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IBERÊ LUIZ DI TIZIO
SANTO ANDRÉ. A CAUSA TOPONÍMICA NA DENOMINAÇÃO
DOS SEUS
BAIRROS
Tese apresentada à Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Doutor em
Semiótica e Lingüística Geral.
Orientadora: Profa. Dra. Maria
Vicentina de Paula do Amaral Dick
São Paulo
2009
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Iberê Luiz Di Tizio.
Santo André. A causa toponímica na denominação dos seus
bairros.
Tese de Doutorado apresentada à
Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo para obtenção do título de
Doutor.
Área de Concentração: Semiótica e
Lingüística Geral.
Aprovada em __________________________.
Banca Examinadora
Prof. Dr. __________________________________________________
Instituição: ______________ Assinatura: _______________________
Prof. Dr. __________________________________________________
Instituição: ______________ Assinatura: _______________________
Prof. Dr. __________________________________________________
Instituição: ______________ Assinatura: _______________________
Prof. Dr. __________________________________________________
Instituição: ______________ Assinatura: _______________________
Prof. Dr. __________________________________________________
Instituição: ______________ Assinatura: _______________________
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À minha esposa Ideli,
minha eterna namorada,
incansável incentivadora e
sócia majoritária de todos os meus méritos.
Agradecimentos
Este trabalho deve muito a algumas pessoas e instituições, por
diferentes razões, e eu gostaria de agradecer especialmente:
Aos meus pais, in memoriam, pelo amor e carinho de uma vida
inteira. O meu muito obrigado a minha mulher Ideli, que, com sua
presença constante, é a motivadora e a incentivadora do meu sucesso.
Aos meus filhos Imara e Iberê Jr., pela compreensão e estímulo. Aos
meus netos Enzo e Zion, meus amores.
Agradeço a minha orientadora Prof. Dra. Maria Vicentina de
Paula do Amaral Dick, pela dedicação, paciência e sugestões, sem as
quais este trabalho seria impossível.
À Profª Dra. Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos, que me
orientou no Mestrado e que sempre me incentivou com suas sugestões
e confiança no meu trabalho.
Meus especiais agradecimentos à Prof. Dra. Maria Aparecida
Barbosa que me ofereceu, durante o Exame de Qualificação e durante
as suas aulas, muitas sugestões e críticas fundamentais ao
desenvolvimento do meu tema.
Devo agradecimentos também ao Prof. Dr. Manuel Mourivaldo
Santiago Almeida por suas sugestões e críticas no desenvolvimento
deste trabalho.
Não posso deixar de mencionar as longas e proveitosas reuniões
com o saudoso historiador e companheiro de Rotary, Paschoalino
Assumção.
Ao amigo, professor e arquivo vivo da história andreense, meu
grande incentivador Nelson Zanoti, que me recebeu inúmeras vezes
com todo carinho e paciência.
À Renata Lira Cordeiro, pela ajuda na confecção do Abstract, e à
Alessandra Martins Antunes, do Résumé.
À Patrícia de Jesus Carvalhinhos, amiga que me levou para a
USP e me apresentou a Toponímia.
À amiga Profª Dra. Alessandra Martins Antunes, um
agradecimento muito especial pela ajuda nos levantamentos efetuados
junto às bibliotecas e museus e cujos conhecimentos e sugestões foram
essenciais no desenvolvimento e na revisão deste trabalho.
Agradeço também a todos os funcionários da Biblioteca do
Museu de São André que me auxiliaram durante a pesquisa, colocando
à disposição mapas e as atas da Câmara de São Bernardo de
incalculável valor histórico. A todo pessoal das bibliotecas do Museu
Paulista e Central da FFCH-USP, que facilitaram a pesquisa em seu
acervo.
Não posso deixar de mencionar todos os funcionários da
Biblioteca Jacob Daghlian, do Centro Universitário da Fundação Santo
André, que colocaram à minha disposição farto material sobre o
patrimônio histórico e cultural da cidade de Santo André e que muito
me auxiliaram na composição do corpus da Tese.
À minha companheira do Rotary Clube de Santo André Alvorada,
Lenice Mateus de Oliveira, por abrir caminhos junto a Prefeitura
Municipal de Santo André.
Ao Pessoal da Prefeitura Municipal de Santo André, por colocar à
disposição volumoso material de importância fundamental para
pesquisa.
Ao Diário do Grande ABC, por facilitar a pesquisa em seus
arquivos e do extinto jornal News Seller.
Aos historiadores Ademir Médici e Wanderley dos Santos, cujos
livros e reportagens foram de inestimável valia.
Meu muito obrigado a todos os que de maneira direta ou indireta
contribuíram para a confecção desta Tese.
Contar a história da cidade passa pelo desejo de
valorização da cidadania.
Prefeito Celso Daniel
Resumo
DI TIZIO, I. L. Santo André. A causa toponímica na denominação
dos seus bairros. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, São Paulo, 2009.
No início do desenvolvimento de Santo André, as terras do bairro da
Estação, atual centro de Santo André, tinham valor baixo por ser um
local sem interesse comercial, distante dos povoados já estabelecidos.
Este fator motivou a São Paulo Railway (SPR) na sua escolha para a
instalação da estação da Vila de São Bernardo em 1867. Ao mesmo
tempo, este local interligava três pólos em incipiente crescimento na
época – São Bernardo, Mogi das Cruzes e a região a sul da atual zona
leste de São Paulo. Isso incentivou indústrias a adquirirem terras para a
construção de suas fábricas, o que gerou a necessidade de prover local
para a residência dos operários. Coube aos proprietários o loteamento
de parte de suas terras para abrigar os recém-chegados nas
proximidades destas fábricas. Além das dificuldades próprias à
incipiente industrialização nos últimos anos do século XIX e primeiros
do XX, a resistência de proprietários rurais da região em vender suas
propriedades ou parte delas, retardou a abertura de bairros. Um
número significativo de loteamentos passa a ser aberto na década de
1920, inclusive para a formação de bairros de alto padrão. A demanda
por áreas residenciais com a chegada de outras indústrias a Santo
André pressionou o estabelecimento de loteamentos. Técnicas para o
convencimento dos proprietários foram utilizadas por empresas
loteadoras: perpetuar o nome dos donos das terras nos topônimos
criados. A homenagem aos proprietários e aos loteadores ou a
membros de suas famílias manteve-se como tendência até meados do
século XX. Neste período, verificam-se mudanças no perfil dos novos
moradores da região, especialmente composto por migrantes
provenientes de outras cidades do ABC e cidades brasileiras, e a
especulação imobiliária impondo novas tendências de engendramento
de topônimos em paralelo a homenagens de familiares. Na presente
Tese, apresentaremos e analisaremos os nomes destes loteamentos que
deram origem a oitenta e oito bairros de Santo André, agrupando-os a
partir das causas toponímicas.
Palavras-chave: Atlas das Cidades; causa toponímica; Santo André.
Abstract
DI TIZIO, I. L. Santo André. The toponimic cause in the
denomination of its quarters. Thesis (Doutorado) – College of
Philosophy, Letters and Human Sciences, São Paulo, 2009.
At the beginning of the development do Santo André the lands of the
quarter of the Station had low value for being a place without
commercial interest, distant of the established towns. This motivated
São Paulo Railway (SPR) in its choice for the installation of the station
of Vila de São Bernardo in 1867. At the same time, this place connected
three growing regions at that time – São Bernardo, Mogi das Cruzes
and the south side of the current east place of São Paulo. That
stimulated industries to acquire lands to construct its plants, which
generated the need to provide place for the residence of the laborers.
The land division had to be done by the proprietors, so the just-fond
ones had a place to live near the plants. Beyond the difficulties of the
incipient industrialization in the late years of the XIX century and the
early XX, the resistance of agricultural proprietors of the region in
selling their properties or part of them, delayed the opening of the
quarters. A significant number of land divisions begins to be opened in
the 1920’s, including the high standard quarters. The demand for
residential areas with the arrival of other industries to Santo André
pressured the establishment of land divisions. Techniques for the
persuation of the proprietors had been used by the land division
companies: to perpetuate the name of the owners of lands on the place
names raised. The homage to the proprietors and the land divisors or
their family members was a trend until middle of XX century. In this
period, changes in the profile of the new inhabitants of the region,
especially compose by migrants from other cities of the ABC and
Brazilian cities, and the speculation imposing new trends of formation of
place names whith homages of familiar. In the present Thesis, we will
present and analyze the names of these land divisions that had given to
origin the eighty and eight quarters of Saint Andres, having grouped
them from the toponimic causes.
Key Words: Atlas das Cidades; toponimic causes; Santo André.
Résumé
DI TIZIO, I. L. Santo André. La cause toponimique dans la
dénomination de leurs quartiers. Thèse (Doutorado) - Faculté de
Philosophie, Lettres et Sciences Humaines, São Paulo, 2009.
Dans le début du développement de Santo André, les terres du bairro
da Estação, actuel centre de Santo André, avaient peu valeur pour être
un lieu sans intérêt commercial, éloigné des villes déjà établies. Ceci a
motivé à São Paulo Railway (SPR) dans son choix pour l'installation du
estação da Vila de São Bernardo, en 1867.
En même temps, ce lieu
interconnectait trois pôles dans naissante croissance à l'époque – São
Bernardo, Mogi das Cruzes et la région au sud de l'actuelle zona leste de
São Paulo. Cela a stimulé des industries à acquérir des terres pour la
construction de leurs usines, ce qui a produit la nécessité de pourvoir lieu
pour la résidence des travailleurs. Il a fallu que les propriétaires lotissaient
partie de leurs terres pour recevoir les nouveaux habitants dans les
proximités de ces usines. Les difficultés de la naissante industrialisation ces
dernières années du siècle XIX et premiers du XX et la résistance de
propriétaires de la région à vendre leurs propriétés ou partie d'elles ont
retardé l'ouverture de quartiers. Un nombre significatif de lotissements
passe à être ouvert dans la décennie de 1920, de même pour la formation
de quartiers de luxe. L'exigence par des secteurs résidentiels avec l'arrivée
d'autres industries à Santo André a fait pression l'établissement de
lotissements. Des techniques pour convaincre les propriétaires ont été
utilisées par des associations de lotissement: perpétuer le nom des
propriétaires des terres en les noms de lieux créés. L'hommage aux
propriétaires et lotisseurs ou à membres de leurs familles s'est maintenu
tendance jusqu'à des milieux du siècle XX. Dans cette période, le profil des
nouveaux habitants de la région a changé, spécialement composé de
migrants provenant d'autres villes de l'ABC et de villes brésiliennes, et de la
spéculation immobilier en imposant de nouvelles tendances de formation de
noms de lieux en parallèle à des hommages de parents.
Dans cette Thèse,
on présentera et analysera les noms de ces lotissements qui ont donné
origine à quatre-vingts et huit quartiers de Santo André, en les
regroupant à partir des causes toponimique.
Mots-clé: Atlas das Cidades; cause toponimique; Santo André.
Sumário
1 INTRODUÇÃO ............................................................................ 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................... 18
3 METODOLOGIA .......................................................................... 35
4 O NOME SANTO ANDRÉ DO SÉCULO XVI AO SÉCULO XX ............ 45
4.1 A SANTO ANDRÉ DO SÉCULO XVI .............................................. 45
4.1.1 A vila de Santo André da Borda do Campo ................................ 60
4.2 DE BAIRRO RURAL A MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ ...................... 71
4.3 CONCLUSÕES PARCIAIS ........................................................... 79
5 TERMO GENÉRICO OU TERMO ESPECÍFICO. O PRIMEIRO
FORMANTE DOS NOMES DOS AGLOMERADOS HUMANOS ............. 82
5.1 TERMO GEOGRÁFICO E TERMO ESPECÍFICO ................................ 82
5.2 URBANIZAÇÃO DE SANTO ANDRÉ E CATEGORIA DOS BAIRROS ..... 89
5.2.1 Vila ..................................................................................... 91
5.2.2 Jardim ................................................................................. 95
5.2.3 Parque ................................................................................. 99
5.2.4 Condomínio, Sítio e Cidade ..................................................... 99
5.3 CONCLUSÕES PARCIAIS ...........................................................100
6 OS NOMES DESCRITIVOS E OS FORMADOS POR TRANSLAÇÃO
TOPONÍMICA ..............................................................................103
6.1 OS NOMES DESCRITIVOS .........................................................103
6.1.1 Vila Metalúrgica (ficha 01) ......................................................103
6.1.2 Várzea do Tamanduateí (ficha 23) ...........................................104
6.1.3 Campestre (ficha 24) .............................................................105
6.1.4 Jardim (ficha 32) ...................................................................106
6.1.5 Centro (ficha 33) ...................................................................107
6.1.6 Jardim Bela Vista (ficha 35) ....................................................108
6.1.7 Pinheirinho (ficha 41) ............................................................109
6.1.8 Casa Branca (ficha 47) ...........................................................109
6.1.9 Jardim Oriental (ficha 50) .......................................................110
6.1.10 Jardim do Estádio (ficha 63) .................................................110
6.1.11 Condomínio Maracanã (ficha 82) ............................................111
6.2 OS NOMES FORMADOS POR TRANSLAÇÃO TOPONÍMICA ...............111
6.2.1 Jardim Utinga (ficha 03) .........................................................112
6.2.2 Parque Oratório (ficha 08) e Parque Novo Oratório (ficha 09) ......113
6.2.3 Jardim Itapoan (ficha 11) .......................................................114
6.2.4 Santa Teresinha (ficha 13) .....................................................114
6.2.5 Bangu (ficha 14) ...................................................................115
6.2.6 Parque Jaçatuba (ficha 17) .....................................................116
6.2.7 Parque Capuava (ficha 22) .....................................................117
6.2.8 Vila Floresta (ficha 38) ...........................................................118
6.2.9 Paraíso (ficha 45) ..................................................................119
6.2.10 Silveira (ficha 57) ................................................................119
6.2.11 Vila Vitória (ficha 61) ...........................................................120
6.2.12 Jardim Guarará (ficha 67) .....................................................120
6.2.13 Sítio dos Vianas (ficha 68) ....................................................121
6.2.14 Vila Humaitá (ficha 75) ........................................................122
6.2.15 Vila Suíça (ficha 80) .............................................................122
6.2.16 Jardim Santo André (ficha 81) ...............................................123
6.3 CONCLUSÕES PARCIAIS ...........................................................123
7 AS HOMENAGENS E AUTO-HOMENAGENS .................................126
7.1 AUTO-HOMENAGEM OU HOMENAGEM AO PROPRIETÁRIO / LOTEA-
DOR ............................................................................................127
7.1.1 Vila Camilópolis (ficha 02) ......................................................127
7.1.2 Vila Francisco Matarazzo (ficha 07) ..........................................128
7.1.3 Parque Erasmo Assunção (ficha 18) .........................................128
7.1.4 Vila Aquilino (ficha 27) ...........................................................129
7.1.5 Vila Bastos (ficha 34) .............................................................129
7.1.6 Vila Scarpelli (ficha 40) ..........................................................130
7.1.7 Vila Assunção (ficha 46) .........................................................130
7.1.8 Vila Homero Thon (ficha 58) ...................................................131
7.1.9 Vila Pires (ficha 60) ...............................................................132
7.1.10 Vila Junqueira (ficha 62) .......................................................133
7.1.11 Cata Preta (ficha 72) ............................................................133
7.1.12 Parque Gerassi (ficha 85) .....................................................134
7.1.13 Jardim Marek (ficha 86) .......................................................134
7.2 HOMENAGEM A PARENTES DO PROPRIETÁRIO/LOTEADOR .............134
7.2.1 Vila Lucinda (ficha 06) ...........................................................134
7.2.2 Jardim Ana Maria (ficha 12) ....................................................135
7.2.3 Jardim Rina (ficha 20) ............................................................136
7.2.4 Jardim Alzira Franco (ficha 21) ................................................136
7.2.5 Vila Guiomar (ficha 30) ..........................................................137
7.2.6 Vila Alice (ficha 36) ...............................................................137
7.2.7 Vila Gilda (ficha 42) ...............................................................138
7.2.8 Jardim Stela (ficha 43) ...........................................................138
7.2.9 Vila Alzira (ficha 48) ..............................................................139
7.2.10 Jardim Cristiane (ficha 49) ....................................................139
7.2.11 Jardim Milena (ficha 51) .......................................................140
7.2.12 Vila Linda (ficha 54) .............................................................140
7.2.13 Vila Marina (ficha 55) ...........................................................141
7.2.14 Vila Helena (ficha 56) ...........................................................141
7.2.15 Vila América (ficha 59) .........................................................142
7.2.16 Vila Luzita (ficha 66) ............................................................143
7.2.17 Jardim Irene (ficha 69) .........................................................144
7.2.18 Vila Lutécia (ficha 79) ..........................................................144
7.3 CONCLUSÕES PARCIAIS ...........................................................145
8 NOMES SEM RELAÇÃO PROPRIAMENTE DITA COM A REGIÃO ...147
8.1 TRADIÇÃO E NACIONALISMO ....................................................147
8.1.1 Parque João Ramalho (ficha 19) e Vila João Ramalho (ficha 70) .. 148
8.1.2 Parque Marajoara (ficha 73) .................................................. 148
8.1.3 Vila Guarani (ficha 74) .......................................................... 149
8.1.4 Vila Progresso (ficha 77) ....................................................... 149
8.1.5 Vila Tibiriçá (ficha 78) ........................................................... 149
8.1.6 Vila Guaraciaba (ficha 83) ..................................................... 149
8.2 OS NOMES RELIGIOSOS .......................................................... 150
8.2.1 Jardim Santo Antônio (ficha 04) ............................................. 150
8.2.2 Jardim Santo Alberto (ficha 10) .............................................. 151
8.2.3 Santa Maria (ficha 25) .......................................................... 152
8.2.4 Jardim Bom Pastor (ficha 39) ................................................. 152
8.2.5 Jardim Santa Cristina (ficha 64) ............................................. 153
8.2.6 Jardim Teles de Menezes (ficha 65) ........................................ 153
8.2.7 Jardim Santo Antônio de Pádua (ficha 87) ............................... 153
8.2.8 Cidade São Jorge (ficha 88) ................................................... 154
8.3 HOMENAGENS A PERSONALIDADES PÚBLICAS E A ANIMAIS ......... 154
8.3.1 Vila Curuçá (ficha 16) ........................................................... 155
8.3.2 Vila Príncipe de Gales (ficha 26) ............................................. 156
8.3.3 Vila Sacadura Cabral (ficha 28) .............................................. 157
8.4 NOMES QUE SE REMETEM A BOAS CARACTERÍSTICAS ................. 157
8.4.1 Jardim das Maravilhas (ficha 05) ............................................ 158
8.4.2 Jardim Alvorada (ficha 53) .................................................... 159
8.5 HOMENAGEM À DIVERSIDADE CULTURAL E COROTOPÔNIMOS ...... 159
8.5.1 Parque das Nações (ficha 15) ................................................. 159
8.5.2 Vila Palmares (ficha 29) .........................................................160
8.5.3 Vila Alpina (ficha 31) .............................................................160
8.5.4 Vila Valparaíso (ficha 37) ...................................................... 161
8.5.5 Jardim Jamaica (ficha 44) ...................................................... 161
8.5.6 Jardim Las Vegas (ficha 52) ................................................... 161
8.5.7 Jardim Vila Rica (ficha 71) ..................................................... 162
8.5.8 Jardim Ipanema (ficha 76) .................................................... 163
8.5.9 Centreville (ficha 84) ............................................................ 163
8.6 CONCLUSÕES PARCIAIS .......................................................... 164
9 CONCLUSÃO ............................................................................ 166
BIBLIOGRAFIA ........................................................................... 173
13
1 Introdução
A Toponímia, ramo das ciências onomásticas que estuda os
nomes próprios de lugares, tem se apresentado atualmente como um
campo rico para pesquisas lingüísticas e para a recuperação da
memória de grupos humanos. Cabe ao pesquisador reconstruir a
toponímia das localidades e revelar as motivações e as causas que
levaram a formação destes nomes, relacionando-as às circunstâncias de
formação dos aglomerados humanos e às alterações ocorridas na região
ao longo dos anos.
Neste sentido, os topônimos, além de distinguirem, identificam
os elementos, quer humanos, quer físicos da paisagem, e também se
constituem como verdadeiros testemunhos históricos das comunidades,
registrando fatos e ocorrências de momentos distintos da vida de uma
população, razão que nos permite afirmar que o nome adquire um valor
que transcende ao próprio ato da nomeação.
Como observa Dick (1990, 22),
se a toponímia de uma região pode ser considerada como a
crônica de um povo, registrando o presente para o
conhecimento das gerações futuras, o topônimo configura-se
como o instrumento dessa projeção temporal.
Ao considerar a toponímia como a crônica de um povo, esta, em
uma análise mais profunda de seus objetivos, ganha uma dimensão
maior do que uma mera investigação dos designativos geográficos em
sua bipartição física e humana. A nomenclatura de um espaço
geográfico conserva aspectos culturais, sociais e indicativos da
mentalidade do homem, em sua época e tempo, expostos às condições
ambientais que o próprio espaço geográfico lhe oferece e que podem
condicionar a percepção da realidade (DICK: 1992, 119). Ao mesmo
tempo, essa percepção da realidade pode condicionar a nomeação de
um elemento da paisagem, uma vez que o homem primeiramente
14
percebe e conhece, para só então nomear o referente (BLIKSTEIN:
1990, 39).
O ato de nomeação, por outro lado, pode sofrer influência de
elementos extralingüísticos. Sapir (1969, 45) argumenta que é no léxico
de uma língua que mais nitidamente reflete-se o ambiente físico e
social, mas esclarece que o ambiente físico só se reflete na língua na
medida em que forças sociais atuarem sobre ele.
A investigação toponímica, assim, torna-se relevante por
possibilitar o levantamento de informações, se não em sua totalidade,
pelo menos em parte, de aspectos sócio-histórico-culturais de um grupo
alocado em um determinado espaço geográfico, bem como da língua
falada nessa região, pois,
é pela conjunção de várias condicionantes lingüísticas ou de
diversos dialetos e falares presentes em um determinado
território, que se estrutura o léxico regional, considerando não
só as tendências normalizadoras da lingua-padrão como
presença de minorias étnicas ainda participativas ou, mesmo,
como dado documental, porque já extintas. A Toponímia,
principalmente serve-se dessas circunstâncias de base,
equivalente ou próxima de um substrato vocabular, para aí
deitar suas raízes, aproveitando-se do material lingüístico que
mais se adeqüe a configuração dos conceitos que deve
transmitir. Uma nomenclatura local, ou uma cadeia onomástica
que interage com vários segmentos culturais, num aparato
semiótico de relações e procedências diversas, constitui,
realmente, uma base de pesquisa lingüística altamente
produtiva (grifos nossos). (DICK: 1999, 120)
Neste sentido, entendendo que a toponímia, como um recorte do
léxico de uma língua, pode revelar aspectos da realidade sócio-
histórico-culturais de um grupo, buscou-se investigar os nomes dos
aglomerados urbanos do município de Santo André e, a partir deles,
reconstituir as feições características do local, sejam as de ordem física
sejam as de natureza socioculturais, ao longo dos anos.
15
Vale registrar que a região, embora historicamente remonte aos
anos 1500, permaneceu sem referências históricas de 1560 até 1867,
quando da instalação da estrada de ferro São Paulo Railway, ano em
que teve início a efetiva ocupação do território por meio da abertura de
loteamentos. Atualmente, contudo, os limites dos antigos lotes
encontram-se encobertos pela ocupação maciça da região e pela divisão
oficial de bairros do município de Santo André.
Considerou-se, neste caso, a hipótese de que fatores
extralingüísticos, tais como particularidades culturais, sociais,
geográficas e históricas, estejam refletidos e preservados na
nomenclatura dos aglomerados urbanos formados em poucas décadas.
A opção por este recorte deve-se, em primeiro lugar, pelo
interesse em investigar como o homem, alocado neste ambiente físico,
tendo ao seu dispor vários nomes disponíveis na língua, nomeou os
aglomerados urbanos. Em segundo lugar, pela contribuição que os
resultados dessa pesquisa poderá fornecer, como registro científico da
toponímia da localidade, para o Atlas Toponímico do Estado de São
Paulo – ATESP – e o Atlas Toponímico das Cidades, ambos os projetos
coordenados por Dick.
A realização desta pesquisa toponímica tem por base,
principalmente, os pressupostos teóricos contidos em Dick (1996;
1992; 1990), para investigar a natureza semântica e lingüística dos
topônimos. Assim, fixou-se como objetivo principal estudar os nomes
dos bairros da cidade de Santo André, evidenciando suas causas
toponímicas. Esquematicamente, foram considerados como objetivos
específicos:
a. levantar os nomes dos aglomerados humanos de Santo André, desde
a sua fundação, em 1867, até o ano 2006.
b. estudar os topônimos e agrupá-los por data de nomeação.
c. classificar os topônimos por motivo e origem lingüística.
16
d. levantar as causas denominativas dos nomes e relacioná-las à data
da nomeação.
e. verificar quais fatos extralingüísticos – questões sociais, políticas e
ideológicas – deixaram marcas diretamente na formação dos nomes
destes aglomerados humanos.
Convém notar que esta pesquisa não tem a pretensão de ser
exaustiva e contemplar todos os topônimos da região estudada, visto
que foram necessários recortes para a viabilização do projeto. Assim, a
presente tese se justifica como uma pesquisa lingüística que visa
elaborar um inventário toponímico de nomes de bairros do município de
Santo André e que, através da análise onomástica, dará sua quota de
contribuição para consolidar e, até mesmo, se possível, resgatar parte
da cultura regional e, conseqüentemente, colaborar de forma
significativa com o sucesso do Projeto Atlas das Cidades e do Projeto
Atlas Toponímico do Estado de São Paulo.
Com base neste cenário, foram elaboradas a Fundamentação
Teórica, para a apresentação das teorias que antecedem e que norteiam
este estudo, e a Metodologia adotada para o levantamento e a análise
do corpus, as quais são seguidas pela apresentação de cinco capítulos
de discussão propriamente dita do tema.
No capítulo “O nome de Santo André do século XVI ao século
XX”, revela-se que a capitania de São Vicente no século XVI englobava
as terras do atual Grande ABC paulista. A retrospectiva histórica do ABC
paulista permite uma visão da região de 1500 até meados do século
XVI, mostrando a importância de João Ramalho, povoador europeu em
terras sul-americanas para a colonização portuguesa do Brasil, e o
processo que levou a mudança da vila para São Paulo. A criação do
núcleo Bairro da Estação ocorreu apenas cerca de trezentos anos
depois, com a implantação da São Paulo Railway (SPR) em 1867,
quando foi erguida a estação de São Bernardo no cruzamento da
estrada de ferro com o caminho do Pilar, que a ligava ao centro da vila
17
de São Bernardo e a Mogi das Cruzes, e da estrada do Oratório, que a
ligava a São Paulo. A evolução política, com a criação do distrito de
Santo André em 1910, por sua vez, baseou-se em uma suposta relação
com o povoado ramalhense.
No capítulo “Termo genérico ou termo específico. O primeiro
formante dos nomes dos aglomerados humanos”, estudou-se o primeiro
elemento que compõe o nomes da maior parte dos bairros de Santo
André: vila, parque, jardim, condomínio, sítio e cidade. A época de
atribuição do topônimo e a localização foram analisadas a fim de
depreender os motivos que levaram a incorporação destes elementos ao
topônimo.
Em “Os nomes descritivos e os formados por translação
toponímica”, apresentam-se os nomes que descrevem a paisagem,
sejam físicos ou estabelecidos pelo homem, e aqueles que já se
encontravam na região, denominando outros elementos.
No penúltimo capítulo, “As homenagens e auto-homenagens”,
foram analisados apenas os topônimos que revelem homenagem a
indivíduos ligados afetivamente ao proprietário ou loteador ou auto-
homenagem. A data de realização do loteamento e a sua localização são
confrontadas com estas duas causas de formação de um número
significativos de topônimos em Santo André.
No capítulo final “Nomes sem relação propriamente dita com a
região”, revelam-se cinco diferentes causas denominativas de
topônimos sem relação direta com a comunidade.
Estes cinco capítulos de análise do corpus são seguidos por
conclusões parciais, as quais são retomadas e confrontadas na
conclusão final da Tese. Mapas foram elaborados para indicar a
localização dos bairros cujos nomes são estudados. Optou-se pela
apresentação destes mapas ao longo dos capítulos a fim de facilitar o
acompanhamento do processo de formação dos nomes em Santo André.
18
2 Fundamentação Teórica
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2004), em seu dicionário,
define Onomástica como o “estudo e a investigação da etimologia,
transformação, morfologia etc., dos nomes próprios de pessoas e
lugares”, sendo a Toponímia o “estudo lingüístico ou histórico das
origens dos nomes dos lugares”.
Segundo Houaiss (2007), Onomástica é a “ciência que se ocupa
do estudo lingüístico dos nomes próprios”. Neste caso, várias
subdivisões são atribuídas a este campo do conhecimento humano,
como a antroponímia, a astronímia, a mitonímia, a toponímia etc.
Já em Michaelis (2004), Onomástica é definida como o “conjunto
ou relação de antropônimos e topônimos de uma língua”, ou ainda
“estudos explicativos dos nomes próprios”.
Estas três definições revelam diferentes maneiras de entender o
objetivo dos estudos onomásticos. No primeiro caso, entendem-se os
nomes como temática de estudos filológicos, e o onoma é analisado a
partir de sua etimologia. No segundo caso, como temática de estudos
lingüísticos, o onoma é visto especialmente pelo seu potencial de
guardar informações acerca daquele que o engendrou. O último
dicionário relacionado apresenta uma restrição ao campo de estudos
onomásticos, que abarcariam apenas estudos de nomes de lugares e de
pessoas, e estes estudos voltados à elucidação do significado destes
nomes.
Etimologicamente, Onomástica é um substantivo feminino
derivado do adjetivo grego onomastikós, ê,ón > hé onomastiké “a arte
de denominar”. A Antroponímia, derivada do grego ánthopos (homem)
mais o sufixo grego – onoma, constitui-se no ramo da Onomástica que
se ocupa do estudo dos nomes próprios de pessoas (HOUAISS: 2007). E
a Toponímia, vocábulo de origem grega formado pelo radical tópos
19
(lugar) mais o sufixo onoma (nome) (FERREIRA: 2004), tem por estudo
os nomes de lugares. Houaiss (2007), além de indicar como a área de
estudos, “parte da Onomatologia”, define a palavra toponímia como a
“designação dos lugares pelos seus nomes”.
De fato, topônimos são engendrados desde os primórdios da
civilização, pois surge com a necessidade dos primeiros grupamentos
humanos de identificar e nomear as regiões. Desde o início dos tempos
o homem nomeia os lugares por onde passa ou se fixa como símbolo da
posse desse lugar. Conforme nos ensina Dick (1990, 5),
a nomeação dos lugares sempre foi atividade exercida pelo
homem, desde os primeiros tempos alcançados pela memória.
Obras antigas da história e da civilização mundiais colocam
essa prática como costumeira.
Observa-se em muitos versículos do Antigo Testamento, que
recua às brumas da história a tendência dos homens para emprestar o
seu nome à terra possuída e cultivada. Quando não era o próprio
posseiro a fazê-lo, o vizinho tomava a iniciativa, pois era esta a forma
usual para identificar, perante outrem, a propriedade nomeada
(FERNANDES: 1997).
Encontramos na própria Bíblia cristã uma grande variedade dos
mais antigos topônimos e antropônimos conhecidos pelo homem. Logo
no início do primeiro livro (o Gêneses), identifica-se um jardim
conhecido como “Éden”, que, em hebraico (Gan Eden, גן עדן), quer dizer
“Jardim das Delícias ou Paraíso Terrestre”.
No Éden, precisamente no centro do jardim, onde estava a
Árvore da Vida, encontrava-se a nascente de um rio que se dividia em
quatro braços e se espalhavam nas quatro direções do jardim. O nome
do primeiro é “Pison”, rio que rodeia toda a região de Havilá. O nome do
segundo rio é “Ghion”, o qual rodeia toda a terra de Cuche. O nome do
terceiro é o “Tigre” e corre ao oriente da Assíria. O quarto rio é o
“Eufrates”. Esses nomes formam lexemas antroponímicos.
20
Na antiga Roma, até finais da República, usava-se o gentilício
para indicar o parentesco com uma certa gens. Este antigo adjetivo –
terminado em -ius, -ia, -ium (masculino, feminino e neutro) ou, mais
raramente, em -enus –, que passou a integrar o antropônimo romano
(que incluía o prenome ou nome individual, o referido gentilício e o
cognome, podendo ainda ter um ou mais sobrenomes, os chamados
"agnomes"), servia para identificar bens, obras ou atos do respectivo
proprietário ou agente.
Na Hispânia, talvez entre os séculos V-VI, no período suevo-
visigótico, começa a generalizar-se o uso do genitivo simples para
denominar um prédio segundo o nome do seu proprietário. Trata-se de
uma particularidade peninsular que desprezou a utilização do sufixo
com valor topográfico (ibidem).
Já como temática de reflexões, os filósofos gregos discutiam o
ato de denominar no que concerne à relação semântica que liga a
palavra às coisas. Existiam duas correntes que o explicavam de
diferentes modos: os naturalistas, que consideravam os termos
imutáveis, fora do próprio homem; e os convencionistas, que o
entendiam como um acordo tácito, um contrato social entre os homens.
Estas reflexões ainda hoje integram os estudos acerca dos
nomes. Como dito anteriormente, parte dos pesquisadores entende os
nomes como registro de antigas línguas que, potencialmente,
sobrevivem mesmo diante de grandes invasões. Esta perspectiva
filológica dá início aos primeiros estudos toponímicos sistematizados, na
segunda metade do século XIX, na França.
Auguste Lognon fundou, tanto na École Pratique Hauts-Études,
como no Collége de France, uma cadeira especial de estudos
toponímicos. Em 1878, foi publicada, em Paris, a sua obra Geographie
de la Gaule au sezième siécle, que foi a obra padrão para a época.
Destacam-se também os trabalhos de Quicherat, especialmente De la
formation française des anciens noms de lieu, publicado em Paris, em
21
1867, uma das primeiras bases para a toponímia (CARDOSO: 1961,
309-10).
Os alunos de Lognon, com base em um curso por ele ministrado,
publicaram, após a sua morte, a obra denominada Les noms de lieux de
la France, considerada como clássica. Essa obra passa a orientar as
pesquisas toponímicas posteriormente desenvolvidas. Dentre elas,
destacam-se os estudos de Albert Dauzat (1922) que, retomando
estudos onomásticos de Longnon (1912), realizou uma pesquisa
pormenorizada a respeito da formação dos nomes de lugares da França,
dividindo-os em categorias de nomes de acordo com causas históricas.
Os resultados desses estudos estão registrados no livro Les
Noms de Lieux Origine et Evolution, obra que apresentou uma forma
mais sistematizada de pesquisa na área traçando normas a serem
seguidas por aqueles que se propusessem a esse tipo de investigação
(DICK, 1992: 2).
Nessa obra, Dauzat demonstra preocupação com o estudo da
etimologia e a reconstituição histórica de cada topônimo investigado.
Tratou, também, do esvaziamento semântico inerente a um grande
número de topônimos, dada a própria dicotomia que assegura a
evolução da linguagem – conservadorismo/ mudança –, expressa em
termos de fatores estáticos e dinâmicos da linguagem.
Este fenômeno, denominado por Dauzat (1922) como
fossilização do topônimo, é entendido como o momento em que tanto a
língua oral muda, como o meio ambiente se transforma, mas o nome
conserva-se no terreno. Provavelmente o referencial físico primeiro
elucidaria o significado do nome, mas este referencial pode ter deixado
de existir ou a deturpação a qual o nome é exposto dificulta e até
mesmo inviabiliza a sua reconstrução etimológica.
22
O toponimista francês Charles Rostaing (1969, 13), em sua obra
Les noms de Lieux, faz referência ao fato de que nem sempre é possível
ao pesquisador inferir a motivação do denominador:
Tout nom de lieu a une signification mais cette signification a
pu, pour deverses raisons, n’être plus perceptible pour les
habitants. Parfois le mot s’est cristallisé et on ne l’a plus
compris... Parfois par une partie de ses elements il se
rapprochait d´un mot don’t le sens était connu et
consciemment (si l’on avait le sentiment d’une mauvaise
pronunciation ou dune “faute”) ou inconsciemment, on a
corrigé le mot et on l’a inséré dans une série où il n’avait que
faire: l’étymologie populaire ou attraction paronymique a alors
agit.
O topônimo guarda, então, sob um invólucro aparentemente sem
sentido (uma cadência de sons reconhecidos como sendo da língua,
mas eventualmente desconhecidos no momento da decodificação), os
semas ou unidades mínimas de significação que permitem a
reconstrução etimológica.
Neste período, estudos toponímicos eram realizados por outros
pesquisadores, em outros países. Na Inglaterra, podemos citar
Zachirison, Allen Mawer e Patrik Weston Joyce, especialmente a obra
The Origin and History of Irish names of places, publicada, em 1869,
em Londres. Na Itália, a toponímia surge com Di alcune forme de
nomini della´Itália superiore, de Flechi, publicado em Turim, em 1871.
Temos, também, na Bélgica, estudiosos da toponímia do escopo de
Carnoy, Haust, Van de Wijer e Auguste Vincent, autor do trabalho,
publicado em Bruxelas, em 1927, Noms de lieux de la Belgique.
Em Portugal, destaca-se o trabalho do filólogo José Leite de
Vasconcelos, particularmente o seu livro Opúsculos – Vol.III:
Onomatologia, publicado em 1931. Trata-se de uma obra pioneira, que
apresenta considerável pesquisa sobre a onomástica portuguesa. Nessa
obra o autor concebe a Toponímia como “estudo dos nomes de sítios,
23
povoações, nações, (...) rios, montes, vales, etc.”, e estuda os
topônimos com base nas diretrizes francesas: estudo da origem do
nome classificado por línguas; estudo das transformações fonéticas e da
formação gramatical do topônimo e divisão de categorias dos nomes
segundo as causas que deram origem ao nome (VASCONCELOS, 1931:
3).
Este mesmo autor é responsável pela divisão dos estudos
toponímicos em “três secções maiores: nomes de lugar, classificados
por línguas; modos de formação toponímica; categorias de nomes,
segundo as causas que lhes deram origem" (idem: 139). No primeiro
grupo, os topônimos são classificados a partir de sua procedência
lingüística: “pre-romanos, romanos, germânicos, arábicos, de
procedência vária, e portugueses pròpriamente ditos” (ididem). No
segundo, também denominado “gramática toponímica”, classifica os
nomes de lugar por: perda fonética, fonética sintática, elipse de um
substantivo, presença ou omissão do artigo, junção de de, adjectivos
que denotam epítetos, advérbios ou locuções adverbiais, genetivos
medievais, emprêgo de nominativo, nomes no plural, sufixos,
compostos e etimologia popular (idem: 149).
No último grupo, verifica-se uma tentativa de apresentar os
topônimos por campos semânticos. Os nomes são subdivididos pelo
Autor em nomes provenientes: “da hidrografia, construções hidráulicas,
etc.”, “da agricultura”, “da meteorologia”, “da caça”, “de caminhos”, “de
campos”, “da natureza do solo”, “da configuração do terreno”, “de
rochas”, “da fauna”, “da flora”, “de construção civis e religiosas”, “da
história”, “da indústria”, “de instituições sociais”, “do lume”, “da
milícia”, “de nomes próprios de pessoas e alcunhas”, “de povoações ou
arredores”, “da religião e congêneres” e “de cemitérios” (idem: 149-
51).
Estas pesquisas realizadas no continente europeu começam a
conquistar o interesse e a dedicação de pesquisadores em vários países
24
e em várias áreas do conhecimento humano, como a Antropologia, a
Cartografia, a Geografia, a História, a Lexicologia, a Lexicografia etc.
Estes pesquisadores se predispuseram a seguir os caminhos
inicialmente seguidos pelos primeiros mestres, e assim expandiram e
aprofundaram esses conhecimentos de acordo com as características
próprias das regiões e dos países estudados.
Existem na Dinamarca e na Holanda Comissões de Toponímia e,
na Alemanha e na Suécia, além das Comissões, uma cadeira de estudos
especializados sobre a toponímia, nas Universidades de Munich e de
Upsala.
Diversos países do mundo têm seus centros organizadores de
normas para a toponímia. Na França a relação de topônimos coletados é
enviada para uma comissão que examina cada nome ortográfica e
etimologicamente. Somente após estas análises é que esses nomes são
liberados à produção cartográfica.
Nas Américas, destacam-se Estados Unidos e Canadá no que se
refere aos estudos toponímicos. Nesses países as pesquisas,
atualmente, são desenvolvidas por estudiosos da área toponomástica e
de outras áreas (historiadores, geógrafos) e por órgãos especializados.
Nos Estados Unidos, o Board on Geographic Names (BGN), do
Governo americano, fundado em 1890, é a comissão encarregada das
pesquisas toponímicas. Este conselho tem por finalidade a
uniformização da nomenclatura geográfica, e as normas da comissão
orientam os nomes não apenas para os mapas, mas para os textos em
geral.
Os resultados de pesquisas realizadas são divulgados na revista
Names, publicação oficial da American Name Society, que tem como um
de seus objetivos “o estudo da etimologia, origem, significado e
aplicação de todas as categorias de nomes: geográfico, pessoal,
científico, comercial e popular”. Essa revista conta com a colaboração
25
do renomado pesquisador George Rippey Stewart (1945) que, no seu
clássico trabalho Names on the Land, a study on the etymology of
American place-names, apresenta uma classificação para a toponímia,
distribuindo os nomes em nove categorias, baseadas nos mecanismos
da própria nomeação: “descriptive names, possessive names, incident
names, commemmorative names, euphemistic names, manufactured
names, shift names, folk etymologies e mistke names” (DICK: 1992,
25).
O Canadá conta, desde 1966, com um “grupo de Estudos de
Coronímia e de Terminologia Geográfica, associada ao Departamento de
Geografia da Universidade Laval, Quebéc” (idem, 1990: 2). Na
Venezuela podemos destacar o trabalho realizado por Adolfo Salazar-
Quijada, La toponímia en Venezuela, publicado em Caracas em 1985.
Nesta obra, o Autor apresenta o panorama histórico da Venezuela e
revela a importância do signo lingüístico em função da toponímica,
como “acervo científico e patrimonial de um país” e propõe um modelo
taxionômico de classificação dos topônimos (GONSALVES: 2003, 19).
No Brasil, a Toponímia surgiu voltada à reconstituição de
etimologias de palavras de língua indígena, como amparo de estudos
históricos e geográficos. Isto se deve ao perfil dos topônimos
brasileiros.
A carta de Pero Vaz Caminha ao Rei de Portugal, o mais
minucioso e importante documento relacionado à viagem da esquadra
de Cabral ao Brasil, contém informações e pormenores sobre a viagem
de 1500, os episódios ocorridos durante a estada da expedição no
Brasil, a fauna e a flora brasileira e os índios tupiniquim. Trata-se da
primeira narrativa de outras tantas nas quais são registradas as
impressões do europeu diante de terras e povos desconhecidos, os
quais desejava conhecer para conseguir dominar (AMADO;
FIGUEIREDO: 2001, 118-22).
26
Outro texto que revela esse interesse pela toponímia nacional é
o Diário da Navegação, escrito pelo sargento-mor Teotônio José Juzarte.
Nesta obra, o Autor descreve de maneira minuciosa o roteiro fluvial, a
forma de navegar e as aventuras e desventuras da monção que partiu
de Araritaguaba, hoje Porto Feliz, às margens do rio Tietê, no dia 13 de
abril de 1769, com destino à praça de Iguatemi, situada à margem
esquerda do rio do mesmo nome, nas proximidades da atual cidade de
Iguatemi no Mato Grosso do Sul. Juzarte (2000:12) revela os horrores,
as pragas, o desconforto, a fome, a morte, o esperado e o inesperado
das “estradas móveis”, em uma viagem que levou dois anos e dois
meses, desde o início da expedição até o seu regresso em maio de
1771.
Esta obra é escrita por ordem de Dom Luís Antônio de Sousa
Botelho e Mourão, o Morgado de Mateus, que o escolhera para
comandar a monção à Iguatemi, com a recomendação para que fizesse
“um diário com a planta de todos os rios, todos os paises e todas as
cousas mais notáveis que se tiverem descobrido” (idem:13).
Estas obras restringem-se, contudo, a relacionar os topônimos
encontrados, grande parte deles de procedência indígena, e indicar a
etimologia, muitas vezes equivocadas, destes nomes, com o objetivo de
permitir aos viajantes identificarem os locais.
É destaque a obra de Teodoro Sampaio, como sendo uma obra
clássica para a Toponímia brasileira. Nela consagrou-se como pioneiro
nos estudos toponímicos e investigou a presença do tupi na nomeação
dos topônimos brasileiros, cujos resultados foram publicados na obra O
Tupi na geografia nacional, em 1901. Sampaio apresenta critérios para
a formação de etimologias de procedência tupi, dentre os quais se
destaca a preocupação com a reconstituição dos topônimos a partir do
levantamento de documentos antigos.
Para esse estudioso do tupi, as investigações sobre os estudos
etimológicos e históricos devem se constituir nas primeiras questões
27
para as quais se devem buscar elucidações, já que o topônimo, muitas
vezes, pode refletir, em seu significado, características do ambiente em
que está inserido (SAMPAIO: 1987, 174). Baseia-se na constatação do
caráter descritivo de um grande número de nomes de origem indígena
em relação às características do espaço geográfico que nomeia.
Em 1960, o Major Sebastião da Silva Furtado publica a obra A
Toponímia e a Cartografia, a fim de colaborar na formação de técnicos
em cartografia para o mapeamento das terras brasileiras, realizado pelo
Exército. Nesta obra, é realizada uma reflexão acerca da estrutura dos
topônimos:
O topônimo compõe-se duma parte genérica e doutra
especifica. Exemplos: Rio Amazonas, Rio Paraná, Serra Geral,
Serra do Mar, Lagoa dos Patos, Lagoa Mirim, etc., nos quais
rio, serra e lagoa constituem o gênero geográfico, ao qual
corresponde o têrmo geográfico; e, Amazonas, Paraná, Geral,
do Mar, dos Patos e Mirim, a parte específica, que precisa a
espécie do lugar ou acidente nomeado. Uma – o gênero –,
determina-o; a outra – a espécie –, qualifica-o. (FURTADO:
1960, 18)
Esta subdivisão deve-se a necessidade dos cartógrafos de
anotarem, em geral, símbolos para a identificação daquilo que Furtado
chama gênero geográfico e reservar a indicação no mapa da espécie do
nome de lugar. Este Autor, contudo, não apresenta novas reflexões
sobre os topônimos e apenas reproduz outros estudos realizados
anteriormente. Apresenta, por exemplo, a partir da classificação de
“causas que deram origem a nomes” de Leite de Vasconcelos,
topônimos brasileiros (idem, 15-8). Além disso, leva à busca por
topônimos de procedência tupi sem critérios científicos, ignorando as
observações de Sampaio, e tenta construir etimologias de topônimos
indígenas pela descrição dos elementos geográficos que nomeiam:
Como corruptela e interpretação deploráveis, Almeida [João
Mendes de. Dicionario Geographico da Provincia de São Paulo,
1902] apresenta, entre muitos casos semelhantes, em São
28
Paulo, o topônimo Matias Peres, que designa uma das
corredeiras do rio Tietê. Diz êle tratar-se duma corrupção de
Mbo-ti-yo-api-yéré, alusivo a ondas e redemoinhos. (idem, 56)
Além do simples mapeamento de localidades, destaca-se o
trabalho de Levy Cardoso pelo estudo da influência das línguas karib e
arawak na toponímia da Amazônia. Estas pesquisas resultaram no livro
Toponímia Brasílica (1961). Nesta obra, o pesquisador salienta que, por
meio do estudo da toponímia de uma região, podem-se elucidar
questões étnicas e lingüísticas como migrações indígenas e procedência
das diversas famílias de línguas que habitaram determinado lugar
(ibidem, 20).
Outra obra importante para os estudos toponímicos no Brasil é a
Contribuição do Bororo à Toponímia Brasílica, que sintetiza estudo
desenvolvido por Carlos Drumond (1965), sobre os topônimos bororo
da região Centro-Oeste. Esse pesquisador evidencia, também, a falta de
sistematização metodológica para a pesquisa toponímica, acrescentando
que trabalhos realizados sobre toponímia no Brasil, até então, tinham
sido feitos mais a título de curiosidade ou para atestar a ocorrência de
nomes de origem tupi na denominação geográfica brasileira (DICK:
1990, 4).
Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, uma das pesquisadoras
mais representativas no Brasil, contribuiu, com seus estudos, para
modificar a feição indígena dos estudos toponímicos brasileiros. Em sua
tese de doutorado, defendida em 1980, propôs princípios teóricos e
modelos taxionômicos que aproximaram a Toponímia de outras ciências
lingüísticas, como a Lexicologia e a Terminologia. Conforme Dick (1990:
5),
a nomeação dos lugares sempre foi atividade exercida pelo
homem, desde os primeiros tempos alcançados pela memória
humana. Obras antigas da história e da civilização mundiais
colocam essa prática como costumeira, ainda que distinta, em
29
certos pontos, do processo denominativo vivido
modernamente.
Camille Vallaux (1929), na primeira parte de sua obra Les
sciences geographiques, de 1925, elegeu a toponímia como uma das
partes mais atraentes da Geografia Descritiva, “a nomenclatura deveria
ter precedência sobre qualquer outro procedimento”, já que a
"toponímia pode se constituir em um fio condutor de grande utilidade".
J. Romão da Silva (1965), na mesma perspectiva de Dick, ensina
que a toponímia não é um elemento subsidiário da História, mas um
apoio de inegável valor para a ciência geográfica. Datas e fatos são
importantes para o conhecimento histórico, mas uma base
nomenclatural é indispensável para o conhecimento geográfico. Apesar
da inegável validade destas observações, o desenvolvimento de
trabalhos que assumissem efetivamente esta postura só foram
efetivamente realizados por Dick.
Seus estudos visam a uma sistematização metodológica para a
orientação de pesquisas toponímicas. Dick (1990) apresenta princípios
teóricos de investigação toponímica e discute dois planos de
investigação, o diacrônico e o sincrônico, e considera que a
investigação, na perspectiva do segundo plano, permite “o exame das
séries motivadoras, que conduziram à elaboração das taxes
toponímicas, vinculadas, de modo genérico, aos campos físico e
antropo-cultural”. Além de formular uma terminologia técnica para a
matéria, a Autora põe em destaque os principais motivos que
comandam a organização da nomenclatura geográfica (DICK: 1990,
367).
Assim, no modelo proposto por Dick, o sintagma toponímico é
entendido como a junção de um termo ou elemento genérico, relativo
ao elemento geográfico, a um termo ou elemento específico, ou o
topônimo propriamente dito, no qual podemos identificar a intenção do
30
denominador no ato da nomeação (ibidem, 10). Quanto à sua estrutura,
os topônimos foram classificados segundo sua formação:
a) o topônimo ou o elemento específico simples: “aquele que
se faz definir por um só formante seja substantivo ou adjetivo,
de preferência, podendo, contudo, se apresentar também
acompanhado de sufixações (diminutivas, aumentativas ou de
outras procedências lingüísticas)”;
b) o topônimo composto ou elemento específico composto:
“aquele que se apresenta com mais de um formador, de
origens diversas entre si, do ponto de vista do conteúdo,
gerando, por isso, às vezes, formações inusitadas que, apenas
a história local poderá elucidar, convenientemente”; e
c) o topônimo híbrido ou elemento específico híbrido: “como
entendemos é aquele designativo que recebe em sua
configuração elementos lingüísticos de diferentes procedências:
a formação que se generalizou no país é a portuguesa +
indígena ou a indígena + portuguesa”. (ibidem, 13-14)
Destaca-se, como uma das maiores contribuições de Dick aos
estudos toponímicos, o desenvolvimento de um modelo taxionômico,
que revelam a motivação toponímica. Neste sentido, a toponímia passa
a ser uma disciplina que busca a origem e a significação dos nomes de
lugares. Além disto, o modelo taxionômico de Dick fornece ao
pesquisador aspectos teórico-metodológicos voltados à realidade
brasileira.
Dick (1990, 25), para elaborar seu modelo taxionômico, estudou
os nove mecanismos de nomeação propostos por George Stewart, em
1954, e verificou que este modelo de classificação toponímica sugere
um retorno à intenção de denominador no ato do batismo de um
elemento geográfico; busca-se, neste caso, a causa toponímica. O
enquadramento do nome em um destes mecanismos, portanto, tinha
por base a história desse lugar, limitando o estudo. A Autora (idem:
1992, 25) também observa que a aplicabilidade da teoria de Stewart
pode não atender a todos os sistemas onomásticos conhecidos, sendo,
31
portanto, necessária a elaboração de estudos localizados para identificar
de causas toponímicas.
O primeiro modelo de classificação de Dick, de 1975, continha 19
(dezenove) taxes. Esse modelo foi reformulado posteriormente, pela
própria autora, e publicado em 1990, contando com 27 (vinte e sete)
taxes, das quais 11 (onze) se relacionavam ao ambiente físico e são
denominadas “Taxionomias de natureza Física”, e 16 (dezesseis) estão
ligadas às relações que envolvem o homem inserido em um grupo com
seus aspectos sociais, culturais, denominadas “Taxionomias de natureza
Antropocultural”.
As taxionomias de Natureza Física estão assim distribuídas:
Astrotopônimos – topônimos relativos aos corpos celestes,
Ex: Estrela – AH/BA; Cardinotopônimos – relativos às
posições geográficas, Ex: lagoa do Sul – AF/SC;
Cromotopônimos – fazem referência à cores, Ex: rio Negro
AF/AM; Dimensiotopônimos – fazem referência às
características de dimensão do próprio acidente, Ex: serra
Curta AF/BA; Fitotopônimos – topônimos relativos a nomes
de vegetais, Ex: arroio Pinheiro AF/RS; Geomorfotopônimos
– que fazem referência às formas topográficas, Ex: Monte Alto
AH/SP; Hidrotopônimos – resultantes de acidentes
hidrográficos em geral, Ex: serra das Águas AF/GO;
Litotopônimosnomes de ídole mineral, Ex: lagoa do Barro
AF/BA; Meteorotopônimos – topônimos relativos a
fenômenos metereológicos, Ex; Ventania AH/SP;
Morfotopônimos – topônimos que se referem a formas
geométricas, Ex; Curva Grande AH/AM; Zootopônimos
topônimos de índole animal, Ex; rio do Boi AF/MG.
As Taxionomias de natureza Antropocultural são classificadas
em: Animotopônimos ou Nootopônimos - são topônimos
que se relacionam à vida psíquica e à cultura espiritual, Ex: rio
Feio AF/SP; Antropotopônimos – topônimos que se referem a
nomes próprios individuais, Ex: Fernão Velho AH/AL;
Axiotopônimos – topônimos relativos a títulos e a dignidades
de que se fazem acompanhar os nomes, Ex; Presidente
32
Prudente AH/SP; Corotopônimos – topônimos que recuperam
nomes de cidades, de países, de regiões e de continentes, Ex:
avenida Europa AH/SP; Cronotopônimos – topônimos que
indicam tempo, Ex; rio Novo Mundo AF/GO; Ecotopônimos
topônimos relativos às habitações de um modo geral, Ex:
Sobrado AH/BA; Ergotopônimos – topônimos que se referem
a elementos da cultura material, Ex: Córrego da Flecha AF/MT;
Etnotopônimos – topônimos referentes aos elementos
étnicos, isolados ou não (povos, tribos, castas), Ex: Lagoa dos
Bugres AF/MS; Dirrematopônimos – constituídos por frases
ou enunciados lingüísticos, Ex: Deus me Livre AH/BA;
Hierotopônimos – topônimos relativos aos nomes sagrados
de diferentes crenças, Ex: São Paulo AH/SP;
Historiotopônimos – topônimos que se referem a
movimentos de cunho histórico-social e a seus membros, Ex:
Inconfidência AH/RJ; Hodotopônimos – topônimos relativos
às vias de comunicação rural ou urbana, Ex: córrego do Atalho
AF/GO; Numerotopônimos topônimos relativos aos
adjetivos numerais, Ex: cachoeira Três Irmãos AF/MT;
Poliotopônimos – topônimos constituídos pelos vocábulos
vila, aldeia, cidade, povoação, arraial, Ex: salto Colônia de
Itapura; Sociotopônimos – topônimos relativos às atividades
profissionais, aos locais de trabalho e aos pontos de encontro
de uma comunidade (largo, páteo, praça), Ex: serra do
Sapateiro AF/SP; Somatotopônimos – topônimos
empregados em relação metafórica à partes do corpo humano
ou animal, Ex: Pé de Galinha AH/BA. (DICK: 1990, 32-4).
Quanto às classificações focalizadas, podemos considerar que
Dauzat (1922) realizou uma pesquisa pormenorizada acerca da
formação dos nomes de lugares na França, dividindo-os em categorias
de nomes de acordo com causas históricas. Os resultados desses
estudos podem ser encontrados no livro Les noms de Lieux Origine et
Evolution (DICK: 1990, 2). O objetivo primordial de suas pesquisas foi o
estudo da etimologia e a reconstituição histórica dos topônimos
investigados.
33
Podemos dizer que, sob o ponto de vista de reconstituir e
descobrir o significado dos nomes próprios, o trabalho de José Leite de
Vasconcelos se assemelha às diretrizes francesas: estudo da origem do
nome classificado por línguas; estudo das transformações fonéticas e da
formação gramatical do topônimo e divisão de categorias dos nomes
segundo as causas que deram origem ao nome (VASCONCELOS: 1931,
3).
No modelo classificatório proposto por Dick para a perspectiva
sincrônica, figuram o conteúdo lingüístico que se pode perceber nos
topônimos, em primeiro lugar, e a intenção do denominador no ato da
nomeação visando, por meio de uma investigação sem muito recuo ao
passado histórico, em segundo lugar.
Isso não significa que a possibilidade de uma pesquisa mais
pormenorizada para apreensão do significado seja descartada. As
motivações toponímicas, os pressupostos semânticos que dão vida aos
designativos geográficos, ganham destaque na perspectiva diacrônica
de estudo toponímico, apresentada por Dick (1996) especialmente na
sua tese de Livre-Docência.
Assim, as pesquisas de Dick dividem-se em ambas as
perspectivas: sincrônico, com os projetos ATB (Atlas Toponímico do
Brasil) e ATESP (Atlas Toponímico do Estado de São Paulo), este último
se caracteriza como uma variante regional do primeiro; e diacrônico,
com os projetos Caminho das águas, povos dos rios uma visão
etnolinguistica da toponímia brasileira, que versa sobre hidrônimos, e
Atlas das Cidades, que trata da toponímia urbana.
Na presente Tese, os topônimos foram inicialmente analisados
segundo dois pontos de vista básicos: o aspecto taxionômico, já
focalizado, e o aspecto lingüístico que absorve o campo etno-
dialetológico e visa investigar estratos lingüísticos da linguagem falada,
como as das camadas portuguesas, indígenas, africanas (DICK: 1996,
28-37).
34
Optou-se por organizá-los, contudo, para realização da análise
do corpus, por causas toponímicas, já que se utilizaram fontes
históricas como subsídio para o desenvolvimento da pesquisa e os
mapeamentos como subsídio ao entendimento da dinâmica de formação
dos nomes.
35
3 Metodologia
A elaboração deste trabalho foi baseada na sistemática
metodológica e terminológica especializada apresentada nos Projetos
ATESP (Atlas Toponímico do Estado de São Paulo) e Atlas das Cidades,
variante do primeiro, estabelecida por Dick (1996, 1992 e 1990).
Nestes projetos, foram encontrados subsídios para o entendimento do
processo de atribuição e de transformação dos nomes de lugares em
áreas urbanas, numa perspectiva diacrônico-contrastiva.
Por meio da análise toponímica diacrônico-contrastiva, é possível
atingir questões além do próprio ato de denominação e a identificação
dos fatores que levaram à fixação de nomes. Pode-se também chegar
ao entendimento da rotina dos aglomerados humanos, o seu papel
frente a outros grupos e, inclusive, a função de indivíduos deste
organismo social.
Como ensina Dick (1996, 12), em A Dinâmica dos Nomes na
Cidade de São Paulo,
Sabe-se que a toponímia é a disciplina que caminha ao lado da
história, servindo-se de seus dados para dar legitimidade a
topônimos de um determinado contexto regional, inteirando-se
de sua origem para estabelecer as causas motivadoras, num
espaço e tempo preciso, procurando relacionar um nome ao
outro, de modo que, da distribuição conjunta, se infira um
modelo onomástico dominante ou vários modelos simultâneos.
Para isto, contudo, é necessário reconstituir o processo
onomasiológico dos nomes de lugar e recuperar, quando possível, a
primeira enunciação que singularize o espaço até sua configuração
como topônimo propriamente dito. Assim, a partir da recuperação das
formas primitivas de indicar o espaço, das modificações na forma e no
significado destes nomes, de substituições de certos designativos em
36
detrimento a outros, observa-se a maneira de pensar e de agir dos
habitantes em determinada região e tempo.
Neste sentido, foi de fundamental importância a leitura do livro
de Otaviano Gaiarsa (1968), A Cidade que dormiu três séculos, que
trata da fundação da Santo André do século XVI, a transferência para
São Paulo e a refundação do aglomerado humano em 1867. Essa leitura
constituiu-se na origem do interesse pelo tema.
Relevantes também os depoimentos de Waldomiro de Sá (2003),
em A minha história de Santo André, em que relata sua vivência e fatos
de que foi testemunha em meados do século XX; bem como de diversos
depoentes nos nove congressos de história do grande ABC, realizados
entre 1990 a 2008, nos diversos municípios integrantes do Grande ABC.
Esses depoimentos, impressões dos memorialistas, indicaram a rotina,
os usos e costumes da população andreense à época.
As pesquisas de Arlete Assumpção Monteiro (1995), Marly
Rodrigues (2001) e Wanderlei dos Santos (1992) tiveram especial
contribuição no esclarecimento dos fatos ocorridos na ocupação dos
espaços ao longo da estrada de ferro São Paulo Railway (SPR), depois
estrada de ferro Santos a Jundiaí (EFSJ) e, hoje, Ferrovias Paulistas S/A
(FEPASA). Esses trabalhos permitiram a caracterização das condições
humanas (social, econômica, política e ideológica) e dos grupos
lingüísticos/étnicos existentes no local, bem como das condições físicas
(meteorológicas, hidrográficas e de relevo) da região.
Na presente Tese, para todos os efeitos e para a identificação
dos nomes dos aglomerados humanos do município de Santo André, a
partir de 1867 a 1970, trabalhou-se com o material existente no Museu
de Santo André e na biblioteca do Centro Universitário de Santo André e
disponibilizado pelos órgãos oficiais da Prefeitura Municipal de Santo
André e da Prefeitura de São Bernardo do Campo.
37
A leitura e a análise preliminar dos materiais específicos citados
foram fundamentais para que pudéssemos selecionar os mais
expressivos para a investigação a que nos propusemos.
Destaca-se, neste sentido, as pesquisas desenvolvidas por Silvia
Helena Passarelli. Em 1994, esta pesquisadora apresentou mapas de
Parcelamentos de Santo André dos anos 1906, 1930, 1945, 1970, com
escala de 1:20.000 e, por base cartográfica, o Levantamento
Aerofotogramétrico de Santo André, de 1990 (escala 1:10.000). Nestes
mapas, são apresentadas, nas respectivas épocas, os nomes dos bairros
existentes e dos caminhos abertos em Santo André, constituindo-se
uma importante fonte por ser a única a apresentar o posicionamento
dos loteamentos ao longo dos anos.
Verifica-se, por exemplo, pelo mapa de 1906, que o bairro inicial
da cidade, o bairro estação, era o único existente na primeira década do
século XX e que três empresas pioneiras da cidade – Streiff, Kowarick e
Ipiranguinha – já se encontravam na região nesta época. O resto da
área era rural; infelizmente, não foram identificadas as propriedades.
Antes deste mapeamento, em 1993, Passarelli desenhara os
mapas de Santo André de 1954, 1972 e 1990, em escala 1:50000,
tendo os mapas do IBGE de 1984, de igual escala, por base
cartográfica. Estes mapas, contudo, foram descartados, pois
apresentavam foco nos galpões industriais e não nos bairros.
Cotejaram-se, a estes dados, os nomes oficiais dos bairros de Santo
André em 2006.
Da análise destes materiais, foram identificados os bairros, a
época aproximada de sua instalação, os seus nomes, bem como foram
traçados o perfil dos aglomerados humanos formados ao redor do bairro
da Estação de São Bernardo e suas relações com regiões contíguas.
Notou-se que os aglomerados humanos em Santo André, como
se verá no próximo capítulo, não surgiram espontaneamente, mas
38
decorrem da necessidade de abrigar os trabalhadores que acorriam ao
novo povoado em busca de trabalho. A origem, os costumes e valores
dos proprietários e loteadores, contudo, explicam a maior parte das
causas denominativas dos bairros de Santo André.
É natural que alguns dos topônimos encontrados no início do
século XX fossem substituídos por outros nos anos seguintes, mas se
verifica a tendência a manutenção destes nomes. Por outro lado,
embora a urbanização da região tivesse por eixo norteador o traçado
dos antigos caminhos e da SPR e cursos d’águas conhecidos, isto não
implicou na utilização de parcela significativa dos nomes anteriores.
A partir de 1990, o desaparecimento de topônimos registrados é
decorrente da reunião ou divisão de bairros para efeito de organização
administrativa do município, levando a englobar bairros próximos e com
características parecidas. Estes bairros maiores formados aproveitam o
nome de um de seus formadores.
Concluiu-se, então, a fase de levantamento dos nomes de
aglomerados humanos urbanos com 172 denominações de loteamentos,
dos quais, 116 permanecem ainda hoje. Os 28 bairros de área de
mananciais de Santo André, contudo, apresentam perfil diverso aos 88
formados a partir de expansão do primitivo bairro Estação de São
Bernardo.
Optou-se, portanto, pela exclusão destes nomes do acervo
contemplado nesta pesquisa, e a indicação para futuros trabalhos a
serem desenvolvidos. Um mapa foi elaborado, e cada bairro recebeu um
número para a catalogação das informações coletas.
39
1. Vila Metalúrgica
2. Vila Camilópolis
3. Jardim Utinga
4. Jardim Santo Antônio
5. Jardim das Maravilhas
6. Vila Lucinda
7. Vila Francisco Matarazzo
8. Parque Oratório
9. Parque Novo Oratório
10. Jardim Santo Alberto
11. Jardim Itapoan
12. Jardim Ana Maria
13. Santa Teresinha
14. Bangu
15. Parque das Nações
16. Vila Curuça
17. Parque Jaçatuba
18. Parque Erasmo Assunção
19. Parque João Ramalho
20. Jardim Rina
21. Jardim Alzira Franco
22. Parque Capuava
23. Várzea do Tamanduateí
24. Campestre
25. Santa Maria
26. Vila Princípe de Gales
27. Vila Aquilino
28. Vila Sacadura Cabral
29. Vila Palmares
30. Vila Guiomar
31. Vila Alpina
32. Jardim
33. Centro
34. Vila Bastos
35. Jardim Bela Vista
36. Vila Alice
37. Vila Valparaíso
38. Vila Floresta
39. Jardim Bom Pastor
40. Vila Scarpelli
41. Pinheirinho
42. Vila Gilda
43. Jardim Stela
44. Jardim Jamaica
45. Paraíso
46. Vila Assunção
47. Casa Branca
48. Vila Alzira
49. Jardim Cristiane
50. Jardim Oriental
51. Jardim Milena
52. Jardim Las Vegas
53. Jardim Alvorada
54. Vila Linda
55. Vila Marina
56. Vila Helena
57. Silveira
58. Vila Homero Thon
59. Vila América
60. Vila Pires
61. Vila Vitória
62. Vila Junqueira
63. Jardim do Estádio
64. Jardim Santa Cristina
65. Jardim Teles de Menezes
66. Vila Luzita
67. Jardim Guarara
68. Sítio dos Vianas
69. Jardim Irene
70. Vila João Ramalho
71. Jardim Vila Rica
72. Cata Preta
73. Parque Marajoara
74. Vila Guarani
75. Vila Humaitá
76. Jardim Ipanema
77. Vila Progresso
78. Vila Tibiriçá
79. Vila Lutécia
80. Vila Suíça
81. Jardim Santo André
82. Condominio Maracanã
83. Vila Guaraciaba
84. Centreville
85. Parque Gerassi
86. Jardim Marek
87. Jardim Santo Antônio de Pádua
88 Cidade São Jorge
mapa 01. Bairros de Santo André
40
Passou-se, então, à busca das razões que levaram à atribuição
destes nomes, ou seja, das causas denominativas. Esta pesquisa foi
efetuada por meio de pesquisa bibliográfica, de estudos históricos e
geográficos e de memorialistas. Demos ênfase, portanto, no caso de
publicações atuais, aos relatos apresentados nos Congressos de
História, pelos habitantes locais que forneceram histórias e memórias
de infância e adolescência, como citado anteriormente.
Após a coleta do material nas fontes formais, passamos a busca
de informações junto a pessoas da comunidade que, por serem
historiadores, escritores e também por terem sido testemunhas e atores
da história de Santo André, contribuíram de forma significativa. Foi o
caso das diversas reuniões com o Professor Nelson Zanotti, primeiro
diretor da primeira faculdade de Santo André e que conviveu com a
família Murray, peça-chave para a doação dos terrenos do sítio Tangará
para que fosse instalado o atual Centro Universitário Fundação Santo
André. Realizamos também algumas reuniões com o saudoso
historiador Paschoalino Assumpção, autor de livros sobre Santo André.
Entrevistamos também membros da família de Erasmo Assumpção –
Erasmo Teixeira de Assumpção Bisneto e Maria Regina Assumpção
Arruda – que brincavam nas terras de Santo André e nos forneceram
lembranças valiosas.
Pesquisamos também farto material do historiador Ademir
Médici, em seus livros e artigos no Diário do Grande ABC, e dos
pesquisadores Wanderley dos Santos e José de Sousa Martins.
A catalogação destas informações seguiu, conforme se afirmou
anteriormente, foi amparada por pesquisas pioneiras realizadas no
exterior e em vários estados brasileiros no que concerne à análise dos
topônimos, como os manuais e os artigos publicados por Dauzat,
Rostaing, Backheuser e Drumond.
Destaca-se, especialmente, a metodologia definida por Dick
(1996; 1990). Assim, as fichas lexicográfico-toponímicas, também
41
chamadas fichas de extração terminológica, foram fundamentais para a
organização das informações que compõem o corpus da Tese. Adotou-
se, como base, o modelo concebido por Dick para o Projeto ATESP.
Localização – Município: _____________________________________
Topônimo:______________ A.G.:________ Taxionomia:__________
Etimologia: _______________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Entrada Lexical: ___________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Estrutura Morfológica: ______________________________________
________________________________________________________
Histórico: ________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Informações Enciclopédicas: _________________________________
________________________________________________________
Contexto: ________________________________________________
________________________________________________________
Fonte: __________________________________________________
Pesquisador: ______________ Revisor: ______________________
Data de Coleta: ________________________
ficha 01. Modelo elaborado por Dick (2004b, 130) para o Projeto ATESP.
São muitas as informações extraídas das diferentes fontes de
consulta. Para tanto, adaptou-se este modelo de ficha terminológico-
toponímica, cujo modelo é apresentado a seguir, a fim de fornecer os
elementos necessários para a formação do saber-cognitivo da toponímia
da região e possibilitar a comparação entre os proprietários e os
referenciais indicados. Somam-se 88 fichas catalogadas, cada uma
numerada a partir de mapeamento de Santo André apresentado (cf.
mapa 01).
42
Santo André
Iberê Luiz Di Tizio
orientadora: Profa. Dra. Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick
topônimo elemento geográfico
data do loteamento taxionomia
origem lingüística estrutura morfológica
etimologia
entrada lexical
histórico
causa da designação
ficha 02. Modelo de ficha lexicográfico-toponímica adaptado.
Da análise das fichas, alguns grupos de causas denominativas
foram verificados. O fato de a ocupação se dar de forma induzida e não
espontânea, quer dizer, a ocupação resultante da necessidade de
proporcionar local de moradia para os trabalhadores das indústrias que
se estabeleciam no território, levou à criação de tendências
denominativas.
Os topônimos formados revelam muito mais uma forma de
conveniência do loteador ou do proprietário da terra do que uma
manifestação natural do habitante local, até mesmo porque esse
habitante ainda não tinha raízes com o ambiente, ao qual recém-
chegava.
43
Santo André
Iberê Luiz Di Tizio
orientadora: Profa. Dra. Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick
16
topônimo elemento geográfico
Curuçá bairro Vila
ano do loteamento taxionomia
1928 hierotopônimo
origem lingüística estrutura morfológica
Indígena - tupi simples - substantivo
etimologia
Curuçá - corruptela do português “cruz” que, em tupi, se pronunciava “curuzu”.
(Sampaio: 1987)
entrada lexical
histórico
Em 1915, Erasmo Teixeira Assunção, paulistano, comprou muitas terras em Santo
André, tendo como sócio seu irmão Antonio Álvaro Assunção. Entre elas, comprou
uma parte do sítio Jaçatuba. A outra parte foi adquirida por José Augusto Leite
Franco, em 1922.
O sítio Jaçatuba pertencia, em abril de 1856, a João José Barbosa Ortiz, que o
herdara de seu pai, tenente Francisco Barbosa Ortiz.
Curuçá era o nome do cavalo predileto do Dr. Erasmo Teixeira Assunção, que era
grande apreciador e possuidor de cavalos. Ao lotear parte de suas terras em 1928, deu
ao loteamento o nome de seu cavalo predileto, Jardim Curuçá, e às demais ruas da
região o nome de seus outros cavalos. No loteamento foi reservada uma parte da
chácara que hoje abriga o Parque Regional da Criança.
Quando Erasmo Assumpção se afastou da região por causa da crise imobiliária,
decorrente da crise do café, as cocheiras dos seus famosos cavalos foram invadidas e
serviram de morada par famílias de baixa renda. A partir do final dos anos 40
começam a chegar os primeiros nordestinos, atraídos pelas indústrias Rhodia,
Kowarick e outras. (Medici: 1992, 41)
1,42km2 - População estimada: 13.577. (Santo André: 2007, 47)
designações anteriores
sítio Jaçatuba (integrava); Jardim Curuçá (loteamento).
causa da designação
Nome do cavalo predileto de Erasmo Teixeira Assunção.
ficha 03. Modelo de ficha preenchida.
As fontes cartográficas, por sua vez, permitiram visualizar as
áreas analisadas, e percebeu-se que, inversamente às tendências de
nomeação dos bairros, as incorporações e divisões de bairros realizadas
nos últimos anos foram em benefício da reestruturação administrativa
do município.
44
O cruzamento das fontes bibliográficas forneceu os elementos
necessários para a construção do texto onomástico pela articulação dos
topônimos identificados. Os elementos coletados permitem a
reconstrução do processo gerativo do nome e a sua ligação com fatores
que o determinam dentro dos seus contextos de enunciação original,
evidenciando, assim, as diferentes tendências analisadas.
45
4 O nome Santo André do século XVI ao século XX
O município de Santo André no estado de São Paulo, desde a sua
fundação, sempre teve uma posição geopolítica e econômica de grande
importância para o país, sendo atualmente um dos mais importantes
municípios do estado. Em 2006, revela-se 100% urbanizado,
responsável por 1,8% da arrecadação estadual de impostos, 1,6% de
sua população e com 142.001 postos de trabalho.
No início do século XX, momento das primeiras tentativas de
emancipação, Santo André torna-se pólo aglutinador de pessoas
oriundas de todos os estados do Brasil e também de muitos países
estrangeiros, e isso, de certa forma, se reflete na toponímia da região.
Paralelamente, fala-se em relação direta destas terras com a aldeia de
João Ramalho, figura mítica da história do Brasil.
Neste capítulo, serão apresentadas informações sobre este
povoamento quinhentista e os acontecimentos que envolvem a criação
do atual município de Santo André.
4.1 A Santo André do século XVI
Em 1532, quando Martim Afonso de Souza fundeou em São
Vicente, encontrou João Ramalho que já vivia naquelas plagas com sua
mulher (a índia Bartira, filha de Tibiriçá) e seus filhos: André Ramalho,
Joana Ramalho, Margarida Ramalho, Victório Ramalho, António de
Macedo, Marcos Ramalho, Jordão Ramalho e Antonia Quaresma, aos
quais Almeida Prado acrescenta Francisco e Isabel.
46
Pouco se sabe ao certo sobre a origem de João Ramalho. Um
documento da Chancelaria de Dom João II revela que tinha patente de
escudeiro e, portanto, pertencia à base da nobreza portuguesa:
Dom Joham etcotra a vos nosso Corregedor na Comarqua
damtre Tejo e hodiana e a todollos outros juizes e justiças
officiaes e personas a que esta nossa Carta ou Trellado della
em puprica forma fecto per autorydade de justiça for mostrada
fazemos saber que por quanto Joham Ramalho escudeiro
criado da Rainha minha Senhora j Madre cuja alma Deos aja e
nosa lamça da ordenaçam das duas mill lanças esta prestes
pêra nos servir com Cavallo e armas quamdo quer no sseu
sérico for necessaryo. Tempo por bem etcotra em forma dada
em Santarém a tres dias do mes dabril Álvaro Barroso a fez
anno de myll quatrocemtos oitenta e sete. (SANTOS: 1992, 39)
Anos depois, João Ramalho fundou a Vila de Santo André da
Borda do Campo, localizada serra acima do ancoradouro de São
Vicente, nos campos de Piratininga. Amigo e genro de Tibiriçá
1
, ele
usufruía poder e prestígio entre os indígenas (MADRE DE DEUS: 1920,
132). Questionam-se, contudo, o momento e a condição em que João
Ramalho teria chegado ao Brasil.
A presença de europeus em terras brasileiras é uma constante
desde os primeiros anos do século XVI. Após Cabral ancorar no Brasil e
partir em maio do mesmo ano de 1500, portugueses, espanhóis e
outros europeus passaram a freqüentar a costa marítima brasileira.
Almeida Prado (1966, 55-73), por exemplo, cita a expedição de João da
Nova, de 1501, que pretendia chegar ao Oriente com quatro
embarcações pertencentes a particulares
2
.
Sob o comando de Fernão de Noronha, outra expedição,
composta de três embarcações, partiu de Lisboa em maio de 1501 e
1 Segundo Gurgel (1905, 473), "Tibiriçá [era] o célebre maioral dos guayaná (...),
senhor dos Campos de Piratininga: este era um Rei ou Cacique, e as outras comarcas
respeitavão muito, por ser elle o Cacique mais poderoso, e o melhor guerreiro do seu
Continente".
2 Sobre o assunto, ver também Cortesão;Calmon (1956, 299-328).
47
tinha como um dos pilotos Américo Vespúcio. Foi organizada por um
grupo de mercadores com destino ao Brasil e demorou-se na região até
1502, tendo chegado até São Vicente, segundo carta de Parqualigo à
Senhoria de Veneza (ibidem, 40). Uma terceira expedição, de Estevão
da Gama, partiu em abril de 1502.
No ano seguinte, ainda outra expedição teria saído de Lisboa com
seis embarcações, sob o comando de Gonçalo Coelho, com destino a
Malaca. Nela estava novamente Américo Vespúcio. Esta expedição
dispersou-se nas costas brasileiras. A embarcação de Américo Vespúcio
foi direcionada para o litoral brasileiro e demorou algum tempo numa
região que os estudiosos acreditam que seria Cabo Frio, a 260 léguas
ao sul da baía de Todos os Santos.
Aí construiu a tripulação um fortim. A seguir, informa Vespúcio
que uma bandeira por ele ordenada penetrou no interior das
terras. Concluída a incursão, deixou o piloto 24 homens na
feitoria recém-edificada e regressou à Europa (ibidem).
Em 1511, a nau Bretoa, do consórcio Fernão de Noronha,
Bartolomeu Marchione, Benedetto Morelli e Francisco Martins,
comandada por Cristóvão Pires, voltou carregada de pau-brasil e outros
produtos da terra. No ano seguinte, acredita-se que uma expedição
comandada por Cristóvão Jacques partiu de Portugal e desceu a costa
sul do Brasil até encontrar um grande rio (ibidem, 44).
São assinaladas ainda outras expedições portuguesas, como a de
D. Nuno Manuel e a de Cristóvão de Haro, mercador castelhano que
transitava por Lisboa, à qual D. João III atribuiu o descobrimento do Rio
da Prata antes de Sólis:
Nuno Manuel y Cristoban del Haro, és que se trataba,
respectivamente, de uno de los personajes de mayor relieve en
la burocracia palatina de la época (...) figurando en la empresa
como armador su alcotacén mayor y archivero Don Nuno
Manuel (…). Don Juan III atribuía el descubrimienío del rio de
48
la Plata a la armada de Don Nuno Manuel (CORTESÃO;
CALMÓN: 1956, 313-4).
Existem notícias de outras expedições que estiveram na costa
brasileira até 1530. Franceses freqüentavam a orla marítima brasileira
desde 1503, sendo, segundo Almeida Prado (1966, 38), melhor
recebidos que os portugueses pelos indígenas. Em 1505, Binot Paulmier
de Gonneville declarava no seu depoimento perante o almirante da
Normandia que dois anos antes estivera no Brasil em busca de madeira
para tinturaria, “numa região onde desde algum tempo embarcações
(...) costumavam resgatar” (ibidem, 41-2).
Parece que Dias de Sólis e Vicente Yanez Pinzón costearam o
litoral do extremo norte do Brasil em 1508. No mesmo ano, Paul
Gaffarel noticia que um certo Thomas Auberí teria estado no Brasil. Em
1515, com destino aos mares do sul, João Dias Sólis novamente
percorreu a costa brasileira, desta vez até o cabo de Santa Maria, e
entrou no rio da Prata. Desembarcou com alguns companheiros e foi
trucidado pelo gentio. As outras embarcações retornaram à costa
brasileira. Uma delas naufragou nas proximidades de Santa Catarina
(ibidem, 43-6).
Fernão de Magalhães, a serviço da Espanha, com o intuito de dar
volta ao mundo, tocou em terras brasileiras, chegando ao Rio de Janeiro
em dezembro de 1519. Prosseguiu em 29 do mesmo mês, transpôs o
estreito que leva o seu nome (Estreito de Magalhães) e, depois de
percorrer grande distância, foi morto numa ilha em que desembarcou
(ibidem, 47).
Documentos oficiais informavam à corte espanhola que, no ano
de 1521, duas caravelas com destino ao Rio da Prata estiveram em
Santa Catarina. Ao longo das décadas de 1510 e de 1520, naus
perdidas também tocaram a costa brasileira, como o mercador
português Duarte Tristão, com destino às Índias. Uma das naus desta
49
expedição, segundo a Crónica de D.Manuel, teria se perdido e chegado
ao Brasil em 1517 (ibidem, 46-7).
Outra expedição espanhola, de Garcia Jofre de Loaysa, em 1525,
ancorou em Santa Catarina por avarias e contratempos. Nesse mesmo
ano, estiveram em terras brasileiras Diogo Garcia, comandando uma
expedição com três unidades, com destino ao Prata, e Sebastião
Caboto, comandando outra de quatro embarcações, com destino às
Molucas (ibidem, 48-9).
Os registros deixados por essas expedições (diários de bordo,
descrições, crônicas, memórias, documentos oficiais, cartas e
anotações) revelam a existência de povoadores europeus na terra
brasílica antes de Portugal iniciar o povoamento e a colonização do
Brasil, no primeiro quartel do século XVI. João Ramalho, portanto, não
era o único europeu em terras brasileiras neste período.
Prado (1966, 55) remete ao medo do desconhecido e das
histórias que circulavam pela Europa nesta época:
A mata era ameaçadora, e nas praias irrompiam canibais mais
perigosos que jaguares. O clima tórrido do litoral, as feras, os
insetos, o ermo, as febres, tudo se conjugava contra os que se
arriscavam em terra.
Mesmo assim, a terra brasílica deslumbrava os que por aqui
passavam. A paisagem, o clima e as índias atraíam os navegantes. No
Diário da Navegação de Pedro Lopes de Sousa, tem-se o seguinte
relato:
É a mais formosa terra, é mais aprazível que pode ser. (...)
todos eram espantados da formosura desta terra; e andávamos
todos pasmados que nos não lembrava tornar. (VARNHAGEN:
1975, 40)
Talvez por isso, muitas vezes, os regulamentos das expedições
oficiais ou particulares reflitam a preocupação com a deserção dos
tripulantes e os perigos da mata brasileira – índios e feras. O rei D.
50
Manuel recomendava ao capitão da nau Bretoa, em meados de 1511,
cautela ao chegar a terra, o que remete a deserções de marujos:
Vós lembrara de terdes grande vigia na gente que mandardes
fora (...) de maneira que não se possa lá na terra lançar nem
ficar nenhum deles, como algumas vezes já fizeram.
(CORTESÃO; CALMÓN: 1956, 308)
Outras hipóteses em relação a deserções foram aventadas, tais
como a ambição pelo ouro, a talassofobia, os maus tratos recebidos nas
embarcações, a atração da poligamia indígena que os marujos
presenciavam e também a possibilidade de negócios dos produtos da
terra, inclusive a escravidão indígena, com europeus
3
. Na Carta de
Caminha, antes de prosseguir viagem para a Índia, dois membros da
comitiva fugiram à noite para o litoral brasileiro:
Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. E despedimo-
nos e fomos comer. Creio, Senhor, que, com estes dois
degredados que aqui ficam, ficarão mais dois grumetes, que
esta noite se saíram em terra, desta nau, no esquife, fugidos,
os quais não vieram mais. E cremos que ficarão aqui porque de
manhã, prazendo a Deus fazemos nossa partida daqui.
(CAMINHA: 1977)
Por outro lado, também ajudaram a engrossar o número dos
europeus nos novos domínios portugueses degredados, os quais, muitas
vezes, foram deixados em terras descobertas sem que assim
desejassem. Não se pode deixar de remeter a terrível angústia destes
dois degredados abandonados por Pedro Alvares Cabral.
Esse procedimento punitivo aplicado a sentenciados portugueses
prosseguiu durante a primeira metade do século XVI, segundo
comprovam documentos existentes na Torre do Tombo em Portugal,
como, por exemplo, a “Provisão do cardeal Infante para que Baltazar
Pinto, preso no aljube de Lisboa, seja mandado embarcar para o Brasil
com outros presos do secular, em vez de ir para São Tomé” e a “Carta
3 Sobre o assunto ver Almeida Prado (1966, 60-1) e Cortesão;Calmon (1956, 308).
51
do Regedor da Relação de Lisboa para El-Rei”, de 27 de Abril de 1543, a
qual trata do degredo para o Brasil de Lopo Rodrigues, preso em
Évora
4
.
Dentre desertos enviados ao Brasil, João Mendes de Almeida
(apud GURGEL: 1905, 466) assinala que os dois grumetes dos quais
Pedro Álvares Cabral deu por falta, ao partir do Brasil rumo às Índias,
poderiam ser João Ramalho e António Rodrigues. Santos (1992: 39)
alerta para a falta de documentos que endossem tal afirmação, o qual
acredita que Ramalho tenha chegado ao Brasil entre 1512 e 1517.
Para Orville Derby, Toledo Piza, João Mendes Jr. e Theodoro
Sampaio, contudo, João Ramalho teria precedido o próprio Cristóvão
Colombo:debalde tentou frei Gaspar da Madre de Deus demonstrar
que a vinda desse aventureiro para a America precede até á do próprio
Colombo” (SAMPAIO: 1904, 256). Neste contexto, João Ramalho não
seria um desertor ou fugitivo, antes poderia ser um sobrevivente entre
tantos naufrágios de portugueses e espanhóis nas proximidades da orla
marítima brasileira que cronistas mencionam.
Os documentos antigos, contudo, são contraditórios e lacunosos
quando o assunto é a ocupação das terras descobertas. Em 1502,
Américo Vespúcio deixou vinte e quatro homens no fortim edificado em
Cabo Frio por sua tripulação, quando esteve na costa litorânea brasileira
(PRADO: 1966, 40). Seriam degredados ou foi uma tentativa de
povoamento?
Lembra Amaral Gurgel (1905) que “o barão do Rio Branco opina
que Ramalho veio estabelecer-se em Piratininga pelo anno de 1512”.
Este Autor acredita que Ramalho teria chegado ao Brasil por volta de
1510. Já Cortesão & Calmon (1956, 306) afirmam, com base na
Relación do espião veneziano Chá Masser, que, em 1508, João Ramalho
já morava em São Vicente e nos campos de Piratininga:
4 Ver, especialmente, “Documentos da Torre do Tombo, Notícias Antigas do Brasil,
1531-1551”. Lisboa: Biblioteca Nacional, março de 1939.
52
Sabemos solo que dos portugueses (...) Juan Ramalho e
Rodrigo Alvares, el Caramurú, habitaban, el primero, desde
1508, en San Vicente e Piratininga, en el actual Estado de São
Paulo, y el segundo, desde 1509, en la bahía de Todos los
Santos.
Acrescem, ainda, que João Lopes de Carvalho foi deixado em
Cabo Frio pelo próprio comandante da nau Bretoa, quando percorreu a
costa brasileira em 1511. Foi por outras fontes que se soube também
do desembarque de João Lopes de Carvalho no Cabo Frio, abandonado
pelo comandante da nau, apesar das instruções recebidas em Portugal
contra este expediente punitivo (PRADO: 1966, 59).
D. Rodrigo de Acuna, membro da expedição espanhola de Garcia
Jofre de Loaysa, teve que, por volta de 1525, aportar em Santa
Catarina por problemas na embarcação e foi auxiliado por moradores
castelhanos da região que procuraram mostrar aos tripulantes as
vantagens de permanecerem em terra, como as índias, a paisagem e os
riscos que corriam em viajar em embarcações em precárias condições,
além dos dissabores do serviço de bordo. Nem todos os marinheiros de
Acuna foram seduzidos.
D. Rodrigo, ainda no sul do Brasil, encontrou no porto de Patos
quatro moradores europeus remanescentes dos onze que compunham a
tripulação de Sólis. Acredita-se que os outros sete tenham se dirigido
para as povoações existentes de Cananéia, São Vicente ou Cabo Frio.
A mesma hipótese é sugerida para os trinta e dois tripulantes que D.
Rodrigo deixou em Santa Catarina. Problemas com a nau ou um
povoamento espanhol planejado?
De volta a Europa a serviço da Espanha, nos idos de 1530, Caboto
deixou dois tripulantes no norte de Santa Catarina (ibidem, 58-67).
Punição ou povoamento espanhol planejado?
Quando se trata da proto-história brasileira, um personagem
sempre lembrado é o Bacharel de Cananéia, encontrado na região de
Iguape, Cananéia e São Vicente, no atual estado de São Paulo. Diogo
53
Garcia, capitão espanhol de expedição com destino ao Prata, passou
algum tempo em São Vicente, por volta de 1526-1527, e relata que foi
auxiliado pelo bachiller e sua família
5
. Para Varnhagen (1975), tal
designação faz supor a origem espanhola do Bacharel de Cananéia. Pêro
Lopes de Souza, que chegou em 1531 a Cananéia, também anotou em
seu diário de bordo a presença e a antiguidade do "bacharel" na região:
El más antiguo de estos colonos era el llamado bachiller de la
Cananea, deportado a quien desde princípios del siglo XVI
vemos habitar el trecho de la costa que vá desde Iguape a San
Vicente. Pêro Lopes de Sousa, al llegar em 1531 a la isla de la
Cananea, anota em su Diário da Navegação: Quinta feira,
dezasete dias do mês de agosto (...) Este bacharel havia trinta
anos que estava degradado nesta terra. (CORTESÃO; CALMON:
1956, 336)
O navegador Garcia, a partir de notícias que recebera, supõe que
o "bacharel" estaria pela região em torno de 30 anos
6
. Todavia, não se
sabe se o "bacharel" de Cananéia era náufrago, degredado ou desertor.
Para Varnhagen, veio para cumprir pena, portanto, era um degredado.
Diogo Garcia abasteceu sua flotilha, encomendou escravos e
“abastecera a frota de victuallas de la tierra, carne, peixe, frutas, lenha,
além do bergantin construído por um dos habitantes de nome Gonçalo
da Costa” (PRADO: 1966, 69), outro português que encontrou no litoral
brasileiro.
Martim Afonso de Souza partiu de Portugal em 3 de dezembro de
1530 com uma tripulação de aproximadamente 400 pessoas, algumas
delas que já conheciam a América, entre marinheiros e soldados de
diferentes nacionalidades como portugueses, espanhóis, italianos e
5 Segundo Varnhagen (1975, 115), “Bachiller, como vocábulo popular da língua
espanhola, significava homem que falava bem”. Prado (1966, 57) informa que “a
acepção antiga espanhola de bachiller também compreendia na gíria popular homem
bem falante”.
6 Prado (1966, 69) informa que “enumera Diogo Garcia, na sua Memória, os socorros
que recebeu da gente do bacharel, ali estabelecido havia 30 anos, segundo
contavam”.
54
alemães. Sua esquadra viria conhecer a costa brasileira desde a Bahia
de Todos os Santos até o Rio da Prata e era composta da nau São
Miguel, onde ia o comandante, do galeão São Vicente, capitaneado por
Pêro Lobo Pinheiro, e das caravelas Rosa e Princesa.
Entre as incumbências que portava o comandante Souza,
constava a de estabelecer uma colônia, em local apropriado, para iniciar
o povoamento oficial português na Nova Luzitânia, a terra descoberta
em 1500 por Pedro Alvares Cabral. Segundo Almeida Prado (1966, 76-
7), esta expedição tinha uma missão militar e pesquisadora de metais
porque D.João III “não tirava os olhos da região proclamada aurífera”
7
.
Em janeiro de 1531, Martim Afonso despontava no Cabo Santo
Agostinho e logo iniciou o aprisionamento de naus e navios franceses,
que, em geral, comercializavam madeira com os indígenas, aumentando
sua frota. Partiu de Pernambuco após alguns dias e chegou à baía de
Todos os Santos, onde encontrou Diogo Álvares, o europeu apelidado
de Caramuru, que já habitava na região há mais de vinte anos.
Prosseguiu viagem rumo ao Rio de Janeiro, onde fundeou a frota, por
algum tempo, no intuito de tomar conhecimento das terras distantes da
orla marítima, em busca das propaladas jazidas auríferas.
Em agosto deste mesmo ano, Martim Afonso navegou rumo a
Cananéia, sabendo da existência ali de moradores de origem européia.
De Cananéia a expedição prosseguiu com destino ao Rio da Prata,
conhecido como o rio de Sólis, onde Martim Afonso passou por sérias
dificuldades. Mesmo assim, para demonstrar a posse de Portugal, os
portugueses colocaram marcos em terras hoje pertencentes ao Uruguai.
No início de 1532, navegadores comandados por Martim Afonso
empreenderam o percurso de retorno, fundeando alguns dias em Santa
Catarina.
7 Utilizou-se, como base teórica da descrição da viagem da frota de Martim Afonso de
Souza, Prado (1966, 74 a 85).
55
Martim Afonso ancorou em São Vicente em 22 de janeiro de
1532. Outras armadas já haviam estado neste local. Em 1530,
Sebastião Caboto permaneceu alguns dias com sua expedição e trocou
apetrechos de pesca, pedaços de ferro e contas por índios escravos.
Ainda em maio de 1530, estava Caboto em seu ancoradouro onde
barganhou ferro, anzóis e contas por sessenta índios escravos
(TAUNAY: 1968, 30)
8
.
Convém, desta forma, ressaltar que, quando Martim Afonso
ancorou, em princípios de 1532, São Vicente já era um ponto do litoral
brasileiro conhecido dos navegadores, um povoado português com
casas e torre para defesa de possíveis ataques de índios. A partir de
informes do Yslario de Alonso de Santa Cruz, cosmógrafo da armada de
Sebastião Caboto na expedição ao Rio da Prata (OVIEDO; VALDÉS:
1944, 118), Afonso de Taunay (1968, 29) fez mesmo uma apresentação
do litoral sul brasileiro e dos navegadores espanhóis que por ali
navegavam por volta de 1530 e informou que
dentro do porto de São Vicente (...) há duas Ilhas grandes
(...). Na ilha ocidental tem os portugueses um povoado
chamado São Vicente, de dez ou dozes casas (...). Estão
providos de coisas da terra, de galinhas e porcos de Hespanha
em muita abundância e hortaliça.
São Vicente era um local de maiores recursos da costa sul
brasileira, o que gerava muitas expectativas nos navegadores de
passagem, e tornou-se logo um conhecido porto para abastecer e
reparar embarcações e comercializar índios com seus habitantes. De tal
porte eram os negócios que se realizavam entre os navegadores e os
moradores de São Vicente que, segundo Almeida Prado (1966, 85), o
8 Maiores detalhes sobre a expedição de Caboto e sua permanência em São Vicente,
ver Prado (1966, 49 e 60-83). Ainda segundo este Autor (idem, 72), "Caboto largou S.
Vicente em maio de 1530. Realizara alguns negócios com os povoadores, "barganhas",
como diriam mais tarde os descendentes mineiros do bacharel. Em troca recebeu 55
(ou 60) índios pertencentes a vários habitantes".
56
ancoradouro vicentino até poderia receber o nome de “Porto dos
Escravos”.
Por tais razões que, em São Vicente, Martim Afonso decidiu
estabelecer a colônia de que necessitava: a primeira colônia regular
para se iniciar a colonização portuguesa na América. Conforme Taunay
(1968),
Desde essa época a região já despertava interesse. Parece que
seu destino já estava prescrito. Era o local escolhido para vir a
ser um grande eixo do país no século XX, até João Ramalho
fazer sua escolha para implantar sua vila.
Os relatos dos navegadores também assinalam a presença de
João Ramalho, fundador da povoação de Santo André, na borda dos
campos de Piratininga. Por estas razões, fato é que João Ramalho teve
um importante papel na colonização portuguesa das terras atlânticas.
Inicialmente, interferiu a favor dos portugueses no fundear da
expedição de Martim Afonso de Souza, em 1532, no ancoradouro de
São Vicente:
Nesse momento especialíssimo, em que se ia jogar uma
cartada da qual dependeria a existência da futura Capitania de
S. Vicente, eis que a Providencia se manifesta de uma forma
eloqüente e significativa, na pessoa de João Ramalho, que
recebe de braços abertos os compatriotas audazes (...)
prestigiado pela sua posição de genro de Tibiriçá. João
Ramalho estende e reparte este prestigio com os recém
chegados. (MADRE DE DEUS: 1975, 130)
Frei Gaspar da Madre de Deus (ibidem, 132) anota que alguns
índios estavam pescando, quando apareceram as naus de Martin Afonso
nas águas vicentinas. Saíram assustados para dar a notícia aos seus:
O Cacique da aldeã dos fugitivos, ouvindo esta relação,
assentou que o insulto requeria prompto castigo; mas como
para isso não erão bastantes as suas tropas, fez logo aviso aos
maioraes seus vizinhos, lembrando-lhes a necessidade que
havia de todos expulsarem os insolentes que infestavão as
57
suas praias. Primeiro do que aos outros, participou a novidade
a Tebyreçá, senhor dos Campos de Piratininga.
Taunay (1968, 41) critica os autores em que Frei Gaspar se
baseou para escrever a “História da Capitania de São Vicente”, cujas
fontes afirma estarem cheias de “graves erros”. Mas, ainda assim,
admite que Frei Gaspar foi o primeiro a tratar a figura de João Ramalho
de "modo sistemático".
O Diário de Pêro Lopes
9
, documento importante para a história
brasileira das primeiras décadas de 1500, nada cita sobre o encontro de
Martim Afonso com João Ramalho. O mesmo acontece com outros
documentos portugueses da época. Essas omissões dificultam muito o
estudo do personagem João Ramalho.
Posteriormente, João Ramalho foi o guia de Martim Afonso de
Souza que desejava conhecer os vastos campos de Piratininga e
adentrou pelo caminho da serra de Paranapiacaba para chegar ao
planalto. Esse caminho, uma trilha de índios, posteriormente substituído
pela estrada de Cubatão Geral, o qual ficou conhecido como caminho do
Padre José, é onde se
deu principio á sua viagem para o campo de Piratininga, (....)
caminho de que se servirão os portuguezes até o anno de
1560, em que o Governador Geral do Estado Mem de Sá, vindo
a esta Capitania, ordenou, que ninguém o frequentasse por ser
infesto de índios nossos contrários (MADRE DE DEUS: 1975,
175).
Martim Afonso chegou ao Campo de Piratininga em outubro de
1532. Assinou ali a sesmaria de Pedro de Góes, em 10 de outubro de
1532, lavrada por Pêro Capico, escrivão de El-Rei (ibidem, 174 a 178).
Serra acima existiam índios e a pequena povoação de João Ramalho,
formada pela família de Ramalho, escravos indígenas e agregados. A
9 Refere-se ao relato da viagem da expedição de Martim Afonso de Souza. Ver,
especialmente, Coutinho (1839), Varnhagen (1839, 40), Castro (1940) e Taunay
(1968, 33).
58
viagem possibilitou a Martim Afonso uma visão das terras e de seus
perigos tanto que, ao retornar a São Vicente,
deu uma providencia digníssima da sua alta comprehensão,
ordenando, que nem a resgatar com os índios podessem ir
brancos ao campo sem sua licença, ou dos Capitães seus Loco-
Tenentes (ibidem).
Excetuou desta proibição somente João Ramalho que fixou
residência serra acima. Além disso, ao retornar a Lisboa, Martin Afonso
de Souza, entre outras providências, decidiu intensificar a lavoura para
a subsistência da vila de São Vicente, construir engenho e ampliar os
poderes de Ramalho.
Inicialmente, como era esperado, a pequena povoação
ramalhense foi crescendo muito vagarosamente. Neste local, região da
Borda do Campo, o padre Leonardo Nunes erigiu uma capela cujo orago
era Santo André em 1550. A união irregular de Ramalho com Bartira,
contudo, gerava desentendimento entre o europeu e o religioso
(SANTOS: 1992, 43).
O aumento do número de moradores da Borda do Campo só foi
possível em 1544. Neste ano, D. Anna Pimentel, mulher e procuradora
de Martim Afonso de Souza, permitiu por alvará a entrada de
portugueses no campo. O povoado de João Ramalho foi beneficiado e
cresceu, recebendo vários moradores da vila de São Vicente. De 1532 a
1553, a povoação foi a residência de “João Ramalho, sua mulher e
filhos, João Pires, o Gago, Salvador Pires e outros portugueses”
(PRADO: 1966, 113).
Em agosto de 1553, o padre Manuel da Nóbrega, superior dos
jesuítas no Brasil, encontrava-se em São Vicente. Em uma carta escrita
a Luiz Gonçalves Câmara (LEITE: 1935, 249-62), o padre Nóbrega dá
notícias de que João Ramalho era muito conhecido e venerado pelos
índios e que suas filhas eram casadas com homens importantes da
Capitania, sendo Ramalho parente do padre Paiva. Tal carta demonstra
59
a preocupação do jesuíta em regularizar, perante a Igreja, a situação de
João Ramalho com sua mulher, a índia Bartira.
Neste Campo está um João Ramalho, o mais antigo homem
que está nesta terra (...). Quando veio da terra, que haverá 40
anos e mais, deixou a sua mulher lá, viva, e nunca mais soube
dela, mas que lhe parece que deve ser morta, pois já vão
tantos anos. Deseja casar-se com a mãe destes seus filhos. Já
para lá se escreveu e nunca veio resposta deste negócio.
Portanto, é necessário que Vª. Rª. envie logo a Vouzela (...). E
pois isto é cousa de tanta importância, mande Vª. Rª. logo
saber a certa informação de tudo o que tenho dito (ibidem,
257-60).
Em 1553, o primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza,
visitou a Capitania de São Vicente e resolveu elevar a povoação de
Ramalho à categoria de vila. Todavia, fez algumas exigências como a
construção de uma fortificação e trincheira com baluartes para a
artilharia
10
. João Ramalho executou as obras necessárias às suas custas
e ergueu uma trincheira, uma igreja e uma cadeia, entre outras coisas.
Em 8 de abril de 1553, o pelourinho foi levantado na povoação de
João Ramalho (MADRE DE DEUS: 1975, 219). Estavam presentes
António de Oliveira, loco-tenente de Martim Afonso de Souza, e Brás
Cubas, provedor da Fazenda Real. O arraial ramalhense passou a ser a
Vila de Santo André da Borda do Campo, a primeira vila serra acima.
Assim informava Tomé de Souza a Dom João III, em 1 de junho de
1553:
e ordenei outra Vila no começo do campo desta de São
Vicente, de moradores que estavam espalhados por ele e os fiz
cercar e ajuntar para se poderem aproveitar todas as
povoações deste campo e se chama Vila de Santo André,
porque onde a situei estava uma ermida deste apóstolo e fiz
capitão dela a João Ramalho, natural do termo de Coimbra que
10 MADRE DE DEUS (1975, 219) afirma que “achando-se n'esta Capitania o primeiro
Governador Geral Thomé de Souza pelos annos de 1553, mandou criar n'ella uma
villa”.
60
Martim Afonso já achou nesta terra quando cá veio. Tem tantos
filhos e netos bisnetos e descendentes dele e não ouso dizer a
V. A., não tem cãs na cabeça nem no rosto e anda nove léguas
a pé antes de jantar. (Washington Luiz. Na Capitania de São
Vicente, apud SANTOS: 1992, 45)
4.1.1 A vila de Santo André da Borda do Campo
Ulrico Schmidel, soldado e aventureiro alemão que acompanhava
D. Álvaro Nuñes Cabeza de Vaca em viagem pela América do Sul,
escreveu, em alemão, um relato intitulado “História verdadeira de uma
viagem curiosa na América do Novo Mundo, pelo Brazil e Rio da Prata,
desde o anno de 1534 ate 1554”, publicado pela primeira vez em 1567.
O valor da descrição de Schmidel está na contemporaneidade a João
Ramalho.
Leôncio Amaral Gurgel (1905) faz uma análise da obra de Ulrico
Schmidel, partindo de comentários de outros historiadores como
Bartolomeu Mitre, argentino, e Alfredo Demersay, que escreveu a
História Geral do Paraguay, em 1865. Schmidel navegou pelo rio Paraná
até suas nascentes em busca do país das Amazonas. Como se rebelou
contra Cabeza de Vaca, Schmidel, a pé, saiu de Assunção do Paraguai,
em dezembro de 1552, rumo ao litoral atlântico. Depois de caminhar
léguas e léguas, talvez enfrentar índios canibais, feras e cobras
venenosas, encontrou acolhida e pouso na vila de João Ramalho, no
primeiro semestre de 1553:
Nous arrivâmes enfin à un village habité par des chrétiens dont
le chef se nommait Jean Reinvielle (...). Reinvielle était alle
chez d'autres chrétiens qui habitaient un village nommé -
Vicenda (ibidem: 454).
Schmidel foi muito bem recebido pelo filho de João Ramalho, pois
este não se encontrava na vila de Santo André: “Nous ne trouvâmes
que son fils; nous en fumes trés-bien reçus” (ibidem). Entretanto, o
61
filho de Ramalho não lhe inspirava confiança, e ele não se demorou em
Santo André:
quoi-qu'il nous inspira plus de méfiance que les Indiens eux-
mêmes, et en quitant cet endroit nous rendimes grâce au ciel
d'avoir pu en sortir sains et saufs (ibidem).
Para Amaral Gurgel (ibidem, 455), Santo André não deveria ser
nenhum “paraíso” naquela época, mas era uma povoação com foros de
vila. Schmidel não lhe faz justiça ao considerá-la como um local que lhe
inspirasse tanta desconfiança, como o bravio gentio. Reconhece,
contudo, que o poder de João Ramalho era muito grande e escreveu
que viviam nas aldeias de São Vicente e Santo André cerca de 800
cristãos e índios governados por Ramalho:
Les Indiens de ce pays ainsi qn'énviron huit cents chrétiens qui
vivent dans ces deux villages, sont vassaux du roi de Portugal,
mais ils sont governes par Jean Reinvielle (ibidem, 454).
Esta afirmação é ponderada por Gurgel (1905, 456) o qual
comenta que tanto os portugueses como os índios da Capitania de São
Vicente, legalmente, estavam sob a administração do loco-tenente.
Schmidel aponta também que João Ramalho guerreou com índios
por quarenta anos para conquistar a região, reconhecendo ser justo que
a governasse. Esse aspecto do relato confirma que João Ramalho
encontrava-se nas terras da Borda do Campo desde 1513, já que
Schmidel rumou de Santo André para São Vicente em princípio de julho
de 1553 e permaneceu onze dias naquele porto, quando partiu para a
Europa, aos 24 do mesmo mês (ibidem, 456-7).
Da Vila de Santo André da Borda do Campo, fundada e governada
por João Ramalho, sobreviveram algumas Atas da Câmara. Foram
decifradas e impressas por iniciativa do Prefeito de São Paulo Dr.
Washington Luis Pereira de Souza, que contratou a publicação dos 53
volumes manuscritos das atas de 1555 até 1826, em 14 de janeiro de
1914.
62
O volume das Atas de Santo André, abrangendo o período de
1553 até meados de 1555, extraviou-se. Restaram algumas atas de
1555, denominadas “Actas de Santo André”, reproduzidas por Taunay
(1968, 263-322) na publicação comemorativa do quarto centenário de
fundação de Santo André da Borda do Campo.
Pela leitura das atas de Santo André à época de João Ramalho,
constata-se que na vila existia a Casa da Câmara onde se reuniam os
camaristas, “homens bons da vila” que podiam dar opiniões e votar
assuntos de interesse da comunidade.
E despois disto em os vinte dous dias do mês de julho da
sobredita era fizerao camara os hofisiaes dela nas cazas da
camara desta dita villa e eu gaspar nogueira escrivão da dita
camara que ho escrevi (ibidem, 271).
Nas reuniões da Câmara também eram lidos ordens e regimentos
do Governador Geral. Foi o que ocorreu com o Regimento de Duarte da
Costa – o qual proibia a ida de portugueses e espanhóis ao Paraguai ou
outras povoações espanholas e fazia recomendação para que, se algum
espanhol aparecesse nas terras brasílicas, os moradores
providenciassem embarcá-lo no primeiro navio – lido em sessão de
1556 (ibidem, 291).
Os moradores da Vila de Santo André da Borda do Campo
deveriam obter licença para ausentarem-se da vila e estavam sujeitos a
multas, caso transgredissem os regulamentos. Confirma-se tal
procedimento na ata de sessão da Câmara de 1556:
Aos dez dyas do mês de setebro da era de myll e quynhentos e
symcoeta e seis anos em esta vylla mãodou o sor Jmo.
Ramalho (...) cõdenoim a Di° Freyre pr. se ir fora desta vylla
sem llysenç (ibidem, 300),
Os moradores criavam gado e porcos, plantavam mandioca e
faziam farinha na vila de Santo André. Havia preocupação com a
limpidez dos rios que abasteciam de água os moradores e suas
criações. A Câmara, neste sentido, ordenou que os moradores fizessem
63
valas ou buracos para que a água da mandioca espremida não fosse
para os rios, trazendo prejuízo para o gado e para a população da vila.
ordenarão, todos jutos que espremesem demtro em suas cazas
ou em seus quytaes e que augua que sayr da mãodyoca a
botem nua cova que não faca perjuyzo ao guado he ysto, cõ
pena de hu tostão (...). Lloguo na dyta camara a requerym
to
do
percurador do cõselho requereo, que se deytavão mãodyoca
nas augoadas domde este povo beve a ordenarão que
quallquer pesoa que deytar mãodyoca na dyta augoada pagará
dous tostões (ibidem, 311-2).
Pode-se também constatar a preocupação com os aspectos
higiênicos da vila. Em 1557, a Câmara ordenou que, se existissem
privadas dentro dos muros da vila, estas não podiam exalar mau cheiro.
O não cumprimento dessa ordem acarretaria em multa de dois tostões
(ibidem, 312).
A última ata da Vila de Santo André da Borda do Campo que
chegou até nossos dias data de 31 de março de 1558, sendo juiz
António Magalhães, João Ramalho, vereador, e João Annes, procurador
do Conselho. A ata narra a preocupação dos moradores com a proteção
da vila, devido a constantes ataques de índios, solicitando novas cercas
e guaritas. Na hipótese de terem sido realizadas mais reuniões da
Câmara de Santo André da Borda do Campo, suas atas não
sobreviveram.
Entre os anos de 1553 e 1558, João Ramalho exerceu os cargos
de guarda, capitão, alcaide-mor e vereador de Santo André (SANTOS:
1992, 41). Acima dele havia o loco-tenente, que era um representante
do donatário, o donatário, o governador geral do Brasil e o rei de
Portugal. Os campos de Piratininga passaram para a jurisdição da Vila
de Santo André desmembrando-se da Vila de São Vicente.
Antes mesmo de os jesuítas rezarem a primeira missa em São
Paulo de Piratininga, princípio de 1554, como informado anteriormente,
o padre Leonardo Nunes evangelizava pelas terras serra acima do porto
64
vicentino, também chamado sertão de São Vicente. Em novembro de
1549, a mandado do Padre Manuel da Nóbrega, superior dos jesuítas no
Brasil, Leonardo Nunes chegou a São Vicente e fundou o segundo
colégio dos jesuítas no Brasil. No interior, nos campos de Piratininga,
Nunes conseguiu alguns filhos de índios para doutrinar, o que o levou a
formar um seminário junto ao colégio de São Vicente. As anotações
deixadas por Leonardo Nunes fornecem elementos para se entender
melhor Santo André da Borda do Campo e sua vizinhança nos primeiros
anos da década de 1550.
Nunes se preocupava com o fato de existirem cristãos nos campos
vivendo como o gentio, sem se confessar ou ouvir missa. Sugeriu,
então, a estes brancos e mamelucos que se agrupassem e construíssem
uma capela para rezar. Declara Nunes que eles logo providenciaram um
local para a igreja; o jesuíta passou três dias confessando-os e dando-
lhes o sacramento da comunhão. Deste local, acompanhado por alguns
índios, Leonardo Nunes seguiu mais umas léguas, quatro ou cinco, para
aldeias indígenas, onde encontrou homens brancos e aconselhou-os a
se juntarem aos outros cristãos (TAUNAY: 1968, 109-14).
Serafim Leite (apud TAUNAY: 1968, 114) vem ao encontro de tais
informações. Afirma que uma das paradas rotineiras do jesuíta teria
sido em Santo André, uma vez que aí estava localizada a capela erguida
por sugestão de Nunes. Neste caso, certamente o religioso celebrou
missa, porque sem esse ritual cristão não poderia ser distribuída a
comunhão. Teria sido, assim, em Santo André, a primeira missa rezada
pelos jesuítas nas terras de Piratininga, bem antes, portanto, de nascer
São Paulo de Piratininga (ibidem).
Apesar da existência do povoado, quando o padre Nóbrega, em
1553, ordenou a transferência do colégio dos jesuítas existente em São
Vicente para o planalto, os jesuítas não se mudaram para Santo André.
Designou para coordenar tal empreendimento o padre Manuel de Paiva.
65
De acordo com a “Carta de Piratininga”, escrita por José de
Anchieta (1988, 70), em 1554, assim que passou o dia de Reis, em
princípios de 1554, um grupo de treze jesuítas partiu de São Vicente
para fundar o colégio. Integravam o grupo o supervisor padre Manuel
de Paiva, Afonso Braz, Vicente Rodrigues e os irmãos José de Anchieta,
Gregorio Serrão, Manuel de Chaves, Pêro Corrêa, Diogo Jácome e
Leonardo do Vale. Segundo Madre de Deus (1975, 220), a vila de João
Ramalho, assim como a aldeia de Piratininga, não agradou aos jesuítas,
levando-os a escolher a colina entre os rios Tamanduateí e o riacho do
Anhangabaú, a umas três léguas da povoação de Santo André.
Numa pequena e simples casa rezaram a primeira missa, em 25
de janeiro de 1554, dia da conversão de São Paulo, o que os levou a
darem o nome de São Paulo à povoação que pretendiam fundar. Um
dos motivos que os estudiosos alegam para a não escolha de Santo
André, que já possuía foros de vila, para a instalação do colégio dos
jesuítas, foi o fato de João Ramalho não se entender bem com os
jesuítas.
mapa 02. Mapa de João Teixeira Albernaz, de 1631, no qual se destaca a referência a
São Paulo.
66
Havia desagradáveis precedentes que deixavam alerta os jesuítas
em relação ao fundador da Vila de Santo André e seus familiares. Na
época em que o padre Leonardo Nunes pregava na região andreense, a
partir de 1549, ocorreram desentendimentos entre o catequista e
Ramalho.
Conta-se que o Padre Leonardo Nunes estava celebrando uma
missa, quando João Ramalho apareceu na igreja. Considerando-o
excomungado, portanto, sob pena canônica, o padre convidou-o a se
retirar, negando-se a rezar a missa em sua presença. Os filhos de
Ramalho, descontentes com o episódio, procuraram o jesuíta. Apenas
por interferência de moradores, o padre saiu ileso do povoado
ramalhense. Serafim Leite (1935, 251) reconhece:
Fomos consultar as fontes. Elas mostram-nos infelizmente que
o fato é verdadeiro. Narram-no os Irmãos Pedro Correia e
Diogo Jacome.
Não foi fácil a vida dos jesuítas nos primeiros tempos do Colégio
de Piratininga. Tinham que enfrentar várias dificuldades, entre elas, a
própria subsistência. Moléstias também contribuíam para o
despovoamento. E a poucas léguas encontrava-se a vila de Ramalho,
que atraía índios e moradores de São Vicente: “Era a brandura com que
os tratava Ramalho (...) que atraía os índios para junto do fundador da
vila ramalhense”, afirma Guimarães (1903, 273).
Além disso, havia divergências entre os andreenses e os
habitantes de Piratininga, que não eram motivadas simplesmente pela
falta de religião de Ramalho e dos moradores de sua vila. Outras
circunstâncias estavam subjacentes, como o fato de os jesuítas tirarem
o índio do trabalho que executavam para os portugueses e mestiços
povoadores das terras planaltinas (ibidem).
Penetrando no planalto, os jesuítas iam se afirmando na
catequização e na amizade com os silvícolas. Com o tempo, muitos
moradores de Santo André mudaram-se para a aldeia dos jesuítas,
67
engrossando o povoamento ao redor do colégio de Piratininga. Este fato
não agradava a João Ramalho. Para Madre de Deus (1975, 222), os
jesuítas queriam aumentar sua aldeia, e Ramalho, sua vila. Uns e
outros convidavam portugueses e índios para engrossarem suas
populações: “nem os Jesuítas podiam tolerar a subsistência de Santo
André, nem os Ramalhos soffrer a de S.Paulo”.
Os jesuítas, precisando consolidar a povoação que iniciaram ao
redor do Colégio de Piratininga, começaram a planejar a mudança dos
moradores de Santo André para a recém-nascida São Paulo. A
conclusão desta disputa é selada por Martim Afonso que, ao receber as
100 léguas como donatário da Capitania, cumpriu aquilo que o rei de
Portugal estabelecera:
por dentro de terra firme, pelo sertão, não poderiam ser feitas
villas, a menos de seis léguas uma da outra, sem licença regia.
(GUIMARÃES: 1903, 274)
Piratininga localizava-se a pouco mais de três léguas e não tinha
licença; como Santo André já tinha foros de vila, Piratininga estava
condenada a desaparecer. Mem de Sá, em visita à Capitania de São
Vicente, na qualidade de hóspede dos jesuítas, ordenou a transferência
dos andreenses para Piratininga. Obedecendo ao governador geral, João
Ramalho também se transferiu para São Paulo de Piratininga, a rival de
Santo André. Acabou por fixar-se, contudo, na região a leste da igreja
dos jesuítas, entre os atuais bairros Belenzinho e Ermelino Matarazzo
(SANTOS: 1992, 40).
Em conferência no Instituto Histórico de São Paulo, sessão de 5
de junho de 1934, Serafim Leite (1935, 249-62) lançou a polêmica
questão: Por que é que se mudou Santo André da Borda do Campo para
São Paulo de Piratininga? O autor inventaria, cronologicamente, os
documentos existentes: as cartas dos fundadores de São Paulo,
Nóbrega e Anchieta, constatando que a mudança de Santo André
68
ocorreu para facilitar a assistência a seus moradores e também porque
estes queriam a mudança.
Depois, analisando as Atas da Câmara de Santo André da Borda
do Campo, acrescenta que
a vila estava aberta a ataques de índios contrários, morria o
gado que criavam, flechado por índios e a mandioca que
utilizavam para fazer a farinha necessitava de preparo: a água
desta escorria para os riachos que os suínos utilizavam,
matando-os. A ata de 20 de setembro de 1557 mostra a
situação de fome em que os andreenses se encontravam. Em
seguida, analisa Serafim uma carta, datada de 1561, de João
Eanes e Jorge Moreira, vereadores de Santo André, à rainha D.
Catarina, onde relatam que o governador geral esteve na
capitania e mandou que a vila onde eles se encontravam,
Santo André, passasse para São Paulo de Piratininga, por
solicitação de seus moradores, por ser um local mais propício à
defesa dos ataques de índios contrários, além de outros
motivos (ibidem, 254).
Uma carta de Manuel da Nóbrega ao provincial de Portugal
descreve o desânimo em que se encontravam os moradores, sugerindo
a Martim Afonso, o donatário da capitania, e ao Rei de Portugal que
permitissem aos homens irem ao Campo de Piratininga. Nessa carta,
Nóbrega fala de Santo André como uma vila em que os moradores se
alimentavam de farinha e não possuíam um grande rio para pescar e
finaliza afirmando que São Paulo incorporou Santo André pelo trabalho
dos jesuítas em favor do crescimento de São Paulo e que
não se poderia levar a mal aos Jesuítas o concorrerem para o
triunfo de São Paulo. Seria também um triunfo mais nobre que
consiste, não em aniquilar o competidor, mas em absorvê-lo e
dirigir-lhe a atividade (ibidem, 255).
Para Taunay (1968, 115), três foram os motivos levaram à
transferência de Santo André para a povoação iniciada pelos jesuítas:
69
a) os dissabores de enfrentar uma caminhada de São Paulo até Santo
André para evangelizar e ministrar os sacramentos;
b) possuir São Paulo maiores facilidades econômicas; e
c) a necessidade de defesa da povoação contra os índios contrários e
franceses instalados na Guanabara.
Mas será que João Ramalho transferiu-se de boa vontade para
São Paulo de Piratininga? Segundo Amaral Gurgel (1905), à época,
Ramalho teria 78 anos e, em São Paulo, ocupou cargos públicos. Em
junho de 1562, João Ramalho, por eleição, faz o juramento de Capitão-
Mor de São Paulo de Piratininga. Em 1564, eleito vereador pelo povo,
mas não aceitou o cargo.
Segundo Cortesão (1995, 234), transferida a Vila de Santo André
da Borda do Campo para São Paulo, Ramalho foi paulatinamente sendo
afastado de suas funções por influência dos jesuítas:
O Alcaide-mor, legal e realmente Senhor do Campo e chefe das
tribos circunvizinhas, fora aos poucos destituído pelos jesuítas
de suas altas funções e prestígio, duramente conquistadas
numa longa vida de adaptação ao meio (...). A reação menos
violenta, que podia ditar-lhe a sua dignidade de chefe
barbarizado, era afastar-se; e afastou-se.
Diante de um iminente ataque indígena que poderia ocasionar a
destruição da vila de São Paulo, João Ramalho, chamado, não deixou de
colaborar com seu povo. Aceitou o cargo de capitão de guerra, para o
qual fora eleito pelos vereadores. Terminado o ataque, com os índios
vencidos, Ramalho retirou-se para as terras "dos contrários", próximas
ao Paraíba, e lá terminou seus dias.
Por outro lado, os moradores de Santo André da Borda do Campo,
segundo Jaime Cortesão (idem, 216), não estavam tão desejosos de
mudar a vila para São Paulo de Piratininga, como afirma Serafim Leite.
Supôs o Padre Serafim Leite que todos os moradores incluindo João
Ramalho desejavam incorporar-se à Piratininga.
70
No final dos anos 1550 os moradores da vila de João Ramalho
foram chamados para defender o litoral vicentino. O capitão-mor de São
Vicente, Jorge Ferreira, ordenou que alguns moradores de Santo André
fossem servir na fortaleza de Bertioga. Todavia, o procurador da vila de
Santo André da Borda do Campo interveio, requerendo aos oficiais da
Câmara e a João Ramalho que não obedecessem a tal intimação,
justificando que os moradores de Santo André estavam na fronteira e
na guarda da vila, na expectativa de ataques contrários.
Os homens da vila não queriam que ocorressem mortes e danos
na mesma por falta de gente. O que rodeava a Vila de Santo André da
Borda do Campo e colocava seus moradores em estado de alerta era o
"perigo francês". Isto pelo fato de que Mem de Sá, nessa ocasião,
principiava o desempenho da função de Governador Geral do Brasil e
procurava tomar conhecimento de como andava e qual era a área
ocupada pelos franceses no Rio de Janeiro. Segundo Apontamentos de
Mem de Sá para Lisboa,
os franceses (...) correm tanto já por dentro da terra e pelo rio
da Paraíba, que se mete entre eles e o Campo de São Vicente,
onde estão os padres de Jesus e João Ramalho (ibidem, 218).
Mesmo diante de tal perigo e das ordens superiores recebidas
para reforçar a defesa da costa litorânea, os moradores de Santo André
preferiram defender a sua vila a deixá-la. Não obedeceram às ordens do
capitão-mor. Ora, conclui Cortesão, se havia uma preocupação com os
danos que pudessem ocorrer na vila, se defendiam sua vila, se não
quiseram abandoná-la, por que haveriam de querer a mudança da
mesma para a aldeia dos jesuítas?
Como alcaide-mor, João Ramalho tinha a incumbência vigiar os
campos de Piratininga e os caminhos que saíam de Santo André no
intuito de garantir a soberania portuguesa e impedir o acesso de
portugueses e espanhóis via Santo André na rota Santos-Paraguai. Em
1557, foi fundada a Ciudad Real do Guairá, na foz do rio Pequiri,
71
abrindo outras opções para se chegar ao Paraguai, o que levou a deixar
de ser procurado o caminho que passava pela vila de Santo André da
Borda do Campo (CORTESÃO: 1995, 219).
Naquela ocasião, Mem de Sá apontava a necessidade de agrupar
a população em duas povoações (ibidem, 218). Além disso, os jesuítas
não deixavam de fazer um trabalho intramuros de Santo André, que
resultou na formação de um partido favorável à mudança da vila para
São Paulo.
4.2 De bairro rural a município de Santo André
Depois de a população de Santo André ter abandonado as terras
andreenses e seguido para núcleo paulistano, em decorrência da
transferência dos foros de vila para Piratininga, esta região entra em
processo de ostracismo, tornando-se um bairro rural. A posição
estratégica, por outro lado, leva a pedidos de sesmaria a partir da
transferência do pelourinho.
Em 11 de novembro de 1561, Amador de Medeiros, ouvidor da
Capitania de São Vicente e morador de Santos desde 1543, adquire
sesmaria na região da extinta vila de Santo André, a partir das
seguintes demarcações solicitadas:
Que pedia um pedaço de terra, que parte pelo rio
Tamandatiiba
11
, junto de uma roça, que João Dias tem junto a
Inhoaba e dali cortará direito a um pico alto e redondo, que se
mostra do Campo estar uma cumiada alta, como tudo se
mostra de uma Cruz, que está no caminho, que vai de Santo
11
O ribeirão Tamandati foi posteriormente chamado de Couros, o qual, no século
XVIII, troca de nome com outro curso d’água da região, passando a chamar-se
Meninos.
72
André para São Paulo, que uma pedra de curisa quebrou, que
se diz, que João Ramalho posa lii e do dito pico irá pela dita
cumiada sempre até ir dar no caminho para Irabatiba; e partir
com os herdeiros do Mestre Bartolomeu, que Deus tem; e dali
partindo sempre com eles até vir ter com terras de Pero de
Sibra, e tornar a dar no dito rio de Tamandatiiba, e por ele
acima até onde começou a partir; e assim outro pedaço de
terra, que parte do Ipiranga com terras de Antonio Pinto e com
os capões, que vão para a banda de Irabatiba, e com terras de
Antonio Rodrigues de Almeida e de Jorge Moreira para a banda
de Piratininga; e das outras bandas com campos, e com quem
de direito deva partir por quamto estas terras estão devolutas,
e ele suplicante as quer aproveitar e fazer que rendão para El
Rei Nosso Senhor, e para o Senhor Martim Afonso de Souza.
(SANTOS: 1992, 49)
Com o falecimento de Amador de Medeiros, estas terras passam a
pertencer a seu genro, Miguel Aires Maldonado. Possivelmente,
Maldonado morou em tal propriedade até pouco antes de 1637, quando
a doa aos beneditinos. No registro de doação das terras, indica-se que
estas se localizavam no “termo da Vila de São Paulo, Capitania de São
Vicente, em a Borda do Campo, aonde chamam Tamandati”
(ibidem,
50).
Os beneditinos ocupam definitivamente a sesmaria e fundam
fazenda e, em 1717, uma capela sob a invocação de São Bernardo.
Inicialmente esta capela, erigida pela iniciativa do frei Bartolomeu da
Conceição, tinha por objetivo atender aos habitantes da fazenda. Os
monges não tinham a pretensão de criar povoamento no entorno da
capela, tanto que, na década de 1730, denúncias são feitas contra os
beneditinos, acusados de tomar as terras dos arredores.
Santos (1992, 87-99), cotejando antigos documentos, revelou
que, a despeito de os monges não incentivarem à formação de
povoado, em 1725 já são feitas menções ao “bairro de São Bernardo”,
73
topônimo que, lentamente, substitui antigas formas de identificar estas
terras, como “Borda do Campo” ou “fazenda dos beneditinos”.
Em 1805, o bispo de São Paulo, Dom Mateus de Abreu Pereira,
contrariando os beneditinos, torna curato a capela de Santo André. Em
resposta a este ato, a Abadia de São Bento primeiramente informa de
que a capela integrava propriedade particular e, diante da recusa do
bispo, dificultam ação do padre João José Monteiro, enviado para
assumir o Curato.
Apesar de persistirem os desentendimentos, em 1812 a capela
curada de São Bernardo é elevada à função de freguesia. Após
discussões, os beneditinos permitem o uso da capela como matriz sob a
condição de que este seria provisório, até finalizar a construção de uma
igreja pelo bispado.
No ano seguinte, a fazenda dos beneditinos é demarcada, tendo
seu princípio no caminho que vem da Cidade de São Paulo, ao
lado direito na paragem chamada Meninos no ribeirão do
Pesqueiro no lugar onde faz barra com o ribeirão de São
Bernardo e seguindo pelo mesmo ribeirão do Pesqueiro acima,
que serve de aguada de Antônio Domingues de Andrade até
encontrar um córrego que divide as terras de Joaquim Vieira de
Morais e as terras de Francisco Xavier de Lima e onde termina
o dito córrego, segue rumo direto dividindo com terras de
Joaquim Pires e de novo com terras de Francisco Xavier de
Lima e vai até o Pico Alto e dai desce dividindo com terras de
João Fernandes Dias e com as de Úrsula Maria Branca e com as
de Dona Maria Eufrosina da Cruz Almada, até encontrar o rio
dos Couros e por ele abaixo até o lugar dos Meninos donde
começou a divisa. (SANTOS: 1992, 54).
Em 1814, diante da demora pelo início de obras, os monges
decidem ceder um terreno distante da sede da fazenda para a
construção de uma nova matriz. É exigido, contudo, que um novo orago
seja outorgado à paróquia, visto que São Bernardo pertencera à ordem
74
dos beneditinos. A escolha de novo padroeiro ocorre neste mesmo ano:
Nossa Senhora da Conceição da Boa Viagem.
Dois lugares foram demarcados para a construção da nova sede
de São Bernardo: no alto da paragem da Borda do Campo e nas terras
de Manoel Rodrigues de Barros. As obras, contudo, não se iniciavam. O
primeiro lugar é rapidamente dado como insalubre, e o segundo demora
três anos para ser aprovado. Por outro lado, não tarda a ser chamada
São Bernardo o Velho antiga sede da fazenda.
Nove décadas separam as primeiras obras para a construção da
sede da freguesia de São Bernardo e a finalização da São Paulo Railway
(SPR), em 1867. Este segundo, atrai moradores para as proximidades
do local onde uma estação é construída para atender à população
bernardense. Trata-se do entroncamento entre a estrada do Oratório,
que vinha de São Paulo, e o caminho do Pilar, que fazia a ligação de
Cubatão com Mogi das Cruzes, às margens do ribeirão Tamanduateí,
em terrenos baratos e consideravelmente distantes da freguesia de São
Bernardo.
Desse fato e nessa data decorre o início do povoamento do atual
município de Santo André, que nenhuma relação detém com a Santo
André do século XVI, fundada por João Ramalho. Entre a década de
1880 e 1910, o local era chamado de “bairro Estação de São Bernardo”,
nome decorrente da toponimização de antiga designação com elemento
geográfico. A escolha deste nome deve-se a algumas coincidências: a
escritura de um sítio chamado Santo André, nas proximidades da
estação, e no qual existiam ruínas.
75
mapa 03. Detalhe do mapa Parcelamentos em Santo André – Bairro Estação - 1906, de Passarelli.
76
A construção da estação nem visava à formação de povoado. A
função principal da estação de São Bernardo era de escoadouro da
produção agrícola da região, principalmente batatas, e não o transporte
de pessoas. O fato de a estação tornar-se ponto de convergência de
povoamento, portanto, é conseqüência de novas atividades criadas
neste local.
As atas da Câmara de São Bernardo confirmam tais informações.
Em 15 de março de 1895, o vereador Antonio Gineti indica a instalação
de “10 (dez) Lampeões na Estação de S. Bernardo”, aprovada pelos
camaristas. O Intendente da Câmara comparece na mesma sessão para
informar que,
na Estação de S. Benardo há entre outras diversas casas em
que aglomera-se numero superior de pessoas que comportam
as referidas casas e prevendo o manifestar-se alguma moléstia
já pela falta de cubação de àr já pela falta de asseio que há nas
mesmas, pede a Camara que tome providencias em sentido
(Atas, folha 8).
Esta notícia revela a chegada de grande número de indivíduos ao
local, vivendo em condições insalubres. A passagem de imigrantes a
caminho da lavoura cafeeira já tinha alterado a paisagem da freguesia
de São Bernardo: o Mosteiro de São Bento vendeu sua propriedade à
Fazenda Nacional, para o estabelecimento do Núcleo Colonial, em 1877.
Ainda em 1895, os camaristas de São Bernardo concordam sobre
a necessidade de abrir novas ruas no bairro Estação e da construção de
um “armazem para cargas que esteje de accordo ao desenvolvimento
da referida estação”, nos dias 4 e 30 de abril, respectivamente. No
último dia deste ano, pedem a “collocação de uma torneira de Agua na
Estação de São Bernardo” (Atas, folhas 11, 13v e 34).
Este foi o primeiro passo para a expansão, viabilizada
efetivamente com a chegada de indústrias na região. Neste sentido,
77
torna-se cada vez mais freqüente a menção a função “Industrial” entre
os membros da Câmara de São Bernardo.
Verifica-se, por exemplo, que, em 1906, o bairro inicial da cidade,
o bairro Estação, era o único existente na primeira década do século XX
e que as três empresas têxteis pioneiras da cidade – Streiff, Kowarick e
Seabra (Ipiranguinha) – já se encontravam instaladas nas proximidades
da estação. O resto da área era rural e não identificada por
propriedade.
A construção de uma capela para atendimento do bairro Estação
ocorre em 1903. O orago escolhido pelo coronel Alfredo Luiz Fláquer foi
o Apóstolo Santo André. Na década seguinte, iniciou-se o processo de
ocupação da área com a implantação de fábricas do ramo têxtil.
mapa 04. Os cursos d’água de Santo André e a São Paulo Railway (SPR).
78
Fortalecidos os proprietários do bairro Estação, inicia-se o
processo para elevação a distrito. Coube ao senador José Luiz Fláquer –
o primeiro Fláquer a chegar à região, como professor de uma cadeira de
primeiras letras da estação Rio Grande (hoje município de Rio Grande
da Serra) em 1874, e comprador do sítio Santo André em 1884 –
solicitá-la (SANTOS: 1992, 27-8):
O parecer do Instituto Histórico e Geográfico, em 1902, foi
desfavorável à idéia de que a antiga Vila de Santo André da
Borda do Campo houvesse sido localizada perto da estação.
Indiferentes a isso, os moradores da nova povoação, já no ano
seguinte – 1903 –, solicitaram ao Bispado licença para
celebração de uma missa campal no local onde pretendiam
erigir uma capela ao apóstolo Santo André. Uma forma de
perpetuar de vez o fato histórico do quinhentismo em que a
figura de João Ramalho tinha sido central.
O Dr. Fláquer, como senador, obteve a criação do distrito de paz
de Santo André, em substituição do topônimo bairro Estação de São
Bernardo, e, pela divulgação de sua justificativa, conseguiu convencer
até mesmo os moradores de São Bernardo da relação entre a vila de
Santo André da Borda do Campo e o bairro Estação, apesar do parecer
desfavorável do IHG.
Nas décadas seguintes, a necessidade de mão de obra para o
trabalho nas indústrias abertas ao longo dos trilhos da SPR deu origem
a um processo de forte migração de brasileiros, tanto de outras cidades
do próprio estado de São Paulo, como de outros estados, e
potencializou, ainda mais, a imigração de europeus para a região, entre
os quais se destacam os italianos, lituanos e ucranianos.
79
4.3 Conclusões parciais
Não é uma tarefa fácil precisar a localização do nome Santo André
da Borda do Campo. Além das hipóteses apresentadas pelo Doutor
Fáquer, somam-se outros argumentos.
Azevedo Marques teria afirmado “sem maior exame” que a aldeia
de João Ramalho estivesse próximo à estação de São Bernardo.
Teodoro Sampaio (1904, 1-3 e 19) rebateu a opinião de Azevedo
Marques:
Dúvidas bem fundadas nos assaltam o espírito a despeito de
afirmações apoiadas no testemunho de velhos moradores que
depunham pela localização do antigo povoado naquele sítio.
Dois velhos quase centenários, João José da Silva e Fabiana
Rodrigues, diziam ter ouvido de seus avós que ali tinha sido o
assento da Vila cuja igreja e cemitério deviam estar no lugar
mesmo onde descansávamos, almoçando à sombra das
árvores.
Teodoro Sampaio ainda lembra que os nomes Santo André e Borda
do Campo acabaram por ser atribuídos a muitos locais. Assim como
muitas povoações indígenas, a vila de João Ramalho teria desaparecido
sem deixar vestígios.
Santos (1992, 20 e 23) confirma a existência de um bairro na
freguesia de São Bernardo (atual município de Diadema), em 1835, e
uma paragem (vizinhança dos loteamentos Vila Euclides e Jardim do
Mar, em São Bernardo) chamados Borda do Campo e de tantas terras
registradas como Santo André.
Frei Gaspar Madre de Deus (1975, 122), em 1797, por sua vez,
afirmou que antiga vila estava
no lugar onde agora existe a Fazenda de São Bernardo,
pertencente ao Mosteiro de São Bento da Cidade de São Paulo,
meia légua pouco mais ou menos distante da Borda do Campo.
80
Santos (1992, 26), a partir desta informação, cotejou documentos
antigos e concluiu que, no local chamado “Cemitério”, próximo à sede
da fazenda dos beneditinos, encontrava-se a extinta povoação de João
Ramalho. Realizou, igualmente, um croqui no qual indicava a
localização da vila de Santo André da Borda do Campo, como São
Bernardo Velho, das sedes da freguesia de São Bernardo e do bairro
Estação de São Bernardo:
mapa 05. As primeiras povoações dos municípios de São Bernardo e Santo André
(Santos: 1992, 37).
81
De qualquer forma, reuniram-se fatos que comprovam a
inexistência de continuidade entre a vila de João Ramalho e o município
de Santo André. Ressaltam-se, especialmente, a instalação da estação
de São Bernardo no ponto em que a estrada de ferro se aproximava do
aglomerado humano São Bernardo e era interligado por antigos
caminhos e a formação de loteamentos em decorrência da chegada de
imigrantes e migrantes à região em busca de trabalho nas indústrias.
82
5 Termo genérico ou termo específico. O primeiro
formante dos nomes dos aglomerados humanos
Apresentaremos neste capítulo as partes que compõem um
topônimo e, a partir destas reflexões, analisaremos os primeiros
formantes dos nomes de bairros de Santo André – Vila, Jardim, Parque,
Sítio, Condomínio e Cidade – em relação à ocupação da região.
5.1 Termo geográfico e termo específico
O topônimo, na sua função de designativo, ou seja, como nome
próprio de lugar, identifica-se com o elemento geográfico que nomeia,
constituindo formalmente um conjunto ou uma relação binômica na
nomenclatura onomástica.
Assim, Dick (1990, 10) revela que o topônimo é composto de
duas partes básicas. A primeira se convencionou chamar de termo
genérico ou termo geográfico, que corresponde ao indicativo do
elemento geográfico nomeado, e a outra parte, termo específico ou
topônimo propriamente dito, que especifica e distingue o elemento
geográfico entre seus semelhantes.
Na formação do sintagma toponímico, os dois termos podem se
apresentar de forma aglutinada ou de forma justaposta, dependendo da
natureza da língua que os inscreve; em tupi, por exemplo, ocorre o
topônimo Parauna (= “rio negro”), já em língua portuguesa, rio Negro.
No caso de topônimos aglutinados, o elemento geográfico e o
topônimo propriamente dito constituem-se num bloco único,
indissoluvelmente unidos. No caso de a língua falada não mais utilizar o
83
vocábulo em questão ou a língua não for mais falada no território, não
mais se distingue um do outro.
É comum, nesses casos, adotar-se, como recurso explicativo, o
reforço de um novo termo genérico, que complementa a idéia daquele
que foi absorvido, por inteiro, no interior do designativo, em seu núcleo
complexo. Desta forma o termo genérico tende a perder a sua função
própria, tornando-se simplesmente um complemento do termo
específico.
KUÍBO PÓ RURURÉU – Córrego afluente da margem
esquerda do curso inferior do rio Jakoreugeiáo (rio das
Garças).
“Rio Barreiro ou Cojibopó Rorureu” é como vem
consignado na C.M.G. este hidrônimo.
Kujíbo “rio do cardeal”; “água”; rururéu “roruréu,
raruréu) “barulhenta” (de rúru: “barulho, rumor”. Kujíbo
Pó Rururéu: córrego semelhante ao kujíbo de águas
barulhentas. O nome português lembra uma outra
característica das águas deste rio, isto é, águas turvas,
sujas (...). (DRUMOND: 1965, 75-6)
Neste excerto do glossário elaborado por Drumond (1965),
topônimos bororo, cujos significados foram estudados com base em
pesquisa junto a falantes nativos e missionários, são apresentados. No
exemplo transcrito, verifica-se que o topônimo “Rio Cojibopó Rorureu”,
deturpação de Kuíbo Pó Rururéu, contem o elemento geográfico
português rio, e são mantidos termos que igualmente indicam o termo
geográfico: “kujíbo” e “pó”.
Designativos em que não há elementos específicos também são
registrados no Brasil. Sua função é exercida pelo termo genérico que
engloba, simultaneamente, as duas categorias, a de determinado e a de
determinante. Muitas vezes o elemento geográfico é único na região,
sendo, portanto, desnecessária a complementação referencial. Em
outros casos, ele é tão significativo para a comunidade que, nomeá-lo
84
ou acrescentar-lhe outras características, é “desvirtuá-lo ou retirar-lhe o
caráter de plenitude enfática que se empresta ao nome comum, tornado
próprio, então, na fala do povo” (DICK: 1990, 11).
Levy Cardoso (1960, 371), por exemplo, indica, entre os
topônimos caribe e aruaque por ele analisados, a cachoeira Pura, “a
mais bela cachoeira do rio Parima, contribuinte do Uraricuera, no Estado
do Amazonas. Informa que o nome “Purá” é proveniente de parauiana,
que significa “cachoeira. Neste caso, revela-se a toponimização do
elemento geográfico, o qual tinha por termo geográfico o próprio nome.
Existem ainda as situações em que o termo genérico está
acompanhado de algum qualificativo que apenas o explicita, tornando-
o, por certo, mais completamente descritivo.
O topônimo karib Penecurú, afluente da margem direita
do Cuminá, traz como significado "água fria”, da mesma
forma que Caburái, considerado, depois de 1934, de
acordo com Levy Cardoso, como o ponto mais
setentrional do Brasil, pode ser interpretado como
"espuma d'água".
Na mesma linha de raciocínio, então dois rios de origem
aruaque, em situação francamente opositiva: um é o
Poduáua, ou "rio preto", o outro é o Quecê-Uêne, ou "rio
branco", afluente do rio Negro, no Amazonas. Também
podem ser mencionados o Taurú-uiná, "afluente da
margem direita do Timalatiá, contribuinte do Juruena, da
bacia do Tapajós. Mato Grosso", que quer dizer "rio
verde" e o Anhanazá, que parece incorporar o mesmo
sentido cromático, de quem diz Levy Cardoso: "São três
as cabeceiras formadoras do rio Sumidouro, da
potamografia mato-grossense – a primeira, a Anauiazá,
ou Sumidouro propriamente dito; a segunda, a Cozuí-Suê
(cozuí, "jacutinga" e suê, "cabeceira"), também chamada
de Santo Antonio e a terceira, a Anhanazá, também
conhecida atualmente pelo nome de Água Verde, simples
e literal tradução de sua histórica toponímia" (DICK:
1990, 11-2).
85
A existência de topônimos brasileiros com apenas termo genérico
ou termo genérico e qualificativo não é verificada somente em línguas
indígenas, mas também no português, os quais são relativos a
elementos físicos, sejam hidrográficos ou orográficos, como também de
natureza antropocultural.
Numerosos exemplos de nomes portugueses assim formados são
encontrados desde os primeiros registros de portugueses no Brasil. Na
carta enviada por Caminha ao rei de Portugal em 1500, é qualificado
como "seguro" o "porto" utilizado para o desembarque da frota lusitana
na chamada ilha de Vera Cruz, o qual hoje nomeia elementos humanos
nos estados do Acre, Bahia, Pará, um rio nesta região, além da baía de
Porto Seguro, em terras baianas.
Apesar dos séculos que separam a indicação de ‘porto seguro’ na
Carta de Caminha, a conservação daquele registro foi fundamental para
relacioná-lo à fixação de topônimos que a tiveram como base ou como
modelo de nomeação. O processo de atribuição de topônimos, contudo,
nem sempre é de constatação segura, tanto no que se refere à
identificação do elemento geográfico, quanto a não atribuição de
específicos que o distingam.
No caso de regiões urbanas, a sucessiva ocupação de um mesmo
espaço por diferentes grupos culturais e lingüísticos, quando não
simultaneamente, acarreta em influências que se fundem. Nestes casos,
as questões do condicionamento e da transição também devem ser
estudadas em situações de variação toponímica, fenômeno recorrente
em várias culturas e sociedades.
Assim, por exemplo, na China, embora haja registro de mudanças
intradinásticas, há elementos geográficos com mais de um nome, o que
se explica pelo costume de os nomes dos acidentes serem oficialmente
trocados a cada dinastia, mas permanecerem, formas novas e antigas,
no uso popular.
86
Por sua vez, no Brasil, há elementos geográficos naturais e
humanos com mais de uma nomenclatura: uma oficial, que, apesar
disso, convive com uma ou várias populares, geralmente mais
antiga(s). Nesses casos, as razões para a não-superação da
nomenclatura oficial inovadora sobre as populares tradicionais são de
várias ordens e relacionam o problema da transição aos da avaliação e
da implementação.
No Brasil, ao se emancipar, muitas vezes ocorre de uma
localidade trocar de nome, mas continuar a ser chamada pelo topônimo
anterior por habitantes do município de origem. No caso de
emancipações recentes, isto se deve à força do hábito e ao pouco
tempo de substituição de topônimos. O município Luís Eduardo
Magalhães, por exemplo, ainda é chamado de Mimoso ou Mimoso do
Oeste por muitos moradores da região.
Já municípios cuja autonomia foi adquirida recentemente, duas
explicações são possíveis: o ressentimento pela perda do antigo
território e o preconceito dirigido aos cidadãos da urbe emergente,
como João Dourado ou São Desidério, ainda hoje chamados de Canal e
Cuia, respectivamente (RAMOS: 2007).
Outro exemplo de estudo das razões da implementação de uma
mudança toponímica num determinado momento histórico no Brasil é
dado por Ramos & Venâncio (2002) que, analisando o fenômeno do
desaparecimento dos hagiotopônimos em Minas Gerais pela eliminação
da referência ao santo homenageado, vinculam-no a vários os motivos,
sendo o principal deles a gradual perda de prestígio político da Igreja
frente ao poder secular.
Segundo esses autores, em Minas Gerais, no período colonial, à
medida que o poder real se fortalecia, os nomes religiosos foram
gradativamente substituídos por nomes referentes à casa reinante
portuguesa, o que também se observa na Bahia: Arraial da Missão de
87
Nossa Senhora das Neves do Sahy (1697) > Senhor do Bonfim da
Tapera (1750) > Vila Nova da Rainha (1797).
A mudança da categoria administrativa depende igualmente de
diferentes funções que termos específicos adquirem em locais e épocas
diversas. O termo geográfico aldeia, por exemplo, cuja controvertida
origem do árabe (aD-Dai'â) ou do grego (aldaineim), refere-se aos
aldios (aldi) ou aldeões, assim como aldias ou aldianas, os quais eram
uma espécie de semi-servos restituídos quase à total liberdade e cujas
habitações eram chamadas de aldearias.
Em Portugal, aldeia indicava uma povoação, normalmente rural,
com poucos habitantes e sem autonomia administrativa, sendo,
portanto, inferior à vila. A partir desta concepção que este termo
geográfico chega ao Brasil, o qual, porém, é aplicado a povoações
indígenas.
A forma da aldeia no Brasil variava de acordo com as tradições
dos povos indígenas e a interferência, especialmente de jesuítas, em
sua disposição durante a colonização portuguesa. Na terra dos Carijós,
por exemplo, foi chamada de “aldeia” a cada casa, “trinta e cinco casas
são trinta e cinco aldeãs”. Por extensão, esta designação para casa ou
palhoça foi comum no século XVI no Brasil (GUERREIRO: 1942, 199).
Já os povoados de brancos e mamelucos recebiam outras
denominações. No século XVIII, a iniciativa do marquês de Pombal para
a ocupação do Brasil gerou a criação de vilas que eram pequenos
povoados sem poder político ou alguma economia.
O termo vila, contudo, era aplicado a locais que adquiriam
autonomia política. Vale lembrar que, em meados do século XVI, a
transferência da vila de Santo André da Borda do Campo implicou em
levar o pelourinho para a vila inaciana do planalto, e não apenas a
população.
88
Além de tais mudanças dos termos geográficos, verifica-se a
alteração destes, enquanto parte de topônimos, por incorporação de
novas funções da comunidade. O processo para a formação do
topônimo município de Santo André é antecedido por uma sucessão de
nomes, sendo que questionamentos sobre a localização de terras
originalmente assim chamadas foram fundamentais para a sua fixação.
Na primeira metade do século XVI, como visto no capítulo
anterior, o povoado era chamado Santo André da Borda do Campo,
elevado à categoria de vila em 1553. Com a transferência para o colégio
jesuítico do planalto, os nomes Santo André e Borda do Campo,
dissociados, passam a designar diferentes propriedades e bairros, e não
apenas o antigo povoado ramalhense.
Em outro local, a construção da estação da SPR para a vila de São
Bernardo leva, por translação toponímica, à formação do topônimo
estação de São Bernardo. Nos últimos anos do século XIX, percebe-se,
pela leitura das atas da Câmara da vila de São Bernardo, a formação de
um povoado nas proximidades da estação:
Idem [officio] de José Augusto Leite Franco, professor publico
na Estação de S. Bernardo, pedindo licença para conctratar um
muro emfrente a eschola publica (...) tendo-se a demolição do
mesmo logo que a Camara aversar. Archive-se. (Ata da vila de
São Bernardo de 15 de março de 1895, folha 7)
Com o aumento do número de moradores, por sua vez, formou-se
o topônimo bairro Estação de São Bernardo por toponimização do
elemento geográfico. Desta forma, inicialmente havia vila São Bernardo
e estação São Bernardo, portanto “vila” e “estação” eram termos
geográficos. Com o desenvolvimento de um núcleo na estação com
características de um bairro, o termo geográfico “estação” é integrado
ao nome do bairro em contraposição à vila.
A toponimização do elemento geográfico em bairro Estação São
Bernardo deve-se, assim, ao reconhecimento do crescimento do local.
89
Em geral, a mudança de categoria administrativa leva à substituição
dos termos geográficos, como se verifica no nome da cidade paulistana:
vila de São Paulo de Piratininga e cidade de São Paulo.
Apesar de exemplos restritos, a incorporação do elemento
geográfico que compunha o antigo nome é verificada em topônimos
alterados em decorrência de urbanização de localidades: o bairro
paulistano Freguesia do Ó e o município mineiro Vila Rica, por exemplo.
Quanto aos nomes dos bairros de Santo André, verifica-se a
tendência a incorporação de um primeiro formante ao topônimo
propriamente dito, o qual não integrava o topônimo anteriormente: vila,
jardim, parque e condomínio.
Estes termos acabam desempenhando uma ambígua função na
composição do topônimo: assumem papel de termo específico porque
diferenciam diferentes locais – bairros Vila João Ramalho e Parque João
Ramalho; e exerce usos comuns a termos genéricos, visto que, por si,
não individualizam os bairros nem compreendem diferencial de locais –
diversos bairros Jardim e bairros Parque entre si, por exemplo.
Neste segundo caso, destaca-se o ato da Prefeitura de São
Caetano de retirar tais termos dos nomes de bairros, levando a
alterações dos topônimos: de bairro Vila Barcelona para bairro
Barcelona, de Vila Gerte para Nova Gerte e de Vila Paula para Santa
Paula, por exemplo.
5.2 Urbanização de Santo André e categoria dos bairros
Em Portugal, bairro é uma subdivisão recorrente em algumas
freguesias urbanas de grande densidade populacional, embora
geralmente não tenha qualquer caráter administrativo. No Brasil, por
90
sua vez, este termo, ou ainda distrito municipal, é entendido como
equivalente à freguesia em Portugal.
Esta analogia se sustenta pela baixa ocorrência do termo
freguesia no século XX no Brasil, o qual acabou servindo apenas a
certos distritos ou bairros de algumas cidades, geralmente por
toponimização de antigo elemento geográfico. Em Florianópolis, por
exemplo, existem as "freguesias" do Ribeirão da Ilha (1749), a de
Nossa Senhora da Conceição da Lagoa (Lagoa da Conceição, 1750) e a
de Nossa Senhora das Necessidades de Santo Antônio de Lisboa (1752).
Em São Paulo, como já indicado, verifica-se o topônimo bairro Freguesia
do Ó.
O uso do termo bairro no Brasil variou ao longo dos séculos. Era
usado para indicar povoados rurais sem núcleo até fins do século XIX.
Neste período, passou a se aplicar às áreas urbanas dos municípios, em
que os bairros têm um papel de localização, sem função administrativa
específica. Alguns municípios têm definição territorial definida quanto
aos limites, enquanto que em outros, a divisão decorre apenas do uso
popular. Assim, bairro é uma comunidade ou região dentro de uma
cidade ou município no século XX (CARVALHO: 1998).
Em Santo André, via de regra, os primeiros aglomerados lançados
pelas empresas que lá se instalaram são indicados como bairros, ao
passo que os loteamentos lançados pelos proprietários de terras, ou por
empresas loteadoras eram vilas, posteriormente bairros Vila.
Dado o maior número de proprietários loteadores, estabeleceu-se
a tendência à incorporação de um primeiro formante aos nomes,
revelando-se apenas treze bairros que não a seguiu: bairro Estação de
São Bernardo, posteriormente bairro Estação e hoje bairro Centro
(1867); bairro Ipiranguinha (1909); bairro Silveira (1913); bairro
Jardim (1925); bairro Operário, hoje bairro Campestre (1925); bairro
das Nações (1925); bairro Santa Terezinha (1927); bairro Bangu
(década de 1920); bairro Paraíso (década de 1920); bairro Santa Maria
91
(década de 1920); bairro Várzea do Tamanduateí (década de 1920);
bairro Casa Branca (1930); bairro Pinheirinho (1962); bairro Cata Preta
(década de 1970); e bairro Centreville (década de 1970).
5.2.1 Vila
O termo geográfico vila é atribuído a aglomerados populacionais
de tamanho intermediário entre a aldeia ou vilarejo e a cidade, sendo
dotados de uma economia em que o setor terciário tenha uma
importância no mínimo razoável (SEADE: 1992).
Tipicamente, em Portugal, as vilas têm entre 1.000 e 10.000
habitantes, mas motivos históricos e flutuações populacionais criaram
várias exceções a esta regra. A maioria das vilas, contudo, é autarquia
administrativa de municípios, com as respectivas freguesias.
Atualmente, a elevação de povoados à vila encontra-se definida
pela lei nº 11, de 2 de Junho de 1982, que, salvo quando há
"importantes razões de natureza histórica, cultural e arquitectónica",
estabelece que uma povoação só pode ser elevada a vila se tiver:
. Mais de 3000 eleitores, em aglomerado populacional contínuo
. Pelo menos metade dos seguintes equipamentos colectivos:
- Posto de assistência médica
- Farmácia
- Casa do Povo, dos Pescadores, de espectáculos, centro
cultural ou outras colectividades
- Transportes públicos colectivos
- Estação de Correios
- Estabelecimentos comerciais e de hotelaria
- Estabelecimento que ministre escolaridade obrigatória
92
- Agência bancária
No Brasil colonial, as povoações eram elevadas a vilas, e vilas, a
cidades, de acordo com o sistema português. No Brasil, antes da
Proclamação da República, considerava-se como data de fundação de
municípios o dia da criação da vila (SÃO PAULO: 1928).
Como vila, o arraial ou freguesia adquiria a sua autonomia
político-administrativa, passando a constituir Câmara de Vereadores,
com direito de cobrar impostos, e baixar "posturas", que eram espécies
de leis municipais, recebia ainda um "juiz de fora", pelourinho e cadeia
pública. Em 1560, São Paulo de Piratininga foi elevado à categoria de
vila, sendo obrigatória, como dito anteriormente, a transferência do
pelourinho de Santo André para cumprimento de decisões do represente
da coroa portuguesa.
O título de cidade, neste tempo, era mais honorífico e pouco
acrescentava em termos de organização política e administrativa. A
presença da Câmara é que indicava a existência da célula político-
administrativa. A primeira vila do Brasil foi São Vicente, onde está a
Câmara Municipal mais antiga.
Hoje, no entanto, por ter um sistema administrativo diferente do
de Portugal, a palavra "vila" não tem valor administrativo no Brasil,
sendo usada apenas no sentido informal. Por isto, hoje,
equivocadamente, muitos municípios criados no império e na colônia
comemoram o dia da sua fundação como sendo o dia em que foram
elevados à cidade.
Paralelamente à função deste termo administrativo,
especialmente no século XX a palavra vila é incorporada a nomes de
diversos bairros e municípios brasileiros. Leite de Vasconcelos (1930,
290) aponta esse fenômeno em Portugal como fruto de uma tendência
da “época moderna” da língua portuguesa:
93
De 1774 data Vila Real de S.to António, fundada num sítio
chamado Vila de S.to António de Arenilha (Silva Lopes,
Chorogr. do Algrave, pág. 383), provindo certamente do
Rei o epíteto de Real, por imitação de Vila Real de Trás-
os-Montes, também fundação régia, mas do século XIII.
Note-se que várias cidades e aldeias podem ter no seu
topônimo a palavra "vila" e não ter esse estatuto, muitas
vezes herdada das villas rurais medievais, herdeiras das
villas romanas, ou das vilas novas medievais. Por
exemplo: Vila Real tem a categoria de cidade.
Presentemente a vila mais populosa de Portugal é
Algueirão-Mem Martins, com cerca de 100 000 habitantes.
Outra vilas com mais de 25 000 habitantes são: Rio de
Mouro, Corroios, Cascais, Oeiras, Senhora da Hora, Águas
Santas, Paço de Arcos e Sintra.
Os primeiros exemplos indicados por Vasconcelos correspondem
ao que ocorreu no Brasil com algumas cidades Vila. Nestes casos, o
elemento geográfico foi toponimizado quando elevadas à nova categoria
administrativa. Isso ocorre geralmente quando o complemento final do
sintagma toponímico prevalecente dizia respeito a um adjetivo,
descritivo do termo: Vila Bela da Santíssima Trindade e Vila Rica (MT),
Vila Nova dos Martírios (MA), Vila Boa e Vila Propício (GO) e Vila Velha
(ES).
Em Carta de Datas de Terra de São Paulo, da década de 1820,
consta tal modelo como de Villa Latina:
Fazemos saber aos que esta nossa Carta de Data de
Terras virem, que por parte do Reverendo Padre Mestre
de Serimonias da Sé, desta Cidade, Jozé de Freitas
Saldanha nos foi representado que fizecemos a graça de
conceder huma Data de terras no lugar denominando
Varge Grande (...) na forma que requeria em cuja
Petiçam proferimos o nosso primeiro Despacho de des e
seis de Novembro de mil oito sentos e vinte e dous que
em vistoria se lhe deferia; satisfeito iso e mais
94
informaçoens necessárias e não se oferecendo duvida
alguma (...), houvemos por bem deferir a suplica do
Reverendo Supplicante pelo que pela prezente nossa
Carta de Data havemos por bem darmoslhe e
concedermos-lhe de hoje para todo o sempre (Não
havendo prejuiso de terceiro) o mencionado terreno na
forma indicado cujo terreno tem de frente oitenta braças,
principando do alinhamento da Rua que vem do Pari té o
Corredor que fica para a servidam dos moradores para
huma Cisterna ou olho de agoa, entre a chacra do Padre
Jozé Joaquim de Toledo e olha para a estrada que segue
da Freguezia do Senhor Bom Jesus do Brás para a
Freguezia da Penha e cento e çincoenta e três braças de
fundo o que vai completar na dita varzia com sincoenta
de largura por ficar em consequência daquelle corredor
deixado para a servidão publica a maneira de uma Villa
Latina, e por nos constar achar-se o dito terreno medido e
demarcado com estacas pelo Arruador do Conselho
(TORRES: 1969, 55-6)
Assim, ainda no século XIX, na cidade de São Paulo o termo vila
abrange um conjunto de casas individuais, construídas em um terreno
contínuo com uma entrada única e uma espécie de pequena praça em
comum.
Também em muitas cidades brasileiras, o termo vila é usado
como referência a bairros, inclusive em São Paulo (Vila Madalena, Vila
Mariana, por exemplo). Posteriormente, o uso deste termo para bairros
tornou-se comum, indicando especialmente bairros populares, sendo,
portanto, vilas operárias.
Em Santo André, a incorporação deste primeiro formante aos
nomes dos bairros é registrada especialmente entre as décadas de 1920
e 1950: Vila Alzira (1918); Vila Homero Thon (1920); Vila Bastos
(1921); Vila Alpina (1923); Vila Palmares (1924); Vila Assunção
(1925); Vila Splendor, hoje Vila Camilópolis (1925) e Vila Metalúrgica
(1933); Vila Pires (1928); Vila Curuçá (1928); Vila América (1928); Vila
95
Valparaíso (1929); Vila Guiomar (1930); Vila Humaitá (1932); Vila
Gilda (1935); Vila Príncipe de Gales (1935); Vila Lucinda (1938); Vila
Luzita (1938); Vila Helena (1942); Vila Suíça (1947); Vila Linda (1948);
Vila Junqueira (década de 1940); Vila Marina (década de 1940); Vila
Progresso (década de 1940); Vila Scarpelli (década de 1940); Vila
Francisco Matarazzo (1950); Vila Guarani (1950); Vila Guaraciaba
(1951); Vila Sacadura Cabral (1952); Vila Vitória (1953); Vila Alice
(1953); Vila Aquilino (1956); Vila Floresta (1956); Vila João Ramalho
(1956); Vila Tibiriçá (década de 1950); e Vila Lutécia (1979).
5.2.2 Jardim
A expressão Cidade Jardim é decorrente da inglesa Garden City.
Trata-se de um modelo urbanístico do final do século XIX concebido
pelo inglês Ebenezer Howard:
mapa 06. Diagrama da Garden city.
O diagrama acima representa três imãs, formando uma
comunidade autônoma cercada por um cinturão verde, num meio-termo
entre campo e cidade. A idéia era aproveitar as vantagens do campo
96
eliminando as desvantagens da grande cidade, mas sem se perder
características urbanas (BEEVERS: 1988).
Esta noção de cidade jardim foi primeiro explorada no livro
Tomorrow a Peaceful Path to Real Reform, de 1898. Neste ano, foi
fundada a Garden Cities Association cujo objetivo foi o de divulgar este
modelo e efetuar a sua construção. Mais tarde, em 1902, o livro foi
republicado sob o título Garden Cities of Tomorrow, no qual o modelo
da cidade jardim foi revisado.
Com o movimento, construíram-se diversas cidades jardins na
Inglaterra, as quais influenciaram posteriormente Burley Griffin no
projeto da capital autraliana Canberra e Atílio Correia Lima no projeto
da cidade de Goiânia, no Brasil. O conceito foi ainda empregado na
criação de vários bairros na cidade de São Paulo pela Companhia City,
inclusive o bairro que atualmente se chama Cidade Jardim.
Howard, em seus estudos, perguntava-se “Para onde as pessoas
irão?”. Deste questionamento vem a concepção dos três imãs de
atração da população: entre a cidade inchada e o campo vazio está a
cidade-campo, a terceira solução. Assim, ao apresentar uma política
para a manutenção do equilíbrio social, ameaçado pelas sórdidas
condições de urbanização das camadas populares inglesas durante o
século XIX, ele propõe muito mais do que a harmonia entre homem e
natureza.
Planeja não só as formas, as funções, os meios financeiros e
administrativos de uma cidade ideal, sadia e bela, mas, principalmente,
um processo para satisfazer as massas e controlar sua concentração
nos centros metropolitanos. A cidade-Jardim seria construída no centro
dos 2400 hectares, e ocupando 400 hectares, o resto seria para o
campo, cortada por seis bulevares com 36 metros, uma avenida central
com 125 metros de largura, formando um parque, no final as casas
ficam dispostas em meia-lua para ampliar a visão dessa avenida-jardim.
97
No centro ficariam órgãos públicos e para o lazer, como teatro e
museu. O Palácio de Cristal ocuparia uma grande área servindo como
mercado e jardim de inverno, proporcionando aos ingleses durante o
período chuvoso um lugar para recreação. A população seria de cerca
de 30000 pessoas, sendo 2000 no campo; as indústrias ficariam na
periferia ao longo da linha férrea, facilitando o escoamento da
produção; a área agrícola seria constituída por fazendas, cooperativas
ou particular. Na cidade jardim, o solo urbano é socializado, e o lucro
obtido pelo loteador pelas cotas pagas mensalmente. Ninguém se torna
proprietário de sua casa, loja, indústria; isso se dá pelo arrendamento.
Ao fundar a Associação das Garden-Cities em 1899, Howard torna
a sua idéia viável. Em 1903 adquiriu Letchworth e chamou os arquitetos
Parker e Umwin para projetar a cidade. Esta cidade atingiu grande
êxito, chamou a atenção dos jornais de Londres e atraiu jovens. A
atmosfera na cidade era excitante e prazerosa e alcançou, em 1962,
26.000 habitantes.
Em 1919 Howard encontrou um terreno a 15 quilômetros de
Letchworth propício à instalação de uma segunda cidade-jardim, no
qual instalou Welwin. Assim, ele conseguiu provar que
- era viável a construção de cidades novas com indústrias e jardins, e
não subúrbio jardins;
- cada família poderia possuir uma casa em meio ao verde, perto do
trabalho e do centro da cidade;
- poderia obter cidades com boa qualidade ambiental, mantendo os
jardins;
- era possível construir moradias a baixo custo, com conforto térmico, e
formando uma arquitetura homogênea (leia-se arquitetura georgiana),
dando continuidade a cidade.
98
Hermann Muthesius também teve um papel importante na criação
da primeira cidade-jardim Alemã – Hellerau – próxima à Dresden,
fundada em 1909 por Karl Schmidt-Hellerau. Esta foi a única cidade da
Alemanha onde as idéias de Howard foram completamente
implementadas.
Em outras partes do mundo as idéias de Howard foram sentidas:
no Brasil, além de São Paulo e Goiânia, estabeleceu-se o bairro Jardins
Laranjeiras, no Rio de Janeiro; nos subúrbios americanos, Green Belt
perto de Washington D.C. e New Jersey; e, ainda na Inglaterra,
influenciou profundamente no planejamento, após a segunda Guerra
Mundial, das cidades novas, como Milton Keynes, que atingiu 250.000
habitantes, e Central Lancashire, 430.000 habitantes.
Em Santo André o loteamento que seguiu parcialmente tal modelo
foi o bairro Jardim, em 1925, uma das primeiras experiências urbanas
de planejamento no município. Foi projetado para abrigar uma camada
diferenciada da população e ocupado pelos funcionários mais graduados
das empresas, técnicos especializados, engenheiros e dirigentes das
empresas, tais como a Rhodia, a Fichet e a Black & Decker.
Os demais jardins de Santo André foram assim denominados por
razões puramente mercadológicas, uma vez que foram formados sem
quaisquer características das cidades-jardim. A formação de bairros
com Jardim como primeiro formante é verificada especialmente na
década de 1950. Na década de 1970 perde forças, sendo retomado na
década de 1980: Jardim Santo Antônio (década de 1930); Jardim
Utinga (década de 1930); Jardim Bela Vista (1948); Jardim Bom Pastor
(1950); Jardim Guarará (1950); Jardim Stela (década de 1950); Jardim
Irene (1951); Jardim das Maravilhas (1953); Jardim do Estádio (1955);
Jardim Santo Alberto (1955); Jardim Ana Maria (1956); Jardim
Ipanema (1958); Jardim Oriental (1962); Jardim Alzira Franco (1963);
Jardim Santo André (1963); Jardim Alvorada (1964); Jardim Santa
Cristina (1966); Jardim Cristiane (1968); Jardim Vila Rica (década de
99
1960); Jardim Jamaica (1970); Jardim Teles de Menezes (1979);
Jardim Itapuã (1980); Jardim Santo Antônio de Pádua (1980); Jardim
Las Vegas (1981); Jardim Marek (1982); Jardim Rina (1987); Jardim
Milena (1988).
5.2.3 Parque
Os bairros Parque seguem tendência dos bairros Jardim ao
apresentar como primeiro formante um elemento que remeta à
combinação entre cidade e campo, o que não necessariamente
corresponde à estrutura do loteamento realizado.
Apresenta-se em Santo André especialmente na década de 1950,
mas de modo pouco representativo em comparação a bairros Jardim:
Parque das Nações (1925), originalmente bairro das Nações; Parque
Oratório (1949); Parque Novo Oratório (1949); Parque Jaçatuba
(1955); Parque João Ramalho (1956); Parque Capuava (1957); Parque
Erasmo Assunção (1958); Parque Gerassi (1972); Parque Marajoara
(década de 1980).
5.2.4 Condomínio, Sítio e Cidade
Entre os casos mais recentes de bairros formados em Santo
André, destaca-se o topônimo bairro Condomínio Maracanã, de 1952.
Neste caso, incorporou-se como primeiro formante o termo condomínio,
atribuído a modelos de edificação ou edificações com área comum.
O loteamento que deu origem ao Condomínio Maracanã foi
vendido diretamente pelo proprietário, e os lotes comprados por
trabalhadores migrantes atraídos pelo parque industrial do ABC.
100
Diferente da noção de tranqüilidade e segurança deste termo, este
bairro era precário, além de possuir difícil acesso.
O topônimo bairro Sítio dos Vianas possui o primeiro formante
sítio em decorrência de toponimização de elemento geográfico. Era
propriedade da família Viana, a qual, após morte de proprietário,
passou por longo período de briga judicial entre herdeiros. Em 1980, foi
ocupada por famílias de baixa renda.
O bairro Cidade São Jorge, por sua vez, é decorrente de um
loteamento de baixa renda de 1968. O primeiro formante é verificado
em outros bairros populares brasileiros, como os bairros Cidade de
Deus e Cidade Nova (RJ), em contraposição aos nobres bairros Cidade
Jardim, como os existentes nas cidades de São Paulo, do Rio de Janeiro
e de Belo Horizonte.
5.3 Conclusões parciais
A utilização de um primeiro formante ao nome do bairro em Santo
André é constante. Apenas treze bairros não o apresentam. A maioria
destes é de formação antiga, especialmente década de 1920, e
localizada ao longo dos trilhos da SPR.
O uso de primeiro formante segue tendência de época,
acompanhando a ocupação das terras que atualmente pertencem ao
município de Santo André.
101
mapa 07. Nomes segundo seu primeiro formante.
Os bairros Vila somam 36 ocorrências. Após a emancipação de
Santo André e a ampliação do número de loteamentos abertos na
região, tornou-se o primeiro formante comumente utilizado, cujos lotes
foram abertos principalmente entre as décadas de 1920 e 1950.
Ocupam a área a sul dos primeiros bairros de Santo André, os quais não
possuem primeiro formante em seus nomes, nas proximidades de São
Bernardo e ao longo do caminho do Pilar, uma das principais rotas da
época.
Já os bairros Vila Metalúrgica e Vila Camilópolis, ambos
desmembrados do bairro Vila Splendor, aberto em 1925, encontram-se
102
no limite entre Santo André e São Paulo e eram beneficiados por
caminhos que levavam à estrada do Oratório e à estação de São
Bernardo da SPR (Parcelamentos em Santo André, 1930).
Verificam-se 27 ocorrências de bairros que tem Jardim por
primeiro formante. Torna-se comum na década de 1950, substituindo a
tendência ao uso de Vila em loteamentos então abertos. Localizam-se,
em sua maioria, entre os bairros Vila e limite com o município de São
Bernardo, terras ocupadas por migrantes pobres.
São também de natureza sociocultural as razões de
implementação deste tipo de topônimo a partir do final da década de
1950, período de abertura da economia do país para o capital industrial
estrangeiro, com a implantação de empresas transnacionais, em sua
maioria norte-americanas.
Os bairros Jardim, de tradição inglesa, imprimiam sofisticação, e o
termo “Jardim” passa a ser integrado aos nomes de bairros populares a
fim de transmitir uma agradável imagem do local, o que não
correspondia com a realidade, além de inegavelmente ser usado para
atrair a atenção de compradores.
Nas proximidades com o município de Mauá, dois bairros Jardim
com tais características são abertos. Nas adjacências, um ambicioso
projeto imobiliário foi lançado em 1980: o Centreville. Era um bairro
sofisticado, baseado em comunidade americana homônima. A
localização e o elevado valor do empreendimento levaram à suspensão
das obras e à invasão por famílias de baixa renda.
Os bairros Parque vêm ao encontro da tendência bairro Jardim,
como visto anteriormente. Trata-se apenas de nove bairros, cujos
loteamentos foram abertos especialmente no final da década de 1950 e
ocupavam região a norte da SPR, próxima aos municípios de São Paulo
e Mauá.
103
6 Os nomes descritivos e os formados por
translação toponímica
Apresentaremos neste capítulo os nomes de bairros de Santo
André engendrados a partir da descrição do local ou que já
denominavam outros elementos físicos ou humanos na região,
passando a denominar loteamentos por processo de translação
toponímica.
6.1 Os nomes descritivos
A descrição da paisagem é perceptível em alguns dos
topônimos de Santo André. Estes nomes revelam: localização do
bairro – bairro Centro e Jardim Oriental; características próprias ao
terreno – bairros Várzea do Tamanduateí e Jardim Bela Vista;
elementos de destaque da paisagem – bairros Pinheirinho, Casa
Branca e Condomínio Maracanã; alteração da paisagem para
atendimento aos novos moradores – bairros Campestre e Jardim; e
novos elementos colocados no espaço no momento em que se
prepara o loteamento – bairros Vila Metalúrgica e Jardim do Estádio.
6.1.1 Vila Metalúrgica (ficha 01)
O loteamento que deu origem ao bairro Vila Metalúrgica foi
inicialmente denominado Vila Splendor, em 1925, por Camilo Pedutti.
É o bairro limitado pelos ribeirões do Oratório e Tamanduateí,
104
atualmente correspondente a demarcação entre os municípios de São
Paulo e São Caetano respectivamente, e cortado pela EFSJ.
Os terrenos alagadiços e insalubres são a característica mais
marcante deste bairro. Para a valorização dos terrenos, o loteador
reservou áreas imensas para a instalação de indústrias, atraindo
empresas como Laminação Nacional de Metais, Swift, Brasilit e Coral
(MEDICI: 1992, 21).
O loteamento é oficializado em 1933, e a ocupação do bairro
por operários migrantes do interior de São Paulo e de estados
vizinhos, os quais foram trabalhar nas empresas ali instaladas, levou
Camilo Pedutti a substituir o nome original pela homenagem aos
novos moradores. Prevalece no topônimo, contudo, a descrição do
perfil do bairro: local que abriga diversas metalúrgicas.
No mapa Parcelamentos em Santo André de 1945, este bairro
já apresenta a sua denominação atual e a indicação de duas vias de
acesso, as quais ligavam o crescente bairro com a rua do Oratório e a
avenida Industrial. Neste mapa, as terras ocupadas não
correspondem à demarcação atual, tanto que a fábrica Swift Armour
é indicada além de seus limites.
Em 2006, o bairro Vila Metalúrgica ocupava 2,89 km
2
e tinha
uma população estimada de 14.300 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 47).
6.1.2 Várzea do Tamanduateí (ficha 23)
A nesga de terreno demarcada pelos ribeirões Carapetuba,
Tamanduateí e Itapoan e a EFSJ passa, depois de 1990, a ser
denominada bairro Várzea do Tamanduateí. É uma porção de terra
insalubre e ainda alagadiça, ocupada por uma população exígua – em
105
2006, estimava-se em 29 moradores – apesar de ter 1,58 km
2
de
extensão.
Desprezado o bairro pela especulação imobiliária, este
topônimo não é citado em nenhum dos mapas Parcelamentos de
Santo André. Apenas na parte mais próxima à estação de Santo
André são indicados prédios de indústrias: Kowarick, que não mais é
apontado em mapas posteriores a 1945, e Rhodia Têxtil
(Parcelamentos de 1930); Valisère (Parcelamentos de 1945), que
deixa o local após 1970; e Ciminas (a partir do Parcelamentos de
1970), este último mais próximo do ribeirão Guarará.
Entre as décadas de 1970 e 1990, a canalização do ribeirão
Carapetuba levou a abertura da avenida Henri Sannejouand. Nos
mapas Parcelamentos de Santo André não são indicadas ruas
cruzando este bairro. Atualmente, após a canalização do ribeirão
Guarará, a rua Vereador José Nanci possibilita acesso ao bairro a
partir da avenida dos Estados.
6.1.3 Campestre (ficha 24)
O bairro Campestre, originalmente uma área de densa
vegetação, integrou uma das primeiras experiências urbanas de
planejamento em Santo André, por iniciativa dos próprios loteadores.
As terras pertenciam ao caboclo Nhonhô Maria, cujo verdadeiro nome
era Antonio Miguel Maria, e foram loteadas pela família Pujol em
1925.
O loteamento desta gleba teve início no corredor industrial
central – a avenida Industrial –, que abrigaria a maior parte das
fábricas da região, com destaque para as indústrias pesadas, como a
Fichet, Black & Decker, Nordon e Armco.
106
Os loteadores da família Pujol tinham por objetivo criar bairros
diferenciados, destinados a camadas populacionais igualmente
diferenciadas: os trabalhadores e funcionários mais graduados das
fábricas da região. O nome descritivo Campestre vem ao encontro
desta visão: a derrubada da densa vegetação e a abertura de lotes
amplos e arborizados atendem ao desejo de formação de um bairro
composto por casas de campo.
Além do bairro Campestre, os bairros Jardim e Utinga eram
destinados à habitação burguesa, termo empregado pela própria
empresa loteadora a época: "reservado às pequenas propriedades de
recreio ou villegiatura" (MEDICI: 1992, 19).
Este perfil se manteve até os anos 1950, quando passa a ser
ocupado por operários que trabalhavam nas áreas próximas. Depois
de 1990, incorpora bairro Utinga que, por sua vez, já tinha
incorporado décadas antes trecho do bairro Vila Industrial, área
industrial junto à estrada de ferro. Em 2006, o bairro Campestre
ocupava 2,43 km
2
e tinha uma população estimada de 14.952
moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
6.1.4 Jardim (ficha 32)
Assim como o Campestre, o bairro Jardim foi loteado em uma
área de densa vegetação pela família Pujol e apresenta um nome que
remete contato com a natureza cuidada para prazer de seus
moradores. A abertura do lote é realizada entre 1923 e 1925.
Este bairro também foi inicialmente ocupado por funcionários
mais graduados das fábricas. Para atraí-los, na abertura do bairro
Jardim, a empresa loteadora providenciou a construção de 200 casas,
implantou rede de água em um terço dos terrenos e distribuiu
energia e luz elétrica em vários setores.
107
Segundo a moradora, Maria Aparecida Rodrigues de Andrade,
as ruas do bairro Jardim eram muito tranqüilas. Ali eram realizadas
festas juninas, envolvendo toda a população (MEDICI: 1992, 26).
Depois da década de 1970, incorpora parte do bairro Vila
Industrial, correspondente à gleba destinada à área industrial junto à
estrada de ferro (Parcelamentos em Santo André). Em 2006, o bairro
Jardim ocupava 1,54 km
2
e tinha uma população estimada de 7.464
moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
6.1.5 Centro (ficha 33)
Com a inauguração da SPR em 1867, inicia-se a ocupação dos
terrenos no entorno da estação. Esta área, que acabou tornando-se a
central da futura Santo André, integrava a região denominada
Caaguaçu (zona da mata).
A escolha deste ponto para o estabelecimento da estação de
São Bernardo deve-se ao fato de ser o ponto mais próximo entre a
ferrovia e a vila de São Bernardo. Em pouco tempo, a parada de
trens dá origem ao bairro da Estação de São Bernardo. Além disso,
era próximo ao cruzamento da estrada do Oratório e o caminho do
Pilar, o qual permitia acesso à vila (MEDICI: 1992, 48).
No final do século XIX, já é conhecida por Estação de S.
Bernardo e, em 1910, quando elevada a distrito, recebe o nome de
Santo André (SANTOS: 1992, 230). Nos mapas Parcelamentos em
Santo André, não se faz menção a nome deste bairro.
Em 2006, o bairro Centro ocupava 1,68 km
2
e tinha uma
população estimada de 4.870 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
108
6.1.6 Jardim Bela Vista (ficha 35)
No início do século XX, os terrenos junto ao caminho do Pilar e
parte da hoje denominada avenida Portugal, estradas utilizadas por
aqueles que seguiam rumo à estação de São Bernardo, abrigavam
chácaras dos Fláquer, Bastos, Gaiarsa, Suplicy, Charles Murray,
Martinelli e outros.
Na década de 1940, trechos das chácaras Bastos e Suplicy
foram loteadas dando origem ao bairro Jardim Bela Vista. Era uma
região alta, e as pessoas da região chamavam-na de Morro do Piolho.
A causa deste topônimo, portanto, é evidente, por se tratar de uma
colina de onde se podia ter esplendida vista da cidade, especialmente
do centro.
Nas palavras do ex-vereador Carlos Augusto dos Santos, o
Carlinhos:
Quem mora no Jardim Progresso (sic), na Vila Bela Vista e
em outros loteamentos próximos fala que mora na Vila
Linda. Aliás, Vila Bela Vista nem existe em muitos mapas da
cidade. Lembro que quando cheguei, algumas pessoas mais
antigas diziam que a Vila Bela Vista era chamada de Morro
do Piolho, uma região bastante alta, talvez a mais alta da
área (MEDICI: 1992).
As primeiras propriedades foram exploradas com a criação de
porcos ou produção de tijolos. Ainda nos anos 1940, eram comuns as
corridas de cavalos nas suas ruas desertas todos os domingos.
Em 1947, após desapropriação das áreas remanescentes
daquelas chácaras, foram ali instaladas as unidades oficiais
administrativas do município, a escola Américo Brasiliense e a praça
IV Centenário, impulsionando o crescimento do bairro (MEDICI:
1992, 39).
Após a década de 1970, incorpora parte do bairro Jardim
Paraíso – gleba de parte do sítio de Manoel José de Lima, adquirido e
109
consolidado o loteamento por Aluízio de Faria Coimbra na década de
1940 – e o bairro Jardim Ocara – loteamento fora do eixo do caminho
do Pilar, em terras do sítio dos Nóbrega, pertencente a José Nóbrega
de Albuquerque (Parcelamentos em Santo André).
Em 2006, o bairro Jardim Bela Vista ocupava 0,79 km
2
e tinha
uma população estimada de 7.582 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
46).
6.1.7 Pinheirinho (ficha 41)
A área que deu origem ao bairro Pinheirinho era cortada pelo
caminho do Pilar. Pertencia ao sítio de Manoel José de Lima,
parcialmente loteado em 1940.
A formação deste lote, contudo, só ocorreu em 1962. A causa
do nome é decorrente da existência de uma casa rodeada de
pinheiros no local, conforme depoimento da moradora Ana Gambini
Scarpelli (MEDICI: 1992, 43).
Em 2006, o bairro Pinheirinho ocupava 0,19 km
2
e tinha uma
população estimada de 1.723 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
6.1.8 Casa Branca (ficha 47)
O bairro Casa Branca surgiu de um loteamento feito pelos
descendentes de Antônio de Queiroz dos Santos, que comprara toda
a área marginal à ferrovia do barão de Mauá.
A abertura das ruas ocorreu em 1930, e o nome Casa Branca
era devido à única construção existente no local ser uma casa de
duas águas de cor branca (depoimento de Nelson Zanoti).
110
Em 2006, o bairro Casa Branca ocupava 0,89 km
2
e tinha uma
população estimada de 1.868 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
6.1.9 Jardim Oriental (ficha 50)
Neste local existiam olarias desde os anos 1920. Estas olarias
atraiam famílias de outras cidades e imigrantes do interior paulista,
como fizeram depois as indústrias do ABC. A olaria de João Dussim,
uma das maiores, obteve alvará de funcionamento em 1921. Havia
também a olaria do sítio do doutor Bernardo, local em que,
posteriormente, foi instalado o Frigorífico Central.
O Jardim Oriental foi loteado em 1962 por Nagib Fuad Salem,
e a motivação de sua denominação foi a posição geográfica dentro do
perímetro territorial do município (depoimento de Paschoalino
Assumpção).
Em 2006, o bairro Jardim Oriental ocupava 0,12 km
2
e tinha
uma população estimada de 1.953 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
46).
6.1.10 Jardim do Estádio (ficha 63)
O loteamento que deu origem ao bairro Jardim do Estádio foi
iniciado em 1955, junto à área próxima ao então projetado estádio
poliesportivo da cidade. O estádio foi inaugurado em 15 de novembro
de 1969 com a disputa do Troféu Brasil de Atletismo, sendo a
primeira partida de futebol disputada em 14 de dezembro.
Em 10 de outubro de 1973, em homenagem ao ex-prefeito
Bruno José Daniel, o estádio, após uma reforma, passou a ser
denominado Estádio Municipal Bruno José Daniel. O estádio conta
111
com acomodações para 18000 pessoas, mas em setembro de 1983 já
abrigou 21000 torcedores (GAIARSA: 1991). Hoje, devido ao Estatuto
do Torcedor, é permitida a entrada de, no máximo, 15.157 pessoas.
O Jardim do Estádio tem uma área de 0,86km
2
e, em 2006,
possuía uma população estimada em 16.664 habitantes (SANTO
ANDRÉ: 2007, 46).
6.1.11 Condomínio Maracanã (ficha 82)
A área ocupada pelo bairro Condomínio Maracanã pertencia
originalmente à área de um loteamento estritamente residencial da
década de 1930, a Vila Humaitá (Parcelamentos em Santo André,
1930).
Este bairro foi loteado em 1952, e o nome Condomínio
Maracanã foi atribuído devido à existência de grande número de aves
"maracanã", que infestavam o local (depoimento de Nelson Zanoti).
Em 2006, este bairro ocupava 0,79 km
2
e tinha uma
população estimada de 9.844 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
6.2 Os nomes formados por translação toponímica
Entre os nomes de bairros de Santo André, dezessete
topônimos são decorrentes de processos de translação toponímica
(DICK: 2001). O nome original provém de diferentes elementos da
paisagem: nome de propriedade presentes no local, de curso d’água,
de igreja, de cordão de carnaval e da empresa responsável pelo
loteamento.
112
6.2.1 Jardim Utinga (ficha 03)
Em Parcelamentos em Santo André de 1930, é indicado junto
ao bairro Parque das Nações um bairro denominado Utinga,
posteriormente integrado àquele bairro.
O topônimo Utinga é igualmente encontrado em um dos
bairros destinados aos funcionários mais graduados de fábricas. Este
loteamento, aberto pela família Pujol na década de 1920, mantém
este nome até da década de 1990 (Parcelamentos em Santo André,
1945, 1970 e 1990), sendo posteriormente incorporado ao bairro
Campestre.
O córrego Utinga, limite entre Santo André e São Caetano do
Sul, banhava apenas este segundo loteamento. Por translação
toponímica, contudo, passou a dar nome a diversas propriedades da
região.
Entre elas, entre os anos 40 e 50, destaca-se a região às
margens do ribeirão Oratório ocupada por migrantes vindos do
interior ou de outras cidades do ABC, que pagavam aluguel mais
barato neste local. Eram terras ocupadas por um grande campo de
boiada de Leandro Soares, grande proprietário da região, que
posteriormente viria a ser o distrito de Utinga.
O loteamento foi implantado num período em que era mais
intensa a ocupação urbana de Santo André. Não havia luz elétrica,
nem qualquer outro benefício. Antes do processo de urbanização, as
terras desta área eram vendidas como sítios ou chácaras, em grandes
porções.
Os moradores construíam barracos de madeira como forma
provisória de habitação, enquanto seus proprietários acumulavam
recursos para a substituição por casas de alvenaria. A igreja de Santa
Isabel foi construída em mutirão pelos moradores, conforme
depoimento do morador José Maria Afonso Pires (MEDICI: 1992, 24).
113
A precariedade das terras pode ser sentida pelo mapeamento:
o bairro Jardim Utinga só é indicado em Parcelamentos em Santo
André de 1970, sem qualquer referência em 1945.
Em 2006, o bairro Jardim Utinga ocupava 0,52 km
2
e tinha
uma população estimada de 5.716 moradores. (SANTO ANDRÉ: 2007,
46).
6.2.2 Parque Oratório (ficha 08) e Parque Novo Oratório (ficha 09)
Santos (1992, 226) informa que “pelo menos cinco grandes
imóveis que antigamente abrangiam o território do (...) distrito de
Utinga e (...) de Capuava, em Santo André” eram chamados Oratório,
a maior parte deles pertencente à família de Leandro Soares.
Leandro Soares era casado com Maria Joaquina e chegou à
área do rio Tamanduateí em 1834, quando obteve terras por doação
de Elias Fernandes. Em inventários de Soares realizados em 1860,
após seu falecimento, arrolaram-se duas propriedades denominadas
Tinga e Assemblea, no Bairro do Tamanduatei.
Um dos herdeiros de Leandro Soares, Manoel Leandro Soares,
aumentou a área do sítio Assemblea em 1870, comprando terras de
Antonio Cardoso Leite Franco, era um dos proprietários da enorme
fazenda Oratório.
A realização do loteamento da fazenda Oratório ocorreu na
década de 1940, aproveitando a antiga via que possibilitava acesso
de São Paulo a Santo André, chamada estrada do Oratório e hoje é a
rua Oratório.
A abertura do bairro Parque Oratório é de 1948 e foi realizada
pelo loteador Cezar Sergenti Rossa. No ano seguinte, a empresa
loteadora Rossa Imobiliária inicia o loteamento do bairro Parque Novo
114
Oratório, limítrofe ao bairro Parque Oratório, concluído apenas em
1950.
A ocupação do Parque Novo Oratório, que é o maior
loteamento urbano de Santo André, levou toda a década de 50 e o
início dos anos 60 (MEDICI: 1992, 29).
No mapa Parcelamentos em Santo André de 1970, ambos os
bairros são indicados. Em 2006, o bairro Parque Oratório ocupava
1,05 km
2
e tinha uma população estimada de 12.667 moradores; o
bairro Parque Novo Oratório, por sua vez, 1,28 km
2
e tinha uma
população de 16.311 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
6.2.3 Jardim Itapoan (ficha 11)
O córrego Itapoan é o limite entre os municípios de Santo
André e Mauá. O bairro Jardim Itapoan não é cortado ou cruzado por
este curso d’água, do qual se apresenta nas proximidades.
As terras ocupadas por este bairro mantiveram-se com
características rurais até o início da década de 1990, quando foram
submetidas a um moderno sistema de planejamento que criou
espaços de vivência no bairro, privilegiando o pedestre com calçadas
largas e ilhas de segurança nas ruas (depoimento de Nelson Zanoti).
Trata-se de um bairro de extensão limitada – 0,32 km
2
–,
loteado em 1980 e cuja população foi estimada em 3.042 moradores
em 2006 (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
6.2.4 Santa Teresinha (ficha 13)
O bairro Santa Teresinha é loteado em 1927. Inicialmente, o
local foi chamado de Torrinha, sendo substituído com a construção da
igreja de Santa Terezinha.
115
Surge em função da instalação da indústria química da Rhodia
em 1919 e do matadouro da família Martinelli. O plano de loteamento
apresentava um estratégico traçado de ruas e quadras em círculo
arrojado, o qual já previa a escola e igreja da região.
Antes de completar 10 anos, o bairro já possuía luz elétrica e
serviço de jardineira e, nos anos 1940, chegam os correios.
Apresentava, contudo, problemas de enchentes, dada a localização
em plena várzea do Tamanduateí.
A empresa loteadora – Sociedade Territorial Estação de São
Bernardo – divulgou o empreendimento anunciando-o na Folha do
Povo, em 1928, como: "Terrenos à vista e a prazo até quatro anos,
sem juros. Prestações mensais mínimas. Desenvolvimento e
valorização incontestáveis. Arruamento caprichoso segundo moderno
plano perfeito".
A distância da estação e o solo alagadiço afugentavam os
compradores. Os primeiros moradores foram eslavos, húngaros e
lituanos. O número destes imigrantes era tão significativo que um
padre húngaro vinha mensalmente de São Paulo para rezar missa na
igreja de Santa Terezinha. Era a missa dos húngaros, às 11 horas.
A partir de 1929, chegaram migrantes da região de Socorro. O
número de moradores provenientes deste local levou a igreja a
comemorar anualmente a festa de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, no dia 15 de agosto (MEDICI: 1992, 33).
Em 2006, o bairro Santa Teresinha ocupava 1,51 km
2
e tinha
uma população estimada de 7.376 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
46).
6.2.5 Bangu (ficha 14)
O bairro Bangu engloba os diversos loteamentos, como bairro
da Estação, Vila Nelsom, Jardim do Carmo e Parque Central, criados a
116
partir da década de 1910 ao longo do vale do Tamanduateí e dos
trilhos da São Paulo Railway, com a instalação da unidade química da
Rhodia.
Bangu era o apelido da Vila São Pedro, topônimo
originalmente atribuído ao bairro. Este nome é proveniente do maior
cordão de carnaval da cidade formado pelos empregados, na maioria
cariocas, do matadouro da família Martinelli (MEDICI: 1992, 32).
Em 2006, o bairro Bangu ocupava 0,53 km
2
e tinha uma
população estimada de 4.619 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
6.2.6 Parque Jaçatuba (ficha 17)
O topônimo deve-se ao sítio Jaçatuba. O primeiro documento
referente a esta propriedade data de abril de 1856, quando pertencia
a João José Barbosa Ortiz, que o herdara do pai, o tenente Francisco
Barbosa Ortiz.
Era um sítio de grandes dimensões, que englobava os atuais
Parques Jaçatuba, João Ramalho, Erasmo Assunção, Vilas Bartira,
São Pedro e Curuça, Jardins Alzira Franco, Nice e Monte Líbano.
Em 1915, Erasmo Teixeira Assunção comprou uma parte do
sítio Jaçatuba. A outra parte foi adquirida por José Augusto Leite
Franco, em 1922. A urbanização do velho sítio foi iniciada em 1925,
com a abertura do loteamento do bairro Vila Curuça, topônimo tirado
do cavalo preferido dos irmãos Assunção.
Somente na década de 1950 é que outros loteamentos foram
abertos na imensa área. Isto porque a chegada da unidade têxtil da
Rhodia, a Rhodiaseta, ocorrida em 1929, não influenciou na expansão
urbana desta parte de Santo André, ao menos antes dos anos 1950 e
1960.
117
O Parque Jaçatuba foi planejado em 1955, passou por vários
proprietários e ganhou a sua atual característica de grandes lotes e
com casas espaçosas, a partir dos últimos anos da década de 1960
(MEDICI: 1992, 41).
Após a década de 1990, o Parque Jaçatuba incorporou outros
bairros que surgiram no mesmo período: o Jardim Nice, topônimo
decorrente da empresa loteadora Fiação e Tecelagem Nice, e o
Jardim Monte Líbano (Parcelamentos em Santo André de 1990).
Em 2006, o bairro Parque Jaçatuba ocupava 0,64 km
2
e tinha
uma população estimada de 4.178 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
47).
6.2.7 Parque Capuava (ficha 22)
Na década de 1930, as terras que hoje fazem parte do Parque
Capuava pertenciam ao paulistano Alcântara Machado, que possuía
uma olaria no local. Em 1957, em uma área deserta ao lado da
Refinaria de Capuava, instalada pelo Grupo União em 1954, as
primeiras ruas do bairro Parque Capuava, que recebe o nome da
refinaria, são abertas, por iniciativa do proprietário.
A olaria de Alcântara Machado forneceu tijolos para a
construção das primeiras casas do bairro, casas essas pertencentes a
funcionários da São Paulo Railway (PASSARELLI: 1994, 56).
O Grupo União desejava inicialmente instalar sua fábrica no
Rio de Janeiro. Por interferência do governo, o local para a
construção da refinaria foi estrategicamente escolhido no caminho
entre Santos e São Paulo.
A refinaria, contudo, influiu negativamente no meio ambiente
e, para minimizar os efeitos, comprou muitas terras ao seu redor
118
para impedir a abertura de novos loteamentos. Nessas terras estão
hoje as indústrias do pólo petroquímico (MEDICI: 1992, 51).
Em 2006, o bairro Parque Capuava ocupava 2,13 km
2
e tinha
uma população estimada de 18.118 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 46).
6.2.8 Vila Floresta (ficha 38)
A área ocupada pelo bairro Vila Floresta era cortada pelo
caminho do Pilar, acesso dos moradores da Vila de São Bernardo à
estação da SPR. Eram diversas chácaras pertencentes a José de
Oliveira Preto e Faustina Maria E. Santo e chamadas de sítio Rio
Abaixo.
Segundo depoimento de Ana Gambini Scarpelli, “para ir até a
escola era preciso andar uns dois quilômetros pelo mato do Gavião”,
pertencente a Francisco Mariano de Barros, parte da atual Vila
Floresta (MEDICI: 1992).
Apesar dos planos de abertura dos lotes na década de 1940
pela empresa Sociedade Civil Vila Floresta, a qual dá nome ao bairro,
o loteamento só foi realizado em 1953 (GAIARSA: 1991).
Em 2006, o bairro Vila Floresta ocupava 0,69 km
2
e tinha uma
população estimada de 7.739 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
6.2.9 Paraíso (ficha 45)
Em 1927, foi construída a igreja Nossa Senhora do Paraíso, no
local posteriormente ocupado pelo bairro Paraíso. Logo depois, alguns
moradores são atraídos para as proximidades da orada, da qual
recebe o nome, e um bairro rural é formado. O loteamento, que
119
proporcionou a urbanização do local, só é realizado em 1965
(MEDICI: 1992, 55).
Após a década de 1990, o bairro Paraíso incorpora o Jardim
Cambuí (Parcelamentos em Santo André de 1990), designação
decorrente de uma “árvore delgada de cuja madeira não se faz uso e
que dá uma flor branca e o fruto amarelo, de mesmo nome” (CUNHA:
1978).
Em 2006, o bairro Paraíso ocupava 0,85 km
2
e tinha uma
população estimada de 5.126 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
6.2.10 Silveira (ficha 57)
O nome do bairro Silveira provém do topônimo sítio Silveira, o
qual, século XIX, pertencia a Manoel Joaquim da Silveira. É uma das
poucas denominações do século XIX que se mantém, tanto
oficialmente quanto como referência da população, até os dias atuais.
Esta propriedade apresenta registros que remontam a 1826 e
era localizada no antigo caminho do Pilar, que demandava a Mogi das
Cruzes, antes ainda da era ferroviária, onde estavam a capela dos
Carvoeiros, a olaria de Jacó Savoia e o curtume dos Lamberti. A
primeira casa de alvenaria, construída na esquina da rua Natal com a
avenida Santos Dumont, contudo, só foi construída em 1913, a qual é
ainda preservada.
A área foi ocupada por poloneses que chegaram ao Brasil a
partir de 1877 para substituir mão de obra escrava, mas
primeiramente se fixaram em Capivary, São Bernardo do Campo. Era
cortada pelo Caminho do Pilar (MONTEIRO: 1995).
Em 2006, o bairro Silveira ocupava 0,5 km
2
e tinha uma
população estimada de 3.111 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
120
6.2.11 Vila Vitória (ficha 61)
O bairro Vila Vitória foi loteado em 1953. Seu nome teve
motivação na igreja da Vitória em homenagem a Santa Joana D`Arc,
cuja imagem foi entronizada em 10 de dezembro de 1948 (GAIARSA:
1991). Em 2006, ocupava 0,39 km
2
e tinha uma população estimada
de 3.031 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 36 e 47).
6.2.12 Jardim Guarará (ficha 67)
O topônimo bairro Jardim Guarará é proveniente do córrego
Guarará, afluente do Tamanduateí que cruza a sul o município de
Santo André. De origem tupi, a palavra guarará significa “o tambor
usado pelo gentio”, “o manhoso, o investigador” ou ainda remeter a
variedades de peixes, da família dos ciprinodontideos ou ruivocas
(SOUZA: 1587).
Na década de 1940, é aberto o loteamento bairro Vila
Guarará, limitado pelo ribeirão Guarará e cruzado pela então avenida
Guarará, posteriormente avenida D. Pedro I (Parcelamentos em
Santo André, 1945).
O bairro Jardim Guarará é aberto posteriormente, distante do
córrego e do caminho, entre os bairros Vila Luzita e Jardim
Aclimação, limitado pela avenida São Bernardo (Parcelamentos em
Santo André, 1970).
Após a década de 1990, desaparece a Vila Guarará, o mais
antigo bairro deste nome, permanecendo apenas o Jardim Guarará
(Parcelamentos em Santo André de 1990).
121
6.2.13 Sítio dos Vianas (ficha 68)
O bairro Sítio dos Vianas é limitado pelos bairros Jardim Santa
Cristina, Jardim Guarará, Jardim Irene e Cata Preta e pelo município
de São Bernardo do Campo. Trata-se de um espaço tardiamente
ocupado e sem planejamento, sendo que, já no mapa Parcelamentos
em Santo André de 1990, há a indicação da existência de favelas
junto à indicação deste topônimo.
Na época do Primeiro Império, a propriedade rural sítio dos
Vianas possuía mais de 10 milhões de metros quadrados. Suas terras
abrangiam áreas dos atuais municípios de Santo André e São
Bernardo. O proprietário destas terras era Miguel Alves Vianna, filho
de José Vianna e Tereza Maria Vianna e casado com Maria Joaquim
de Jesus, conhecida como Maria Colasso.
Miguel faleceu em 1834, e o inventário do sítio, em processo
judicial, só terminou no início da segunda metade do século XX, o que
significa que a partilha da área ocorreu aproximadamente 120 anos
após a morte de Miguel Alves Vianna. Com essa demora e o
crescimento do numero de herdeiros, proliferaram os problemas de
grilagem das terras, o que deu espaço para o surgimento de uma das
maiores favelas de Santo André, da qual os próprios moradores
denominaram as ruas: Minas, Árvores, Mutirão, Tortuosa, etc. As
ruas eram abertas pelos próprios moradores utilizando enxadões,
invadindo matas e barrancos desocupados (BARBOSA: 1971).
A partir da década de 1950, nas terras do sítio dos Viannas,
foram abertos os seguintes loteamentos: Vila Tibiriçá, Vila Lutécia; a
partir dos anos 60, o Jardim Aclimação, Jardim Vila Rica, Jardim Irene
e Jardim Europa; e, a partir dos anos 80, formou-se a favela do Sítio
dos Vianas, hoje urbanizada e transformada em bairro (MEDICI:
1992).
122
Em 2006, o bairro Sítio dos Vianas ocupava 0,61 km
2
e tinha
uma população estimada de 8.145 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
47).
6.2.14 Vila Humaitá (ficha 75)
A área do bairro Vila Humaitá integrava o sítio dos Ribeiros,
propriedade de Francisco Porciúncula com registro na Paróquia de
São Bernardo de 1856. Ainda no século XIX, Antonio Queirós dos
Santos comprou estas terras que foram herdadas por sua filha Jovita.
Na década de 1920, Cincinato Reichert, casado com Jovita,
loteou esta propriedade, então chamada chácara Humaitá. Em 1932,
o engenheiro Mário Guindani, que fixara residência em Santo André,
concretizou este desejo de Reichert, dando origem ao bairro
estritamente residencial denominado Vila Humaitá (GAIARSA: 1991).
Em 2006, este bairro ocupava 0,43 km
2
e tinha uma
população estimada de 3.356 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
6.2.15 Vila Suíça (ficha 80)
Loteada parcialmente em 1947, de forma lenta, e, em uma
segunda etapa em 1956, o bairro Vila Suíça é ocupado
predominantemente por migrantes e trabalhadores das indústrias da
região.
Originalmente, esta propriedade era denominada Sertão dos
Beber. Em 1891, Lewis Zubhul e sua esposa Maria Galliker Zumbhul,
que chegaram a Santo André em 1885, adquiriram terras de Antônio
Queiroz dos Santos neste local.
123
Fundaram, então, a chácara Suissa, local em que morava o
casal e seus filhos, Guido, Frederico, Flora e Luiza, esta última, a
mais velha, nascida em Zurique em 1875. O topônimo bairro Vila
Suíça é proveniente, portanto, do nome daquela propriedade
(MEDICI: 1992).
Em 2006, o bairro Vila Suíça ocupava 0,48 km
2
e tinha uma
população estimada de 9.982 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
6.2.16 Jardim Santo André (ficha 81)
O Jardim Santo André fazia parte da gleba de terras
pertencentes ao Banco Munhoz. Foi loteado pela Imobiliária Santo
André, da qual provém o nome do bairro, entre 1949 e 1953
(MEDICI: 1992).
A atribuição do nome do loteamento a partir do da empresa
loteadora também é visível no caso do bairro Imobiliária Lar Paulista,
o qual é incorporado por outros bairros antes de 1990 (Parcelamentos
em Santo André de 1970 e 1990).
O Jardim Santo André tinha uma área de 2,11km
2
e possuía
uma população estimada em 30.915 habitantes em 2006 (SANTO
ANDRÉ: 2007, 47).
6.3 Conclusões parciais
A falta de continuidade entre a vila de João Ramalho e a Santo
André do século XX é visível pelos topônimos atribuídos aos
elementos geográficos neste segundo momento, de urbanização da
região.
124
mapa 08. Nomes descritivos e derivados de translação toponímica.
Poucas são as referências a antigos nomes, tendo em mente
que a emancipação do município baseou-se em suposta antiguidade
na ocupação de suas terras, destacando-se apenas alguns cursos
d’águas que dão nome aos bairros formandos, não necessariamente
junto às suas margens.
Paralelamente, estes poucos topônimos não são utilizados
significativamente na atribuição de nomes aos loteamentos, entre os
quais se destacam o bairro Silveira, o qual fixa parcialmente o antigo
topônimo sítio Silveira, e o bairro sítio dos Vianas, que lentamente
perde suas terras para a formação de loteamentos e de favelas.
125
Neste sentido, revela-se a não necessária contigüidade entre
topônimo original e novo elemento geográfico, no caso de processos
de translação toponímica. Verifica-se, assim, que aquele que atribui
nome, loteador ou proprietário, estabelece no local um novo sistema
para indicar a localização, ignorando antigos marcadores, mesmo os
físicos.
126
7 As homenagens e auto-homenagens
A estação São Bernardo foi instalada em meio à área rural.
Esta região, atual bairro Centro de Santo André, era formada por
terras de valor baixo e sem interesse comercial, especialmente por
encontrar-se distante de povoados já estabelecidos.
O local foi escolhido pela SPR e deveu-se a sua localização:
meio do caminho de três pólos em incipiente crescimento na época –
São Bernardo, Mogi das Cruzes e a região a sul da atual zona leste de
São Paulo – e proximidade de duas antigas estradas que permitiam
acesso a estes três pontos – o caminho do Pilar e a estrada do
Oratório.
No início do século XX, algumas indústrias passam a adquirir
terras para a construção de suas fábricas, como a Streiffer, a Kowaric
e a Seabra. Com a instalação dessas empresas, houve a necessidade
de prover local para a residência dos operários, o que levou ao
estabelecimento de loteamentos para atender a essa procura.
No entanto, estes proprietários não tinham interesse em
repartir suas extensas terras. A resistência, nestes casos, se explica
pelo fato de comumente medir-se a importância de um senhor rural
pelo tamanho de sua propriedade.
Os loteadores, para convencer os proprietários a venderem
suas terras, sugeriam que fossem dados aos loteamentos nomes que
perpetuassem seus nomes próprios, de família ou mesmo de
familiares. A partir dessa prática, o culto ao ego dos andreenses foi o
grande motivador da denominação dos bairros de Santo André.
127
7.1 Auto-homenagem ou homenagem ao proprietário/loteador
A auto-homenagem comportou-se de diferentes maneiras:
apenas apresentação do prenome do proprietário/loteador – Vila
Camilópolis; pela combinação de prenome e apelido de família – Vila
Francisco Matarazzo, Parque Erasmo Assunção e Vila Homero Thon; e
apenas do apelido de família – Vila Aquilino, Vila Bastos, Vila
Scarpelli, Vila Assunção, Vila Pires, Vila Junqueira, Cata Preta, Parque
Gerassi e Jardim Marek.
São expostos os processos para estabelecimento dos
loteamentos e as características dos bairros e explicitadas as causas
de atribuição destes topônimos a seguir.
7.1.1 Vila Camilópolis (ficha 02)
O loteamento que deu origem ao bairro Vila Camilópolis foi
realizado por Camilo Pedutti, o qual outorgou o nome em auto-
homenagem combinado com o sufixo de origem grega "polis", com
significado de "cidade do Camilo".
A abertura das primeiras ruas ocorreu em 1925; neste
primeiro momento, o loteamento recebeu o nome de Vila Splendor,
sendo pouco depois alterado para Vila Camilópolis, já que em
Parcelamentos em Santo André de 1930 já está anotado este
segundo topônimo. No projeto, o loteador cuidou de reservar grandes
áreas para a instalação de indústrias na região.
A despeito dos nomes oficiais, a Vila Camilópolis foi chamada
desde a origem até final dos anos 1950 de "vila sem reboque",
porque as casas do bairro, erguidas por migrantes do interior de São
128
Paulo e de estados vizinhos, permaneciam por longos anos sem
acabamento (MEDICI: 1992, 20).
Em 2006, o bairro Vila Camilópolis ocupava 1,29 km
2
e tinha
uma população estimada de 17.780 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 47).
7.1.2 Vila Francisco Matarazzo (ficha 07)
O bairro Vila Francisco Matarazzo foi loteado em 1950. A
formação deste loteamento visava a operários de classes mais baixas
recém-chegados à região, especialmente migrantes do interior e de
outras cidades do ABC.
Nestes casos, os moradores construíam barracos de madeira
como forma provisória de habitação. Quando estes proprietários
acumulavam recursos, substituíam-nas por casas de alvenaria
(MEDICI: 1992, 25).
Em 2006, o bairro Vila Francisco Matarazzo ocupava 0,35 km
2
e tinha uma população estimada de 5.068 moradores (SANTO
ANDRÉ: 2007, 47).
7.1.3 Parque Erasmo Assunção (ficha 18)
O bairro Parque Erasmo Assunção ocupa parte de terras que,
em abril de 1860, foram herdadas por João José Barbosa Ortiz, de
seu pai – o tenente Francisco Barbosa Ortiz –, sob a denominação de
sítio Jaçatuba.
Em 1915, o santista Erasmo Teixeira Assunção comprou
muitas terras em Santo André, tendo como sócio o seu irmão Antonio
129
Álvaro Assunção. Entre elas, comprou uma parte do sítio Jaçatuba. A
outra parte foi adquirida por José Augusto Leite Franco, em 1922.
O loteamento ocorreu em 1958. Erasmo Assunção guardava
neste bairro, em um barracão de pau-a-pique, os seus cavalos de
raça, cujos nomes utilizou para nomear outros loteamentos e ruas
por ele abertos (MEDICI: 1992, 41).
Em 2006, o bairro Parque Erasmo Assunção ocupava 0,67 km
2
e tinha uma população estimada de 8.373 moradores (SANTO
ANDRÉ: 2007, 47).
7.1.4 Vila Aquilino (ficha 27)
O bairro Vila Aquilino foi loteado em 1956. Trata-se de um
pequeno loteamento, entre os extensos bairros Santa Maria, Vila
Palmares e Vila Sacadura Cabral (Parcelamentos em Santo André,
1970 e 1990).
Em 2006, ocupava 0,11 km
2
e tinha uma população estimada
de 2.109 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 36 e 47).
7.1.5 Vila Bastos (ficha 34)
Em 1924, o bairro Vila Bastos foi loteado em parte das terras
das chácaras de Bastos e de Suplicy. Em 1947, após desapropriação
das áreas remanescentes daquelas propriedades, foram instaladas
unidades oficiais administrativas do município, a escola Américo
Brasiliense e a Praça IV Centenário (MEDICI: 1992, 39).
Em 2006, o bairro Vila Bastos ocupava 0,29 km
2
e tinha uma
população estimada de 3.423 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
130
7.1.6 Vila Scarpelli (ficha 40)
O bairro Vila Scarpelli ocupa terras que eram cortadas pelo
caminho do Pilar. No século XIX, era um sítio de 12 alqueires
chamado do Morro e pertencente a Faustina Maria do Espírito Santo.
Com a construção da SPR, aquele caminho passa a ser
utilizado pelos moradores da vila de São Bernardo para chegar à
estação de São Bernardo. Este sítio, então, passa a ser loteado aos
pedaços a partir da década de 1920 (MEDICI: 1992, 44).
A Vila Scarpelli é loteada entre as décadas de 1970 e 1990,
junto a outros bairros ao longo do caminho do Pilar próximos ao
município de São Bernardo do Campo, antiga vila de São Bernardo
(Parcelamentos em Santo André de 1970 e 1990). O nome foi dado
em homenagem ao então proprietário das terras loteadas, o italiano
Luiz Scarpelli.
Em 2006, o bairro Vila Scarpelli ocupava 0,77 km
2
e tinha uma
população estimada de 7.945 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
7.1.7 Vila Assunção (ficha 46)
O bairro Vila Assunção foi loteado em 1925, logo após a
abertura do bairro Vila Alzira. Este loteamento pertencia a uma área
maior, chamada de bairro Ipiranguinha, e abrigava o cemitério dos
bexiguentos, a primeira matriz, a Santa Casa (hoje Hospital
Municipal) e o campo de futebol (hoje Estádio Américo Guazzelli).
Ipiranguinha era o nome vulgar de uma fábrica financiada a
Agenor de Camargo pelo Coronel Seabra, que era o pai de sua esposa
Alzira SEABRA, uma das três primeiras a ser estabelecida nas
proximidades da Estação São Bernardo. Um dos terrenos desta área
pertencia à família Assunção, que mantinha uma chácara no local.
131
Após o estabelecimento do loteamento, o bairro foi ocupado
por trabalhadores da fábrica Ipiranguinha, predominantemente
imigrantes italianos vindos de outras regiões, inclusive da vila de São
Bernardo, que trocavam o ambiente rural pela fábrica.
Os moradores promoviam festas que se tornaram tradicionais,
como a dos napolitanos e do Divino. Nesta área também ficava a
fábrica de fogos que alimentava as festas da igreja (MEDICI: 1992,
54).
Em 2006, o bairro Vila Assunção ocupava 1,50 km
2
e tinha
uma população estimada de 12.925 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 47).
7.1.8 Vila Homero Thon (ficha 58)
Antes da formação do loteamento, a área ocupada pelo bairro
Vila Homero Thon era chamada Morro Vermelho. Neste local, Homero
Thon comprou uma chácara que abastecia o mercado da capital de
frutas (peras, maças e ameixas) e, via ferrovia, o de Santos de leite
produzido por gado holandês selecionado.
Homero Thon era filho de Lucien Antoine Thon e Emma Erman
Thon. Nasceu na Bélgica em 1866 e, com cinco meses, chegou com
os pais ao Brasil. Casou-se com Luiza Zumbhul, filha de Lewis
Zumbhul, dono da chácara Suíça, e tiveram quatro filhos – Arthur,
Oscar, Homero e Luciano, sendo que estes dois últimos mantiveram
atividades em Santo André, como fornecedor de leite e proprietário
de secos e molhados respectivamente.
O loteamento foi aberto em 1925. Inicialmente, os lotes eram
de pequenos sítios ou chácaras e, posteriormente, passaram a
132
apresentar características residenciais. Este loteamento foi povoado
principalmente por alemães.
O nome do bairro não foi apresentado pelo proprietário, mas
escolhido, por plebiscito, pelos moradores, que desejavam
homenagear Homero Thon por sua iniciativa (GAIARSA: 1991).
Após a década de 1990, o bairro Tijuco Preto, originalmente
um loteamento estritamente residencial formado nos anos 1930, foi
incorporado pelo bairro Vila Homero Thon (Parcelamentos em Santo
André, 1990).
Em 2006, o bairro Vila Homero Thon ocupava 1,20 km
2
e tinha
uma população estimada de 6.061 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
47).
7.1.9 Vila Pires (ficha 60)
Há várias notícias sobre a Vila Pires nos anos 1920. A
formação deste bairro tinha por objetivo atender à demanda por
espaços planejados que fossem nas imediações do então reduzido
centro urbano de Santo André.
Em 1928, setenta e nove quadras bem traçadas foram abertas
e atraentes lotes vendidos, alguns dos quais próximos à linha de
transmissão da Light. O comissário de café em Santos, Jorge de
Barros Pires, que abriu a Vila Pires, vendeu os primeiros lotes, mas
não resistiu à crise do café de 1929. Acabou hipotecando as áreas do
bairro que foram vendidas a F. Cuoco & Cia., segundo Júlio Amalio
Guazzelli, um dos antigos proprietários da área.
Como conseqüência, o desenvolvimento do bairro foi lento. As
primeiras escolas e benfeitorias urbanas chegaram anos depois e,
apenas nos anos 1950, foi implantado o cemitério Cristo Redentor e o
133
ginásio Pedro Dall’Antonia. O estádio municipal Bruno José Daniel só
foi inaugurado no final dos anos 1960 (MEDICI: 1992, 61).
Em 2006, o bairro Vila Pires ocupava 1,16 km
2
e tinha uma
população estimada de 8.353 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
7.1.10 Vila Junqueira (ficha 62)
O bairro Vila Junqueira foi loteado em 1955 por Artur
Junqueira, o qual dá nome ao local (GAIARSA: 1991).
Em 2006, o bairro Vila Junqueira ocupava 0,22 km
2
e tinha
uma população estimada de 2.212 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
47).
7.1.11 Cata Preta (ficha 72)
O bairro Cata Preta é limitado pelo Sítio dos Vianas, o parque
do Pedroso e o município de São Bernardo do Campo. Assim como o
Sítio dos Vianas, não foi realizado planejamento de loteamento para
este local, sendo parcialmente constituído por favelas. No ponto em
que se localiza o Cata Preta, não há referência a este topônimo nos
mapas Parcelamentos em Santo André (de 1906 a 1990).
O nome deste bairro é homenagem a antigo dono das terras:
o Capitão José de Oliveira Cata Preta, que foi prefeito de São
Bernardo entre os anos 1892 e 1896 (GAIARSA: 1991).
Em 2006, o bairro Cata Preta ocupava 1,34 km
2
e tinha uma
população estimada de 5.793 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
134
7.1.12 Parque Gerassi (ficha 85)
O bairro Parque Gerassi foi loteado em 1972 em terras que
pertenceram a Homero Thon e integravam antigo sítio dos Ribeiro,
também conhecido como sítio Cassaquera, registrado na Paróquia de
São Bernardo desde 1856 (MEDICI: 1992).
Em 2006, ocupava 0,40 km
2
e tinha uma população estimada
de 4.145 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 36 e 47).
7.1.13 Jardim Marek (ficha 86)
O bairro Jardim Marek foi loteado em 1982. Trata-se do último
loteamento aberto nas terras do antigo sítio dos Ribeiros, pertencente
a Homero Thon (MEDICI: 1992).
Em 2006, ocupava 0,18 km
2
e tinha uma população estimada
de 1.798 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 36 e 46).
7.2 Homenagem a parentes do proprietário/loteador
Apresentaremos a seguir os nomes caracterizados como de
homenagem cuja designação remete a alguém a quem o loteador era
ligado afetivamente.
7.2.1 Vila Lucinda (ficha 06)
O bairro Vila Lucinda foi loteado em 1938. Os terrenos foram
comprados principalmente por migrantes do interior e de outras
cidades do ABC.
135
Assim como a Vila Francisco Matarazzo, os moradores
construíam inicialmente barracos de madeira como forma provisória
de habitação, os quais eram mantidos até que recursos necessários
ao estabelecimento de casas de alvenaria fossem acumulados por
seus proprietários (MEDICI: 1992, 25).
Em 2006, o bairro Vila Lucinda ocupava 0,59 km
2
e tinha uma
população estimada de 7.914 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
7.2.2 Jardim Ana Maria (ficha 12)
O bairro Jardim Ana Maria integrava, no século XIX e início do
XX, a extensa fazenda Oratório, que extrapolava a área atual de
Santo André e atingia a zona leste de São Paulo e o município de
Mauá (antigo Pilar). Nas primeiras décadas do século XX, a área foi
parcialmente ocupada pela fazenda da Juta, projeto de Nestor de
Barros, herdeiro daquela propriedade, para estabelecimento de
fábrica no local.
A partir dos anos 1940, Nestor de Barros planeja lotear suas
terras. A abertura das ruas, contudo, só foi realizada entre 1956 e
1957 pelo loteador Raul de Barros. A demora deveu-se a preocupação
do proprietário em estabelecer um processo de ocupação sofisticado.
Os lotes eram grandes, em média de 300 metros quadrados, e
custavam mais em uma época de ofertas populares.
Outro desejo de Nestor de Barros, segundo depoimento de
Nelson Zanotti, era pela formação de três diferentes loteamentos aos
quais outorgaria o nome de cada uma de suas filhas: Ana Maria de
Barros, Silvia Maria de Barros e Sonia Maria de Barros. Em 1970,
contudo, os bairros Jardim Silva Maria e Jardim Sonia Maria já tinham
sido incorporados ao Jardim Ana Maria (Parcelamentos em Santo
André, 1970).
136
Em 2006, o bairro Jardim Ana Maria ocupava 0,56 km
2
e tinha
uma população estimada de 4.710 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
46).
7.2.3 Jardim Rina (ficha 20)
O bairro Jardim Rina foi loteamento em meados da década de
1970. O nome é homenagem de Antonio Dal’Molin a sua esposa, Rina
Vezzá, natural de Veneto, Veneza, com quem teve duas filhas: Mércia
Maria e Tânia Tereza.
As ruas do loteamento foram denominadas em homenagem a
sindicalistas e militantes populares falecidos que habitavam a região,
conforme lei municipal 6848/91 (MEDICI: 1992, 45).
Em 2006, o bairro Jardim Rina ocupava 0,22 km
2
e tinha uma
população estimada de 1.952 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
7.2.4 Jardim Alzira Franco (ficha 21)
O bairro Jardim Alzira Franco, loteado em 1963, era parte do
sítio Jaçatuba, que em abril de 1856 pertencia a João José Barbosa
Ortiz. Em 1915, parte do sítio Jaçatuba foi vendida a Erasmo
Assunção. A outra parte foi vendida a José Augusto Leite Franco em
1923, responsável pelo loteamento do bairro Jardim Alzira Franco
(MEDICI: 1992, 41).
José Augusto era o primogênito de Antonio Cardoso Franco e
Ana Josefina de Araujo Franco, que adquiriram a fazenda Oratório em
1850. Foi professor por mais de 35 anos e era casado com Alzira
Franco, que homenageou em nome do bairro (Diário do Grande ABC
de 27 de agosto de 1969).
137
Em 2006, o bairro Jardim Alzira Franco ocupava 0,98 km
2
e
tinha uma população estimada de 7.426 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 46).
7.2.5 Vila Guiomar (ficha 30)
A área ocupada pelo bairro Vila Guiomar era propriedade de
Gottlieb Ellert, o qual outorgou ao bairro o nome de sua filha,
Guiomar Ellert.
Foi loteada por José Pires Castanho no início dos anos 1920 e,
cinco anos depois, já estavam vendidos 210 lotes dos 232 oferecidos,
cujos lotes eram destinados a trabalhadores locais de baixa renda
(MEDICI: 1992).
Quando as ruas foram abertas, a atual rua da Catequese já se
encontrava aberta, permitindo acesso deste loteamento ao centro de
Santo André e ao município de São Bernardo do Campo. Apesar da
rápida ocupação do bairro, ainda não há referências a ele no mapa
Parcelamentos em Santo André de 1930.
Em 2006, o bairro Vila Guiomar ocupava 1,00 km
2
e tinha uma
população estimada de 11.720 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
47).
7.2.6 Vila Alice (ficha 36)
Assim como o bairro Vila Guiomar, Vila Alice era originalmente
propriedade de Gottlieb Ellert. Este loteamento foi aberto em 1953, e
o nome atribuído pelo proprietário em homenagem a sua filha Alice
Ellert (GAIARSA: 1991).
138
Em 2006, o bairro Vila Alice ocupava 0,232 km
2
e tinha uma
população estimada de 2.637 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
7.2.7 Vila Gilda (ficha 42)
O bairro Vila Gilda ocupa área que pertencia a Manoel José de
Lima em meados do século XIX, o qual possuía um sítio no local onde
o loteamento, limitado pelo caminho do Pilar, foi aberto.
Inicialmente, em 1926, foi loteamento em pequenas chácaras
para a criação de porcos e produção de tijolos, formando um mercado
de trabalho que atraiu migrantes de outras cidades e do interior
paulista. A venda de lotes de perfil residencial é iniciada em 1935
(GAIARSA: 1991).
Após a década de 1990, a Vila Gilda incorporou outros três
bairros que, originalmente, integram o sítio de Manoel José de Lima:
Jardim do Pilar, cujo nome é decorrente de caminho homônimo; Vila
Bandeirantes, topônimo em homenagem aos bandeirantes da época
colonial; e Vila Apiaí, em referência ao córrego Apiaí, localizado
distante deste loteamento aberto por Henrique Fichter na década de
1940 (MONTEIRO: 1995).
Em 2006, o bairro Vila Gilda ocupava 0,44 km
2
e tinha uma
população estimada de 3.083 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
7.2.8 Jardim Stela (ficha 43)
Assim como o bairro Vila Gilda, o Jardim Stela também foi
loteado em terras que, no século XIX, pertenciam a Manoel José de
Lima. Neste local se concentrou grande número de olarias, entre as
quais a de Francesco Guelfo Dalla.
139
Segundo depoimento de Emilio Magalhães,
numa sexta feira, na porta da Pirelli, nós distribuímos
folhetos de propaganda de 1200 lotes no Jardim Stella. No
sábado e domingo seguinte vendemos 400 lotes. Em 30 dias
terminamos de vender o resto. (MEDICI: 1992, 55)
Em 2006, o bairro Jardim Stela ocupava 0,84 km
2
e tinha uma
população estimada de 7.621 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
7.2.9 Vila Alzira (ficha 48)
Assim como a Vila Assunção, esta área era chamada
genericamente de bairro Ipiranguinha, no qual se iniciou loteamento
ainda na primeira década do século XX.
O nome deste bairro é proveniente da fábrica Ipiranguinha,
financiada a Agenor de Camargo pelo Coronel Seabra, pai de sua
esposa – Alzira Seabra.
A ocupação daquele bairro por trabalhadores da fábrica
Ipiranguinha, predominantemente imigrantes italianos, levou à
crescente urbanização da região. A iniciativa de formação de um novo
loteamento foi do próprio Agenor de Camargo, o qual homenageou a
esposa em nome do bairro (MEDICI: 1992, 53).
Em 2006, o bairro Vila Alzira ocupava 0,89 km
2
e tinha uma
população estimada de 7.932 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
7.2.10 Jardim Cristiane (ficha 49)
O bairro Jardim Cristiane foi loteado em 1968 (SANTO ANDRÉ:
2007, 36). Este bairro é indicado sob a denominação Jardim Cristiana
nos mapas Parcelamentos em Santo André de 1970 e 1990.
140
O nome é decorrente de homenagem da primeira neta de
Rubens Audino e Lourdes Freitas Guimarães e bisneta de Bruno
Audino, primeiro membro da família Audino a chegar ao Brasil, por
volta de 1897 (ASSUMPÇÃO, GAIARSA e MANIAS NETO: 1995, 3-4).
Estas poucas casas da foto pertencem ao Jardim Cristiane,
próximo ao Jardim Oriental, em Santo André. Ele é novo,
ainda está nascendo. Vai ser um bairro estritamente
operário. De casas humildes, algumas cercadas, outras não.
É mais um povoado dessa cidade gigante. (Diário do Grande
ABC, 13 de junho de 1968)
Em 2006, o bairro Jardim Cristiane ocupava 0,58 km
2
e tinha
uma população estimada de 9.018 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
47).
7.2.11 Jardim Milena (ficha 51)
O bairro Jardim Milena foi loteado em 1988. Limitado pelo
Haras S. Bernardo, apresentava, em 1990, favelas em sua área
(Parcelamentos em Santo André, 1990).
Em 2006, o bairro Jardim Milena ocupava 0,74 km
2
e tinha
uma população estimada de 4.395 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
36 e 47).
7.2.12 Vila Linda (ficha 54)
O loteamento que deu origem ao bairro Vila Linda foi o
primeiro desta região, aberto em 1948. Segundo depoimento de
Octavio Paganini
a vila era muito pobrezinha. Não tinha luz, não tinha
condução, não tinha padaria, não tinha nada. Pra comprar
141
uma folha de papel, um caderno, era preciso ir até o centro
de Santo André. Da padaria Piauí para cá a (rua) Carijós não
era pavimentada. Quando chovia, os ônibus não chegavam.
Só vinham quando o tempo estava bom. A prefeitura não
trazia obras com facilidade. Ia fazendo com o tempo. Não
tinha esgoto. Usamos fossa negra direto. Faltava água.
(MEDICI: 1992)
Inicialmente era uma pequena área, a qual foi, antes de 1970,
cercada por outros loteamentos de limitada extensão: Jardim
Guilherme, Conjunto Ana Maria, Jardim Nova Conceição, Jardim
Liana, Vila Luisa, Vila Renata, Vila Áurea, Vila Eldizia, Vila Bela Vista e
Jardim Progresso. Estes loteamentos possuíam um caráter popular
(Parcelamentos em Santo André de 1970 e 1990).
Após 1990, os pequenos bairros no entorno da Vila Linda
foram incorporados a este. Em 2006, o bairro Vila Linda ocupava 0,83
km
2
e tinha uma população estimada de 10.898 moradores (SANTO
ANDRÉ: 2007, 47).
7.2.13 Vila Marina (ficha 55)
O bairro Vila Marina, limitado pelo ribeirão Apiaí, foi loteado na
década de 1950. Diferente do conjunto de bairros incorporados à
atual Vila Linda, este permaneceu com sua designação e extensão e
apresentou um projeto de loteamento estruturado (Parcelamentos de
Santo André, de 1970 e 1990).
7.2.14 Vila Helena (ficha 56)
O bairro Vila Helena foi uma gleba loteada, em 1935, por José
Balbino de Siqueira, o qual outorgou o nome em homenagem a sua
esposa (GAIARSA: 1991).
142
Após 1990, incorporou o Jardim Cecília Maria, que tinha sido
em 1955. As ruas de ambos os bairros foram abertas em duas ou três
fases (Parcelamentos em Santo André de 1970).
Em 2006, o bairro Vila Helena ocupava 0,46 km
2
e tinha uma
população estimada de 5.767 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
7.2.15 Vila América (ficha 59)
O bairro Vila América foi loteado em 1928 em terras da família
Gazelli, a qual chegou ao Brasil em 1883, sendo registrada a entrada
de mais elementos da família até 1914.
O primeiro membro da família a adquirir terras em Santo
André foi Benigno Guazzelli, em 1911. Casou-se com Rosa (Rosina)
Bechelli e tiveram nove filhos: 1) Olímpia casada com Ernesto
Cianeglio e tiveram filhos: Neide, Maria Lucia, Odair e Eliana; 2)
Maria casou-se com Durval Penatti e tiveram filhos: Cláudio e Maria
Aparecida; 3) Sauli casou-se com Helena e não tiveram filhos; 4)
Joseph Casou-se com Aparecida e tiveram filhos: José Roberto, Ana
Maria e Salete; 5) Jacomo Casou-se com Ivone e tiveram filhos:
Rozemary e Wagner; 6) Sergio casou-se com Cleide e tiveram filhos:
Rosângela, Rosana e Rogério; 7) Miltom casou com Edite e tiveram
filhos: Telma, Tais e Adriana; 8) Geni casou com Aldair e tiveram
filhos: Denise e Cristini; 9) Oswaldo casou com Darcy e tiveram
filhos: Daniella e Mirella.
Além de Benigno, vieram para o Brasil os seguintes membros
da família Guazzelli: em 5/5/1883, Agostino e Stefano; em
27/1/1884, Samuele; em 3/5/1885, Samuele; em 11/1/1887, Luigi;
em 4/1/1888, Carlo Domenico; em 18/3/1888, Antonio e Michele; em
19/10/1888, Antonio; em 8/12/1888, Giuseppe; em 15/7/1891,
143
Stefano; em 22/3/1893, Giovanni; em 14/4/1893, Emilio; em
22/2/1914, Lorindo.
A indicação dos nomes dos filhos e netos de Benigno revela
que não há nenhum Américo entre eles. Já as pesquisas em registros
de entrada de imigrantes confirmam que Américo, nome do avô do
proprietário e homenageado no topônimo bairro Vila América, não
veio para o Brasil, como consta nos arquivos do Memorial do
Imigrante.
A partir da década de 1990, outros bairros foram incorporados
à Vila América: Vila Pedroso, Jardim Bueno, loteamento Vezza,
Jardim D. Maria (?) e loteamento Guazzelli (Parcelamentos em Santo
André de 1970 e 1990).
Em 2006, o bairro Vila América ocupava 0,49 km
2
e tinha uma
população estimada de 3.123 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
7.2.16 Vila Luzita (ficha 66)
O bairro Vila Luzita foi loteado em 1938, sendo limitado pelo
ribeirão Guarará e cruzado pela avenida São Bernardo (HENRIQUE:
1987).
A vila Luzita era um recanto campestre e com atrativos
naturais, onde se destacava um lago com uma pequena ilha no
centro. Era caracterizada como ponto de lazer. Eram famosos seus
carramanchões com mesas de piquenique (depoimento de Nelson
Zanoti).
Em 2006, ocupava 0,44 km
2
e tinha uma população estimada
de 4.663 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
144
7.2.17 Jardim Irene (ficha 69)
O loteamento do bairro Jardim Irene foi iniciado em 1951,
sendo divido em duas fases. Em 1990, parte deste bairro já estava
ocupada por favelas e, nos anos seguintes, incorporou os pequenos
bairros Vila Fernanda e Vila Alba (Parcelamentos em Santo André,
1970 e 1990).
Em 2006, o bairro Jardim Irene ocupava 0,41 km
2
e tinha uma
população estimada de 6.672 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
7.2.18 Vila Lutécia (ficha 79)
O bairro Vila Lutécia foi loteado oficialmente em 1979 (SANTO
ANDRÉ: 2007, 36). Em 27 de março de 1966, contudo, o jornal News
Seller, posteriormente Diário do Grande ABC, revelava a existência
deste bairro:
A já populosa Vila Lutécia é completamente ignorada pelos
poderes competentes. Trata-se de loteamento irregular. A
vila foi criada, em forma de loteamento, pelo Sr Alberto
Zirlis. Diante do terreno montanhoso, o prefeito Lauro
Gomes, em 1964, resolveu embargar as construções, pois
tinha consciência do perigo que as mesmas ofereciam, dada
a irregularidade do terreno. Com surpresa, porém, a
proibição foi relaxada e as casas construídas.
Em 2006, ocupava 0,23 km
2
e tinha uma população estimada
de 2.731 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
145
7.3 Conclusões parciais
Entre as causas de topônimos de bairros de Santo André
identificadas, verifica-se um número significativo de auto-
homenagens de loteadores ou proprietários ou homenagens a esses
ou parentes desses: 31 dos 88 nomes de bairros analisados. 0
mapa 09. Auto-homenagens e homenagens a loteadores/proprietários.
No caso de auto-homenagem ou homenagem a loteador ou a
proprietário, a maior parte destes topônimos foi atribuída na década
de 1950, apesar de alguns deles serem registrados entre os primeiros
146
bairros de Santo André e outros formados por volta da década de
1980.
Além disso, verifica-se o predomínio de apenas da
apresentação do apelido de família: 10 topônimos apresentam apenas
apelido de família; um, apenas prenome; e três, a combinação de
prenome e apelido de família.
Nota-se igualmente, a utilização de um primeiro formante
caracterizador do bairro, em especial “Vila”. Destes casos, excetua-se
apenas o topônimo bairro Cata Preta, o qual, conforme explicitado,
pode ser explicado em razão de não se tratar propriamente de auto-
homenagem, mas homenagem póstuma a antigo proprietário das
terras loteadas.
Já no caso de homenagens a parentes, entre os quais se
concentram os últimos loteamentos realizados em Santo André,
predomina a atribuição de apenas prenome, salvo o bairro Jardim
Alzira Franco, e de mulheres, exceto o bairro Vila América.
Trata-se de loteamentos de metragem mais modesta e a
existência de primeiro formante em todos os nomes registrados: sete
ocorrências de “Jardim” e onze de “Vila”.
147
8 Nomes sem relação propriamente dita com a
região
Neste capítulo, serão apresentados os nomes de bairros de
Santo André que não têm relação direta com a região e as causas
que levaram a sua atribuição. Revelam-se casos isolados de
homenagem a personalidades públicas e, especialmente, topônimos
formados visando à divulgação e à valorização dos lotes, estes
últimos atribuídos quando a especulação imobiliária já tinha chegado
à região.
8.1 Tradição e nacionalismo
A solicitação de emancipação de Santo André foi embasada em
uma suposta relação entre o bairro Estação de São Bernardo e a vila
de Santo André da Borda do Campo, o que, se não se justificasse por
uma questão administrativa, ao menos revelaria uma razão histórica
e, especialmente, de tradição e nacionalismo.
Nomes não conhecidos anteriormente em ruas e bairros ou
que não se mantiveram em uso ao longo dos séculos são atribuídos
por loteadores e proprietários. Estes topônimos revelam o desejo de
revestir de antiguidade o espaço, como é o caso dos bairros Parque
João Ramalho, Vila Bartira e Vila Tibiriçá, atribuídos por um mesmo
loteador.
Nomes em português que remetam ao nacionalismo adquirem
outro sentido: o topônimo bairro Vila Progresso, por exemplo, implica
em uma (inexistente) qualidade de vida. Os nomes em língua tupi
dão sonoridade e graça especial a topônimos de centenas de
148
localidades brasileiras. Os nomes com tais causas toponímicas
acabam inegavelmente por atender a uma finalidade de cunho
mercadológico.
8.1.1 Parque João Ramalho (ficha 19) e Vila João Ramalho (ficha 70)
O Parque João Ramalho era parte do sítio Jaçatuba de João
José Barbosa Ortiz. Em 1955, este sítio dividido em três partes, que
foram loteadas por Silvio Francisco. Atribui-se a cada lote um nome
em homenagem as figuras míticas da região: João Ramalho, Bartira e
Tibiriçá (SÁ: 2003; GAIARSA: 1991).
Antes de 1970, os bairros denominados Bartira e Tibiriçá
foram incorporados à Vila Curuçá e ao próprio Parque João Ramalho
(Parcelamentos em Santo André de 1970). O Parque João Ramalho
foi urbanizado a partir do ano 1956 e contava, em 2006, com uma
área de 0,85km
2
e uma população estimada em 16191 habitantes
(SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
Já o bairro Vila João Ramalho, loteamento limitado pelo
ribeirão Guarará, possuía área de 0,55km2 e uma população de 8608
moradores em 2006 (ibidem, 47).
8.1.2 Parque Marajoara (ficha 73)
O bairro Parque Marajoara foi loteado em 1982, como parte do
sítio dos Ribeiro. Em 2006, ocupava 1,13 km
2
e tinha uma população
estimada de 6.951 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 36 e 47).
149
8.1.3 Vila Guarani (ficha 74)
Originalmente, as terras ocupadas pelo bairro Vila Guarani
eram pequenos sítios e chácaras e fazia parte da antiga Vila Homero
Thon. Este bairro, caracterizado como bairro operário, foi loteado em
1950 por Ana Romana Marta, que recebera terras por herança
(GAIARSA: 1991). Em 2006, ocupava 0,40 km
2
e tinha uma
população estimada de 6.474 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
8.1.4 Vila Progresso (ficha 77)
O bairro Progresso foi loteado em 1950 para atender à
crescente demanda por habitações populares. Em 2006, ocupava
0,31 km
2
e tinha uma população estimada de 4.828 moradores
(SANTO ANDRÉ: 2007, 36 e 47).
8.1.5 Vila Tibiriçá (ficha 78)
O bairro Vila Tibiriçá, limitado pelo ribeirão Guarará e cruzado
pela avenida D. Pedro I, era parte da propriedade denominada Sertão
dos Beber. O loteamento foi realizado na década de 1950 e ocupado
basicamente por migrantes trabalhadores (MEDICI: 1992, 67).
Em 2006, o bairro Vila Tibiriçá ocupava 0,21 km
2
e tinha uma
população estimada de 2.272 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
8.1.6 Vila Guaraciaba (ficha 83)
As terras ocupadas pelo bairro Vila Guaraciaba foram, no
começo do século XX, vendidas por António Miguel Maria e Benedito
150
Modesto. Esta área passou a integrar um loteamento estritamente
residencial nos anos 1930, a Vila Humaitá.
As ruas da Vila Guaraciaba só foram abertas em 1951, e a
área foi totalmente ocupada, com exceção do sítio Cassaquera, onde
havia o Tancão da Morte, que foi transformado pela Prefeitura no
Parque Municipal Guaraciaba (MEDICI: 1992, 64).
Em 2006, este bairro ocupava 1,24 km
2
e tinha uma
população estimada de 8.279 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
8.2 Os nomes religiosos
A atribuição de nomes de santos sem a construção de oradas
no local é registrada em sete nomes de bairros de Santo André. É
possível que parte destes casos seja de homenagens indiretas a
parentes de loteadores ou de proprietários, santificando seus nomes.
Revelam, por outro lado, a diversidade religiosa da população de São
André.
8.2.1 Jardim Santo Antônio (ficha 04)
O loteamento que deu origem ao bairro Jardim Santo Antônio
foi aberto no final dos anos 1930, com o nome de Arraial Santo
Antônio. Na década de 50, foi ocupado por migrantes vindos do
interior e de outras cidades do ABC onde pagavam aluguel, em busca
de terras baratas.
Neste bairro também foi comum a construção de barracos de
madeira como forma provisória de habitação, enquanto não se
151
acumulava recursos para a substituição de tais barracos por casas de
alvenaria (MEDICI: 1992, 25).
Em 2006, o bairro Jardim Santo Antônio ocupava 0,78 km
2
e
tinha uma população estimada de 9.186 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 47).
8.2.2 Jardim Santo Alberto (ficha 10)
A área do atual bairro Jardim Santo Alberto integrava, no
século XIX e início do XX, a fazenda Oratório, que extrapolava a área
atual de Santo André e atingia a zona leste de São Paulo e o
município de Mauá (antigo Pilar).
Com o desmembramento da fazenda Oratório nas primeiras
décadas do século XX, a área foi parcialmente ocupada pela fazenda
da Juta, projeto de Nestor de Barros.
A fazenda da Juta atraiu pelo menos duas mil famílias do
interior de São Paulo para o cultivo de juta, rami e outras fibras entre
Santo André e São Paulo. Esta fazenda manteve-se em atividade
entre 1929 e 1948, quando começou a abertura de loteamentos e a
urbanização da área.
Parte destas terras foi comprada por Okada, um imigrante
japonês, e loteada em 1955 por Alberto Pecorari, dando origem ao
bairro Jardim Santo Alberto. Antes da urbanização, toda a área era
conhecida por outros nomes, não oficiais, segundo mapa elaborado
em 1984 por um antigo morador do Parque Novo Oratório, Domingos
Moscardini.
A venda de lotes no Jardim Santo Alberto, graças a seu baixo
preço, acabou sendo acelerada, apesar da existência de muitos
problemas, como o da comunicação com o centro: o meio de
152
transporte coletivo mais próximo parava no Parque das Nações
(MEDICI: 1992, 28).
Em 2006, o bairro Jardim Santo Alberto ocupava 0,39 km
2
e
tinha uma população estimada de 5.809 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 46).
8.2.3 Santa Maria (ficha 25)
O loteamento que deu origem ao bairro Santo Maria foi aberto
no início da década de 1920. Integrava o conjunto de terras do
caboclo Nhonhô Maria, como era chamado Antonio Miguel Maria,
caracterizadas como ponto de passagem entre Santo André e São
Caetano.
Nestas propriedades, abrigaram-se vários loteamentos ao
longo de duas grandes avenidas abertas para a ligação com São
Caetano. Seus loteadores, os Pujol, chegaram a criar um sistema de
transporte moderno para a época, baseado em bondes a vapor.
No bairro Santo Maria, havia um curandeiro muito popular,
Vicente Rodrigues Vieira, também conhecido como São Vicente
(MEDICI: 1992, 18; depoimento de Paschoalino Assumção).
Em 2006, o bairro Santa Maria ocupava 0,59 km
2
e tinha uma
população estimada de 4.816 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
8.2.4 Jardim Bom Pastor (ficha 39)
O bairro Jardim Bom Pastor foi loteado em 1950, em terras
desmembradas da Vila Valparíso. No início do século XIX, o local em
que se encontram estes bairros era propriedade de José Nóbrega de
153
Albuquerque, chamada sítio dos Nóbrega, e ficava fora do eixo do
caminho do Pilar (MEDICI: 1992, 44).
Em 2006, o bairro Jardim Bom Pastor ocupava 0,50 km
2
e
tinha uma população estimada de 4.494 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 46).
8.2.5 Jardim Santa Cristina (ficha 64)
O Jardim Santa Cristina foi loteado em 1966 e, em 2006, tinha
uma área de 0,30km
2
e uma população estimada em 6258 habitantes
(SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
8.2.6 Jardim Teles de Menezes (ficha 65)
Luís Olímpio Teles de Menezes, filho do Oficial do Exército
Fernando Luís Teles de Menezes e de D. Francisca Umbelina de
Figueiredo Menezes, nasceu na Bahia em 1828 e faleceu no Rio de
Janeiro em 16 de março de 1893. Foi um jornalista conhecido,
principalmente, como um dos pioneiros do espiritismo no Brasil
(WANTUIL: 1981, 114).
O bairro Jardim Teles de Menezes foi loteado em 1978 e
ocupava, em 2006, uma área de 0,50km
2
e com uma população
estimada em 9733 habitantes (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
8.2.7 Jardim Santo Antônio de Pádua (ficha 87)
O bairro Jardim Santo Antônio de Pádua foi o primeiro
loteamento na virada dos anos 70 para 80. Era parte do antigo sítio
154
dos Ribeiros, registrado por Francisco Porciúncula na Paróquia de São
Bernardo em 1856 (GAIARSA: 1991).
Em 2006, ocupava 0,14 km
2
e tinha uma população estimada
de 2.409 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
8.2.8 Cidade São Jorge (ficha 88)
O bairro Cidade São Jorge foi loteado em 1968 nas
proximidades de uma olaria, cujos tijolos produzidos eram destinados
as construções de Mauá e Santo André, e ao longo de uma pequena
estrada, a Estrada da Olaria. Seus lotes eram de 250 m
2
e foram
vendidos rapidamente. Era parte remanescente do sítio dos Ribeiro
ou sítio Cassaquera (GAIARSA: 1991).
Possuía, em 2006, uma área de 1,17km
2
e uma população
estimada em 11.761 habitantes (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
8.3 Homenagens a personalidades públicas e a animais
As homenagens realizadas em Santo André que não tratam
diretamente da região, como se tem visto, são limitadas e de causas
toponímicas esparsas. Revelam-se entre os casos isolados dois
antropotopônimos em que o homenageado não figura entre
moradores, loteadores ou parentes destes e um topônimo em
homenagem a animal de proprietário.
Estes dois nomes cuja homenagem é realizada a indivíduos
que não possuíam nenhum vínculo com a região são: Vila Príncipe de
Gales, o qual foi atribuído por um loteador de origem inglesa, e Vila
Sacadura Cabal, nome sugerido por um motorista de taxi e aprovado
155
em votação pública. O terceiro topônimo é Vila Curuçá, nome de
cavalo favorito de proprietário.
8.3.1 Vila Curuçá (ficha 16)
As terras ocupadas pelo bairro Vila Curuçá faziam parte do
sítio Jaçatuba, que, em abril de 1856, foram herdados por João José
Barbosa Ortiz. Em 1915, parte deste sítio foi vendida a Erasmo
Assumpção e outra parte, em 1922, foi vendida a José Augusto Leite
Franco.
O santista Erasmo Teixeira de Assumpção, bacharel em direito
pela São Francisco, formado em 1894, era industrial, membro da
Companhia São Paulo de Seguros, fazendeiro e banqueiro, tendo
fundado com o coronel José Paulino Nogueira o Banco Comercial de
São Paulo em 1912.
Além de parte do sítio Jaçatuba, Erasmo Teixeira Assumpção
comprou muitas outras terras em Santo André, tendo como sócio seu
irmão Antonio Álvaro Assumpção.
Curuçá, corruptela em tupi de “cruz”, era o nome do cavalo
predileto de Erasmo Teixeira Assumpção, que era grande apreciador
e possuidor de cavalos. Erasmo Teixeira Assunção Bisneto, em
entrevista, recorda-se de ter brincado muito na área das cavalariças,
mas não se lembra dos nomes dos cavalos.
Já Medici (1992, 41) revela que, ao lotear parte de suas terras
em 1928, Assunção atribuiu às ruas o nome de seus outros cavalos.
Curiosamente, todos os nomes eram de origem tupi: Anhaia,
Anhanguera, Anhembi, Apiaí, Arai, Aracati, Araguaia, Arujá, Aimberé,
Baturité. Todas essas ruas já constavam no Álbum de São Bernardo
de 1936.
156
Neste loteamento foi reservada uma parte da chácara que
hoje abriga o Parque Regional da Criança. Quando Erasmo
Assumpção se afastou da região por causa da crise imobiliária
decorrente da crise do café, as cocheiras dos seus famosos cavalos
foram invadidas e serviram de morada para famílias de baixa renda.
A partir do final dos anos 1940, começam a chegar os primeiros
nordestinos, atraídos pelas indústrias Rhodia, Kowarick e outras.
Em 2006, o bairro Vila Curuçá ocupava 1,42 km
2
e tinha uma
população estimada de 13.577 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
47).
8.3.2 Vila Príncipe de Gales (ficha 26)
O loteamento do bairro Vila Príncipe de Gales se deu em 1935,
na interligação entre o centro de Santo André e o bairro dos Meninos
(hoje Rudge Ramos, em São Bernardo). As terras e a empresa
loteadora eram do inglês Charles Murray, que era o executivo
principal da SPR. Logo este bairro passou a contar com luz elétrica,
telefone, escola e igreja.
Em 1950 surge um novo loteamento nessa área, denominado
bairro Tangará, no sítio Tangará, de propriedade do Coronel Diogo e
adquirido por Charles Murray, com 437 lotes. Este loteamento não
obteve sucesso, e a área foi declarada de utilidade pública, abrigando
hoje a Fundação Santo André, mantenedora do Centro Universitário
Fundação Santo André. Segundo um de seus moradores o sítio
Tangará "tinha 18 alqueires e nove campos de golfe, onde chegavam
a descer aviões" (MEDICI: 1992, 34).
Há uma informação (não confirmada) que, na propriedade de
Murray, teriam se hospedado os dois príncipes ingleses, Edward e
157
Albert, daí o nome de Príncipe de Gales (depoimento de Nelson
Zanoti).
Em 2006, o bairro Vila Príncipe de Gales ocupava 0,62 km
2
e
tinha uma população estimada de 3.310 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 47).
8.3.3 Vila Sacadura Cabral (ficha 28)
O nome do bairro Vila Sacadura Cabral é homenagem ao
aviador português que realizou a primeira travessia aérea de Lisboa
até o Rio de Janeiro. Este bairro foi loteado em 1952.
O nome foi dado por sugestão do motorista de praça que
transportou Sacadura Cabral durante estada do aviador em Santo
André, que visitava o sítio dos Tangarás pertencente a Charles
Murray, executivo da São Paulo Railway. O motorista ficou encantado
com a simpatia do herói nacional e sugeriu seu nome aos moradores
do local (MEDICI: 1992, 22).
Em 2006, o bairro Vila Sacadura ocupava 0,67 km
2
e tinha
uma população estimada de 9.939 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
47).
8.4 Nomes que se remetem a boas características
A atribuição de nomes que remetam a boas características
também é verificada em dois bairros de Santo André: Jardim das
Maravilhas e Jardim Alvorada. São nomes que não se encontravam
na região antes, conforme pesquisa realizada, e foram dados a fim de
158
atrair sensações agradáveis, não necessariamente condizentes com o
local.
8.4.1 Jardim das Maravilhas (ficha 05)
Antes de iniciar o processo de urbanização do bairro Jardim
das Maravilhas, as terras da região eram vendidas como sítios ou
chácaras, em grandes porções, das quais os herdeiros de Leandro
Soares eram proprietários de grandes extensões. O que viria a ser o
distrito de Utinga não passava de um grande campo de boiada
(depoimento de Paschoalino Assumção).
O loteamento Jardim das Maravilhas foi aberto no ano 1953 e
ocupado por migrantes vindos do interior e de outras cidades do ABC.
Eram lotes de baixo custo, nos quais eram construídos barracos de
madeira.
Mesmo com a manifestação mais concreta da urbanização em
Santo André a partir de meados da década de 50, os loteamentos
ainda preservavam muitas chácaras. Esta característica rural recente
pode ser exemplificada no depoimento de Maria Januária, migrante
de Minas Gerais. Ela veio para Santo André em 1947 e lembra que o
Jardim das Maravilhas era um pasto. Neste local não havia luz
elétrica, nem qualquer outro benefício (MEDICI: 1992, 24).
Em 2006, o bairro Jardim das Maravilhas ocupava 0,34 km
2
e
tinha uma população estimada de 4.094 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 47).
159
8.4.2 Jardim Alvorada (ficha 53)
O bairro Jardim Alvorada foi loteado a partir de 1964. Outro
loteamento de mesmo nome – o bairro Conjunto Alvorada – foi
registrado em 1970 em área distante daquele, sendo que este nome
não foi mais registrado no mapa Parcelamentos em Santo André de
1990.
Em 2006, este bairro ocupava 0,89 km
2
e tinha uma
população estimada de 12.457 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
46).
8.5 Homenagem à diversidade cultural e corotopônimos
A existência de corotopônimos, nomes criados a partir de
topônimo de outra localidade, foi registrada em oito bairros de Santo
André. A escolha destes nomes atende ao desejo de atribuir
características próprias a locais assim denominados ao bairro que é
criado: descontração – Jardim Jamaica e Vila Valparaíso; resistência –
Vila Palmares; tradição – Jardim Vila Rica; luxo – Vila Alpina, Jardim
Las Vegas e Jardim Ipanema; e riqueza – Centreville. Destaca-se o
topônimo bairro Parque das Nações pela homenagem a diversidade
cultural presente em Santo André.
8.5.1 Parque das Nações (ficha 15)
O bairro Parque das Nações foi loteado em 1925. Fazia parte
da fazenda do Oratório e foi ocupado primeiramente por europeus de
diversas origens, o que ocasionou a atribuição de seu nome. Muitos
santistas também vieram para o Parque das Nações em busca de
clima mais ameno, e, na época, este era um dos poucos loteamentos
160
que oferecia bons terrenos e possibilidade de construção de casas
imediatamente (MEDICI: 1992).
Em 2006, ocupava 1,50 km
2
e tinha uma população estimada
de 16.844 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
8.5.2 Vila Palmares (ficha 29)
A área ocupada pelo bairro Vila Palmares era parte da fazenda
Boa Vista. O loteamento se deu em 1930, embora haja uma planta de
1924, cuja posição das ruas é até hoje respeitada. Não tinha infra-
estrutura, nem saneamento básico. Foi a maior favela da cidade.
O nome de cunho histórico, homenageando o famoso
Quilombo dos Palmares, foi sugerido pelo padre Rubens Chasseraux e
votação dos moradores (MEDICI: 1992, 22).
Em 2006, o bairro Vila Palmares ocupava 0,95 km
2
e tinha
uma população estimada de 15.335 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 47).
8.5.3 Vila Alpina (ficha 31)
O bairro Vila Alpina, ponto de passagem para São Paulo, foi
loteada em 1923 por José Gonzaga Franco Filho. Entre 1942 e 1952,
foram construídos no local conjuntos habitacionais do IAPI – Instituto
de Aposentadorias e Pensões dos Industriários –, os quais foram
vendidos a trabalhadores da cidade e do interior do estado que
vieram com a expansão da indústria local.
Ao longo dos anos 50 e 60, estes conjuntos habitacionais
foram apontados como modelo de habitação popular e serviram como
plataforma de muitos políticos e administrações, que estampavam
161
fotografias das construções em toda sorte de publicações (MEDICI:
1992, 30).
Em 2006, o bairro Vila Alpina ocupava 0,24 km
2
e tinha uma
população estimada de 1.962 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
8.5.4 Vila Valparaíso (ficha 37)
O bairro Vila Valparaíso era parte do sítio de Manoel José de
Lima. A área era cortada pelo caminho do Pilar e acesso dos
moradores da Vila de São Bernardo para a estação da SPR.
A Vila Valparaíso foi loteada em 1929 e era chamada de bairro
dos gringos, em referência aos seus primeiros moradores, a maioria
de origem européia, especialmente alemães, lituanos e iugoslavos. O
apelido do ônibus que servia o local era Cata Gringo (MEDICI: 1992,
44).
Em 2006, este bairro ocupava 0,77 km
2
e tinha uma
população estimada de 7.773 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 47).
8.5.5 Jardim Jamaica (ficha 44)
O Jardim Jamaica foi loteado em 1970 e possuía, em 2006,
uma área de 0,18km2 e uma população estimada em 1.431
habitantes (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
.5.6 Jardim Las Vegas (ficha 52)
O bairro Jardim Las Vegas foi loteado em 1981 e obrigou
intensa organização popular, por ser um loteamento irregular. Apesar
de localizado em Santo André, o acesso a este bairro só era possível
pelo município de São Bernardo do Campo. Um problema enfrentado
162
pelos moradores era a erosão, que impedia a boa edificação de
residências.
Em 1980, segundo o morador Benedito Mariano, um panfleto
com informações não verdadeiras atraiu compradores:
Terrenos no bairro Baeta Neves, a mil metros do Paço
Municipal de São Bernardo, com água encanada, luz, guias,
sarjetas e outras melhorias. Lotes a partir de 125 m2, com
10% de entrada e 42 meses sem juros. Visite o Jardim Las
Vegas. (MEDICI: 1992, 58)
Em pouco tempo, cerca de 1.500 lotes foram vendidos com
facilidade. Em 2006, o bairro Jardim Las Vegas ocupava 0,45 km
2
e
tinha uma população estimada de 6.443 moradores (SANTO ANDRÉ:
2007, 46).
8.5.7 Jardim Vila Rica (ficha 71)
As terras que ocupam o bairro Jardim Vila Rica faziam parte de
uma gleba pertencente ao banco Munhoz, empresa conhecida por
lotear terras em São Paulo, principalmente nos atuais bairros de
Pirituba, Lapa, Freguesia do Ó, Cachoeirinha e Bairro do Limão.
Em 1966, estas terras foram vendidas a Francisco e Miguel
Serrano Idalgo, que as lotearam. O nome teve por motivação a
antiga denominação de Ouro Preto (MEDICI: 1992, 72).
Em 2006, o bairro Jardim Vila Rica ocupava 0,16 km
2
e tinha
uma população estimada de 1.480 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007,
46).
163
8.5.8 Jardim Ipanema (ficha 76)
O bairro Jardim Ipanema foi loteado em 1958 de forma lenta e
ocupado predominantemente por migrantes e trabalhadores das
indústrias da região. Era parte da propriedade denominada Sertão
dos Beber e sua denominação se deve a busca de identificação com o
bairro e a praia de mesmo nome na cidade do Rio de Janeiro, então
capital do Brasil (MEDICI: 1992, 67).
Em 2006, este bairro ocupava 0,88 km
2
e tinha uma
população estimada de 8.867 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
8.5.9 Centreville (ficha 84)
O bairro Centreville foi uma tentativa de fazer um loteamento
para famílias de renda média e alta em Santo André. O seu
lançamento contou com propaganda e matéria especial no programa
dominical televisivo Fantástico da Rede Globo. O nome e todas as
imagens utilizadas na divulgação deste loteamento faziam referência
à comunidade homônima no estado norte-americano da Virgínia.
O loteamento começou a ser realizado nos anos 70, com
financiamento da Caixa Econômica Federal. A empresa loteadora,
porém, faliu, e os terrenos e casas abandonados foram invadidos em
duas ocasiões: 16 de junho de 1982 e 12 de fevereiro de 1983.
As ocupações do Centreville deram origem à famosa Radio
Peão, pois eram combinadas em assembléias com cerca de 200
trabalhadores e nenhuma informação vazou (MEDICI: 1992, 65).
Em 2006, o bairro Centreville ocupava 0,25 km
2
e tinha uma
população estimada de 4.658 moradores (SANTO ANDRÉ: 2007, 46).
164
8.6 Conclusões parciais
A atribuição de nomes sem relação direta com a região revelou-
se, assim como as causas toponímicas identificadas, esparsa e
descontínua, tanto em relação ao tempo, ocorridas desde a década
de 1920 até os últimos loteamentos registrados, quanto ao espaço,
como se percebe no mapa a seguir:
mapa 10. Nomes sem relação direta com a região.
Certamente a especulação imobiliária levou à indicação da
maior parte destes nomes. Nomes indígenas e que tivessem alguma
relação com a vila de Santo André da Borda do Campo, apesar de
165
remeter a uma tradição inexistente, valorizavam as terras e,
conseqüentemente, os loteamentos abertos.
Já os corotopônimos revelam localidades e, em muitos destes
casos, qualidade de vida almejadas pelos moradores, as quais não
condiziam com a paisagem encontrada nos bairros. Neste sentido,
além do bairro Parque das Nações, percebe-se que outros quatro dos
nove nomes com tais motivações toponímicas têm Jardim como
primeiro formante, indicando, como visto no Capítulo 5, a busca por
um modelo de loteamento que não condiz com o encontrado: Jardim
Jamaica, Jardim Las Vegas, Jardim Vila Rica e Jardim Ipanema.
A atribuição de nomes que imprimam boas características tem
as mesmas funções e características: o local que se deseja morar,
articulado ao termo Jardim como primeiro formante: Jardim das
Maravilhas e Jardim Alvorada.
A quinta causa toponímica analisada neste capítulo concerne a
nomes religiosos sem a presença de orada na região. É possível que
parte destes nomes seja a santificação de nomes de pessoas,
retomando o culto ao ego andreense.
Entre estes nomes, por outro lado, destacam-se os bairros
Cidade de São Jorge, o qual ratifica a popularização de São Jorge no
país, especialmente por força do sincretismo religioso e pelos cultos
afro-brasileiros e Jardim Teles de Menezes, um dos pioneiros do
espiritismo brasileiro.
A referência a São Jorge – imagem recorrente no candomblé e
na umbanda e representação de Ode, Ogum e Oxossi – e a Teles de
Menezes indica que as homenagens não estão restritas ao universo
católico e, por serem atribuídos a loteamentos de 1968 e 1978
respectivamente, revelam a diversidade religiosa e cultural da
população que ocupou Santo André.
166
9 Conclusão
O ato de nomear é inerente ao ser humano; é fundamental para
a indicação dos espaços e a tomada de posse de terras. Objetivando
estudar os nomes próprios de lugar, a Toponímia registra os fatos e
ocorrências que levaram um indivíduo ou uma população a nomear os
elementos geográficos humanos ou físicos da paisagem em que se
insere.
Nos últimos anos do século XIX, Leite de Vasconcelos apresentou
pesquisas sobre a Toponímia portuguesa. Na década de 1920, Dauzat,
que estudava a formação histórica de palavras francesas, reuniu grupo
de jovens estudantes e passou a dedicar-se aos estudos onomásticos,
iniciados na década anterior por outro pesquisador – Lognon –, também
na França. Entre os resultados dos trabalhos de Vasconcelos, destacam-
se as “causas que deram origem ao nome”; e de Dauzat, a classificação
de topônimos segundo causas históricas.
Na década de 1980, no Brasil, Dick aproximou os estudos
toponímicos de outras ciências lingüísticas, como a Lexicologia e a
Terminologia. Propõe, a partir da observação dos nomes de lugar
brasileiros, princípios teóricos e metodologia para estudos de
topônimos. Ressaltam-se, também, os modelos taxionômicos, cuja
perspectiva de análise se aproxima das apresentadas por Vasconcelos,
que revelam os elementos privilegiados pelo homem na ocupação da
terra e as crenças e as atividades por ele exercidas, indicando as
motivações toponímicas mais recorrentes.
Entre os resultados de diversos estudos consultados, pesquisas
sobre textos bíblicos, nos quais há referências de os lugares tomarem o
167
nome de seus possuidores, numa valorização do indivíduo sobre a terra
e o solo, permitem compreender como a posse do território pode gerar
diferentes modelos de engredramento de topônimos.
Com base nestas observações, 88 nomes de bairros do município
de Santo André, em São Paulo, foram analisados. Primeiramente,
constatou-se que, muito embora esta cidade cultue 500 anos de
existência, a verdade é que nada liga a Santo André da Borda do
Campo, fundada por João Ramalho, com a Santo André atual. Na época
de sua emancipação, nem mesmo o lugar onde aquela se assentava
corresponde ao indicado como tal.
O surgimento daquele que se tornaria o município de Santo
André, ocorre em 1867 com o nome de bairro da Estação de São
Bernardo. Há, portanto, quase 150 anos formava-se Santo André, o que
o torna relativamente novo em termos históricos.
A formação deste aglomerado humano deve-se a necessidade de
ligar São Paulo a seu porto, Santos, para escoar a produção do café
paulista, principal produto brasileiro de exportação, a qual levou a
construção de uma estrada de ferro, a São Paulo Railway (SPR).
A busca de terrenos adequados, quer quanto à topografia, quer
quanto ao valor das terras, fez com que a escolha recaísse sobre o vale
do rio Tamanduateí. Esta região, a leste da cidade de São Paulo, era
ocupada por propriedades rurais, muitas das quais rodeadas por
várzeas, quando não formadas por terrenos alagadiços.
Entre as freguesias atingidas pelos seus trilhos, encontrava-se a
de São Bernardo, cuja sede definitiva, com igreja dedicada a Nossa
Senhora da Conceição da Boa Viagem, se localiza ao longo da estrada
do Oratório, que ligava São Bernardo a São Paulo (zona leste), e o
168
caminho do Pilar, que ligava São Bernardo a Mogi das Cruzes. A fazenda
dos beneditinos, originalmente dada como sede da freguesia e
possivelmente onde se localizava o povoado de João Ramalho, já era
conhecida como São Bernardo Velho na década de 1860 e ficava a norte
desta localidade.
A estação de São Bernardo foi construída pouco distante deste
ponto, já que a SPR margeava o rio Tamanduateí e as estradas
terrestres buscavam apenas cruzar os cursos d’água, próxima a
grandes lotes de terra. Essa localização privilegiada foi o motor que
impulsionou o crescimento do novo povoado, pois as terras eram
baratas e a ligação com as cidades vizinhas era facilitada pela estrada
de ferro.
Estes foram também os motivos que incentivaram empresas a
adquirirem terrenos e construírem fábricas em torno da estação. As
primeiras fábricas foram a Streiff, de cadeiras, e Seabra e Kowarick,
ambas tecelagens.
A implantação destas indústrias abriu um grande mercado de
trabalho o qual gerou um forte processo de migração. Um grande
contingente de trabalhadores, tanto nacionais, vindos de diversas
cidades paulistas e mesmo de outras regiões do Brasil, quanto
estrangeiros, fixou-se na estação de São Bernardo em busca de
trabalho.
Como conseqüência, houve a necessidade de fixação desses
trabalhadores e suas famílias na região próxima aos postos de trabalho.
Com o aumento de moradores nas proximidades da estação de São
Bernardo, surge o bairro Estação de São Bernardo, base para o
município de Santo André.
169
Estes acontecimentos foram decisivos para os pedidos por
desmembramento de São Bernardo e a formação de um novo distrito.
Muitos dos antigos grandes proprietários destas terras se dedicaram na
emancipação do bairro-estação, entre eles destaca-se o empenho
decisivo dos Fláquer.
Na época dos pedidos, o argumento central era a valorização de
um (suposto) passado mítico das terras próximas à estação, ditas sede
da povoação de João Ramalho, e antes do crescimento realmente
significativo deste bairro.
Certa autonomia é adquirida em 1910, quando é criado o distrito
já denominado Santo André. O boom imobiliário é verificado neste
período. Na década seguinte, já município de Santo André, torna-se
mais importante que São Bernardo.
Para estudar a denominação dos bairros de Santo André,
realizou-se levantamento de mapas desta região desde 1906, nos quais
foram identificados os bairros e seus nomes à época de sua instalação e
o perfil dos aglomerados humanos formados ao redor do bairro da
Estação de São Bernardo e suas relações com regiões contíguas.
Verificou-se a tendência à incorporação de um primeiro formante
ao topônimo: Vila, Jardim, Parque, Condomínio, Sítio e Cidade. Estes
formantes também são periodizados: primeiramente os bairros Vila são
constantes, substituídos na década de 1950 pelos bairros Jardim e, em
menor freqüência, pelos bairros Parque; os bairros Condomínio e Cidade
apresentam-se em apenas um topônimo cada, assim como o bairro
Sítio, decorrente de toponimização de antigo nome e seu elemento
geográfico.
170
As causas toponímicas encontradas para a denominação dos
bairros de Santo André foram, em sua maioria, relacionadas à exaltação
do ego dos loteadores ou dos donos das terras e a homenagens a
parentes destes. No primeiro caso, tem-se Vila Bastos, Vila Assumção,
Vila Scarpelli, Bairro Silveira, Vila Pires, Vila Junqueira, Sítio dos Vianas,
Parque Gerassi, Jardim Marek, entre outros e, no caso de homenagens
a esposas, filhas e demais parentes, Vila Lucinda, Jardim Ana Maria,
Parque Erasmo Assumção, Jardim Rina, Jardim Alzira Franco, Vila Alzira,
Vila Guiomar, Vila Alice, Vila Gilda, Jardim Stela, Jardim Cristiane,
Jardim Milena, Vila Marina, Vila Helena, Vila Jardim Irene e até mesmo
a Vila América, que homenageia um ancestral da família que
permaneceu na Itália.
Há também outras causas: topônimos dedicados a figuras
míticas da região, como Parque João Ramalho, Vila João Ramalho, Vila
Tibiriçá e Vila Bartira, e nomes existentes antes da urbanização da
região, como Parque Oratório, Jardim Utinga, Jardim Itapoan e Silveira.
Poucos são os nomes sem qualquer relação com Santo André.
Neste caso, verificam-se corotopônimos atribuídos a bairros loteados
especialmente nas últimas décadas do século XX- Jardim Jamaica,
Jardim Oriental, Jardim Las Vegas, Jardim Vila Rica, Jardim Ipanema,
Condomínio Maracanã e Centreville –, em geral, com grande apelo
imobiliário; hierotopônimos e hagiotopônimos sem vinculação com
templos religiosos, entre os quais se confirma variedade cultural e
religiosa pela presença de nomes não relacionados apenas com o
catolicismo – Jardim Santo Antônio, Jardim Santo Alberto, Jardim Santa
Cristina, Jardim Santo Antônio de Pádua, Cidade São Jorge e Jardim
Teles de Menezes; e apenas dois casos de homenagem a
171
personalidades sem qualquer vínculo com Santo André – Vila Princípe
de Gales e Vila Sacadura Cabral.
O confronto das tendências de primeiro formante e de causa
toponímica mostra que estes dois fatores acompanham, ao longo das
décadas, a ocupação do espaço em Santo André:
mapa 11. Comparação entre primeiro formante e causa toponímica.
Ao longo da SPR, local primeiramente ocupado, verificam-se os
poucos topônimos que não apresentam primeiro formante e maior
concentração de nomes que se baseiam em elementos encontrados na
paisagem, seja pela descrição ou translação toponímica.
Na década de 1930, o município expande a sul da estação de
São Bernardo. Concentra-se neste ponto os bairro Vila e os nomes de
loteadores e de proprietários. Ainda a sul, mais rumo ao município de
172
São Bernardo, encontram-se, especialmente, as homenagens a esposas
e filhas destes. Estes toponímicos particularmente recorrentes na
década de 1950 tendem a incorporação do primeiro formante Jardim
paralelamente à Vila.
Os bairros Jardim e Parque encontram-se a norte da SPR e nos
limites de Santo André com São Bernardo. Tratam-se das áreas
ocupadas ao longo da segunda metade do século XX e que concentram
nomes cuja causa não tem relação direta com o município.
Assim, em Santo André, cuja formação como aglomerado humano
tem menos de 150 anos e onde houve a necessidade de rápido
desenvolvimento, as tendências de formação de nomes acompanham a
sua rápida urbanização. A quantidade restrita de topônimos cuja causa
relaciona-se a elementos presentes anteriormente na paisagem, a
concentração de nomes em homenagens a proprietários, loteadores e
seus parentes e o predomínio de primeiro formante Jardim, seguido por
Vila, revela formação recente de Santo André.
Para concluir, é conveniente frisar que, ao longo da história de
várias sociedades, exemplos de fenômenos de mudança toponímica são
encontrados. Uma observação sobre o hábito geral de povos
conquistadores da Antiguidade de trocar os nomes dos locais
subjugados, demarcando sua propriedade nesses territórios, aponta as
invasões e conquistas como fator condicionante externo a essas
mudanças toponímicas e, ao mesmo tempo, pode indicar caminhos para
a compreensão do encaixamento social desse fenômeno.
173
Bibliografia
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ANDRÉ Prefeitura Municipal, Levantamento Aerofotogramétrico de
Santo André, 1990, em escala 1:10000.
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escala: 1:20000; 1994. Base Cartográfica: SANTO ANDRÉ Prefeitura
Municipal, Levantamento Aerofotogramétrico de Santo André, 1990,
em escala 1:10000.
______. Parcelamentos em Santo André – Sede de Município – 1945;
escala: 1:20000; 1994. Base Cartográfica: SANTO ANDRÉ Prefeitura
Municipal, Levantamento Aerofotogramétrico de Santo André, 1990,
em escala 1:10000.
______. Parcelamentos em Santo André – Sede de Município – 1970;
escala: 1:20000; 1994. Base Cartográfica: SANTO ANDRÉ Prefeitura
Municipal, Levantamento Aerofotogramétrico de Santo André, 1990,
em escala 1:10000.
______. Parcelamentos em Santo André – Sede de Município – 1990;
escala: 1:20000; 1994. Base Cartográfica: SANTO ANDRÉ Prefeitura
Municipal, Levantamento Aerofotogramétrico de Santo André, 1990,
em escala 1:10000.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANDRÉ – SDHU – DDPU –
Gerência de Planejamento Urbano – Setores Fiscais – Área Urbana,
2006, em escala 1:12000.
Livros Grátis
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