com aquilo que faz, que intenção é essa e se sua participação inventiva é requisitada ou não
nessas atividades. Não há em relação aos inventos um papel de centralidade ou de pleno
controle humanos diante do todo em volta. Novos objetos são criados pelo homem em
conjugação com os outros objetos. O homem também se individua, biológica e
mentalmente, individuando seres técnicos. O objeto e seus inventores estarem
reincoporados à cultura, também na reflexão sobre a técnica, é outro objetivo a ser
perseguido, a nosso ver, pela filosofia simondoniana. O que parece é que a educação
técnica fornece esses requisitos.
Uma imagem de que Simondon quer se afastar, por mais que certas filosofias de
linha idealista colaborem para manter, é a homem teórico, isolado, no alto do seu saber, da
vida social e da materialidade do mundo. Esse não é o tecnólogo, mas o tecnocrata. Esses
rótulos que posicionam o filósofo como um despreparado para a vida cotidiana não vêm de
hoje. Foram, por exemplo, atribuídos a Tales de Mileto, que segundo uma anedota, por ser
um puro contemplador, de tanto olhar para o céu, tropeçou em uma pedra e acabou no
fundo de um poço. Mas o curioso é que, na mesma história, ele virou o jogo. Para
demonstrar que a reflexão teórica, no caso envolvendo astronomia, agricultura e
meteorologia, pode auxiliar a prática, em um certo ano, ao prever uma grande colheita de
azeitonas, Tales arrendou todas as prensas de produção de azeite da região a baixo custo.
Após a colheita, em função da superprodução, os agricultores foram obrigados, pela grande
procura, a pagar caro a ele pelo uso dos equipamentos. Isso, segundo a mesma lenda,
tornou o filósofo pré-socrático um homem rico. Ele estaria afirmando aí nessas ações, como
uma espécie de moral da história, que um pensador pode conquistar riquezas materiais, se
desejar, mas a questão é que, em geral, ele não canaliza esforços na direção de uma vida
luxuosa, o que os faz optar por uma existência na simplicidade. Não é inabilidade para a