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veículos numa área nobre pode parecer destoante e depreciativo para os
moradores e até afastar a clientela do comércio.
Para ser aceito, o catador deve freqüentar diariamente esse território,
imprimir uma continuidade em seu serviço de coleta e estabelecer laços de
confiança com os moradores e comerciantes. Nesse sentido, é importante que
ele se organize em associações e cooperativas, onde terá acesso a orientações
para melhorar seu aspecto físico e a estratégias de aproximação e atuação em
locais mais nobres. Com essas atitudes, o catadorinicia a territorialização do
espaço.
A investigação do processo de circulação de material reciclável pode
fornecer pistas de como se dará essa nova territorialidade, e os melhores meios
para que ela não ocorra de forma desordenada ou se molde de maneira a
perpetuar a estrutura social vigente. A este respeito, Arroyo (1996) comenta que:
Um território em transição seria um território que busca uma nova organização, uma
nova ordem. Regras diferentes às que prevalecem no presente, já que elas estão se
esgotando, não estão dando conta do s conflitos existentes. Um território usado com
tempos rápidos e tempos lentos é produto de uma hegemonia excludente: apenas os
setores dominantes da sociedade podem atingir as maiores velocidades. Os objetos,
as técnicas, as informações, as redes, se inventam (criam), se constroem, se usam,
para perpetuar essa estrutura social hegemônica, para manter o status quo, enfim,
para reproduzir o presente. Nesse sentido esses elementos, por mais inovadores que
eles sejam, não conseguem dar conta de algo novo, que implique em uma mudança
social, em uma organização menos excludente.
O território da classe mais favorecida economicamente se estende além
de suas propriedades. Alcança as vias públicas, as praças, o espaço aberto,
domina o espaço público. Nesse sentido, refazendo a trajetória de boa parte dos
catadores, advindos de cidades interioranas e deslocados nas grandes cidades,
é possível fazer um paralelo e até enxergar continuidade ao processo de
alienação do homem, descrito por Moreira (2000, pp. 344-345) :
Chega então o tempo da desterritorialização. A descolagem generalizada das
referências, que põe o homem na sensação do fim do próprio espaço. Já não há mais
naturalidade, terreidade ou qualquer outro sentido de inserção que signifique
interioridade. E a alienação desnaturizante, desterreante, desterritorializante se
assume por fim como a relação de um homem com a falta de referências espaciais
que o levem a sentir-se um ser consigo mesmo encontrado.