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De acordo com o texto de Ariosto, Alcina é representada como
uma poderosa feiticeira, capaz de comandar os seres do mar com
“simples palavras e encantos mágicos”, numa clara alegoria sobre a
sexualidade feminina descontrolada e sedutora, capaz de desviar os
homens de suas obrigações masculinas. Quando Melissa desencanta
Ruggiero e Alcina percebe o desaparecimento de seu amado, Caccini
cria a longa cena de lamento para a personagem. Vejamos como o
gênero do lamento é por Francesca Caccini revisitado:
Qui lasciai la mia vita,
Ma dov’ora s’asconda
Chi di voi ramo, ó fronda,
Chi di voi vaghi fonti a me l’addita?
Dhe perche veggio in terra
Giacersi in abbandono
Si caro al mio bel Sole ogni mio dono?
Lassa, ch’in queste spoglie
Scorgo l’altrui fallire,
Antivedo il mio pianto, e’l mio morire.
Che disse all’or Ruggiero?
Ahi, che per mille prove
So, quanto vario sai l’human pensiero.
Ahi, Melissa, Melissa
Sol da te riconosco ogni mio male,
Perfida, ancor sicura
Da te non sono entro al mio proprio albergo?
Sempre proterva, e dura
Il mio Regno perturbi, e la mia pace?
Ma non sempre trionfa animo audace,
Andronne a ritrovar questo crudele,
E con soavi note,
E con l’umide gote
Ammolirò l’insuperbito Core,
Da dolenti occhi miei manderò fuore
Soavissime fiamme, e vivi strali,
Che al suo novo desio tronchino l’ali.
Ferma, ferma crudele,
Ove ne vai spietato,
Dove mi lasci ingrato in preda al pianto?
Rafrena almen cotanto
La furia del partire,
Che l’immenso dolor l’anima ancida,
Rimira il pianto mio, senti le strida,
Senti le mie giustissime querele,
Ferma, ferma crudele, e questi lumi
Che pur’ora chiamavi e Stelle, e Soli,
Mira qual son per te conversi in fiumi,
Specchiati in questo viso
Ove la gioia, e’l riso havean la fede,
Vedrai la tua mancanza, e la mia fede,
E che tra pene e doglie
Quanto ha di mesto il mondo ivi s’accoglie.
Dhè se non hai pietà del mio languire,
Movati il tuo fallire,
Sai pur, qual macchia inestinguibil sia
In nobil Cavaliero il tradimento:
Ruggiero, Anima mia
Aqui deixei minha vida
Mas onde agora se esconde
Qual, dentre vossos ramos, ó copas
Quem, dentre as belas fontes, me-lo apontará?
Ai, pois que vejo por terra
Jazer em abandono
Tão caros a meu belo Sol todos os meus dons?
Ai, que nestes restos,
Percebo a falha de outros [Melissa],
Prevejo o meu pranto e minha morte.
Que disse então Ruggiero?
Ai, que por mil provas
Sei, quão volúvel é o pensamento humano.
Ai, Melissa, Melissa
Em ti reconheço cada mal meu,
Pérfida, em ti não tenho confiança
e entras em meu próprio albergue?
Sempre insolente e dura
O meu Reino perturbas, e a minha paz?
Mas nem sempre triunfa o ânimo audaz,
Partirei a encontrar aquele cruel
E com tom suave,
E com as gotas úmidas,
Amolecerei o coração orgulhoso,
De meus olhos dolentes enviarei
Suavíssimas chamas, e vívidos golpes,
Que a seu novo desejo cortará as asas
Pára, pára cruel,
Onde vais, impiedoso,
Onde me deixas, ingrato, presa do pranto?
Refreia ao menos um pouco
A fúria do partir
pois tamanha dor a alma mata,
Mira outra vez o pranto meu, ouve o grito,
Ouve minha justíssima queixa,
Pára, pára cruel, e estes olhos
Que outrora chamavas de Estrelas e Sóis,
Olha como se tornaram para ti rios,
Espelha-te neste semblante,
Onde a alegria, e o riso permaneciam,
Verás a tua deslealdade e a minha fidelidade,
E que entre dor e sofrimento,
Quanto tem de triste o mundo que ali se acolhe.
Ai, se não tens piedade de meu langor,
Acaba com tua infidelidade,
Sabes mesmo, que mancha inextingüível é
Em nobre Cavaleiro a traição:
Ruggiero, Alma minha