relação à divisão de trabalho:
a) Como que é feita a divisão de atividades no Lar Escola?
b) Houve, alguma alteração na divisão de trabalho ao longo do tempo? Por que?
6) Com relação ao recrutamento e promoção dos participantes:
a) Qual o critério para a contratação de funcionários e voluntários no Lar Escola?
b) Esse critério mudou ao longo da história do Lar Escola?
7) Com relação aos conflitos:
a) Quais os tipos de conflitos entre os participantes do Lar Escola?
b) Esses conflitos mudaram ao longo do tempo?
8) Com relação à reflexão sobre a organização:
a) A instituição desenvolve algum processo de reflexão entre os participantes sobre a
atuação do Lar Escola?
b) Em seu ponto de vista, qual é o papel do Lar Escola na sociedade?
9) Com relação à satisfação individual:
a) Quais as principais fontes de satisfação e insatisfação no seu trabalho?
131
ANEXO 3 - Roteiro de Entrevista (funcionários)
Dados Pessoais:
Nome /Idade:
Estado Civil:
Escolaridade:
Função:
Informações sobre o histórico e os processos de mudança.
a) A quanto tempo atua no Lar Escola da Criança?
b) Quais as principais mudanças pelas quais passou o Lar Escola, durante o período
que está aqui?
Informações relativas ao quadro referencial de análise.
1)Com relação às normas e hierarquia:
a) Quais são as normas para o estabelecimento das suas atividades?
b) Em sua opinião, quais foram as mudanças na hierarquia ou em relação às normas e
regras ao longo da história do Lar Escola da criança?
2) Com relação ao controle:
a) Quais as formas de controle sobre as atividades que você desenvolve?
b) Houve, durante o período que está aqui, alguma alteração nas formas de controle e
nas suas finalidades?
3) Com relação ao poder e processo decisório:
a) Como ocorre o processo de tomada de decisão no Lar Escola?
b) Quais as mudanças que ocorreram no processo de tomada de decisão, durante o
tempo que está aqui?
4) Com relação às relações interpessoais e à comunicação:
a) Quais as principais formas de comunicação entre os participantes no Lar Escola?
b) Ocorreu alguma alteração nas formas de comunicação e nas relações entre os
participantes durante o tempo que trabalha aqui?
5) Com relação à divisão de trabalho:
a) Como é a divisão de atividades e tarefas no Lar Escola?
b) Quais as mudanças que aconteceram na divisão de trabalho, durante o período que
está aqui?
6) Com relação ao recrutamento e promoção dos participantes:
a) Com foi sua admissão par trabalhar no Lar Escola?
7) Com relação aos conflitos:
a) Em sua opinião, quais os principais motivos que levam aos conflitos entre os
participantes do Lar Escola?
b) Como são administrados esses conflitos?
8) Com relação à reflexão sobre a organização:
a) Durante o tempo que está aqui, a instituição desenvolve algum processo de reflexão
entre os participantes sobre a atuação do Lar Escola?
b) Em seu ponto de vista, qual é o papel do Lar Escola na sociedade?
9) Com relação à satisfação individual:
a) Quais as principais fontes de satisfação e insatisfação no seu trabalho?
b) Apontar principais dificuldades do Lar
c) Apontar principais dificuldades pessoas no Lar
132
ANEXO 4 - Roteiro de Entrevista (ex-presidentes)
Dados Pessoais:
Nome / Idade:
Estado Civil:
Escolaridade:
Função que exerceu no Lar:
Informações sobre o histórico e os processos de mudança.
a) Qual o período que atuou no Lar Escola?
b) Comente sobre seu papel na fundação do Lar Escola?
c) Quais as principais mudanças pelas quais passou o Lar Escola, durante o período
que atuou?
d) Qual é sua relação com os participantes (funcionários e presidente) do Lar Escola?
Informações relativas ao quadro referencial de análise.
1)Com relação às normas e hierarquia:
a) Quais eram as normas para o estabelecimento das suas atividades?
d) Quais foram as mudanças na hierarquia ou em relação às normas e regras ao longo
da história do Lar Escola da Criança?
2) Com relação ao controle:
a) Quais eram as formas de controle sobre as atividades que você desenvolvia?
b) Houve, durante o período que atuou no Lar Escola, alguma alteração nas formas de
controle e nas suas finalidades?
3) Com relação ao poder e processo decisório:
a) Como ocorria o processo de tomada de decisão, no período que atuou no Lar Escola?
b) Ocorreu alguma alteração no processo de tomada de decisão, durante o tempo que
você estava lá?
4) Com relação às relações interpessoais e à comunicação:
a) Quais as principais formas de comunicação entre os participantes no Lar Escola?
b) Ocorreu alguma alteração nas formas de comunicação e nas relações entre os
participantes, durante o tempo que trabalhou no Lar Escola?
5) Com relação à divisão de trabalho:
a) Com era a divisão de atividades e tarefas, no período que trabalhou no Lar Escola?
b) Houve alguma alteração na divisão de trabalho, durante o tempo que trabalhou lá?
6) Com relação ao recrutamento e promoção dos participantes:
a) Com foi sua admissão par trabalhar no Lar Escola?
7) Com relação aos conflitos:
a) Em sua opinião, quais os principais motivos que levavam aos conflitos?
b) Como eram administrados esses conflitos?
8) Com relação à reflexão sobre a organização:
a) Durante o período que trabalhou no Lar Escola, a instituição desenvolveu algum
processo de reflexão entre os participantes sobre sua atuação?
b) Em seu ponto de vista, qual é o papel do Lar Escola na sociedade?
9) Com relação à satisfação individual:
a) Quais foram as principais fontes de satisfação e insatisfação no seu trabalho?
b) Apontar as principais dificuldades do Lar Escola.
c) Apontar as principais dificuldades pessoais no Lar Escola.
133
ANEXO 5 - Roteiro de Entrevista (ex-funcionários)
Dados Pessoais:
Nome /Idade:
Estado Civil:
Escolaridade:
Função:
Informações sobre o histórico e os processos de mudança.
a) Qual o período que trabalhou no Lar Escola?
b) Por que saiu da instituição?
c) Quais as principais mudanças pelas quais passou o Lar Escola, durante o período
que trabalhou lá?
Informações relativas ao quadro referencial de análise.
1)Com relação às normas e hierarquia:
a) Quais eram as normas para o estabelecimento das suas atividades?
e) Quais foram as mudanças na hierarquia ou em relação às normas e regras ao longo
da história do Lar Escola da Criança?
2) Com relação ao controle:
a) Quais eram as formas de controle sobre as atividades que você desenvolvia?
b) Houve, durante o período que trabalhou no Lar Escola, alguma alteração nas formas
de controle e nas suas finalidades?
3) Com relação ao poder e processo decisório:
a) Como ocorria o processo de tomada de decisão, no período que trabalhou no Lar
Escola?
b) Ocorreu alguma alteração no processo de tomada de decisão, durante o tempo que
você estava lá?
4) Com relação às relações interpessoais e à comunicação:
a) Quais as principais formas de comunicação entre os participantes no Lar Escola?
b) Ocorreu alguma alteração nas formas de comunicação e nas relações entre os
participantes, durante o tempo que trabalhou no Lar Escola?
5) Com relação à divisão de trabalho:
c) Com era a divisão de atividades e tarefas, no período que trabalhou no Lar Escola?
d) Houve alguma alteração na divisão de trabalho, durante o tempo que trabalhou lá?
6) Com relação ao recrutamento e promoção dos participantes:
a) Com foi sua admissão par trabalhar no Lar Escola?
7) Com relação aos conflitos:
a) Em sua opinião, quais os principais motivos que levavam aos conflitos?
b) Como eram administrados esses conflitos?
8) Com relação à reflexão sobre a organização:
a) Durante o período que trabalhou no Lar Escola, a instituição desenvolveu algum
processo de reflexão entre os participantes sobre sua atuação?
b) Em seu ponto de vista, qual é o papel do Lar Escola na sociedade?
9) Com relação à satisfação individual:
a) Quais foram as principais fontes de satisfação e insatisfação no seu trabalho?
b) Apontar principais dificuldades do Lar
c) Apontar principais dificuldades pessoas no Lar
134
ANEXO 6 – Carta de apresentação para Entrevista à Distância
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL
Centros de Ciências Sociais Aplicadas
Departamentos de Administração
Prezado (a) Sr. (a),
Primeiramente, eu, Maristela Regina Morais, aluna do Mestrado em
Administração (UEM/ UEL), gostaria de manifestar minha gratidão pela sua prontidão em
contribuir para que esta pesquisa acadêmica possa ser realizada.
Acredito que as pesquisas em administração devam abordar não só organizações
econômicas e públicas, mas também aquelas sem fins lucrativos. Desse modo, decidi
desenvolver um estudo no Lar Escola da Criança de Maringá.
Como se sabe, a instituição em questão, tem como objetivo o atendimento de
crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, visando, através das ações
de seu participantes, a valorização da vida humana individual e comunitária. Tal
característica, com toda certeza, apresenta-se como o principal ponto de convergência
entre o tema da pesquisa que estou realizando (“As ações desenvolvidas em uma instituição
sem fins lucrativos ao longo de sua história”) e as características do Lar Escola da Criança
de Maringá, o que demonstra a decisão acertada de se acompanhar e analisar o cotidiano
dessa organização, as relações estabelecidas entre seus participantes, as mudanças
enfrentadas, bem como resgatar informações acerca de sua fundação e administrações
anteriores.
Gostaria de informar que já foram coletadas informações (através de entrevistas)
junto a atual presidente: Irmã Cecília Inês Ferrazza e alguns funcionários e ex- funcionários
sobre o dia-a-dia da instituição e as mudanças mais recentes. Contudo, um resgate histórico
se faz fundamental e é justamente em relação a isso que preciso de sua contribuição. Neste
sentido, estou enviando (em anexo) um roteiro, com algumas perguntas sobre o histórico do
Lar Escola (sua fundação, atividades desenvolvidas e dificuldades enfrentadas), para que o
(a) senhor (a) possa descrever o período em que participou da entidade. Peço-lhe que me
reenvie respondido para o e-mail: [email protected] ou para o fax: (18) 229-
2088.
Destaco, ainda, que os fins visados nessa pesquisa, bem como a forma de
tratamento que será dada às informações que fornecidas, são estritamente acadêmicos.
Assim, esclarecemos que as informações que o (a) senhor (a) julgar sigilosas, quer por
motivos pessoais ou da própria instituição, serão tratadas confidencialmente, de forma a não
ferirem a integridade do compromisso firmado entre pesquisadora e pesquisado.
Qualquer dúvida, entre em contato comigo pelos telefones abaixo:
- Resd: (44) 263-3680
- Cel.: (44) 9114-9792
- Com.: (18) 229-2030
Sem mais para o presente momento, novamente agradeço sua preciosa
colaboração.
Maristela Regina Morais
Maringá, agosto de 2004.
135
ANEXO 7 – Roteiro de Entrevista (para ex-presidentes)
Dados Pessoais:
Nome:
Idade
Estado Civil:
Escolaridade:
Atividades que exerceu no Lar:
Informações sobre o histórico e os processos de mudança.
a) Qual o período que a você atuou no Lar Escola (de que ano a que ano)?
b) Com era o Lar Escola quando você chegou para administrá-lo?
c) Quais as principais mudanças pelas quais passou o Lar Escola, durante o período
que a senhora atuou?
Informações relativas ao quadro referencial de análise.
1) No período que trabalhava no Lar, quais eram as normas para o estabelecimento
das suas atividades?
2) Havia alguma hierarquia? Se afirmativo, descreva como era essa hierarquia.
3) Como era a divisão de atividades e tarefas, no período que trabalhou no Lar Escola?
4) Havia alguma forma de controle ou avaliação sobre as atividades que você
desenvolvia? Você era responsável pela avaliação da atividade de algum
funcionário?
5) Como ocorriam as tomadas de decisões no Lar Escola? Como era sua participação?
6) Quais as principais formas de comunicação entre as pessoas que trabalhavam no
Lar Escola? Havia reuniões, conversas informais?
7) Por que a senhora foi escolhida para trabalhar no Lar Escola?
8) Como eram administrados os conflitos que surgiam entre as crianças? E entre os
funcionários?
9) De acordo com o seu ponto de vista, quais foram os principais motivos de satisfação
e insatisfação no seu trabalho?
10) Durante o período que trabalhou no Lar Escola, a instituição desenvolveu algum
processo de reflexão sobre o papel de cada um no Lar Escola?
11) Em seu ponto de vista, qual é o papel do Lar Escola na sociedade?
Comentários e sugestões:.......................................................................................................
....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................
136
ANEXO 8 – Roteiro de Entrevista (para arcebispo responsáveis pela fundação da
Instituição
Dados Pessoais:
Nome:
Escolaridade:
Estado Civil:
Atividade (s) que exerceu no Lar Escola:
Informações sobre o histórico do Lar Escola e sobre os processos de mudança.
1) Descreva sobre o seu papel na fundação do Lar Escola.
2) Você participou das atividades desenvolvidas no Lar Escola? Em qual o período (de
ano a ano)?
3) Quem administrava o Lar Escola da Criança antes da chegada da Congregação
Murialdinas de São José? Como era a administração da instituição nesse período?
4) Em que ano foi feito o convite para as Irmãs da Congregação Murialdinas de São
José virem administrar o Lar? Por que essa decisão foi tomada?
5) De acordo com sua percepção, como ficou a gestão do Lar Escola após da chegada
das Irmãs Murialdinas? (se possível, descreva as principais mudanças ocorridas)
6) Como era a hierarquia, a divisão de tarefas antes e depois da chegada das Irmãs?
7) Antes da chegada das Irmãs Murialdinas havia algum controle das atividades
desenvolvidas pelos responsáveis pela administração e pelos funcionários do Lar
Escola? E na administração feita pelas Irmãs, como ficaram esses controles?
8) De que forma ocorriam as tomadas de decisões do Lar Escola (antes e depois da
chegada das irmãs)? Você participava das decisões?
9) Como era a sua relação com os participantes (funcionários e presidente) do Lar
Escola na gestão anterior à chegada das Irmãs? E na gestão das Irmãs? Você
participava ou ainda participa das reuniões?
10) Segundo o seu ponto de vista, quais as principais mudanças pelas quais passou o
Lar Escola, ao longo de sua história?
11) Em sua opinião, quais foram as principais dificuldades do Lar Escola desde sua
fundação?
12) Para você, qual era o papel do Lar Escola na sociedade? E atualmente?
Comentários e sugestões:......................................................................................................
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ANEXO 9 –Planejamento estratégico Participativo do Lar Escola da Criança de Mgá.
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