82
“Às vezes, passa por um prazer pessoal mesmo, de você gostar de alguma coisa e
isso para você....De estar fazendo alguma coisa diferente. De estar fazendo alguma
coisa que para você é, como o nome já diz, um luxo. Um negócio, uma coisa que
tem um valor diferente. Você sair para um restaurante que é o mais badalado e
você vai comemorar seu aniversário, ou alguma coisa, e não estar, de repente,
importando com a conta. Você está ali curtindo o momento. Tem a ver com as
coisas que você dá valor e com o...É aquele negócio do único. Do momento que
para você é importante, que você está valorizando. Acho que é por aí também”.
(Entrevistado 6)
E à auto-satisfação ou gratificação (VIGNERON e JOHNSON, 1999):
“Enfim, tive uma infância muito complicada. Só tinha roupa que vinha da minha
irmã, que era arrumava para mim e tal. E eu cresci num ambiente de música e aí é
que está: a arte traz junto com ela uma grande sofisticação intelectual e, por
conseqüência, a aproximação de pessoas muito sofisticadas. Passei a freqüentar
lugares muito chiques, muito elegantes, casas de gente que tinha piano de cauda e
me chamavam para tocar. E eu fui, digamos, convivendo com esse luxo, com essa
sofisticação, e de certa forma eu comecei a querer um pouco disso, desse mundo
para mim. Assim que eu consegui então, digamos assim, ter a minha própria vida,
ganhar meu próprio dinheiro, etc., algumas coisas me chamam atenção. Às vezes
um relógio, às vezes uma bolsa. No decorrer da minha vida, algumas coisas me
chamaram atenção, tipo must have, sabe? 'Ah, isso eu tenho que ter'. Como se fosse
um símbolo das coisas que eu não tive. Representa um pouco... quer dizer, o
impulso de comprar uma bolsa cara ou um relógio caro, ou uma vez a cada três
anos fazer uma loucura, está um pouco no inconsciente infantil de dizer assim: 'ah,
alguma coisa eu quero daquele mundo que eu não tive'.” (Entrevistado 9)
Para alguns dos entrevistados a exclusividade é um fator importante ligado
ao consumo de produtos de luxo:
“Sim, sim, até porque você paga uma coisa cara, você não quer que todo mundo
tenha. E ao contrário também, por ter pouco você não deseja mais. Você não pode
pensar muito. 'Vou dar uma pensadinha', não rola isso. Nessa pensadinha, quando
você volta, aí é que não tem mais mesmo. Aí você fica louca, você fica doida.”
(Entrevistado 8)
“Uma das coisas que eu acho importante numa marca de luxo é essa coisa de
exclusividade, ela vai perdendo quanto mais você coloca coisas no mercado. Então,
realmente... O fato de você ficar dois anos numa fila esperando uma bolsa e porque
têm poucas e as pessoas quase morrem para conseguir uma bolsa daquelas. Então,
se você coloca muito, você não vai ter esse tipo de situação, né? Você perde um
pouco sim esse glamour que envolve o produto se você coloca mais no mercado.”
(Entrevistado 14)
“Quando eu fiquei sabendo que tinha aqui uma Starbucks, eu morava em Belo
Horizonte nunca tinha visto uma loja de café Starbucks. Nossa deve ser legal e tal...
Eu fui pra Berlim e fomos tomar um café, mas eu não achei nada de mais o café. Aí
vim pra São Paulo e depois fui pra Buenos Aires. Lá tem Starbucks em toda
esquina e começou ficar um lugar comum sabe. Então assim, quando eu começo a
ver em toda a esquina já é um lugar comum e perde o luxo”.
(Entrevistado 3)
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712936/CA