Esse rio aqui, antigamente subia muito piracema nunca faltou peixesinho. Mas agora esse pouco
tempo não sobe mais piracema. Agora no alto Envira tem muito peixe. peixe tem mesmo. Tempo de
verão no alto Envira, tempo que eu acabei de me criar e tudo, lá tem muito peixe, muita caça. Lá
ninguém come a galinha não, bicho de terreiro. Galinha lá, mãe criava mas a gente nem fazia conta.
Tinha bicho do mato pra comer né, ai não fazia conta, bicho do terreiro. Só comia do mato mesmo.
Peixe, muito peixe, muita caça. Lá tinha, agora aqui não tem nada é difícil aqui. Agora queixada, tem
mas é pouco mas é brabo."
Carlos Salgado: A coisa do dinheiro, pra comprar as comidas, como é que é isso hoje?
Sr. Bruno Brandão: "Pra comprar, os índios vamos levar a banana, a macaxeira. Ai pra trocar, pra
comprar carne né. Agora quem é aposentado que nem eu. Que tem aposentadoria. Pega dinheirinho
guarda o dinheiro aqui mesmo. Agora quem não guarda fica na miséria, por que gasta logo o dinheiro
todo. Agora quem entende mais do dinheiro guarda um dinheiro pouquinho e vai comprando só
rancho. Compra o sal, o açucarsinho pra ir comendo viu. Quando falta ranchosinho vai comprar da
cidade, bichinho, carnesinha de boi, porco, galinha. Mas quem não tem emprego vai cortar
macaxeira, pupunha dela e troca, compra carne.
Tarauacá indo pra cá, matava caça. Chegava no igarapé pegava jacaré, matava jacaré pra não atirar
né. A gente trazia munição pouco. Pra não gastar muito, pescava mais no igarapé, fachiava peixe de
noite. Facho né, de sernambi, não tinha querosene. Fazia facho de sernambi, ai ia matando os
peixinhos n'água né pra comer. Jacaré também do mesmo jeito. Pegava na mata, pegava muito
jabuti. Era só o que nós comia mais. Passemos muito ruim não. Agora passou ruim é porque negócio
de mistura. Só com palmito. Derrubava palmito pra poder tirar pra comer com carne. É jarina tirava
aquela massa pra poder cozinhar. Tirava aquela capa pra comer com carne. Ouricuri, cocão, também
fazia do mesmo jeito. Tirava pra misturar com a massa. Fazia era assim esse negócio de mistura.
Agora mistura de peixe, de carne era mais fácil. Muito jabuti, muito jacaré. Fachiava peixe de noite,
matava peixe e ia comendo, só era ruim negócio de rancho, de mistura com carne, banana e
macaxeira."
Carlos Salgado: Como é que antigamente usava a lamparina, o que utilizava nela?
Sr. Bruno Brandão: "Facho de sernambi e caucho. Derrubava caucho se quiser, se não quiser,
primeiramente anelava sapopema. Ai nós vamos sangrar de terçado né, de marreta. Pra tirar leite de
caucho. Ai quando tiver seco né 3, 4, 5 dias, tira ai faz aquele sernambi. Ajunta um bocado ai bota no
olho da palheira. Olho da palheira a gente abre ai vai embrulhando, vai amarrando. No comprimento
que você quiser fazer né. Ai depois derruba caucho ai anela DE NOVO. O fogo do sernambi quando
vai apagando, ai pega uma palhetinha limpa e volta DE NOVO. Antigamente nossa lamparina era
essa. Depois do sernambi, começaram a cortar seringa, ai fazia do mesmo jeito. A gente não usava
querosene nem diesel nem nada.
Flecha. De flecha a gente mata qualquer bicho, queixada, veado, anta. Anta a gente mata debaixo do
suvaco ela corre e cai. Porquinho só flecha no suvaco, em cima do coração. Agora macaco também a
gente flecha, macaco as vezes pega em outro canto grita e fica gritando ai acaba de matar de perto.
Agora usa mais é pra bicho de pena. Nambu viu, ai vai assobiando nambu e quando ta assoviando
faz tocaia, arremeda de gente a a gente mata de flecha. Nambu a gente só mata fazendo tocaia.
Agora quando ta rastejando anta é com a flecha na mão. Uma no lugar do arco e uma na mão. Fazia
assim. Depois ai é que começou, apareceu a arma né. Ai já deixaram o modelo do índio. Nós usava.
Agora hoje em dia pessoal não usa mais não.
Carlos Salgado: E o milho?
Bruno Brandão: "Agora milho, milho tem o milho chocho, tem o milho preto, tem o milho branco, tem
o milho amarelo, as nossas qualidade do milho. Ai você quiser fazer caiçuma, debulha, pisa, fazer
caiçuma panelão grande. Quiser fazer pequena, debulha e torra. Torra a gente pisa, faz. Também
com banana com milho verde. Agora é que hoje o índio usa mais, café usa, mais outras comidas né.
Mas planta muito milho de branco. Naquele roçado do campo pra lá plantemos dois paneiros e meio.
Agora que eu hoje ou amanhã se não chover, vou começar a quebrar. Dá umas quatro a cinco
toneladas de milho. Muito milho. Agora já comeu muito quando tava verde né. É cozido, é canjica, é
pamonha é comendo. Agora só pras galinhas.
Agora milho massa não, milho massa é pra toda vida esse ai nós faz pra poder viajar. Faz farinha de
milho massa pra poder viajar, nós debulha, torra, pisa, é farinha do índio, pra comer na viagem.
Quando você quiser fazer caiçuma, se tira faz caiçuma. Não quiser. molha, faz pamonha também
mas é comprida né, não é cozida na panela não. Faz uma pamonha comprida amarrada e ai assa,
moqueia, fica assadinha. Quiser misturar com banana madura a gente mistura também, como que a
gente diz, fazer pamonha doce, mas é assado. Faz na folha né. Não querendo a gente leva pra
comer na mata, pra comer assado na mata, é o milho do índio. Esse aqui dá cuscuz todo tempo, dá
pamonha, dá caiçuma de milho, milho do índio não se perde. Começa a comer verde até ficar seco. A
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