Foi por isso que o autor fez alusão aos momentos históricos em muitas de suas
histórias, como a bipolaridade mundial, a “Guerra do Vietnã”
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, a tomada do poder pelos
militares no Brasil, sem falar nos problemas sociais como a desigualdade de direitos entre
mulheres e homens, entre brancos e negros e a volta da democracia.
Humor Sangrento foi atravessado por questionamentos que permeou a chamada
“década prodigiosa”, antecipando-se à “explosão contestadora” da década de 1970. Sua
contestação não foi somente aquela proletária, mas uma contestação intelectual e psicológica,
que abarca temas como o autoritarismo dos adultos, o racismo, a fome, a explosão
demográfica de Teresina, a injustiça social. Arnaldo Albuquerque é capaz de pôr em crise
todas as proposições tradicionais e desbancar as convenções e costumes mais enraizados de
uma cidade dita provinciana.
A produção artística e cultural no Piauí tem um percurso razoavelmente
longo, por isso se recusa a continuar marginalizada. Uma pesquisa
preliminar em torno da literatura, música, teatro, poesia e artes plásticas,
mostra como o Piauí está inserido no amplo quadro do processo de
desenvolvimento histórico, artístico e cultural brasileiro. É possível verificar
a partir da década de 1970 como o momento em que o Piauí começa a “furar
o cerco” da mídia brasileira e sair do isolamento ou do gueto artístico e
cultural a que esteve submetido durante “séculos seculorum”.
Nessa década, além das pesquisas arqueológicas na Serra da Capivara,
começa a projeção no cenário brasileiro de piauienses nas mais diversas
áreas como o poeta Mário Faustino, o jornalista Carlos Castelo Branco e
principalmente o poeta, jornalista, compositor e cineasta Torquato Neto, uma
das figuras mais importantes do Tropicalismo, ao lado dos baianos Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, entre outros (DIAS, 2010, p. 72).
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A Guerra do Vietnã foi um conflito armado que começou no ano de 1959 e terminou em 1975. As batalhas
ocorreram nos territórios do Vietnã do Norte, Vietnã do Sul, Laos e Camboja. Esta guerra pode ser enquadrada
no contexto histórico da Guerra Fria. O Vietnã havia sido colônia francesa e, no final da Guerra da Indochina
(1946-1954), foi dividido em dois países. O Vietnã do Norte era comandado por Ho Chi Minh, possuindo
orientação comunista pró-União Soviética. O Vietnã do Sul, uma ditadura militar, passou a ser aliado dos
Estados Unidos e, portanto, com um sistema capitalista. A relação entre os dois Vietnãs, em função das
divergências políticas e ideológicas, era tensa no final da década de 1950. Em 1959, vietcongues (guerrilheiros
comunistas), com apoio de Ho Chi Minh e dos soviéticos, atacaram uma base norte-americana no Vietnã do
Sul. Este fato deu início à guerra. Entre 1959 e 1964, o conflito restringiu-se apenas ao Vietnã do Norte e do
Sul, embora Estados Unidos e também a União Soviética prestassem apoio indireto. Em 1964, os Estados
Unidos resolveram entrar diretamente no conflito, enviando soldados e armamentos de guerra. Os soldados
norte-americanos sofreram num território marcado por floresta tropical fechada e grande quantidade de
chuvas. Os vietcongues utilizaram táticas de guerrilha, enquanto os norte-americanos empenharam-se no uso
de armamentos modernos, helicópteros e outros recursos. No final da década de 1960, era claro o fracasso da
intervenção norte-americana. Mesmo com tecnologia avançada, não conseguiam vencer a experiência dos
vietcongues. Para piorar a situação dos Estados Unidos, em 1968, o exército norte-vietnamita invadiu o Vietnã
do Sul, tomando a embaixada dos Estados Unidos em Saigon. O Vietnã do Sul e os Estados Unidos
responderam com toda força.