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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CÍCERO FERNANDES ALMEIDA VIEIRA
SENSIBILIDADE DO MODELO WAsP AOS EFEITOS
DA ESTABILIDADE ATMOSFÉRICA NO NORDESTE
DO BRASIL
FORTALEZA - CEARÁ
2008
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CÍCERO FERNANDES ALMEIDA VIEIRA
SENSIBILIDADE DO MODELO WAsP AOS EFEITOS
DA ESTABILIDADE ATMOSFÉRICA NO NORDESTE
DO BRASIL
Dissertação submetida à Coordenação do Mestrado em
Ciências Físicas Aplicadas, da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau
de Mestre em Ciências Físicas Aplicadas.
Orientador: Prof. Dr. Emerson Mariano da Silva.
FORTALEZA - CEARÁ
2008
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2
3
Dedico este trabalho a minha mãe,
Raimunda Almeida Vieira, por sua lição
de vida, e por sempre ter me mostrado
que o estudo é o caminho mais seguro
para se atingir um objetivo e uma vida
melhor.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço a uma pessoa muito especial, Daiana Cardoso Oliveira, por todo
amor, dedicação e compreensão, em todos os momentos desta importante etapa da
minha vida;
Expresso muita gratidão ao Prof. Dr. Emerson M. da Silva pela orientação,
confiança, contribuições para o desenvolvimento deste trabalho e apoio no
Laboratório de Pesquisas Avançadas em Energia Eólica (EOLUS);
A BRASELCO Serviços Comércio de Equipamentos e Participações
LTDA, na pessoa do sócio-diretor Gustavo R. Silva, pelo suporte financeiro e à
parceria junto a Universidade Estadual do Ceará durante parte da realização deste
trabalho, e principalmente pelas valiosas contribuições para o aprimoramento desta
dissertação;
Agradeço ao Mestrado em Ciências sicas Aplicadas (MCFA), seus
professores e funcionários, na pessoa do atual Coordenador do curso, Prof. Dr.
Alfredo Nelson C. Serejo por todo apoio e infra-estrutura oferecida, e por estarem
dispostos a me ajudar no que fosse possível;
Aos professores do MCFA Alexandre A. Costa, Antônio Carlos S. dos
Santos, Fernando P. Ramalho e Francisco Sales A. Cavalcante pelas valiosas
contribuições para o aprimoramento deste trabalho;
Agradeço a BRASELCO, a Fundação Cearense de Meteorologia e
Recursos Hídricos (FUNCEME), ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
e ao National Centers for Environmental Prediction/National Center Atmospheric
Research (NCEP/NCAR) pelos dados concedidos e informações utilizadas;
Aos meus colegas de turma, companheiros de jornada;
A todos que tornam a Energia Eólica uma realidade;
Agradeço também a toda e qualquer pessoa que por ventura tenha
contribuído de alguma forma com este trabalho.
Cícero Fernandes Almeida Vieira.
5
Levantarei os meus
olhos para os montes, de onde
vem o meu socorro.”
Bíblia Sagrada
Salmo 121:1
6
RESUMO
O crescente interesse na exploração da energia eólica requer ferramentas confiáveis para
estimar os recursos eólicos em uma região. Atualmente, o WAsP (Wind Atlas Analysis and
Application Program) é um dos modelos numérico computacional mais utilizado para este
cálculo. No entanto, os valores dos parâmetros utilizados neste modelo são representativos
das condições atmosféricas da região norte da Europa. Propõe-se neste trabalho, analisar a
sensibilidade do modelo WAsP à modificação do parâmetro fluxo de calor superficial, que
afeta os seus resultados e é utilizado para corrigir os efeitos de estabilidade nos dados de
entrada, avaliando a representatividade do uso dos valores padrões desse parâmetro na
região Nordeste do Brasil. Calculou-se o fluxo de calor sensível a partir dos dados
provenientes do projeto SONDA do INPE, estação eólica de São João do Cariri (SCR),
estado da Paraíba, período de janeiro de 2006 a abril de 2007, por dois diferentes métodos:
gradiente de Richardson; e considerando a estratificação da atmosfera neutra. Os valores
médios encontrados por ambos os métodos, no período em estudo, mostram uma diferença
entre este valor calculado em SCR, sendo aproximadamente 10 W/m² considerando uma
atmosfera neutra, e aproximadamente 27 W/m² obtido pelo método do gradiente de
Richardson, e o padrão do WAsP, -40 W/m². Em seguida, analisou-se a sensibilidade do
modelo e fez-se a estimativa do parâmetro fluxo de calor superficial que melhor reproduz os
dados de vento medidos em duas torres anemométricas: SCR e Canoa Quebrada (CQ),
estado do Ceará. O procedimento adotado consiste em modificar sistematicamente esse
parâmetro buscando minimizar as diferenças entre os resultados do modelo e os valores
medidos nas torres, uma vez que o modelo não permite alterações no seu código fonte. Os
menores erros foram encontrados adotando valores do fluxo de calor superficial médio entre
0 W/m² e 25 W/m², e sua variabilidade no intervalo entre 0 W/m² e 50 W/m² nas duas
regiões. A densidade de potência eólica simulada pelo WAsP, utilizando os valores ótimos
obtidos, diminui o erro, em relação aos valores padrões do modelo, em aproximadamente
5,3% no nível de 50 m em SCR, e em aproximadamente 0,44% no nível de 60 m em CQ.
Palavras-chave: Fluxo de calor sensível, modelagem numérica, Nordeste do Brasil, potencial
eólico.
7
SENSITIVITY OF WAsP MODEL TO EFFECTS OF ATMOSPHERIC
STABILITY OVER NORTHEAST OF BRAZIL
ABSTRACT
The increasing interest in harvesting wind energy requires reliable tools for the wind resource
estimation in a given region. At present, the model WAsP (Wind Atlas Analysis and
Application Program) is the standard package method for this calculation. However, the
default values for that model parameters are based on northern European atmospheric
conditions. The surface heat flux parameter is used to correct the stability effects in the input
data for the model. The objective of this study is to analyze the sensitivity of WAsP to
changes in the surface heat flux parameter, evaluating the representativeness of the
parameter default values over Northeast of Brazil. The sensible heat flux was calculated
using wind data from a INPE's SONDA project meteorological station, located at São João
do Cariri (SCR), State of Paraíba, from January 2006 to April 2007, using two different
methods: Richardson gradient number, and assuming neutral stratification. The mean values
found by both methods, of approximately 10 W/m² and 27 W/m² for the Richardson gradient
method and for the neutral stratification, respectively, are different from the WAsP default
value (-40 W/m²). The WAsP sensitivity analysis to different values of the surface heat flux
parameter using two meteorological masts, SCR and Canoa Quebrada (CQ), state of Ceara,
was performed by systematically varying the heat flux parameters in order to minimize the
WAsP wind resource estimations errors. We found that the value between 0 W/m² and
25 W/m² yields the lowest overall errors and its variability is best chosen between 0 W/m²
and 50 W/m² for both regions. The error in power density prediction by WAsP decreases
using these optimal values, when compared to default model results, by approximately 5.3%
in SCR at 50 m a.g.l and 0.44% in CQ at 60 m a.g.l.
Keywords: Sensible heat flux, numerical modeling, Northeast of Brazil, wind resource.
8
LISTA DE SÍMBOLOS
A (-) área de alta pressão
B (-) área de baixa pressão
c
p
(Jkg
-1
K
-1
) calor específico do ar a pressão constante
DP (Wm
-2
) densidade de potência eólica
DP
calculada
(Wm
-2
) densidade de potência eólica calculado em um dado nível
na torre anemométrica
DP
WAsP
(Wm
-2
) densidade de potência simulada pelo WAsP
dv_25 (°) direção do vento no nível de 25 m na estação eólica de SCR
dv_40 (°) direção do vento no nível de 40 m na torre anemométrica de CQ
dv_50 (°) direção do vento no nível de 50 m na estação eólica de SCR
dv_60 (°) direção do vento no nível de 60 m na torre anemométrica de CQ
E (%) erro na densidade de potência simulada pelo WAsP em relação à
observada
f (s
-1
) parâmetro de Coriolis
F
x
(-) função de contorno do movimento na direção paralela ao eixo x
F
y
(-) função de contorno do movimento na direção paralela ao eixo y
G (m/s) velocidade do vento geostrófico
H (Wm
-2
) fluxo de calor sensível
H
grad
(Wm
-2
) fluxo de calor sensível calculado pelo gradiente de Richardson
H
neutro
(Wm
-2
) fluxo de calor sensível calculado considerando a estabilidade
atmosférica neutra
H
off
(Wm
-2
) valor médio do fluxo de calor superficial do WAsP
H
rms
(Wm
-2
) desvio padrão do fluxo de calor superficial do WAsP
k (-) constante de Von Kármán
L (m) comprimento de Monin-Obukhov
LE (Wm
-2
) fluxo de calor latente
L
gradiente
(m) L obtido pelo método do gradiente de Richardson
L
neutro
(m) L obtido considerando as funções de estabilidade nula
p (mb) pressão atmosférica
r (g/g) razão de mistura
R
0
(-) número de Rossby
9
Ri (m
-2
) gradiente de Richardson
T (K) temperatura do ar
u (m/s) componente zonal da velocidade do vento médio
u
*
(m/s) velocidade de fricção superficial
u
*grad
(m/s) velocidade de fricção superficial calculado pelo gradiente de
Richardson
u
*neutro
(m/s) velocidade de fricção superficial calculado considerando a
estabilidade atmosférica neutra
u
g
(m/s) componente zonal da velocidade do vento geostrófico
v (m/s) componente meridional da velocidade do vento médio
v
g
(m/s) componente meridional da velocidade do vento geostrófico
vv_25 (m/s) velocidade do vento no nível de 25 m na estação eólica de SCR
vv_40 (m/s) velocidade do vento no nível de 40 m na torre anemométrica de
CQ
vv_50 (m/s) velocidade do vento no nível de 50 m na estação eólica de SCR
vv_60 (m/s) velocidade do vento no nível de 60 m na torre anemométrica de
CQ
z (m) altura acima da superfície
z
0
(m) comprimento de rugosidade superficial
θ (K) temperatura potencial do ar
θ
*
(K) temperatura de escala para transferência de calor turbulento
θ
v
(K) temperatura potencial virtual do ar
ρ
(kgm
-3
) massa específica do ar
τ
x
(kgm
-1
s
-2
) componente zonal do cisalhamento de Reynolds
τ
y
(kgm
-1
s
-2
) componente meridional do cisalhamento de Reynolds
ϕ
(°) Latitude da torre anemométrica
ϕ
h
(-) cisalhamento adimensional da temperatura potencial do ar
ϕ
m
(-) cisalhamento adimensional do vento
ψ
h
(-) função diabática para a temperatura potencial do ar
ψ
m
(-) função diabática para a velocidade do vento
10
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
CLE Camada limite estável
CLS Camada limite superficial
CM Camada de Mistura
CPC Climate Prediction Center
CQ Canoa Quebrada
CR Camada residual
EOLUS Laboratório de Pesquisas Avançadas em Energia Eólica
EWEA European Wind Energy Association
FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
GWEC Global Wind Energy Council
HL Hora local
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
MCFA Mestrado Acadêmico em Ciências Físicas Aplicadas
MME Ministério de Minas e Energia
NCAR National Center for Atmospheric Research
NCEP National Center for Environmental Prediction
NEB Nordeste do Brasil
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PCD Plataforma de Coleta de Dados
PROINFA Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia
Elétrica
SCR São João do Cariri
SONDA Sistema Nacional de Organização de Dados Ambientais
SRTM Shuttle Radar Topography Mission
TSM Temperatura da superfície do mar
WAsP Wind Atlas Analysis and Application Program
ZCIT Zona de Convergência Intertropical
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Participação dos maiores mercados de energia eólica no mundo
no final do ano de 2007 (a) e previsão para o ano de 2012 (b)
(Fonte: GWEC, 2008). ............................................................................ 21
Figura 2.2 Modelo de circulação meridional da atmosfera mostrando os
ventos à superfície e a áreas de alta (A) e de baixa (B) pressão
(Fonte: VAREJÃO-SILVA, 2001). ........................................................... 27
Figura 2.3 Posição média anual da ZCIT obtida a partir dos dados de
reanálise do NCEP/NCAR para o ano de 1997, classificado como
normal pelo CPC/NCEP. ......................................................................... 28
Figura 2.4 Posição média da ZCIT nos meses de fevereiro a abril (a) e de
agosto a setembro (b), na zona tropical, obtidos a partir dos dados
de reanálise do NCEP/NCAR para o ano de 1997, classificado
como normal pelo CPC/NCEP. ............................................................... 29
Figura 2.5 Esquematização da circulação atmosférica de grande escala no
sentido zonal para condições normais (a) e em episódios de El Niño
(b) sobre o Oceano Pacífico (Adaptada de Holton, 2004). ..................... 30
Figura 2.6 Secção vertical da atmosfera próximo à costa mostrando as brisas
marítima (esquerda) e terrestre (direita). As linhas horizontais
representam isóbaras esquemáticas e as setas indicam a direção
do vento (Fonte: Varejão-Silva, 2001). ................................................... 32
Figura 2.7 Esquematização da evolução diurna da brisa marítima e terrestre
na ausência de fluxo sinóptico (Adaptada de Pielke, 2002). .................. 35
Figura 2.8 Partes em que a troposfera está dividida (Adaptada de Stull,
1988). ..................................................................................................... 36
Figura 2.9 Evolução diária da camada limite sobre uma região de alta
pressão (Adaptada de Stull, 1988). ........................................................ 39
Figura 2.10 Perfil vertical da temperatura potencial virtual e da velocidade do
vento característico de uma CM (Adaptada de Stull, 1988). ................... 40
Figura 2.11 Perfil vertical da velocidade do vento para uma camada limite
estável em uma região de alta pressão (Adaptada de Stull, 1988). ........ 42
Figura 3.1 Representação do esquema simplificado de criação de Mapas
Eólicos pelo WAsP. ................................................................................ 62
Figura 3.2 Localização aproximada da estação eólica de SCR. ............................ 63
Figura 3.3 Precipitação média mensal no posto pluviométrico do município de
São João do Cariri, período de 1911-1990 (Fonte: DCA/UFCG). ........... 64
Figura 3.4 Mapa de topografia obtido a partir do projeto SRTM para a área ao
redor da estação eólica de SCR. ............................................................ 65
Figura 3.5 Visão panorâmica da torre eólica de SCR. ........................................... 66
Figura 3.6 Localização aproximada da torre eólica de CQ e da PCD
FUNCEME próximo a CQ. ...................................................................... 67
Figura 3.7 Precipitação média mensal no posto pluviométrico do município de
Aracati, período de 1911-1990 (Fonte: DCA/UFCG). ............................. 68
Figura 3.8 Mapa de topografia no perímetro da torre anemométrica de CQ. ......... 69
Figura 4.1 Valores médios da anomalia da velocidade do vento (m/s) obtidos
a partir dos dados de reanálise do NCEP/NCAR, nível de 10 m, nos
meses de fevereiro a maio (a), e de setembro a dezembro (b) do
12
ano de 1983, em relação ao valor médio climatológico, período de
1975 a 2004. ........................................................................................... 73
Figura 4.2 Valores médios da anomalia da velocidade do vento (m/s), obtidos
a partir dos dados de reanálise do NCEP/NCAR, nível de 10 m, nos
meses de fevereiro a maio (a), e de setembro a novembro (b) do
ano de 1999, em relação ao valor médio climatológico, período de
1975 a 2004. ........................................................................................... 74
Figura 4.3 Valores da climatologia do fluxo de calor sensível (W/m²)
superficial, período de 1975 a 2004, obtido a partir dos dados de
reanálise do NCEP no NEB (a) e na Europa (b). .................................... 75
Figura 4.4 Valores do desvio padrão da climatologia do fluxo de calor
sensível (W/m²) superficial, período de 1975 a 2004, obtido a partir
dos dados de reanálise do NCEP no NEB (a) e na Europa (b). ............. 76
Figura 4.5 Valores da climatologia do fluxo de calor latente (W/m²) superficial,
período de 1975 a 2004, obtido a partir dos dados de reanálise para
o NEB (a) e para a Europa (b). ............................................................... 77
Figura 4.6 Valores do desvio padrão da climatologia do fluxo de calor latente
(W/m²) superficial, período de 1975 a 2004, obtido a partir dos
dados de reanálise para o NEB (a) e para a Europa (b). ........................ 77
Figura 4.7 Evolução média mensal da velocidade normalizada e da direção
predominante do vento na estação eólica de SCR. ................................ 78
Figura 4.8 Evolução média diária da velocidade normalizada e da direção
predominante do vento na estação eólica de SCR. ................................ 79
Figura 4.9 Distribuição da freqüência total de ocorrências da velocidade do
vento nos níveis de 25 m (a) e 50 m (b). ................................................ 80
Figura 4.10 Evolução média mensal do comprimento de Monin-Obukhov nas
duas diferentes condições atmosféricas em estudo. .............................. 80
Figura 4.11 Evolução média diária do comprimento de Monin-Obukhov nas
duas diferentes condições atmosféricas em estudo. .............................. 81
Figura 4.12 Freqüência de ocorrência das diferentes condições de
estabilidade obtido pelo método do gradiente de Richardson (a) e
considerando a estratificação da atmosfera neutra (b). .......................... 82
Figura 4.13 Evolução média mensal da velocidade de fricção superficial. ............. 83
Figura 4.14 Evolução média diária da velocidade de fricção superficial. ............... 84
Figura 4.15 Evolução média mensal do fluxo de calor sensível para as duas
diferentes condições atmosféricas em estudo. ....................................... 84
Figura 4.16 Evolução média diária do fluxo de calor sensível calculado
considerando a estratificação da atmosfera diabática para toda a
série histórica, e para os períodos chuvoso e seco em SCR. ................. 85
Figura 4.17 Evolução média diária do fluxo de calor sensível calculado
considerando a atmosfera neutra para toda a série histórica, e para
os períodos chuvoso e seco em SCR. .................................................... 86
Figura 4.18 Evolução dia mensal da velocidade normalizada e da direção
predominante do vento na torre anemométrica de CQ. .......................... 87
Figura 4.19 Evolução média diária da velocidade normalizada e da direção
predominante do vento na torre anemométrica de CQ. .......................... 88
Figura 4.20 Evolução média diária da temperatura do ar em SCR, níveis de
25 m e 50 m, e nas PCD’s de Icapuí e Jaguaruana, nível de 2 m. ......... 89
Figura 4.21 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado
pelo WAsP, em relação ao calculado na estação eólica de SCR,
13
para todo o período de dados, utilizando-se os valores de
velocidade do vento medidos no nível de 25 m e simulando a DP no
nível de 50 m, a partir da modificação sistemática de H
off
. ..................... 90
Figura 4.22 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado
pelo WAsP, em relação ao calculado na estação eólica de SCR,
para todo o período de dados, utilizando-se os valores de
velocidade do vento medidos no nível de 25 m e simulando a DP no
nível de 50 m, a partir da modificação sistemática de H
rms
. .................... 91
Figura 4.23 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado
pelo WAsP, em relação ao calculado na torre anemométrica de CQ,
para todo o período de dados, utilizando-se os valores de
velocidade do vento medidos no nível de 40 m e simulando a
densidade de potência lica no nível de 60 m, a partir da
modificação sistemática de H
off
............................................................... 93
Figura 4.24 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado
pelo WAsP, em relação ao calculado na torre anemométrica de CQ,
para toda a série de dados, utilizando-se os valores de velocidade
do vento medidos no nível de 40 m e simulando a densidade de
potência no nível de 60 m, a partir da modificação sistemática de
H
rms
. ........................................................................................................ 94
Figura 4.25 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado
pelo WAsP, em relação ao calculado na torre anemométrica de CQ,
para toda a série de dados, utilizando-se os valores de velocidade
do vento medidos no nível de 60 m e simulando a densidade de
potência eólica no nível de 40 m, a partir da modificação
sistemática de H
off
. .................................................................................. 95
Figura 4.26 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado
pelo WAsP, em relação ao calculado na torre anemométrica de CQ,
para toda a série de dados, utilizando-se os valores de velocidade
do vento medidos no nível de 60 m e simulando a densidade de
potência eólica no nível de 40 m, a partir da modificação
sistemática de H
rms
. ................................................................................ 95
14
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................... 6
ABSTRACT ................................................................................................................. 7
LISTA DE SÍMBOLOS ................................................................................................ 8
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................... 10
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. 11
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16
2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 20
2.1 A energia eólica .............................................................................................. 20
2.1.1 Panorama atual da energia eólica no Brasil ............................................. 22
2.1.2 O cenário da energia eólica no Ceará ...................................................... 23
2.1.3 Modelagem numérica ............................................................................... 24
2.2 Circulação atmosférica ................................................................................... 26
2.2.1 A circulação meridional ............................................................................ 26
2.2.2 A circulação zonal .................................................................................... 29
2.2.3 Brisa marítima e terrestre ......................................................................... 31
2.3 Camada limite atmosférica ............................................................................. 36
2.3.1 Temperatura potencial virtual ................................................................... 37
2.3.2 Estrutura da camada limite ....................................................................... 38
2.4 Fluxo de calor superficial ................................................................................ 42
2.5 Bases Físicas ................................................................................................. 44
2.5.1 Perfil vertical da velocidade do vento e da temperatura do ar .................. 45
2.5.2 Vento geostrófico ...................................................................................... 54
3 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 56
3.1 O modelo WAsP ............................................................................................. 56
3.1.1 Modelo de estabilidade atmosférica ......................................................... 57
3.1.2 O modelo de análise do WAsP ................................................................. 60
3.1.3 Fatores que afetam a simulação .............................................................. 62
3.2 Descrição da estação eólica de São João do Cariri ....................................... 63
3.3 Descrição da torre anemométrica de Canoa Quebrada ................................. 66
3.4 Processo de análise da sensibilidade do WAsP ............................................. 69
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 72
15
4.1 Anomalia da velocidade do vento no Nordeste do Brasil ............................... 72
4.2 Fluxo de calor superficial na região Nordeste do Brasil ................................. 74
4.3 Análise dos parâmetros de escala das funções de similaridade na estação
eólica de SCR ................................................................................................ 78
4.4 Análise da circulação local na região de Canoa Quebrada ............................ 87
4.5 Análise da sensibilidade do modelo WAsP .................................................... 89
4.5.1 Estação eólica de São João do Cariri ....................................................... 90
4.5.2 Torre anemométrica de Canoa Quebrada ................................................ 92
5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 97
5.1 Conclusões ..................................................................................................... 97
5.2 Recomendações ............................................................................................ 99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ...................................................................... 101
APÊNDICE A .......................................................................................................... 106
16
1 INTRODUÇÃO
Segundo o Banco de Informações de Geração (BIG) da Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANEEL) a fonte hidráulica é responsável por aproximadamente
70% da oferta de energia elétrica no Brasil. O problema desta matriz energética é
forte dependência do crescimento do país a fenômenos naturais. Além disso, é
observado que em algumas regiões do Brasil o recurso hidráulico está em seu limite,
por exemplo, o Nordeste, fazendo com que a exploração de novas jazidas desta
fonte seja distante dos centros consumidores, tornando mais onerosas e com
maiores perdas elétricas.
Por conta da necessidade de crescimento do Brasil o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) para os anos de 2007 a 2010, lançado pelo
Governo Federal Brasileiro, objetiva ações para atender estas necessidades,
incluindo a área de energia elétrica. Os investimentos em infra-estrutura energética
correspondem à geração e transmissão de energia elétrica, produção, exploração e
transmissão de petróleo, gás natural e combustíveis renováveis.
O PAC é um programa de expansão do crescimento, aliado a medidas
econômicas, que o desenvolvimento econômico e o crescimento populacional
aumentam a demanda constante de energia elétrica no Brasil, sendo função do
governo levar energia a quem precisa. As ações do PAC devem estar
fundamentadas em um planejamento energético, evitando assim, que fatos como o
racionamento no setor energético brasileiro ocorrido em 2001 não volte a
comprometer esta expansão, ou mesmo não volte a ocorrer, uma vez que a geração
de energia não está acompanhando o crescimento do país.
Considerando que a necessidade de crescimento do país é imediata, o
investimento em fontes que possuem um período de implantação relativamente curto
é necessário, haja vista, que a construção de grandes hidroelétricas dura muitas
vezes décadas. Também é importante diversificar nossa matriz elétrica aproveitando
de forma eficiente os recursos que melhor se apresenta em cada região,
descentralizando a produção e diminuindo os investimentos em transmissão e
perdas elétricas do sistema.
17
Neste pensamento, a energia gerada pelo vento tem se apresentado
como uma excelente solução para o Nordeste do Brasil (NEB), pois possui
características singulares e grande densidade energética, além do fato de ser
complementar a fonte de origem hídrica.
Historicamente, a energia eólica, assim como a hidráulica, é utilizada
milhares de anos com as mesmas finalidades: bombeamento de água, moagem de
grãos e outras aplicações que envolvem a energia mecânica. Para a geração de
eletricidade, as primeiras tentativas surgiram no final do século XIX, com a
construção do que hoje é conhecido como primeira turbina eólica em operação
automática para geração de eletricidade. No entanto, somente um século depois,
com a crise internacional do petróleo, na década de 1970, é que houve interesse e
investimentos suficientes para viabilizar o desenvolvimento e aplicação de
equipamentos em escala comercial (CARVALHO, 2003).
A energia eólica se apresenta como uma fonte alternativa renovável, onde
a instalação de uma turbina eólica o traz consigo grande parte dos problemas
causados por fontes primárias tradicionais como, por exemplo, o petróleo. O seu
baixo custo de manutenção, associado ao fato de ser natural e a diminuição dos
custos da eletrônica, estão fazendo com que as novas tecnologias, hoje possíveis,
extraiam a energia do vento de forma mais eficiente.
O crescente interesse na exploração da energia eólica requer ferramentas
confiáveis para estimar os recursos eólicos em uma região. Atualmente, o WAsP
(Wind Atlas Analysis and Application Program) é um dos modelos numérico
computacional mais utilizado para este cálculo, com alta resolução espacial, a partir
de dados eólicos em pontos isolados dentro da região de interesse e da
representação das condições locais, como orografia do terreno, rugosidade
superficial e obstáculos. O WAsP foi inicialmente desenvolvido pelo RISØ National
Laboratory, da Dinamarca, para representar de forma simplificada os recursos
eólicos daquela região, e uma de suas principais aplicações foi na elaboração do
Atlas Eólico Europeu (TROEN; PETERSEN, 1989).
Entretanto, é fato que as condições atmosféricas singulares encontradas
no NEB são diferentes das geralmente observadas na Europa, onde se encontra a
18
maior parte do mercado mundial da energia eólica e para onde a Física do WAsP foi
desenvolvida.
Diante do exposto e tendo como objetivo o cumprimento do pré-requisito
para a obtenção do Título de Mestre em Ciências Físicas Aplicadas da Universidade
Estadual do Ceará, o objetivo desta dissertação é analisar a representatividade dos
parâmetros padrões do WAsP, característicos do Norte da Europa, sob as condições
climáticas do Nordeste do Brasil. Especificamente, o fluxo de calor superficial, que
altera os resultados do WAsP e é utilizado para corrigir os efeitos de estabilidade
nos dados de entrada, é o parâmetro em análise. Especula-se que deve aparecer
algo diferente quando não se usa o padrão deste modelo. Ressalta-se que, apenas
o efeito da estabilidade do fluxo de calor superficial no levantamento do potencial
eólico do WAsP é analisado nesta dissertação.
Assim, esta dissertação apresenta um melhor entendimento da
modelagem e dos resultados produzidos pelo WAsP em simulações licas nesta
região, contribuindo para os estudos de energia eólica. Os resultados apresentados
podem ser utilizados para melhorar os projetos de centrais eólicas, diminuindo os
índices de incertezas associados ao mercado de produção de energia eólica,
principalmente no Nordeste do Brasil.
O capítulo 2 descreve os regimes de vento associados aos principais
fenômenos meteorológicos atuantes na região Nordeste do Brasil, e em especial no
litoral do Estado do Ceará, para diversas escalas de espaço e tempo. O capítulo
apresenta também uma breve descrição do panorama atual global e brasileiro da
geração de energia eólica, das principais características da camada limite
atmosférica e do fluxo de calor superficial. Em adição, apresenta-se uma descrição
da teoria da similaridade empregada, que serve de base para o desenvolvimento da
Física do WAsP e para as análises realizadas nesta dissertação.
O capítulo 3 descreve o conjunto de dados utilizados nos experimentos
realizados para o melhor entendimento do WAsP no NEB. As principais
características do WAsP e do seu modelo de estabilidade são discutidos.
Adicionalmente, descreve-se a estação eólica de São João do Cariri (SCR), Estado
da Paraíba, e a torre anemométrica de Canoa Quebrada (CQ), Estado do Ceará,
19
onde foram realizadas as medições eólicas. Em seguida, descreve-se a metodologia
empregada e o processo de análise da sensibilidade do WAsP.
No capítulo 4 m-se os resultados encontrados. Inicialmente
apresenta-se as anomalias na velocidade do vento nas estações chuvosa e seca em
anos tidos como de contrastes climáticos, El Niño e La Niña.
Em seguida, analisam-se, a partir de dados de reanálise, os fluxos de
calor sensível e latente nas regiões NEB e EU, identificando-se a estabilidade
atmosférica e os contrastes destas regiões. Os parâmetros de escala das funções de
similaridade calculados na estação eólica de SCR e a circulação local na região de
CQ são apresentados e discutidos. Por fim, faz-se uma análise de sensibilidade dos
parâmetros fluxo de calor superficial do WAsP, testando-se um procedimento para
minimizar os erros nas simulações deste modelo, uma vez que o modelo não
permite alterações no seu código fonte.
O capítulo 5 apresenta os principais resultados encontrados, que
conduziram às conclusões mais importantes desta dissertação, apresentando, ainda,
perspectivas para trabalhos futuros, de acordo com os resultados encontrados no
desenvolvimento do mesmo.
Seguem-se então as referências bibliográficas utilizadas e o Apêndice A,
que contém a cópia de um artigo publicado em revista indexada no período do
Mestrado relacionado à dissertação (revista Ciência e Natura, edição Especial,
Dezembro/2007).
20
2 REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo descreve os regimes de vento associados aos principais
fenômenos meteorológicos atuantes na região Nordeste do Brasil, e em especial no
litoral do Estado do Ceará, para diversas escalas de espaço e tempo. O capítulo
apresenta também uma breve descrição do panorama atual global e no Brasil da
geração de energia eólica, das principais características da camada limite
atmosférica e do fluxo de calor superficial. Em adição, apresenta-se uma descrição
da teoria da similaridade empregada, que serve de base para o desenvolvimento da
Física do WAsP e para as análises realizadas nesta dissertação.
2.1 A energia eólica
Segundo relatório elaborado em 2008 pela Global Wind Energy Council
(GWEC), no final do ano de 2007, a capacidade instalada mundial de turbinas eólica
alcançou os 98,87 gigawatts (GW), provendo aproximadamente 1% da produção
global de energia. Este valor é aproximadamente 10 vezes maior que a capacidade
mundial instalada no final do ano de 1997. Durante o ano de 2007,
aproximadamente 20 GW em novas centrais eólicas foram adicionados ao sistema
elétrico.
A Figura 2.1a mostra a participação dos maiores mercados de energia
eólica no mundo. A Europa, que tradicionalmente lidera as pesquisas e a utilização
de fontes eólicas de energia, tanto em terra quanto em mar, possui
aproximadamente 60% desta capacidade, com destaque para a Alemanha, Espanha
e Dinamarca.
Na Espanha, no final de 2007 foram instalados 3,522 GW em novas
centrais eólicas, totalizando 15,145 GW de potência eólica instalada, representando
16,13% da capacidade global instalada.
O mercado norteamericano de energia eólica, reportou a instalação de
5,244 GW de capacidade nos Estados Unidos em 2007, totalizando 16,818 GW de
21
potência instalada, representando 17,92% da capacidade global instalada. Com um
investimento de US$ 9 bilhões, houve crescimento de aproximadamente 45% da
capacidade instalada de energia eólica naquele país em relação a 2006. Para efeito
de comparação, esta quantidade é aproximadamente o dobro da capacidade da
usina hidrelétrica do Xingó no Rio São Francisco, de 3.162 MW. A construção de
Angra 3, com apenas 1350 MW, custará, para cada MW de capacidade instalada, o
dobro do valor investido por MW nos Estados Unidos. A previsão é de que a energia
eólica forneça 20% da eletricidade nos Estados Unidos em 2030.
A Figura 2.1b mostra a previsão da participação por continente na
capacidade instalada mundial de turbinas eólica para o ano de 2012, que é de
aproximadamente 240 GW, o que corresponderá a aproximadamente 3% da
produção global de energia. A previsão é de que a Europa continue líder na
participação dos maiores mercados de energia eólica no mundo, e países como, por
exemplo, China e Estados Unidos continuem apresentando crescimento acelerado.
(a)
(b)
Figura 2.1 Participação dos maiores mercados de energia eólica no mundo no final do ano de 2007
(a) e previsão para o ano de 2012 (b) (Fonte: GWEC, 2008).
De acordo com EWEA & Greenpeace (2005) a energia eólica pode
apresentar, em 2020, 1.254.030 MW de eletricidade instalada, criando 2,3 milhões
de novos empregos, reduzindo a emissão global de dióxido de carbono na atmosfera
em mais de 10 bilhões de toneladas. Os investimentos podem chegar a
aproximadamente 80 bilhões, com custo de aproximadamente 512/kW para
instalação e € 2,45 centavos/kWh para a geração de eletricidade.
22
2.1.1 Panorama atual da energia eólica no Brasil
Devido à falta de informação, como dados de superfície, e as diferentes
metodologias empregadas, ainda divergências sobre o potencial eólico brasileiro.
Entretanto, um valor conservador, que têm dado suporte e motivação a exploração
comercial no País, é da ordem de 60.000 MW (ANEEL, 2005).
O Nordeste, especificamente, apresenta as características dos ventos
comerciais: velocidades médias de vento altas, entre 7 e 9,5 m/s no nível de 50 m,
pouca variação nas direções do vento e pouca turbulência durante todo o ano. Em
adição, observam-se fatores de forma da distribuição estatística de Weibull, maiores
que 3, considerados muito altos quando comparados com os ventos registrados na
Europa e Estados Unidos (AMARANTE et al., 2001).
Segundo o BIG da ANEEL, atualmente, observam-se instalações eólicas
em operação nos Estados do Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco,
Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, gerando
aproximadamente 247,05 MW. Este valor corresponde a aproximadamente 0,23%
da oferta de energia elétrica do país e a 0,26% da potência eólica global instalada. O
parque eólico de Osório no Rio Grande de Sul, com potência instalada de 150 MW,
em operação desde 19 de abril de 2006, e o parque eólico de Rio do Fogo, no Rio
Grande do Norte, com potência instalada de 49,3 MW, em operação desde 01 de
agosto de 2006, são as duas principais centrais eólicas em funcionamento no país,
correspondendo a aproximadamente 80% da potência total instalada.
A regulamentação do setor, por meio de leis que garantam incentivos
fiscais na compra de equipamentos e na venda da energia produzida e,
principalmente, a criação de subestações coletoras ao longo da costa interligando as
linhas de transmissão, garantindo a aquisição da eletricidade gerada pelas
distribuidoras regionais, serve como estímulo para que investidores nacionais e
internacionais apliquem recursos nesta área.
O primeiro passo neste sentido foi dado em dezembro de 2001 com a
criação do “Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica”
PROINFA, no âmbito do Ministério de Minas e Energia. O objetivo do PROINFA é
23
agregar ao Sistema Interligado Nacional (SIN), o montante de 3.300 MW de potência
instalada de fontes eólicas, de biomassa e de pequenas centrais elétricas, sendo
1.100 MW de cada fonte, diversificando a matriz energética nacional.
Não se espera que a energia lica seja o principal elemento da matriz
energética nacional, entretanto, ela funciona perfeitamente como um complemento
às hidroelétricas. Por outro lado, as incertezas políticas atuais não deixam claro qual
será o papel do Brasil no cenário mundial em 2012, apresentado na Figura 2.1b.
2.1.2 O cenário da energia eólica no Ceará
O Atlas do Potencial Eólico Cearense apontou que o Estado tem um
potencial, em continente, de aproximadamente 25 GW de energia eólica
(SECRETARIA DA INFRAESTRUTURA DO ESTADO DO CEARÁ, 2001).
O Ceará dispõe atualmente de três parques eólicos instalados: Taíba
(5MW), Mucuripe (2,4MW) e Prainha (10 MW), totalizando 17,4 MW de potência
instalada. Juntos, os três parques produzem energia elétrica para abastecer 50 mil
residências típicas. Até o final de 2008, 149,43 MW de energia eólica devem entrar
no SIN, a partir de parques, contratados por meio do PROINFA, implantados no
Ceará e na Paraíba, totalizando 16 novos parques eólicos em todo o litoral do
Nordeste.
Segundo Telles (2007), um novo leilão para a compra de energia eólica
está sendo esperado para 2008, o que pode atrair investimentos milionários para o
Nordeste. Para o Estado do Ceará, o equivalente a 12% da energia consumida virá
da eólica a partir de 2008, com quatro parques eólicos com potência instalada de
155 MW entrando em operação.
O fornecimento de energia eólica no Nordeste pode economizar água dos
reservatórios, principalmente quando o nível destes atinge valores perigosamente
baixos.
24
2.1.3 Modelagem numérica
A estimativa dos recursos eólicos de uma determinada região para fins de
instalação de parques eólicos é a parte primordial dos estudos de viabilidade técnica
e econômica. Essa estimativa tipicamente é realizada a partir de dados de vento
observados em pontos isolados dentro da região de interesse. Quando estes dados
são coletados para outros usos, como em aeroportos, estações meteorológicas,
agricultura, eles são pouco representativos da energia contida no vento, devendo ser
utilizados com cuidado para a determinação da energia gerada por uma turbina
eólica, que é o objetivo principal do mapeamento eólico de uma região.
Porém, devido à demanda por tempo e dinheiro para a instalação de
torres eólicas, torna-se necessário estimar os recursos eólicos de uma determinada
região, a partir de dados de vento observados e pontuais. Com o progresso da
computação, tornou-se possível utilizar modelos numéricos para auxiliar a
elaboração de projetos de implantação de parques eólicos, estimando os recursos
eólicos de uma dada região onde se deseja implantar o parque (LANDBERG et al.,
2003).
Landberg et al. (2003) revisam as diferentes maneiras de se estimar os
recursos eólicos em uma determinada região, descrevendo cada uma delas com
suas vantagens e desvantagens. Dentre elas, destaca-se a metodologia do Atlas
Eólico, utilizada pelo WAsP.
O mapeamento eólico do Brasil foi realizado com o MesoMap. Um
conjunto integrado de modelos de simulação atmosférica, bases de dados
meteorológicos e geográficos, redes de computadores e sistemas de
armazenamento. O MesoMap oferece a vantagem de obter a representatividade
para grandes áreas continentais sem a necessidade de dados anemométricos de
superfície efetivamente medidos. Além disto, o MesoMap modela fenômenos como
ondas orográficas e brisas marítimas, simulando diretamente os regimes de vento de
longo prazo (AMARANTE et al. 2001).
Os mapas de potencial eólico do Estado do Ceará foram calculados pelo
modelo WindMAP. Um método baseado em equações da continuidade que calcula
25
os campos de escoamento sobre o terreno, através de uma malha tridimensional de
elementos finitos. O WindMap separa áreas com regimes distintos de vento, e as
equações da camada limite consideram influências térmicas (SECRETARIA DA
INFRAESTRUTURA DO ESTADO DO CEARÁ, 2001).
Modelos numéricos de mesoescala como, por exemplo, o RAMS
(Regional Atmospheric Modeling System) descrito em Cotton et al. (2003), o RSM
(Regional Spectral Model) descrito em Juang e Kanamitsu (1994), o MM5 descrito
em Duhdia et al. (2005), resolvem processos físicos desde a superfície até a alta
atmosfera, incluindo o balanço de radiação de onda longa e onda curta e de energia
e massa na superfície, física da camada limite, parametrização de convecção
profunda e cumulus rasos, entre outros processos. Estes modelos são aplicados
desde a previsão de tempo, até a medição da dispersão de poluentes,
apresentando, por exemplo, alta resolução de vórtices na camada limite planetária.
O alto custo computacional, devido à integração temporal, adicionado à
resolução espacial e temporal dos campos de vento gerados, limita a aplicação
destes modelos na avaliação do potencial eólico em escala regional. Esta etapa é
importante para a identificação de áreas com alto potencial eólico e também para
estudos de longo prazo, a fim de se obter um comportamento típico do regime eólico
de uma região.
A resolução espacial destes modelos também não resolve com detalhes
os efeitos de micro-escala do terreno, que influencia os ventos superficiais. Estas
abordagens locais são necessárias para estimar o potencial eólico em uma dada
região com alta resolução. A correta representação das condições locais que afetam
o fluxo eólico, como a rugosidade superficial, a orografia e os obstáculos de um
terreno, bem como o conhecimento dos ventos, são necessários para a construção
de um parque eólico.
No entanto, o uso dos modelos de mesoescala pode apresentar
resultados importantes no entendimento dos mecanismos das variáveis relacionadas
ao comportamento lico, bem como serem utilizadas para conduzir os modelos de
micro escala a estimativas dos recursos eólicos com maior precisão (FRANCK et al.,
2001; LANDBERG et al., 2003; JIMENES et al., 2007).
26
2.2 Circulação atmosférica
O clima de qualquer região é determinado em grande parte pela
circulação geral da atmosfera. Essa é resultado do aquecimento diferencial do globo
pela radiação solar, da distribuição assimétrica de oceanos e continentes e também
das características topográficas sobre os continentes. Padrões de circulação
gerados na atmosfera redistribuem calor, umidade e quantidade de movimento por
todo o globo. No entanto, essa redistribuição não é homogênea, agindo algumas
vezes no sentido de diminuir as variações regionais dos elementos climáticos, tais
como, temperatura e precipitação, as quais, têm enorme influência nas atividades
humanas (VAREJÃO-SILVA, 2001).
2.2.1 A circulação meridional
Segundo Varejão-Silva (2001), o modelo proposto por C. G. Rossby em
1941 admite que a pressão à superfície se distribua zonalmente, havendo faixas
alternadas de baixa e de alta pressão, aproximadamente simétricas em relação ao
equador térmico conforme mostrado na Figura 2.2.
Associadas a esta distribuição de pressão, existem três lulas de
circulação meridional em cada hemisfério, atuando na troposfera: uma na faixa
tropical, denominado célula de Hadley; outra na zona de latitudes médias, conhecida
como célula de Ferrel e uma terceira na Região Polar.
Na zona equatorial, uma faixa de baixas pressões, atribuídas à maior
incidência de radiação solar, e uma de altas pressões nas vizinhanças da
tropopausa. De acordo com o modelo conceitual, para a zona equatorial de baixa
pressão, convergem ventos, conhecidos como alísios, provenientes das latitudes
subtropicais de alta pressão localizados em torno de 30°N e 30°S, impulsionados
pela força do gradiente de pressão e defletidos por efeito da força de Coriolis. Os
ramos inferiores das células de Hadley justificam a existência dos ventos alísios de
nordeste no Hemisfério Norte e dos alísios de sudeste no Hemisfério Sul,
observados principalmente sobre os oceanos, onde a influência da rugosidade é
27
muito pequena. Os alísios, cuja intensidade é afetada pela presença de continentes
e suas particularidades climáticas e topográficas, são o contínuo movimento das
massas de ar em superfície (VAREJÃO-SILVA, 2001).
Figura 2.2 Modelo de circulação meridional da atmosfera mostrando os ventos à superfície e a
áreas de alta (A) e de baixa (B) pressão (Fonte: VAREJÃO-SILVA, 2001).
No caso específico do Estado do Ceará, os ventos alísios são
influenciados de uma extensa área oceânica, livre de obstáculos conferindo notável
intensidade, constância e baixa turbulência.
Os ventos alísios de nordeste, procedentes do Hemisfério Norte, com os
de sudeste, oriundos do Hemisfério Sul, convergem em superfície, e formam a Zona
de Convergência Intertropical (ZCIT). A posição média da ZCIT se situa em torno de
5ºN, o que é justificado por haver no Hemisfério Norte uma maior área continental e,
portanto, maior transferência de calor para a atmosfera. A Figura 2.3 mostra, de
forma exagerada, a posição média anual para o ano de 1997, classificado como um
ano normal climatologicamente de acordo com o Climate Prediction Center (CPC) do
NCEP segundo Alves et al. (2005), a partir dos dados de reanálise
1
do NCEP/NCAR
descrito em Kalnay et al. (1996).
1
O projeto de reanálise do NCEP/NCAR usa o estado da arte do sistema previsão/análise para realizar
assimilação de dados utilizando registros históricos obtidos por radiossondagens, estações meteorológicas
de superfície em continente e no mar, dados obtidos por satélites, entre outros. Vieira et al., (2006) avaliam o
uso destes dados na quantificação dos recursos eólicos em dois sítios no Estado do Ceará, chegando a
conclusão de que o uso destes dados não fornecem confiabilidade para o uso sugerido.
28
Figura 2.3 Posição dia anual da ZCIT obtida a partir dos dados de reanálise do NCEP/NCAR
para o ano de 1997, classificado como normal pelo CPC/NCEP.
A ZCIT se caracteriza por uma acentuada instabilidade atmosférica que
favorece o desenvolvimento de intensas correntes ascendentes, com formação de
grandes nuvens convectivas, geradoras de precipitação abundante. Chuvas fortes,
acompanhados de relâmpagos e trovões são comuns em toda a região de atuação
da ZCIT e, como sua posição oscila muito com o tempo, a precipitação gerada vai
sendo distribuída sobre uma faixa de considerável largura (VAREJÃO-SILVA, 2001).
Qualitativamente a Figura 2.3 mostra que, para esse ano, os ventos
alísios de sudeste provenientes do Hemisfério Sul, são mais intensos do que os
ventos alísios de nordeste. Quando esses ventos de sudeste cruzam o equador
sofrem um desvio para a direita devido à força de Coriolis e passam a soprar de
sudoeste, o que reduz a intensidade dos alísios de nordeste provenientes do centro
de alta pressão do Atlântico Norte.
A Figura 2.4 mostra que a posição média da ZCIT varia entre 14ºN nos
meses de agosto a setembro (b) até a posição mais ao Sul, aproximadamente 2ºS a
4ºS, entre os meses de fevereiro a abril (a), período chuvoso do Estado do Ceará
segundo Alves e Repelli (1992). Esse movimento induz uma sazonalidade no regime
do vento no Estado do Ceará.
29
(a)
(b)
Figura 2.4 Posição média da ZCIT nos meses de fevereiro a abril (a) e de agosto a setembro (b), na
zona tropical, obtidos a partir dos dados de reanálise do NCEP/NCAR para o ano de
1997, classificado como normal pelo CPC/NCEP.
Desta forma, observa-se que esta sazonalidade dos ventos no Estado do
Ceará é complementar ao regime hídrico predominante na geração hidrelétrica no
Brasil. O potencial eólico do Estado do Ceará é máximo justamente no período de
níveis mínimos nos reservatórios, onde os custos associados de geração e os riscos
de déficit são máximos. Uma participação dos parques eólicos no sistema elétrico
poderá contribuir para a estabilização sazonal da oferta de energia (SECRETARIA
DA INFRAESTRUTURA DO ESTADO DO CEARÁ, 2001).
2.2.2 A circulação zonal
A Figura 2.5a mostra que na Região Tropical, além da circulação
meridional decorrente da atividade das células de Hadley, existe uma circulação
zonal em grande escala, chamada lulas de Walker, atribuída ao aquecimento
diferencial que se verifica entre continentes e oceanos, tendo sido melhor
compreendida no Hemisfério Sul (VAREJÃO-SILVA, 2001).
Quando ocorrem anomalias relacionadas às temperaturas das águas
superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, os fenômenos são
conhecidos como: El Niño, aquecimento anômalo, e La Niña, resfriamento anômalo.
30
Anomalias significativas na distribuição da temperatura da superfície do
mar (TSM) podem atuar causando mudanças no campo da pressão atmosférica à
superfície as quais podem alterar significativamente a própria circulação geral da
atmosfera. As alterações causadas na atmosfera, em decorrência da presença do
oceano subjacente, são de natureza puramente termodinâmica e interferem no
próprio oceano, via campos da pressão atmosférica e do vento à superfície.
A Figura 2.5b mostra que durante o fenômeno El Niño, o centro de baixa
pressão se desloca para o Pacífico central, e a pressão superficial sobre o Oceano
Pacífico é menor na parte leste do que na parte oeste. Para a La Niña a pressão
superficial é maior na parte leste que a observada na parte oeste do Pacífico.
(a)
(b)
Figura 2.5 Esquematização da circulação atmosférica de grande escala no sentido zonal para
condições normais (a) e em episódios de El Niño (b) sobre o Oceano Pacífico (Adaptada
de Holton, 2004).
As anomalias de TSM apresentadas representam uma alteração do
sistema oceano-atmosfera no Oceano Pacífico Tropical, alterando o tempo e o clima
em todo o planeta. Considera-se não somente a presença das águas quentes ou
frias, mas também as mudanças na atmosfera próxima à superfície do oceano, com
variações dos ventos alísios, que sopram de leste para oeste, na região equatorial.
Com essas variações do oceano e dos ventos, começam a ser observadas
31
mudanças da circulação atmosférica nos níveis baixos e altos (VAREJÃO-SILVA,
2001).
Em anos de El-Niño o ramo descendente da célula de Walker se desloca
para a região sobre a Amazônia inibindo a convecção (Figura 2.5b). Os ventos
alísios de nordeste são mais fracos, diminuindo assim o fluxo de umidade vinda dos
oceanos que penetra na região Amazônica. A região NEB fica bem ao sul da ZCIT
em anos secos, ou seja, em uma região preferencialmente de subsidência que inibe
as chuvas. Em anos chuvosos, geralmente associados à presença de La Niña, a
ZCIT se desloca a6ºS atingindo a costa norte do Nordeste, permanecendo por
períodos mais longos no Hemisfério Sul até o mês de maio.
Andreoli e Kayano (2007) re-examinam a relação da variabilidade de
precipitação na região da América do Sul com a variabilidade da (TSM) dos oceanos
Pacífico e Atlântico Tropical na estação que antecede a estação chuvosa do NEB.
As Análises mostram uma tendência de aumento da pluviometria na parte norte da
região em estudo durante eventos de La Niña.
Oliveira (2007) analisa a influência da variabilidade climática e os
impactos da circulação geral no comportamento do regime eólico sobre o NEB,
enfocando o Estado do Ceará. A análise dos dados de reanálise do NCEP para
eventos extremos sugerem que, nesses casos, a influência da circulação geral é tal
que eventos de El Niño (La Niña) atuam no sentido de intensificar (enfraquecer) a
velocidade dos ventos sobre essa região.
Dessa forma, o potencial de geração eólica no NEB deve sofrer variações
em anos com contrastes climáticos, El Niño e La Niña, devido a variabilidade na
velocidade dos ventos.
2.2.3 Brisa marítima e terrestre
O aquecimento diferenciado entre o continente e o oceano promove
fluxos de energia diferentes para a atmosfera, causando gradientes de pressão em
determinados níveis acima da superfície, os quais impulsionam o movimento. Este
32
movimento gera divergência e convergência em diferentes pontos, o que faz com
que se estabeleça uma célula de circulação (VAREJÃO-SILVA, 2001).
A brisa é uma resposta de mesoescala da variação horizontal no calor
superficial, estando restrita há uma altura de 1 a 2 quilômetros (Figura 2.6). A brisa
marítima, influenciada pelos processos de estabilidade vertical da atmosfera, é um
tipo de circulação rmica, no qual as desigualdades nas taxas de aquecimento da
terra e do mar causam estes sistemas de ventos costeiros.
Durante o dia, a terra se aquece mais rapidamente do que a água e o
forte aquecimento do ar acima desta superfície produz uma baixa pressão. O ar
sobre a água permanece mais frio do que o ar sobre a terra, onde se forma uma alta
pressão sobre a água. O efeito final desta distribuição de pressão é a brisa marítima
que sopra do mar para a terra. Como os mais fortes gradientes de temperatura e
pressão ocorrem perto da fronteira entre a água e a terra, os ventos mais fortes
tipicamente ocorrem perto das praias e diminuem para dentro do continente. Além
disso, como o maior contraste de temperatura entre o mar e a terra ocorre à tarde,
do mesmo modo, as brisas marítimas são mais fortes neste horário (PIELKE, 2002).
Figura 2.6 Secção vertical da atmosfera próximo à costa mostrando as brisas marítima (esquerda) e
terrestre (direita). As linhas horizontais representam isóbaras esquemáticas e as setas
indicam a direção do vento (Fonte: Varejão-Silva, 2001).
O estabelecimento da brisa marítima é caracterizado por aumento na
intensidade do vento, mudança na direção, queda de temperatura e aumento na
umidade do ar. No Nordeste do Brasil, onde os ventos alísios são persistentes e
intensos durante todo o ano, as brisas apenas contribuem para mudar um pouco a
direção e a velocidade daqueles (ver seção 4.4). Dependendo da orientação da
costa, a velocidade do vento, resultante da superposição alísio-brisa, pode ser maior
33
ou menor que a do asio. Os ventos alísios e as brisas são os regimes de vento
associados aos principais fenômenos meteorológicos atuantes no NEB
(VAREJÃO-SILVA, 2001).
Durante a noite, a superfície terrestre se resfria mais rapidamente do que
a água. O ar sobre a terra se torna mais frio que o ar sobre a água. As pressões são
maiores sobre a terra e a direção do vento inverte, formando-se a brisa terrestre,
uma brisa que flui da terra para a água (Figura 2.6). Esses contrastes térmicos entre
a água e a terra são menores à noite, o que faz da brisa terrestre ser menos intensa
que a marítima.
Ressalta-se que a variabilidade na temperatura causa mudanças na
velocidade do vento nos níveis mais baixos enquanto que a velocidade no topo da
camada limite planetária permanece constante, conforme indicação das isóbaras na
Figura 2.6.
As espessuras características das células de brisa são maiores nos
trópicos do que nas médias latitudes. discrepância entre os valores, os quais
variam de 100 m a 2 km para a brisa marítima e algumas centenas de metros para a
brisa terrestre. As correntes de retorno em geral possuem o dobro da espessura da
brisa em si e, por continuidade, possuem aproximadamente metade da intensidade
das brisas. A célula de brisa é, porém, um dos poucos movimentos de mesoescala
afetados pela rotação da Terra, onde o gradiente de pressão na escala sinóptica
também não pode ser desprezado (PIELKE, 2002).
A Figura 2.7 mostra um esquema da evolução diária da brisa marítima e
terrestre descrito Pielke (2002), sem a presença de ventos de grande escala.
Cedo pela manhã, as superfícies isobáricas tornam-se planas e o
presença de vento (0600 HL
2
).
Mais tarde, ocorre a mistura turbulenta na camada limite instável sobre o
continente, levando o ar quente para cima e criando um gradiente de
pressão da terra para o mar (offshore) em uma altura acima da superfície
2
HL representa hora local.
34
(0900 HL). Sobre a água, o seu calor específico faz com que não exista
aquecimento significativo de sua superfície, não havendo mistura
turbulenta.
O fluxo de ar offshore acima da superfície, perto da costa, cria uma região
de baixa pressão acima da superfície sobre o continente, e
desenvolvem-se ventos do mar para a terra (onshore) devido a este
gradiente de pressão em supercie (1200 HL).
Os ventos onshore transportam ar marítimo mais frio sobre o continente,
possivelmente advectando o gradiente horizontal de temperatura, e,
portanto, a frente de brisa marítima continente adentro (1500 HL).
A distância percorrida pela frente de brisa depende mais diretamente da
quantidade total de calor dado ao sistema e da latitude. Após o r do
Sol, o resfriamento radiativo de onda longa torna-se dominante, e a brisa
marítima remove o gradiente de temperatura e, portanto de pressão, o
que faz com que as superfícies isobáricas novamente tornem-se planas
(1800 HL).
Como o resfriamento radiativo continua o ar perto do chão resfria-se,
torna-se mais denso, resultando em uma redução da altura das
superfícies de pressão a uma pequena distância da superfície, criando um
vento onshore neste nível (2100 HL).
Em resposta à perda de massa sobre a superfície do mar, um mínimo de
pressão se desenvolve à superfície do mar, imediatamente fora da costa.
O vento offshore que então se desenvolve próximo à superfície é
chamado de brisa terrestre (0000 HL).
A distância de penetração da brisa terrestre depende da quantidade de
resfriamento sobre o continente. Devido ao fato da camada limite
planetária sobre o continente ser estável durante à noite, a mistura vertical
é mais fraca e ocorre mais próximo ao chão, e portanto, a brisa terrestre é
um fenômeno mais raso e mais fraco do que a brisa marítima (0300HL).
35
Figura 2.7 Esquematização da evolução diurna da brisa marítima e terrestre na ausência de fluxo
sinóptico (Adaptada de Pielke, 2002).
Rotuno (1983) apresenta uma revisão histórica dos modelos lineares de
brisa marítima e terrestre, salientando a importância do efeito da latitude na teoria da
circulação das brisas. Yan e Anthes (1987) integram modelos não-lineares da brisa
confirmando a importância da latitude na formação desta. Eles concluem que devido
à ausência da força de Coriolis, próximo ao Equador, a brisa está presente em todo
o período estudado. Dalu e Pielke (1989) apresentam resultados teóricos pertinentes
à intensidade da brisa marítima e a sua penetração continente adentro, como função
da latitude e da fricção.
Em relação ao NEB, Alcântara e Sousa (2008) testam uma nova teoria
termodinâmica em brisas marítimas-terrestres acopladas com brisas de
vale-montanha através de simulações numéricas tridimensionais em uma região da
costa leste desta região. O estudo mostra que embora o contraste de temperatura
entre as superfícies seja importante na formação da brisa, a eficiência
termodinâmica é fundamental na determinação da sua intensidade. Do ponto de
vista puramente termodinâmico a inclinação da montanha atua para intensificar a
brisa durante o dia e para enfraquecê-la durante a noite.
36
2.3 Camada limite atmosférica
A Figura 2.8 mostra que quando se considera o efeito que a superfície
terrestre provoca no movimento do ar, geralmente divide-se a troposfera em duas
regiões:
A camada-limite planetária, justaposta à superfície terrestre, diretamente
influenciada pela presença da superfície;
E a atmosfera livre, mais acima, cujos efeitos da superfície são menores,
ocorrendo um escoamento sem atrito.
A influência da rugosidade natural da superfície da Terra sobre o ar em
movimento diminui progressivamente com a altura, não existindo uma separação
nítida entre essas camadas. A espessura da camada limite vai depender do grau de
rugosidade da superfície subjacente e da própria velocidade do ar que sobre ela
escoa (VAREJÃO-SILVA, 2001).
Figura 2.8 Partes em que a troposfera está dividida (Adaptada de Stull, 1988).
Além da influência do atrito, outros movimentos perturbam o campo do
escoamento do ar próximo à superfície, como por exemplo, o efeito gerado pelo
aquecimento do ar em contato com a superfície, o qual desencadeia movimentos
convectivos. Neste caso, a dispersão de poluentes é afetada pelo escoamento, mas
o seu efeito é reduzido na maioria dos casos, via mudanças na quantidade de
radiação solar incidente.
O fluxo de ar pode ser considerado como uma parte média e um desvio
em relação ao valor médio. A parte média do vento, responsável por processos
horizontais rápidos, domina o transporte de quantidades, como calor, mistura e
37
umidade, enquanto o desvio pode representar os efeitos de onda ou turbulência que
superpõem o vento médio.
A turbulência que se verifica na camada limite superficial, identificada pela
acentuada oscilação da velocidade do vento em cada nível, resulta da combinação
da agitação mecânica do ar e da convecção. A agitação mecânica advém do atrito
do ar com a superfície e é normalmente referida como turbulência mecânica. A
convecção, conseqüência do aquecimento do ar em contacto com a superfície
subjacente, origina correntes ascendentes quentes e subsidentes frias.
Próximo da superfície terrestre a turbulência mecânica predomina.
Progressivamente, porém, à medida que se desloca na vertical, a convecção torna-
se a principal causa da turbulência. Por conseguinte, a estrutura do vento, na
camada-limite superficial, é condicionada pela natureza da superfície e pelo
gradiente vertical de temperatura do ar (VAREJÃO-SILVA, 2001).
2.3.1 Temperatura potencial virtual
Para uma parcela de ar não-saturada, que não possui a quantidade
máxima possível de vapor de água em uma determinada temperatura, define-se a
temperatura potencial virtual, θ
v
, como sendo:
1 0,61
v
r

, (2.1)
onde r é a razão de mistura da água e a temperatura potencial, θ, é definida como:
0,286
0
p
T
p



,
onde p e T são a pressão atmosférica e a temperatura do ar, respectivamente, e p
0
é
a pressão atmosférica de referência, geralmente igual a 1000 mb
3
. A temperatura
potencial virtual inclui os efeitos do vapor de água na massa específica do ar e
elimina as variações da temperatura associadas à compressão ou rarefação
3
mb = milibares, unidade usada para medir pressão atmosférica.
38
adiabáticas.
θ
é simplesmente a temperatura que uma parcela de ar seco na
pressão p e temperatura T teria se fosse expandida ou comprimida adiabaticamente
para um nível de pressão de referência p
0
. Assim, menciona-se que considerando o
ar seco a razão de mistura é zero e θ
v
é igual a θ.
Stull (1988) aproxima a temperatura potencial em primeira ordem por:
Tz
, (2.2)
onde
Γ
é a taxa de variação vertical da temperatura do ar com a altura, igual a
0,0098 K/m, e z é a altura acima da superfície.
Uma camada com estratificação estável ocorre quando
0z
,
significando que uma parcela de ar deslocando-se na vertical experimentará uma
força de flutuação restaurativa, enquanto que
0z
e
0z
correspondem
a uma camada com estratificação neutra e instável respectivamente. Estratificação
instável significa que uma parcela de ar deslocando-se na vertical experimentará
uma força de flutuação que irá acelerá-la para cada vez mais distante de sua
posição inicial (STULL, 1988).
2.3.2 Estrutura da camada limite
Sobre o oceano, a altura da camada limite varia pouco, tanto espacial
quanto temporalmente. O calor específico da água faz com que ela absorva uma
grande quantidade de calor variando pouco sua temperatura em um ciclo diurno. A
maior parte da mudança na altura da camada limite sobre os oceanos são causadas
por processos sinópticos e de mesoescala de movimentos verticais e pela advecção
de diferentes massas de ar sobre a superfície oceânica (STULL, 1988).
Sobre regiões de alta pressão, localizadas em superfície continental, a
camada limite tem uma estrutura definida que envolve um ciclo diário conforme
mostrado na Figura 2.9. As três partes mais importantes constituintes dessa
estrutura são a camada de mistura turbulenta, a camada residual e a camada limite
estável.
39
Figura 2.9 Evolução diária da camada limite sobre uma região de alta pressão (Adaptada de Stull,
1988).
2.3.2.1 Camada limite superficial
A camada limite superficial (CLS), camada de interesse para os estudos
de energia eólica, é a região na parte inferior da camada limite onde os fluxos
turbulentos e o cisalhamento do vento variam em uma fração de cerca de 10% da
espessura da extensão da camada limite atmosférica. Nesta camada, o vento é
fortemente influenciado pelo gradiente de pressão e pela presença da superfície
terrestre e as componentes da velocidade do ar, em cada nível apresentam
flutuações nas escalas temporais e espaciais. Estas flutuações estão associadas à
presença de vórtices que caracterizam o estado de turbulência do ar. O movimento
turbulento é eficiente em difundir vapor de água, calor, poluentes etc., pois denuncia
um processo de constante mistura, advindo daí o interesse em estudar
profundamente as características dessa camada (VAREJÃO-SILVA, 2001).
2.3.2.2 Camada de mistura turbulenta
A camada de mistura (CM) é geralmente convectiva. Fontes convectivas
incluem transferência de calor entre a superfície terrestre aquecida e o resfriamento
radiativo do topo da camada de nuvens. A primeira situação origina termas de ar
aquecido ascendentes da superfície, enquanto a segunda cria termas de ar resfriado
descendentes a partir da camada de nuvens (STULL, 1988).
40
Inicialmente considerando uma atmosfera sem nuvens, a CM é originada
a partir do aquecimento superficial por meio de movimentos convectivos. Poucas
horas após o nascer do sol, uma CM turbulenta começa a se formar. Esta CM é
caracterizada por uma intensa mistura em uma situação de instabilidade
atmosférica. A CM alcança a sua altura máxima no início da tarde. A turbulência
resultante tende a misturar calor e momento linear uniformemente na vertical e os
perfis da temperatura potencial virtual e da velocidade do vento na CM, geralmente,
são encontrados como os apresentados na Figura 2.10.
Figura 2.10 Perfil vertical da temperatura potencial virtual e da velocidade do vento característico de
uma CM (Adaptada de Stull, 1988).
O perfil vertical da temperatura potencial é quase adiabático na porção
média da CM. Na camada superficial, a atmosfera adjacente à superfície
encontra-se super adiabática. Uma camada estável no topo da CM atua prevenindo
a elevação continuada das termas, retendo desta forma a turbulência. Pelo fato de
nesta região ocorrer trocas de massa entre a CM e a atmosfera livre, com a entrada
de ar proveniente de níveis superiores na CM, ele é chamada zona de
entranhamento.
Muitas vezes, uma camada de inversão forma-se na fronteira com a
atmosfera livre, resultando em um aumento relativo da temperatura do ar com a
altura.
A velocidade dos ventos é sub-geostrófica dentro da CM. A porção média
da CM possui freqüentemente velocidade constante. A velocidade do vento
41
decresce para zero nas proximidades da superfície, resultando em um perfil que é
aproximadamente logarítmico com a altura na camada superficial.
2.3.2.3 Camada residual
Após o pôr do sol a camada de mistura e a turbulência diminuem o
movimento, mas o ar mantém as características relacionadas com as variáveis de
estado da camada de mistura, criando uma camada residual (CR). A CR tem um
perfil neutro, resultante da turbulência que possui a mesma intensidade em todas as
direções.
A temperatura potencial virtual decresce pouco durante a noite devido à
divergência do campo de radiação, sendo a razão de resfriamento constante em
toda a extensão da CR, de modo que o perfil da temperatura potencial virtual é
quase adiabático.
A CR não possui contato direto com a superfície, e durante a noite a
camada noturna estável aumenta gradualmente sua espessura modificando o topo
da camada residual. Desta forma, a parte remanescente da CR não é afetada pelo
transporte turbulento das propriedades relacionada à superfície.
Salienta-se que o comportamento da camada limite atmosférica durante o
período que compreende o desenvolvimento convectivo durante a tarde e a
atmosfera estável da camada limite noturna é pouco conhecida, e de interesse em
áreas como, por exemplo, modelagem de poluentes.
2.3.2.4 Camada limite estável
O solo perde calor por emissão de radiação de onda longa. Este
resfriamento inibe a turbulência, e com o passar da noite a parte inferior da camada
residual será transformada, devido o contato com a superfície, em uma camada
limite estável (CLE).
42
Os ventos exibem um comportamento complexo durante a noite.
Semelhante ao que ocorre no nível superficial, a velocidade do vento geralmente
torna-se calma, com um perfil estável. Entretanto, observa-se que a velocidade
atinge o seu valor máximo dentro da camada limite estável e algumas centenas de
metros acima, a velocidade do vento torna-se geostrófica dentro da CR. A Figura
2.11 mostra o perfil vertical médio da velocidade do vento para uma camada limite
estável em uma região de alta pressão de acordo com Stull (1988).
Figura 2.11 Perfil vertical da velocidade do vento para uma camada limite estável em uma região de
alta pressão (Adaptada de Stull, 1988).
A transição entre as camadas limite diurnas e noturnas são condições
temporais não homogêneas do fluxo de calor turbulento, devido à transição entre a
camada limite estável noturna e a convectiva diurna sobre o continente. A transição
da manhã é importante também em estudos de qualidade do ar, devido à diferença
de concentração dos poluentes que ocorrem na camada limite noturna e na camada
residual.
2.4 Fluxo de calor superficial
A superfície fornece energia para a atmosfera de duas formas:
Calor sensível (H): leva diretamente a um aumento na temperatura da
atmosfera;
Calor Latente (LE): energia armazenada pelo vapor de água. Se o vapor
de água condensar, ele libera energia para a atmosfera, podendo
também armazenar energia.
43
Sousa (2008) afirma que o fluxo de calor sensível, sobre o continente,
será baixo em situações em que o solo estiver saturado uma vez que nesses casos
a superfície demora mais para aquecer, dependendo também da cobertura vegetal.
Vegetação com pouca cobertura, ou esparsa, caso da caatinga, propiciará o
aquecimento da superfície, pois neste caso, a quantidade de radiação que atinge a
superfície é maior. Em adição, em solo com pouca umidade a superfície aquece
muito, justificando o grande fluxo de calor sensível. Na faixa litorânea o fluxo de calor
sensível é baixo devido ao maior índice de umidade no solo.
O fluxo de calor latente será maior quando o solo se encontrar saturado e
nas regiões em que a vegetação tiver menor albedo
4
. Quanto mais úmido o solo
maior o fluxo de calor latente.
Nas regiões extra-tropicais, a fonte primária de energia para os
movimentos atmosféricos é a energia potencial associada com os gradientes
latitudinais de temperatura, enquanto o calor latente e o aquecimento radiativo
constituem contribuições secundárias de energia aos sistemas atmosféricos
extra-tropicais.
Nos trópicos, entretanto, a energia potencial armazenada é pequena,
devido aos pequenos gradientes de temperatura na atmosfera tropical. O calor
latente aparece como a fonte primária de energia dentro da zona equatorial,
originada devido aos distúrbios associados com a convecção e os sistemas de
nuvens convectivas. A distribuição de calor diabático nos trópicos é fortemente
influenciada pelas variações da temperatura da superfície do mar, que por sua vez é
influenciada pelos movimentos atmosféricos (HOLTON, 2004).
Stull (1988) afirma que durante uma manhã ensolarada os fluxos de calor
sensível e latente são positivos. Durante a noite o fluxo de calor sensível é negativo
em função do fluxo de calor do ar para a superfície, e o fluxo de calor latente
também é negativo.
Sobre o oceano, durante o dia, os fluxos de calor sensível e latente são
positivos e ascendentes, devido à grande capacidade rmica da água que pode
4
O albedo é a razão entre a radiação global que é refletida e a quantidade incidente na superfície terrestre.
44
receber muito calor a partir da radiação solar, sofrendo pouca variação em sua
temperatura.
Vieira et al. (2007) analisam a evolução média mensal e o desvio padrão
do fluxo de calor sensível obtidos com dados de reanálise representativos do litoral
do Estado do Ceará. Os resultados mostram que os valores mínimos do
desvio-padrão são encontrados nos meses de fevereiro a maio, período da estação
chuvosa na região, nos dois pontos de reanálise estudados, enquanto os máximos
valores ocorrem no período seco na região. A atmosfera da região em estudo tem
um comportamento médio anual neutro para o período estudado, uma vez que tanto
os valores médios mensais quanto o desvio padrão variam entre -10 W/m
2
e
15 W/m
2
nos dois conjuntos de dados analisados.
Sousa (2008), utilizando modelagem numérica para o semi-árido do NEB,
conclui que os fluxos de calor sensível e latente foram influenciados pela alteração
na vegetação. A variação média mensal não foi muito expressiva para o período em
estudo, mas os efeitos em escalas menores são representativos.
2.5 Bases Físicas
Segundo Blackadar e Tennekes (1968) o fluxo eólico dentro de uma
camada limite barotrópica, na qual a massa específica do ar é função apenas da
pressão e o vento geostrófico independe da altura, sob condições de um estado
estacionário neutro, com derivadas temporais nulas, é função somente da variável
independente z (altura acima da superfície), e de três parâmetros externos: a
velocidade do vento geostrófico G, o parâmetro de Coriolis f e comprimento de
rugosidade superficial z
0
. Outros parâmetros adimensionais relacionados a G, f e a z
entram nas soluções de maneira importante como, por exemplo, a velocidade de
fricção superficial u
*
relacionado ao cisalhamento da superfície. Definem-se, a partir
destas variáveis, quantidades adimensionais independentes relacionadas ao fluxo
45
eólico dentro da camada limite, como por exemplo, a razão z/z
0
e o número de
Rossby
5
(
0
Ro G fz
).
Ressalta-se que, as leis de similaridade superficial e a teoria do vento
geostrófico apresentadas nas seções 2.5.1 e 2.5.2 servem de base para o
desenvolvimento da Física do WAsP.
2.5.1 Perfil vertical da velocidade do vento e da temperatura do ar
As equações do movimento para um fluxo estacionário, adiabático e
barotrópico, dentro de uma superfície homogênea horizontalmente são
(BLACKADAR; TENNEKES, 1968; HOLTON, 2002):
0
x
g
d
f v v
dz



, (2.3)
0
y
g
d
f u u
dz



, (2.4)
onde u e u
g
, v e v
g
e
τ
x
e
τ
y
são as componentes da velocidade do vento médio e do
geostrófico, e do cisalhamento de Reynolds nas direções zonal e meridional,
respectivamente. O parâmetro f (parâmetro de Coriolis) para uma dada latitude
ϕ
é
2f sen
,
com Ω = 7,292 × 10
-5
rad s
-1
a velocidade angular da Terra e ρ é a
massa específica do ar. Para simplificar, as componentes do cisalhamento
superficial são orientadas na direção paralela ao eixo x, de tal forma que:
2
*x
u

,
0
y
. (2.5)
5
O número de Rossby é a razão entre as ordens de magnitude dos termos de aceleração local ou inercial e da
aceleração de Coriolis, e é expresso por
2
00
U L U
Ro
f U f L

, com U e L as ordens de grandeza da distância
e velocidade, respectivamente. Para movimentos atmosféricos de escala sinótica das latitudes médias, Ro é da
ordem de 10
-1
. Então, quanto menor for o número de Rossby, melhor será a medida da validade da
aproximação geostrófica.
46
De acordo com Tennekes (1973) no limite em que
Ro 
, considerando
um movimento em pequena escala, essas equações admitem duas soluções. Para a
altura da camada limite finita, com
0
zz 
, correspondendo a altura da camada de
Ekman
6
, e
Ro 
, movimento de pequena escala, o perfil do vento é independente
de Ro, e a velocidade é dada por:
,
gg
xy
u u v v
zf zf
FF
u u u u


, (2.6)
onde F
x
e F
y
são funções que dependem de z, f e u
*
.
As funções a serem determinadas pelas condições de contorno F
x
e F
y
são finitas e independentes do valor de Ro. A Equação (2.6) pode ser resolvida para
determinar o desvio do campo da velocidade do vento médio a partir do equilíbrio
geostrófico dentro da camada limite atmosférica.
Quando
0
zz
torna-se finito, correspondendo à região da camada limite
superficial, o perfil da velocidade do vento é dado por:
0
,0
s
u z v
F
u z u





, (2.7)
onde F
s
é uma função que depende de z e z
0
.
A componente meridional da velocidade do vento torna-se zero devido à
orientação dos eixos alinhados de acordo com as componentes do cisalhamento
superficial (BLACKADAR; TENNEKES, 1968). Segundo Tennekes (1973) esta lei da
camada superficial é valida somente para valores finitos de
0
zz
. Nota-se ainda que
a Equação (2.7) não traz nenhuma informação com respeito à direção do vento. Em
adição, as funções F
x
e F
y
não descrevem o fluxo eólico dentro da camada
superficial, onde as escalas de comprimento são funções de z
0
.
6
Camada com aproximadamente 2 km de profundidade próximo a superfície, na qual os efeitos do atrito, as
forças de Coriolis e gradiente de pressão interagem produzindo movimentos que giram no sentido anti-horário
com a altura no Hemisfério Sul.
47
As Equações (2.5) e (2.7) são as condições de contorno da velocidade do
vento e do cisalhamento superficial. Entretanto, elas não o capazes de satisfazer
as condições de contorno no topo da Camada de Ekman (BLACKADAR;
TENNEKES, 1968).
Tennekes (1973) afirma que a Equação (2.6) é válida dentro da camada
de Ekman, onde
0
zz 
, enquanto que (2.7) é válida dentro da camada limite
superficial, onde
0
zz
é finito. Entretanto, a região compreendida entre a porção
inferior da camada de Ekman e o topo da camada limite superficial, chamada de
subcamada inercial, apresenta um comportamento onde as Equações (2.6) e (2.7)
são válidas simultaneamente, cuja solução resulta no perfil logarítmico do vento:
1
ln
g
uu
zf
A
u k u








, (2.8)
0
1
ln
uz
u k z



, (2.9)
onde A é uma constante empírica. Estas expressões são válidas como primeira
aproximação para fluxos licos de pequena escala, desde que se esteja no
intervalo
0
0 zz
. A constante de Von Kármán k contida em (2.8) e (2.9)
apresenta um intervalo de valores compreendido entre 0,33 e 0,4. No entanto, para
fins de aplicação em energia eólica, assumi-se k tendo o valor de 0,4.
O perfil logarítmico do vento desempenha um papel importante no cálculo
do cisalhamento superficial e da velocidade de fricção superficial a partir dos
parâmetros externos do problema (G, f, z
0
). Pode-se calcular u
*
e z
0
, a partir do perfil
logarítmico do vento, obtendo a velocidade do vento geostrófico G (ver seção 2.5.2)
se a camada limite atmosférica em questão for estacionária, homogênea, adiabática
e barotrópica.
Segundo Stull (1988) expressões similares a (2.9) podem ser obtidas para
uma atmosfera seca, onde a presença do vapor de água na atmosfera e seus efeitos
na estabilidade não estão sendo incluídos, a partir da teoria da similaridade de A. S.
48
Monin e A. M. Obukhov, sem dependência temporal, para condições atmosféricas
não neutra por:
m
kz u
uz
, (2.10)
onde ϕ
m
representa o cisalhamento adimensional do vento.
Baseado em dados medidos experimentalmente Businger et al. (1971)
estimaram a forma da função ϕ
m
como sendo:
1 4,7
z
L
, para
0L
(atmosfera estável);
1
, para
L
(atmosfera neutra);
1
4
1 15
z
L



, para
0L
(atmosfera instável),
onde L é o comprimento de Monin-Obukvov.
Para a temperatura potencial do ar, o cisalhamento adimensional da
temperatura potencial do ar
ϕ
h
é:
h
z
z
, (2.11)
onde θ
*
é a temperatura de escala para transferência de calor turbulento expressa
por:
1
p
H
ku c
,
com H o fluxo de calor sensível (W/m
2
) e c
p
o calor específico do ar a pressão
constante (1004,67 Jkg
-1
K
-1
).
Em condições de estabilidade não neutra, espera-se que os termos das
forças de flutuação e o fluxo de calor superficial se tornem relevantes.
49
Seguindo a representação do perfil vertical encontrado em Paulson (1970)
as Equações (2.10) e (2.11) podem ser integradas, obtém-se uma descrição simples
dos campos da velocidade do vento e da temperatura potencial do ar próximo à
superfície como função de z, considerando uma atmosfera seca e com estabilidade
não neutra, por:
0
ln
m
u
z
uz
kz








, (2.12)
0
0
ln
h
z
z
z







, (2.13)
onde u
*
é a velocidade de fricção superficial, k = 0,4,
00
z

, com z
0
o
comprimento de rugosidade superficial. A função diabática para a velocidade do
vento ψ
m
representa os desvios em relação à estabilidade neutra e assume os
seguintes valores propostos por Paulson (1970):
4,7
z
L
, para
0L
(atmosfera estável);
0
, para
L 
(atmosfera neutra);
2
1
11
2ln ln 2tan
2 2 2
xx
x







, para
0L
(atmosfera instável).
onde
1
4
1 15
z
x
L




. A função diabática para a temperatura potencial do ar ψ
h
,
assume os seguintes valores propostos por Paulson (1970):
4,7
z
L
, para
0L
(atmosfera estável);
2
1
2ln
2
x



, para
0L
(atmosfera instável).
As funções ψ
m
e ψ
h
em uma atmosfera estável são negativas e levam a
um aumento no termo entre parênteses em (2.12) e (2.13), aumentando o valor da
50
velocidade do vento com a altura em relação à atmosfera neutra. Em uma atmosfera
instável, as funções ψ
m
e ψ
h
são positivas e o valor dos termos entre parênteses
diminui nestas equações, reduzindo o valor da velocidade do vento com a altura em
relação à atmosfera neutra.
A teoria da similaridade de Monin-Obukvov é uma ferramenta importante
na descrição da camada limite atmosférica, uma vez que na ausência de dados de
vento, a teoria torna-se útil no levantamento do perfil vertical deste e no cálculo do
fluxo de calor sensível, ajudando assim no entendimento do comportamento dos
fluxos turbulentos em condições não-homogêneas (FOKEN, 2006).
Quando nenhuma medida de fluxo de calor sensível é realizada, pode-se
calcular H para uma determinada região por todos não-interativos. Os gradientes
verticais da velocidade do vento e da temperatura do ar o usados para determinar
o gradiente de Richardson Ri. Por relações empíricas entre
/zL
e Ri determina-se
L, e em seguida as funções diabáticas, sendo possível calcular H.
A determinação de Ri é feita estimando-se os gradientes verticais da
temperatura potencial do ar e da velocidade do vento, a partir das observações,
baseados no método de aproximação linear por diferenças finitas propostas por Arya
(1991), por:
2
g
z
Ri
u
z



, (2.14)
conforme descrito em Stull (1988). Ri > 0 corresponde a
0z
, indicando uma
atmosfera com estratificação estável, Ri = 0 decorre de
0z
, corresponde a
uma atmosfera neutra, e Ri < 0 corresponde a
0z
, indicando uma atmosfera
com estratificação instável.
Determina-se L, para o cálculo da velocidade de fricção superficial u
*
e do
fluxo de calor superficial H em uma atmosfera diabática, por meio de relações
empíricas propostas por Lange et al. (2004), considerando uma atmosfera com
estratificação não-neutra:
51
,0
15
,0
gradiente
z
Ri
Ri
L
z Ri
Ri
Ri
, (2.15)
onde
12
12
ln
zz
z
zz
e z
2
> z
1
.
Barthelmie (1999) define as classes de estabilidade atmosférica,
baseados no comprimento de Monin-Obukhov L, como:
Muito estável: 0 m < L 200 m;
Estável: 200 m < L 1000 m;
Quase-neutra: 1000 m < L -1000 m;
Instável: -1000 m < L -200 m;
Muito instável: -200 m < L 0 m;
Uma interpretação física do comprimento de Monin-Obukhov é que este é
proporcional a altura acima da superfície onde os fatores de flutuação, em primeira
ordem, dominam a produção mecânica de turbulência (STULL, 1988).
Uma vez determinado o valor de L, calcula-se o valor das funções
diabáticas
ψ
m
e
ψ
h
. Aplicando (2.12) e (2.13) para dois diferentes níveis de altura
conhecidos, z
1
e z
2
, é possível determinar as constantes de similaridade u
*
e H, com
as funções diabáticas apropriadas, por:
21
2 2 1
1
ln
mm
k u z u z
u
z z z
z L L







, (2.16)
e
21
2 2 1
1
ln
p
hh
ku c z z
H
z z z
z L L








. (2.17)
52
Nestas equações
ψ
m
e
ψ
h
são funções de estabilidade e z
1
e z
2
são alturas
arbitrárias dentro da camada limite superficial, e u e
θ
são as velocidades do vento e
a temperatura potencial do ar em dois diferentes níveis.
Em condições de estabilidade neutra, as funções diabáticas ψ
m
e ψ
h
são
assumidas nulas e o parâmetro L pode ser obtido diretamente de H por:
3
neutro
p
neutro
neutro
u c T
L
kgH

, (2.18)
onde g é a aceleração da gravidade, u
*neutro
e H
neutro
são os valores da velocidade de
fricção superficial e do fluxo de calor sensível considerando as funções
ψ
m
e
ψ
h
nulas em (2.16) e (2.17).
Esta aproximação assume que o fluxo de calor sensível na camada limite
superficial é constante, implicando que a velocidade de fricção superficial independe
de z
0
, não requerendo a priori o seu cálculo. Salienta-se que, segundo Businger et
al. (1971), o uso do valor de 0,40 para k, produz resultados 15% maiores para u
*
,
que os encontrados caso k=0,35.
Um fato importante que deve ser observado nas Equações (2.16) e (2.17)
é que, em algum instante o denominador pode divergir. Assim, maximiza-se o valor
destes denominadores em
21
ln zz
para os cálculos destas constantes na região
de SCR. Em adição, para os experimentos realizados com o WAsP na seção 4.5 são
calculados os valores médio e o seu respectivo desvio padrão de H para todo o
período em estudo em SCR, a fim de se comparar estes valores com os padrões do
WAsP.
Observa-se que se
θ
2
>
θ
1
, H < 0 e a atmosfera possui estratificação
estável, e se
θ
2
<
θ
1
, H > 0 e a atmosfera apresenta estratificação instável. A
atmosfera possui estratificação neutra quando os valores de H são próximos a zero.
Giebel e Gryning (2004) definem a estabilidade atmosférica por meio de
classes de fluxo de calor superficial:
Instabilidade: H > 25 W/m²;
53
Neutra: -5 < H < 25 W/m²;
Estabilidade: -20 < H < -10 W/m².
Businger et al. (1971) afirmam que ϕ
m
e ϕ
h
são descritos corretamente
pelas funções de interpolação, comparando os perfis do fluxo de calor calculado
pelas funções de interpolação com os valores observados. Para os casos de
estabilidade estável concordância entre estes valores, mas para os casos de
estabilidade instável não. No entanto, especula-se que o fluxo de calor sensível
obtido a partir da Equação (2.17) apresente-se como um método confiável dentro da
camada limite superficial.
Carl et al. (1973) examinam os perfis verticais, em três torres, de
temperatura e vento em terrenos homogêneos, nos Estados Unidos e Dinamarca,
respectivamente, não obtendo desvios significativos do perfil logarítmico.
Gryning et al. (2007) analisando os perfis verticais de dados
meteorológicos de uma torre eólica de 160 m na Dinamarca e de uma antena de
televisão na Alemanha de 250 m, mostram que o perfil do vento baseado na teoria
da camada superficial e o comprimento de Monin-Obukhov são validos para alturas
entre 50 m e 80 m em condições de atmosfera neutra, e para alguns casos em
atmosfera diabática, ocorrendo desvios nestes casos.
Em relação ao comprimento de rugosidade, Stull (1988) afirma que para
uma superfície particular este não muda com variações na velocidade, estabilidade
ou cisalhamento, mudando sim com a estrutura física da vegetação, como altura e
forma das plantas, tamanho e arranjo das folhas, e por sua distribuição espacial pela
área. De forma que os valores encontrados a partir do perfil vertical do vento em
uma torre anemométrica podem resultar em erros na estimativa do comprimento de
rugosidade da vegetação.
O valor do comprimento de rugosidade pode apresentar uma variação
sazonal, como os valores obtidos por Cunha (2007) para a cidade de Petrolina,
Estado de Pernambuco, determinados a partir do esquema de superfície Simplified
Simple Biosphere Model (SSiB), que apresenta uma variação entre 0,20 m e 0,29 m
54
para este. Entretanto, não é de se esperar uma grande variação sazonal destes
valores.
2.5.2 Vento geostrófico
O vento na camada limite atmosférica, de interesse para o aproveitamento
eólico, resulta da diferença entre pressões causadas por atividades sinópticas,
movendo-se das regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão.
Devido ao fato de que as Equações (2.8) e (2.9) são válidas dentro da
subcamada inercial, subtraem-se estas duas equações resultando em:
0
1
ln
g
u
u
A
u k fz








. (2.19)
A componente meridional da velocidade do vento, descrita pelo segundo membro de
(2.6) e (2.7), pode ser combinada dentro da subcamada inercial, resultando em:
g
v
B
uk

. (2.20)
A relação diagnóstica para o valor da velocidade do vento geostrófico G é
dado por:
2 2 2
gg
G u v
,
e de (2.19) e (2.20), segue que G é:
2
2
0
ln
uu
G A B
k fz








, (2.21)
onde as constantes A e B são empíricas, com A = 1,8 e B = 4,5. G é, geralmente, a
velocidade do vento observado por radiossondagens acima da camada limite
atmosférica.
55
Modelos como o WAsP, utilizam o vento geostrófico G, para calcular a
velocidade de fricção superficial u
*
, para em seguida obter a velocidade do vento em
um determinado nível na camada limite superficial, utilizando a lei do perfil logaritmo
do vento, por meio da Equação (2.9). No entanto, a partir de dois níveis de
velocidade do vento em uma torre eólica, é possível determinar o valor de u
*
para
utilizar a lei logarítmica do vento, conforme Equação (2.16), determinando-se G por
(2.21).
56
3 MATERIAL E MÉTODOS
Este capítulo descreve o conjunto de dados utilizados nos experimentos
realizados para o melhor entendimento do WAsP na região Nordeste do Brasil. As
principais características do WAsP e o seu modelo de estabilidade atmosférica são
discutidos. Adicionalmente, descreve-se a estação eólica de São João do Cariri
(SCR), Estado da Paraíba, e a torre anemométrica de Canoa Quebrada (CQ),
Estado do Ceará, onde foram realizadas as medições eólicas. Em seguida,
descreve-se a metodologia empregada e o processo de análise da sensibilidade do
WAsP.
3.1 O modelo WAsP
O WAsP é um modelo computacional que extrapola vertical e
horizontalmente os dados de vento medidos em uma torre anemométrica, sobre
diferentes tipos de topografia, visando a obtenção de uma grade de dados que
descreva a climatologia dos ventos sobre a superfície da área a ser analisada e a
uma determinada elevação, por meio de modelos que resolvem o fluxo eólico sobre
diferentes tipos de topografia, e corrigindo os efeitos causados pela presença de
obstáculos (MORTENSEN et al., 2005).
Segundo Bowen e Mortensen (2004) o modelo está baseado em
condições atmosféricas que são predominantemente neutras, e correções para uma
atmosfera não neutra podem ser aplicadas manipulando os parâmetros fluxo de
calor superficial do modelo. O envelope padrão do WAsP recomenda que ele seja
utilizado, preferencialmente, em terrenos com topografia de declives baixos ou
suavizado.
Resultados satisfatórios, utilizando o WAsP, podem ser obtidos
assumindo que a torre anemométrica e o ponto-alvo estão sujeitos as mesmas
condições atmosféricas, que devem estar inseridas em uma atmosfera com
estabilidade neutra. Os dados de entrada do modelo devem ser representativos e a
topografia do terreno, em ambos os locais, pouco inclinada e suavizada,
57
assegurando que a maior parte dos fluxos estão unidos (BOWEN; MORTENSEN,
1996; MORTENSEN; PETERSEN, 1997).
Dois parâmetros são utilizados para caracterizar a estabilidade
atmosférica do WAsP, H
off
e H
rms
, que representam o fluxo de calor superficial médio
e sua variabilidade, podendo ser ajustado para diferentes situações de regimes
eólicos. Estes parâmetros influenciam no transporte vertical do momentum, que é
refletido no perfil vertical da velocidade do vento, afetando os resultados do WAsP.
Em adição, como discutido na seção 3.1.3, o modelo de estabilidade é, juntamente
com a descrição da topografia do terreno, a principal causa de erros nos resultados
do WAsP para uma determinada região.
3.1.1 Modelo de estabilidade atmosférica
O perfil vertical da velocidade do vento depende da estratificação da
atmosfera através do fluxo de calor superficial (ver seção 2.5.1, Equação (2.12)).
No WAsP, o efeito da estabilidade atmosférica é utilizado para considerar
atmosferas com estratificação não neutra. O modelo adota um método que utiliza
como informação inicial, o valor médio climatológico (H
off
) e sua variabilidade (H
rms
),
o desvio padrão, do fluxo de calor superficial, tanto para o continente, quanto para
superfícies aquáticas. Estas superfícies são distinguidas por diferentes valores de H
e interpoladas dentro da zona de transição entre estas superfícies.
A Tabela 3.1 mostra os valores climatológicos da média (H
off
) e do desvio
padrão (H
rms
) do fluxo de calor superficial, no continente e no oceano,
representativos da região Norte da Europa. Em continente o valor padrão do WAsP
para H
off
é -40 W/m², cuja atmosfera é considerada levemente estável, e para H
rms
é
100 W/m² (TROEN; PETERSEN, 1989).
Segundo Giebel e Gryning (2004) esses valores do fluxo de calor
superficial em continente não representam medidas precisas, e a maior alteração
nos resultados do WAsP resulta da modificação de H
off
, enquanto que a modificação
de H
rms
tem menor influência nos resultados.
58
Tabela 3.1 Valores climatológicos da média e do desvio padrão do fluxo de calor superficial padrões
do WAsP.
H
off
(W/m²)
H
rms
(W/m²)
Continente
-40
100
Oceano
15
30
Fixando todos os parâmetros do fluxo de calor superficial igual a zero no
WAsP, obtém-se o perfil logarítmico neutro para a velocidade do vento, Equação
(2.9), enquanto que fixando valores diferente de zero para este parâmetro, o perfil
logarítmico neutro é modificado.
O modelo de estabilidade do WAsP é obtido a partir da lei do arraste
geostrófico e do perfil logarítmico do vento, aproximando em primeira ordem o fluxo
de calor superficial a partir do estado neutro. Diferenciando G, e considerando
apenas os termos de primeira ordem, encontra-se:
2
0 p
du
cg
dH
u fT c G
, (3.1)
onde c é uma constante numérica, c
2,5. Esta equação é usada para calcular o
valor médio de u
*
a partir do valor dio climatológico do fluxo de calor superficial
dH, e também o desvio padrão de u
*
utilizando o valor do desvio padrão de dH
(TROEN; PETERSEN, 1989).
A metodologia utilizada no Atlas Eólico Europeu determina à altura z
m
acima da superfície, que conecta a rugosidade superficial ao modelo de estabilidade,
onde os efeitos do fluxo de calor desaparecem. Como conseqüência a variação na
velocidade do vento é nula nesta altura, resultando em:
00
m
z
G
z fz



, (3.2)
onde
e
β
são constantes, com
0,002
e
0,9
.
A partir de (3.2) é possível determinar a altura de variância mínima aos
efeitos de estabilidade. Nesta altura, o valor médio da velocidade do vento relativo
às condições neutra é determinado como:
59
0 *0
0
ln
mm
m
off rms
m
m
zz
uz
LL
u
u z u
z
z





, (3.3)
onde L
off
é o comprimento de Monin-Obukhov correspondente a H
off
e L
rms
corresponde a 0,6
×
∆H
rms
. O primeiro termo no lado direito conta para os efeitos de
estabilidade na velocidade de fricção dada por (3.1). O segundo termo, no lado
direito da Equação (3.3) é utilizado para calcular os efeitos de estabilidade no perfil
vertical do vento, expresso pelas funções de estabilidade ψ cujas expressões o
encontradas na seção 2.5.1.
Assim, a velocidade média do vento considerando o efeito da estabilidade
atmosférica em alturas diferentes de z
m
é obtida aplicando:
*
0
0 *0
11
m
off
m
uz
u
u z u z f z
u z u




, (3.4)
onde a função f(z), responsável pela forma do perfil vertical, é dada por:
0
0
ln
1
ln
m
m
z
z
z
fz
z
z
z







.
Essas expressões são usadas para corrigir os efeitos de estabilidade nos
dados de entrada, e re-introduzir valores apropriados quando calculados em
diferentes alturas e condições superficiais, introduzindo assim, os efeitos de
estabilidade devido ao fluxo de calor superficial nas estatísticas para uma
climatologia eólica com condições neutra. O fluxo de calor superficial entra em (3.4)
por meio das Equações (3.1), diretamente, e (3.3), por meio do comprimento de
Monin-Obukhov.
60
3.1.2 O modelo de análise do WAsP
A estimativa do recurso eólico sobre determinada área onde se deseja
implantar uma central eólica, irá se basear em extrapolações horizontais e verticais
do comportamento do vento registrado a partir de uma torre anemométrica instalada
em uma dada região.
Para o cálculo do recurso eólico disponível em uma área, é necessário
extrapolar os dados medidos em um ponto específico, geralmente uma torre
anemométrica, visando à obtenção de uma grade de dados que descreva a
climatologia sobre a superfície da área analisada e a uma determinada elevação,
chamado de Mapa ou Atlas Eólico.
Dados eólicos medidos em uma torre anemométrica, previamente
certificados e tratados de forma adequada, são utilizados para inicializar o WAsP,
decompostos em tabelas de freqüências de ocorrências com intervalos de
velocidade e setores de direção do vento. Modelos digitais dos principais fatores que
influenciam o fluxo eólico, como a topografia do terreno, a rugosidade superficial e
os obstáculos também são utilizados.
Estes modelos digitais são obtidos a partir de informações de
levantamentos planialtimétricos, modelos de relevo e rugosidade, estudos de
zoneamento ambiental, mapas topográficos de municípios, imagens de satélites,
fotografias aéreas, entre outras. O WAsP assume que existem diferentes fatores de
correção entre os dois pontos para cada setor de direção do vento, os quais são
determinados pelas condições locais de cada ponto. Estas razões são
independentes dos dados de vento registrados e das condições climáticas, as quais
são normalmente assumidas como neutras.
Aplicando esses fatores de correção e utilizando a rugosidade superficial,
obtêm-se os correspondentes ventos geostróficos para uma determinada região. O
vento geostrófico pode ser utilizado como uma forma de representação da
climatologia regional, na forma dos parâmetros de forma e de escala da função
61
distribuição de Weibull
7
, obtendo a distribuição lica sobre os valores das
condições padrões da rugosidade superficial.
As condições geostróficas o transformadas em condições superficiais
no ponto alvo, utilizando a própria teoria geostrófica e o valor da rugosidade
superficial, obtendo a velocidade de fricção superficial. A partir da Equação (2.12),
que leva em consideração os efeitos de calor superficial para corrigir a estabilidade
do fluxo incidente, obtém-se a velocidade do vento no menor nível padrão,
determinando-se os valores da velocidade do vento em diversas alturas padrões.
Aplicando os fatores de correção para cada ponto da grade do mapa
eólico, a partir dos modelos de rugosidade, obstáculos e topografia do terreno,
obtém-se o valor médio da velocidade do vento por meio da Equação (3.4), inserindo
as influências locais em cada ponto alvo.
As informações do mapa eólico permitirão uma representação visual da
variação do vento sobre a área do parque eólico. Estas informações são primordiais
para a definição dos locais mais favoráveis para a instalação de turbinas eólicas,
subsidiando a determinação da quantidade de máquinas adequada para cada área
avaliada, bem como o porte da máquina.
A Figura 3.1 apresenta um fluxograma simplificado do processo de
desenvolvimento de um mapa eólico pelo WAsP, conforme descrito nesta seção.
Em adição, um ponto da grade do mapa eólico é representado por uma
série de valores dos parâmetros de escala e de forma da distribuição de Weibull,
representando a distribuição probabilística da velocidade em diferentes setores de
direção. Isso é feito para cada ponto da grade do mapa eólico.
7
O WAsP utiliza os dois parâmetros da função distribuição de Weibull para representar as distribuições eólicas
por setor tanto das observações, quanto das simulações. A função de Weibull é definida como
1
exp





kk
k v v
fv
c c c
. O parâmetro c (m/s) é de escala e o parâmetro adimensional k é de
forma. Silva (2003) constatou que os principais programas computacionais comercialmente disponíveis no
mercado mundial não são adequados para representar satisfatoriamente os ventos típicos no NEB, e
desenvolveu um novo método para estimar estes parâmetros, atestando a eficiência deste.
62
Ressalta-se que apenas o efeito da correção da estabilidade atmosférica
nas simulações do WAsP no NEB é analisado nesta dissertação. A estabilidade
atmosférica é utilizada na extrapolação para as alturas padrão no ponto de
referência e para a extrapolação na altura desejada no ponto alvo.
Figura 3.1 Representação do esquema simplificado de criação de Mapas Eólicos pelo WAsP.
3.1.3 Fatores que afetam a simulação
Segundo Bowen e Mortensen (2004), erros nas simulações são devidos a
condições atmosféricas diferentes da considerada como padrão pelo WAsP. Estes
valores dos erros podem atingir valor significativos.
Em adição, outra categoria importante de erros, que afeta os resultados
do WAsP, está associada com as características topográficas do terreno. Os erros
são proporcionais à complexidade do terreno, ou seja, quanto mais acidentado maior
o erro da previsão. Uma discussão sobre a influência dos dados de topográfica na
precisão dos resultados do modelo é encontrada em Mortesen e Petersen (1997).
Apenas no caso de distâncias grandes entre o ponto de referência e o
ponto alvo, médias horárias podem ser mais apropriadas que, por exemplo, médias
de 10 minutos, para possibilitar que um evento físico particular se desenvolva em
63
toda região em estudo. O modelo assume que médias de 10 minutos produzem
resultados satisfatórios.
Variações mensais, sazonais e anuais também afetam os resultados, se a
série histórica dos dados observados é relativamente curta. O período de tempo
adequado para as medições eólicas é de no mínimo 1 ano, mas preferencialmente
um período de tempo de vários anos pode ser usada para evitar erros de
sazonalidade.
3.2 Descrição da estação eólica de São João do Cariri
As medições eólicas utilizadas neste estudo o provenientes do projeto
Sistema Nacional de Organização de Dados Ambientais (SONDA) do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Segundo Martins et al. (2005), o SONDA
tem como objetivo implementar uma infra-estrutura física e de recursos humanos
destinada a levantar e melhorar a base de dados dos recursos de energia solar e
eólica no Brasil.
A estação eólica escolhida, por apresentar um conjunto de dados
representativos e sem inconsistências, foi a de São João do Cariri (SCR), situada no
Estado da Paraíba, Nordeste do Brasil, inserido no Planalto da Borborema. Na
Figura 3.2 tem-se a localização aproximada da estação eólica, que está instalada em
um ponto com as seguintes coordenadas geográficas (Datum SAD69): 07° 22’ 54’’ S
e 36° 31’ 38’’ W. O ponto possui uma altitude de 486 metros.
Figura 3.2 Localização aproximada da estação eólica de SCR.
64
O regime de ventos nesta região é condicionado pelos ventos alísios e
por efeitos de microescala. Segundo Molion e Bernardo (2002) o setor leste do NEB
tem, na penetração de sistemas frontais, associada à convergência de umidade do
alísio e das brisas, seu principal produtor de chuva de grande escala. O período
mais chuvoso está compreendido entre os meses de abril a junho. A Figura 3.3
mostra a precipitação média mensal no posto pluviométrico do município de São
João do Cariri, período de 1911-1990.
Figura 3.3 Precipitação média mensal no posto pluviométrico do município de São João do Cariri,
período de 1911-1990 (Fonte: DCA/UFCG).
As medições realizadas nesta estação eólica são de velocidade e direção
do vento e da temperatura do ar em dois diferentes níveis: 25 m (z
1
) e 50 m (z
2
). Os
registros de dados de vento utilizados, com média de 10 minutos, são para o período
de 01/01/2006 a 30/04/2007.
Com relação ao sistema de aquisição de dados, é utilizado um data
logger que amostra os sensores fabricados pela RM Young e grava o valor médio da
direção, da velocidade do vento e da temperatura do ar a cada 10 minutos. O sensor
de velocidade do vento, um anemômetro de hélice, mede no intervalo de 0 - 100 m/s
com precisão de 0,3 m/s. As observações da direção do vento no intervalo de
0 - 360° possuem precisão de 3°. Sensores de platina são utilizados para as
observações de temperatura nas torres, com precisão de 0,1°C.
A Figura 3.4 mostra o mapa topográfico, dimensões de 10 km × 10 km,
com as características da região ao redor da estação eólica de SCR. Observa-se
que o relevo é pouco complexo. As linhas de contorno deste mapa, obtidos a partir
65
dos dados do projeto Shuttle Radar Topography Mission SRTM
8
, são utilizadas
como dados de entrada no WAsP.
Figura 3.4 Mapa de topografia obtido a partir do projeto SRTM para a área ao redor da estação
eólica de SCR.
A Figura 3.5 mostra uma visão panorâmica da torre eólica, com as
características da rugosidade, típica de agreste, em torno da estação eólica.
Em relação ao valor climatológico do comprimento de rugosidade utilizado
nas simulações com o WAsP, calculou-se z
0
a partir do perfil vertical da velocidade
do vento considerando as funções diabáticas nulas em (2.12). No entanto, observou-
se uma grande diferença entre os valores de z
0
calculados para a estação chuvosa e
para a estação seca da região, com média de aproximadamente 0,6 m e 0,1 m para
estas estações, respectivamente. Assim, nos experimentos realizados com o WAsP,
utilizou-se um comprimento de rugosidade z
0
, que se especula ser representativo
para a estação de SCR, igual a 0,10 m. Segundo Carvalho (2003) este valor é
característico de superfícies cobertas com vegetação antrópica de médio porte.
8
O conjunto de dados do projeto SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) é um modelo digital de superfície de
média resolução, aproximadamente 90 m, para descrição dos dados topográficos dos continentes (Rodrigues
et al., 2005). Entretanto, este modelo apresenta incertezas associadas aos dados, e sobre estimativas das
cotas das linhas de contorno, o que pode implicar em erros nos resultados do modelo WAsP.
66
Figura 3.5 Visão panorâmica da torre eólica de SCR.
Outra importante informação para a correta caracterização do sítio é a
identificação, qualificação e quantificação dos obstáculos que influenciam o fluxo
eólico. Nas simulações realizadas com o WAsP, rosa de obstáculos que exerçam
influência significativa na modelagem eólica não são incluídas em torno da posição
específica da estação eólica e da turbina proposta.
Dessa forma, o objetivo de se utilizar o conjunto de dados medidos na
estação eólica de SCR é classificar a estabilidade atmosférica e calcular
empiricamente o fluxo de calor sensível utilizando a metodologia descrita na seção
2.5.1, comparando os resultados com os valores padrões do WAsP, e em seguida,
analisar a sensibilidade do WAsP conforme a metodologia descrita na seção 3.4.
3.3 Descrição da torre anemométrica de Canoa Quebrada
Utilizaram-se as medições eólicas da torre anemométrica situada no
distrito de Canoa Quebrada (CQ), município de Aracati, Estado do Ceará, NEB, para
analisar a sensibilidade do WAsP, a partir de dados representativos e de qualidade.
67
A Figura 3.6 mostra a localização aproximada da torre eólica de CQ,
localizada no litoral leste do Estado do Cea, próximo da praia, cujas coordenadas
não serão informadas por tratar-se de uma torre pertencente a uma empresa
privada. Em adição, utilizaram-se os dados medidos em uma Plataforma de Coleta
de Dados (PCD) de superfície, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos
Hídricos (FUNCEME), localizada no município de Icapuí, próximo a CQ, para
fornecer, de forma qualitativa, informações de campos atmosféricos não medidos em
CQ. A PCD de Icapuí esta instalada em um ponto com coordenadas geográficas
(Datum SAD69): 04° 43’ 56’’ S e 37° 18’ 21’’ W.
Figura 3.6 Localização aproximada da torre eólica de CQ e da PCD FUNCEME próximo a CQ.
A região da costa leste do Estado do Ceará, no setor norte do NEB,
climatologicamente apresenta o seu período chuvoso centrado no quadrimestre de
fevereiro a maio (ALVES; REPELLI, 1992; MOLION; BERNARDO, 2002). A Figura
3.7 mostra a precipitação média mensal no posto pluviométrico do município de
Aracati, período de 1911-1990.
68
Figura 3.7 Precipitação média mensal no posto pluviométrico do município de Aracati, período de
1911-1990 (Fonte: DCA/UFCG).
As medições realizadas na torre anemométrica de CQ são de velocidade
e direção do vento em dois diferentes níveis: 40 m e 60 m, para o período de
01/04/2004 a 31/03/2005. Os registros de dados de vento utilizados são feitos por
um data logger fabricado pela NRG, modelo do anemômetro #40, gravando o valor
médio da velocidade e direção do vento a cada 10 minutos. A precisão deste
anemômetro é de 0,1 m/s.
Os campos meteorológicos obtidos na PCD’s da FUNCEME, município
cearense de Icapuí, período de 01/04/2004 a 31/03/2005, permitem comparar
qualitativamente a estabilidade atmosférica, por meio da temperatura do ar, na
região de CQ e a obtida em SCR.
Para uma melhor representação da área em estudo, a Figura 3.8 mostra o
mapa topográfico com alta resolução, linhas de contorno de 1 m, no perímetro da
torre anemométrica de CQ. As linhas de contorno deste mapa são utilizadas como
dados de entrada no modelo WAsP. Este sítio apresenta as condições favoráveis
para o uso deste domínio, como rugosidade homogênea, típica de dunas,
localização costeira e topografia suave com relevo pouco complexo.
69
Figura 3.8 Mapa de topografia no perímetro da torre anemométrica de CQ.
A região em torno da torre anemométrica pode ser representada por duas
zonas, com diferentes condições de topografia e características do solo. A primeira
zona é caracterizada por sedimentos costeiros arenosos, como dunas móveis e
areia em todo o terreno. A cobertura da superfície é predominantemente instável,
com pequenas variações na inclinação e nas cotas de níveis. Não vegetação na
maior parte desta área, mas encontram-se pequenas áreas de vegetação arbusto
espaçada nas dunas com densidade variável.
A segunda zona, localizada na parte central e posterior do terreno, possui
solo arenoso-argiloso com topografia simples. A cobertura superficial é caracterizada
por vegetação natural de pequeno a médio porte.
Semelhante a SCR, nas simulações realizadas com o WAsP em CQ, não
são incluídas rosa de obstáculos em torno da posição específica da estação eólica e
da turbina proposta.
O objetivo de se utilizar este conjunto de dados é analisar a sensibilidade
do WAsP com dados eólicos, representativos e de qualidade, medidos em CQ,
encontrando-se uma faixa de valores ótimos para H
off
e para H
rms
.
3.4 Processo de análise da sensibilidade do WAsP
Os dados de vento coletados nas torres eólicas de SCR e CQ permitem a
obtenção dos valores médios e do desvio padrão, evolução média mensal e diária,
distribuição da freqüência total de ocorrências, gradientes verticais dos campos
70
atmosféricos medidos e dos parâmetros das funções de similaridade, como
apresentados e discutidos no capítulo 4.
Inicialmente identificou-se a estabilidade da atmosfera na região da
estação eólica de SCR através do parâmetro L, determinado por relações empíricas
entre
/zL
e Ri conforme descrito na seção 2.5.1. Em seguida, calculou-se o valor
de H para todo o conjunto de dados medidos na estação lica de SCR por dois
diferentes métodos: gradiente de Richardson Ri; e considerando as funções
diabáticas no perfil vertical da temperatura potencial do ar zero, no qual a
estratificação da atmosférica é neutra, obtendo-se o seu valor médio e o respectivo
desvio padrão para todo o período em estudo em SCR.
Essa etapa permitirá identificar se a estabilidade atmosférica calculada
em SCR é semelhante, ou não, ao padrão do WAsP, e se o valor médio e o
respectivo desvio padrão de H, obtido com o gradiente de Richardson, é diferente do
obtido considerando as funções diabáticas nulas, e quão próximos estes valores
calculados estão do padrão do WAsP.
Em seguida, simula-se com o WAsP a densidade de potência eólica DP
nas torres anemométricas de SCR e de CQ, modificando-se, sistematicamente, os
valores do fluxo de calor superficial continental do modelo, através do seu valor
médio H
off
e do seu desvio padrão H
rms
especificamente conforme descrito na seção
3.1.1. Compararam-se estes valores com a densidade de potência eólica calculada
nos diferentes níveis destas estações
9
, obtendo-se os valores ótimos de H
off
e de
H
rms
. Como critério de erro E, utiliza-se o valor percentual do desvio do valor da DP
simulada pelo WAsP em relação ao calculado nas diferentes alturas nos dois sítios:
1 100%
WAsP
calculado
DP
E
DP



, (3.5)
onde DP
WAsP
é a densidade de potência eólica simulada pelo WAsP e DP
calculado
é a
densidade de potência calculada nos diferentes níveis nas torres anemométricas de
9
A densidade de potência calculada é dada por
3
1
2
calculado
DP v
, onde ρ é a massa específica do ar e v é a
velocidade do vento. Para efeito comparativo utilizou-se para ρ o valor de 1,225 kg/m³, padrão do WAsP.
71
SCR e CQ. O WAsP sobre estima a densidade de potência calculada se E for
positivo, e subestima se E for negativo.
Com o valor do fluxo de calor sensível calculado e a análise da
sensibilidade dos parâmetros H
off
e H
rms
em SCR é possível avaliar se o tamanho do
erro utilizando os valores calculados de H é menor que o erro utilizando os valores
padrões do WAsP.
As simulações com o WAsP são realizadas utilizando como informações
iniciais os dados de velocidade do vento medidos em um determinado nível,
simulando a densidade de potência no outro nível da torre anemométrica.
Modifica-se sistematicamente o valor de H
off
continental, mantendo inicialmente o
valor padrão de H
rms
(100 W/m²) em continente constante, e com os resultados,
calculam-se os valores de E (%) para a densidade de potência eólica, em relação
aos valores calculados nas torres anemométricas.
Uma vez encontrado o valor ótimo de H
off
, valor de E mais próximo de
zero, modificou-se sistematicamente H
rms
considerando o valor de H
off
como ótimo,
obtendo-se, então, uma faixa de valores destes parâmetros onde a DP simulada
pelo WAsP apresenta os menores erros.
Assim, minimizando os erros nas simulações da DP em uma dada região,
contribui-se na produção de melhores projetos eólicos, com menores índices de
incertezas ao mercado de produção de energia eólica no NEB.
72
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este capítulo descreve os resultados dos experimentos realizados para o
melhor entendimento do WAsP no NEB. Inicialmente apresentam-se as anomalias
na velocidade do vento nas estações chuvosa e seca em anos tidos como de
contrastes climáticos. Em seguida, analisam-se, a partir de dados de reanálise, os
fluxos de calor sensível e latente nas regiões NEB e Europa, identificando-se a
estabilidade atmosférica destas regiões. Os parâmetros de escala das funções de
similaridade calculados na estação eólica de SCR e a circulação local na região de
CQ são analisados e discutidos. Por fim, faz-se uma alise de sensibilidade dos
parâmetros fluxo de calor superficial do WAsP, buscando minimizar as diferenças
entre os resultados do modelo e os valores medidos nas estações.
4.1 Anomalia da velocidade do vento no Nordeste do Brasil
A Figura 4.1 mostra os valores médios da anomalia
10
da velocidade do
vento (m/s) obtidos a partir dos dados de reanálise do NCEP/NCAR, nível de 10 m,
nos meses de fevereiro a maio (a), estação chuvosa no setor norte do NEB, e de
setembro a dezembro (b), estação seca nesta região, para 1983, ano classificado
como de El Niño forte pelo CPC/NCEP segundo Alves et al. (2005), em relação ao
valor médio climatológico.
Observa-se que em relação ao valor climatológico, período de 1975 a
2004, neste evento de El Niño forte, a velocidade dos ventos na estação seca sobre
o litoral do Estado do Ceará, aumenta em aproximadamente 2 m/s. Na estação
chuvosa desta região, os valores da velocidade do vento mantêm-se em torno do
valor climatológico, com pequena redução de aproximadamente 0,2 m/s nos valores
médios da velocidade do vento no litoral cearense.
10
A anomalia da velocidade do vento em uma dada região é o desvio do valor de um período específico de
tempo em relação ao valor médio climatológico nessa mesma região. Na seção 4.1, o período específico
refere-se aos meses de fevereiro a maio e de setembro a dezembro em anos com contrastes climáticos, 1983
e 1999, e o valor médio climatológico refere-se ao período de 1975 a 2004.
73
(a)
(b)
Figura 4.1 Valores médios da anomalia da velocidade do vento (m/s) obtidos a partir dos dados de
reanálise do NCEP/NCAR, nível de 10 m, nos meses de fevereiro a maio (a), e de
setembro a dezembro (b) do ano de 1983, em relação ao valor médio climatológico,
período de 1975 a 2004.
A Figura 4.2 mostra os valores médios da anomalia da velocidade do
vento (m/s) obtidos a partir dos dados de reanálise do NCEP/NCAR, nível de 10 m,
nos meses de fevereiro a maio (a), e de setembro a dezembro (b), para 1999, ano
classificado como de La Niña forte pelo CPC/NCEP segundo Alves et al. (2005), em
relação ao valor médio climatológico, período de 1975 a 2004.
No período de fevereiro a maio, estação chuvosa no setor norte do NEB,
a velocidade do vento diminui em relação ao valor médio climatológico em
aproximadamente 1 m/s nesta região. No entanto, no período de setembro a
dezembro, estação seca nesta região, uma intensificação nos valores da
velocidade do vento, em relação ao valor médio climatológico, de aproximadamente
1,2 m/s no litoral do Estado do Ceará.
Em adição, observa-se que na estação chuvosa do setor norte do NEB,
neste ano com evento de La Niña forte, 1999, a redução nos valores médios da
velocidade do vento, em relação ao valor médio climatológico, é maior que no ano
com evento de El Niño forte, 1983. Durante a estação seca desta região, observa-se
que a intensificação dos valores médios da velocidade do vento no ano de 1999 é
menor que no ano de 1983.
74
(a)
(b)
Figura 4.2 Valores médios da anomalia da velocidade do vento (m/s), obtidos a partir dos dados de
reanálise do NCEP/NCAR, nível de 10 m, nos meses de fevereiro a maio (a), e de
setembro a novembro (b) do ano de 1999, em relação ao valor médio climatológico,
período de 1975 a 2004.
4.2 Fluxo de calor superficial na região Nordeste do Brasil
A Figura 4.3 mostra os valores da climatologia do fluxo de calor sensível
superficial, período de 1975 a 2004, obtido a partir dos dados de reanálise do NCEP
no NEB (a) e na Europa (b). No NEB se observam valores positivos de H, indicando
fluxos ascendentes e atmosfera com estratificação variando entre neutra e
levemente instável de acordo com a classificação apresentada na seção 2.5.1. Os
valores de H chegam a aproximadamente 60 W/m², encontrados em uma faixa que
corta os Estados de Pernambuco e Paraíba, atingindo faixas nos Estados do Rio
Grande do Norte, Alagoas e Ceará. Em adição, no oceano os valores de H são
neutros, segundo a classificação apresentada na seção 2.5.1, e estes valores são
menores que os levemente instáveis encontrados em continente.
Na Europa alguns setores do oceano e do continente apresentam valores
de H em torno de 0 W/m², enquanto o setor norte possui valores negativos, onde os
valores encontrados são em torno de -40 W/m², indicando fluxos descendentes e
atmosfera levemente estável.
75
(a)
(b)
Figura 4.3 Valores da climatologia do fluxo de calor sensível (W/m²) superficial, período de 1975 a
2004, obtido a partir dos dados de reanálise do NCEP no NEB (a) e na Europa (b).
A Figura 4.4 mostra os valores do desvio padrão da climatologia do fluxo
de calor sensível superficial, período de 1975 a 2004, obtido a partir dos dados de
reanálise do NCEP no NEB (a) e na Europa (b). Observa-se que na região NEB o
oceano apresenta menor desvio padrão que o continente, devido, provavelmente, à
grande capacidade térmica da água que pode receber calor a partir da radiação, e
sofrer pouca variação em sua temperatura. Em adição, a região continental que
apresentou os maiores valores de H foi também a que apresentou os maiores
desvios padrões deste fluxo, devido, provavelmente, aos contrastes de temperatura
observados entre o período diurno e o noturno.
Em relação à Europa, observa-se que no oceano os valores do desvio
padrão de H variam entre aproximadamente 25 W/m² e 50 W/m², e que na maior
parte do setor continental os valores do desvio padrão de H variam entre
aproximadamente 75 W/m² e 100 W/m², com algumas exceções.
Ressalta-se que os valores encontrados na Figura 4.3 e na Figura 4.4
para a Europa concordam com os encontrados na Tabela 3.1. Em adição, não são
observados no NEB ocorrências dos valores padrões do WAsP de H
off
e H
rms
.
Nas regiões litorâneas do NEB o fluxo de ar, predominantemente, vem do
oceano, que apresenta estratificação neutra em média, com valores entre 0 W/m² e
25 W/m², e valores de desvio padrão menores que 50 W/m². Assim, especula-se que
o perfil logarítmico do vento seja válido nessas regiões.
76
(a)
(b)
Figura 4.4 Valores do desvio padrão da climatologia do fluxo de calor sensível (W/m²) superficial,
período de 1975 a 2004, obtido a partir dos dados de reanálise do NCEP no NEB (a) e
na Europa (b).
Entretanto, no NEB o calor latente aparece como a fonte primária,
originada devido aos distúrbios associados com a convecção e os sistemas de
nuvens convectivas. A Figura 4.5 mostra os valores da climatologia do fluxo de calor
latente LE superficial, período de 1975 a 2004, obtido a partir dos dados de reanálise
do NCEP no NEB (a) e na Europa (b). Na região NEB observa-se que os maiores
valores de LE são encontrados onde se observam os menores valores de H. O
oceano apresenta valores de LE maiores que o continente, e estes valores são
maiores que os encontrados para H nesta região. Na Europa observa-se que os
valores de LE são, em geral, menores que os encontrados no NEB, e que as regiões
com menores valores de H são as que possuem menores valores de LE.
A Figura 4.6 mostra os valores do desvio padrão da climatologia do fluxo
de calor latente superficial, período de 1975 a 2004, obtido a partir dos dados de
reanálise para o NEB (a) e para a Europa (b). Novamente encontra-se que o oceano
apresenta menor desvio padrão em relação ao continente no NEB, devido,
provavelmente, as diferenças encontradas na atmosfera continental entre as
estações chuvosa e seca na região. Em adição, a região que apresentou maior valor
médio do fluxo de calor latente, foi também a que apresentou menor desvio padrão.
Em relação à Europa, os valores do desvio padrão do fluxo de calor
latente encontram-se entre aproximadamente 50 W/m² e 100 W/m², com algumas
exceções no setor norte da EU.
77
(a)
(b)
Figura 4.5 Valores da climatologia do fluxo de calor latente (W/m²) superficial, período de 1975 a
2004, obtido a partir dos dados de reanálise para o NEB (a) e para a Europa (b).
(a)
(b)
Figura 4.6 Valores do desvio padrão da climatologia do fluxo de calor latente (W/m²) superficial,
período de 1975 a 2004, obtido a partir dos dados de reanálise para o NEB (a) e para a
Europa (b).
Ressalta-se que segundo Kalnay et al. (1996) estes campos atmosféricos
não são provenientes de observações diretas, e sim de modelos numéricos forçados
por assimilação de dados na atmosfera, devendo ser utilizados com o devido
cuidado. Em adição, o fluxo de calor sensível é o parâmetro utilizado nas simulações
do WAsP. O calor latente não está implementado neste modelo, dificultando as
simulações no NEB.
78
4.3 Análise dos parâmetros de escala das funções de similaridade na estação
eólica de SCR
A Figura 4.7 mostra a evolução média mensal da velocidade normalizada
e da direção predominante do vento nos níveis de 25 m e 50 m obtidos a partir dos
dados medidos na estação eólica de SCR, período de janeiro de 2006 a abril de
2007. Observa-se que no nível de 25 m, a velocidade normalizada do vento (vv_25)
varia entre 0,70 (abril/2006) e 1,23 (outubro/2006), enquanto que no nível de 50 m, a
velocidade normalizada do vento (vv_50) varia entre 0,71 e 1,21 nesses meses.
Quanto à direção predominante do vento, esta está variando entre as direções
sul-sudeste, observadas principalmente na estação seca desta região, e sul,
observadas durante a estação chuvosa, nos dois níveis.
Figura 4.7 Evolução média mensal da velocidade normalizada e da direção predominante do vento
na estação eólica de SCR.
Em relação à evolução média diária da velocidade normalizada e da
direção predominante do vento, a Figura 4.8 mostra que os valores encontrados
para a velocidade normalizada do vento variam entre 0,50 (05:00 HL) e 1,37
(19:00 HL) no nível de 25 m (vv_25). No nível de 50 m (vv_50), observa-se que
estes valores variam entre 0,57 e 1,39 nos horários observados anteriormente. A
direção predominante do vento varia entre os setores de sul-sudeste e sul nos dois
níveis.
79
Figura 4.8 Evolução média diária da velocidade normalizada e da direção predominante do vento na
estação eólica de SCR.
Os valores extremos da evolução média diária da direção predominante
do vento diferem em aproximadamente 20°, enquanto que os valores extremos da
evolução média mensal do vento diferem em aproximadamente 40°. Isto mostra que
a evolução média mensal possui maior variabilidade que a evolução média diária.
Observaram-se, para a velocidade do vento nesta estação eólica,
menores valores entre os meses de fevereiro a julho de 2006, estação chuvosa na
região segundo Molion e Bernardo (2002), e maiores valores no período entre os
meses de setembro/2006 a janeiro/2007, estação seca na região. Os máximos
valores da evolução média diária são registrados durante a noite no período entre as
17:00 HL e 21:00 HL.
A Figura 4.9 mostra a distribuição da freqüência total de ocorrências da
velocidade do vento nos níveis de 25 m (a) e 50 m (b) respectivamente. Observa-se
que os valores de velocidade do vento maiores que 3 m/s, velocidade de entrada
típica de alguns aero geradores, possuem aproximadamente 75% e 80% do total de
ocorrências nesses níveis.
A Figura 4.10 mostra a evolução média mensal do comprimento de
Monin-Obukhov L obtido pelo método do gradiente de Richardson (L
gradiente
), e
considerando as funções diabáticas nos perfis verticais da velocidade do vento e da
temperatura potencial do ar nulas (L
neutro
). Os cálculos estão descritos na
80
seção 2.5.1 e baseados nas medidas da velocidade do vento e da temperatura do ar
nos níveis de 25 m (z
1
) e 50 m (z
2
) da estação eólica de SCR.
(a)
(b)
Figura 4.9 Distribuição da freqüência total de ocorrências da velocidade do vento nos níveis de
25 m (a) e 50 m (b).
Figura 4.10 Evolução média mensal do comprimento de Monin-Obukhov nas duas diferentes
condições atmosféricas em estudo.
Observa-se que os valores para L
gradiente
estão variando entre -352,24 m e
13,21 m, enquanto que para L
neutro
os valores variam entre -855 m e 235,81 m. Nos
dois casos considerados, obtiveram-se os valores mínimos e máximos nos meses de
outubro/2006 e junho/2006 respectivamente. Em adição, valores de L
correspondentes aos de uma atmosfera instáveis ocorrem durante o período de
81
setembro de 2006 a janeiro de 2007, enquanto que valores de L correspondentes
aos de uma atmosfera estável são verificadas entre maio e junho de 2006.
A evolução média diária de L está mostrada na Figura 4.11, onde se
observam dois comportamentos distintos nas duas condições atmosféricas em
estudo. Durante o período diurno, entre as 07:00 HL e 15:00 HL, o valor de L
mantêm-se aproximadamente constante, e a atmosfera muito instável. Isto se deve,
provavelmente, ao fato de que durante o dia a velocidade de fricção superficial e o
fluxo de calor sensível, relacionados à L, são aproximadamente constantes,
principalmente entre os horários das 10:00 HL as 15:00 HL. No início do período
noturno L atinge os menores valores, e entre 00:00 HL e 08:00 HL o valor de L
aumenta.
Figura 4.11 Evolução média diária do comprimento de Monin-Obukhov nas duas diferentes
condições atmosféricas em estudo.
Em relação aos valores médio diário extremos de L
gradiente
e L
neutro
, os
mínimos calculados são de -636,75 m e -1484,40 m, obtidos em 19:00 HL, e os
máximos calculados são de -16,44 m e 239,64 m, obtidos em 05:00 HL,
respectivamente.
Ainda em relação ao comprimento de Monin-Obukhov, de acordo com a
classificação apresentada na seção 2.5.1 para L, os valores calculados em toda a
série são dominados por condições de muito instável (50% das ocorrências) e
82
instável (24% das ocorrências), com baixa ocorrência das classes de quase-neutra,
estável e muito estável (13%, 7% e 6% respectivamente), conforme a Figura 4.12a.
Considerando as funções diabáticas nulas nas Equações (2.16) e (2.17),
estratificação da atmosfera neutra, obtêm-se uma distribuição de freqüência de L
semelhante ao obtido considerando estas funções diabáticas, conforme mostrado na
Figura 4.12b. Ressalta-se que mesmo considerando a estratificação da atmosfera
neutra, obtiveram-se classes de estabilidade correspondentes a uma atmosfera
não-neutra. Isto se deve, provavelmente, a equação utilizada.
(a)
(b)
Figura 4.12 Freqüência de ocorrência das diferentes condições de estabilidade obtido pelo método
do gradiente de Richardson (a) e considerando a estratificação da atmosfera neutra (b).
Vale ressaltar que os valores obtidos para L em SCR contrastam com os
obtidos por Barthelmie (1999) para o parque eólico de Vindeby, situado na costa
Noroeste da Dinamarca, em que as ocorrências de estabilidade e quase-neutro
dominam as observações, com pouca ocorrência da classe de instabilidade.
Os valores de L obtidos considerando as funções diabáticas nulas são
menores que os observados considerando estas funções, com exceção do período
entre as 01:00 e 05:00 HL. Isto se deve, provavelmente, ao fato da atmosfera
apresentar, neste período, uma estratificação estável, com menor cisalhamento.
Em relação à velocidade de fricção superficial, a Figura 4.13 mostra a sua
evolução média mensal calculada por (2.16). O valor mínimo obtido pelo método do
83
gradiente (u
*grad
) é de 0,37 m/s no mês de abril/2006 e o ximo é de 0,58 m/s
obtido em setembro de 2007. Observam-se ainda menores valores de cisalhamento
calculado utilizando a condição de estabilidade neutra (u
*neutro
), pois neste caso o
termo diabático é nulo tornando u
*neutro
menor que u
*grad
. Visualmente as curvas
apresentam comportamento semelhante, e as diferenças nos valores da velocidade
de fricção superficial são maiores na estação seca desta região, período onde as
velocidades do vento são maiores.
Figura 4.13 Evolução média mensal da velocidade de fricção superficial.
A Figura 4.14 mostra a evolução média diária dos valores obtidos para u
*
.
O valor mínimo, considerando as funções diabáticas (u
*grad
), é 0,38 m/s calculado as
06:00 HL, e o máximo é de 0,59 m/s calculado as 18:00 HL, horário onde
registram-se os máximos valores da velocidade do vento. Em relação aos valores
de u
*neutro
, a diferença destes e dos calculados para u
*grad
é de aproximadamente
0,20 m/s no intervalo de 07:00 HL as 16:00 HL.
A Figura 4.15 mostra a evolução média mensal do fluxo de calor sensível
calculado a partir da Equação (2.13). Os valores H obtidos considerando as funções
diabáticas (H
grad
), método do gradiente de Richardson, variam entre
aproximadamente 3,2 W/m
2
(julho/2006) e 48,9 W/m
2
(setembro/2006).
Desprezando as funções diabáticas (H
neutro
), os valores calculados variam entre
aproximadamente -15 W/m
2
(julho/2006) e 29,4 W/m
2
(outubro/2006).
84
Figura 4.14 Evolução média diária da velocidade de fricção superficial.
Em relação à sazonalidade anual do fluxo de calor sensível no período
em estudo, observam-se menores valores de H durante os meses de março a julho,
estação chuvosa da região e período em que os valores desse parâmetro variam
entre aproximadamente -10 W/m² e 10 W/m², nos dois casos de estabilidade
atmosférica considerados. Em adição, registraram-se os maiores valores do fluxo de
calor sensível calculado no período de setembro de 2006 a janeiro de 2007, estação
seca da região e período no qual os valores de H variam entre aproximadamente
20 W/m² e 50 W/m² nos dois casos de estabilidade atmosférica considerados.
Figura 4.15 Evolução média mensal do fluxo de calor sensível para as duas diferentes condições
atmosféricas em estudo.
85
Quanto à evolução média diária de H para todo o período em estudo, a
Figura 4.16 mostra que, os valores calculados pelo método do gradiente de
Richardson, considerando a atmosfera diabática e as funções de estabilidade na
Equação (2.17), variam entre -28,76 W/m
2
(04:00 HL), como resultado do
resfriamento superficial noturno, e 78,5 W/m
2
(10:00 HL), como resultado do
aquecimento superficial diurno. A Figura 4.17 mostra a evolução média diária
considerando a estabilidade da atmosfera neutra, onde as funções diabáticas são
nulas na Equação (2.17). Os valores deste parâmetro para todo o período em estudo
variam entre aproximadamente -35 W/m² (04:00 HL) e 40 W/m² (10:00 HL).
O valor médio do fluxo de calor sensível calculado para todo o período de
dados observados é 10,4 W/m
2
e 27 W/m
2
considerando a estratificação da
atmosfera neutra e diabática respectivamente, enquanto que os valores médio do
desvio padrão populacional foram aproximadamente 53,3 W/m² e 75 W/m²,
respectivamente. Em adição, os dados de reanálise sobre estimam os valores
calculados para o fluxo de calor sensível na região da estação eólica de SCR, e
ambos os resultados mostram que a atmosfera nesta região apresenta estratificação
levemente instável em média, o que também é observado nos dados de reanálise.
Este valores médios calculados contrastam com os padrões do fluxo de calor
superficial em continente do WAsP.
Figura 4.16 Evolução média diária do fluxo de calor sensível calculado considerando a estratificação
da atmosfera diabática para toda a série histórica, e para os períodos chuvoso e seco
em SCR.
86
Figura 4.17 Evolução média diária do fluxo de calor sensível calculado considerando a atmosfera
neutra para toda a série histórica, e para os períodos chuvoso e seco em SCR.
Comportamento semelhante do fluxo de calor superficial é observado para
o período chuvoso, abril a julho de 2006, e para o período seco, setembro de 2006 a
janeiro de 2007, na estação eólica de SCR, onde apenas os valores médios horários
do fluxo de calor sensível são diferentes, como resultado da sazonalidade deste.
Para os meses do período chuvoso em SCR os valores encontrados durante a noite
correspondem aos observados para uma atmosfera levemente estável, semelhante
a padrão utilizado no WAsP. O valor médio para este período é de 10 W/m² com
desvio padrão de 80 W/m² calculado a partir do método do gradiente, e de -6 W/m²
com desvio padrão de 67,4 W/m² calculado considerando a estratificação da
atmosfera neutra.
Nos meses de setembro de 2006 a janeiro de 2007, período seco em
SCR segundo Molion e Bernardo (2002), a atmosfera apresenta um ciclo diário
semelhante aos observados anteriormente, entretanto os valores de H são maiores.
O valor médio do peodo é 40 W/m² com desvio de 50 W/m² obtidos a partir do
gradiente de Richardson, e média de 24 W/com desvio de 33,5 W/m² calculados
considerando a estratificação da atmosfera neutra.
87
4.4 Análise da circulação local na região de Canoa Quebrada
A Figura 4.18 mostra a evolução média mensal da velocidade
normalizada e da direção predominante do vento nos níveis de 40 m e 60 m obtidos
a partir dos dados medidos na torre anemométrica de Canoa Quebrada CQ, período
de abril de 2004 a março de 2005. Observa-se que no nível de 40 m, a velocidade
normalizada do vento (vv_40) varia entre 0,80 (junho/2004) e 1,23 (outubro/2004),
enquanto que no nível de 60 m, a velocidade normalizada do vento (vv_60) varia
entre 0,83 e 1,22 nesses meses. Obtiveram-se os maiores valores da velocidade
média mensal normalizada do vento nos meses da estação seca desta região, e os
mínimos valores da velocidade média mensal normalizada do vento nos meses da
estação chuvosa desta região. A Figura 4.18 mostra também que a direção
predominante do vento varia entre os setores de leste, observadas principalmente
na estação seca desta região, e leste-sudeste, observadas durante a estação
chuvosa, nos dois níveis em estudo.
Figura 4.18 Evolução média mensal da velocidade normalizada e da direção predominante do vento
na torre anemométrica de CQ.
Em relação à evolução média diária da velocidade normalizada e da
direção predominante do vento em CQ, a Figura 4.19 mostra que os valores
encontrados para a velocidade normalizada do vento variam entre 0,78 (07:00 HL) e
1,23 (22:00 HL) no nível de 40 m (vv_40), e entre 0,83 (06:00 HL) e 1,22 (22:00 HL)
88
no nível de 60 m (vv_60). A direção predominante do vento varia entre os setores de
leste-nordeste e leste-sudeste nos dois níveis.
Figura 4.19 Evolução média diária da velocidade normalizada e da direção predominante do vento
na torre anemométrica de CQ.
Em uma análise mais detalhada, pode-se inferir dos dados mostrados na
Figura 4.19 a formação das brisas marítima. Durante o dia, entre 11:00h e 16:00h,
há uma leve intensificação nos valores da velocidade do vento e mudança na
direção predominante do vento nos dois níveis.
Esses resultados concordam com os obtidos por Camelo (2007) e por
Secretaria da Infraestrutura do Estado do Ceará (2001), que observaram maior
intensificação nos valores da velocidade do vento no período diurno na região
litorânea do Estado do Ceará.
A Figura 4.20 mostra a evolução média diária da temperatura do ar
normalizada em SCR, níveis de 25 m e 50 m, e na PCD de Icapuí, nível de 2 m.
Observa-se que em SCR o valor da temperatura no nível de 50 m é menor que o
valor no nível de 25 m, e que os valores médios encontrados variam entre
aproximadamente 0,84 (05:00 HL) e 1,20 (14:00 HL) nos dois níveis.
Em relação à PCD de Icapuí, a evolução média diária da temperatura do
ar normalizada no nível de 2 m, os valores médios encontrados variam entre
aproximadamente 0,92 (06:00 HL) e 1,07 (14:00 HL).
89
O fato das evoluções médio diária da temperatura do ar normalizada nos
dois níveis em SCR apresentar maiores variações que as observadas em Icapuí
pode ser justificado pelo fato de que nessa estação o efeito de continentalidade ser
mais intenso que o observado em Icapuí, que apresenta menor variação médio
diária, provavelmente, devido à influência marítima. Esses resultados concordam
com os dados de reanálise (ver seção 4.2), que mostraram que a faixa litorânea do
NEB apresenta menor valor médio e desvio padrão do fluxo de calor sensível que a
parte continental.
No entanto, especula-se que a temperatura do ar nas regiões litorânea do
Estado do Ceará apresente uma evolução média diária semelhante ao observado no
nível de 2 m em Icapuí.
Figura 4.20 Evolução média diária da temperatura do ar em SCR, níveis de 25 m e 50 m, e nas
PCD’s de Icapuí e Jaguaruana, nível de 2 m.
4.5 Análise da sensibilidade do modelo WAsP
Nas seções 4.2, 4.3 e 4.4 analisou-se a estabilidade atmosférica e o fluxo
de calor sensível no NEB, e os contrastes da atmosfera desta região com a da
Europa. Nesta seção, analisa-se a sensibilidade do WAsP à modificação do
parâmetro fluxo de calor sensível em SCR e CQ, encontrando uma faixa de valores
90
ótimos para os parâmetros H
off
e H
rms
. Em adição, avalia-se quanto a aplicação da
metodologia aqui proposta melhora nos resultados do WAsP em SCR.
4.5.1 Estação eólica de São João do Cariri
A Figura 4.21 mostra os valores de E (%) para a densidade de potência
eólica simulada pelo WAsP, em relação ao calculado na estação eólica de SCR,
período de 01/01/2006 a 30/04/2007. Para isto utilizou-se os valores da velocidade
do vento medidos no nível de 25 m e simulou-se a densidade de potência eólica no
nível de 50 m a partir da modificação sistemática de H
off
, mantendo inicialmente o
valor padrão de H
rms
(100 W/m²) constante.
Figura 4.21 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado pelo WAsP, em relação
ao calculado na estação lica de SCR, para todo o período de dados, utilizando-se os
valores de velocidade do vento medidos no nível de 25 m e simulando a DP no nível de
50 m, a partir da modificação sistemática de H
off
.
Observa-se que o valor ótimo de H
off
é em torno de 25 W/m², e que o
WAsP subestima as observações da densidade de potência no vel de 50 m em
aproximadamente 0,5%. O valor padrão de H
off
(-40 W/m²), indicado por uma linha
sólida, sobre estima as observações de DP neste nível em aproximadamente 5,4%.
O valor calculado do fluxo de calor sensível na estação eólica de SCR
(ver seção 4.3) apresentou um valor médio de aproximadamente 10,4 W/m²
considerando a atmosfera da região neutra, indicado por um traço ponto quadrado, e
91
27 W/m² calculado a partir do gradiente de Richardson, indicado por um tracejado
longo. Observa-se que, substituindo diretamente esses valores no WAsP, os erros
encontrados na DP simulada são menores que os encontrados com os valores
padrões, subestimados em aproximadamente 1% e 0,5% respectivamente. Em
adição, os resultados mostram que se modificando os valores de H
off
pelos
compreendidos no intervalo de 0 W/m² a 200 W/m², atmosfera com estratificação
variando entre neutra e instável, os erros são menores que os obtidos com o padrão
do WAsP.
Uma vez encontrado o valor ótimo de H
off
na estação eólica de SCR
(25 W/m²), modificou-se sistematicamente H
rms
, a partir do valor ótimo de H
off
. A
Figura 4.22 mostra os valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulada
pelo WAsP no nível de 50 m, em relação ao calculado, utilizando-se os valores de
velocidade do vento medidos no nível de 25 m.
Figura 4.22 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado pelo WAsP, em relação
ao calculado na estação lica de SCR, para todo o período de dados, utilizando-se os
valores de velocidade do vento medidos no nível de 25 m e simulando a DP no nível de
50 m, a partir da modificação sistemática de H
rms
.
Observa-se que o valor padrão de H
rms
(100 W/m²), indicado por uma
linha sólida, subestima a DP calculada em SCR em aproximadamente 0,5%. Os
menores erros de H
rms
encontram-se no intervalo entre 25 W/m² e 50 W/m², sendo
que o valor de H
rms
da ordem de 25 W/m² apresentou o menor erro, com
subestimativa de aproximadamente 0,05%. Em adição, o valor calculado do desvio
padrão do fluxo de calor sensível em SCR considerando a atmosfera da região
92
neutra (50 W/m²), indicado por um traço ponto quadrado, apresentou menor erro que
o obtido considerando as funções diabáticas (75 W/m²), indicado por um tracejado
longo, caso esses valores fossem substituídos diretamente no WAsP.
Os resultados mostrados na Figura 4.21 e na Figura 4.22 concordam com
os apresentados na seção 4.3. O tamanho do erro (%) é menor nas proximidades do
valor médio de H calculado para a estação eólica de SCR, correspondente aos de
uma atmosfera levemente instável, em média, contrastando com os valores de uma
atmosfera levemente estável, padrão do WAsP.
Em adição, observa-se também que a principal alteração nos resultados
surge da modificação de H
off
, enquanto a modificação de H
rms
tem menor influência
nos erros das simulações do WAsP, concordando com os resultados encontrados
em Giebel e Gryning (2004).
Utilizando os valores medidos no nível de 25 m e simulando a DP no nível
de 50 m, o valor ótimo de H
off
é em torno de 25 W/m² com H
rms
em torno de 25 W/m².
Estes valores do fluxo de calor correspondem ao de uma atmosfera levemente
instável, com pequeno desvio padrão em relação ao valor médio do fluxo de calor
superficial. Em adição, este valor ótimo diminui o erro na densidade de potência
eólica simulada pelo WAsP em aproximadamente 5,3 %, daquele produzido pelos
valores padrões do modelo.
4.5.2 Torre anemométrica de Canoa Quebrada
Apesar de nenhuma medida do fluxo de calor sensível ter sido realizada
em CQ, e nem ter sido estimado por algum método, realizaram-se testes de
sensibilidade com o WAsP, a fim de se obter valores ótimos dos parâmetros do fluxo
de calor superficial nesta região, a partir de medições eólicas e das características
locais representativas e de qualidade.
A Figura 4.23 mostra os valores de E (%) para a densidade de potência
eólica simulada pelo WAsP, em relação ao valor da DP calculada na torre
anemométrica de Canoa Quebrada, período de 01/04/2004 a 31/03/2005.
Inicialmente utilizou-se os valores de velocidade do vento medidos no nível de 40 m,
93
simulando-se a densidade de potência eólica no nível de 60 m a partir da
modificação sistemática de H
off
no WAsP, mantendo o valor padrão de H
rms
(100 W/m²) constante.
Observa-se que o valor ótimo de H
off
é torno de 0 W/m², e que o WAsP
sobre estima a densidade de potência calculada no nível de 60 m em
aproximadamente 3,63%. Em relação ao valor padrão de H
off
(-40 W/m²), indicado
pela linha sólida, este sobre estima a DP calculada em aproximadamente 3,95%. Em
adição, observa-se que os valores do erro (%) da densidade de potência eólica
simulada pelo WAsP no intervalo de H
off
correspondente a uma atmosfera levemente
instável, entre 10 W/m² e 50 W/m², são menores que o erro quando se usa o pado
do modelo.
Figura 4.23 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado pelo WAsP, em relação
ao calculado na torre anemométrica de CQ, para todo o período de dados, utilizando-se
os valores de velocidade do vento medidos no nível de 40 m e simulando a densidade
de potência eólica no nível de 60 m, a partir da modificação sistemática de H
off
.
A partir do valor ótimo de H
off
encontrado na torre anemométrica de CQ
(0 W/m²), modificou-se sistematicamente H
rms
. A Figura 4.24 mostra os valores do
erro (%) da densidade de potência eólica simulado pelo WAsP no vel de 60 m, em
relação ao calculado, utilizando-se os valores de velocidade do vento medidos no
nível de 40 m. Observa-se que o valor padrão de H
rms
(100 W/m²), indicado pela
linha sólida, sobre estima as observações de DP em aproximadamente 3,63%. O
valor ótimo de H
rms
encontrado, da ordem de 0 W/m², sobre estima as observações
em aproximadamente 3,51%.
94
A Figura 4.25 mostra os valores do erro (%) da densidade de potência
eólica simulado pelo WAsP, em relação ao calculado na torre anemométrica de CQ,
para toda a série de dados em estudo, utilizando-se os valores de velocidade do
vento medidos no nível de 60 m, simulando a densidade de potência eólica no nível
de 40 m, a partir da modificação sistemática de H
off
.
Figura 4.24 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado pelo WAsP, em relação
ao calculado na torre anemométrica de CQ, para toda a série de dados, utilizando-se
os valores de velocidade do vento medidos no vel de 40 m e simulando a densidade
de potência no nível de 60 m, a partir da modificação sistemática de H
rms
.
Observa-se que o valor padrão de H
off
(-40 W/m²), indicado pela linha
sólida, subestima a DP calculada em aproximadamente 4,55%. O menor erro
encontrado corresponde a H
off
da ordem de 0 W/m², e neste caso o WAsP subestima
as observações em aproximadamente 4,24%. Os valores do erro (%) da densidade
de potência eólica no intervalo de H
off
correspondente a uma atmosfera levemente
instável, entre 10 W/e 50 W/m², são menores que o valor do erro quando se
utiliza o padrão do WAsP. Ressalta-se que no intervalo entre 100 W/m² e 200 W/m²,
os valores do erro (%) da densidade de potência eólica diminuem, chegando a ter
um valor da ordem do encontrado com H
off
em torno de 0 W/m².
A Figura 4.26 mostra os valores do erro (%) da densidade de potência
eólica simulado pelo WAsP no nível de 40 m, em relação ao calculado, utilizando-se
os valores de velocidade do vento medidos no nível de 60 m, modificando-se,
sistematicamente, H
rms
, a partir do valor ótimo de H
off
.
95
Observa-se que o valor padrão de H
rms
(100 W/m²) subestima as
observações de DP em aproximadamente 4,24%. O valor ótimo de H
rms
encontrado,
da ordem de 0 W/m², subestima as observações em aproximadamente 4,10%.
Figura 4.25 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado pelo WAsP, em relação
ao calculado na torre anemométrica de CQ, para toda a série de dados, utilizando-se
os valores de velocidade do vento medidos no nível de 60 m e simulando a densidade
de potência eólica no nível de 40 m, a partir da modificação sistemática de H
off
.
Figura 4.26 Valores do erro (%) da densidade de potência eólica simulado pelo WAsP, em relação
ao calculado na torre anemométrica de CQ, para toda a série de dados, utilizando-se
os valores de velocidade do vento medidos no nível de 60 m e simulando a densidade
de potência eólica no nível de 40 m, a partir da modificação sistemática de H
rms
.
96
Utilizando os valores medidos no nível de 40 m e simulando a densidade
de potência eólica no nível de 60 m, o valor ótimo de H
off
é em torno de 0 W/m² com
H
rms
em torno de 0 W/m². Estes valores do fluxo de calor superficial correspondem
ao de uma atmosfera neutra, com pequeno desvio padrão em relação ao valor
médio do fluxo de calor superficial. Em adição, este valor ótimo diminui o erro na
densidade de potência simulada pelo WAsP em aproximadamente 0,44% daquele
produzido pelos valores padrões do modelo.
Utilizando-se os valores de velocidade do vento medidos no nível de 60 m
para simular a densidade de potência eólica no nível de 40 m, o valor ótimo de H
off
é
em torno de 0 W/m² com H
rms
em torno de 0 W/m². Neste caso, o valor ótimo do
fluxo de calor superficial diminui o erro na densidade de potência simulada pelo
WAsP em aproximadamente 0,46%, daquele produzido pelos valores padrões do
modelo.
O fato dos valores do fluxo de calor superficial apresentar valores
próximos ao neutro em CQ pode ser justificado por o fluxo lico, que
predominantemente vem do oceano, apresenta, conforme discutido na seção 4.2,
uma atmosfera com estratificação neutra, e que os efeitos do fluxo de calor em
continente ainda não dominam as observações. Ressalta-se que os valores ótimos
encontrados na torre eólica de CQ apresentam-se mais próximos dos padrões do
WAsP para o mar, que os padrões em continente.
Em adição, os resultados encontrados nas seções 4.5.1 e 4.5.2
concordam com os obtidos por Giebel e Gryning (2004) para uma atmosfera instável.
Eles encontraram melhores resultados usando valores de H
off
0 W/m² e H
rms
menores que 100 W/m², concluindo que o fluxo de calor do WAsP é menor que o
fluxo de calor medido na região e período por eles estudado.
97
5 CONCLUSÃO
Este capítulo apresenta os principais resultados encontrados nos
capítulos anteriores, que conduziram às conclusões mais importantes desta
dissertação, apresentando, ainda, perspectivas para trabalhos futuros, de acordo
com os resultados encontrados no desenvolvimento do mesmo.
5.1 Conclusões
O trabalho desenvolvido e apresentado nesta dissertação constitui uma
primeira abordagem no entendimento dos limites de aplicabilidade do modelo WAsP
no NEB, e em especial no litoral do Estado do Ceará. Os resultados aqui
apresentados podem contribuir na produção de melhores projetos eólicos, com
menores índices de incertezas ao mercado de produção de energia eólica no NEB.
A correta avaliação dos recursos eólicos, para fins de projetos de centrais eólicas, é
de extrema necessidade para uma área de pesquisas e de investimentos que vêm
apresentando crescimento acelerado no Brasil nos últimos anos.
A análise dos dados de reanálise mostrou o impacto causado na
velocidade média do vento em anos com contrastes climáticos, El-Niño e La-Niña,
sugerindo que, anos onde o total das chuvas é abaixo da média, El-Niño, uma
intensificação nos valores médios da velocidade do vento nos meses de setembro a
dezembro. Em anos de La-Niña uma redução nos valores médios da velocidade
do vento no litoral do estado do Ceará durante a estação chuvosa.
A atmosfera no NEB, principalmente no litoral, apresenta um
comportamento variando entre neutro e instável em média, contrastando com a
atmosfera levemente estável observada principalmente no norte da EU. Isto se deve
principalmente aos padrões do fluxo de calor sensível e latente observados na
região. Os dados de reanálise mostram este comportamento e podem ser utilizados
como ferramenta indicativa para estimar o valor dio do fluxo de calor sensível em
uma determinada região.
98
O fluxo de calor sensível calculado para a estação eólica de SCR mostra
que a atmosfera nessa região apresenta um comportamento instável em média,
reforçando a diferença entre as condições atmosféricas encontradas no NEB e a
assumida como padrão pelo WAsP. O valor médio deste fluxo, para o período em
estudo, foi estimado em aproximadamente 27 W/m² com desvio padrão de 75 W/m²
obtido pelo método do gradiente de Richardson, e aproximadamente 10 W/m² com
desvio padrão de 50 W/m² obtido considerando as funções de estabilidade nulas. O
padrão do WAsP tem valor médio de -40 W/m² e desvio padrão de 100 W/m² em
continente.
Ressalta-se que não se obtiveram grandes diferenças entre os valores do
fluxo de calor sensível calculado a partir do método do gradiente de Richardson, e o
considerando as funções diabáticas nulas na estação eólica de SCR.
A análise da sensibilidade do modelo WAsP à modificação do seu
parâmetro fluxo de calor superficial em SCR mostrou que os menores erros
encontrados na densidade de potência eólica simulada pelo WAsP, em relação ao
valor calculado, foram obtidos com H
off
em torno de 25 W/m² e H
rms
no intervalo
entre 0 W/m² e 50 W/m². Estes valores do fluxo de calor correspondem aos de uma
atmosfera levemente instável, com pequeno desvio padrão em relação ao valor
médio do fluxo de calor superficial, concordando com os valores calculados para H
em SCR. Dessa forma, calculando o fluxo de calor sensível utilizando a metodologia
aqui proposta, obtém-se resultados mais precisos com o WAsP.
O erro na densidade de potência eólica simulada pelo WAsP, em relação
aos valores padrões do modelo, diminui em aproximadamente 5,3%, no nível de
50 m, utilizando estes valores ótimos do fluxo de calor superficial.
Apesar de nenhuma medida do fluxo de calor sensível ter sido realizada
em CQ, e nem ter sido estimado por algum método, realizaram-se testes de
sensibilidade a fim de se obter valores ótimos para os parâmetros fluxo de calor
superficial do WAsP nesta região.
Os resultados obtidos com o WAsP em CQ, a partir da análise da
modificação sistemática dos parâmetros fluxo de calor superficial, mostraram que os
menores erros encontrados na densidade de potência eólica simulada pelo WAsP,
99
em relação ao valor observado, foram com H
off
em torno de 0 W/e H
rms
em torno
de 0 W/m². Estes valores do fluxo de calor correspondem aos de uma atmosfera
neutra, com pequeno desvio padrão do fluxo de calor.
O erro na densidade de potência eólica simulada pelo WAsP, em relação
ao calculado em CQ, utilizando estes valores ótimos do fluxo de calor superficial,
diminui em aproximadamente 0,44%, quando comparado com os valores padrões do
modelo no nível de 60 m.
Assim, os parâmetros H
off
e H
rms
padrão do WAsP não representam
satisfatoriamente as condições atmosféricas no NEB. O WasP tende a super estimar
a climatologia eólica no NEB, principalmente no litoral, podendo atingir valores
significativos quanto maior for o distanciamento da altura de medição para a altura
alvo.
5.2 Recomendações
Ações futuras que venham a melhorar, complementar, adicionar ou
corrigir os resultados e conclusões obtidos neste trabalho são de grande valia para o
desenvolvimento da energia eólica no Nordeste do Brasil. Diante disso, algumas
propostas de trabalhos futuros são apresentadas nesta seção.
Fazem-se necessários outros testes de sensibilidade, utilizando outros
sítios que dispõem de dados de vento adequados e caracterização precisa da
orografia, rugosidade e obstáculos. Em adição, recomenda-se analisar a influência
da rugosidade aerodinâmica continental e a importância dos efeitos rmicos para o
fluxo eólico, comparando os resultados com os obtidos pelo WAsP nas regiões
litorâneas cearenses.
Estudos aprofundados das equações do movimento atmosférico no NEB,
objetivando a aplicação eólica e análise de outros parâmetros que podem afetar a
correção da atmosfera pelo WAsP, pode contribuir para uma melhor representação
deste modelo na região em estudo.
100
Faz-se necessário uma rede de estações anemométricas adequadas para
a medição dos recursos eólicos, utilizando, por exemplo, medidas da temperatura do
ar em dois níveis, de onde sepossível caracterizar a atmosfera e obter análises
mais precisas e confiáveis do fluxo de calor sensível destas regiões. Isto poderá
fornecer resultados numéricos mais precisos.
A abertura de um canal de discussão com o RISØ National Laboratory
visando uma possível adequação do modelo WAsP para as condições climáticas do
NEB.
101
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106
APÊNDICE A
Artigo publicado em revista indexada
107
V Workshop Brasileiro de Micrometeorologia 249
Análise dos parâmetros de fluxo de calor superficial
utilizados pelo modelo WAsP no levantamento do perfil
vertical do vento no litoral norte do Estado do Ceará
Cícero Fernandes Almeida Vieira
1,2
, Emerson Mariano da Silva
3
,
Francisco Sales Ávila Cavalcante
3
, Gustavo Rodrigues Silva
4
1
Aluno do Curso de Mestrado em Ciências Físicas Aplicadas – Universidade
Estadual do Ceará (UECE), (http://www.fisica.uece.br/pgfisica/),
2
Bolsista BRASELCO,
3
EOLUS/Lab. de Pesquisas Avançadas em Energia Eólica/UECE. Fortaleza, CE
4
BRASELCO (Brasil Energia Solar e Eólica Ltda), Fortaleza – CE,
Homepage : http://www.braselco.com.br
Abstract
WAsP™ (Wind Atlas Analysis and Application Program) is a
diagnosis numerical model for high resolution wind power estimation from
wind measurements with neutral conditions. In this study we analyze the
surface heat flux parameters used by WAsP to evaluate wind speed profile
in two sites situated in the North coast in the State of Ceara, Northwest of
Brazil. We concluded that, for the analyzed time series and for the region
we studied, the surface heat parameters extracted from those data sugest
that the atmosphere of the region is of the neutral conditions. In addition,
the model was able to predict the wind vertical profile for that region.
1. Introdução
O Estado do Ceará está inserido na área da contínua circulação
atmosférica sub equatorial dos ventos alísios, apresentando se como gran-
de jazida de potencial eólico (Atlas do Potencial Eólico do Estado do Cea-
rá, 2001).
Dessa forma, esse trabalho tem como principal objetivo obter o
perfil vertical do vento, com alta resolução espacial, em duas regiões litorâ-
neas do Estado, usando o modelo numérico computacional de diagnóstico
WAsP
®
(Wind Atlas Analysis and Application Program), descrito em Troen
e Petersen (1989), a partir da análise dos parâmetros de fluxo de calor su-
perficial.
250 Ciência e Natura Especial, UFSM
2. Metodologia
O WAsP
®
é um modelo numérico que estima o potencial eólico
com alta resolução, recomendado para uso em terrenos com topografia de
declives baixos ou suavizados. Os parâmetros de fluxo de calor utilizados
no modelo são para uma atmosfera levemente estável. Em adição, o mode-
lo resolve os fluxos de vento dentro da camada limite atmosférica assumin-
do um perfil logarítmico do vento, a partir do vento observado, e a lei do
arraste geostrófico.
Usaram-se séries horárias de velocidades e direção do vento, ob-
servados a 10 metros de altura no período de setembro de 2004 a agosto de
2005, obtidas da rede Plataforma de Coleta de Dados (PCD’s) da Funda-
ção Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), nos
municípios de Acaraú – CE e Barroquinha – CE (Figura 1).
Figura 1. Localização aproximada das PCD’s da FUNCEME, Municípios Acaraú – CE
e Barroquinha – CE, e dos pontos com dados de Reanalysis.
Para a obtenção do fluxo de calor superficial nas regiões em estu-
do (Figura 1), utilizaram se os dados do Projeto Reanalysis do National
Centers for Environmental Prediction/National Center for Atmospheric
Research (Kalnay et al., 1996). Na construção dos mapas das linhas de con-
torno utilizados no modelo de fluxo do WAsP
®
usou-se o conjunto de
V Workshop Brasileiro de Micrometeorologia 251
dados de topografia do projeto SRTM (Shuttle Radar Topography Mission),
descrito em Rodríguez et al. (2005), e para a vegetação utilizou se um com-
primento de rugosidade (z
0
) 0,03 m, coberta por solo areno argiloso, carac-
terístico de falésias.
3. Resultados e discussão
Os valores encontrados para o fluxo de calor superficial, variam
de 1,24 Wm
-2
(setembro/04) a 10,76 Wm
-2
(junho/05) para Acaraú – CE
e de 8,99 Wm
2
(setembro/04) a 11,73 Wm
-2
(maio/05) para Barroquinha
CE, com valores médios (período de setembro de 2004 a agosto de 2005)
de 3,87 Wm
-2
e 1,46 Wm
-2
, respectivamente. Dessa forma, os resultados
mostram que o fluxo de calor superficial encontrado para as duas regiões
apresenta uma atmosfera com comportamento neutro, concordando com
os valores de classes de fluxo de calor apresentados na literatura (Giebel e
Gryning, 2004).
A Figura 2 mostra os valores médios do perfil vertical da velocida-
de do vento, obtidos usando o WAsP
®
, para diferentes classes de rugosidade
z
0
, no período de setembro de 2004 a agosto de 2005, nos municípios de
Acaraú CE e Barroqinha CE, utilizando-se valores padrões para o
fluxo de calor superficial e a média obtida para o período.
Em geral, nas duas situações em estudo, observa se que, quanto
maior o valor do comprimento de rugosidade, menor é o valor da velocida-
de do vento encontrada. Em adição, para o município de Acaraú – CE
tem-se maiores desvios do valor da velocidade encontrada no caso da at-
mosfera neutra em relação a estável, que os obtidos para o município de
Barroquinha – CE. Ressaltando se que estes desvios variam entre aproxi-
madamente 0% e 15% em alturas menores ou iguais a 100 m.
4. Conclusões
Os resultados apresentados nesse trabalho são um primeiro passo
para o entendimento da representatividade dos parâmetros utilizados pelo
modelo WAsP
®
na obtenção dos perfis verticais do vento. A partir desses
resultados obtidos em dois sítios do litoral Norte do Estado do Ceará,
pode se identificar o erro observado no perfil médio vertical do vento cau-
sado pela variação nos valores do fluxo de calor superficial, e se o valor da
rugosidade superficial utilizada realmente é representativa para o período
em estudo.
252 Ciência e Natura Especial, UFSM
Figura 2. Valores da velocidade média do vento a partir dos dados de velocidade da PCD
de Acaraú CE (a) e Barroquinha CE (b) para diferentes tipos de rugosidades, assumindo
o fluxo de calor superficial padrão do WAsP (série com símbolos sem preenchimento) e a
média obtida para o período em estudo (série com símbolos preenchido),
respectivamente.
5. Referências
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Vieira, Cícero Fernandes Almeida
Sensibilidade do modelo WAsP aos efeitos da
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Fernandes Almeida Vieira. Fortaleza, 2008.
111 p.
Orientador: Prof. Dr. Emerson Mariano da Silva.
Dissertação (Mestrado Acadêmico em Ciências
Físicas Aplicadas) Universidade Estadual do Ceará,
Centro de Ciências e Tecnologia.
1. Fluxo de calor sensível. 2. Modelagem numérica.
3. Nordeste do Brasil. 4. Potencial eólico.
I. Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências
e Tecnologia.
CDD: 620
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