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movimento teológico denominado de “movimento da morte de Deus”.
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O secularismo ganhou força com o advento do Iluminismo e a partir dos ideais
propugnados pela Revolução Francesa,
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pois possui uma ideologia que defende a separação
entre a Religião (o sacro) e o Estado (o laico).
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Deste relacionamento da secularização, com o movimento da morte de Deus, podemos tirar duas consequências: 1)
Não é possível tratar seriamente da secularização, sem nos inteirar da problemática da ‘morte de Deus’, nem estudar
este último movimento, sem examinar o conjunto do processo de secularização. 2) Em que medida a secularização
atual é algo realmente específico e original, permanece uma questão aberta. Quem tiver tendência a relativizar esta
especificidade, e, esta originalidade, vai querer também julgar o fenômeno com moldes e critérios do cristianismo
tradicional, por vezes, obsoletos. Quem tiver tendência a acentuar a novidade do fenômeno, logicamente, vai pedir
uma re-interpretação, em novos moldes, das fontes do cristianismo, da sua essência, das suas formas válidas. Esta
colocação dá a entender que é difícil, ou talvez impossível, adotar um ponto de vista absolutamente neutro que se
des-solidarizasse de uns e de outros, a partir do termo (que talvez não existe) de uma terceira posição.Qualquer
interpretação é por definição ideológica. Contudo, temos esperança de que o cristianismo tradicional não seja tão
rígido, ao ponto, de não permitir a alguns de seus membros, tentar compreender algo da revolução cultural presente
na problemática da ‘morte de Deus’, acolhendo-a e criticando-a e sabendo, ao mesmo tempo, que, a comunidade
cristã, tem ainda muito a fazer para entender o que se vai preparando no mundo e para reagir de maneira mais
construtiva do ponto de vista humano e cristão” (LEPARGNEUR, 1971, p. 13-5).
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Revolução Francesa é o nome dado ao conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de 1789 e 9 de novembro de
1799, alteraram o quadro político e social da França. Em causa, estavam o Antigo Regime (Ancien Régime) e a
autoridade do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana (1776).
Está entre as maiores revoluções da história da humanidade. É considerada como o acontecimento que deu início à
Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais da ‘Liberdade,
Igualdade e Fraternidade’, frase de autoria de Jean-Nicolas Pache.
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O processo de secularização se dirige, sobretudo, e, em primeiro lugar contra o sacro e se transforma então num
processo de dessacralização. Na fenomenologia da Religião o conceito do ‘sacro’ é bastante complexo e a
sacralidade tem grande multiplicidade de manifestações. O ‘sacro’ é oposto ao ‘profano’, e significa uma força ou
potência que estaria em certas coisas e delas se desprenderia ou nelas se manifestaria por ocasião de algum
acontecimento que teria feito com que estas coisas entrassem numa esfera misteriosa, trans-natural, ou as teria
colocado em contato com um ser transcendente, reservando-a a ele e a seu serviço, de maneira que não poderia ser
mais usada para fins profanos. Assim uma pedra pode ser ‘sacra’, isto é, portadora ou manifestadora de uma força
particular, ou porque foi atingida por um raio, ou porque tem uma forma rara, ou porque foi sagrada para servir de
mesa sacrifical, ou porque foi assinalada por um acontecimento particular. O mesmo pode se dizer, de uma
montanha, de uma árvore, de um pássaro, de um animal, de um período particular de tempo, de uma função
fisiológica, como a nutritiva ou a sexual; vale também para certos homens, como o sacerdote, o rei, o guerreiro.
Assim há determinados tempos sacros, determinados lugares sacros (que não são criados, mas descobertos: devem
sua origem talvez a uma aparição que se deu junto a uma árvore santa, a uma fonte santa, ou no alto de uma
montanha), determinadas pessoas sacras, determinada linguagem sacra (reservada exclusivamente para o culto),
determinados setores sacros da natureza: rios, montes, vacas, águias, crocodilos, carvalhos. O conceito está na base
de todas essas hierofanias (manifestações do ‘sacro’) é o da força ou potência. A sacralidade é uma força colocada
no objeto sacro. Por isso toda hierofania é também uma cratofania. Pôr-se em contato com o ‘sacro’ significa
apropriar-se da força misteriosa nele contida. Esta força pode ser benéfica ou maléfica. Daí a ambivalência do
‘sacro’. Por isso também alguns objetos sacros são ‘tabú’, proibidos, não podem ser tocados, ou menos não sem as
devidas precauções. O respeito é tido como condição essencial da existência e da função do sacro, é o caráter da
inviolabilidade. Tudo isso produz um homem com mentalidade ‘sacra’, que vive num Cosmo ‘sacralizado’, rodeado
de forças que influem benéfica ou maléficamente sobre ele, e que se manifestam nas mais várias maneiras,
mediante objetos, animais, pessoas, acontecimentos, tudo é ‘sacro’. É o sacro mágico das religiões. Os grandes
nomes da literatura sobre o sacro são principalmente Mircea Eliade: Le Sacre et le Profane (1956) e Traité
d’Histórie dês Religions (1964); G. Vander Leeuw: La Religion dans son essence et sés manifestations.
Phénoménologie de la Religion (1955). Durkheim: Lês formes élémentaires de la vie religieuse (1960). Na página
51 da edição de 1950, escreve Émile Durkheim: “Todas as crenças religiosas conhecidas, sejam elas simples ou
complexas, apresentam uma característica comum: elas supõem uma classificação das coisas, reais ou ideais,
imaginadas pelos homens, em duas classes, em dois gêneros opostos, designados geralmente por dois termos
distintos, traduzidos muito bem pelas palavras ‘profano’ e ‘sacro’. A divisão do mundo em dois campos que
compreendem: de um lado, tudo o que é sacro; de outro lado, tudo o que é profano. Tal é o traço distintivo do
pensamento religioso. As crenças, os mitos, os dogmas, as lendas são ou representações, ou sistemas de
representações que exprimem a natureza das coisas sacras, as virtudes e os poderes que lhe são atribuídos, sua
história, as relações das coisas sacras entre si e delas com as coisas profanas” (KLOPPENBURG, 1971, p. 21-3).