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Boxe nº. 2
Coopserv
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A Coopserv surgiu, em Juiz de Fora, da iniciativa de organizar uma cooperativa
de serviços gerais a partir do trabalho de extensão da ITCP-UFJF junto às comunidades
do entorno do Campus Universitário. O projeto envolveu, em sua origem, cinco bairros
da chamada Cidade Alta e a comunidade central Bairro Ladeira. Apesar da diversidade
de origem dessas comunidades, o público-alvo apresentou semelhanças quanto ao perfil,
por tratar-se de uma população composta, em sua maioria, de desempregados, sem a
necessária qualificação profissional.
Conforme Heckert et al. (2003), que realizaram um estudo de caso sobre a
Coopserv, a vulnerabilidade social foi o principal fator de motivação do grupo para a
realização do empreendimento, sendo a diversidade profissional fundamental na
definição ampla do objeto que compreendia serviço de limpeza, vigilância desarmada,
jardinagem, lavanderia e cozinha, além de pequenos reparos na construção civil.
Após quatro meses de mobilização do grupo, buscou-se, a partir de Reuniões
Gerais, a formação da cooperativa, resgatando-se coletivamente a compreensão sobre o
cooperativismo e sobre o tipo de empreendimento que se propunha construir. Concluído
este processo, organizou-se uma assembléia para eleição do presidente e lançou-se
candidata ao cargo uma cooperada que não havia participado de todo o processo de
incubação. Eleita, imprimiu uma orientação autoritária na cooperativa, dando início a
uma fase tumultuada e conflituosa. Além disso, operacionalizou os dois primeiros
contratos da Coopserv de maneira desigual, o que resultou em sérios desentendimentos
reforçados pelo privilégio dado ao grupo que lhe era favorável. Seguiu-se um desencanto
com a proposta da cooperativa, ocorrendo um desgaste e uma quase total dispersão do
grupo. Diante da gravidade da situação, os cooperados fundadores que ainda
participavam das atividades da cooperativa se articularam e, com a orientação da
Incubadora, destituíram a presidente, passando por mais um processo de eleição, o que
exigiu grande esforço e união dos membros.
Com a admissão de novos sócios, as relações no cotidiano do trabalho
trouxeram à tona dificuldades, especialmente de incorporação da cultura cooperativa.
Iniciou-se, então, um movimento de reestruturação e, após sucessivas discussões, a
organização passou por ajustes. Nesse sentido, a persistência de alguns cooperados, as
mudanças implementadas e a celebração de novos contratos foram fundamentais para a
continuidade do empreendimento.
No entanto, os problemas do grupo não foram solucionados por completo. Em
relação à integração, permaneceram focos geradores de conflito em função da aura de
resistência e competição instalada entre determinados membros da equipe. A dinâmica
de atuação dos cooperados assentou-se em disputas acirradas de espaço, com a
imposição de posicionamentos e a inflexibilidade frente às dificuldades alheias.
Estabeleceu-se um clima de discórdias e fofocas, tornando cada vez mais difícil a
compreensão e aceitação do outro. Outro fator desencadeado foi a formação de
subgrupos que se uniram em busca de interesses pessoais. A confiança acabou ficando
comprometida, o que criou dúvidas em relação às verdadeiras intenções das pessoas e
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Relato apresentado em Heckert (2003, p.129).