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Embora pareça exagerado, o homem que ocupa um cargo de responsabilidade, deve
saber que o mesmo, a não ser em circunstancias muito especiais, tem prioridade total sobre o
seu tempo, o que, certamente, servirá de orientação para os seus auxiliares enfrentarem os
múltiplos problemas da vida cotidiana.
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O discurso de Ermírio de Moraes
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tentou mostrar a construção de uma nova
dinâmica industrial imposta pela nova realidade através da necessidade que tinham com a
produção, isso para seguir os passos dos países mais desenvolvidos. Suas palavras tentaram
envolver o leitor a buscar no passado as glórias até ali foram conquistadas pelo país fazendo
criar um clima de motivação ao trabalho segundo as novas ordens da política global.
O Brasil possuía maquinários e técnicas produtivas altamente ultrapassadas, daí a
busca de uma modernização do cenário nacional, tanto no sentido da industrialização como
também em novos acordos internacionais buscando sempre alargar o mercado.
Kubitschek escolheu como símbolo desse Progresso a construção da nova capital
nacional (Brasília), com isso tentava motivar e gerar um senso de confiança entre os próprios
brasileiros, além de fugir das perturbações sociais do Rio de Janeiro. Era tanto um presidente
eleito por sua reduzida minoria em busca do alargamento de seu suporte político, quanto um
líder ambicioso tentando assegurar o seu lugar na história, tomando a liderança do caminho à
industrialização do Brasil.
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Mesmo sendo criticado por algumas pessoas no período, JK
argumentou a sobre a necessidade da mudança da Capital para o centro, além de ser um
símbolo da “nova era” da política nacional:
Quero abordar, agora, meus patrícios, o problema da mudança da Capital para
Brasília. Conheço as críticas aos trabalhos que vêm sendo feitas pelo meu governo para
transformar em realidade a determinação da Constituição, de transferir a capital para o interior
do País. Não sou o inventor de Brasília, mas no meu espírito arraigou a convicção de que
chegou a hora, obedecendo ao que manda a nossa Lei Magma, de praticarmos um ato
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Dr. José Ermírio de Moraes. “O Homem do Ano de 1956” In: Nitro Jornal, nº 48, fevereiro de 1957, p. 02.
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Desta forma o discurso burguês, segundo Marilena Chauí, é legislador, ético e pedagógico. Tratava-se de um
discurso proferido do alto e que, graças a transcendência conferida às idéias, nomeava o real, possuía critérios
para distinguir o necessário e o contingente, a natureza e a cultura, a civilização e a barbárie, o normal e o
patológico, o lícito e o proibido, o bem e o mal, o verdadeiro e o falso: punha ordem no mundo e ensinava. Fazia
das instituições como Pátria, Família, Empresa, Escola, Estado (sempre escrito com maiúsculas), valores e reinos
fundados de fato e de direito. por essa via, o discurso nomeava os detentores legítimos da autoridade: o pai, o
professor, o patrão, o governante, e, conseqüentemente, deixava explícita a figura dos subordinados e a
legitimidade da subordinação. Emitia conhecimentos sobre história em termos de progresso e continuidade,
oferecendo, com isto, um conjunto de referenciais seguros fixados no passado e cuja obra era continuada pelo
presente e acabada pelo futuro. Era o discurso da tradição e dos moços, isto é, o discurso que se endereçava a
ouvintes diferenciados por geração e unificados pela unidade da tarefa herdada.In: CHAUI, Marilena. Cultura e
Democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 2007. p. 22.
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SKIDMORE, Thomas. Op. Cit.. p. 208.