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FABIANA DE OLIVEIRA GOLDMANN
SABERES PARA ATUAÇÃO DOCENTE HOSPITALAR:
UM ESTUDO COM PEDAGOGAS QUE ATUAM EM HOSPITAIS DE SANTA
CATARINA
ITAJAÍ (SC)
2010
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UNIVALI
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura ProPPEC
Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu
Programa de Mestrado Acadêmico em Educação PMAE
FABIANA DE OLIVEIRA GOLDMANN
SABERES PARA ATUAÇÃO DOCENTE HOSPITALAR:
UM ESTUDO COM PEDAGOGAS QUE ATUAM EM HOSPITAIS DE SANTA
CATARINA
Dissertação apresentada ao colegiado do
PMAE como requisito à obtenção do grau
de Mestre em Educação. Área de
concentração: Educação Linha de
Pesquisa: Práticas docentes. Grupo de
Pesquisa: Contextos educativos e práticas
docentes.
Orientadora: Profa. Dra. Valéria Silva
Ferreira
ITAJAÍ (SC)
2010
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FABIANA DE OLIVEIRA GOLDMANN
SABERES PARA ATUAÇÃO DOCENTE HOSPITALAR:
UM ESTUDO COM PEDAGOGAS QUE ATUAM EM HOSPITAIS DE SANTA
CATARINA
Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de Mestre em
Educação e aprovada pelo Curso de Mestrado Acadêmico em Educação da
Universidade do Vale do Itajaí, Campus Itaj.
Itajaí, 25 de fevereiro de 2010.
Profa. Dra. Valéria Silva Ferreira
Orientadora
Profa. Dra. Verônica Gesser
Avaliadora
Profa. Dra. Juliane Fischer
Avaliadora
AGRADECIMENTOS
Agradeço, de forma muito carinhosa, a minha professora, orientadora e amiga Dra.
Valéria Silva Ferreira, por ter oportunizado ―viver a minha tese‖, acreditando no meu
potencial, sempre me indicando a direção a ser tomada nos momentos de maior
dificuldade e com muita paciência me incentivado a refletir e olhar além. Co-autora
de rios trechos, sempre esteve interessada em participar de minhas inquietações
durante a construção deste trabalho.
Ao João, meu companheiro que nesta trajetória, soube compreender, como
ninguém, a fase pela qual eu estava passando. Sua paciência infinita e sua crença
absoluta na capacidade de realização a mim atribuída foram, indubitavelmente, os
elementos propulsores desta dissertação.
Ao meu filho Bruno, dono dos meus dias, que durante a realização deste trabalho,
sempre tentou entender minhas dificuldades e minhas ausências. Agradeço-lhe,
carinhosamente, por tudo isto.
A minha família, especialmente a minha mãe e irmãos, pela compreensão, apoio e
incentivo.
As minhas amigas Ana Paula, Andressa e Greice pelos ombros nos momentos mais
difíceis.
Aos amigos do Grupo de Pesquisa pelas importantes contribuições ao longo desta
trajetória.
A banca examinadora, pela atenção e considerações dedicadas a este trabalho.
Agradeço a CAPES, pela bolsa concedida durante o curso.
RESUMO
Campo de trabalho relativamente novo para os educadores, o atendimento
pedagógico-educacional às crianças e adolescentes hospitalizados tem gerado
discussões em torno da formação e das práticas desenvolvidas pelos pedagogos
nos estabelecimentos de saúde. Inserida nesse debate, a pesquisa aqui relatada
analisa os saberes constituídos e utilizados por pedagogas que atuam em hospitais
de Santa Catarina, as formas de atuação e os desafios enfrentados por essas
profissionais, avaliando tamm a contribuição do curso de Pegagogia na formação
das professoras que atuam em contexto hospitalar. Foi desenvolvida uma pesquisa
qualitativa com dados coletados por meio de pesquisa bibliográfica, entrevistas
semiestruturadas e observação dos locais destinados ao atendimento pedagógico. A
fundamentação teórica se sustenta em formulações teórico-científicas sobre a
infância: Sarmento e Gouvêa (2008), Pfromm Neto (2002) Machado (2003); a
criança hospitalizada: Almeida (2006), Chiattone (2003), Fontes (2005);
humanização e escuta pediátrica: Silva, Tonetto e Gomes (2006), Vasconcelos
(2009), Ceccim e Carvalho (1997); classe hospitalar: Ceccim (1999), Fontes (2005);
percurso da Pedagogia: Saviani (2007), Libâneo (2001), Aguiar et al. (2006);
saberes do pedagogo: Evangelista (2009), Tardif (2000, 2002, 2007); desafios da
docência hospitalar: Paula (2006), Matos (1998), Reis (2009). Participaram desta
pesquisa treze pedagogas que atuam com atendimento pedagógico hospitalar em
doze unidades de saúde distribuídas por onze cidades catarinenses. Os eixos de
análise surgiram a partir dos temas indicados na pauta de entrevistas: saberes
necessários à prática pedagógica hospitalar, principais dificuldades e desafios,
trabalho realizado pelo pedagogo nos hospitais de Santa Catarina e contribuições do
curso de Pedagogia para a atuação hospitalar. Os resultados desta investigação
apontam a deficiência da formação inicial das pedagogas no que se refere aos
conhecimentos sobre o atendimento pedagógico hospitalar, a inadequação do
espaço físico, a falta de orientações mais precisas sobre o trabalho no ambiente
hospitalar e do diálogo entre escola e hospital. Também mostram que os saberes da
experiência, fortemente imbricados aos saberes acadêmicos, dão sustentação à
prática das pedagogas nesse contexto de trabalho. O estudo revela que urgência
em fortalecer os debates sobre o papel da educação no hospital e inserir a prática
pedagógica na busca de estratégias que propiciem humanização da assistência em
saúde. E ao mesmo tempo refletir sobre o currículo de Pedagogia, enfatizando os
processos que visam integrar educação e saúde, inserindo a escola no hospital para
a realização de um trabalho colaborativo que resulte na construção de um espaço de
diversidade e cidadania.
Palavras-chave: Pedagogia hospitalar. Saber docente. Saberes acadêmicos.
Saberes da experiência.
ABSTRACT
KNOWLEDGE FOR HOSPITAL TEACHING PRACTICE:
A STUDY WITH EDUCATORS WORKING IN HOSPITALS IN SANTA CATARINA
The pedagogical and educational care of hospitalized children and adolescents is a
relatively new field of work for educators that has generated discussions on the
training and practices of educators in healthcare facilities. Within this debate, the
research reported here examines the knowledge acquired and used by educators
who work in hospitals in Santa Catarina, as well as the forms of action and the
challenges faced by these professionals. It also evaluates the contribution of the
Pedagogical course in the training of teachers who work in the hospital context. A
qualitative research was carried, collecting data through a literature review,
structured interviews and observation of sites where teaching assistance is provided.
The theoretical framework is based on the theoretical-scientific literature on
childhood: Sarmento and Gouvea (2008), Pfromm Neto (2002) Machado (2003), the
hospitalized child: Adams (2006), Chiattone (2003), Fontes (2005); humanization
and paediatric listening: Silva, Tonetto and Gomes (2006), Vasconcelos (2009),
Ceccim and Carvalho (1997); hospital class: Ceccim (1999), Fontes (2005); course of
Pedagogy: Saviani (2007), Lebanon ( 2001), Aguiar et al. (2006), knowledge of the
educator: Evangelista (2009), Tardif (2000, 2002, 2007); challenges of teaching
hospitals: Paula (2006), Matos (1998), Reis (2009). Thirteen educators, who work
with hospital teaching care in twelve health units spread across eleven towns and
cities in the State of Santa Catarina took part in the study. The axes of analysis
emerged from the themes identified in the interviews: the knowledge necessary for
hospital teaching practice, the main difficulties and challenges, the work done by the
educator in the hospitals of Santa Catarina, and the contributions of the pedagogy
course for hospital performance. The results of this investigation reveal a lack of
initial training of educators with regard to knowledge of the hospital teaching practice,
a lack of physical space, a lack of more precise guidelines on the work in a hospital
setting, and a need for more dialogue between the school and the hospital. They
also show that the knowledge of experience, strongly interwoven with academic
knowledge, give support to the practice of educators in the workplace. The study
reveals that there is an urgent need to strengthen the discussion on the role of
education in the hospital, and insert the teaching practice in the pursuit of strategies
that facilitate humanization of health care. At the same time, it reflects on the
pedagogical curriculum, emphasizing the processes that seek to integrate health and
education, so that the school and the hospital can perform a collaborative work that
will result in the construction of a place of diversity and citizenship
Key words: Teaching hospital Teacher knowledge Academic knowledge Knowledge
of experience
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 7
2 A INFÂNCIA: DA INDIFERENÇA À PROTEÇÃO ........................................................... 17
2.1 Criança Hospitalizada .................................................................................................. 21
2.2 A Humanização e a Escuta .......................................................................................... 25
2.2.1 A escuta pediátrica...................................................................................................... 27
3 A ESCOLA NO HOSPITAL .............................................................................................. 30
3.1 Estudos Brasileiros sobre Classe Hospitalar ............................................................ 34
3.1.1 Pesquisas em Santa Catarina ..................................................................................... 37
3.2 Legislação de Amparo à Educação Hospitalar .......................................................... 39
3.2.1 Normativas de Santa Catarina .................................................................................... 40
4 PEDAGOGIA: VELHAS E NOVAS CONCEPÇÕES ........................................................ 42
4.1 Os Saberes do Pedagogo ............................................................................................ 46
4.2 Dificuldades e Desafios da Docência Hospitalar ....................................................... 54
5 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ..................................................................................... 59
5.1 Participantes da Pesquisa ........................................................................................... 59
5.2 Procedimentos de Coleta e Análise de Dados ........................................................... 63
6 ANÁLISE DOS DADOS.................................................................................................... 65
6.1 Saberes Acadêmicos ................................................................................................... 65
6.2 Saberes da Experiência ............................................................................................... 73
6.3 Docência Hospitalar: Dificuldades e Desafios ........................................................... 76
6.4 O trabalho realizado nos hospitais de Santa Catarina .............................................. 78
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 94
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 98
APÊNDICES ...................................................................................................................... 107
ANEXOS ........................................................................................................................... 201
7
1 INTRODUÇÃO
Eu vos digo: é preciso ter ainda caos dentro de si,
para poder dar à luz uma estrela dançante.
Nietzsche
Durante muitos séculos, a sociedade adulta foi indiferente à infância. As
crianças eram tratadas como adultos de tamanhos diferentes, ‗homúnculos‘, ou seja,
seres humanos miniaturizados. A partir do século XVII, essa noção começou a se
modificar, a partir de estudos e debates, de refinamentos conceituais e
metodológicos que foram decisivos para a compreensão dos aspectos que
singularizam a criança e o adolescente, diferenciando-os dos adultos.
Mas ainda um longo caminho a ser percorrido no sentido do pleno
reconhecimento tanto das necessidades como das limitações próprias da infância e
da adolescência. A sociedade contemporânea ainda ignora ou negligencia as
diferenças entre crianças e adultos, agravando problemas individuais e coletivos,
como o deficitário atendimento à educação e à saúde em nosso país, que causa
traumas muitas vezes irreversíveis no processo de desenvolvimento infantil.
No caso específico da internação hospitalar, a criança fica afastada de seu
ambiente familiar, de sua vida escolar, do convívio com os amigos, numa situação
que pode causar uma série de transtornos como depressão, desânimo e medo.
Marcadas por esses aspectos, a doença e a hospitalização tendem a se constituir
em experiências dolorosas e desagradáveis para crianças e adolescentes.
O ambiente do hospital muitas vezes dificulta a aprendizagem e,
consequentemente, o desenvolvimento da criança. É nesse contexto que ganham
relevância a humanização do atendimento, com ênfase para a escuta pediátrica e o
acompanhamento pedagógico que sustentam o trabalho da Pedagogia Hospitalar,
uma oferta educacional voltada a em situação de risco ao desenvolvimento, como é
o caso da internação, legalmente nomeado como Classe Hospitalar.
A conexão entre o pedagógico e o atendimento à saúde auxilia a criança em
relação ao tratamento, à aprendizagem, às relações interpessoais, fornecendo
encorajamento para enfrentar a hospitalização. A Pedagogia Hospitalar constitui,
8
assim, importante suporte psico-sócio-pedagógico, mantendo a criança hospitalizada
integrada às suas atividades escolares e à família. O principal efeito desse encontro
da educação e da saúde é a proteção do desenvolvimento e dos processos
cognitivos e afetivos relativos à construção da aprendizagem.
As novas diretrizes do curso de Pedagogia (BRASIL, 2006) preconizam a
formação de um docente capaz de planejar, executar, coordenar, acompanhar e
avaliar experncias educativas em contextos escolares e não-escolares,
enfatizando que ele deve reconhecer as manifestações e necessidades físicas,
cognitivas, emocionais e afetivas dos educandos.
A essas diretrizes se conciliam as Estratégias e Orientações para Classe
Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar (BRASIL/MEC, 2002), que
estabelecem que a capacitação do profissional para atuação em classe hospitalar
deve ser ampla, inclusiva e flexível. Isso pressupõe uma pedagogia mais ativa,
ampla e favorecedora do desenvolvimento de aprendizagens nas diferentes fases do
desenvolvimento humano.
Todavia, falta demarcar a compreensão dos elementos constitutivos da
formação do pedagogo, que o sentido da docência se articula à ideia de trabalho
pedagógico a ser desenvolvido em espaços escolares e não-escolares. A aprovação
das Diretrizes não esgota as polêmicas sobre o caráter e a identidade do curso de
Pedagogia. Nas discussões que vêm se processando, outros desafios emergem,
entre eles a elaboração de formas criativas e criadoras para a educação escolar e
não-escolar.
De acordo com essas normativas, o professor deve estar capacitado para
trabalhar com a diversidade humana e diferentes vivências culturais, identificando as
necessidades educacionais específicas dos educandos impedidos de frequentar a
escola, definindo e implantando estratégias de flexibilização e adaptação
curriculares.
Por esse prisma, o saber docente deve ser constituído por múltiplos saberes
construídos em variados contextos, um saber plural gerado pela confluência de
saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e
experienciais. Quando se reflete sobre a formação dos professores e a organização
do trabalho cotidiano deles, percebe-se que cada vez mais os professores precisam
9
ser capazes de lidar com os muitos conflitos e desafios que emergem da experiência
profissional, da vivência do cotidiano, do exercício da docência.
Assim como a criança hospitalizada, o pedagogo que atua com classe
hospitalar tem seus próprios medos, angústias e conflitos. Além dos desafios de lidar
com a inconstância da atividade, com a ansiedade natural da adaptação às
mudanças diárias e com a imprevisibilidade do seu trabalho no hospital, muitas
vezes depara-se com espaços físicos inadequados em com a insegurança gerada
por diferentes e inesperadas situações que ocorrem nesse ambiente.
Os argumentos até aqui colocados justificam a realização de pesquisas que
busquem compreender esse complexo universo da educação que é a Pedagogia
Hospitalar, procurando captar as dificuldades e desafios de professores que atuam
no ambiente hospitalar. Compreender suas motivações, o processo de construção
dos seus saberes, o seu fazer docente. Esta é a tarefa sobre a qual me debruço,
direcionando o olhar para pedagogas que se dedicam ao trabalho com classes
hospitalares em Santa Catarina.
Lanço-me ao desafio de desenvolver este estudo, motivada pelas
inquietações adquiridas ao longo da minha trajetória pessoal e profissional. Na
ocasião da escolha de uma profissão, optei por estudar enfermagem e ali tive a
oportunidade de vivenciar a rotina de uma enfermaria pediátrica.
Incomodava-me o fato da ociosidade das crianças em seus leitos, e apesar de
o hospital disponibilizar uma sala de recreação, percebia que aquele espaço não era
explorado da maneira como poderia. Foi ali que percebi que o que eu queria como
profissão: trabalhar com crianças em hospitais, mas não na função que exercia
naquele momento. Partiu desta experiência a minha decisão de cursar Pedagogia.
Em 2001 iniciei o curso de graduação em Pedagogia na Universidade do Vale
do Itajaí (Univali). Na época, nada se conhecia sobre a atuação de pedagogos em
hospitais e sempre que comentava sobre a minha curiosidade em atuar como
pedagoga em uma pediatria, causava estranheza tanto nos colegas de turma quanto
nos professores, pois a temática era completamente desconhecida.
Somente em 2003 iniciou no meu curso o estágio. Na ocasião procurei a
coordenação e apresentei meu desejo em atuar na pediatria de um hospital. A ideia
não foi bem recebida e entendi que naquele momento o hospital não seria
10
reconhecido como campo de estágio. Esse impedimento gerou uma frustração
enorme em mim e coincidiu com um período de doença do meu companheiro, o que
me fez abandonar os estudos e me dedicar totalmente à família.
Anos passaram e eu sempre lembrava das crianças nos hospitais, do meu
curso e da vontade de retornar aos estudos. Enquanto isso, o interesse sobre a
possibilidade de ações educativas nos hospitais permanecia. Aproveitava o tempo
para pesquisar na internet artigos sobre o assunto e em 2006 decidi retomar os
estudos, com a disposição de esclarecer à coordenação do meu curso que a
Pedagogia Hospitalar está contemplada como uma modalidade da educação
especial e que esta é umpico do currículo de Pedagogia, o que justifica e
reconhece a prática pedagógica naquele contexto.
Durante muito tempo, a Pedagogia esteve despreparada para a formação em
outros contextos e se dedicou exclusivamente aos conteúdos e saberes relativos à
educação infantil e às ries iniciais no ambiente escolar, não ampliando
conhecimentos para a atuação extraescolar.
Na ocasião do meu retorno à universidade, encontrei uma nova equipe de
coordenação do curso de Pedagogia, mais flexível em apoiar projetos que
expandissem a atuação pedagógica para outros contextos. Nessa ocasião, o único
impedimento para a realização do meu estágio no hospital seria o deslocamento de
80 quilômetros até o Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG) em Florianópolis,
pioneiro na implantação de classe hospitalar em Santa Catarina.
A partir dessa experiência, a professora responsável pela disciplina Tópicos
Especiais contemplou em seu programa a temática Pedagogia Hospitalar. Durante o
período do meu estágio, incentivei meus colegas a conhecerem o trabalho realizado
por pedagogos no HIJG e algumas vezes consegui acompanhá-los, mas desde
então, não tive notícias de que mais alguém tenha dado continuidade ao projeto
desenvolvido naquela ocasião.
Realizei todo o estágio curricular na classe hospitalar do HIJG e tive o
primeiro contato com a complexa experiência de ser pedagoga em um hospital. Ali
vivenciei momentos inesquecíveis de alegria e dor. Entretanto, percebi que o
conhecimento recebido durante a graduação foi insuficiente e não era aplicável para
11
aquela situação; então continuei atuando como estagiária nas diversas modalidades
do setor de Pedagogia do HIJG até meados de 2008.
Em 2007 aconteceu em Florianópolis um encontro que reuniu algumas
pedagogas que atuavam nos hospitais de Santa Catarina. Desde então, o interesse
em conhecer aquelas pessoas, saber qual o trabalho que realizavam e qual a fonte
dos saberes para atuação profissional naquele contexto, cada vez mais aumentava
e me instigava a desenvolver uma pesquisa sobre o tema.
A questão sobre a possibilidade de atuação pedagógica em contextos não
delimitados por tempos e espaços demarcados é incitante, pois entendo que hoje a
sociedade, cada vez mais complexa, exige que se modifiquem e se expandam as
práticas educativas, sobretudo com as crianças, abrangendo espaços e contextos
pouco explorados, como a Pedagogia Hospitalar.
A atualidade e a relevância deste estudo residem exatamente na abordagem
de um tema relativamente novo no campo da Pedagogia e que vem ganhando
espaço nos debates que enfocam a articulação entre saúde educação, notadamente
envolvendo crianças e adolescentes hospitalizados e, portanto, afastadas do
cotidiano escolar e do convício social.
Esta pesquisa é pertinente porque busca acrescentar informações aos
estudos que vêm sendo desenvolvidos no sentido de ampliar abordagens sobre a
infância e a adolescência, articulando educação e saúde, e estimular os debates
sobre um tema tão complexo como o desenvolvimento infantil e os processos de
aprendizagem.
Minha intenção é contribuir, mesmo que de maneira tímida, com as
investigações que buscam compreender o desenvolvimento da criança no contexto
de ambientes extraordinariamente complexos como os da atualidade, considerando
que há um longo caminho a ser percorrido no sentido do pleno reconhecimento tanto
das necessidades como das limitações próprias da infância e da adolescência.
Entendo que há urgência em fortalecer os debates sobre o papel da educação
no hospital e inserir a prática pedagógica na busca de estratégias que propiciem
atendimento humanizado e que m pautado iniciativas como o Programa Nacional
de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), lançado pelo Ministério da
Saúde em 2000 (BRASIL/MS, 2001). Meus interesses o os de lançar uma proposta
12
de reflexão sobre o currículo de Pedagogia e colaborar nos processos que visam
integrar educação e saúde, inserindo a escola no hospital para a realização de um
trabalho colaborativo que resulte na construção de um espaço de diversidade e
cidadania.
Dentre os desafios da educação contemporânea, está a elaboração de
práticas pedagógicas que respeitem as diferenças e, sobretudo às questões
relativas à infância. Atualmente percebe-se um movimento em relação a esta
preocupação, vimos isto, com as atuais propostas das políticas de inclusão. No que
se refere aos direitos das crianças, a políticas de inclusão das crianças
hospitalizadas pode ser considerada como uma conquista.
no campo científico, embora tímida, uma crescente produção
acadêmica sobre o tema Pedagogia Hospitalar. Verifica-se que a década de 90,
destaca-se como um marco na produção de teses e dissertações, que são
elaboradas no intuito de apresentar a temática, desmistificar o trabalho realizado em
pediatrias, discutir as políticas de amparo legal, entre outros temas que envolvam
aspectos relacionados à Pedagogia Hospitalar.
A pesquisa realizada por Zaias e Paula (2009, p. 4) demonstra que, de uma
forma geral, os trabalhos produzidos no período de 2000 a 2008 sobre ações
educativas no ambiente hospitalar tiveram como enfoques
a necessidade de reafirmar o caráter pedagógico educacional das classes
hospitalares; a importância da ligação entre a saúde e educação para
considerar o indivíduo na sua totalidade; a necessidade de diálogos e
encontros entre a classe hospitalar e a escola regular destacando a
importância da implantação de classes hospitalares e o reconhecimento do
trabalho realizado no hospital pela escola de origem do alunado; a
necessidade da formação de professores e pedagogos para este trabalho
diferenciado, uma vez que os cursos de graduação enfocam apenas o
trabalho na escola eximindo o seu papel de agentes formadores de
profissionais para atuação nos mais diversos locais.
O conhecimento sobre a situação atual da atenção pedagógica às crianças
hospitalizadas na Europa também é escasso. Rumeu, Linacero e Morrás (1999),
num estudo descritivo sobre a realidade da Pedagogia Hospitalar européia, afirma
que as interações entre os diversos países europeus que desenvolvem atividades
em pediatrias são praticamente nulas.
13
Esse autor destaca que a Pedagogia Hospitalar na Europa teve como marco
a Carta Europea de los Derechos Del Niño Hospitalizado, que foi aprovada pelo
parlamento europeu em abril de 1986. Também destaca com relevância, a criação
da Hospital Organisation of Pedagogues in Europe HOPE (Associação Europeia
de Pedagogos Hospitalares), que possui sede em Bruxelas, nalgica.
No Brasil, a Pedagogia Hospitalar es contemplada no Referencial de
Educação Especial (2001) como um direito da criança e é nomeada como Classe
Hospitalar. Segundo Fonseca (1999), ela não está contemplada na educação dita
regular, mas como um direito especial, amparada por documentos legais como a
Constituição Federal (1988), o Estatuto da Criaa e do Adolescente (1995) e a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), garantem às crianças e adolescentes
hospitalizados, direitos de cidadania relativos à sde e a educão, defendendo que o
atendimento à saúde deve ser integral no que diz respeito à promoção, prevenção,
recuperação, reabilitão e educão da saúde, e a saúde escolar deve ser adequada
às necessidades especiais do educando, elaborando a criação de processos de
integrão entre sociedade, instituições e escolas, fornecendo meios para a
progressão pedagógica-escolar sistemática.
Ao desvincularmos a saúde da doença temos grandes mudanças conceituais,
especialmente de que existe a necessidade do envolvimento de outros setores
sociais para que as pessoas de fato possam ter saúde. Hoje, segundo informações
do site Escola Hospitalar (2009), cento e onze hospitais do Brasil, contam com
atendimento pedagógico-educacional, criando propostas educativas às crianças e
adolescentes que se encontram temporariamente impossibilitadas de freqüentar a
escola regular. Estas alternativas propõem experiências e vivências de
aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento infantil, por meio do funcionamento
das classes hospitalares e de outras experiências educativas.
O atual tratamento de saúde, dedicado à criança que necessita de
hospitalização, não envolve, apenas aspectos biológicos da tradicional assistência
médica às patologias e doenças. A experiência de hospitalização normalmente é
marcante na vida das pessoas, pois provoca ruptura de rotina, ausência e/ou
separação de familiares e amigos, e mudança significativa da vida normal. A rotina
dos hospitais é um fator incomum à maioria das pessoas.
14
A submissão aos procedimentos invasivos decorrentes da internação, o
sofrimento causado pelo distanciamento da rotina, solidão e o medo do
desconhecido, do sofrimento e da morte é uma realidade constante nos hospitais,
sobretudo nos infantis. Hoje, reconhece-se que reestruturar a assistência hospitalar
de forma que se tome consciência deste conjunto de fatores significa assegurar,
entre outros cuidados, o acesso ao lazer e ao convívio com o meio externo (BRASIL,
2002).
A discussão sobre a atuação do pedagogo no contexto hospitalar, embora
seja recente, é delicada. As reflexões sobre o papel do pedagogo nos hospitais
suscitam definições e esclarecimentos quanto à função deste profissional. A
formação deste pedagogo tamm é objeto de análise, e uma questão que se
discute é o seu preparo para atuar neste contexto tão diferente de uma sala de aula
convencional.
No campo científico, existem alguns eixos de discussões referentes a este
tema, dentre eles incluem-se os aspectos da prática educativa, as relações entre os
alunos e professores no ambiente hospitalar, formação docente neste contexto,
sobre a nomenclatura mais adequada para este atendimento e a discussão de
políticas públicas voltadas ao amparo deste trabalho.
A literatura científica disponível sobre este tema não é extensa, mas
entendemos que este é um campo que está em evolução que pode, e deve, ser
amplamente explorado, assim como a recente preocupação da formação dos
pedagogos para atuação em outros contextos, o que justifica a realização desta
pesquisa.
As novas diretrizes curriculares do curso de Pedagogia (BRASIL, 2006)
consideram que o trabalho do pedagogo é voltado ao desenvolvimento do potencial
humano, vinculado a objetivos educativos e na prodão de saberes educacionais.
Neste sentido, a prática pedagógica é sempre intencional, pois objetiva a formão de
conhecimentos científicos e técnicos, valores e habilidades que promovam o
desenvolvimento integral do ser humano. Ao conceber que a formação deste
profissional deve prepará-lo para o trabalho docente, é urgente e necessário pensar
na diversidade de atuação no contexto hospitalar.
15
A partir dos argumentos aqui reunidos, estabeleci o seguinte problema de
pesquisa: Como são constituídos e utilizados os saberes das pedagogas que atuam
em hospitais de Santa Catarina, quais as formas de atuação e os desafios
enfrentados por essas profissionais no ambiente hospitalar?
Como desdobramentos do estudo, procurei responder às seguintes questões:
Quais os saberes acadêmicos, da experiência e profissionais elaborados e utilizados
a prática educativa no contexto hospitalar? Quais as fontes dos saberes
pedagógicos das pedagogas que atuam em hospitais de Santa Catarina, e qual a
contribuição do curso de Pegagogia na formação destas professoras?
O objetivo geral desta pesquisa foi analisar os saberes constituídos e
utilizados por pedagogas que atuam em hospitais de Santa Catarina, as formas de
atuação e os desafios enfrentados por essas profissionais no contexto hospitalar. A
partir dele, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
Analisar as formas de atuação da pedagoga hospitalar.
Compreender quais os saberes acadêmicos, da experiência e profissionais
elaborados e utilizados na prática educativa no contexto hospitalar.
Identificar as fontes dos saberes pedagógicos das pedagogas que atuam com
classe hospitalar.
Avaliar a contribuição do curso de Pegagogia na formação das professoras de
classe hospitalar.
Desvelar os desafios enfrentados por essa categoria no cotidiano docente.
Este trabalho foi organizado de forma a agrupar conteúdos afins para facilitar
a leitura e a compreensão dos argumentos reunidos nesta dissertação. O primeiro
capítulo contém introdução, justificativa da pesquisa, problematização do tema e
objetivos da investigação.
O capítulo 2 aborda a infância: da indiferença à proteção, a situação da
criança hospitalizada, a humanização do atendimento hospitalar e a escuta
pediátrica, assuntos que abrem o debate de vários autores em torno do atendimento
pedagógico prestado a crianças e adolescentes hospitalizados.
16
No capítulo 3 são apresentadas formulações teóricas sobre a Pedagogia
Hospitalar e uma síntese de estudos acerca do trabalho em classes hospitalares
desenvolvidos no Brasil e especificamente em Santa Catarina. Tamm são
abordadas questões relativas ao amparo legal a essa prática educativa.
O capítulo 4 se ocupa em discutir as velhas e novas concepções da docência,
assim como o curso e os currículos de Pedagogia. Dá-se ênfase aos saberes dos
pedagogos e as dificuldades por eles encontradas na atuação em unidades de
saúde.
No capítulo 5 é relatado o percurso metodológico da pesquisa, incluindo a
descrição dos procedimentos e técnicas de coleta e análise de dados. Em seguida,
no capítulo 6, são apresentados os resultados da investigação. E para finalizar, são
expostas as considerações finais, relacionadas as fontes de consulta bibliográfica.
Apêndices e anexo complementam o material desta dissertação.
17
2 A INFÂNCIA: DA INDIFEREA À PROTEÇÃO
Durante muitos séculos, a sociedade adulta foi indiferente à infância. Lima
(1980, p. 100) comenta que o mundo antigo desconhecia a existência (específica)
da criança. Existiam, apenas, adultos de tamanhos diferentes.‖ De acordo com
Sarmento e Gouvêa (2008, p. 18), ―as crianças foram representadas prioritariamente
como ‗homúnculos‘, seres humanos miniaturizados que valia a pena estudar e
cuidar pela sua incompletude e imperfeição.
Segundo Benjamin (1984, p. 64), demorou muito tempo a que se desse
conta de que as crianças não são homens ou mulheres de dimensões reduzidas.Foi
Rousseau, no século XVIII, que descobriu que esse ‗homúnculo‘, vestido e tratado
como adulto, era, de fato, um ser especial, com características próprias, perdido e
‗massacrado‘ na floresta selvagem do mundo adulto.‖ (LIMA, 1980, p. 100).
Para Phillipe Ariès (1981), a percepção das crianças como pessoas diferentes
dos adultos e o surgimento da infância como categoria social datam do século XVII.
Sarat (2005) comenta que a obra desse historiador francês, que estudou a inserção
da criança na vida social desde a Idade Média até os tempos modernos, é apontada
como um marco da história da criança e se concentra na tese de que essa noção da
infância seria fruto da modernidade. ―Ainda que Ariès tenha [...] lançado bases para
esta discussão, atualmente outras pesquisas discordam de sua premissa,
localizando a infância e a preocupação com a criança como um conceito que se
forma em períodos anteriores ao moderno.‖ (SARAT, 2005, p. 594).
Os debates a respeito do tema começaram a se fortalecer no último quartel
do século XX, com um significativo incremento a partir da década de 1990‖
(SARMENTO E GOUVÊA, 2008, p. 18). Importantes contribuições foram dadas por
Piaget e Vygotsky, cujos estudos e teorias, desenvolvidos nessa época, contribuíram
com novas abordagens sobre os processos de desenvolvimento e aprendizagem
das crianças.
Azevedo (2001) comenta que o principal interesse de Piaget era estudar o
desenvolvimento das estruturas lógicas, enquanto Vygotsky pretendia entender a
relação do pensamento com a linguagem e suas implicações no processo de
desenvolvimento intelectual.
18
Enquanto sob a perspectiva piagetiana o conhecimento se a partir da
ação do sujeito sobre a realidade, para Vygotsky, esse mesmo sujeito não
age sobre a realidade, mas interage com ela, construindo seus
conhecimentos a partir das relações intra e interpessoais. É na troca com
outros sujeitos e consigo próprio que ele internaliza conhecimentos, papéis
e funções sociais. (AZEVEDO, 2001, s.p.)
Mas, de acordo com a autora, apesar das diferenças entre a posição teórica
dos dois cientistas, ambos enfatizam a necessidade de compreensão da gênese dos
processos cognitivos e valorizam a interação da criança com o ambiente, vendo-o
como sujeito que atua no processo de seu próprio desenvolvimento.
Embora inúmeras pesquisas e formulações teóricas, divulgadas e discutidas
desde o século passado, tenham rompido alguns paradigmas dos tempos antigos,
não esgotam os debates sobre a infância, que continuam gerando controvérsias no
século XXI. Pfromm Neto (2002, p. 19) comenta que
a extraordinária expansão do conhecimento científico sobre a infância e a
adolescência nas últimas décadas, tanto nos âmbitos psicológico e social
como nos domínios genético e biológico, tem servido para reiterar a
importância decisiva que essas fases da vida humana desempenham na
construção de personalidades [...] e para justificar as preocupações da
família, da escola e de outras instituições sociais com fatores, condições e
influências que facilitam ou prejudicam o desenvolvimento humano.
Segundo o autor, rios estudos, caracterizados por crescentes refinamentos
conceituais e metodogicos, foram decisivos para a compreensão de tudo quanto
singulariza a criança e o adolescente, diferenciando-os, sob múltiplos aspectos, dos
adultos, [inclusive] do desenvolvimento da criaa no contexto de ambientes
extraordinariamente complexos como os da atualidade. (PFROMM NETO, 2002, p. 19).
Almeida (2006, p. 546) comenta que ―a (in)visibilidade da infância na
sociedade adulta contemporânea aponta para a complexa natureza de sua condição
social.‖ A autora denuncia que, incapaz de agir por si própria em um mundo cercado
por perigos dos mais diversos, ainda é vetada à criança uma participação social
efetiva, sob o argumento de que necessita de proteção, o que evidencia um
pensamento puramente paternalista, em face da velha teoria que concebe as
crianças como homúnculos, ou seres humanos em miniatura, desprovidos de
especificidade própria e originalidade. (ALMEIDA, 2006, p. 546, grifo da autora).
Sobre essa questão, Pfromm Neto (2004, p. 20) salienta que
19
as óbvias fragilidade e vulnerabilidade das crianças, os recursos limitados
de que dispõem tanto no plano das capacidades físicas como de natureza
cognitiva, emocional e social, ganham dimensões particularmente
preocupantes num mundo caracterizado por rápidas mudanças sociais,
tecnológicas, científicas e econômicas, às voltas com as transições e
mudanças na família, a presença e a tentação dos tóxicos, as crescentes
liberdades sexuais e os crescentes riscos, a influência avassaladora da
televisão na vida, no comportamento, nas expectativas e na construção
pessoal da realidade, os infortúnios associados à pobreza e ao despreparo
para viver de modo feliz e sadio, conviver e exercer a cidadania
responsável.
O conceito de proteção integral é embasado na Convenção Internacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente. ―Essa característica é inerente à sua condição
de seres humanos ainda em processo de formação, sob todos os aspectos, físico
(nas suas facetas constitutivas, motoras, endócrina, da própria saúde, como
situação dinâmica), psíquico, intelectual (cognitivo), moral, social.‖ (MACHADO,
2003, p 109).
O respeito à condição peculiar de pessoa em formação é um princípio,
previsto expressamente no artigo 227 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) e no
artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (BRASIL, 1990), segundo o
qual a criança e o adolescente merecem atenção especial pela sua vulnerabilidade,
por serem pessoas ainda em fase de desenvolvimento da personalidade.
Cabe destacar que, no ECA, a distinção entre criança e adolescente se
baseia apenas na questão da idade, não considerando os aspectos psicológico e
social. Dessa forma, ficou definida como criança a pessoa que tem até 12 anos
incompletos e como adolescente aquela que se encontra na faixa dos 12 aos 18
anos de idade.
Considerando ser um truísmo afirmar que criança é criança e adolescente é
adolescente, Pfromm Neto (2002, p. 20) ressalta ―que existe ainda um longo
caminho a ser percorrido na prática, entre nós, no sentido do pleno reconhecimento
tanto das necessidades como das limitações próprias da infância e da
adolescência, visto que importantes diferenças entre crianças e adultos são
ignoradas ou desdenhadas, agravando problemas individuais e sociais. A respeito
desta questão, o autor acrescenta:
20
O reconhecimento de que as crianças e os jovens são o futuro da sociedade
não é suficiente. Impõe-se a necessidade de generalizar, na população
como um todo, quer a preservação da infância e da adolescência - que, sob
múltiplos aspectos, dependem de um contexto social e cultural adequado
para serem plenamente vividas e respeitadas - quer a consciência de que
crianças e adolescentes o diferentes dos adultos e, ao mesmo tempo, o
reconhecimento de que cabe aos adultos, particularmente aos pais, a
indeclinável responsabilidade pelo crescimento e desenvolvimento das
crianças e adolescentes, servindo os melhores interesses destes.
(PFROMM, 2002, p. 20).
Em seu Art. 5º, a Lei 8.069 (BRASIL, 1990, p. 1), que dispõe sobre o Estatuto
da Criança e do Adolescente, determina que ―nenhuma criança ou adolescente será
objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.‖ Sobre essa determinação legal, Castro (2002) afirma que
crianças e adolescentes são negligenciados de várias formas nos mais diferentes
contextos sociais. Enfatiza que qualquer tipo de ação que não atenda às suas
necessidades básicas de alimentação, moradia, educação, saúde, lazer constitui
descuido, incúria e desleixo, sendo, portanto, considerada negligência.
Embasada na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), a
Constituição Federal (BRASIL, 1988, p. 126), no Art. 227, determina:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
Machado (2003, p. 108) explica que a vulnerabilidade é, portanto,
fundamento do princípio do respeito à peculiar condição de pessoa em
desenvolvimento e, por se encontrarem em situação de maior vulnerabilidade,
crianças e adolescentes têm direito a regime especial de salvaguardas, que lhes
permitam construir suas potencialidades humanas em sua plenitude. (MACHADO,
2003, p. 109). Nessa perspectiva,
a proteção integral não deve ser compreendida como um recurso utilitário
do mundo adulto, no sentido de se proporcionar meios para garantia de uma
maturidade futura. A proteção integral tem finalidade significativamente
imediata, para que as pessoas possam usufruir as efêmeras fases da vida
que são a infância e a juventude. De toda sorte, este é apenas um dos
lados de uma mesma moeda. É de suma importância reconhecer que a
proteção integral tamm decorre de uma preocupação do mundo adulto
com o futuro, com a força potencial que a infância e a juventude
representam para a nação. (MACHADO, 2003, p. 132).
21
A condição peculiar de pessoa em desenvolvimento implica, primeiramente,
segundo Costa (2002), o reconhecimento de que a criança e o adolescente não
conhecem inteiramente os seus direitos, o m condições de defendê-los e fazê-
los valer de modo pleno, não sendo ainda capazes, principalmente as crianças, de
suprir, por si mesmas, as suas necessidades básicas.
Sob outro ponto de vista, Gomes da Costa (2002, p. 39-40) comenta que a
afirmação da criança e do adolescente como pessoas em condição peculiar de
desenvolvimento não pode ser definida apenas a partir do que a criança não sabe,
não tem condições e não é capaz. Argumenta que cada fase do desenvolvimento
deve ser reconhecida como revestida de singularidade e de completude relativa,
entendendo quea criança e o adolescente não são seres inacabados, a caminho de
uma plenitude a ser consumada na idade adulta, enquanto portadora de
responsabilidades pessoais, cívicas e produtivas plenas. Ao contrário, ―cada etapa
é, à sua maneira, um período de plenitude que deve ser compreendida e acatada
pelo mundo adulto, ou seja, pela família, pela sociedade e pelo Estado. (GOMES
DA COSTA, 2002, p. 39-40).
2.1 Criança Hospitalizada
Lençóis, fronhas e toalhas padronizadas, paredes brancas, quartos com
camas de ferro, sem brinquedos. Horários determinados para comer, tomar
remédios, receber visitas. Enfermeiros, médicos e estagiários entrando e saindo com
aparelhos, seringas e medicamentos. Estas costumam ser as características de um
ambiente inóspito para a criança: o hospital. Nesse espaço tão diferente de casa, os
familiares e amigos ficam do lado de fora. Há, portanto, um rompimento brusco das
atividades cotidianas.
Analisando como o paciente pediátrico percebe a hospitalização, Oliveira
(1993, p. 328) afirma que ―o hospital é, para a criança, um local de proibições: não
se pode andar pelos corredores, jogar bola, tomar ar fresco, falar alto, conversar
com outras crianças, brincar.‖
22
Segundo Angerami-Camon (1994), ao ser hospitalizado, o paciente sofre um
processo de despersonalização, passando a ser identificado com um número ou
uma patologia; tem sua vontade, sua individualidade e sua intimidade muitas vezes
desconsideradas e invadidas, deixando de ser sujeito para ser apenas objeto da
prática dos profissionais que atuam no hospital.
Sobre a doença, Barbosa (1976, p. 5) a considera um fator ponderável de
desajustamento social porque provoca, precipita ou agrava desequilíbrios
psicológicos, quer no paciente, quer na família e, particularmente, nos pais."
Chiattone (2003) afirma que, na situação de hospitalização, a criança fica com sua
autoestima comprometida, sentindo-se culpada pelo sofrimento de seus familiares.
Ribeiro e Ângelo (2005, p. 392) destacam que a doença e a hospitalização
podem fazer com que a criança fique emocionalmente traumatizada em maior grau
do que está fisicamente doente, porque, ao ser hospitalizada, ela ―encontra-se
duplamente doente; além da patologia física, ela sofre de outra doença, a própria
hospitalização, que se não for adequadamente tratada, deixará marcas em sua
saúde mental.‖ Elsen e Patrício (1989) acrescentam que o afastamento do ambiente
familiar, social e afetivo pode suscitar nessa clientela reações tais como
comportamento regressivo, raiva, depressão, insegurança, rejeição afetiva,
dependência e medo.
Durante a internação, a criança fica afastada de seu ambiente familiar, de sua
vida escolar e às vezes privada da companhia dos pais, situação que, segundo
Carvalho e Begnis (2006), pode causar uma série de transtornos e traumas, como
depressão, desânimo e medo. Marcadas por esses aspectos, a doença e a
hospitalização tendem a se constituir, como observam Pinheiro e Lopes (1993), em
experiências dolorosas e desagradáveis para crianças e adolescentes. Fontes
(2005) reforça esse argumento ao afirmar que, quando privadas da interação com
seu grupo social,
crianças portadoras, ainda que momentaneamente, de necessidades
especiais (como é o caso das crianças hospitalizadas) são impedidas de ter
acesso à construção de conhecimentos e de constituir sua própria
subjetividade. A criança hospitalizada, quando privada de interações sociais
de boa qualidade, cujo teor lhe proporcione outras formas de compreender
a vida, es sendo atomizada em sua oportunidade de aprender e,
consequentemente, de se desenvolver. (FONTES, 2005, p. 126-127).
23
É nesse contexto que ganha relevância o verbo humanizar que, de acordo
com Romano (1999), significa individualizar, atender e acolher as necessidades de
cada um. Mas a assistência humanizada ―não é condição técnica, mas
prioritariamente a solidariedade, o amor e o respeito pelo ser humano, uma vez que
a criança, em sua condição indefesa e instável, busca em outrem apoio, carinho e
compreensão" (PINHEIRO; LOPES, 1993, p.128), ainda mais num ambiente tão
estigmatizado como o hospital.
A própria etimologia do termo hospital é esclarecedora do estigma de inóspito
a ele atribuído. Graça (2005) explica que a casa dos hóspedes, a domus hospitalis,
tornou-se, na Idade Média, um nome, o hospitalis, que por sua vez vem de hostis, o
estrangeiro, quer se trate de um amigo, de um hóspede, ou de um inimigo, um ser
hostil.
O hospital é, de certo, este lugar com uma dupla faceta, [...] ao mesmo
tempo atração e repulsão. Traduz todas as ambiguidades de um espaço,
primordialmente destinado aos indigentes e aos velhos, independentemente
de toda e qualquer doença, e depois aos doentes hipertécnicos, antes de
ser recuperado pelo seu passado com a chegada de pessoas precárias
para quem o hospital é muitas vezes o último recurso. (GRAÇA, 2005, s.p.).
Foucault (1979, p. 101) lembra que o personagem ideal do hospital, até o
século XVII, o era o doente necessitado de cura, mas o pobre que estava
morrendo, alguém que deveria ser assistido material e espiritualmente, a quem se
deveria dar os últimos cuidados e o último sacramento.
Segundo Margotta (1998), os hospitais surgiram durante a Idade Média, mas
num formato muito diferente do que conhecemos hoje. Naquela época as patologias
se fundamentavam na teoria dos humores e os diagnósticos das enfermidades eram
baseados nos aspectos de densidade e coloração do sangue, urina e pele.
Antes do século XVII, o hospital era essencialmente assistencialista às
camadas mais carentes. Foucault (1979) descreve que na Idade Média, o hospital
era destinado mais a receber doentes terminais e não era tão comum a busca pela
cura às enfermidades.
Naquela época, dizia-se que os hospitais eram morredouros‖, não
exatamente lugares onde se encontrariam curas, mas onde se procurava salvação.
Eram instituições de assistência e também de separação e exclusão. Naquela
24
época, as crianças eram tratadas em casa e não chegavam aos hospitais. Não
existiam as vacinas, a nutrição e os medicamentos eram insuficientes e as doenças
da infância eram tão agudas que ou eram solucionadas rapidamente ou a criança
morria.
Uma das mais recentes conquistas para humanização do atendimento
hospitalar é representada pelo Estatuto da Criança e Adolescentes Hospitalizados
(CONANDA, 1995), que prevê o acompanhamento pela mãe dentro do hospital, por
vinte e quatro horas, o direito de desfrutar de alguma forma de recreação e o direito
―à proteção, à vida e a saúde‖. Essas propostas levam em consideração que não
apenas o corpo deve ser cuidado, mas que existem outras necessidades na vida de
uma criança hospitalizada. Para Lindquist (1993, p. 24), ―considerar apenas o
tratamento médico, deixando de lado o psiquismo, é retardar a cura‖.
É com base nesses princípios de humanização que psicólogos e pedagogos
intensificam sua atuação nos hospitais do Brasil. Com isso, ―a saúde é
ressignificada, sendo compreendida não somente como ausência de doença, mas
como reflexo das condições sociais, econômicas e ambientais sobre a vida das
pessoas.‖ (RUTSATZ e CÂMARA, 2006, p. 56). Nessa direção, Wallon (1979)
destaca a importância da afetividade e aponta a emoção como elemento
fundamental para o desenvolvimento humano.
Para Sadala e Antônio (1995), a ajuda pedagógica e psicológica surge
oferecendo oportunidade à criança para que esta expresse seus sentimentos a
respeito das experiências traumáticas vividas dentro do processo de hospitalização.
A criança verbalizando suas necessidades e solicitando ajuda, pode diminuir o seu
medo.
No contexto do hospital, cabe ao pedagogo perceber as intenções
subjetivas das respostas, as necessidades do paciente e tomar a iniciativa
de quebrar barreiras, transpor os muros da indiferença e deixar aflorar todo
o seu afeto já que esse é um sentimento que pressupõe interação. O
processo cognitivo também envolve o afetivo, através de relações e
interações, e para concretizá-lo é preciso ter equilíbrio emocional para agir
com atenção e tranqüilidade junto aos pacientes. (NASCIMENTO;
HAEFFNER, 2009, p.13).
25
A respeito da humanização, Boff (2008, p. 110) enfatiza ―a vontade de partilha
e o amor, como sentimento verdadeiramente humanizante, como fundamento do
fenômeno social.‖ Defende que ―a sociedade existe porque existe o amor, e não o
contrário, como convencionalmente se acredita. Se falta o amor (o fundamento)
destrói-se o social.‖
Na mesma perspectiva, Angerami-Camon (1988, p. 44) enfatiza que o
trabalho junto a crianças doentes e hospitalizadas ―mostra, basicamente, quando se
deve lutar pela humanização do atendimento, quando se deve proteger a criança,
esse ser tão dependente de outro(s), de um atendimento técnico, impessoal e
agressivo.‖ Mas importa ponderar que atitudes protetivas, como asseveram Boff
(2008, p. 171), ―não comportam o assistencialismo, mas sim um humanismo básico
que pressupõe, a partir destas situações, o desenvolver de uma compaixão e
cuidado essencial pelo outro.‖
Adotando esses pressupostos ao campo pedagógico, mais precisamente ao
trabalho no contexto hospitalar, Zardo e Freitas (2007, p. 191) enfatizam que
a discussão de pressupostos que possibilitem a melhoria da assistência em
saúde para crianças em tratamento de saúde requer que seja considerada,
primeiramente, a condição humana do sujeito internado na instituição
hospitalar [...] significa considerar a complexidade da pessoa hospitalizada,
transcendendo apenas o cuidado com a saúde fisiológica/biológica.
(ZARDO; FREITAS, 2007, p. 191).
As autoras defendem que a conexão entre o pedagógico e o ambiente
hospitalar pode surtir atitudes positivas, que auxiliam a criança em relação ao
tratamento, à aprendizagem, às relações interpessoais, fornecendo encorajamento
para enfrentar a hospitalização, contribuindo ao desenvolvimento infantil de forma
saudável.
2.2 A Humanização e a Escuta
Fato importante para a humanização dos atendimentos nos hospitais foi a
inserção dos serviços psicológicos e pedagógicos na rotina dos estabelecimentos de
26
saúde, estimulada, segundo Silva, Tonetto e Gomes (2006) e Vasconcelos (2009,
s.p.) pelos impactos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O conflito mundial fez surgir a necessidade de se prestar atendimento
especializado aos militares feridos e mutilados que retornavam dos campos de
batalha e ao grande número de crianças e adolescentes atingidos e impossibilitados
de ir à escola.
No entanto, a mais importante contribuição para a consolidação de serviços
psicológicos e pedagógicos em hospitais foi a mudança no conceito de saúde. Em
1948, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu saúde como um estado de
completo bem-estar físico, mental e social e o simplesmente a ausência de
doenças ou enfermidades (WHO, 1946).
A definição apresenta a saúde como um estado positivo e multidimensional,
envolvendo três domínios: saúde sica, psicológica, e social. Segundo Straub
(2005), estava sendo introduzida, naquele momento, a perspectiva biopsicossocial.
A partir dessa concepção, afirma-se o pressuposto de que estados de saúde ou
doença são determinados pela interação entre fatores físicos e psicológicos.
No contexto hospitalar, o atendimento diferenciado ajuda no tratamento dos
pacientes, contribuindo para ―a minimização do sofrimento provocado pela
hospitalização‖ (ANGERAMI-CAMON, 1994, p. 23).
Almeida (2000) enfatiza que, com o crescimento das demandas cada vez
mais diversificadas de atendimento, os profissionais que trabalham em hospitais
passaram a atuar nos campos psicopedagógico (educação), psicoprofilático
(prevenção) e psicoterapêutico (tratamento), tendo por objetivo a promoção da
saúde psíquica. Essa abrangência de abordagens evidencia a importância do
diálogo com outras especialidades, oportunizando ao pedagogo uma atuação
integrada com os diversos profissionais e especialistas que trabalham no contexto
hospitalar.
Citando Dias et al. (2003), Silva, Tonetto e Gomes (2006) destacam que
trabalho no hospital, por se constituir em atendimento complexo que requer a
compreensão dos conhecimentos oriundos de outras áreas, deve ser desenvolvido
de forma interdisciplinar, de modo a contemplar as dimensões sociais individuais e
biológicas envolvidas no processo saúde/doença.
27
No entanto, o profissional ―não deve perder as especificidades tanto do seu
saber, quanto do seu fazer. Espera-se que [ele] tenha a clareza de suas
especialidades na área e conheça as fronteiras éticas e profissionais de seu
trabalho‖ (SILVA; TONETTO; GOMES, 2006, p. 35). Isso pode ser aplicado a
qualquer campo da ciência e a qualquer profissão, como a Pedagogia e o pedagogo.
2.2.1 A escuta pedtrica
O Brasil somente obteve avanço em relação à humanização da assistência à
criança, após a publicação da Lei N° 8.069, em 1990, regulamentando o Estatuto da
Criança e do Adolescente (BRASIL/MS, 1991), que em seu Art. 12 preconiza que os
estabelecimentos de saúde deverão proporcionar condições para a permanência de
um dos pais ou responsável, em tempo integral, nos casos de internação de criança
ou adolescente.
Silva, Tonetto e Gomes (2006, p. 29) salientam que a preocupação com o
bem-estar da criança internada é facilmente justificada, porque enfermidades infantis
trazem profundas repercussões à vida da criança e qualquer dano maior à saúde
pode significar sequelas para a vida inteira. ―A hostilidade do contexto hospitalar
pode provocar transtornos emocionais. Doenças agudas e crônicas interferem na
dinâmica familiar e na resposta social da criança, ocasionando mudanças
irreversíveis no percurso do desenvolvimento.‖ (SILVA; TONETTO; GOMES, 2006,
p. 29).
Duarte et al. (1987) consideram que essas reações e transtornos podem ser
suavizados com ajuda de profissionais que atuem no sentido de facilitar a adaptação
da criança à nova situação, diminuindo os riscos de traumas e promovendo
melhores condições de recuperação. Pautada nessa intenção, ganha relevância o
cuidado pediátrico, mediante a escuta, que
28
relaciona-se com aquelas coisas que importam e m significado para a
criança [...] O hospital e a enfermidade produzem, para a criança, uma
relação peculiar com o mundo, onde o cuidado, a cura e os atos de saúde
requerem uma abordagem mais integral, em que os saberes sobre o
comportamento clínico não desprezem a relevância dos atos objetivos de
construção singular da existência. (CECCIM; CARVALHO, 1997, p. 32-33).
Arosa (2007) afirma que o reconhecimento do outro, a aceitação, a confiança
mútua entre quem fala e quem escuta o representam um impedimento à ação
pedagógica, isto é, a uma ação educativa intencional, planejada e conscientemente
desenvolvida. Nessa perspectiva, Fontes (2005, p. 123) enfatiza a importância da
escuta pedagógica, que se diferencia
das demais escutas realizadas pelo serviço social ou pela psicologia no
hospital, ao trazer a marca da construção do conhecimento sobre aquele
espaço, aquela rotina, as informações médicas ou aquela doença, de forma
lúdica e, ao mesmo tempo, didática. Na realidade, não é uma escuta sem
eco. É uma escuta da qual brota o diálogo, que é a base de toda a
educação.
A Pedagogia Hospitalar constitui, assim, importante suporte psico-sócio-
pedagógico, porque não isola a criança e/ou adolescente na condição pura de
doente, mas sim o mantém integrado em suas atividades da escola e da família e
apoiado pedagogicamente na sua condição de saúde.‖ (MATOS; MUGIATTI, 2006,
p. 47).
A percepção de que, mesmo doente, pode aprender, brincar, criar e [...]
continuar interagindo socialmente, ajuda o paciente em sua recuperação.
Entendendo melhor sua doença e sobre sua situação no hospital, de acordo com
Ceccim e Carvalho (1997, p. 79), ―a criança terá uma atitude mais ativa diante da
enfermidade, independente de suas consequências, ao invés de uma atitude passiva
de vitimização.‖ Assim, a inclusão do atendimento pedagógico na atenção hospitalar,
inclusive no que se refere à escolarização
vem interferir nessa dimensão vivencial, porque resgata os aspectos de
saúde mantidos, mesmo em face da doença, enquanto respeita e valoriza
os processos afetivos e cognitivos de construção de uma inteligência de si,
de uma inteligência do mundo, de uma inteligência do estar no mundo e
inventar seus problemas e soluções. (CECCIM, 1999, p. 42).
29
Acréscimo interessante a essa premissa é oferecida por Evangelista (2009, p.
31), quando ressalta que compreender o outro, olhar o outro, escutar o outro exige
reinventar práticas, sem desprezar os conhecimentos adquiridos na labuta diária‖.
Tão importante quanto isso é entender que o conhecimento e o saber m de ser
para todos, especialmente hoje, quando a ciência demonstra que todos têm
capacidade de aprender.‖
30
3 A ESCOLA NO HOSPITAL
―O principal efeito do encontro da educação e da saúde para uma criança
hospitalizada é a proteção do seu desenvolvimento e a proteção dos processos
cognitivos e afetivos de construção dos aprendizados.‖ Com esta afirmação, Ceccim
(1999, p. 43) sintetiza o papel da Pedagogia Hospitalar, que busca recuperar a
socialização da criança por um processo de inclusão, dando continuidade à sua
aprendizagem.
O acompanhamento pedagógico e escolar da criança hospitalizada favorece
a construção subjetiva de uma estabilidade de vida não apenas como
elaboração psíquica da enfermidade e da hospitalização, mas,
principalmente como continuidade e segurança diante dos laços sociais da
aprendizagem (relação com colegas e relações de aprendizagens mediadas
por professor), o que nos permitiria falar de uma "escola no hospital" ou de
uma "classe escolar" em ambiente hospitalar. (CECCIM, 1999, p. 42).
O autor enfatiza que a hospitalização não implica necessariamente qualquer
limitação ao aprendizado escolar, e a aprendizagem de crianças no ambiente
hospitalar é possível, visto que elas estão doentes ―mas em tudo continuam
crescendo.‖ (CECCIM; CARVALHO, 1997, p. 80). Ele explica que, apesar de na
Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994 e 1995) constar que a
educação em hospital é uma modalidade de ensino, de onde decorre a
nomenclatura "classe hospitalar", deve-se entender que essa oferta educacional não
se resume às crianças com transtornos do desenvolvimento, mas tamm às
crianças em situação de risco ao desenvolvimento, como é o caso da internação
hospitalar. Isso porque, segundo Ceccim (1999, p. 42),
a hospitalização não impõe limites à socialização e às interações, impõe o
afastamento da escola, dos amigos, da rua e da casa e impõe regras sobre
o corpo, a saúde, o tempo e os espaços. O ensino e o contato da criança
hospitalizada com o professor no ambiente hospitalar, através das
chamadas classes hospitalares, podem proteger o seu desenvolvimento e
contribuir para a sua reintegração à escola após a alta, além de protegerem
o seu sucesso nas aprendizagens.
Ao abordar a criação das classes hospitalares, Vasconcelos (2009, s.p.) relata
que a percepção sobre a necessidade de se incluírem outros profissionais, além do
corpo médico, no meio hospitalar se deve às campanhas mundiais de humanização
31
do atendimento em saúde. A autora informa que a classe hospitalar teve seu início
em 1935, quando Henri Sellier inaugurou a primeira escola para crianças
inadaptadas nos arredores de Paris. Seu exemplo foi seguido na Alemanha, em toda
a França, na Europa e nos Estados Unidos, com o objetivo de suprir as dificuldades
escolares de crianças tuberculosas.
Vasconcelos afirma que se pode considerar como marco da inserção das
escolas em ambiente hospitalar a Segunda Guerra Mundial. Isso porque o grande
número de crianças e adolescentes atingidos, mutilados e impossibilitados de ir à
escola motivou engajamento sobretudo dos médicos, que hoje são defensores da
escola em seu serviço.
Segundo Fonseca (1999), o primeiro registro de atividades educativas em
hospitais no Brasil se refere à classe hospitalar implantada em 1950 no Hospital
Municipal Jesus no Rio de Janeiro e reconhecida pelo Ministério da Educação
apenas em 1994.
No Estado de Santa Catarina, o Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), em
Florianópolis, foi pioneiro na implantação de classes hospitalares. Desenvolve
diversos programas, com atendimentos destinados a diagnóstico, orientão e
acompanhamento escolar, havendo interação entre a equipe multidisciplinar do
hospital e o contexto escolar, segundo informações do site da instituição (HIJG, 2009).
O hospital ainda promove trabalho voltado às crianças de zero a seis anos que
apresentam atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
A classe hospitalar tem amparo legal na Política Nacional de Educação
Especial (BRASIL/MEC/SEESP, 1994) e nas Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001). Em 2001, o Conselho Nacional de
Educação institui diretrizes nacionais para a Educação Especial no Brasil,
possibilitando o atendimento educacional de crianças e jovens internados que
―necessitam de educação especial e que estejam em tratamento hospitalar‖
(BRASIL, 2001).
O Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado, instituído pela
Resolução nº 41 de outubro de 1995, no item 9, estabelece o ―direito de desfrutar de
alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde,
32
acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar‖.
(BRASIL, 1995).
Em 2002, a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação
elaborou documento contendo estratégias e orientações para o atendimento nas
classes hospitalares e assegurando o acesso à educação básica. Vasconcelos
(2009) comenta que, conforme esse documento, a educação tem potência para
reconstituir a integralidade e a humanização nas práticas de atenção à saúde; para
efetivar e defender a autodeterminação das crianças diante do cuidado; para propor
um outro tipo de acolhimento das famílias nos hospitais, inserindo a sua participação
como uma interação de aposta no crescimento das crianças; para entabular uma
educação do olhar e da escuta na equipe de saúde mais significativa à afirmação da
vida.
De acordo com Matos (2009), a Pedagogia Hospitalar tem como objetivo
possibilitar, às crianças e aos jovens hospitalizados, a continuidade de suas
atividades educativas, envolvendo o lúdico e o pedagógico no seu contexto geral.
Fontes (2005, p. 122) entende Pedagogia Hospitalar como ―uma proposta
diferenciada da Pedagogia tradicional, uma vez que se em âmbito hospitalar e
que busca construir conhecimentos sobre esse novo contexto de aprendizagem que
possam contribuir para o bem-estar da criança enferma.‖
Nessa proposta se insere a classe hospitalar ou, como denomina Ceccim
(1999), uma "escola no hospital", que oportuniza ligação da criança com os padrões
da vida cotidiana, em casa e na escola, não se limitando a brincadeiras, recreação e
assistencialismo. Sob a mesma perspectiva, Vasconcelos (2009, s.p) salienta que ―a
escola é um fator externo à patologia, logo, é um vínculo que a criança mantém com
seu mundo exterior.‖ Acrescenta que ―se a escola deve ser promotora da saúde, o
hospital pode ser mantenedor da escolarização. E escolarização indica criação de
hábitos, fator que estimula a autoestima e o desenvolvimento da criança e do
adolescente.‖
Ao afirmar ―que a educação no hospital integraliza o atendimento pediátrico
pelo reconhecimento e pelo respeito ás necessidades intelectuais e sócio-interativas
que tornam peculiar o desenvolvimento da criança‖, Ceccim (1999, p. 43) enfatiza
que a função do professor no hospital
33
não é a de apenas "ocupar criativamente" o tempo da criança para que ela
possa "expressar e elaborar" os sentimentos trazidos pelo adoecimento e
pela hospitalização, aprendendo novas condutas emocionais, como também
não a de apenas abrir espaços lúdicos para que a criança "esqueça por
alguns momentos" que está doente ou em um hospital. O professor deve
estar no hospital para operar com os processos afetivos de construção da
aprendizagem cognitiva e permitir aquisições escolares às crianças.
(CECCIM, 1999, p. 43).
A esse respeito, Fonseca (1999) destaca a formulação da Política Nacional de
Educação Especial, que propõe que a educação em hospital seja realizada a partir
da organização de classes hospitalares, devendo-se assegurar oferta educacional
não só aos pequenos pacientes com transtornos do desenvolvimento, mas, também,
às crianças e adolescentes em situações de risco, como é o caso da internação
hospitalar.
Essas instituições podem ser consideradas como espaços não-formais de
educação, uma vez que, como definido por Fávero (1980, p. 23), a educação não-
formal abrange ―qualquer tentativa educacional organizada e sistemática que se
realiza fora dos quadros do sistema formal (de ensino), para fornecer determinados
tipos selecionados de aprendizagem.‖ No espaço de educação não-formal existe a
preocupação de se transmitir os mesmos conteúdos da escola formal, entretanto
esse repasse é desenvolvido em espaços alternativos e com metodologias e
sequências cronológicas diferenciadas.‖ (GOHN, 1999, p. 102).
Ao analisarem essa questão, Zardo e Freitas (2007, p. 195) salientam que ―a
classe hospitalar possibilita que a criança continue a construção de conhecimentos
sistematizados ou não , buscando a reintegração desse sujeito na escola e na
sociedade após a finalização do tratamento.‖ Assim, cabe a articulação entre
educação e saúde, na tentativa de considerar a complexidade da criança
hospitalizada e da necessidade de aprimorar os atendimentos a partir da análise de
como se estruturam esses ambientes educacionais.
Considerando que o ensino e o contato da criança hospitalizada com o
professor no ambiente hospitalar, podem proteger o seu desenvolvimento e
contribuir para a sua reintegração à escola após a alta, além de protegerem o seu
sucesso nas aprendizagens, Ceccim argumenta:
34
Se o relacionamento com a doença infantil, ou mesmo com a criança
enferma, é mediado pela emergência de atenção às demandas biológica e
psicológica da criança, uma outra dimensão destaca-se à escuta
pedagógica do desenvolvimento infantil: a dimensão vivencial. Essa
dimensão conta-nos das expectativas de cura, sobrevida e qualidade de
vida afetiva, de retorno às atividades anteriores e de continuidade dos laços
com o cotidiano. Assim, a inclusão do atendimento pedagógico na atenção
hospitalar, inclusive no que se refere à escolarização, vem interferir nessa
dimensão vivencial porque resgata os aspectos de saúde mantidos, mesmo
em face da doença, enquanto respeita e valoriza os processos afetivos e
cognitivos de construção de uma inteligência de si, de uma inteligência do
mundo, de uma inteligência do estar no mundo e inventar seus problemas e
soluções. (CECCIM, 1999, p. 42).
A argumentação de Vasconcelos (2009, s.p.) se concilia ao pensamento de
Ceccim (1999) quando coloca que ―o professor hospitalar deve ter a consciência dos
monstros viventes na mente das crianças: o medo, o controle, a mudança e a
incerteza.‖ E, mais que isso, deve se tornar parte dessa rotina, com muita ética, o
que implica ser humano, respeitar limites, resgatar o lado saudável da criança, dar-
lhe singularidade. Segundo a autora, o número de classes hospitalares no Brasil é
ainda tímido se considerada a imensidão do país; mas é um começo bastante
otimista. O Atendimento pedagógico hospitalar é um direito de toda criança, mas
este direito poderia ainda se estender a adultos e à terceira idade.
3.1 Estudos Brasileiros sobre Classe Hospitalar
Ceccim (1999) comenta que a literatura específica sobre o atendimento
pedagógico-educacional hospitalar não é vasta, mas aponta para o importante papel
do professor junto ao desenvolvimento, à aprendizagem e ao resgate da saúde pela
criança hospitalizada.
Em 1997, Ceccim e Carvalho lançaram o livro ―Criança hospitalizada: atenção
integral como escuta à vida‖, no qual argumentam que a internação hospitalar, ainda
que nem sempre esperada e desejada, pode surgir como um acontecimento positivo
ao crescimento e desenvolvimento infantil, especialmente para aquelas crianças que
necessitam da internação e cuidados específicos para um melhor tratamento. Os
autores criam o conceito de ―saúde como afirmação da vida‖ (CECCIM; CARVALHO,
1997, p. 30).
35
Em estudo realizado com professoras que atuavam em quatro hospitais do
município do Rio de Janeiro, Amaral (2009) identificou interesse delas em se
aprimorar e complementar sua formação para o trabalho no ambiente hospitalar. A
partir dessa constatação, a autora defende a formulação de projetos compatíveis
com as necessidades dessa formação. Aponta a falta de estudos científicos sobre
prática e formação docente para atuação em hospitais e recomenda evitar o
desenvolvimento de propostas meramente recreativas ou assistencialistas no âmbito
de assistência pedagógica nos hospitais.
Ao investigar a contribuição da Pedagogia na educação da criança
hospitalizada, Fontes (2003) concluiu que é um grande desafio construir, no hospital,
uma prática diferenciada da que ocorre em uma escola regular e que, para atividade
no contexto hospitalar, requerem-se princípios específicos e outros níveis de
conhecimento que respaldem esse complexo trabalho pedagógico. A autora
reconhece tamm que são grandes as possibilidades de ação do pedagogo nesse
novo espaço de atuação.
Em estudo de caso que enfocou a prática pedagógica de professoras que
atuavam com crianças e adolescentes internados no Hospital da Criança das Obras
Sociais Irmã Dulce, da cidade de Salvador (Bahia), Paula (2004) constatou que a
grande maioria das crianças e adolescentes envolvidos se mostrou interessada nas
aulas. Encontrou práticas pedagógicas diversificadas e observou que as professoras
―realizavam movimentos inclusivos, tanto para inserirem-se como profissionais na
instituição hospitalar, assim como para incluir as crianças neste contexto.‖ (PAULA,
2004, p. 8).
Matos e Mugiatti (2006) destacam o conceito de Pedagogia Hospitalar e
sugerem que nele uma ―posição de vanguarda‖ pela qualidade de vida, pela
busca de novos e específicos conhecimentos que envolvem a atividade
multiprofissional do pedagogo. De acordo com os autores, a educação que se
processa por meio da Pedagogia Hospitalar o pode ser identificada como uma
mera instrução de conhecimentos formalizados. ―É um suporte psico-sócio-
pedagógico dos mais importantes, porque não isola o escolar na condição pura de
doente, mas sim o mantém integrado em suas atividades da escola e da família e
apoiado pedagogicamente na sua condição de saúde.‖ (MATOS; MUGIATTI, 2006,
p. 47).
36
Vasconcelos (2006) publicou artigo sobre a intervenção escolar em hospitais
para criança internadas como uma possibilidade de alternativa ressocializadora.
Nesse trabalho, a autora investigou profissionais de saúde, pedagogos, pacientes e
acompanhantes, colhendo informações por meio de observações participantes e
análise do discurso dos sujeitos envolvidos e constatou que, para profissionais e
acompanhantes, a escola é um recurso de ―ocupação‖ para as crianças; entretanto,
os adolescentes o percebem a intervenção escolar no hospital como
―escolarização‖. A pesquisadora percebeu nesse grupo a necessidade da escuta, do
afeto. Sob a perspectiva das pedagogas, a escolarização é um recurso de resgate à
autoestima dos doentes.
Barros e Sousa (2007) realizaram pesquisa com professoras que
desenvolveram atividades pedagógico-educacionais em hospitais do município de
Salvador (Bahia). As autoras investigaram o aprendizado e a percepção subjetiva na
relação entre alunos e professoras de classes hospitalares e verificaram aspectos da
atuação profissional dessas profissionais relativos à aproximação entre sensibilidade
e técnica pedagógica.
O estudo demonstrou que se destacam as necessidades de uma qualificação
dos professores que atuarão em ambientes hospitalares, que aproxime a técnica à
sensibilidade para a assistência biopsicossocial à criança hospitalizada, e que esta
qualificação possibilita não apenas a expansão desta atividade, mas favorece a
condição de escuta integral tanto para a criança, quanto para o professor. Todas as
entrevistadas destacaram o trabalho de conteúdos de áreas específicas, como por
exemplo, matemática, ciências, geografia. Desta forma a diversidade de conteúdos e
intensidades como devem ser abordados representa uma dificuldade.
Em pesquisa desenvolvida sobre as formas de atendimento educativo em
ambiente hospitalar, aos vínculos dos professores e a estrutura escolar nos
hospitais, Ceccim (2000) encontrou os seguintes resultados:
37
a) quanto à forma de atendimento:
atendimento escolar: ênfase na aprendizagem escolar e construção dos
processos de aprendizagem;
atendimento recreativo: educação lúdica e lazer;
atendimento psicossocial: ludoterapia e jogos de socialização;
atendimento clínico psicopedagógico: ênfase nas condutas emocionais.
b) quanto ao vínculo dos professores:
professores contratados pelo hospital;
professores cedidos pelas secretarias estaduais de Educação;
professores cedidos pelas secretarias municipais de Educação;
professores vinculados aos projetos de pesquisa e extensão universitária;
professores pertencentes aos projetos de voluntariado.
c) quanto à estrutura escolar hospitalar:
atendimento exclusivamente no leito;
atendimento com salas de aula na unidade de internação;
atendimento com salas de aula na unidade de internação, mais salas de apoio e
sala de direção escolar.
3.1.1 Pesquisas em Santa Catarina
Cardoso (2007) caracterizou as classes hospitalares existentes e vinculadas à
Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina, que na época da pesquisa
eram onze, distribuídas por todo o território catarinense. A pesquisadora descreveu
vários aspectos das características físicas e de funcionamento das classes
hospitalares e constatou que, embora a determinação legal recomende o atendimento
38
escolar tanto na educação infantil como no ensino fundamental, algumas classes não
atendiam a esse critério, indicando que duas delas atendiam somente as séries
iniciais e outras duas ampliavam o atendimento para o ensino médio.
As relações entre a escola e o trabalho realizado por professores atuantes no
hospital foram exploradas no trabalho de Darela (2007). A autora pesquisou como
escolas regulares da rede de ensino de Florianópolis e o trabalho realizado pela
classe hospitalar do Hospital Infantil Joana de Gusmão se entrelaçam. Tamm
apresenta a percepção dos professores, diretores, supervisores e orientadores
pedagógicos da escola regular sobre o trabalho realizado pela classe hospitalar.
O estudo mostrou que as escolas desconhecem o trabalho da classe
hospitalar, mesmo quando alunos da escola regular frequentaram e elas receberam
relatórios sobre as atividades realizadas no período da hospitalização. A autora
comenta que os profissionais da escola regular se referiam ao trabalho realizado no
hospital como ―vinculado ao atendimento às questões emocionais e às atividades
lúdicas.‖ (DARELA, 2007, p. 87).
Em artigo publicado em 2007, Cardoso apresenta perspectivas positivas a
respeito da complexa e delicada relação de extensão entre a universidade e os
campos de estágio em artigo publicado. No texto, a autora aborda a experiência
vivenciada com alunas da última fase do curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) durante a prática do estágio curricular obrigatório
realizado no Hospital Infantil Joana de Gusmão.
A formação das professoras que atuam nos hospitais de Santa Catarina foi o
objeto de estudo de Cardoso (2008), que em 2005 visitou as classes hospitalares
vinculadas à Secretaria Estadual de Educação. A pesquisadora conheceu o espaço
das onze classes que funcionavam no período da investigação, fotografou os
ambientes e entrevistou as pedagogas, a fim de caracterizar a formação dessas
profissionais. Segundo o estudo, o trabalho em classes hospitalares de Santa
Catarina era realizado por mulheres entre 22 e 54 anos de idade, em diferentes
estágios na carreira, sendo que a maioria estava admitida em caráter temporário
(ACT) na rede estadual de ensino. A autora concluiu que essas professoras carecem
de informações e destaca que as especializações e as capacitações deram suporte
ao trabalho didático pedagógico, porém não suficiente.
39
Cardoso (2008) ressalta que foram apontados atributos necessários para o
professor de classe hospitalar, como empatia, afetividade e paciência. Segundo as
professoras entrevistadas, esses atributos são naturais e não aprendidos.
3.2 Legislação de Amparo à Educação Hospitalar
A Constituição Federal de 1988, que entre seus artigos regulamenta e define
a educação como direito de todos e dever do Estado, em seu artigo 214 afirma que
as ações do poder público devem conduzir à universalização do atendimento escolar
(BRASIL, 1988). Em 1969, o Decreto de Lei n. 1.044 (BRASIL, 1969) considerou que
condições de saúde nem sempre permitem a frequência do educando à escola e
dispõe sobre o tratamento excepcional para alunos portadores de afecções.
A partir desse pressuposto, importantes mudanças ocorreram no que diz
respeito ao processo de aprendizagem infantil, especialmente com base no
entendimento de que, embora muitas vezes impossibilitada de frequentar
fisicamente a escola, a criança se encontra em condições de aprender e se
desenvolver intelectualmente.
A Lei n. 8.069 de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente, dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, e no
capítulo IV, Art. 53, trata do direito à educação e à igualdade de condições de
acesso e permanência na escola. A mesma lei, em seu Art. 87, prevê, como direito
da criança e do adolescente, políticas e programas de assistência social, para
aqueles que necessitarem. (BRASIL, 1990).
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CNDA), por
meio da Resolução n. 41 de outubro de 1995, estabelece o Estatuto da Criança e do
Adolescente Hospitalizado, assegurando, no Item 9, o ―direito de desfrutar de
alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde,
acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar.‖
(BRASIL, 1995).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96), garante
aos educandos condições de acesso e permanência na escola, levando em
40
consideração as características adequadas às suas necessidades, e a Resolução n.
02/01 do Conselho Nacional de Educação prevê a consideração de situações
singulares e assegura atendimento às necessidades educacionais especiais,
valorizando o desenvolvimento da participação social, política e econômica dos
educandos, mediante o cumprimento de seus deveres e usufruindo de seus direitos.
(BRASIL, 2001).
Diante dessas intenções e pressupostos, o Ministério da Educação e da
Cultura (MEC) disponibilizou em 2002 um documento com Estratégias e Orientações
para o Atendimento Pedagógico Hospitalar (e Domiciliar), com o objetivo de
estruturar ações políticas e sistematizar o atendimento educacional em ambientes
hospitalares e domiciliares. Esse documento denomina como Classe Hospitalar o
atendimento pedagógico-educacional que ocorre nos ambientes de tratamento de
saúde e estabelece que as Classes Hospitalares devem elaborar estratégias para o
acompanhamento pedagógico educativo para crianças, jovens e adultos,
matriculados ou não no sistema regular de ensino, que estejam impossibilitados de
frequentar a escola.
De acordo com essas diretrizes, cabe também ao atendimento pedagógico
hospitalar a manutenção do vínculo escolar com o hospital e a reintegração da
criança e/ou adolescente após a alta hospitalar (BRASIL, 2002).
3.2.1 Normativas de Santa Catarina
No Estado de Santa Catarina, o dispositivo legal sobre classe hospitalar
segue as determinações do MEC, segundo as quais o atendimento pedagógico em
ambiente hospitalar se constitui como uma modalidade da Educação Especial.
Oficialmente, um convênio com a Secretaria de Educação do Estado (SED), firmado
por meio da Portaria n. 30, de 05/03/2001, regulamentou a implantação de
atendimento educacional nos hospitais Seara do Bem, no município de Lages, e no
Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), em Florianópolis, que foram pioneiros na
implantação de classe hospitalar. O mesmo documento, em seu Parágrafo único,
referencia que esse atendimento se destina a crianças e adolescentes do Ensino
41
Fundamental matriculados na rede pública estadual, municipal e particular de ensino
que estejam internados nos referidos hospitais.
A Lei 13.843 de 14 de setembro de 2006 dispõe sobre a garantia do direito da
criança e do adolescente ao atendimento pedagógico e escolar na internação
hospitalar em Santa Catarina e no Art. 2 determina que
aos alunos do ensino fundamental e do ensino médio, em qualquer de suas
modalidades, incapacitados de presença às aulas devido à internação
hospitalar, e que mantenham condições físicas, intelectuais e emocionais
para realizar aprendizagem, aplicar-se regime de classe hospitalar, em
caráter complementar. (SANTA CATARINA, 2006).
Complementa, no Art. 4, que ―o atendimento pedagógico ministrado em
classe hospitalar possui equivalência às classes comuns de ensino regular‖ e
reconhece o Hospital Infantil Joana de Gusmão como responsável pela orientação
do corpo docente nomeado em classe hospitalar em todo o território do Estado‖.
Mais recentemente, a Normativa SED n. 001/2008, no Item 8.10, orienta
procedimentos para o atendimento dos alunos da Classe Hospitalar e autoriza, para
esse trabalho, 20 horas semanais para atendimento diário de dois a quatro alunos e
40 horas semanais para o atendimento diário de cinco a dez alunos. Estabelece
ainda que o trabalho seja preferencialmente desenvolvido por um professor efetivo
excedente. (SANTA CATARINA, 2008).
Essa questão tem sido vista com desânimo e como retrocesso na política
educacional voltada às Classes Hospitalares catarinenses. Em decorrência dessa
normativa, duas Classes Hospitalares do Estado foram desativadas e a equipe de
trabalho de outras que ainda atuam foi amplamente afetada. O maior exemplo é a
Classe Hospitalar do HIJG, que entre 2007 e 2008 contava com a colaboração de
seis professoras e hoje trabalha com apenas duas.
42
4 PEDAGOGIA: VELHAS E NOVAS CONCEPÇÕES
Inicialmente, segundo Nóvoa (1995, p. 15), a função docente no Brasil se
desenvolveu ―de forma subsidiária e não especializada, constituindo uma ocupação
secundária de religiosos [principalmente os jesuítas] ou leigos das mais diversas
origens‖.
Somente no século XIX surgiu a preocupação em formar professores. Tanuri
(2000, p. 64) comenta que a primeira escola normal brasileira foi criada na Província
do Rio de Janeiro em 1835, sendo a primeira estabelecida e mantida pelo Estado.
Segundo Saviani (2007, p. 104), entre os séculos XVII e XIX, as propostas
educacionais privilegiavam métodos de ensino com bases filosóficas e didáticas
muito influenciadas pela pedagogia católica, como destaca Libâneo (2001)
passando no século XX a enfatizar métodos de aprendizagem sustentados em
fundamentos psicológicos da educação.
Na década de 1930, de acordo com Saviani (2007, p. 105), surgiu ―uma nova
concepção pedagógica com um novo modelo de formão docente [com] ênfase na
experiência do aluno, instaurado em agente da própria aprendizagem. Em 1939 foi
regulamentado o curso de Pedagogia no Brasil, ―na verdade o bacharel em
Pedagogia ou chamado ‗técnico em educação‘‖ (LIBÂNEO, 2001, p. 38).
O curso de Pedagogia foi estruturado oficialmente no Brasil em 1939 e
implantado na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil pelo
―Decreto-Lei 1190, de 4 de abril de 1939, visando à dupla função de formar
bacharéis e licenciados para várias áreas, inclusive para o setor pedagógico; ficou
instituído como o chamado ‗padrão federal‘‖ (SILVA, 1999, p. 33).
Todas as instituições de ensino superior tiveram que adaptar os seus
currículos básicos a esse padrão, que mantinha a formação do professor primário na
escola normal e estabelecia a formação do professor secundário com três anos de
bacharelado mais um ano de didática no ensino superior.
Em 1968 entrou em vigor a Lei 5.540, da reforma universitária, que
regulamentou o curso de Pedagogia, pautada em teorias educacionais
estadunidenses conhecidas por ―tecnicismo educacional‖. Essa mudança,
43
concretizada com o Parecer 252/69, criou as habilitações de ―Orientação
Educacional; Administração Escolar; Supervisão Escolar; Inspeção Escolar; Ensino
das disciplinas e atividades práticas dos cursos normais‖ (SAVIANI, 2007, p.120).
Por essa legislação, o bacharel em Pedagogia, formado após três anos de
estudo, era reconhecido como técnico em educação e com mais um ano de estudo
em Didática o licenciado se dirigia para o magistério nas antigas escolas normais.
Com essa configuração, o bacharelado em Pedagogia percorria um caminho oposto
aos demais bacharelados. Estudavam-se generalidades como conteúdo de base e
superpunha-se o específico num curso à parte o de didática da Pedagogia
(BRZEZINSKI, 1996, p. 44).
Trata-se, em suma, daquilo que estou denominando ―concepção
produtivista de educação‖ que, impulsionada pela ―teoria do capital humano‖
formulada nos anos 50 do século XX, se tornou dominante no país a partir
do final da década de 1960 permanecendo hegemônica até os dias de hoje.
(SAVIANI, 2007, p.121).
Aguiar et al. (2006, p. 824) comentam que, nas décadas de 1980 e 1990,
descontentes com as políticas educacionais, os educadores se mobilizaram em luta
pela redefinição e pela ―identidade do curso de pedagogia no elenco dos cursos de
formação de professores‖, que culminaram com a promulgação da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 (BRASIL, 1996).
Novos movimentos em defesa da reformulação do curso de Pedagogia
conduziram à elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
Pedagogia (BRASIL, 2006), que estabelece:
Art. As Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia aplicam-se à
formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos
anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na
modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de
serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam
previstos conhecimentos pedagógicos.
Art. O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de
professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos
anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na
modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio
escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos
pedagógicos.
44
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Licenciatura em
Pedagogia encontram-se consubstanciadas nos Pareceres CNE/CP n. 05/2005 e n.
03/2006 e na Resolução CNE/CP n. 01/2006. Para Aguiar et al. (2006, p. 828), elas
―demarcam novo tempo e apontam para novos debates no campo da formação do
profissional da educação no curso de Pedagogia, na perspectiva de se aprofundar e
consolidar sempre mais as discussões e reflexões em torno desse campo.‖
Ao criticar as Diretrizes, Saviani argumenta que elas são
restritas no que se refere ao essencial, isto é, aquilo que configura a
pedagogia como campo teórico-prático dotado de um acúmulo de
conhecimentos e experiências resultantes de séculos de história. Mas são
extensivas no acessório, isto é, se dilatam em múltiplas e reiterativas
referências à linguagem hoje em evidência, impregnada de expressões
como conhecimento ambiental-ecológico; pluralidade de visões de mundo;
interdisciplinaridade, contextualização, democratização; ética e
sensibilidade afetiva e estética; exclusões sociais, étnico-raciais,
econômicas, culturais, religiosas, políticas; diversidade; diferenças; gêneros;
faixas geracionais; escolhas sexuais, como se evidenciam nos termos da
Resolução. (SAVIANI, 2007, p. 127).
Tamm por essa razão, Aguiar et al. (2006) argumentam que o
aprofundamento dos debates sobre o tema exige que se delineiem de forma mais
clara e precisa os contornos e as perspectivas que essa formação poderá assumir
em decorrência das diretrizes aprovadas.
As DCN abrem amplo horizonte para a formação e atuação profissional dos
pedagogos, especificando no Art. 4º:
Parágrafo único. As atividades docentes também compreendem
participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino,
englobando:
I - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de
tarefas próprias do setor da Educação;
II - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de
projetos e experiências educativas não-escolares;
III - produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo
educacional, em contextos escolares e não-escolares.
(BRASIL, 2006, p. 1-2).
No Art. estão bem definidos os campos de atuação, incluindo o aspecto
enfatizado nesta dissertação: o trabalho em espaços não-escolares, promovendo a
aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano:
45
Art. 5 º - O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a:
I - atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma
sociedade justa, equânime, igualitária;
II - compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a
contribuir, para o seu desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física,
psicológica, intelectual, social;
III - fortalecer o desenvolvimento e as aprendizagens de crianças do Ensino
Fundamental, assim como daqueles que não tiveram oportunidade de
escolarização na idade própria;
IV - trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da
aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano,
em diversos níveis e modalidades do processo educativo;
V - reconhecer e respeitar as manifestações e necessidades físicas,
cognitivas, emocionais, afetivas dos educandos nas suas relações
individuais e coletivas;
VI - ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia,
Artes, Educação sica, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes
fases do desenvolvimento humano;
VII - relacionar as linguagens dos meios de comunicação à educação, nos
processos didático-pedagógicos, demonstrando domínio das tecnologias de
informação e comunicação adequadas ao desenvolvimento de
aprendizagens significativas;
VIII - promover e facilitar relações de cooperação entre a instituição
educativa, a família e a comunidade;
IX - identificar problemas socioculturais e educacionais com postura
investigativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas,
com vistas a contribuir para superação de exclusões sociais, étnico-raciais,
econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras;
X - demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de
natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais,
classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre
outras;
XI - desenvolver trabalho em equipe, estabelecendo diálogo entre a área
educacional e as demais áreas do conhecimento;
XII - participar da gestão das instituições contribuindo para elaboração,
implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação do projeto
pedagógico;
XIII - participar da gestão das instituições planejando, executando,
acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais, em
ambientes escolares e não-escolares;
XIV - realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos, entre outros:
sobre alunos e alunas e a realidade sociocultural em que estes
desenvolvem suas experiências não-escolares; sobre processos de ensinar
e de aprender, em diferentes meios ambiental-ecológicos; sobre propostas
curriculares; e sobre organização do trabalho educativo e práticas
pedagógicas;
XV - utilizar, com propriedade, instrumentos próprios para construção de
conhecimentos pedagógicos e científicos;
XVI - estudar, aplicar criticamente as diretrizes curriculares e outras
determinações legais que lhe caiba implantar, executar, avaliar e
encaminhar o resultado de sua avaliação às instâncias competentes.
(BRASIL, 2006, p. 2-3)
46
Todavia, Aguiar et al. (2006) advertem que é necessário demarcar a
compreensão desses elementos constitutivos da formação do pedagogo, já que o
sentido da docência se articula à ideia de trabalho pedagógico a ser desenvolvido
em espaços escolares e não-escolares. Os autores compreendem a docência como
ação educativa intencional, salientando que tanto em processos educativos
escolares como não-escolares, ela não pode ser confundida com a utilização de
métodos e técnicas pretensamente pedagógicos, desvinculados de realidades
históricas específicas.
A aprovação das Diretrizes, para Aguiar et al. (2006), não esgota as
polêmicas sobre o caráter e a identidade do curso de Pedagogia. Eles comentam
que, nas discussões que vêm se processando, outros desafios emergem, entre eles
a elaboração de formas criativas e criadoras para a educação escolar e não-escolar.
E no meio do debate, como em qualquer circunstância, o educador deve lembrar
sempre que, como ressalta Freire (1996), o seu trabalho é realizado com pessoas
em permanente processo de formação, o que envolve constantes mudanças e
reorientações.
É pensando em um novo cenário para a educação que Aguiar et al. (2006, p.
832) entendem que a formação proposta para o profissional dessa área reivindica
uma nova compreensão que situe a educação, a escola, a pedagogia, a docência e
a licenciatura no contexto mais amplo das práticas sociais construídas no processo
de vida real dos homens, com o fim de demarcar o caráter sócio-histórico desses
elementos.‖ E é exatamente nesse contexto que se insere o processo de construção
dos saberes do educador e o desenvolvimento do trabalho pedagógico em ambiente
hospitalar.
4.1 Os Saberes do Pedagogo
As Estratégias e Orientações para Classe Hospitalar e Atendimento
Pedagógico Domiciliar (BRASIL/MEC, 2002), estabelecem que a capacitação do
profissional para atuação em classe hospitalar deve ser ampla, inclusiva e flexível.
Portanto, o saber docente deve ser constituído não por um saber específico, mas
47
sim por múltiplos saberes construídos em variados contextos. Esse ―saber plural,
formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação
profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais‖ (TARDIF, 2002,
p. 36), engloba o saber-fazer e o saber-ser.
As novas diretrizes do curso de Pedagogia (BRASIL, 2006) preconizam a
formação de um docente capaz de planejar, executar, coordenar, acompanhar e
avaliar experncias educativas em contextos escolares e não-escolares,
enfatizando que ele deve reconhecer as manifestações e necessidades físicas,
cognitivas, emocionais e afetivas dos educandos. Isso pressupõe uma pedagogia
mais ativa, ampla e favorecedora do desenvolvimento de aprendizagens nas
diferentes fases do desenvolvimento humano.
A essas diretrizes se conciliam as Estratégias e Orientações para Classe
Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar (BRASIL/MEC, 2002), que
determinam que, para coordenar atividades pedagógicas nos hospitais, o professor
deve
estar capacitado para trabalhar com a diversidade humana e diferentes
vivências culturais, identificando as necessidades educacionais especiais
dos educandos impedidos de freqüentar a escola, definindo e implantando
estratégias de flexibilização e adaptação curriculares. Deverá ainda, propor
procedimentos didático-pedagógicos e as práticas alternativas necessárias
ao processo de ensino-aprendizagem dos alunos, bem como ter
disponibilidade para o trabalho em equipe e o assessoramento às escolas
quanto à inclusão dos educandos que estiverem afastados do sistema
educacional, seja no seu retorno, seja no seu ingresso [...] O professor
deverá ter noções sobre as doenças e condições psicossociais vivenciadas
pelos educandos e as características delas decorrentes, sejam do ponto de
vista clínico, sejam do ponto de vista afetivo. (BRASIL/MEC, 2002, p. 22).
Ao refletir sobre a formação dos professores e a organização do trabalho
cotidiano deles, Tardif (2002, p. 114) destaca que ―exige-se, cada vez mais, que os
professores se tornem profissionais da pedagogia, capazes de lidar com os
inúmeros desafios suscitados pela escolarização de massa em todos os níveis do
sistema de ensino.‖ Importa considerar que a prática pedagógica hospitalar
exige maior flexibilidade, por tratar-se de uma clientela que se encontra em
constante modificação, tanto em relação ao número de crianças que irão ser
atendidas pelas professoras bem como no que diz respeito ao tempo que
cada uma delas permanecerá internada e ainda o fato de serem crianças e
jovens com diferentes patologias, requisitando diferentes intervenções."
(AMARAL; SILVA, 2003, p. 4).
48
Segundo Caiado (2003), tem se verificado preocupação com o trabalho
educacional que compreende o contexto hospitalar e com a formação do profissional
que atua nessa área. Um dos problemas é que "os cursos de formação de
professores discutem o cotidiano da escola e os cursos de formação de profissionais
da saúde não consideram o professor como participante da equipe hospitalar"
(CAIADO, 2003, p. 72).
Sobre essa questão, Cardoso (2008) comenta que os profissionais que atuam
em classe hospitalar carecem de informações e destaca que as especializações e as
capacitações podem dar suporte ao trabalho didático- pedagógico, porém não m
sido suficientes. É por isso que, segundo Tardif:
as pessoas se interrogam cada vez mais sobre o valor do ensino e seus
resultados. Enquanto as reformas anteriores enfatizavam muito mais as
questões de sistema ou de organização curricular, constata-se, atualmente
uma ênfase maior na formação docente, e também na formação dos
professores e na organização do trabalho cotidiano. Exige-se, cada vez
mais, que os professores se tornem profissionais da pedagogia, capazes de
lidar com os imeros desafios suscitados pela escolarização de massa em
todos os níveis do sistema de ensino. (TARDIF, 2002, p. 114).
As novas diretrizes do curso de Pedagogia (BRASIL, 2006) destacam que a
docência é uma ação educativa metódica e intencional que se constrói nas relações
sociais. As diretrizes curriculares assinalam também que, o curso de Pedagogia
destina-se à formação de um docente capaz de planejar, executar, coordenar,
acompanhar e avaliar experiências educativas em contextos escolares e não-
escolares (BRASIL, 2006).
Nesse sentido, Barros e Sousa (2007) apontam para a necessidade de uma
qualificação dos professores que aproxime a técnica à sensibilidade para a
assistência biopsicosocial à criança hospitalizada e oriente o trabalho de conteúdos
de áreas específicas.
Matos e Mugiatti (2006, p. 47) ressaltam que a educação que se processa
por meio da pedagogia hospitalar não pode ser identificada como uma mera
instrução [...] É muito mais que isso‖. Ela se amplia para o atendimento psico-sócio-
pedagógico dos alunos.
49
Trata-se de um posicionamento ético importante, considerando que é tamm
do professor no hospital ―a tarefa de afirmar a vida e sua melhor qualidade, junto
com essas crianças, ajudando-as a reagir, interagindo para que o mundo de fora
continue dentro do hospital e as acolha com um projeto de saúde.‖ (CECCIM;
CARVALHO, 1997, p. 80).
Para a prática docente, Tardif (2002) estabelece articulação entre os aspectos
sociais e individuais dos pedagogos e propõe um estudo aprofundado sobre os
saberes que constituem a base do trabalho desses profissionais. Para o autor, o
saber do professor é um saber social e se constitui pelas situações coletivas de
trabalho, por o se trabalhar com objetos, mas sim com seres humanos, o que
predispõe a evoluir com o tempo e com as mudanças sociais. E tamm é
elaborado, segundo Pimenta (1999, p. 29), ―em confronto com suas experiências
práticas, cotidianamente vivenciadas nos contextos escolares‖. Sobre esse tema,
Fontana (2003) enfatiza que o educador deve se conscientizar de que a constituição
do seu ser profissional‖ está fortemente imbricada com suas relações sociais, com
as práticas e significados de sua cultura.
Tardif (2002) também considera que o saber do professor é um processo
construído ao longo de uma carreira profissional, que ao pedagogo são
oportunizados diversos cursos e que ele aprende progressivamente a dominar seu
ambiente de trabalho.
Segundo Tardif e Lessard (2007), o saber não se reduz exclusivamente a
processos mentais, cujo suporte é a atividade cognitiva dos sujeitos, mas é tamm
um saber social que se manifesta nas relações complexas entre professores e
alunos. Os autores entendem que os professores têm como objeto de trabalho seres
humanos, e os saberes constituídos advêm de várias instâncias: da família, da
escola que o formou, da cultura pessoal, da universidade, procedem dos pares, dos
cursos de formação continuada.
Tardif (2000) coloca que os saberes constituídos pelos professores advêm de
várias instâncias: da família, da escola que o formou, da cultura pessoal, da
universidade; procedem da troca de informações e experiências com colegas de
profissão e dos cursos de formação inicial e continuada.
50
Esses saberes são plurais, heterogêneos e temporais, pois se constroem
durante a vida e decorrer da carreira, portanto, é personalizado (TARDIF, 2002).
No quadro 1, Tardif (2002), apresenta uma visão do conjunto de modelos de
ação da educação que se baseiam nas atividades dos educadores.
Tipos de ação
A Atividades
típicas na
educação
B Esferas
na Educação
C Caso
ilustrativo
D Papel
típico da
educação
E Saber ou
competência
da educação
F Modelo
da prática
educativa
1 Agir
tradicional
(Weber,
Health, etc.)
Condutas
pautadas por
modelos de vida
baseados nas
tradições e nos
costumes
A educação
familiar, as
tradições
pedagógicas,
os rituais
sociais.
A divisão
sociocultural
entre o feminino
e o masculino,
os
comportamentos
ritualizados.
Agir de acordo
com um modelo
de
comportamento
preestabelecido
por uma
tradição.
Saber oriundo
do mundo
vivido, saber
cotidiano, senso
comum.
A educação é
uma
atividade
tradicional.
2 Agir afetivo
(Freud, Nell,
Rogers, etc.)
Condutas
guiadas por
afetos.
A educação
familiar, as
pedagogias
libertárias.
As interações
afetivo-
emocionais.
Agir e deixar
agir de acordo
com os afetos.
Saber
―estético‖.
A educação é
uma
atividade
afetiva.
3 Agir
instrumental
(Watson,
Skinner,
Gagné, etc.)
Condutas
guiadas por
objetivos
especificados
em
comportamentos
observáveis.
A tecnologia
da educação,
a educação
especializada,
a reeducação.
Atividades que
objetivam a
modificação do
comportamento
através do
condicionamento
Agir de acordo
com regras
técnicas ou com
uma
metodologia do
comportamento.
Saber técnico-
científico
axiologicamente
neutro.
A educação é
uma
tecnologia.
4 Agir
estratégico
(Newmann,
Schön, etc.)
Condutas
guiadas por
objetivos em
situações de
interação.
A prática
cotidiana dos
professores
nas salas de
aula.
Gestão e
orientação das
interações
dentro de um
grupo para
atingir um
objetivo
Agir de acordo
com regras
paradigmáticas.
Saber
estratégico
calculador.
A educação é
uma arte.
5 Agir
normativo
(Well, Moore,
etc.)
Condutas
guiadas por
normas, por
valores.
A prática
guiada por
normas:
disciplina,
currículo, etc.
Atividades que
garantem o
respeito a
normas ou a sua
realização.
Agir de acordo
com regras
éticas, jurídicas,
estéticas.
Saber
normativo.
A educação é
uma
atividade
normativa ou
moral.
6 Agir
dramatúrgico
(Goffman,
Doyle, etc.)
Condutas que
comportam uma
negociação
relativa aos
papéis dos
atores
educativos.
As interações
entre os
professores e
os alunos
exigem uma
construção da
ordem
pedagógica.
Negociação dos
papéis num
programa de
ação em curso
numa sala de
aula
Agir de acordo
com papéis
sociais
contingentes e
negociáveis.
Saber cotidiano,
saber comum,
saber na ação.
A educação é
uma
interação
social.
7 Agir
expressivo
(Schütz,
Rogers, tec.)
Condutas nas
quais o ator
expressa sua
subjetividade,
sua vivência.
As
pedagogias
personalistas,
as atividades
terapêuticas.
Expressão do
que vivem e
sentem os
atores da
educação.
Agir
expressando a
sua vivência.
Saber como
consciência de
si ou auto-
reflexão.
A educação é
uma
atividade de
expressão de
si mesmo.
8 Agir
comunicacional
(Habermas,
Apel, etc.)
Condutas nas
quais os atores
participam como
iguais numa
discussão.
A educação
democrática.
Argumentação
entre os
educadores e os
educandos
sobre as razões
da ação.
Agir pela
discussão.
Saber
argumentar.
A educação é
uma
atividade de
comunicação.
Quadro 01: Conjunto de modelos de ação da Educação que se baseiam nas atividades dos
educadores
Fonte: (TARDIF, 2002, p. 169)
51
Tais tipologias pressupõem que o processo de formão do ser humano
reflete todas as possibilidades do que ele vivencia e do que ele é.
Para ensinar, o professor deve ser capaz de assimilar uma tradição
pedagógica que se manifesta através de hábitos, rotinas e truques do ofício;
deve possuir uma competência cultural oriunda da cultura comum e dos
saberes cotidianos que partilha com seus alunos; deve ser capaz de
argumentar e de defender um ponto de vista; deve ser capaz de se
expressar com uma certa autenticidade, diante de seus alunos; deve ser
capaz de gerir uma sala de aula de maneira estratégica a fim de atingir
objetivos de aprendizagem, conservando sempre a possibilidade de
negociar seu papel; deve ser capaz de identificar comportamentos e de
modificá-los até um certo ponto. (TARDIF, 2002, p.178).
Para Tardif (2002), a ação permite ao pedagogo compreender o saber
docente e, portanto, o ―saber ensinar‖ está interligado com uma pluralidade de
saberes. O autor considera o saber docente uma razão prática, social e voltada para
o outro, portanto, o professor deve saber o que faz e por que faz, sendo essa
consciência profissional caracterizada pela capacidade de julgamento, de
argumentação de acordo com a metodologia empregada ao seu ofício. Assim, para
manter a intencionalidade do seu trabalho, deve tomar decisões em função do
contexto em que atua.
No hospital, como na escola, esse profissional deve tomar decisões, julgar e
elaborar estratégias de aprendizagens, considerando todos os aspectos que
compõem e interferem no ambiente. A figura 1 esquematiza essa teoria de Tardif
(2002).
52
Figura 01: Esquema da prática e consciência profissional
Fonte: (TARDIF, 2002, p. 214)
O que Tardif (2002) representa nesta figura é que os saberes da experiência
dos professores o saberes que se comem a partir do conhecimento discursivos,
de razões e intenções conscientes e de competências práticas do ofício. Segundo o
autor, o caráter específico dos saberes profissionais se constituem de fenômenos
concretos, como formação específica e longa nas universidades, socialização
profissional, experiência na área e utilização na instituição e mobilização no âmbito
do trabalho.
Nesse contexto, que se considerar que, como pondera Pimenta (1999, p.
23), a educação se sustenta na ―intenção de contribuir para o desenvolvimento de
uma ação coletiva e interdisciplinar para um processo de humanização dos sujeitos
envolvidos, para uma inserção social crítica e transformadora.‖
De acordo com Tardif (2002, p. 126), para que a intencionalidade aqui
entendida como a definição clara dos efeitos educativos desejáveis se volte para
a ação educativa e apresente um caráter operacional, é essencial que os
professores não apenas consigam uma adaptação constante às circunstâncias
particulares das situações de trabalho [...] como também durante a preparação das
aulas e das avaliações, o que implica capacidade de planejamento e flexibilidade
para mudanças.
53
Notadamente na Pedagogia Hospitalar, que trabalha com casos
individualizados, o planejamento bem elaborado e os registros ajudam a estabelecer
metas e estratégias de atendimento pedagógico específico para a necessidade de
cada educando. Cabe lembrar que, de acordo com as Estratégias e Orientações
para Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar (BRASIL/MEC, 2002,
p. 22) ―compete ao professor adequar e adaptar o ambiente às atividades e os
materiais, planejar o dia-a-dia da turma, registrar e avaliar o trabalho pedagógico
desenvolvido.‖ (BRASIL/MEC, 2002, p. 22).
Planejar é essa atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro
para empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de
experiências múltiplas e significativas para com o grupo de crianças.
Planejamento pedagógico é a atitude crítica do educador diante de seu
trabalho docente. Por isso, o é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e,
como tal, permite ao educador repensar, revisando, buscando novos
significados para sua prática pedagógica. (OSTETTO, 2000, p. 177).
Nesse sentido, importa estar consciente, como diz Freire, que ―educar é como
viver, exige a consciência do inacabado, porque a história em que me faço com os
outros [...] é um tempo de possibilidades e não de determinismo.‖ (FREIRE, 1996, p.
58). O autor condena o conhecimento utilizado de forma acrítica e
descontextualizada, porque, segundo ele, o ser humano aprende não apenas para
se adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade e recriá-la. Assim, não é
possível ensinar sem conhecer a realidade vivida pelo grupo com o qual se vai
trabalhar.
Ao discutir o papel da educação no hospital, Fontes (2003) conclui ser um
grande desafio para o professor construir uma prática diferenciada da que ocorre em
uma escola regular, mesmo porque, ―na heterogeneidade de seu trabalho, está
sempre diante de situações complexas para as quais deve encontrar respostas [...]
repetitivas ou criativas, que dependem de sua capacidade e habilidade de leitura da
realidade e tamm do contexto.‖ (AZZI, 1999, p. 46).
Especificamente em relação aos saberes da experiência, Tardif e Lessard
(2007), os saberes da experiência formam um conjunto de representações a partir
dos quais os professores orientam sua profissão.
54
Os próprios professores, no exercício de suas funções e na prática de sua
profissão, desenvolvem saberes específicos, baseados em seu trabalho
cotidiano e no conhecimento de seu meio. Esses saberes brotam da
experiência e por ela são validados. Eles incorporam-se à experiência
individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber-fazer
e de saber ser. (TARDIF, 2002, p. 39).
Como argumenta Guarnieri (2000), o professor constrói e continuamente
ressignifica seus conhecimentos e sua ação profissional na vivência do cotidiano, no
exercício da docência, com todos os conflitos e desafios que emergem dessa
experiência diária.
Tais conhecimentos [...] permitem ao professor avaliar a própria prática e
detectar nas condições em que seu trabalho acontece, os problemas, as
dificuldades que limitam sua atuação e exigem dele a tomada de decisões,
desde aquelas de natureza pragmática, até as que envolvem aspectos
morais. (GUARNIERI, 2000, p. 10).
Ao analisar essa questão, Evangelista (2009, p. 31) pondera que ―não basta
ter uma boa formação profissional e um amplo conhecimento da área; é
imprescindível ter autocontrole emocional, sensibilidade e, sobretudo, compreensão
das reais necessidades desses alunos.‖ A autora considera que também são
imprescindíveis o estudo, a pesquisa e o aperfeiçoamento para que o professor se
sinta apto a desenvolver o trabalho.
4.2 Dificuldades e Desafios da Docência Hospitalar
As atividades desenvolvidas pelo pedagogo no ambiente hospitalar muitas
vezes não são compreendidas inclusive por colegas de profissão. Segundo Darela
(2007, p. 87), os profissionais da escola regular costumam se referir ao trabalho
realizado no hospital como ―vinculado ao atendimento às questões emocionais e às
atividades lúdicas.‖
Por isso é necessário que se estabeleça diálogo e parceria entre o professor
da escola regular, o orientador pedagógico e o pedagogo hospitalar para que,
durante a hospitalização, as questões educativas não sejam mais um fator
55
angustiante para a criança e seus pais ou responsáveis. A respeito desse assunto,
Paula (2006, p. 6) afirma que
as práticas educativas cotidianas nos hospitais são espaços de educação
pública que estão sendo construídas de forma diferenciada por seus
professores e alunos. No entanto, estas instituições ainda atuam de forma
paralela ao sistema de ensino regular e são tratadas como anexos do
sistema educacional. É preciso integrar esses sistemas.
A relação dialógica do hospital com a escola leva à compreensão de que a
pedagogia hospitalar envolve muito mais que emoção e ludicidade. Requer dos
profissionais que dela se ocupam ―uma abordagem progressista, com uma visão
sistêmica da realidade do escolar doente. Seu papel principal não será resgate à
escolaridade, mas de transformar essas duas realidades, fazendo fluir sistemas que
as aproximem e as integrem‖ (MATOS, 1998, p. 12).
Evangelista (2009) afirma que a escolha dos procedimentos de ensino é uma
ação delicada no processo de planejamento, do qual também fazem parte odico, o
jogo e as brincadeiras. Ela recomenda que as atividades propostas sejam
adequadas à faixa etária dos alunos, de modo que ―proporcionem [a eles] maior
participação nas atividades direcionadas a atendê-los, de acordo com as
dificuldades, a independência e as necessidades de cada grupo, permitindo a
individualização do ensino.‖ (EVANGELISTA, 2009, p. 31).
As práticas educativas no hospital costumam contemplar o aspecto lúdico, o
que, para Paula (2006, p. 5), ―é significativo para as crianças e adolescentes
internados, mas insuficiente para atender as necessidades destes quanto aos
objetivos da escolarização e acompanhamento destas no hospital.‖
Em defesa da ludicidade, Chiattone (2003, p. 76) afirma que ―a importância
dos elementos lúdicos em si determina a quebra da rotina imposta pelo repouso
forçado. A autora diz que o brincar ajuda a criança a retomar seu equilíbrio
psíquico e assim explorar e descobrir alternativas na situação de doença. A
ludoterapia deve oferecer às crianças, qualquer que seja sua idade, atividades
estimulantes, divertidas e enriquecedoras, que tragam ao mesmo tempo calma e
segurança.‖ (LINDQUIST, 1993, p. 24).
Ao comentar que, ―se uma criança se sente descontraída e feliz, sua
permanência no hospital não será somente muito mais fácil, mas tamm seu
56
desenvolvimento e cura serão favorecidos‖, Lindquist (1993, p. 24) concorda com
Winnicott (1975), para quem as atividades do brincar facilitam o desenvolvimento e,
portanto, a saúde infantil. De acordo com o autor, é preciso ter uma equipe bem
informada, que entenda o valor e a importância das atividades do brincar para a
criança hospitalizada.
Em todos os casos, que se considerar, como argumenta Fonseca (2003),
que o atendimento pedagógico hospitalar deve ajudar a criança e o jovem internado
a melhorar sua autoestima, compreender sua própria condição de saúde e reduzir
seu tempo de internação. Afinal, como coloca Evangelista (2009, p. 29), ―no espaço
tão carregado de dor e emoção como a classe hospitalar, todo dia é um novo dia‖ e
essa condição muitas vezes exige desconstruir uma rotina e uma prática de anos
de docência para reconstruir e construir outras.‖ Sobre o uso de estratégias e
recursos da escola regular, a autora considera que
o conteúdo pode seguir o da escola regular, mas a cor e a luz da ludicidade,
sem perder de vista as habilidades a serem construídas, como escrever
pequenos textos, ler em voz alta, ler para o outro, resolver situações-
problema simples, mesmo com o escasso material, a criatividade dos
educadores torna tudo mais atraente. (EVANGELISTA, 2009, p. 29).
Nesse aspecto, Reis (2009, p. 3) concorda que ―há necessidade de projetos
criativos e competentes, que desenvolvam práticas específicas para crianças e/ou
adolescentes hospitalizados adaptada às condições de aprendizagem que foge aos
padrões normais de sala de aula.‖
Referindo-se ao trabalho educacional com as crianças da educação infantil no
hospital, Evangelista (2009) entende que ele não é diferente do realizado nas
classes regulares. Entretanto, para atender esse público, é necessário fazer ajustes,
―manter um currículo flexível, pois os diferentes níveis de desenvolvimento e faixas
etárias, além da diversidade de patologias, fazem com que a turma seja
multisseriada e requeira competência do educador.‖ (EVANGELISTA, 2009, p. 30).
Reis (2009, p. 3) defende que ―a prática do pedagogo hospitalar deve transpor
as barreiras do tradicional e buscar o encontro da educação e da saúde‖,
acrescentando que o profissional dedicado a esse campo precisa desenvolver sua
sensibilidade, compreensão e força de vontade, agindo com paciência e audácia
57
para atingir suas metas. Especificamente sobre o trabalho do professor do ensino
fundamental no hospital, Paula (2006, p. 14) assevera que ele
requer capacidade para lidar com as diferenças, respeito às condições
culturais e existenciais das pessoas sem discriminá-las. Faz-se necessário
tamm entender os diferentes ritmos de progressão dos alunos, dos
procedimentos, dos contratos pedagógicos e elaborar atividades que
contemplem tanto a variação de idades dos alunos, bem como a
diversidade relacionada às histórias de vida e das suas escolas. Pelo fato
da permanência das crianças ser cíclica, devido às internações e altas
hospitalares, o professor também precisa saber lidar com a alternância dos
alunos e imprevisibilidade.
Assim como a criança hospitalizada, o pedagogo que atua no espaço do
hospital tem seus próprios medos, angústias e conflitos. Além dos desafios de lidar
com a inconstância da atividade, com a ansiedade natural da adaptação às
mudanças diárias e com a imprevisibilidade do seu trabalho no hospital, muitas
vezes depara-se com espaços físicos inadequados em com a insegurança gerada
por diferentes relações de poder que se estabelecem nesse ambiente.
O poder da professora está muito relacionado à autoridade e ao espaçosico
da escola, sobretudo à sala de aula convencional. Ferreira (2004, 234) apresenta
como sinônimos do termo autoridade: ―direito ou poder de se fazer obedecer, de dar
ordens, de tomar decisões, de agir [...] poder atribuído a alguém; domínio [...]
influência, prestígio, crédito‖.
Citando Arendt, Novais (2004, p.17) afirma que ―autoridade é tudo que faz
com que as pessoas obedeçam.‖ Assim, na instituição escolar, uma pessoa,
investida da função de professor, adquire o poder de determinar as ações dos
alunos, que legitimam esse poder, pois trazem de casa, ou adquirem rapidamente, a
imagem do professor como autoridade.
Segundo Novais (2004, p. 19), ―a autoridade pode ser exercida pelo domínio
ou pelo poder institucionalizado, como ocorre na instituição escolar, ou pelo prestígio
daquele que demonstra possuir competência em determinado assunto.‖ No caso do
professor, sua autoridade pode se constituir ―a partir de uma aliança entre
conhecimento e experiência na condução da turma‖ (NOVAIS, 2004, p. 20), pois,
―para encaminhar seus alunos para a compreensão de um determinado
conhecimento, torna-se necessário que o professor domine tanto o fenômeno quanto
o modo como o processo de conhecer‖ (AQUINO, 1999, p. 140).
58
Segundo Foucault (1979), o poder se manifesta não simplesmente a partir de
um centro único que se contrapõe aos outros alvos das incursões do poder, mas por
meio de microrrelações de poder que se distribuem capilarmente e se alternam
mutuamente. Essa dinâmica de poder envolve o professor da classe hospitalar que,
ao chegar no hospital, encontra um ambiente hierarquizado, com poderes
claramente definidos pela equipe médica e administrativa e, sem a estrutura da
escola convencional, tende a se sentir perdido e inseguro para desenvolver sua
ação pedagógica.
Além disso, segundo Santomé (1995, p. 166), ―o ensino e a aprendizagem
que ocorrem nas salas de aula representam uma das maneiras de construir
significados, reforçar e confrontar interesses sociais, formas de poder, de
experiência que têm sempre um significado cultural e político.‖ E as relações de
poder se estabelecem diferentemente na escola e no hospital, mesmo porque, de
acordo com Paula (2006, p. 9), ―a forma de constituição disciplinadora do espaço
que muitas vezes existe na escola regular, não existe no hospital.‖
Seja qual for a questão poder, espaço, disciplina, relações profissionais ,
as professoras devem estar conscientes de que precisam analisar as características
e as informações contidas no ambiente hospitalar para (re)significá-las,
compreendê-las e relacioná-las ao seu fazer pedagógico, reconhecendo que
―ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os
homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo.‖ (FREIRE, 2004, p.
68).
No complexo cosmo do ensino e da aprendizagem, o educador ―já não é o
que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o
educando, que, ao ser educado, tamm educa‖ e é assim que eles se tornam
sujeitos do processo, em que crescem juntos e em que os ‗argumentos de
autoridade‘ não valem.‖ (FREIRE, 1979, p. 78). Isso se aplica às relações
estabelecidas com outros educadores e com as demais equipes do hospital, com os
alunos e seus pais, com os colegas de profissão e outros agentes sociais com os
quais o pedagogo convive, num processo ancorado no diálogo, na construção
cooperativa de conhecimento e no respeito mútuo.
59
5 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
Para analisar os saberes constituídos e utilizados por pedagogas que atuam
em hospitais de Santa Catarina, as formas de atuação e os desafios enfrentados por
essas profissionais no ambiente hospitalar, avaliando também a contribuição do
curso de Pegagogia na formação das professoras de classe hospitalar, optei por
desenvolver uma pesquisa qualitativa, considerando ser ela a mais adequada para
este estudo.
Tomei como base as formulações de Triviños (1995), que aponta como
principais focos da abordagem qualitativa a compreensão, descrição e interpretação
dos significados que as pessoas projetam no fenômeno em estudo e afirma que, sem
caráter especulativo, ela possui uma objetividade conceitual que contribui
positivamente para o desenvolvimento do pensamento científico.
Minha escolha se pautou também em Chizotti (1991), que destaca aspectos
da pesquisa qualitativa relacionados a este estudo a imersão do pesquisador no
contexto da pesquisa e o reconhecimento dos atores sociais como sujeitos que
produzem conhecimentos e práticas e em Dias (2000), que enfatiza a análise de
informações mais subjetivas e o uso de descrições detalhadas de fenômenos e
comportamentos, citações diretas de pessoas sobre suas experiências, utilização de
trechos de documentos, registros, gravações ou transcrições de entrevistas e
discursos, interações entre indivíduos, grupos e organizações.
5.1 Participantes da Pesquisa
Participaram desta pesquisa treze pedagogas que atuam em doze hospitais
de Santa Catarina, distribuídos por onze cidades catarinenses. Para chegar a esse
grupo, a primeira ação foi localizar os hospitais infantis do Estado e obter dados de
identificação e os endereços deles por meio de pesquisa na internet. Utilizei o
sistema de busca Google e as palavras chaves em português: hospital+infantil.
60
Nessa busca, constatei que nem todos os hospitais infantis do Estado
possuem home page e apenas a home page do Hospital Infantil Joana de Gusmão
(HIJG, 2008) apresentava informações sobre atendimento pedagógico. Em consulta
seguinte obtive a listagem de todos os hospitais catarinenses no site da Secretaria
Estadual de Saúde de Santa Catarina (SES/SC, 2009).
O próximo passo foi contatar via e-mail a Secretaria Estadual de Educação
(SEED), para solicitar a relação das Classes Hospitalares conveniadas a esse
órgão. Como resposta, recebi a informação de que existiam onze hospitais no
Estado que contavam com Atendimento Pedagógico Hospitalar. Desses, dois
informaram que não haviam retomado as atividades em 2009.
Decidi entrar em contato com os outros hospitais que atendem crianças no
Estado pelo Serviço de Atendimento ao Consumidor, mas apenas sete hospitais
retornaram, afirmando não havia pedagogos na equipe do hospital. Passei então a
utilizar a listagem disponibilizada na home page da SES/SC e me comunicar via
telefone com a administração de todas as instituições hospitalares do Estado,
atividade esta realizada entre os dias 5 e 11 de abril de 2009. Todas as informações
obtidas nesses contatos foram conferidas com a relação dos hospitais que possuem
atendimento pedagógico disponibilizada pela Secretaria de Educação (Anexo A).
Ao final das pesquisas, identifiquei doze hospitais que disponibilizam
atendimento pedagógico hospitalar em onze municípios distribuídos em seis regiões
de Santa Catarina (Figura 2):
Norte Joinville (três hospitais)
Oeste Joaçaba, Concórdia, Chapecó e Xanxerê
Vale do Itajaí Blumenau e Rio do Sul
Sul Tubarão
Grande Florianópolis Florianópolis
Planalto Serrano Curitibanos e Ituporanga
61
Figura 02: Distribuição geográfica das cidades catarinenses com atendimento
pedagógico hospitalar
Fonte: Adaptado pela pesquisadora com dados coletados em SES/SC (2009) e
SANTACATARINA.AUTONOMIA.G12.BR (2009)
Para selecionar os sujeitos da pesquisa, nos doze hospitais listados, defini
como critérios a formação em Pedagogia, a atuação no trabalho pedagógico em
ambiente hospitalar e o consentimento delas em participar do estudo. Cheguei
então a um grupo de treze pedagogas, identificadas com nomes fictícios, escolhidos
por mim a fim de homenagear algumas crianças que marcaram e significaram a
minha trajetória docente.
O Quadro 2 mostra a relação das pedagogas, apresentando dados sobre
formação, tempo de docência e tempo de atuação em hospital. A cada sujeito
corresponde um código relativo ao hospital onde atua (de H1 a H12).
62
Pedagoga
Participante
(nomes fictícios)
Hospital
Formação
Tempo de
Docência
Tempo de
Docência no
Hospital
Bruna
H1
Pedagogia
Pós em Gestão Escolar
16 anos
1 ano e 6
meses
Júlia
H2
Pedagogia
Especialista em Educação
Infantil e Séries Iniciais, Pós-
graduanda em
Psicopedagogia
23 anos
17 anos
Isabel
H2
Pedagoga com habilitação
em Orientação Educacional e
Mestranda em Educação
25 anos
9 anos
Carolina
H3
Pedagogia
Pós graduanda em
Psicopedagogia
15 anos
7 anos
Mariana
H4
Pedagogia
29 anos
6 meses
Luiza
H5
Pedagogia Especialista em
Educação Infantil
7 anos
3 anos
Renata
H6
Pedagogia
Pós em Interdisciplinaridade
6 anos
6 meses
Amanda
H7
Pedagogia
Pós em Educação Infantil
22 anos
4 meses
Sophia
H8
Pedagogia
Pós em Educação Infantil e
Séries Iniciais
28 anos
3 anos
Eduarda
H9
Pedagogia
Pós em Gestão Escolar
9 anos
1 ano e 6
meses
Beatriz
H10
Pedagogia
Pós em Psicopedagogia e
Pós-graduanda em
Neuropsicologia
9 anos
7 anos
Juliana
H11
Pedagogia
Pós em Psicopedagogia,
Gestão Escolar e Educação
Especial
24 anos
26 anos
(Iniciou como
estagiária do
hospital)
Alicia
H12
Pedagogia
Pós em Psicopedagogia,
Administração em Serviços
de Saúde, Cromoterapia e
Terapia de Florais
15 anos
8 meses
Quadro 02: Sujeitos da pesquisa
Fonte: Elaborado pela pesquisadora conforme identificação dos sujeitos.
63
5.2 Procedimentos de Coleta e Análise de Dados
As entrevistas com o grupo de treze participantes foram marcadas
antecipadamente e ocorreram em data, local e horário combinado com as
pedagogas, conforme a disponibilidade de cada uma. Antes foram esclarecidos os
objetivos da pesquisa e apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Apêndice A). Apenas uma pedagoga não autorizou a gravação da entrevista.
As questões para entrevista foram elaboradas em forma de roteiro (Apêndice
B), reunindo os seguintes tópicos, que foram abordados, com relativa flexibilidade,
de forma a permitir a inserção de perguntas conforme o andamento da entrevista:
a) Formação profissional inicial e continuada da pedagoga.
b) Principais dificuldades e desafios /descrição do trabalho realizado.
c) Contribuições do curso de Pedagogia para a atuação hospitalar.
Cabe salientar que esse tipo de entrevista, semi-estruturada, se adequou à
proposta de investigação, uma vez que conferiu espaço para a fala das
entrevistadas, gerando, assim, mais material para a análise.
Os encontros com as pedagogas aconteceram entre os dias 15 e 27 de maio
(quatro entrevistas realizadas) e entre 10 e 28 de agosto (nove entrevistas
realizadas). As entrevistas foram gravadas em áudio e a seguir transcritas (Apêndice
C).
A maioria das entrevistas aconteceu em agosto de 2009, durante o surto da
Gripe A, o que prejudicou uma possível observação do espaço sico. Não tive
acesso aos espaços físicos destinados aos atendimentos pedagógicos, por conta
dos procedimentos restritivos adotados pelos hospitais para conter a transmissão do
vírus na época.
Na análise qualitativa, segundo Lankshear e Knobel (2008), os dados
precisam estar organizados, preparados adequadamente. Dessa forma, foi
necessário transformar os dados verbais em dados escritos. Todas as entrevistas
gravadas em áudio foram transcritas na íntegra da seguinte forma:
64
O dado verbal (áudio gravado) foi ouvido e transcrito simultaneamente. A
pesquisadora escrevia um período de uma oração aquilo que estivesse dito de
forma clara. Algo que não estivesse compreensível retornava-se a fala quantas
vezes fossem necessárias. Em alguns casos não foi possível identificar alguma
palavra no áudio e nesses casos foi utilizada a expressão incompreensível.
Ao término da primeira versão, o texto foi repassado novamente e conferido com
o áudio. Esse procedimento foi realizado várias vezes.
Todas as expressões percebidas no áudio foram sinalizadas no texto em negrito
e entre parênteses. Ex. sinalizando tempo de parada para pensar (pensando),
palavra enfatizada (ênfase).
Ressalto que uma das entrevistadas não permitiu a gravação em áudio e,
nesse caso, os registros escritos foram feitos simultaneamente à entrevista. As
dúvidas durante o registro escrito foram, na medida do possível, esclarecidas com a
entrevistada.
Após a transcrição das entrevistas realizadas, foram feitas várias leituras do
material e destacados os principais significados, de acordo com os eixos de análise,
para dessa forma, iniciar o processo de codificação e análise. Os eixos de análise
surgiram a partir dos temas indicados na pauta de entrevistas: saberes necessários
à prática pedagógica hospitalar, principais dificuldades e desafios, trabalho realizado
pelo pedagogo nos hospitais de Santa Catarina.
O segundo passo do processo analítico foi refinar a codificação a fim de
agrupar as informações semelhantes e dessa forma indicar as unidades de
significância (ver quadros informativos no Apêndice D).
65
6 ANÁLISE DOS DADOS
Para facilitar a leitura e a compreensão da análise dos dados desta pesquisa,
considerei coerente subdividir essa seção nos seguintes itens: saberes acadêmicos;
saberes da experncia; docência hospitalar: dificuldades e desafios; trabalho
realizado nos hospitais de Santa Catarina.
6.1 Saberes Acadêmicos
Analisando o quadro 02 (sujeitos da pesquisa), apresentado anteriormente,
verifica-se que, das treze entrevistadas, Mariana é a única que tem apenas o curso
de graduação em Pedagogia. Todas as outras doze concluíram ou estão cursando
programa de pós-graduação algumas com mais de um curso. Entre elas, três têm
especialização (lato sensu) em Psicopedagogia e duas são pós-graduandas na
mesma área. Outras três são especialistas em Gestão Escolar e quatro em
Educação Infantil.
Renata tem pós em Interdisciplinaridade, Isabel é mestranda em Educação e
Beatriz, que já concluiu especialização em Psicopedagogia, está cursando pós-
graduação em Neuropsicologia. Assim como a Psicopedagogia, essas três áreas
são relevantes para o trabalho com classes hospitalares, visto que documentos
legais, como as Estratégias e Orientações para Classe Hospitalar e Atendimento
Pedagógico Domiciliar (BRASIL/MEC, 2002), preconizam que a capacitação do
profissional para atuação em classe hospitalar deve ser ampla, inclusiva e flexível.
Sobre a importância da educação continuada, Alícia, que tem pós-graduação
em Psicopedagogia, Administração em Serviços de Saúde, Cromoterapia e Terapia
de Florais, enfatiza:
66
Olha, ajudou muito frente ao currículo, principalmente em toda essa área do desenvolvimento
humano, a psicologia, a neurofisiologia, se fosse elencar as matérias que me ajudaram a
compreender muitas situações que as crianças tem passado aqui, é... muito gratificante saber que eu
fiz pedagogia e isso contribui, além do próprio currículo escolar que nós estudamos na faculdade,
essa base, esse chão de sala de aula, de saber o que é uma turma, de fazer um trabalho
individualizado, de dominar os conteúdos, isso é excelente e ter toda essa percepção, essa interação
da área, da psicopedagogia é sensacional, se não tivesse a formação na área da psicopedagogia da
educação especial, eu acho que eu sofreria muito, se não tivesse a experiência fora. (ALÍCIA).
Importa salientar que, em Santa Catarina, a Lei 13.843/2006 expressa, em
seu artigo 6, que a equipe profissional da classe hospitalar deverá ser composta
pelo menos por um psicopedagogo. Entretanto, nos documentos federais, como o
acima citado, não é exposta a necessidade de formação em Psicopedagogia, mas
sim de formação pedagógica preferencialmente em Educação Especial ou em
cursos de Pedagogia ou licenciaturas (BRASIL/MEC, 2002).
Apenas Juliana tem especialização em Educação Especial, sendo tamm
pós-graduada em Psicopedagogia e Gestão Escolar. Mas, de acordo com as
determinações do Ministério da Educação, todas as treze professoras entrevistadas
estão habilitadas, já que são graduadas em Pedagogia.
Cabe salientar que o mesmo documento determina que o professor que
coordena atividades pedagógicas nos hospitais deve
estar capacitado para trabalhar com a diversidade humana e diferentes
vivências culturais, identificando as necessidades educacionais especiais dos
educandos impedidos de freqüentar a escola, definindo e implantando
estratégias de flexibilização e adaptação curriculares. Deverá ainda, propor
procedimentos didático-pedagógicos e as práticas alternativas necesrias ao
processo de ensino-aprendizagem dos alunos, bem como ter disponibilidade
para o trabalho em equipe e o assessoramento às escolas quanto à inclusão
dos educandos que estiverem afastados do sistema educacional, seja no seu
retorno, seja no seu ingresso [...] O professor deverá ter noções sobre as
doenças e condições psicossociais vivenciadas pelos educandos e as
características delas decorrentes, sejam do ponto de vista clínico, sejam do
ponto de vista afetivo. (BRASIL/MEC, 2002, p. 22, grifo).
Durante a pesquisa, observei que um grave problema dos profissionais que
atuam nos hospitais de Santa Catarina é a desinformação, que a formação inicial
deficitária tem enorme influência sobre esse aspecto e que os conteúdos abordados
nos cursos de pós-graduação não contemplam a prática. O relato de Mariana
demonstra profundo desconhecimento sobre o papel e a importância da prática
profissional, notadamente no que se refere às classes hospitalares.
67
Ela atua na área pedagógica 29 anos o maior tempo de trabalho nesse
campo entre as treze entrevistadas e com classes hospitalares apenas seis
meses. Para ela,
a parte pedagógica da educação infantil, não tem muito o que fazer, porque a criança chega aqui
indisposta, daí ela ta doente, então eu faço mais um trabalho psicológico, mais psicológico, mais
afetividade, questão da afetividade, a questão do cognitivo, jogos... mais lúdico, trabalho mais lúdico.
(MARIANA).
Quando perguntada sobre os saberes fundamentais para o trabalho de um
pedagogo no hospital, ela responde: Muito carinho, muito amor, muita paciência‖.
Mariana não considera necessário o envolvimento de um pedagogo nesse processo:
Não, eu acredito assim, pela visão e a pouca experiência que eu tenho, eu vejo que
não.‖ Esse comentário denota falta de conhecimento sobre as diretrizes e
recomendações elaboradas especificamente para as classes hospitalares, o que faz
com que o trabalho do pedagogo, no contexto hospitalar, seja visto por ela como
desnecessário.
Esse é um exemplo da deficiência de informações e de educação continuada
de muitos professores, que parecem nem sequer estar conscientes ou se
preocuparem em saber qual a perspectiva de aprendizagem que fundamenta esse
tipo de trabalho, tampouco considerarem a imbricação da Pedagogia com outras
disciplinas e campos do conhecimento importantes para o exercício da profissão em
contexto hospitalar.
Prova disso é que, para melhorar sua prática com classes hospitalares,
Mariana não busca informações relativas à saúde e à psicologia e se refere apenas
a consultas na área da Pedagogia, colocando a sensibilidade acima do
embasamento científico. O depoimento da pedagoga corrobora o estudo de Cardoso
(2008), no qual os docentes apontam, como atributos necessários para o professor
de classe hospitalar, principalmente empatia, afetividade e paciência, que para eles
são naturais e não aprendidos.
Nesse ponto, cabe retomar as formulações de Tardif (2002), para quem a
prática docente integra múltiplos saberes com os quais o corpo docente mantém
diferentes relações. Segundo ele, a mescla de saberes das disciplinas os
curriculares, os da formação profissional e os da experiência constitui o que é
68
necessário saber para ensinar. Portanto, nem experiência nem conhecimento
acadêmico, sozinhos, o suficientes para garantir práticas educativas bem-
sucedidas. É preciso integrá-los para dar conta das complexas demandas do exercício
pedagógico.
Cabe aqui um parêntese para acrescentar um comentário interessante sobre a
situação profissional de Mariana. A proximidade da aposentadoria a gente ta
quase se aposentando‖, diz ela pode ser um fator desestimulante na busca por
práticas inovadoras e por novas abordagens que possam ser aplicadas
cotidianamente no seu trabalho no hospital.
As novas diretrizes do curso de Pedagogia (BRASIL, 2006) preconizam a
formação de um docente capaz de planejar, executar, coordenar, acompanhar e
avaliar experiências educativas em contextos escolares e não-escolares,
enfatizando que ele deve reconhecer as manifestações e necessidades físicas,
cognitivas, emocionais e afetivas dos educandos. Isso pressupõe uma pedagogia
mais ativa, ampla e favorecedora do desenvolvimento de aprendizagens nas
diferentes fases do desenvolvimento humano.
Nessa perspectiva, Wallon (1979) destaca a importância da afetividade e
aponta a emoção como elemento fundamental para o desenvolvimento humano.
Mas isso não basta. O que se percebe é que a supervalorização da dimensão da
sensibilidade acarreta uma concepção assistencialista, estimulando o
sentimentalismo em detrimento de um trabalho pedagógico intencional.
Ao refletir sobre a formação dos professores e a organização do trabalho
cotidiano deles, Tardif (2002, p. 114) destaca que ―exige-se, cada vez mais, que os
professores se tornem profissionais da pedagogia, capazes de lidar com os
inúmeros desafios suscitados pela escolarização de massa em todos os níveis do
sistema de ensino.‖
Importa salientar que um instrumento fundamental para a aproximação entre
teoria e prática do professor do ensino regular e do pedagogo hospitalar é o
planejamento bem elaborado e registrado, que vai estabelecer metas de
atendimento pedagógico específico para a necessidade de cada educando,
constituindo-se, de acordo com Ostetto (2000), em atitude crítica do educador diante
do seu trabalho docente.
69
Alícia segue essa recomendação ao organizar um banco de dados com
propostas de atividades que poderão ser consultadas e aplicadas, em várias
circunstâncias, por ela e outros profissionais.
Eu to organizando um banco de dados que vai ficar pro futuro, pra crianças que estão hospitalizadas,
por exemplo, que estudam em série, atividades diversificadas em português, matemática, historia,
enfim e assim consecutivamente... atividades também que sejam mais na área de lazer né... elas
precisam desenhar, pintar, não ler, escrever, calcular... então to montando pastas com essas
atividades, geralmente as escolas encaminham as atividades pra cá e eu xeroco as atividades que eu
acho mais interessantes e assim eu vou organizando. (ALICIA).
De acordo com as orientações do MEC, ―compete ao professor adequar e
adaptar o ambiente às atividades e os materiais, planejar o dia-a-dia da turma,
registrar e avaliar o trabalho pedagógico desenvolvido.‖ (BRASIL/MEC, 2002, p. 22).
Mas para que esse planejamento seja eficaz são fundamentais saberes acadêmicos
que contribuam para o atendimento às especificidades cognitivas e afetivas
enquanto a criança e/ou adolescente permanecer no hospital.
Com exceção Mariana, nos depoimentos das outras entrevistadas verifica-se
a preocupação com questões teóricas, notadamente com conteúdos adequados
para atender públicos de diferentes idades e em distintas fases de escolarização.
Elas falam sobre a necessidade de compreender o contexto para realizar o ensino e
sobre as dificuldades em relação ao domínio de conteúdos trabalhados na escola.
Logo que eu cheguei aqui, eu até levei um susto sabe, porque... é que nem se diz “Ó, vai
professora”, sabe, daí a única dica que eu tive assim, você tem que repassar conteúdos, daí eu me
preocupei muito assim, com o passar do tempo, trabalhando com eles... eu me apavorei. Assim, de 5ª
a como que eu vou fazer com esses conteúdos, porque séries iniciais tudo bem, ai eu pensei no
início, fiquei um pouquinho assustada, como é que eu vou fazer, mas depois eu descobri que as
coisas básicas eles não sabem... (RENATA).
Sobre essa questão, Tardif (2002) ressalta que um conjunto de saberes
profissionais que os indivíduos que ensinam devem possuir, construído a partir da
conexão entre os saberes da formação específica e longa nas universidades, a
socialização profissional e experiência na área, a utilização na instituição e
mobilização no âmbito do trabalho.
O autor entende que os saberes constituídos pelos professores advêm de
várias instâncias: da família, da escola que o formou, da cultura pessoal, da
70
universidade; procedem da troca de informações e experiências com colegas de
profissão e dos cursos de formação inicial e continuada.
Importa estar consciente, como diz Freire, que ―educar é como viver, exige a
consciência do inacabado, porque a história em que me faço com os outros [...] é um
tempo de possibilidades e não de determinismo.‖ (FREIRE, 1999, p. 58). O autor
condena o conhecimento utilizado de forma acrítica e descontextualizada, porque,
segundo ele, o ser humano aprende não apenas para se adaptar, mas sobretudo
para transformar a realidade e recriá-la. Assim, não é possível ensinar sem conhecer
a realidade vivida pelo grupo com o qual se vai trabalhar.
As pedagogas mencionam a necessidade de capacitação para atender as
crianças hospitalizadas, como ensinar de uma forma mais prazerosa, dominando o
conteúdo a ser lecionado na idade/série do aluno/paciente.
Ao discutir o papel da educação no hospital, Fontes (2003) conclui ser um
grande desafio construir uma prática diferenciada da que ocorre em uma escola
regular. Para Cardoso (2008), essas professoras carecem de informações e destaca
que as especializações e as capacitações podem dar suporte ao trabalho didático-
pedagógico, porém não têm sido suficientes.
Essa constatação remete ao estudo de Amaral (2009), que revelou interesse
das professoras envolvidas nesse trabalho em se aprimorar e complementar sua
formação para atuação no ambiente hospitalar. A autora coloca sua preocupação
com o desenvolvimento de propostas meramente recreativas ou assistencialistas no
âmbito de assistência pedagógica nos hospitais.
Renata, talvez por ter especialização em Interdisciplinaridade, demonstra
compreender bem esse cenário que, segundo Barros e Sousa (2007), aponta para a
necessidade de uma qualificação dos professores que aproxime a cnica à
sensibilidade para a assistência biopsicosocial à criança hospitalizada e oriente o
trabalho de conteúdos de áreas específicas.
No caso do pedagogo hospitalar, entende-se que a pluralidade de saberes
referida Tardif (2002) assume uma dimeno ainda mais ampla, pois envolve
conhecimentos não apenas da Pedagogia, mas de outras áreas, como saúde,
psicologia e sociologia. É exatamente na diversidade de conteúdos e na forma e
71
intensidade como eles devem ser abordados que residem as dificuldades relatadas
pelas professoras.
Das treze entrevistadas, sete destacaram que temas sobre humanização da
educação, inclusão e diversidade são relevantes para a pedagoga hospitalar. Isso
indica que as questões sociológicas constituem preocupação das professoras diante
da complexidade do trabalho com classes hospitalares.
Nesse sentido, a inquietação das pedagogas conota seu entendimento de
que, como coloca Tardif (2002), o saber docente comporta uma razão prática, social
e voltada para o outro. Elas percebem que o professor, ―na heterogeneidade de seu
trabalho, está sempre diante de situações complexas para as quais deve encontrar
respostas [...] repetitivas ou criativas, que dependem de sua capacidade e habilidade
de leitura da realidade e tamm do contexto.‖ (AZZI, 1999, p. 46).
Quanto ao aspecto da humanização, Boff (2008) enfatiza a vontade de
partilha e o amor como sentimento verdadeiramente humanizante, como fundamento
do fenômeno social. Defende que ―a sociedade existe porque existe o amor, e não o
contrário, como convencionalmente se acredita. Se falta o amor (o fundamento)
destrói-se o social.‖ (BOFF, 2008, p. 110). O teólogo brasileiro fala do mesmo
sentimento das professoras: do ―amor de mãe‖ dispensado às crianças por Mariana
(H5), do ―amor que tem que ter‖ citado por Sophia (H9) e da ―boa vontade e amor
colocados por Juliana (H12) como ingredientes essenciais de uma fórmula que
garante bons resultados no trabalho em classes hospitalares.
Outros saberes teóricos tamm destacados pelas pedagogas são
relacionados à área da saúde, principalmente sobre higienização, doenças e
fisioterapia, citados por três pedagogas. A atenção dada por elas a esses
conhecimentos revela o interesse em adequar-se ao cenário de educação no qual
atuam e às necessidades do público atendido.
Trata-se de um posicionamento ético importante, considerando que é tamm
do professor de classe hospitalar a tarefa de afirmar a vida e sua melhor qualidade,
junto com essas crianças, ajudando-as a reagir, interagindo para que o mundo de
fora continue dentro do hospital e as acolha com um projeto de saúde.‖ (CECCIM;
CARVALHO, 1997, p. 80).
72
O cuidado pediátrico, mediante a escuta, relaciona-se com aquelas coisas
que importam e têm significado para a criança [...] O hospital e a
enfermidade produzem, para a criança, uma relação peculiar com o mundo,
onde o cuidado, a cura e os atos de saúde requerem uma abordagem mais
integral, em que os saberes sobre o comportamento clínico não desprezem
a relevância dos atos objetivos de construção singular da existência.
(CECCIM; CARVALHO, 1997, p. 32-33).
Questões relativas à psicologia também foram lembradas por três professoras
que citaram os conhecimentos sobre desenvolvimento e comportamento humano.
Beatriz, que concluiu especialização em Psicopedagogia e é pós-graduanda em
Neuropsicologia, comenta:
Nos hospitais, eles trabalham com a questão da humanização, eu acho que o pedagogo, ele contribui
muito pra isso, sabe, porque a criança ela ta carente, ela ta com a autoestima baixa e quando ela chega
ali, ela o pessoal de branco, que é o pessoal da enfermagem, o pedagogo, ele vem fazendo
essa... no primeiro momento, ele vem quebrando essa barreira, sabe, que ele não é algm da
enfermagem, que ele ta ali pra dar um apoio, pra dar um suporte pra criança, que ela não ta ali só... ela
ta ali pra fazer o tratamento mas ela não vai ficar ali só deitada... sem fazer nada, então assim, que ele
vem, que ele vem pra contribuir pro bem estar, pra priorizar o bem estar, a questão de auto estima, do
ouvir a criança e às vezes acontece muito dentro do momento da atividade, a criaa, ela acaba
confiando, sabe, ela acaba adquirindo a confiança e aconteceu vários casos assim, da gente ta no
momento da atividade e ela acaba contando o que é... e acabar contribuindo para o tratamento.
(BEATRIZ).
Com nove anos de prática docente e há sete anos atuando com classe
hospitalar, Beatriz testemunhou muitas histórias, nas quais a adoção de abordagens
psicológicas e psicopedagógicas foi decisiva para o sucesso no tratamento de
pacientes. Ela relata:
aconteceu o caso de uma criança que ela tava com uma dor de barriga, ele tava com uma dor de
barriga e dor de cabeça e ninguém achava, fizeram exame de tudo que era tipo, mandaram pra fora e a
criança voltou e continuava com o mesmo problema, e a mãe e o pai junto, aparentemente, junto com a
criança, um dia a gente fazendo atividade aqui e a criança me disse Meu pai e minha mãe não tão
mais morando junto”, sabe, era um problema psicológico da criança, os pais estavam separados,
enquanto ela tava no hospital, o pai e a mãe ficavam juntos aqui no hospital... foi passado isso pro
pediatra, o pediatra foi conversar com a psicóloga e a partir daí foi começado a trabalhar essa questão
com a criança e a criança melhorou, sabe, então assim... eu acho que isso o pedagogo, é... acaba se
envolvendo e acaba conseguindo contribuir, sabe, não assim que ele vá resolver, mas ele contribui para
o tratamento, para auxiliar... porque a partir daí... a gente brincando, agente fazendo atividade a criança
me falou isso, ai aquele negócio, eu sabia de toda historia da criança e daí eu cheguei e conversei com
o pediatra e era uma informação que eles o tinham, ninguém sabia, o pai e a mãe o tinham falado
e a partir dali foi tratado... começou o tratamento com a psicóloga, tudo... e onde foi que acabou
resolvendo. (BEATRIZ).
A fala de Beatriz se concilia à ideia de Matos e Mugiatti (2006, p. 47) de que
―a educação que se processa por meio da pedagogia hospitalar não pode ser
73
identificada como uma mera instrução [...] É muito mais que isso‖. Não se trata
apenas da transmissão de conhecimentos formalizados, mas sim de ―um suporte
psico-sócio-pedagógico dos mais importantes, porque não isola o escolar na
condição pura de doente, mas sim o mantém integrado em suas atividades da
escola e da família e apoiado pedagogicamente na sua condição de saúde.‖
(MATOS; MUGIATTI, 2006, p.47).
Sobre a necessidade de saber mais sobre o campo da psicologia, observa-se
na fala da Amanda que a questão está mais voltada a entender o desenvolvimento
humano, de acordo com o relato que segue:
Eu acho que o conhecimento que a gente tem, que a gente trabalhou em outras áreas e o
conhecimento da realidade do município, que eu conheço bem a realidade do município, das
comunidades do interior, dos bairros e trabalhei em varias escolas também, então a gente tem um
pouco de noção de como ta trabalhando de acordo com a clientela que vem. (...) Primeiro tem que ter
bastante psicologia, porque tem que ta... tem que ta intermediando, tem que conversar com a família,
tem que conversar com a criança, porque eles ficam muito debilitados quando estão internados, tem
que eu ter a psicologia pra ta entendendo, pra ta estimulando eles, tem que ta fazendo uma boa
entrevista com os pais, com o acompanhante que ta ali com a criança, pra ta vendo, fazendo uma
analise pra ver o que tu pode trabalhar, se ele não ta afim de fazer alguma coisa, tem que perceber o
que ele pode ta fazendo, porque eles ficam muito emotivos também quando eles tão ali, pra agilizar,
tem que ter muita psicologia, pra ta trabalhando. (AMANDA).
Em síntese, os saberes acadêmicos apontados pelas pedagogas
entrevistadas como essenciais à sua prática em contexto hospitalar incluem
basicamente conhecimentos pedagógicos e relacionados aos campos da saúde, da
sociologia e da psicologia.
A partir dessa constatação, parto para a alise dos saberes da experiência,
com base do pressuposto de que ―o referencial da prática, além de fundamental para a
significação dos conhecimentos teóricos, contribui para mostrar que os conhecimentos
em ão são impregnados de elementos sociais, ético-políticos, culturais, afetivos e
emocionais.‖ (FIORENTINI; SOUZA JÚNIOR; MELO, 1998, p. 319).
6.2 Saberes da Experiência
Para Tardif e Lessard (2007), os saberes da experiência formam um conjunto
de representações a partir dos quais os professores orientam sua profissão.
74
Os próprios professores, no exercício de suas funções e na prática de sua
profissão, desenvolvem saberes específicos, baseados em seu trabalho
cotidiano e no conhecimento de seu meio. Esses saberes brotam da
experiência e por ela são validados. Eles incorporam-se à experiência
individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber-fazer
e de saber ser. (TARDIF, 2002, p. 39).
Durante as análises dos dados, verifiquei uma unidade de significância que se
refere aos conhecimentos advindos da trajetória vivida. A essa questão, todas as
pedagogas entrevistadas associam sensibilidade, afetividade, carinho, apego,
empatia, e destacam como é importante ter paciência, calma, determinação e estar
bem emocionalmente. Isso fica evidente no depoimento de Alícia:
eu procuro não usar branco, pra que eles não fiquem assim... com aquela coisa, só porque é
branco... Meu Deus! O medo, né... daí as meninas medicam, a enfermagem medica eles lá na sala de
aula... e ai eles acabam nem vendo que tão sendo medicados, tão fazendo as atividades, pra eles é o
mais importante... a gente sempre pensa assim... a escola e a casa deles, é a única coisa assim, que
é muito do dia a dia deles... deles... como no hospital não tem a casa deles, pelo menos a escola
se faz presente e pra eles e é a melhor coisa que tem. “Ah que pena que amanha não tem aula,
profe?Nesse sentido, a gente percebe que eles adoram... (...) E é... eles sentem saudades, eles
choram... eles não querem ter alta, tem uns que não querem ter alta... daí eles encontram a gente na
rua: “Ai a minha profe! Eu queria tanto ficar aqui na escola.” Claro que é, a atenção, o grupo menor
né... de crianças, a gente atende independendo do grupo a gente atende 5, 6, 7 juntos... a sala
também não é muito grande ... mas acho que a gente tá mais perto deles e como eles se sentem
mais acolhidos... então acho que é nesse sentido que eles gostam de vir pra cá... tem crianças que
têm 2 dias hospitalizadas, elas estão estressadas e preocupadas com a situação escolar, assim
que um profissional do hospital, seja terapeuta, seja o técnico em enfermagem, seja o psicólogo,
assim que eles detectam essa preocupação das crianças, eles já me acionam, independente de ser 7
dias, 2 dias 5 dias, eu vou acolher a criança e fazer as devidas orientações. Eu posso dizer assim
ó, a grande maioria das crianças que frequenta a escola, a única preocupação que elas tem não é
com a doença, é com a escola. (ALÍCIA).
Vale lembrar que Alícia tem pós-graduação em Psicopedagogia,
Cromoterapia e Terapia de Florais. As referências ao uso da cor branca, ao
acolhimento e ao trabalho colaborativo e interdisciplinar entre profissionais de
diversas áreas que atuam no hospital no atendimento às crianças e adolescentes
internados sinalizam as bases de sua formação continuada.
Ao abordar circunstâncias como a eminência da morte, situações de perigo e
de risco, sempre presentes em ambientes hospitalares, Boff (2008, p. 171) ressalta
que elas não comportam o assistencialismo, mas sim um humanismo básico que
pressupõe, a partir destas situações, o desenvolver de uma compaixão e cuidado
essencial pelo outro.‖
Aproximando-se dessa noção e aplicando-a à educação, Arosa (2007) afirma
que o reconhecimento do outro, a aceitação, a confiança mútua entre quem fala e
75
quem escuta não representam um impedimento à ação pedagógica, isto é, a uma
ação educativa intencional, planejada e conscientemente desenvolvida. Acréscimo
interessante a essa premissa é oferecido por Evangelista (2009, p. 31):
Compreender o outro, olhar o outro, escutar o outro exige reinventar
práticas, [...] sem desprezar os conhecimentos adquiridos na labuta diária,
assim como entender que o conhecimento e o saber têm de ser para todos,
especialmente hoje, quando a ciência demonstra que todos têm capacidade
de aprender.
A sensibilidade em relação às crianças hospitalizadas é essencial na
elaboração de estratégias de aprendizagem adequadas a esse público. A percepção
de que, mesmo doente, pode aprender, brincar, criar e, principalmente, continuar
interagindo socialmente, ajuda o paciente em sua recuperação. Entendendo melhor
sua doença e sobre sua situação no hospital, de acordo com Ceccim e Carvalho
(1997, p. 79), ―a criança terá uma atitude mais ativa diante da enfermidade,
independente de suas consequências, ao invés de uma atitude passiva de
vitimização.‖
Nessa perspectiva, Fontes (2005, p. 123) enfatiza a importância da escuta
pedagógica, que se diferencia
das demais escutas realizadas pelo serviço social ou pela psicologia no
hospital, ao trazer a marca da construção do conhecimento sobre aquele
espaço, aquela rotina, as informações médicas ou aquela doença, de forma
lúdica e, ao mesmo tempo, didática. Na realidade, não é uma escuta sem
eco. É uma escuta da qual brota o diálogo, que é a base de toda a
educação.
Em resumo, a atividade do pedagogo hospitalar é caracterizada pelo fato de
ele prestar atendimento individualizado a cada criança hospitalizada. É a partir de
uma situação tão marcante e frágil, como a internação em estabelecimento de saúde
onde esse profissional atua, que sua ação se amplia, no sentido de não apenas
transmitir conteúdos didáticos, mas agregar à atividade pedagógica a compreensão
de sua práxis e energia para promover aprendizagens no período em que a criança
permanece afastada da escola.
Como argumenta Guarnieri (2000), o professor constrói e continuamente
ressignifica seus conhecimentos e sua ação profissional na vivência do cotidiano, no
76
exercício da docência, com todos os conflitos e desafios que emergem dessa
experiência diária.
Tais conhecimentos [...] permitem ao professor avaliar a própria prática e
detectar nas condições em que seu trabalho acontece, os problemas, as
dificuldades que limitam sua atuação e exigem dele a tomada de decisões,
desde aquelas de natureza pragmática, até as que envolvem aspectos
morais. (GUARNIERI, 2000, p. 10).
Pautados nessas premissas e nos relatos até aqui reunidos, estendo a
análise para o campo dos saberes específicos da docência hospitalar, buscando
desvelar os desafios e dificuldades que envolvem essa dinâmica pedagógica.
6.3 Docência Hospitalar: Dificuldades e Desafios
As pedagogas relatam diversas dificuldades enfrentadas no ambiente
hospitalar. Dentre as mais expressivas foram citadas a carência de formação e
orientação para o trabalho aqui incluídos amparo legal, orientações técnicas,
acompanhamento e sistematização do trabalho por parte do hospital e da Gerência
Regional de Educação (Gered) ; espaço físico inadequado; falta de diálogo com
as escolas; escassez de recursos.
É possível captar, nas falas das entrevistadas, uma aflição em torno da falta
de acompanhamento e instruções para o trabalho. Ao se depararem com o ambiente
hospitalar, elas percebem que sua atuação te de ser bem diferente daquela
relacionada ao contexto escolar regular, o que demanda tempo para a adaptação.
O depoimento de Mariana é revelador desses obstáculos, que dificultam a
possibilidade de criar novas estratégias para uma atuação diferenciada e
competente. Quando precisa de alguma orientação, não encontra quem a forneça
nos órgãos públicos responsáveis pelo gerenciamento do setor. Ela recorre a
colegas de profissão e sua principal fonte de informação é a internet:
na internet, eu busco na internet porque se tu for buscar na secretaria, pedi lá na Gered eles não têm
e a pessoa que é responsável pelo ensino tem pouco conhecimento de como funciona, como pode
funcionar, enfim. (MARIANA).
77
Essa situação ocorre mais nos hospitais públicos, faltando comprometimento
do governo estadual e muitas vezes dos administradores desses estabelecimentos.
Se não bastasse a falta de apoio técnico, os recursos materiais são escassos,
quando não inexistentes. Mariana comenta que
não tem (...) uma verba disponível; a escola às vezes até nega material, porque até é as crianças do
regular que levam, daí tira de lá pra trazer pra cá, é complicado, “desvesti um santo, pra vesti o outro
não da”, o que o hospital aqui me apóia é no xérox; material pedagógico não tem, ainda o que tem, as
vezes o que tem é eu ainda que compro, essa questão de relatórios, fotos, tudo com dinheiro do
bolso, tudo eu que tirei do bolso. (MARIANA).
Toda essa carência tem impactos negativos na atividade pedagógica e
compromete sobremaneira o atendimento às crianças hospitalizadas. Segundo
Mariana,
em relação às atividades, não tem muito o que fazer, então eu trabalho mais a questão de pintura,
tem os jogos, o lúdico né, a memória, quebra cabeça, isso tudo material que eu própria confeccionei,
porque material especifico não tem, a gente até não consegue. (MARIANA)
O depoimento da professora expressa a situação vivida por muitas
pedagogas atuantes nessa área e pouco compreendida inclusive por colegas de
profissão. Segundo Darela (2007, p. 87), os profissionais da escola regular
costumam se referir ao trabalho realizado no hospital como vinculado ao
atendimento às questões emocionais e às atividades lúdicas.‖
Mas a pedagogia hospitalar reivindica muito mais que emoção e ludicidade.
Requer dos profissionais que dela se ocupam uma abordagem progressista, com
uma visão sistêmica da realidade do escolar doente. Seu papel principal não será
resgate à escolaridade, mas de transformar essas duas realidades, fazendo fluir
sistemas que as aproximem e as integrem (MATOS, 1998, p. 12).
Em hospitais particulares, o cenário é diferente e as pedagogas se
apresentam mais seguras. O relato de Juliana revela essa realidade:
É um setor maravilhoso, a chefia é magnífica, até sabe, quando eu cheguei, nossa, que vim de
meio assustada, nunca tinha trabalhado com adulto, fui assim... muito bem recebida. (JULIANA).
78
Nesses ambientes é exigida a apresentação de relatórios à instituição, o que
sugere haver acompanhamento do trabalho pedagógico e uma relação mais próxima
entre a dinâmica administrativa e o trabalho realizado pelas pedagogas hospitalares.
Elas sistematizam as atividades, expõem e demonstram os resultados do trabalho
desenvolvido como resposta às outras equipes. A rotina pedagógica é bem
organizada, com base em critérios de atendimento por idade e tempo de
permanência dos pacientes, como relata Alicia:
Formulamos alguns critérios enquanto hospital, enquanto área pedagógica, e um dos critérios é,
atender a criança que esteja internada sete dias, então no sétimo dia de internação ela é acolhida
pela pedagogia, feito esse contato com escola e já disponibilizado o atendimento, a organização de
atividades e tudo mais, o outro critério é estar em idade escolar, seis anos até médio, se for o caso.
(ALÍCIA).
Nos relatos das entrevistadas, fica evidente o quanto é necessário o amparo
no que se refere a orientações, apoio da equipe do hospital e da escola e
estruturação de um ambiente de trabalho que permita o efetivo exercício da
docência em classes hospitalares. Para ampliar o debate acerca dessas questões,
apresento, a seguir, informações mais detalhadas sobre a rotina do trabalho
realizado nos hospitais de Santa Catarina.
6.4 O trabalho realizado nos hospitais de Santa Catarina
Durante a pesquisa de campo, constatei que, nos hospitais de Santa
Catarina, as formas de atendimento apresentam as características apontadas por
Ceccim (2000), ou seja, o atendimento está centrado nos processos de
aprendizagem escolar, nas atividades recreativas: educação lúdica e lazer, no
desenvolvimento psicossocial, com uso de ludoterapia e jogos de socialização, e nas
questões clínicas e psicopedagógicas com ênfase nos aspectos emocionais.
a respeito dos vínculos institucionais, verifiquei que, nos hospitais
catarinenses, a maioria dos profissionais atuantes é cedida pela Secretaria do
Estado de Educação: isso ocorre em Chapecó, Concórdia, Curitibanos,
Florianópolis, Ituporanga, Joaçaba, Tubarão e Xanxerê. Entretanto, encontrei
também um vínculo institucional com a Secretaria Municipal de Educação de
79
Blumenau e três iniciativas próprias de instituições hospitalares no município de
Joinville. Na maioria dos municípios pesquisados, encontrei apenas uma pedagoga
trabalhando em cada hospital.
O Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), em Florianópolis, que é pioneiro
na implantação de classes hospitalares, desenvolve uma dinâmica organizada com
várias pedagogas atuando, e o programa de atendimento pedagógico é sistematizado
em diversas modalidades, com atendimentos destinados a diagnóstico, orientação e
acompanhamento escolar, havendo interação entre a equipe multidisciplinar do
hospital e o contexto escolar. O hospital ainda promove trabalho voltado às crianças
de zero a seis anos que apresentam atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
É importante considerar que esse hospital é referência no atendimento a
crianças de todo o estado e dispõe de tratamento específico das mais diversas
especialidades médicas, o que justifica a preocupação da continuidade do currículo
formal, uma vez que as crianças habitualmente permanecem por um longo tempo
hospitalizadas, diferentemente do que acontece em hospitais de outros municípios.
Atualmente o HIJG conta com uma equipe de pedagogos, psicopedagogos e
professores que conduzem as atividades de um setor voltado às necessidades
pedagógicas das crianças hospitalizadas.
Como é diferente a prática nos hospitais no Brasil todo, a nossa também é diferenciada, acho que é a
única que trabalha conteúdos, bem sistemático, de segunda a sexta, com conteúdos, com horário...
(ISABEL).
É nessa instituição que encontramos um interessante ambiente de trabalho
pedagógico, pautado na diversidade. A pedagoga Júlia, que atua 17 anos com
classe hospitalar e é pós-graduanda em Psicopedagogia, menciona seu maior
desafio no hospital:
A gente foi meio que desbravando, porque a gente ta inserida na área da saúde, nós somos
educadores na área da saúde, dentro de um hospital.. quer dizer... (...) tu vem pra cuida de uma
questão que ta ali... de doença propriamente dita né, então assim... a gente tenta, antes assim, até
colocava assim, vamos quebrar um pouco esse estigma de que hospital é um lugar ruim, mas a gente
viu o quanto tá sendo difícil... (JÚLIA).
80
Isabel, mestranda em Educação, está na equipe do HIJG nove anos e fala
sobre a inserção de temas geradores nas propostas educativas:
Quando eu cheguei a preocupação, ainda era o caderno de planejamento e no inicio eu deixei um
monte de páginas... aquelas partes de matérias, o que compete primeira serie, o que tem de ser da
segunda serie, terceira e quarta... né... hoje se olha a nossa proposta de planejamento, hoje se
aborda um tema pro ano e a cada mês vai se especificando.... assim, com objetivos mais específicos
dentro das áreas de matemática, língua portuguesa... como tem um tema gerador, digamos assim...
eu consigo me organizar melhor... (ISABEL).
Apesar dos esforços das pedagogas, a falta de orientações específicas e de
apoio dos órgãos estaduais de educação constitui entrave que gera insegurança nas
professoras. O relato a seguir expressa tal dificuldade:
A Gered, a SED [Secretaria Estadual de Educação] nunca nos apoiaram quanto a isso. Então assim,
era a nossa experiência do dia a dia que foi nos ensinando o que era melhor, assim... a forma como
trabalhar os conteúdos, que é mais válida, de que forma abordar, como chegar na criança, como
trazer o lúdico nas nossas atividades, uma troca com a outra... até ano passado a cada final de dia
uma falava aqui deu certo isso, aqui não deu, então o que pode melhorar... (ISABEL).
A fala de Isabel demonstra ainda que as experiências vivenciadas vão
agregando saberes às práticas das pedagogas que atuam nos hospitais de Santa
Catarina e que, como salienta Evangelista (2009, p. 29), ―no espaço tão carregado
de dor e emoção como a classe hospitalar, todo dia é um novo diae essa condição
muitas vezes exige ―desconstruir uma rotina e uma prática de anos de docência para
reconstruir e construir outros.‖
Observamos que os modos de trabalhar o bastante diversificados. Muitas
vezes, a seleção e o planejamento das atividades ficam exclusivamente a critério da
profissional. As pedagogas que atuam pouco tempo com atendimento
pedagógico hospitalar focam a ludicidade e se preocupam em oferecer atividades
recreativas, como revela Amanda, que atua somente quatro meses com classe
hospitalar:
Eu faço bastante essas atividades, produção de texto, leitura, bloco lógico, domi de operações
básicas, são as que mais eu trabalho, cruzadinha, caça palavras, faço atividades bem diversificadas,
pra eles saírem da rotina que eles fazem na escola diariamente, então gente faz atividades bem
diversificadas. (AMANDA).
81
A respeito dessa questão, Evangelista (2009) afirma que a escolha dos
procedimentos de ensino é uma ação delicada no processo de planejamento, do
qual tamm fazem parte o lúdico, o jogo e as brincadeiras. Ela recomenda que as
atividades propostas sejam adequadas ao nível de dificuldade e à faixa etária de
cada aluno.
Outras professoras, com percurso mais longo nesse campo, mesclam
ludicidade, estimulação e atividades vinculadas ao currículo formal, dependendo do
estágio de escolarização do paciente, como mostra o depoimento de Beatriz, há sete
anos envolvida com essa área docente:
A criança que não está na escola, não tem nculo com a escola, a gente trabalha com a questão de
estimulação, né... questão de estimulação, mais voltado mesmo pra brinquedo, pra brincadeira,
ludicidade e tal... e a criança que já freqüenta a escola, a gente faz o contato com a escola e mais ou
menos dentro do que eles estão trabalhando lá, a gente vai ta trabalhando de maneira lúdica com
eles aqui dentro. (...) faço primeiro a minha rotina, quais as crianças que tão internadas, o que que é
o problema que ela ta internada, a partir daí eu vou fazer a visita no leito. (BEATRIZ).
Em todos os casos, que se considerar, como coloca Fonseca (2003, p.
15), que a escola hospitalar mantém o vínculo do indivíduo com o mundo fora do
hospital e o ajuda a melhorar sua autoestima, compreender sua própria condição de
saúde, e reduz seu tempo de internação.‖
Revendo o quadro 2, verifica-se que quando as pedagogas concluíram a
graduação, os cursos de formação inicial ainda não previam ensino de abordagens
educativas voltadas a contextos não escolares, que somente foram inseridas nos
currículos a partir das novas diretrizes curriculares do curso de Pedagogia,
instituídas em maio de 2006 (BRASIL, 2006).
Do grupo investigado, seis professoras concluíram curso de formação inicial
mais de 22 anos, três são graduadas em Pedagogia 15 ou 16 anos e quatro
são pedagogas mais de seis e menos de dez anos. Bruna, com 16 anos de
profissão e pós-graduada em Gestão Escolar, relata que as lacunas deixadas pela
formação inicial criaram obstáculos para a adequação ao contexto hospitalar:
82
Então eu não tinha... essa experiência, então eu comecei a fazer planejamentos mais curtos...
assim... mais produção de textos, mais atividades matemática... Não um planejamento que levasse
muito tempo, então se no máximo a gente faz três encontros, então a gente senta, fala sobre as
plantas... através de uma transparência, alguma coisa assim, faz uma atividade... amanhã faço
mais uma atividade e faço um fechamento. Porque a criança vai receber alta e aí ela fez um
fechamento daquilo que foi trabalhado e eu não tinha esse conhecimento. Eu planejava assim pra...
dez dias de atividades... onde é que se viu, ela fazia duas atividades e recebia alta. (...) Tinha
muitas dúvidas... muitas, sobre relatórios, sobre o relatório de observação, relatório descritivo da
criança... (...) tenho medo de incomodar demais.... (...) eu fui aprendendo a lavar as mãos, de acordo
com as normas do hospital. Então, o lavar as os não é o suficiente, a gente tem que ter um
outro olhar... um olhar de saúde mesmo. (BRUNA).
Mas para adotar uma nova postura, rever concepções e construir novas
práticas com esse olhar [é] necessária uma mudança de atitude frente a esse
conjunto de novas situações‖ (EVANGELISTA, 2009, p. 31) que até então o
educador que inicia o trabalho em hospitais desconhece.
Luiza, especialista em Educação Infantil e com um percurso de sete anos no
campo da Pedagogia, lembra que as classes hospitalares foram implantadas em
2002, no mesmo ano em que ela concluiu o curso superior, e que somente quatro
anos depois a disciplina foi incorporada ao currículo. Para suprir a necessidade de
conhecimentos acerca da docência em hospitais, ela busca informações em várias
fontes, aprendendo com colegas de profissão, consultas à internet e leituras.
Se eu não sei, eu vou atrás pra mim aprender, eu vou, eu pergunto pra fulana, eu ligo pra Beltrana,
eu pesquiso na internet, eu procuro ler. (...) Na minha graduação todinha eu não ouvi falar em classe
hospitalar, eu não imaginava que isso existia, também quando eu comecei... quando eu me formei é
que caiu a classe hospitalar, eu me formei em 2002 e a classe hospitalar começou em 2002, então
nesse tempo né... agora sim, com a troca de currículo, porque eu trabalho na universidade, então eu
sei, na troca de currículo aparece sobre a classe hospitalar, tem trabalhos feitos da classe
hospitalar, mas até então... (...) quando tu ta em sala de aula lá, eles trabalham muito educação
especial, a inclusão, eles trabalham muito isso, eles trabalham a tua formação nas disciplinas, eles
também trabalham muito isso... metodologias, que a vivência, a prática não se tem, tem o estágio
pra da aula em sala de aula, por que não um estágio aqui, por que não um acompanhamento aqui, se
tem acompanhamento na APAE, com o especial, por que também não pode ter aqui? (LUIZA).
Assim como Luiza, muitas professoras (re)elaboram e (re)constroem os
saberes necessários ―em confronto com suas experiências práticas, cotidianamente
vivenciadas nos contextos escolares‖ (PIMENTA, 1999, p. 29). Nesse confronto,
um processo de troca de experiências que permite que as pedagogas, a partir de
uma reflexão na prática e sobre a prática, constituam seus saberes.
apenas quatro meses atuando com classe hospitalar o menor tempo
entre o grupo pesquisado , Amanda admite não estar totalmente preparada para
83
essa experiência pedagógica, mas destaca que faz pesquisas sobre o tema e
procura participar de cursos que contemplem abordagens específicas:
Preparada totalmente não, dentro da grade que eu fiz não tinha nenhuma habilitação especifica, pra
trabalhar com criança desse tipo, hoje que a grade mudou que tem atendimento pra deveres,
educação especial, tem mais especifico, na época que eu fiz nada tinha, então a gente procura ta
sempre buscando conhecer, fazer cursos, os cursos que saem em procuro ta fazendo sempre, pra ta
me atualizando né. (AMANDA).
Formada nove anos, Beatriz salienta que na formação inicial não teve
contato algum com teorias sobre classe hospitalar e que começou a aprender
sobre esse campo durante a especialização em Psicopedagogia e mais
recentemente na pós em Neuropsicologia.
A minha graduação não teve nada, sabe, eu não tive nada sobre classe, sobre atendimento
hospitalar, nada nada nada... Assim, durante a graduação, a partir do momento que eu comecei... eu
estava ainda na faculdade e tal, eu comecei a sentir essa dificuldade e eu comecei a comparar o
trabalho daqui com a educação especial, é muito voltado assim, muito mais ligado a educação
especial do que a educação regular, ai eu comecei buscar cursos de capacitação dentro da área da
educação especial e foi aonde eu fui fazer a minha pós em psicopedagogia e agora to fazendo a de
neuro, porque a partir daí eu vou começar, sabe, fazer essa relação com o trabalho aqui, mas a
minha graduação não colaborou não... (BEATRIZ).
Ao analisar essa questão, Evangelista (2009, p. 31) pondera que ―não basta
ter uma boa formação profissional e um amplo conhecimento da área; é
imprescindível ter autocontrole emocional, sensibilidade e, sobretudo, compreensão
das reais necessidades desses alunos.‖ A autora considera que também são
imprescindíveis o estudo, a pesquisa e o aperfeiçoamento para que a professora se
sinta apta a desenvolver o trabalho.
Durante nossa pesquisa de campo, observamos que nos hospitais onde
atuam as pedagogas entrevistadas, os trabalhos envolvem desde atividades de
passatempo, sem intencionalidade pedagógica, adinâmicas coletivas, artísticas e
motivadoras no campo cognitivo. Numa análise dos relatos das pedagogas,
identificamos como recursos pedagógicos de uso mais frequente a contação de
histórias, sessões de cinema, jogos, brincadeiras, uso de brinquedos pedagógicos
como o alfabeto-móvel, leituras e acompanhamento do currículo escolar.
Sobre o uso de estratégias e recursos diversos, Evangelista (2009, p. 29)
enfatiza que
84
o conteúdo pode seguir o da escola regular, mas a cor e a luz da ludicidade,
sem perder de vista as habilidades a serem construídas, como escrever
pequenos textos, ler em voz alta, ler para o outro, resolver situações-
problema simples, mesmo com o escasso material, a criatividade dos
educadores torna tudo mais atraente.
Constatamos que as ações educativas no ambiente hospitalar possuem
especificidades que as distinguem daquelas aplicadas na escola convencional.
Nesse espaço são necessárias estratégias e metodologias diferenciadas de trabalho
que considerem a rotina própria do hospital, a rotatividade e permanência dos
alunos, entre outros aspectos que interferem na prática pedagógica nesse ambiente.
Segundo Tardif (2002, p. 126), para que a intencionalidade aqui entendida
como a definição clara dos efeitos educativos desejáveis se volte para a ação
educativa e apresente um caráter operacional, é essencial que os professores não
apenas consigam ―uma adaptação constante às circunstâncias particulares das
situações de trabalho, especialmente em sala de aula com os alunos, como tamm
durante a preparação das aulas e das avaliações.‖
Com a falta de acompanhamento e sistematização, o trabalho pedagógico
hospitalar pode ser prejudicado, pois, segundo as considerações de Pimenta (1999,
p. 23), a educação escolar se sustenta na ―intenção de contribuir para o
desenvolvimento de uma ação coletiva e interdisciplinar para um processo de
humanização dos sujeitos envolvidos, para uma inserção social crítica e
transformadora.‖ Em outras palavras, queremos dizer que é com a intencionalidade
da ação educativa bem definida e regulamentada que se faz possível uma atuação
pedagógica mais objetiva e segura.
Uma dificuldade apontada por Juliana e já muito discutida por Darela (2007) é
a questão da falta de diálogo entre o pedagogo hospitalar e a instituição de ensino
na qual a criança hospitalizada está matriculada:
A maior dificuldade que nós temos é o desinteresse da escola pelo aluno, porque na verdade inclusão
é uma coisa que está muito pelo no papel no nosso estado, sabe, porque é uma falácia, não existe
preocupação nenhuma com o cliente hospitalizado, ele é esquecido, eles só dizem assim “Depois ele
recupera”, mas isso é uma coisa absurda de ser dita, porque se ele... o mínimo que ele fizer, né,
vai ser muito, porque ele vai continua ligado com a escola, vai... tem interesse em voltar e não e não
fica ocioso, pra auto-estima dele faz um bem né, fantástico, é ganho, então eu não vejo... (...) Eu
me sinto, me sinto bem preparada porque eu... na verdade eu so bem eclética... não uma sumidade,
mas eu dentro do possível e o que eu desconheço eu pesquiso, ainda bem que existe o Google né,
porque qualquer coisa, qualquer coisa e quando não tínhamos eu sempre ia ler, buscava, conversava
com quem dominava a área. (JULIANA).
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A aproximação entre o trabalho realizado no hospital e a escola de origem é
fundamental e contribui para o desenvolvimento da criança hospitalizada. É
importante que exista uma parceria entre o professor da escola regular, o orientador
pedagógico e o pedagogo hospitalar para que, durante a hospitalização, as questões
educativas não sejam mais um fator angustiante para a criança e seus pais ou
responsáveis. A respeito desse assunto, Paula (2006, p. 6) afirma que
as práticas educativas cotidianas nos hospitais são espaços de educação
pública que estão sendo construídas de forma diferenciada por seus
professores e alunos. No entanto, estas instituições ainda atuam de forma
paralela ao sistema de ensino regular e são tratadas como anexos do
sistema educacional. É preciso integrar esses sistemas.
Outra questão importante a ser destacada é sobre a simples transposição das
práticas da escola formal para o hospital. Nesse sentido, detectamos a necessidade
de um trabalho reflexivo a partir da experncia da escola regular para que se possa
avaliar necessidades, reavaliar, planejar e executar atividades no hospital para
manter a criança em plena atividade cognitiva e física durante o período de
hospitalização.
Renata menciona a relação com a escola em termos de temas e projetos que
possam ser adaptados ao processo de ensino e aprendizagem das crianças
hospitalizadas.
Então é assim ó, eu tenho essa escola como referencia né, e... essa escola trabalha com projetos, tá,
então eu peguei o projeto que a escola ta trabalhando, que é o meio ambiente, cidadania, ai, com
esse projeto, em cima desse projeto eu fiz o que a classe hospitalar poderia trabalhar em termos de
conteúdos, em cima desse projeto, daí eu fiz o meu planejamento assim... eu trabalho assim, alguns
conteúdos com as crianças de idade escolar né. (RENATA).
A relação com a escola é referida por Eduarda no sentido de que as
atividades realizadas pelas crianças são avaliadas na classe hospitalar para depois
serem validadas pela instituição escolar frequentada pelo paciente.
Então as crianças vem aqui e aqui é feito o trabalhinho, eles fazem atividade aqui, desenvolve tudo e
você corrige, coloca a notinha que eles tiraram aqui e ó “Quando você for pra escola você leva” (....)aqui
no hospital eles não dizem classe hospitalar, eles dizem salinha da profe. “Vamo pra salinha da
profe.” Nunca parei pra pensar classe hospitalar. (EDUARDA).
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Alícia mantém diálogo com a escola e principalmente com o aluno para saber
quais os conteúdos que vinham sendo abordados antes da hospitalização e a partir
daí preparar atividades que contemplem esses conteúdos. É uma forma de dar
continuidade ao processo educativo escolar e manter a criança sintonizada com o
que se passa na escola.
Eu sempre tenho meu banco de dados, vou consulto, organizo as atividades e encaminho pra elas ou
eu preparo conforme o que a criança me relata , “Ah, eu tava na escola e tava estudando água em
ciências”, então vou organizar alguma atividade dentro dessa área pra ela. (ALÍCIA).
Contudo, não é coerente simplesmente transpor a dinâmica da escola para o
hospital sem adaptações. Percebemos que a formação da pedagoga é focada no
ambiente escolar tradicional e, quando ela chega no hospital, estranha o espaço em
que irá atuar. Isso remete a uma formação que tende a limitar a atuação do
pedagogo ao uso do quadro negro e aos rituais escolarizantes.
Referindo-se ao trabalho educacional com as crianças da Educação Infantil
no hospital, Evangelista (2009) considera que ele não é diferente do realizado nas
classes regulares. Entretanto, para atender esse público, é necessário fazer ajustes,
―manter um currículo flexível, pois os diferentes níveis de desenvolvimento e faixas
etárias, além da diversidade de patologias, fazem com que a turma seja
multisseriada e requeira competência do educador.‖ (EVANGELISTA, 2009, p. 30).
Infere-se, nesse contexto, que o poder da professora está muito relacionado
ao espaço físico da escola, sobretudo à sala de aula convencional. Fala-se aqui do
poder que, segundo Foucault (1979), se manifesta não simplesmente a partir de um
centro único que se contrapõe aos outros alvos das incursões do poder, mas por
meio de microrrelações de poder que se distribuem capilarmente e se alternam
mutuamente. O que queremos dizer é que o professor, ao chegar no hospital,
encontra um ambiente já hierarquizado, com poderes claramente definidos pela
equipe médica e administrativa e, sem a estrutura da escola convencional, sente-se
perdido e inseguro para desenvolver sua ação pedagógica.
Além disso, segundo Santomé (1995, p. 166), ―o ensino e a aprendizagem
que ocorrem nas salas de aula representam uma das maneiras de construir
significados, reforçar e confrontar interesses sociais, formas de poder, de
experiência que têm sempre um significado cultural e político.‖ E as relações de
87
poder se estabelecem diferentemente na escola e no hospital, mesmo porque, de
acordo com Paula (2006, p. 9), ―a forma de constituição disciplinadora do espaço
que muitas vezes existe na escola regular, não existe no hospital.‖
E por falar em sala de aula, outro ponto relevante que merece análise é o fato
de os hospitais que dispõem de atendimento pedagógico hospitalar em Santa
Catarina contarem com estruturas escolares diversas. Alguns atendem apenas nos
leitos, outros possuem salas específicas para atuação pedagógica e outros ainda
contam com cantinhos‖ de leitura, havendo casos em que as atividades
pedagógicas dividem espaço com as brinquedotecas ou com serviços burocráticos.
O espaço físico inadequado é uma das dificuldades referidas por algumas
entrevistas, como Juliana:
Eu faço assim, eu tenho essa sala, nesse espaço que eu tenho no 2º andar, eu tenho um armário que
eu divido com as meninas da escrituração, onde eu tenho duas mesas, dependendo... que são das
meninas da escrituração, porque quando eu cheguei ano passado, elas ocupavam e elas tinham
montado e elas me cederam um espaço pra trabalhar junto com elas, eu tenho até... tenho a manha
toda lá, que eu posso trabalhar com o cliente lá e a tarde até 4 horas, a partir das 4 horas da tarde se
elas precisarem, se elas precisarem não, a partir das 4 a sala é delas... que assim, os nossos
pacientes a maioria é transplantado e eles são muito leucêmicos e pra eles aquela sala não é boa,
porque não é uma sala que seja ventilada. (JULIANA).
No hospital onde Júlia trabalha, o problema já tem solução prevista. Ela
informa que
já tá sendo construído novo espaço educativo, porque as salas atuais, elas foram digamos assim, era
o espaço que o hospital dispunha, então foi meio que arranjado né, pela coisa pode funciona e a
preocupação que se teve não... tem que ter uma sala adequada para te esse atendimento, então
sendo construído um espaço aqui dentro do hospital, que é na nossa área de sol, um novo espaço
educativo vai comporta uma sala de 1ª a 4ª. Uma sala de 5ª a eu sempre falo... de 1ª. 4ª uma sala de
5ª a 9ª, a sala de estimulação essencial, uma brinquedoteca e uma biblioteca. (JÚLIA).
Mais uma aflição apontada pelas pedagogas e registrada na fala de Beatriz se
refere à importância de interação e contato entre os profissionais, o que geralmente
não acontece: Gostaria que tivesse uma maneira de ter um contato maior entre
todas as classes do estado, tivesse mais cursos, mais capacitação.Também Alícia
diz sentir a necessidade de troca de informações e experncias:
88
É necessário troca, eu preciso troca, eu preciso saber como se dá a pedagogia em outro lugar, como
se da o atendimento na classe, como é feito o atendimento no leito, quais documentos eles tem
organizados, quais diretrizes existem pro trabalho deles, aqui eu crio as minhas próprias diretrizes
com base em livros, artigos, estudos, pesquisas que eu faço, mas são próprias, tu entendeu? Porque
nem sempre a realidade, por exemplo (...) na Espanha, não é realidade do Brasil, então (...) eu não
posso aplicar, então tem que criar as nossas especificidades, a Eneida e a Margarida elas traçam
uma linha, mas elas são pesquisadoras e elas tem pessoas que trabalham junto, são pesquisadoras
junto. (ALÍCIA).
Importa destacar que os saberes das professoras se constituem tamm
durante as trocas entre os profissionais da área. Quando predomina o
distanciamento ou o isolamento não possibilidade de reflexão sobre a prática
educativa realizada. Esse é um fator que dificulta não somente a aquisição de novos
saberes, mas tamm a mobilização e o fortalecimento da categoria na luta em
defesa do atendimento de suas reivindicações, notadamente uma legislação com
diretrizes claras e específicas e a valorização do trabalho executado pelo pedagogo
no hospital.
Seja qual for a questão poder, espaço, amparo legal, disciplina, relações
profissionais , as professoras devem estar conscientes de que precisam analisar
as características e as informações contidas no ambiente hospitalar para
(re)significá-las, compreen-las e relacioná-las ao seu fazer pedagógico,
reconhecendo que ―ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a
si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo.‖
(FREIRE, 2004, p. 68).
No complexo cosmo do ensino e da aprendizagem, o educador ―já não é o
que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o
educando, que, ao ser educado, tamm educa.‖ (FREIRE, 1979, p. 78). Dessa
forma, acrescenta o filósofo brasileiro, eles ―se tornam sujeitos do processo, em que
crescem juntos e em que os ‗argumentos de autoridade‘ o valem.‖ Isso se
aplica às relações estabelecidas com outros educadores e com as demais equipes
do hospital, num processo ancorado no diálogo, na construção cooperativa de
conhecimento e no respeito mútuo.
As práticas desenvolvidas e as dificuldades enfrentadas, bem como a
constante luta das pedagogas para construir um trabalho interativo e colaborativo
com alunos e seus pais, com os colegas de docência e outros profissionais
89
envolvidos no atendimento às crianças e adolescentes, com o hospital e com a
escola, confirmam a ideia de que
no tempo, vivemos e somos nossas relações sociais, produzimo-nos em
nossa história. Falas, desejos, movimentos, formas perdidas na memória.
No tempo nos constitmos, relembramos, repetimo-nos e nos
transformamos, capitulamos e resistimos, mediados pelo outro, mediados
pelas práticas e significados de nossa cultura No tempo, vivemos o
sofrimento e a desestabilização, as perdas, a alegria e a desilusão. Nesse
movimento contínuo, nesse jogo inquieto, esem constituição nosso ―ser
profissional‖. (FONTANA, 2003, p. 180).
Nota-se, neste estudo, que as aflições são muitas, geradas a partir do
momento em que a pedagoga chega ao hospital e toma consciência de uma
realidade diferente do contexto da escola convencional. Muitas vezes é um choque e
ela percebe não estar preparada para essa prática, pois sua a formação está voltada
aos rituais escolarizantes e não à criança hospitalizada. É o que revela a fala de
Renata:
Olha, eu não me achei como classe hospitalar, eu achei como escolinha, sabe... como escola, vem e
daí se tu sai e convida eles “Vamos pra escolinha lá, tem jogos, lá a gente escreve, tem hora pra vo
assisti filme, tem hora pra vo air no computador”, “Ah! Tem uma escola”, é mais familiar, entende.
Agora se você falar classe hospitalar, “O que é isso?, as pessoas não sabem. Eu o gostei muito do
nome. (RENATA).
A respeito desse impasse, Reis (2009, p. 3) defende que a prática do
pedagogo hospitalar deve transpor as barreiras do tradicional e buscar o encontro da
educação e da saúde‖, acrescentando que o profissional dedicado a esse campo
precisa desenvolver sua sensibilidade, compreensão e força de vontade, agindo com
paciência e audácia para atingir suas metas. Especificamente sobre o trabalho do
professor do ensino fundamental no hospital, Paula (2006, p. 14) assevera que ele
requer capacidade para lidar com as diferenças, respeito às condições
culturais e existenciais das pessoas sem discriminá-las. Faz-se necessário
tamm entender os diferentes ritmos de progressão dos alunos, dos
procedimentos, dos contratos pedagógicos e elaborar atividades que
contemplem tanto a variação de idades dos alunos, bem como a
diversidade relacionada às histórias de vida e das suas escolas. Pelo fato
da permanência das crianças ser cíclica, devido às internações e altas
hospitalares, o professor também precisa saber lidar com a alternância dos
alunos e imprevisibilidade.
90
A mera transferência de procedimentos e dinâmicas da escola pode fazer
com que o pedagogo repita rituais de sala de aula, como tarefas de casa e
disciplinas não compatíveis com a classe hospitalar. ―Há necessidade de projetos
criativos e competentes, que desenvolvam práticas específicas para pacientes-
alunos hospitalizados adaptada às condições de aprendizagem que foge aos
padrões normais de sala de aula.‖ (REIS, 2009, p. 3).
Outro aspecto importante a ser considerado é o fato de a Portaria 30 da
Secretaria de Estado da Educação e Desporto (SANTA CATARINA, 2001), que trata
do atendimento pedagógico hospitalar, estabelecer que ele se destina ―às crianças e
adolescentes da pré-escola e ensino fundamental, matriculados na rede pública e/ou
particular de ensino‖. O público infantil na faixa etária entre zero a quatro anos fica
então oficialmente excluído desse processo.
Mas isso não significa que as professoras de classe hospitalar não dispensem
atenção a essas crianças. O que ocorre é que para elas são oferecidas apenas
atividades de passatempo, a fim de que a criança se distraia, sem intencionalidade
pedagógica. Assim, perde-se o objetivo de desenvolvimento de novas
aprendizagens.
Dentre os documentos legais que amparam o atendimento pedagógico
hospitalar em Santa Catarina, encontramos como mais recente a Normativa SED
nº 001 (SANTA CATARINA, 2008), que estabelece algumas diretrizes quanto ao
trabalho das classes hospitalares, especialmente sobre o remanejamento de
professores e carga horária dos pedagogos que atuam nos hospitais. Ela
determina que o trabalho será efetuado preferencialmente pelo professor efetivo
excedente e também vincula a carga horia desses profissionais ao número de
atendimento diário por leito (20 horas semanais = 2 a 4 atendimentos diários, 40
horas semanais = 5 a 10 alunos por dia).
Quando Isabel é questionada sobre seu ponto de vista no que se refere ao
amparo legal, relata em tom de desânimo:
Quem faz a lei, quem fez essa normativa, não conhece o nosso trabalho, a nossa representante na
SED nem foi chamada pra comissão que discutiu a normativa, então... sabe... acabou assim, eu
estou sozinha... nós éramos em quatro professoras junto com a educação sica e séries iniciais, eu
estou sozinha em um hospital de 166 leitos, fazer de conta que trabalho eu não to, to trabalhando
sério, mas com um número bem reduzido de atendimentos. (ISABEL).
91
Apesar do esforço da pedagoga em executar suas atividades de forma
responsável, a falta de uma legislação mais flexível e compatível com a atual
realidade das classes hospitalares de Santa Catarina representa, para as
pedagogas entrevistadas, entrave para a realização de um trabalho com mais
qualidade e representa desamparo e até descaso com a prática cotidiana desses
profissionais.
Constata-se que, diante das dificuldades citadas, para algumas pedagogas é
impossível adotar, em seu fazer pedagógico, estratégias diversificadas que, segundo
Evangelista (2009, p. 31), ―proporcionem ao aluno maior participação nas atividades
direcionadas a atendê-los, de acordo com as dificuldades, a independência e as
necessidades de cada grupo, permitindo a individualização do ensino.‖
Provavelmente por causa da orientação deficitária, tanto legal quanto técnica,
alguns trabalhos realizados pelas pedagogas nos hospitais de Santa Catarina se
concentram mais em atividades sem intencionalidade pedagógica do que em ações
de ensino-aprendizagem construtivas, como relata Eduarda:
Eu faço assim, eu pego de manhã os maiorzinhos, e de tarde os menorzinhos, mas de tarde os
maiores querem vir também, eles tem que ficar aqui, eles tem que ficar na aulinha... O que você faz...
você vem aqui com os menorzinhos, digamos, vou nos quartos e levo joguinho pra eles e daí
qualquer coisa chama a profe, né. “Profe agora ele pediu pra você ir pra ver tal coisa.Dá licença
um pouquinho e você vai, quando é possível todos, vamos assistir o Nemo, Procurando Nemo, que é
maravilhoso, eles adoram, então vamos todos lá pra salinha... então todos os que podem vir, se tiver
em isolamento não pode, os que podem vir, vem e fica aqui... e depois que a gente vai trabalhar, os
pequenininhos, que cor que é o peixinho? que tamanho ele é? O que ele disse? ele tinha papai ou ele
mamãe? ele tinha amigos?, então você explora bastante aquilo ali, com os maiores você explora de
maneira diferente, daí... então a gente faz isso e isso é muito importante pra eles. (EDUARDA).
Retomando as Estratégias e Orientações do MEC (BRASIL, 2002),
verificamos que as diretrizes para essa área são vagas. O documento aponta a
necessidade de assegurar o acesso à educação básica e à atenção as
necessidades educacionais especiais, a fim de promover o desenvolvimento e
contribuir para a construção do conhecimento desses educandos, mas não
fundamenta uma sistematização para o trabalho nas classes hospitalares.
Transpondo barreiras e buscando respostas para os desafios que surgem, as
professoras vão mobilizando seus saberes acadêmicos e da experiência para
adaptá-los ao espaço hospitalar. E a diversidade é a estratégia mais usada, como
revelam as falas de Beatriz e Eduarda:
92
Encaixei a parte pedagógica nesse trabalho de estimulação, porque eu tenho muita experiência,
porque eu trabalhei uma época com criança especial, trabalhei com criança especial e o trabalho de
trabalhar com criança especial é questão de estimulação, então assim, é uma maneira que eu to...
numa visão pedagógica que eu possa ta trabalhando aqui dentro, que eu to encaixando nesse
atendimento aqui também. (BEATRIZ).
Uma coisa que a gente faz muito é jogo de memória que desenvolve o raciocínio, tem que fica
concentrado, isso ajuda um monte, dominó de adição também que eles adoram, que eles querem
sempre ganha, então eles ficam ligado naquilo ali, eu acho, eu me sinto preparada pra trabalhar
nessa diversidade. (EDUARDA).
Normalmente, essas práticas priorizam o aspecto lúdico, o que, para Paula
(2006, p. 5), ―é significativo para as crianças e adolescentes internados, mas
insuficiente para atender as necessidades destes quanto aos objetivos da
escolarização e acompanhamento destas no hospital.‖
Para Sophia, que trabalha três anos com classe hospitalar, a maior
dificuldade é o atendimento aos alunos de segundo grau:
Com 28 anos de trabalho a gente já tem assim, 1ª a 4ª, educação infantil, a gente tem uma bagagem
bastante grande né, de muitos anos de trabalho, então assim não tem problema, a maior dificuldade
que sinto é de grau no caso, mas a gente procura orientação e vai atrás, porque não são muitas
crianças que internam de grau né, e daí então aqueles que internam a gente vai procurar, “Não
profe, eu tô tendo dificuldade aqui aqui aqui.” Daí a gente vai na escola pede pra profe, o profe (...), a
gente pega aqui com os prof, português, matemática, ciências, eu preciso disso de ciências, que o
aluno lá ta tendo essa matéria, eles liberam as atividades que eles trabalham na escola, esse
conteúdo a criança tendo lá na escola dela, por exemplo, daí eu chego aqui, os profe aqui são
maravilhosos pra orientar a gente, a era pra gente levar as tarefas, a gente até leva pra eles
fazerem lá depois, depois de faze pra corrigir, depois devolve, orienta a gente também, nesse sentido
não tenho problemas, mas é o 2º grau, que a gente tem assim, mais dificuldade né... (SOPHIA).
Mas com relação ao ensino fundamental e à educação infantil, Sophia garante
que a situação é diferente, porque sua experiência de 28 anos na pedagogia e a
pós-graduação em Educação Infantil e Séries Iniciais propiciaram, como ela mesmo
diz, ―uma bagagem bastante grande.‖
De todo modo, independentemente da idade, do nível de escolaridade e do
ambiente em que o aluno e o professor se encontrem, o educador deve lembrar
sempre que o seu trabalho é
93
realizado com gente miúda, jovem ou adulta, mas gente em permanente
processo de busca. Gente formando-se, mudando, crescendo, reorientando-
se, melhorando, mas, porque gente, capaz de negar os valores, de
distorcer-se, de recuar, de transgredir. Não sendo superior nem inferior a
outra prática profissional, a minha, que é a prática docente, exige de mim
um alto nível de responsabilidade ética de que a minha própria capacitação
científica faz parte. É que lido com gente. Lido, por isso mesmo,
independente do discurso ideológico negador dos sonhos e das utopias,
com os sonhos, as esperanças tímidas, às vezes, mas às vezes, fortes, dos
educandos. (FREIRE, 1996, p. 143 e 144).
Cabe aqui buscar os eixos de análise que surgiram a partir dos temas
indicados na pauta de entrevistas semiestruturadas: saberes necessários à prática
pedagógica hospitalar, principais dificuldades e desafios, trabalho realizado pelo
pedagogo nos hospitais de Santa Catarina e contribuições do curso de Pedagogia
para a atuação hospitalar.
Os resultados desta investigação apontam a deficiência da formação inicial
das pedagogas no que se refere a conhecimentos sobre o atendimento pedagógico
hospitalar, a inadequação do espaço físico, a falta de orientações mais precisas
sobre o trabalho no ambiente do hospital e de diálogo entre escola e hospital.
Tamm mostram que os saberes da experiência, fortemente imbricados aos
saberes acadêmicos, o sustentação à prática das pedagogas nesse contexto de
trabalho. Evidencia-se a necessidade de estudo, pesquisa e aperfeiçoamento
contínuo para que as pedagogas construam novos conhecimentos, fortaleçam suas
competências e se tornem mais seguras para atuar com classe hospitalar.
O estudo revela que urgência em fortalecer os debates sobre o papel da
educação no hospital e inserir a prática pedagógica na busca de estratégias que
propiciem humanização da assistência em saúde. E ao mesmo tempo refletir sobre o
currículo de Pedagogia, enfatizando os processos que visam integrar educação e
saúde, inserindo a escola no hospital para a realização de um trabalho colaborativo
que resulte na construção de um espaço de diversidade e cidadania.
94
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa se preocupou em analisar a atuação dos pedagogos nos
hospitais de Santa Catarina que oferecem atendimento pedagógico-educacional aos
seus pacientes e suas condições de trabalho, dando ênfase a aspectos associados
à sua formação e à relação entre os saberes acadêmicos e a pluralidade dos
saberes da experiência, oriundos do cotidiano e do meio vivenciado por esses
profissionais da educação.
Instituídas quase quatro anos, as novas diretrizes curriculares nacionais
para o curso de graduação em Pedagogia contemplam novas práticas educativas a
partir de múltiplas perspectivas formativas. Aliada à relativa recente legislação
específica que assegura o direito à continuidade de desenvolvimento dos conteúdos
escolares a crianças e adolescentes hospitalizados, tais premissas propõem
abordagens que orientem com maior clareza para a atividade pedagógica em
contextos não escolares.
Apesar das iniciativas do Ministério da Educação, dos pressupostos legais e
das adequações realizadas pelas instituições de Ensino Superior a partir desses
instrumentos reguladores, os currículos dos cursos de formação inicial ainda
carecem de elementos que possibilitem, aos professores, entendimento mais
aprofundado e preparação compatível com a demanda de atendimento de alunos
impossibilitados de frequentar a escola regular por estarem internados em
estabelecimentos de saúde.
O objetivo principal da Pedagogia Hospitalar é possibilitar o retorno dessa
população à escola de origem, sem prejuízo ao processo de ensino e aprendizagem.
Isso implica diversificação de atividades e, portanto, a adoção de estratégias e
metodologias diferenciadas de trabalho que considerem os aspectos da rotina
própria do hospital e que interferem na prática pedagógica nesse local.
Trata-se não de uma área de atuação profissional limitada à inserção de um
espaço de sala de aula no ambiente hospitalar, mas sim de um atendimento
pedagógico especializado, no qual devem estar imbricadas relações de proximidade
e cooperação entre os pedagogos que atuam nesse campo, a escola e a família.
Este estudo constatou que tal interação é pouco frequente em Santa Catarina e o
95
resultado disso é que as questões educativas envolvendo crianças e adolescentes
internados acabam constituindo mais um problema para os alunos hospitalizados e
seus familiares.
Por esse viés, pode-se afirmar que a criação de classes hospitalares constitui
uma necessidade para o hospital que se preocupa com essa questão social e com a
humanização do seu atendimento, de forma a permitir que seus pacientes
mantenham vínculo com seu mundo exterior à patologia, representado pelo contato
com a escola e com a família. Em contrapartida, cabe à escola estimular essa
parceria. É uma via de mão-dupla: a escola age na promoção da saúde e o hospital
atua como incentivador da escolarização.
Nesse processo, ganha relevância a intermediação dos pedagogos, pois eles
estão diretamente envolvidos, de um lado, com o hospital e a escola, e de outro,
com os alunos hospitalizados e as pessoas responsáveis por eles. É um trabalho
que comporta razão e sensibilidade e que mescla saberes acadêmicos e saberes da
experiência.
No território pesquisado, essas características são o evidentes quanto a
reivindicação dos pedagogos por diretrizes claras e legislação de amparo aos
profissionais que exercem sua profissão em estabelecimentos de saúde. Assim
como a criança hospitalizada, o pedagogo que atua com classe hospitalar tem seus
próprios medos, angústias e conflitos. Destaca-se a aflição dos profissionais em
relação à falta de instruções para orientação do trabalho no ambiente hospitalar.
Isso gera ansiedade e insegurança, além de exigir considerável tempo para a
adaptação à rotina desses locais.
Outro aspecto importante observado neste estudo diz respeito à carência de
espaços físicos adequados. Cabe ressaltar que os hospitais que dispõem de
atendimento pedagógico hospitalar no Estado de Santa Catarina contam com
estruturas diversas para esse trabalho, incluindo desde atendimento apenas nos
leitos até salas para atuação pedagógica que dividem espaço com as
brinquedotecas hospitalares.
Esta investigação revelou que, no contexto hospitalar catarinense, as
pedagogas constroem e reconstroem seus conhecimentos conforme a necessidade
de sua utilização, aliando e modificando saberes apreendidos durante a formação
96
inicial para sustentar suas práticas nesse percurso profissional. Desse modo, a
prática dessas educadoras é constantemente reformulada no dia-a-dia, a partir do
que foi captado na academia e dos saberes provenientes da experiência. É nesse
cenário, no qual se configura o exercício das atividades de educador, que teoria e
prática podem dialogar e se compatibilizar.
As instituições de Ensino Superior vêm sendo chamadas a colaborar na
formação inicial e continuada de educadores em espaços diversificados, mas,
conforme percebemos neste estudo, falta a elas uma preocupação, ou interesse,
maior em formar um sujeito que elabore um saber próprio, que não reduza a
profissão docente a um conjunto de competências e técnicas.
Com enfoque privilegiado ao trabalho na escola, os cursos de graduação se
distanciam da sua responsabilidade de agentes formadores de profissionais para
lidar com a diversidade e a imprevisibilidade de ambientes escolares e não-
escolares. Considerando a complexidade do fazer pedagógico, é fundamental
associá-lo a abordagens capazes de produzir um outro tipo de conhecimento, mais
próximo das realidades educativas e do cotidiano dos professores e dos educandos.
Ao término deste estudo, concluo que é de suma importância investigar o
trabalho do pedagogo, em diferentes contextos, sobretudo, no espaço hospitalar,
colocando em foco a reelaboração dos saberes iniciais em confronto com a prática
vivenciada. E isso não apenas por meio de pesquisas estanques, mas num processo
contínuo de reflexão e análise dos valores e princípios de ação que norteiam o
trabalho dos professores, considerando a dimensão histórica e social em que é
construída a prática docente. É necessário e urgente romper a lógica disciplinar
ainda dominante das universidades que, fragmentando os saberes, impede a
socialização profissional.
Espero que o resultado deste estudo contribua para uma reflexão mais crítica
sobre o papel das instituições e o currículo de Pedagogia, que atualmente ainda
carecem de um projeto de formação docente para atuação em hospitais e em outros
contextos que o as unidades escolares. Que ele sirva para reafirmar o caráter
pedagógico educacional das classes hospitalares, suscitando debates sobre a
importância da relação entre a saúde e a educação em cenários sociais tão
marcados por patologias e falhas na educação. Que o trabalho dos professores seja
considerado
97
como um espaço prático específico de produção, de transformação e de
mobilização de saberes e, portanto, de teorias, de conhecimentos, e de
saber-fazer específicos ao ofício de professor. Essa perspectiva equivale o
fazer do professor, tal como o professor universitário ou o pesquisador da
educação, um sujeito do conhecimento, um ator que desenvolve e possui
sempre teorias, conhecimentos e saberes de sua própria ação. (TARDIF,
2001, p. 119).
E que todos os argumentos reunidos nesta dissertação incitem discussões
construtivas que, parafraseando Nietzsche, ainda contenham caos para poder
produzir novas estrelas, novas perspectivas.
98
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107
APÊNDICES
108
APÊNDICE A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA
PROJETOS DE PESQUISA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA
PROJETOS DE PESQUISA
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa.
Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do
estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra
é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma
alguma.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
Título do Projeto: O PAPEL DO PEDAGOGO NOS HOSPITAIS DE SANTA CATARINA
Pesquisador Responsável: FABIANA DE OLIVEIRA GOLDMANN
Telefone para contato: 33341207
Pesquisadora orientadora Valéria Silva Ferreira.
Telefones para contato: 33417516
A referida pesquisa tem como objetivo compreender as ações e possibilidades de
atuação do pedagogo em hospitais.
Acreditamos que os resultados deste estudo contribuirão para uma reestruturação
disciplinar do currículo de Pedagogia que, atualmente pouco prepara o pedagogo para atuar
em contextos educativos extra-escolares.
Salientamos que todos os sujeitos terão suas identidades preservadas e as
informações prestadas serão divulgadas somente para fins acadêmicos e científicos.
Garantimos que os sujeitos dessa pesquisa terão toda a liberdade de retirar o
consentimento, sem qualquer prejuízo.
- Nome do Pesquisador: FABIANA DE OLIVEIRA GOLDMANN
- Assinatura do Pesquisador: ________________________________________________
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO
Eu, _____________________________________, RG_____________, CPF ____________
abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente
informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como
os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que
posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à qualquer
penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento.
Local e data: _____________________________________________________________
Nome: __________________________________________________________________
Assinatura do Sujeito ou Responsável: ________________________________________
Telefone para contato: _____________________________________________________
109
APÊNDICE B ROTEIRO DE ENTREVISTA
ROTEIRO DE ENTREVISTA
data:__________instituição:_____________________
*solicitar autorização para gravar a conversa.
Nome da pessoa responsável pelo trabalho:_________________________________________
Nome da
pedagoga:___________________________________________________________________
Formação: ______________________________ local da formação:_____________________
Data da formação:____________ instituição da formação: _____________________________
Experiências de trabalho, onde vc trabalhava antes:___________________________________
Tempo de trabalho:____________________________________________________________
Como chegou até o hospital:_____________________________________________________
Quem te contratou?__________________ há quanto tempo você está no hospital?__________
Qual é o teu trabalho aqui? ______________________________________________________
Você trabalha com todas as séries?_______________________________________________
(ed. Infantil? Ensino fundamental? E as crianças de 0 a 6 anos?)________________________
Como você lida com a variedade de conteúdos, vc se sente
preparada?___________________________________________________________________
Quem te ajuda neste trabalho?___________________________________________________
Como você organiza as atividades? A secretaria (gered, semed...) Manda planejamentos prontos?
____________________________________________________________________
Como você nomearia o teu trabalho aqui? Você pode chamar de classe hospitalar?
____________________________________________________________________________
Quais as características pessoais que contribuem para o trabalho
aqui?________________________________________________________________________
A tua formação contribuiu de que forma para esta atuação? Qual a disciplina que mais
ajudou?______________________________________________________________________
Você está fazendo algum curso para o teu aprimoramento?
____________________________________________________________________________
Você lê sobre o trabalho do pedagogo nos hospitais?
____________________________________________________________________________
Quais são as tuas preferências de
leitura?______________________________________________________________________
Você já visitou outras
classes?_____________________________________________________________________
Você mantém contato com outras pedagogas que trabalham em hospitais?
____________________________________________________________________________
Quais são as áreas (psicologia, neurologia, psicopedagogia...) Que você procura para o teu
aprimoramento?_______________________________________________________________
O que você considera importante para o currículo de pedagogia para a atuação em hospital?
____________________________________________________________________________
O que você pensa sobre a importância do teu trabalho aqui? Porque é importante uma professora no
hospital? Como você contribui com a criança hospitalizada com o teu trabalho no hospital?
____________________________________________________________________________
110
APÊNDICE C ENTREVISTAS REALIZADAS
1. ENTREVISTAS REALIZADAS
Transcrição Entrevista 01 PEDAGOGA: BRUNA - HOSPITAL: H1
Data: 07/05/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- Mas assim... não te constrange ta, BRUNA? É mais só pra eu ter o registro mesmo.
1- Então, algumas perguntas tu já me respondesse, mas ficou alguma coisa que eu deixei escapar, então... a tua formação
como pedagoga foi em Blumenau?
2- Foi... em Blumenau.
1- Na FURB né?
2- Não, foi em Indaial na Asselvi.
1- Asselvi... Uniasselvi?
2- É.
1- Tu te formasse em que ano?
2- No ano de (pensou) 2004.
1- 2004. Daí tu fizesse a...?
2- A pós, especialização... Aupex, em Blumenau.
1- E foi logo em seguida né?
2- 2005, 2006.
1- Ah... aí tu já me explicou onde tu trabalhou antes né, tu trabalhava de 1ª a 4ª série né? Séries iniciais.
2- Isso, em escolas. Primeiramente foi numa escola estadual... no Hercílio Deeke, aí depois eu passei pras escolas municipais,
trabalhava de a 4ª série... aí eu engravidei naquele ano era ACT... fiquei... assim... alguns meses até ganha o neném,
né... daí fui trabalhar no Abrigo Nossa Casa... educadora de abrigo... aí depois disso me efetivei no município, daí fui chamada
no concurso.
1- E agora tu ta aqui no hospital há quanto tempo?
2- Desde 2008... no ano passado em julho, desde julho de 2008.
1- Quem te contratou?
2- Não, eu estou efetiva no município desde 2002, né. E... o Dr. Maurici me convidou pra ta vindo e “concretizando” esse
trabalho.
1- Então o... na verdade assim, eu gostaria de saber quem é a pessoa responsável pelo trabalho que é feito aqui no hospital.
Então, é a secretaria de educação do munipio...
2- Isso.
1- Tu trabalha com todas as séries aqui?
2- Trabalho... todas, de alguma forma a gente faz algum tipo de trabalho que atinja todos eles. Embora percebemos que falta
um professor diário, isso é bem importante... registrar”.
1- E as crianças de 0 a 6 anos?
2- De 0 a 6 anos, elas têm algumas atividades coletivas, que é: o dia do cinema, elas participam do cinema, contação de
histórias, todo momento de contação de histórias as crianças participam... Quando nós temos uma pintura também, que há a
possibilidade de trabalhar com elas, com a mãozinha, fazer alguma atividade artística, elas participam.
1- E como é tu lida com a variedade de conteúdos assim né, dessas séries que tu atende, que tu atende todas elas, como é
tu lida com essa coisa...
2- Deu trabalho ngua portuguesa... são atividades que eu ganhei na Semed mesmo, na orientação né. Então assim, eu
trabalho textos, interpretação de texto, a gramática eu não trabalho... né... eu não trabalho com a gramática enquanto eles tão
aqui. Trabalho a matemática, assim, problemas matemáticos, o pensamento lógico (ênfase) não o conteúdo em si. Quando
111
eles trazem o caderno de casa, daí a gente procura ta fazendo as tarefas e tá estudando de acordo com os conteúdos que eles
recebem.
1- Uhum... ciências, biologia??
2- Também, ahan... assim... a água, sobre as plantas.. aquilo que eu planejei praquela semana, daí todos fazem cada um do
seu nível.. uma produção de texto... o pequeno vai fazer, de série - de 2ª série, vai faze no nível deles... o de e 4ª
série, vai faze no nível deles e os outro também.
1- É a Semed que te manda essas orientações, essas atividades?
2- É... no momento que eu vim pra cá, sentei, conversei com elas, recebi bastante material, né... Então nisso fui produzindo
meus materiais, fui rasgando um livro de ngua portuguesa, montando texto, interpretação de texto é assim que eu trabalho.
1- Tu tens... esses planejamentos, como que eles são feitos... são... em uma pasta, já tá pronto?
2- Isso... tem uma pasta todas as atividade que eu dou, no caderno faço o relato semanal, às vezes quinzenal... eu faço um
relato de tudo que foi feito.
1- Como é que tu... nomearia o trabalho que tu faz aqui? Tu pode chamar de classe hospitalar?
2- Eu nomearia um trabalho pedagógico... pedagógico... Classe hospitalar sim, quando tiver uma equipe mais bem estruturada.
1- Uhum... e... quais são as características pessoais que contribuem pro teu trabalho aqui? Tu tinha me respondido alguma
coisa, mas eu queria que tu... falasse assim... mais...
2- Bom, eu procuro atendê-los de forma carinhosa, bem atenciosa, o que que eles pensam, se eles podem tá trabalhando
aquilo que eu to propondo pra eles naquele dia, então... o que que eu procuro fazer, eu gosto de música, eu gosto de histórias,
eu gosto de literatura, eu gosto de ler... então, eu acho que isso que é meu pessoal, que eu consigo transmitir pra eles e
trabalhar e fazer um trabalho pedagógico em cima disso.
INTERFERÊNCIA (entrou alguém na sala)
1- Tu tinhas comentado que a tua formação ela tinha... muito mais a pós-graduação contribuído pro teu trabalho aqui né?
2- Sim.
1- Tu tens como me dizer assim, alguma disciplina que realmente tenha marcado... que tenha...
2- Não, é assim ó... Eu tinha um sobrinho que freqüentava o hospital Joana de Gusmão, então, durante todo o processo que
ele freqüentava... que ele ainda faz tratamento né, ele vinha me contando e foi na pós-graduação que eu tive este contato
maior e conversei com a Rúbia e a Rúbia comigo, vamos escrever BRUNA e tal... e vamos e a coisa deslanchou na pós-
graduação... (ênfase)
1- Uhum...
2- Entende? De tá escrevendo sobre esse projeto, de vendo as atividades do Gabriel, isso foram momentos que ele ficou
mais tempo, que ele também precisou... que ele trouxe mais material...
1- Então não foi a grade curricular da pós-graduação?
2- Não.
1- Foi o teu interesse pelo assunto.
2- Isso, pelo assunto e muito mais ainda da Rúbia, que a Rúbia tinha interesse, tinha uma leitura sobre pedagogia
hospitalar e eu conversava com ela sobre o que acontecia com o meu sobrinho, a gente... vamo, vamo escrever, dela
escreveu sobre a importância desse trabalho no nosso município e eu escrevi sobre a implantação no município de Blumenau.
1- Entendi.
2- Então foi na pós que isso aconteceu.
1- Uhum... Tu lê sobre o trabalho do pedagogo nos hospitais?
2- Leio.
1- Quais são as referências ou as tuas preferências de leitura, ou o que tu tens procurado?
2- Eu acabei de ler (pensando) deixa eu ver aqui... Mônica né? E eu li aquele da Marlene... (pensando) Matos...
1- Ahhh, sei... ahan... Pedagogia hospitalar, né?
2- Isso... esses dois foram os últimos livros que eu li... eu leio bastante relato da Internet também, eu sempre pesquiso,
“vários” sites, Joana de Gusmão (incompreensível) direto...
1- Tu já teve.. é.... algum contato com outra classe?
2- Não, ainda não tive, só via e-mail... mas assim, eu sempre to lendo...
1- Como é o teu contato com Florianópolis?
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2- Eu tenho contato só com a Tânia... com a educadora Tânia e via e-mail só que a gente se comunicou e uma vez por
telefone.
1- Quando tu procura a Tânia lá do HIJG é pra trocar alguma informação sobre os teus planejamentos?
2- Isso, ainda no primeiro momento era quando eu estava vindo pra cá, então, eu tinha assim, toda aquela expectativa né... Aí
eu pedi pra ela... ela foi assim... tão automática, ela passou o planejamento de agosto né, daquele época agosto setembro -
outubro, ela passou alguns planejamentos... até pra mim vendo que... porque... quando tu vens, tu vens com aquela força né
e eu fiz um planejamento que mais ou menos eu ia levar uns quinze dias pra encerrar... E quinze dias com quem? Quem ai
estar aqui depois de tanto tempo?... Né? Então eu não tinha esse... essa experiência, então eu entrei em contato com ela pra
ta vendo, então eu comecei a fazer planejamentos mais curtos... assim... mais produção de textos, mais atividades
matemática... Não um planejamento que levasse muito tempo, então se no ximo a gente faz três encontros, então a gente
senta, fala sobre as plantas... através de uma transparência, alguma coisa assim, faz uma atividade... amanhã faço mais
uma atividade e faço um fechamento. Porque a criança vai receber alta e aí ela fez um fechamento daquilo que foi trabalhado e
eu o tinha esse conhecimento. Eu planejava assim pra... dez dias de atividades... onde é que já se viu, ela fazia duas
atividades e recebia alta.
1- E ela te ajuda bastante nesse sentido?
2- E ela me ajudou nesse sentido sim, né...
1- Mais alguma dúvida assim, que eventualmente tu (incompreensível)?
2- Tinha muitas dúvidas... muitas, sobre relatórios, sobre o relatório de observação, relatório descritivo da criança...
1- E foi ela que te...?
2- eu comecei a conversar com ela, assim... algumas vidas... até eu poderia incomodar, mas tenho medo de incomodar
demais....
1- Quanto tu tem mais dúvidas BRUNA, tu procura mais Florianópolis ou tu procura aqui Blumenau?
2- Não, Semed.
1- A Semed.
2- É só quando é alguma coisa assim que vamos supor, a Semed também não vai me dá, essa resposta... porque eles
também... o projeto iniciando né... Então procurei a Tânia, então por isso eu liguei pra ela e a gente troca e-mails. Ela até
disse que queria assim, pra a gente troca algumas idéias mesmo né, leva alguma coisa daqui pra lá também... e...
1- E além da Tânia, tu mantêns contato com alguma outra pedagoga que trabalha em hospital?
2- Não.
1- Eu já tinha te perguntado também da última vez, mas eu gostaria de... reperguntar, né? (risos) O que tu considera
importante pro currículo de pedagogia pra atuação aqui no hospital?
2- Era a nível de? Disciplinas?
1- Isso.
2- De disciplinas? Pra montar um curso...
1- Isso.
2-eu tinha falado sobre a higienização né, que é muito importante, a gente tem que ter essa disciplina. Porque uma criança
utiliza aquele material e muitas vezes a gente tem que fazer a higienização desse material e eles tem q ter esse conhecimento,
até pra nós assim né, eu fui aprendendo a lavar as mãos, de acordo com as normas do hospital aqui. Então, só o lavar as
mãos não é o suficiente, a gente tem que ter um outro olhar... um olhar de saúde mesmo, né.
1- Ahan.
2- O lúdico pedagógico, eu acho que tem que ter uma disciplina do lúdico pedagógico pra educadora vir assim... com idéias de
brincar, ela deve gostar disso também né... se não gostar... de.... (pensando) lúdico... (repete) Tinha mais uma que eu achava
muito importante...
1- Tinhas comentado....
2- Literatura infantil, né.
1- A psicologia hospitalar...
2- É, a Psicologia é muito importante, muito né...
1- Já tínhamos comentado daquela outra vez que eu estive aqui.
2- Limitar as nossas palavras... tem que cuidar né, não pode soltar o que... né... tem que se manter, tem que ter uma boa base,
bem teórica mesmo pra também suportando o que a gente vê, né. A gente se apega a eles né e tem vários relatos na
113
internet que quando a gente abre, a gente ouve os comentários de educadoras para educadoras, que é muito difícil, a gente se
apega... gosta... mas dali 4 - 5 dias tem que dize tchau... e vão embora... e fica bem... isso é difícil... assim...
1- É um dos desafios...
2- É um dos desafios. Ou chora quando eles não tão bem também. Ontem nós levamos um susto, com uma delas... então são
experiências que só a psicologia para poder dar um suporte mesmo, trico né e prático.
1- Pra finalizar, eu queria que tu respondesse essa última pergunta né... e me dissesse o que que tu pensa da importância do
teu trabalho aqui, pra essa criança que ta recebendo esse trabalho né... isso que tu ta fazendo.
2- Eles falam muito bem, mas eu vo fala o que eu penso sobre... Eu acho primordial... eles adoram... Então assim, eles ficam
na cama meio período sem fazer nada e já tão ansiosos, já tão agoniados, já tão acamados, então tu vem com uma proposta
(incompreensível) pra ouvir uma história, pra fazer um texto, pra escrever, pra recortar, pra pintar e eles vem aqui e passam
um período deles ali, que eles nem percebem que tão tomando soro.... que eles tão tomando antibiótico, na veia.... é o que ta
acontecendo, mas eles tão distraídos que... Eu acho primordial, tanto pro tratamento deles, como pra eles mesmo... depois
eles vão pra escola e ah... eu fiz com a professora... Hoje eles falaram, que eles não tão na escola pra fazer o trabalho do dia
das mães, mas eles vão fazer aqui, então assim, é gostoso.... E se não tivesse esse trabalho, né? Eles não iam fazer em lugar
nenhum... né... Ah, tu chega no quarto os adolescentes tão lendo... isso é gostoso, prazeroso sim... (incompreensível) Elas
lêem e eu beijo.
(risos)
1- Então, tu tinhas comentado da última vez também que alguns materiais são patrimônio do hospital né?
2- Isso.
1- Todo esse material?
2- Todo material que tem de mobiliário é do hospital, todo material pedagógico é nosso da secretaria da educação.
1- Ah tá... E como é que fica a disposição pras crianças? Só quando tu estás aqui?
2- Só... só... Às vezes, no feriado eu até deixo uma caixa de lápis de cor... esporadicamente, assim pra uma criança que é
maior né... e eu aviso a enfermagem... ó ficou um lápis de cor, algumas folhas e se receber alta vão entregar pra você e
segunda feira eu recolho. Tem todo um cuidado também porque essa criança maior, ela vai sair do leito, ela vai receber alta...
então outra menor pode se machucar, outra menor pode pegar os lápis e riscar parede, mesa... sei lá.. alguma coisa pode
acontecer com esse material...
1- Entendi...
2- Ou pode colocar na boca né, também que é uma das possibilidades...
1- BRUNA, mais uma vez obrigada por me receber aqui... mais uma vez ta abrindo as portas do teu espaço pra gente poder
conversar um pouquinho mais.
114
Transcrição Entrevista 02 Pedagoga: JULIA Hospital: H2
Data: 21/05/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- Aqui no hospital tu é a pessoa responsável pelo setor de pedagogia, né? Tu és a pedagoga responsável?
2- Atualmente sim, pelo setor de pedagogia que compreende esses vários programas né... classe hospitalar, recreação,
estimulação, dificuldade de aprendizagem e apoio ao adolescente em equipe multidisciplinar... a gente... eu digo atualmente
porque por essa direção eu fui convidada pra assumir, então hoje eu que respondo pela chefia do setor...
1- Qual é a tua formação JULIA?
2- Pedagogia pré-escolar, com especialização em educação infantil e séries iniciais e fazendo a formão em
psicopedagogia com a Alicia né.
1- Então, a tua pós-graduação, seriam essas duas, essa da Alicia...?
2- E a educação infantil e séries iniciais.
1- Qual é o local da tua formação da graduação?
2- Universidade Federal de Santa Catarina.
1- Aqui mesmo.
2- Na UFSC.
1- Em que data que foi isso?
2- Eu me formei em 86-II, um tempinho aí... que naquela época se chamava educação pré-escolar, hoje seria educação infantil.
1- Certo e a tua pós-graduação?
2- Eu fiz pela UDESC.
1- Uhum, quando?
2- Foi... foi mais recente, eu fiz em 2000 e (pensando) 2007 e eu entreguei a monografia em 2007.
1- E esse da Alicia ainda ta, continua...?
2- A da Alicia ta acontecendo... vai até em setembro desse ano... a gente faz o ultimo módulo, a gente teria mais um modulo
ano que vem, mas pelo que a Lucimara me disse rapidamente, tem mais um ano e meio, digamos assim.
1- Certo. Quais são as experiências que tu tem de trabalho? Tu já trabalhou em escola regular?
2- Já, eu já trabalhei... na verdade eu já comecei assim que eu me formei em 86... eu trabalhei com a fundação, na época era
fundação né, de desenvolvimento social, nos formamos a primeira equipe de pedagogos, pra da toda uma assessoria nas
creches domiciliares, naquele tempo era o programa pró criança, do governo e a gente fez todo um projeto pra faze esse
acompanhamento como pedagogo.
1- Uhum.
2- Daí depois, em função... mais questões políticas mesmo, daí as coisas vão mudando e aí conversando... eu sempre tive
interesse não área da saúde, por que eu não sei, não sei explicar, mas era uma coisa que me fascinava e tinha uma coisa que
sempre me levava assim... e casou na época de eu conversar com alguns amigos e ai tinha um médico, que hoje já faleceu,
que era um médico psiquiatra aqui no hospital que tinha todo uma visão, muito legal sobre essa parte da psiquiatria com outras
áreas, que era o Zalmir Fabri, e aí eu soube, não lembro direito através de quem assim, foi amigos que foram falando, que já
tinha na época uma pedagoga aqui no hospital que era a Berenice e que eles estavam precisando de mais pessoas ligadas a
área da educação e eu vim e conversei com ele, foi uma conversa bem agradável, mas eu não era do quadro da saúde e
foi todo um processo administrativo, que deu certo... que foi bem na época de final de governo que tu podias escolher naquela
época pra onde tu querias ir e eu vim pro quadro da saúde, daí quando eu vim, foi pra trabalhar com esse psiquiatra...
1- Certo
2- Junto com a unidade dos adolescentes, que é a unidade A, que é até hoje ainda participo desse grupo e é que entrei no
hospital infantil e ai fico sendo duas pedagogas e a gente foi fazendo algumas, ações e viu a necessidade de vir mais
pedagogas.
1- Isso... era em...?
2- 91
1- 91
2- 91
1- E desde 91 que tu ta no hospital?
115
2- No hospital, eu comecei em 86 na fundação catarinense de desenvolvimento social, depois eu passei pro hospital e ai em 98
eu... foi 98... ai eu vi sempre aquela necessidade de ta indo em busca de outras coisas assim, e ai eu fiz o concurso da
prefeitura município de Florianópolis e eu passei no concurso e ai eu entrei pra ser professora e ai eram duas coisas
completamente diferentes... eu trabalhava né, de manha no hospital infantil e a tarde eu trabalhava numa escola curricular,
digamos assim, regular né, de educação infantil...
1- Olha...
2- E ai era... eu acho que era um contraponto assim, bem diferentes, mas é onde duas coisas assim, pra mim era uma terapia,
porque de manhã era uma vivência e a tarde era outra completamente diferente.
1- Então tu tá aqui 91 2001...?
2- Eu to há 17 anos.
1- 17 anos.
2- 17 pra 18 anos.
1- Nossa é uma historia!
2- 18 anos pra ser mais exata.
1- Então tu sempre fosse efetiva do estado, né?
2- Efetiva do estado, djá passei a fazer parte do quadro da saúde, hoje é outro encaminhamento, não existe mais isso, ai
nos faamos parte do quadro da saúde, da secretaria do estado da saúde.
1- C1, qual é o teu trabalho aqui então?
2- É na verdade assim, a gente tem esse... o foco é educação, se eu for reportar hoje... é... me toma muito tempo a questão da
chefia, né... porque tem todas as questões administrativas mas, mesmo em função, assim... ai eu tive que fazer uma opção,
esse ano eu me afastei da prefeitura, porque é... como eu tava trabalhando como professora... e quando o doutor Maurício ano
passado me convidou pra assumir a chefia, eu senti muito... muitas coisas eu deixava de complementar aqui, porque tinha que
sair daqui em um determinado horário, em razão que eu tinha que estar em sala de tarde em outro local e eu não podia chegar
atrasada lá de jeito nenhum, porque eu tenho que ta em sala naquele momento e eu chegava atrasada... e eu fui vendo que as
coisas não tavam legais assim né, eu não tava tendo uma qualidade lá e nem aqui e consequentemente nem uma qualidade
de vida, eu tinha quinze minutos pra ta... os quinze minutos que eu tinha, eu tava entro do carro e dirigindo e eu conversei com
ele então assim, eu optei e esse ano em me afastar da prefeitura, pra fazer uma coisa mais, eu sabia que ia haver mudanças,
que é muita coisa assim, pra eu ta mais presente aqui no hospital, mais assim, desde que eu assumi a chefia, a equipe sempre
pegou... a gente sempre conseguiu fazer um trabalho em conjunto, então eu coordeno a parte do programa de recreação, em
toda a parte de coordenação mesmo e eu trabalho como pedagoga, faço parte da equipe multidisciplinar da unidade A, que é
composta pelas médicas da unidade, que são duas herbiatras, tem a psiquiatra que são duas, tem uma psicóloga e a
enfermeira, assistente social e a equipe técnica da unidade, então assim, a participação este ano, eu sinto um pouco... eu não
to tão frequente porque as vezes as questões de chefia me exigem mais, mas mesmo assim eu sempre tento voltar... como eu
te disse, eu gosto dessa parte e eu quero continuar, eu quero ta sempre presente como pedagoga nestas funções.
1- Essas questões aqui da chefia, são mais burocráticas... administrativas?
2- Administrativas, puramente administrativas, né... que tem que ta fazendo as questões internas do hospital e como nos temos
funcionários da secretaria de educação e da fundação catarinense de educação especial eu também tenho que tar sempre em
contato com esses órgãos em termos de... de qualquer normativa, freqüência, tudo... férias, então assim.. isso demanda
tempo, tu tem que fica... ou então assim, algumas questões aqui dentro do hospital, porque essas.... eu vejo assim né... eu já
conversei atá com as menina... a gente recebe muito e-mail... muito muito... uma quantidade imensa assim... desta questão da
pedagogia hospitalar é muito ainda, nova... pra nos mesmos que estamos aqui dentro, então tem muito questionamento, como
é que funciona, qual é a bibliografia... então isso te toma, porque tu queis, ao mesmo tempo que eu to respondendo eu to
divulgando... então eu tenho que fazer as coisas coerentes e isso toma tempo também e além do que a gente tem que ta
sempre se aperfeiçoando, tem que ta lendo, tem que ta em contato com todo esse contexto do hospital, pra fazer acontecer.
1- Como tu coordena esses programas, eu queria que tu falasse um pouquinho quem trabalha contigo aqui na classe
hospitalar, são 2 pedagogas, né?
2- É assim. Começamos pelo programa de classe hospitalar, é um programa que nos fizemos uma parceria, é um convenio,
não é uma parceria pré-estabelecida, é um convenio formal com a secretaria de educação do estado de Santa Catarina... a
secretaria nos dispõe os professores pra execução do projeto e o hospital em contra partida entra com a área física e com a
clientela que são os paciente e o ano passado... é... veio uma normativa interna, eu posso ate te dar depois essa normativa,
que é uma normativa interna da secretaria de educação, ao qual, o programa de classe hospitalar, a partir de setembro de
116
2008, até então ele era vinculado a gerencia de educação fundamental e a partir de setembro de 2008, ele passou a ser
vinculado a gerencia de educação especial... isso é tudo uma normativa interna que eu o saberia te explicar por que, que
compete a secretaria de educação, com essas mudanças acarretou em algumas conseqüências na... principalmente na
diminuição do numero de professores, porque de acordo com o numero de crianças atendidas, para cada 5 crianças se eu não
me engano, agora tem que ver bem a normativa, se eu não me engano assim ó... pra cada 5 crianças de educação infantil, era
um professor, então no total de crianças atendidas, o hospital teria direito a 3 professores e até então nos nhamos seis, de
seis passou pra três, então, aí... já começou todo uma questão na admissão de professores, depois demorou-se muito no inicio
desse ano... Só pra te ilustra um pouquinho... 15 dias pra ficar aqui, porque éramos seis, viriam três, quem seriam esses três,
já foi um complicador... e houve uma outra situação, que na verdade hoje, atualmente nos estamos com dois no aguarde de
mais um, que a gente espera que venha o mais rápido possível, então o programa de classe hospitalar hoje (ênfase) está
funcionando com dois professores sendo que o número é de três num total e ele faz todo esse... o contexto dele.. o foco dele...
é trabalhar as questões escolares do... com os pacientes internados de 1ª a 4ª série e do 5º ... não... do 1º ao 4º ano e de ao
9º ano, anteriormente trabalhava educação infantil também só que, hoje aqui no esta...(não concluiu) no município, a
educação infantil agora ela pertence a secretaria do município, então nós já entramos em contato com o município, que a
secreta...(não concluiu) educação infantil é de competência deles, eles tem que mandar alguém, que é todo um outro
processo que ai não vem ao caso... esse programa de classe hospitalar, ele começou em 99 a execução dele... só que todo
um projeto foi anterior a isso, foi através de todo assim, uma parte de um grupo de médicos e pedagogos, assistentes sociais...
viram, já acontecia essa questão de um atendimento escolar ao paciente, através da recreação, mas era uma coisa assim, sem
tem um objetivo especifico, a recreadora vinha, achava que era necessário, mas também fazia aquele... né... uma reposição de
conteúdo, mas sem um objetivo especifico, um fim... era mais praquela criança tem um... uma... ser atendido enquanto
internado e a gente viu por toda essa questão da modernidade, da humanização hospitalar, que era necessário ter essa
parte atendida... e foi visto num primeiro momento de ser, um atendimento que a gente inventou de escola aberta né... que
seria uma coisa mais... um atendimento, mas o ligado a secretaria de educação, uma coisa mais feita pelo hospital e agente
foi vendo, foi estudando, foi discutindo e viu realmente que realmente não, teria que ser atrelado a secretaria de educação, que
tem toda a proposta do estado e ai a gente fez o convenio... e... a secretaria viu da necessidade justamente... e ai hoje,né... é
um programa que deu... está dando certo, dali da classe que foi criada em 99, outras classes surgiram, era ate uma coisa
que acontecia no Brasil muito tempo, que não é muito divulgado, porque sempre visto... como se fosse uma coisa de
recreação e na verdade não é...
1- (incompreensível)
2- Coisas distintas... então assim... a gente tem como pedagogo, eu sou suspeita em falar, porque a gente a gente já tem o
olhar voltado pra essa questão e o que a gente faz é tentar, não formar, mas pelo menos mostrar, principalmente, a clientela,
os profissionais do hospital o que que a classe hospitalar, com os professores... mas da necessidade que isso é pra criança
enquanto internado, né... e que o quanto isso complementa o tratamento dela enquanto ela ta nesse processo de
hospitalização, então o programa assim que... a gente já ta discutindo se esse é o nome que vale realmente, se é classe
hospitalar ou, né daí são outras questões que vem em outro momento assim né...
1- Ahan, queria que tu falasse sobre aqueles outros programas que tu coordenas também.
2- Daí nos temos depois... (confusa) deixa eu só te dizer, cada programa, uma pedagoga é responsável... o programa de
classe hospitalar, em reunião com a secretaria do estado, ficou definido que que era uma parceira, que alguém da secretaria
ficasse responsável...
1- Certo.
2- Então hoje... até o ano passado... ainda hoje a gente ainda não conseguiu ver isso, a pessoa responsável pela classe
hospitalar era a professora Tânia, porque ela seria o elo entre o hospital e a secretaria de educação...
1- Ahan.
2- Né... o que acontece nos demais hospitais do estado... aí depois nos temos o programa de dificuldade de aprendizagem que
é feito... também através né, de um convenio com a Fundação Catarinense de Educação Especial que nos dispõe de um
profissional que hoje é um psicopedagogo, né... pedagogo... psicopedagogo... que faz todo o atendimento de crianças que são
encaminhadas por médicos, por profissionais de áreas afins... escolas... tudo... pra trabalhar diretamente a questão da
dificuldade de aprendizagem.
1- Certo.
2- Nos temos outro programa...
1- A pessoa responsável por esse programa?
117
2- É a Lucimara Maia da Silva, que ela é da Fundação Catarinense de Educação Especial.
1- Certo.
2- Nos temos um outro programa que é o programa de estimulação essencial, que foi... esse programa que originou todo o
serviço de pedagogia, foi através do programa que antigamente a gente denominava como programa de estimulação precoce...
(interferência)
2- E daí nós tínhamos o programa de estimulação precoce através do doutor Álvaro (interferência) que trabalhava com uma
pedagoga da fundação que fazia todo acompanhamento com crianças desnutridas, que ali originou o serviço de pedagogia que
existe hoje... que é feito todo um trabalho em uma sala especifica, montada com mobiliário. com brinquedos, com instrumentos,
todos próprios pra trabalhar com crianças de zero a seis anos, com atraso no desenvolvimento... é esse atendimento, ele se dá
com crianças internadas e em crianças de ambulatório, que vem pra consulta ambulatorial... o programa de dificuldade de
aprendizagem também, não... desculpa... o programa de dificuldade de aprendizagem é só ambulatorial.
1- Certo, ali tu comentasse que a Lucimara é a responsável, além dela tem mais alguém que trabalha...?
2- Ela trabalha hoje... não, desculpa... hoje não... ela sempre trabalhou nesse... no ambulatório, com estagiários em formação
de psicopedagogia... porque pra ter um profissional, não... nós temos sempre o estagiário, que é quem consegue da o suporte.
1- E no... programa?
2- No programa de estimulação essencial é a pedagoga Enilda que ela tem uma formação em educação especial e ela é do
quadro da secretaria do estado da saúde.
1- E ela tem alguém que trabalha com ela?
2- Não, nós tínhamos uma pessoa que fazia o papel de maternagem, mas daí se aposentou... e ai também a fundação não
encaminhou mais ninguém e ai também de estagiário... é bem... ela trabalha sozinha.
1- Só.
2- Só.
1- E mais algum...?
2- Nos temos o programa de recreação... um programa todo voltado pra questão... ele tem... quando nos começamos o
trabalho... na verdade assim.. quando começou o trabalho de recreação, o trabalho começou com o grupo de voluntários do
hospital... a associação de voluntários da saúde, que era no antigo hospital, foi o primeiro trabalho que começou em termos de
atendimento para criança, recreação... que eram senhoras da sociedade que vinham... esposas de médicos... que iam na...
nos hospitais faze tipo né, um suporte praquela criança e antes do Estatuto da Criança, então a criança ficava sozinha, o
podia te acompanhante. Então as senhora. esposas de médicos, iam ao hospital para fazer uma tarde de brincadeiras... ali
originou o programa de recreação, com a vinda desse novo hospital aqui, que antes era o hospital Edith Gama Ramos, aqui é o
Joana de Gusmão... com a vinda do hospital se fez a questão... a formação técnica do programa, então foi contratado...
profissionais para atuarem como recreadores.
1- Certo.
2- De cinco recreadores, hoje nos temos um, de quatro salas de recreação, hoje nos temos duas. A questão profissional é
assim, eles vão saindo e a secretaria não repõe... é uma questão geral, de todos os hospitais do Brasil inteiro, é a questão do
profissional... a questão das salas é ate mais fácil de entender, né... porque foi surgindo muita coisa em termos de medicina,
em termos de doentes, que foram aparecendo, de diagnósticos... que o hospital teve que expandi em termos de espaço físico,
então foram pegos salas que tinham pra fazer esse atendimento... então hoje a gente comporta duas salas de recreação né,
com uma recreadora do quadro da secretaria da saúde e nos temos bolsista do programa é... Novos Valores.. que é um
programa da secretaria de administração do estado, né... são estudantes de pedagogia de baia renda e ai eles tem uma bolsa
pra trabalhar...
1- Quantos bolsista?
2- Dois, dois bolsistas.
1- E a recreação, ela funciona todos os dias?
2- A recreação funciona todos os dias em horários pré-determinados por causa da falta de profissionais, porque além das salas
estarem... terem de ser abertas que é o nosso foco, nos fazemos também atendimento no leito, porque quando há necessidade
de algumas unidades, elas solicitam o recreador... UTI.. que mais... isolamento, emergência interna, então nessas unidades,
ele vai quando solicitado ou quando tem né, uma necessidade ali, né... que ela vai acompanhar aquela criança já na
internação... e se não... normalmente, são abertas as salas de recreação e a gente tem também uma recreadora que é
disponível para o ambulatório de oncologia, que fica à parte do hospital, mas viu-se que a necessidade era muito grande e até
porque tinha um atendimento anterior, né... era feito por uma professora que tinha a questão da reposão, mas em comum
118
acordo e disse que na verdade assim... como ela já tava muito fragilizada, era um momento, né... tava fazendo quimioterapia,
tem todo um contexto ali né... de sofrimento mesmo, que era um momento de ter uma parte mais lúdica ali, então a
necessidade de ter um recreador... então uma dessas bolsistas, ela fica disponível para ambulatório de oncologia e oncologia.
1- Ah... certo.
2- Porque a gente viu da necessidade.
1- O ambulatório de dificuldade de aprendizagem funciona todos os dias?
2- Não, o ambulatório de dificuldade de aprendizagem, ele funciona as segunda, quartas e quintas feiras... em razão né, do...
1- Ahan.
2- Do horário da pessoa responsável... estimulação essencial, ela atende todos os dias nas unidades de internação... as
unidades... ela tem uma unidade legível que é a unidade C, que ela trabalha com a parte de desnutrição e metabolismo e aí ela
vai, é... sistematicamente e ela faz o ambulatório as quartas, quintas e sextas-feiras....
1- Certo, mais algum programa ainda?
2-nós temos a recreação que esse eu sou a coordenadora responsável desde 95... e depois nos temos o então... a qual eu
faço parte também que é uma equipe multidisciplinar, não é propriamente um programa né, mas fazemos então, são
atendimentos... atendimentos dessa equipe com vários profissionais, com adolescentes de risco... digamos assim, pra
caracterizar o adolescentes de risco, a gente tem alguns critérios, que seriam algumas doenças... ou psiquiátricas e doenças
da parte da anorexia, bulimia, então é feito todo esse... esses profissionais que compõe a equipe, cada um faz um
atendimento, depois é feito um estudo de grupo e depois é atendido o paciente e a família.
1- Interessante.
2- Então se faz todo... digamos assim... a parte do pedagogo tem toda a parte voltada pra escola.. a gente parte do prin...(não
concluiu) essa tal adolescência a referência da escola é muito presente... então a gente resgata o papel da escola, enquanto
internados.
1- Certo e esse, no caso, esse programa é todos os dias?
2- A gente tem todas as quartas feiras a reunião da equipe, mas o atendimento a gente passa a visita médica, todos os dias,
mas na quarta feira então é onde tem a discussão do grupo... todas as quartas feiras.
1- Certo. Então, a... no teu caso tu não atua diretamente com o ensino fundamental e series iniciais aqui?
2- Não, aqui... justamente essa parte é quem faz... já temos o programa de classe hospitalar...
1- É o programa...
2- São coisas diferentes... o meu papel ali, é um papel como pedagogo... no... na equipe...
(interferência)
2- Fabiana, assim pra te esclarecer... como tem o programa de classe hospitalar, esse programa que existe na unidade dos
adolescentes, não é assim em termos de atendimentos de conteúdos, mas sim toda essa parte voltada pra parte bem
educacional mesmo do aluno... em termos dele como aluno, como repre...(não concluiu), inserido na escola e o que que isso
implica no tratamento dele, né.. em termos de acompanhamento de um pedagogo, pra fazer todo um contato com a escola, pra
saber como ele se porta, porque às vezes o problema acontece na escola, então a escola passa a ser um dos melhores
informantes e após alta é onde ela também vai nos dar todo o... a... digamos assim... em termos de que ta acontecendo
daquele aluno após alta hospital... em termos de informação propriamente dita.
1- JULIA, tu tens um contato próximo com a GERED?
2- Olha.
1- Ou a alguma secretaria, mais assim referente a saúde?
2- Sim... com a secretaria de saúde por ser nosso órgão, a gente tem uma abertura e uma parte... de abertura e temos também
todo um respaldo da direção do hospital, porque a direção sempre viu com bons olhos... na verdade assim, a gente foi meio
que desbravando, porque a gente ta inserida na área da saúde, nós somos educadores na área da saúde, dentro de um
hospital.. que dize... (incompreensível) tu vem pra cuida de uma questão que ta ali... de doença propriamente dita né, então
assim... a gente tenta, antes assim, até colocava assim, vamos quebrar um pouco esse estigma de que hospital é um lugar
ruim, mas a gente viu o quanto tá sendo difícil... é um complicador, então... aquela... o paciente num primeiro momento, ele
esta aqui pra se tratar, mas isso não impede de que ele paralelamente seja atendido nas suas outras... né...
1- Necessidades...
2- Necessidades... seja por brincar, seja na parte da escola, seja na parte psicológica, seja em outras áreas assim, então
assim... a direção sempre viu isso como... um facilitador durante o processo, é claro que a gente teve vários dificuldade
normais de uma implantação, quando a gente foi fazer toda essa parte de implementar mesmo o trabalho aqui, algumas coisas
119
sim... com a GERED eu passei a ter um contato maior quando eu assumi a chefia o ano passado... né... e o ano passado a
gente trouxe a GERED por algumas... eu bato na questão assim, que se tem essa parceria, que sejamos parceiros mesmos...
temos que ta sentando, vendo que ta dando certo... que não ta... o que da pra modificar... e ano passado a GERED veio e por
várias questões, se fez presente, gostaria que tivesse sido bem mais, esse ano em razão acho que de todas essas mudanças
que a GERED ta passando internamente, eu falo com eles mais por contato telefônico, né.
1- Certo. Então esse contato com a GERED é mais voltado só pro programa?
2- Mais administrativo....
1- E voltado tu achas...
2- E da classe hospitalar.
1- Ah ta, e os outros programas não?
2- Não, a fundação a gente tem um convenio, mas é um convenio que flui normalmente... o profissional é único e bem
inserido e os demais aqui dentro só fazem parte do... da... são funcionários do hospital mesmo né... e o nosso setor faz parte
do fluxograma do hospital... então, qualquer necessidade me dirijo a direção e quanto a isso, sem problema.
1- JÚLIA, quais são as tuas características pessoais que contribuem pro teu trabalho aqui, a gente ta num contexto tão
diferente do contexto da escola regular...
2- É... pessoais... que quando a gente fala do profissional tu consegue mais ou menos lincar... pessoais... (pensando) é... eu
acho que é difícil responder assim, porque eu sempre penso assim... mesmo tando esses anos todos aqui no hospital e eu
ainda me emociono com muita coisa, eu acho assim, a partir do momento que eu não sentir mais nada... deu, a tua missão ta
cumprida, vai pra outro lugar porque aqui eu acho que já foi feito o que podia, né... e eu não... não que eu agradeça assim,
mas que bom que eu ainda consiga... me emocionar porque eu sei que eu tenho muito ainda pra fazer e aprender... então eu
acho que toda essa parte que a gente viu que é muito presente essa questão né... da afetividade, do vinculo e principalmente
essa coisa de ta... envolvida ali, que as vezes a gente não sabe se é o correto ou não.. mais eu... pra mim eu acho impossível
me dando pra esse paciente, ta... é... escutando esse paciente, ta fazendo todo esse... enquanto ele ta aqui internado, ta
cuidando, eu acho que a questão do cuidar, que a gente traz da nossa educação, né.. assim dessa parte de sentimento, de ta
fazendo as coisa, né... e principalmente ver sempre com a questão assim né... eu vou aprender... a gente erra... a gente
chora... a gente... a gente trabalha, como a gente sempre coloca assim... uma coisa que ainda a gente nunca ta preparado que
é o óbito, então tem toda uma parte de conhecimento, mas o que eu trago pessoal é a educação que eu tive né... de sempre
que o outro também tem muito pra dar e que a gente... e eu vejo... que a gente não ta aqui por acaso... eu acho que as vezes a
gente é meio que escolhido... não sei por quem... né... pro nosso grande amigo de cima... pra nos estarmos aqui... que às
vezes tem muitas pessoas que passaram e... Meu Deus, como é que vocês trabalham aqui? Não sei, a gente tem que
trabalhar eu acho, tínhamos que ser nos aqui, tinha que ser essas pessoas.
1- Recentemente eu li que... trabalhar no hospital é... o primeiro contato... no hospital é que define... ou ama ou rejeita.
2- É.
1- (incompreensível)
2- (incompreensível) Eu não saberia te dizer porque que eu tinha... sabe... sempre uma coisa... não era uma afinidade, não
é... quando tu faz tua formação acadêmica... e é que eu quero trabalhar... principalmente na área da saúde... e eu não sou
da área da saúde, e até então eu não tinha nenhum conhecimento de que tinha essa questão do pedagogo inserido no
ambiente hospitalar, desconhecia... mas assim tinha um atrativo por aquilo ali, não sei por que... talvez se eu fosse resgatar
algumas coisas... e quando as coisas foram assim, encaminhando pra que eu estivesse aqui dentro, então eu acho que
assim... a formação, a educação com as pessoas que tu traz de dentro pra cá... depois tem teus filhos, tem tua família e isso
tudo, faz com que tu esteja aqui e faz com que a coisa de certo assim, né... às vezes sofrido?... é sofrido... é desgastante?... é
desgastante... a gente trabalha numa área muito fragilizada e ainda mais sendo no hospital pediátrico, não sei... nunca
trabalhei num hospital de adulto, de idosos... então eu acho que era voltado... especificamente, né... quando eu decidi faze
pedagogia era aquela coisa de ser professor né, tinha intenção, era uma coisa que eu já fazia, que eu gostava... mas depois tu
vai descobrindo outras coisas... Então assim, da questão pessoal... eu acho que... é a edu...(não concluiu) é a formação e ta
buscando... acho que é uma realização assim, sabe... mas se tu me pergunta o por que exatamente eu não saberia te dizer...
acho que to procurando a resposta... o dia que eu achar...
(risos)
1- Falando assim sobre essa questão da formação acadêmica né, tu... essa tua formação, tua pós-graduação, tu considera que
ela contribuiu pra tua formação aqui no hospital?
120
2- Ah, eu acho que sim... às vezes até assim... é... é claro que a gente vai com tempo... é outras coisas vão surgir... eu acho
que é comum do ser humano assim... quando tu sai da universidade... eu vejo hoje com os jovens que...
(interferência)
2- o que eu acho é, às vezes eu fico pensando assim... hoje se começa tudo assim, muito precocemente... não sei o quanto
isso é válido, tem as suas questões positivas, como tem, né... hoje as pessoas se formam, já vão fazer logo uma pos,depois o
mestrado, tudo uma questão de aquisição de conhecimento de formação, até pensando mesmo na questão pessoal, mas
também no profissional, na questão de trabalhão... que dize.. já me formei a bastante tempo... quando agente se formava... me
formei em 86... era uma outra época, tinha outros valores, a gente vinha com outros princípios.. até então o tinha a questão
da pedagogia hospitalar... era mais o profe...(não concluiu) o pedagogo era visto como o professor em sala de aula... fazia
pedagogia e ia pra sala de aula... então é claro... as coisas vão evoluindo e hoje a gente quanto a pedagogia pode estar
inserida em varias áreas... e eu acho que um tempo, eu não colocaria como uma acomodação, mas eu acho que faz parte de
um processo... tanto é que eu fui fazer minha pós, muito depois, quando eu vi a necessidade e eu quis conciliar, porque eu
trabalhava com educação infantil na prefeitura e eu vi que faltava também né... e é assim... a questão da psicopedagogia a
gente sempre conversou muito aqui, a gente tem... é... a vivencia aqui dentro de uma prática muito é... em termos de
psicopedagogia é muito presente... na verdade a gente se... não digo você que se formou... mas a gente fez todo um trabalho
psicopedagógico de antes da necessidade... mesmo sem saber... a gente buscava em livros, em conversa, em estudos ai, né...
tivemos um amiga que fez a psicopedagogia ela foi nos repassando, fazendo sempre leituras... então a gente pela necessidade
surgida, a gente viu que era necessário cada vez tá se capacitando, mas ai tu parte... que eu vejo assim... eu devia te feito isso
antes, mas naquele momento eu... o era pra fazer... eu vejo assim... não quero me culpar por não ter feito e hoje né, eu fui
buscando e to sempre ne... tentando me aprimorar... principalmente pelas necessidades que a gente que cada vez são
maiores.
1- Tu consegue relembrar alguma disciplina que tenha tratado sobre isso, tenha...?
2- Ah... na especialização sim, eu tive né... em termos, mesmo sendo educação infantil e nas series iniciais, a questão de
desenvolvimento, era... atuação do professor que caracterizava muito essa questão do professor ainda né, com crianças
especiais, porque eles faziam né, mas especial naquele sentido de atraso de desenvolvimento... mas que tu... digamos... que
tu resgata algumas coisas pro teu atendimento aqui, então assim, tem que faze sempre essa relação com algumas coisas que
em determinados ou cadeiras da universidade ou alguma coisa de curso, pro nosso atendimento no hospital e depois tem
praticas metodológicas, tem a parte... principalmente que eu coordenava recreação, coordeno... então tem toda a parte de arte,
arte terapia, de oficinas de recreação e que isso tu traz pro nosso dia a dia aqui dentro e na psicopedagogia... é... quando eu
vou fazendo né, todos os módulos, né... com a Alicia... então a gente diz assim, que muita coisa... meu Deus... eu já vivi,
vivencia essa situação lá dentro do hospital, né e daí tu consegue daí da um desfecho...
1- Junta a prática com a teoria.
2- Justamente, assim... não tem... e que assim, eu sinto não ter feito antes... mas eu vejo, como eu já falei, que as coisas
acontecem, que aquele era o momento...
1- Fazia mais sentido...
2- É... daí eu sempre incentivo as pessoas à fazer, mas claro dtu tem que ver teu tempo, tua necessidade, a questão
financeira, família... que eu acho também assim... que... pela idade que a gente vai tendo... hoje... eu... esse... eu priorizei
também a qualidade de vida, financeiramente eu perdi, mas eu precisava naquele momento isso, né... hoje eu precisava ta
mais com meus filhos, eu precisa estar mais lendo e estudando, né e me capacitando...
1- Certo
2- E se eu tivesse dois vínculos empregatícios eu não conseguiria fazer isso... uma coisa é fazer bem feito, com certeza e eu
tive que fazer, é priorizar algumas coisas na minha vida.
1- Então essa formação tu ta fazendo com a Alicia e mais algum outro curso pro aprimoramento?
2- É a gente faz e quando a em termos, que vai aparecendo, seja no município ou no estado quando tem curso de
formação, em termos de... da parte da educação mesmo, né, voltados pra educação.
1- E esse ano tu já fez algum?
2- Nós fizemos mais voltado pro publico do hospital que era daí da... era... do servidor no atendimento é... práticas... agora eu
não me recordo bem... nós fizemos dois cursos no hospital pra trabalhar dentro do atendimento em termos de humanização
hospitalar, que dé uma pratica de atendimento e a outra foi na semana do servidor que foi... teve uma parte de questão de
fisioterapia, que daí era toda uma parte postural e... enquanto a questão da ginástica elabora, que também é super importante
e coisas que a gente... não me recordo o nome especificamente...
121
1- Não tem problema, eu pego contigo depois. Este curso, ele foi oferecido pelo hospital?
2- Pelo hospital, os dois pelo hospital.
1- Tu lê, faz alguma leitura sobre o trabalho do pedagogo no hospital?
2- Bastante, aporque assim... da necessidade... primeiro pela necessidade pessoal depois pela necessidade profissional e
pelo cargo que eu to assumindo que é o de chefia, que eu acho imprescindível, até porque a gente ta sempre né... sendo
requisitada... ou alguém querendo saber ou tendo que responder e-mails, ou ta ajudando... tudo assim e a gente mui...(não
concluiu) eu vejo, vejo não... eu leio muita coisa assim que eu relaciono com a nossa prática... é algumas coisas parecidas e
outras, que eu disse, meus Deus, são... nós estamos no mesmo assim... situadas no mesmo estado, mas com práticas
totalmente diferentes... ou se a gente tivesse esse contato, né... então eu acho assim, adoro lê mas... é... tive que deixar um
pouco a leitura, viver sem como a gente fala leitura de livros, né... de romances, alguma coisa assim... de lado, pra fazer a
parte mais técnica pela necessidade e via internet ou leituras, né... ou trocas, estar sempre conversando com os amigos e na
prefeitura eu consegui manter um grupo, que a gente tinha, que era um grupo de estudo, que era muito interessante... então eu
trabalhava com umas coisas mais voltada para a educão mesmo, né... em termos da educação infantil ou... e eu sempre
trazia pras meninas aqui, a gente sempre tem nas quintas-feiras aqui... minto... a terceira quinta-feira do mês que é o nosso
grupo de estudo né, que é uma coisa que daí... que eu fiz... né, como chefia eu quis manter, que eu acho super essencial...
então nesse dia se tenta... ou traz um texto, ou traz algum outro profissional pra ta mostrando, pra conversa, então eu acho
que tudo isso né... dá abertura pra n coisas... ta sempre incentivando... a gente também é...
1- Tu gostaria de citar algumas das tuas preferências da leitura, tipo, alguém que escreve sobre o...?
2- Eu li bastante agora da Alicia né, que a gente diretamente ta lendo os livros da (incompreensível) e dela né... depois... dela
né... e... eu li um dos últimos, eu vi... da Emília Ferreiro, que é uma educadora, depois... foi um outro que eu agora... e ai
vários textos que eu vejo na internet, ou então que alguém traz... mas no momento o que tenho visto quase que direto né... a
gente fez contato, não... eu recebi um contato de uma universidade do Rio Grande do Sul eu não sei acho que é Novo
Hamburgo pra ser mais exato ou Caxias do Sul... uma das duas e ai a gente troca sempre e-mails, é uma professora que ela ta
começando todo esse atendimento pedagógico no hospital e ela tem intenção de conhecer, então acho que essas trocas são
bem interessantes assim, né...
1- E tu já visitasse outras classes aqui do estado, conhece?
2- Não, do estado não, não conheço... até porque sim, eu trabalho aqui a muito tempo, mas era... como eu assumi a chefia o
ano passado ai fiquei mais próximo dos programas, que até então cada um tinha o seu programa, tocava era uma outra chefia
que fazia o resgate entre os programas, então assim, o fato de eu estar na chefia, eu tenho que tar envolvida... não...
envolvida... assim, com todos os programas, cada um tem a sua prática, mas eu tenho que ficar envolvida pelo menos pra
poder uma noção do que esta acontecendo.
1- Tu tem contato com pedagogas que trabalham num ambiente hospitalar, fora essa pessoa de Novo Hamburgo e as pessoas
trabalham aqui no HIJG?
2- Tem algumas pessoas que eu conheço que trabalham, que são pedagogas formadas que trabalham em outros hospitais,
né... e também tem pedagogas que trabalham em outras áreas, que eu acho fantástico também, agora teve uma abertura... há
dois anos atrás, a questão da pedagogia empresarial, que eu achei fabuloso, pedagogas inserida numa... em termos de
empresas justamente e voltadas pra questão não só de recursos humanos, mas toda essa parte de formação e captação...
então eu acho que essa troca, eu acho que é fundamental assim né... a questão do pedagogo hospitalar e eu ainda vejo
poucas unidades do pedagogo como profissional inserido, a gente muitos assim... hospitais que tem... o é voluntário ou é a
secretaria de educação que dispôs pra um atendimento, mas assim, os contatos que eu tenho, seria que... o bom, que todos os
hospitais pediátricos tivessem um profissional e ainda, acho que tem muito desconhecimento nessa parte da necessidade do
pedagogo e a gente vê muito isso aqui mesmo, né... é uma coisa bem real pra gente assim.
1- Eu queria falar um pouquinho sobre as áreas assim, que contribuem no trabalho do pedagogo no hospital, então eu queria
ver contigo assim, tu tens algum interesse em alguma área mais especifica, é... psicologia, o lúdico ou alguma dessas áreas
que tu acha que é essencial pra que haja...? (incompreensível)
2- Como a gente ta num hospital pediátrico, eu acho que apartir que criança ou o adolescente interna, o médico responsável, a
equipe de enfermagem que ela tem que... que a gente sempre... não vou dizer sempre, que a gente gostaria que fosse, é que
esse medico vise esta criança além da questão clínica, né... que visse as necessidades como eu já falei, assim... então a gente
tem algumas, alguns médicos... e médicas né, que a gente hoje já tem essa abertura, né... de estar fazendo parte da visita
medica, de estar fazendo parte de todo o processo de internação daquele paciente, é claro que pelo fato de estar inserida
numa equipe de atendimento numa equipe multidisciplinar, ali é onde eu encontro um respaldo em termos de prática, digamos
122
assim, mais fundamentado, que se viu a necessidade de ter um pedagogo naquela equipe, a partir da necessidade, dos
médicos que são herbiátras, que trabalham com adolescentes, que fazem essa formação dessa equipe, mas... é... eu acho
que que essa parte do educador aqui dentro, é que tinha que estar presente em todas as unidades, não está porque falta
profissional, então tem algumas... clínicas vamos dizer assim... que são mais imprescindíveis, a neurologia, a genética, a fono,
a fisio, né... e outros médicos assim, o cardio, a cardiologia né, tem toda a parte de desnutrição e metabolismo, é... algumas
unidades, digamos assim... o cirurgião a gente não vai poder ta atuando junto né, mas posteriormente a cirurgia sim...
1- Mais assim, na questão do conhecimento do pedagogo atuar né, então assim... toda essa questão da saúde, dessas áreas,
da saúde... tu considera importante? Além da área da saúde, dessas é áreas especificas, né?
2- Acho, como eu falei tem a fisio, a fono... mas tem algumas clínicas aqui dentro que a gente trabalha quase conjunto mesmo,
essas que eu citei, outras se vê uma necessidade posterior...
1- Então, refazendo a pergunta... tu acha imprescindível pro pedagogo que atua no hospital, conhecer essas áreas,
conhecer...?
2- Pra conhece é... digamos assim né, claro, eles vem com uma formação médica pra aquele atendimento, mas que a gente
tenha... não digo... pra ter noção... que a gente não... nós somos de uma outra área, mas a gente tem pelo menos... estar apto
e atento praquela questão ali, em termos... de um atendimento neurológico, o quanto o pedagogo pode contribuir praquilo ali,
né... as vezes num segundo momento, né... então tem áreas que eu acho que o pedagogo é essencial, que seria a neurologia,
da genética, a parte da tarde e tem outras áreas e um segundo espaço que torna mais...
1- Outra pergunta que eu te faço é sobre o currículo de pedagogia, né... então queria saber de ti, se teria... qual a disciplina
que tu consideraria fundamental pro currículo de pedagogia, pra formar estes pedagogos que vão atuar no ambiente
hospitalar?
2- Não é que seja difícil assim... vou ver uma grade hoje, né... de um curso de pedagogia, houve muito alteração já, né... em
termos de metodologias, praticas metodológicas, de outras cadeiras... dependendo... do que seja, em termos de... pedagogia e
orientação, pedagogia séries iniciais... é o que a gente fala num contexto, eu acho que todo o profissional, ele somente...
claro eu vou voltar pra área de educação, do educador enquanto... atendendo numa area de saúde... que tivesse não sei se...
não saberia saber se seria uma disciplina, talvez sim... eu sempre coloco assim que é a questão da humanização, sabe... que
eu acho que ali desencadearia muita coisa... é porque se tu vais... fazer esta formação de um pedagogo hospitalar... se falaria
em termos né... poderia... ir pra área da questão de desenvolvimento de dificuldade de aprendizagem... pras questões do
adolescente, fases do desenvolvimento, mais assim ó... isso tu te capacita, mas tem essa cadeira da humanização que é parte
justamente, assim de como... a postura, o como trabalhar em termos de formação mesmo... de estar atendendo aquela... seja
o paciente né, a criança o adolescente, enquanto enfermo sabe, essa parte de humanização, de justamente de manejo como
pessoas justamente, sabe, a parte da afetividade, a parte de sentimento... que eu acho que isso é super importante assim,
porque eu acho que em termos de cadeiras a pedagogia já tem... faz uma formação extremamente válida assim, mas pra
trabalhar na área de hospital... eu fico as vezes preocupada, assim ah vamos botar né, a gente conversa as vezes com a
universidade... algumas acho que era... que teve... desenvolvimento não sei se hoje tem na... na parte de... de séries
iniciais, que trazia algumas abordagens em termos de atendimento da criança com dificuldade, da criança com baixo peso,
quais são as necessidades da criança que tu muito aqui no hospital, eu acho que introduzir algumas coisas... porque na
verdade aqui pra nós esta muito novo, o que que é pedagogo hospitalar, que tipo de formação que o pedagogo tem que ter se
a gente vai fazer uma formação junto com a área da saúde, intrínseco com a educação, a educação faz a formação do
educador, mas como é que eu vou saber de uma doença, se torna um complicador... porque é muito vasta... qualquer doença
que venha, mas que a gente sempre tenha essa questão de ser assim, de ser humilde, né... que nós somos educadores, nós
tamos ali pra fazer o nosso papel de educador na área de saúde, a nossa função é de pedagogo, é interagindo dentro de um
hospital, né... mas nós não podemos perder este foco, né... porque vai ter um papel do assistente social, vai ter o papel do
psicólogo, vai ter o papel do médico e o nosso papel é o pedagogo, né.
1- Queria te perguntar também, pra que tu pensasse um pouquinho sobre a importância do teu trabalho aqui, por que que é
importante uma pedagoga no hospital?
2- Eu acho que eu ficaria um dia inteiro aqui falando... eu sou suspeita mas eu acho extremamente importante porque a gente
sempre... tenta a criança como a gente... assim, além do diagnóstico clinico dela, né... a gente usa um chao muito
conhecido, criança não deixa de ser criança, ela tem a essência dela e ela tem as necessidades dela de criança, como o
adolescente tem a necessidades do adolescente, é claro que quando ele esta internado, ele ta fragilizado, a família ta muito
fragilizada, ele sabe... ele esta de casa, longe dos amigos, da escola, dos brinquedos, então a gente precisa amenizar um
pouco essa situação, de que forma? Com os nossos programas, seja de classe hospitalar, de recreação, de dificuldade... então
123
eu acho que o pedagogo tem uma fuão assim... maravilhosa assim, sabe... não perdendo o foco dele de educador, que é
aquele o papel dele ali, de um educador... ele vai estar mediando toda uma situação enquanto internado, voltada pra parte
justamente, de educação, voltada pra parte de crescimento daquela criança, não de evolução, mas de aquisição enquanto
internado, que ele saia aqui do hospital, ai a gente volta um pouquinho ao que a gente disse, o estigma, que o hospital é só
coisa ruim, não... a gente quer que ele saia daqui, levando pra cidade dele de origem, coisas boas também, que ele fez o
tratamento dele, pra aquela necessidade dele enquanto paciente, mas que ele teve o convívio com uma professora... que ele
teve, um bom dia com a recreação, né... que ele foi atendido pela estimulação, que aquela mãe, ficou tão satisfeita com aquele
atendimento e que ela volte pra cidade dela, como se aquele tempo não tivesse parado, né... que a internação muda muita
coisa, ela se afasta de muita coisa e quando ele volte pra casa dele as coisas continuem... sem muito sofrimento, que é
difícil, né... então o pedagogo tem essa função assim de mediar muita coisa... de ser um mediador, né... seja na parte prática,
seja na parte de sentimentos, na parte da escuta... tudo isso que ele vai estar fazendo como educador, né... a nossa recreação
como eu digo, ela tem a parte lúdica, mas ela tem a parte terapêutica, que aquela criança enquanto tiver ali brincando, ela vai
adquirir um conhecimento e ela vai ser repassadora daquele jogo, daquela brincadeira, a gente tem crianças do estado inteiro,
então tu bota num grupo essas crianças, olha a cultura... a quantidade de informação que vem ali e quem que vai fazer esse
meio entre eles? A professora, a recreadora... e é essa a nossa função aqui sabe, de tentar ser... eu não sei ser um suporte ou
estarmos juntos nesse processo, mas eu acho assim... é fundamental e o nosso... nos temos a secretariada saúde consegue e
principalmente a direção do hospital, visualizar essa questão de que a criança não é só aquela parte clínica, ela tem toda uma
questão além daquilo ali e que a gente que fala e a gente ta meio que brigando com muita coisa porque...
1- To quase finalizando, só tem mais umas duas... a gente pode...
2- To rápido, to bem?
1- Ta ótimo, eu só queria que tu comentasse um pouquinho... como é que tu a questão da responsabilidade da classe
hospitalar pela orientação e acompanhamento de todas as outras classes do estado.
2- Como?
1- Como tu a questão da... porque existe uma lei, colocando a classe do HIJG como responsável pelo acompanhamento,
desenvolvimento das outras classes...
2- Isso eu lembro quando a gente leu isso, na época eu não tava lá na chefia nós ficamos até, né meio que surpresos assim,
a origem da classe hospitalar, foi no hospital Joana de Gusmão, com uma parceria com a secretaria da educação... se tu for
ver a lei, é como se todo... digamos assim... termos de capacitação desses profissionais fossem trabalhar nas demais classes e
toda a base de assessoria ou de cursos ou que fosse de responsabilidade da classe do hospital infantil e não é... na verdade
assim, digamos assim... bem por trás disso tudo, tem uma secretaria... na verdade duas secretarias... secretaria de saúde e
secretaria de educação... como eu já citei, a secretaria de saúde ela entra com o espaço físico e a clientela, a secretaria de
educação entra com o profissional. Originou-se aqui... porque todo o projeto foi feito pelo hospital infantil em razão, né... nós
tínhamos esse paciente e a necessidade surgiu aqui, mas essa parte de acompanhamento das demais classes, não é feita
pela classe do hospital infantil Joana de Gusmão... pode até ser feita em termos... digamos assim... de amizade dos
professores aqui... dos professores aqui conversar mas em termos da nossa classe ser responsável pelas demais, não... a
responsabilidade é da secretaria de educação do estado e em razão da como eles falaram... que não é... descentralização, é
Gerencia de educação a GERED - Gerencia Regional de Educação, que d é responsável assim pelas demais classes...
porque é que quando tu lê o documento, a impressão que te da é que o hospital infantil... de forma nenhuma, nós não teríamos
nem como... se a gente fosse... porque os profissionais que nós temos são da secretaria tanto é que foi uma das questões
justamente, que a coordenação fosse da secretaria, porque essa parte de formação era tudo deles, nós tínhamos o espaço,
porque se a gente for o convenio... o hospital entra... com a forma...(não concluiu) o espaço físico né, tanto é que hoje
depois a gente pode, tanto com a Tânia, pode mostra já tá sendo construído novo espaço educativo, porque as salas atuais,
elas foram digamos assim, era o espaço que o hospital dispunha, então foi meio que arranjado né, pela coisa pode funciona e
a preocupação que se teve não... tem que ter uma sala adequada para te esse atendimento, então sendo construído um
espaço aqui dentro do hospital, que é na nossa área de sol, um novo espaço educativo vai comporta uma sala de a 4ª. Uma
sala de a eu sempre falo... de 1ª. uma sala de 5ª a 9ª, a sala de estimulação essencial, uma brinquedoteca e uma
biblioteca.
1- Ah ta, e o ambulatório de dificuldade de aprendizagem?
2- Continua no mesmo local, porque as crianças que são atendidas pelo ambulatório, não é que não possam subir para as
unidades, evita-se um pouco...
1- (incompreensível)
124
2- Mas como a estimulação é essencial, ela faz os dois atendimento, então se priorizou, então assim, quando tu lê o
documento a impressão assim... como é que nós poderíamos estar fazendo uma assessoria ou um... ta fazendo toda essa
parte de administrativo que fosse, de uma classe... que fosse num outro local... que a gente nem tem conhecimento assim, da
própria estrutura funcional... que é diferente, cada classe tem a sua funcionalidade de acordo com as necessidades daquele
município.
1- Queria te perguntar também sobre a normativa, né... como tu viu todas essas mudanças que já tinha... que já citasse a
pouco... que foi... (incompreensível) como tu viu essa normativa...?
2- Ai Fabiana, assim o... eu entrei na gerencia o ano passado em janeiro do ano passado com o doutor Maurício que me
convidou, até então nos tínhamos uma outra chefia, que era era chefia do setor e ela coordenava classe hospitalar... então ela
tava muito mais envolvida com essa situação toda da classe... tanto é que quando eu assumi a chefia assim, eu não tive
informação nenhuma. Então eu fui me envolvendo com toda essa situação, as meninas estavam de férias, foi em janeiro... e no
retorno que a gente foi vendo algumas... claro, a gente já sabia algumas de questões da qual, porque a gente ta aqui dentro,
vivencia e tenta sabe alguma coisa que ta acontecendo, é claro... mas a partir do momento que eu assumi a chefia ai tu tem
uma responsabilidade maior e eu fiz... (incompreensível) ai é muito difícil essa parte da GERED tudo e ai a gente vê com a
GERED... como eu falei né, somos parceiros, vamos ser parceiros em todos os momentos, o em momentos só, que ta tudo
dando certo. E houve modificações sim... a gente viu a questão do ambulatório da oncologia... que foi uma necessidade...
é... foi uma determinação do hospital, se viu a necessidade daquela criança enquanto... do ambulatório, que que era... não vo
dize o melhor, de acordo com a necessidade, ou daquela fragilidade, que foi a recreação... chamou-se a GERED aqui... até pra
ta colocando que haveria mudanças.. depois teve outras situações, administrativas internas, que não vem ao caso... e ai em
setembro.. que dize na verdade... eu fiquei sabendo da normativa e a gente trouxe o GERED aqui pra mais duas reuniões eu
acho... porque partiu-se justamente, assim... eu conversando com a direção do hospital que a secretaria tinha que ta aqui
dentro... e eles sempre disseram, não... mensalmente nós vamos estar aqui, semanalmente e as coisa né... não... a gente viu
que não ocorria assim e eu sempre falava pra elas... vamo da um voto de confiança né.. ah mas... sempre a gente trabalhou
sem a presença da GERED, elas já conheciam muito bem essa situação, eu como era nova na questão da chefia, ne... ao fato
de ta conversando com a GERED, pra mim tudo era muito novidade, aas próprias pessoas eu não conhecia...
1- Certo.
2- Eu comecei a conhecer ano passado, fiz contato com elas, conversei com o Honorato, conversei com a Simone, fui
conhecendo as pessoas que eram responsáveis pela classe... e ai, no ano passado fizemos uma reunião em outubro, eu me
lembro bem assim e ai... em dezembro elas voltariam pra uma ultima reunião, né... pra gente vê o que que a gente poderia
fazendo pro outro ano, aquelas coisas assim, ai não vieram pra reunião, desmarcaram, da Tânia, acho que foi a Tânia,
professora Tânia... eu não lembro na época, falou da normativa, que tava vindo uma normativa... que elas já tinham
conhecimento desde setembro, eu é que não tinha conhecimento, acho que eu setembro... devo ter conhecido isso em
novembro... suponhamos assim.. e ai... tem todo essa questão depende né, de acordo do numero de crianças atendidas... ou
se é questão de... primeiro é questão de se passar o programa de classe hospitalar que era atrelado antes de uma gerencia de
ensino fundamental passou pra gerencia de educação especial e depois principalmente na diminuição de professores... o que
que a gente coloca.. a gente no hospital referência no estado, a nossa demanda é muito alta... a rotatividade, mais, é....
enorme assim né... e tem todas essas clínicas concentradas aqui neste hospital e é claro assim né... conversando depois
assim... depois até com a professora Tânia, se realmente assim elas sabiam dessa diminuição, porque eu tinha passado essa
informação pra direção, mas eu não sabia ao certo ate que ponto que elas sabiam também, né... “Não a gente sabia que tinha
diminuição de professores.‖ pois é... as coisas são feitas sem uma consulta geral, porque podia ter (incompreensível) o
hospital tem tanto atendimento... vai sofrer uma diminuição de professores drástica (ênfase), que era um... quatro efetivas e
duas contratadas ACT por período temporário né, que dize... num montante de seis, foi pra três e na verdade hoje temos duas.
1- E todo esse aspecto assim, dessa normativa... e também daquela lei e tudo mais, tu te sente segura, tu te sente amparada
por um profissional nessa tua função aqui no hospital... como é que tu vê essa questão das políticas?
2- Não é o ideal como a gente gostaria, é claro que não é o número ideal de profissionais como poderia... porque o número de
profissionais te dá uma qualidade de trabalho, em termos digamos assim... a quantidade pode trazer qualidade... ou não... eu
sei que os profissionais que hoje estão na classe... as 2 professoras, são dois profissionais que são assim.. digamos assim..
maravilhosos, em termos de pratica profissional... então, eu não posso fica no meu papel de chefia, se fosse no meu papel de
educadora era diferente, eu sei que o ideal... é como eu digo, eu gostaria que cada unidade tivesse um pedagogo.. que tive um
num de recreadores muito maior, que tivesse mais profissionais pra todos os programas, mas eu tenho que trabalhar com o
real, eu tenho que dar aquele atendimento com o real, então que que eu proponho sempre pra elas... é esse o numero que nos
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temos, vamos fazer acreditar, não podemos perder toda uma constrão que a gente teve, é claro que muitas coisas vão ter
que ser readequadas... porque com numero x de profissionais, tu tinha as unidades... era atendidas no leito, enquanto tinha
professor aqui, né... hoje nos não temos isso, então vamos... sentar... vamos ver o que que nos vamos trabalhar com esse
numero de profissionais, né... no inicio...
1- Então a questão dessa política... pro... pra atuação do pedagogo no hospital, ela não tem contribuído muito... é isso?
2- Eu acho que não é questão de contribuição assim, eu acho que as coisa... eu acho que a palavra política é muito ampla
1- É
2- São feitos, são determinadas ações,que na verdade assim... o foco... o contexto onde ta acontecendo, que seria a primeira
coisa a ser... não digo ser perguntado.... visto... não... na verdade, elas são feitas aleatórias e tem que ser cumpridas, ... nós
somos profissionais da área da sde e eu sou, digamos assim... empregado aqui, eu tenho um hierarquia a cumprir, se eu
pudesse... a coisa seria diferente, mas na verdade... eu sou um profissional do estado, ao qual eu devo... tem todo essa
questão... algumas coisas nos temos que cumprir que faz parte tudo de um hall do funcionalismo publico... o bom seria se a
gente fosse perguntado antes, que que vocês acham? Ai seria diferente... então assim o... eu gostaria muito que fosse
diferente, que as coisas não corressem assim, não fossem dessa forma, mas a gente sabe que as coisa não são assim num
contexto geral, então hoje o que eu po pras meninas q tão no nosso grupo da pedagogia, é com isso que nos temos, é com
isso que nós vamos fazer acontecer... é claro q a gente sente muito, principalmente que era do programa de classe hospitalar,
que foi onde teve a perda... porque antes de mais nada, tem a questão profissional, mas tem o vínculo pessoal... tu faz todo...
trabalharam juntos muitos anos, então isso tudo precisa ser reelaborado... aem partes.. afetivas, na parte funcional... isso
leva um tempo... é obvio... eu não poderia chegar aqui e exigir delas, vamos faze e ponto... não... tem todo um tempo, só que
eu não posso deixar de atender, eu não posso porque assim... ó... não é...
1- O trabalho tem que acontecer né?
2- Tem que acontecer... é triste... é dolo...(não concluiu) mas vamos fazer acontecer gente... porque a gente vai... e eu acho
que... e é isso que eu digo sempre... a gente não ta aqui não é por acaso, se no momento tá assim... vamo fazer acontecer...
sabe... a gente não pode... como eu digo assim... a quantidade vai mexer na qualidade... não... a gente pode fazer uma
qualidade com essa quantidade... porque nos somos profissionais... vai ser difícil? vai difícil... mas vamos fazer acontecer,
porque há uma necessidade... aquele paciente precisa e é ali que nos vamos agir... então assim... a gente sente? sente, mas
eu não vou entrar por aquela demagogia... a vamos vestir a camisa... a gente é profissional e a gente sabe que tem uma
questão a cumprir... e eu acho que a gente vai... as coisas vão e voltam assim.. então acho que.. com esse grupo que eu tenho
hoje... é esse grupo da pedagogia do Hospital Infantil Joana de Gusmão... esses pedagogos que fazem o trabalho da... né... do
setor de pedagogia hospitalar do hospital...
126
Transcrição Entrevista 03 Pedagoga: ISABEL Hospital: H2
Data: 21/05/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- Bem, qual é a tua formação?
2- Pedagogia, orientação educacional.
1- E isso é a tua habilitação.
2- Habilitação.
1- Qual foi o local dessa tua habilitação?
2- Chapecó, na antiga Fundest, onde é hoje a Unoeste.
1- Tens alguma... é... pós-graduação?
2- Não, não tenho pós.
1- A data da tua formação?
2- 1987.
1- Qual era mesmo a instituição?
2- Fundest, do sistema Acafe.
1- Onde que tu trabalhava antes?
2- Eu iniciei no jardim de infância, na minha cidade em Pinhalzinho... logo no ano seguinte em 85 eu passei no concurso
(incompreensível) de educação no estado, me efetivei numa escola multiseriada no interior em Modelo, que é um município
vizinho... fiquei quatro meses... consegui com um político na época vir pra cidade como auxiliar de diretor, que é um cargo que
existia e em 87 iniciei na APAE, daí fiquei 14 anos na APAE e em 2001 eu vim pra classe hospitalar.
1- Então... quanto tempo que tu já esta no magistério?
2- 25 anos já... 25 anos de magistério.
1- Conta um pouquinho como é que tu chegou aqui no hospital?
2- Bom, antes de entrar no hospital eu tava na APAE aqui em Florianópolis... e eu trabalhei 8 anos na APAE com os
professores da educação infantil, eu coordenava a educação infantil e me sentia muito angustiada pelo desempenho dessas
professoras, sabe.... todo mês nós tínhamos reunião pedagógica... eu trazia sempre novidades, que a minha preocupação que
que era... não é porque a criança da APAE chega em casa e não conta.... que são raras que tem linguagem oral né... verbal...
então não é porque ela não conta como foi a escola, que pode ser qualquer coisa, qualquer tipo de atendimento e isso
acontecia muito... sabe, aquela criança cadeirante, né... que fica lá uma às vezes uma manhã sentada numa cadeira, com
pouca estimulação... então minha preocupação era essa, tem que ter qualidade, tem que pensar na criança... tem que ter
planejamento... então isso me angustiava muito né... me angustiava porque tudo que eu propunha... a isso nunca deu certo...
isso já tentamo não deu... então eu não tava mais assim... vou ter que por a mão na massa... aí em 2000, peguei a licea
prêmio de setembro a dezembro, pra repensar um pouquinho, se era isso que eu queria continuar ou não... se eu voltava pra
sala de aula né... e nesse tempo de licença um dia eu voltei na APAE e tinha um folhetinho, um folder da classe hospitalar no
balcão da APAE... ai eu vi aquilo, vo me informar como que é isso... eu liguei pra SED primeiro... falei com a Ana Luzia e ela
me encaminhou pra cá.... (incompreensível) Tânia já coordenava e quando eu cheguei na APAE em 91 a Maristela que era
minha coordenadora.... então a gente já se conhecia.
1- Nossa que coincidência!
2- Só que eu não sabia que ela estava aqui... vim aqui, agendei vim conhecer o trabalho e naquele ano 2000 ia ter uma
seleção pra professor... (incompreensível) uma professora em permuta que iria embora no ano seguinte... e nessa seleção
(incompreensível) como toda entrevista... eu consegui ficar na classe né, esse foi o caminho que eu cheguei assim e eu achei
que ia ser muito difícil, porque eu trabalhei quatro meses em 85 em sala de aula, porque na APAE é tudo uma outra proposta,
especial e diferenciada... eu achei que educação infantil ia ser muito tranqüilo, por já coordenar o trabalho e conhecer e o medo
no ensino fundamental e aconteceu bem ao contrário aqui... (incompreensível) e no fundamental eu me apaixonei, assim eu
brinco, eu tive que aprender tudo de novo e aprende de outra forma, não no jeito que eu aprendi na escola, isso foi muito legal,
nossa foi bem interessante.
1- Então tu ta aqui desde o início da...
2- Não, desde 2001.
127
1- 2001.
2- É meu nono ano.
1- Iniciou em 99.
2- Em setembro de 99, com os estagiários do Instituto, do curso do magistério, em 2000 teve uma professora de permuta que
veio de uma outra cidade e em 2001 eu iniciei.
1- Ah... então no caso tu já era efetiva do estado, né?
2- Sim
(Imcompreensível)
1- E agora aqui em 2001 a 2009?
2- Oito anos, esse é o nono ano que eu estou aqui já.
1- Qual é o teu trabalho aqui?
2- Professora das séries iniciais no momento.
1- É.
2- Quando eu iniciei eu trabalhava também com educação infantil, atualmente eu trabalho com 1ª a série, ao ano nos
leitos e em sala de aula. De manhã no leito e a tarde aqui na sala com as quatro séries juntas, numa classe multiseriada.
1- Quais são... tu atende todos os dias?
2- Todos os dias, de segunda a sexta feira, só não atendo na quinta-feira, porque eu saio pra aula a tarde, mas a aula, o
normal é segunda a sexta-feira da uma e meia as três e meia esse ano, então como eu to sozinha, então eu não mais
fazendo o lanche na sala.
1- 13:30 as?
2- 15:30.
1- 15:30.
2- Duas horas, depois eu faço registro, vou pro leito algumas tarde, quando precisa né... e como ano passado éramos em mais
professoras, uma pegava o lanche e não deixávamos a turma sozinha... então esse ano não faço o lanche... é sempre três
horas, quinze pras três, a gente estendeu a aula ate as 3 e meia ai a gente retorna pro parque e eu faço o lanche no parque.
1- Certo, então modificou um pouco da rotina do atendimento...
2- É.
1- Como é que tu lida com a variedade de conteúdo... por ter classe multiseriada... e?
2- Olha, o que eu faço hoje, assim... foi pelo meu caminho de experiências, quando eu cheguei a preocupação, ainda era o
caderno de planejamento e no inicio eu deixei um monte de páginas... aquelas partes de matérias, o que compete primeira
serie, o que tem de ser da segunda serie, terceira e quarta... né... hoje se olha a nossa proposta de planejamento, hoje se
aborda um tema pro ano e a cada mês vai se especificando.... assim, com objetivos mais específicos dentro das áreas de
matemática, língua portuguesa... como tem um tema gerador, digamos assim... eu consigo me organizar... é bem tranquilo, o
que muda é como eu vou cobrar da criança... com as três séries juntas, tem criança de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª, eu não vou deixar de
trazer um texto mesmo se as crianças da primeira serie não lêem ainda... então, depois de ler o texto, todo mundo discute,
uma auxilia a outra... mas o de série pode responder um questionário tá... o de 1ª série pode fazer um desenho... sobre o
que se estudou, se discutiu... o que muda é a forma como eu vou buscar da criança algum retorno sobre a aula dada... em
termos de conteúdo eu abordo português, matemática, ciências, geografia, história... todos eles.
1- Tu tinhas comentado que tu tens um tema gerador né?
2- Isso.
1- Isso desde quanto vocês tão trabalhando?
2- Há uns três anos... começou com o meio ambiente, depois foi estado e depois foi um processo das linguagens, SC terra de
muitas culturas foi o ano passado, a gente aborda assim e tem sido legal.
1- Hoje tu te sente preparada então pra trabalhar como toda essa variedade?
2- Ahan, tranquilo.
1- Quem te ajuda nesse trabalho?
2- Hoje ninguém.
1- Estas sozinha?
2- Estou sozinha, solitária, sempre solitária.
(risos)
128
2- Desde que existe a classe, a nossa sorte foi ter uma coordenadora da classe que é pedagoga da saúde, do hospital, que era
a Maristela. Então com o apoio da Maristela que nós sentávamos né... Até o ano passado, toda última sexta-feira do mês se
parava pra planejar, e esse como eu to sozinha eu não fiz isso ainda né... mas aí com o apoio da Maristela que nos orientava,
sugestões de atividades, estratégias, pra chegar nos conteúdos, tudo isso... mas a GERED, SED nunca nos apoiaram quanto a
isso. Então assim, era a nossa experiência do dia a dia que foi nos ensinando o que que era melhor, assim... a forma como
trabalhar os conteúdos, que é mais válida, de que forma abordar, como chegar na criança, como trazer o dico nas nossas
atividades, uma troca com a outra... até ano passado a cada final de dia uma falava aqui deu certo isso, aqui não deu, então o
que que pode melhorar... (incompreensível).
1- Trocando essas experiências também... Como que tu organiza essas atividades que tu diz aqui, a GERED ela te da alguma
orientação, também...?
2- Não, a gente sabe assim, toda a nossa proposta, os conteúdos são da proposta curricular do estado, tudo que eu trabalho
são os conteúdos que fazem parte da proposta, nós temos a proposta curricular aqui... tudo tem a ver, tudo esta ligado aos
conteúdos escolares mesmo, tem... mesmo nos contatos telefônicos com as escolas também, sempre se pergunta que que a
criaa esta estudando lá, na sala dele, na turma dele e sempre se tenta acoplar... tem o meu planejamento das quatro séries,
sempre tentando trazer um pouquinho da escola de cada criança, na medida do possível, não é uma coisa muito comum
assim, é mais na parte individual... que eu consigo trazer o que a escola solicita.
1- Mas então no caso a GERED não te manda planejamentos prontos...?
2- Não, até porque pra classe hospitalar não existe isso... uma proposta ainda, uma política pra classe hospital... de
planejamento, como trabalhar, o que trabalhar... não existe nada montado ainda, elaborado.
1- E existe algum curso de formação, de atualização...?
2- Especifica não, desde que eu estou na classe, o que eu fiz pela SED foram dois cursos que eu fiz um de informática e pela
internet... a gente procura fora.. na verdade na escola do meu filho que é municipal... quatro anos eu faço curso especifico
de língua portuguesa e matemática... professores da Ática, da Editora Ática de São Paulo, a gente conseguiu vaga e todos os
professores da classe que podiam... faziam, de matemática e língua portuguesa, claro na sua área afim. Depois outros cursos
fora, mas tudo por nossa conta, não que a SED ou a GERED ofereçam.
1- C2, o trabalho que tu faz aqui, tu pode nomear como classe hospitalar?
2- Hoje eu nomeio como classe porque não pensei, nunca se parou pra discutir se é classe ou não é, então hoje no momento
pra mim o mais adequado é classe, fico devendo por não ter pensado, elaborado isso pra mim.
1- Quais as características pessoais que contribuem pro teu trabalho aqui?
2- Vou ter que ser modesta. (risos) Que classe exige... quer dizer... não é a classe... mas qualquer professor, tu tem que olhar
o aluno todo... que a gente faz aqui, a gente faz de tudo pra conquistar aquela criança pra vir pra sala de aula, a gente faz tudo
o que é possível pra agradar, que possa interessar, pra que ela venha até a sala, né. Assim tem q ser em qualquer escola, não
é só mais um, não é só o paciente da C, da B... é o Marco, Antonio, Pedro, a Juliana, cada um é um e tem que buscar nas
especificidades, o que interessa, o que é legal, o que ele gosta, qual é o seu interesse... e tentar através disso fazer... quando
a criança chega aqui, não tem criança que desista, então tem que ser doce, tem que ter carinho, tem que ter cuidado, olhar
bem atento, tem que ter empatia, tem que se colocar no lugar da criança sempre pra ver que que ela ta passando, pra ver por
que que ela se nega a vir, por que que ela faz cara feia em determinadas situações, o que o silêncio dela quer dizer, tu tem que
ta atento a tudo isso, né.
1- A tua formação, ela contribuiu de alguma forma pra tua atuação aqui no hospital?
2- Não, até eu to escrevendo sobre isso... na história de vida (incompreensível) mesmo no magistério, eu fiz uma tarde
(ênfase) de observação em classe multiseriada... e assumi uma classe multiseriada quando passei no concurso, foi assim...
Meu Deus... a primeira e a pior das experiências, segunda né... a primeira foi no jardim de infância, mas no estado né... foi
complicado, era quatro séries juntas tinha que fazer merenda, eu era secretaria, diretora, tinha horta, a missa no final de
semana na comunidade... eu não sabia por onde começar, com a experiência que eu tenho hoje, com certeza seria tudo
diferente, então pra mim foi muito desastrosa a primeira experiência. Nem no magistério e nem depois na pedagogia nem se
comentou, nem se citou classe multiseriada... então, foi desastroso.
1- (incompreensível)
2- Nenhuma, uma tarde de observação não quer dizer nada.
1- Agora tu ta fazendo algum curso pro teu aprimoramento?
2- Tô, sou mestranda da educação na UFSC.
1- E é... teu estudo é sobre?
129
2- É, na linha da formação de educadores e a minha proposta é ver o que as crianças pensam sobre a classe, que como eu
passo pra convidá-las, eu digo tem uma sala de aula, uma escola aqui no hospital, que assistir aula, que participar conosco?
Daí quando a criança vem pra cá, aconteceu inúmeras vezes, tá no meio da aula e eles me pergunta: Não ia ter aula aqui? A
“profe” não falou que tinha uma escola” (fala das crianças) (risos) Então que que elas pensam deste espaço?
1- Interessante!
2- Que atividades que eu ofereço, isso não é matemática, não é português. Então matemática que que é: conta de mais,
menos, vezes e dividi, não que não se trabalhe isso, mas a forma como se aborda... desafios pra pensar estratégias, mas eles
acham que isso não é matemática... até tem o depoimento de uma aluna assim, que eu nunca esqueço... que eu trabalhei com
desafios de matemática naquela tarde e ela dizia profe”, isso não é matemática, vamos trabalha matemática? (fala da
criança) (risos) Então fala o que que é matemática. ―Você vai no quadro e escreve... Resolva: (dois pontos)(fala da criança)
1- Que era o conceito que ela tinha.
2- Então matemática é isso, aquela forma padronizada que nós aprendemos assim na escola. Então isso, que que elas
pensam, que espaço é esse, que significados tem essas atividades, dá pra ver como escola ou pra elas é recreação também.
1- Tu lê sobre o trabalho dos pedagogos nos hospitais?
2- Principalmente agora no mestrado né, e eu vejo como é diferente a prática nos hospitais no Brasil todo. A nossa é bem
diferenciada, acho que é a única que trabalha conteúdos, bem sistemático segunda a sexta, conteúdos com horário sabe, é a
nossa... nós assim no terceiro dia de freqüência faz o contato com a escola, todas as que eu tenho lido é 10 dias, 15 dias com
mais tempo de internação, mas é muito tempo pra esse contato eu acho né, a forma como faz esse contato, como aborda os
conteúdos, é bem diferente, é bem diferente daqui. Eu vejo práticas bem diferenciadas, mas tenho lido bastante.
1- Quais são as tuas preferências de leitura... nessa área?
2- Eu tenho lido mais pesquisas com crianças no momento, como que elas são abordadas como sujeito de pesquisa, que não
tem muitas, mas é o que mais ta me interessando no momento.
1- Tu já visitou outras classes? Ou outros hospitais que tivessem...?
2- no HU quando tinha aqui, não fui ainda. Fui pra Jaraguá, mais eles tavam pensando em implantar, mas não tinham
implantado ainda. Mas a minha visita ao (incompreensível) foi bastante... pra conhecer algumas no caminho.
1- Você mantem contato com outras pedagogas do estado?
2- Eu tentei, que nem agora esse ano, depois da normativa (incompreensível) como aconteceu o segundo encontro de
classes que nós organizamos, com os e-mails que eu tinha das professoras de classe eu encaminhei, perguntando como tava
esse ano, se tinha alguma mudança, só duas me responderam, então não sei se mudou o e-mail... se elas não tão mais na
classe ou não quiseram...
1- Tu lembra da cidade dessas duas que responderam?
2- Quem respondeu foi de Tubarão, que disse que tava tudo igual, mas não sei como estava no ano passado e a outra foi de
Ibirama, que disse que ficou afastada um ano, a professora por licença de saúde, mas que a classe lá tinha fechado, então, foi
quem me deu retorno.
1- Quais são as áreas que tu procura pro teu aprimoramento assim, que normalmente tu procura quando tu percebe que tem
alguma necessidade assim, mais alguma coisa procurando lúdico, mais psicologia?
2- Acho que os dois também, psicologia questão de comportamento, de ver que a criaa reage de determinada forma, uma
coisa assim... o lúdico também como trazer pra sala de aula, como deixar mais prazeroso, trabalhar com a matemática, com a
geografia, né... mais assim, coisa de dinâmica.
1- Tem alguma área que tu considera assim essencial, pra que a... o pedagogo quando no hospital, pelo menos tenha o
mínimo de domínio, o mínimo de...?
2- Olha, tem muita gente que fala que é saúde, mas eu vou ser bem sincera... eu nunca entro pra pesquisa o que minha
criaa tem... eu só pergunto na hora de completar a ficha, né. (incompreensível) tem hospitais que trabalham só com a
questão da doença, né... mas assim, quando a criança quer falar ela fala.... como tem caso que uma falou para a outra “o que
tu tens?, ela tava sem cabelo, tinha câncer, falou assim eu tenho cabeça, eu tenho olhos, eu tenho nariz Então, ele o
queria falar do que ele tinha por dentro, né... mas que ele tinha um corpo, que tava aqui, tava presente então assim, a doença
é abordada quando precisa, né... elas se conversam, se a criança quiser responder ela responde, se ela não que ela o
responde, mas pra mim é educação, eu tô aqui dentro de uma escola, eu sô professora, tá, meu trabalho é esse, num
ambiente de saúde, mas minha função aqui é pedagógica... então acho que essa é minha área de concentração, sem
descartar lógico a saúde, a psicologia, todas as outras áreas, sociologia...
1- Que complementam...
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2- Que complementam, né. Um ser sozinho não convive né, tem que ter...
1- E o que tu considera importante pro currículo de pedagogia? Essa... essa formação pra atuar aqui no hospital?
2- No mínimo na época de estágio, que possa pelo menos conhecer e saber que existe esse ambiente, esse outro contexto de
educação, tem cursos que nem falam sobre isso, que nem abordam né, então pelo menos... tem até algumas universidades
que não consideram isso aqui, como... campo de estágio, porque não é legalizado, não é um espaço pedagógico, um espaço
escolar, mas que pelo menos pudessem vir conhecer o espaço... ver que existe né, que é outra forma de educação, mas que
podem vir conhecer pelo menos.
1- O que você pensa da importância do teu trabalho aqui? O que que é importante pra uma professora no hospital? Como é
que contribui com a criança hospitalizada com o trabalho q tu faz aqui no hospital?
2- Eu acho que a gente só contribui. A criança não fica, não perde o vínculo com os conteúdos da escola, né. Eu consigo aqui
humanizar o papel de escola sem abrir mão dos conteúdos, minha forma de abordar de forma diferente e que... a criança se
sente bem, ela faz questão de estudar, ela pega a atividades, então minha função aqui é muito importante, é não abrir mão do
que é de direito da criança lá fora, é trazer pra dentro do hospital o cotidiano, que também é a escola... mostrar que é possível
conciliar a escola aqui dentro, junto com o tratamento de saúde...
1- Recentemente saiu uma normativa, né. Tu percebeu mudança após essa normativa, como era antes e como ta sendo
agora??
2- Ta, essa normativa que saiu em setembro de 2008, ela prevê não só pra classe, mas pra várias áreas, educação indígena,
educação do campo. Prevê contratação de professores e um número de professores. Então, a partir de setembro do ano
passado, a gente ficou sabendo que nesse ano de 2009 como seria. Pra ser professor de classe, teria que ser professor efetivo
excedente só, então ACT já foi descartado ano passado.
1- Vocês tinham professores ACT?
2- Duas ACT ano passado, uma matemática e uma de séries iniciais. Efetivo excedente o que que é, aquele professor da
escola que não tem turma em seu nome, tipo... esposa que acompanha marido em outra cidade, chega na escola e não tem
uma turma, ficam em bibliotecas, em secretarias, esses professores que viriam pras classes e também pra contratar
pedagogos, desculpa... o meros de horas/aula pra cada classe depende do número de atendimentos diário da média anual,
se em 2008 fechou aqui 27.8 atendimentos por dia, foi a média do ano passado, com seis professoras e isso nos deu 100
horas de professoras, hoje estou eu com 40 horas, uma professora de português de a de 20 horas e temos mais 40
horas que ainda não foram preenchidas, né... já tem uma professora determinada pra isso, saiu em diário oficial mas não ta
atuando aqui ainda por problemas internos do hospital, são 40 horas então, que estão perdidas por . Eu só pergunto assim,
se com seis professoras conseguimos 100 horas, nós estamos só em duas, então quem vem pra cá ano que vem? Quantas
horas vai dar? Será que eu volto? Será que volta uma só de 20?
1- Te gera insegurança?
2- Com certeza... quem faz a lei, quem fez essa normativa, não conhece o nosso trabalho, a nossa representante na SED nem
foi chamada pra comissão que discutiu a normativa, então... sabe... (desânimo) acabou assim, eu estou sozinha... nós éramos
em quatro professoras junto com a educação física e séries iniciais, eu estou sozinha em um hospital de 166 leitos, fazer de
conta que trabalho eu não to, to trabalhando sério, mas com um número bem reduzido de atendimentos.
1- Só pra relembrar Tânia, até o ano passado vocês tinham uma professora de educação física?
2- 40 horas.
1- 40 horas, uma professora de matemática?
2- 20 horas, uma de português também a 8ª também 20 horas, uma professora 40 horas trabalhava na oncologia e com
educação infantil de manhã, uma de 20 horas só pros leitos e eu também 40 horas com leitos e sala de aula.
1- Certo e hoje?
2- Só estou eu com 40 horas de manhã no leito e a tarde sala e a de língua portuguesa vem só três tardes na semana de a
8ª série, que é o período da reunião.
1- E isso tudo foi decorrente da normativa?
2- Da normativa, prejudicou bastante o nosso trabalho.
1- Então, a minha pergunta era se tu te sentia segura e amparada por essas políticas e toda regulamentação do trabalho do
pedagogo no hospital?
2- Olha, tem essa normativa, não sei se isso é, não sei se posso chamar de política, porque não tem nada de política sobre
classes no estado, tanto que o nosso encontro era pra conhecer todas as classes e se pensar nisso, numa política que
contemplasse todas as classes, só que a gente sabe que cada uma é diferente uma da outra, o nosso hospital aqui é o único
131
que é todo infantil, os outros não, é só uma ala na pediatria, ou só um corredorzinho, são poucos leitos. Até fecharam duas
classes esse ano, Ibirama e Lages fechou, não existe mais, não são mais onze, são nove no estado. que o nosso hospital é
referência e é diferente de todo os outro do estado e isso não ta sendo levado em conta.
1- E como tu vê, é porque tem um outro artigo que coloca Florianópolis como responsável pela orientação e acompanhamento,
como é que tu vê essa outra normativa?
2- Isso é uma lei de um deputado, Francisco de Assis, acho que é, de Joinville se não me engano. Na época quando a gente
ficou sabendo a gente deu um monte de sugestões pra ele, via SED, via nossa coordenadora, mas nada disso foi colocado, foi
modificado, acho com certeza não compete ao infantil, ser responsável por isso, tem SED, tem GERED que pode gerenciar
isso tudo, mas eu acho que não cabe a nós. Foi o primeiro hospital do estado, é referência, por ser o primeiro tem todo uma
outra história, mas isso cabe a SED, GERED, não ao nosso hospital, de que forma fazer isso? Não tem pessoal, não tem
como. Não que falte competência de quem aqui esta, mas não tem recurso humano, o tem número de pessoas pra fazer
isso.
Até essa lei do deputado, quem trabalhava com ele, era uma psicopedagoga e que estagiou e conheceu esse espaço do
hospital, tem alguma coisa por traz bem de interesse, meio que inclusive de pessoas, essa lei, e ninguém sabe até hoje como
passou.
1- Tu comentasse que o hospital lá de Lages fechou também.
2- Fiquei sabendo por de uma colega do mestrado que é de Lages, que conhece muito bem a... quem começou o trabalho em
Lages foi a esposa do diretor do hospital e ela que é amiga da professora (incompreensível)
1- Então, quando tu iniciou, houve a regulamentação pro funcionamento das classes em Santa Catarina e foi Florianópolis e
Lages...
2- Isso, foi a segunda a ser aberta no estado.
1- Essa que agora recentemente fechou.
2- Fechou também.
1- Sabe por que que foi?
2- Não sei, até falei com essa colega pra pegar o e-mail da professora, até eu tinha o e-mail da Iara, uma das professoras,
mandei e não respondeu nada também, perguntando sobre isso. Essa minha colega vai trazer pra mim o contato da esposa do
diretor, ela que iniciou o trabalho lá. Mas depois tinha umas três ou quatro professoras, tava bem estruturado o trabalho em
Lages, que não sei como fechou.
1- Tu sabe por que que foi primeiro Florianópolis e Lages? Lá também era um hospital infantil?
2- também era infantil. Só que eu acho que (incompreensível) na história da classe aqui, o que que acontecia, tinha
muito... os alunos, os paciente... ah vou faltar muita escola, vou ter que repetir, perdiam a prova, então sempre tinha essa
discussão no escritório de pedagogia, enfim, como trazer a escola pra dentro do hospital, então assim, tiveram inúmeros
projetos assim, pensados né, pra levar as crianças pra escola aqui do bairro, trazer o professor pra cá, se tentou inúmeras
coisas... um dia viram na revista Nova Escola uma notinha falando sobre classe hospitalar e que teria um encontro no Rio
naquele ano sobre isso, nesse ano, acho que foi no ano de 97, a Maristela e a Enilda foram pro Rio, no encontro de
classe que teve lá, daí conheceram a Eneida e no retorno entraram em contato com a SED e com GERED pra tentar mobilizar
e estruturar o espaço, tanto que se começou em setembro de 99, com estagiarias do curso de magistério, pra ver como
aconteceria isso né, mas nesse momento a SED tava muito presente aqui, com profissionais de informática, trabalhando bem
conjunto, bem em conjunto mesmo né.
1- Atualmente essa parceria já não tá mais presente?
2- Até ano passado veio alguns dias, a gerência de..., tem um nome, a gerência de tecnologias, alguma coisa assim... ela fez
um trabalho conosco aqui, ano passado ela veio, em torno de uns três ou 4 dias, quatro encontros com as crianças... o único
contado que teve com a SED assim, por ela viria muito mais, mas eles tem que ter permissão pra sair, tem uma burocracia
muito grande pra sair de lá, tem que ter carro pra trazer, tem que ter, isso é complicado... não falta disposição
1- Esses relatórios e tudo mais fica tudo na GERED? Vocês mandam pra GERED?
2- Até mandávamos, boto em CD, aqui fica uma cópia, ai tipo assim, acabou o semestre eu coloco tudo num CD pra escola
Padre Anchieta e pra GERED e pra SED, com todos os enviados, no final do segundo semestre a mesma coisa, coloco do ano
inteiro, relatórios enviados, agora tem um mensal também que tem que fazer pra SED, pra GERED, tem que coloca desde que
a criança chegou, quantos dias de internação, tudo que tem na ficha tem que fazer uma tabela que vai pra eles.
1- O hospital, como que é tua relação com o hospital aqui?
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2- Tranqüila, assim... eu sou uma pessoa muito diplomática Fabiana, eu nunca deixo de falar o que eu penso, mas consigo
falar de uma forma sem magoar, sem machucar as pessoas, acho que isso que mantem isso aqui esse ano também, porque o
hospital mandou um ofício pra GERED no ano passado, com três nomes de pessoas que eles queriam que voltasse pra classe,
o meu nome estava nessa lista, era eu, a Rosângela e a (incompreensível), só que assim, sabe que a ACT não pode,
Rosângela... E eu por series iniciais, sou a única efetiva e entre eu (incompreensível) quem seria né? Então assim, eu acho
que eu consigo me manter, porque eu sou bem pé no chão, eu sei porque que to aqui, não to aqui pra arrumar encrenca, mas
não sei se tem respeito, não sei se posso chamar isso de respeito pela minha pessoa, eu não sei mais o que pensar hoje.
1- E assim, pra utilização além do espaço físico aqui, vocês tem uma sala, tem que ser organizada, assim, eles oferecem
algum...?
2- Xérox à vontade, o que precisa aqui, o que as crianças... ontem tava trabalhando, antes de ontem, coloquei algumas
frases no quadro, a gente trabalhou uma história, trouxe a história digitada pra eles ter no caderno. Só algumas perguntas
passei no quadro. Meu Deus, só isso “profe”? A nossa “profe” enche três vezes o quadro e tem que copiar rápido! (Fala da
criança) Só que assim, pelo pouco tempo e pela criança às vezes ter a mão muitas vezes impedida de escrever, por causa da
tal da medicação, então xérox pra nós é uma o na roda, trago muita coisa já impressa, as tarefas pra deixar no leito,
então isso é a vontade, nunca teve limite. Temos telefone na sala pra fazer contato com as escolas, é a vontade, material de
uso aqui, tipo copos, borracha, lápis, o que faltar, tudo tem.
1- Esses computadores foi o hospital?
2- Foi o hospital, a escola Padre Anchieta também ajudou, mas o hospital nunca nos deixou sem esse instrumento, pra
relatório, pra tudo, internet também tem a vontade, então tem muita coisa que o hospital nesse sentido e começou a
construção do espaço, lá na área de sol, são cinco salas, de 1ª a 4ª de 5ª a 8ª, já começou!
1- Então tá C2, era isso no momento, quero te agradecer muito...
Transcrição Entrevista 04 Pedagoga: CAROLINA Hospital H3
Data: 04/06/2009
Obs.: a entrevistada não permitiu gravação em áudio.
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1 - Formação:
2 - Pedagogia, habilitação em educação infantil
1 - Local da formação:
2 - Joinville
1 - Data da formação:
2 Aproximadamente 1990
1 - Instituição da formação:
2 - ACE Joinville
1 Quais as tuas experiências de trabalho, onde você trabalhava?
2 Secretária de coordenação, sala de aula de educação infantil, recepção do hospital.
1 - Como chegou até o hospital:
2 Trabalhava como recepcionista e apresentei um projeto de implantação.
1 - Quem te contratou?
2 O próprio hospital. Quem é o responsável pelo serviço é a Direção Técnica.
1 - Há quanto tempo você está no hospital?
2 12 anos.
1 - Qual é o teu trabalho aqui?
2 Facilitadora educativa e lúdica, contadora de histórias e exerço função administrativa (coordenadora do setor).
1 - Você trabalha com todas as séries? (ed. Infantil? Ensino fundamental? E as crianças de 0 a 6 anos?)
133
2 Sim. Para as crianças até menores estimulamos contação de histórias. Já para as Séries Iniciais temos duas propostas: a
primeira é de atendimento escolar (primeiramente entra-se em contato com a escola de origem e solicita-se atividades e
material para trabalhar com estas crianças aqui, caso não se receba, utiliza-se atividades já planejadas pela nossa equipe),
normalmente utilizamos atividades de leitura. E também temos como proposta o projeto de artes. Para alunos de 5ª a série,
incentivamos a trazerem seus materiais e a fazer pesquisas.
1 - Como você lida com a variedade de conteúdos, vc se sente preparada?
2 Sei lidar, mas falta estrutura para realizar e atender de fato este paciente. Faltam os professores das disciplinas
específicas. Hoje estamos nos organizando para seguir a proposta do programa de ensino do município de Joinville.
1 - Quem te ajuda neste trabalho?
2 Trabalho com duas ajudantes a Madelaine e a Mari, que são funcionárias do hospital. Elas é que atuam mais diretamente.
1 - Como você organiza as atividades?
2 - Normalmente nos sentamos uma vez por semana para discutir questões do setor e fazer os planejamentos.
1 - Como você nomearia o teu trabalho aqui? Você pode chamar de classe hospitalar?
2 Não temos uma Classe Hospitalar, embora eu gostasse muito que tivesse, temos Pedagogia Hospitalar, atividades
recreativas integradoras.
1 - Quais as características pessoais que contribuem para o trabalho aqui?
2 Criatividade, proatividade, trabalho em equipe, inovação, persistência, auto-ditatismo, saber ouvir.
1 - A tua formação contribuiu de que forma para esta atuação? Qual a disciplina que mais ajudou?
2 Contribuiu para a minha decisão de fazer, mas não para a prática. Acredito que a disciplina sobre didática contribuiu mais.
1 - Você está fazendo algum curso para o teu aprimoramento?
2 Pós em Psicopedagogia.
1 - Você lê sobre o trabalho do pedagogo nos hospitais, quais são as tuas preferências de leitura?
2 Sim e muito. Leio Elizete Matos, Rubem Alves, Celso Antunes, entre outros.
1 - Você já visitou outras classes?
2 Já estive no Joana de Gusmão, Pequeno Anjo.
1 - Você mantém contato com outras pedagogas que trabalham em hospitais?
2 Não, mas acho que deveríamos manter mais contato.
1 - Quais são as áreas (psicologia, neurologia, psicopedagogia...) que você procura para o teu aprimoramento?
2 É um leque bem amplo, procuro sobre ludicidade, contação de histórias, sobre arte e até mesmo questões administrativas.
1 - O que você considera importante para o currículo de pedagogia para a atuação em hospital?
2- Penso que o pedagogo deve conhecer o ser humano como um todo. Conhecer as conceões de doença, de saúde, de
higienização. Acredito que música, contação de histórias, avalião e registros também são importantes.
1 - O que você pensa sobre a importância do teu trabalho aqui? Porque é importante uma professora no hospital? Como você
contribui com a criança hospitalizada com o teu trabalho no hospital?
2 Vejo que a contribuição da pedagogia é de enxergar os ser humano como ser integral e é a educação que vê isso. O papel
do pedagogo está presente em qualquer momento da vida, é a pedagogia do agora, é pensar no paciente como um aprendiz,
sempre.
Transcrição Entrevista 05 Pedagoga: MARIANA Hospital: H4
Data: 03/08/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- MARIANA, antes de tu trabalha aqui no hospital, tu trabalhava onde? Tu já tivesse outra experiência de trabalho?
2- Sim, sou professora a 29 anos, graças a Deus, to quase me aposentando.
1- É mesmo?
2- Eu sempre trabalhei no ensino regular, trabalhei como diretora, trabalhei como assessora, assessora da escola e agora
como ta nessa de encaminhar pra aposentadoria, voltei pra sala de aula por causa da regência, regência de classe, daí foi
oferecido 20h aqui na classe hospitalar, até porque tem que ser professor efetivo e 20h eu trabalho no ensino regular, aonde
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tem a extensão da classe hospitalar, a classe hospitalar ela é extensão de uma escola, então em trabalhão 20 horas e 20
horas aqui.
1- Certo, e lá naquela escola, qual é a tua atividade?
2- Lá professora de 3ª série.
1- Tu tens uma turma de 3ª série então.
2- Tenho, tenho...
1- Então aqui no hospital, tu chegasse há uma ano, né?
2- Não, esse ano.
1- Em fevereiro, né?
2- Fevereiro.
1- E tu é efetiva do estado?
2- Ahan.
1- Então, houve um convite da GERED pra que tu viesse pra cá?
2- Isso.
1- Certo. Qual é o teu trabalho aqui no hospital, nessas 20 horas que tu ta aqui, qual é o teu trabalho aqui?
2- Aqui é um todo, porque assim... tem todo tipo de criança né, então tem... a maior parte é educação infantil, a maioria é
educação infantil. Eu atendo educação infantil, séries iniciais, de a e ainda tenho um SEJA, então eu do atendimento pra
esse pessoal todo. A parte pedagógica da educação infantil, não tem muito o que fazer, porque a criança chega aqui
indisposta, daí ela já ta doente, então eu faço mais um trabalho psicológico, mais psicológico, mais afetividade, questão da
afetividade, a questão do cognitivo, jogos... mais lúdico, trabalho mais lúdico.
1- Como tu falasse, tu trabalha então com todas as séries.
2- Todas as séries. Claro que não é aquele trabalho especifico , porque a gente... agora to retornando do recesso,
então eu não sabia o que que eu ia encontrar, se tinha criança... se era de educação infantil, series iniciais. O menino lá, o
Pedro, por exemplo, é series iniciais, tá no 1º ano, ai tenho que providenciar alguma atividade e daí eu questiono, que que ele
gostaria de saber, ―Ah eu gostaria de pintar‖, então a gente procura fazer o que a criança mais gosta, não posso de forma
nenhuma força eles a fazer uma atividade, de jeito e maneira.
1- Certo, as crianças de 0 a 6 anos tu atende também?
2- Atendo.
1- Quais são normalmente as atividade que tu faz?
2- Por exemplo tem os bebezinhos, que que eu vo fazer com os bebezinhos, eu posso trabalhar com as mãe, porque as
mãe vem aqui, d já é um desconforto ficar no hospital, elas não tem direito a leito, daí ficam naquele sofazinho bem
desconfortável, daí ficam deprimidas, até houve um caso antes do recesso, ela internou a menina e ela ficou assim, tão
depressiva, que ela acabou ficando internada junto, então assim, fiz todo aquela trabalho de incentivo, mais psicológico.
1- Certo, todas as crianças que internam tu da algum tipo de atendimento?
2- Do, eu vo no quarto, faço atendimento no leito e nos temos essa salinha aqui que é a salinha da atividade, até agora
eu tava pensando numa área fora que a gente possa ta levando a criança, mas isso ai é um projeto que o hospital
desenvolvendo junto com a secretaria regional, então pra montar um parquinho, alguma coisa diferente pra essas crianças,
porque elas não tem condições.
1- Existe então um projeto?
2- Existe, eles tão ate pensando ai, planejando, pra ver o que pode ser feito nesse sentido
1- As crianças que ficam no isolamento, ou assim... tu também atende, também tem acesso?
2- É mais complicado até porque os médicos não gostam... eles não aceitam, né... mas assim ó, gras a deus, ainda
não passou nenhum caso.
1- Não teve nenhum caso.
2- Até teve um outro rapaz, ate um adolescente, mas aquele em hipótese alguma a gente podia ta entrando, então quem
estava dentro como acompanhante, existe todo aquele, como é que eu vo te dizer, aquela... tem um nome especifico pra
isso.
1- Mas enfim, é todo um equipamento.
2- E pra mim ta usando isso é muito complicado, eu entro lá, tem toda aquele equipamento, deu saio e tenho contato
com as outras crianças, o tem como. O que eu passei, esse foi um caso exclusivo, eu passei algumas atividades pra ele ta
passando o tempo, mas depois que ele realizou, as enfermeiras tiveram todo cuidado e já foi tudo incinerado.
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1- Tendo contato com esse mesmo material
2- Livros e outro material pedagógico, eu também não passei... pena né.
1- É um cuidado. Tu comentasse que tu atende todas as crianças de todas as idades, como é que tu lida com essa
variedade de conteúdo, tu te sente preparada?
2- Assim o, no início foi bem complicado, mas agora eu já tenho e trago assim, bastante atividades pra.. q eu não sei o
que eu vo encontrar todos os dias... a maioria das crianças, os que estão sendo internados, a partir de amanhã, terça, existe
uma relação cirúrgica de adenóide e (pensando) amidalite, então tem um cirurgião plástico e um cirurgião, aquele especialista
né... vem criança de todo lugar da região.. então assim ó, eles chegam e já vão direto pro soro, é feito o exame e vão direto pro
soro, a criança já ta apreensiva porque sabe que vai fazer uma cirurgia e não sabe como que é, então que que eu faço com
eles, eu faço mais na parte psicológica, é um trabalho mais psicológico, um incentivo, que não vai doer, que é rapidinho, enfim,
faço toda aquele trabalho, quando eles retornam, eles não querem saber de nada, né. a criança que ta assim... como q eu
vo te dizer, aquele q não apresentou febre, que não apresentou nada, no outro dia eles já vão embora.
1- Uma permanecia bem limitada.
2- No máximo dois dias, então no máximo dois dias.
1- E quando tu ta fazendo esse atendimento psicológico, tu procura conversar com eles sobre a cirurgia que ele vai fazer,
tu entra em algum detalhe sobre o procedimento?
2- Não, até porque assim o... eu até nem tenho conhecimento pra eu ta fazendo isso, não sei nem como funciona, aquele
trabalho assim pra criança perder o medo.
1- Procura motivar, procura tranqüilizar...
2- Isso, certo.
1- Então quanto a variedade dos conteúdo...
2- Não existe um conteúdo especifico, nem tem como.
1- Alguém te ajuda no trabalho que tu desenvolve aqui?
2- Nem o material, tem que ficar pedindo, implorando... o que a gente recebeu (incompreensível) da secretaria da
educação, ate ela é uma das responsável, antes era projeto, agora parece que é lei.. d ela me trouxe a lei ali, tudo certinho,
se a gente for exigir o que ta lá... Meu Deus, nem uma parte... Daí prometeram assim, pro Eduardo, que o Eduardo é uma
criaa permanente aqui, que o Eduardo é contado assim ó, todos os dias, é feito assim uma chama, então a freência ele é
diária, existe um número, número x, por exemplo pra contratar o professor 20h ou 40h, então tem que ter no mínimo 5 crianças
diárias, depois veio essa normativa, depois já veio diferente, deu questionei, por exemplo a questão das vagas, o Eduardo é
permanente, então ele é uma criança que conta diariamente, né... então precisaria o que, mais 4 crianças, então isso é
constante, menos na segunda-feira, independente da cirurgia, segunda a noite já começam os internamentos, geralmente
segunda de noite, na outra semana antes do recesso eu estava com 12 crianças, então os leitos estavam praticamente todos
lotados, então o que que foi aquela onda assim de pneumonia, insuficiência respiratória, mais o problema respiratório e
pneumonia, mais o que dava pra notar ali eram os bebezinho de 0 a 1 ano, então foi assim uma avalanche, duas semanas
assim foi direto... e outra assim ó, nessa ala aqui tem só uma enfermeira, tem dias assim que tem muita criança é bem
complicado, eu não posso ver, eu já me meto, me ajudo.
1- Alguma vezes tu ajuda o pessoal da enfermagem também?
2- Ahan, ajudo.
1- O que que tu fazes daí?
2- Por exemplo, lá num determinado quarto lá, bateram a campainha, tão precisando de alguma coisa, o que que é... eles
já não conseguem se comunicar, as vezes é pra tirar o soro, as vezes pra colocar o soro, ta na hora do medicamento, a criança
ta com fome... então essa mediação eu faço.
1- Certo, a comunicação... ta precisando de alguma coisa
2- Isso, as vezes ela ta atendendo lá e não pode ir, então eu vo lá, ela pega, me entrega, esse tipo... uma mediação
vamos dizer assim, mas na questão de medicar essas coisas não, é a questão da agilidade, ta ajudando.
1- As atividades pedagógicas, MARIANA, como que tu organiza, essas atividades que tu vai usar aqui no hospital?
2- Olha, não tem assim, como eu já te coloquei, a questão de conteúdos específicos, então...
1- O currículo formal.
2- Não, ate to pensando pra agora pro segundo semestre ta fazendo um projeto e junto incluindo a educação infantil, ate
porque (incompreensível) é mais nas series iniciais, não na educação infantil, então eu acho um pouco complicado a
educação infantil, a eu tive conversando com alguns professores da educação infantil, busca ajuda né, porque quando a
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gente não sabe tem eu pedir ajuda, eu vo fazer um projeto agora, inserindo da educação infantil, mas em relação as atividades,
não tem muito o que fazer, então eu trabalho mais a questão de pintura, tem os jogos, o lúdico , a memória, quebra cabeça,
isso tudo material que eu própria confeccionei, porque material especifico não tem, a gente até não consegue.
1- Então a secretaria no caso, a GERED, ela não interfere nesses planejamentos...
2- Não, não, não. Porque assim, quando eu chegasse aqui hoje eu não sabia o que eu ia encontrar, ate porque a gente
tava de recesso né, que criança que eu ia encontrar, se era series inicias, educação infantil, se eram adolescentes, que
estejam no SEJA ou 5ª a 8ª série.
1- Essa escola que é a extensão no caso, ela também não interfere, aqui tu é livre e escolhe as atividades.
2- Isso.
1- Como é que tu ia nomear o trabalho que tu faz aqui, pode ser chamada de classe hospitalar?
2- Pode ser chamada de classe hospitalar pelo seguinte, a gente trabalha com uma... como é que eu vo te dizer... se eu
te dizer assim, que as crianças vem e sentam ali pra fazer atividade, eu minto pra ti.
1- Porque eles usam pouco esse espaço.
2- Usam pouco, porque a maior parte do tempo eles estão no leito, aporque tem aquela parte médica, tem que fazer
repouso e a maioria ta no soro, geralmente eles tão sempre no soro e é bem complicado trazer aqui pra sala, aqueles nos
cantos a criança com o soro, a medida que eles vão saindo do soro, daí já tem toda animação pra vir pra salinha, porque daí ali
tem brinquedos... não são os brinquedos, mas alguma coisa a gente (incompreensível) a criança que brinca, ai o outro que
pinta, o outro que joga e a mãe sempre junto sabe, então as vezes eu trabalho mais com as mães do que com as próprias
criaas, né, porque daí a mãe já senta ali junto ―Ah como é que faz isso?‖ ―Professora como é que monta isso aqui?‖, então a
gente trabalha junto.
1- Então tu chama aqui de classe hospitalar mesmo?
2- É, vamos dizer que seja... não vo dizer que é uma (incompreensível) não pode ser, como é que eu vo te dizer, é uma
caixinha de surpresa todos os dias, tu chega e não sabe o que vai encontrar (incompreensível) Eu não faço isso porque
(incompreensível) a gente não tem assim, como é que eu vo te dizer, uma verba disponível, a escola as vezes ate nega
material, porque até é as crianças do regular que levam, dai tira de lá pra trazer pra cá, é complicado, ―desvesti um santo, pra
vesti o outro não da‖, o que o hospital aqui me apóia é no xérox, material pedagógico não tem, ainda o que tem, as vezes o
que tem é eu ainda que compro, essa questão de relatórios, fotos, tudo com dinheiro do bolso, tudo eu que tirei do bolso.
1- É tudo você que custeia.
2- Isso, tem um lado que é maravilhoso, trabalho aqui é maravilhoso eu adoro, mas tem outro lado que é complicado.
1- Deixa eu te perguntar, quais são as características, tuas características pessoais que contribuem pro trabalhão que tu
realiza aqui?
2- Que que eu vo te dizer... eu, quando eu entrei... pra vim foi um desafio o Eduardo e o que mais me levou a dar
continuidade foi o Eduardo, porque pra mim o Eduardo foi um desafio, que ate porque eu durante tantos anos eu não sabia
desse menino, porque graças a Deus não precisa usar o hospital, mas pra mim foi um grande desafio foi o Eduardo e eu me
identifico muito com ele, não sei porque, mas, é assim bem complicado por um lado, porque ele se apegou demais, eu não sei
se eu passei aquele amor, aquele carinho talvez ate de mãe, eu não posso te dizer que não foi por piedade minha, porque foi
e tanto ele quanto eu a gente se apegou muito, então assim, eu me identifico mais com ele.
1- E a tua formação, ela contribuiu de alguma forma pra tua atuação aqui no hospital, de que forma?
2- Não, de jeito nenhum... na verdade a gente não esta... nem as universidades agora, por mais que elas tentam passar,
a gente nunca ta preparado pra inclusão.
1- Quais são os saberes fundamentais pro trabalho de um pedagogo aqui no hospital?
2- Muito carinho, muito amor, muita paciência, não vo te dizer, não vo te colocar assim... dependendo da pessoa, não que
seje necessariamente um pedagogo.
1- Tu acha que não há a necessidade de um pedagogo?
2- Não, eu acredito assim, pela visão e a pouca experiência que eu tenho, eu vejo que não.
1- Ta. Por que não?
2- Primeiro tens que ter muita calma, porque depende a pessoa... se for uma pessoa muito, com muita sensibilidade, ela
não consegue trabalhar, começando pela questão do Eduardo, mas eu vo te leva pra conhecer ele, assim ó, ele tem 17
anos, ele tem o tamanho de uma criança de 8 anos, ele é todo atrofiado, dai assim pra ti alimentar ele é bem complicado,
(incompreensível), quando eu estou aqui ele não come com mais ninguém.
1- Olha só! E banho?
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2- Isso tudo as enfermeiras.
1- E medicão alguma vez tu da?
2- Nada, isso tudo as enfermeiras... por isso assim que te digo, não são todas as pessoas... o que que eu faço com ele,
quando eu to aqui, ele não fica no quarto, ele não fala, ele não anda, enfim, só que abre um bocão, ele faz um escândalo,
aquela carrinho é dele e tem um outro onde ele é levado pra APAE, até porque ele precisa freqüentar a APAE, porque ele tem
um beneficio que foi adquirido através da APAE, mas ele é um turista da APAE, ele vai de vez em quando, mas algumas vezes
ele precisa ir na APAE... se tu perguntar ele se eles trabalham na APAE, não, eles não fazem grande coisa na APAE com ele,
ate porque tem outras crianças, eu vejo assim que piora, mas enfim... assim, quando eu vi, quando eu cheguei aqui e elas me
apresentaram o Eduardo eu fiquei chocada, praticamente uns 20 dias assim, ate eu me acostumar com a ideia, até assim, pra
mim trabalhar com ele eu fui buscar ajuda na APAE, porque eu não sabia como fazer.
1- Como que tu buscasse essa ajuda, buscasse conversar com essa professora?
2- Fui falar com a professora dele na APAE, então foi o que ela passou, primeiro era um parquinho, todo aquele contato e
ele se retraia, eu não consigo explicar, foi uma coisa tão estranha, eu não sei se era por pena, eu não sei, não consigo te dizer
o que que dava assim, não só comigo, como eu acredito que com as outras pessoas também, eu fui indo devagarinho, fui
conversando, eu me dediquei mais a ele, uma dedicação exclusiva pra ele, atendendo as outras crianças, mas o tempo maior
pra ele, aquele contato, eu tocando nele e ele se retraia, ele se retrai, ele é uma criança muito assustada, não sei o que ele
passou la atrás... se você tosse, qualquer barulho ele se assusta, eu tocava nesse ele se assustava, ele rejeitava na verdade, e
daí fui indo, fui indo, fui conquistando e hoje o Eduardo, eu acho, não fica sem mim e eu sem ele, uma afetividade muito grande
que um adquiriu com o outro.
1- Como é que tu organiza o funcionamento da classe, no caso, do teu trabalho?
2- Assim ó, eu primeiro faço atendimento, por exemplo, eu só chego, a primeira coisa eu faço, largo o material e já faço
todas as visitas nos quartos.
1- Ah, tu vai direto nos quartos?
2- Vo direto nos quartos, quando as crianças são internadas, a enfermeira diz, ela já vai incentivando, já vai motivando
―Aqui vai ser legal, tem uma professora‖. Até outro dias eu tava conversando com a Verônica, é visado muito a questão do
desenho, questão da pintura, então eles não querem fazer outra coisa. Porque a Titia Preta, (incompreensível) disse ―Que aqui
a gente faz desenho‖,‖Que aqui a gente pinta, mesmo com crianças de a série, é bem complicado sabe, então eu o
vou ficar forçando a criança, não vou vim com uma atividade lá, por exemplo uma criança de 3ª série internada, eu não vou vim
com atividade, conteúdo da serie, (incompreensível) apra criança passar o tempo, né... não vo ta massacrando as
criaas com conteúdo.
1- E depois que tu passa pelos quartos?
2- Deles já vem, automaticamente aquela a criança que não esta no soro e a criança que quer fazer alguma coisa
diferente, eles já vem junto comigo, já levanta da caminha, coloca o chinelinho e já vem junto.
1- Tu não tem um horário determinado pra iniciar a atividade e terminar?
2- Não, não... porque eu chego... até 9 horas os médicos passam de visita, 11 horas é o almoço deles, então eu tenho
que começar as 9 horas, umas 8 e meia eu já to aqui... deu do uma de bobinha, e pergunto ―O médico passou?‖, ―Não‖,
então eu faço essa visita bem rapidinho, ―Depois a pro volta‖, eles me chamam de ―prô‖ e não de professora, nem pelo nome
também, lá na escola tem esse costume e eles não vão mudar né, também não quero fazer nada diferente, pra chega aqui e ta
exigido alguma coisa, ―Daqui a pouco a pro volta pra nois conversar‖, daí os médicos passam, fazem a visita, o Dr. Arnaldo é o
pediatra, as vezes ele demora pra passar, as vezes ele vai atender pimeiro lá embaixo no consultório, depois ele vem... quando
ele vem as crianças não tão no quarto, já tão aqui em atividade.
1- Daí elas precisam voltar pro quarto...?
2- Ai eles voltam pro quarto pro pediatra muda medicação, enfim, conversa com mãe, filho e médico.
1- Na verdade então tu fica com as crianças mais das 9 até as 11?
2- Das 9 ate as 11, assim rigoroso não é.
1- E depois que elas vão pro quarto...?
2- 11 horas já tem o almoço, daí uns não querem, querem continuar, daí é hora do almoço e as crianças já vão pro quarto
vão faze o almoço, daí 11 e meia até 2 horas que é, geralmente o pediatra retorna... daí eles permanecem no quarto.
1- E a tarde o que acontece? Ah! Daí tu já ta na tua escola né?
2- Deu já to na minha escola, até a (incompreensível) ta conversando, ela ate ia conversa com o secretario, da
possibilidade de ter um professor a tarde também, ate porque... eu até trabalhei, quando eu tava de licença, eu trabalhei uma
138
semana porque tinha muitas crianças, e as mães pediram, eram crianças com pneumonia que fica até uma semana, então a
primeira semana do recesso eu fiquei aqui.
1- Trabalhasse aqui. Tu ta fazendo algum curso pro teu aprimoramento, pro trabalho que tu ta desenvolvendo aqui no
hospital?
2- Não.
1- Tu lê alguma coisa sobre o trabalho dos pedagogosno hospital?
2- Na internet, eu busco na internet porque se tu for buscar çá na secretaria, pedi na GERED eles não têm e a pessoa
que é responsável pelo ensino tem pouco conhecimento de como funciona, como pode funcionar, enfim.
1- Tu já entrasse alguma vez em contato com essa pessoa responsável pela GERED?
2- Sempre converso.
1- Tu sempre conversa com ela, ela ta sempre te mandando material... não?
2- Não, a gente conversa sobre cobrança, de (incompreensível) esse tipo de coisa, ate nos nhamos uma capacitação
ali semana passada, aera dos ensino fundamental dos 9 anos, eu ate questionei bastante a pessoa que é responsável, e ela
disse ―Mas não tem nada, que que eu posso fazer‖.
1- Tu tens conhecimento que a classe hospitalar do Joana de Gusmão é responsável pelo desenvolvimento do trabalho
dos pedagogos no interior do estado, dentro do hospital?
2- Não.
1- Tu nunca entrasse em contato com o hospital de Florianópolis?
2- Não, eu até entrei na internet e tinha alguma coisa, um projeto do Joana de Gusmão, bem legal, eu achei bem... eu até
comentei com a Bernadete, ―Ah, a gente não recebe nada, não tem treinamento‖... eu disse, ―Pois é Bernadete, assim ó, é
muito fácil pegar uma pessoa jogar dentro da cova dos leões e depois ir lá da uma olhadinha pra ver o que restou, é bem fácil,
né‖... ela disse ―Pois é‖, a gente não tem conhecimento de nada e se melhorar projeto agora é lei... ate eu questionei bastante
a Simone, que é responsável pela secretaria estadual de Florianópolis, ela disse ―Vô te manda o material, vê se eu consigo
pra ti um computador, brinquedo que seja esterilizável‖, porque na verdade o material, eu não sei se é só aqui ou é em outros
também, na verdade o material, o brinquedo que a gente utiliza aqui, não poderia ser utilizado... porque ela me entregou, que é
uma lei federal... tem todo assim, não é um projeto, é um projeto de lei, onde diz assim ó, tu terminou a atividade, tu é obrigada
a esterilizar todo aquele material e guardar em local apropriado, aqui não tem nada disso, nem tem como, não são brinquedos
especiais que tu possa estar esterilizando, né... ela disse ―Vo manda alguns brinquedos esterilizáveis pra ti, vo manda pra ti um
material especial pra ti trabalhar com o Eduardo‖.
1- Isso mais ou menos no inicio do ano?
2- Março, abril.
1- E até agora ela não mandou nada, nem deu alguma satisfação?
2- Não, (incompreensível) ela disse eu ―Vo se eu consigo com a fundação, através da fundação pode ser que eu
consiga alguma coisa‖.
1- Sobre esse material que tu procura na internet, sobre o trabalho desenvolvido nos hospitais, tu lembra de algum
material que tenha te chamado atenção ou algum autor que tu tenha preferência, algum material que realmente tenha chamado
tua atenção?
2- Não, lá tinha assim, como vou te dizer... como era o funcionamento... tem um professor pedagogo... é uma equipe, né,
no caso é uma equipe... se tu seguir rigorosamente a lei, tem que ser assim... é claro que a gente não vai comparar o Joana de
Gusmão com o nosso aqui, lógico que não, mas o Joana de Gusmão tem uma equipe pedagógica onde tem o orientador, tem
o professor, tem o ajudante, tem direito ao estagiário, que ela aquela pessoa, enfim, que esteja ajudando, eles tem uma pessoa
da saúde, então eles tem uma equipe e aqui sou eu sozinha, abandonada.
1- Então nunca procurasse entrar em contato com eles lá?
2- Não.
1- Sempre o teu contato é com a GERED?
2- Com a GERED
1- Alguma outra classe tu já conheceu, tu já visitou algum outro hospital que tivesse?
2- Não, até pra mim foi novidade quando eles disseram que existia já há dois ou três anos, que existia classe hospitalar
eu não sabia.
1- Chegasse a conhecer a professora que atuava aqui?
139
2- A gente é ate colega, ela trabalha com educação infantil, a área dele é até outra. Não, a gente realmente não trocou
idéias, porque assim ó, todo mundo conhece todo mundo e como ela era ACT e perdeu a vaga, é complicado, mas no caso ela
perdeu e ficou sem, dveio essa lei, que tem que ser o professor efetivo e eu como sou efetiva 40 horas e eu queria só uma
sala, teria só uma turma, então 20 horas eu trabalharia em sala e 20 horas eu ficaria a disposição, então foi onde a secretaria
perguntou se eu queria atuar aqui.
1- Deixa eu te perguntar, antes essa professora tava aqui a quanto tempo, essa pedagoga?
2- Agora eu tenho que ver, mas eu acredito que desde, como é que eu vou te dizer, aqui era uma válvula de escape
política, como tem... no predio, presídio tem direto, hospital tem direito, enfim, essas duas vagas seriam uma válvula de
escape politicamente.
1- Tu mantem contato com alguma pedagoga que trabalha em hospital?
2- Não.
1- Quais são as áreas que tu procura quando tu vai... procurar um aprimoramento, alguma informação pra melhorar tua
prática aqui, qual é a área, mais da saúde, psicologia...?
2- Não, pedagogia mesmo.
1- Pedagógica. O que que tu considera importante pro curículo de pedagogia, pra universidade contemplar o trabalho de
um pedagogo que vai atuar no hospital?
2- Não só no hospital, mas aquele que vai, por exemplo... (pensando) vamos dizer assim, eu considero aqui uma classe
especial, porque ela aqui é...
1- É mais voltado pra inclusão, no caso então.
2- É, tem aquela parte voltada pra inclusão, mas tem aquela parte... que tu vais encontrar aqui de tudo.
1- Diversidade.
2- Diversidade, essa é a palavra. A diversidade, a inclusão, assim, é bem complicado sabe, o estado ta ali assim, vamos
dizer assim, quer inclusão, mas eles também não dão suporte pra essa inclusão, tem casos que... aqui também vamos dizer...
por exemplo, o Eduardo é uma pessoa que esta sendo incluso, porque eu tenho que da todo um relatório do Eduardo, tem que
o sistema sede da escola, ele consta no sistema, eu tenho que fazer todo um relatório, só que assim, nenhum professor ta
preparado pra trabalhar com inclusão, mesmo em sala de aula, que que é inclusão?, que que é inclusão pro estado? É
simplesmente pega e jogar a criança numa classe normal e sem mais e nem menos não trabalhar com o professor, o professor
não ta preparado pra trabalhar com inclusão.
1- Entendo.
2- Eu até te falo e se tu quiser passar nas escolas onde que tem o segundo professor, aonde eles tão trabalhando a
inclusão, eles vão te falar a dificuldade que é, lá tem a criança com síndrome de down alegre, tem aquela com múltiplas...
enfim...
1- E o professor não ta preparado pra esse trabalho em sala de aula.
2- Nem o professor regente e nem o segundo professor não esta preparado.
1- É uma situação difícil.
2- Muito difícil, muito difícil... ainda existem, ainda pra contemplar ainda existe o preconceito.
1- É bem complicado.
2- Muito complicado.
1- Pra finalizar agora a entrevista, eu queria te perguntar o que que tu pensa sobre a importância do teu trabalho aqui,
porque que é importante uma pedagoga no hospital e como é que o trabalho de uma pedagoga contribui com a criança
hospitalizada?
2- Eu vejo... eu vejo uma ansiedade muito grande, tanto na parte das mães, a maior parte que ficam são mães, as mães
elas chegam aqui ansiosas, primeiro porque assim, é bem desconfortável, por exemplo a noite, é complicado porque elas tem
que dormir, depois nos vamos passar no quarto você vai ver, sentadinha no sofazinho, então tão dormindo sentada, já é
um desconforto, no outro dia elas estão mortas, então elas dão graças a Deus quando te alguém vai lá e pegam a criança pelo
menos um momentinho de descanso, outras saem, deixam a criança com a gente, vão faze as voltas que tem que fazer, daí já
ta na hora de ir embora e a mãe não chegou ainda, é complicado... mas eu vejo uma importância muito grande e bem
considerável pelo seguinte, primeiro com a criança, é um momento que... eu não vo dize que a criança vai ta adquirindo
conhecimento porque não vai, o vai porque aqui é um lugar desapropriado pra elas, é um lugar desconhecido, um local
que se ganha injeção, como eles dizem, (incompreensível), já tem medo da injeção, então eu faço mais a parte artística, que
é desenho, do lúdico, os jogos, que é o domino, o quara-cabeça, o jogo da memória, já pra descontrair a criança pra não ficar
140
só naquele pesadelo, pra eles é um pesadelo, automaticamente eles vão se soltando, aqueles de já tão 3, 4 dias tão ―A pro
vai chegar, a pro vai chegar‖, já esperam porque eles saem do quarto e vem pra ca, tem a TV, hoje a gente não trabalha mais
com vídeo, é tudo DVD, eu até tenho, até poderia trazer, tenho notebook, até poderia ceder... mas é complicado fica alugando
DVD.
1- Como tu vê a contribuição do teu trabalho, mais voltado pra ludicidade, tu acha que contribui?
2- Contribui bastante.
1- Tu consegue perceber isso?
2- Ahan, as próprias mães percebem, eu vo dize assim ó, eu so meio desligadona nisso, eu quero é atender, não quero
deixar a criança ociosa, entende, mas depois no outro dia eu chego ―Ai pro, o via a hora pra pro chegar‖, então a gente
que o trabalho da gente ta sendo legal, ta fazendo uma diferença.
1- Certo, MARIANA, muito obrigada.
Transcrição Entrevista 06 Pedagoga: LUIZA Hospital H5
Data: 03/08/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- LUIZA, qual é a tua formação... tu é pedagoga né?
2- Sou.
1- Qual é o lugar da tua formação?
2- Unisul.
1- Unisul. É aqui de tubarão mesmo?
2- Isso.
1- Em que ano tu te formou?
2- 2002.
1- 2002. Unisul. Tu já trabalhou em algum lugar antes aqui do... antes dessa tua experiência do hospital?
2- Trabalhei três meses em uma sala de aula com 4ª série.
1- E qual é o tempo do teu trabalho no magistério, tempo total? Foi esses teus três meses, foi...?
2- Eu entrei aqui em julho de 2006. 2006, 2007, 2008, 2009, vai fazer três anos agora em 2009.
1- Isso. Me conta como é que tu veio trabalhar aqui no hospital.
2- Então, eu entrei na prefeitura que eu sou ACT, ai elas ligaram pra mim, que eu era a próxima a ser chamada da lista e
me fizeram o convite pra trabalhar com classe hospitalar, eu não sabia, não tinha experiência nenhuma, não conhecia o
projeto nada, ai como tudo que é experiência nova eu gosto de ver, de ver...
1- Desafio.
2- Desafio, aí eu aceitei e comecei a trabalhar aqui. A princípio bastante perdida, mas depois fui me inturmando, porque o
atendimento aqui ele é muito diversificado, tu visse né... tem desde o pequeninho ate o grandão... até serie, né. Então
agente tem que ser bem flexível assim, pra todas as idades.
1- Hoje tu continua como ACT?
2- Continuo como ACT.
1- Do município né?
2- Do município.
1- Sabrina eu queria que tu relatasse pra mim qual é o teu trabalho aqui.
2- Ta, então assim... eu chego convido as crianças, vou nos quartos e convido as criaas pra vim ta participando de
alguma atividade que eu venha a propor pra elas.
1- Tu vai direto nos quartos?
2- Vo, eu chego abro, arejo bem a sala e vou ate os quartos pra convidar as crianças pra virem até aqui, mas tem que ser
convite, peço claro pra mãe ta autorizando, porque as vezes elas se sentem meio retraídas, com medo, não sabem como
funciona, ah porque ta com sono, dão 1.500 justificativas, mas eu a convenço e ele vem aqui, então assim, eu pergunto
sempre a idade, que série que esta, se é particular qual é a escola, eu faço todo um questionamento antes de dar qualquer tipo
de atividade, como a gente trabalha com o estado e com o município, eu sei o que que o município ta trabalhando e sei o que
141
estado ta trabalhando, o que a escola particular ta trabalhando eu nunca sei, mas então eu procuro dar uma continuidade
assim, tão trabalhando, por exemplo, na área da matemática divisão, então eu do alguma coisa em seguida, sempre jogos,
sempre atividades lúdicas, assim alguma atividade móvel, não tem... porque....
1- Aquele conteúdo que ta sendo trabalhado no colégio de uma forma lúdica.
2- De uma outra forma, de uma forma lúdica, porque muitas vezes não podem escrever, ou porque não sabem ainda
escrever, ou por causa do soro, então tem limitações e então eu trabalho conforme a limitação destas crianças, ta... e tudo aqui
é cronometrado. Eu deixo brincar 40 minutos no vídeo game pros maiores, ou até pros menores.
1- Tu tens vídeo game?
2- Eu tenho vídeo game, eu tenho computador, eu também limito o computador e limito a atividade comigo individual, às
vezes assim, por exemplo, ensino mesmo em si, ensino a fazer uma divisão uma multiplicação, na língua portuguesa, dou uma
atividade assim... tudo limitadinho porque chegam aqui...
1- Tu tens uma programação diária, tu segue, como tu falou limitado?
2- Não, eu não sigo uma... eu sigo uma programação diária, eu, eu com eles, mas não de material, porque o que ta hoje
não vai ta amanha, então a criança que ta hoje dificilmente vai ta aqui amanha, então a de amanha é outra coisa que eu vou
ter que dar.
1- Tens uma média de permanência das crianças que ficam hospitalizadas aqui?
2- É assim, três dias no máximo.
1- Três dias.
2- Ts dias no máximo (ênfase), tem casos, teve casos de meses, mas esses de meses o próprio médico fala com a
gente e pede pra gente não...
1- Não atuar.
2- Não porque...
1- Hospitalizações mais longas você não atua?
2- É... assim... depende do que a criança tem, neurológico eles não deixam, agora quando tem uma perna quebrada, a
gente teve, então eles ate pedem pra gente ta fazendo alguma coisa, ai o que acontece, o contato com a escola da criança, e
no contato a gente é barrado.
1- É mesmo?
2- É. Muito, muito, muito poucos os casos, por exemplo assim ó, que já não é mais da nossa sede aqui GEREI, GERED,
que eu sempre me confundo o nome, esses casos é Garopaba, Imbituba, Araranguá, Sombrio, Torres, que a e vai trazer
atestado, a escola já ta providenciando, elas não assim olho... eu posso falar com a professora, eu posso falar...
(interferência)
2- Eu chego a fechar, coloca uma plaquinha e ir no quarto, ficar no quarto com a criança sozinha pra poder ajudar, e por a
mãe, a pedido da mãe, que a mãe diz assim ó, ―Eu sei o que ela ta trabalhando, a professora ta trabalhando isso aqui ó‖, que
pegou com a colega dela.
1- Então tu não deixa de atender?
2- Não. Por causa desse contato? Não, por mais que assim lá elas falem ―Ela trabalhou errado‖, não sei se isso acontece,
não sei se isso acontece, porque isso nunca chegou ate nós, então assim... mas não deixo a criança sem atendimento, a
nossa prioridade aqui, nem que seja pra dar um brinquedinho porque ela não ta com vontade de escrever, ela não ta com
vontade de aprender, e tudo aqui é limito por causa do barulho, eu não consigo conversar contigo, te explicar alguma coisa
com um monte de gente brincando. Então assim, eu procuro cuidar bem do tempo pra cada...
1- Tu meio que prioriza o atendimento individual?
2- Sim, de a série, porque a minha formação é de a 4ª série, eu não tenho formação pra educação infantil e a
procura maior aqui é educação infantil, então quando tem uma de a 4ª série eu procuro ficar com essa, ajudar mais essa, eu
acho que a educação infantil ainda tem tanta coisa pela frente...
1- Além do atendimento as crianças e todo o trabalho que tu faz, tu faz mais alguma atividade, mais algum trabalho aqui,
mais algum...?
2- Não, eu só fico aqui com eles esse tempo. É isso que tu que sabe?
1- Isso.
2- Aí tem o atendimento ao leito, tem aqui na sala, tem individual, tem em conjunto.
1- E os relatórios são feitos (incompreensível)?
2- Não, aí eu e a Kátia.
142
1- Ah, vocês duas...
2- Sentamos e fazemos juntas o relatório.
1- Vocês tem um momento em que vocês fazem isso?
2- Não tínhamos, mas a gente pegou, conversou com a Teia, vimos a necessidade e estamos vendo toda ultima sexta-
feira do mês, a gente se senta e planeja, alguma atividade diferente, alguma coisa diferente, né...
1- E vocês trabalham em conjunto, vocês duas?
2- Trabalhamos em conjunto, trabalhamos em conjunto... o que ela deu de manhã ela sempre me avisa, ela sempre me
avisa... mas assim também, é porque eles tão aqui hospitalizados, eles não tem vontade muito de estudar, é pouco, tem uns
que tu chega e pedem, ―Pro, não tem uma atividade?
1- O que eles tem pedem mais?
2- Jogos, brinquedo, quebra cabaça, o computador, o olhinho brilha não tem, então eles querem mais isso, mas a gente
diz ―Tu vai ter uma oportunidade, mas nos vamos primeiro fazer uma atividade, pode ser?‖ a gente senta e pergunta, aquele
que diz ―Não, eu não quero‖, eu também não insisto, porque ele já ta aqui debilitado, ele já não ta bem e eu ainda fica...
1- Refoando... Aqui tu trabalha com todas as series?
2- Todas, da educação infantil ate a serie atendi aqui, claro que o mais específico seria de a 4ª, de a eu
trabalho o inicio, porque daí a Kátia, nós não temos internet aqui, mas a Kátia ela tem um chip da Claro, ai eu coloco, ai por
exemplo ele ta fazendo alguma atividade na escola, eu pergunto, Vãos pesquisa?‖, daí eu pesquiso junto com ele, porque eu
também não deixo eles usarem, porque daí eles vão pra jogos, sites que não podem, né, daí eu junto com eles, os maiores.
1- E as crianças de 0 a 6 anos, vocês atendem também?
2- Atende.
1- Quais são as atividades que vocês fazem?
2- D eu do assim, lego, brincam com lego, brincam com alfabeto móvel, que eu tenho de borracha e de madeira,
quebra-cabeça, contação de história, eu conto muito historinha, reúno umas quatro, cinco e conto, boto um chapéu, boto um
óculos, faço uma...
1- E as mães sempre tão junto?
2- Sim, eu... nós até colocamos aquele bilhetinho, aquelas norminhas ali, porque o que tava acontecendo, vinha criança
mais a mãe e assim vinha, assim vinha e quando eu via tava com 20 pessoas aqui dento da sala, não tinha mais lugar pra
criaa senta porque a mãe tava sentada, então a gente procuro limita assim, menores de cinco aninhos a mãe acompanha,
até porque por lei educação infantil tem que ter dois profissionais a cada tanto número de criança dentro da sala e teve
situações de num piscar de olho e enfiar um legozinho pequenininho no nariz, no ouvido, então já teve essas situações aqui,
então eu peço pra mãe fica junto comigo, né, nessas situações.
(interferência incompreensível)
2- Eu só tenho lego pequenininho que é aquele (mostra), quando eu vejo que o pequenininho ta indo em direção, eu
disfarço, tiro e guardo lá dentro.
1- Deixa eu só perguntar.
(interferência incompreensível)
1- Todas as crianças que internam tu atende, todas elas?
2- Nem todas, bebezinho de colo a gente não atende, a gente assim um aninho e meio, dois aninhos, que já caminha,
não tem essa... quando é muito pequeninho que vem só pra bagunçar, tem muitos que entram, que aprendem a andar, foge
da mãe, vem aqui e bagunça tudo a mesa, esse eu peço pra chamar a mãe e tirar da salinha.
1- Aqui é brinquedoteca também? Ou tem uma sala de brinquedoteca?
2- Não, aqui também é brinquedoteca porque a gente também tem brinquedos, daí a gente também...
1- Certo. Como é que tu, tu tens uma variedade de idades e de crianças que vem... como tu comentasse que vem de
vários municípios aqui perto.
2- Sim.
1- Como é que tu lida com essa variedade de conteúdos, já que tu acompanha o conteúdo escolar deles, desses outros
municípios?
2- A atividade e conteúdo pra mim é sempre as mesmas, sempre as mesmas coisas eu tenho ali, mesmas coisas que eu
digo a gente sempre muda, só que depende de cada um, às vezes eu do um material pra uma criança lá do interior e dou pra
uma daqui e é até, aquela lá ta mais adianta do que esse, só que aquela lá não compreende como compreende essa.
1- E tu te sente preparada pra lidar com essa diversidade de conteúdo?
143
2- Sinto porque assim ó, se eu não sei, eu vo atrás pra mim aprende, eu vo, eu pergunto pra Kátia, eu ligo pra Téia, eu
pesquiso na internet, eu procuro lê.
1- A Kátia é a que trabalha a tarde?
2- A professora da manha.
1- Tu que trabalhas a tarde.
2- Eu sou a professora da tarde
1- Entendi.
(interferência incompreensível)
2- Eu procuro ir atrás pra mim...
1- Tenta sanar essa tua necessidade
2- Eu vo ser bem sincera, eu tenho dificuldade, tem coisas que eu não lembro mais, que eu tive que aprender, por
exemplo expressão numérica da 4ª série, veio um aqui e pediu pra mim ajudar, eu olhei, eu olhava aquilo ali, gente eu não
lembro mais, eu não lembro mais, mas deixa que deu vejo quanto tempo a criança vai ficar, eu fui atrás eu peguei livros que
a gente tem aqui, mas nem assim eu consegui fazer, cheguei em casa, minha irmã é formada em matemática, biologia e
ciências, ela me ajudou, a minha mãe também é professora me ajudou um pouco e vai, porque tem muita coisa que a
gente não lembra, né.
1- No teu caso a GERED então sempre ta disponível? Quando tu procura?
2- Sim, sempre... muito mais que a prefeitura que não me ajudam em nada, eles não me ligam nem pra dizer assim, ta
tendo um curso, a minha mãe trabalha dentro a secretaria de educão no planejamento, é a única pessoa que mais assim ó,
ah nos tamos vendo um curso de língua portuguesa contação de historia, (interferência incompreensível) mesmo sendo da
prefeitura, eu só sigo o calendário da prefeitura assim ó, recesso escolar, quando começa as aulas, quando termina as aulas e
no pagamento, é a única coisa que a prefeitura me dá.
1- E tu segue aqui no hospital, tu segue o mesmo calendário da escola...?
2- Da prefeitura.
1- Da prefeitura, da rede municipal.
2- Da rede municipal, por exemplo, o (incompreensível) tem duas semanas de férias, de recesso escolar, eu só tenho
uma.
1- E esses planejamento, você e a Kátia fazem sozinhas, nem a Teia não participa?
2- Sozinhas, não, a gente repassa pra ela.
1- Ah! Você repassa pra ela.
2- Tudo é repassado.
1- E ela da algum retorno quanto a esses planejamentos?
2- Dá, pede pra arrumar, pede pra acrescentar, pede pra tirar, dá sim. A gente tem uma base bem boa assim, ali, na...
pelo estado, porque pela prefeitura...
1- E tu nomeia esse trabalho que vocês fazem aqui como classe hospitalar?
2- Classe hospitalar, classe hospitalar, todo mundo me pergunta e eu digo classe hospitalar, o hospital tem muita assim...
brinquedoteca, brinquedoteca, eles usam muito brinquedoteca, volta e meia eu to dando entrevista pros jornais da região,
brinquedoteca, não é brinquedoteca, é classe hospitalar (ênfase), eu sempre peço pra corrigir e eles ainda assim falam no
jornal.
1- Ainda assim vai brinquedoteca, até por desconhecimento.
(interferência incompreensível)
2- Boa, muito boa, tudo que eu preciso eu falo com ela, um pessoal bem assim... o que acontece muito, que eu tinha
dificuldade no período da manha, é que no período da manha tem fisioterapia, tem atendimento medico, medicação, então
assim o...
1- Interrompe muito o teu trabalho...
2- Interrompia muito, muito, pela manha, agora eu mudei de horário eu to a tarde, a tarde é melhor, a tarde é só a
medicação, não tem atendimento de fisio, não tem atendimento de psicólogo, não tem atendimento medico, só...
1- E... chega a interromper mesmo a atividade, acaba a atividade ou depois retoma?
2- Interrompe. Muitos não voltam, muitos não voltam... muitos não voltam o por vontade da criança, mas porque a mãe
não que que volte, eu sinto muita, eu não sei que termo que eu posso usar pra ti, da mãe que ela que ficar sentada vendo a
novela, né...
144
1- E a criança ali do lado...
2- Do lado dela e ela não que... ―Mãe pode deixar ele é grandinho, qualquer coisa‖... ―Não ele vai ficar aqui, ele não que,
ele não que‖, ―Mãe eu quero ir, mãe eu quero ir‖, não tem, tu vê assim que não...
1- Qual é a média de atendimento de crianças diárias, a media diária?
2- Média diária... quatro por período, média quatro.
1- Quatro no período da manha e quatro no período da tarde?
2- É, por período.
(interferência incompreensível)
1- As mesmas crianças.
2- É, quase sempre as mesmas crianças.
(interferência incompreensível)
1- Isso depois a gente vai ver lá.
2- Eu tinha esse dado.
1- LUIZA, eu queria que tu comentasse comigo quais são as características pessoais que contribuem pro teu trabalho
aqui na classe?
2- Pessoal?
1- É.
2- Estar bem emocionalmente pra mim é o principal, porque quando eu comecei aqui eu saia chorando daqui de dentro,
porque tu assim situações que não tem volta, não tem?... outra característica, esperança, tenho muito esperança sempre
que eu venho aqui, não tem... sempre que eu venho aqui eu tenho esperança de que eu vou encontrar aquela que tava
ruinzinha melhor, pra poder me ajudar e eu ajudar ela, no caso na atividade, eu acho que outra característica é ser carinhosa,
ser afetiva, tem que saber conversar, saber lidar e a gente já teve uma profissional aqui que brigava.
1- Ah é mesmo?
2- Já, assim da criança ta com uma cadeirinha na mão e a criança puxando e ela puxando... a criança puxando e ela
puxando...
1- É sério? Mais criança...
2- Pode levar pra rua, não pode levar, não pode levar... ser acessível, ser acessível, eu acho também que é uma
característica...
1- Essas tu tem e contribuem pro teu trabalho aqui?
2- Sim, eu acho que sim, acho que isso dé um conjunto que chega a ser um pouco mais importante que o pedagógico
em si, por causa da criança que ta debilitada e doente, a gente ta num espaço, trabalhando com crianças debilitadas, nesse
sentido eu quero dizer que esse conjunto ai precisa, a gente precisa ta super bem.
1- Certo. E a tua formão contribuiu de que forma pra tua atuação aqui no hospital?
2- Olha eu vo te ser bem sincera, nada! Na minha graduação todinha eu não ouvi falar em classe hospitalar, eu o
imaginava que isso existia, também quando eu comecei... quando eu me formei é que caiu a classe hospitalar, eu me formei
em 2002 e a classe hospitalar começou em 2002, então nesse tempo né... agora sim, com a troca de currículo, porque eu
trabalho na universidade, então eu sei, na troca de currículo aparece já sobre a classe hospitalar, já tem trabalhos feitos da
classe hospitalar, mas até então...
1- Essa tua formação que é de séries iniciais, então não contribuiu pra atuação aqui?
2- Não, não, trabalhava assim ó, a criança especial, isso trabalhava muito, inclusive a gente foi varias vezes visita
aquela... lá em Florianópolis, que tem ali em São José, trabalha... visita, isso sim, agora classe hospitalar não.
1- Quais são os saberes fundamentais pra uma pessoa, pra uma pedagoga que atua no hospital, no teu ponto de vista?
2- Saberes? E agora?
(interferência incompreensível)
2- Saberes, como é que eu posso te dizer assim... primeiro sabe lecionar, eu acho que isso tem que saber, saber lidar
com criança, também acho que é preciso né, saber lecionar, saber lidar com criança, entender e compreender pra poder
repassar, eu acho que isso é o saber ensinar, acho que é isso. Agora pra te dizer de imediato não...
1- Eu queria que tu me contasse se tu tais fazendo algum curso agora, neste momento, pro teu aprimoramento pra
atuação aqui no hospital?
2- Não.
1- Tu já fizesse, tu tens algum curso de pós-graduação?
145
2- Tenho.
1- É. Qual é a tua pós?
2- Sistemas epistemológicos de educação infantil e ensino fundamental.
1- Ah tá.
2- É mais histórico né, a história da criança,...
1- Qual é a, como é que tu nomeia essa tua pós-graduação, é pós-graduada em?
2- Educação infantil e séries inicias, ai agora mudou toda a nomenclatura né, então... é ate o ensino de 4ª série, da
educação infantil até a 4ª série, mas eu...
1- Esse foi teu último curso assim...?
2- Não, aí eu fiz curso de colagem, fiz curso de recorte, eu fiz curso de formação pedagógica, né...
1- Da rede municipal?
2- Da rede municipal, em 2007, né, eu faço assim... eu assisti palestras, uma palestras de classe hospitalar que teve na
Unisul, no começo do ano passado, veio um pessoal lá de Florianópolis, lá do Joana.
(interferência incompreensível)
2- Explica como acontecia
(interferência incompreensível)
2- Isso, com a Sumara.
1- Esse curso foi o último, em 2007.
2- Sobre classe hospitalar sim.
(interferência incompreensível)
1- Especificamente pra tua atuação aqui no hospital então, tem pouco disponibilidade?
2- Tem, pouca disponibilidade.
1- Tu lê sobre o papel do pedagogo nos hospitais?
2- Leio assim, o material que a Téia vai recebendo e a gente da uma lidinha assim...
1- Pelo que eu percebi, é mais legislação?
2- É... mais legislação assim ó, a atuação em si muito pouco, a atuação... só o que o Joana faz, né, a gente acompanha
assim...
1- No site.
2- No site e por materiais que eu acho que tem uma comunicação com a Teia, não sei... mandam o material de vez em
quando pra ela e a gente lê, ela sempre que tem... que eles mandam convite e ela manda pra nós, só que o problema é que é
durante a semana, a Kátia trabalha na escola, eu trabalho no município, daí a gente não pode é complicado.
1- Tu já visitou alguma outra classe?
2- Não
1- Nenhuma?
2- Não, sou curiosa.
1- Tu não mantem nenhum contato com nenhuma outra professora que não seja a Kátia, que atua em hospital?
2- Não tenho contato e assim...
(interferência incompreensível)
1- LUIZA, quais são as áreas que tu procura quando tu vai tentar algum material pro teu aprimoramento do teu trabalho
aqui, quais são as áreas que tu procura, tu procura mais educação, psicologia, lúdico?
2- Educação lúdica.
1- Educação lúdica?
2- Educação dica principalmente por causa da situação aqui do soro, do o poder mexer com a de escrever, então a
gente trabalha muito com jogos, assim, muitos jogos, bastante jogos, a gente trabalha com bastante jogos e eu fico bastante
contente quando tem uma criança de cinco, seis aninhos que nunca foi pra escola, saber diferenciar cores, tamanhos, formas,
fico contente em contribuir com a criança, ―Que que é isso aqui, é uma bola, um quadrado, um retângulo, que cor que é isso
aqui?‖ ―Bota a mão‖, eu faço assim, a minha mãe ela é professora de educação infantil, então eu procuro, pego muito material
com ela e vejo muito a forma que ela trabalha e ela tem quase 30 anos de sala de aula, mas ela me ajuda muito... me ajuda
muito, quando ela planeja, quando ela faz o planejamento pra ela, ela diz ―Vem cá me ajudar a planejar‖, eu aprendo muito
com ela.
146
1- Com essa experiência que tu tem aqui no hospital, eu queria saber o que que tu acha importante pro currículo de
pedagogia contribuir pra formação do pedagogo aqui no hospital?
2- Vivência, eu acho que...
1- Oportunizar a vivência?
2- Oportunizar a vivência, porque eu acho que não... eles trabalham lá no currículo, quando tu ta em sala de aula lá, eles
trabalham muito educação especial, a inclusão, eles trabalham muito isso, eles trabalham a tua formação nas disciplinas, eles
também trabalham muito isso... metodologias, só que a vivência, a prática não se tem, tem o estágio pra da aula em sala de
aula, por que não um estágio aqui, por que não um acompanhamento aqui, se tem acompanhamento na APAE, com o
especial, por que que também não pode ter aqui?
1- Agora pra finalizar eu queria que tu me falasse sobre o que tu pensa da importância do teu trabalho aqui? Por que que
é importante ter um pedagogo no hospital?
2- Pra fazer a ponte escola - hospital, eu acho que isso é importante...
1- Mas pelo que tu comentou não acontece, né?
2- Não acontece lá, na escola elas não aceitam, não tem aceitação delas, mas tem nossa e a gente tenta fazer isso, a
gente... não querendo saber o que que elas vão falar depois, a gente faz isso...
1- É importante...
2- A gente acha importante, porque quando o aluno sai daqui e volta pra lá, ele não vai voltar perdido... ―Eu aprendi isso
lá, é mesmo, a professora me deu isso lá‖
(interferência incompreensível)
2- O contato telefônico é eu na minha casa, eu que ligo da minha casa, porque aqui eu não posso ligar, porque eu não
posso usar o telefone.
(interferência incompreensível)
2- Não, de jeito nenhum... em casa é que eu falo isso.
1- Então fala mais um pouquinho...
2- Eu faço pela preocupação que eu tenho.
1- Me fala mais um pouquinho da importância, além dessa comunicação entre o hospital e a escola regular. A importância
de ter um pedagogo dentro do hospital.
2- Ah ta, sim. Primeiro a ajuda na melhora da criança, eu vejo que ajuda na melhora da criança, o paciente às vezes
quanto ta no quarto, la murchinho que a gente chama pra brincar um pouquinho, um alivio, já muda, pra ele e pra saúde
dele e pro aprendizado dele, porque aqui ele ta sempre aprendendo alguma coisinha, lendo livro, te escutando, pintando,
fazendo uma atividade, então pra ele e pra mim poder ta ajudando ele.
1- Entendo. Eu deixei de te perguntar alguma coisa que tu gostaria de falar, sobre o teu trabalho que tu faz aqui, sobre...?
2- A única coisa que eu acho ruim é esse contato de não aceitação e também muitos pais também não aceitam.
1- Essa resistência tanto da escola regular quanto da família.
2- Isso é o que mais assim... eu me queixo, o que eu mais me queixo, tanto é que eu pergunto ―Kátia, contigo também de
manha acontece isso?‖.
1- E ela ralata que?
2- Aquela criança também, ela que vem aqui, as vezes vem aqui, vem e impõe as coisas pra nós, não tem, sabe aquela
criaa assim chata, que diz assim ―Eu não vo fazer isso, eu vo fazer aquilo lá porque tu vais me deixa.‖
1- E como é que tu age?
2- Então tá, tu vai fazer assim, tu vai fazer o que tu quer agora, mas depois tu faz o que eu... ―Ah, eu vo pensa‖, eu
conversando, conversando e a gente convence, trocar, eles querem levar muita coisa pro quarto e a mãe leva, a mãe ela não
que sabe, ela não liga se eu to deixando ou não deixo. Vamo troca? Eu te dou um desenho e tu troca por esse?‖, delas
ficam me olhando, não tem, assim... ―Deixa ele levar, que que tem ele levar?‖, não tem, d tem que explicar Mãe, esse
brinquedo teu filho ta brincando agora, mas outras crianças vão vir brincar depois‖, e tal, já me carregaram muitas aqui dentro.
1- É difícil ter um controle, né? Obrigada LUIZA...
147
Transcrição Entrevista 07- Pedagoga: RENATA - Hospital: H6
Data: 11/08/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- RENATA, qual é o nome da pessoa responsável pelo trabalho, aqui do... do que tu faz aqui no hospital, quem é a
pessoa responsável, é você ou você responde pra mais alguém?
2- Não, aqui nós temos um vínculo com uma escola.
1- Ah! Certo.
2- Então eu trabalho, que nem diz, de estudos, sede, a minha diretora, o material didático...
1- É sempre essa escola?
2- É escola referência.
1- Vinculada aqui...
2- Isso, a classe hospitalar.
1- E é uma escola estadual?
2- É uma escola estadual.
1- Tu é pedagoga?
2- Sim.
1- Tu te formasse quando?
2- Eu me formei em 2003.
1- 2003. Qual foi a instituição que tu te formou?
2- UNOCHAPECÓ.
1- UNO?
2- Ahan, UNOCHAPECÓ, a universidade aqui.
1- Foi à distância, presencial?
2- Ó, pra dizer a verdade eu fiz as duas, porque era assim ó, eu fazia... não à distância não, era presencial. Porque a
gente fazia algumas disciplinas nas férias.
1- Eu acho que é aquele curso que eles chamam como emergencial, que eles pegam algum feriado, tem um prazo mais
estendido.
2- Isso, daí eu fazia algumas disciplinas nas férias e algumas disciplinas eu fazia no currículo normal a noite.
1- Entendi. Foi aqui em Chapecó mesmo?
2- Aqui em Chapecó.
1- Antes de trabalhar aqui no hospital, tu trabalhava no quê? Tu já tinha alguma...?
2- Eu trabalhava, sou professora efetiva no estado já vinte e seis anos, eu trabalhava numa escola estadual, uma
escola básica né.
1- Tu tinhas turmas?
2- Tinha turma.
1- É, de que série?
2- Series iniciais e educação infantil.
1- Não era sempre a mesma turma, tu variava assim?
2- Trabalhei muitos anos em educação infantil, mas eu trabalhei também em séries iniciais em alguns anos... porque
tanto tempo né.
1- E tu tens algum curso de pós-graduação?
2- Tenho.
1- Em educão especial que tu tinhas comentado?
2- Não, eu tenho em interdisciplinaridade, a minha pós.
1- Interdisciplinaridade. Quando que tu fez essa pós?
2- Eu me formei em 2003, em 2004, logo eu fiz.
1- Uhum.
2- Eu sou aquela professora, sabe, que tinha só magistério, dai a gente tinha prazo até 2010 pra ta se habilitando, né.
148
1- Aí tu fosse buscar essas formações?
2- É.
1- Como que tu chego aqui no hospital? Como tu veio parar aqui?
2- Pra te dizer a verdade eu fui convidada.
1- Fosse convidada?
2- Foi convidade.
1- Por quem?
2- Pela secretaria de educação, uma colega que trabalha lá que é responsável, né.
1- Uhum. Tu foste convidada pra substituir alguém que já trabalhava aqui, tu tavas comentando, né?
2- Não seria pra substituir, seria pra assumir, porque quem estava aqui era uma admitida, né, ela tava trabalhando aqui
já, mas como ela é admitida e a exigência do governo é colocar uma professora efetiva...
1- Efetiva do estado...
2- É, daí ela foi pra escola.
1- Isso foi agora em fevereiro, né?
2- Foi agora em fevereiro.
1- Certo, a classe aqui funciona desde 2003, tu tava comentando, né?
2- Isso.
1- Então desde 2003, era essa professora que tava atuando aqui?
2- Não, passou três professoras aqui.
1- Três professoras, todas elas foram ACT´s?
2- Todas foram ACT, ahan... essa que tava, ela ficou dois anos.
1- Ela que ficou mais tempo?
2- Ela que ficou mais tempo, ahan.
1- Então tu ta aqui no hospital desde fevereiro... março, abril, maio, junho, julho, agosto, seis meses.
2- Seis meses, uhum.
1- Eu queria que tu me contasse qual é o teu trabalho aqui, que que tu faz?
2- Que que eu faço aqui... então é assim ó, eu tenho essa escola como referencia né, e... essa escola trabalha com
projetos ta, então eu peguei o projeto que a escola ta trabalhando, que é o meio ambiente né, cidadania, ai com esse projeto
daí, em cima desse projeto eu fiz o que a classe hospitalar poderia ta trabalhando em termos de conteúdos, em cima desse
projeto, deu fiz o meu planejamento assim, né... então, além desse projeto, né... eu trabalho assim alguns conteúdos com as
criaas de idade escolar né.
1- Certo.
2- Então as crianças vêm pra cá, ai eu trabalho sobre esses projetos sobre o meio ambiente e alguns conteúdos básicos,
sabe, como matemática, português, interpretação de texto e também o lúdico né... e eu vi porque eu entrei aqui e fui
descobrindo... o lúdico é mais cativante pras crianças, sabe, então assim, até eu adquiri jogos educativos, com eles ,
então as vezes assim, mais essa diversão deles vir aqui, de trazer o pai e a mãe junto, daí eu faço eles jogar com o pai e a
mãe, até teve uma fala de um pai assim ―Bá profe, precisei que vim no hospital pra pode sentar com o meu filho‖.
1- Pra poder brincar com o próprio filho, veja só.
2- Eu faço assim trabalhos de arte sabe, então as vezes eu consigo trabalhar, né, com criança que fica mais tempo, mas
as vezes não consegue, depende da situação deles.
1- Qual é a media de permanecia de internação aqui, quanto tempo mais ou menos eles permanecem hospitalizados?
2- É bem variado, então eu tenho aqueles que fica dois dia, que é de fratura, outro que são, que fazem aquela cirurgia da
garganta e adenóide, também é só dois dia, né e ai eu tenho esses que ficam uma semana, dez dia, tem também quem fica
vinte dias, atendi, já dei atestado de freqüência pra escolhinha, que fica vinte dias, né.
1- E como é que tu faz com essas crianças que ficam tão pouco tempo, tu consegue seguir o planejamento, no caso o
projeto que tu ta trabalhando, tentando vincular com a escola regular, tu consegue trabalhar com as crianças que ficam só dois
dias?
2- Às vezes eu até eu consigo porque assim o, eu pego, que nem assim o projeto, eu pego um tema do projeto, sabe, eu
pego uma atividade, daí a gente comenta aquela atividade e ele faz aquela atividade.
1- Tu tens como me dar um exemplo assim do que tu ta fazendo agora, no momento de uma dessas atividades?
2- Dessas atividades do projeto?
149
1- É. Como seria se a gente tivesse aqui uma criança do... como é tu ia fazer, tu ta seguindo o projeto do colégio, né?
2- Isso, não só o projeto, a gente faz as atividades... eu fico o dia inteiro com eles né.
1- Certo.
(se afastou)
2- Ó, além do projeto também eu trabalho datas, né.
1- Certo... dia dos pais...
2- Daí aqui o, sobre o meio ambiente, então eu dei uma atividade, ele que tinha que descobrir onde que tavam os animais
da natureza e a gente falou sobre a extinção de animais.
1- Interessante.
2- Sabe, então eu trabalhei sobre a extinção de animais e depois eu pedi pra ela falar alguma coisa sobre esse
trabalho que a gente fez né.
1- Certo. E depois isso tu encaminha pra escola de origem?
2- Sim, deu faço assim ó, eu guardo todo esse material... também a gente fez um trabalho, dependendo da série, da
idade também, né, a gente fez ó, o texto pra eles e no final do ano eu vo faze um relatório disso aqui.
1- Ah tá, no fim do ano?
2- No fim do ano, guardo, vo guardando.
1- As atividades que tu faz durante o ano todo e dessa criança que foi pra escola regular, que voltou pra escola... ela
recebeu alta e voltou pro colégio, tu manda pra esse colégio um relatório com o que ela fez aqui?
2- Isso, ahan.
1- Tu consegue fazer isso com todas que tu atende aqui?
2- Não, eu do mais um atestado de freência, sabe.
1- Esse atestado de frequência é carimbado pela escola que tu é vinculada no caso?
2- É isso, pela escola e tem um carimbo da classe hospitalar.
1- Ah você tem o carimbo!
2- Tenho o carimbo da classe hospitalar, daí eu coloco o carimbo né e daí a gente...
1- Tu encaminha depois, depois que tu carimba isso, tu encaminha direto pra escola regular ou tu encaminha pra tua
escola...?
2- Pra minha escola não, a minha escola, o que a minha escola que é isso aqui ó, que eu tenho anotado, por enquanto,
até o final do ano, eu anoto todo dia ó, (mostrou) dia por dia as crianças que eu atendo, ó dia por dia, daí na minha escola eu
tenho que ir lá com esse caderninho e ela coloca no computador, que é o MEC que pede quantas crianças a gente atendeu.
1- Certo. Como tu tem registrado aqui, no dia nove de junho... vamos dizer o João, só que ele ficou internado até o dia
quinze, então tu, entre o dia nove e o dia quinze, todos os dias ele ta sendo registrado.
2- Ahan.
1- Então tu ta tendo o acompanhamento dele todos os dias aqui.
2- Certo, e isso fui eu que criei, sabia? Porque eu chegava aqui e isso aqui... não tem uma chamada, não tem nada.
1- É o teu registro, é a forma que tu tem...
2- É o meu registro por dia, daí eu tenho anotado por dia quem eu atendi né, o que tem aqui na classe hospitalar é um
relatório de final de ano, daí esse relatório ele consta, daí assim ó, quantos que foram atendidos...
1- Mais números.
2- Mais números, isso.
1- Deixa eu te perguntar RENATA, aqui tu trabalha com todas as séries?
2- Todas, de três anos na educação infantil, series iniciais até.... até 8ª série, ensino médio a classe hospitalar não é
obrigatório atender, tanto é que ensino médio nem vem mais aqui em cima na pediatria.
1- Ah ta, já não vem mais aqui.
2- Já não vem mais aqui, porque eles passam da idade né e a própria, regimento da classe hospitalar é educação infantil
e ensino fundamental, o ensino médio não conta.
1- E as crianças de zero a seis anos tu atende também?
2- Daí é uma opção minha, não é minha obrigação.
1- Ah é?
2- É, eu atendo de três anos pra cima, a partir da educação infantil, mas claro se a sala não tem muita gente, daí eles
vem aqui também, conto historia de fantoches...
150
1- Mas não é tão comum então?
2- Mas não registro o nomezinho deles.
1- Então não é tão comum tu atender essas crianças de zero a três anos?
2- Mas eu atendo, acabo atendendo bastante, ahan, ao quando abre a salinha ali do lado não, daí eles vão tudo lá...
1- Pra brinquedoteca.
2- Pra brinquedoteca, porque lá tem mais brinquedos, eu tenho mais jogos aqui, tanto é que pros pequenos eu não posso
ta dando muita coisa, eu trabalho com esses dali, né, porque senão eles perdem peças...
1- Daí quando tu tens essas crianças de zero a três anos, quais são as atividades que tu fazes com elas?
2- De zero a três quando eu tenho elas?
1- Ahan.
2- Eu conto história de fantoche pra elas, deu coloco também filminho, eles gostam muito, pica pau, eu coloco e das
mães sentam com eles, porque geralmente é no colinho né, deu conto historia de livrinhos pra eles também, e dalguns
jogos assim, que nem esses legos assim, pra eles né.
1- Certo e daí as crianças de três a seis, quais são as atividades assim que tu...?
2- De três a seis deu do desenho pra eles, o alfabeto, a gente conversa muito dos jogos, sobre como letras do alfabeto
pra eles, né.
1- Mais voltado pra alfabetização.
2- É também, teve uma ai que ficou aqui e não conhecia as letras e saiu conhecendo as letras.
1- Olha que ótimo, que bom!
2- Que o cachorro mordeu ela e ela não conhecia nada sabe, deu... ah, faço trabalho com cores com eles também, às
vezes de separar, eu tenho ali aquele dá, os joguinhos né, com cores daí a gente vai trabalhando as cores.
1- Interessante. E daí as crianças de seis até mais ou menos que idade que tu atende aqui?
2- Até 8ª série.
1- Até 8ª, daí tu já pode acompanhar mais o projeto da escola?
2- Também, também, ahan... dalém do projeto eu faço outras coisas também né, que nem aqui, aqui do projeto, eles
fizeram sobre a água, deles fecharam o trabalho deles, eu faço também com eles aquele sobre o solo, a gente conversa,
então assim ó, eu sento aqui na mesa e eu converso com eles, eu tenho separado os conteúdos, sabe, eu separei assim ó,
tipo né, textos, que nem aqui... tudo separado, aqui ó, que nem conversando o tipo do lixo, então eu separei os conteúdos
assim, sabe.
(enquanto a entrevistada fala, mostra alguns materiais a entrevistadora)
1- Esse material tu conseguisse da onde?
2- Dos livros.
1- Dos livros didáticos que a escola te...?
2- Isso, que fornecem, deu vo trabalhando com eles né, tudo sobre o meio ambiente, daqui trabalho historias ó, aqui
também ela fez o trabalho, a gente conversou um livro sobre o solo e dela fez atividade, os vários tipos dos rios, pra dizer a
verdade, to pegando assim ó, conteúdos bem básicos e é interessante, (incompreensível) aqueles conteúdos que as profes
fazem, porque é com todas as séries, porque dessas coisas básicas assim né, que nem eu pego os conteúdos, a história
dos rios, deu converso com eles, eles lêem, tem bastante conteúdos assim o, ddepois eu peço pra eles representar, texto
né..
1- porque eu vejo que eles tem bastante desenhos por desenho e eles representam todas essas discussões.
2- Isso, daí eles fazem o desenho, daí eles escrevem textos...
1- Tu deixa exposto?
2- Que nem agora eles vão trabalhar folclore ó, as vezes eu o saio aqui, mas é muito difícil, tem a oncologia lá
embaixo, daí tem crianças com leucemia, ai eu tenho que ir lá no leito atender.
1- E tu vai até lá.
2- Eu vo ate lá, até o menino da série que eu tava atendendo faleceu, a menina ganhou alta e agora ela só vem na
segunda e na quinta fazer quimioterapia, d eu bem disse pro professor dela, ―Que que você quer que eu trabalhe com ela,
você pode me mandar‖, né, do professor me olhou, ele também é indígena, dele disse ―Ai profe, veja você né‖, então daí
eu vim separei uns conteúdos de 4ª série e desci lá, ela não sabia, daí eu voltei e peguei conteúdos de 2ª série.
1- Daí ela conseguiu acompanhar...
2- Daí ela conseguiu acompanhar.
151
1- Como é que tu te sente lidando com essa diversidade, tu te sente preparada pra trabalhar com essa diversidade ou
não?
2- Logo que eu cheguei aqui, eu até levei um susto sabe, porque... é que nem se diz ―Ó, vai lá professora‖, sabe, da
única dica que eu tive assim, você tem que repassar conteúdos, daí eu me preocupei muito assim, até fiz uma caixa cheia
sabe, mas dcom o passar do tempo trabalhando com eles, eu sentia assim ó, não é aquele conteúdo, porque eu me
apavorei assim de 5ª a como que eu vo fazer com esses conteúdos, porque séries iniciais tudo bem, ai eu pensei no início
assim, fiquei um pouquinho assustada, como é que eu vo faze, mas depois eu descobri que as coisas básicas eles não sabem,
entende?
1- É uma forma de retomar alguma coisa que ficou lá nas séries iniciais, que não foi bem trabalhada, então tu retoma
esse conteúdo, esse assunto.
2- É, e essas coisas assim bem do dia a dia, essas coisas assim de normas, de valores, né, que que você faz se você
tem que ajudar alguém a atravessar a rua, elas não sabem essas coisas assim, onde você mora, vamos se localizar, eles não
sabem...
1- Tu utiliza bastante esse mapa que tu tens aqui?
2- Uhum, também... o nosso planeta, sabe essas coisas assim, então devagarinho eu fui trabalhando essas coisas.
1- Alguém te ajuda nesse trabalho assim de... elaborar esses planejamentos, essas atividades, porque você falou que a
GERED...?
2- Olha no início eu comecei a fazer isso, agora eu até parei de registrar....
1- Deixa eu só te perguntar...
2- Ah, desculpa.
1- No início a GERED te falou, que tu tinha que te preocupa com conteúdo né?
2- Isso, ahan.
1- Mas eles te ajudaram a preparar esse conteúdo?
2- Não, infelizmente não.
1- E tu, hoje depois desse tempo que já ta aqui, tu ta te sentindo um pouco mais preparada pra trabalhar com essa
variedade de conteúdos?
2- Agora sim, daí se eu ver necessidade, ver que... eu preciso de algum conteúdo que eu não conheço e tal, daí eu
procuro minhas colegas na escola né, a de português me deu umas dica, que nem o professor de português da escola
Marechal Borba, me disse pra mim ó, ―Trabalha bastante texto e interpretação que já é...‖
1- Contribui bastante.
2- Contribui bastante ele falou, ―Coloca aquele pessoal ler‖, porque as nossas crianças ou nossos jovens de hoje eles não
lêem muito né... daí o professor falou pra mim ―Coloca eles lê‖, eles lê bastante aqui sabe, tanto é que eu faço...
1- Então a maior ajuda que tu tens é da escola onde tu é vinculada, os professores, a equipe daquela escola?
2- Daquela escola, quando eu preciso, né, daí eu...
1- E tu participa dos cursos de formação que tão acontecendo naquela escola também?
2- Sim, planejamento também.
1- Tu sempre tá acompanhando?
2- Ahan, daí eu saio aqui da classe e vo pra escola.
1- Ah! Esse daqui é o caderno da... era teu e tu dava pras crianças...
2- Isso, um eu trabalho e outro deixo eu aqui sabe.
1- Certo.
2- Todos os trabalhos que a gente faz.
1- E daí como é que tu fazia pra fazer o relatórios dessas atividades sendo que esse caderno sempre ficava contigo?
2- O relatório pra escola encaminhar?
1- Isso, pra comprovar que ela esteve aqui.
2- Pra dizer a verdade, eu não to fazendo um relatório escrito de tudo que eles fazem, eu faço um relatório de freqüência
e que foi trabalhado alguns conteúdos das disciplinas básicas.
1- Ah, certo! Tu já tem então um meio que padrão assim, esse relatório?
2- Isso.
1- Entendi, hoje tu não usa mais esse caderno aqui?
152
2- Não, eu uso também, é que voltei agora de férias, mas é que... eu uso muito, eu uso aqui, eu uso aqui, aqui o projeto e
aqui eu do pra ler, ó ele leu o livro, onde é que ta o livro...
1- Nossa, mas ele é um artista! É muito bonito! Esse daqui ele fez esse desenho dessa águia, a partir do conto a Água,
não, a Águia e...
2- Isso.
1- A partir do livro que tu tens aqui?
2- É, e esse aqui também ó, ele leu esse livro e daí ele fez...
1- Que bonito!
2- Esse é o trabalho.
1- Ele colocou a moral da história do lado do desenho.
2- E esse aqui representou aqui assim, porque eu do pra eles representa, ele leu esse livro e ele representou
(incompreensível).
1- Muito bonito!
2- E essas atividades que eu to te mostrando, ela se repete...
1- Com outras crianças.
2- Com outras crianças, deu deixo levar pra casa o trabalho. Eu do muito trabalho assim pra eles de series iniciais,
separação de sílabas, trabalho mais com alfabetização, porque series iniciais, primeira serie, ai teve uma aluninha que ficou
aqui comigo uns, fico uns dez dia e ela levo tudo pra casa daí, daí a profe dela veio me dizer ―Nossa, quanto trabalho, né, você
deu pra ela. Ela ficou bem feliz de ir na sala‖ então assim, eu incentivo bastante, pra eles volta e conta, que ninguém
conhece classe hospitalar, tanto é que eu tinha colocado escola em cima, dvenho a chefe sabe e ela tirou né, porque tem
nome classe hospitalar, o é uma nome assim, que o pessoal não entende o que que é, então aqui já conhecem tudo como
escolinha.
1- Eu justamente ia te perguntar sobre isso agora, tu pode chamar e nomear o trabalho que tu faz aqui de classe
hospitalar?
2- Como assim?
1- Tu pode nomear esse trabalho que tu faz aqui de classe hospitalar? É uma classe hospitalar? Tu considera, tu nomeia
isso daqui como classe hospitalar?
2- Olha, eu não me achei como classe hospitalar, eu achei como escolinha, sabe... como escola, vem e dse tu sai e
convida eles ―Vamos pra escolinha lá, tem jogos, a gente escreve, lá tem hora pra você assisti filme, tem hora pra você até ir
no computador‖ , ―Ah! Tem uma escola‖, é mais familiar, entende. Agora se você falar classe hospitalar, ―O que é isso?‖, as
pessoas não sabem. Eu não gostei muito do nome.
1- Agora eu queria conversar contigo um pouquinho, nesse tempo que tu ta atuando aqui, acho que tu já conseguiu
perceber algumas características tuas que contribuem pro trabalho de um pedagogo no hospital, né? Me fala um pouquinho
dessa, da tua característica que tu acha assim que mais contribui pra trabalhar aqui ou o que tu percebe assim que facilitou
esse teu trabalho aqui no hospital.
2- Bom, uma das coisas assim, é você... você ter que cativa, sabe, tem que cativa, mostrar pra eles que é legal o que
eles vão fazer, porque quando eu chego nos leito com trabalhos de aula, pra eles fazerem interpretação de textos, porque eu
faço isso também, não é muito aceito, ―Ah profe, eu faço isso na escola, parece que aqui tem que ser diferente, né, então
quando eu uso lúdico sabe, quando eu jogo junto, quando eu convido os pais pra ficar junto, eles amam mais, sabe, eles...
1- Se sentem mais acolhidos...
2- Eles se soltam bastante, porque quando eu vou trabalhar um conteúdo assim, eles tem um pouquinho de timidez Pô,
a profe ta sozinha aqui comigo né‖, se fosse uma prova oral, né, daí eles se sentem mais fechados.
1- Pressionados.
2- Também, é... daí eles não gostam muito, d eles Professora to me sentindo mal‖, daí tu perde o aluno, ele vai
saindo...
1- E a família ta sempre junto?
2- A família ta sempre junto, inclusive é demais, porque assim ó, vem... é como, a coisa ta gostosa, eles também querem
ficar, porque eles também passam aqui dentro, né, esse tempo todo sem ter o que fazer né, então de vez em quando, quando
a gente se nota aqui, nos tamos os pais brincando, pais jogando, mãe brincando, jogando,...
1- Todo mundo junto.
153
2- Todo mundo junto, é. E uma das coisas assim que eu notei, não falar muito da doença, sabe, ele entrou aqui, eu não
escrevo mais, eu nem tenho mais o relatório que pedia a causa, eu nem fui mais atrás disso, sabe, porque eu senti tanto do
paciente como dos pais, que tinha que ser um momento alegre aqui pra esquecer... dvocê consegue fazer alguma coisa,
agora se você fica pergunta e perguntando o que tem o que não tem, a mãe na frente da criança fica falando, sabe Ai não ta
bem‖...
1- Fica reforçando a situação.
2- É bem ruim, bem ruim esse lado, daí eu não faço mais essa pergunta, as vezes eu nem sei o que que a criança tem.
1- A tua formação, ela contribuiu de que forma pra tua atuação aqui no hospital? Qual das disciplinas do teu curso de
pedagogia ou do teu curso de pós-graduação que mais contribuíram pro teu trabalho no hospital?
2- Mais contribuiu foi educação infantil e series inicias.
1- Então no caso foi a tua graduação né?
2- Isso, daí eu tive o conhecimento de conteúdos, né, tenho o conhecimento de como lidar com isso também, com os
jovens, daí ficou meio complicado, com a 8ª ficou... 5ª série nem tanto, porque né, mais assim, 8ª, 7ª série.
1- Essas que tu tem mais dificuldade.
2- Ahan, mais dificuldade.
1- Tu tá fazendo algum curso no momento pro teu aprimoramento, pro trabalho que tu faz aqui no hospital?
2- Não, ahh não... deixa eu te contar que eu participei da 2ª Jornada da Saúde do Hospital, foi bem interessante também,
porque ali os palestrante mostraram como lida com o doente.
1- E isso contribuiu pra ti?
2- E isso contribuiu, porque como lidar com o doente, entrou uma humanização, então outro lado que eu vi, que não
adianta conteúdo, conteúdo, conteúdo, tem que ter esse lado humano, tem que ter, padrão de qualidade com as mães, e d
logo que eu comecei trabalhar aqui também, foi um tumulto e deu senti que eu precisava criar normas, daí no momento que
eu criei normas, aliviou meu trabalho também, sabe.
1- Eu queria que tu me falasse um pouquinho o que tu pensa, quais são, sobre os saberes, o que o pedagogo precisa
saber pra trabalhar com as crianças aqui no hospital?
2- O que ele precisa saber...
1- É. Já que ele ta num ambiente assim né... que é tão diferente da escola...
2- Eu acho que uma das coisas é isso que a gente teve no curso ai, um pouquinho de humanização na saúde, não
adianta vir aqui com conteúdo, se eu não sei lidar com essa criança que ta doente, porque assim ó, depende do estado dela
que eu vo conseguir alguma coisa né, porque elas tão muito preocupadas e assim... com medo.
1- Elas tem muito medo.
2- Sim sim, elas sentem muito medo, então eu acho que essa humanização ai é o... como você, como você lidar com
essas crianças, porque a gente tem um... assim conquista, não quere falar muito da doença, porque ela tem muita angustia, ela
vem assim, angustiada de preocupada, tanto é que ficam preocupadas assim, ―Meu Deus chegou meu médico‖, daí a mãe vem
ali ―Chegou o médico!‖, aquela coisa assim... bem, pra te dizer, eles tão bem longe, sabe, tão longe, longe...se já em escola
normal tão longe, tu imagina aqui.
1- Fica ainda mais intenso essa dispersão assim né, não tão concentrados pra realizar uma atividade.
2- É bem complicado com essa concentração e outra assim ó, o ambiente estranho, a mãe saiu, começa a chorar...
sabe que ta num hospital, de repente entra numa salinha assim né, esse ambiente assim estranho também né, tanto é que a
mãe tem que ficar aqui dentro, é insegurança.
1- Então o pedagogo tem que saber lidar com a insegurança da criança.
2- Também, uhum. É porque eu, como te falei, se eu ficar aqui e começar vamos estudar isso, isso e começar com o
conteúdo assim eles começam ―Ai profe minha barriga, eu vo te que ir pro quarto‖ e dnão tem como segurar né. Então pra
você conseguir segurar, tem que fazer um trabalho assim... teve uma aluninha que disse pra mim assim ―Ai profe, aqui tem
uma escola tão legal, num lugar tão triste‖, ela disse pra mim, essas coisas que...
1- Marcam né, esse tipo de comentário marca a trajetória da gente. Tu lê sobre o trabalho de pedagogos nos hospitais?
2- Eu li quando cheguei aqui, ahan, li sobre funcionamento da classe hospitalar e eu li uma apostila sobre, sobre o
trabalho pedagógico.
1- O trabalho pedagógico no hospital?
2- Certo, depois a professora da UNO de educação física ta fazendo um trabalho em cima da classe hospitalar.
1- Ah é?
154
2- É e ela me disse que ela tinha apostila pra me passar, só que daí...
1- Ainda não passou.
2- Ainda não passou, só que acho que eu que vou ter que ir atrás, né. E essa professora de educação física tem um
projeto aqui no hospital, um projeto de, como é que é o nome, deixa eu ver aqui na pastinha, um programa de um sorriso para
vida (dúvida), é um projeto que elas tem.
1- Dentro da educação física.
2- Isso, dentro da educação física.
1- Além de você não tem mais nenhuma pedagoga trabalhando aqui?
2- Não, só eu, daí essas meninas são estagiárias de educação física.
1- Ah tá. Essas que vem na brinquedoteca também são de educação física?
2- Isso, essas duas que fazem parte desse projeto dessa professora aqui dentro.
1- Aqui tu não recebe nenhuma estagiária?
2- Essa dessa professora, ela tava fazendo o trabalho dela, a tese dela na classe hospitalar, daí ela...
1- Mas é de educação física e não de pedagogia?
2- É de educação física.
1- A pedagogia não recebe?
2- Acho que nunca teve viu.
1- Tu já visitou alguma outra classe?
2- Não.
1- Não conhece nenhum outro hospital?
2- Nenhum outro hospital que tenha, inclusive quando você me pediu o número do telefone, eu fiquei um pouco curiosa,
eu disse eu vo tenta descobrir mesmo, pra ta conversando com elas, interessante.
1- Até então tu nunca mantivesse contato com nenhuma dessas outras pedagogas que atuam em hospital?
2- Não.
1- Quais são as áreas assim de... pode ser psicologia, educação, sobre o lúdico também, quais dessas áreas que tu
procura pra melhorar, pra aprimorar o trabalho que tu realiza aqui no hospital? Tu procura alguma leitura sobre isso pra te
ajudar aqui no hospital?
2- Eu procurei a leitura em artes, artes... os trabalhos, como que eu poderia ta fazendo, porque eles gostam muito desse
lado, sabe, eles gostam muito.
1- Expressar o lado artístico.
2- Gostam... verdade. Se tu que... Ah profe, eu não quero fazer isso, me dá uma folha pra eu fazer um desenho‖, daí ou
recorte e colagem... com tinta, eles gostam muito.
1- Então normalmente tu procura mais em...?
2- Artes e o lúdico, eu procurei muito sobre jogos educativos.
1- Certo. Deixa eu te perguntar também, o que que tu considera importante pro currículo de pedagogia, o que que o
currículo de pedagogia deveria contemplar pra esse pedagogo que futuramente possa a vir trabalhar no hospital? A tua
opinião.
2- Eu acho que poderia desde essa área da humanização, seria uma e assim ó, de repente quando a gente vai trabalhar
os conteúdos, porque quando eu fiz a minha pedagogia, a gente trabalhou alguma coisa de conteúdos de... tipo... estudos
sociais, ciências, então que ta se trabalhando qual seria o mais básico, entende?
1- Fazer uma relação de...?
2- Dos conteúdos assim mais... assim que seria mais importante, não de todos os conteúdos...
1- Os conteúdos fundamentais.
2- É conteúdos fundamentais, isso aí, porque eu acho assim, aqui entro a gente jamais vai conseguir fazer assim, um
conteúdos, tudo bem que a gente tem a escola, que eu posso ta ligando pra escola... ―Oh, que que o profe ta trabalhando?, ―Ta
trabalhando isso‖, então eu vo trabalhar aqui também, só que eu ainda não senti essa necessidade porque eu peguei muito os
conteúdos básicos e eu senti que precisava um reforço.
1- Que de repente a grade, o currículo da pedagogia poderia contribuir se ela trouxesse isso... no período da graduação.
2- Daí eu trabalho muito assim os parâmetros curriculares, sabe, questão da sexualidade, né, que nem tinha uma menina
de onze anos que teve um aborto, então eu conversei com ela sobre isso, daí tinha um livro, daí dei pra ela ler...
1- Tu te sentisse a vontade de...
155
2- Alguém tinha que fazer alguma coisa.
1- Aqui no hospital de psicólogo?
2- Tem, tem também.
1- Como é a tua relação com estes outros profissionais aqui do hospital?
2- Até agora eu me relacionei mais com o pessoal de... da nutrão.
1- É mesmo?
2- Uhum, eles que vem aqui na salinha conversar com as crianças, eles que me passam trabalhos pra fazer com eles
sobra alimentação. Elas até me passaram alguma coisa.
1- E com a enfermagem assim, tu não tem muito contato então?
2- Sim, com as meninas que trabalham aqui sim, com a enfermeira chefe também, mas a gente nunca conversou sobre o
que eu iria...
1- O teu trabalho.
2- O meu trabalho, a gente conversou que ela achou interessante o que eu fiz semana passada com essa menina que
teve aborto, que daí eu contei pra ela o que eu fiz.
1- Tu fosse procurá-la?
2- Eu contei pra ela e ela achou interessante, sabe, daí ate depois teve um outro caso e ela veio me chama né... que eu
podia ta trabalhando.
1- Aos pouquinhos então tu vai achando o teu espaço.
2- É, uhum... e em termos de enfermagem também aprendi a mexer no soro e como elas correm muito, eu senti que toda
hora eu i chamando elas, não tava agradando, então até isso eu aprendi a mexer, pra não ter que chamar elas.
1- Jóia, mas tu chega a fazer algum procedimento ou só a questão de regular se ta pingando demais ou se ta pingando
de menos, é isso?
2- Isso, deu oriento as mães também, porque elas deixam muito entrar o ar, então eu acabo orientando ―Oh, cuida
quando você, o jeito que você vira o soro também‖, que nem pra dormir de noite, se ela vira, ela pode dormir tranquila que o
vai secar, daí a gente acaba conversando também.
1- Pra finalizar aqui as perguntas que eu tinha pra te fazer, eu queria saber o que tu pensa da importância do teu trabalho
aqui no hospital? Por que que é importante um pedagogo no hospital? Por que que ele contribuiu pra essa criança que ta
hospitalizada? Queria um pouquinho da tua opinião sobre isso.
2- Olha, uma das coisas assim que eu vi que contribuiu muito mesmo, é o estado deles, o nervosismo deles, se acalma...
tanto do aluno, como da... dos pais, que deles passam um tempo aqui comigo, ai a gente faz essas atividades lúdicas, de
conhecimento e assiste filme e isso ai deixa eles mais calmo e que nem as mães, elas falam muito ―Ai que bom que te isso
aqui pra gente pode vim‖, né, senão elas ficam perdidas também né, então além de acalmar tanto as crianças como os pais,
também eles acabam tendo conhecimento, a gente volta a falar sobre normas, a falar sobre valores e é um incentivo também,
porque as vezes as mães tão... que nem a minha coordenadora lá da GERED falou, ―Não te envolva muito com as mães‖, não
tem sabe, logo no inicio eu achei que eu tava mais ouvindo as mães, que a criança, dveio uma retomada, mas assim, aquele
incentivo e animo pras mães tem que continuar dando, eu não deixo mais elas se lamentar muito, como elas faziam, que nem
eu te falei né, entravam aqui e começavam a falar da doença e pá pá, agora entrou aqui e vamos falar de outros assuntos
???
1- Vai participa das atividades...
2- Isso, vai participa das atividades. Tanto é que elas participam, elas deixam as crianças fazerem e quando eu noto tem
mãe fazendo e elas pedem.
1- Eu queria mesmo que tu me falasse o por que é importante uma professora, uma pedagoga no hospital, né, então... ?
2- Porque a criança não fica muito tempo fora do alcance de material escolares, porque ela vai lê mais, que nem teve
uma aluninha que leu muito quando ficou aqui, né, então ela não perde esse tempo, esse tempo assim de ter conhecimentos,
de ter leitura, ela não perde, ela só vai ganhar com isso né, mesmo fazendo do jeito que ela pode, mas daí ela fica vinculada a
isso, ela não perde esse vinculo com a escola.
1- E tu chega a fazer enquanto ela ta aqui né, ela hospitalizou, ela internou, tu faz contato com a escola de origem dessas
criaas ou tu só manda o relatório, não chega a fazer o contato com a escola de origem?
2- É mais relatório, muito pouco contato, fiz um contado até agora só.
1- Com a escola de origem...
2- É... não, fiz dois (ênfase) contatos com a escola.
156
1- Foi você que ligou pra ele?
2- Um o professor, esse que me procurou aqui, pra ver atividades pro aluno que ta aqui.
1- Esse indígena.
2- É esse indígena e outra que eu conversei com a professora né, sobre o que que, eu fui perguntar pra ela que que ela
achava, se ela viu aquele relatório que ia, se contribuía, né, daí ela disse que sim, porque... aí ela mês disse, fui fazer uma
pergunta né, daí ela achou assim interessante porque daí o aluno não fica parado né, mas pra te dizer a verdade eles voltam lá
e os profes dão continuidade de onde estão.
1- O conteúdo que a turma já ta acompanhando.
2- Isso, por isso que às vezes eu acabei fazendo um atestado de freqüência padrão né, porque não muito interesse lá
se ele fez isso, se ele fez aquilo, o interesse é que fez, porque no momento que volta lá, vai continua lá... porque assim ó,
fica vinte dias aqui comigo, volta, ganha alta, não vai já pra escola.
1- Às vezes passa um período em casa.
2- Não é às vezes, é quase que sempre. Esses que fiaram mais tempo aqui comigo, deu muitas vezes trabalho, é vinte
dias em casa.
1- É uma pena né.
2- Então eu acho que é esse vínculo que se perde com a classe hospitalar e quando eles voltam lá, eles dão continuidade
ao trabalho.
1- Então valoriza-se a carga horária no caso, a freqüência e não... no caso, o conteúdo, a aprendizagem.
2- Aquela professora que viu os trabalhos que a menina fez, ela até que falou ―O que bom‖ ela disse, ―Como fez bastante
trabalhos‖, então eu acho assim que ajuda mais a criança, porque daí quando ela voltou lá, ela fez bastante aqui, ela não
perdeu, daí ela entra no ritmo.
1- Então ta, RENATA, no momento era isso, te agradeço.
Transcrição Entrevista 09 Pedagoga: AMANDA Hospital: H7
Data: 11/08/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- AMANDA, tu é formada em pedagogia?
2- Pedagogia.
1-Em que ano que foi tua formação?
2- 95.
1- Tu te formasse em que instituição, qual foi a tua universidade?
2- UNOESC.
1- UNOESC. Foi presencial ou foi a distância?
2- Presencial.
1- Presencial. Foi aqui em Xanxerê mesmo?
2- Xanxerê.
1- Há quanto tempo tu trabalha com educação?
2- 22 anos.
1- Como é que tu chegou até o hospital?
2- Eu fui convidada pelo grupo de ensino da GERED.
1- Fosse convidada. Tu já era efetiva...?
2- Eu so efetiva 20h, me efetivei em 2006, 20h no estado (incompreensível)
1- Antes de trabalhar no hospital, com que atividade que tu trabalhava antes?
2- Sala de aula, sempre trabalhei em sala de aula, trabalhei com ensino fundamental e com ensino médio também,
trabalhei... no primeiro ano de trabalho, trabalhei com o ensino médio.
1- E educação infantil tu trabalhou?
2- Educação Infantil sempre.
157
1- Esses 22 anos, então.
2- Sim, eu trabalho nas duas redes, municipal e estadual, eu sou efetiva nas duas redes, 20 cada uma.
1- Me conta um pouquinho como tu chegou lá no hospital, como foi este convite, tu já conhecia antes?
2- Eu conhecia a classe porque eu já trabalhei no conselho tutelar, na época que eu trabalhava no conselho tutelar a
gente tinha acesso ao hospital, conversava com as professoras, com as enfermeiras... (incompreensível) então eu já
conhecia mais ou menos como que e a, espaço físico, como é que funcionava. Aí quando eu cheguei lá que fui tomar
conhecimento como realmente... como é que funcionava a principio a gente fica meio apreensiva, uma coisa nova, realidade
diferente de trabalhar em sala de aula, tu trabalha pratica diferente, então no inicio ficou bem complicado, mas depois...
1- Te assustou esse primeiro momento?
2- Foi assim... a questão é, algumas criança, o problema em si dos pacientes que tem aqui... as vezes assusta a gente,
que deixa a gente impressionada e então tem que ter muita... jogo de cintura pra trabalhar ali e acabar não se envolvendo né.
1- Então no caso tu já era efetiva do estado quando aconteceu esse convite, ne?
2- Sim .
1- Então tu ta no hospital há quanto tempo?
2- Em abril, comecei em abril.
1- Maio, junho, julho, agosto, 4 meses. Qual é o teu trabalho no hospital?
2- É trabalhar com as crianças... ministrar aulas... realmente né, fazer o atendimento na classe ou no leito, onde eles
estão.
1- E tu consegue ministrar essas aulas, tu consegue iniciar e sinalizar essa aula no...?
2- Não muito, não é um trabalho que tem seqüência... desde que a criança, a não ser que criança fique no hospital por
mais tempo... a criança que fica 1, 2, 3 dias faz um trabalho, mas não chega a ter aquela seqüência, ai as crianças que ficam
mais tempo tu consegue trabalhar, geralmente eu trabalhão projetos, eu procuro trabalhar projetos dentro de algum tema né...
a gente aborda, a gente percebe um resultado maior quando a criança fica mais tempo internada, mesmo que ela fique 1 dia é
feito atendimento.
1- Ela entrou no hospital, já vai atender?
2- É.
1- Tu trabalha com todas as séries no hospital?
2- É de 3 anos a 14 anos, a série que tiver criança nessa idade .
1- 3 a 14 anos.
2- 3 a 14 anos.
1- Quem definiu essa idade?
2- Pelo que me passaram, pelo...
1- A GERED.
2- A GERED me passou, ta dentro do projeto né, essa idade ser abrangida.
1- Então tu atende o ensino fundamental, né, mas e as crianças de 0 a 3 anos, tu não atende?
2- Não, até faço atendimento do brinquedo, com histórias, faço algum atendimento dependendo da situação e
dependendo do quarto ou do leito onde elas estão, mas eu tenho que atender de 3 a 14 anos.
1- Mas tua obrigação né..
2- É... bebê essa faixa etária não.
1- E dessas de 3 a 14 anos, tu atende todas que internam?
2- Todas.
1- Mesmo no isolamento?
2- No isolamento eu não atendi nenhuma até agora, atendo na UTI, em todas as alas, na ala que tiver eu faço
atendimento, até mesmo na UTI.
1- E com essa diversidade de idades e de crianças, tu te sente preparada pra trabalhar com essa diversidade de
conteúdos também, com essas crianças?
2- É um tanto complicado, tem que ta sempre buscando, porque assim, a gente faz... se a criança ficar mais de três dias
dentro do hospital, a gente faz contato com a escola pra ver qual é os conteúdos que tão sendo trabalhados, pra gente ta
fazendo o mesmo trabalho que a escola, a mais ou menos trabalhando paralelo, com os conteúdos que a escola ta
trabalhando no momento, a gente ta sempre buscando conteúdos e informações pra ta trabalhando com eles.
1- No terceiro dia que essa criança ta hospitalizada tu faz o contato com a escola?
158
2- Ahan, a gente faz o contato com a escola.
1- É você mesma que faz o contato?
2- É, a gente faz o contato ou a família mesmo que faz o contato com a escola, dependendo se é no interior é mais
complicado e é a família que faz o contato.
1- E tu consegue retorno dessas escolas de origem?
2- Na maioria das vezes sim, algumas não, mas na grande maioria sim...
1- Qual é a media de atendimento que tu faz por dia?
2- Atendimento dia, 6, 7 alunos, 8 até eu já cheguei a atender, a dia não é... é uma media ate considerada baixa, mas
devido ao tipo de atendimento que tem que ser feito, tem que atender, eu não faço atendimento delas todas juntas, não tem,
porque dependendo do caso, tem que atender separado, algumas tenho que atender no leito, outras na classe, algumas não
pode sair do quarto e tem que atender lá, tem que ir lá, trabalhar especificamente com ela naquele espaço.
1- E quando elas podem sair do leito, tu reúne?
2- Daí eu levo pra classe hospitalar, eu procuro atender por faixa etária ou por series, por serie fica mais fácil.
1- Tu já tem horários pré-determinados ou...?
2- Não a gente combina com o pessoal da enfermagem, porque às vezes tem horário de medicamento, tem horário de
visita médica... então a gente... todo dia eu chego e converso com elas pra ver em que horário que eu posso ta atendendo e eu
faço uma pré-agenda do dia, pro período.
1- Tu trabalha sempre a tarde?
2- De manha.
1- Ah sempre pela manha. E qual é o horário que tu faz?
2- Das 7:45 as 11:45, horário normal de aula.
1- Tu te sente preparada pra essa variedade de conteúdo ou ainda...?
2- Preparada totalmente não, dentro da grade que eu fiz não tinha nenhuma habilitação especifica, pra trabalhar com
criaa desse tipo, hoje que a grade mudou que tem atendimento pra deveres, educação especial, tem mais especifico, na
época que eu fiz nada tinha, então a gente procura ta sempre buscando conhecer, fazer cursos, os cursos que saem em
procuro ta fazendo sempre, pra ta me atualizando né.
1- Tem alguém que te ajuda na elaboração desses projetos e desse trabalho que tu realiza no hospital?
2- Eu trabalho de acordo com o projeto da escola que eu so lotada, o projeto é feito na escola e a gente trabalha sempre,
eu trabalho com o projeto da escola, a idéia é deles, eles sentam elaboram o projeto na escola...
1- Tu participa da realização desse projeto na escola regular e tu consegue aplicar eles no hospital?
2- Tem que adaptar ele, tem que trabalhar nem tudo que trabalha na classe normal tu pode ta trabalhando ali né.
1- E essas adaptações tu faz sozinha?
2- Sozinha.
1- Como tu organiza essas atividades? A GERED não te manda nada pronto né?
2- Não, (incompreensível) posso ta trabalhando.
1- O que tu pensa da nomenclatura classe hospitalar, tu pensa que esse trabalho que tu faz mesmo atendo nos leitos e
tudo mais tu pode chamar de classe hospitalar?
2- Eu penso que podia ser escola hospitalar de outra forma, não sei por que da classe... objetivo da classe, porque ela
funciona normal como se fosse uma escola né... então podia ser mudado o nome, não é exatamente classe hospitalar.
1- Quais são as características, as tuas características que tu percebe que contribuem pro teu trabalho no hospital?
2- Minhas características... eu acho que o conhecimento que a gente tem, que a gente trabalhou em outras áreas e o
conhecimento da realidade do município, que eu conheço bem a realidade do município, das comunidades do interior, dos
bairros e já trabalhei em varias escolas também, então a gente tem um pouco de noção de como ta trabalhando de acordo com
a clientela que vem.
1- Até por que tu tem esse experiência do conselho tutelar.
2- Contribui bastante.
1- Mais alguma coisa que tu percebe que te ajuda no teu trabalho lá?
2- Eu acho que é a... por eu gostar de trabalhar com crianças, porque eu gosto, eu adoro trabalhar com criança,
principalmente com os menores, eu sempre gostei de trabalhar com a educação infantil e é assim.. a classe... a faixa etária que
eu percebo que eles gostam mais, aquela vontade mais de aprender, aquela curiosidade maior, quando maior eles são menos
eles aquela... vontade.
159
1- Aquele entusiasmo...
2- Aquele entusiasmo, (incompreensível).
1- A tua formação, ela contribuiu pro trabalho que tu ta exercendo no hospital, nesse trabalho que tu realiza no hospital,
essa tua formação contribuiu?
2- Em parte sim, agora a gente ta fazendo cursos, tem que ta sempre buscando mais conhecimento.
1- Tu lembra de alguma disciplina que possa ter contribuído um pouco mais?
2- Didática, sociologia que foram as disciplinas que eu tive que ajudo, praticas pedagógicas me ajudou também.
1- No momento tu ta fazendo algum curso, tu fez alguma pós-graduação?
2- Sim.
1- Qual é a tua pós?
2- Series inicias e educação infantil.
1- Qual foi o período?
2- Um ano.
1- Mas foi em que época, foi logo depois da formatura?
2- Deixa eu pensar... foi em 2002.
1- No momento tu ta fazendo algum curso específico pra atuação no hospital?
2- Não, eu faço os cursos que saem dentro da GERED, os cursos que são proporcionados pelo município.
1- E o hospital já te ofereceu alguma formação?
2- Não, nenhuma.
1- Eu queria que tu falasse pra mim o que tu pensa, quais são os saberes, o que um pedagogo precisa saber pra atuar no
hospital, que que essa tua prática já te demonstrou que no hospital o pedagogo precisa saber pra ta atuando?
2- Primeiro tem que ter bastante psicologia, porque tem que ta... tem que ta intermediando, tem que conversa com a
família, tem que conversa com a criança, porque eles ficam muito debilitados quando tão internados, tem que eu ter a
psicologia pra ta entendendo, pra ta estimulando eles, tem que ta fazendo uma boa entrevista com os pais, com o
acompanhante que ta ali com a criança, pra ta vendo, fazendo uma analise pra ver o que tu pode trabalhar, se ele não ta afim
de fazer alguma coisa, tem que percebe o que ele pode ta fazendo, porque eles ficam muito emotivos também quando eles tão
ali, pra agilizar, tem que ter muita psicologia, pra ta trabalhando.
1- Mais alguma coisa além da psicologia?
2- Acho que é isso, pela experiência que eu tenho, não é muito assim, (incompreensível) com o tempo a gente vai
adquirindo mais, percebendo.
1- Tu lê sobre o trabalho dos pedagogos nos hospitais, práticas que acontecem no hospital?
2- Alguma coisa que eu acabei lendo, apostila que eu peguei ali na GERED, alguns materiais, experiências, relatórios de
alguns pedagogos,...
1- Ti recorda de alguma?
2- Não lembro agora, eu também conversei com a professora que trabalhava ali anteriormente também.
1- Continua conversando com ela?
2- Conversei no início quando comecei, depois não conversei mais com ela, horário né, tempo, disponibilidade de tempo
a gente não tem.
1- Tu já visitou algum outro hospital que tenha uma classe hospitalar ou que tenha um pedagogo trabalhando?
2- Não.
1- Também não mantem contato com outras pedagogas?
2- Não.
1- Quando tu vai procurar algum material pra ler, pra aprimorar essa tua pratica no hospital, quais são as áreas que tu
procura mais, é realmente a psicologia, tu procura alguma coisa de lúdico, na área da ludicidade, ou tu procura mais pra área
da saúde, o que que tu procura, o que que tu prioriza?
2- Pro lúdico, porque ali tem que ser diferenciado do dia dia, porque trabalhar... e que estimule eles a ta fazendo, se é
uma coisa corriqueira, que eles tão constantemente fazendo, não vai estimular a eles ta fazendo, tem que ser na área lúdica
pra que eles tenham mais vontade de fazer.
1- O que tu considera importante pro currículo de pedagogia, agora com as novas diretrizes, contemplar pra esses
pedagogos que futuramente possam vir a atuar nos hospitais?
2- Uma disciplina, assim seria?
160
1- Pode ser, qual é a tua sugestão?
2- Que os pedagogos tivessem um, fizessem um tempo de estágio ou até mesmo uma visita pra ver como funciona, como
acontece... quando eu fiz minha formação não tinha... não tinha nem noção, nem ideia que existisse essa classe, muita gente
não conhece na verdade.
1- Ainda hoje.
2- Até hoje, os próprios professores não conhecem, então seria bom até pra eles ta conhecendo, de uma forma
(incompreensível), tinha que ser proporcionado por um curso.
1- Pela graduação?
2- Pela graduação.
1- O que tu pensa sobre a importância do pedagogo no hospital, por que é importante o pedagogo estar no hospital?
2- Pra que esteja acompanhando a criança que ta ali, o adolescente pra ele não ta perdendo muito conteúdo, pra ele não
ta tendo muito tempo sem atividade, porque eles ficam, na verdade eles ficam muito desocupados ali, o tempo inteiro, então
tem uns que tem possibilidade de fazer atividade e se não tivesse eles não tariam ocupando o tempo, e a gente percebe que a
família, a maioria das famílias gostam que tenha isso, porque eles estimulam o filho a ta fazendo, eles gostam que estejam
fazendo alguma coisa, até pro tempo passa mais rápido, porque as vezes demora pra passar o tempo, eles tão fazendo
alguma atividade, ta passando rápido o tempo e eles tão fazendo alguma coisa que ta ajudando na formação deles.
1- E tu pensa que a..., que você estando lá no hospital vai ta contribuindo pro processo de recuperação dessa criança, no
que que o pedagogo contribui na hospitalização infantil?
2- Eu acho que é uma forma de ta estimulando eles, conversando com eles, colocando alguns exemplos, falando coisas
boas, ta mostrando o outro lado pra eles. Que eles tão ali naquele momento fragilizados, mas que eles vão sair dali, com as
experiências que a gente tem, ta conversando com eles e colocando que muito já passaram por isso, que vai passar, faze um
tipo de... uma força pra eles, pra eles perceber que isso vai passar.
1- Quais são as atividades mais comuns que tu faz com essas crianças que estão nos hospitais?
2- Mais comuns, contação de histórias, a leitura, eu procuro trabalhar mais.. que eles tem muita dificuldade pra leitura, a
produção de texto, eu fo bastante essas atividades, produção de texto, leitura, bloco lógico, domide operações básicas,
são as que mais eu trabalho, cruzadinha, ca palavras, faço atividades bem diversificadas, pra eles srem da rotina que eles
fazem na escola diariamente, então gente faz atividades bem diversificadas.
1- E como tu faz esse registro pra encaminhar pra escola de origem, tu faz um relatório?
2- Não, nos temos uma ficha de relatório que a gente preenche e coloca todas as atividades que são desenvolvidas e
envia pra escola, por eles, através deles, levam até pra ta comprovando.
1- Tu da pra família então?
2- Pra família levar, porque nesse tempo que eles não tão na escola regular, eles tão ali, tão justificando os dias de falta
deles.
1- Isso pra qualquer período de internação ou a partir...?
2- Isso a partir de tês dias.
1- A ta, esses que ficam uns dois.
2- Esses que ficam dois, três dias a gente não fornece, essa a orientação que eu tenho pra ser feito, né.
1- Eu queria te perguntar algumas coisas, quais são as especialidades atendidas pelo hospital ali, ele atende...?
2- Não tem especialidades, ele atende todos.
1- Cardiologia...?
2- Cardiologia também tem, (incompreensível) tem tudo.
1- Mas pra pediatria também?
2- Pra pediatria.
1- Qual é a quantidade de leitos da pediatria, tu lembra quantos são?
2- São 8 apartamentos.
1- E em apartamentos tem quantas macas?
2- É assim, eles... não tem assim, de acordo com a necessidade eles colocam, por exemplo se... dependo do problema
da criança, da gravidade da doença que eles tem, eles colocam a criança, as vezes procuram colocar de acordo com a
doença, por exemplo pneumonia colocam dois num leito, três num, dependendo da situação eles colocam, não é uma coisa
fixa, dependendo da situação eles colocam berço, eles tão mudando, ficam adequando de acordo com a necessidade.
161
1- Tu não tem uma porcentagem de ocupação desses leitos, uma média de atendimento mensal de atendimento que o
hospital recebe?
2- Não, não tenho.
1- O total de atendimento do ano passado tu também não tem esse número?
2- Não, não tenho porque o pessoal (incompreensível).
1- E atendimento diário que tu faz é de sete a oito crianças?De seis a sete né?
2- De cinco a oito crianças.
1- E qual é a média de permanência de hospitalização, normalmente eles ficam quantos dias?
2- Ts dias seria a média, tens uns que ficam ate mais, 20 dias, nessa época, mas a média é dois, três dias, não muito
tempo.
1- Quais são a maior incidência de hospitalização, quais são as doenças mais freqüentes assim, que internam?
2- A mais freqüente agora no momento, que agora é época né, pneumonia, virose e eu percebo também atendimento
grande na, como nos temos a reserva indígena aqui próximo, o atendimento grande seria, o atendimento de crianças
indígenas, maior número.
1- E tu faz contato com a escola deles?
2- Quando eles ficam mais de cinco dias sim, mas geralmente não chega a ter muitos dias, a maioria dos casos são
desnutrição, virose, os indígenas.
1- Qual é a média de idade, normalmente qual é a idade das crianças que internam?
2- Cinco, seis anos, sete, até sete anos... a maioria são pequenos, são poucos grandes com mais de dez anos.
1- Tu sabe me dizer um pouquinho sobre o hospital, me fala um pouquinho do hospital, quando que ele começou?
2- Não tenho o historio, não posso te dizer.
1- Mas ele é um, ele é publico?
2- É publico e ele atende, pelo que eu conheço, ele atende toda a região do extremo-oeste, caso da questão do espaço
que eles tem cardiológico, atende toda a região.
1- E ele é um hospital escola, tem estagiários lá?
2- Tem médicos estagiários, mudou muito o atendimento agora nos últimos anos, pelo que a gente conhece na época
que eu trabalhava no conselho que eu fiquei internada, tive meus filhos lá, mudou muito, ta muito bom hoje, ta tendo uma
reforma, bem dez assim, ta se modernizando.
1- E sobre o atendimento pedagógico? Quando que começou?
2- Não sei te dizer agora, tem que ver com a Bernadete, ela que tem... acho que tem mais de 10 anos.
1- Tu tens uma sala, né? Essa sala tu organiza os horários pra atender essas crianças? Tal horário até tal horário eu
atendo aqui na sala, depois eu vo pro leito... como é q tu organiza isso?
2- Eu organizo dessa forma, aquele que eu não posso tirar do leito, eu atendo no leito e os outros eu atendo na sala
mesmo.
1- Mas tu já tem um horário pré-determinado?
2- Não, eu faço no dia com as enfermeiras qual o horário que eu posso levar, que as vezes um tem exame não posso
levar naquele horário, tem que trocar de horário, eu agendo diariamente, quando eu chego eu já vou na ala da pediatria,
converso com as enfermeiras, vejo (incompreensível), qual é o horário de medicação delas né, daí eu faço o cronograma
diário.
1- Como é essa tua relação com a equipe do hospital, tu consegue trabalhar em conjunto com eles? Tem psicólogo no
hospital?
2- Tem psicólogo, tem assistente social, tem nutricionista. O contato maior que a gente faz é com a assistente social e
com a psicóloga, converso, mas o básico, não tanto quanto deveria, mas é só uma pra todo hospital, não pode a toda hora ta
conversando com elas, é um pouco complicado porque é pouco pessoal pra ta atendendo, o número de atendimento é grande.
1- Eles te interessam pelo teu trabalho, vem te procurar?
2- Assistente social e a psicóloga. Que aqui assim a gente tem... elas vem pra conversar, ate pra ver como ta a criança, o
desenvolvimento, como é que ta indo, né ou eu vo la conversar com elas quando vejo necessidade.
1- E sobre os materiais que tu utiliza, o hospital te ajuda?
2- É tudo a GERED (incompreensível), que fornece esse material, ate eu cheguei a conversar, procurar que a gente
procurava de um material, eles disseram que não tinham como fornecer, por isso que eu percebo que não tem muito interesse,
não demonstram interesse, parece que não faz parte, da impressão.
162
1- Tu te sente desconfortável?
2- Sim porque eles não valorizam, a direção assim, mais as enfermeiras, o pessoal da pediatria, elas sentem a
necessidade de ter alguém o dia todo, que elas tão mais em contato direto com a criança, o dia que não tem elas sentem falta,
dizem que a criança pede, não vai ter escolhinha, pedindo pela professora, tem alguns que dizem que não vejo a hora que
comece a aula pra eles sair do quarto, fazer uma atividade diferente, então as enfermeiras da ala da pediatria...
1- Te acolhem bem?
2- São bem (incompreensível), percebe que elas valorizam o trabalho da gente.
1 - Era isso então, te agradeço por me receber.
Transcrição Entrevista 10 Pedagoga: Sophia Hospital: H8
Data: 12/08/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- Tu é pedagoga né?
2- Isso, uhun.
1- Tu te formou em que ano?
2- (pensando) 85, eu acho.
1- 85?
2- Isso
1- Em que universidade, em que instituição?
2- Palmas, Paraná
1- Foiem Palmas?
2- Sim, ahan.
1- Tu é de lá?
2- Não não, eu era daqui, eu ia pra lá.
1- Tu não lembra o nome da universidade?
2- (incompreensível)
1- Tudo bem, eu procuro depois.
2- (incompreensível)
1- Quais foram as tuas experiências de trabalho antes de chegar no hospital?
2- Professora de educação infantil, até série, eu trabalhei na secretaria, como assistente, eu trabalhei na orientação,
biblioteca, (incompreensível), secretária, eu fui da direção durante um tempo, diretora dessa escola, eu acho que é isso.
1- Sempre aqui no Deodoro?
2- Não, eu trabalhei três anos numa escola do interior, entrei pelo município de Concórdia, depois eu fiz concurso
ingresso, me efetivei e assumi aqui no Deodoro.
1- Certo, e então tu totaliza quantos anos de trabalho?
2- 28 anos. (risos)
1- Sempre com educação, né?
2- Sempre com educação.
1- Tu fizesse alguma pós-graduação?
2- Fiz.
1- É, em quê?
2- Educação infantil e séries iniciais, né.
1- Tu lembras em que ano?
2- Queres que eu pegue pra ti ali, as datas?
1- Da tua pós-graduação?
2- É, eu tenho tudo ali.
163
1- Pode ser.
2- Em 2000 eu terminei e a faculdade eu terminei em 1985, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas.
1- Sophia, eu queria que tu me contasse um pouquinho como é que tu chegou até o hospital. Como é que tu conheceu o
trabalho que tinha lá, se tu foi convidada, como é que foi isso?
2- Aqui no Deodoro né, um dos nossos projetos da escola, a classe hospitalar, entre tantos outros que a gente tem aqui
né, então tinha uma professora que tava lá e ela se aposentou e eu disse não, ela assim... que tinha que... era um... a escola
que indicava porque é daqui né, os professores né, então a professora Ivete que tava anteriormente, ela se aposentou e ela me
convidou, ela disse assim... juntamente com a GEREI, né. Ela disse assim, ―Sophia, você não gostaria de trabalhar na classe
hospitalar?‖, e era uma experiência pra mim diferente né, porque Meu Deus e agora será que eu sei? Será que não sei? Mas
eu disse, Não, eu aceito.‖ A gente já passo por todas, várias etapas na escola... deixa, eu vo experimenta mais essa
experiência, eu tinha curiosidade de saber como era, como fazer, como lida lá dentro né.
1- Antes de surgir esse convite tu já tinha estado no hospital?
2- Não, não tinha estado no hospital, não sabia como... ai ela disse, me convidou... acho que você, se você quiser, ela
disse... se você quiser ela disse... ai acabei, indo lá conhecer e aceitando o desafio.
1- Que ótimo!
2- É bem diferente, eu acabei meio que... agora eu acabei assim... entrando bastante assim na vida.. na vida deles não,
mas assim... eu assim, fiquei meia preocupada com o tempo integral, o tempo todo, de meio-dia... eu esquecia do horário, a
gente esquece do horário lá dentro, mas foi assim, pra mim foi a melhor coisa que aconteceu.
1- É mesmo? Que bom!
2- Daí a gente ta quase se aposentando também, mas é muito bom assim, muito gostoso, não pelo fato só em si do
trabalho, se tiver que trabalhar, se tiver que dar aula lá, sem ganhar , eu vo, tão prazeroso que é.
1- Tanto que tu gosta de estar lá... Há quanto tempo que tu ta no hospital?
2- 3 anos faz, 3 anos e pouquinho.
1- Tu és efetiva né?
2- Efetiva.
1- Eu queria que tu me falasse um pouquinho, qual é o trabalho que tu faz lá no hospital?
2- O trabalho que a gente faz é assim, a gente... dependendo da idade deles, a gente tem um horário, aí dependendo das
criaas que tão internadas a gente organiza, faz as equipes, por exemplo, tem criança que tem pneumonia, o respiratório a
gente faz num horário, o cirúrgico em o outro, a gente não mistura eles, os que têm outras virose a gente, tudo num horário
assim... por exemplo assim, o horário é flexível pra nós, se não tem criança cirúrgica, da gente fica com mais tempo, eles
querem fica mais tempo, uma hora e meia, 2 horas, cada turminha, de manha e de tarde.
1- A mesma turma no caso.
2- Sim, se tive, por exemplo assim, ai hoje não tem cirúrgico, então, vamos de manha e vamos de tarde, a gente vai
moldando, a gente organizou um horário pra que a gente pudesse também se organizar, né.
1- Como são esses horários, me conta assim como que tu ta organizando esse teu atendimento, esse teu trabalho?
2- Ele ta sendo assim, de manha a gente pega a lista dos internados, né, passo na portaria, na administração, eles
liberam uma lista pra gente, seleciona as crianças que são em idade escolar, da gente seleciona, daí as mães vão pedindo
assim, por exemplo... ―Posso ir hoje a tarde? Posso vim agora? Posso pegar alguma coisa?‖ Mesmo pra elas né, e ai a gente...
os alunos que são mesmo de escola, que estão indo pra escola, a gente organiza por exemplo assim, pré-escola, horário de
pré-escola, então o que que eles tão tendo de atividade na escola deles, a gente acaba ajudando eles aqui, dependendo da
enfermidade, dependendo de como eles tão, as vezes eles tão com um braço, os cirúrgicos, braço quebrado ou coisa assim...
a gente da atividades que ele possa fazer... tem bastante jogos educativos, que a gente trabalha com eles, tem computador
com internet que o hospital colocou pra nós internet, então a gente entra no site de escola, eles entram nos blogs das profes,
daí eles acabam colocando o que tão fazendo de atividade no hospital e mandando pros profes deles, das escolas que vem
dos municípios também, as vezes na escola mesmo eles fazem as coisas deles e daí eles dizem ―Profe, to fazendo isso isso
na escola.‖ E a gente entra em contato com os profe deles também, aqueles que ficam mais de 3 dias a gente faz uma ficha de
acompanhamento das atividades que eles fizeram, a gente entra em contato com a escola, liga, aqui do hospital as vezes,
mesmo a mãe traz pra gente, profe ele ta tendo isso isso, mesmo as crianças dizem ―Profe, to tendo isso isso na escola.‖ E a
gente dá continuidade ali, português, matemática, as básicas de 1ª a 4ª, ―Olha de ciência eu to tendo o corpo humano profe.‖
Daí a gente vai lá... aqui aqui... eles mesmo dizem o que tão tendo e se eles não conseguem, não sabem, da gente liga pras
profes e elas dizem ―Pode dá isso isso isso.‖
164
1- É comum esse contato com as escolas de origem?
2- Sim.
1- E tu tens um retorno?
2- Sim, a gente faz um, deixa eu até ver se eu tenho aqui (procura algo), não não tenho, mas depois eu te mostro lá no
hospital... a gente tem chamada, que a gente faz chamada, quantos dias eles tão, a série que eles tão, a escola que eles tão,
tudo né, a doença que eles tem, o jeito que eles permanecem, as datas, tudo né... a gente faz esse (incompreensível) traçado
dos alunos que estão e ai a gente faz o trabalho ou os que não podem vir, por exemplo assim, as vezes tem uma criança agora
que tem raio x, seria o horário dele, a gente organiza o horário para que ele possa vir depois.
1- Entendi.
2- A prioridade pra eles a gente deixa a... o que eles tão lá dentro fazendo, agora tem ultra-som, agora tem cirurgia, agora
tem... Mas profe, tem cirurgia mais cedo, eu não posso ir.‖ Mas ai eles vem de tarde, a gente organiza, mesmo que eles o
podem vim de tarde, não tem como eles vim... Mas profe eu preciso.‖ A gente acaba indo lá no quarto, atendendo eles na
cama, levando o material lá, a gente libera pra eles de noite, livros de 1ª a 4ª, por exemplo português, que eles tão tendo de
atividade, um texto, matemática,... que que eu vo te dize... (pensando)
1- Adalzira, tu consegue seguir o currículo formal da escola com essas crianças que tão no hospital?
2- A gente trabalha projetos aqui também, tem alguns projetos que a gente consegue trabalhar, trânsito, meio ambiente, a
gente trabalha em cima desses projetos pra eles lá no hospital também, nas atividades deles, isso a gente consegue trabalhar
assim.
1- Tu trabalha com todas as séries?
2- Todas as séries.
1- Até 8ª ou ensino médio?
2- Ensino médio também, mas densino médio é assim, às vezes eles tem trabalho pra fazer e eles acabam fazendo lá,
no hospital e acabam mandando pros profe deles.
1- Tu acompanha?
2- Acompanho... tem os livros do ensino médio, que eu pego aqui no lado, quando tem alguma criança que tem as
atividade, pode ser de outros municípios também, a gente conversa com o (incompreensível) que o (incompreensível) tem
segundo grau, daí eles me dizem ―Profe pode dar isso isso, pode da esse material.‖
1- Tu tem contato com esses colégios também?
2- Ahan.
1- Tu trabalha sozinha? Tem mais alguma pedagoga?
2- Não não, sozinha.
1- E as crianças de 0 a 6 anos, quais são as atividades que tu faz com elas?
2- A gente tem o projeto de leitura, então as leituras, brinquedos, de montagem, os jogos, que eles amam essas coisas,
pintura, bastante pintura, historinhas, leitura, literatura, vídeo, computador.
1- Pras de 3 a 6 anos também?
2- Ahan, é que a gente instalou umas historinhas no computador, literatura infantil, umas coisinhas assim, música, eu
mostro pra você lá no hospital como é que é.
1- Os bebezinhos ficam junto com os outros? Tu tens uma sala ou atende no leito?
2- Não, eu tenho uma sala e atendo no leito, na tal hora, por exemplo, 15 pras 11 a gente começa atendendo leito, até as
11:30 a gente atende no leito, as vezes tem uma turma que não ta por exemplo, hoje o tem nenhum com virose, daí a gente
naquele horário a gente também atende, a gente vai pra CTI, a gente atende eles na CTI também, tem crianças que ficam
alguns dias, daí a gente acaba levando lá, as vezes eles internam, uma menininha interno na CTI, não tinha eu, era um final de
semana, pego a caderneta dela de saúde, tudo que tinha lá ela copiou, dno outro dia eu cheguei, disse ―Como que você foi
escrever na sua caderneta?‖ ―Profe, mas não tinha nada. Tava te esperando.‖
(Risos)
2- Eles dizia assim ―Profe, não precisa ir pra casa, tem uma cama aqui, dorme aqui.‖ (incompreensível)
1- Pra fica junto...
2- Pra fica junto. ―Mas eu divido minha comida contigo.‖ Pra eu poder ficar lá e e pra eles poderem sair do quarto...
1- Tem brinquedoteca também no hospital?
2- Tem brinquedoteca também.
1- Separada do teu espaço?
165
2- Uhum, ela fica aberta o dia e a sala de aula não, funciona como a escola, os horários assim, senão a gente acaba...
(incompreensível) Essas coisas assim é bem flexível.
1- Sophia, tu consegue atender todas as crianças que internam?
2- A maioria sim, uhum, a não ser quando ela faz um exame, por exemplo, alguém no hospital interna agora, tem exames
pra fazer, no outro dia, ela tem alta no caso, mas assim, uma que outra... a maioria a gente consegue, um que outro que o
consegue.
1- E no isolamento, na UTI tu atendes também?
2- Também, a gente usa o que precisa pra atender eles, tem o pessoal da enfermagem é muito bacana lá, pra nos
orientar, mas nos dize ―Ó profe é assim assim...‖
1- Como é que é esse teu relacionamento com o pessoal da enfermagem, o pessoal do hospital?
2- É maravilhoso pra mim, pra eles também, a gente sempre sente falta quando a gente não vai, final de semana, mas
assim, é bem... com os médicos também, é bem...
1- Vocês compartilham tudo que acontece ali?
2- Ahan, tudo, eles já vão internando e dizendo ―Tem uma sala de aula, você vai ter atividade lá.‖ Lá mesmo no
consultório já, vão internando e os médicos já vão colocando...
1- Os médicos já vão orientando... Ai que bom!
2- Já vão orientando. O que é pra gente fazer também, porque tem criança que não pode fazer isso, não pode fazer
aquilo, então a enfermagem já passa pra gente ou mesmo o médico as vezes tem um tempinho, ―Ó profe tu vai te que isso isso
isso‖. A gente trabalha muito, os neuros né, as vezes tem problemas neurológicos e a gente não sabe como, o que fazer, daí o
médico orienta, ―Profe, pode faze isso isso isso‖, sabe...
2- Na APAE também né, o pessoal que vai lá na APAE e daí aqui as profes, né, orientam né...
1- Já te orientam.
2- Ou mesmo as médicas que tão aqui, elas orientam a gente, ―Pode trabalhar assim assim.‖ E a gente trabalha...
1- Isso te da mais segurança então.
2- Com certeza, ahan.
1- E como tu te sente trabalhando com a variedade do conteúdo, porque tu atende todas as idades, tu te sente preparada
pra trabalhar com toda essa variedade de conteúdos?
2- Com 28 anos de trabalho a gente já tem assim, a 4ª, educação infantil, a gente tem uma bagagem bastante grande
né, de muitos anos de trabalho, então assim não tem problema, a maior dificuldade que sinto é de grau no caso, mas a
gente procura orientação e vai atrás, porque não são muitas crianças que internam de grau né, e dentão aqueles que
internam a gente vai procurar, ―Não profe, eu tô tendo dificuldade aqui aqui aqui.‖ Da gente vai na escola pede pra profe, o
profe (incompreensível), a gente pega aqui com os prof, português, matemática, ciências, eu preciso disso de ciências, que o
aluno lá ta tendo essa matéria, eles liberam as atividades que eles trabalham na escola, esse conteúdo a criança tendo lá na
escola dela, por exemplo, daí eu chego aqui, os profe aqui são maravilhosos pra orientar a gente, até era pra gente levar as
tarefas, a gente até leva pra eles fazerem lá depois, depois de faze pra corrigir, depois devolve, orienta a gente também, nesse
sentido não tenho problemas, mas é o grau, que a gente tem assim, mais dificuldade né... que eles, o ensino médio é
diferente, mas...
1- Como tu organiza as atividades que tu realiza no hospital? A GERED te manda alguma recomendação ou o Deodoro, a
escola manda?
2- Uhum a escola, a gente tem o nosso PPP com os conteúdos né, e ai a gente acaba fazendo as atividades aqui... eu
faço aqui né e levo...
1- Tu faz aqui e apresenta pra alguém aqui do Deodoro, no caso a diretora?
2- A maioria assim, como que eu vo te dizer, as atividades olha... matemática é isso, organizo o conteúdo e levo e faço...
daí é isso isso isso... a gente tem um plano.
1- Quem te da esse plano é a escola?
2- Uhum, é a escola, é o mesmo da escola.
1- Entendi. E quem vai elaborando as atividades, então seria você?
2- Sim, ahan, eu elaboro as atividades, em cima da...
1- Da proposta da escola.
166
2- Isso, e que a maioria das escolas trabalham... hoje é... esse mês é meio ambiente, então todas as escolas, a maioria ta
trabalhando, ou agora ou depois trabalham o meio ambiente, o trânsito, tem vários projetos na escola e dentro desse a gente
trabalha a língua portuguesa, historia, ciências,...
1- Entendi. O que tu pensa do nome classe hospitalar? Tu pode chamar o trabalho que tu realiza no hospital de classe
hospitalar?
2- Eu acho que sim.
1- Tu nomearia como classe hospitalar?
2- Sim, acho que sim.
1- Quais as características pessoais que tu acha que contribui, as tuas características que contribuem pro teu trabalho no
hospital?
2- Eu acho que a tranqüilidade, a calma, o carinho, a valorização, o amor que tem que ter... num entendimento de
algumas coisas que... deles né... paciência...
1- É importante. A tua formação contribuiu de que forma pra tua atuação no hospital? A tua formação, tua pós-graduação,
de que forma elas contribuíram nesse trabalho que tu ta fazendo no hospital?
2- (incompreensível) na prática... prática, como diz o outro, a gente vai adquirindo no dia a dia que a gente vai fazendo
lá... no caso, mas assim, claro que o... como que eu vou te dizer... o saber mais, o poder ensinar melhor...
1- Quando tu cursou a pedagogia, alguma vez foi comentado, foi abordado o assunto do pedagogo no hospital?
2- Não, que eu lembre não.
1- Tu fosse saber sobre essa possibilidade quando aconteceu o convite, foi isso?
2- Não, aqui na escola já tinha, nós tínhamos a classe hospitalar, quando surgiu em 2002, surgiu a classe hospitalar ai
a gente acabou, eu acabei né... sabendo...
1- Ahan.
2- Que surgiu a classe hospitalar em si, daí tem um documento lá que tem tudo, daí eu mostro pra ti direitinho as datas,
que agora eu não...
1- Adalzira, por esse tempo que tu ta trabalhando no hospital, toda tua experiência... quais são os saberes fundamentais
prum pedagogo que atua no hospital, na tua opinião, que que ele precisa saber, pra ta atuando no hospital?
2- Eu acho que ele tem que conhecer um pouquinho, conhecer um pouquinho não... conhecer o hospital também, ter uma
integração com o pessoal da enfermagem e os médicos assim... pra você saber como lidar com certas enfermidades, e ao
mesmo tempo com os pais né, porque o carinho dos pais (incompreensível) ―Profe, eu nunca consegui ficar com o meu filho,
eu nunca consegui fazer (incompreensível) eu nem sabia...‖, a gente orienta eles muito pra que eles vão pra casa pra fazer as
atividades junto com os filhos deles, então assim, eu acho uma ligação tudo entre... pai, hospital né, com os funcionários, os
médicos, pra saber tudo sobe a criança e eles mesmos né... e as crianças mesmo, a gente... ter uma afinidade com eles
sabe... com as crianças, pra que funcione né, que as vezes eles não querem e a gente com jeitinho a gente conversa, vamos
na classe, vamo lá vê como é e a gente acaba levando, mas eles ficam com bastante medo.. ahh e a roupa, é uma coisa que a
gente tem que... hospital branco, eles não gostam de branco, eles não gostam de branco! (ênfase)... o nosso uniforme tem que
ser uma outra cor, uma outra coisa assim que eles gostam, sabe...
1- Tu já modificasse isso, tens um uniforme que tu usa?
2- Não tem um uniforme, mas eu procuro não usar branco, pra que ele não fique assim... com aquele coisa, só porque é
branco Meu Deus! O medo né... daí as meninas medicam, a enfermagem medica eles lá na sala de aula né e ai eles acabam
nem vendo que tão sendo medicados, tão fazendo as atividades, pra eles o mais importante... a gente sempre pensa assim... a
escola e a casa deles, a única coisa assim que é muito do dia a dia deles... só deles né, como no hospital não tem a casa
deles, pelo menos a escola se faz presente e pra eles é a melhor coisa que tem. ―Ah que pena que amanha não tem aula, né
profe?‖ Nesse sentido a gente percebe que eles adoram... (incompreensível) e eles internam muitas vezes e dizem ―Eu adoro
me quebrar, só pra vim aqui!
(Risos)
1- Gostam de estar no hospital.
2- Não pode! Essas coisas (incompreensível), eu vou aula pra ti fora, mas não pode. (incompreensível) se ele
quis agradar, não sei o que ele quis fazer, sabe... eu não acredito, a gente tem bastante retorno dos pais, deles mesmo, eles
escrevem carta pra gente, vão pra casa, tem alta, aí eles escrevem.
1- Que bonito, que legal! Tu ta fazendo agora no momento algum curso pra aprimorar esse teu trabalho no hospital?
167
2- Nos fizemos agora o último agora... faz uns 2 meses que a gente terminou... informática e alguma coisa, não tenho
certeza do nome.
1- Quem te ofereceu esse curso?
2- A GERED, a gente fez até lá.
1- O hospital te oferece algum curso de formação?
2- Palestras, a gente faz, palestras...
1- São comuns ou nem tanto?
2- A gente faz... seguido assim... palestras, cursos a gente faz alguns da saúde, alguma coisa assim, as vezes mexe
(incompreensível)... o hospital, as enfermeiras... assim (incompreensível)
1- Tu leu alguma coisa sobre o trabalho dos pedagogos em hospitais?
2- Não
1- Não?
2- Não, específico não... da classe hospitalar sim, apostilas, essas coisas que tem na classe hospitalar...
1- Apostila que a GERED te encaminhou?
2- Isso... ou mesmo a gente pesquisa, mas livros específicos do pedagogo não... só apostila, bastante sim, sobre classe
hospitalar.
1- Certo, tu já visitou, já conheceu alguma outra classe hospitalar?
2- Não.
1- Mantem algum contato com alguma outra pedagoga que atua em hospital?
2- Também não.
1- Quando tu vai procurar algum material de leitura, alguma coisa pra aprimorar o teu trabalho, tu procura em que área?
Procura mais a psicologia, mais a questão da saúde, das enfermidades, procura mais voltada a educação?
2- Eu acho, que mais voltada a educação eu procuro, pra... porque a enfermidade o médico trata, só ele que pode
trabalhar com eles, dependendo do que ele tem tu faz o teu trabalho, é mais o mesmo o conhecimento dele né, continuação,
psicologia também, trabalha bastante, é o bem estar, é a tranquilidade dele estar bem, tomar medicação pra ficar melhor e...
psicologia também, acho que é uma das partes que mais ajuda eles lá dentro, (incompreensível) e as dificuldades que eles
tem, assim por exemplo, as vezes tem algumas dificuldade neurológica que eles, os pais não sabem como lidar, daí agente
conversa, orienta, da gente acaba pesquisando ou mesmo pedindo pra outras pessoas que tem essa formação pra que nos
ajude, psicopedagogo a gente trabalha bastante, ela trabalha na escola e vem pra lá e ―Ai profe, isso isso isso.‖
1- A psicopedagoga. Tu tem interesse nessa área também.
2- Uhum
1- O que tu considera importante pro currículo de pedagogia pra atuação do pedagogo no hospital, o que que o currículo
de pedagogia deveria contemplar pra esse pedagogo que futuramente possa vir atuar no hospital?
2- Eu acho que teria que ter... muitas vezes o conhecimento mais...
1- Conhecer mais as doenças?
2- Não, mais conhecer, conhecer a criança mais em si, tem algumas coisas que eu não sei se eu... que eu tenho que
procurar, assim bem, as deficiências dos surdos, mudos... os sinais que teria que, que eu acho que teria que colocar também,
eles já acabam ensinando os pais e acabam ajudando a gente, a GERED tava, a gente tava pegando orientação e tudo,
pedindo pros profes né, pros médicos nos ajudar, mas o que... os neuros que a gente tem que ter, saber como, o
entendimento, como se trabalhar com essa criança...
1- Tu acha que o currículo de pedagogia que deveria contemplar isso?
2- Não sei, sei que talvez, não talvez o currículo, mais que talvez um curso...
1- Específico.
2- Que especificasse isso, mas pra saúde também, a gora a gente foi, agora eu já, como diz o outro, a gente sabe
bastante ne... (incompreensível)
1- Foi sobre isso que tu sentiu mais dificuldade no início?
2- Eu não sabia como lidar, tinha uma criança de 4 - 5 anos, com alguma, ela teve, como se diz... quando nasceu...
1- Hidrocefalia?
2- Isso, falta de oxigenação né...
1- Ah! Falta de oxigenação.
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2- D ela ficou com alguns movimentos e alguns ela não tem, a cabecinha assim, ela (incompreensível) a gente
conversa e hoje ate já ouve a voz, sabe que sou eu... então, só que ela não tem movimento, no começo eu não sabia como
trabalhar, não sabia o que fazer, daí fui em médico e eles me orientaram... ―Profe, tu faz assim assim assim‖, nesse sentido
que a gente poderia estar melhor, ta ajudando melhor eles...
1- Quem ta se formando agora neh?
2- Isso.
1- No hospital de uma forma geral, qual é a tua principal dificuldade, quando tu ta trabalhando no hospital? Tu consegue
identificar?
2- Os horários.
1- Os horários?
2- É, porque daí eles... tem crianças que não querem ir pro quarto, querem ficar na sala e tem outra turminha, então assim
a gente tem que conversar, explicar que depois eles vem, sabe... então... eles querem, gostam... o horário extrapola sabe, do
deles... os horários pra mim assim...
1- Tu determina uma hora e meia pra cada?
2- Mais ou menos, assim, não tem especifico que seje, se a gente não conseguiu termina a gente... mais um pouquinho,
mas eles querem de manha, querem de meio dia, querem de noite, querem de tarde...
1- Querem o tempo todo.
2- O tempo todo eles querem ta aqui, eles tão lá dentro, eles tão lá na porta... esperando o horário deles ou pra... ―Espera
no seu quarto.‖ E a gente não gosta muito que eles caminhem no corredor, porque eles podem pegar outras coisas, né...
―Agora não pode, agora é essa turma que ta aqui‖, ―Mas profe, só deixa eu pega um livro então?‖ Mas mesmo que eles tem os
livros lá, é só pra ficarem ali na sala.
1- Ficarem junto contigo.
2- Isso.
1- Agora pra finalizar eu queria que tu me falasse um pouquinho sobre a importância do teu trabalho no hospital, como tu
que é importante ter um pedagogo no hospital, porque é importante ele estar ali? O que o pedagogo contribui pra essa
criaa hospitalizada?
2- Eu acho assim, que ela contribui principalmente pra recuperação deles, a gente faz... eu pelo menos, assim
(incompreensível), conversando dando as atividades, orientado, ajudando, eu acho assim que a recuperação deles, a
principal pra mim é a recuperação dele lá... se eles tem, se recupera mais rápido... mais feliz, sabe... eles tão ali chorando e eu
chego de conversa e ele começa a dar risada e começa... e não queriam ir e acabam indo e ficando, e gostando e se
recuperando.
1- E quando eles estão nessas situações tu usa mais lúdico, tu usa atividades mais... jogos?
2- No começo a gente ate penso assim, que que a gente vai fazer, daí eles ―Ai profe tem um joguinho? Queria montar,
queria fazer isso, queria fazer aquilo.‖ D a gente acaba fazendo com eles e depois... que que tu acha de nos faze essa
atividade e no fim a gente vai conquistando eles, pra que eles... ―Ah eu gosto mais de português‖, (incompreensível) dentra
né...
1- Tu dá uma priorizada no lúdico, na brincadeira?
2- O mesmo... ―Que que a gente vai faze agora?‖, assim sabe.. ―Que que a gente poderia fazer?‖ eu Profe, vamos faze
português, vamo faze matemática, vamo faze continha...?‖ daí...
1- Eles que pedem as atividades.
2- Isso no início assim, e daquele que tão no processo, a gente acaba fazendo né, entrando... ―Vocês querem ouvir
uma história, uma historinha?‖ Vamo ouvir uma história?‖ Depois eles acabam escrevendo. ―Profe queria tanto...‖ ter a
oportunidade de usar o computador que nunca tiveram, deixei um , ―Mas eu tenho medo, não vo usa o computador.‖ ―Mas a
profe deixa‖ ―Mas na outra escola a minha profe não deixa.‖ ―Mas aqui a profe vai deixar, daí tu vai pra casa e tu diz pra tua
profe que você também pode usar aqui, que você pode ajudar.‖, então assim, não no sentido assim né... mas no sentido assim
de ajudar eles... que eles possam usar também, pra que eles tenham oportunidade, porque ta ai pra usar e a maioria das
escolas têm.
1- Dar a oportunidade para que a criança expresse suas vontades também seria uma importância de estar o pedagogo ai?
2- Isso, isso. E é... eles sentem saudades, eles choram... eles não querem ter alta, tem uns que não querem ter alta... d
eles encontram a gente na rua ―Ai a minha profe! Eu queria tanto ficar aqui na escola.‖ Claro que é, a atenção, o grupo menor
né... de crianças, a gente atende independendo do grupo a gente atende 5, 6, 7 juntos né.. a sala também não é muito grande
169
né... mas a... acho que a gente tá mais perto deles e como eles se sentem mais acolhidos, tudo né... então acho que é nesse
sentido que eles gostam de vir pra cá... eles escrevem como ta na escola, escreve pra gente dizendo que ele melhorou, assim
bem... vem aqui no hospital, levam na portaria mesmo e a portaria levam pra gente, então é bem gratificante. E as atividades é
português, matemáticas, o que eles tão tendo, ciência, (incompreensível).
1- Sophia, agora vamos conhecer o hospital então?
2- Vamos lá.
Transcrição Entrevista 11 Pedagoga: Eduarda Hospital: H9
Data: 12/08/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- Eduarda, tu te formou em pedagogia certo?
2- Pedagogia series iniciais, uhum.
1- Em que ano foi a tua formação?
2- 2006.
1- 2006. Em que instituição?
2- UNOESC.
1- UNOESC. Tu tens alguma pós-graduação?
2- Eu to fazendo pós-graduação agora (incompreensível) to fazendo a pós-graduação em gestão escolar.
1- Gestão escolar.
2- Uhum.
1- Onde tu trabalhava antes de vir trabalhar aqui no hospital, qual foi a tua experiência de trabalho antes de vir pra cá?
2- Foi nas escolas, em sala de aula.
1- Quanto tempo que tu trabalha com educão?
2- Fazem nove pra dez anos.
1- Nessas escolas tu atuavas na educação infantil?
2- Séries iniciais.
1- Me conta como é que tu chegou aqui no hospital.
2- Como eu cheguei aqui... a professora que trabalhava aqui se aposentou, então eles, se aposentou no mês de... julho,
em agosto acho que foi, eles tavam com bastante dificuldade pra achar outra pessoa pra vir trabalhar aqui, porque nem todos
os professores gostam do..., do que você diria assim, do lugar, do ambiente, porque aqui você tem que ta preparado com as
criaas, com os pais das crianças, com as doenças, com a morte, com tudo, tem que ta preparada pra todas essas
circunstancias e tem pessoas que são mais sensíveis que já não... então eles tinham bastante dificuldade pra achar
profissional pra trabalha, então foi no ano de 2007 que a professora se aposentou e eles não conseguiram ninguém,
conseguiram... eu sei que nesse tempo de agosto até o final do ano passaram por aqui duas pessoas e não conseguiram se
adaptar bem, aí no ano passado fui convidada pra trabalhar aqui.
1- 2008.
2- 2008, no ano passado.
1- Então tu ta aqui há um ano e pouco?
2- Há um ano e um pouquinho, um ano e meio.
1- Tu é efetiva do estado.
2- Não, eu não sou professora efetiva.
1- Tu é contratada.
2- Ahan.
1- E como ficou com essa normativa que saiu ano passado, não tivesse conhecimento?
2- Tenho conhecimento, mas só que não tem professores, aqui do estado na região tem falta de professores, a maioria
dos professoras aqui são ACT, tem uma falta muito grande de professores
170
1- Então eles não conseguiram.
2- Não tem professor.
1- Eu queria que tu contasse qual é teu trabalho aqui, Eliane.
2- Que que eu faço aqui com as crianças... olha... eu trabalho com criança de 2, agora aqui pra cima, eles tão internando
até 14 anos.
(interferência)
2- Eles tão internando crianças, bebês e até 14 anos de idade, só que 14 interna aqui em cima, eno que que a gente
faz, eu tenho atividades prontas conforme a idade da criança, eu vo trabalhando essas atividades, tenho muito material
pedagógico pra trabalhar, que a gente trabalha bastante a parte lúdica, porque normalmente as crianças tão com sorinho no
braço, as vezes na mãozinha, então não escreve com essa, escreve com aquela, então a gente tem que procura alguns
matérias adequados pra trabalhar com as situações que a criança se encontram, fizemos as atividades, assistimos vídeos
educativos que tem coleções de vídeos que a GERED manda pra classe, livros educativos, que a gente trabalha muito a
literatura, muito história, muito conto, historinha, trabalha a historinha, ai eles fazem o reconto da história pra produção, as
criaas que tão se alfabetizando, a gente lê a historia e o quadrinho ali, a gente pega o alfabeto móvel e vai montando o
nome dos personagens da historia, fazendo uma relação, começa com a letra A, vamos ver quantos personagens tem com a
letra B e assim por diante né, os menorzinhos a gente trabalha bastante recorte colagem, muito a coordenação... desenho,
pintura com tinta guache, pintura com giz de cera, lápis de cor... tudo que você possa imaginar que se faça em uma sala de
aula a gente faz aqui, só que tudo mais limitado, porque tempo também... na escola você pega ali duas aulas, você dá
continuidade e faz um trabalho bem jóia, aqui não, a criança ta aqui tem uma medicação pra fazer, ai tem que voltar pro quarto,
ai depois que toma a medicação não pode mais voltar, você tem que interromper ali, muitas você não dá continuidade
praquilo... cada dia que você chega tem um aluno diferente, isso também conta, não como na escola que você encontra
sempre as mesmas crianças.
1- A mesma turma.
2- Cada dia é uma criança diferente e você vai trabalhando assim... as atividades que eu tenho pra te mostrar, são todas
atividades dentro da proposta curricular, do conteúdo conforme a série que a criança ta a gente trabalha, trabalhamos bastante
as datas comemorativas, a gente nunca deixa passar, fazemos o trabalho das datas comemorativas, agora São João a gente
fez o trabalho de São João, os que tavam aqui ajudaram a confeccionar os enfeites da pediatria, com a supervisora de
enfermagem, com a autorização dela e também das técnicas daqui, tínhamos seis, oito crianças internadas, juntamos toda a
salinha um dia, porque na escola eles não poderiam participar da festinha e eles tiveram aqui. As comidinhas a nutricionista
deu uma olhadinha, o médico aprovou, beleza, fizemos aqui pra eles, tiveram o momento deles também no dia 24 né, então
você procura fazer o mais parecido possível da escola.
1- Além desse teu trabalho com as crianças tu consegue ter contato com as escolas de origem dessas crianças?
2- Olha, é meio difícil de ter o contato, porque as crianças que ficam aqui na pediatria, são crianças de uma classe
social mais baixa, então as crianças vem aqui, aqui é feito o trabalhinho, eles fazem atividade aqui, desenvolve tudo e você
corrige, coloca a notinha que eles tiraram aqui e ó ―Quando você for pra escola você leva‖, porque a criança que leva, isso é
uma responsabilidade dos pais, tem muitas crianças que nem levam... porque eu fico aqui até as 5:15, né, tem médicos que
passam aqui seis, sete horas da noite, eles vão e voltam no fim do dia. ―Olha, hoje a noite você vai pra casa, tem alta, eu não
vejo essa criança sair... nos finais de semana, eu trabalho até sexta feira, então sábado e domingo eu não vejo a criança sair e
então muitas vezes eu chego aqui e ta aqui o material né.
1- Como tu faz a questão da freência... tu faz um relatório a partir de um determinado dia...?
2- Eu faço um relatório e levo pra escola (incompreensível) que é vinculada a classe e levo esse relatório pra lá, a partir
do dia em que internou, os dias que ficou que teve atendimento, os dias em que ficou internado, que teve alta, de todo esse
período.
1- Tu consegue fazer de todo...
2- Todas elas, ahan. Todas elas a gente precisa fazer. Não é feito com as crianças que ficam na emergência, não é...
emergência é um dia, então um dia você não tem como fazer um relatório, alguma coisa, pode passar alguma coisa ali, mas
não mais que isso.
1- Mas esse relatório que tu faz tu encaminha pra escola de origem e ele acaba sendo encaminhado pro...?
2- Encaminho pra escola de origem, a escola de origem encaminha pra GERED e a GERED entra em contato com as
escolas.
1- E a GERED também faz o contato, tu não chega a ligar pra elas?
171
2- Não. Eu liguei esses dias que o menino ficou vários dias aqui, liguei pra escola, o menino tava na 8ª série, a minha
formação é até a 4ª série, não tenho nem porque saber o conteúdo de matemática lá da série, como eu digo eu me preparei
pra trabalhar com os pequeninhos né, então eu liguei pra escola e pedi pra eles me mandarem uma atividade que desse pra eu
trabalhar com ele aqui, prontamente a escola me atendeu e me mandou a reforma da língua portuguesa, deu trabalhei com
ele.
1- Tivesse uma resposta dessa escola.
2- Sim, quando a gente solicita sim, quando eu preciso de alguma coisa, teve um caso de uma crianças de 4 anos de
idade, uma criança com deficiência bem, digamos assim moderada né e a criança não se encontrava, uma criança bem
especial, eu liguei pra GERED, a GERED entrou em contato com a assistente social, a assistente social veio aqui conversar
comigo e com a criança, então essas coisas...
1- Tu tem contato.
2- Sim, nesse sim.
1- Tu comentou, tu trabalha com todas as séries?
2- Séries iniciais, vai de 1ª a 4ª, então todas.
1- E a educão infantil e depois 5ª a 8ª?
2- 5ª a 8ª também, quando tem crianças aqui sim.
1- Então, as crianças de 0 a 6 anos, quais são as atividades que tu faz com essas crianças?
2- As de 0 a 6, eu posso mostra as atividades que eu tenho aqui? As atividades que eu tenho pronta né... ai tem as
atividades que eu trabalho o lúdico, recorte colagem, as brincadeiras, cantigas, tudo. (se afastou)
1- Essas crianças que são menores, esses bebês, normalmente as mães estão junto também?
2- Olha, conforme a criança, tem criança que ta acostumada e fica numa boa, tinha uma menina que a gente trabalhou
um monte de... trabalhei bastante a coordenação dela, ela ficava aqui sentadinha comigo e ela ficava descansando, porque as
mães ficam na cadeira né, então tem mãe que quando eu chego aqui, geralmente depois do almoço ―Profe tu vai leva pra
salinha? Ai que bom porque agora eu vou descansar um pouco‖ Então eles vem pra cá e as mães conseguem descansar um
pouquinho pra noite, tem os pequenininhos que vem e ficam, tem outros que não, que eles já gostam que a mãe fique junto, as
mães ficam, eu deixo as mães ficarem.
1- Tu consegue atende todas as crianças que se internam aqui no hospital?
2- Todas as crianças que interna, a não ser nos finais de semana, que se uma criança interna final de semana...
1- Aqui tem UTI, isolamento, essas tu também consegue também?
2- Também, porque quando tem criança na UTI, eu não faço muito, porque quando tem, a (incompreensível) da UTI
vem aqui Profe tem uma criança...‖, que idade ela tem, então eu vejo mais ou menos o material que tenho aqui e deo,
muitas vezes é só pra conversar com a criança também, fica conversando porque daí eles tão ali sozinhos. Olha, essa
atividade aqui é pra educação infantil (mostra), atividade que a gente faz, sempre pensando que tem que ter o concreto, o
desenho, pra eles saberem né, a gente se preocupa muito com isso, sempre mostrando a gravura, porque se você for ali no
quadrinho eles não vão saber quantidade,... então esse tipo de coisa, seência de número.
1- Sequência, quantidade...
2- Treino das letras, sempre com os desenhos que a crianças adoram pintar, sobre matemática a gente trabalhou dezena
e unidade com os palitinhos e tal, essa atividade é pra que cinco, seis anos possam fazer, tem crianças que até quatro anos
elas já começam a ir pra creche, já tem interesse e já conhecem alguma coisa que a gente trabalha também, os outros
menorzinhos a gente trabalha (incompreensível) não deveria ser assim, na sala de aula não é assim.
1- Muitas pessoas que circulam. Tem brinquedos, quebra-cabeça...
2- Tem quebra-cabeça, palavras cruzadas, alfabeto móvel que é uma coisa que a gente trabalha muito, muito com eles.
Jogos
1- De encaixe...
2- De encaixe... a gente trabalha quantidade, formas, cores, tudo isso vai trabalhando com eles, eles adoram isso aqui.
1- EDUARDA, como é que tu se sente trabalhando com essa variedade de conteúdo, porque a gente tava comentando do
colégio, da sala normal, como tu lida com essa variedade todos os dias, tu te sente preparada pra trabalhar com todos esses
conteúdos?
2- Eu me sinto preparada porque, você chega aqui conforme a clientela que você tem você sabe com o que vai trabalhar,
você a criança ali, quando você traz a criança, nota o interesse dela, você o conhecimento que ela tem,q eu ela traz,
tem atividades, tipo essa aqui... (mostra) essa atividade é de 3ª série, que são os conteúdos de 3ª 4ª série, tem crianças
172
que tão na série que não conseguem fazer, se coloca pra elas essa atividade aqui, algumas conseguem fazer, outras
não... nem conseguem fazer isso, então você vê, daí que que vai faze, vo partir pro lúdico, eu vo praquele lado ali, uma coisa
que a gente faz muito é jogo de memória que desenvolve o racionio, tem que fica concentrado, isso ajuda um monte, dominó
de adição também que eles adoram, que eles querem sempre ganha, então eles ficam ligado naquilo ali, eu acho, eu me sinto
preparada pra trabalhar nessa diversidade.
1- Quem te ajuda no trabalho aqui no hospital, tu trabalha sozinha né?
2- Sozinha.
1- Tem alguém que contribui mandando material?
2- Tem, é a Janete do ensino ali da GERED, a Janete é que contribui comigo.
1- E ela manda algum planejamento pronto, alguma coisa?
2- O planejamento eu mesmo que faço, plano de curso a gente mesmo que faz, tudo dentro da proposta, fiz meu
planejamento de 1ª a 4ª série, mandei pra GERED, a gente manda pra lá né, ela deu o ok, então você vai seguindo ali, por
bimestres né, depois você vai dando seqüência né... lógico que você não vai dando seqüência como na escola, mas você
procura trabalhar aquilo ali.
1- Como é que tu nomearia, tu parou pra pensar no nome classe hospitalar, tu nomearia classe hospitalar esse
trabalhão que tu realiza aqui?
2- Olha, sabe que eu nem sei o que responder, eu nunca parei pra pensar, classe hospitalar, aqui no hospital eles o
dizem classe hospitalar, eles dizem salinha da profe. ―Vamo lá pra salinha da profe.‖ Nunca parei pra pensar classe hospitalar.
1- Elaine, eu queria saber de ti, quais são as tuas características que contribuem pro trabalho que tu realiza aqui, o que tu
acha que facilita?
2- Ai eu acho que... do meu trabalho, acho que facilita deu fala muito, eu so bem comunicativa, eu agora que to mais
nessa parte (incompreensível) por causa do problema dessa gripe, ta calmo aqui, desço embaixo, tem uma criança no
quarto, vo lá atendo aquela criança, ai to passando já tem uma senhora meio tristinha, tem um noninho, uma vózinha... daí
você já começa a conversar e você já passa no outro quarto tem uns rapazes, ―Que uma revista pra você ler?‖ ―Quero.‖ Então
eu peço muitas doações de revistas, ai vo nos quartos, dou uma revistinha pra cada um, vo na onco, do uma revistinha...
pra ajudar o pessoal, porque pra nos que vem trabalha e vai pra casa, eles que ficam aqui direto, é bem complicado, então eu
acho que o que me facilita bastante é isso, eu so muito faladera assim, gosto muito de conversar, de contar historias, acho que
isso que me ajuda bastante.
1- A tua formação contribuiu de que forma pra tua atuação aqui no hospital?
2- Ah, muita coisa nossa... uma coisa maravilhosa minha formação, aprendi muito, coisas que você tinha duvida, que
você não sabia como fazer... canso de pega meus trabalhos e livros da universidade e fica olhando, como que eu posso fazer
isso, como que eu posso fazer aquilo... os autores, desse livro, mas deixa eu como é o nome, vo lá, procuro, acho... muito,
foi muito produtivo minha formação.
1- Especificamente aqui pra essa tua atuação aqui no hospital, tu consegue lembrar de alguma coisa?
2- Não porque na época eu nem sabia que tinha classe hospitalar aqui
1- Não foi comentado durante o curso que existia essa possibilidade dessa atuação do pedagogo não só na escola?
2- Não, não foi, foi preparado mais pra i pra escola, pra sala de aula.
1- Quando que tu soube que tinha essa classe hospitalar aqui?
2- Deixa eu ver... acho que foi em 2005, 2006.
1- Quando tu te inscreveu pra ser ACT, tu já sabia que tinha essa classe aqui?
2- Já, já sabia, mas não na primeira vez né, mas eu já sabia que tinha a classe.
1- Tu já tinha experiência?
2- Não, nunca.
1- Nunca tinha pensado...
2- Nunca tinha pensado em trabalhar no hospital e quando me convidaram pra trabalhar aqui, teve uma coisa que eu
gostei muito, porque antes deu ir pra área da educação eu sempre tive vontade de ser enfermeira e eu fiz o técnico de
enfermagem e eu fiz o técnico de enfermagem, depois casei, fui cuidar dos meus filhos e tal, daí depois... fiquei um tempo sem
estudar e disse ―Vou estudar de novo, que que eu vou fazer?‖ Resolvi fazer pedagogia né, mas antes disso que fiz auxiliar de
enfermagem.
1- Casou as duas...
173
2- É uma coisa que eu gosto, eu vejo as crianças tão ai chorando, ―Ai coitadinha, que dózinha, no sorinho‖ e tal... Pra mim
isso ai não é... uma coisa, é um mal necessário, um mal não, uma coisa necessária, eles precisam... vai doer um pouquinho,
mas vai passar, a gente conversa com a criança e tenta ajudar da melhor maneira possível.
1- E durante o teu curso de enfermagem, que tu teve contato com o hospital, não te ocorreu que poderia ser um ambiente
de aprendizagem também?
2- De aprendizagem na área da saúde sim, mas na área da educação não... se bem que educação se aprende em
qualquer lugar, qualquer coisa que você faz se você não tiver ética profissional, você não tiver vontade, você não tive assim,
profissionalismo... você precisa de educação pra qualquer coisa.
1- É verdade... tu consegue lembrar de alguma disciplina que tenha te ajudado mais, alguma disciplina que tu utiliza mais
aqui, alguma disciplina...?
2- A psicologia da educação com certeza.
1- Quais os saberes fundamentais pra um pedagogo que trabalha no hospital, quais são os saberes que são assim
fundamentais, que que ele precisa saber?
2- Que que ele precisa saber... a primeira coisa que ele precisa é gostar do que faz, não pode dizer que você adora todas
as crianças do mundo que estaria mentindo, porque tem crianças que você gosta mais e tem crianças que você, não é que não
gosta, mas tem crianças que você se afina mais, sabe, mas a gente trata todas iguais, então a primeira coisa é gostar do que
faz, gostar de criança, você tem que entender as crianças, entender os pais, aqui a gente tem que atender muito os pais
também, tem uma ótima relação com o pessoal do hospital, que é muito importante, você se relacionar muito bem com os
profissionais que trabalham aqui, ter o domínio do que você vai passar pra criança, você tem que ter certeza do que você vai
passar pra criança, teu conhecimento que você vai passar pra ela, porque a gente aprende muito com as crianças também, eu
não detenho o saber, aprendo muito com as crianças também... então você passa aquilo que você sabe e você aprende muita
coisa... (incompreensível)
1- É verdade. Agora no momento tu ta fazendo teu curso de pos graduação né?
2- Ahan, pós-graduação
1- E ta contribuindo pro teu trabalho aqui no hospital?
2- Aqui no hospital...
1- Ele é mais pra gestão né?
2- Mais pra gestão ahan, mais pra gestão... aqui no hospital não.
1- Tu lê sobre o trabalho dos pedagogos nos hospitais?
2- Olha, esses dias me mandaram, olha... uma reportagem que me mandaram, eu achei muito interessante, eu li a
reportagem...
1- Ah! É da...
2- É Curitiba, né?
1- Saiu na Nova Escola, né?
2- Uhum, mas só que é pouco coisa, é bem coisa... é um trabalho que tem muito a crescer, espero que com a ajuda de
vocês cresça mesmo, né?
1- É a gente vai plantando, é um trabalho lento, mas a gente tá caminhando. Tu já visitou alguma outra classe?
2- Não porque aonde que tem mais próximo aqui que é Lages, e agora você me disse que fechou... Concórdia fechou
também...
1- Concórdia tem...
2- Então onde mais que tem por aqui? Que eu saiba aqui na nossa região é só essa aqui... a mais próxima é Concórdia.
1- Tu também não mantem contato com alguma pedagoga que trabalha em hospital?
2- Não.
1- Quando tu vai procura algum material, alguma literatura pro teu aprimoramento, pra melhorar tua prática aqui no
hospital, quais são as áreas que tu da prioridade? Tu procura mais a psicologia?
2- Ah psicologia, eu adoro adoro adoro.
1- Mais alguma? O que que tu sente necessidade de saber um pouco mais pra atuar aqui?
2- A psicologia é uma coisa que eu trabalho assim, que eu procuro bastante, deixa eu qual mais... eu li bastante,
agora porque eu não tenho lido tanto, Vigotsky, Piaget... esses escritores, teóricos, Wallon, que a gente estudou bastante na
universidade e quando você tem vida, você recorre aos livros, ... uma coisa que eu gosto de bastante, é a historia da
educação também, que eu procuro ta buscando, porque você vai vendo as modificações, que que aconteceu né...
174
1- Queria te perguntar também EDUARDA, depois desse período que tu tens de experiência aqui, o que tu consideras
importante e essencial pro currículo de pedagogia, pra essas pessoas que tão estudando pedagogia agora e vão se formar e
tem a possibilidade de atuar em outros contextos, inclusive o hospital... na tua opinião, o que esse currículo deveria conter,
contemplar?
2- Pra quem ta se formando agora trabalhar nos hospitais e classe hospitalares?
1- Isso.
2- Que que eu vo te dizer... 24
1- Tu acha que seria necessário saber um pouco mais sobre a saúde, sobre as enfermidades?
2- Isso seria bem importante você saber, porque aqui a gente trabalha com criaas, muitas crianças especiais e que que
eu fiz, eu trabalhei um ano, como segunda professora de uma sala de aula do SAED, então eu trabalhei...
1- SAED é?
2- Aquele programa dos especiais, não to lembrada agora...
1- De atendimento especial.
2- Isso, então eu trabalhei um ano numa sala de aula que nós nhamos 18 especiais, e eu sentia muita dificuldade
porque eu fui lá, participei de algumas aulas de LIBRAS, lá com a professora, mas assim... você tem que em constante
aprendizado, porque você vai, você faz um pouco, depois não vai mais, esqueceu, o lembra mais... e quando eu fui pra
essa sala de aula tinha outra professora, ela professora e eu ali auxiliar dela, ela conseguia bem se comunica e os alunos
queriam se comunicar comigo e ela tinha que traduzir e daí ela... ai eu comecei a ir em busca disso, quando tem curso
direcionado pra educação especial eu sempre vou, quando tem cursos fora, que a gente fica pra Curitiba ou vai pra Piratuba,
algum lugar assim, eu pedi pra GERED e sempre fui atendida, sempre me atenderam prontamente e então sempre participo
destes cursos.
1- Então tu acha que é importante a educação especial?
2- Ah, é muito importante, porque daprendi muito como lidar com... porque aqui vem muito aluno especial e como lidar
com os alunos especiais... semana passada eu tinha um menino aqui que ele é portador de deficiência física mental, ele não
enxerga, mas ele ouve, ele ouve muito bem... então, eu vi que a tava ali e ele conversava conversava... ―Ele gosta de
historinha, vó?‖ ―Gosta‖. Eu peguei e sentei do lado da cama desse menino e eu comecei a contar a historinha daquele cavalo
e ele veio com a ozinha pra passar no desenho do cavalo, d a vovó disse, Profe é porque ali na APAE ele tá fazendo
aula‖. Então aquilo assim pra mim foi, Meu Deus, você nem imagina como foi gratificante, eu terminei de contar a historinha e
―Agora você que que a profe conte mais historinha?‖ E aquela dificuldade de se expressar, mas ele queria que eu contasse
mais historinha. Eu continuava contando e quando você terminava uma frase, ele sorria, ele ria muito... então aquilo ali é muito
gratificante, pode parecer que você não faz nada, você vai ali e vai contar historinha, mas é muito gratificante, muito
importante, muito muito muito. Então educação especial é uma coisa que...
1- A pedagogia deveria contemplar...
2- É aqui pra nossa região tem muito pouco profissional, não sei mais pra frente tenho vontade de fazer alguma coisa na
área de educação especial.
1- Mais algum, mais alguma área assim que tu acha que é necessário conhecer um pouco mais pra atuar aqui no
hospital?
2- Você conhecer um pouco da saúde né, que você tem que ta sempre se informando, sempre sabendo, porque aqui
aparece muitas doenças contagiosas e você tem que ter os cuidados e você tem que saber, você tem que perguntar... eu não
tenho tanta dificuldade porque eu fiz o auxiliar lá, mas eu sou uma pessoa muito curiosa, sempre pergunto... eu to sempre
perguntando, se tem uma criança no isolamento, eu chego e pergunto assim ―Por que que essa criança ta em isolamento?‖
―Ah, porque o isolamento dela é pra gente se proteger.‖ Se ela sair dali, ela vai usar máscara e tal e tal e tal... porque a gente
que proteger, o outro diz assim, ―Não profe, essa criança ta ali pra nos protegermos ela.‖ Então a gente não pode ta entrando
ali, você tem que saber...
1- Entendi.
2- Sempre, nos tamos com um menino ali que vai na série, que ta bem debilitado, eno que que a gente faz, a gente
internou ontem, a gente espera que a saúde dele já ta melhor pra gente i lá no quarto, vi conversar, traz ele pra cá... por que
também... a primeira coisa é proteger, você tem que respeitar eles ali, espera que eles tiverem bem pra dvocê começar a
trabalhar, então a gente tem que esperar.
1- Eu queria saber também Eliane, o que tu pensa sobre a importância de ter um pedagogo no hospital?
175
2- Olha, eu acho uma das coisas mais maravilhosas que aconteceu foi isso, de criarem esse projeto, de existir esse
projeto pra gente poder trabalhar com essas crianças, porque você não imagina... tem dias que tem quatro, cinco aqui dentro
dessa salinha porque quando tem mais, porque só tinham 13 crianças internadas né, agora eles não tão internando muito
porque ta meio complicado, então eu faço assim, eu pego de manha os maiorzinhos e de tarde os menorzinhos, mas de tarde
os maiores querem vir também, eles tem que ficar aqui, eles tem que ficar na aulinha,... o que que você faz, você vem aqui
com os menorzinhos, digamos, vo nos quartos e levo joguinho lá pra eles e daí qualquer coisa chama a profe, né. ―Profe agora
ele pediu pra você i lá pra ver tal coisa.‖ Dá licença um pouquinho e você vai, quando é possível todos, vamos assistir o Nemo,
Procurando Nemo, que é maravilhoso, eles adoram, então vamos todos pra salinha... então todos os que podem vir, se tiver
em isolamento não pode, os que podem vir, vem e fica aqui... e depois que que a gente vai trabalhar, os pequenininhos, que
cor que é o peixinho?, que tamanho ele é?, que que ele disse?, ele tinha papai ou ele mamãe?, ele tinha amigos?, então você
explora bastante aquilo ali, com os maiores você explora de maneira diferente, daí... então a gente faz isso e isso é muito
importante pra eles.
1- Como que tu vê que esse trabalho contribui pra recuperação?
2- Ai é só você ver o sorriso deles, a alegria deles de vir pra cá, nossa, é muito, eles esquecem... no momento que eles
estão aqui eles esquecem que tão com o sorinho no bracinho, eles esquecem que tão com dor, as vezes tem uma criança
chorosa lá... chora chora chora. ―Vamo na salinha, vamo com a profe?‖ Não que, daqui a pouco a criança resolve vir,
vem... ―Vamos fazer tal coisa?‖ Vem, esquece... simplesmente esquece daquilo que ta sentindo, na recuperação deles é
maravilhoso, eles recuperam bem.
1- Deixa eu te perguntar então, pra finalizar um pouquinho, como que tu organiza esses atendimentos, tu comentou que
de manha tu atende...
2- Os maiores.
1- Os maiores... pela manha os maiores né?
2- Sempre depois da visita do médico.
1- Maiores tu considera...?
2- Tipo 9... de 7 ate 10, 11 anos
1- 7 a 11 anos?
2- Isso, porque os outros... mais do ensino fundamental e os outros mais direcionado a educão infantil já.
1- Ahan, na parte da tarde.
2- Ahan, a tarde, porque daí são os menorzinhos né?
1- E tu define horários pra eles ficaram aqui?
2- Olha, eles ficam aqui... geralmente quando eu chego 1:15 eles o dormindo, eles vão dormir até a hora que eles... ai
eles acordam e vem pra cá, eles tem medicação as 16, conforme a medicação, se for uma nebulização ou uma outra
medicação eles tem que ficar no quarto, vão ter que voltar pro quarto, se não for essa medicação, se for uma medicação... a
enfermeira, elas colaboram bastante com a gente também, quando vem pra salinha.... fecham o sorinho deles um pouquinho,
eles tem um tempinho pra ficar um pouquinho mais soltos também,né... ai se for uma medicação que possa ser só colocada ali,
elas colocam aqui mesmo, senão eles voltam pra quarto daí, pra colocar a medicação... então eu não posso te dizer o tempo
exato que eles ficam, não tem tempo exato, porque é respeitado, tem que ser muito respeitado o horário da medicação no
horário do médico. (incompreensível)
1- Obrigada EDUARDA.
176
Transcrição Entrevista 12 Pedagoga: Beatriz Hospital: H10
Data: 13/08/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- BEATRIZ, eu precisava saber em que data que tu te... tu é pedagoga né?
2- Sim.
1- Que ano que tu te formou?
2- Eu me formei em 2005, eu tenho pós-graduação em psicopedagogia, que eu conclui em 2007 e estou cursando uma
outra pós em neuropsicologia, que essa ainda está em andamento.
1- Iniciasse quando?
2- Eu iniciei esse ano, concluo ela até (incompreensível)
1- Qual foi a instituição da tua graduação?
2- UNC.
1- UNC e da psicopedagogia?
2- Também.
1- E dessa neuropsicologia?
2- Também, sempre UNC.
1- Uhum, e tu... aqui de?
2- Eu sou aqui de Curitibanos.
1- E a instituão também?
2- Também, ahan.
1- Quais foram as tuas experiências de trabalho antes de chegar aqui no hospital, tu trabalhou em alguma outra coisa?
2- Trabalhei numa escola regular, é... escola Edimundo, uma escola estadual com 2ª série.
1- Sempre 2ª série?
2- Ahan... e daí trabalhei em secretaria, mas assim... em sala de aula mesmo, na 2ª série.
1- Mas sempre voltada a educação?
2- Sempre, ahan.
1- Quanto tempo de trabalho, que tu já tem?
2- Fazem nove anos mais ou menos, dez anos.
1- Como que tu chegou aqui no hospital?
2- Eu vim através de um convite, na verdade eu tava até de licença maternidade, quando eu fui convidada a primeira vez
e assim ó... no último ano antes de eu sair de licença, eu tava trabalhando em secretaria, ai... eles me chamaram e a principio
pela segurança, era um trabalho diferente... e deu peguei e vim pra fazer... pra conhecer como era e acabei ficando e isso
vai pra sete anos que eu to aqui.
1- Sete anos que tu ta aqui no hospital...
2- Ahan.
1- Tu é efetiva do estado?
2- Não, eu sou ACT... só que assim, o que aconteceu, começou uma época... a classe aqui, ela começou através de
projeto... foi um projeto de conclusão de curso da UNC, só que naquela época foi bem aonde surgiu, que tinha que ter classes
hospitalares, veio através do...
1- Em que ano isso?
2- Isso foi em 99.
1- Aqui começou em 99.
2- Aqui em 99 foi, e daí foi bem naquela época que foi pedido pra ter o acompanhamento hospitalar pras crianças, então
devido que era pra ser só... pra ser montado uma brinquedoteca, o projeto, foi conversado com as acadêmicas e a partir dali foi
onde nasceu a classe aqui... ai trabalhou de início uma das pessoas que tava envolvida nesse projeto e ela ficou e daí ela ficou
por 2 anos e deu acabei entrando, acabei entrando depois dela... que ela foi embora, ela saiu daqui porque ela mudou de
cidade.
1- Certo, o Edilaine eu gostaria que tu me contasse qual é o teu trabalho aqui?
177
2- Eu faço acompanhamento pra criança de 0 a 12 anos.
1- Acompanhamento?
2- Acompanhamento pedagógico, assim... a criança que ela não esta na escola, não tem vinculo com a escola, a gente
trabalha com a questão de estimulação, né... questão de estimulação, mais voltado mesmo pra brinquedo, pra brincadeira,
ludicidade e tal... e a criança que já freqüenta a escola, a gente faz o contato com a escola e mais ou menos dentro do que
eles estão trabalhando lá, a gente vai ta trabalhando de maneira lúdica com eles aqui dentro. Só que assim, a nossa classe
aqui, ela tem um período de internamento mais curto.
1- Qual é a média de internação?
2- Geralmente em torno de 5 a 7 dias, no máximo, sabe... então assim, conforme a idade da criança, quando a criança ta
no ensino fundamental de 1ª a série, aí eu vou em busca, dou uma ligadinha pra escola, a criança ta indo na segunda série,
que que a professora ta trabalhando lá, converso que que a professora, não que eles me mande o trabalho de lá, no que a
professora ta trabalhando, e a partir dali, EU faço as minhas atividades... não pego de lá, eu faço as minhas atividades, se a
criaa ficar mais tempo, eles me mandam ou eu vou buscar, ou peço pro pai fazer essa intercâmbio e deu venho... e d
eu trabalho com que eles tão trabalhando de uma maneira um pouco diferenciada, assim, vamos fazer, vamos ver as
dificuldades, mas senão é bem tranqüilo... bem mais questão da ludicidade mesmo, brincando, fazendo conforme o ritmo que
eles querem, porque a gente tem que dar início, meio e fim pra atividade, então não posso começar uma atividade hoje e deixa
pra terminar porque amanha eu não sei se a criança vai ta, então eu tenho que dar inicio, meio e fim, então eu não tenho como
fazer esse planejamento de trabalho, sabe... então geralmente assim, eu tenho atividade separada pra diversas idades e a
partir dali eu vo ta trabalhando com o que eu tenho... com o que eu tenho, se eu tenho previsão, que a criança vai ta aqui
amanha... geralmente a gente ali na internação, pelo prontuário, deu trago de casa, já pego alguma coisa que eu o
tenho aqui, que de repente eu vejo que da pra fazer depois do primeiro contato com a criança, dai eu vou trazendo
1- E tu consegue fazer contato com as escolas de origem, com todas as crianças que internam?
2- Não, porque assim... o que que acontece, tem crianças que estudam em escolas da interior e dé complicado porque
não tem telefone, sabe... então assim, não é todas que a gente consegue, a gente procura fazer com a maioria, mas a gente
não consegue porque tem umas escolas assim que é muito no interior... e a gente não consegue...
1- Sei... é difícil contato.
2- Tem o telefone de contato da casa do vizinho da escola, então é complicado, aa gente conseguir fazer essa ligação
já, a criança foi pra casa.
1- Aqui tu trabalha com todas as séries Edilaine?
2- Sim, de a... (pensando) educação infantil, 1ª a série, só que como eu atendo até 12 anos, é muito difícil eu pegar
uma criança maior, até a 8ª, às vezes acontece porque eu atendo geralmente da pediatria né, às vezes acontece de interna
alguém na clinica médica, que é uma outra clínica que fica no andar de cima, ai quando eles me avisam, eu faço o
atendimento.
1- Uhum, mas é raro.
2- É raro, muito difícil, então eu atendo assim no máximo série, que é 12 anos, no máximo série e às vezes na
clínica particular acontece, mas assim... são casos muito raros assim, de eu atender crianças maiores.
1- E as crianças de 0 a 6 anos, quais são as atividades que tu faz com essas, tu atende essas crianças de 0 a 6?
2- Atendo também, as pequenininhas estimulação, converso com a mãe a importância de estimular e assim... questão
mais estimulação mesmo, porque eu já fico menos tempo com elas, não é sempre que elas vem pra cá, as vezes eu faço
atendimento lá no leito, sabe, é questão mesmo daquela conversa com a mãe, aquela conversa informal, do falar...
1- É mais com a mãe?
2- Com a mãe do que com a criança propriamente sabe, assim... a importância do olhar, do falar, do ouvir a criança, a
gente vai passando essa orientação pra mãe, brinca... faz... pra mãe ver como é que é, porque aqui a gente tem muita
dificuldade com as mães aqui, porque as mães acham que as crianças não, elas não valorizam... é aquele negócio, ela é
pequeninha e não entende, eles tem (incompreensível), ai a criança a partir de um ano a gente vem, faz brincadeira com tinta
guache, voltado mais pra educação infantil... tinta guache, pintura, brincar, trabalhar com as cores...
1- É interessante isso, porque tu percebe que a cultura aqui, não é de tanta valorização pela infância e com o teu trabalho
tu tem a intenção de ajudar a melhorar esse sentido...
2- Sim e assim o... o que eu escuto muito aqui dentro ―Ah! Mas ele não entende nada, por que que você vai fazer isso?‖
mas as vezes, a partir do momento que ele começa a fazer, ele começa a entender, ai onde que entra a maturação pra
criaa, ai você entre entra naquela parte e explica, o por que de fazer, porque a mãe acha que criança pequena não pode
178
pegar um lápis na mãe, a criança tem um ano você não vai dar um lápis pra ela, que ela vai fazer, riscar a parede? Sabe, então
assim... não mãe a questão do estímulo, como ela vai pegar, porque a parir dela vai começar a trabalhar a coordenação
motora fina, daí você vai explicando, só que assim, é um processo, bem complicado, essa parte do trabalho assim, é bem
difícil, sabe...
1- Mas tu persiste e mantem...
2- Sim, eu tenho... primeiro você, o primeiro obstáculo é trazer a criança, porque ela ta internada, ela tem que ficar no
leito, primeira coisa que você tem que ir lá e pegar uma, duas, três, quatro, as vezes cinco vezes... vamos mãe... vamos,
vamos, vamos, vamos pra conseguir trazer a criança. A partir do momento que você traz, quando a criança chega, ela se
depara com outro ambiente, ai ela que vim, ai ela chora e a mãe diz ―Eu trouxe porque não agüento mais‖ (repete) daí acaba
ela trazendo porque a criança ta chorando, daí você começa a mostrar o trabalho, no sentido como é que é... e dcomeça a
ver a gente com outro olhar também, confiar mais...
1- E essa recomendação dessa estimulação que tu faz com as crianças menores, esse trabalho que tu faz com as mães,
tu recebe... recomendação de alguém?
2- Assim, tem a equipe multidisciplinar aqui no hospital e tem a psicóloga, a terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e
assim, uma vez a gente sentou e a gente conversou sobre a importância e dassim, a gente se reúne nas reuniões e são
trabalhos que elas fazem, só que como, no caso.. tem dias que eu não tenho crianças maiores, então eu to aqui, eu vo procura
ta me interando com essas crianças também, e eu tenho que achar uma maeneira pra ta trabalhando com elas, então eu
peguei, encaixei a parte pedagógica nesse trabalho de estimulação, porque eu tenho muita experiência, porque eu trabalhei
uma época com criança especial, trabalhei com criança especial e o trabalho de trabalhar com criança especial é questão de
estimulação, então assim, é uma maneira que eu to... numa visão pedagógica que eu possa ta trabalhando aqui dentro, que eu
to encaixando nesse atendimento aqui também.
1- Você atende todas as crianças que internam? Vocês tem UTI aqui? UTI, isolamento, essas crianças tu atende
também?
2- Temos. Atendo, só que assim, a criança... ela veio pra UTI, as vezes eu vo faze o atendimento lá dentro, mas depois da
UTI ela desce pra pediatria, normalmente eu faço, eu pego a criança que vem da UTI pra cá, aí assim, eu levo alguma coisa
pra criança, uma atividade, um jogo ou uma coisa, lá na UTI, mas dentro é muito difícil eu ficar, porque é a mesma questão
que as vezes eu tenho mais crianças aqui em baixo e daí eu tenho que separar, o tempo é muito curto.
1- Como tu organiza o tempo e esse teu espaço que tu tens aqui disponível?
2- Assim o, eu chego faço primeiro a minha rotina, quais as criaas que tão internadas, o que que éo problema que ela
ta internada, a partir daí eu vo faze a visita no leito.
1- Na parte da manha tu faz visita aos leitos?
2- Não não, eu faço... de manha tem uma outra profe, ela faz essa visita e daí eu chego a tarde ai eu pego o que ela já
atendeu... as informações que ela tem registrado e daí eu vo faze a minha visita, mas assim a minha visita é rápido, chego, ela
já fez o primeiro contato com a mãe, sabe, eu chego e me apresento, é a tia no período da tarde, só eu que to trabalhando,
so eu que to trabalhando... e convida mais pra vir.
1- Tu sempre convida pra vir até a classe...
2- Eu procuro trazer a criança pra classe, procuro trazer, então a criaa que o pode vir, ai eu levo alguma coisa...
deixo as crianças esperando, levo alguma coisa praquela criança, converso um pouquinho com aquela crianças e trago... trago
ela e a gente faz atividade e as 3 horas elas vão pro café, 3, 3:15... a partir desse momento das 3:15, que eu começo a 1:15
então ate as 3:15 eu fico com elas, ai das 3:15 as 4 horas elas tomam o café e vem medicamento, daí a partir das 4 que eu
vo faze... fica com aquelas crianças lá no leito.
1- A ta, e daí essas que estavam aqui contigo que foram fazer o lanche e a medicação elas voltam pro leito...
2- Na verdade tem uma salinha de televisão que tem brinquedo ali também, ficam ali também, ficam naquela sala e eu vo
faze aquele atendimento no leito, as vezes quando a criança ta dormindo, não tem, ai eu retorno com as crianças, porque
algumas dormem depois do medicamento e dassim, aquelas que conseguem retornar, elas voltam e a gente continua a
fazer atividade, alguma coisa aqui.
1- Certo.
2- Mas assim o, eu procuro trazer a criança com soro, é só se ela não pode sair mesmo, mas se não ela vem com soro,
trago a mãe junto, geralmente procuro trazer ela junto, se tu for deixar a criança com soro, não trabalho com eles, então eu
tenho que... daí eu trago... eu tenho dois suportes aqui, quando falta eu trago o que ta no quarto e vo adaptando.
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1- Como é que tu, Edilaine, como é que tu lida com a variedade de conteúdo já que tu atende todas as, crianças de 0 a 12
anos, que comentasse, como que tu lida com essa variedade de conteúdos, com essas classe multiseriada, tu te sente
preparada pra trabalhar com...?
2- Assim o... no casa... eu trabalho português e matemática, sabe, são duas, eu priorizo, que geralmente é onde eles tem
mais dificuldade, português e matemática, português leitura e escrita, matemática cálculo, sabe, eu geralmente priorizo
essas duas matérias, quando acontece que eu consigo encaixar algum outro conteúdo, ai eu encaixo junto, sabe, e as vezes
quando acontece de eu ligar pra escola e a profe me passa, ―Olha tem dificuldade em tal.‖, deu vo e busco, vo busca aquele
conteúdo pra ta trabalhando separado com a criança, mas senão eu tenho assim, uma pasta de atividades... todas com
atividade em português e matemática, trabalho muito com caça palavras, essas coisas assim, conforme a idade eu dou
atividade.
1- E tu te sente preparada então, segura?
2- Eu me sinto bem segura sim, porque assim... é uma questão de adaptação, aquele negocio assim, as vezes assim,
falta, falta assim aquele negócio, será que é isso... só que assim, pelo pouco tempo que eu faço atendimento pra criança eu
acredito que mais do que aquilo não tenho como fazer, mais do que aquilo não tem,... não tenho como prioriza algo além
daquilo ali, então eu procuro fazer dentro da medida do...
1- Aqui vocês trabalham em duas professoras, né? Vocês fazem esse planejamento juntas, a GERED, aqui a escola é
conveniada, vinculada a GERED né?
2- Isso, ahan.
1- Eles também participam desses planejamentos?
2- Também, ahan... geralmente.
1- Como que fica essa relação?
2- Assim o, geralmente a gente faz no começo do ano o planejamento para o ano, sabe, para o ano todo, daí a gente faz
o planejamento que que a gente vai ta trabalhando, as atividades que a gente vai ta trabalhando no decorrer do ano, nos
priorizamos muito as datas comemorativas, que a escola geralmente não tem tempo pra isso, e a gente valoriza todas elas,
então assim a gente vai mostrando pra criança, vai trabalhando em cima das datas, a cada dois meses, três meses, nós nos
reunimos e conversamos, essa atividade na ta dando certo, a gente muda, sabe... porque a gente tem o planejamento, mas
tem atividades que não funcionam, que não da certo, que não tem o que você... então a gente pega e vai mudando, tanto eu
quanto ela, ela traz as atividades dela e eu trago as minhas atividades e a partir do que a gente vê, que aquela atividade o
funcionou, as vezes não funcionou com ela, comigo funcionou, as vezes comigo não deu certo, com ela deu... então a gente a
cada dois, três meses, sabe, a gente senta, como é que é, deixamos, tiramos, mudamos, o que que precisa, se a gente sente
necessidade de conversar com a criança, a gente escuta muito a criança, o que a gente sente necessidade de ta trabalhando,
através de bilhetes, a gente conversa muito também, porque um tempo também a gente não se vê, a gente sentiu que ta
precisando dá um reforçada nisso...
1- Trabalham em conjunto então?
2- Isso.
1- Algum planejamento pronto vem da GERED, não?
2- Não, da GERED não vem nada e nem da escola.
1- Tu recebe apostilas, algum material?
2- Assim o, o que a gente recebe são material...
1- Material de quê?
2- Didático, mas o restante planejamento, essas coisas a gente que faz, só que assim, eu tenho a integradora lá na
GERED e tenho a orientadora pedagógica na escola, quando eu acho necessário de buscar alguma coisa na escola, ai eu vou
na escola e elas me dão.
1- É freqüente tem contato com a escola regular?
2- Sim, com a escola regular a gente tem bastante contato sim, na escola que a gente é vinculada né, então assim,
quando eu preciso de um material, as vezes eu quero desenvolver alguma atividade, eu vejo que a criança e se da pra fazer a
atividade, ai eu ligo pra escola, ―Tem?Ai elas, geralmente elas buscam, se elas não tem nada, elas vão... a gente tem essa
flexibilidade
1- Tu parou pra pensar na nomenclatura da classe hospital, tu pode nomear classe hospitalar o trabalho que tu realiza
aqui?
180
2- Assim o, é... analisando como classe, eu não diria assim que seria sabe... porque... o atendimento pra ser classe
hospitalar, eu acho que ele é muito pouco tempo, sabe, ele é muito pouco tempo pra ser, só que é aquele negócio, o
atendimento pedagógico existe, sabe... mas assim, eu dize que funciona como uma classe mesmo, não.
1- Entendi, quais são as características, as tuas características que contribuem pro teu trabalho aqui, que que tu percebe
que é próprio teu que ajuda no trabalho aqui no hospital?
2- Eu acho que é a questão de, como diz ai, o brasileiro tem a mania do jeitinho, sabe... seria a questão de adaptação,
seria mesmo a questão de jeito sabe, porque você precisa se adaptar e gostar, sabe, você precisa gostar, então, eu eu acho
que posso dizer que eu gosto do que eu faço, porque senão não teria ficado, ate mesmo quando eu comecei a trabalhar aqui, o
pessoal da (incompreensível) Se você ficar uma semana você não sai mais‖, e nesse tempo que eu to aqui, todo ano eu
troco de colega, elas vem, ficam e de repente...
1- Na parte da manha?
2- Na parte da manha.
1- A que trabalha de manha também é ACT?
2- Também é ACT, então assim, elas vem e ficam e começam a notar que não é aquele negócio que você faz o
planejamento, você vai aplica e funciona ou não funciona, mas você aplicou... aqui não, aqui você faz um planejamento, tem
vezes que tu não consegue fazer, realizar, sabe, então assim o, todas as atividades eu trago objetivo, o que que eu quero
alcançar com a criança, eu pego uma criança, o que que eu quero alcançar com ela, hoje eu quero que ela diferencie as
cores, então eu vo trabalha em cima disso, eu quero que ela diferencie as cores, porque que eu quero que elas diferenciem, ai
eu vo ta buscando porque que eu quero, se a criança tem... se ela é uma criança assim, tem problema de inibição... daí eu vo
faze atividade, até mesmo por causa dessa questão... pra priorizar que, elas tão no hospital, pra não ficar aquela coisa
traumatizante, to no hospital, ta recebendo... a gente ta priorizando o bem estar da criança, a gente procura priorizar o bem
estar enquanto ela ta aqui.
1- A tua formação ela contribui, contribuiu ou ta contribuindo pelo trabalho que tu realiza aqui?
2- Não, agora que eu fui buscar, mais assim, a minha graduação não teve nada, sabe, eu não tive nada sobre classe,
sobre atendimento hospitalar, nada nada nada assim durante a graduação, e assim.. a partir do momento que eu comecei... eu
estava ainda na faculdade e tal, eu comecei a sentir essa dificuldade e eu comecei a comparar o trabalho daqui com a
educação especial, é muito voltado assim, muito mais ligado a educação especial do que a educação regular, ai eu comecei
buscar cursos de capacitão dentro da área da educação especial e foi aonde eu fui fazer a minha pós em psicopedagogia e
agora to fazendo a de neuro, porque a partir deu vo começar, sabe, a ta... pra ta conseguindo fazer essa relação com o
trabalho aqui, mas a minha graduação não colaborou não... hoje já tem na UNC uma cadeira de pedagogia hospitalar.
1- Uma específica?
2- Específica com pedagogia hospitalar, eu ate trabalhei com o pessoal lá, o ano passado, começou ano passado, não,
ano retrasado ela começou.
1- Já esta no currículo, contemplada no currículo.
2- Exatamente, aa grade que eu me formei foi depois da (incompreensível) ela foi reformulada, ela foi reformulada e
eu me formei 2.800 horas e agora passou pra 3.000 e poucas horas, então já...
1- Eles te chamaram pra faze alguma palestra ou relatar tua experiência no hospital ou tu que ministrasse essa cadeira?
2- No primeiro ano fui eu que ministrei.
1- E o que que tu abordou daí, durante essa...?
2- Assim ó, o que que eu busquei, como é trabalhar... o diferencial da escola regular com a classe hospitalar, qual que é a
diferença, pessoa acha que a criança no hospital, ela ta hospital porque ta doente, mas ela para, então assim... pra ta
mostrando mesmo pras acadêmicas que não é assim, que ela esta no hospital, mas ela esta apta a aprender, a criança esta
sempre apta a aprender, então ta buscando e mostrando pra eles... não precisa você ter medo que a criança ta doente, que ela
ta com soro, você não vai fazer nada com ela. Até eu trouxe pra conhecer, pra conhecer como funcionava o trabalho, a gente
fez uma oficina aqui dentro, sabe... senti que pra algumas não funcionou, pra algumas não funcionou, mas assim... até por
causa de tempo, por causa do tempo e tal, então essa questão de, a questão que eles falam lá de... como que eu posso dizer
de... (pensando) é a do sistema, eu até dei um tempo... eu acabei, por causa do horário, não peguei essa outra turma que
veio, mas assim... ai quando a professora chegou, ela me chamou pra mim fazer um trabalho com eles e até desenvolver esse
trabalho no sábado aqui, mas ou menos parecido com o que eu já tinha feito, com que eu tinha feito e ai a gente veio fazer no
final de semana, que era o único dia que tinha disponível, a gente fez no final de semana aqui com ela.
181
1- E tu acha que essa cadeira, onde tu buscou informar né, e mostrar pra essas pessoas, esses acadêmicos... que a
criaa ela tem... foi suficiente ou tu acha que precisaria...?
2- Precisaria mais, só que assim, foi de valia... porque eu tinha muito problema com a criança quando saia do hospital e
voltava pra escola, a criança chegava... acontece da criança interna e voltar, sai de alta e volta, aconteceu vários casos que a
gente fez atividade, sabe, a gente montou, saiu daqui toa empolgada com todas aquelas atividades que tinha feito, levou pra
escola e a professora não olhou... sabe... ai o que que aconteceu, ela voltou ―Ai profe, mas eu acho que nem vou levar porque
a profe não deu atenção‖... sabe, então assim, ele ta tão empolgado porque ele tinha conseguido fazer, nem era com a
mãozinha que ele escrevia, foi num momento que ele tava com sono, foi uma criança que tava na UTI, a gente faz lá dentro da
UTI, a gente né... daí colocamos na... pra ele foi muito importante naquele momento...
1- E a professora não soube reconhecer...
2- E a professora não valorizou, isso eu sentia muito com a volta da criança pra escola, até a gente teve uma reunião e
foi o que eu coloquei, até na escola lá... na própria escola que eu sou vinculada, teve uma reunião e a gente até abordou essa
questão, do acolhimento, quando a criança voltar pra escola que ela seja acolhida, que seja assim... de repente não...
1- Que seja valorizada
2- Que não ta dentro do conteúdo que ela tava trabalhando, mas é um conteúdo que ela viu, é um conteúdo que ela já
viu, então não custa a professora valorizar, é acolher quando ela voltar, sabe... então assim, porque ela passou por um
momento traumatizante, ela veio aqui, teve que ficar internada, teve que fica aqui... não usava as roupas delas, usava as
roupas do hospital, que as crianças aqui usam roupa do hospital, come a comida daqui que eles detestam, os horários daqui
eram totalmente diferentes, a questão deles tarem fazendo atividades, se sentirem bem, eles tem que... sabe... fazendo
medicamento e tarem na escola, como eles dizem, então assim, tudo isso... é um momento pra eles que é complicado e ai eles
voltam e eles têm muito medo de não serem aceitos pelo colegas de volta, no retorno, então assim... eu comecei a bater em
cima desta questão, o retornar, o retornar pra escola que ela seja acolhida com as atividades que ela fez aqui, que a
professora pegue, olha e elogie pelo menos...??
1- Então foi interessante também nesse sentido tu ter trabalhado com essas professoras.
2- E assim, a partir daí, a maioria trabalham em CEI´s, trabalham nas escolas, eu passei pra elas e elas tão passando na
escola, sabe, que elas olhem pra criança no voltar, porque você tem trinta, mas (incompreensível) acolher aquele que faltou 5
dias, que (incompreensível) sabe, que de uma paradinha, pegue a atividade dele, da uma olhadinha, porque ele volta tão
empolgado, então assim, nesse sentido eu achei que valeu a pena tá contribuindo, contribuindo pra isso, então eu acho
que...
1- Foi positivo.
2- Foi positivo.
1- BEATRIZ, na tua opinião quais são os saberes fundamentais pra um pedagogo trabalhar aqui no hospital?
2- Ele tem que ter conhecimento de educação especial, primeiramente assim, porque o trabalho da educação especial é
diferente do regular, sabe, e depois disso ele, depois da educação especial, ele saber ter aquela coisa assim, de conhecer,
trabalhar com a interdisciplinaridade, sabe.
1- Mas alguma coisa?
2- Eu acho que isso, a questão da adaptação que...
1- Ao ambiente.
2- Ao ambiente, as patologias, sabe, as patologias que a criança às vezes tem coisas assim, que eu a gente acha que não
acontece com criança, sabe, então também é uma questão que...
1- Que o pedagogo precisa saber.
2- Precisa saber, se informar, até mesmo não por preconceito, por nada...
1- Mas por conhecer.
2- Por conhecimento, porque às vezes a família chega e te pergunta, sabe, e não é que você vai dar um diagnóstico, mas
assim, às vezes eles veem de forma equivocada, então muitas vezes você necessita saber um pouquinho pra tranquilizar. ―Não
mãe, não é assim! sabe, ―Se acalma que não é dessa maneira‖, sabe, então a questão assim de saber também da uma
tranquilizada, porque às vezes um medico fala ―Mãe te acalme, o é assim, o tratamento é esse tal e tal‖, mas ele tem que
melhorar e uma hora pra outra e o tratamento é mais longo, então...
1- Se o professor conhecer...
2- Um pouquinho, assim ó, não é você entrando na área de enfermagem e área de medicina não, não é pra entrar na
área de saúde, mas uma questão por conhecimento e de cuidados, porque a criança dependendo da patologia, ela não pode ta
182
misturada como a outra, mas não significa que ela não pode ficar no mesmo ambiente, sabe, ela pode trabalhar com uma
criaa aqui outra ali, não precisa estar em isolamento ou de repente a criança que ela não pode ta, a outra criança ao pode
pegar o que ela ta manuseando, até mesmo questão de segurando, mas ela não precisa ta uma lá num quarto e a outra no
outro, sabe, elas podem ta assim, naquele contato próximo né.
1- Atualmente tu ta fazendo algum curso pra aprimoramento? A tua pós-graduação né?
2- A minha pós-graduação, ahan.
1- Tu lê alguma coisa referente ao trabalho dos pedagogos nos hospitais?
2- Eu sempre busco na internet, porque assim até mesmo questão de informação, até tem um site que é a... Eneida
Fonseca, aquela trabalha no hospital do RJ, então a gente ta sempre buscando trocar informações, apesar que a realidade
deles lá é totalmente diferente da nossa aqui... e também o trabalho do Joana de Gusmão, a gente sempre acompanhando
também, porque muitas crianças nossas daqui vão pra lá, sabe, como que é o trabalho deles...
1- E tu entra em contato com o pessoal do Joana de Gusmão também, de repente pra alguma dúvida, alguma coisa, tu já
entrou?
2- Às vezes acontece, já entrei em contato com eles.
1- Com que tu falou?
2- Com a... ai gente, como que é o nome dela (pensando)
1- Tânia?
2- Não não, não é com a Tânia, é uma professora...
1- Claudia?
2- Não, é uma pro bem (incompreensível)
1- Valíria.
2- Ahan, com ela... geralmente a gente conversa...
1- Tem algum contato. Tivesse presente no encontro de 2007, no encontro estadual?
2- Tive.
1- Quais são as tuas preferências de leitura, referente a classe né, tu conhece algum autor, tu...?
2- Assim, eu li bastante (incompreensível) sobre (incompreensível) artigos que ele escreveu, da Eneida Fonseca, a
pesar de ter umas idéias que ela coloca que eu discordo, até teve um encontro que eu participei que ela estava e até gerou
assim...
1- Uma certa polêmica.
2- Uma certa polêmica, eu acompanhei também o trabalho do pessoal do Pequeno Príncipe de Curitiba, também sempre
busco ta me informando sobre o trabalho deles lá... e assim ó, eu vo te ser bem sincera, o pessoal aqui da região é o que
menos a gente tem contato.
1- É, eu ia te perguntar, tu conhece alguma outra classe?
2- Eu conheço a de Joaçaba, conheço a classe, conheço a professora que até sem sei se ela continua lá, conheci uma
professora lá e eu tive contato agora, a gente acabou perdendo contato com a professora que é agora no, era lá de Chapecó.
1- Mas tu continuas em contato?
2- Não não, a gente até tinha o contato antes com elas e a gente acabou, até em Joaçaba, quando a Rita, não sei se
continua sendo a Rita a integradora...
1- Não, não é mais.
2- Quando era a Rita a integradora em Joaçaba, porque agora... que que já faz isso, acho que faz mais de um ano,
mais ou menos, que eu não tive mais contato com o pessoal, mas quando era a Rita a integradora...
1- Vocês tinham contato...
2- A gente tinha um contato maior.
1- Quando tu procura alguma coisa pra ler, pra se interar mais, qual é a área que tu da prioridade? Tu procura mais a
psicologia, psicopedagogia, lúdico, neurologia que tu ta começando agora....
2- Olha, sinceramente no momento é neurologia, no momento, mas assim, eu procuro sempre a questão da
psicopedagogia né, da psicopedagogia e agora porque eu to fazendo curso e tal... então eu to procurando mais...
1- Até por conta dessa tua experiência que tu já teve na graduação, o que que tu considera fundamental e importante pra
que o currículo de pedagogia contemple sobre a atuação do pedagogo no hospital?
2- O que é fundamental dentro da graduação... assim ó...
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1- Se a gente considerar esses cursos que tão formando os pedagogos agora e com as novas diretrizes já tem... essa...
esse olhar voltado a preparar o pedagogo pra atuar em outros contextos, inclusive o hospital, de que forma que o... essa tua
experiência... de que forma tu vê que é fundamental o currículo contemplar?
2- Assim ó... um pouco mais de tempo pra cadeira no caso, um pouco mais de tempo e assim, a questão de... teria que ter
assim um contato maior entre... é... mais informações sobre o trabalho em si das classes, sabe, tivesse uma maneira de ter um
contato maior entre todas as classes do estado, tivesse mais cursos, mais capacitação e pra instituição eu acho assim que um
pouco mais de tempo pra essa matéria assim, o pessoal pega, mais tipo assim, fosse mais pra campo também.
1- Estar mais no hospital...
2- Estar mais no hospital...
1- BEATRIZ, eu queria que tu comentasse comigo o que tu pensa sobre a importância de ter um pedagogo dentro do
hospital, é... no que o trabalho desse pedagogo contribui pra recuperação da criança.
2- Assim ó, os hospitais eles trabalham com a questão da humanização, eu acho que o pedagogo, ele contribui muito pra
isso, sabe, porque a criança ela ta carente, ela ta com a auto estima baixa e quando ela chega ali, ela só o pessoal de
branco, só o pessoal de branco que é o pessoal da enfermagem, o pedagogo, ele vem fazendo essa... no primeiro momento
ele vem quebrando essa barreira, sabe, que ele não é alguém da enfermagem, que ele ta ali pra dar um apoio, pra dar um
suporte pra criança, que ela não ta ali só... ela ta ali pra fazer o tratamento mas ela não vai ficar ali só deitada... só no... sem
fazer nada, então assim, que ele vem, que ele vem pra contribuir pro bem estar, pra priorizar o bem estar, questão de auto
estima, do ouvir a criança e às vezes acontece muito dentro do momento da atividade, a criança, ela acaba confiando, sabe,
ela acaba adquirindo a confiança e aconteceu vários casos assim, da gente ta no momento da atividade e ela acaba
contando o que que é... e acabar contribuindo para o tratamento, aconteceu o caso de uma criança que ela tava com uma dor
de barriga, ele tava com uma dor de barriga e dor de cabeça e ninguém achava, fizeram exame de tudo que era tipo,
mandaram pra fora e a criança volto e continuava com o mesmo problema, e a mãe e o pai junto, aparentemente, junto com a
criaa, um dia a gente fazendo atividade aqui e a criança me disse ― Meu pai e minha mãe não tão mais morando junto‖, sabe,
era um problema psicológico da criança, os pais estavam separados, enquanto ela tava no hospital, o pai e a mãe ficavam
juntos aqui no hospital... foi passado isso pro pediatra, o pediatra foi conversar com a psicóloga e a partir daí foi começado a
trabalhar essa questão com a criança e a criança melhorou, sabe, então assim... eu acho que isso o pedagogo, é... acaba se
envolvendo e acaba conseguindo contribuir, sabe, não assim que ele vá resolver, mas ele contribui para o tratamento, para
auxiliar... porque a partir daí... a gente brincando, agente fazendo atividade a criança me falou isso, ai aquele negócio, eu sabia
de toda historia da criança e deu cheguei e conversei com o pediatra e era uma informação que eles não tinham, ninguém
sabia, o pai e a mãe não tinham falado e a partir dali foi tratado... começou o tratamento com a psicóloga, tudo... e onde foi que
acabou resolvendo.
1- Então ta BEATRIZ, agradeço por você ter me recebido.
Transcrição Entrevista 13 Pedagoga: JULIANA - Hospital: H11
Data: 28/08/2009
3- Entrevistador
4- Entrevistado
5- Psicóloga Janaina
1- Então Jô, tu é pedagoga de formação?
2- Pedagoga de formação.
1- Te formasse quando?
2- Eu me formei em 85.
1- E aqui em Joinville?
2- Aqui em Joinville.
1- Qual foi a instituição?
2- ACR.
1- ACR.
2- Isso, eu iniciei as atividades aqui em 83.
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1- Antes de trabalhar aqui no hospital tu trabalhava em outro lugar?
2- Eu trabalhei como voluntária, eu fazia estagio com a FUCABEM, com adolescentes, tinha um projeto com
adolescentes com desvio de conduta e eu fazia um trabalho com eles, que eu me interesso muito também, infelizmente
aquele grupo que a gente...
1- Além do hospital tivesse alguma outra atividade?
2- Eu dei aula também.
1- Escola regular?
2- Em escola regular.
1- Educação infantil?
2- Educação infantil.
1- A tua formação é educação infantil?
2- A minha formação é educação infantil.
1- E series iniciais também?
2- Series iniciais.
1- Tens alguma pós-graduação?
2- Tenho seis.
1- É, tu pode me dizer quais são?
2- Eu tenho administração hospitalar, administração em serviço saúde, saúde pública, metodologia do ensino
superior e psicopedagogia.
1- Então, administração hospitalar...
2- Administração em serviço saúde.
1- Saúde pública...
2- Saúde pública, eu sou sanitarista, né.
1- Depois psicopedagogia...
2- Terapia de florais e cromoterapia.
1- E?
2- Cromoterapia. Daí eu fiz neurolinguística, fiz neuroanatomia.
1- Sempre nessa área?
2- Sempre nessa área, voltada para a prática no hospital.
1- No hospital. Quanto tempo de trabalho tu ta acumulando agora?
2- 26 anos.
1- 26 anos. Me conta um pouquinho como é que tu chegou aqui no hospital.
2- Eu cheguei assim... eu estava num... fazendo grau e houve uma proposta na faculdade, pra ver quem gostaria
de vir até o hospital e eu me interessei e imediatamente... fui a única da sala, de uma sala gigante, me interessei e
cheguei e me apaixonei, né e comecei estagiando por 2 horas, porque tinha um...
1- Isso em 1983.
2- 83.
1- Esse convite que partiu da universidade era já pra atuar?
2- Era pra atuar, pra atuar... pra atuação, atuação, só que na época eu iniciei como recreacionista, tá?
1- Certo.
2- Como recreacionista, um pedagogo fazendo a parte de recreação.
1- Certo. Isso ai... me conta mais dessa tua trajetória de dentro do hospital.
2- Ai aos poucos fomos montando o espaço, observando a necessidade, comecei a me interessar muito, ler os
prontuários e começar a... a far sobre as patologias e perguntar e ler e perguntar pra própria enfermagem, própria
enfermagem, os próprios médicos e fui... fui começando a caminhar pra essa área, né
1- Quando tu viesse já como estagiaria, tu fosse contratada pelo hospital ou por uma secretaria?
2- Pelo hospital, quando eu iniciei no hospital, só existia assistente social, não existia equipe multidisciplinar, daí eu
comecei nos meus relatórios a descrever a importância desses profissionais pro bom andamento da entidade, daí de tanto
insisti consegui um psicólogo, daí veio ser minha chefe, daí foi começando a abrir, começando a abrir, as ciências se
ampliaram, porque até então não existia terapia educacional, não existia fisioterapia, ai começaram a surgir e começaram
a fomentar dentro do hospital.
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1- E tu sempre fazendo parte dessa equipe?
2- E eu sempre fazendo parte dessa equipe, primeiro éramos como departamento só de psicologia né, eu era
membro do departamento de psicologia, eu, o serviço social e a psicóloga, depois com o passar dos anos, a gente foi
conseguindo que mais profissionais viessem e hoje em dia a gente tem todos, tem TO, fono, serviço social, vários
psicólogos, dois pedagogos.
1- Aqui hoje tem dois pedagogos?
2- Dois pedagogos.
1- Tu compre quanto tempo de...?
2- Eu cumpro sete horas.
1- Sete horas...
2- Antigamente eu cumpria 9, né.
1- Então tu ta fechando 26 anos aqui no hospital?
2- No hospital, 26 no hospital São José.
1- Qual é o teu trabalho aqui?
2- Agora eu trabalho com o segundo andar, eu trabalho com transplantados, neurológicos, com ortopédicos, trabalho
também quando me é solicitado... alguém que não esteja no setor e as meninas da psico ou do serviço social observam
que esse cliente ta precisando de uma ajuda, então deu entro, né. Como tem esse moço que eu falei que ta fazendo,
cursando administração, eu negociei com a escola, tem uma outra menina que eu negociei com a escola, estou
negociando, que não esta me enviando atividade, do JS, mas assim são algumas exceções que eu abro pra sair do setor,
porque a opção que eu fiz foi atender no 2º andar, eu até posso atender as outras patologias, mas o meu forte, o meu
objetivo principal são os transplantados renais.
1- Ah ta! E o neurológico também?
2- Neurológico eu trabalho, oncológico também, ortopédico.
1- Mas algum assim... as mais comuns são essas?
2- Cardiológico eu trabalho, os cardíacos.
1- Tu trabalha com todas as séries Jô?
2- Agora eu so trabalho com adultos, mas antes eu trabalha com todas as séries, quando eu trabalhava com...
porque eu vim pra cá em outubro do ano passado, né, eu sai do Infantil, que o Infantil foi entregue pra uma organização
social e nós que implantamos o serviço, somos funcionários concursados, voltamos pros nossos hospitais de origem, eu
pra cá, as pessoas do São José vieram pro São José e as pessoas do hospital Regional voltaram para o Regional, né.
1- Então no caso, tu não consegue atender todos os pacientes que internam aqui, né?
2- É impossível né, nossa, imagina! Eu não do conta nem de atender todos do 2º, é impossível.
1- Como é que é essa atuação, quais são as atividades?
2- Eu do diversas atividades, eu chego no quarto e ofereço as atividades e eles escolhem, eu trabalho todo o
cognitivo, né... o meu objetivo são as conexões neurais, estimula as conexões neurais.
1- Tens algum exemplo de alguma atividade do que é mais comum?
2- Caça palavra, leitura e a procura do...
1- Certo. Tu já tem uma pasta pronta com todo esse material?
2- Não, não, eu sempre estou criando, porque nós temos muita dificuldade de material, então sempre estamos
trabalhando com sucata aqui, por exemplo eu ganho da nossa psicóloga essa caixinha e ela vai vira.
1- Alguma coisa.
2- Vai vira algo bonito, que o cliente vai fazer. Eu vo estimular, vou dar materiais, ele vai fazer escolha de materiais e
vai criar em cima.
1- Trabalha com arte então?
2- Trabalho, trabalho... a pedagogia sempre teve o uso, a instrumentalização de materiais para o trabalho, na época
que eu trabalhava com criança também, trabalhava com sucata, leitura, pintura, jogos, tudo que venha possibilita o
cognitivo, né.
1- Tu comento que tu tens alguns pacientes em idade adulta e adolescente também que estão nas escolas, tu
consegue acompanha o currículo formal?
2- Não, não consigo, porque é muita coisa pra um pedagogo só, eu não tenho agora... quando eu tinha criança sim,
ai dava pra acompanhar, mas eu não sou administradora, como eu tenho agora um menino que ta no 4ª ano, ta formando
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em administrão... marketing... administração e marketing, eu o entendo nada de administração e muito menos de
marketing, então o que eu faço, eu negocio com a gestora, trago material, leio, passo pra ele, oriento sempre que as
dúvidas ele anote, eu entro em contato com a gestora, a gestora providencia a resolução disso e posteriormente é
entregue a ele.
1- Então é sempre feito o contato com a escola, né?
2- Sim, sempre.
1- Fala um pouquinho desse teu contato com as escolas assim.
2- Eu sempre pego... nome do aluno, a série, o telefone, nome da diretora e da orientadora e entro em contato com
eles, ai negocio, falo da hospitalização e da importância do aluno não se sentir... desligado da escola... pra que ele tenha
estimulo de retorna... isso (incompreensível) importante não só mais um numero dentro a escola e eles me prometem, as
vezes não cumprem, mas a gente não pode desistir.
1- É uma das dificuldades?
2- É, a maior dificuldade que nós temos é o desinteresse da escola pelo aluno, porque na verdade inclusão é uma
coisa que está muito pelo no papel no nosso estado, sabe, porque é uma falácia, não existe preocupação nenhuma com o
cliente hospitalizado, ele é esquecido, eles só dizem assim ―Depois ele recupera‖, mas isso é uma coisa absurda de ser
dita, porque se ele... o mínimo que ele fizer, né, vai ser muito, porque ele vai continua ligado com a escola, vai... tem
interesse em voltar e não e não fica ocioso, pra auto-estima dele faz um bem né, fantástico, é só ganho, então eu não
vejo...
1- Uma valorização do tempo hospitalizado, a hospitalização pode ser um tempo valioso...
2- Exatamente... é, não... e é um tempo valioso. Eles fazem desse tempo um tempo valioso, porque você leva uma
caixa de sucata e você precisa ver o prazer, eu trabalho muito com abaixador de língua, eu gosto de trabalhar... e tampa
de remédio também, eu gosto de introduzir sempre o material do hospital, pra pratica da pedagogia, então, o prazer que
eles tem, o orgulho, como eles ficam felizes, eles criam até quadros com tampa de remédios, sucata de... é lindo, eles
saem com aquilo, eles mostram, mostram com orgulho, é maravilhoso, é lindo, só que pena que as nossas escolas não
fazem a parte delas, é muito triste isso, eu acho que a nossa escola tem que mudar, porque a pedagogia hospitalar é uma
coisa nova e está no tempo de mudar né, eu acho que você vai fazer a diferença.
1- Eu espero que sim.
2- Não, com certeza meu anjo.
1- É eu trabalho que eu sempre procurei.
2- Vocês estão chegando agora, você tem quanto tempo na área?
1- É recente, bem recente.
2- Pois é, mas mesmo assim, o que é recente é bom, é ótimo.
1- Chega com gás né.
2- Sim, você tem todo o caminho ainda, eu so muito apaixonada pela área e então... é uma coisa... eu fico muito feliz
quando surgem pessoas novas interessadas na área.
1- Que bom.
2- Porque é uma área maravilhosa.
1- Então JULIANA, deixa eu te perguntar. Tu atendendo esses adolescentes, esses jovens, é uma variedade grande
de conteúdo, como tu lida no trabalho com essa variedade tão grande? Tu te sente preparada?
2- Eu me sinto, me sinto bem preparada porque eu... na verdade eu so bem eclética... não uma sumidade, mas eu
dentro do posvel e o que eu desconheço eu pesquiso, ainda bem que existe o Google né, porque qualquer coisa,
qualquer coisa e quando não tínhamos eu sempre ia ler, buscava, conversava com quem dominava a área, pedia a
pessoa que dominava a área, um xavequinho pra vir, que o hospital sempre me deu essa liberdade, então... era fácil
sabe.
1- Esse teu trabalho com essa equipe do hospital, sempre foi uma boa relação?
2- Sempre foi.
1- Sempre te acolheram bem?
2- Sempre, sempre, eu sempre tive assim... um excelente relacionamento com os profissionais, da lavanderia aos
médicos, todos assim sempre respeitaram o trabalho, é que eu sou uma pessoa fácil de lidar e.... eu acho que humildade
também é importante, você admitir quando o sabe, quando desconhece, você valorizar todos os profissionais, que
todos nos somos parte de uma corrente, que sem um elozinho a coisa não funciona bem, então isso é fundamental.
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1- Pra essas atividades, alguém te auxilia, alguém te ajuda ou você que elabora sozinha?
2- Eu elaboro sozinha, mas eu peço ajuda do pessoal da manutenção, tem umas sucatas que precisam ser
cortadas, daí eu risco, delimito os espaços e eles cortam pra mim.
1- E o teu contato com secretaria de educação, secretaria de saúde, tem alguma participação dessas secretarias no
teu trabalho aqui, não?
2- Da secretaria de educação sim, porque quando eu preciso do telefone de alguma escola eu ligo pra eles e eles
prontamente me auxiliam e quando eu trabalhava com crianças, eles muitas vezes... eu pedi pra que eles me auxiliassem,
me ajudassem cobrando da escola, porque a escola não tava mandando atividade, ta.
1- E tu sempre teve retorno positivo?
2- Sempre tive um retorno positivo, eu acho que o maior problema é a falta de interesse mesmo dos profissionais
que estão dento da escola, eu acredito que, o sei se é excesso de trabalho, muito aluno, mas eu creio que nada
justifica, porque eu sempre tive muitas crianças de todas as faixas etárias e trabalhava além do meu horário, trabalhava
em horários que não... de almoço e.... certo que o correto é ter vários profissionais, mas isso eu acredito que com o
passar do tempo, nós mostrando a importância desse trabalho aqui dentro, então... teremos uma outra postura né.
1- JULIANA, tu considera esse trabalho, tu nomeia esse teu trabalho aqui do hospital como classe hospitalar?
2- Sim, sim... eu acho que a pedagogia, ela... a prática dentro da pedagogia dentro do hospital ela está ligada
diretamente, porque você tem que ter, seguir todas as normas, vonão pode... você tem que respeitar o espaço do
outro, você tem que ter cuidado de não levar biquinho de uma lado pro outro porque é muita responsabilidade, você tem
que ter cuidado de não perder uma formação de talo-ósseo, de não perder um enxerto, de não fazer uma cirurgia sangrar,
tem que conhecer, conhecer o individuo.
1- E a questão da nomenclatura, tá bem claro pra ti que é classe hospitalar.
2- Sim, eu acho que... a pedagogia entra como mais um instrumento para o hospitalizado, um instrumento a mais,
um facilitador, como tem fisio, como tem o TO, como tem o psicólogo.
1- O pedagogo também contribui.
2- Contribui e muito, porque eles sentem faltam da gente e eles procuram, você precisa ver como eles procuram,
eles vem atrás da atividade ―Ai quero...‖, tem senhores de 60, 70 nos que não tiveram o hábito que leitura, que nunca
haviam feito uma cruzadinha, deu estimulei, nossa como eles gostaram, porque sempre eu procuro da atividades que
tenha um textinho, que seja educativo, pra além do lazer, colocar uma sementinha a mais, eles vem e conversam sobre o
assunto e pedem revistas pra levar pra casa e adquirem o hábito da leitura, isso eu acho fantástico, eu to bem feliz porque
eu na verdade, quando chamou pra eu vir pra cá em outubro, imagina, 25 anos trabalhando com criança, você mudar
assim radicalmente e vir trabalhar com adulto, é uma coisa assim bem assustadora né, mas eu acredito que quando você
tem boa vontade e procura buscar o conhecimento para ser um facilitador do teu cliente, durante o período de
hospitalização, pra que minimize, né, essa agressão que é uma hospitalização, porque todos os procedimento são muito
invasivos, eu acho que você tem resultados bons, sabe, com boa vontade e amor.
1- Aqui tu não tens uma sala definida pra tua atuação né?
2- Eu tenho uma sala onde eu divido com a escrituração, eu tenho um armário, um espaço, porque eu cheguei agora
né, quando eu iniciei eu tinha uma sala.
1- No outro hospital...
2- Não, aqui no São José, porque essas atividades foram iniciadas no São José, no São José, nós...
1- Aqui no São José tu já ta a quanto tempo?
2- No São José estou há 25 anos.
1- Ah ta! Primeiro fosse pro Infantil...
2- Não... primeiro eu fui pro hospital Regional com toda a pediatria do São José, ddo hospital Regional, nós
fundimos, lá ainda nos estávamos com a pediatria do São José.
1- Em que ano?
2- E eu tinha a pediatria do regional, agora não sei te precisar a data, mas uns 5 anos atrás, e ai migramos,
essas duas pediatrias migraram, a do Regional e do São José para ocupar o espaço do Infantil e abrimos e tocamos o
espaço por três anos.
1- E agora...
2- Exatamente... e em 2008, em outubro eu retornei pro São José, porque eu sou funcionaria concursada do São
José.
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1- Ai tu encontrou essas salas aqui ou elas não existem mais?
2- Eles não existem, esse espaço aqui inclusive é do 4º andar que esta em reforma.
1- Ah tá, tem a possibilidade de tu voltar a ter um espaço?
2- Agora tem que ver... porque nos tamos com muitos problemas de leito e espaço, então o que menos me preocupa
é o espaço pra trabalhar.
1- E como é que tu organiza então, por falta dessa sala, desse espaço, como tu organiza o espo pra tua atuação e
os horários?
2- Eu faço assim, eu tenho essa sala, nesse espaço que eu tenho no andar, eu tenho um armário que eu divido
com as meninas da escrituração, onde eu tenho duas mesas, dependendo... que são das meninas da escrituração,
porque quando eu cheguei ano passado, elas ocupavam e elas tinham montado e elas me cederam um espaço pra
trabalhar junto com elas, eu tenho até... tenho a manha toda lá, que eu posso trabalhar com o cliente lá e a tarde até 4
horas, a partir das 4 horas da tarde se elas precisarem, se elas precisarem não, a partir das 4 a sala é delas... só que
assim, os nossos pacientes a maioria é transplantado e eles são muito leucêmicos e pra eles aquela sala não é boa,
porque não é uma sala que seja ventilada...
1- Então normalmente é no leito, a tua atuação é no leito.
2- No quarto, como os nossos quartos no andar, 2º andar é um espaço bem privilegiado, ele tem uma bancada no
final do quarto, ele tem uma bancada no final... Essa é a Janaina nossa psicóloga, essa é a pedagoga que veio fazer uma
entrevista.
1- Tudo bem?
3- Tudo bem e você?
2- Eles sentam na cadeirinha quando possível, é claro, que não haja nenhum impedimento, ai eles sentam, a gente
estimula também (incompreensível) ―Ai que legal, olha tua voltinha‖, porque tem pessoas que precisam de mais estimulo
até pra prática normal, até pro rinzinho funcionar eles precisam (incompreensível), ou outra patologia, os ortopédicos não
pode estimular a (incompreensível), dependendo a patologia a gente estimula, que (incompreensível) muito
tranquilamente.
1- E o fisioterapeuta acompanha junto?
2- Na, o fisio passa nos horários dele, mas a equipe toda estimula, ta, porque é uma equipe, o andar tem uma
equipe maravilhosa, coesa que todos trabalham de maneira muito...
1- Interdisciplinar.
2- Muito interdisciplinar.
1- Interessante.
2- É um setor maravilhoso, a chefia é magnífica, até sabe, quando eu cheguei, nossa, que vim de lá meio assustada,
nunca tinha trabalhado com adulto, fui assim... muito bem recebida, porque ela já queria que eu viesse em 2007, como eu
so funcionaria do São José, ela precisava desse serviço porque antigamente quando nós nhamos crianças, o andar
não tinha tantos transplantados, naquela época não fazíamos transplante, então nós tínhamos crianças que tinham
convênios, que ficavam nesse setor ou crianças que precisavam de um isolamento, que é um setor, nós trazíamos pra
ali, é a mesma chefa, então ela conhece meu trabalho a muito tempo e sempre foi muito permissiva, sempre... as vezes
eu vinha com mesa, cadeira e trazia o arsenal, aqueles carinhos barulhentos, modificava o esquema no setor, mas com
criaa é diferente e tem que haver a liberdade.
1- Com certeza. Deixa eu te perguntar JULIANA, quais são as características que contribuem pro teu trabalho aqui
no hospital?
2- Eu acho que ser acessível e ter um... achar que nada é impossível, que tudo é possível se tu tiver boa vontade,
dentro das possibilidades é claro, porque tem coisas que tem coisas que não são possíveis, como atualmente nos
reduzimos até os estímulos pra que o pessoal saia da sala e fique comigo, saia do quarto e fique comigo nessa sala,
devido a gripe A, a gente teve que reduzir visita, tudo foi reduzido em fuão dessa gripe, porque nos temos que muito
cuidado com tudo, que Deus u livre, imagina o transplantado pegar uma gripe dessas, Deus u livre, é fatal, né.
1- A tua formação ela contribuiu de que forma pro teu trabalho aqui no hospital?
2- Olha, eu acho que ela é fundamental pra que eu possa, pra que eu possa atuar, sabe.
1- Tu lembra de alguma disciplina que mais ajudou?
2- Fisiologia, patologia, ortopedia 1, ortopedia 2.
1- Mas isso na graduação tu não tivesse né, foi na tua pós-graduação, né?
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2- Não, isso foi quando eu fui fazer fisioterapia.
1- Ah certo, é por que tu tens além da pedagogia, fisioterapia?
2- Mas eu não me formei, eu fiz até... até concluir... eu não fiz os estágios, porque eu não tinha interesse de atuar na
área, então eu fiz o , o e o ano eu fiz todas as disciplinas, fisiologia, patologia, ortopedia, neurologia, eu fiz todas
as disciplinas, pediatria, para me instrumentalizar, pra poder dar um serviço bom e adequado pra criança com a qual eu
trabalhava né, até em respeito a ela.
1- Vamo fala um pouquinho da pedagogia, tu consegue relembrar dessa tua formação em pedagogia, de que forma
que ela contribuiu pro teu trabalho?
2- Assim, de uma maneira assim... gigantesca né, observando o comportamento da criança, respeitando as
necessidades dela, nunca... nunca atropelando, sempre deixando que a criança escolha, faças as escolhas, nunca
forçando, permitindo que ela sempre fizesse as escolhas, até no momento que ela tivesse que estudar as matérias, sabe,
curriculares, porque existem momentos quando a criança esta hospitalizada que ela precisa dessa liberdade, ela não
pode tentar e você não pode dizer ―Esse horário você tem que fazer‖, você pergunta, mas sempre com muito jeitinho e
tenta estimular para que estude, comento alguma coisa, traz alguma coisa que se relacione a atividade que ela vai fazer,
um desenhinho, um filminho, um livrinho, algo que possa estimular, mas indiretamente, nunca forçando, nunca
pressionando, porque eu não gosto de pressão no leito, eu acho que pressionando ninguém rende, ninguém consegue
render o que realmente é capaz.
1- Poderia, né?
2- Exatamente e uma criança hospitalizada principalmente o oncológico, ela passa por um processo quimioterápico
que é pesado, a medicão é uma revolução orgânica, eles tem perda de memória, é provado cientificamente isso,
(incompreensível) tem muitos medicamentos que fazem isso, então não adianta você querer ficar sabe, eu acho que em
momento nenhum, eu acho que a nossa escola ela peca nisso, ela precisa ser reformulada, pra que os nossos alunos
tenham aquele prazer de estudar, aquela vontade, aquele amor que tu não observas mais hoje nas universidades, ―Ai
professora é chato‖, ―Ai vamo matar‖, antigamente na minha época, não sei se é porque eu sou muito jurássica, a gente
corria atrás do professor pra pedir listinha de material pra gente ler, pra gente se instrumentalizar, hoje em dia meu Deus,
tu dá um material, eles não querem nem ler aquele que tu deu, é...
1- Na tua opinião quais são os saberes fundamentais pra um pedagogo que queira trabalhar num hospital?
2- Ele tem que ter... a formação pedagógica que é fundamental, ele tem que ser um pedagogo, eu acho que o
melhor para atuação é o orientador, que o orientador tem uma outra visão.
1- E qual é essa visão desse orientador?
2- Que o orientador é muito aberto, né, para as outras, as outras áreas, ele não é tão direcionado, ―Ah isso tem que
ser assim‖, ele tem uma outra leitura das coisas, ele pode trabalhar com várias séries ao mesmo tempo, né, pelo
conhecimento, porque na verdade ele é um especialista em educação, né, em função disso, eu acho o orientador
educacional o melhor indivíduo pra trabalhar na área hospitalar e ele tem que se instrumentalizar, fazendo curso de, nem
que seja como ouvinte, mas ele tem que conhecer ortopedia, neurologia, patologia, fisiologia, ele tem que conhecer,
cirurgia, tem que ter noção de músculo, porque magina se né, vai fazer um movimento pode destruir uma cirurgia, fazer
sangrar, todo um trabalho que foi feito anterior pra criança, você vai ta botando em risco, eu acho que é muito sério, ele
tem que ter um conhecimento bem amplo dessas áreas sabe e tem que ler muito e lê todos os prontuários, ele não pode
simplesmente ir atender sem ler prontuário, primeira coisa que ele tem que fazer é o que aconteceu com o indivíduo, o
que foi feito, pra depois ele pensar quais atividades ele vai poder levar, como sugestão pra que a escolha seja feita, né,
porque ele não pode levar de repente, uma criança fez enxerto, ―Ah vo leva uma bola pra ela‖, fez enxerto no membro
inferior, vo leva uma bola pra ela, ela vai chutar, que que a criança vai fazer... perde o enxerto, isso é uma agressão, isso
não é uma ajuda, isso é uma adequação, mesma coisa que você pegar uma bolinha e quere estimular uma pessoa com
morte cerebral, não tem lógica, mas o pedagogo ele pode até dentro da UTI faze diferença, porque eu trabalhei muito na
UTI e deu pra fazer um trabalho muito bom nos períodos que eu estava, que eu estava aqui, porque a UTI pediátrica foi o
primeiro, em Joinville, foi a primeira implantada em Joinville foi a do São José, o Regional não tinha, depois... quando nós
migramos montamos a nossa UTI, sendo do São José no Regional e a UTI pediátrica do Infantil também foi a nossa
que foi levada pra lá com toda a equipe, equipamentos, plantonistas.
1- E tudo que envolve isso.
2- E tudo que envolve isso.
1- Deixa eu te perguntar, tu já conheceu outras classes, outros pedagogos que atuam em hospitais?
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2- Já, já.
1- É? Aqui no estado mesmo ou só em São Paulo?
2- Eu conheci em São Paulo, conheci em Porto Alegre, conheci os pedagogos de Massachusetts, do Hospital of
Children, que vieram me visitar aqui em Joinville, quando eu estava aqui ainda com... na nossa pediatria e eles ficaram
encantados com o trabalho porque sem dinheiro, a gente conseguir realizar um trabalho e eles iniciaram em 92 ou 96,
agora eu não recordo a data e eles ficaram extasiados pelo fato de eu já estar 22 anos na prática, me congratularam,
ficaram assim bem felizes com o trabalho que a gente fazia aqui.
1- Continuou mantendo contato com essas pessoas?
2- Atualmente não, ate ano passado eu ainda recebia e-mail, mas é que na correria, tu tem tanta coisa pra fazer...
1- Aqui em Santa Catarina tu não tens contato com nenhuma...?
2- Olha, não... não mesmo, não porque eu tenho muita coisa pra fazer.
1- Tu lê sobre o trabalho do pedagogo em hospitais?
2- Leio, sempre to lendo.
1- Quais são as tuas preferências de leitura?
2- O pessoal de Porto Alegre, o pessoal de Porto Alegre, o pessoal de...
1- JULIANA, eu queria que tu me comentasse um pouquinho o que que tu acha importante e imprescindível num
currículo de pedagogia que pode vir a formar pedagogos que vão atuar em hospitais?
2- Eu acho imprescindível que as universidades abram espos dentro dos hospitais para que os pedagogos
venham estagiar como todos os outros de todas as áreas que são da saúde, porque não adianta você dizer assim, ―Ah
você pode fazer o TCC na área‖, mas ela não tem a prática, ela o tem a observação, como ela vai atuar, só através a
literatura fica muito vago, a pessoa tem que conhecer, tem que participar, tem que saber o que é uma infecção cruzada,
sabe como proceder dentro de um hospital e a pedagogia não instrumentaliza para isso e é obrigação, eu creio que as
universidades pecam imensamente nisso, porque elas dizem assim ―Não, você pode fazer seu TCC nessa área, você
pode fazer o seu mestrado nessa área‖, mas elas não abrem espaço dentro dos hospitais pra que o aluno vá lá aprender,
porque ele tem que aprender como todas as outras formações acontece aqui, eu acho um absurdo, eu acho que tem que
mudar, com urgência, pra que nós tenhamos pessoas praticando, que não vão prejudicar os nossos clientes, né, porque...
pode, você pode ter muita boa vontade, ter muito amor pela sua área, pela pedagogia, que é uma área apaixonante, que
somos uma das ciências mais antigas né, se distanciamos anos de todos os outros, mas precisamos da prática, da prática
dentro da área hospitalar e só a abertura desses espaços, as universidades abrindo, tem que fazer, ―Ah, você que fazer
pedagogia hospitalar? Então você vai ter que ter essa grade curricular‖, você vai ter que fazer a prática dentro do hospital,
porque se não fica vago, fica muito vago.
1- Agora eu queria que tu comentasse um pouquinho pra gente meio que encerrar a nossa entrevista, o que que tu
pensa sobre a importância de um pedagogo dentro do hospital? Por que que é importante que o hospital contemple o
trabalho, né, de um pedagogo?
2- Eu acho que é fundamental o trabalho do pedagogo porque o pedagogo, ele tem o dom de sociabilizar, ele
sociabiliza, ele integra, ele faz com que todas as áreas se comuniquem, ele vai reduzir o tempo de hospitalização sem
dúvida, ele vai melhorar a auto-estima do cliente, ele vai fazer com que o cliente sofra menos durante o período de
internação e adquira um treino de paciência, através dessa conexõezinhas neurais, porque se tem um paciente que... os
oncológicos, os renais, os neurológicos eles tem um tempo maior de hospitalização dependendo a situação e eles... a
paciência deles precisa ser treinada e a aceitação do ambiente hospitalar também e isso acontece através do pedagogo
dentro da instituição, porque ele propicia isso sem dúvida alguma e é algo assim fantástico, porque é uma área que tem
que ocupar... e digo mais, nós não devemos só ocupar os espaços em hospitais, nós devemos ocupar os espaços nas
empresas pra que haja uma re-leitura da importância do indivíduo dentro das empresas, nós teremos com certeza um
desenvolvimento maior a nível de país e um enriquecimento enquanto pessoas, sabe, porque uma pessoa, a integração
das pessoas faz com que ―Ah, eu não conheço do verde, mas você vai me fala do verdee se eu conhecia do vermelho,
eu vo passa a ter uma visãozinha do verde e do vermelho e isso é lindo, porque é isso o conhecimento, ele tem que ser
distribuído e fomentado pra que a gente possa crescer né, porque ninguém cresce sozinho e isso é tão importante....
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Transcrição Entrevista 14 Pedagoga: Alicia Hospital: H12
Data: 28/08/2009
1- Entrevistador
2- Entrevistado
1- ALICIA, tu é pedagoga, tua formação é em pedagogia né?
2- Sim.
1- Tu te formasse quando?
2- 2004.
1- 2004, aqui em Joinville?
2- Sim.
1- Univille?
2- Não ACE.
1- ACE.
2- Associação Catarinense de Ensino, na época eram as duas únicas universidades, faculdades que tinham pedagogia.
1- Antes de trabalhar aqui no hospital, quais eram as tuas atividades? Qual foi o teu trabalho?
2- Trabalhei primeiramente na educação infantil, no ensino especial, no ensino regular fundamental a serie, né,
também trabalhei com ensino profissionalizante, curso profissionalizante, e uma instituição não governamental, eu era
educadora educacional e coordenadora pedagógia também.
1- Além da tua graduação tu tens alguma especialização?
2- A pós em psicopedagogia e gestão hospitalar, gestão escolar, práticas pedagógicas e educação especial.
1- Então agora quanto tempo tu ta trabalhando na área?
2- Aqui no hospital eu entrei em outubro e desde lá eu trabalho nessa área.
1- Mas tu começou a trabalhar logo que tu te formou né, então?
2- Já trabalhava bem antes.
1- Em que ano mesmo tu te formou?
2- 2004, eu me formei, mas já trabalhava na área da educação muito antes, fiz magistério e então...
1- Já tava atuando.
2- Sem a faculdade.
1- Quantos anos então desde o magistério?
2- 15, 16 anos.
1- Conta um pouquinho como tu chegou ate aqui no hospital.
2- Como eu fui convidada? Encaminhei meu currículo na época, não com intenção de trabalhar na área pedagógica, né...
era... eu trabalhava num colégio da rede particular, sempre trabalhei em rede particular tá, nunca na rede municipal e... eu
sairia dessa escola da rede particular e comecei a distribuir meu currículo em qualquer área humana né, caso eu não
conseguisse, porque a rede municipal havia fechado inscrições no final do ano e era meados do ano, então inviável conseguir
alguma coisa na rede municipal ou estadual, a rede particular já tinha posto todos os professores e não é pratica das escolas
particulares mudarem seus profissionais na metade ou no encaminhar das aulas, né, então encaminhei pra cá meu currículo,
então o hospital sob essa nova gestão, convido as pessoas que tinham experiência na área pedagógica a elaborar um... foram
chamadas pra entrevista primeiro, foram realizados testes psicológicos, enfim, né, entrevistas com psicólogos e...
1- Passasse por um processo de seleção então?
2- Isso mesmo, mas o fator que me abriu as portas daqui foi a elaboração de um pré-projeto para a classificação, visto
que algumas profissionais, em todos os critérios ficaram empatadas né, o critério de desempate foi a elaboração de um projeto.
1- Quem te contratou pra atuar aqui foi o hospital?
2- Foi o hospital, contratada pelo hospital, na verdade a administração do Nossa Senhora das Graças de Curitiba.
1- Há quanto tempo tu estas aqui no hospital?
2- Desde outubro.
1- Vais completar um ano, então?
2- Uhum.
1- Oito meses... não, dez meses. ALICIA, hoje qual é o teu trabalho aqui?
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2- Eu desenvolvo toda a área pedagógica né, desde a acolhida da criança, ao familiar, né, a organização entre as
escolas, esses encaminhamentos, os relatórios necessários, necessariamente pra escola, as aulas, efetivamente dar aula para
as crianças, então, também... agora não, agora to mais vinculada a área de recreação, brinquedoteca, a pouco tempo se
tornou uma função da terapeuta ocupacional, porque a demanda é muito grande, e nessa área, e na área da pedagogia só
tem eu como profissional, não existe estagiários...
1- Tu ta trabalhando sozinha?
2- Sozinha.
1- E tem em cada andar uma brinquedoteca.
2- Sim, uma ou duas dependendo o setor.
1- Quantas brinquedotecas tem ao total aqui?
2- No hospital?
1- É.
2- (pensando) seis, seis espaços de brinquedoteca, alguns setores é, neo-natal, maternidade não tem.
1- E aqui o teu setor?
2- Não contem.
1- E aqui nesse setor, qual é o teu trabalho aqui, nesse setor?
2- Aqui é a classe hospitalar, aqui eu foco como sendo a classe hospitalar, atender as crianças que precisam dar
continuidade a seus estudos, vo montando uma turminha conforme a classificação por série, idade, interesse, né, esse é o
objetivo dessa sala.
1- Agora tu ta em reforma, antes não estava?
2- Não, ai eu recebia as crianças aqui.
1- E como é que tu organizava esse espaço e o tempo que tu trabalhas aqui? Me conta um pouquinho.
2- Na verdade formulamos alguns critérios enquanto hospital, enquanto área pedagógica, um dos critérios é, só atender a
criaa que já esteja internada sete dias, então no sétimo dia de internação ela é acolhida pela pedagogia, feito esse contato
com escola e disponibilizado o atendimento, a organização de atividades e tudo mais, o outro critério é estar em idade
escolar, seis anos até médio, se for o caso.
1- Tu trabalha com todas as series então no caso?
2- Todas.
1- E as crianças de zero a seis anos como é que tu?
2- De zero a seis anos, eles só tem atendimento da terapeuta ocupacional no momento que fica responsável pela parte
de recreação, o hospital está estudando a possibilidade de termos, a pedido meu e da terapeuta, uma recreação, que vai ficar
responsável só pela recreação de todas as crianças, visto que a terapeuta também não... tem uma demanda muito grande e
ela é única também na especificidade, como eu.
1- Já que tu atende todas as séries né, desde as series iniciais e até o ensino médio, como é que tu lida com a variedade
de conteúdo, tu te sente preparada?
2- Nem sempre, a 4ª eu domino super bem, isso é muito tranqüilo pra mim, alfabetização... é ótimo! Dificuldade
realmente eu encontro quando, por exemplo, chegou um aluno de série e eu tenho que trabalhar questões de matemática
com ele, se for uma área de estudo como ciências, história, teologia é fácil a gente desenvolver as pesquisas e os trabalhos,
mas numa área tão exata quanto a matemática é muito complicado, então pra isso eu to tentando elaborar agora um
documento, fazendo um levantamento dentro do hospital das necessidades que nos temos para o próximo ano contarmos com
profissionais da rede estadual e municipal aqui dentro, mas pra isso eu preciso apontar todos esses detalhes, fazer esse
levantamento, comprovar que existe uma demanda para professores nessa área aqui dentro.
1- Alguém te ajuda nesse trabalho que tu desenvolve aqui?
2- Não, ninguém. Ninguém, nem da rede municipal, nem da rede estadual, ninguém.
1- E como é que tu organiza as atividades, é por conta própria?
2- É, por conta própria, eu to organizando um banco de dados que vai ficar pro futuro, pra crianças que estão
hospitalizadas, por exemplo, que estudam em série, atividades diversificadas em português, matemática, historia, enfim e
assim consecutivamente... atividades também que sejam mais na área de lazer né... elas precisam desenhar, pintar, não só ler,
escrever, calcular... então to montando pastas com essas atividades, geralmente as escolas encaminham as atividades pra cá
e eu xeroco as atividades que eu acho mais interessantes e assim eu vou organizando.
1- Tu consegue esse contato com as escolas?
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2- Sim.
1- Tu tens esse retorno?
2- Os contatos sempre, sempre, é regra.
1- A criança tá hospitalizada sete dias tu faz contato?
2- No mesmo dia eu contato com a escola, num entanto nem todas as escolas dão esse retorno, é muito complicado, eu
to desenvolvendo um artigo que fala sobre, especificamente sobre isso, a dificuldade que nos encontramos nesse respaldo,
nesse retorno das escolas, escolas particulares demonstram um enorme interesse, prontamente nos atendem, escolas
estaduais é muito complicado, algumas escolas do município, algumas poucas, a gente pode ta dizendo que efetivamente são
parceiras.
1- Interessante porque o estado tem uma política que contempla a educação no hospital né, então...
2- Não, mas veja bem, em Joinville uma (incompreensível) muito forte é que desconhecem o trabalho pedagógico, o
atendimento pedagógico dentro do ambiente hospitalar, né, então pra organizar isso, participei de uma reunião
administrativa na rede municipal de ensino e apresentei a pedagogia, o trabalho da pedagogia aqui dentro, elencando as leis a
nível nacional, a vel estadual, tudo regulamentadinho pra que ninguém possa dizer ―Eu não sabia‖, não sabemos, portanto
você não pode cobrar e não podia mesmo antes, porque eles desconheciam, então agora que ta efetivado junto a rede
municipal eu posso cobrar, agora falta ainda esse momento com a rede estadual, mas se mostraram, se colocaram bem
abertos, bem abertos...
1- A rede estadual já tem convênio com alguns hospitais, até disponibilizando profissionais pra atuar nesses hospitais.
2- O que não acontece em Joinville, né?
1- Não acontece em Joinville.
2- É. Veja, a muito já existia pedagogia com outras pedagogas em outros hospitais, né, eu não entendo até agora, eu não
entendo, porque que elas não organizaram isso frente as redes, até pra contar como parceiros.
1- É uma questão a se pensar, né?
2- Eu to estruturando todo um projeto, um plano, não sei se é um plano de ação, se é um projeto pedagógico, mas é
nessa linha, ser um projeto pedagógico pra atuação profissional do profissional em pedagogia dentro aqui do hospital, pra
incentivar, regulamentar.
1- Mas nenhuma secretaria interfere na sua programação, no teu planejamento?
2- Não, nem a direção do hospital, ninguém.
1- Tu faz o contato... depois desses sete dias tu faz o contato com a escola de origem...
2- Uhum.
1- Elas normalmente te mandam ou é difícil mandar?
2- Difícil.
1- É difícil mandar.
2- É muito difícil, por isso que eu sempre tenho meu banco de dados, vo lá consulto, organizo as atividades e encaminho
pra elas ou eu preparo conforme o que a criança me relata né, Ah, eu tava na escola e tava estudando água em ciências‖,
então vo organizar alguma atividade dentro dessa área pra ela.
1- E depois que ela recebe alta, tu...?
2- Ela leva todas essas atividades com a pretensão de que seja avaliada pela escola, a partir do que ela ta entregando lá.
1- Tu entregas pra família?
2- Ahan, eu sempre oriento a família pra levar essas atividades para a escola, sendo um meio de verificação, de avaliar...
de fazer um acompanhamento, né.
1- Já recebesse algum retorno?
2- Devolutiva? De escolas? Nenhuma, nenhuma, dos pais sim, mas de escola, nenhuma.
1- Como que tu podes nomear o trabalho que tu... e esse espaço aqui, tu pode chamar de classe hospitalar?
2- Segundo o que eu tenho lido né, que a Margarida apresenta, no livro Pedagogia Hospitalar, esse espaço aqui eu posso
nomear como classe hospitalar, segundo o que ela aponta sim, porque é aonde eu recebo um pequeno grupo, uma turminha
pra esse atendimento.
1- Nesse projeto que tu ta elaborando é a classe hospitalar...
2- E também a hospitalização individualizada que é o atendimento em leito e individual.
1- Individualizado, né?
2- Certo, também acontece.
194
1- Cláudia, eu queria que tu comentasse um pouquinho sobre as tuas características que contribuem pro trabalho que tu
realiza aqui no hospital.
2- (Risos) Minhas características? Características... Uma, não seria uma característica, mas assim, a instituão me dá
plena autonomia pra desenvolver o meu trabalho, então... essa autonomia é muito positiva pra mim, porque não gera
dependência em nenhuma área, dependência de atendimento, não gera dependência pra evoluir, enfim, nenhum tipo de
dependência... características... (pensando)
1- O que que facilita teu trabalho aqui no hospital? Algum aspecto assim da... das tuas características mesmo, ela ajuda...
2- Olha, eu sou muito prática, muito prática, muito objetiva, eu acho, acredito ser muito determinada, né, então... eu
acredito que sou muito ágil porque se não fosse muitas crianças deixariam de ser atendidas né, então, e organizada, isso
com certeza, falta ainda eu organizar muita coisa e é o que me preocupa, pra mim falta tempo durante o dia.
1- Quanto tempo tu cobre aqui?
2- Trabalho das 8 às 18 horas.
1- Então são 40 horas.
2- 40 horas.
1- A tua formação, da pedagogia ela contribuiu de que forma pra tua atuação aqui?
2- Olha, ajudou muito frente ao currículo, principalmente em toda essa área do desenvolvimento humano, a psicologia, a
neurofisiologia, se fosse elenca as matérias que me ajudaram a compreender a... muitas situações que as crianças tem
passado aqui, é... muito gratificante saber que eu fiz pedagogia e isso contribui, além do próprio currículo escolar que nos
estudamos na faculdade, essa base, esse chão de sala de aula, de saber o que é uma turma, de fazer um trabalho
individualizado, de dominar os conteúdos, isso é excelente e ter toda essa percepção, essa interação da área, da
psicopedagogia é sensacional, senão tivesse a formação na área da psicopedagogia da educação especial, eu acho que eu
sofreria muito, se não tivesse a experiência fora.
1- Então a partir dessa experiência toda que tu tens, tu consegue visualizar o que seria necessário pra um currículo de
pedagogia contemplar pra essas próximas pedagogas que vierem a atuar no hospital, o que que o currículo de pedagogia
deveria ter?
2- Primeiro, o pessoal costuma reclamar muito que na faculdade só se dão pinceladas sobre educação especial, não se
esmiúça, quais os tipo de deficiência, como se dá a deficiência, o que acarreta na criança, né, então, esse chão a faculdade
não esclarece, ela só pincela.
1- Deveria ampliar.
2- Ah, com certeza educação especial e fora toda essa funcionalidade da fisiologia da aprendizagem mesmo, né, da
neuro, né, neurofuncionalidade, porque você passa a conhecer mais especificamente como se dá o processo da aquisição da
leitura, da escrita, do desenvolvimento motor e todos, então se você não tem isso muito claro, vai complica pra ti depois,
porque se você pega uma criança com AVC, como é que você vai trabalhar com ela, vai saber da onde, que ponto de partida
vai atuar, qual foi o comprometimento da criança? Então precisa, outra questão que precisa, ser abordada, pensando na
pedagogia hospitalar, é estudar especificamente sobre as patologias, pelo menos ter uma base, um chão sobre as patologias,
é fundamental, porque se você não souber o que é uma hemorragia intracraniana, que é um AVC né, se você não souber o
que ela pode causar no organismo da criança, como é que você vai trabalhar, desenvolver um trabalho de estimulação por
exemplo, é complicado.
1- É bem difícil. Eu vi ali no teu quadro que tu tens um calendário, nesse calendário tem um calendário fixo e algumas
outras atividades de vão surgindo...
2- Surgindo no decorrer da semana.
1- Eu vejo ali que tu tens algumas reuniões com a equipe multidisciplinar, eu queria saber se tu além desses encontros,
que já contribuem pra tua atuação aqui, tu ta fazendo algum outro curso?
2- To sempre procurando fazer alguma coisa que envolva a área, conversar com alguém...
1- O hospital tem te disponibilizado bastante formação?
2- Na verdade, eu participei de um foi o Educasul, esse ano até que aconteceu, né? Mas (incompreensível), lógigo que
eu vou buscar oficinas no SESC, temos o SESC aqui em Joinville, então tem várias oficinas que acontecem, alguns cursos na
área da educação que eu to sempre vendo.
1- Tu tá atenta...
2- Mas não que seja especifico pro hospital. Não, ai não. Porque não acontece em Joinville, busquei uma pós na área da
pedagogia hospitalar, em Joinville não tem, não tem.
195
1- Nem em Santa Catarina.
2- Soube recentemente, porque fui procurada pela Univille, que ta acontecendo um grupo aos sábados, mas é como se
fosse uma cadeira dentro da faculdade de pedagogia da Univille, os encontros direcionados a pedagogia hospitalar, mas é...
começou, parou... e foi só um semestre, parou um semestre e parece que voltou, então mais... não tive, só tive contato com
uma professora, Sônia, que agora, agora, recentemente pegou a coordenação ou essas aulas pra ta ministrando pra Univille.
1- Tu mantem contato com outras pedagogas que atuam nos hospitais?
2- Em Joinville não, primeiro porque não há abertura, não tem, já tentei visita no hospital da rede particular...
(interferência)
2- Na Unimed como eu já falei, não tive esse retorno, as pedagogas são extremamente fechadas.
1- Entendi...
2- Até da pra entender, né, então em Joinville não tem abertura nenhuma, tive um contato único que foi com a Pedagoga
de Florianópolis aquele dia, mas assim, infelizmente eu não tenho trocas com ninguém, com ninguém da área, ninguém.
1- Isso te faz falta?
2- Faz, muita, enorme, é um buraco imenso que tem dento de mim, se fosse pra mim dizer pra ti como, né, porque é
necessário troca, eu preciso troca, eu preciso saber como se dá a pedagogia em outro lugar, como se da o atendimento na
classe, como é feito o atendimento no leito, quais documentos eles tem organizados, quais diretrizes existem pro trabalho
deles, aqui eu crio as minhas próprias diretrizes com base em livros, artigos, estudos, pesquisas que eu faço, mas são
próprias, tu entendeu? Porque nem sempre a realidade, por exemplo com (incompreensível o nome do autor) na Espanha,
não é realidade do Brasil, então ele fala coisas que aqui eu não posso aplicar, então tem que criar as nossas especificidades, a
Eneida, tanto a Margarida elas traçam uma linha, mas elas são pesquisadoras e elas tem pessoas que trabalham junto, são
pesquisadoras junto....
1- E é uma realidade diferente de Santa Catarina, né?
2- Daqui também.
1- Porque o Rio e Curitiba são outros centros.
2- Ah como eu queria, como eu queria ter todo dia um MSN perto de mim pra poder de vez em quando ta trocando uma
informação ou como eu já pedi pro hospital, só que ainda não foi liberado, a minha visita pro Joana de Gusmão, que em Santa
Catarina é referencia, né, então eles pelo que eu já li eles tem que nos prestar assistência, eles tem que nos receber e nos
atender enquanto escola-universidade, universidade-escola, enfim... mas me receberiam prontamente, a Claudia abriu as
portas, pelo contato telefônico que fizemos, no então o hospital não pode me liberar, um dia ou dois dias pra ir pra lá, não faz
planos, não faz parte dos planos do hospital.
1- É uma dificuldade, né?
2- Ahan.
1- To vendo aqui, essas são tuas preferências de leitura, tu já leu outro material também?
2- (incompreensível)
1- É, tem alguém que te chama atenção assim, que tu...?
2- Gosto muito do Gonzales, gosto muito do que ele fala e amei ler o livro da Margarida, gostaria de conhecer as duas.
1- Elas vão estar em Rio de Janeiro, em Niterói.
2- (incompreensível)
1- Seria ótimo que tu fosse. Então, tu ainda não teve então nenhuma outra oportunidade de conhecer outro trabalho no
hospital. Ainda não né?
2- Não.
1- Mas isso vai acontecer em breve, com certeza.
2- Seria excelente que acontecesse.
1- Então, essa experiência que tu já tem, apesar de tar fechando agora os dez meses, quais são os saberes que tu
considera essencial pra essa pedagoga que pode vir a atuar no hospital?
2- Saber muito do desenvolvimento humano, com certeza, todas as fases do desenvolvimento de uma criança, de um
adolescente, uma característica principal; dominar, lógico ninguém vai saber todas as especificidades das matérias, mas pelo
menos buscar dominar...
1- O conteúdo curricular
196
2- Pesquisadora do conteúdo curricular, é necessário e... na verdade, na verdade, tem que saber conhecer muita coisa,
conhecer criança, conhecer adolescente, essa seria a palavra, conhecer a criança, conhecer o adolescente, em todas as
áreas, tanto psicológico, emocional, espiritual que é muito forte aqui também, eu tenho visto isso diariamente, é bem presente.
1- Pra finalizar agora a nossa entrevista, eu queria que tu falasse um pouquinho sobre a... como tu vê a importância de se
ter um pedagogo no hospital? De que forma que ele contribui pra essa criança que tá hospitalizada?
2- Primeiro que assim... tem crianças que têm 2 dias hospitalizadas, elas estão estressadas e preocupadas com a
situação escolar, assim que um profissional do hospital, seja terapeuta, seja o técnico em enfermagem, seja o psicólogo, assim
que eles detectam essa preocupação das crianças, eles me acionam, independente de ser 7 dias, 2 dias 5 dias, eu já vou
acolher a criança, fazer as devidas orientações né, e... eu posso dizer assim ó, a grande maioria das crianças que frequenta a
escola, a única preocupação que elas tem não é com a doença, é com a escola.
1- É com o que ela tá perdendo no colégio.
2- Isso se eu considera uma margem de meros de 90% das crianças se preocupam com o que que elas tão perdendo
na escola, será que eu vo ganha muita falta, será que vai te prova e eu vo reprova, será por conta das minhas faltas eu vou
reprovar, isso é muito característico em todas as crianças aqui que se encontram hospitalizadas, a fala ―Por que eu to aqui eu
vo reprova? Porque eu to doente, em tratamento eu vo reprova?‖ Então eu acredito que a pedagogia vem pra, pra... não é nem
aliviar a palavra...
1- Amenizar talvez...
2- Não, é acabar com essa preocupação mesmo, né, uma vez que eu sempre, quando eu chego na criança eu digo ó,
―Agora a tua preocupação acabou, eu cheguei, então agora você me diga, quais os teus temores, os teus receios, me conte
tudo e não me esconda nada‖ e a partir daí, Agora que você me contou tudo isso, tu não te preocupe mais, deixa comigo eu
organizo a tua vida escolar, se tem prova, trabalho eu te aviso ou se não aconteceu nada, como ficaram as notas do bimestre
anterior ou como ficarão né, eu organizo tua vida escolar pra que essa preocupação enquanto você hospitalizada não tenha,
né, então por isso eu vo te muni de atenção‖, atenção ou seja de 40 minutos, 1 hora de atendimento, 1 hora e 15 se aquilo se
tornou muito prazeroso, se aquele momento se tornou muito gostoso, então a gente amplia ainda o período de atendimento,
mas uma das principais coisas é tirar essa preocupação da criança, organizar a historia escolar dela e dar continuidade aqui,
se ela esta bem apta e quer... e principalmente quer receber esse atendimento, porque apesar de existir essa atendimento
dento do hospital, mas especificidade no setor de oncologia, né, agora eles tão bem, mas na hora que você chega lá eles tão
péssimos ou de manha passaram mal, mas de tarde tão bem e querem receber esse atendimento, então eu acho que é isso
uma fala muito importante das crianças e é essa fala das crianças, faço a minha, né. A importância que eles dão pro
atendimento, não sou eu, não sou eu enquanto pedagoga que dou, dou, acho meu trabalho muito relevante e importante, mas
eles fazem a importância do meu trabalho, eles é que valorizam e é por eles que isso acontece, não pela pedagogia em si...
1- Entendi, ALICIA, muito obrigada, agora eu vou pegar contigo algumas informações sobre o hospital...
197
APÊNDICE D QUADROS DE UNIDADES DE SIGNIFICÂNCIA
Quadro 01: Trabalho realizado
Pedagoga entrevistada
Trabalho realizado
Bruna
Atividades coletivas; dia do cinema; contação de histórias;
pintura; atividades artísticas.
Júlia
Coordenação de programas; serviços administrativos e
burocráticos.
Isabel
Atividades relacionadas com séries iniciais (aulas).
Carolina
Realização de atividades lúdicas; contação de histórias e
serviços administrativos.
Mariana
Desenvolvimento de jogos e realização de atividades
lúdicas.
Luiza
Trabalho realizado com projetos e arte.
Renata
Trabalho com artes, projetos e atividades comemorativas a
datas.
Amanda
Aulas e atendimento na classe ou leito.
Sophia
Atividades em equipes; projeto de leituras, trabalho com
brinquedos, jogos, montagens, literatura, vídeo e
computador.
Eduarda
Atividades com material pedagógico pronto para desenho e
pintura, vídeos, livros educativos, contação de histórias,
alfabeto móvel, pintura em guache, giz de cera.
Beatriz
Acompanhamento, estimulação, trabalho com brinquedos,
brincadeiras, e ludicidade. Atividades organizadas por
idades.
Juliana
(Com adultos) Contato com as escolas, estimulação de
conexões neurais (caça palavras, leituras, arte).
Alicia
Acolhida da criança, organização entre as escolas,
produção de relatórios, desenvolvimento de aulas e
recreação.
Quadro 02: Síntese e quantificação das informações semelhantes
Informação
Quantidade
Dar aulas
3
Recreação
6
Contato com a escola
2
Elaboração de material
1
Leitura/contação de histórias
5
Atividades artísticas
5
Serviços burocráticos
2
Quadro 03: Dificuldades e desafios
Pedagoga entrevistada
Dificuldades e desafios apontados
Bruna
Apego, suporte teórico para enfrentamento das condições
do ambiente...
Júlia
Espaço físico, rotatividade de profissionais
falta de parceria/acompanha-mento e encontros
sistemáticos com a Gered.
Falta de orientação e definição do trabalho.
Isabel
Orientação e definição do trabalho, Protocolo do que
cumprir, sistematizando trabalho e procedimentos,
formação para o trabalho, falta de resultados (corte de
mero de profissionais).
Carolina
Falta estrutura, professores de disciplinas específicas.
Mariana
Não saber o q vai encontrar, ―no início foi bem
complicado‖, falta de material, verba.
198
Pedagoga entrevistada
Dificuldades e desafios apontados
Luiza
Acompanhar os conteúdos, interferência dos
procedimentos de fisio, fono, enf. e medicina, resistência
da família, falta de aceitação do trabalho realizado no
hospital pela escola de origem.
Renata
Conteúdos das disciplinas, adaptação ao ambiente
(hospital), falta de valorização da escola de origem pelo
trabalho realizado no hospital.
Amanda
Formação e habilitação específica para atuação, pouca
disponibilidade de tempo p contato entre profissionais q
atuam ou atuaram na área, GERED e profissionais da
instituição. Falta de valorização do trabalho pela GERED.
Sophia
Acompanhar os contdos do ensino médio.
Eduarda
Contato com a escola de origem.
Beatriz
Dificuldade no contato com a escola de origem, trazer a
cça pro espaço do APH, o retorno da cça e acolhida na
escola de origem.
Juliana
Acompanhar os contdos escolares,
PG 215:
―desinteresse da escola pelo aluno, pq na verdade a
inclusão...‖
Adaptação ao ambiente (antes cças, agora adultos)
Alicia
Conteúdo das disciplinas, dificuldade de retorno da escola
de origem, fazer com q administradores da rede municipal
e estadual conheçam e apóiem a Ped. Hospitalar.
Quadro 04: Síntese e quantificação das dificuldades e desafios
Desafios e Dificuldades
Itens e quantidades
Falta de Acompanhamento/Sistematização
Divulgação: 1
Adaptação: 1
Formação: 2
Apego: 1
Falta de acompanhamento da Gered: 2
Falta de Orientação do Trabalho
Professores específicos: 1
Material: 1
Escola de origem:6
Motivar a criança:1
Família:1
Não saber o q vai encontrar:2
Acompanhamento dos conteúdos curriculares: 5
Trabalho em Equipe
Contato entre pares: 1
Interferência dos procedimentos:1
Estrutura Física
Estrutura:2
Quadro 05: Saberes necessários à prática docente no hospital
Pedagoga entrevistada
Saber teórico
Saber da experiência
Bruna
Teórico: Higienização
(materiais); Ludicidade;
Psicologia;
Experiência:
Limitar as palavras
Júlia
Teórico: Capacitação constante,
entendimento sobre fisioterapia,
fono, noções básicas de clínicas
como a neurologia, genética,
humanização e educação.
Experiência: sensibilidade,
afetividade, criar vínculos,
escutar, se preparar para o óbito
199
Pedagoga entrevistada
Saber teórico
Saber da experiência
Isabel
Teórico:
Psicologia, questões de
comportamento, ludicidade,
como ensinar conteúdos de
forma mais prazerosa, sociologia
e saúde.
Experiência:
Olhar o aluno como um todo,
conquistar o interesse pra vir ―pra
sala de aula‖, tem que ter carinho,
cuidado, olhar atento pra se
colocar no lugar do aluno,
empatia, ouvir o que o silêncio da
criança quer dizer.
Carolina
Teórico: Concepções de
doenças, saúde, higienização,
música, contação de histórias,
avaliação e registros.
Experiência: pensar no paciente
como um aprendiz sempre.
Mariana
Teórico:
Pedagogia, classe especial,
inclusão, diversidade.
Experiência:
Carinho, apego, calma,
paciência, piedade.
Luiza
Teórico:
Saber lecionar, conhecer
criança, compreender o contexto
para poder lecionar.
Experiência:
Estar bem emocionalmente, ter
esperança, ser carinhosa,
afetiva, saber conversar.
Renata
Teórico: Humanização na
saúde, artes, ludicidade.
*Necessidade de desenvolver
conteúdos fundamentais.
Experiência:
Cativar, mostrar que é legal,
Jogar junto, criar normas,
entreter.
Amanda
Teórico: Didática, sociologia e
prática pedagógica.
Experiência:
Experiência de trabalhos anterior
ao hospital (conselho tutelar),
gostar de trabalhar com
crianças, entusiasmo
Sophia
Teórico:
Conhecer o hospital, a sua
dinâmica muldisciplinar e a rotina
da enfermagem e da medicina.
Educação, psicologia e
psicopedagogia.
Experiência:
Conhecer as especificidades das
crianças, especialmente as que
possuem necessidades
especiais.
Eduarda
Teórico: Psicologia da educação
e domínio do conteúdo
lecionado.
Experiência: Comunicati-va,
disponível, gostar do q faz,
entender as crianças,
manter bom relaciona-
mento com os profissionais do
hospital, pais e acompanhantes.
Beatriz
Teórico:
Educação
Especial e interdisci-
plinaridade.
Experiência:
Facilidade de adaptação ao
ambiente hospitalar, gostar do
que faz.
Juliana
Teórico:
Formação em pedagogia,
conhecer as especificidades do
indivíduo.
Experiência: Humildade, ser
acessível, saber trabalhar em
equipe, ter um olhar aberto para
outras áreas.
Alicia
Teórico:
Desenvolvimento humano,
psicologia, neurofisiologia.
Experiência
Autonomia na instituição, Ser
prática, determinada.
200
Quadro 06: Síntese e quantificação dos saberes necessários à prática docente no
hospital
Categorias
Saber teórico/itens e
quantidade
Saber da experiência/itens
e quantidade
Formão
Artes:
Conteúdos Fundamentais:
Didática:
Prática Pedagógica:
Psicopedagogia
Domínio do conteúdo a ser
lecionado:
Psicologia da Educação:
Interdisciplinaridade:
Especificidades do indivíduo:
Saber lecionar:
Higienização: 2
Ludicidade: 3
Psicologia: 4
Capacitação:
Fisio terapia:
Fono:
Neurologia: 2
Genética:
Sociologia: 2
Saúde:
Doenças:
Música:
Pedagogia:
Educação:
Como ensinar conteúdos de forma
mais prazerosa:
Ed Especial: 2
Inclusão:
Desenvolvimento Humano:
Humanização: 2
Diversidade:
Conhecer Educação Especial:
Conhecer as especificidades das
criaas: 2
Limitar palavras:
Saber trabalhar em equipe:
Ter um olhar aberto para outras
áreas:
Jogar junto:
Criar normas:
Entreter:
Olhar o aluno como um todo: 2
Trabalho Prática
Contação de Histórias:
Avaliação:
Registros:
Compreender o contexto: 2
Adaptação ao ambiente hospitalar:
Manter bom relacionamento com os
profissionais do hospital, pais e
acompanhantes:
Ouvir o silêncio da criança:
Pensar no paciente como um
aprendiz sempre:
Estar bem emocionalmente:
Mostrar que é legal:
Conquistá-lo para vir para a ―sala de
aula‖:
Se preparar para o óbito:
Autonomia na instituição:
Vida
Conhecer a criança
Ser prática:
Sensibilidade:
Afetividade:
Carinho: 3
Cuidado:
Apego:
Esperança:
Empatia:
Entusiasmo:
Cativar:
Calma:
Determinação:
Paciência:
Piedade:
Humildade:
Criar vínculos:
Escutar:
Gostar de trabalhar com crianças:
Gostar do que faz: 2
Comunicativa:
Disponível:
Ser acessível:
201
ANEXOS
202
ANEXO A Quadros da Secretaria de Educação e Saúde
Quadro da Secretaria de Educação e Saúde
Nome do Hospital
Município
Possui Pedagogo (a) na instituição?
Hospital Nossa Sra. Aparecida
Abelardo Luz
Não
Hospital Beneficente São Roque
Arroio Trinta
Não
Hospital Oswaldo Cruz
Arabutã
Não
Fund. Med. Ass. Trabalhador Rural
Agrolândia
Não
Soc. Hospitalar Gov. Irirneu
Bornhausen
Aurora
Não
Hospital Regional de Araranguá
Ararang
Não
Hospital Nossa Sra. da Paz
Água Doce
Não
Hospital Santo Antônio
Armazém
Não
Hospital Frei Rogério
Anita Garibaldi
Não
Hospital e Maternidade Na. Sra. da
Conceição
Angelina
Não
Hospital de Olhos de Santa Catarina
Balneário
Cambor
Não
Hospital São Benedito
Benedito Novo
Não
Hospital Santa Catarina
Blumenau
Não
Hospital Santa Isabel
Blumenau
Não
Hospital Misericórdia
Blumenau
Não
Hospital Santo Antônio
Blumenau
Sim
Hospital Willy Francisco
Botuverá
Não
Hospital Evang. Mater. Consul Carlos
Renaux
Brusque
Não
Hospital Arquiodes Consul Carlos
Renaux
Brusque
Não
Hospital Santa Terezinha
Braço do Norte
Não
Hospital Bom Jardim da Serra
Bom Jardim da
Serra
Não
Hospital Nossa Sra. das Graças
Bom Retiro
Não
Hospital Hélio dos Anjos Ortiz
Curitibanos
Sim
Hospital Dr. José Athanázio
Campos Novos
Não
Hospital Nossa Senhora das Dores
Capinzal
Não
Hospital São José
Capinzal
Não
Hospital Nossa Sra. Perpétuo
Socorro
Catanduvas
Não
Hospital Santo Antônio
Campo Erê
Não
Hospital Lenoir Vargas Ferreira
Chapecó
Sim
Hospital e Assis. ao Trabalhador
Rural
Coronel Freitas
Não
Hospital e Assis. Cunha Porã
Cunha Porã
Não
Hospital de Assis. ao Trabalhador
Rural
Caxambu do Sul
Não
Casa de Saúde Rio Maina
Criciúma
Não
Hospital Nossa Sra. do Patrocínio
Campo Belo do Sul
Não
Hospital Caridade Matern. Jonas
Ramos
Caçador
Não
Hospital Maicé
Caçador
Não
Hospital Santa Cruz
Canoinhas
Não
Casa Saúde Mater. São Francisco
Corupá
Não
Hospital Municipal de Canelinha
Canelinha
Não
Hospital Assist. ao Trabalhador Rural
Descanso
Não
203
Nome do Hospital
Município
Possui Pedagogo (a) na instituição?
Hospital Municipal Dionísio Cerqueira
Dionísio Cerqueira
Não
Hospital Nossa Sra. de Fátima
Erval Velho
Não
Hospital Beneficente São Cristóvão
Faxinal dos
Guedes
Não
Hospital Divino Espírito Santo
Fraiburgo
Não
Hospital Lara Ribas Polícia Militar
Florianópolis
Não
Maternidade Carlos Corrêa
Florianópolis
Não
Hospital Florianópolis
Florianópolis
Não
Maternidade Carmela Dutra
Florianópolis
Não
Hospital de Caridade
Florianópolis
Não
Hospital Infantil Joana de Gusmão
Florianópolis
Sim
Hospital São Miguel
Galvão
Não
Hospital São Lucas
Guaraciaba
Não
Hospital Guarujá
Guarujá do Sul
Não
Hospital Municipal Santo Antônio
Guaramirim
Não
Hospital de Guabiruba
Guabiruba
Não
Hospital Miguel Couto
Ibirama
Sim
Hospital São Camilo
Imbituba
Não
Hospital Beatriz Ramos
Indaial
Não
Hospital Benefic. Nossa Sra. das
Mercedes
Iporã do Oeste
Não
Hospital São Jorge
Irani
Não
Hospital São Pedro
Itá
Não
Hospital Municipal Santo Antônio
Itaiópolis
Não
Hospital e Maternidade Sagrada
Família
Itapiranga
Não
Hospital Bom Jesus
Ituporanga
Sim
Hospital Beneficente Santo Antônio
Jaborá
Não
Hospital São Roque
Jacinto Machado
Não
Hospital de Caridade Jaguaruna
Jaguaruna
Não
Hospital Maternidade São Miguel
Joaçaba
Sim
Hospital e Maternidade Bethesda
Joinville
Não
Hospital Unimed
Joinville
Sim
Hospital Santo Agostinho
José Boiteux
Não
Hospital e Maternidade Tereza
Ramos
Lages
Sim
Hospital de Caridade Nossa Sra. dos
Prazeres
Lages
Não
Hospital de Caridade Sr. Bom Jesus
dos Passos
Laguna
Não
Hospital Municipal Henrique Lagé
Lauro Muller
Não
Hospital Lindóia do Sul
Lindóia do Sul
Não
Hospital de Assist. Rural de Luiz
Alves
Luiz Alves
Não
Hospital Benefic. São Roque
Luzerna
Não
Hospital de Caridade São Vicente de
Paulo
Mafra
Não
Hospital Municipal de Major Vieira
Major Vieira
Não
Hospital Beneficente de Maravilha
Maravilha
Não
Hospital Sagrado Coração de Jesus
Massaranduba
Não
Hospital Beneficente de Modelo
Modelo
Não
Hospital Pe. Clemente Kampmann
Monte Castelo
Não
Hospital de Mondaí
Mondaí
Não
Hospital de Caridade São Roque
Morro da Fumaça
Não
Hospital de Assist. ao Trabalhador
Rural
Nova Erechim
Não
Hospital Santa Otília
Orleans
Não
204
Nome do Hospital
Município
Possui Pedagogo (a) na instituição?
Hospital Santa Clara
Otacilio Costa
Não
Hospital Santa Rita de Cássia
Palma Sola
Não
Hospital de Palmitos
Palmitos
Não
Hospital e Maternidade São
Sebastião
Papanduva
Não
Hospital Beneficente de Peritiba
Peritiba
Não
Hospital Rural Santa Catarina
Petrolândia
Não
Hospital Beneficente de Pinhalzinho
Pinhalzinho
Não
Hospital e Maternidade Rio do Testo
Pomerode
Não
Hospital Rural Ponte Alta
Ponte Alta
Não
Hospital Comunitário Anegret Neitzke
Pouso Redondo
Não
Hospital de Caridade Nossa Sra de
Fátima
Praia Grande
Não
Hospital e Maternidade Maria
Auxiliadora
Presidente Getúlio
Não
Hospital São Bernardo
Quilombo
Não
Hospital Regional Alto Vale
Rio do Sul
Sim
Hospital e Maternidade Samaria
Rio do Sul
Não
Hospital Rural Rio Fortuna
Rio Fortuna
Não
Hospital de Rio Negrinho
Rio Negrinho
Não
Hospital São Roque
Rodeio
Não
Hospital Santa Terezinha
Salete
Não
Hospital Rural Salto Veloso
Salto Veloso
Não
Hospital Rural de São Bonifácio
São Bonifácio
Não
Hospital Pe. João Berthier
São Carlos
Não
Hospital Municipal Monsenhor José
Locks
São João Batista
Não
Hospital Santa Casa Rural
São José do Oeste
Não
Hospital Caridade Coração de Jesus
São Joaquim
Não
Hospital Reginonal Homero de
Miranda
São José
Não
Instituto São José
São José
Não
Hospital de Cedro
São José do Cedro
Não
Hospital do Trabalhador Rural
São José do
Cerrito
Não
Hospital São Miguel do Oeste
São Miguel do
Oeste
Não
Hospital e Maternidade Cristo
Redentor
São Miguel do
Oeste
Não
Hospital Beneficente de Saudades
Saudades
Não
Hospital São Roque
Seara
Não
Hospital Frei Rogério
Tanga
Não
Hospital São Lucas
Tanga
Não
Hospital São José Mat. Galotti
Tijucas
Não
Hospital Rural Santo Antônio
Timbé do Sul
Não
Hospital e Maternidade Oasse
Timbó
Não
Hospital de Três Barras
Três Barras
Não
Hospital Rural Treze Tílias
Treze Tílias
Não
Hospital Trombudo Central
Trombudo Central
Não
Hospital de Tunápolis
Tunápolis
Não
Hospital São Sebastião
Turvo
Não
Hospital Nossa Senhora da
Conceição
Urussanga
Não
Associação Hospitalar de Vergeão
Vergeão
Não
Hospital e Maternidade Flor de Maria
Vargem Bonita
Não
Fundação Hospitalar Vidal Ramos
Vidal Ramos
Não
Hospital Santa Maria
Videira
Não
205
Nome do Hospital
Município
Possui Pedagogo (a) na instituição?
Hospital Divino Salvador
Videira
Não
Hospital Angelina Meneghelli
Victor Meirelles
Não
Hospital e Maternidade Madre
Alphonsa
Witmarsum
Não
Hospital Regional de São Paulo
Xanxerê
Não
Hospital e Maternidade Bom Jesus
Xanxerê
Sim
Hospital São Lucas
Xavantina
Não
Hospital Cristo Rei
Xaxim
Não
Hospital Frei Bruno
Xaxim
Não
Quadro 01: Hospitais Catarinenses consultados para pesquisa
ESTADO DE SANTA CATARINA
Secretaria de Estado da Educação
Diretoria de Educação Básica e Profissional
O Programa Classe Hospitalar é resultado de uma parceria firmada entre Secretaria
de Estado da Educação e Secretaria de Estado da Saúde, que visa à continuidade
do processo de aprendizagem de crianças e adolescentes internados em ambiente
hospitalar. Atualmente o Estado de Santa Catarina oferta este atendimento em 11
(onze) Classes Hospitalares implantadas em Unidades Hospitalares da Rede
Pública de Saúde, que buscam desenvolver um trabalho pedagógico de Educação
Infantil e Ensino Fundamental.
As Classes Hospitalares estão distribuídas conforme tabela abaixo, com todos os
dados solicitados em seguida está a relação dos Hospitais com suas respectivas
Escolas Vinculadas.
GERE
D
MUNICÍPIO
ANO DE
IMPLANT.
TELEFONE
hospital
RESPONSÁVEL
TELEFONE
E-MAIL
CHAPECÓ
2002
( )
Claudia Simone Fantin
(49)33614240
claudia@cco.sdr.sc.gov.br
XANXERÊ
2002
(49)3441-7777
Mara A. Schneider
(49)3433-1481
maraa@yahoo.com.br
CONCÓRDIA
2002
(49)3441-4570
Eliane Maria Sunti
(49)3442-3878
anesunti@yahoo.com.br
JOAÇABA
2003
(49)3522-1977
Rita Maria Costenaro
Petry
(49)3522-0456
ritpetry@yahoo.com.br
11º
CURITIBANO
S
2001
(49)3241-1033
Andréa Comunello
(49)3241-0602
andrea_comunello@yahoo.co
m.br
12º
RIO DO SUL
2001
(47)3521-2000
Vania
(47) 8859-6546
13º
ITUPORANG
A
2002
(47)3533-1144
Bernadete Hessmann
Guchet
(47)3533-8533
bernadetetehg@sed.sc.gov.br
14º
IBIRAMA
2002
(47)3357-2555
Cátia Daniéla Doose
(47)3357-2261
integraespecial@sed.sc.gov.br
18º
G. FPOLIS
1999
(48)32519029
Ivone Schaefer
(48)32147525/
23
edespecialsj@yahoo.com.br
20º
TUBARAO
2002
(48)3631-7000
Gloria / Maria Estelia
(Téia)
(48)3626-3981
teiabeltrame@gmail.com
27º
LAGES
2000
(49)3225-1244
Janeth
(49)3225-1244
janethsimasenf@sed.sc.gov.br
206
Tubarão: Hospital Nossa Senhora da Conceição
Escola Vinculada: EEB Hercílio Luz
Curitibanos: Hospital Hélio Anjos Ortiz
Escola Vinculada: EEB. Santa Terezinha
Lages: Hospital Seara do Bem
EEB. Rubens de Arruda Ramos
Rio do Sul: Hospital Regional Alto Vale
Escola Vinculada: EEB. Paulo Zimermann
Ituporanga: Hospital Bom Jesus
Escola Vinculada: EEF. Mont‘Alverne
Ibirama: Hospital Miguel Couto
Escola Vinculada: EEB. Eliseu Guilherme
Joaçaba: Hospital Santa Terezinha
Escola Vinculada: EEB. Deputado Nelson Pedrini
Concórdia: Hospital: São Francisco
Escola Vinculada: EEB. Deodoro
Xanxerê: Hospital Regional São Paulo
Escola Vinculada: EEB Neusa Lemos Marques
Chapecó: Hospital Regional Lenoir Vargas Ferreira
Escola Vinculada: EEB Marechal Borman
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