Download PDF
ads:
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUCSP
HELAINE DIAS DE ARAÚJO OLIVEIRA
SER ADOLESCENTE
construções identitárias em revista
MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA
O PAULO
2010
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção do título
de Mestre em Comunicação e Semiótica, sob a
orientação do Prof. Dr. José Luiz Aidar Prado.
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
ads:
Ao suporte incondicional de Deus.
Ao amor abnegado do Gu.
Ao estímulo de Mã.
Às idas-e-vindas de Pá.
Ao
help
da Fo.
Às aventuras do Nick.
Às risadas da Bi.
À incompreensão de uns.
À compreensão de outros.
Ao suporte financeiro da Capes.
À orientação e paciência do Aidar.
“Everything is amazing and nobody is happy”
(autor desconhecido)
A presente pesquisa tem por objetivo compor um panorama das construções
temáticas identitárias da adolescência nas revistas femininas dedicadas a esse
segmento. O trabalho busca examinar as marcas lingüístico-discursivas utili-
zadas para disseminar o ideário da adolescência na sociedade contemporânea,
em um contexto em que a dia impressa expande suas práticas ao atuar na
constituição dos sujeitos a partir da enunciação de mapas cognitivos atrelados
ao consumo. São orientações e conselhos que permeiam os contratos comu-
nicativos dessas publicações e instauram modos de ser e fazer oferecidos a
um segmento em processo de formação, física e emocional, portanto, mais
suscetível a tais apelos. Para tanto, empreendeu-se uma análise dos retratos
midiáticos do adolescente nas edições de 1998, 2003 e 2008 das três revistas
segmentadas de maior circulação no país: Atrevida, Capricho e Todateen. A
investigação destas publicações conta com o apoio metodológico do modelo
tridimensional da análise crítica do discurso de Norman Fairclough e das es-
tratégias enunciativas do contrato de comunicação de Charaudeau. A pesqui-
sa buscou localizar, primeiramente, similaridades entre as publicações a partir
das estratégias discursivas adotadas pelo enunciador para se comunicar com
a leitora. Em seguida, a análise do conteúdo adotou a separação temática
proposta por Currie e Prado. A discussão sobre a adolescência conta, prin-
cipalmente, com os aportes de Bourdieu e Reguillo. Para refletir sobre a con-
stituição do sujeito na pós-modernidade e os imperativos da cultura do con-
sumo foram explorados os referenciais de Hall, Giddens e Bauman, na busca
de compreender a interferências dos artefatos midiáticos nas dinâmicas sociais
da contemporaneidade.
Palavras-chave:
revista, contrato de comunicação, discurso, adolescente
RESUMO
The purpose of this research is to present an overview of adolescence’s identi-
ties thematic constructions found on youth magazines published to teenage
girls. This study sought to analyze the linguistic-discursive hallmarks employed
to disseminate adolescence’s ideology on contemporary society, where the
printed media expands its practices operating in the subjects’ constitution
through cognitive maps leashed to consumption. These hallmarks are orien-
tations and counsels which permeate the communicative contracts of these
publications and instigate behaviors in a segment that is in the process of
physical and emotional formation, hence, more susceptible to such appeals.
Thus, this research undertook an analysis of media portraits of the adolescent
in the 1998, 2003, and 2008 issues of the most circulated magazines target-
ing teenage girls in Brazil:
Atrevida
,
Capricho
, and
Todateen
. The investiga-
tion of these publications relied on the methodological support of Norman
Fairclough’s tridimensional model of critical discourse analysis, and Charan-
deau’s enunciative strategies of communication contract. Primarily, this study
sought to identify similarities among the publications taking into considera-
tion discursive strategies adopted by the enunciator in communicating with
the reader. Following, the content analysis adopted the thematic separation
proposed by Currie and Prado. The discussion about adolescence mostly relied
on the work of Bourdieu and Reguillo. In order to reflect on the postmodern
subject’s constitution and the imperatives of the consumption culture—seek-
ing to understand the interferences of media instruments on contemporary
social dynamics—the work of Hall, Giddens, and Bauman were explored.
Keywords:
magazine, communicative contracts, discourse, adolescent
ABSTRACT
CAPÍTULO 1
FIG.01 Revista
Geração Pop
e
Bizz
(p.27)
FIG.02 Exemplar de
Capricho
da década de 1950 (p.28)
FIG.03 Mudanças no índice de CP entre 1998 e 2008 (p.31)
FIG.04 Edições de CP que compõem o
corpus
da pesquisa (p.32)
FIG.05 Mudanças no logo de AT entre 2003 e 2008 (p.33)
FIG.06 Mudanças no índice de AT entre 1998 e 2008 (p.34)
FIG.07 Edições de AT que compõem o
corpus
da pesquisa (p.35)
FIG.08 As personagens Teena e Kimiko (p.37)
FIG.09 Mudanças no índice de TT entre 1998 e 2008 (p.37)
FIG.10 Ediçõs de TT que compõem o
corpus
da pesquisa (p.38)
FIG.11 Editoriais de CP, AT e TT (p.39)
FIG.12 Editoriais diferenciados (p.39)
FIG.13 Fotos, saudações e assinaturas nos editoriais de AT, CP e TT (p.40)
FIG.14
Mimese
em TT (p.43)
FIG.15
Desfiguramento
nas revistas (p.44)
FIG.16
Consumismo direto
em CP (p.45)
FIG.17
Consumismo direto
em AT (p.45)
FIG.18
Consumismo direto
em TT (p.46)
FIG.19 Ordens e conselhos na capa de CP (p.48)
FIG.20 Ordens e conselhos na capa de AT (p.49)
FIG.21 Ordens e conselhos na capa de TT (p.49)
FIG.22 Celebridades nas revistas (p.53)
FIG.23 Construções teatrais nas capas de 1998 (p.54)
FIG.24 Primeiras capas com celebridades em AT e CP (p.54)
FIG.25 Celebridades e modelos nas capas de TT entre 1998 e 2003 (p.55)
CAPÍTULO 2
FIG.26 Trilogia sucesso entre os adolescentes (p.69)
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
CAPÍTULO 3
FIG.27 Debates sociais em CP e TT (p.72)
FIG.28 A relação familia nas revistas (p.73)
FIG.29 Manual para fazer amigos em TT (p.74)
FIG.30 Mandamentos da galera de CP (p.74)
FIG.31 Táticas e testes para conquistar o menino (p.75)
FIG.32 Artifícios para a arte da conquista (p.76)
FIG.33 O dilema namorar ou ficar em AT (p.76)
FIG.34 Empecilhos para o romance em TT (p.77)
FIG.35 Manual de sobrevivência em CP (p.78)
FIG.36 Eles respondem as dúvidas das meninas (p.79)
FIG.37 Romance dos sonhos em AT (p.79)
FIG.38 Metáfora da partida de futebol em CP, AT e TT (p.81)
FIG.39 Os meninos auxiliam nas dúvidas sobre a primeira vez (p.82)
FIG.40 O tempo certo da primeira vez (p.83)
FIG.41 Construções sobre a sexualidade em TT (p.84)
FIG.42 Moda e beleza nas revistas (p.85)
FIG.43 Matérias que incentivam a adolescente a economizar (p.87)
FIG.44 O visual certo e errado em AT, CP e TT (p.88)
FIG.45 Linda em 2008 por CP (p.89)
FIG.46 Fotolog em CP (p.90)
FIG.47 Celebridades, referencias de moda e beleza (p.90)
FIG.48 “Bicos” em TT (p.91)
FIG.49 Trabalho em AT (p.92)
FIG.50 Faça a diferença! (p.92)
FIG.51 Profissões dos sonhos (p.93)
FIG.52 Teste da fama em TT (p.94)
FIG.53 Popularidade em TT (p.95)
FIG.54 Guia profissional em CP, AT E TT (p.95)
FIG.55 Lazer nas revistas (p.96)
FIG.56 Alimentação saudável (p.97)
FIG.57 O exercício ideal em CP (p.98)
FIG.58 Saúde nas revistas (p.98)
FIG.59 Interdiscursividade em TT (p.99)
FIG.60 Produtos e tratamentos para o corpo não-saudável (p.100)
FIG.61 O corpo doente em pauta (p.100)
FIG.62 Mídia auto-referente (p.101)
FIG.63 Saúde sexual (p.101)
FIG.64 Transformações no corpo adolescente (p.102)
FIG.65 Bem-estar nas revistas (p.103)
FIG.66 Transformações para o quarto da adolescente (p,104)
FIG.67 O imperativo da felicidade (p.105)
FIG.68 Testes de autoconhecimento (p.106)
FIG.69 Suposições em TT (p.108)
CAPÍTULO 1
TABELA 01 Perfil da leitora de CP (CAPRICHO, 2008) (p.30)
TABELA 02 Perfil da leitora de AT (ATREVIDA, 2008) (p.33)
TABELA 03 Perfil da leitora de TT (TODATEEN, 2008) (p.36)
TABELA 04 Os verbos nos mapas de consumo da mídia (p.51)
LISTA DE TABELAS
Revista Capricho
Revista Atrevida
Revista Todateen
Revista Capricho de 01 de janeiro de 1998 (edição 774)
Revista Capricho de 07 de junho de 1998 (edição 785)
Revista Capricho de 02 de dezembro de 1998 (edição 799)
Revista Capricho de 12 de janeiro de 2003 (edição 905)
Revista Capricho de 12 de junho de 2003 (edição 915)
Revista Capricho de 28 de dezembro de 2003 (edição 930)
Revista Capricho de 20 de janeiro de 2008 (edição 1036)
Revista Capricho de 08 de junho de 2008 (edição 1046)
Revista Capricho de 21 de dezembro de 2008 (edição 1060)
Revista Atrevida de janeiro de 1998 (edição 41)
Revista Atrevida de junho de 1998 (edição 46)
Revista Atrevida de dezembro de 1998 (edição 52)
Revista Atrevida de janeiro de 2003 (edição 101)
Revista Atrevida de junho de 2003 (edição 106)
Revista Atrevida de dezembro de 2003 (edição 112)
Revista Atrevida de janeiro de 2008 (edição 161)
Revista Atrevida de junho de 2008 (edição 166)
Revista Atrevida de dezembro de 2008 (edição 172)
Revista Todateen de janeiro de 1998 (edição 26)
Revista Todateen de junho de 1998 (edição 31)
Revista Todateen de dezembro de 1998 (edição 37)
Revista Todateen de janeiro de 2003 (edição 86)
Revista Todateen de junho de 2003 (edição 91)
Revista Todateen de dezembro de 2003 (edição 97)
Revista Todateen de janeiro de 2008 (edição 146)
Revista Todateen de junho de 2008 (edição 151)
Revista Todateen de dezembro de 2008 (edição 157)
CP
AT
TT
CP1
CP2
CP3
CP4
CP5
CP6
CP7
CP8
CP9
AT1
AT2
AT3
AT4
AT5
AT6
AT7
AT8
AT9
TT1
TT2
TT3
TT4
TT5
TT6
TT7
TT8
TT9
ABREVIAÇÕES
Introdução .................................................................................................... 021
Capítulo 1
COMO SE CONSTRÓI UMA REVISTA ADOLESCENTE ................................... 025
1.1 Adolescência em revista .................................................................................... 026
1.1.1 Capricho ............................................................................................................ 028
1.1.2 Atrevida ............................................................................................................. 032
1.1.3 Todateen .......................................................................................................... 036
1.2 Linguagem coloquial ........................................................................................ 039
1.3 Ordens e conselhos .......................................................................................... 042
1.4 Referenciais de sucesso .................................................................................... 052
Capítulo 2
COMO A PÓS-MODERNIDADE CONSTRÓI O ADOLESCENTE ................. 059
2.1 Múltiplos conceitos............................................................................................ 060
2.2 Notoriedade social ........................................................................................... 062
2.3 Visibilidade midiática ......................................................................................... 066
Capítulo 3
COMO A REVISTA SEGMENTADA CONSTRÓI A ADOLESCENTE ........... 071
3.1 Sociabilidade e sexualidade ............................................................................. 072
3.1.1 Meninos, gatos, fofos e afins ......................................................................... 075
3.2 Moda e beleza .................................................................................................... 085
3.3 Trabalho e lazer ................................................................................................ 091
3.4 Saúde ................................................................................................................... 097
3.5 Bem-estar ........................................................................................................... 103
Considerações Finais .................................................................................. 111
Referências Bibliográficas .......................................................................... 117
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Com o dinamismo das transformações da pós-modernidade, a cultura
midiática tornou-se gestora das estratégias de ser e viver no mundo social,
interferindo no cotidiano dos adolescentes, condicionando gostos, crenças
e percepções. Trata-se de um processo de produção e circulação de for-
mas simbólicas que estabelecem estereótipos da adolescência, paradigmas e
posições deste sujeito em sociedade. São identidades mediadas pelos meios
de comunicação, mas estruturadas dentro de um quadro dinâmico junto às
transformações histórico-sociais e a valores econômicos.
A partir deste contexto esta pesquisa problematiza as interferências destes
artefatos midiáticos na constituição de um sujeito em processo de formação,
carregado de transformações físicas e emocionais, configurando um seg-
mento mais sensível aos apelos e significados a ele atrelados (ABERASTURY &
KNOBEL, 1992: 27). Dessa forma, surgem as perguntas relativas à construção
midiática da identidade adolescente na contemporaneidade brasileira. Como
as revistas segmentadas idealizam a adolescência na pós-modernidade? Que
valores e práticas são exaltados por estas publicações? Que elementos dis-
cursivos são utilizados para construir referenciais do adolescente?
Jovens e adolescentes constituem cerca de 560 milhões de habitantes do
mundo. Uma em cada seis pessoas do planeta tem entre 15 e 19 anos. Uma
em cada quatro tem entre 10 e 24 anos. Metade dos brasileiros tem menos
de 25 anos. Um em cada cinco tem entre 15 e 24 anos e somam 35,2 milhões
de pessoas (IBGE, 2008). Na economia mundial eles chegam a movimentar
mais de U$100 bilhões por ano. Só os brasileiros gastam U$15 bilhões, ficando
#021
atrás somente de norte-americanos e indianos (MOSES, 2000: 13).
Apesar desta notoriedade, até a modernidade o adolescente não tinha es-
paço em uma sociedade que transitava da infância para a vida adulta mar-
cada pelas responsabilidades para o trabalho, independência financeira e a
possibilidade de constituição familiar (REIS, 2004). Os primeiros tros que
remetem a uma classe adolescente surgiram no século XVII, quando a escola
tornou-se obrigatória em substituição à aprendizagem informal, anterior-
mente praticada na rotina diária com os adultos (LEVI & SCHMITT, 1996).
No século XX, a organização produtiva da sociedade restringiu o ingresso
deste grupo social ao mercado de trabalho, obrigando-os a aumentar o
tempo de permanência na escola, embora tivessem corpo, cognição e afetos
desenvolvidos tal como os adultos. Para Bock & Loebensy (2003: 211) a falta
de autorização para ingressar no mundo adulto instituiu a imagem da ado-
lescência associada aos valores de rebeldia, conflito geracional, indefinição
identitária e onipotência.
Estas generalizações marcaram algumas das distinções semânticas que
buscaram batizar o adolescente a partir de determinadas homogeneizações
pejorativas, por delimitações biológicas, etárias e comportamentais. Valores
insuficientes para penetrar o universo de um segmento pluralista e dinâmico,
mas que obteve avanços com o discurso jurídico promulgado pelo
Estatuto
da Criança e do Adolescente
(ECA) nos anos 1990. A legislação consolidou a
noção de adolescência, entre 12 a 18 anos incompletos, tornando-os sujeitos
de direito, afastados dos referenciais de desvios e incompletudes.
O objetivo da presente pesquisa foi compor um panorama das construções
identitárias da mídias impressas adolescente de maior circulação no Brasil. O
trabalho também buscou salientar as marcas discursivas utilizadas por estas
revistas ao disseminar os valores e ideários da adolescência na sociedade
contemporânea. Além de refletir sobre a articulação da identidade na pós-
modernidade, atrelada aos imperativos da cultura das mídias e dos referen-
ciais capitalistas.
A escolha da revista adolescente surge de uma busca por uma leitura posi-
tiva deste grupo social, sem quaisquer estereótipos negativistas, comuns
nas produções “
destinados aos ‘adultos’
” por tematizam a adolescência e a
juventude como “
problemas sociais
”(Abramo, 1997: 25). As publicações
selecionadas representam os títulos de maior circulação dentre as
publicações pertencentes à categoria “
adolescente
” do
Instituto Verificador
de Circulação
(IVC). São elas:
Atrevida
,
Capricho
e
Todateen
, revistas que
apresentam significados da adolescência em pautas sobre comportamento,
relacionamento afetivo, ídolos, moda e beleza.
Embora estas produções tenham um vasto campo investigativo, esta pesqui-
#022
sa buscou uma análise ampla, sem recortes em uma determinada seção.
Outro fator diferencial está na seleção do
corpus
de pesquisa, que abrangeu
uma historicidade por focar em um período qüinqüenal entre 1998 e 2008,
permitindo a observação dos discursos renovados ou reiterados mesmo
diante de mudanças nos projetos gráficos e editoriais. Em cada ano foram
selecionadas as publicações temáticas de Ano Novo, Dia dos Namorados e
Natal, produções especiais que representam as edições mais vendidas du-
rante o ano (PUBLIABRIL, 2008).
Com base nesses critérios, o
corpus
foi definido pelas edições de janeiro,
junho e dezembro de 1998, 2003 e 2008, resultando na seleção de 27
publicações, nove exemplares de cada título. São produções que se tor-
naram uma importante fonte das tendências adolescentes e juvenis (MEIO E
MENSAGEM, 2008: 12), propagando constantemente os significados deste seg-
mento na sociedade contemporânea. Como não existem versões exclusiva-
mente masculinas destas publicações, a pesquisa centra-se em observações
do gênero feminino e nos referenciais de feminilidade propagados por estas
publicações.
Diante da continuidade de lançamentos de títulos e da consolidação deste
mercado editorial segmentado, as revistas adolescentes surpreendem por
manter uma aceitação perante um grupo social flexível às tendências virtuais
e conseqüentes fragmentações midiáticas. Segundo o
9º Estudo Brasileiro do
Mercado de Publicações Periódicas
, as publicações “
adolescentes e infanto-
juvenis
” ganharam destaque em 2008, com um crescimento 18% maior que o
ano anterior, atingindo uma tiragem média de cinco milhões de exemplares
por ano (ANATEC, 2008).
Para a análise recorreremos à crítica explanatória e ao modelo tridimen-
sional da análise crítica do discurso proposta por Norman Fairclough (1995,
1998, 1999, 2002 e 2003), que concebe a revista como um evento discursivo
investido de poder e ideologia. Uma metodologia que investiga os fenômenos
sociais na busca de seus significados intrínsecos. Utilizaremos também aos
aportes de Patrick Charaudeau (2006) que estabelece o discurso enquanto
aparato ideológico que informa e estabelece uma aceitação, um contrato de
comunicação com possibilidades de transformação do sujeito.
O primeiro capítulo voltou-se à compreender como se constrói uma re-
vista adolescente na contemporaneidade, observando as recorrências no
conteúdo editorial destas publicações e as marcas discursivas utilizadas
para seduzir a leitora e fazê-la aderir aos referenciais de comportamentos e
posicionamentos do sujeito. A investigação perpassou as produções consoli-
dadas nacionalmente, as personalidades midiáticas concretizam os ideais da
adolescência na sociedade contemporânea e a constituição do “
jornalismo
híbrido
” (MARSHALL, 2003) com referenciais da cultura de consumo.
#023
No segundo capítulo foi apresentado um percurso da mídia adolescente no
Brasil entre a década de 1990 e 2000 e o contexto para a construção do
adolescente na pós-modernidade. Trata-se de um olhar sob as formas de
visibilidade da adolescência e sua multiplicidade em oposição às primícias
investigativas que buscaram singularizar este grupo social. Aludimos também
as características deste contexto social dinâmico, suas interferências na
constituição dos sujeitos e a proliferação de identidades efêmeras.
Por fim, o terceiro capítulo analisa as revistas adolescentes a partir de cinco
categorias temáticas: “sociabilidade e sexualidade”, “moda e beleza”, “tra-
balho e lazer”, “saúde” e “bem-estar”. Agrupamentos sistematizados a partir
das categorias de Currie (1999) e da pesquisa dos regimes de visibilidade nas
revistas segmentadas do
Grupo de Pesquisa de Mídia Impressa
, sob co-
ordenação de Prado (no prelo). Tais bases possibilitaram uma investigação
abrangente do
corpus
, compreendendo as particularidades das revistas e os
significados disseminados do “ser adolescente” na contemporaneidade.
Estas produções abrem espaço para debate das questões da adolescência,
mas, em contrapartida, apontam as soluções para quaisquer dúvidas a partir
de guias e mapas de orientação atrelados aos referências da cultura de con-
sumo. Assim, analisar os significados disseminados da adolescência implica
em compreender expressões potencializadas da sociedade pós-moderna, “
[...]
mudanças substantivas em torno da concepção e relação com o tempo que
as sociedades estão construindo
” (REIS, 2004: 67).
#024
A falta de espaço no mercado de trabalho no século XX limitou o adoles-
cente ao espaço escolar e a frustração quanto à possibilidade de indepen-
dência financeira. Longe da responsabilidade da vida adulta o adolescente
buscou formas de ocupar o tempo livre para gozar a vida, priorizar o prazer,
a diversão e a conquista de seus desejos pessoais (GONZÁLES, 2008: 64). A
partir dos anos 1950, a cultura pós-guerra propulsionou o entretenimento,
e este tempo de lazer passou a ser cada vez mais orientado pelas práticas e
valores do universo do consumo.
O lazer, de forma como é concebido hoje, não é mais um ócio, um tem-
po para exercício da liberdade, da formação cultural e crítica e fonte de
aprendizagem social para a emancipação dos sujeitos, mais um tempo fun-
cional para o consumo permanente de mercadorias (SILVA, 2003: 197
apud
HACK, 2005: 32).
Trata-se da “
economia do entretenimento
” (WOLF, 1999), a “
revolução do
entretenimento
” (GABLER, 1999) ou da fase do “
infoentretenimento
” (KELLNER,
2006), conceituações diferentes para tematizar a diversão como elemento de
primeiro plano na sociedade. “
O lazer não é mais a Festa ou a recompensa
do labor, também não é ainda a atividade livre que se exerce para si mesma.
É o espetáculo generalizado: televisão, cinema, turismo
” (LEFEVBRE, 1991:62).
Este contexto formatou o tripé mídia-mercado-lazer, “
uma válvula de diversão
capaz de amenizar tensões e promover o descanso ao ocupar o tempo livre
(ORTIZ E SANTORO, 2008: 2).
Ignácio Ramonet (1999) ressaltou o cinema e a televisão como os meios
1.
COMO SE CONSTRÓI UMA
REVISTA ADOLESCENTE
#025
precursores desta cultura imagética do entretenimento, que transformou a
produção midiática e instaurou novos paradigmas: “
Agora, as informações
devem ter três qualidades principais: serem fáceis, rápidas e divertidas
” (
Idem
:
137). Essa nova linguagem não estava preparada para desagradar, por isso
precisava atingir a todos os públicos de maneira direta e prazerosa. Ga-
bler (1999) também atribuiu este papel pioneiro à televisão, que no final do
século XX, passou a espetacularizar a realidade, transformando tudo o que
era noticiado em entretenimento.
Em seu estudo sobre a história das revistas, Marília Scalzo observou a
tendência da mídia impressa em privilegiar a cobertura de temáticas culturais
à simples transmissão de notícias “quentes”. Este fator leva a autora a cons-
tatar uma vocação noticiosa desta mídia à indústria do entretenimento. “
As
revistas nasceram por um lado sob o signo da mais pura diversão – quando
traziam gravuras e fotos que serviam para distrair seus leitores e transportá-
los a lugares aonde jamais iriam
” (SCALZO, 2003: 14). A seguir analisaremos
mais detalhadamente estes valores voltando às primeiras produções segmen-
tadas no adolescente.
Atento às potencialidades mercadológicas da adolescência, a produção edito-
rial brasileira inspirou-se no sucesso do segmento fonográfico, televisivo e
cinematográfico e lançou “
a primeira revista voltada para o teenager
” (MIRA,
2001: 154).
Geração Pop
foi publicada entre novembro de 1972 e agosto de
1979, trazendo matérias sobre música, comportamento e relacionamento.
Foram impressas 82 edições com uma venda em torno de 100 mil exemplares
mensais. Foi um período de vida curto se comparado com outras publicações
do selo
Abril Cultural
.
Este é o primeiro número da primeira revista da nossa idade. Feita espe-
cialmente para você jovem de quinze a vinte e poucos anos de idade. Com
coisas do seu interesse, que além de informar e divertir, também sejam
úteis. Indicações para você comprar as últimas novidades em discos, livros,
aparelhos de som e fotografia, maquinas e motocas, roupas incremen-
tadíssimas. Orientação na escolha de uma profissão, reportagens sobre
assuntos da atualidade. E muita música, claro. Veja a revista. Depois, es-
creva pra gente. Nós queremos saber o que você achou (REVISTA POP, 1972:
4
apud
BORGES, 2003).
Em 1985 surgiu a revista
Bizz
, “
a primeira revista a ocupar a lacuna deixada
por Pop
” (MIRA, 2001:157). A criação desta publicação surgiu em um contexto
1.1
ADOLESCÊNCIA EM REVISTA
#026
adverso de redemocratização do país, mas tornou-se referência por sua dia-
gramação diferenciada, com uma profusão de imagens e uso de muitas cores
(BORGES, 2003). O período de crise com a chegada de inúmeras produções
estrangeiras culmina no fim da revista
Bizz
, em 2001, após 192 edições
publicadas. Mas em setembro de 2005,
Bizz
voltou a ser uma aposta comer-
cial, cobrindo o universo musical para as novas gerações.
Com a “
hiper-segmentação
” (MORAIS, 1998: 198) em meados dos anos 80,
a mídia impressa passou por uma divisão ainda mais intensa provida pelo
surgimento de editoras de pequeno porte (MIRA, 2001: 152). O mercado
buscou rumos mais específicos, e logo as revistas passaram a dedicar suas
produções a nichos menores dentro de classes já segmentadas. No caso,
as revistas adolescentes passaram por uma delimitação restrita a gênero,
faixa etária, hobbies, etc. Surgiram as publicações adolescentes voltadas para
FIG.01 Revista
Geração Pop
e
Bizz
#027
meninas, para surfistas, apreciadores de música...
Embora a revista
Capricho
já existisse desde 1952, uma reestruturação
editorial alterou o público-alvo desta produção, que chegou às
bancas em 1985 como a primeira revista voltada para a adolescente
brasileira, com matérias sobre moda, beleza e comportamento. Um
conteúdo diferenciado das antigas fotonovelas que eram o chamariz
às donas-de-casa na metade do século XX.
Capricho
permaneceu por nove anos como a única revista voltada
para este nicho, até que surgiram outros lançamentos como
Atrevida
(1994),
Todateen
(1995),
Alô Garota
(2000),
Smack
(2004),
Yes! Teen
(2006),
Loveteen
(2007),
Revista Up
(2007), dentre outras. A con-
tinuidade de lançamentos e a estabilidade dos títulos consolidados ates-
tam os bons índices de aceitação destas publicações principalmente em um
contexto dominado pelos novos aparatos tecnológicos e virtuais (MEIO &
MENSAGEM, 2008:12).
Além de servir de canal de comunicação com a adolescência, estas revistas
publicam tendências e identidades determinantes para a constituição deste
segmento na contemporaneidade. Para tal, esta pesquisa recorreu a uma
desconstrução ideológica destas publicações para desvelar os diferentes sig-
nificados sociais projetados sobre este segmento. Um olhar voltado ao modo
de ser adolescente propagando pela mídia e suas formas de interpretá-lo ou
interpelá-lo.
Dessa forma, foram selecionadas as revistas adolescentes dentre as publi-
cações pertencentes à categoria “adolescente” do
Instituto Verificador de
Circulação
(IVC). São elas:
Capricho, Atrevida
e
Todateen
. São publicações
que pautam conteúdos convenientes ao universo adolescente, informando
sobre comportamento, relacionamento afetivo, ídolos, moda e beleza, como
veremos a seguir em uma análise das especificidades destas produções.
A revista
Capricho
(CP) chegou às bancas em 18 de junho de 1952 a partir
das idéias do próprio fundador da Editora Abril, Victor Civita. Sendo a pre-
cursora entre as publicações femininas no país, CP atraia principalmente as
donas de casa da época, que aguardavam ansiosas cada edição para acom-
panhar os roteiros românticos registrados pelas fotonovelas, chamadas de
Cinenovelas
”.
A publicação era o sucesso da década de 1950, vendendo cerca de 500.000
1.1.1
Capricho
FIG.02 Exemplar de
Capricho
da década de 1950
#028
exemplares por edição, enquanto nenhuma outra revista brasileira da época
vendia mais do que 50.000 exemplares. Em pouco tempo CP bateu o recorde,
sendo a publicação mais vendida na América Latina (CAPRICHO, 2008). O
grande diferencial estava em sua estratégia editorial de publicar as histórias
de folhetins por inteiro e não particionadas em capítulos (SCALZO, 2003: 90).
A década de 1980 instaurou um período de crise no mercado editorial e CP
passou a priorizar temáticas sobre moda, beleza e comportamento, deixando
as fotonovelas como encartes secundários. Finalmente em agosto de 1982,
a revista extirpou os folhetins, devido à concorrência dos aparelhos de TV e
suas telenovelas. Logo em junho de 1985, a terceira reestruturação da década
fez a publicação mudar de foco, buscando atingir as meninas adolescentes
em consonância com as tendências de segmentação editorial.
Em maio de 1985 surge a nova identidade:
Miau!’Capricho é a ‘revista da ga-
tinha
’. A campanha publicitária criada por Washington Olivetto, veiculada em
todos os meios de comunicação e envolvendo um gasto de um bilhão de
cruzeiros, conseguiu apagar da memória do público a imagem da revista de fo-
tonovelas. Uma nova fórmula editorial se consolida com ênfase nos artigos de
moda, beleza e comportamento adolescente, com matérias sobre sexo, drogas
e relacionamentos. A circulação volta a crescer. média de 80 mil no pri-
meiro trimestre de 1985 e numa progressão continua, a revista atinge os 300
mil exemplares em janeiro de 1987. CP volta a brilhar, tornando-se a segunda
maior revista feminina e a sexta maior revista do país (MIRA, 2001: 175).
Uma nova alteração em outubro de 1989 delimitou a revista CP às adoles-
centes entre 12 e 19 anos, uma restrição à faixa-etária anterior que buscava
as mulheres até 29 anos. Esta mudança culminou nas reestruturações da dé-
cada de 1990, quando uma nova direção assumiu a publicação e implementou
primeiro a diminuição do público-alvo para meninas até 16 anos e, em segui-
da, ampliou para um segmento independente de idade (CAPRICHO, 2008).
Estas formatações permaneceram até julho de 2006, quando CP implemen-
tou um sistema de renovação anual da linguagem gráfica de seu conteúdo,
como forma de estabelecer um diferencial entre os novos títulos que surgi-
ram e manter-se sempre alinhada ao seu público-alvo. “
De qualquer forma,
hoje, com a quantidade de informações de que os adolescentes dispõem, uma
revista que se propusesse a ser exatamente igual à que fizemos nos anos 80,
não teria mais lugar no mercado
” (SCALZO, 2003: 99).
Com o slogan “
Seja Diferente
” a publicação é hoje líder do segmento adoles-
cente com uma tiragem quinzenal total de 222.188 exemplares (dados de out.
2009, segundo IVC), sendo a circulação líquida de 157 mil, com 104 mil vendas
avulsas e 52 mil assinaturas. Seu grande diferencial está na periodicidade
quinzenal enquanto as outras publicações adolescentes são mensais, per-
mitindo que as leitoras estejam em constante atualização em matérias sobre
moda, beleza e comportamento. A publicação é destinada a meninas entre 10
#029
e 19 anos e tem como objetivo “
informar, entreter, formar e conectar a maior
comunidade de garotas com estilo e atitude do país
” (CAPRICHO, 2008).
CP foi a revista precursora do gênero no Brasil e até hoje serve de referen-
cial para as publicações voltadas para as meninas adolescentes. Como forma
de manter-se atualizada, a publicação renova-se constantemente já que
em cada projeto busca romper com as construções gráficas anteriores, a
começar, pela escolha tipográfica do conteúdo e do logotipo que alternam
entre seleções leves, imitando tracejados manuais, e, fontes mais rígidas,
simulando recortes grosseiros em papel. No
corpus
desta pesquisa contabili-
zamos quatro formatações gráficas diferentes.
Até 1998 as publicações de CP o “Índice” separava o conteúdo da publicação
em seis categorias: “Relações”, “Beleza e Saúde”, “Especial”, “Perfil”, “Moda” e
“Seções”. Em 2003, o conteúdo fixo de CP passou a ser separado em “Repor-
tagens” e “Seções”. Até que em 2008 um novo projeto gráfico trouxe a seção
“Busca”, dividindo o conteúdo em: “na capa”, “entrada”, “ídolos”, “moda e be-
leza”, “comportamento” e “saída”. Para cada seção deste índice era escolhida
uma cor diferente que também se repetia nas matérias correlatas dentro da
publicação, recurso que formatava uma leitura diferenciada da revista a partir
dos blocos coloridos. Em dezembro de 2008 criou-se mais uma seção com a
separação das matérias sobre “Moda” e “Beleza”, já outras editorias mudaram
de nome: “ídolos” vira “v.i.p”, “comportamento” muda para “você” e “sda”
recebe o nome de “diversão”.
TABELA 01 Perfil da leitora de CP
(CAPRICHO, 2008)
REGIÃO
05% Norte
11% Nordeste
20% Centro-Oeste
57% Sudeste
07% Sul
FAIXA ETÁRIA
61% 10 a 19 anos
21% 20 a 34 anos
19% acima de 35
CLASSE SOCIAL
15% A
42% B
37% C
06 %D
SEXO
90% Feminino
10% Masculino
#030
Como vimos anteriormente, esta pesquisa primou por um
corpus
qüinqüe-
nal entre 1998 e 2008, resultando na seleção de nove exemplares de CP dos
meses temáticos do Ano Novo (janeiro), Dia dos Namorados (junho) e Natal
(dezembro). É notória a predileção por referenciais irreverentes, seja pela
pose dos personagens da capa, das escolhas cromáticas das chamadas ou
dos elementos que interferem no logotipo. Há também um predomínio de
figuras femininas em relação aos modelos masculinos.
FIG.03 Mudanças no índice de CP entre 1998 e 2008
#031
Atrevida
(AT) chegou às bancas em setembro de 1994 pela
Símbolo Editora
para competir em um segmento dominado por outros selos consolidados
no país. Logo a revista tornou-se sucesso de vendas e gerou interesse de
outros selos editoriais, passando a pertencer à
Editora Escala
em junho de
2007. Em 2008 a revista lançou a
Atrevida Pocket
, uma versão da publicação
em tamanho menor, embora o conteúdo seja exatamente igual. A proposta é
uma estratégia para ampliar seu segmento, já que este novo formato permite
que o preço fique R$ 1 mais barato que a publicação padrão.
A revista dirige-se a meninas entre 15 e 19 anos e “
busca atender a todas
FIG.04 Edições de CP que compõem o
corpus
desta pesquisa
1.1.2
Atrevida
#032
as necessidades e interesses da garota na adolescência: busca ajudá-la a
entender seus conflitos e inseguranças e a se relacionar melhor com o grupo
de amigos e a família
” (EDITORA ESCALA, 2008). A publicação apresenta uma
tiragem total de 166 mil exemplares mensais (dados de out. 2009, segundo
IVC), sendo a circulação paga de 65 mil, nos quais 62 mil representativos de
venda e 2 mil de assinaturas.
Embora AT tenha feito algumas atualizações gráficas ao longo dos anos, nada
é comparável ao projeto lançado em janeiro de 2008 e complementado ao
longo do mesmo ano com pequenas inserções. A transformação alterou o
conteúdo e implementou um visual mais leve, com escolhas cromáticas e
tipográficas mais fluídas em relação aos outros anos. As seções antigas que
eram sucesso foram repaginadas com novos nomes.
As mudanças foram notórias já na capa, com a implementação de cores atrás
do personagem da capa e uma harmonia no posicionamento das chamadas.
O logotipo sofreu uma ligeira modificação com uma sombra interna e am-
pliou o conceito iniciado em 2003 quando a letra “i” era acompanhada de
uma flor. Nesta nova fase, a cada edição um elemento diferencial substitui o
pingo no logotipo e desde setembro de 2008 este ícone da capa passa a ser
repetido no interior da publicação. Neste mesmo período o slogan “
Desco-
lada, divertida e diferente
” foi substituído por “
Faça diferente!
”, remetendo a
uma nova campanha lançada pela publicação na busca de atitudes inusitadas
para um mundo melhor.
TABELA 02 Perfil da leitora de AT
(ATREVIDA, 2008)
REGIÃO
03% Norte
10% Nordeste
07% Centro-Oeste
63% Sudeste
17% Sul
FAIXA ETÁRIA
66% 10 a 19 anos
22% 20 a 29 anos
12% acima de 30
CLASSE SOCIAL
07% A
40% B
46% C
07 %D
SEXO
95% Feminino
05% Masculino
FIG.05 Mudanças no logo de AT entre 2003 e 2008
#033
O índice chamado de “Tudo Aqui” dividia a publicação em sete seções nas
primeiras produções: “Comportamento”, “Especial”, “Gente”, “Moda”, “Beleza”,
“Toda Vez” e “Na Capa”. Estas são designações genéricas para outras seções
fixas menores. Com a mudança em 2008, “ta na pág.” passou a trazer o con-
teúdo de AT em uma versão enxuta. A partir da repetição da imagem da capa,
as chamadas principais receberam um direcionamento diferenciado ganhando
mais destaque, embora não sejam enquadradas em nenhum grupo específico,
tal como é feito com as outras matérias separadas em apenas quatro delimi-
tações: “comportamento”, “beleza”, “gente” e “moda”.
Para a pesquisa foram selecionadas nove edições de AT entre 1998 e 2008.
Desde a edição de junho de 1998 nota-se a constância das celebridades
estampando as capas da revista com a predominância de figuras masculi-
FIG.06 Mudanças no índice de AT entre 1998 e 2008
#034
nas às femininas. É comum também existir uma interação entre chamadas e
o sujeito da capa por vezes reforçado por uma pose diferenciada ou com a
utilização de acessórios como flores, um cartão vermelho ou uma guitarra.
FIG.07 Edições de AT que compõem o
corpus
da pesquisa
#035
A revista
Todateen
(TT) foi criada pela
Editora Alto Astral
em dezembro
de 1995 voltada para adolescentes de 13 a 18 anos “
[...] ativas, com estilo e
atitude, sempre ligadas nos acontecimentos, por isso buscam informações
com credibilidade
” (ALTO ASTRAL, 2008). A publicação apresenta uma tiragem
mensal de 120 mil exemplares (dados de out. 2009, segundo IVC), sendo 77
mil vendas avulsas e mil assinaturas, totalizando 78 mil a circulação paga.
Em agosto de 2006, o encarte especial
Todateen Fashion
ofereceu mais 32
páginas para a leitora da publicação com sugestões e tendências de roupas
e acessórios da moda outono-inverno. O suplemento tornou-se um grande
sucesso colaborando para que TT tenha batido o recorde de faturamento
de publicidade das publicações da
Editora Alto Astral
em setembro de 2007
(PORTAL DA PROPAGANDA, 2008). Aproveitando tais êxitos foi publicado o
Especial Todateen Beleza
no mesmo ano, elevando os lucros da editora que
torna estes encartes uma constância semestral não somente de TT, mas
também de outros títulos que edita.
TT foi lançada para ser um diferencial entre as tradicionais publicações volta-
das para a adolescente, consolidadas no mercado editorial brasileiro como
CP e AT. A estratégia de atingir outro nicho pode ser evidenciada pelo preço
mais barato, pela qualidade inferior do papel, menor número de páginas e
um projeto gráfico mais carregado visando um melhor aproveitamento dos
espaços. Como forma de adequar-se a seu público-alvo era comum a revista
apresentar variações entre uma edição e outra, não representando uma mu-
dança decorrente da implementação de um novo projeto gráfico. Na busca
de seu real enquadramento no mercado editorial adolescente, seções entra-
ram e saíram da revista de um mês para o outro e editorias recebiam nomes
diferentes a cada mês. Estes artifícios foram usados para atrair a leitora,
aumentando a possibilidade de identificação com a publicação.
Esta característica perdurou até a reestruturação gráfica de 2003 marcada
pela criação da personagem
Teena
refletindo as enunciatárias da publicação.
Esta ilustração passou a figurar em todas as edições, respondendo a per-
1.1.3
Todateen
TABELA 03
Perfil da leitora de TT
(TODATEEN, 2008)
REGIÃO
05% Norte
11% Nordeste
06% Centro-Oeste
60% Sudeste
18% Sul
FAIXA ETÁRIA
54% 13 a 17 anos
25% 18 a 24 anos
CLASSE SOCIAL
90% ABC
SEXO
97% Feminino
03% Masculino
#036
guntas variadas, escrevendo editoriais e,
posteriormente, tendo sua própria coluna.
O sucesso da personagem levou TT a criar
Kimiko
, uma japonesinha amiga da
Teena
que passa constantemente por situações
constrangedoras, ilustrando a editoria “Mi-
cos e Cia”, dentro da categoria genérica
“Aqui Tem”, estampada no índice, que traz
as seções que se repetem a cada edição.
No projeto de 2003 a revista foi dividida
em dez editorias fixas: “Gatos”, “Moda”,
“Testes”, “Beleza”, “Aqui tem”, “Capa”, “Sexo”, “Amor”, “Super-
poster” e “Especial”. Em 2008 as seções foram reduzidas para: “Aqui tem!”,
“Amor”, “Moda e Beleza”, “Especial” e “Testes”. Ambos os projetos são cara-
cterizados pela utilização ampla de ilustrações por todo o interior da publi-
cação, remetendo à busca por uma adolescente delicada e mais infantil.
No
corpus
, foram selecionadas nove publicações de TT entre 1998 e 2008.
Até dezembro de 1998 as capas de TT se assemelhavam às primeiras
construções de AT por utilizar fundos brancos, escolhas cromáticas con-
trastantes ao logotipo que alternava entre o rosa e o vermelho. Há uma pre-
dominância de casais ou grupo de pessoas estampando a revista e chamadas
com temáticas sobre relacionamento, elementos não recorrentes nas outras
publicações adolescentes da pesquisa.
FIG.08 As personagens Teena e Kimiko
FIG.09 Mudanças no índice de TT entre 1998 e 2008
#037
FIG.10 Edições de TT que compõem o
corpus
da pesquisa
#038
Já nas primeiras páginas é possível ver a preocupação das revistas em
manterem-se atualizadas em relação aos interesses de seu público-alvo.
As seções “
Oi da Editoria
” (CP), “
Blog da redação
” (AT) e “
Redação & Você
(TT) abrem cada edição antecipando o conteúdo de cada da publicação e
prendendo a atenção da leitora. São os antigos editoriais ou cartas do editor,
construções discursivas que dão voz organizacional enquanto incentivam as
garotas a folhear o restante da publicação.
Na produção destes textos estão os editores-chefes,
responsáveis por toda etapa de produção da revista. Nas
revistas adolescentes estes profissionais
são renovados periodicamente, sendo
majoritariamente mulheres. CP é a única
revista que rompe com este paradigma
ao colocar na direção Tato Coutinho na
edição entre 2003 e 2004. TT inovou em
junho de 2003 ao dar voz a
Teena
, em um
editorial com o título “
Querido diário!!”
,
com as impressões da personagem ao
passar o primeiro Dia dos Namorados
acompanhada.
1.2
LINGUAGEM COLOQUIAL
FIG.11 Editoriais de CP, AT E TT
FIG.12 Editoriais diferenciados
#039
Estes textos evidenciam uma carga pessoal ao serem estruturados em pri-
meira pessoa, carregados de impressões, sentimentos e conselhos de quem
escreve. É comum o editor relembrar fatos de sua adolescência, problematizar
determinadas questões e junto prover soluções ensinadas com muito didatis-
mo. Para reforçar esta identificação, os editoriais costumam trazer saudações,
despedidas, fotos da editora e sua assinatura. A estratégia é mostrar
proximidade com a leitora, como se a editora estivesse escrevendo exclusiva-
mente para cada menina.
Tenho certeza de que você está toda ansiosa para começar a ler as matérias
de Atrevida. E eu ainda tenho que fazer as malas: estou saindo de férias, mas
volto já, já! (CATARINA ARIMATÉIA, AT2: 6)
Ta bom, você está cheia de ver retrospectivas, mas eu preciso fazer a minha.
Em março deste ano, ganhei o melhor dos presentes: me tornei a redatora-
chefe da CAPRICHO. E confesso aqui, estava morrendo de medo. De não dar
conta, sabe? De não corresponder às suas expectativas, de errar na escolha
da capa, de não conseguir cumprir os prazos (e esse é um pesadelo recor-
rente). Mas aí o tempo foi passando...As coisas dando certo... E depois dando
supercerto... [...] Então, só posso terminar o ano dizendo obrigada (TATIANA
SCHIBUOLA, CA9: 4)
Ao analisar as revistas por um aspecto histórico, é possível verificar como
este caráter pessoal dos editoriais extravasaram às primeiras páginas, pas-
sando a incorporar o conteúdo interno da publicação com informações
particulares e percepções dos repórteres. Este fator não é recorrente em TT,
já que esta publicação mantém um distanciamento conforme as estruturas
de imparcialidade do jornalismo cssico.
FIG.13 Fotos, saudações e assinaturas nos editoriais de AT, CP e TT
#040
MEL DELS!!! Eu acabo de abraçar Nick, Kevin e Joe Jonas. Eles não usam muito
perfume e têm a pele perfeita. [...] Incrível, mas não posso gritar e mantenho
a calma, pelos menos na presença deles. [...] Ainda não acredito que estou ali,
cara a cara com os Jonas Brothers (THIAGO THEODORO, CA9: 13).
Uma das coisas mais legais em trabalhar na Atrevida e na Atrevidinha (pois é,
as duas ficam juntinhas, na mesma redação!) é poder passar para vocês notí-
cias exclusivas dos artistas que mais amam. Às vezes, nem parece trabalho pra
mim! (BIANCA IACONELLI; AT9: 18)
Charaudeau (2006: 56) examina essa estratégia do enunciador, que uti-
liza recursos intimistas e atraentes para produzir este efeito de sedução
ou persuasão no interpretante. Fairclough (1989: 127) introduz o conceito
de “
personalização sintética
” para definir este tipo de estratégia discursiva
que sugere um envolvimento entre locutor e leitor, simulando uma amizade
entre as partes, uma relação de confiança, a partir de uma seleção léxica.
Como forma de reforçar um tom informal, estes textos assumem um estilo
conversacional, carregado de marcas de oralidade. A rigidez jornalística é
substituída por um tom corriqueiro, um discurso carregado de interjeições
típicas do linguajar adolescente. De acordo com Buitoni (1981), o enunciador
busca aproximar a leitora ao máximo da publicação, fazendo com que toda a
produção não passe de um papo entre amigas.
Esse jeito coloquial que elimina a distância, que faz as idéias parecerem simples,
cotidianas, frutos do bom senso, ajuda a passar conceitos, cristalizar opiniões,
tudo de um modo tão natural que praticamente não defesa. A razão não se
arama para uma nova conversa de amiga. Nem é preciso raciocinar argumen-
tos complicados: as coisas parecem que sempre foram assim (125)
O uso dos pronomes “você” e “seu” são alguns destes recursos repetidos
constantemente no discurso das revistas; trata-se de uma estratégia de
singularidade, para que as jovens se sintam únicas, pessoas especiais para
a publicação. Este artifício decorre da segmentação editorial, na qual levou
editores a conhecer melhor seu público-alvo, lidando diretamente com seus
desejos, gostos e costumes.
Já o pronome “nós” remete a uma realidade partilhada em comum. O uso da
terceira pessoa do plural implica em uma simetria dos discursos e por vezes é
substituída pela expressão popular “a gente” ou pela inexistência do sujeito,
notável somente pela conjugação do verbo. Trata-se de uma estratégia de
nomeação, presente também nas matérias, eliminando qualquer marcador
explícito de poder ou dominação no discurso das publicações.
Alguns elementos gramaticais tornaram-se mais recorrentes a partir dos anos
2000, reforçando a conotação coloquial proposta. O uso de gírias, palavras
estrangeiras, prefixos, diminutivos e diversas interjeições aproximam o discur-
so das falas características do segmento adolescente, que costumam separar
e identificar este grupo social. Outra recorrência é o uso dos advérbios, uti-
#041
lizados com o intuito principal de intensificar o discurso, reforçando o apelo
emocional e suavizando a carga de influência do texto.
Outras marcas de oralidade são interjeições, interrogações, exclamações e
reticências que aparecem cada vez com mais freqüência nos textos midiáti-
cos, simulando dinamismo e espontaneidade. Esta é uma estratégia para
quebrar o texto com a introdução de signos visuais, permitindo uma leitura
menos densa da informação. Estas configurações não são apenas adornos
estilísticos, mas exprimem um caráter ideológico por remeter a uma simetria
entre o discurso do enunciador e da leitora, como se ambos pensassem e
vivessem a mesma realidade.
O uso de aspas e parênteses são recursos gráficos que salientam as in-
tenções do enunciador. As aspas buscam antever uma frase da leitora,
mostrando um enunciador que está alinhado às suas idéias a ponto de
exteriorizar um pensamento em consonância com o público-alvo, como se
a própria adolescente tivesse proferido tal afirmação. Já o parêntesis insere a
opinião do enunciador de forma concreta, reforçando o discurso pretendido
e gerando a aproximação com a leitora.
É freqüente os editoriais abrirem espaço para os demais profissionais que
colaboram com a revista, expondo os bastidores da publicação, mostrando
os detalhes, curiosidades e a agruras para finalizar aquela edição. Seja com
texto ou imagens este artifício permite que a leitora se sinta envolvida na
construção da revista, como se também pertencesse àquele grupo por estar
tendo o privilégio de ler aquela informação e, automaticamente, estar inseri-
da naquele contexto.
As revistas femininas adolescentes foram lançadas em um contexto capi-
talista neoliberal que submete a informação aos valores de consumo e do
entretenimento. Este período é marcado pela configuração da nova imprensa
que descaracteriza a prática jornalística de mediação do interesse público
com a imposição de uma lógica mercantilista. Segundo Fairclough (2001:
151) este contexto introduz a noção de
interdiscursividade
, característica da
modernidade tardia, por dissolver as fronteiras entre o conteúdo editorial e o
publicitário.
A publicidade altera a composição dos textos midiáticos que tendem a uma
1.3
ORDENS E CONSELHOS
#042
simplificação e a uma compactação. Este fator é bem delineado nas revistas
de 2003 e 2008 que intensificam a subordinação da produção ao consumo,
reduzindo o tamanho dos textos, fragmentando as leituras, ampliando os es-
paços com sugestões de produtos e diminuindo as fronteiras entre anúncios
e textos. Na construção do contrato de comunicação o enunciador não se
restringe somente a informar, passando a desenvolver estratégias de sedução
que buscam envolver o público-alvo pelo prazer e, assim, incitá-lo ao con-
sumo (CHARAUDEAU, 2006: 87).
Temos agora um mercado motivado pelo consumidor, que,bombardeado com
tantas imagens e textos sincréticos ligados a experiências emocionais de con-
sumo, é convidado a gozar sem limites, principalmente a partir do empuxo dos
imperativos da publicidade e dos media, participando da invenção de novos
significados de consumo e de vida, que o capitalismo cuida de providenciar o
mais rápido possível, desde que os cálculos estratégicos confirmem a expecta-
tiva de altos faturamentos (PRADO, 2006: 92)
As revistas passam a incorporar a estética da pós-modernidade provocando
um “
fenômeno de carnavalização
” na mídia que, segundo Leandro Marshall
(2003), remete a uma saturação da linguagem visual em conteúdos curtos
e, por vezes, até vazios, sem o intuito de levar a uma reflexão. Trata-se da
categoria estética que comprova a justaposição da prática editorial dos meios
de comunicação às ideologias de consumo.
Analisando estas construções de “
jornalismo transgênico
”, Marshall, no livro
O jornalismo da era da publicidade
passa a delimitar outras 24 variações
desta prática midiática na pós-modernidade. “
A ordem é hibridizar a natureza
persuasiva da publicidade, dissolvendo-a no espaço jornalístico, como se fora
parte da própria natureza jornalística
” (MARSHALL, 2003: 124).
Aplicando estas categorias para o univer-
so das revistas femininas adolescentes,
notamos a incidência predominante de
cinco destes gêneros. As
mimeses
eram
constantes na década de 1990, principal-
mente em notas de beleza e moda que
traziam marcas e produtos disfarçados
em notícia sem qualquer menção ou
identificação de informe publicitário.
Outra prática é o
desfiguramento
,
caracterizado pelos informes publici-
tários intercalados ao conteúdo das
revistas, com tratamento gráfico e informacional para
assemelhar-se à linguagem da publicação, ocasionando até uma confusão
FIG.14 Mimese em TT
#043
entre material editorial e informes publicitários. Este tipo de variação passou
a ocorrer principalmente nas revistas a partir de 2008.
O
consumismo direto
está presente desde as primeiras edições em CP, mas
só foi incorporado pelas outras publicações nas edições de 2003. Esta prática
jornalística engendrada pela publicidade, incita os leitores a adquirirem deter-
minados produtos ou serviços de uma forma energética. É uma variação pre-
sente principalmente em matérias de moda e beleza, em seções como: “Pa
da vez”, “Testados e aprovados”, “Garimpo” e “Mundinho Fashion” de CP;
“badulaques”, “tem que ter”, “cabe na mesada”, “é fashion” de AT; e, “Toques”
de TT. A maior parte destas matérias fornecem preços, endereços de lojas ou
orientações anexas, tudo apresentado como se fosse um serviço prestado ao
consumidor, sem tentativa de persuasão.
FIG.15
Desfiguramento
em AT, TT e CP
#044
FIG.17
Consumismo direto
em AT
FIG.16
Consumismo direto
em CP
#045
E por fim existe o gênero
consumismo indireto
, no qual a ideologia do con-
sumo aparece de forma sublimada, atrelada a um modo de vida. A aquisição
de determinados de bens e serviços é requisito para a construção de um es-
tilo de vida. As matérias desviam o foco da informação na busca de promover
um modo de vida diferenciado.
De maneira mais sutil e mais aguda, estas publicações induzem os leitores a
um estilo de vida. Este efeito procura influenciar os leitores pela sedução com
conceitos e abstrações, induzindo-o, só em etapa posterior, a praticar o con-
sumismo. É um jogo de sensualidade semântica, no qual, na maioria das vezes,
o leitor não percebe que está sendo “fisgado” e suavemente “empurrado” para
o hedonismo do consumo (MARSHALL, 2003: 135).
Nestas configurações, as revistas femininas adolescentes tornaram-se artefa-
tos culturais interpelativos, propondo formas de ser e de estar do sujeito,
chamando-o a assumir uma identidade. “
Portanto, é pelo processo de in-
terpelação que os sujeitos se identificam, se reconhecem no que está sendo
dito e assumem para si uma identidade, compreensão que já estava em
Althusser dos aparelhos ideológicos do estado
” (MOSTAFA, 2003: 183-184).
É a partir destas constatações que Prado (2005) passa a desenvolver o
conceito de “
mídia performativa
” ao falar do novo papel dos meios de comu-
nicação, quando atuam ativamente na sociedade ao representar a realidade,
discursivizando-a e operando na conformação e construção identitárias
dos leitores. O sistema marketing-mídia-publicidade modela estratégias dis-
cursivas para situar os sujeitos em sociedade.
A mídia mapeia valores e modaliza para os leitores modos de saber, fazer e de
ser para consegui-los (a busca do sucesso, da beleza, do prazer e da riqueza).
Acoplados aos mapas cognitivos estão os dispositivos estésicos”, ou seja, dis-
positivos passionalizadores das mídias, que tem função pragmática de fazer
FIG.18
Consumismo direto
em TT
#046
encarar os discursos em seus públicos cada vez mais específicos e segmenta-
dos (PRADO, 2006: 21).
Os mapas apresentam os métodos “
sobre o uso que as pessoas devem fazer
de seu corpo, de sua alma, de sua vida
” (GREGOLIN, 2007: 18), técnicas para
o sujeito conquistar certos valores e padrões. Manuais, dicas, truques e guias
que impõem vivências no mundo globalizado na busca do gozo na contem-
poraneidade. Conselhos e direcionamentos ensinam tanto o que o sujeito
deve fazer como as atitudes rechaçadas, das quais ele deve fugir.
Este “
receituário performativo na mídia impressa
” (PRADO, 2009), mais es-
pecificamente no segmento adolescente, busca apresentar o caminho para a
menina conquistar o príncipe encantado, tornar-se popular ou até adquirir
uma beleza de fazer inveja aos outros. Estas receitas e conselhos interpe-
lam a leitora primeiramente nas chamadas da capa, incitando mudanças em
seu comportamento e instigando a leitora a folhear a revista para obter os
métodos para atingir tal transformação. A partir de uma análise destas capas
constatamos algumas recorrências destas práticas nas publicações, nas quais
separamos quatro diferentes formas de construções discursivas, por vezes
até sobrepostas.
a)
Construção imperativa
— nesta categoria o modo imperativo reforça a
força das receitas e conselhos, pois remete a uma flexão do verbo que busca
manifestar ordem, apelo à concretização da ação. Este recurso é caracterís-
tico em TT, que explora esta forma verbal em 25 ocorrências, 24 em AT e
somente 5 em CP.
(1) “Copie o look lolita de Rakeli” (CP8)
(2) “Transforme seu velho jeans em um short e top” (AT1)
(3) “Fique por dentro da moda indiana e da tatto de hena (AT3)
(4) “Aprenda a esconder ou valorizar as sardas (TT9)
(5) “Descubra TUDO o que os MENINOS pensam de você (TT1)
b)
Construção adverbial
— além de apresentar o dever-fazer, nesta configu-
ração a revista mostra a maneira para o adolescente atingir um objetivo-final,
a concretização dos programas de consumo propostos. Esta estratégia foca
na utilização do advérbio de modo “como” e aparece 8 vezes em CP, 5 em AT
e somente uma em TT.
(1) “Como fazer amigos na viagem com os pais” (CP6)
(2) “Como acertar o traço do delineador” (CP8)
(3) “Como lidar com aquela garota que só quer te derrubar...” (AT4)
(4) “Como descolar um namoro antes do dia 12!” (AT8)
(5) “Como chegar no gato que você quer” (TT4)
c)
Construção numerada
— nesta constituição os planos de ação são simpli-
ficados ao cumprimento de determinadas etapas quantificadas. A conquista
do menino ou da beleza ideal só pode ser alcançada após a execução de
#047
todas bases enumeradas pelo enunciador. Esta construção ocorre 6 vezes em
CP, 5 tanto em AT quanto em TT.
(1) “10 jeitos de surpreender e conquistar o coração do fofo” (TT9)
(2) “24 idéias incríveis para declarar o seu amor” (CP11)
(3) “Mil formas de dizer Eu te amo!” (TT2)
(4) “12 resoluções de ano novo que vão mudar sua pele e seu cabelo” (CP7)
(5) 23 looks, makes e penteados para bombar nas festas de fim de ano!”
(CP9)
d)
Construção nomeada
— esta estruturação também remete a uma adesão
de um plano de ação dividido em etapas, que obviamente precisam ser inte-
gralmente cumpridas para a consumação do mesmo. Mas nesta composição
o enunciador dá nome a este conjunto subdividido. São 4 incidências em CP
e AT, e 3 TT.
(1) “Beijo bom. Um guia para fugir dos micos mais comuns e se dar bem!”
(AT7)
(2) “Táticas sensacionais pra ganhar o menino fácil, fácil!” (TT7)
(3) “Passo-a-passo do bronzeado perfeito” (CP3)
(4) “Amor proibido.Toques para não se machucar” (TT3)
(5) “Dicas para bombar seu fotolog” (CP6)
(6) “Superguia Dia dos Namorados” (TT5)
(7) “Supertruques para aumentar os lábios e fazer a cor durar mais na bala-
da” (CP8)
FIG.19 Ordens e conselhos na capa de CP
Construção nomeada
Construção adverbial
Construção numerada
Construção imperativa
#048
FIG.21 Ordens e conselhos na capa de TT
FIG.20 Ordens e conselhos na capa de AT
Construção nomeada
Construção imperativa
Construção imperativa
Construção nomeada
Construção numerada
Construção numerada
Construção imperativa
Construção imperativa
Construção imperativa
#049
Como podemos ver os mapas de consumo são argumentações para gerar
convencimento e motivar os sujeitos a aderirem aos planos de ação. Trata-se
de uma estratégia da mídia impressa ao estabelecer uma relação de poder
para fazer os adolescentes aceitarem o discurso. Conforme Patrick Charau-
deau (2006: 56) esta interação entre os participantes na comunicação,
constrói um contrato de comunicação que passa a ser validado à medida que
a leitora aceita as subjetividades impostas.
Estas estratégias de sedução e poder vão de encontro à teoria social do dis-
curso de Norman Fairclough que concebe a mídia como um discurso
[...] uma prática, não apenas de representação do mundo, mas de signifi-
cação do mundo, constituindo e construindo o mundo em significação
(2001:91). Neste contexto, as revistas adolescentes são concebidas como
um evento discursivo, um exemplo de discurso que é simultaneamente um
texto, uma prática discursiva e um exemplo de prática social.
A dimensão do texto cuida da análise lingüística. A dimensão da prática dis-
cursiva especifica a natureza dos processos de produção e interpretação tex-
tual: que tipos de discurso (sentido mais sócioteórico) são derivados e como
se combinam. E a dimensão da prática social cuida de questões de interesse
na análise social: como as circunstâncias institucionais e organizacionais do
evento discursivo moldam a natureza da prática discursiva e os efeitos consti-
tutivos e/ou construtivos de entidades e relações sociais Assim, a dimensão
do texto centra-se nos conceitos lingüísticos, a dimensão da prática discursiva
fundamenta-se na intertextualidade e a dimensão da prática social abriga os
conceitos de ideologia,hegemonia e poder. (LOPES, 2006: 2-3)
Para interpretar estes elementos, o autor a propõe a análise crítica do dis-
curso (1999-2001), um enquadramento teórico-metodológico para
desconstruir o discurso e explicitar certas articulações de poder em determi-
nados contextos. Nesta concepção, o texto torna-se passível de ser investi-
gado a partir de seus recursos léxicos. Para tal, a metodologia tridimensional
de Fairclough recorre à lingüística sistêmico-funcional de Halliday (1985-
2004), segundo a qual todo o discurso desempenha concomitantemente três
metafunções:
interpessoal
(1),
textual
(2) e
ideacional
(3).
1)significados relativos às representações de poder e solidariedade, o que en-
globa as atitudes em relação ao outro e os papéis sociais assumidos; 2) sig-
nificados relativos à organização do conteúdo da mensagem, relacionando
o que se diz ao que foi dito; 3) significados relativos à representação da ex-
periência através da língua, sobre o que se fala e sobre quem (ou o que) age
sobre quem (ou o que) (LIMA-LOPES , 2008: 38)
Para compreender como a ação pode ser gramaticalmente construída no
evento discursivo delimitaremos nossa atenção ao sistema de transitividade
na instância ideacional de Halliday (1999: 122), aludido como significado
representacional por Fairclough (2003: 27), embora ambos os conceitos
remetam à uma das facetas do discurso ao figurar nas práticas sociais con-
comitantemente como modos de agir, modos de representar e modos de ser.
#050
Esta base observa os efeitos de sentido a partir dos processos (verbos) e
suas funções em um texto a partir das divisões básicas:
materiais
(ação),
mentais
(sentir),
relacionais
(ser),
comportamentais
(conferir),
verbais
(dizer)
e
existênciais
(haver). Thompson (1996: 78) salienta que a escolha destes
processos determina o papel dos participantes no discurso, ou seja, o papel
do enunciador nas escolhas gramaticais e seus efeitos no sujeito à medida
que aceita suas imposições. Mediante a estas teorias faremos uma leitura
destes processos de Halliday (2004) nos mapas de consumo nas capas das
revistas adolescentes. Trata-se de analisar estas ordens e receitas a partir de
seus verbos, observando as escolhas do enunciador e os efeitos produzidos
no texto.
Nas trinta publicações que fazem parte do corpus só uma revista CP não
continha chamadas que figuravam tais interpelações. Foram detectados 40
mapas de consumo nas capas de AT, 36 em TT e 32 em
CP, totalizando 108 ocorrências compostas por 96 proc-
essos (verbos) diferentes. Destes verbos, os mais utiliza-
dos são: descobrir, fazer, ficar, dar e aprender.
A partir desta contagem observamos a predominância de
verbos
materiais
e
mentais
na configuração dos mapas
cognitivos e nas receitas da felicidade das capas, O processo
material
ex-
pressa ação concreta no mundo físico, denota uma ação a ser executada por
um agente qualquer, um ator social (MARTIN & ROSE, 2003: 72). Estas con-
struções envolvem verbos da área do acontecimento, sendo uma evocação
explícita e direta à transformação e à adesão aos planos de ação propostos.
Já nos processos
mentais
consideram-se a cognição e o desejo, que são
especificações que invocam o poder de decisão e querer do sujeito, ações
presentes no mundo interior, na consciência. Trata-se de um processo que
projeta idéias e sentimentos, evoca um enunciador experiente (onisciente)
frente a um sujeito “
desinformado
”, no caso o leitor (HALLYDAY & MATTHIES-
SEN, 1999: 139).
Embora o discurso seja tríade podemos ver que o enunciador já demons-
tra sua relação de poder sobre os leitores na escolha dos verbos que irão
compor os planos de ação, construções minuciosas para instigar o sujeito e
movê-lo a agir em conformação aos conselhos e orientações propostos.
É neste contexto que aparecem os modelos humanos de consumo, as
celebridades que concretizam os referenciais impostos pela mídia. “
Vedetes
do espetáculo
” que ganham destaque para a geração do lucro, propagando
modelos de identificação, por representarem tipos variados de papéis e estilo
TABELA 04 Os verbos nos mapas de consumo da mídia
PROCESSOS NAS CAPAS
Materiais
Mentais
Relacionais
Comportamentais
Verbais
Existenciais
TOTAL
81
06
02
02
04
X
96
#051
de vida (FREIRE FILHO, 2003: 39). A seguir analisaremos estas constâncias
e o impacto destas personalidades midiáticas nas particularidades das re-
vistas adolescentes, observando os efeitos de sentido destas imagens em
seus leitores. Referencias que aos poucos foram dominando as páginas das
produções impressas.
As celebridades tornaram-se os grandes fenômenos culturais dos meios de
comunicação da sociedade atual. São símbolos de consumo,
status
, poder,
sucesso e felicidade. Desempenham na mídia um papel regulador na for-
mação do indivíduo tal como a escola, a família e a religião, definindo as
normas e os padrões corretos para o indiduo viver e obter sucesso no
mundo social (KELLNER, 2003: 4). Trata-se de um fenômeno iniciado em 1930
quando a mídia expandiu suas fronteiras com o avanço das tecnologias e da
disseminação das informações. As personalidades midiáticas diversificaram-se
e reinaram no espetáculo, ultrapassando a vida ordinária, ao mesmo tempo
em que projetam efeitos de sentido.
Morin (1989), nomeia estas figuras como os “
novos olimpianos
”, reconfi-
guração dos deuses mitológicos do mundo antigo que possuíam natureza
divina e humana, detentores de prestígio popular e fonte de idealização. A
primeira aparição deste grupo surgiu no início do século XX com as estrelas
cinematográficas americanas dotadas de beleza e juventude. Personalidades
inatingíveis, controladas pelo “
star system
” (MORIN, 1989: 12), que instituía a
carga icônica destas figuras. Greta Garbo, Marlene Dietrich e Marylin Monroe
foram exemplos dessas celebridades desta época.
Exemplos atuais não faltam em uma sociedade do espetáculo que aparenta
superdimensionar a vida, disseminando suas imagens em uma cultura da mí-
dia preocupada em construir identidades e preencher o imaginário coletivo.
Guy Debord (1997: 42) define este contexto como o momento em que a mer-
cadoria passa a estar presente e ocupar totalmente a vida social. A celebri-
dade rende-se à nova economia e passa a ser um ídolo da vida cotidiana, um
produto detentor de valores simbólicos, mercadoria de consumo movida pelo
lucro.
Representam uma forma de mercadoria ímpar, que é um processo de trabalho
e, ao mesmo tempo, um produto. A identificação do público com determinadas
estrelas é uma importante estratégia de marketing. Por exemplo, Madonna
deve ser considerada como uma entidade econômica e um fenômeno cultural
(SHUKER, 1999: 114).
1.4
REFERENCIAIS DE SUCESSO
#052
As celebridades tornam-se tanto “
importantes fontes de endosso a produtos
(BUITONI, 2000: 119), como também a materialização dos valores exaltados
pela mídia, alimentando o sonho das pessoas que se identificam e idealizam
estas personalidades, projetando nelas suas aspirações e desejos inconti-
dos. O indivíduo visível pela mídia assume papel de mercadoria, torna-se um
produto exposto para o consumo, um apelo de venda. “
Elas adquirem fama
ao serem enaltecidas pela mídia, a qual alimenta sua notoriedade por muito
tempo, para que continuem a gerar lucro
” (CAMPOS, 2008: 5).
David Marshall (2004) indaga sobre o poder de conexão das celebridades
com o público adolescente-jovem, remetendo a personalidades como Ma-
donna, Elvis Presley, Michael Jackson e Beatles. Segundo o autor, essa parce-
ria surge do consumo voltado ao lazer, característica que diferencia este
segmento dos adultos que destinam seus gastos principalmente com moradia
e alimentação.
A cada edição as revistas adolescentes trazem em suas capas celebridades do
universo midiático escolhidas para representar os valores e conceitos pro-
postos pela publicação. São atrizes, apresentadores, cantores, bandas... Os
personagens, de ambos os sexos, têm idades variadas, nem sempre com-
patíveis à especificidade do público-alvo, mostrando que a sua escolha para a
capa é motivada pelos atributos da fama e não por um critério etário.
O enunciador escolhe a personalidade que repre-
senta o referencial de jovialidade proposto pelas
publicações. Deborah Secco foi capa por sua beleza,
transgressão, sucesso e superação, em con-
gruência com os valores
sugeridos pela revista, e
não por seus 24 anos, em
2003. No caso das figuras
masculinas, os persona-
gens, além de exaltarem
determinados atributos da
masculinidade, figurativizam o
companheiro ideal da leitora.
Os meninos da banda NX
Zero estampam as capas por
serem símbolos de juventude
e sucesso, como também por
serem estereótipos de beleza,
inteligência e romantismo a
serem buscados em um rela-
cionamento.
FIG.22 Deborah Secco e Nx Zero, celebridades em revistas
#053
Antes da figuração das celebridades, as revistas adolescentes produziam
capas predominantemente teatrais. Como a figura fotografada era desco-
nhecida e não consistia um atrativo em si, as publicações eram obrigadas a
construir uma cena para passar determinada informação ao leitor. A modelo
assumia um papel de atriz fazendo “caras e bocas” como juíza, escondendo-
se ou gritando na areia da praia.
Em 1998, as celebridades já estampavam nas capas das revistas adolescentes,
substituindo os tradicionais modelos, mas é a partir de 2003 que estes fa-
mosos passam a figurar com mais freqüência em matérias,
entrevistas e até seções fixas destinadas a cobrir o mundo
do estrelato. AT foi a precursora, ao trazer um novo pro-
jeto em junho de 1998
com os irmãos Han-
son, cantores sen-
sação entre a garotada.
CP trouxe a primeira
celebridade na capa
em janeiro de 2003, de
forma disfarçada com
efeitos digitais e um
recorte fotográfico que
dificultavam o imediato
reconhecimento da
personalidade retratada.
FIG.23 Construções teatrais das capas de 1998
FIG.24 Introdução das celebridades em AT e CP
#054
TT utilizou uma estratégia diferencial ao introduzir gradativamente as celebri-
dades em suas capas. Em junho de 1998 a publicação produziu capas de
modelos junto com famosos e só em janeiro de 2008 estas personalidades
passaram a figurar isoladamente nas composições gráficas.
Os famosos aparecem predominantemente em poses despretensiosas, com
leves inclinações no rosto para quebrar qualquer formalismo. A esponta-
neidade é a palavra-chave, mesmo que cabelos, maquiagem e vestuário
indiquem horas de produção. A estratégia é retratar o natural, um simples
congelar corriqueiro de homens e mulheres jovens, belos, realizados e felizes.
As imagens não centram na exposição de corpos musculosos e sarados, per-
mitindo a introdução de planos próximos do modelo, cortando entre o busto
e a caba, salvo em capas feitas com mais de uma pessoa. Os garotos da
capa exibem barbas por fazer e cabelos desgrenhados, enquanto as mulheres
ganham penteados corriqueiros e maquiagens leves. Os enquadramentos não
FIG.25 Modelos e celebridades nas capas de TT entre 1998 e 2003
#055
excluem vestuário e acessórios, que ganham destaque ao contrastar com a
escolha cromática do logotipo e das chamadas do mês.
O logotipo adquire uma função estratégica ao ser posicionado na parte su-
perior da revista e encoberto pelo do modelo da capa. É como se a
publicação fosse o grande segredo por trás daqueles corpos formosos e
visuais modernos. As produções tornam-se a grande solução para as leitoras
desejosas de galgar o mundo do sucesso jovem-adolescente, tal como os
personagens midiáticos figurados na capa. TT foge deste exemplo por ra-
ramente permitir que o logotipo seja sobreposto pelo personagem da capa,
seja por uma opção editorial como também por uma estratégia de marketing
visando um melhor posicionamento ou reconhecimento da marca.
A mesma celebridade da capa ganha destaque no interior da revista, ao
expor suas particularidades em entrevistas ou reportagens cheias de predi-
cados e buscando humanizá-la como “pessoa comum” com hábitos, gostos
e interesses tal como qualquer adolescente. Mariah Rocha curte ficar com as
amigas “
seja para ir a uma boate ou para ficar em casa, vendo TV e comendo
brigadeiro
” (AT7), Wanessa Camargo sonha em “
encontrar um cara que seja
sincero
” (TT6) e Rodrigo Santoro “
adora viajar e se liga em música
” (AT3).
Os repórteres também costumam descrever algumas peculiaridades do
entrevistado, como seu visual ou atitudes enquanto responde às perguntas.
Os Jonas Brothers “
não usam perfume e têm a pele perfeita
” (CP12), Isaac
Hanson “
tem um jeitão tranqüilo e um olhar todo carinhoso de irmão mais
velho
” (CP2), já Erik Marmo “
faz cara de alívio
” quando termina a entrevista,
pois “
tinha gravado o dia inteiro, estava exausto no começo da noite
” (CP8).
As agruras da fama e dificuldades da carreira são pautas constantes, geran-
do empatia e identificação da leitora, que também vivencia fases difíceis.
Chris Brown “
teve que sair supercedo da casa dos pais
” (TT8), Deborah
Secco recebeu “
milhões de ‘nãos’ em testes
” (CP9) e os rapazes da banda
NXZero “
sentem falta de coisa muito simples
” como “
dormir numa cama de
verdade
”, já que vivem entre ônibus e aves por causa dos shows (AT8).
São expressões de indivíduos reiterados como maduros, bonitos e com muita
personalidade. É preciso “ralar” para chegar ao sucesso. A revista mostra o
que é preciso fazer para “chegar lá”. Como todos os famosos, por associ-
ação, todas as leitoras de CP, AT e TT também podem gozar de notoriedade
e sucesso, capazes inclusive de estampar a capa da próxima publicação,
bastando a ela seguir as dicas e conselhos constantemente pontuados pelos
entrevistados. Assim, todos os adolescentes estão aptos a tornarem-se uma
personalidade midiática, desde que saibam utilizar as informações passadas
pela mídia, conforme afirma Douglas Kellner, ao citar o livro
Vida, o filme
.
Na visão de Gabler, somos astros em ascensão e transformamos nossas vidas
#056
em entretenimento que é levado a platéias formadas por nossos semelhantes,
seguindo os scripts da cultura da mídia, adotando seus padrões e sua moda,
seu estilo e visual (2003:7)
A própria realidade se torna um filme, uma encenação, uma representação do
eu
. A vida cotidiana vira um espetáculo, o “
show do eu
”, como Paula Sibilia
(2008) intitulou seu próprio livro relatando sobre o interesse à exposição
das intimidades nas vitrines midiáticas. Essa inquietação fez Fontenelle (2002)
cunhar o termo “
socialidade midiática
”, avançando os conceitos de “
pseu-
do- eventos
” de Boorstin e de “
pseudo-vida
” de Gabler, para fundamentar a
relação social entre pessoas mediada por imagens
” (DEBORD, 1997: 14). Para
ela, a mídia nos obriga a representar o que somos e a viver em constante
movimento de performance para acompanhar os valores e padrões que são
incorporados na sociedade.
A cada semana (ou quinzena, no caso de CP) um novo modelo de exaltação
é estampado nas revistas, comprovando a volatilidade das imagens na so-
ciedade de consumo. “
Uma celebridade tem uma curtíssima trajetória, já
que alimenta a necessidade de novidade. [...] Como aparece, a celebridade
desaparece sem deixar rastros, assim que a mídia deixa de focá-la
” (CAMPOS,
2008: 4).
Morin conclui que vivemos um período de atrofia, já que as celebridades
precisam constantemente atualizar sua imagem e expor-se na mídia para
continuar sendo um modelo social. “
Como toda cultura, a cultura de massa
produz seus heróis, seus semideuses. A mitologização é atrofiada: pela
pressão da realidade não há o arrebatamento mitológico como nas religiões
ou epopéias, mas um desdobramento ao nível da terra
” (MORIN, 1967: 114).
É por essa razão que as celebridades procuram viver em constante processo
de atualização, necessitando mudar sua imagem como forma de garantir
sua exposição. É por isso que um personagem pode ilustrar a capa de uma
revista e, em poucos meses, aparecer novamente com uma mudança estética
perceptível e impondo valores diferenciados. Santaella (2002: 107) recorre aos
ícones da arte para contrapor a fugacidade das celebridades frágeis e fu-
gazes.
Todas as imagens criadas pela mídia só sobrevivem na medida que o ser hu-
mano real, o objeto dinâmico que existe por trás dessas imagens, consegue
manter o apelo ao público. Basta o ser existente, o objeto das imagens, envel-
hecer, gastar-se um pouco para que esse apelo também comece a fenecer. Os
seres midiáticos, feitos de imagem, fotografia, filmes, são seres vicários
As imagens das celebridades fixam os valores pregados pelas revistas, exal-
tando, a cada edição, valores e padrões novos, disseminando ideais de
juventude, felicidade, beleza e sucesso. São atributos sempre atrelados a
valores econômicos, que instituem formas do adolescente ser, agir e pensar
na sociedade de consumo.
#057
Manuel Castells (2003) inicia seu livro
O poder da identidade
problema-
tizando as construções identitárias no contexto da globalização, em que os
referenciais estáveis de orientação no mundo tornaram-se frágeis e insu-
ficientes para garantir uma movimentação coerente e previsível no espaço
social. O autor ressoa as frustrações teóricas frente ao processo contínuo,
pelo qual o ator social contemporâneo busca produzir significados e experi-
ência sobre si, por meio de valores flutuantes, efêmeros e variados.
As pressões deste mundo social complexo e desorganizado rompem com a
noção de identidade singular, determinada biologicamente ou socialmente
pelas tradições modernas ligadas à família, ao Estado e à igreja, pilares até
então fortes e inquestionáveis. Para Zygmunt Bauman (2005: 30) a quebra
destas “
ancoras sociais
” colocaram o sujeito diante de uma crise de incerte-
zas e uma necessidade de pertencimento, fazendo-o buscar “
desesperada-
mente
” por novas formas de identificação historicamente estabelecidas e
mediadas pela cultura.
As identidades parecem invocar uma origem que residiria em um passado
histórico com o qual elas continuariam a manter uma certa correspondên-
cia. Elas têm a ver, entretanto, com a questão da utilização dos recursos da
história, da linguagem e da cultura para a produção não daquilo que nós
somos, mas daquilo no qual nos tornamos. Têm a ver não tanto com as
questões “quem nós somos” ou “de onde nós viemos”, mas muito mais com
as questões “quem nós podemos nos tornar”, “como nós temos sido rep-
resentados” e “como essa representação afeta a forma como nós podemos
representar a nós próprios”. (HALL, 2000: 108-109)
2.
COMO A PÓS-MODERNIDADE
CONSTRÓI O ADOLESCENTE
#059
Este contexto social levou Castells a afirmar que “
[...] toda e qualquer identi-
dade é construída
” (2003: 23) e à medida que a pós-modernidade modi-
fica os aspectos da vida social, o dinamismo dos meios de comunicação e
a volatilidade da cultura do consumo passam a atuar nas experiências e
significações do sujeito contemporâneo. Dessa forma, a identidade passa
a circular nos diferentes discursos de interação, ou seja, discurso e identi-
dade tornam-se ações conjuntas para construir o mundo e os outros, num
processo contínuo e dinâmico (CHOULIARAKI & FAIRCLOUGH, 1999). Com-
preender como o conceito de identidade atingiu estas concepções ajudará no
entendimento dos referencias da adolescência na contemporaneidade e suas
múltiplas construções ao longo da história, conforme analisaremos a seguir.
Neste contexto descontínuo das novas configurações da globalização
neoliberal e da revolução dos meios de comunicação frente à disseminação
exponencial de informação, novos paradigmas tornam-se centrais para a
compreensão dos sujeitos e das dinâmicas sociais no espaço contemporâ-
neo. Em especial, os referenciais dos adolescentes, que propagam a instabili-
dade do período e vivenciam um processo de constante recomposição.
Diante desta multiplicidade, a sociedade informacional buscou conceituar
estes atores sociais, mas encontrou referenciais fragmentados e fugazes,
característicos desta conjuntura imprecisa e indefinida até mesmo na forma
de se autodenominar “
pós-moderna
”, “
modernidade tardia
”, “
modernidade
líquida
” ou “
pós-capitalista
”. “
Vivemos em uma época de aceleração dos
processos que provoca uma crise nos sistemas para pensar e nomear o
mundo
” (REGUILLO, 2000: 29).
A primeira menção da adolescência surgiu dos estudos de Graville Stanley em
1904 e, desde então, diversas foram as propostas de singularizar este seg-
mento, na busca de um conceito que possa traduzir todas as suas multi-
plicidades. Compreender tanto a adolescência quanto a juventude remete à
busca por uma sociedade mais inclusiva e democrática que auxilia a funda-
mentação de programas e políticas voltadas para reconhecê-los enquanto
cidadãos, tornando-os visíveis e dando proteção.
diferentes maneiras de ser jovem em um contexto de tamanha hetero-
geneidade, observável no domínio econômico, social e cultural. Não existe
uma única juventude. Os jovens na cidade moderna são múltiplos, variando
em classe social, local onde vivem e geração a que pertencem. Sem falar na
diversidade, pluralismo e a explosão cultural voltada aos jovens nos últimos
2.1
MÚLTIPLOS CONCEITOS
#060
anos, mostrando um panorama variado e móvel em consonância com seus
comportamentos, referenciais identitários, linguagens e formas de sociabili-
dade (MARGULIS, 2000: 142).
No Brasil, a implementação do
Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA),
em 13 de setembro de 1990, permitiu um significativo avanço nas políticas de
inclusão por clarear as compreensões sobre a adolescência, consolidando
melhor este grupo e difundindo seus valores para a sociedade. Para Reguillo
(2000: 25) o discurso jurídico foi um dos marcos estratégicos para dar visibi-
lidade à juventude na sociedade contemporânea por delimitar uma separação
legal do mundo adulto e assegurar os direitos dos “
jovens menores
”.
Este estatuto recorre a uma contextualização da adolescência a partir de um
critério etário, assegurando legalmente todos os brasileiros entre 12 a 18 anos
incompletos. Embora seja um recurso recorrente na sociedade ocidental,
esta delimitação é uma categorização simplista de uma perspectiva linear da
adolescência, sem o dinamismo de uma interpretação que leve em conta seu
referencial sociocultural e histórico. Sendo assim, é necessário reconhecer
que, apesar dos significativos avanços, a legislação tende a excluir o próprio
adolescente, por considerar esta etapa universal, ignorando as especifici-
dades de cada grupo e equivaler suas construções ao contexto da infância.
A “idade” adquire através destes processos uma densidade que não se es-
gota em um referencial biológico e que assume valores distintos não só em
diferentes sociedades como no interior de uma mesma sociedade principal-
mente ao estabelecer diferenças em função dos lugares sociais que os jovens
ocupam em uma sociedade. Embora seja um referente importante, não é uma
categoria fechada e transparente (REGUILLO, 2000: 26)
Diversos campos de estudo buscaram conceituar o adolescente a partir
de uma ordem institucionalizada, uma definição única. Categorias etárias,
biológicas e de comportamento geraram indicativos insuficientes para definir
este segmento, até que Margaret Mead rompeu com essa noção universal
da adolescência no livro
Adolescência, sexo e cultura em Samoa
(1934) que
relatou sua experiência observando a cultura primitiva de algumas ilhas no
Pacífico com a modernidade dos Estados Unidos nos anos 1920.
O estudo etnográfico feito por Mead com a adolescência de Samoa mostrou
que a juventude em outras sociedades não era considerada uma fase con-
turbada em virtude das diferentes concepções da relação do indivíduo com
sua comunidade, com o gênero, sexualidade e trabalho (MAIRA & SOEP, 2004:
249).
O estudo representou um sensível avanço nas narrativas sobre a adolescên-
cia como uma construção decorrente de um contexto social e não uma
condição biológica. Este novo discurso parte de uma percepção mais empírica
que reconhece o papel ativo do sujeito na negociação com as instituições
e estruturas sociais, uma relação dialética, “
[...] um ser constituído no seu
movimento e ao longo do tempo pelas relações sociais, pelas condições so-
#061
ciais e culturais engendradas pela humanidade
” (BOCK, 2007: 67).
Aliado a esta premissa, Pierre Bourdieu (1983), criticou as antigas tentativas
de singularização como uma manipulação social, que “
[...] acabam sempre
por impor limites e produzir uma ordem onde cada um deve se manter, em
relação à qual cada um deve se manter em seu lugar
” (
Idem
: 112). Para o au-
tor, não há como tratar juventude e a adolescência com uma só palavra,
como uma unidade social, pois é preciso estar atento para os diferentes
universos da condição juvenil e as múltiplas adolescências em uma mesma
sociedade.
Este panorama esgota a necessidade de qualificar e definir a adolescência,
pois antes há de se compreender suas formas de atuação e interação na so-
ciedade. A capacidade de construir e ser construído socialmente remete a um
caráter descontínuo e não a uma categoria unívoca (REGUILLO, 2003: 104). É
neste contexto que surgem as analogias do adolescente como “
metáfora das
transformações sociais
” (FEIXA, 1993), como “
pioneiros na formação do novo
mundo
” (MEAD, 1934) ou os com “
metabolismo acelerado
” (REGUILLO, 1995)
por sua capacidade de processar as informações que circulam no mundo
social, integrar diferentes conhecimentos e gerar novos significados.
Neste escopo, a adolescência é compreendida em sua diversidade e, por-
tanto, inserida no contexto sócio-cultural da contemporaneidade, onde o
sujeito precisa tecer sua identidade e elaborar suas construções na multi-
plicidade de espaços sociais e culturais. É neste ínterim que os processos de
identificação passam a pautar os estudos do adolescente, em umarealidade
social dinâmica que forma e transforma continuamente o sujeito na socie-
dade.
Como vimos, a busca por uma singularização da adolescência revelou a
fragilidade em conceituar um segmento social que abrange transformações
biológicas, fisiológicas e cognitivas, além de condensar e dinamizar os te-
mores e expectativas histórico-culturais da sociedade (FREIRE FILHO, 2006:
3). Diante de uma profusão de classificações, o consumo também criou suas
nomenclaturas para definir esta etapa da vida, à medida que o mercado pas-
sou a ser um dos principais articuladores dos significados da adolescência na
contemporaneidade.
Esta interferência resulta da fusão moderna entre cultura e consumo, con-
2.2
NOTORIEDADE SOCIAL
#062
figurando um sistema simbólico de atributos corporais e bens adquiridos
que cultivam ideais, sustentam estilos de vida, constroem as noções de si e
provocam mudanças sociais (MCCRACKEN, 2003: 11). Comprar tornou-se
sta-
tus
, estratégia para o adolescente conquistar suas aspirações por liberdade,
felicidade, independência e diversão. Valores instáveis e voláteis que precisam
ser repensados freqüentemente em decorrência do “
[...] ritmo acelerado com
o qual as coisas são produzidas, consumidas e descartadas
” (FONTENELLE,
2003: 105).
O mundo construído de objetos duráveis foi substituído pelo de produtos
disponíveis projetados para imediata obsolescência. Num mundo como esse,
as identidades podem ser adotadas e descartadas como uma troca de roupa.
O horror da nova situação é que todo diligente trabalho de construção pode
mostrar-se inútil; e o fascínio da nova situação, por outro lado, se acha no
fato de não estar comprometida por experiências passadas, de nunca ser
irrevogavelmente anulada, sempre ‘mantendo as opções abertas’ (BAUMAN,
1998: 112-113).
Em meio a essa profusão do “
supermercado das identidades
” (
Idem
, 2001:
97), jovens e adolescentes ganham destaque por figurar entre os principais
protagonistas deste universo do consumo. Só no Brasil, os adolescentes de 12
a 16 anos consomem quatro vezes mais do que o resto da população (IPSOS
MARPLAN, 2003). Hábito consumista que levou a
Fundação Procon de São
Paulo
a criar, em 2009, o
Manual do Jovem Consumidor
, voltado exclusiva-
mente para orientar este segmento a controlar os impulsos mercantilistas e
serem mais conscientes em suas aquisições.
São artefatos estrategicamente pensados e produzidos para este grupo so-
cial. Calçados, roupas, eletrônicos e identidades que precisam ser constante-
mente renovados na busca por um pertencimento e autoconhecimento. Esta
segmentação decorre das transformações econômicas da metade do século
XX, quando o mercado buscou novos nichos para ampliar as “necessidades”
de consumo da sociedade moderna. Antes reclusos aos históricos opres-
sores e delinqüentes, jovens e adolescentes tornaram-se clichês publicitários,
slogans
, imperativos de uma certa elite social (KEHL, 2004: 92).
[...] o culto moderno à juventude teve início na segunda metade de 40, nos
Estados Unidos, quando começaram a nascer os baby boomers (nascidos no
período de altos índices de natalidade após a II Guerra). Ela transformou a
sociedade radicalmente. Em quinze anos nasceram 70 milhões de pessoas. Os
baby boomers provocaram uma revolução no consumo quando se tornaram
adolescentes, porque eram muitos e tinham poder de compra. O culto à juven-
tude surgiu como resultado desse fenômeno econômico (SCHELP, 2004: 15).
Jovens e adolescentes não são somente o
target
do momento, mas os
modelos sociais a serem buscados, um fantástico argumento promocional
(CALLIGARIS, 2000:55): “
A juventude é um estado de espírito, é um jeito de
corpo, é um sinal de saúde e disposição, é um perfil do consumidor, uma fatia
do mercado onde todos querem se incluir
” (KEHL, 2004: 89-90).
#063
Segundo Morin (1987: 152), “
[...] o tema juventude não concerne apenas aos
jovens, mas também àqueles que envelhecem. Estes não se preparam para
a senescência, pelo contrário, lutam para permanecerem jovens
”. O ideal
adolescente- jovem passa a ser buscado incessantemente com a formação
da “indústria do rejuvenescimento” com cirurgias plásticas, massagens, subs-
tâncias à base de embriões ou de sucos regeneradores que visam manter o
ressuscitar a aparência jovial (
Idem
: 153).
José Ortega y Gasset (1971: 298) afirma que esta valorização da adolescência
decorre das transformações da sociedade de massa, período no qual os mais
velhos deixaram de ser referências de experiência, vistos como figuras ultra-
passadas e cômicas pela juventude. Já Maria Rita Kehl (1998: 7) problematiza
esta nova configuração, na qual a mocidade passa a configurar os parâmet-
ros da sociedade contemporânea, antes ditada pela respeitabilidade e serie-
dade dos idosos. Em seu artigo
Juventude como sintoma da cultura
(2004:10),
a autora complementa:
Em uma sociedade em que o adolescente é erigido à posição de ideal para
todas as idades, os adultos passam a sofrer de má consciência diante da sua
experiência de vida. Se a regra é viver com a disponibilidade, a esperança e os
anseios de quem tem 13, 15 ou 17 anos, que fazer da seletividade, da desconfi-
ança e até mesmo da consolidação de um certo perfil existencial mais definido,
inevitáveis para quem viveu 40 ou 50 anos? O adulto que se espelha em ideais
teen sente-se desconfortável ante a responsabilidade de tirar conclusões so-
bre a vida e passá-las a seus descendentes. Isso significa que a vaga ‘adulto’,
na nossa cultura, está desocupada. Ninguém quer estar ‘do lado de lá’, o lado
careta do conflito, bem ou mal, se dissipou. Mães e pais dançam rock, funk
e reggae com seus filhos, fazem comentários cúmplices sobre sexo e drogas,
freqüentemente posicionam-se do lado da transgressão nos conflitos com a
escola e com as instituições (KEHL, 2004: 10).
Este processo de “
juvenilização
” (MORIN, 1987: 59) faz surgir uma “
[...] grande
variedade de figuras cuja identidade se expressa, principalmente através de
sinais impressos sobre sua imagem e pelo consumo de determinados bens
culturais oferecidos pelo mercado
” (ABRAMO, 1994: 55). Esta nova postura
social faz com que os limites biológicos sejam novamente desafiados e, como
conseqüência, torna-se necessário o redesenho de uma nova linha para
separar a vida adolescente da infância como também a juventude e a matu-
ridade.
Este fenômeno levou a imprensa britânica a criar o neologismo
adultescent
em 1997 a partir da junção das palavras
adult
(adulto) e
adolescent
(adoles-
cente). No mesmo debate ressalta-se também os conceitos de “
teenagiza-
ção
” (KEHL, 1998: 7) e “
adultescência
” (CALLIGARIS, 1998: 5). “
A adultescência
é o termo que designa a pessoa imbuída de cultura jovem, mas com idade
suficiente para não ser. Geralmente entre os 35 e 45 anos, os adultescentes
não conseguem aceitar o fato de estarem deixando de ser jovens
” (GOBBI,
1999: 95).
#064
O aumento progressivo do período de formação escolar, a alta de competi-
tividade do mercado de trabalho nos países capitalistas e, mais recentemente,
a escassez de empregos obrigam o jovem adulto a viver cada vez mais tempo
na condição de ‘adolescente’, dependente da família, apartado das decisões e
responsabilidades da vida pública, incapaz de decidir seu destino (KEHL, 2004:
91).
Outro fenômeno são os
kidults
(crianças jovens), caracterizando um proces-
so nostálgico encarado como patologia, por Frank Furedi em seu artigo
Não
quero ser grande
, no qual afirma que:
A infantilização da sociedade contemporânea é movida por paixões que são
específicas de nosso tempo. O desejo compreensível de não ter aparência de
velho cedeu espaço à busca consciente da imaturidade. No passado, as pes-
soas queriam parecer jovens e atraentes, mas não necessariamente compor-
tar-se como crianças. A obsessão atual por coisas infantis pode parecer um
detalhe trivial, mas a saudade onipresente da infância entre os adultos jovens
é sintomática de uma insegurança profunda em relação ao futuro. A hesitação
em aderir à condição adulta reflete uma aspiração reduzida à independência,
ao compromisso e à experimentação (FUREDI, 2004: 5).
O gosto dos jovens por desenho animado pode talvez ser o maior indício
desta cultura infantil que atinge o público adulto. A audiência da rede
Car-
toon
atesta a popularidade entre telespectadores de 18 a 34 anos, o que
levou a criar um bloco exclusivo com desenhos para adultos chamado
Adult
Swim
. O mesmo ocorre com produções tais como
Shrek
,
Toy Story
,
Monstros
S.A.
que fizeram sucesso entre adultos que assistem e também adquirem
camisetas, cadernos, bolsas e outros objetos que estampam os personagens
dos filmes.
Este jogo capitalista configurou também a formação dos
tweens
, termo
cunhado pelo marketing americano em 2000, a partir da compressão das
palavras em
between
(entre) e
teens
(adolescência). Trata-se do grupo
pré-adolescente, entre 8 e 12 anos, definidos por Postam (1999: 133) como as
crianças adultizadas.
Em janeiro de 2010, um novo olhar foi lançado pelo repórter de tecnologia
Brad Stone do
New York Times
, em seu artigo
The Children of Cyberspace:
Old Fogies by Their 20s
(Filhos do ciberespaço: velhos de 20 anos), também
reproduzido no mesmo mês pelo
Jornal Estado de São Paulo
. O autor in-
troduziu o conceito de microgerações, defendido pelos pesquisadores norte-
americanos do
Pew Research Center
, segundo o qual crianças e adolescentes
não podem ser analisados como um grupo homogêneo. As transformações
sociais e tecnológicas culminam em experiências diferentes do sujeito em um
prazo de 3 a 4 anos, surgindo uma seqüência de gerações de curto-prazo,
notáveis pela abundância de nomenclaturas que foram definidas por estes
grupos sociais nos últimos anos.
Carregado de conceitos simbólicos, o adolescente tornou-se a mercadoria
#065
fetichizada da sociedade contemporânea. O consumo deu maior visibilidade a
este segmento social e salientou ainda mais a dificuldade em especificar este
grupo. Mesmo diante do “
novo mundo adolescente
” (MOSES, 2000), repre-
sentativo do estado de euforia social adolescente, quaisquer tentativas de
delimitação da adolescência mostra-se insuficiente, motivando a continuidade
de estudos de suas diferentes manifestações na busca de compreensões que
abarquem estas heterogeneidades e multiplicidades.
Para entender e problematizar uma identidade torna-se necessário investi-
gar historicamente as formas pelas quais foram articuladas representações
e significações que constróem este referncial socialmente compartilhado.
Dessa forma, para compreendermos as configurações da experiência adoles-
cente na contemporaneidade será dado um enfoque nas construções iden-
titárias deste segmento na realidade brasileira entre a década de 1990 e 2000.
Este recorte, em coesão ao
corpus
, não tem pretensão de expor detalha-
damente a participação histórica deste segmento, mas sim, resgatar deste
imenso processo as narrativas e visibilidades do adolescente imerso em um
contexto social indissociável das práticas e produções da cultura de con-
sumo e do campo midiático. Dentro deste marco está consolidada a notorie-
dade de uma cultura adolescente-juvenil, delineando seus espaços nos mais
diversos campos discursivos e produzindo uma gama de materiais artísticos
introduzidos junto a manifestações de novos estilos de vida.
No Brasil, somente no final dos anos 90 os adolescentes passaram a ser um
alvo importante das políticas públicas. A elaboração do
Estatuto da Criança
e do Adolescente
assegurou direitos aos adolescentes, difundiu seus valores
para a sociedade, avançando os ideais de redemocratização do país. Embora
a juventude tenha sido excluída desta institucionalidade, a legislação re-
produziu um apaziguamento entre adolescentes e jovens, sem repercutir a
inquietude dos anos 80, marcada pelo posicionamento reacionário do movi-
mento
punk
e da insatisfação com as injustiças sociais da ditadura. “
Muitos
jovens acomodados já ficavam horas diante da tevê ou apenas fumavam
maconha para ‘viajar’ sem sair de casa
” (DO CARMO, 2001: 119).
É neste momento que a cultura de consumo e os artefatos midiáticos pas-
saram a configurar a experiência da adolescência brasileira de forma mais
significativa. Um destes principais referenciais data de 20 de outubro de 1990,
quando chega ao Brasil a
Music Television Network
(MTV), primeira emissora
2.3
VISIBILIDADE MIDIÁTICA
#066
de televisão segmentada nos jovens e adolescentes, inaugurada nove anos
depois da matriz norte-americana.
A emissora surgiu de forma singela como um canal pago de programação
musical e atualmente encontra-se espalhada por mais de 170 territórios e
em 22 idiomas ao redor do mundo (MTV, 2008). Em pouco tempo, a
MTV
tornou-se um marco para a geração adolescente, ao destinar 24 horas de
videoclipes e entretenimento a um segmento encarado como “
[...] qualificado,
crítico e formador de opinião
” (
Idem
), uma visão positiva deste grupo social,
longe de qualquer referencial pejorativo decorrente da modernidade.
O mundo não foi o mesmo depois do surgimento da MTV. Exagero? Então,
pense no que o jovem via antes desse canal. Agora lembre que, pouco
mais de 20 anos, jovens de três continentes são expostos ao modo TV de ver
o mundo. Eles carregam conceitos como atitude, irreverência, modernidade,
ousadia e espontaneidade. Essas são justamente as características dessa rede
mundial de emissora de TV, que contam com a tecnologia de ponta, reformu-
lação constante, liberdade e uma certa incoerência (ou coerência de “meta-
morfose ambulante”, que aos mais velhos parece falta de coerência) (SERRA in
PEDROSO E MARTINS, 2003: 23)
Já na televisão aberta, os anos 1990 instaura a reformulação dos antigos pro-
gramas de auditório, doravante com uma platéia exclusivamente adolescente
e jovem para debater assuntos como comportamento, sexo, drogas e música.
Serginho Groisman foi um dos precursores deste formato de produção co-
mandando o programa
Matéria-Prima
(1991) na
TV Cultura
. O sucesso fez o
jornalista repetir a fórmula na apresentação do
Programa Livre
(1993), exibido
pelo
SBT
, e, depois de seis anos transferiu-se para a
TV Globo
, onde atual-
mente apresenta o programa
Altas Horas
(2000). Outros canais também fiz-
eram suas versões deste tipo de programação, destaque para:
H
(1998) e
O+
(1999), da
Bandeirantes
;
Turma Cultura
(1997) e
R.G.
(2000) da TV Cultura.
Na onda destas produções juvenis, em 22 de agosto de 1994, a
TV Cultura
produziu o seriado brasileiro
Confissões de Adolescentes
. Foram 40 episódios
sobre a rotina de quatro meninas que contavam com a ajuda do pai para
vivenciar a crise da adolescência. As personagens foram interpretadas por
Daniele Valente (Natália), Deborah Secco (Carol), Georgiana Góes (Bárbara),
Maria Mariana (Diana) e o chefe da família Luiz Gustavo (Paulo). O roteiro
baseado nos diários de Maria Mariana causou bastante impacto por falar de
forma franca sobre temas polêmicos como drogas, aborto, doenças sexual-
mente transmissíveis e outros assuntos pertinentes ao universo jovem-ado-
lescente (GALVÃO, 2008:36).
Outro sucesso na teledramaturgia foi a produção adolescente
Malhação
(1995), que há catorze anos é exibida de segunda à sexta-feira às 17:30h na
TV Globo
. O programa é reestruturado anualmente, contando com um novo
elenco e novas tramas “
[...] com a missão de falar sobre questões pertinen-
tes ao universo jovem, como o início da vida sexual, o relacionamento com
#067
os pais e com os amigos e as dúvidas em relação ao futuro profissional
(MEMÓRIA GLOBO, 2008).
“Malhação”, em suma, conseguiu incorporar algo das narrativas mais contem-
porâneas, mais rápidas e que exigem menos concentração e comprometimen-
to sentimental do cinema e da TV globalizados sem perder de vista gosto pelo
melodrama que perdura no telespectador brasileiro e encontrou uma forma
na novela. Além disso, encontrou uma maneira de baixar o tom da novela para
transformá-la mais adequada ao gosto adolescente dio (ABRAMO, 2005:
7)
Para atingir o segmento pré-adolescente, em julho de 2008, a
TV Globo
lançou
, uma minissérie protagonizada pelos meninos da banda
www
, uma estratégia da emissora de misturar realidade e ficção, com a mis-
tura entre a teledramaturgia e imagens reais do grupo nos palcos das mati-
nês. A produção inovou ao permitir uma maior interação com o telespecta-
dor a partir de uma convergência com as mídias
online
e suas comunidades
de relacionamento.
O século XX marcou o fim da era industrial e o início da era da informação,
[...] criou-se uma cultura cosmopolita fortemente influenciada por esse e
outros avanços tecnológicos que acabariam atingindo a juventude no seu
modo de produzir e consumir cultura, em particular no campo da música
(ABRAMO, 1994: 9). É terreno fértil para a “
Geração Digital
” (“
Geração Zap-
ping
”, “Geração On-Line”, “
Geração Internet
”, “
Geração Conectada
”, “
Geração
Z
” ou “
Geração Pontocom
”) (FREIRE FILHO & LEMOS 2008: 11) que está em
constante rearranjo atrelado a valores do capitalismo.
Os jovens dos anos 90 mais prudentes, não querem rupturas radicais. Na faixa
dos 14 aos 19 anos, a “juventude dourada”, da classe alta, otimista consigo
própria, acredita que vai melhorar de vida, mas é pessimista com o futuro do
pais. Muitos estudam em colégios caros, falam duas línguas, passam férias no
exterior e quase todos, como bons hedonistas, gostam de prazeres como a
praia (DO CARMO, 2001: 166).
Este período consolida também uma nova socialidade a partir dos fenômenos
grupais, caracterizados por falta de ideologia, individualismo, consumismo
exacerbado e posicionamento conservador. “
A metáfora da tribo, por sua
vez permite dar conta do processo de desendividualização, da saturação da
função que lhe é inerente, e da valorização do papel que cada pessoa (per-
sona) é chamada a representar dentro dela
” (MAFFESOLI, 1998: 9).
Neste cenário surgem os agrupamentos voltados para o compartilhamento
de valores, gostos e objetos de consumo:
emos
,
skinheads
, patricinhas, mau-
ricinhos,
clubbers
, ecléticos, surfistas, roqueiros, esportistas, góticos,
rappers
,
ravers
,
new hippies
... “
Em vez de um único movimento o que está surgindo
são milhares de movimentos intricadamente ligados uns aos outros, como
hotlinks conectando seus sites na internet
” (KLEIN, 2002: 479).
#068
No cinema, as produções românticas ersm sucesso nos anos 1990, principal-
mente no filme
Romeu e Julieta
(1996), um clássico de Shakespeare adaptado
para o século XX com uma trilha sonora moderna. Mas são filmes como
Kids
(1995),
Segundas intenções
(
Cruel Intentions
, 1999) e
Vamos nessa!
(
Go
, 1999)
que atraíram a mocidade para as telas, embora chocassem pais e educadores.
As produções traziam as rotinas da vida urbana da adolescência permeada
pelo imperativo da diversão, não deixando de incluir o universo das drogas e
as doenças sexualmente transmissíveis. Nos anos 2000, a literatura predomi-
nou nas telas do cinema atraindo milhares de adolescentes a acompanhar as
sagas de
Harry Potter
,
Senhor dos Anéis
e
Crepúsculo
.
Na tentativa de metaforizar a adolescência sob uma perspectiva cinematográ-
fica, Carles Feixa (2001) formatou três narrativas diferentes sobre a con-
strução do segmento ao longo da história. A primeira denominada “
Síndrome
de Tar
” remete ao modelo adolescente do século VIII até a metade do
século XX, que seria um bom selvagem que precisa ser civilizado. “
Diante da
idade adulta, ele manifesta o mesmo desconcerto que Tarzã diante da civiliza-
ção, uma mistura entre fascinação e medo
” (
Idem
: 83).
A segunda narrativa é a “
Síndrome de Peter Pan
” que remete ao
teenager
do pós-guerra. “
Segundo esse modelo, o adolescente seria o novo sujeito
revolucionário, ou o novo herói consumista, que se rebela contra a socie-
dade adulta e resiste a fazer parte de sua estrutura: é melhor ser, ou parecer,
jovem do que velho
” (FEIXA, 2001: 84). Por fim, a “
Síndrome de Blade Runner
elucida o terceiro modelo que emerge no século XXI, adolescentes imersos
em uma realidade virtual e tecnológica, sendo robôs-humanos, tal como no
filme de Ridley Scott, oscilando entre a obediência e a vontade de emanci-
pação.
FIG.26 Trilogias sucesso entre os adolescentes
#069
E, como
Blade Runner
, os adultos vacilam entre a fascinação pela juventude e
a necessidade de exterminar a raiz de qualquer desvio da norma. O resultado
é um modelo híbrido e ambivalente de adolescência, a serviço de uma cres-
cente infantilização social, que se traduz em dependência econômica, falta de
espaços de responsabilidades, de uma crescente maturidade intelectual, que
se expressa através de acesso às novas tecnologias de comunicação, às novas
correntes estéticas e ideológicas, etc. As transições descontínuas em direção à
idade adulta, a infantilização social dos adolescentes, o atraso permanente no
acesso ao trabalho e a própria residência, a emergência de mundos artificiais,
como as comunidades de internautas, a configuração de redes adolescente
em escala planetária seria os traços característicos de um modelo de inserção
“virtual” na sociedade (Idem: 85).
No século XXI as novas mídias e tecnologias emergentes são incorporadas
às práticas sociais.
Blogs
,
orkut
,
skype
,
facebook
,
twitter
e outras ferramen-
tas virtuais tornaram-se fonte de expressão, divertimento e aprendizado do
adolescente. Segundo pesquisa realizada pelo
IBOPE/ NetRatings
em 2009, os
brasileiros entre 15 e 19 anos passam a maior parte do tempo fora da escola
navegando na Internet. Em média estes jovens e adolescentes ocupam 4h36
minutos na frente do celular ou computadores, contra 2h54 minutos fazendo
a lição de casa e 2h30 minutos ouvindo música ou vendo televisão. Ao final
da lista estão as atividades físicas, 1h48m, e leituras fora do computador,
1h42m.
As concepções mostradas neste capítulo compreendem uma referência sobre
a construção histórico-social do adolescente e os fatores que delinearam
sua configuração na contemporaneidade. A seguir partiremos para uma
análise da adolescência a partir das especificidades das revistas segmentadas,
observando os valores e modos de ser instituídos por estas publicações e
seus significados disseminados na pós-modernidade.
#070
Como vimos, as revistas femininas adolescentes enquanto eventos
sociais organizam a visão da adolescência na contemporaneidade ao cons-
truírem as particularidades do “ser adolescente” mediante regras para as
meninas agirem e pensarem em sociedade. A seguir observaremos a especi-
ficidades destes significados culturais e identificações através de uma análise
estratificada destas publicações a partir das categorias de Currie (1999) e
das subdivisões propostas na investigação dos regimes de visibilidade da
mídia segmentada, em andamento, do Grupo de Pesquisa em Midia Impressa
(PUCSP), sob coordenação do Prof. Dr. José Luiz Aidar Prado, na qual partic-
ipo desde 2008.
A socióloga Dawn H. Currie em seu livro
Girls Talk: adolescents magazines
and their readers
(1999: 4) iniciou uma precursora análise das revistas ado-
lescentes americanas, após constatar que as meninas estavam internalizando
os “s
cripts de feminilidades
” disseminados por esta mídia, permitindo que a
cultura midiática interferisse na formação da adolescência mais do que as
transformações biológicas.
A autora separou as publicações em sete grandes temas: “
beleza e moda
”,
relacionamento
”, “
sucesso
”, “
questões sociais
”, “
auto-ajuda
”, “
entretenimen-
to
” e “
miscelânea
”. Embora estas classificações sejam recorrentes nas publi-
cações brasileiras, algumas destas categorias são praticamente inexistentes
nas produções locais. É o caso das pautas com debates sociais presentes
somente nas edições de janeiro e junho de 2008 de CP, período no qual a
revista passou a explanar sobre temas de conhecimento geral, passíveis de
3.
COMO A REVISTA SEGMENTADA
CONSTRÓI A ADOLESCENTE
#071
cair nas provas do vestibular.
O tema “
entretenimento
” também foi excluído da pesquisa, já que resume-se
a indicações de livros, filmes, shows, CDS e DVDs, além de letras traduções
de músicas estrangeiras e jogos de passatempo. Já as matérias de “
auto-aju-
da
” e “
miscelânea
” foram destrinchadas nas categorias de Prado (no prelo),
que concebe uma classificação das produções impressas em quatro temáti-
cas: “
moda e beleza
”, “
sociabilidade e sexualidade
”, ”
trabalho, sucesso e lazer
e “
saúde e bem estar
”.
Dessa forma, esta pesquisa utilizou a junção entre as classificações propos-
tas por Prado (no prelo) e Currie (1999), resultando em cinco classificações:
moda e beleza
”, “
sociabilidade e sexualidade
”, “
trabalho e lazer
”, “
saúde
” e
bem-estar
”. A partir destas constatações, examinaremos como cada catego-
ria é desenvolvida no agendamento temático das revistas de nosso
corpus
.
Dentre os assuntos explorados pelas revistas adolescentes, as matérias
sobre sociabilidade e sexualidade ocupam cerca de 40% das páginas de cada
edição, figurando entre os temas mais presentes nas publicações, exceto nas
produções de 2008 de CP, que privilegiram as pautas sobre moda e beleza.
TT é a revista que mais aborda o relacionamento afetivo e sexual das meni-
nas, ocupando uma média de 51% de seu conteúdo.
3.1
SOCIABILIDADE E SEXUALIDADE
FIG.27 Debates sociais em CP
#072
São reportagens que primam pela influência nos modos de pensar, agir e ser
do sujeito, ao sugerir padrões de comportamento para o adolescente viver
em sociedade, refletindo um agendamento temático que busca atender ao
interesse de uma adolescente insegura frente às descobertas e formas de
atuação no espaço público. Estas modalizações podem variar em virtude dos
espaços de sociabilidade e certas atitudes só se tornam válidas em determi-
nados contextos como o quarto de casa, a escola, o shopping, a praia ou a
balada.
Na pautas sobre a relação familiar são apresentadas as formas de a ado-
lescente encarar a separação dos pais e o convívio com o padrasto ou a
madrasta. Quanto ao senso de incompreensão dos adolescentes diante das
restrições impostas pelos familiares, as revistas tratam de explicar “
o que
se passa na cabeça deles
” ao estabelecer os limites e a forma de “
negociar
para conseguir aprovação para namorar, sair com os amigos ou vestir uma
roupa da moda. Os conflitos com as mães são constantes e os irmãos são
os grandes vilões, por serem protegidos da família, fiscalizarem a menina e
dedurarem atitudes inadequadas aos pais. Produções mais exploradas em TT
do que nas outras publicações.
FIG.28 A relação familiar nas revistas
#073
A turma de amigos constitui o único grupo social que realmente compreende
o drama da adolescência, partilhando em comum as felicidades e agruras
desta fase da vida das meninas. As amigas são tão parecidas que paressem
clones por terem gostos e comportamentos semelhantes, convivência que
também resulta em brigas e intrigas, por vezes até difíceis de se resolver, mo-
tivando a separação e a busca por novas amizades. Mas para a menina não
ficar excluída, TT criou um manual para a adolescente “
fazer parte da galera
”,
com dicas para se aceitar, conquistar amigos e reconhecer os sinais para
saber se a turma será uma boa influência.
As revistas não somente mostram os comportamentos ideais da
adolescente, mas também salientam as atitudes que devem ser
rechaçadas, os micos que causam embaraço e devem ser evitados a
todo custo, além de gafes das leitoras, publicadas como uma forma
de diversão. Além disso, as publicações pontuam modos de ser que
não agradam e não devem ser seguido pelas meninas. Na edição de
dezembro de 2008 Jerri Dias escreveu em sua coluna “
Os dez man-
damentos da galera!
” uma adaptação das normas religiosas para
mostrar as regras para a menina se comportar em suas relações
afetivas, apontando as atitudes que ela deve tomar ou evitar.
Como se verá a seguir, o foco maior se dá nas orientações sobre
o relacionamento heterossexual entre o menino e a menina. A
sexualidade também aparece nas publicações, em propostas de autoconhe-
FIG.29 Manual para fazer amigos de TT
FIG.30 Mandamentos da galera de CP
#074
cimento para a adolescente saber o tempo certo de beijar ou de iniciar sua
vida sexual.
Além de representarem as melhores amigas das leitoras, as revistas adoles-
centes mostram ser grandes conhecedoras do universo masculino, ao apre-
sentar as “
táticas super
” e um “
plano infalível
” para a garota conquistar o
príncipe encantado ou compreender os erros que vem cometendo no jogo da
sedução. Neste enredo persuasivo, estar solteiro é uma gravidade, resultado
de uma idealização romantizada do compa-
nheiro ou insegurança. Na
dúvida, basta fazer o teste
para descobrir qual tem sido
o problema da leitora ou
averiguar se ela sabe mesmo
como conquistar um garoto.
Para ajudar as meninas, o enunciador recorre aos “
mandamentos para con-
quistar o gato dos seus sonhos
”, a um “
intensivão da paquera
” e até mesmo
um guia do namoro para ser destacado da revista e consultado a qualquer
3.1.1
Meninos, gatos, fofos e afins
FIG.31
Táticas e testes para conquistar o menino
#075
momento. Se a timidez atrapalhar, as revistas trazem bilhetes prontos para
auxiliar na comunicação em momentos de nervosismo. É válido recorrer a
ajudas místicas, com simpatias, seja para arrumar alguém ou conquistar
quem a leitora ama.
A palavra de ordem é paquerar, ter um rolo ou namorar. O grande dilema
é justamente decidir entre namorar ou ficar, assumir um compromisso que
exige fidelidade ou fugir de qualquer responsabilidade que faça a adolescente
ficar presa a um só menino. Para quem já está namorando, as dicas valori-
zam a manutenção da relação, já que além de conquistar o companheiro é
preciso saber sustentar o romance.
FIG.32 Artifícios para a arte da conquista
FIG.33 O dilema namorar ou ficar em AT
#076
Dentre os fatores que inviabilizam as relações, estão as diferenças entre a
menina e seu parceiro, seja por terem gostos diferentes, praticarem religiões
contrárias, morarem longe, serem parentes distantes ou pela disparidade de
idade. Estas matérias são recorrentes em TT e apresentam um discurso con-
traditório, por questionar a viabilidade destas relações e reforçar o namoro
com um argumento doutrinário, para a menina minimizar as dessemelhanças,
driblar as críticas e tornar o romance possível tal como ocorre em filmes
como
Romeu e Julieta
ou
Titanic
.
As receitas e orientações do enunciador também ajudam a menina a enfren-
tar a crise quando o namoro não dá certo e é preciso superar o temível fora.
CP trouxe na edição de dezembro de 2008, o “
Manual de sobrevivência ao
pé na bunda
”, uma matéria de quatro páginas com pesquisas comprovando
FIG.34 Empecilhos para o romance em TT
#077
que quase toda menina já passou por isso, juntamente com “
dicas e truques
infalíveis
” para a adolescente recuperar o coração partido, mesmo se ao final
de todo o programa a garota resolva recomeçar a relação com seu
companheiro. Embora o manual seja um atalho para superar um término
de namoro, ao final o subtítulo “
Cada coração uma receita
” desqualifica o
próprio discurso da publicação com depoimentos e palavras de especialistas,
mostrando que cada caso é diferente do outro, portanto, não podendo ser
generalizado a métodos prontos para superação.
Nas revistas, o menino recebe codinomes especiais como gato, cara, pretê,
fofo, peguete e príncipe encantado. São figuras enigmáticas que precisam
ser desvendadas e traduzidas para facilitar o jogo de sedução. As matérias
atem-se a revelar tais mistérios, a traduzir gostos, atitudes e até mesmo os
pensamentos dos meninos. As meninas também são instigadas a conhecer
os enigmas do sexo masculino, aplicando técnicas para traduzir os sinais do
corpo dele ou os traços do rosto.
Outra estratégia discursiva é utilizar o próprio menino para balizar o com-
portamento da adolescente a partir do registro da opinião dos meninos e
denotando os modos de ser ideais para a menina adequar-se na busca por
conquistá-los. Este discurso de dominação aparece nas seções “
Entre eles
(CP), “
qual é a dele
” (AT) e “
Jogo da verdade
” (TT), nas quais os meninos
FIG.35 Manual de sobrevivência em CP
#078
respondem uma questão proposta pelo enunciador e possibilitam que a ado-
lescente compreenda melhor o que se passa na caba desses rapazes, suas
atitudes e determinados comportamentos.
As celebridades masculinas também disseminam imaginários femininos e
são exaltadas como referenciais de conquista para as meninas. Estas figuras
midiáticas aparecerem em pôsteres ou entrevistas revelan-
do seus hábitos, estado civil e o tipo de mulher ideal. Esta
estratégia discursiva incita o interesse das adolescentes
de almejarem ter o famoso como namorado, ainda mais
quando este relata relacionamentos que tiveram com fãs.
Esta característica levou AT a inserir o namoro do Gee, da
banca NXZero, com uma fã na seção “
Na real
”, mostrando
o “
romance dos sonhos de qualquer menina
”.
Como visto anteriormente, é comum um mesmo as-
sunto figurar em diferentes revistas ou até mesmo ser
recorrente em uma determinada publicação mais de uma
vez ao ano. Dentre estas pautas em comum foi pos-
sível observar o emprego da metáfora da partida de futebol para definir o
processo para a menina conquistar o garoto ou manter uma relação.
Segundo Lakoff & Johnson (2002: 45), as metáforas estão infiltradas na vida
FIG.36 Eles respondem suas dúvidas
FIG.37 Romance dos sonhos em AT
#079
cotidiana à medida que estruturam pensamentos e ações, não podendo ser
encaradas como meros recursos estilísticos com fins didáticos, exclusivos
para facilitar a compreensão humana. A essência é o “
[…] entendimento de
um conceito em termos de outro
”, implicando uma maneira particular de
representação do mundo social, por construir a realidade de uma maneira
em detrimento a outras possibilidades.
As metáforas presentes na língua são uma manifestação da maneira como
entendemos e conceitualizamos determinados conceitos. Trata-se de uma
ope-ração cognitiva, na qual empregamos um domínio experiencial mais con-
creto, estreitamente ligado à experiência com nosso próprio corpo e o mundo
em que vivemos, para compreender/conceitualizar um domínio mais abstrato,
cuja natureza da experiência humana não permite uma representação direta.
São, portanto, nossas experiências corpóreas, de diferentes dimensões, que,
sendo recorrentes e co-ocorrentes, geram metáforas que subjazem à nossa
forma de falar (LIMA, 2001:108).
Como mecanismos conceituais e cognitivos, Lakoff & Johnson (2002) des-
crevem três tipos de metáforas:
estruturais
,
orientacionais
e
ontológicas
. A
metáforas
estruturais
compreendem um conceito em termos de outro, já as
orientacionais
, organizam os conceitos em relação a uma orientação cor-
poral no espaço, e, finalmente, as
ontológicas
compreendem as experiên-
cias abstratas substituídas por termos concretos como entidades, objetos e
substâncias.
Com a utilização da metáfora da partida de futebol, as revistas adolescentes
montam um jogo, em que o objetivo da menina é fazer gols para emplacar
um relacionamento com o menino. Os textos são carregados de esquemas
táticos e artimanhas para facilitar a arte da conquista a partir dos princípios
e jargões freqüentemente utilizados neste esporte.
(1) Quando o assunto é conquistar um menino, você tem duas opções: colo-
car seu time em campo e jogar pra ganhar, ou então ficar sentada na ar-
quibancada e virar uma mera espectadora. Bom, entrar no jogo é muito mais
divertido... (CP5: 136)
(2) Às vezes, você acha que está livre para o gol. Em outras, pensa que é mel-
hor tirar o seu time da jogada. Para desembolar o meio de campo, responda
ao teste para descobrir o que ele está sentindo... (AT6: 70)
(3) Se o lance com o gato, que era tão vitorioso no começo, empaca de re-
pente como se fosse uma decisão de futebol chata que termina em um nada
emocionante zero a zero e que se arrasta para a prorrogação, não dá pra
recuar (TT2: 28)
São verbos e expressões que instigam a menina a vencer, atacar, cor-
rer, chutar, jogar, dar um tempo, respirar fundo, não pisar na bola, fugir
das faltas ou do cartão vermelho, conotando que para ganhar a partida é
necessário ter determinadas habilidades e força de vontade. Metáforas
estru-
turais
por visarem organizar as atividades humanas pela simples substituição
#080
de termos (LAKOFF & JOHNSON, 2002:59), conquistar o menino é ganhar a
partida, vencer o jogo ou marcar um gol.
Outra variação que ainda envolve o futebol, é a metáfora
estrutural
da juíza
do esporte, na qual a menina precisa se posicionar perante a falta de limi-
FIG.38 Metáfora da partida de futebol em CP, AT e TT
#081
tes do namorado: exigir respeito é apitar para cada deslize cometido pelo
companheiro, seja para dar cartão amarelo para os que gostam de brigar ou
cartão vermelho para o menino que só toma atitudes que magoam a ado-
lescente. Na mesma classificação, a metáfora do ioiô ou da montanha-russa
designam os altos e baixos em um namoro, marcado por constantes térmi-
nos e recomeços.
Seções como “
Sem dúvida sexo
” (CP) e “
Sexo seguro
” (AT), que virou “
tudo
sobre sexo
” em 2008, imprimem os questionamentos das leitoras sobre o
que fazer na privacidade das quatro paredes. TT manteve até 2003 a seção
correlata “
Sexo 100 vergonha
”, mas uma mudança no projeto gráfico
reservou às matérias os debates sobre sexualidade. Entre as principais dúvi-
das estão a virgindade e insegurança da primeira vez, perguntas que também
resultam em reportagens especiais e detalhadas sobre o assunto.
Os meninos são representados como experientes por avançar o sinal cons-
tantemente, medirem o desempenho das adolescentes e depois relatarem
suas histórias em depoimentos. “
Se existe uma testemunha da sua primeira
vez, essa testemunha é o menino que você escolheu para dividir o momento
com você
” (CP4: 86). Pesquisas, ginecologistas, sexólogos, mães e celebri-
dades também respondem aos questionamentos das meninas, com conselhos
didáticos sobre o momento certo para a menina ter sua primeira relação. São
consultorias
” que dão credibilidade ao discurso do enunciador, aquelas “
[...]
que realmente vão fazer diferença na hora de tomar sua decisão
” (TT7: 34).
Já as meninas são retratadas como inseguras e frágeis diante de tal decisão.
A primeira transa é um momento muito importante na vida de qualquer ga-
FIG.39 Os meninos auxiliam nas dúvidas sobre a primeira vez
#082
rota. Sonhamos, esperamos que tudo saia perfeito, como nos filmes român-
ticos...
” (AT6: 74). As adolescentes precisam atestar seus conhecimentos
em testes sobre sexo, além de se informar para não acreditar nas “
maiores
bobagens
” sobre o sexo ou sobre a primeira vez. O pudor é salientado na
hora de ficar nua na frente do menino, no momento de pedir pra ele colocar
a camisinha ou de ter que encarar o garoto depois da transa.
O momento certo para a primeira vez é explicado com muito didatismo para
que a menina possa descobrir se está ou não preparada para dar o primeiro
passo na vida sexual, independentemente da pressão das amigas ou do
companheiro. As matérias explicam desde as alterações biológicas como o
rompimento do hímen e sangramentos, passando pelas possíveis formas de
se perder a virgindade, os medos, prevenções e as expectativas sobre este
primeiro momento da vida sexual. Por fim, as pautas encerram com incentivos
à auto-ajuda, como forma de lembrar que o tempo certo para a primeira vez
depende única e exclusivamente da decisão da adolescente, sem levar em
conta qualquer interferência.
Não tenha pressa. Seu momento chegará, com certeza. Como sabe respeitar
seus sentimentos e gosta muito de si mesma, acredite: sua primeira vez será
mais inesquecível ainda. Afinal, você não apenas sonha com ela como merece
ser muito feliz. É só acreditar” (AT5: 54)
Seja qual for a situação, só obedeça à sua vontade. Mude de
namorado ou garoto, mas não se deixe levar pelo que os outros
querem de você (AT3: 52)
Nunca, jamais, em hipótese alguma fa algo apenas porque os
outros querem, viu? Quem vai sair prejudicada é você (e isso
vale para as outras áreas da vida também!) [...] Pense bem nos
dois lados, avalie a situação e decida. E não se esqueça: seja qual
fora a sua decisão, ela deve ser tomada apenas por você (TT4:
69)
FIG.40 O tempo certo da primeira vez
#083
As construções discursivas sobre a sexualidade mediam a experiência da
adolescente ao estabelecer os passos para iniciação sexual e seus devidos
assessoramentos. Ao esclarecer dúvidas, medos e inseguranças, as revistas
naturalizam a primeira vez, produzindo uma sensação de aparente controle,
como se toda relação seguisse um manual, cumprindo pré-requisitos, elimi-
nando quaisquer riscos ou contratempos. Ao saber de antemão como será
a perda da sua virgindade, a publicação incentiva à primeira transa, de forma
velada, levando a menina a colocar em prática as orientações. Mas depois de
toda esta apologia, as produções novamente eximem sua responsabilidade
pela decisão da menina, esclarecendo que cabe a cada um definir seu prazo
certo para iniciar a vida sexual.
Os conselhos também são estendidos àquelas que já tiveram sua primeira
relação, embora sejam produções esparsas. Dentre estas, vale destacar a
matéria “
Entre quatro paredes
”, da TT de janeiro de 1998, com as “
mil coisas
que podem rolar na hora da transa
”, apresentando posições sexuais, técnicas
eróticas de
strip-tease
e sadomasoquismo, filmes pornôs, práticas grupais e
locais inusitados para a menina conhecer, caso o companheiro demonstre
interesse. As construções discursivas apresentam a mesma lógica incoerente
das outras produções, oscilando, ao impor uma aparente liberdade à leitora,
para em seguida reprimir quaisquer atitudes, atribuindo a ela a responsabili-
dade por seus atos.
Existem mil formas de amar, não se esqueça. No sexo, não regras, desde
que você esteja protegida sobre camisinha, sim!) e seja respeitada pelo
parceiro. Além disso, ninguém tem a obrigação de fazer TUDO o que o outro
quer. Se os desejos combinarem ótimo! Mas, em caso de se sentir incomodada
ou não gostar de alguma coisa que o gato fizer ou pedir pra você fazer, abra
essa sua boquinha e coloque pra fora o que sente (TT11: 82)
FIG.41 Construções sobre a sexualidade em TT
#084
Esta incongruência no discurso das revistas adolescentes mostra-se notável
nas seções “
Sexo
”, de CP, a partir da reformulação gráfica em 2008. A editoria
que antes era constituída a partir de dúvidas enviadas pelas leitoras, altera
sua composição ao caber ao enunciador o questionamento, na voz de uma
editora da revista, e à leitora o papel de responder as indagações. Ao lado
de toda matéria aparece o seguinte aviso: “
Esta seção pode conter material
inadequado para menores de 14 anos
”; vale ressaltar que o público-alvo da
revista são meninas entre 12 e 19 anos.
Embora as publicações dêem peso diferenciado para a abordagem de “
Moda
e Beleza
”, estas são pautas imprescindíveis nas revistas adolescentes, articu-
ladas em matérias que ensinam a adolescente a manter-se atualizada nas
últimas tendências para deixá-la linda, moderna e atraente. São looks que
combinam com a menina, maquiagens que valorizam seu jeito, cores que
combinam com sua personalidade e truques fundamentais para adquirir um
visual atualizado e digno de “
arrasar logo de cara
” e “
sair da mesmice
”.
2.1
MODA E BELEZA
FIG.42 Moda e beleza nas revistas
#085
CP é a revista que mais cobre estes temas, com predominância em 9 das 12
edições analisadas, correspondente a cerca de 32% do conteúdo de cada
edição, contra 23% em cada AT e 13% em TT. Quando não é o tema mais
abordado, “
Moda e Beleza
” é o segundo assunto mais explorado nas revistas
adolescentes, perpassando também outras editoriais, como saúde e rela-
cionamento.
A temática sobre beleza resume-se a cuidados com o cabelo e a maqui-
agem, enquanto as matérias sobre moda centram-se na compra de itens
fundamentais para o guarda-roupa da adolescente, itens fundamentais para
enquadrar a personalidade da leitora nas tipificações relativamente pa-
dronizadas tais como “
românticas
”, “
alternativas
”, “
rockers
”, etc. São dicas e
produtos diferentes apresentados a cada edição como elementos indispen-
sáveis a qualquer menina, já que seu consumo torna-se preponderante para
determinados estilos de vida.
Os estilos de vida constituem, em resumo, uma forma por intermédio da qual
o pluralismo da identidade pós-moderna é administrado pelos indivíduos e
organizado (e explorado) pelo comércio. Para os sujeitos que não podem mais
se apoiar na estabilidade oferecida pelos modos de vida tradicionais, comu-
nitários, o estilo de vida funciona, inegavelmente, como uma (precária) âncora
identitária (FREIRE FILHO, 2003: 74).
O estímulo ao consumo torna-se um fator imprescindível e renovado a cada
edição, com a oferta de novas mercadorias e novos objetos de desejo; este
impulso capitalista pela novidade gera assim o “
efeito de perseguição infinita
(FEATHERSTONE, 2003: 38), que faz o adolescente buscar sem cessar esses
bens simbólicos como garantia de diferenciação e reconhecimento sociais.
Esta estratégia salienta também os contratos de comunicação oferecidos
pelas revistas, em função de uma classe social ou poder aquisitivo específico.
Lara (2007) aborda a “
cultura do desapego
” a partir das práticas consumis-
tas da juventude urbana. Trata-se de uma nova lógica social que resulta da
movimentação de ofertas de consumo na sociedade contemporânea, geran-
do conseqüentes descartes na busca por novidades. Um contexto efêmero
em consonância com a trajetória dos sujeitos na pós-modernidade, sem
aderência e ancoragem fixa.
Num contexto em que os apelos da moda se multiplicam e se transformam
com uma velocidade sem precedentes, em que a lógica do mercado converte o
objeto do desejo de hoje no descartável de amanhã, em que o delete substitui
o deleite, o acesso aos bens e serviços que compõem a pauta de consumo
juvenil torna-se um dos estímulos decisivos para a entrada dos jovens no
mercado de trabalho, seja formal ou informal (LARA, 2007: 6)
As editorias “
Garimpo
”, “
Vitrine
”, “
Pa da vez
” e “
Testados e aprovados
” de
CP, e, “
tem que ter
”, “
é fashion
”, “
cabe na mesada
” e “
necéssaire
” de AT, apre-
sentam estrutura semelhante ao indicar roupas, acessórios e maquiagem
para a menina conquistar determinados ideais como beleza e juventude.
#086
Estas seções dedicam-se exclusivamente a apresentar produtos com marcas
e preços, por vezes acompanhados de comentários curtos comprovando sua
eficácia. Os preços variam entre R$ 6 a R$ 120 reais, somando em torno de R$
300 reais por página, mesmo quando a mesada é levada em conta na escolha
de produtos mais baratos. TT indica o consumo na seção “
Moda in
”, mas
diferencia-se por mesclar matérias e exposição de produtos, neste caso, sem
a exibição dos preços.
Matérias com técnicas para economizar também são recorrentes nestas re-
vistas, nas quais o enunciador ensina os rituais de beleza para a adolescente
fazer em casa sem gastar a mesada e as formas de incrementar o visual
com pas customizadas, como o jeans que se transforma em um short ou
camisa que é remodelada para curtir o carnaval.
FIG.43 Matérias que incentivam a adolescente a economizar
#087
As publicações mostram não somente os conselhos para a menina tor-
nar-se bela e atraente, como também os itens que devem ser descartados,
elementos referidos como pas ou objetos que irão “
micar
”, em referência
aos micos ou atitudes rechaçados pela publicação. São looks, maquiagens e
penteados considerados ultrapassados e fora de moda. Para auxiliar a garota
a não errar nas produções, seções como “
Certo e errado
” (AT e CP) e “
As-
sim, sim!!! Melhor, não...
” (TT) mostram o que se deve ou não usar nas ruas,
configurando uma estratégia para garantir que a adolescente esteja sempre
por dentro das novidades do mundo da moda. Da mesma forma, matérias
sobre beleza também aludem a atitudes errôneas cometidas pelas meninas e
apresentam novas dicas para “
você não bobear neste ano
” (CP6: 88).
Para garantir que as leitoras ponham em prática as receitas de beleza, a
edição de janeiro de 2008 de CP trouxe a matéria “
Linda em 2008
” com
uma lista de resoluções estéticas para o novo ano. O subtítulo com a frase
Agora, não vai ter escapatória
” introduzia as dicas para a menina ficar mais
bonita, junto às desculpas que as leitoras forjam para não seguir as orien-
tações. O conteúdo inovou ao trazer “
soluções
” para os pretextos arran-
FIG.44 O visual certo e errado em AT, CP e TT
#088
jados pelas adolescentes, seguidos de novos direcionamentos, ressaltando a
necessidade da garota cumprir o contrato de comunicação proposto para a
conquista da beleza.
Nas revistas de 1998, seções específicas eram destinadas a solucionar as
dúvidas de beleza das meninas. “
Sem dúvida beleza
” (CP), “
Toques e truques
(AT) e “
Belafera
” (TT) traziam respostas sobre os mais variados tratamentos
estéticos e junto apareciam tarjas com os profissionais que foram consulta-
dos nas seções. Dermatologistas, esteticistas e cabeleireiros figuravam com
muita freqüência dando inúmeras dicas e truques para a adolescente. São os
tecnólogos do discurso
” (FAIRCLOUGH, 2001: 264), peritos ou especialistas
responsáveis por legitimar o discurso das publicações ao atribuir uma veraci-
dade científica além do domínio da leitora.
Carlos Carrasco foi um destes profissionais que ganhou notoriedade em CP
e a partir de 2003, quando passou a ter sua própria seção intitulada “
Truque
do Carrasco
”, com técnicas para a adolescente aprender a se maquiar. Já a
estilista Thais Losso passou a escrever a “
Coluna da Thais
” a partir de 2008,
dando conselhos e orientações para a garota vestir-se bem e valorizar-se a
partir das roupas que usa. Este fenômeno também aparece na seção “
Mun-
dinho Fashion
”, na qual fotos de modelos desfilando em passarelas autenti-
cam as pas que estão na moda e devem ser consumidas pelas leitoras. Esta
estratégia não exerceria tal poder, caso fosse utilizada uma imagem aquém
deste ambiente profissional.
De forma diferenciada, adolescentes anônimas também validam o discurso de
CP na seção “
Fotolog
”. Embora não sejam especialistas, as garotas legitimam
as pas que estão em moda na temporada ao terem suas fotos publicadas
na matéria, utilizando tais vestimentas. Este conteúdo é produzido em parce-
FIG.45 Linda em 2008 por CP
#089
ria com o site de CP, que a todo mês publica um tema, principalmente ligado
ao universo da moda, e convida as leitoras a enviarem fotos relacionadas ao
mesmo. Dessa forma, ao afirmar que o amarelo é a tendência da nova es-
tação, diversas meninas-leitoras estampam a seção usando acessório nesta
cor e autenticam o discurso da publicação.
As celebridades, neste caso sempre femininas, também dão dicas e truques,
tornando-se referenciais para as adolescentes, definindo padrões, validando
tendências e lançando modismos. A estratégia é literalmente “
copiar o make
ou “
roubar o look
” do famoso, como garantia de sucesso. Para tal, as revis-
tas relevam os segredos, truques e dicas das personalidades midiáticas, per-
mitindo ao adolescente ter em mãos um programa de beleza completo para
transformar qualquer menina comum em uma Mari Moon ou Thayla Ayala,
podendo sonhar com a possibilidade de estampar a capa da próxima edição.
FIG.46 Fotolog em CP
FIG.47 Celebridades, referenciais de moda e beleza
#090
Embora diversas revistas abordem o consumo com a indicação de produtos
e hábitos de compra da adolescente, a fonte do dinheiro em geral é a mesada
dada pelos pais, sendo raras as alusões a garotas que trabalhem e desfrutem
da independência financeira. Um dos motivos surge da legislação brasileira,
que só permite o trabalho para maiores de 16 anos, evidenciando a prioridade
para os estudos antes desta idade.
AT recorre à
Lei do Aprendiz
para incentivar o ingresso da adolescente no
mercado de trabalho em empregos de até 6 horas para os maiores de 14
anos. São os “
bicos
” como digitadora, professora de aula particular ou
revendedora de bijoux. “
Além do dinheiro, ganha-se muita experiência
e a gente se sente útil podendo colaborar com os pais nas despesas de
casa
”(AT6: 84). TT também apóia esta
idéia, incitando em-
pregos temporários
para as férias, seja em
lanchonetes ou com a
venda de produtos na
areia da praia. “
Só não
vale passar as férias
inteiras trabalhando,
porque assim elas
acabam e você não curte
nada
” (TT3: 104).
3.3
TRABALHO E LAZER
FIG.48 Bicos em TT
#091
Na matéria com o título “
Natal Diferente”
, AT trouxe relatos sobre a forma
de alguns adolescentes comemorarem esta festividade. Entre estes, estava
Tatiana Gregório Oliveira, de 12 anos que “
[...] ajuda a aumentar o orçamento
doméstico da família vendendo balas ou lavando pára-brisas em um cruza-
mento de São Paulo
” (AT3: 66). Em tom de recriminação ao trabalho infantil,
o enunciador pontua: ”
Não que ela reclame, mas a rotina é dura demais para
uma garota da idade dela!
”. Seu sonho é casar, ter filhos e “
nunca permitir
que eles trabalhassem nas ruas
”. E menina gosta deste período do ano justa-
mente por não precisar trabalhar.
Desde 2008, AT dedica uma seção fixa da revista
para reforçar o novo slogan “
Faça a diferença!
com depoimentos de quem faz a diferença para um
mundo melhor e de celebridades que apóiam tal
idéia. Na primeira edição os famosos descreviam
suas experiências e logo as leitoras passaram a ter
suas histórias publicadas com relatos sobre dife-
rentes trabalhos voluntários: distribuindo brinque-
dos a crianças carentes, promovendo campanhas
sobre reciclagem ou projetos para economizar
energia. Trata-se de uma forma alternativa de tra-
balho, um engajamento social sem remuneração
e realizado em paralelo às atividades escolares.
FIG.49 Trabalho em AT
FIG.50 Faça a diferença!
#092
A apologia ao trabalho também aparece na alusão das principais carreiras
desejadas entre as meninas. Dentre estas, estão as profissões de modelo e
atriz, ocupações exaltadas pelas revistas por materializar o desejo da fama
entre as adolescentes. Matérias sobre concursos, rotina de testes e cursos
reforçam o interesse da leitora na busca de visibilidade. Em dezembro de
1998, CP propôs um desafio para Fernanda Souza tornar-se modelo em duas
semanas. Para tal, a profissional da revista visitou agências, tirou fotos e deu
dicas para as “
muitas meninas que como você sonham em ser modelo
”.
FIG.51 Profissões dos sonhos
#093
O emprego perfeito resume-se a ter sucesso, visibilidade e uma conta
bancária farta, valores constantemente idealizados e reiterados como re-
sultado de muita dedicação e autoconfiança para seguir os sonhos. Logo, as
adolescentes passam a ambicionar obter a notoriedade das
celebridades como garantia de altos salários, mordomias e
reconhecimento social. “
Ser famoso
” torna-se
status
, um
sonho potencial que todos almejam alcançar.
Nesses sonhos,
ser famoso
não significa nada mais (mas
também nada menos!) do que aparecer nas primeiras pá-
ginas de milhares de revistas e em milhões de telas, ser
visto, notado, comentado e, portanto, presumivelmente
desejado por muitos assim como sapatos, saias ou
acessórios exibidos nas revistas luxuosas e nas telas de
TV, e por isso vistos, notados, comentados, desejados...
(BAUMAN, 2008: 21)
Segundo Herschmann e Pereira (2005: 21) vivemos a cul-
tura da “
alta visibilidade
”, na qual o “
ver e ser visto
” torna-se um imperativo.
Uma realidade cada vez mais pertinente às novas gerações, conforme atestou
uma pesquisa de 2006 da
Pew Research Center
, na qual 14% dos jovens entre
18 e 25 anos citaram as celebridades como modelos sociais na contempo-
raneidade, perdendo somente para as pessoas próximas como amigos ou
familiares. Esta mesma pesquisa verificou que “
ser rico
” e “
ser famoso
” estão
entre os dois grandes objetivos desta geração. Um outro estudo de 2008
feito pela
Redshift Research
para uma marca de sapatos inglesa,
Start-rite
Shoes
, mostrou que as crianças de 5 e 11 anos aspiram tornarem-se cele-
bridades ao invés de serem professores, enfermeiras e pilotos, conforme as
gerações de 25 anos atrás.
É neste contexto que as personalidades midiáticas são reiteradas como
parâmetro para as adolescentes com seus empregos dos sonhos. Entrevistas
e bate-papos destes famosos fazem menção ao início da carreira, dificuldades
da rotina de trabalho e ao quanto batalharam para conquistar notoriedade.
Neste caso, o sucesso é medido por novelas estreladas, prêmios recebidos,
quantidade de fãs e número de comunidades do
orkut
. Correr atrás dos
objetivos e acreditar nos sonhos são os grandes motes destas celebridades
retratadas de forma humanizada, aguçando os ideais de fama e estrelato
buscado pelas adolescentes.
Quero dizer a vocês, leitoras da todateen, muito obrigada por todo o amor,
todo o apoio que têm nos dado. Estudem, preparem-se para qualquer profissão
que queiram na vida. Muitas vezes, pensamos que o que queremos não pode
se realizar, mas pode sim. Não deixem de lutar pelo que querem (Dulce Maria,
AT8: 81)
FIG.52 Teste da fama em TT
#094
O sucesso também é uma forma para a menina “
se dar bem em tudo
” seja
nos estudos, nas amizades ou no amor. Com o título “
Só vai dar você
”, a
revista TT retratou este referencial em uma matéria com dicas para a ado-
lescente colecionar conquistas no ambiente colegial, sendo popular, atraindo
meninos lindos e tirando boas notas.
O trabalho também aparece nas editorias “
Fazer o quê?”
(CP), “
eu quero ser
(AT) e “
Pensando no futuro
” (TT), que auxiliam a adolescente a escolher um
curso no vestibular a partir de testes vocacionais e em matérias sobre as
diferentes profissões e o mercado de trabalho. Estas seções pautam futuras
possibilidades para a adolescência conquistar a independência financeira,
anseio constantemente expresso pelo ideal de conquistar um emprego dos
sonhos, morar sozinha e ter dinheiro para gastar como quiser.
FIG.53 Formas de se dar bem em TT
FIG.54 Guia profissional em AT, CP e TT
#095
O lazer durante o ano letivo está relacionado a atividades fora do âmbito
escolar e restrito a outros espaços de sociabilidade como shoppings, in-
ternet, festas e cinema. Já o hábito de viajar surge como fonte de diversão
para o período das férias. Nas edições de 1998, a seção “
Pé na estrada
” (AT)
mostrava locais turísticos e dava dicas para a adolescente tornar sua viagem
inesquecível. Outras matérias especiais também oferecem os atalhos para
a adolescente curtir este período de descanso escolar, com as dicas para a
menina “
aproveitar ao máximo
”, de preferência viajando e longe dos pais.
FIG.55 Lazer nas revistas
#096
Embora saúde perpasse todo o conteúdo da publicação, as pautas sobre o
tema aparecem em seções fixas dentro da editoria de beleza, evidenciando
a congruência desta temática em relação a valores estéticos. As matérias
exploram técnicas e lançamentos para o cuidado do corpo, seja através de
exercícios, métodos de beleza, de higiene ou dos cuidados com a alimen-
tação. Orientações imperativas salientando programas para a adolescente
desenvolver um corpo sadio e escultural para causar inveja entre as amigas e
chamar a atenção dos garotos.
Nas edições de 1998 havia uma maior preocupação com o hábito alimentar
das meninas, CP e AT traziam receitas passo a passo e dicas de alimentos
saudáveis para deixar as meninas “
muito mais bonitas
” e “
de bem com a
balança
”. As calorias eram sempre especificadas para instigar a adolescente a
controlar sua alimentação e, conseqüentemente, optar por escolhas menos
calóricas e mais benéficas que os preferidos
fast-food
.
Ao tematizarem a saúde as revistas adolescentes estabelecem uma conexão
com o discurso científico, construção que atribui autenticidade ao texto, já
que é necessário conhecimento específico para o sujeito negar ou desa-
fiar o enunciador (FAIRCLOUGH, 2001: 156). Para reforçar esta credibilidade
são introduzidos os especialistas ou “
tecnólogos do discurso
” (
Idem
: 264),
preferencialmente, médicos, nutricionistas e profissionais de educação física,
3.4
SAÚDE
FIG.56 Alimentação saudável
#097
registrando opiniões ou sendo somente objeto de consulta para a produção
da matéria.
CP recorre a esta estratégia de persuasão em
citações presentes na seção “
Mexa-se
”, com a
reprodução das falas de profissionais de educação
física, exaltando as vantagens dos exercícios físicos.
Os testes também auxiliam a definir o “
exercício
ideal
” a partir de perguntas que envolvem o com-
portamento da adolescente na fila do cinema ou na
praia. Respondendo ao questionário, a menina saberá
se deve praticar um esporte “
radical
”, uma atividade
energética
” em grupo, yoga para quem é “
zen
” ou
musculação para os “
hi-tech
”, que estão sempre com a
caba a mil
”.
Há uma predominância para o uso da “
interdiscursividade”
ou “
intertextuali-
dade constitutiva
” (FAIRCLOUGH, 2001: 114), propriedades dos discursos esta-
rem repletos de fragmentos de outros textos, principalmente em referências
implícitas à cultura da beleza, em termos e expressões como: “
trincar a bar-
riga
”, “
endurecer o bumbum
”, “
perder quilinhos
”, “
postura correta
”, “
gostosa
sensação
”, “
tonificar as perna
s”, “
acúmulo de gordura
”, “
gordura localizada
”,
benefícios aeróbicos
”, “
corpo durinho
”, “
gasto calórico
” e “
modela o corpo
”.
FIG.58 Saúde nas revistas
FIG.57 O exercício ideal em CP
#098
O cuidado também se estende aos pés, conforme a matéria “
Tudo pode dar
” de TT em dezembro de 1998, apresentando um léxico oriundo da fisiologia
e da terapia holística: “
pé plano
”, “
pé de pato
”, “
arco
”, “
metabolismo
”, “
equilí-
brio corporal
”, “
desvios de postura
”, ”
três pontos de apoio
”, “calosidades”,
“micoses”, “
glândulas
”, “
vísceras
”, “tensões musculares”, “
ansiedades
”, “
impac-
tos emocionais
” e “região pélvica”. São palavras que comprovam a conexão
da voz enunciada ao discurso científico, também elucidado por ilustrações,
para mostrar a forma correta da menina andar e ficar “
mais saudável
”.
O corpo não-saudável também é tematizado nas revistas adolescentes para
divulgar produtos, serviços e tratamentos. O discurso da doença era mar-
cado nas primeiras produções de 1998, pela associação ao consumo, seja no
tratamento das verrugas com o novo lançamento da farmácia de manipu-
FIG.59
Interdiscursividade
em TT
#099
lação Invitro ou por produtos que protegem contra os “
perigos do sol
”, como
bicho-geográfico ou conjuntivite, dicas que ensinam o que a menina “
[...]
precisa fazer para preservar seu corpo inteiro e continuar lindíssima
” (TT1:
30).
As construções discursivas atuais sobre o corpo doente primam também pela
citação dos especialistas, devidamente nomeados com titulações e órgãos
afiliados, para direcionar os sintomas, formas de prevenção e cuidados que
a adolescente deve ter para prevenir determinados males como o ovário
policístico ou a síndrome do pânico.
FIG.61 O corpo doente em pauta
FIG.60 Produtos e tratamentos para o corpo não-saudável
#100
Para dar veracidade, TT recorre ao contexto auto-refe-
rentes da mídia, na qual “
[...] os meios de comunicação
tornam-se seu próprio fim
” (ROCHA, 2006: 86). Trata-
se de uma estratégia de persuasão ao construir textos
que narrativizam a obras de ficção, dando autentici-
dade ao discurso. No caso, ao falar sobre a dislexia,
a revista utiliza o exemplo da personagem Clarissa da
novela
Duas Caras
da
Rede Globo
, interpretada pela
atriz Bárbara Borges, para explicar prognósticos e
serviços para tratar este distúrbio neurológico que
afeta a leitura e a escrita.
As doenças sexualmente transmissíveis e os méto-
dos contraceptivos entram em pauta nas matérias
de saúde sexual, com orientações de sexólogos, infectologistas e gi-
necologistas. Em CP, as celebridades incentivam o uso da camisinha em fotos
para a campanha “
Camisinha, tem que usar
”. Já AT dá voz a Valéria Piassa
Polizzi, uma jovem que contraiu AIDS aos 16 anos e escreveu a coluna “
papo
de garota
” entre 1998 e 2003, reforçando sobre o uso da camisinha e os pre-
conceitos de ser soropositivo no Brasil.
FIG.62 Mídia auto-referente
FIG.63 Saúde sexual
#101
As matérias sobre as mudanças hormonais incentivam a adolescente a com-
preender “
o que acontece no seu corpo e no corpo dele
” durante esta fase
da vida. A menstruação é o grande mal para as meninas, que precisam en-
carar este “
inimigo
” todo o mês, por isso, as revistas adolescentes produzem
matérias que auxiliam a “
enfrentar esse período da melhor maneira possível
”.
Entre os consultores, TT de junho de 2008 utilizou um gerente de
Women´s
Health
e
Intimacy Care
da empresa
Johson & Johson
, para assessorar na
escolha do “
absorvente ideal
” e “
diminuir o desconforto nesse período
”. Uma
evidência que ressalta o entrelaçamento entre o texto jornalístico e a publi-
cidade, hibridização salientada por Marshall (2003), visto no primeiro capítulo
desta pesquisa.
FIG.64 Transformações no corpo adolescente
#102
Bem-estar remete a uma felicidade idealizada, um bem viver associado ao
prazer, divertimento, satisfação, paz e segurança. Trata-se de um dos impera-
tivos da vida pós-moderna, que impele os sujeitos a alcançar “
alto astral
”,
equilíbrio de energia
” e “
alegria de viver
”. Uma filosofia de vida, por vezes, as-
sociada a contextos de sucesso e poder — seja financeiro, estético ou afetivo
—, e condicionada à adoção de certos modos de ser e fazer, com valores
individualistas determinando a construção do sujeito.
3.5
BEM-ESTAR
FIG.65 Bem-estar nas revistas
#103
As matérias buscam levar a adolescente a se conhecer melhor, desenvolver
uma boa-estima e exibir uma alegria digna de causar inveja entre as amigas
ou atrair os garotos. Tais práticas discursivas produzem ou transformam a
experiência que a adolescente tem de si mesma (LARROSA, 1994: 36), extrap-
olando os cuidados do corpo e da alma, à medida que a menina é instigada
também a transformar seu espaço para atrair “
boas energias
” ou “
viver
melhor
”.
Foucault (1990: 48) define estas manifestações como “
tecnologias do eu
”,
estratégias desenvolvidas para agir sobre o corpo, alma, pensamentos,
condutas e formas de ser do sujeito na busca pela felicidade. São discursos
que dão autonomia ao sujeito, indicando os passos para se atingir deter-
minado ideal e conferindo um aparente controle sobre sua vida social. O
indivíduo torna-se “
[...] ator, planejador, prestidigitador e diretor de cena de
FIG.66 Transformações para o quarto da adolescente
#104
sua própria biografia, identidade, redes sociais, compromissos e convicções
(BECK, 1997: 25).
A menina adolescente torna-se responsável pelo seu próprio bem-estar,
por buscar as formas de alcançar a felicidade. “
A identidade de uma pessoa
não se encontra no comportamento, nem nas reações dos outros, mas na
capacidade de manter em andamento uma narrativa particular
” (GIDDENS,
2002: 55). Esta busca autônoma difunde o conceito moderno de “
self-made
man
”, que experimenta “
livremente
” as narrativas identitárias buscando com-
preender quem é e o que deve fazer.
Os testes da mídia impressa surgem como alternativa para o autoconheci-
mento, rompendo com a dúvida existencial e falta de certezas que regem
a vida na pós-modernidade. São estratégias discursivas que incitam uma
FIG.67 O imperativo da felicidade
#105
liberdade ilusória do
eu
, ao permitir que a garota defina as experiências de si,
a partir das respostas às situações simuladas de um questionário, que pro-
move a garantia de uma vida melhor. Estes “
projetos reflexivos do eu
” (GID-
DENS, 2002:85), aparecem em todas as revistas adolescentes, incentivando a
menina a desenvolver a auto-estima e a auto-realização, referenciais ideali-
zados do bem-estar.
TT é a revista segmentada que mais valoriza a inserção destes testes de
auto-ajuda, com um total de 39 aparições entre os anos de análise do
corpus
. Conforme os anos e novos projetos gráficos, a revista aumentou
progressivamente o espaço para estas produções nas edições. Em 1998, TT
veiculava um teste por mês, elevando para três em 2003 e chegando a 11
questionários de autoconhecimento na edição de dezembro de 2008. Em
contrapartida, CP e AT apresentaram uma constância ao somar, respectiva-
mente, 16 e 11 aparições nas publicações analisadas.
Os testes visam responder perguntas sobre as experiências de si do sujeito,
como: “
Você acredita nas coisas?
” (CP6: 84), “
Você se dá valor?
” (TT8: 38) ou
Muito encanada?
”(TT9: 46). Na busca pela resposta e por seu referencial de
autoconhecimento, a menina precisa cumprir um questionário se-
cundário que leva a uma classificação entre possibi-
lidades pré-determinadas, geralmente um rol de três
preposições.
FIG.68 Testes de autoconhecimento
#106
Na busca dos significados de si, os testes exaltam a identidade “
sob rasura
(HALL, 2000: 104), já que não existe uma resposta plena ou um padrão de
autoconhecimento correto que não precise de revisão. Todas as tipificações
contêm pressupostos de incompletude, que salientam a necessidade de
adequação do sujeito. Independente da seleção há sempre uma orientação
motivacional, auxiliando a menina a atingir uma promessa de bem maior.
Em seu livro
Analysing discourse
, Fairclough (2003: 40), explora o conceito
de suposição, uma terminologia genérica para o teor implícito dos textos,
caracterizando uma forma de compreender os significados além do que é dito
e expresso literalmente no discurso, a partir da marcação de elementos léxi-
cos. O autor (2003: 55-56), distingue três tipos de suposições:
existenciais
,
proposicionais
e
morais
. As
existenciais
constróem pressupostos sobre o que
existe no mundo social, enquanto as
proposicionais
ou
factuais
falam sobre
o que é, pode ser ou vai ser, e, por fim, as
morais
, expressam o que é bom ou
desejável.
A partir destas constatações, foi observado que as suposições ou pressupos-
tos dos testes das revistas adolescentes, manifestam um juízo de valor, são,
portanto,
morais
por avaliar um referencial X e oferecer um desejável Y, na
garantia de uma vida melhor e feliz. Conseqüentemente, X precisa se adequar
a Y, mesmo que X seja exaltado como um elemento positivo. Qualquer X
sempre terá um Y pressuposto, ou seja, sempre haverá a possibilidade de “
eu
melhor
” no texto.
As orações abaixo foram selecionadas de um dos testes de autoconheci-
mento de TT, para mostrar como os pressupostos
morais
são articulados no
discurso das revistas adolescentes, julgando o comportamento das meninas
e apresentando modalizações ideais. Na análise dos significados implícitos,
cada marcação léxica de uma suposição foi salientada em negrito, enquanto
a promessa de um bem maior foi sublinhada.
(1) Sou ou não sou insegura? (TT1: 20)
(a) Insegurança que troco é esse?
Aproveite seu poder de iniciativa e seja muito feliz. não deixe o excesso de
confiança colocar você em lances enrolados, certo? Você não é insegura, mas,
como qualquer pessoa, precisa sempre parar pra pensar quando for tomar
uma decisão mais importante.
(b) Em cima do muro
Parece que você é insegura sim, mas tem cura! Basta colocar a cabeça no
lugar. O mais importante é saber identificar suas potencialidades e seus ta-
lentos naturais para ser a primeira a valorizar suas próprias características.
(c) Help! Insegurança máxima
Pára tudo! Você está com medo de quê, afinal? [...] Se for para viver insegura,
então é melhor nem sair de casa. E ficar trancada, sem ver ninguém, não
parece boa idéia, certo? Pense bem: você passa por uma das melhores fases
da vida e deve aproveitá-la ao máximo.
#107
Em (a) a menina é segura e pode aproveitar este “
poder de iniciativa
” para
ser “
muito feliz
”. O marcador “
” apresenta uma cautela para assertividade
anterior, já que pressupõe um comprometimento com a possibilidade deste
bem maior. Da mesma forma a conjunção adversativa “
mas
” expressa uma
contrariedade à condição de segurança, introduzindo determinada forma de
agir para alcançar o objetivo proposto. O mesmo ocorre em (b) ao prome-
ter a valorização de si e a “
cura
” da insegurança, a partir da adesão a um
modo de ser apresentado como “
mais importante
”. E por fim, (c) introduz
a possibilidade da menina aproveitar “ao máximo” “
uma das melhores fases
da vida
” a partir de pressupostos
proposicionais
. A conjunção condicionante
se
” e o advérbio “
então
” advertem para proposta do enunciador, na qual a
menina insegura nem deveria “
sair de casa
”. Um juízo de valor que pressupõe
que toda menina insegura deveria ausentar-se de convívio alheio, marcando
um referencial negativo implícito em consonância com as avaliações morais
explícitas: “
Pára tudo!
” e “
Pense nisso
”.
Além dos testes que promovem o autoconhecimento, as revistas adoles-
centes formatam campanhas para promover o bem-estar. Em 2008, AT
lançou a campanha “
Atrevida Butterfly
” sugerindo determinados valores e
comportamentos para a leitora ter uma imagem mais positiva de si mesma:
A cada edição uma matéria traz estratégias de investimentos narcisistas e
formas para a menina “
se dar bem
” junto a depoimentos de meninas que
aderiram ao programa. O selo “
Eu sou uma Atrevida Butterfly
” dá autentici-
FIG.69 Suposições em TT
#108
dade ao discurso imperativo: “
Basta tentar dar a volta por cima e deixar sua
auto-estima lá em cima, combinado?
” (ATREVIDA, 2008).
No mesmo ano, CP lançou o “
Manifesto Pink
”, uma campanha que promove
formas para quem quer mudar o mundo. “
Não se trata de enxergar o mundo
com lentes cor-de-rosa, não. Mas de transformar o pink em atitude. Em fazer
você querer mudar o mundo do jeito que achar melhor e mais important
e”
(CAPRICHO, 2008). Dentre as 15 prerrogativas de uma “
garota pink
” estão:
Amar a si mesma
”, “
Acreditar na paz
”, “
Estar sempre disposta a ajudar
”, “
Ser
otimista
”, “
Proteger o meio ambiente
” e “
Correr atrás do seu sonho
”.
Estes projetos criam uma ilusão de ação em coletividade por fomentar uma
adesão grupal, a disseminação de um bem-estar conjunto, mas em pauta es-
tão os tradicionais apelos a “
transformações de si”
individualizantes da pós-
modernidade. Dentro destas construções discursivas, é recorrente a alusão a
uma facilidade em aderir aos programas propostos e a supressão da “
neces-
sidade latente
” da adolescência pelo gozo ilimitado, promessa que se mostra
efêmera e renovável a cada nova edição.
#109
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa procurou refletir sobre os significados da adolescência traçado
pelo discurso midiático das revistas
Capricho
,
Atrevida
e
Todateen,
no con-
texto histórico pós-moderno brasileiro. Para tal, recorremos à crítica ex-
planatória apresentada por Lilie Chouliaraki e Fairclough (1999: 60), uma
metodologia que estratifica os fenômenos sociais em cinco etapas na busca
de seus significados mais profundos. Essa teoria salienta que toda análise
crítica do discurso deve ser iniciada primeiramente pela “
percepção de um
problema
”, fase apresentada na introdução desta pesquisa, na qual foram
apresentados os questionamentos sobre a interferência da mídia na constitu-
ição de sujeitos em formação, portanto, mais suscetíveis a influrências sociais
diversas.
Na continuação das etapas, os estudos devem averiguar os “
obstáculos para
que o problema seja superado
”, postulado, neste caso, observado pelas
transformações da pós-modernidade, configurando um contexto permeado
por uma profusão de discursos mediando a experiência dos sujeitos na con-
temporaneidade. Para Chouliaraki e Fairclough, esta fase da pesquisa deve ser
subdividida em três focos: “
análise da conjuntura
”, “análise da prática par-
ticular” e, “
análise de semiose
”. Para a “análise da conjuntura” abarcamos os
conceitos e significados que consolidaram a imagem da adolescência na atual
sociedade, apresentados no capítulo 2. Já na “
análise da prática particular
” e
na “
análise de semiose
” investigamos as especificidades das revistas adoles-
centes e os efeitos de sentido produzidos por seus textos midiáticos, destrin-
chados no capítulo 1 e 3.
#111
#112
O arcabouço metodológico propõe também a observação das “
funções do
problema na prática
”, ou seja, uma avaliação das potencialidades deste as-
sessoramento da mídia, para que sejam apresentadas as possibilidades de
mudança, ou “
maneiras de superar os obstáculos
”. Por fim, a critica ex-
planatória salienta a necessidade de uma “
reflexão sobre a análise
”, a última
etapa desta teoria crítica que visa produzir questionamentos eficazes para os
problemas aludidos. Estas proposições serão apresentadas nestas conside-
rações finais, que aqui seguem.
Partindo destas premissas, podemos observar que as publicações em análise
não foram vistas como meros materiais lingüísticos e de entretenimento,
mas como um processo e um produto social ideologicamente marcado e
engendrado por relações de poder que criam possibilidades de identificação,
apoio psicológico e sentimentos de pertencimento. Para tal, estas produções
apresentam ideários da adolescência feminina, organizando a visão deste
segmento e suas formas de ser na sociedade contemporânea.
É válido salientar a separação entre a prática discursiva e a prática social. As
revistas segmentadas fazem uma construção particular do significado “ser
adolescente” na pós-modernidade, não correspondendo a uma visão inte-
gral ou uma “
verdade absoluta
” da adolescência brasileira. Até porque, como
vimos, este é um grupo social múltiplo e heterogêneo, reconhecido enquanto
[...] atores dinâmicos da sociedade e com potencialidades para responder
aos desafios colocados pelas inovações tecnológicas e transformações
produtivas
” (ABRAMO, 2005: 21). Para que estas possibilidades da adolescên-
cia das revistas sejam concretas, torna-se necessário à aceitação do con-
trato de comunicação das publicações, a adesão às modulações propostas e
renovados a cada edição.
Dentre as questões traçadas para guiar esta dissertação estava a necessi-
dade de compreender os elementos discursivos utilizados pela mídia impressa
para construir os referenciais da adolescência. Verificou-se a utilização de
recursos intimistas, sugerindo envolvimento emocional com a leitora a partir
de um tom informal carregado de marcas de oralidade. Uma das estratégias
discursivas do enunciador que cria um vínculo com a leitora, como se fossem
grandes amigos, indivíduos que vivenciam as mesmas agruras e expectativas
da adolescência. Fator que possibilita a interferência da mídia nos processos
de identificação da menina, incitando à adesão às ordens e conselhos traça-
dos a cada página.
Este envolvimento do enunciador foi reconhecido desde as primeiras publi-
cações de 1998, que mostravam um desdobramento em CP e TT, principal-
mente nas edições de 2008, quando os textos midiáticos tornaram-se ainda
mais pessoais, com impressões e gostos do enunciador, anteriormente restri-
tos aos editoriais. Um legítimo afastamento dos referenciais de imparcialidade
#113
do jornalismo, que buscava uma produção isenta e ética.
As construções identitárias são fortemente ligadas ao discurso de outras
esferas sociais, principalmente da cultura do consumo. O
interdiscurso
(FAIR-
CLOUGH, 2001: 151) da prática do jornalismo e a publicidade interpelam o su-
jeito e motivam o consumo como garantia de felicidade e sucesso, tal como
as celebridades, amplamente reverenciadas pelas publicações por concretiza-
rem o ideário adolescente na contemporaneidade. As revistas instigam sobre
o que a adolescente precisa ter, saber, fazer e falar para ser linda e famosa
como a cantora Sandy ou a atriz Isis Valverde.
Esta relação entre cultura da mídia e cultura do consumo simula um iguali-
tarismo do sujeito (TAVARES, 2005: 2): os dilemas da adolescência são uni-
versalizados, como se todos adolescentes passassem pelos mesmos proble-
mas e alegrias. Esta padronização torna-se necessária para a promoção das
soluções
”, em termos de consumo material ou simbólico, aludidas como
fonte de diferenciação social. “
Consumir é participar de um cenário de dispu-
tas por aquilo que a sociedade produz e pelos modos de usá-lo
”. (CANCLINI,
1999, p. 62). Trata-se de contradição encontrada nas revistas e ironizada por
Rocha, em seu artigo
Fale com elas
analisando a publicação
Capricho
:
Seja diferente, seja capaz de mixar estilos, exatamente como o fazem as fa-
mosas. Aquelas mesmas que só estão na moda por serem perfeitamente dif-
erentes. E perfeitamente iguais nesta diferença. Seja diferente. Para ser você
mesma. Igual àquelas tantas outras que, como você, são diferentes (ROCHA,
2006, 87)
Ao mesmo tempo que salientam a alegria e o contentamento pelo consumo,
estas produções criam ansiedades e angústias. Um contexto de exclusão seja
para o adolescente que não é capaz de adquirir tais bens e serviços, como
também daquele que consome, mas depara-se com a provisoriedade do seu
gozo, estendida somente até a próxima edição, na qual identidades novas
serão exaltadas, obrigando o desapego, algo constante nessa cultura que
envolve, sobretudo, o esquecimento (BAUMAN, 1998: 90).
Outro questionamento que motivou esta investigação propunha analisar as
práticas e valores exaltados pelas publicações adolescentes, detalhamento
apresentado no capítulo 3, evidenciando o retrato de uma figura adolescente
poderosa e regida por imperativos individualistas que pregam a juventude, in-
dependência financeira, sucesso e o bem-estar físico e emocional, sendo que
o bem-estar físico compreende tanto a saúde e a qualidade de vida quanto o
discurso da beleza e da moda, regendo padrões de transformação do corpo e
da alma.
Nesta etapa foi possível observar recorrências e polaridades entre as publi-
cações. No decorrer dos anos, CP e AT foram sedimentando construções
identitárias da adolescente cada vez mais preocupada com a aparência e com
#114
o consumo das últimas tendências do mundo
fashion
. CP introduziu este
retrato da adolescência em 2003, enquanto AT começou a disseminar estes
significados a partir de 2008. São referenciais de identidade autoconfiantes
e autênticos, próximo ao léxico das publicações, que gostam de estar entre
amigas e não se constrangem ao falar sobre assuntos tabus como sexo e
drogas.
Embora as primeiras produções de TT buscassem uma adolescente próxima
aos referenciais de CP e AT, a reformulação de 2003 foi fundamental para a
revista diferenciar-se ao disseminar identidades mais românticas e tímidas,
que acima de tudo sonham em conquistar um príncipe encantado tal como
se vê nos filmes e nas novelas. São construções de uma adolescente mais
submissa à opinião masculina, em processo de autoconhecimento e que
busca por um destaque social nem que seja entre o grupo de amigas, já que
não figura entre os populares da escola.
Torna-se importante frisar que a adolescência remete a uma fase pontual
para a formação do
eu
do sujeito, marcada pela repulsa aos valores da in-
fância e insegurança frente às possibilidades independentes da vida adulta.
O problema da construção identitária da mídia adolescente reside no fato
de ser um segmento aberto a inovações e a movimentos de transformação
(ABRAMO, 2005: 26). Trata-se de um grupo social sem receio de experi-
mentar as possibilidades da vida pós-moderna, fator que exige uma parcela
de maturidade, seja para aderir de forma consciente aos apelos sedutores
da cultura do consumo, ou para processar os sentimentos de incerteza e
insatisfação diante da efemeridade das identidades disseminadas na contem-
poraneidade.
Segundo Isolda Günter (1999: 87-90), os meios de comunicação devem ser
incluídos entre os fatores que levam a adolescente a sentir-se sozinha, frágil
e depressiva na sociedade atual, motivando, inclusive, o uso de drogas ou
à ideação suicida. Nessa linha, ao mediar a experiências do sujeito na pós-
modernidade, a mídia torna-se tanto responsável pela construção da ado-
lescência quanto pelos males por ela internalizados.
Estas conclusões colocam em pauta os conceitos de Fischer sobre os “
dis-
positivos pedagógicos da mídia
” (1996, 1997, 2002) e a “
mídia performativa
(Prado, 2005). Longe de entender unilateralmente a força da mídia, ambos
os autores retratam as marcas discursivas que remetem à participação e ao
poder dos meios de comunicação na vida dos sujeitos na contemporaneidade
sob influência de Foucault e Austin, respectivamente. O diferencial surge da
postura crítica de Prado, salientando o papel persuasivo da mídia ao sugerir
o que o sujeito deve querer e acreditar atrelado aos valores da cultura do
consumo.
Fischer introduz o conceito de “
ação pedagógica
” da mídia ao propor a utili-
zação dos meios de comunicação como material didático nas escolas, à me-
dida que facilitam a constituição do sujeitos na contemporaneidade, gerando
conhecimento, instruindo os saberes e balizando o comportamento dos
cidadãos (FISCHER, 2002: 54). Por ser um período de descobertas e de trans-
formações, é comum o adolescente ter muitas dúvidas e por vezes sentir-se
intimidado a expô-las a pais e educadores, possibilitanto que a revista sane
tais intimidades, principalmente nas matérias sobre o relacionamento afetivo
e sexual.
Por mais que este assessoramento seja plausível, acredito ser uma proposta
frágil de educação a partir de modelos de consumo. Para tal, atrelada ao
posicionamento crítico de Prado, proponho um avanço à sugestão de Fischer,
salientando não somente a utilização da mídia como material didático, mas
como disciplina nas escolas. Trata-se da inserção fixa no currículo estudantil
de uma matéria voltada exclusivamente ao estudo das mídias. Como a cul-
tura midiática atua sobre as identificações de sujeitos na pós-modernidade,
nada melhor do que inseri-la no cotidiano, permitindo que cada um, neste
caso o adolescente, possa desenvolver uma visão crítica consciente sobre
os discursos interpelativos da mídia, seus ideários e apelos mercantilistas.
Uma possibilidade mais viável frente a uma luta de poderes desigual entre o
cidadãos e os conglomerados midiáticos lucrativos.
#115
ABRAMO, H. W. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil.
Revista Brasileira de Educação
, São Paulo, n.5-6, p.25-36, 1997.
______.
Cenas juvenis : punks e darks no espetáculo urbano
. São Paulo: Scritta,
2004.
______. O uso das noções de adolescência e juventude no contexto brasileiro. In:
FREITAS, M. V. de.
Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais.
São
Paulo: Ação Educativa, 2005.
ABERASTURY, Arminda. KNOBEL, Maurício.
Adolescência normal. Um enfoque psica-
nalítico.
Porto Alegre: Artes médicas, 1992.
BAUMAN, Zygmunt.
Modernidade e Ambivalência
. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1998.
______.
Identidade: entrevista à Benedetto Vecchi.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2005.
______.
Modernidade Líquida
. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
______.
Comunidade
. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
______.
Vidas para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria
. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
BECK, Ulrich. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva.
In: BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony & LASH, Scott.
Modernização reflexiva: política,
tradição e estética na ordem social moderna.
São Paulo: UNESP, 1997.
BOCK, A. M. B. & LIEBESNY, B. Quem eu quero ser quando crescer: um estudo sobre
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
#117
o projeto de vida de jovens em São Paulo. In: OZELLA, S. (Org.)
Adolescências con-
struídas – a visão da psicologia sócio-histórica.
São Paulo: Cortez, 2003.
BOCK, Ana Mercês Bahia. A adolescência como construção social: estudo sobre
livros destinados a pais e educadores.
Revista Semestral da Associação Brasileira de
Psicologia Escolar e Educacional.
v. 11, n 1, p. 63-76, janeiro/junho, 2007.
BORELLI, S. H. S. FREIRE FILHO, J. B. M. Cenários Juvenis, adultescências, juveniliza-
ções: a propósito de Harry Potter. In: BORELLI, Silvia H. S.; FREIRE FILHO, João. (Org.).
Culturas Juvenis no Século XXI
. São Paulo: EDUC - Editora da PUCSP, 2008, p. 59-78.
BORGES, Luís Fernando Rabello.
O processo Inicial de Formulação de Produtos de
Mídia Impressa Brasileira Voltados ao Público Jovem – um estudo de caso da revista
Pop.
2003. 215f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - UNISINOS, 2003.
BOURDIEU, Pierre. A juventude é apenas uma palavra. In:
Questões de sociologia.
São Paulo: Marco Zero, 1983.
BUITONI, Dulcília Schoeder.
Mulher de Papel.
São Paulo: Edições Loyola, 1981.
BUITONI, Gian Luigi.
Vendendo sonhos: como deixar qualquer produto irresistível.
São Paulo: Negócio, 2000.
CALLIGARIS, C.
A sedução dos jovens.
Folha de S.Paulo, Caderno Mais!,São Paulo. 20
set. 1998. p.5
______.
A adolescência.
São Paulo: Publifolha, 2000.
CAMPOS, M. T. C. A Mitos da Mídia.
E-com Revista Científica do Departamento de
Ciências da Comunicação.
Belo Horizonte, v.2, n.2, nov. 2008.
CANCLINI, Néstor García.
Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais na glo-
balização.
Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1999.
CASTELLS, Manuel.
O poder da identidade.
Coleção A Era da Informação: Economia,
Sociedade e Cultura, Volume 2.São Paulo: Paz e Terra, 2000.
CHARAUDEAU, P.
Discurso das mídias
. São Paulo: Contexto, 2006.
Chouliaraki, L., & Fairclough, N.
Discourse in Late Modernity: Rethinking critical
discourse analysis.
Edinburgh, UK: Edinburgh University Press, 1999;
CURRIE, Dawn H.
Girl Talk: Adolescent Magazines and Their Readers.
Toronto: Uni-
versityof Toronto Press, 1999.
DARRIBA, V. e CASTRO, L. R. Construções identitárias e a busca da felicidade na
cultura de consumo. In: CASTRO, L. R. (org.)
Infância e adolescência na cultura do
consumo.
Rio de Janeiro: NAU, 1998, p.105-124
DEBORD, Guy.
A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espe-
táculo.
Rio de Janeiro, RJ: Contraponto, 1997.
DO CARMO, Paulo Sergio.
Cultura da Rebeldia: a juventude em questão.
São Paulo:
Editora Senac, 2001.
ERIKSON, Erik H.
Identidade, juventude e crise.
Rio de Janeiro: Zahar editores, 1976.
#118
ESPOSITO, Linda.
The Culture of Adolescence.
Home Health Care Management &
Practice, Vol. 12, N. 5, 34-39, 2000.
FAIRCLOUGH, N.
Language and power.
Harlow: Longman, 1989.
______.
Media discourse.
London: Edward Arnold, 1995.
______.
Discurso e mudança social.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
______.
Analysing discourse: textual analysis for social research.
London; New York:
Routledge, 2003.
FEATHERSTONE, Mike.
Cultura de consumo na pós-modernidade.
Rio de Janeiro:
DP&A, 2003.
FEIXA, Carles. O quarto dos adolescentes na era digital. In: COSTA, Márcia Regina
da; SILVA, Elizabeth Murilho da. (Orgs.).
Sociabilidade juvenil e cultura urbana.
São
Paulo: Educ, 2001. p.79-110.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. O estatuto pedagógico da mídia: questões de análise.
Educação & Realidade
. Porto Alegre, UFRGS/FACED, v. 22, n. 2, jul./dez., 1997 p. 59-
79.
______. Problematizações sobre o exercício de ver: mídia e pesquisa em educação.
Revista Brasileira de Educação.
Rio de Janeiro, n. 20, 2002.
FONTENELLE, Isleide.
O nome da marca: McDonald’s, fetichismo e cultura descartáv-
el.
São Paulo: Boitempo/ Fapesp, 2002.
______. Consumidor: um sujeito proteu? In: Denise M. Ziliotto. (org.).
O consumidor:
objeto da cultura.
Petrópolis:RJ: Vozes, 2003 , p.102-119.
FREIRE FILHO, João. Em cartaz, as garotas superpoderosas: a construção discurisva
da adolescência feminina na revista Capricho.
Revista Fronteiras.
São Leopoldo, v.
VIII, n. 2, p. 102-111, maio/ago. 2006.
______. LEMOS, João Francisco de. Imperativos de conduta juvenile no século XXI: a
“Geração Digital” na mídia impressa brasileira.
Comunicação, mídia e consumo.
São
Paulo. vol. 5, n.13 p. 11-25 jul. 2008.
FROTA, A.M.M.C. Diferentes concepções da infância e adolescência: a importância da
historicidade para sua construção.
Estudos e Pesquisas em Psicologia,
EFRJ, RJ, Ano
7, N. 1, 1º semestre de 2007.
FOUCAULT, Michel.
Tecnologias del yo; y otros textos afines.
Barcelona: Paidós, 1990.
FUREDI, Frank.
“Não quero ser grande”.
Folha de São Paulo. Caderno Mais!. São
Paulo, 25 jul. São Paulo. 2004. 4-7p
GABLER, Neal.
Vida – O Filme: como o entretenimento conquistou a realidade.
São
Paulo: Companhia das Letras, 1999.
GALVÃO, Danielle Pini.
Confissões de adolescentes: criando identificação do tel-
espectador e discutindo temas polêmicos.
2008. 158p Dissertação de Mestrado em
Comunicação e Semiótica, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2008
#119
GIDDENS, Anthony.
Modernidade e Identidade.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2002.
GOBBI, Maria Cristina.
Na trilha juvenil da mídia impressa: identificação, perfil e
análise dos suplementos para jovens veiculados nos jornais diários do Brasil.
1999.
329f. Dissertação do Mestrado em Comunicação Social - Umesp São Bernardo do
Campo, 1999.
GONZÁLEZ, Germán Mûnoz. El consumo juvenil en la sociedade mediática.
Comuni-
cação, Mídia e Consumo
/Escola Superior de Propaganda e Marketing. v.5. n.12, p.57
-75, mar 2008.
GREGOLIN, Maria. Análise do discurso e mídia: a (re)produção de identidades.
Comunicação, mídia e consumo.
São Paulo. vol. 4, n.11 p. 11 - 25 nov. 2007.
GROPPO, Luís Antônio.
Juventude: Ensaios sobre Sociologia e História das Juven-
tudes Modernas.
Rio de Janeiro: DIFEL, 2000.
GÜNTER, Isolda de Araújo. Adolescência e projeto de vida. In: Brasil - Ministério da
Saúde. Cadernos da juventude, saúde e desenvolvimento. Brasília: Ministério da
Saúde v.1, p.86-92, 1999.
HACK, Cássia.
Lazer e Mídia em Culturas Juvenis: uma abordagem da vida cotidiana.
Dissertação Mestrado em Educação Física. 197f. Florianópolis, Centro de Desportos/
Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.
HALL, Stuart.
A identidade cultural na pós-modernidade.
4 ed. Rio de Janeiro: DP&A,
2000.
HALLIDAY, M.A.K. & MATTHIESSEN, Christian M.I.M.
Construing experience through
meaning: a language-based approach to cognition.
London: Cassell, 1999
HALLIDAY, M.A.K. An introduction to Functional Grammar. 2nd Ed. London: Edward
Arnold,1994.
HEBERLE V. M. Revistas para mulheres no século 21: ainda uma prática discursiva de
consolidação ou de renovação de idéias?
Revista Linguagem em (Dis)curso
, volume
4, número especial, 2004 85-112
HERSCHMANN, Micael. PEREIRA, Carlos Alberto M.(orgs.)
Mídia, Memória & Cele-
bridades.
Rio de Janeiro: Ed. EPapers, 2005
HOBSBAWN, E.
A era dos extremos – o breve século XX (1914 – 1991).
São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
KEHL, M. R.
A “teenagização” da cultura.
Folha de S. Paulo, Caderno Mais! p.7, set.
1998
______. Juventude como sintoma da cultura. In: NOVAES, R. & VANNUCHI, P.
Juven-
tude e Sociedade.
São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2004.
KELLNER, Douglas.
A cultura da mídia.
Bauru: Edusc, 2001.
______. A cultura da mídia e o triunfo do espetáculo. In: MORAES, Dênis de (org).
Sociedade midiatizada.
Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
#120
KLEIN, Naomi.
Sem Logo - a Tirania das Marcas em um Planeta Vendido.
São Paulo:
Editora Record, 2002.
KNOBEL, M. Introdução. In: ABERASTURY, Arminda. KNOBEL, Maurício.
Adolescência
normal. Um enfoque psicanalítico.
Porto Alegre: Artes médicas, 1992b.
LAKOFF G. JOHNSON, M.
Metáforas da vida cotidiana.
Campinas: EDUC, 2002.
LARA, Marcos Rodrigues.
Jovens urbanos e o consumo na cultura do desapego.
XXX
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (INTERCOM). Santos-SP, 2007.
LARROSA, Jorge Tecnologias do eu e educação. In: SILVA, Tomaz T. da (org.)
O sujeito
da educação - estudos foucaultianos.
Petrópolis, Vozes, 1994. p. 35-86.
LEFEBVRE, Henri.
A vida cotidiana no mundo moderno.
São Paulo: Ática, 1991.
LEVI, Giovanni e SCHMITT, Jean-Claude .
História dos jovens – 2ª época contem-
porânea.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
LIMA, Paula Linz Costa. Metáfora e linguagem. In: MORAES FELTES, Pedroso (org).
Produção de Sentido: estudos transdisciplinares.
Caxias do. Sul; S. Paulo: EDUCS/
Annablume, 2003. p.155-180.
LIMA-LOPES, Rodrigo Esteves.
Revista Brasileira de Linguística Aplicada.
Belo Hori-
zonte: Letras UFMG, v.8, n.1, p.35-69, 2008.
LOPES, Paulo Fernando de Carvalho. A notícia como produtora de sentidos.
Revista
UNIrevista.
São Leopoldo: Unisinos, v. 1, n.3, julho, 2006.
MAIRA, Sunaina. SOEP, Elisabeth. United States of Adolescence? Reconsidering US
Youth Culture Studies.
Young,
vol. 12, n. 3, 245-269, 2004.
MAFFESOLI, Michel.
O Tempo das Tribos.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.
MATHEUS, T. C.
Ideais na adolescência: falta (d)e perspectivas na virada do século.
São Paulo: Annablume/Fapesp, 2002.
______.
Adolescência: história e política do conceito na psicanálise.
1. ed. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2006.
MARGULIS, Mario. URRESTI, Marcelo.
La juventud es más que uma palabra.
Buenos
Aires: Biblos, 1996.
MARGULIS, M. Juventud: una aproximación conceptual. In: BURAK, S.
Adolescencia y
Juventud en America Latina.
Cartago, Costa Rica: L.U.R., 2001.
MARSHALL, Leandro.
O jornalismo na era da publicidade.
São Paulo: Summus, 2003.
MARTIN, Jim ROSE, David.
Working with discourse: meaning beyond the clause.
Lon-
don, New York: Continuum, 2003.
MEAD, M.
Adolescência y cultura en Samoa.
Buenos Aires: Paidós. 1974
MEIO & MENSAGEM.
Edição Especial Revistas. São Paulo, 24 mar. 2008.
MEURER, J. Uma dimensão crítica do estudo de gêneros textuais. In: MOTTA-ROTH,
#121
D. (Org.).
Gêneros textuais.
Bauru: Edusc, 2000.
MIRA, Maria Celeste.
O leitor e a banca de revistas. A segmentação da cultura no
século XX.
São Paulo: Olho d’Água/ Fabesp, 2001.
MORAES, Denis de.
O Planeta Mídia: tendências da comunicação na era global.
Campo Grande: Letra Livre, 1998.
MORIN, Edgar.
O espírito do tempo: neurose.
Rio de Janeiro: Rodende Universitária,
1987.
MOSES, Elissa.
The $100 Billion Allowance: Accessing the Global Teen Market.
John
Wiley & Sons: New York, 2000.
MOSTAFA, S. P. Contrapontos na contrapontos produção científica da ANPED e
Intercom.
Contrapontos: revista de educação da universidade do vale do itajaí.
Itajaí.
v. 3, n. 2, p. 273-281, mai./ago, 2003.
NOVAES, Regina. Os jovens de hoje: contextos, diferenças e trajetórias. In: ALMEIDA,
Maria Isabel Mendes; EUGENIO, Fernanda. (Orgs).
Culturas Jovens: novos mapas do
afeto.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 105- 120.
ORTEGA Y GASSET, J.
A rebelião das massas.
Livro Íbero - Americano. Rio de Janeiro,
1971.
OSÓRIO, L. C.
Adolescente hoje .
Porto Alegre: Ed. Artes médicas,1989.
ORTIZ, Elaine. SANTORO, A.
Infotenimento nas revistas de interesse geral: ação dos
jornalistas e aplicação da atualidade nas matérias de comportamento das revistas
Época e Veja.
In: XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudestes,
2008, São Paulo: Intercom, 2008.
PAIS, Jose Machado.
Culturas juvenis.
Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda,
2003.
PASSERINI, Luisa. A juventude, metáfora da mudança social. Dois debates sobre os
jovens: a Itália fascista e os Estados Unidos da década de 1950. In: LEVI, Giovanni e
SCHMITT, Jean-Claude (Org.)
História dos jovens,
vol.2. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996.
POSTMAN, N.
O desaparecimento da infância.
Graphia, Rio de Janeiro, 1999.
PRADO, J. L.A. O leitor infiel diante dos mapas da mídia semanal performativa.
Re-
vista Fronteiras – Estudos Midiáticos.
São Leopoldo: v. 7, n. 1, p. 39-46, 2005.
______. Regimes cognitivos e estésicos da era comunicacional: da invisibilidade de
práticas à sociologia das ausências.
Comunicação, Mídia e Consumo.
São Paulo, v.
3, n. 8, p. 11-32, 2006.
______. Programas cognitivos e passionalização do consumo nos media e na publi-
cidade.
Comunicação, Mídia e Consumo.
São Paulo: v. 5, p. 87-101, 2008.
RAMONET, Ignácio.
A tirania da comunicação.
Petrópolis: Editora Vozes, 1999.
REGUILLO, R. Las culturas juveniles, um campo de estúdio: breve agenda para la
discusión.
Revista Brasileira de Educação,
Rio de Janeiro, n. 23, maio/ago., 2003.
#122
REGUILLO, R. (2000).
Emergencia de culturas juveniles. Estrategias del desencanto.
Buenos Aires: Norma.
REIS, Vânia. Juventude e Juventudes. In: NOVAES, Regina e VANNUCHI, Paulo (org).
Juventude e Sociedade: trabalho, educação, cultura e participação.
São Paulo: Edi-
tora Fundação Perseu Abramo, 2004.
ROCHA, Rose. Cenas urbanas e culturas juvenis: cidade, consumo e mídia no Brasil
de 60 e 70. IX Congresso da ALAIC, Monterrey, 2008.
______. Fale com eles: mídia jovem e visibilidade juvenil.
Comunicação & Educação,
v.
11, n. 1, 2009.
SANTAELLA, Lucia.
Semiótica Aplicada.
São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
SARLO, Beatriz.
Cenas da vida pós-moderna: intelectuais, arte e videocultura na
Argentina.
2ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.
SCALZO, Marília.
Jornalismo em Revista.
São Paulo: Contexto, 2003.
SERRA, P. In: PEDROSO, M. G.; MARTINS, R. (Org.).
Admirável Mundo MTV Brasil.
São
Paulo, Saraiva, 2006.
SIBILIA, Paula.
O show do eu.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
SIQUEIRA, Antonio Carlos Barroso.
Segmentação de mercados industriais.
São Paulo;
Atlas, 1999.
SOARES, Rosangela. Adolescência: monstruosidade cultural?
Revista Educação &
Realidade.
Produção do Corpo: Porto Alegre, v.25, n.2, p.151-159, jul-dez 2000.
SOUZA, Janice Tirelli Ponte de.
Reinvenções da utopia: a militância política dos jovens
nos anos 90.
São Paulo: Hacker Editores, 1999.
TAVARES, Fred.
Discurso publicitário e consumo: uma análise crítica.
Rio de Janeiro:
E-papers, 2005.
TRIGO, L. G. G.
Entretenimento: uma crítica aberta.
São Paulo: Senac, 2003.
THOMPSON, G.
Introducing functional grammar.
London: Edward Arnald, 1996.
WOLF, Michael J.
The entertainment economy. How mega-media forces are trans-
forming our lives.
New York: Crown Publishing Group, 1999.
Referências
online
:
ANATEC.
Disponível em: http://www.anatec.org.br/pagina_geral.asp?ID=389 Acesso:
10/12/2008.
ALTO ASTRAL EDITORA.
Disponível em: altoastral.com.br/site/publicidade_interna.
php?id=54 Acesso: 12/09/2008.
ATREVIDA. Disponível em: atrevida.uol.com.br. Acesso: 15/09/2008.
CAPRICHO. Disponível em: www.capricho.abril.com.br. Acesso: 15/09/2008.
#123
EDITORA SÍMBOLO. Disponível em: www.simbolo.com.br Acesso: 02/10/2008.
IBGE - DEPARTAMENTO DE POPULÃO E INDICADORES SOCIAIS.
População Jo-
vem no Brasil.
Rio de Janeiro: IBGE, 1999. Disponível em: www.ibge.com.br. Acesso:
20/05/2008.
IBOPE/ NetRatings.
Disponível em: www.ibope.com.br Acesso: 03/12/2009
MANUAL DO JOVEM CONSUMIDOR.
Disponível em: www.procon.sp.gov.br/categoria.
asp?id=869 Acesso: 12/12/2009
MEMÓRIA GLOBO.
Disponível em: http://memoriaglobo.globo.com. Acesso:
03/04/2009.
TODATEEN.
Disponível em: uol.com.br/todateen Acesso: 15/07/2008.
PEW RESEARCH CENTER.
A portrait of “generation next”.
Washington, D.C.:
PRC, 2007. Disponível em: http://people-press.org/reports/pdf/300.pdf Acesso:
28/01/2010.
PORTAL DA PROPAGANDA.
Disponível em: www.portaldapropaganda.com.br/portal/
propaganda/392-todateen-tem-recorde-de-publicidade-e-traz-guia-especial-de-
beleza.html Acesso: 28/01/2009.
PUBLIABRIL.
Disponível em: www.publicidade.abril.com.br. Acesso: 07/07/2008.
REDSHIFT RESEARCH.
Celebrity craze impacts british children.
RR: London, 2008.
Disponível em: www.startriteshoes.com/retail/econtent/press/full_size/cf34b8-
cbd7b5be825166df4466fe0ea1.pdf Acesso: 07/01/2010.
STONE, Brad.
The Children of cyberspace: of fogies by their 20s
. In: New York Times.
Disponível em: www.nytimes.com/2010/01/10/weekinreview/10stone.html Acesso:
28/01/2010.
Revistas Pesquisadas:
ATREVIDA.
São Paulo: Símbolo Editora e Comunicação Integrada S/A. ISSN 0104-
1604/ Edições: 41, 46, 52, 101, 106, 112, 161, 166, 172
CAPRICHO.
São Paulo. Editora Abril S/A. ISSN 0008-5944/ Edições: 774, 785, 799,
905, 915, 930, 1036, 1046, 1060
TODATEEN.
Bauru: Editora Alto Astral. ISSN 1413-2125/ Edições: 26, 31, 37, 91, 97, 146,
151, 157
#124
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo