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Conforme uma abordagem mais recente do rural, a aproximação entre mundos antes
tão distantes poderia ser compreendida através de uma perspectiva que considera a formação
de um contínuo entre o rural e o urbano. Esta noção de continuidade entre estes dois espaços
seria marcada por uma indistinção de atividades econômicas e mesmo de aspectos culturais.
Apesar de esta abordagem ter obtido destaque, as interações entre o urbano e o rural
não causam uma homogeneização entre estes dois espaços, pois populações tradicionais, no
caso agricultores familiares, captam mudanças e as transpõe à sua realidade, sem perder as
características que os identificam (CARNEIRO, 1998). Algumas falas dos informantes
(externos ao rural) demonstram relações com esta perspectiva quando expressam as diferenças
que existem entre o local onde moram e o espaço rural. Ou quando percebem as diferenças
que existem entre “a Porto Alegre” dos bairros centrais e “a Porto Alegre” que há ao sul de
seu território.
Porque eles nos oferecem pra nos mostrar que em uma capital existe isso aí, muita
gente não imaginava, tinha horas que a gente tava andando lá e achava que a gente
tava aqui nos interior de Ivoti né, não que a gente tava dentro de Porto Alegre, eu
imagino aquilo ali quando não era asfalto, que nem ela falou, a Mirta pra nós, era
chão batido, bom também não existia estrada, esses Caminhos Rurais né, mas eu
imagino como é que era aquilo lá era bem interior, mais interior ainda né, hoje com
asfalto já modifica as coisas né (E3, G2, p. 11, grifos nossos).
Ou mesmo quando falam de características que este rural tem: “a questão de ter essa
gente vivendo ah, [...] agroecológicos, vivendo disso, [...] vive disso né, isso é a vida dele, ele
vive dos caminhos rurais, mas antes disso ele já vivia da produção que ele faz e que ele vende
na feira” (E10, G2, p. 11).
Assim observa-se que a definição do contínuo entre o rural e o urbano não é
condizente com o que se vê em Porto Alegre. As informantes citam a diferença que há entre
os bairros centrais, onde está a efervescência urbana da capital, e o local onde existem
características interioranas no qual são desenvolvidas atividades agrícolas mescladas com
práticas turísticas com o intuito dos agricultores familiares obterem o necessário para a
sobrevivência da família.
Em um trecho é destacada aspectos culturais das pessoas que vivem no rural de Porto
Alegre e estão inseridas nos Caminhos Rurais:
e junto com ele trás uma cultura né, que é a cultura daquelas pessoas que vivem uma
vida, uma vida, não, não cimentada, digamos assim, que trazem coi, costumes,
talvez um pouco mais conservadores, que perde no dia a dia da metrópole né,
dia a dia do cimento que o acho. Eu falo do cimento porque eu acho um contraste
muito grande assim né, a (rua) Independência com a zona sul eu acho que são dois
opostos 100%, o cimento e a planta e eu acho que junto com isso, traz, tra, traz
toda uma cultura, uma cultura de família assim sabe. Aquelas pessoas, a maioria
que ta ali, herdo, herdo a terra do seu pai, da sua mãe, então tem aquela questão do