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No processo de apropriação da escrita, muitas vezes, a criança ao escrever, se baseia
no contínuo da fala e, por isso, aparece, em seu texto, marcas de hipossegmentação. Conforme
vai se familiarizando com a escrita, observa que há espaços para separar as palavras e que, ora
uma letra pode ser uma sílaba, uma letra de uma sílaba ou uma palavra. Com isso, ao
escrever, pode separar palavras desnecessariamente, pois:
Quanto à segmentação considerada indevida de objetos escritos, os autores
nos mostram que o aprendiz constrói hipóteses resultantes de ações sobre,
com e da linguagem, as quais podem levá-los, em alguns casos, a
hipossegmentações e, em outros, a hipersegmentações. No primeiro caso, os
alunos – de uma forma geral – se embasam no contínuo da oralidade,
apresentando junturas vocabulares, como quando escrevem “eu fui” para “eu
fui” ou “ainsima” para “aí em cima”. No segundo caso, os alunos
apresentam separações supostamente impróprias de palavras pelo fato de
intuírem sobre a segmentação de enunciados escritos, porque já têm algum
conhecimento sobre convenções da escrita. Percebendo, por exemplo a
ocorrência de unidades como “o”, “a”, “em”, “de”, “com”, os aprendizes,
tornando evidente a manipulação que fazem da linguagem, escrevem “a
gora” em vez de “agora”, “com tente” para “contente”. Além disso, casos de
hipersegmentações podem decorrer da necessidade que o aluno tem de
interromper a escrita quando precisa decidir sobre a adequação de um
símbolo ou forma gráfica de determinado vocábulo (MASSI, 2007, p.95).
Ao se referir sobre a hipo e hiper-segmentação na escrita espontânea de alunos em
processo de apropriação da linguagem escrita, Silva (1994) afirma que os critérios para
marcar a escrita em espaços em branco não são convencionais e “idiossincráticos”, o que
nesse tipo de escrita as hipóteses de hipossegmentação são mais comuns. Acrescenta que,
muitas das segmentações adequadas resultam do modelo escolar que o aluno já se apropriou,
como também propõe soluções para cada caso.
A esse respeito, Smolka (2001) afirma que, no processo inicial da aquisição da
linguagem escrita, o discurso interior se materializa na produção da criança. A autora afirma
também: “Essa escrita inicial não pode ser analisada apenas segundo as regras lógicas,
ortográficas e gramaticais” (p.79).
Ao discorrer sobre a análise da escrita inicial da criança, a autora supracitada, afirma
ainda que:
Uma análise, então, dos processos e das circunstâncias de produção de textos
pode revelar, além de condições do cotidiano da criança, aspectos da sua
atividade mental, discursiva, bem como a revelação que ela vai
desenvolvendo com a própria escrita [...] (SMOLKA, 2001, p. 79).