44
alegorias, “Superescolas de samba S.A./ Superalegorias/ Escondendo gente bamba/ Que
covardia”
4
, onde se nota a tensão “samba” x “visual”. A escola foi a campeã naquele ano.
Oito anos depois, em 1990, a São Clemente, maior escola da zona sul carioca, mas
que nunca se firmou no grupo das grandes, fez uma crítica no mesmo sentido. Levou para o
desfile o enredo “E o samba sambou”
5
, dos carnavalescos Carlinhos Andrade e Roberto
Costa. A escola falava com tom crítico sobre a realidade em que se encontravam, sobre a
transformação em um espetáculo. Após a apuração das notas dadas pelos jurados naquele
carnaval, ficou em sexto lugar.
Cavalcanti dá a noção espetacular do Sambódromo, que mostra uma conquista das
escolas de samba, que tiveram legitimado um lugar para suas apresentações anuais, um
lugar de exposição dos grupos carnavalescos para toda a cidade.
A Passarela do Samba, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, foi construída pelo governo do estado no
tempo recorde de 4 meses para o carnaval de 1984. Uma vez pronta, a Passarela passou a ser administrada ao
longo do ano pela prefeitura e pela Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro S.A., a Riotur.
O Sambódromo, como é também popularmente chamada a Passarela, é uma imensa escultura arquitetônica em
concreto armado bem ao estilo de Niemeyer consagrado na construção de Brasília, que cerca a extensão de 700
metros da rua Marquês de Sapucaí. Desde 1978, essa rua vinha abrigando o desfile das escolas dos então grupos
I-A e I-B.
A Passarela dispõe de lugares para uma platéia de 59.092 pessoas. Monumental, essa estrutura arquitetônica
(que ocupa 85.000 metros quadrados) configura um teatro aberto que, ao mesmo tempo em que destina uma rua
da cidade para um uso peculiar, mantém com o espaço uma relação de decidida continuidade. A Passarela é a
atribuição permanente a uma rua de uma qualidade especial, que ultrapassa agora o tempo carnavalesco e
concretiza, literalmente, o reconhecimento público do valor social e turístico dos desfiles para a vida da cidade.
A passarela consagra o desfile destinando a ele uma rua localizada no centro da cidade. Ressalto o sentido
simbólico dessa localização central. As escolas enraízam-se predominantemente nos bairros periféricos do Rio.
4
Letra do samba enredo de Aloísio Machado e Beto Sem Braço apresentado pelo Império Serrano em 1982: “Enfeitei
meu coração/ De confete e serpentina/ Minha mente se fez menina/ Num mundo de recordação/ Abracei a Coroa Imperial/
Fiz meu carnaval/ Extravasando toda minha emoção/ Oh! Praça Onze tu és imortal/ Teus braços embalaram o samba/ A
sua apoteose é triunfal/ De uma barrica se fez uma cuíca/ De outra barrica um surdo de marcação/ Com reco-reco,
pandeiro e tamborim/ E lindas baianas o samba ficou assim/ E passo a passo no compasso o samba cresceu/ Na Candelária
construiu seu apogeu/ As burrinhas que imagem, para os olhos um prazer/ Pedem passagem pros Moleques de Debret/ "As
Africanas", que quadro original/ Iemanjá, Iemanjá enriquecendo o visual/ Vem meu amor manda a tristeza embora/ É
carnaval, é folia neste dia ninguém chora/ Super Escolas de Samba S.A./ Super alegorias/ Escondendo gente bamba/ Que
covardia/ Bumbum Paticumbum Prugurundum/ O nosso samba minha gente é isso aí/ Bumbum Paticumbum
Prugurundum/ Contagiando a Marquês de Sapucaí”.
5
Letra do samba enredo Carlinhos Andrade e Roberto Costa levado pela São Clemente para o desfile de 1990: “Vejam
só!/ O jeito que o samba ficou ... E sambou/ Nosso povão ficou fora da jogada/ Nem lugar na arquibancada/ Ele tem mais
pra ficar/ Abram espaço nessa pista/ E por favor não insistam/ Em saber quem vem aí/ O mestre-sala foi parar em outra
escola/ Carregado por cartolas/ Do poder de quem dá mais/ E o puxador vendeu seu passe novamente/ Quem diria, minha
gente/ Vejam o que o dinheiro faz/ É fantástico/ Virou Hollywood isso aqui/ Luzes, câmeras e som/ Mil artistas na
Sapucaí/ Mas o show tem que continuar/ E muita gente ainda pode faturar/ "Rambo-sitores", mente artificial/ Hoje o
samba é dirigido com sabor comercial/ Carnavalescos e destaques vaidosos/ Dirigentes poderosos criam tanta confusão/ E
o samba vai perdendo a tradição/ Que saudade/ Da Praça Onze e dos grandes carnavais/ Antigo reduto de bambas,/ Onde
todos curtiam o verdadeiro samba”