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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Programa de Pós-graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde
REVELAÇÃO DO DIAGNÓSTICO, ADESÃO E ESTRESSE EM JOVENS
SOROPOSITIVOS PARA O HIV
Camila Peixoto Pessôa Guerra
Brasília, setembro de 2008
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ii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Programa de Pós-graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde
REVELAÇÃO DO DIAGNÓSTICO, ADESÃO E ESTRESSE EM JOVENS
SOROPOSITIVOS PARA O HIV
Camila Peixoto Pessôa Guerra
Dissertação apresentada ao Instituto de
Psicologia da Universidade de Brasília,
como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre em Processos de
Desenvolvimento Humano e Saúde, área
de concentração Processo Saúde-doença.
ORIENTADORA: Profª. Drª. Eliane Maria Fleury Seidl
Brasília, setembro de 2008
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iii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APROVADA PELA BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________________________
Profª. Drª. Eliane Maria Fleury Seidl - Presidente
Universidade de Brasília
Programa de Pós-graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde
________________________________________________________________
Profª. Drª. Eleonora Arnaud Pereira Ferreira - Membro
Universidade Federal do Pará
Programa de Pós-graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Áderson Luiz Costa Jr - Membro
Universidade de Brasília
Programa de Pós-graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde
____________________________________________________________
Prof. Dr. Mário Ângelo Silva – Suplente
Universidade de Brasília
Programa de Pós-graduação em Políticas Sociais
Brasília, setembro de 2008
iv
Agradecimentos
À professora doutora Eliane Seidl, pelo aprendizado proporcionado ao longo de
nossa convivência e por compartilhar toda sua experiência e conhecimento
contribuindo de forma inestimável a este estudo.
Aos professores doutores Áderson L. Costa Jr, que marcou meu início na jornada
dentro da Psicologia da Saúde, Eleonora A. Pereira Ferreira e Mário Ângelo da Silva
por aceitarem participar da banca examinadora e contribuir com este trabalho.
Às professoras doutoras Célia Zannon e Elizabeth Queiroz, cujas observações e
sugestões a esta pesquisa foram indispensáveis.
À doutora Tereza Cristina C. Ribeiro por sua valiosa ajuda e prestatividade e pela
acolhida dada a esta pesquisa.
Às equipes da Unidade Mista de Saúde e do Com-Vivência por todo o auxílio
fornecido na condução da pesquisa.
À CAPES pelo apoio financeiro prestado.
Às alunas de graduação Thainá Tavares e Carolina Vilela por sua colaboração na
transcrição das entrevistas.
Às grandes amigas e companheiras de Mestrado Catarina Gomes, Marcela Abreu
e Marina Kholsdorf, fontes inesgotáveis de apoio. À Andrea Lino, Camila Tokarski,
Caroline Branco, Flávia Brasil, Juciléia Souza, Karla Martins e Paulo Vinícius pela
grande amizade e por completarem este grande grupo de amigos.
A meus amigos queridos Gustavo Vasconcelos, Marcela Favarini e Luis Fabrício
Calland pelo incentivo e amizade constantes e compreensão pelas ausências.
A meus queridos avós, tios e primos, por todo carinho, por torcerem por mim e
estarem sempre presentes.
v
A Fernando Pessoa Guerra, Maria do Socorro Peixoto e Marina Peixoto Pessôa
Guerra por serem minha base, não apenas nessa jornada acadêmica, mas também na
minha vida. O meu sempre muito obrigada!
A meu namorado e grande companheiro Miguel Vargas por todo amor, carinho e
paciência e por ter ajudado de várias maneiras na confecção deste trabalho.
E, finalmente, aos adolescentes e familiares que me receberam de braços abertos,
dispostos a compartilhar suas histórias e experiências. Sem essa confiança este
trabalho não seria possível.
Muito Obrigada!
vi
RESUMO
Um novo panorama tem se estabelecido para crianças infectadas pelo Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV) mediante transmissão vertical. O advento do tratamento
anti-retroviral trouxe melhoria da qualidade de vida e a Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (aids) passou a ser considerada uma doença crônica para pessoas que têm acesso
ao tratamento anti-retroviral. A chegada de crianças à adolescência e à idade adulta traz
novos desafios para as equipes de saúde e um campo de conhecimento a ser explorado.
Temas relevantes como revelação do diagnóstico, adesão a tratamento e estresse
constituíram os objetos de estudo dessa pesquisa, que teve como objetivos: (1) identificar
as características do comportamento de adesão ao tratamento anti-retroviral, segundo
relatos de jovens e seus cuidadores; (2) investigar o processo de revelação do diagnóstico
de soropositividade para os adolescentes; (3) investigar a ocorrência de estresse nos jovens
participantes; (4) descrever o nível de conhecimento sobre HIV/aids, bem como analisar as
características do processo de comunicação sobre a enfermidade e o tratamento, tendo por
base os relatos das díades. O estudo teve ainda o propósito de apontar diretrizes para o
processo de revelação do diagnóstico a profissionais de saúde que atuam em HIV/aids. O
delineamento foi descritivo de corte transversal, de caráter exploratório. Participaram nove
díades compostas por adolescentes infectados pelo HIV via transmissão vertical e seus
cuidadores primários. Seis rapazes e três moças tinham idades entre 12 e 17 anos
(M=13,7). Os nove cuidadores eram do sexo feminino e as idades variaram entre 36 e 67
anos (M=49,2). Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas individuais, com roteiros
semelhantes para os jovens e cuidadores. Para averiguação dos níveis de estresse foi
utilizada a Escala de Stress para Adolescentes (ESA). Procedeu-se à análise de conteúdo
dos relatos verbais, categorização de respostas e correção da ESA com base no protocolo
do instrumento. Os resultados sobre adesão ao tratamento indicaram que as principais
dificuldades se referiram a atrasos na ingestão dos medicamentos, sendo que o cuidador
cumpria papel importante ao lembrar os horários de uso dos anti-retrovirais na maior parte
das díades. Três jovens referiram não ingestão de comprimidos nos últimos três ou sete
dias. Observou-se predomínio de percepções negativas sobre os medicamentos anti-
retrovirais por parte dos jovens, além de incongruências nas informações entre
adolescentes e cuidadores sobre o esquema anti-retroviral em uso. Os cuidadores pareciam
desconhecer as principais circunstâncias que dificultavam a ingestão da medicação pelos
jovens. Quanto à idade e ao contexto da revelação do diagnóstico, houve pouca
consonância nos relatos dos adolescentes e seus cuidadores. Onze entrevistados
ressaltaram as vantagens da revelação por ter permitido a adoção de condutas de auto-
cuidado pelos adolescentes e favorecer práticas preventivas. O nível de conhecimento
sobre HIV/aids e temas correlatos foi heterogêneo, mas um terço dos entrevistados
demonstrou déficits de informação sobre temas-chave relativos ao HIV/aids. Com base nos
pontos de corte da ESA, nenhum jovem estava apresentando estresse, porém quatro deles
obtiveram escores indicativos de dificuldades na dimensão interpessoal. Em suma, a
comunicação sobre HIV/aids era precária e escassa entre a maioria dos integrantes das
díades. Conclui-se que as diretrizes para a revelação do diagnóstico devem levar em conta
o caráter processual e contínuo da revelação e favorecer a abertura da comunicação na
família. Considera-se que intervenções médicas e psicossociais direcionadas a esta
população devem visar a maior compreensão sobre aspectos da enfermidade e do
tratamento e a melhoria dos padrões de comunicação sobre HIV/aids no ambiente familiar.
Palavras-chave: adolescentes vivendo com HIV/aids; transmissão vertical do HIV;
revelação do diagnóstico; adesão ao tratamento; estresse.
vii
ABSTRACT
Children who have been infected vertically with the Human Deficiency Virus (HIV) have a
new perspective of life. Antiretroviral therapy has transformed Acquired
Immunodeficiency Syndrome (AIDS) into a chronic disease. The antiretroviral medication
has given greater life expectancies and quality of life to these children allowing them to
reach adolescence and adulthood. New issues concerning this population like disclosure,
adherence and stress are brought to attention and need to be studied. The objectives of this
research were to: (1) identify characteristics of adherence behavior to antiretroviral
treatment; (2) investigate the disclosure process to these adolescents; (3) investigate the
occurrence of stress in the seropositive adolescents; (4) describe the level of knowledge
about HIV/AIDS and analyze the communication process amongst families about the
disease and treatment, based on dyads’ reports. The study also aimed to suggest guidances
to disclosure for health professionals in dealing with this group. This was a descriptive
study with an exploratory intent. Nine dyads composed by nine adolescents infected with
the HIV trough vertical transmission and their primary caretakers participated in the study.
There were six male and three female teenagers with ages between 12 and 17 years old
(M=13,7). The caretakers were all female and their ages varied from 36 to 67 (M=49,2)
years old. To achieve the goals of this research, semi-structured interviews were
administered separately with the adolescents and caretakers. The stress levels were
evaluated with the use of the Escala de Stress para Adolescentes (ESA). The contents of
the interview were analyzed by categorization and the ESA was graded according to the
instrument protocol. Results about adherence indicated that the major difficulties referred
to delayed intakes of the medication and that caretakers were mostly responsible for
adequate adherence behaviors. Three adolescents informed that they had missed doses on
the last three or seven days. It was observed a predominantly negative view of the
medication intake, and discrepancies between adolescents and caretakers regarding
information on the antiretroviral therapy used. Caretakers did not demonstrate knowledge
about what adolescents considered to be the main obstacles to achieve adequate adherence.
Opinions of caretakers and adolescents regarding the ideal scenario for disclosure
diverged. Eleven participants emphasized the advantages of disclosure, allowing the
youngsters an opportunity to engage in self care conducts. Level of knowledge about
HIV/AIDS was heterogeneous and a third of the participants showed deficits of
information on important topics related to HIV/AIDS. Levels of stress were not
significant, however four adolescents presented scores that indicated tendencies to
interpersonal area symptoms. In sum, communication about HIV/AIDS was poor and
scarce in the dyad’s context. Guidances to disclosure should take into account that it is an
ongoing process facilitating an open family communication. Interventions should aim at
improving the comprehension about HIV/AIDS aspects and the communication patterns
about HIVAIDS in the family environment.
Key words: adolescents living with HIV/AIDS; mother to child transmission; diagnostic
disclosure; adherence to treatment, stress.
viii
ÍNDICE
Agradecimentos _________________________________________________________ iv
RESUMO ______________________________________________________________ vi
ABSTRACT ____________________________________________________________vii
ÍNDICE_______________________________________________________________ viii
LISTA DE TABELAS _____________________________________________________ x
LISTA DE SIGLAS ______________________________________________________xii
INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 1
Capítulo 1 – REVISÃO DE LITERATURA ____________________________________ 3
1.1 HIV/aids: histórico da epidemia_________________________________________ 3
1.1.1 Contextualização social da epidemia__________________________________ 4
1.2 O advento do tratamento ______________________________________________ 5
1.3 Situação atual da epidemia: no mundo, no Brasil e no Distrito Federal __________ 7
1.4 Transmissão vertical__________________________________________________ 8
1.5 Adolescentes infectados pelo HIV/aids __________________________________ 10
1.6 Revelação do diagnóstico _____________________________________________ 11
1.7 Adesão à terapia anti-retroviral ________________________________________ 14
1.8 Estresse em HIV/aids e seus efeitos sobre a saúde__________________________ 17
1.9 Estigma___________________________________________________________ 18
Capítulo 2 – OBJETIVOS _________________________________________________ 21
2.1 Questões norteadoras ________________________________________________ 21
2.2 Objetivos__________________________________________________________ 22
Capítulo 3 – MÉTODO ___________________________________________________ 23
3.1 Delineamento ______________________________________________________ 23
3.2 Participantes _______________________________________________________ 23
3.3 Locais de coleta de dados _____________________________________________ 25
3.4 Instrumentos _______________________________________________________ 25
3.4.1 Roteiros de Entrevistas ___________________________________________ 25
3.4.2 Escala de Stress para Adolescentes – ESA ____________________________ 26
3.4.3 Materiais para coleta de dados _____________________________________ 27
3.5 Procedimento de Coleta de Dados ______________________________________ 27
3.6 Análise de dados____________________________________________________ 29
Capítulo 4 – RESULTADOS _______________________________________________ 31
4.1 Adesão ao tratamento anti-retroviral ____________________________________ 31
ix
4.2 Revelação do diagnóstico _____________________________________________ 40
4.2.1 Comunicação do diagnóstico para terceiros ___________________________ 45
4.3 Estresse___________________________________________________________ 47
4.4 Nível de conhecimento sobre HIV/aids __________________________________ 49
4.5 Estigma___________________________________________________________ 52
Capítulo 5 – DISCUSSÃO _________________________________________________ 55
5.1 Diretrizes para o processo de revelação do diagnóstico______________________ 60
Capítulo 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ____________________________________ 63
Referências _____________________________________________________________ 66
ANEXOS ______________________________________________________________ 72
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Aspectos sócio-demográficos das díades entrevistadas (N=18).
24
Tabela 2. Idade de início e tempo de uso da TARV (N=18).
31
T
abela 3. Aspectos do tratamento anti-retroviral, segundo relatos de adolescentes e
seus cuidadores (N=18).
33
Tabela 4. Conduta de adesão ao tratamento anti-retroviral e sua avaliação pelos
adolescentes e cuidadores (N=18).
35
Tabela 5. Categorias de situações nas quais a perda de doses é mais comum, segundo
relatos de adolescentes e cuidadores (N=18).
36
Tabela 6. Resultados dos exames de carga viral e CD4 relatados pelos adolescentes,
cuidadores e de acordo com os dados obtidos nos prontuários (N=18).
37
Tabela 7. Opinião dos adolescentes sobre os medicamentos anti-retrovirais (n=9).
40
Tabela 8. Aspectos do processo de revelação do diagnóstico, segundo relatos dos
jovens e dos cuidadores (N=18).
41
Tabela 9. Relatos sobre a reação dos adolescentes à revelação (n=9). 42
Tabela 10. Categorias identificadas sobre vantagens de o jovem saber sobre o
diagnóstico de HIV e freqüências de ocorrência (N=18).
43
Tabela 11. Opinião dos jovens sobre quando e quem deveria revelar o diagnóstico
(n=9).
44
Tabela 12. Opinião dos cuidadores sobre quando e quem deveria revelar o
diagnóstico (n=9).
45
Tabela 13. Pessoas com conhecimento sobre o diagnóstico, segundo relatos dos
participantes (N=18).
46
Tabela 14. Pessoas com quem os jovens conversam sobre HIV/aids, segundo relatos
dos participantes (N=18).
47
Tabela 15. Resultados da ESA com base nos escores obtidos pelos adolescentes
(n=9).
48
Tabela 16. Avaliação do nível de conhecimento dos participantes (N=18). 50
xi
Tabela 17. Ocorrências de estigma sentido e decretado, segundo relatos das díades.
53
xii
LISTA DE SIGLAS
3TC – Lamivudina
Aids – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
ARV – Anti-retrovirais
AZT – Zidovudina
CDC – Centers for Disease Control and Prevention
CV – Carga viral
d4T – Estavudina
ddI – Didanosina
DNA – Ácido desoxirribonucléico
EF – Ensino fundamental
EFZ – Efavirenz
ELISA - Enzyme Linked Immuno-Sorbent Assay
EM – Ensino médio
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
HUB – Hospital Universitário de Brasília
RNA – Ácido ribonucléico
T20 – Enfuvirtida
TARV – Terapia anti-retroviral
TDF – Tenofovir
TCLE – Termo de consentimento livre e esclarecido
1
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como temas a revelação do diagnóstico, a adesão ao
tratamento e o estresse entre adolescentes infectados pelo Vírus da Imunodeficiência
Humana (HIV). Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de caráter exploratório, que
pesquisou nove adolescentes infectados pelo HIV mediante transmissão vertical e seus
cuidadores primários. A pesquisa foi realizada em dois serviços de saúde da rede pública,
unidades de referência para a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids) no Distrito
Federal.
Os objetivos da pesquisa estão relacionados a três eixos: revelação do diagnóstico,
adesão e estresse. Em linhas gerais, os objetivos do estudo foram: investigar o processo de
revelação da soropositividade e os padrões de comunicação sobre a enfermidade e o
tratamento; identificar as características da adesão ao tratamento e investigar a ocorrência
de estresse. O estudo visou ainda oferecer uma proposta de diretrizes para a revelação do
diagnóstico direcionada a profissionais de saúde que trabalham com jovens soropositivos.
Considera-se que o estudo é relevante tendo em vista o número de crianças que se
infectaram pelo HIV, via transmissão vertical, que estão chegando à adolescência e à idade
adulta. Como este é um fenômeno recente, as pesquisas sobre o tema podem fornecer
subsídios para intervenções mais eficazes a este segmento de pessoas vivendo com
HIV/aids. Além disso, têm surgido muitas demandas relativas à revelação do diagnóstico e
dificuldades de adesão nos serviços de saúde nos quais essa população é atendida.
Esta pesquisa é fruto de experiências anteriores da pesquisadora na atuação em
Psicologia da Saúde com crianças e adolescentes, desde o ensino de graduação.
Inicialmente ocorreu a experiência em onco-hematologia pediátrica, na qual a atuação
esteve mais direcionada a crianças, adolescentes e seus cuidadores.
Posteriormente, houve um direcionamento para a área do HIV/aids, quando o foco
passou a ser em adolescentes e seus cuidadores. Nesse contexto, ocorreram atividades
como atendimentos individuais e condução de grupos. A realização de atendimentos
individuais visava abordar a revelação do diagnóstico, dificuldades de adesão,
enfrentamento da condição de soropositividade e provimento de informações. Os grupos
ocorreram em dois momentos. Primeiramente, foi realizado um grupo com cuidadores de
crianças e adolescentes com HIV/aids. Em seguida, ocorreu o grupo com adolescentes
soropositivos. A abordagem dos dois grupos foi de natureza psicoeducativa, favorecendo o
compartilhamento e a troca de experiências entre os integrantes.
2
A partir dessas experiências e do conhecimento das demandas médicas e
psicossociais mais freqüentes referentes a esse segmento de pessoas vivendo com
HIV/aids, surgiu o interesse em realizar uma pesquisa sobre o tema. Este estudo visa
contribuir com o arcabouço de conhecimentos produzidos na área com vistas a
proporcionar melhor atendimento aos adolescentes soropositivos e suas famílias.
3
Capítulo 1 – REVISÃO DE LITERATURA
1.1 HIV/aids: histórico da epidemia
Os primeiros casos da aids foram registrados menos de 30 anos.
Retrospectivamente, é sabido que esta pandemia teve suas primeiras ocorrências nos
Estados Unidos da América, Haiti e África Central, por volta de 1977, que foram
descobertas e definidas como aids em 1982, quando se classificou a nova síndrome. Desde
então é estimado que, no mundo, mais de 65 milhões de pessoas já tenham sido infectadas
pelo HIV (Centers for Disease Control and Prevention, 2006).
O HIV é um retrovírus que se caracteriza pela presença da enzima transcriptase
reversa, que permite a transcrição do RNA viral em DNA. O DNA é copiado em RNA e é
transcrito em proteínas virais, e então ocorre a montagem do rus. O HIV infecta
principalmente as células de defesa do organismo chamadas de linfócitos T CD4+. Estas
células do sistema imunológico começam a funcionar com menos eficiência e, com o
tempo, a habilidade do organismo em combater doenças comuns diminui, deixando o
indivíduo infectado pelo HIV vulnerável ao aparecimento de infecções denominadas de
oportunistas (Brasil, 2008a).
A ocorrência de infecções oportunistas e algumas neoplasias são condições
definidoras da aids. Exemplos dessas doenças são a toxoplasmose do Sistema Nervoso
Central, a tuberculose pulmonar atípica ou disseminada, a meningite criptocócica e retinite
por citomegalovírus. As neoplasias mais comuns são: sarcoma de Kaposi, linfomas não-
Hodgkin e o câncer de colo uterino em mulheres jovens (Brasil, 2008a).
A infecção pode ocorrer através do contato sexual sem preservativo, transfusão de
sangue infectado ou injeção de hemoderivados infectados, além do uso de agulhas e
seringas contaminadas. O HIV também pode ser transmitido verticalmente durante a
gestação, o parto ou a amamentação, de mulheres HIV+ para seus bebês. Entretanto,
atualmente existem medidas eficazes para evitar o risco da transmissão vertical como o
diagnóstico precoce da gestante, a utilização da terapia anti-retroviral (TARV) durante a
gestação, o parto cesariano programado, a suspensão do aleitamento materno e substituição
por leite artificial e outros alimentos, de acordo com a idade da criança. O risco maior ou
menor de infecção está associado à modalidade de exposição ao vírus, à carga viral
presente no organismo da pessoa infectada e à fase da doença (Barletta, 2003).
4
O modo mais eficaz para verificar se uma pessoa contraiu o HIV é mediante a
realização do diagnóstico sorológico. Este diagnóstico se baseia na observação de que a
maioria das pessoas infectadas desenvolverá anticorpos anti-HIV entre 6 a 12 semanas
após a exposição ao rus. Os testes mais utilizados são o ELISA, a Imunofluorescência
Indireta e o Western-Blot. O ELISA é um exame de baixo custo e recomenda-se que seja
realizado após o período de janela imunológica, que se refere ao período entre 60 e 90 dias
após a exposição de risco. Deve-se realizar o exame após esse período porque é o tempo
que o organismo leva para produzir os anticorpos anti-HIV detectados neste teste. Caso
uma amostra de sangue apresente resultado negativo no teste Elisa, esse resultado é
fornecido para o paciente. Diante de um resultado positivo, ou reagente, é necessária a
realização de outros testes adicionais, denominados testes confirmatórios (Brasil, 2008b).
1.1.1 Contextualização social da epidemia
Como na época do surgimento da aids muitos aspectos acerca da doença e de suas
formas de transmissão eram desconhecidos, houve a disseminação da idéia de que apenas
determinados grupos de pessoas estariam em risco de contrair o vírus. Falava-se, então, dos
chamados grupos de risco, que seriam compostos de prostitutas, usuários de drogas e
homossexuais. Paiva, Peres e Blessa (2002) afirmam que a “construção simbólica da aids”
naquele momento estigmatizava os portadores da doença ao invés de ajudar no controle da
epidemia. Dessa forma, afastava da prevenção milhares de brasileiros, em especial as
brasileiras, que não se percebiam como “promíscuos”, “mal comportados”. Paiva (2000)
aponta que a modificação desse conceito ocorreu quando foi adotada a noção de que o
risco não advém das práticas de grupos aos quais os indivíduos pertencem, mas de um
conjunto de fatores integrados pessoais, socioculturais, econômicos e do sistema de
saúde que influenciam a vulnerabilidade de pessoas ao HIV.
Sabe-se que a informação por si não é suficiente para produzir mudanças de
comportamento direcionadas à prevenção e que as decisões dos indivíduos para se
comportar de determinada maneira não são desprovidas de variáveis do contexto
sociocultural e econômico (Paiva, 2000; Parker, 2000; Seidl, Mussi & Faustino, 2003). A
expansão da aids se deve principalmente ao contexto social dos indivíduos, que ajuda a
forjar a vulnerabilidade coletiva (Paiva & cols., 2002; Parker, 2000). Nesse contexto,
vulnerabilidade é entendida como a interação entre fatores pessoais, socioeconômicos e/ou
culturais que aumenta ou diminui a probabilidade de uma pessoa se expor às doenças
sexualmente transmissíveis (Parker, 2000). No caso de adolescentes soropositivos para o
5
HIV, a vulnerabilidade se manifesta devido ao fato de muitos desconhecerem seu
diagnóstico, dificultando, assim, comportamentos de prevenção e de adesão ao tratamento.
Além disso, por ser serem pessoas em processo de desenvolvimento, os adolescentes
provavelmente apresentam menos recursos pessoais para o enfrentamento dessa situação e
têm menor grau de independência para tomar decisões.
A diminuição da transmissão vertical, a maior freqüência de uso do preservativo e o
aumento da oferta da testagem sorológica são importantes para a diminuição da
vulnerabilidade individual ao HIV/aids (Paiva, Pupo & Barboza, 2006). No caso dos
adolescentes infectados, medidas como atendimento psicossocial e fornecimento de
informações podem proporcionar uma redução da vulnerabilidade deste grupo.
1.2 O advento do tratamento
A história da epidemia no Brasil sofreu uma grande transformação a partir de 1996,
quando o acesso gratuito aos medicamentos anti-retrovirais foi assegurado pela lei 9.313
aos portadores do HIV que se enquadravam nas recomendações terapêuticas. Até o final do
ano de 2008, cerca de 180 mil brasileiros receberão este tratamento no país (Brasil, 2008c).
De acordo com Bartlett (2002), a introdução da terapia anti-retroviral melhorou
significativamente o prognóstico para as pessoas vivendo com HIV/aids. Para este autor, a
combinação de regimes terapêuticos transformou a infecção pelo HIV, de doença
devastadora que invariavelmente levava à morte, em uma condição crônica.
O objetivo da terapia anti-retroviral é produzir uma intensa e consistente cessação
da replicação do HIV, muitas vezes resultando em níveis indetectáveis de carga viral
(Gutierrez, 2004; Olalla & cols., 2002; Starace, Massa, Amico & Fisher, 2006). A
diminuição da carga viral, por sua vez, está associada com uma diminuição relevante das
doenças oportunistas, taxas de hospitalização e óbitos decorrentes da aids (Bartlett, 2002;
Halkitis, Shrem, Zade & Wilton, 2005; Olalla & cols., 2002; Touloumi & cols., 2006).
Essa melhora se pela diminuição dos veis de carga viral no sangue, e
conseqüentemente, um aumento do número de células CD4 no organismo (Weaver, Llabre,
Durán, Antoni & Ironson, 2005). E são justamente estes os marcadores biológicos mais
utilizados, isto porque juntos fornecem informações que subsidiam o prognóstico acerca da
evolução do quadro clínico de pacientes soropositivos (Gill & cols., 2002).
Há quatro classes de anti-retrovirais: (1) os inibidores da transcriptase reversa
análogos de nucleosídeos ou nucleotídeos; (2) inibidores de transcriptase reversa não-
análogos de nucleosídeos; (3) os inibidores da protease e (4) inibidores de fusão. Cada um
6
destes tipos age em um momento específico, impedindo replicação e a ação do vírus. Os
inibidores da transcriptase reversa não-análogos de nucleotídeos atuam na transcrição do
RNA viral para DNA tornando a cadeia de DNA defeituosa e impedindo, assim, que o
vírus se reproduza. Os inibidores de transcriptase reversa análogos de nucleotídeos
bloqueiam diretamente a ação da enzima transcriptase reversa. A classe dos inibidores de
protease impede a produção de novas cópias de células infectadas com HIV. A mais nova
classe, a dos inibidores de fusão, impede a entrada do vírus na célula (Brasil, 2008d).
De acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2008c), o tratamento de adultos e
adolescentes deve ser recomendado em indivíduos assintomáticos, com contagem de
linfócitos CD4 entre 200 e 350/mm³. Quanto mais próxima de 200 células/ mm³ estiver a
contagem de linfócitos T CD4, maior é o risco de progressão para aids, especialmente se
associada a níveis de carga viral elevados (maior que 100.000 cópias/mm³.). Nesses
indivíduos, a decisão de iniciar tratamento dependerá da tendência de queda da contagem
de linfócitos CD4 e/ou de elevação da carga viral, da motivação do paciente para iniciar o
tratamento, sua capacidade de adesão e a presença de co-morbidades. Gutierrez (2004)
afirma que o início do tratamento é uma decisão relacionada também a critérios clínicos, e
não apenas à contagem dos marcadores supracitados. Em relação a crianças, deve-se levar
em consideração a sintomatologia clínica e os parâmetros imunológicos e virológicos
(Brasil, 2007b).
À primeira vista o advento de um tratamento anti-retroviral que fosse eficiente,
capaz de reduzir a CV e restabelecer a saúde do indivíduo portador do HIV, não traria
qualquer tipo de preocupação. Entretanto, o tratamento anti-HIV inclui esquemas
medicamentosos complexos e rígidos quanto aos horários de uso e número de doses
ingeridas, o que exige muito dos indivíduos, pois estes se vêem obrigados a organizar suas
vidas em torno do tratamento (Bogart & cols., 2000). A complexidade do regime
terapêutico envolve a quantidade de remédios que devem ser tomados, podendo chegar a
mais de 10 comprimidos ao dia (Starace & cols., 2006), além das restrições alimentares
impostas e os efeitos colaterais, as dificuldades como o tipo de armazenagem específico
para cada remédio que, em alguns casos, precisa ser mantido em uma temperatura
específica (Bartlett, 2002; Weaver & cols., 2005).
A dificuldade de aderir ao tratamento faz com que as interrupções na ingestão dos
anti-retrovirais sejam comuns entre os indivíduos que tomam este tipo de medicação.
Touloumi e cols. (2006) investigaram os preditores da interrupção do tratamento anti-
retroviral. Estes autores examinaram dados referentes a 1551 indivíduos soropositivos para
7
o HIV e, em seus resultados, estimaram que uma entre seis pessoas que faça tratamento
com anti-retrovirais iria interromper o tratamento em até dois anos.
Ao contrário do que ocorria no início da epidemia, hoje um grande número de
crianças infectadas pela transmissão vertical chega à adolescência e à idade adulta (Grecca,
2004; Marques & cols., 2006; Thorne & cols., 2002). Isso porque o uso dos anti-retrovirais
por crianças soropositivas tem trazido benefícios em suas condições de saúde e
desacelerado o curso da doença (Ferreira & Gadelha, 2004). Dessa forma, é fundamental
uma abordagem de longo prazo para a escolha dos regimes anti-retrovirais.
Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2007a), os objetivos do tratamento anti-
retroviral em crianças são: (1) prolongar a sobrevida, reduzindo a morbidade e melhorando
a qualidade de vida; (2) assegurar crescimento e desenvolvimento adequados; (3)
preservar, melhorar ou reconstituir o funcionamento do sistema imunológico; (4) suprimir
a replicação do HIV, preferencialmente a níveis indetectáveis, prevenindo ou
interrompendo a progressão da doença e minimizando o risco de resistência aos ARV; (5)
utilizar regimes terapêuticos que facilitem a adesão e que apresentem baixa toxicidade.
A decisão sobre quando iniciar a TARV deve levar em consideração a
sintomatologia clínica e os parâmetros imunológicos e virológicos, adequados à idade da
criança (Brasil, 2007a).
1.3 Situação atual da epidemia: no mundo, no Brasil e no Distrito Federal
Estima-se que haja 33,2 milhões de pessoas vivendo com HIV em todo o mundo.
No ano de 2007 surgiram 2,5 milhões de novos casos, entre adultos e crianças. O número
de crianças vivendo com HIV/aids no mundo, hoje, é de aproximadamente 2,5 milhões,
sendo que apenas em 2007 foram notificados 420 mil novos casos (Unaids, 2007). Estima-
se que no ano de 2007 havia 1,6 milhões de adultos e crianças vivendo com HIV apenas na
América Latina. No ano de 2006, 2,9 milhões de pessoas morreram em função da
epidemia, 380 mil eram menores de 15 anos (Unaids, 2006).
De acordo com o Boletim Epidemiológico de DST e aids (Brasil, 2007b), a razão
entre homens infectados e mulheres infectadas em 1986 era de 15 homens para cada
mulher. Entretanto, o número de casos em mulheres teve um aumento significativo e, em
2005, foram registrados 15 casos masculinos para 10 femininos. Na categoria de exposição
transmissão sexual, em 2007, observou-se maior proporção na subcategoria heterossexual.
O aumento na transmissão heterossexual é observado entre homens e mulheres, sendo que
entre as mulheres essa modalidade de transmissão vem representando a quase totalidade
8
dos casos nos últimos 13 anos, chegando a mais de 90%. Em 2007, a categoria de
exposição relações sexuais heterossexuais foi responsável por 94% dos casos entre
mulheres e 46,1% em homens.
Podem ser observadas algumas tendências em relação à infecção por HIV/aids
como a feminização, heterossexualização, interiorização, pauperização e juvenilização
(Pinto, Pinheiro, Vieira & Alves, 2007). Algumas dessas tendências estão relacionadas a
segmentos da população que são mais vulneráveis, como indivíduos de camadas mais
pobres que não têm proteção social, mulheres, que apresentam maior vulnerabilidade -
biológica e social - e jovens. Uma das possíveis conseqüências da feminização da epidemia
é o aumento dos riscos da transmissão vertical que muitas das mulheres infectadas pelo
HIV engravidam sem o conhecimento de sua sorologia.
Observa-se um crescimento no número de casos de jovens brasileiros nas faixas de
13 a 19 anos e de 20 a 24 anos no período compreendido entre 1980 e o ano de 2006. O
grupo etário de 13 a 24 anos representou 80% dos novos casos detectados no período de
2000 a 2006 (Brasil, 2007b), configurando a juvenilização da epidemia.
A prevalência do HIV entre a população adulta brasileira é de 0,5% e representa
30% dos indivíduos vivendo com HIV/aids nas Américas do Sul e Central. A taxa de
incidência registrada no ano de 2006 foi de 17,5 por 100 mil habitantes (Brasil, 2007b). Os
dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que a quase totalidade dos novos
casos de infecção por HIV em indivíduos acima dos 13 anos se por via sexual e pela
utilização de drogas injetáveis.
Informações da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES/DF, 2007)
indicam que, consoante à realidade brasileira, a categoria de exposição que está em franco
crescimento é a transmissão heterossexual. Em 2004 esta categoria correspondia a 44,9%
do total de infectados no Distrito Federal. Em 2007 esse percentual chega a mais da metade
das novas infecções (55,4%). No que se refere à faixa etária, em 2006, a maior incidência
específica de aids foi entre 40 e 44 anos em mulheres e de 35 a 39 anos para os homens. A
razão entre casos masculinos e femininos de HIV/aids foi de 2,1:1 em 2007. Esta razão
vem diminuindo ao longo dos anos, tendo atingido seu menor valor em 2006 quando foi de
1,8:1.
1.4 Transmissão vertical
A dinâmica viral da infecção vertical pelo HIV é diferente da observada no adulto.
Crianças infectadas via transmissão vertical adquirem a infecção pelo HIV numa época em
9
que o seu sistema imunológico não está amadurecido. O pico da viremia plasmática ocorre
por volta dos dois meses de idade e freqüentemente atinge valores superiores a 1.000.000
cópias/mm3, com taxas de declínio mais lentas do que as apresentadas em adultos, sendo
difícil definir limites precisos para a progressão da doença, principalmente no primeiro ano
de vida (Brasil, 2007a).
No período de 1980 a 2007 foram notificados 11.026 casos de transmissão vertical
no Brasil (Brasil, 2007b). Em 2006 foram identificados 526 casos de aids em menores de
cinco anos. Dados sobre categoria de exposição dos casos de aids em menores de 13 anos,
notificados no Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) de 1980 a 2007, a
categoria de exposição transmissão vertical concentra 81,6% dos casos. Houve um
aumento no número de notificações, todavia este incremento pode ser devido a uma maior
capacidade de identificação de casos. Desde a implantação do SINAN, em 2000, foram
notificados mais de 35 mil casos.
Visando monitorar a infecção do HIV entre gestantes e prevenir a ocorrência da
transmissão vertical no país, foi implementada a vigilância epidemiológica da gestante
soropositiva para o HIV. Além disso, o Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional de
Redução da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis. Este programa tem o objetivo de
diminuir progressivamente as taxas de transmissão vertical do HIV e da sífilis até o ano de
2011. A meta é aumentar a cobertura de testagem para o HIV e sífilis no pré-natal e
aumentar a cobertura do tratamento de gestantes e seus parceiros e ampliação das ações de
prevenção (Brasil, 2007b).
Informações sobre o número de crianças que adquiriram o HIV por transmissão
vertical no DF (SES/DF, 2007) apontam que a ocorrência de casos devido a essa forma de
exposição caiu a partir de 1998, quando se iniciou o uso da profilaxia para a prevenção da
transmissão vertical. A média de bebês que nasceram com exposição ao HIV no DF entre
1993 e 1997 foi de 13,6 por ano. Esse número teve redução significativa nos anos
posteriores, sendo que a média entre 2002 e 2006 foi de 3,6 casos/ano.
O número de notificações de novos casos de transmissão vertical no DF também
vem caindo sistematicamente. Em 2004 foram notificados 13 casos de transmissão vertical,
em 2005 foram sete novos casos, em 2006 foram notificados cinco casos e até o final de
novembro de 2007 não havia sido notificado nenhum caso de transmissão vertical. Em
2003, foi registrado o maior número de gestantes soropositivas residentes no Distrito
Federal (73 gestantes). Em 2007 o número foi de 41 gestantes soropositivas. Diferente dos
anos anteriores, quando a maior parte das gestantes teve o diagnóstico de infecção por HIV
10
durante o pré-natal (em 2003 o percentual chegou a 60,3%), nos anos de 2005, 2006 e
2007 o maior percentual foi daquelas que conheciam o resultado da sua sorologia antes
de engravidar (53,7% em 2007). Entretanto, o percentual de gestantes que descobriu sua
sorologia no momento do pré-natal em 2007 ainda é bastante alto, correspondendo a 41,5%
(SES/DF, 2007).
1.5 Adolescentes infectados pelo HIV/aids
O advento de medicamentos anti-retrovirais tem acarretado melhora relevante nas
condições de saúde de crianças e adolescentes infectados pelo HIV, permitindo ganhos no
processo de desenvolvimento e na qualidade de vida. Ao contrário do que ocorria no início
da epidemia da aids, atualmente um grande número de crianças infectadas por transmissão
vertical transmissão do HIV da mãe para o bebê durante a gestação, parto ou aleitamento
atinge a adolescência e a idade adulta (Brown & Lourie, 2000, Costa & cols., 2008,
Thorne & cols., 2002).
Ainda que crianças e adolescentes vivendo com HIV/aids possam ter retardo
puberal, alterações no desenvolvimento neuro-cognitivo e seqüelas de doenças oportunistas
anteriores, é crescente o número dos que apresentam crescimento físico e desenvolvimento
emocional e cognitivo esperados para a idade (Brasil, 2007a). Para tanto, é fundamental
que crianças soropositivas para o HIV tenham acesso a acompanhamento médico regular,
que este é essencial para a prescrição do tratamento anti-retroviral de modo adequado e
oportuno. Para os adolescentes, a prescrição dos anti-retrovirais deve ser adaptada ao
estadiamento da puberdade: aqueles que estão nas fases iniciais devem ser tratados de
acordo com as recomendações pediátricas, enquanto que para os jovens com maturação
sexual mais adiantada devem ser seguidas recomendações estabelecidas para adultos. Nas
fases intermediárias, o tratamento deve ser individualizado a critério médico (Pinto, 2004).
As características peculiares deste grupo etário colocam desafios para as equipes de saúde
que prestam assistência a adolescentes soropositivos.
Ao lado da relevância das questões biomédicas, ainda se constata a presença de
desafios na esfera psicossocial, tais como a revelação do diagnóstico, a adesão ao
tratamento e o medo do estigma, que pode acarretar estresse e dificuldades psicológicas.
Esses temas têm sido recorrentes na prática clínica de profissionais de saúde que assistem
crianças/adolescentes com HIV/Aids e seus cuidadores, motivando estudos na área (Ayres,
& cols., 2006; Brackis-Cott, Mellins, Abrams, Reval & Dolezal, 2003; Pequegnat, 2002;
Seidl, Rossi, Viana, Meneses & Meireles, 2005).
11
1.6 Revelação do diagnóstico
Estudos indicam que familiares e cuidadores de crianças e adolescentes
soropositivos para o HIV tendem a postergar o momento da revelação do diagnóstico
(Abadia-Barrero & LaRusso, 2006; Gerson & cols., 2001; Grecca, 2004; Instone, 2000;
Mellins & cols., 2002; Seidl, & cols., 2005). Esta tendência está em consonância com a
própria definição de revelação de diagnóstico (disclosure) que pode ser entendida como
um processo para comunicar uma informação, potencialmente estigmatizante, que antes foi
omitida com a intenção de preservar o bem-estar psicológico (Klitzman & Bayer, 2003).
Os motivos que cuidadores apresentam para adiar a revelação dizem respeito às
crianças ou aos próprios cuidadores. Dentre as razões atribuídas às crianças estão a
imaturidade cognitiva para compreender a doença, falta de questionamento ou curiosidade,
possível reação psicológica negativa da criança e o risco desta falar sobre a condição para
terceiros e ser vítima de preconceito. Quanto aos motivos referentes aos cuidadores,
destaca-se o desconforto diante de eventual exposição da história familiar (a
soropositividade dos pais, por exemplo), o medo do estigma, sentimentos de culpa pela
transmissão do HIV e sentimento de despreparo para abordar o assunto com a criança ou
adolescente (Bachanas & cols., 2001, Gerson & cols., 2001; Instone, 2000; Marques &
cols., 2006; Seidl & cols., 2005).
A demora excessiva na revelação do diagnóstico pode levar à descoberta por outras
vias, aumentando as chances de as informações sobre a enfermidade serem incorretas e
imprecisas, podendo ocasionar confusão e desconfiança (Mellins & cols., 2002). O silêncio
prolongado e a pobreza na comunicação também podem resultar em dificuldades de
adesão, distúrbios de comportamento, estigma auto-dirigido e maiores veis de distress
psicológico das crianças/adolescentes e dos cuidadores, sobrecarregando a família como
um todo (Abadía-Barrero & LaRusso, 2006, Bachanas & cols., 2001, Grecca, 2004). O
segredo sobre o diagnóstico pode ter ainda outras repercussões adversas como a adoção de
comportamentos sexuais de risco pelos adolescentes (Pequegnat, 2002).
Mesmo quando conhecimento acerca da sorologia, a comunicação sobre a
condição de soropositividade entre cuidadores e crianças/adolescentes muitas vezes não é
aberta e franca. Abadia-Barrero e LaRusso (2006) pesquisaram a revelação do diagnóstico
para crianças e adolescentes soropositivos que viviam em uma casa de apoio em São
Paulo. A pesquisa foi realizada com 36 crianças e adolescentes mediante a utilização de
entrevistas e de observação participante. Os autores verificaram que não havia
comunicação clara sobre HIV/aids na casa. Apesar de as crianças e os adolescentes
12
tomarem os medicamentos, não se conversava sobre a condição de saúde que motivava o
uso dos anti-retrovirais. Destaca-se que falar mais abertamente sobre a enfermidade
possibilita, entre outros benefícios, mais acesso a fontes de apoio social, reduzindo os
efeitos negativos da experiência de ter uma doença crônica (Wiener & Battles, 2006).
Em outro estudo, dois terços dos 77 cuidadores entrevistados relataram que as
crianças sob sua responsabilidade não tinham conhecimento sobre o diagnóstico (Mellins
& cols., 2002). Segundo os participantes, 59% das crianças acreditavam que tinham outro
tipo de doença. Além da dificuldade em revelar o diagnóstico às crianças e adolescentes,
existe também o medo de compartilhar essa informação com outras pessoas. Nessa
perspectiva, Wiener e Battles (2006) categorizaram três níveis de revelação sobre o
diagnóstico: baixo, médio e alto. O nível baixo de revelação incluía situações nas quais
apenas a família nuclear e/ou amigos próximos sabiam do diagnóstico. O nível mediano
dizia respeito à revelação a todos os familiares e amigos em geral. O nível mais alto de
revelação ocorria quando a maior parte das pessoas tinha conhecimento do diagnóstico. As
autoras concluíram que os adolescentes que vivenciavam níveis altos de revelação eram
mais competentes nas relações interpessoais com seus pares. Esses resultados falam a favor
de vantagens potenciais do processo de revelação.
Apesar da forte resistência dos cuidadores em revelar o diagnóstico, algumas
situações que parecem motivá-los a romper o silêncio. Marques e cols. (2006)
identificaram três categorias principais de razões para que a comunicação do diagnóstico
ocorresse, segundo relatos dos cuidadores. A primeira dizia respeito a fatos que indicam a
necessidade urgente de realizar a revelação, por exemplo, dificuldades de adesão,
proximidade do início da vida sexual ou quando a criança fazia muitas perguntas sobre seu
estado de saúde. Outro motivo identificado foi a crença de que a revelação traria benefícios
à criança/adolescente. Nesse caso, os cuidadores acreditavam que manter o diagnóstico em
segredo limitava as oportunidades da criança e do adolescente para lidar melhor com a
soropositividade. Alguns cuidadores relataram também que a revelação tinha ocorrido na
tentativa de corrigir uma intervenção profissional considerada inadequada, objetivando
reduzir os possíveis danos ocasionados por uma informação diagnóstica pouco cuidadosa.
Manter uma comunicação aberta e franca sobre a doença pode resultar em melhor
relação familiar, melhor ajustamento psicossocial e enfrentamento por parte das crianças e
menos ansiedade para os cuidadores (Abadia-Barrero & LaRusso, 2006). O sentimento de
alívio dos cuidadores após a revelação do diagnóstico é freqüentemente observado na
prática clínica, o que vai ao encontro dos resultados de Grecca (2004). A autora entrevistou
13
cuidadores que haviam revelado o diagnóstico (n=5) e cuidadores que não haviam feito a
revelação (n=24): dentre os que haviam comunicado o diagnóstico aos filhos, quatro
relataram sentimentos positivos e que se sentiram aliviados, um deles relatou sentimentos
de culpa por ter revelado.
A necessidade de dar voz aos próprios pacientes infanto-juvenis sobre essas
questões tem sido pouco reconhecida, na medida em que há predomínio de estudos com os
cuidadores. Com esse propósito, Abadia-Barrero e LaRusso (2006) realizaram entrevistas
com as crianças que conheciam seu diagnóstico. De acordo com os resultados, as crianças
não relataram sentimentos de raiva, preocupação, estresse, tristeza ou confusão no
momento da pesquisa. Os cuidadores, por outro lado, avaliaram que ainda persistiam nas
crianças reações de raiva e estresse, porém identificavam mais esperança e menos tristeza.
Esses dados são ilustrativos das vantagens potenciais da revelação.
Marques e cols. (2006) argumentam que a revelação é necessária e irremediável,
que a manutenção do segredo é desconfortável e angustiante, recomendando que a equipe
de saúde identifique os profissionais que possuam maior vinculação com os pacientes para
utilizá-los como referência. Dessa forma, o profissional que mantiver maior vinculação
com o paciente poderá ter um papel de destaque no processo da revelação à criança ou
adolescente com HIV/aids. O estudo mostrou que as demandas para a revelação vêm da
família e/ou da equipe de saúde. Foi freqüente, entre os adolescentes entrevistados, a
opinião de que a revelação deveria ocorrer o mais cedo possível, com o devido cuidado e
de forma clara. Outro aspecto constatado pelos pesquisadores é que a comunicação do
diagnóstico para os adolescentes que cresceram com HIV mostrou-se cercada de cuidados,
entretanto, não se observou essa preocupação com jovens que se infectaram pela via
sexual.
Constata-se que a revelação do diagnóstico permite que crianças e jovens
compreendam melhor a doença, exercendo papel ativo no tratamento. Além disso, se estes
não sabem acerca de seu diagnóstico, a possibilidade de que usufruam apoio social
construtivo fica diminuída, na medida em que a não-revelação dificultaria o acesso a
recursos psicossociais fundamentais para o ajustamento à condição de enfermidade
crônica. Estudos mostram que a disponibilidade de apoio social tem impacto positivo na
saúde mental e que intervenções da equipe de saúde junto a crianças e adolescentes
infectados pelo HIV deveriam ter por objetivo auxiliar no fortalecimento do suporte social
(Grecca, 2004).
14
Diretrizes para a revelação de diagnóstico sugerem que esta ocorra de forma
processual (Gerson & cols., 2001). Inicialmente propõe-se que o profissional de saúde
compartilhe informações com o(s) cuidador(es) a respeito da família e da
criança/adolescente, visando ainda a construção da confiança entre ambos. Em um segundo
momento, é importante avaliar o nível de conhecimento dos cuidadores sobre HIV/aids e o
tratamento, seguido de atividades educativas e de fornecimento de informações sobre esses
aspectos para os cuidadores. Em seguida, o profissional de saúde deve avaliar, juntamente
com os cuidadores, o momento e a maneira de proceder à revelação. Após um
planejamento cuidadoso do momento considerado adequado, a meta é o evento
propriamente dito: como, quando e quem participará da revelação. Por último, é muito
importante o monitoramento do momento pós-revelação. O monitoramento visa identificar
o impacto psicológico da revelação na família e no paciente, mediante a observação direta
dos comportamentos da criança/adolescente e por relatos dos cuidadores. Assim,
comunicar o diagnóstico de soropositividade deve ser um diálogo contínuo entre o
paciente, a família e a equipe de saúde. Gerson e cols. assinalam ainda a necessidade de
que haja tempo suficiente para o atendimento no qual ocorrerá a revelação do diagnóstico,
de modo que a criança se sinta confortável para fazer perguntas e expressar sentimentos.
1.7 Adesão à terapia anti-retroviral
Estudos que abordam a adesão ao tratamento de crianças e jovens soropositivos
para o HIV são escassos, além de haver informação insuficiente sobre as estratégias que
podem melhorar a adesão desses pacientes (Berrien, Salazar, Reynolds & McKay, 2004;
Byrne, Honig, Jurgrau & Donahue, 2002; Naar-King & cols., 2006). De acordo com a
definição da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2003), a adesão é a extensão na qual o
comportamento de uma pessoa coincide com o que foi acordado com a equipe de saúde
(tomar remédios, fazer exercícios, seguir uma dieta). Dessa forma, adesão a tratamento
implica em negociação entre paciente e profissionais, e não em um mero cumprimento de
instruções pelo primeiro.
A adesão de pacientes pediátricos aos anti-retrovirais é complexa pela quantidade
de medicamentos prescritos, pelo sabor às vezes considerado desagradável, além do fato de
ser um tratamento para toda a vida. Outro desafio se refere à capacidade de o cuidador
lembrar-se corretamente das medicações a serem dadas, suas quantidades e horários
(Brackis-Cott & cols., 2003, Byrne & cols., 2002). Especificamente sobre a adesão de
adolescentes à TARV, esta pode sofrer a influência de peculiaridades observadas nessa
15
faixa etária como negação da enfermidade, desinformação, comprometimento da auto-
estima, dificuldades de obter apoio social, entre outras (Brasil, 2007a). Estudo de Seidl e
cols. (2005) verificou a ocorrência de três categorias principais de dificuldades de adesão,
segundo relatos de cuidadores de crianças e adolescentes soropositivos: (a) horários da
medicação, em especial quando o medicamento tinha que ser tomado muito cedo no
período da manhã ou quando a criança estava fora do ambiente doméstico (por exemplo,
na escola); (b) gosto desagradável da medicação e/ou presença de efeitos colaterais, de
modo que o tratamento constituía uma condição aversiva para a criança; (c) ocorrência de
comportamentos oposicionistas da criança/adolescente como resistência à ingestão da
medicação, muitas vezes por não compreender sua necessidade.
Dificuldades de adesão têm sido observadas mais freqüentemente em adolescentes
do que em crianças. Esse fato ocorre devido a atitudes de questionamento e rebeldia
manifestados pelos adolescentes frente à soropositividade, ao tratamento e à supervisão dos
cuidadores. Administrar a medicação às crianças é papel primordial dos cuidadores,
enquanto que no caso dos adolescentes a responsabilidade do uso dos anti-retrovirais passa
a ser apenas deles ou é compartilhada entre estes e seus familiares. Ocorre que, muitas
vezes, os cuidadores transferem a responsabilidade da administração da medicação à
criança ou adolescente apenas devido à idade (Martin & cols., 2007). Ao fazer essa
transição baseando-se apenas no aspecto cronológico, em detrimento da responsabilidade
para com a ingestão dos medicamentos, podem ocorrer problemas de adesão. Os autores
sugerem que esta responsabilidade não seja definida unicamente em função da idade do
paciente, mas no seu comprometimento com o próprio tratamento.
Dificuldades de adesão são comuns entre pessoas com doenças crônicas. Desta
forma, é importante identificar as variáveis associadas ao comportamento de adesão para
possibilitar intervenções mais eficazes. Naar-King e cols. (2006) investigaram associações
entre adesão, auto-eficácia, suporte social e distress psicológico em jovens vivendo com
HIV/aids. Os resultados indicaram que, consistentemente com a literatura referente a
adultos, auto-eficácia e distress estiveram correlacionados à adesão medicamentosa. O
primeiro teve associação positiva (quanto maior a percepção de auto-eficácia para realizar
o tratamento, mais altos os níveis de adesão relatados). o distress apresentou correlação
negativa com a adesão. Os autores sugerem que as ações médicas e psicossociais para
melhorar a adesão com essa clientela devem aumentar a percepção de auto-eficácia e
reduzir o distress emocional.
16
A adesão não depende apenas do indivíduo acometido pela doença: no caso de
crianças e adolescentes soropositivos para o HIV, este comportamento também é de
responsabilidade de seu cuidador. Nessa perspectiva, para atingir níveis satisfatórios de
adesão, é essencial que haja uma boa adesão também do cuidador (Brackis-Cott & cols.,
2003; Branco, 2007; Brasil, 2007a). Assim, ações de saúde devem ser direcionadas aos
familiares, em especial nos casos de crianças com faixa etária reduzida. Martin e cols.
(2007) observaram que o maior conhecimento do cuidador acerca do esquema terapêutico
esteve correlacionado a níveis adequados de adesão. Por conseguinte, uma maneira eficaz
de intervir na adesão de crianças ou adolescentes soropositivos para o HIV é oferecer
informações claras e organizadas aos cuidadores em relação ao esquema terapêutico.
Apesar das dificuldades para manter níveis satisfatórios de adesão, há diversas
estratégias para tentar saná-las. Algumas das estratégias para melhorar a administração dos
medicamentos e a adesão são: associar alimentos ao uso dos medicamentos para neutralizar
aspectos aversivos dos ARV (gosto e/ou cheiro desagradável); contar os comprimidos para
monitorar a ingestão; utilizar diários, alarmes, calendários para evitar o esquecimento;
revelar o diagnóstico e lançar mão de estratégias que aumentem a compreensão e
valorizem as vantagens dos anti-retrovirais (Byrne & cols., 2002, Seidl & cols., 2005).
outras estratégias que podem ser utilizadas pelos profissionais de saúde, como
as visitas domiciliares. Berrien e cols. (2004) conduziram um estudo com o objetivo de
melhorar a adesão ao tratamento anti-retroviral de pacientes soropositivos de até 20 anos
de idade. Os participantes foram divididos em grupo controle (que continuaria a receber os
cuidados habitualmente oferecidos pelo serviço) e grupo de intervenção. A intervenção foi
realizada nas casas dos pacientes e consistia de oito visitas estruturadas num período de
três meses por um profissional de enfermagem com experiência em atendimentos
domiciliares. As intervenções visavam melhorar o nível de conhecimento sobre HIV/aids e
modificação ou extinção de barreiras à adesão. A adesão foi mensurada por auto-relato,
registros da farmácia indicando se a medicação tinha sido retirada e pela contagem de
linfócitos T CD4 e da carga viral plasmática. Os pesquisadores identificaram melhora
significativa nos níveis de adesão, de conhecimento e no histórico de retirada de
medicamentos nos adolescentes que foram submetidos à intervenção, concluindo que os
atendimentos domiciliares foram uma estratégia eficaz para aumentar a adesão de
adolescentes com HIV/aids.
O Ministério da Saúde (Brasil, 2007a) destaca ainda as estratégias para promover a
adesão e o acompanhamento clínico de adolescentes vivendo com HIV/aids: preparação do
17
adolescente para aceitar melhor seu diagnóstico, negociação do tratamento com o
compromisso do jovem, envolvimento e participação da família e de amigos no tratamento,
criação de grupos de discussão e a escolha de um regime terapêutico que seja viável e mais
compatível com o estilo de vida são algumas das estratégias sugeridas.
1.8 Estresse em HIV/aids e seus efeitos sobre a saúde
O estresse pode ser caracterizado, segundo Lazarus (conforme citado por Sheldon
& Ashby, 1985), por um processo no qual a pessoa avalia uma situação como ameaçadora,
mas não tem mecanismos para enfrentá-la adequadamente. A situação em questão pode ser
percebida como danosa, ameaçadora ou desafiadora (Straub, 2005). Pode-se considerar o
diagnóstico de uma doença crônica como um evento estressor, que traz uma série de
questões que podem ser geradoras de tensão, ansiedade e estresse.
De acordo com Lopes e Fraga (1998) a pessoa com HIV passa por um número
grande de situações estressantes que podem contribuir para a deterioração do sistema
imunológico. Estas autoras ressaltam que em relação às pessoas com HIV, o estresse é um
fator que pode ter grande influência na evolução clínica causada por esta infecção. A
relação, anteriormente citada, do sistema imune com o estresse pode ser avaliada a partir
de parâmetros clínicos, imunológicos e psicológicos. Um pior estado de ânimo, maiores
níveis de estresse e estratégias de enfrentamento de problemas menos ativas podem estar
relacionados a uma progressão viral mais veloz e, portanto, a um pior prognóstico (Ulla &
Remor, 2002).
Foram realizados diversos estudos que procuram explicar a relação entre níveis de
estresse e resultados imunológicos entre indivíduos portadores do HIV. De acordo com a
análise de Ulla e Remor (2002), um alto nível de estresse pode resultar em menor
competência imunológica. Entretanto, estes autores observam que a natureza de tal relação
ainda necessita ser mais estudada e pormenorizada. Além disso, deve-se distinguir entre os
efeitos do estresse agudo e do estresse crônico sobre a competência imunológica. O
estresse agudo, por ser uma resposta adaptativa a uma situação ameaçadora, não traria
efeitos deletérios à saúde. Por outro lado, o estresse crônico propiciaria uma alteração de
órgãos e sistemas, podendo levar a danos ao organismo (Ulla & Remor, 2002).
O desenvolvimento de trabalhos educativos que propiciem uma orientação sobre
estresse e seu manejo são necessários para melhorar a qualidade de vida das pessoas com
doenças crônicas, inclusive para aquelas que vivem com HIV/aids (Lopes & Fraga, 1998).
18
Ulla e Remor (2002) sugerem que um controle adequado do estresse colabora com a
terapia farmacológica e mantém níveis imunológicos adequados.
Pouco se sabe sobre o nível de distress psicológico entre adolescentes soropositivos
para o HIV, bem como sobre as causas, mediadores ou moderadores deste conjunto de
sintomas nesse grupo (Murphy, 2000). Pacientes pediátricos com HIV parecem vivenciar
mais estressores que seus pares não infectados, tais como o falecimento dos pais devido à
aids, a adaptação a uma nova configuração familiar, os efeitos adversos do tratamento, a
manutenção de sigilo, o medo do preconceito, o isolamento social, o medo de morrer,
conflitos familiares, além dos problemas de ordem prática como a necessidade de
transporte para obter cuidados de saúde (Brown & Lourie, 2000). Além de sintomas de
ansiedade e depressão, este autor relata que os pais de crianças soropositivas para o HIV
em idade escolar reportam problemas de conduta ou hiperatividade.
A revelação do diagnóstico pode gerar ansiedade aos cuidadores devido ao medo de
que a criança ou adolescente não mantenha sigilo e, por isso, os cuidadores escondem esta
informação (Brown & Lourie, 2000). Por outro lado, a revelação do diagnóstico também
pode trazer ansiedade ao jovem. Devido ao medo do estigma, crianças e adolescentes com
HIV/aids tendem a não revelar seu diagnóstico para outras pessoas. Entretanto, isso pode
prejudicar a obtenção de apoio social que, muitas vezes, essa modalidade de suporte é
obtida basicamente dos pares.
1.9 Estigma
Os temas-alvo desse estudo revelação do diagnóstico, adesão e estresse são
influenciados pelo estigma que pode acometer pessoas soropositivas. Estigma em HIV/aids
pode ser definido como a desvalorização de pessoas vivendo com essa condição (Unaids,
2007). A aids é uma doença estigmatizada e pessoas acometidas, muitas vezes, são vítimas
de preconceito e discriminação (Pequegnat, 2002). Essa realidade pode ser confirmada na
prática clínica, conforme relatos de cuidadores e adolescentes com HIV/aids. Uma de suas
conseqüências, muitas vezes, é o adiamento da revelação do diagnóstico devido ao medo
da ocorrência de preconceito e discriminação. Deste modo, forma-se um rculo vicioso: o
estigma tende a levar a mais sofrimento, que por sua vez resulta no silêncio sobre o
assunto. De modo concomitante, o segredo pode proporcionar que o estigma ganhe espaço
(Duffy, 2005).
O estigma parece ser mais presente na aids que em outras doenças crônicas, como o
câncer (Pequegnat, 2002). Segundo a autora, isso ocorre devido a quatro características da
19
aids que favorecem o estigma: (a) é uma doença percebida como letal; (b) é uma
enfermidade que pode colocar outras pessoas em risco; (c) pode ser uma condição aparente
a terceiros; e (d) é uma doença cujas causas são percebidas como de responsabilidade do
indivíduo. Complementando essa caracterização, Gerson e cols. (2001) assinalam que o
HIV/aids elicia o estigma devido às formas comuns de transmissão do vírus: relações
sexuais e uso de drogas injetáveis.
O estigma é um tópico recorrente nos discursos de jovens soropositivos e seus
familiares. Ayres e cols. (2006) realizaram entrevistas com adolescentes soropositivos para
o HIV e seus cuidadores. Pela análise dos relatos, os autores definiram duas categorias de
estigma: sentido e decretado (enacted stigma). O primeiro diz respeito aos sentimentos
subjetivos de vergonha associados à discriminação social e internalizados como parte da
identidade. O estigma sentido esteve presente nos discursos dos cuidadores com relação
aos medos das reações pós-revelação por parte dos adolescentes. Nos discursos dos jovens,
este tipo de sentimento foi evidenciado ao relatarem o medo de contar seus diagnósticos
para amigos e parceiros. O estigma sentido ocorre quando o indivíduo tem receio ou
antecipa a rejeição de terceiros, manifestando um sentimento de vergonha (Swendeman,
Rotheram-Borus, Comulada, Weiss & Ramos, 2006). Segundo esses autores, essa
modalidade de estigma pode levar as pessoas a moldarem seus comportamentos de modo a
evitar o estigma decretado. Esta segunda modalidade diz respeito às experiências reais de
discriminação e de comportamentos estigmatizantes e discriminatórios direcionados a
pessoas que vivem com HIV/aids (Greeff & cols., 2008).
O estigma traz uma série de conseqüências que podem ser tão devastadoras quanto
a doença em si: abandono, ostracismo, perda de emprego, violência (Swendeman & cols.,
2006; Unaids, 2007). E é justamente o medo do estigma que faz com que as pessoas não
revelem sua condição. Porém, ao fazer isso, estas estariam limitando oportunidades para
obtenção de apoio, de contatos sociais e até mesmo de tratamento.
Klunklin e Harrigan (2002) observaram conseqüências importantes do preconceito
direcionado a crianças e adolescentes com HIV/aids: muitas vezes, estes têm dificuldades
para se matricular em escolas regulares. Contudo, a ocorrência desse tipo de preconceito na
escola não parece ser uma realidade generalizada. Seidl e cols. (2005) constataram que
foram quase nulos os relatos de preconceito e discriminação direcionada a crianças que
tiveram seu status sorológico revelado na escola, segundo os cuidadores primários
entrevistados. Os autores consideraram que provavelmente esteja ocorrendo uma mudança
20
sócio-cultural importante, com tendência à diminuição de atitudes preconceituosas na
realidade brasileira.
Para lidar melhor com a ocorrência do estigma é necessário facilitar a discussão, a
troca de vivências e desenvolver estratégias educativas com informações claras (Ferreira &
Gadelha, 2004, Marques & cols., 2006). Ayres e cols. (2006) também fazem sugestões
sobre esse tema, apresentando uma série de recomendações para abordar as necessidades
de jovens soropositivos, como o aumento de informação e a expansão de debates sobre
estigma e discriminação relacionados à aids.
O medo do estigma é um dos principais motivos citados para que cuidadores adiem
a revelação do diagnóstico (Seidl & cols., 2005). Ressalta-se que é essencial que estes
reconheçam seus direitos inclusive o de manter essa informação em sigilo para que
possam se sentir mais seguros e amparados ao enfrentar situações dessa natureza. O
profissional de saúde deve instrumentalizar os pacientes e seus cuidadores para que
estejam a par desses direitos e os exerçam. Intervenções direcionadas à diminuição do
estigma dependem de amplas modificações sócio-culturais. Dessa forma, destaca-se a
relevância de iniciativas governamentais e não governamentais que esclareçam a
população acerca dos mitos e verdades sobre o HIV/aids, contribuindo para a diminuição
do preconceito.
21
Capítulo 2 – OBJETIVOS
2.1 Questões norteadoras
Como visto anteriormente, a chegada à adolescência de crianças infectadas pelo
vírus HIV por transmissão vertical apresenta uma série de questões para investigação. A
mais premente diz respeito à revelação do diagnóstico. Vários estudos recentes têm
apontado a importância da revelação do diagnóstico para crianças e adolescentes com
HIV/aids e muitos cuidadores têm adiado essa decisão independentemente das
recomendações da equipe de saúde. Estes estudos também assinalam que a não revelação
pode acarretar conseqüências negativas e que não uma relação funcional entre a
revelação do diagnóstico e problemas de ajustamento psicossocial. Outra questão de
interesse em HIV/aids é a adesão ao tratamento. No caso de adolescentes, o
comportamento de adesão pode apresentar características e dificuldades específicas. Desta
forma, é importante investigar essas duas questões revelação e adesão para identificar
possíveis focos para intervenção.
Com base na revisão de literatura e na prática de atendimento a essa clientela, as
seguintes questões nortearam a pesquisa:
1 Como ocorreu o processo de revelação do diagnóstico de HIV/aids para os
jovens participantes, segundo suas percepções e as de seus cuidadores primários? A
revelação contou com a participação de profissionais de saúde?
2 – Há congruência na percepção do adolescente e de seu cuidador sobre o processo
de revelação do diagnóstico de soropositividade?
3 O que os jovens relatam sobre sua conduta de adesão ao tratamento? E seus
cuidadores? Como avaliam a conduta de adesão?
4 evidências da ocorrência de sintomas de estresse nesses jovens? A forma
como ocorreu a revelação do diagnóstico de soropositividade pode estar associada a níveis
maiores ou menores de estresse?
5 – Qual o nível de conhecimento de adolescentes e de seus cuidadores sobre
questões básicas relativas ao HIV/aids e seu tratamento?
6 Após o conhecimento do diagnóstico de soropositividade, quais as
características da comunicação que se estabeleceu entre jovem e cuidador sobre o tema
HIV/aids? Há uma comunicação clara e contínua sobre o tema no meio familiar?
22
2.2 Objetivos
Com base nessas questões norteadoras, a pesquisa teve os seguintes objetivos:
1. Identificar as características do comportamento de adesão ao tratamento anti-
retroviral, segundo relatos de jovens e seus cuidadores.
2. Investigar o processo de revelação do diagnóstico de soropositividade para
adolescentes infectados pela transmissão vertical, com base em relatos de jovens e seus
cuidadores.
3. Investigar a ocorrência de estresse nos jovens participantes, a partir da utilização
da Escala de Estresse para Adolescentes (ESA).
4. Descrever o nível de conhecimento sobre HIV/aids, bem como analisar as
características do processo de comunicação sobre a enfermidade e o tratamento, tendo por
base os relatos das díades.
O estudo visa, ainda, apresentar uma proposta de diretrizes para a revelação de
diagnóstico direcionada aos profissionais que trabalham com crianças e adolescentes com
HIV/aids.
Espera-se que, nos casos em que houve um processo de revelação de diagnóstico
planejado, com a participação dos cuidadores e eventualmente de profissionais, com
manutenção de comunicação clara e contínua sobre HIV/aids no meio familiar, a adesão ao
tratamento seja adequada, com níveis de estresse menores que nos casos em que a
revelação do diagnóstico tenha sido realizada sem os mesmos cuidados. Espera-se ainda
que o estudo contribua com novos conhecimentos sobre aspectos psicossociais de
adolescentes com HIV/aids infectados por transmissão vertical e subsidie a construção de
uma proposta de atendimento para a revelação do diagnóstico. Esta proposta é fruto de
achados apontados pela literatura da área e pelos resultados dessa pesquisa, tendo como
finalidade estruturar um procedimento de revelação de diagnóstico mais adequado que
possa trazer benefícios e reduzir vulnerabilidades de crianças e adolescentes vivendo com
HIV/aids.
23
Capítulo 3 – MÉTODO
3.1 Delineamento
O estudo foi desenvolvido mediante um delineamento descritivo de corte
transversal, com caráter exploratório, visto que o assunto abordado é ainda pouco
investigado, em especial no Brasil. O delineamento incluiu técnicas qualitativas e
quantitativas de coleta e análise de dados.
3.2 Participantes
Participaram da pesquisa nove díades compostas de adolescentes vivendo com
HIV/aids e seus cuidadores. Os jovens, seis rapazes e três moças, tinham idades entre 12 e
17 anos (média de 13,7 anos). As idades de seus cuidadores variaram entre 36 e 67 anos
(média de 49,2 anos), sendo todas do sexo feminino. Os adolescentes realizavam seu
acompanhamento médico no Hospital Universitário de Brasília (um participante) ou na
Unidade Mista da Asa Sul, Centro de Saúde da Secretaria de Saúde do Distrito Federal
(oito participantes) A escolha desses serviços de saúde decorreu do fato de ambos
abarcarem cerca de 90% das crianças e adolescentes soropositivos em acompanhamento
médico no DF, sendo que a Unidade Mista responde pela quase totalidade dessa clientela.
Os critérios de inclusão dos jovens foram: (1) ter sido infectado por transmissão
vertical; (2) idade entre 12 e 18 anos; (3) estar em atendimento ambulatorial (não internado
no momento da entrevista); (4) fazer uso de medicação anti-retroviral; (5) ter
conhecimento de seu status sorológico; (6) possuir capacidade cognitiva para responder a
entrevistas e a outros instrumentos; (7) consentir em participar do estudo, após autorização
prévia de seu cuidador primário. O critério de inclusão dos familiares dos adolescentes foi
de que se tratasse do cuidador primário, ou seja, a pessoa responsável pelo
acompanhamento do tratamento do adolescente. As características sócio-demográficas das
díades participantes podem ser observadas na Tabela 1.
Tabela 1. Aspectos sócio-demográficos das díades entrevistadas (N=18).
Díade Adolescentes
Cuidadoras
Idade Sexo Escolaridade Relação de
parentesco
Idade Escolaridade
Situação
conjugal
Ocupação
Renda
familiar
1
14 M 8º ano EF
Tia paterna 49 EF completo Casada
Professora
4 S.M.
2*
14 F 8º ano EF
Companheira
do avô
materno
46 EM incompleto Casada
Técnica em
enfermagem
1 S.M.
3
14 F 1º ano EM
Avó materna 67 EM incompleto Divorciada
Secretária
9 S.M.
4
13 M 4º ano EF
Mãe 36 EF incompleto Solteira
Do lar
3 S.M.
5
17 M 8º ano EF
Avó materna 60 EF completo Casada Agente de portaria 2 S.M.
6
12 M 6º ano EF
Mãe adotiva 48 EM incompleto Separada
Do lar
1 S.M. +
benefícios
7
12 M 6º ano EF
Tia paterna 42 EM completo Casada
Desempregada
9 S.M.
8
16 M 2º ano EM
Mãe adotiva 55 EF incompleto Viúva
Do lar
1 S.M.
9
12 F 7º ano EF
Mãe 40 EF incompleto Solteira
Do lar
1 S.M.
Nota.
* Foram entrevistados dois cuidadores (avô materno e sua companheira), porém ela foi considerada como o cuidador principal.
24
25
3.3 Locais de coleta de dados
As entrevistas ocorreram prioritariamente na Unidade Mista de Saúde ou no Projeto
Com-Vivência, em salas ou consultórios que estivessem disponíveis no momento da
entrevista.
O Projeto Com-Vivência Ações Integradas de Estudos e Atendimento a Pessoas
Portadoras do HIV/aids e Familiares está localizado no ambulatório do Hospital
Universitário de Brasília (HUB). É um projeto de extensão universitária fruto de iniciativa
do Departamento de Serviço Social e do Instituto de Psicologia da Universidade de
Brasília. Funciona desde 1996 e oferece atendimento ambulatorial e de enfermaria a
portadores do HIV/aids, atuando de modo integrado à equipe médica do HUB. Uma das
atividades previstas pelo projeto é o atendimento psicológico e social a crianças e
adolescentes vivendo com HIV/aids e seus familiares e cuidadores.
A Unidade Mista de saúde é um dos centros de saúde da regional sul da Secretaria
de Estado da Saúde do Distrito Federal (SES/DF, 2008). Esta unidade é referência no
tratamento de DST e aids, tuberculose e hanseníase. As consultas são agendadas de acordo
com a necessidade (prescrição de medicação, consultas de rotina) e os pacientes e seus
cuidadores aguardam atendimento em uma sala de espera própria. Esta sala conta com um
aparelho de TV, carteiras, revistas, brinquedos, computador para a auxiliar de enfermagem.
Os pacientes são atendidos por ordem de chegada, com a utilização de senhas. Cerca de
85% das crianças e adolescentes vivendo com HIV/aids residentes no DF, infectados por
transmissão vertical, possuem acompanhamento médico nessa unidade de saúde,
totalizando cerca de 100 pacientes. Não há profissional de psicologia na equipe da Unidade
Mista para atendimento a essa clientela, o que levou à estruturação de uma parceria entre
os dois serviços de saúde visando o atendimento integral a jovens e adolescentes vivendo
com HIV/aids. Diante de demandas psicossociais identificadas pela equipe médica, jovens
e familiares são encaminhados ao Projeto Com-Vivência do HUB.
3.4 Instrumentos
3.4.1 Roteiros de Entrevistas
Os roteiros de entrevistas semi-estruturados (Anexos 1 e 2) foram elaborados para o
estudo, e visavam contemplar os temas: nível de conhecimento em HIV/aids, revelação do
diagnóstico, adesão ao tratamento e estresse. Cada tema constituiu um bloco do roteiro. As
perguntas sobre o nível de conhecimento indagavam sobre o conceito de HIV, de aids, as
26
formas de transmissão, CD4 e carga viral. A adesão ao tratamento foi investigada com a
utilização de perguntas específicas sobre qual medicamento anti-retroviral estava sendo
utilizado, horários de uso, perda de doses nos últimos três e sete dias, além de outras
questões sobre situações cotidianas que poderiam dificultar o uso dos ARV. A revelação
do diagnóstico visou identificar as circunstâncias da revelação (motivos, quem conduziu a
revelação, sentimentos à época, etc.). Ao final, havia duas perguntas que objetivaram
identificar quais as possíveis fontes de estresse para os adolescentes e como lidavam com
as mesmas.
Como um dos objetivos foi avaliar a convergência dos relatos de adolescentes e
cuidadores, havia questões semelhantes nos dois roteiros. Entretanto, a ordem dos blocos
temáticos não foi a mesma para ambas as entrevistas. Considerou-se que para os
adolescentes seria mais adequado iniciar com questões menos pessoais, como as de vel
de conhecimento, devido à possível resistência em falar sobre esses assuntos. Em seguida
foi abordada a adesão ao tratamento, a revelação do diagnóstico e, por último, o estresse e
enfrentamento.
para os cuidadores hipotetizou-se que iniciar com perguntas que avaliassem o
nível de conhecimento poderia fazer com que se sentissem testados. O roteiro dos
cuidadores incluiu um breve questionário sócio-demográfico para colher informações
sobre o adolescente e seu cuidador. O roteiro iniciava com o bloco de adesão ao tratamento
seguida da revelação do diagnóstico, perguntas que avaliavam o nível de conhecimento
sobre HIV/aids, estresse e enfrentamento.
3.4.2 Escala de Stress para Adolescentes – ESA
Com o intuito de investigar a ocorrência de estresse nos adolescentes entrevistados,
buscou-se um instrumento que pudesse avaliar esta dimensão. o foram encontrados
instrumentos específicos para avaliação de estresse em HIV/aids com adolescentes. Dessa
forma, foi escolhida a ESA de Tricoli e Lipp (2005). Essa escolha foi motivada pelo fato
de ser uma escala recente, adequada à população adolescente brasileira e aprovada pelo
Conselho Federal de Psicologia.
A ESA é composta de 44 itens relacionados a quatro reações do estresse:
psicológicas, cognitivas, fisiológicas e interpessoais. Além destas dimensões, a ESA
também identifica a freqüência na qual estes sintomas aparecem, diferenciando entre
quatro fases do estresse (alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão). O objetivo da
escala é verificar a existência do estresse e identificar a fase em que se encontra.
27
As respostas aos itens são preenchidas de acordo com uma escala Likert de cinco
pontos. Os itens relativos a freqüência de sintomas devem ser respondidos como (1) não
sente; (2) raramente sente, (3) às vezes sente; (4) quase sempre sente ou (5) sempre sente.
A marcação referente à intensidade, que indica as fases do estresse, deve ser feita como (1)
não ocorreu; (2) ocorreu nas últimas 24 horas; (3) ocorreu na última semana; (4) ocorreu
no último mês ou (5) ocorreu nos últimos 6 meses.
A escala foi validada e padronizada para adolescentes entre 14 e 18 anos e os
estudos para a validação deste instrumento foram conduzidos em cidades do estado de São
Paulo, em Campo Grande (MS) e João Pessoa (PB). Participaram da validação da escala
655 pessoas. Dentre estes participantes estavam um grupo de cinco profissionais de
Psicologia (com a função de juízes), cinco adolescentes como participantes do projeto
piloto e 645 adolescentes que constituíram a amostra do estudo.
A análise de precisão foi realizada pelo método de consistência interna e obteve um
coeficiente alpha de Cronbach de 0,9394 para a freqüência (sintomas) e de 0,9398 para
intensidade (fase) da escala. A validação foi obtida pelo método da validade de construto
por meio de análise fatorial e confirmatória.
3.4.3 Materiais para coleta de dados
Para cada entrevista eram utilizados:
Kit de entrevista contendo: duas cópias do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido TCLE (Anexo 3) dos cuidadores, duas cópias do TCLE dos
adolescentes (Anexo 4), 1 roteiro de entrevistas para os cuidadores, 1 roteiro de
entrevista para os adolescentes, 1 folha da Escala de Stress para Adolescentes
ESA (ver anexo 5), 1 cópia da revista Saber Viver Jovem.
Prontuários.
Gravador digital, folhas A4 e canetas.
3.5 Procedimento de Coleta de Dados
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília sob o registro nº073/07
(Anexo 6) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde do
Distrito Federal, registro nº186/07 (Anexo 7). A submissão em dois comitês foi necessária
pelo fato de a coleta de dados ter ocorrido em duas instituições distintas.
28
Foi elaborada uma lista com os possíveis participantes, a partir de indicações da
médica responsável pelo atendimento de adolescentes soropositivos da Unidade Mista e de
indicações da equipe do HUB, em especial dos que atuam no Projeto Com-Vivência, tendo
em vista os critérios de inclusão. Os convites eram realizados pelas equipes da Unidade
Mista, do HUB ou pela pesquisadora (pessoalmente ou por telefone). Nos casos em que o
convite foi feito pelas equipes de saúde, a pesquisadora entrava em contato para explicar a
pesquisa e reforçar o convite. O convite era feito, normalmente, primeiro ao cuidador e
depois ao adolescente.
Foram identificadas, no total, dezenove possíveis díades participantes, sendo que
quatorze foram convidadas a participar e nove delas aceitaram. Importante esclarecer que
dos cinco participantes que não aceitaram, o convite foi feito apenas ao cuidador e a recusa
partiu deles. Após o consentimento verbal as entrevistas eram marcadas de acordo com a
preferência de dia, horário e local dos entrevistados.
Primeiro o adolescente era entrevistado, depois o cuidador. Antes de iniciar a
entrevista, uma cópia do TCLE era entregue ao participante e a pesquisadora lia em voz
alta explicando o conteúdo. Após a leitura e a assinatura do TCLE, uma cópia assinada
ficava de posse da entrevistadora e outra era entregue ao participante. A pesquisadora
pediu autorização verbal aos participantes para que a entrevista fosse gravada. Caso não
autorizassem a gravação, procedia-se ao registro cursivo da entrevista.
A entrevista dos adolescentes era seguida do preenchimento da ESA e da entrega
do segundo número da revista Saber Viver Jovem, publicação destinada a jovens
soropositivos, produzida em parceria com o Programa Nacional de DST/aids. Ao entregar
a revista, a pesquisadora ressaltava sua relevância devido aos assuntos que abordava e
comentava alguns deles, como a seção tira-dúvidas. Além disso, era sugerido pela
pesquisadora que o jovem emprestasse a revista a seu cuidador para que este também
pudesse ler. O objetivo dessa sugestão era, além de prover mais informações através da
leitura, suscitar conversas e proporcionar maior comunicação sobre HIV/aids entre os
adolescentes e seus cuidadores. Antes do início da entrevista com os cuidadores, algumas
informações e dados sócio-demográficos do jovem e do cuidador eram solicitados. Foi
lembrada, ainda, a possibilidade de atendimento psicossocial no Projeto Com-Vivência, se
houvesse interesse, para jovens e/ou cuidadores.
Além das entrevistas, os prontuários dos adolescentes foram consultados tendo em
vista a obtenção de informações. Os dados coletados foram o esquema terapêutico atual e
os resultados de CV e CD4 cujas datas fossem as mais próximas à data da entrevista.
29
Em cinco casos as entrevistas ocorreram em dias e locais diferentes devido à
disponibilidade de horário dos adolescentes e seus cuidadores. Em dois casos as entrevistas
com os adolescentes não foram gravadas, sendo que foi feito o registro cursivo. Todos os
cuidadores consentiram que a entrevista fosse gravada. A duração das entrevistas foi
variada (a mais curta durou dezenove minutos e a mais longa uma hora e vinte minutos).
Em geral, as entrevistas com os cuidadores foram mais longas que com os adolescentes. O
tempo médio das entrevistas dos adolescentes foi de 30 minutos e o tempo médio para os
cuidadores foi de 50 minutos.
3.6 Análise de dados
De modo a facilitar a análise dos relatos das díades, estas foram numeradas de um a
nove de acordo com a ordem na qual as entrevistas ocorreram. Além disso, foi atribuída a
letra A para os adolescentes, a letra C para designar os cuidadores e a letra D para as
díades. Dessa maneira, A1 e C1 se referem, respectivamente, ao primeiro adolescente e o
primeiro cuidador entrevistados, formando a díade D1. Os nomes foram omitidos em razão
de confidencialidade.
As entrevistas foram transcritas integralmente para que pudessem ser analisadas
com base em seus conteúdos. Procedeu-se, então, a uma leitura flutuante do material
transcrito. A partir dos relatos, a análise foi conduzida separadamente pelos blocos
temáticos (revelação do diagnóstico, adesão, estresse e nível de conhecimento). No caso de
temas que permitiam categorização, dois pesquisadores avaliaram de forma independente
os conteúdos verbais, buscando-se nível de fidedignidade equivalente ou superior a 70%
para os procedimentos de identificação, nomeação e freqüência das categorias. Procedeu-se
ainda à seleção de trechos de relatos dos participantes como exemplos das categorias
identificadas.
O bloco relativo ao nível de conhecimento foi avaliado a partir de uma classificação
das respostas dos participantes de acordo com parâmetros de correção estabelecidos pelas
pesquisadoras. As respostas sobre adesão foram analisadas mediante formação de
categorias, comparação entre as respostas das díades para avaliar a consistência dos relatos
e confrontação com dados obtidos nos prontuários dos pacientes. As categorias foram
definidas de acordo com a similaridade do discurso ou pela análise de respostas de escolha
forçada (perguntas que ofereciam opções delimitadas de resposta aos entrevistados). As
questões sobre revelação do diagnóstico foram analisadas pela comparação entre os relatos
das díades, categorização de respostas e apresentação de trechos relevantes. As escalas de
30
estresse foram corrigidas de acordo com o protocolo e comparadas às pontuações de corte,
sendo que cada jovem obteve um escore nas dimensões avaliadas pelo instrumento.
31
Capítulo 4 – RESULTADOS
A apresentação dos resultados foi dividida em tópicos com base nos temas
investigados, a saber: adesão ao tratamento, revelação do diagnóstico, estresse, nível de
conhecimento sobre HIV/aids e outras questões relevantes que emergiram no contexto da
coleta de dados, como estigma.
4.1 Adesão ao tratamento anti-retroviral
Na Tabela 2 constam as informações referentes à idade do participante ao início da
TARV e o tempo de uso da TARV para cada adolescente. O cálculo do tempo de uso da
TARV foi realizado segundo as idades relatadas pelos participantes para o início da
TARV.
Tabela 2. Idade de início e tempo de uso da TARV (N=18).
Díades
Idade de início da
TARV
Tempo de uso da TARV*
A
4 anos 10 anos
1
C
4 anos 10 anos
A
3 ou 4 anos 11 ou 10 anos
2
C
4 ou 5 anos 10 ou 9 anos
A
1 ano e 6 meses 12 anos e 6 meses
3
C
1 ano e 6 meses 12 anos e 6 meses
A
10 anos 3 anos
4
C
11 anos 2 anos
A
7 anos 10 anos
5
C
7 anos 10 anos
A
6 anos 6 anos
6
C
1 ano 11 anos
A
3 anos 9 anos
7
C
2 anos e 4 meses 9 anos e 8 meses
A
6 anos 10 anos
8
C
5 anos 11 anos
A
2 ou 3 anos 10 ou 9 anos
9
C
2 anos e 6 meses 9 anos e 6 meses
Nota. * Tempo aferido tendo como base a idade de início da TARV relatada pelo
participante e a idade do adolescente à data da entrevista.
Os resultados mostram que os relatos sobre idade de início de TARV foram
informados por todas as díades com bom nível de congruência, na medida em que não se
levou em conta intervalos pequenos de inconsistência nessas informações (até um ano de
diferença na idade informada). Apenas a díade 6 informou idades muito diferentes para o
32
início de TARV, sendo provável que o jovem ou o cuidador não tenham entendido a
pergunta.
Além disso, pode-se observar que, apesar de a maioria dos adolescentes terem
iniciado a terapia anti-retroviral no início da primeira infância, este dado é variável e no
caso de A4 a idade de início se mostra bem mais tardia que a dos demais participantes.
Desta forma, o tempo de uso da TARV para sete adolescentes foi superior a nove anos,
mas para A4 este tempo foi de dois ou três anos, de acordo com o relato do cuidador e do
adolescente, respectivamente.
Na Tabela 3 estão sintetizadas as informações sobre o nome dos anti-retrovirais,
horários e sobre quem habitualmente lembrava o uso dos remédios (adolescente, cuidador,
outra pessoa ou ambos). A nomeação dos medicamentos anti-retrovirais pelos participantes
foi cotejada com os dados da prescrição registrados nos prontuários dos adolescentes.
Observou-se que três jovens e quatro cuidadores verbalizaram de modo correto os ARV
em uso, mas nem sempre houve congruência nos relatos dos integrantes das díades. Duas
díades (D1 e D3) relataram de modo correto e em consonância os nomes dos
medicamentos do esquema em uso. Por fim, a não nomeação dos ARV (respostas “não
sei”), ou a nomeação incompleta e a divergência entre os nomes listados pelo cuidador e
pelo adolescente predominaram entre os participantes. Os dados indicaram falhas no
domínio de informações sobre os medicamentos anti-retrovirais.
No que se refere aos horários de uso, alguns participantes pontuaram apenas o
período de tomada (manhã ou noite) enquanto outros foram mais precisos ao definir a hora
em que o remédio era ingerido ou administrado. De modo geral, houve pouca divergência
entre as informações das díades nessa questão.
Na medida em que tem sido comum, na prática cotidiana dos serviços, queixas
sobre esquecimentos do adolescente quanto à ingestão dos ARV, levando à necessidade da
ação do cuidador na lembrança de horários e doses, foi investigado quem lembrava de
tomar os medicamentos, aspecto que buscava averiguar também o nível de autonomia e
comprometimento do jovem com seu tratamento. Os relatos indicaram que o papel dos
cuidadores tem sido muito relevante, pois em oito díades foi evidenciada sua participação
quanto a lembrar os jovens do horário de uso dos remédios. Apenas a cuidadora da D9
referiu a participação efetiva da adolescente, aspecto corroborado por ela própria. Quanto à
participação mais ativa dos adolescentes no tratamento, este aspecto foi enfatizado por
alguns cuidadores, que gostariam que os jovens tivessem mais responsabilidade. O
seguinte relato exemplifica essa posição: E eu estou deixando ela fazer sozinha porque
33
ela vai fazer 15 anos então, como sou eu e ela em casa, às vezes a gente acaba super-
protegendo e ficando muito em cima, então [ela] se acomoda (C3)”.
Tabela 3. Aspectos do tratamento anti-retroviral, segundo relatos de adolescentes e seus
cuidadores (N=18).
Díades
Nomes dos ARV
Horários
Quem lembra o uso da
TARV?
A
AZT, ddI
Manhã e noite
A e C
C
AZT, ddI
8h, 20h
A e C
1
P*
AZT, ddI
12/12h
A
AZT, T20, Kaletra
Manhã e noite
A e C
C
T20 e outro
7h, 19h
C
2
P
T20, Kaletra, 3TC, TDF
12/12h
A
EFZ, 3TC, d4T
Manhã e noite
A
C
EFZ, 3TC, d4T
Manhã, noite e antes de
dormir
A e C
3
P
EFZ, 3TC, d4T
3TC e d4T de 12/12h EFZ
antes de dormir
A
Não soube informar
Manhã e noite
C
C
AZT, ddI, Kaletra
Manhã e noite
C
4
P
AZT, ddI, Kaletra
AZT e Kaletra de 12/12h e 1
ddI/dia
A
EFZ e outros
Manhã e noite
A e C
C
Não soube informar
7h, 22h
A
5
P
AZT, 3TC, EFZ
AZT e 3TC de 12/12h e
EFZ antes de dormir
A
ddI, Kaletra, d4T
Manhã, 20/21h
C
C
ddI, Kaletra
7/8h; 19/20h
C
6
P
ddI, Kaletra, d4T
12/12h
A
AZT e 3TC
Manhã e noite
C
C
AZT, 3TC RTV
7h e 19h
C
7
P
AZT, 3TC, RTV
12/12h
A
Não soube informar
Ao acordar e antes de
dormir.
C
C
AZT e outros
Manhã e noite
C
8
P
AZT, 3TC e EFZ
AZT e 3TC de 12/12h e
EFZ antes de dormir
A
AZT, DDI e outro
7/8 h; 19/20h e
antes de dormir
A
C
AZT, EFZ e outro
12/12h
A
9
P
AZT, 3TC e EFZ
AZT e 3TC de 12/12h e
EFZ antes de dormir
Nota. P*: Prescrição da medicação tal como consta no prontuário do paciente.
34
Como pode ser observado na Tabela 3, cinco cuidadores não souberam informar
corretamente o nome das medicações prescritas aos adolescentes. Todavia, os cuidadores
informaram com mais exatidão os horários da administração dos ARV, possivelmente
porque cumprem um papel efetivo ao lembrar os horários das tomadas. Foi observado no
caso de uma cuidadora que a administração dos ARV estava ocorrendo de maneira
diferente da que havia sido prescrita: C4 informou que passou a dar os remédios de A4 no
horário de sua própria medicação para incentivá-lo a melhorar a adesão e para que este não
precisasse ingerir os ARV na escola. A cuidadora relatou que estava obtendo bons
resultados com essa mudança e que havia informado à médica sobre a alteração de horário,
conduta de sua iniciativa. Esse relato ilustra as estratégias de enfrentamento adotadas pelos
cuidadores para melhorar a adesão dos adolescentes, ao solucionar problemas e reduzir
barreiras à adesão.
Os níveis de adesão dos adolescentes foram avaliados com base no número de
comprimidos não ingeridos em relação ao número de comprimidos do esquema
terapêutico, nos últimos três e sete dias, mediante auto-relato. Esses resultados estão
descritos na Tabela 4, incluindo a informação sobre atrasos e a avaliação da conduta de
adesão à TARV pelo jovem e pelo cuidador.
De modo geral houve pouca concordância entre os integrantes das díades na
avaliação da adesão, exceção das díades 1, 3 e 9. Três adolescentes avaliaram que sua
adesão era melhor do que a descrita pelos cuidadores e quatro cuidadores avaliaram a
adesão dos jovens sob seus cuidados mais positivamente que eles próprios. Apenas uma
adolescente (A9) avaliou sua adesão como muito boa, três adolescentes avaliaram como
boa e cinco como regular. Uma cuidadora (C2) avaliou a adesão como ruim.
Como pode ser observado na Tabela 4, três adolescentes e uma cuidadora relataram
perda de comprimidos no período investigado (A1, A2, C4 e A8), sendo que A1 e A4
referiram não ingestão de número superior a 5%, percentual que pode afetar a eficácia do
tratamento anti-retroviral. Tendo em vista que a adesão aos ARV deve ser de, pelo menos,
95% dos comprimidos/doses prescritos, indícios de que a adesão desses quatro
adolescentes possa estar em níveis insuficientes. Essa realidade é reconhecida por eles
próprios e/ou seus cuidadores ao avaliarem modestamente a conduta de adesão. Além da
perda de comprimidos/cápsulas, atrasos nas tomadas também podem prejudicar a eficácia
do tratamento: sete dos nove adolescentes relataram atrasos, em quantidade e freqüência
diversas, aspecto que deve ser valorizado ao avaliarmos a adesão à TARV.
35
Tabela 4. Conduta de adesão ao tratamento anti-retroviral e sua avaliação pelos
adolescentes e cuidadores (N=18).
Díades
Número de
comprimidos
diários
Comprimidos
não ingeridos nos
últimos 3 e 7 dias
Atrasos
Avaliação
da adesão
A
6 0/6 Sim (pouco) Regular
C
6 0/0 Sim (às vezes) Regular
1
P*
6
A
7 0/1 Sim (muito) Regular
C
Não sabe 0/0 Sim (muito) Ruim
2
P
11
A
5 0/0 Sim (só nas férias) Boa
C
5 0/0 Não Boa
3
P
5
A
11 0/0 Sim (pouco) Boa
C
5 10/10 Não Regular 4
P
13
A
3 0/0 Sim (quase todo dia) Regular
C
Não sabe 0/0 Sim (à noite) Boa
5
P
3
A
7 0/0 Não Regular
C
4 0/0 Sim (às vezes) Muito boa 6
P
7
A
10 0/0 Não Regular
C
6 0/0 Sim (mais à noite) Muito boa
7
P
10
A
3 1/1 Sim Boa
C
3 0/0 Não Regular
8
P
3
A
5 0/0 Sim (pouco) Muito boa
C
5 0/0 Não Muito boa 9
P
5
Nota. P*: Prescrição da medicação tal como consta no prontuário do paciente.
Um dado importante se refere às situações citadas pelos entrevistados nas quais a
perda de doses dos ARV é mais comum. As respostas foram categorizadas e estão
apresentadas na Tabela 5. A maioria negou a ocorrência de situações que favorecessem a
perda de doses, valendo destacar que grande parte desse tipo de relato foi de cuidadores
(sete em nove). as categorias situações sociais e atividades concorrentes tiveram os
adolescentes como seus respondentes principais (oito em nove). Este fato chama atenção
para o eventual desconhecimento dos cuidadores sobre quais são as situações que
dificultam ou se constituem em barreiras à adesão dos jovens. Maior comunicação sobre
contingências dificultadoras da adesão entre adolescente, cuidador e profissional de
saúde pode favorecer o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento que permitam
36
garantir o uso adequado dos ARV em contextos sociais ou em outras situações do
cotidiano nos quais os adolescentes possam se sentir inseguros para tomar os
medicamentos, como diante de terceiros. No caso de atividades cotidianas concorrentes,
dicas e estratégias diversas podem ser implementadas.
Tabela 5. Categorias de situações nas quais a perda de doses é mais comum, segundo
relatos de adolescentes e cuidadores
(N=18).
Categoria F Exemplos de relatos
Nenhuma
situação
9
“Não, eu levo os remédios quando a gente vai sair” (A6)
“Não, geralmente ele viaja só comigo e quando sai leva até a mais.
E só dorme na casa de parente” (C7)
Situações sociais
6
“Se for na hora da escola eu não tomo de jeito nenhum” (A7)
“Quando eu tô na casa dos outros. (...) eu espero ir no banheiro e
tomo” (A2)
“Quando ele dorme na casa de amigo. (...) porque os meninos
perguntam e é muito remédio, né?” (C4)
Atividades
concorrentes
3
“Quando eu durmo assistindo televisão” (A8)
“Quando eu saio. (...) aí tem que levar na caixinha” (A1)
Ao lado do auto-relato sobre a adesão, buscou-se investigar dados objetivos
referentes aos indicadores imunológicos e virológicos. A Tabela 6 traz os resultados dos
últimos exames de carga viral e CD4 dos adolescentes, segundo relatos deles próprios, de
seus cuidadores e das informações colhidas nos prontuários.
Destaca-se que os dados levantados nos prontuários se referem ao último exame
realizado antes da entrevista, em relação aos quais as díades supostamente tivessem
conhecimento sobre os resultados. Optou-se ainda por adicionar informações acerca da
história do caso, com destaque para questões relativas à adesão e ocorrência de intervenção
psicológica.
37
Tabela 6. Resultados dos exames de carga viral e CD4 relatados pelos adolescentes,
cuidadores e de acordo com os dados obtidos nos prontuários (N=18).
Díades
Carga Viral** CD4**
Observações sobre adesão à TARV obtidas de
fontes diversas***
A
4.000
Não sabe/ Não
lembra
C
13.000
Não sabe/ Não
lembra
1
P*
22.154 468
Possui histórico de dificuldades de adesão reconhecida por ele,
cuidadores e profissionais de saúde. Teve atendimento
psicológico para trabalhar adesão quando era mais jovem.
Interrompeu por iniciativa própria e se recusa a retomar. Há
evidências de melhoria na conduta de adesão, mas ainda
apresenta perdas de doses
A
Não sabe/ Não
lembra
Não sabe/ Não
lembra
C
Não sabe/ Não
lembra
100 e pouco
2
P
10.692 192
Possui histórico de dificuldades de adesão. Fez genotipagem e
iniciou T20 (inibidor de fusão) com novo esquema terapêutico
em 2008. Teve atendimento psicológico para trabalhar adesão e
outras questões em 2007 e início de 2008, incluindo orientação
aos cuidadores
A
Não sabe/ Não
lembra
Não sabe/ Não
lembra
C
Negativa
Não sabe/ Não
lembra
3
P
< limite mínimo 842
C3 participou de grupo de cuidadores e A3 de grupo de jovens
com HIV em duas ocasiões. Não havia relatos sobre
dificuldades de adesão
A
Não sabe/ Não
lembra
Não sabe/ Não
lembra
C
Indetectável
Não sabe/ Não
lembra
4
P
< limite mínimo 965
Não havia relatos sobre dificuldades de adesão
A
Não sabe/ Não
lembra
Não sabe/ Não
lembra
C
Não sabe/ Não
lembra
Não sabe/ Não
lembra
5
P
8.682 552
Possui histórico de dificuldades de adesão, segundo relatos da
cuidadora. C5 recebeu orientação psicológica para lidar com
dificuldades de adesão do jovem em 2005, sendo que A5
também foi atendido, mas não aderiu a essa modalidade de
atendimento
A
Não sabe/ Não
lembra
Não sabe/ Não
lembra
C
Não sabe/ Não
lembra
Não sabe/ Não
lembra
6
P
188.895 214
Possui histórico de dificuldades de adesão. Teve atendimento
psicológico quando tinha 6 anos para trabalhar perda da mãe,
adaptação à família adotiva, revelação e adesão. Foi pedido
exame de genotipagem em junho/08
A
Indetectável
Não sabe/ Não
lembra
C
Não sabe/ Não
lembra
Não sabe/ Não
lembra
7
P
< limite mínimo 1.147
Possui histórico de dificuldades de adesão. Teve atendimento
psicológico para trabalhar adesão e outras questões em 2007
A
Não sabe/ Não
lembra
Não sabe/ Não
lembra
C
500 e pouco
Não sabe/ Não
lembra
8
P
140 509
Recebeu atendimento psicológico no Com-Vivência para
revelação sobre a condição de filho adotado e aprimoramento
do processo de revelação do diagnóstico de HIV. Não havia
relatos sobre dificuldades de adesão
A
Não sabe/ Não
lembra
Não sabe/ Não
lembra
C
2.000 e pouco 100 e pouco
9
P
< limite mínimo
773
Não havia relatos sobre dificuldades de adesão
Nota. P* Dados obtidos no prontuário do paciente; ** Resultados de exames anteriores à realização da
entrevista; *** Informações obtidas de registros nos prontuários do serviço médico ou em dados do
Projeto Com-Vivência/HUB, onde o jovem recebeu atendimento psicológico.
38
Com relação ao conhecimento dos últimos resultados dos exames de carga viral e
CD4, foram evidenciadas grandes lacunas nessa informação. Dentre as dezoito pessoas
entrevistadas, dez não souberam informar nenhum dos dois resultados e sete participantes
relataram ou estimaram apenas um destes resultados. Em relação às respostas sobre os
níveis da taxa de linfócitos T CD4, observou-se que dezesseis participantes afirmaram não
saber ou não lembrar do resultado, sendo que duas cuidadoras fizeram estimativas dos
resultados, porém com erros. Apenas uma delas (C2) se aproximou do dado tal como
constava no prontuário. A comparação entre os relatos desses resultados pelos
entrevistados e os valores exatos desses exames podem ser melhor observados na Tabela 6.
Os relatos que corresponderam fielmente aos dados registrados nos prontuários
foram relativos a exames que revelaram carga viral abaixo de 50 cópias, denominados
como “carga viral indetectável”. Considera-se que seja mais fácil lembrar de um resultado
não-numérico, ao contrário de um número preciso. Dos quatro casos nos quais esse
resultado ocorreu, três entrevistados (dois cuidadores e um adolescente) relataram de modo
fidedigno os valores da carga viral. Os participantes que não souberam precisar o número
exato fizeram afirmações como (...) não lembro quanto deu não. A médica falou que
estava razoável para a minha quantidade de carga viral (A1)” ou “(...) a carga viral eu
não sei, mas tava bem alta (C2)”.
Esses dados permitem aventar que os resultados desses exames, marcadores
importantes da condição imunológica e do sucesso do tratamento devido à supressão viral,
talvez não estejam sendo informados e esclarecidos de modo suficiente nas consultas e/ou
atendimentos. Esforços educativos devem ser adotados, tendo em vista a compreensão e
valorização dessa informação pelos cuidadores e adolescentes, incluindo a associação entre
adesão adequada, carga viral indetectável e células CD4 em níveis satisfatórios. Vale
destacar ainda que os adolescentes em relação aos quais não havia queixas de problemas de
adesão pelo cuidador e pelo profissional de saúde apresentaram os níveis mais altos de
CD4 e carga viral indetectável, à exceção de A7, que parecia ter superado as dificuldades
anteriores.
Houve um relato de interrupção do tratamento anti-retroviral: C7 informou que
desconfiou de que A7 havia interrompido o tratamento no ano anterior (2007). Essa
suspeita foi gerada devido à quantidade de comprimidos que estava sobrando no frasco a
cada mês. Segundo a cuidadora, o adolescente negou a interrupção, porém a descoberta foi
confirmada pelo aumento da carga viral, que esteve indetectável por três anos. A
interrupção teria durado cerca de quatro meses. Confrontando esta informação com os
39
dados do prontuário de A7, pôde-se verificar que o adolescente esteve com carga viral
abaixo de 50 cópias desde 2003 e, em 2006, houve um período em que esta taxa aumentou,
voltando posteriormente ao valor abaixo do limite mínimo detectável. Pode-se inferir que
A7 voltou a tomar a medicação de maneira adequada, tal como informado pela cuidadora.
O atendimento psicológico teve como objetivo superar as dificuldades de adesão.
Analisando os resultados desses exames individualmente, dois casos indicam
condição de gravidade: A2 e A6. No primeiro caso, estava em uso um novo esquema
terapêutico com anti-retroviral injetável (T20), da categoria inibidor de fusão, anti-
retroviral administrado em caso de falência terapêutica. Esse novo esquema foi definido a
partir de exame de genotipagem
1
. Quanto a A6, era evidente uma situação de grande
vulnerabilidade em função de carga viral elevada e CD4 baixo. Para esse jovem estava em
andamento exame de genotipagem para mudança do esquema terapêutico.
Observou-se ainda que, de acordo com dados obtidos no prontuário, havia indícios
de que A5 não estava realizando os exames de CV e CD4 quando solicitado pelo médico.
O resultado do exame utilizado nessa pesquisa data de maio de 2007, quase um ano antes
da entrevista, apesar de constar no prontuário que este tinha sido solicitado. A freqüência
de realização desses exames é variável, porém costuma ocorrer cerca de três vezes ao ano.
Vale destacar que adesão ao tratamento não se limita à TARV, mas inclui outras práticas
como comparecimento às consultas, realização de exames, entre outras ações de auto-
cuidado.
Cuidadores relataram ainda que sabiam se o adolescente havia deixado de tomar a
medicação pelo número de comprimidos que restavam no vidro, ou a partir de outras
estratégias semelhantes tais como: Isso eu testei várias vezes, a gente coloca a
medicação para tantos dias e pergunta ‘tomou o remédio?’ ‘tomei’, a gente vai ver e
a quantidade do mesmo jeito. Pela quantidade para perceber que ele não toma
direito (C1)”. Essas estratégias podem ser válidas, mas devem ser usadas de modo
cooperativo pelo cuidador, de preferência com consentimento do jovem, para que não
adquiram tom autoritário, o que pode ser contraproducente.
Foi investigada também a percepção dos jovens sobre os medicamentos anti-
retrovirais, cujos trechos de relatos estão transcritos na Tabela 7. Dentre as respostas dadas
pelos jovens, observa-se três categorias: opiniões favoráveis, opiniões desfavoráveis e
opiniões ambivalentes.
1
Usado quando existe resistência do HIV ao esquema anti-retroviral em uso, o que está diretamente
relacionado à falha da terapia anti-retroviral (Brasil, 2008e).
40
Tabela 7. Opinião dos adolescentes sobre os medicamentos anti-retrovirais (n=9).
Categorias F
Exemplos de Relatos
“É ruim ter que acordar cedo” (A7)
Opiniões
desfavoráveis
5
“Acho ruim. (...) Porque tem que tomar aquele remédio todo dia, é isso”
(A9)
“Eu acostumei. Eu nasci assim, tomo desde um ano e meio. É bom, porque
impede o vírus de multiplicar. Mas não faz diferença porque como é de
manhã e de noite, na escola não tem mais aquele constrangimento de
perguntarem o que eu tô tomando. Não tem esse problema, é mais
tranqüilo”(A3)
Opiniões
favoráveis
3
“Acho que é bom. Tem vezes que eu fico meio assim... mas eu sei que é pra
melhorar minha saúde” (A5)
Opiniões
ambivalentes
1
“Eu acho muito ruim, né? Mas nem tudo que é ruim é mau. Tem coisas ruins
que são maravilhosas. É bom e ruim. (...). Melhor tomar todos os dias que
ficar no hospital todo mês.(...) Quando tá fora de casa tem que voltar pra
casa tomar, se for pra casa de alguém tem que ficar carregando...” (A2)
Os relatos desfavoráveis foram mais freqüentes (cinco casos) e ressaltaram as
dificuldades como a quantidade de comprimidos, responsabilidade com horários e rotinas,
necessidade de acordar cedo para ingerir a medicação, presença de efeitos colaterais e o
fato de ser um compromisso de longo prazo. Os relatos favoráveis (três casos) aos ARV
salientaram os efeitos benéficos dos medicamentos para a saúde.
O relato ambivalente ponderou os aspectos positivos e negativos do uso da
medicação. Um adolescente destacou que a ingestão correta da medicação dependia de
esforço e responsabilidade. Esses dados indicam a importância de identificar e conhecer as
crenças dos jovens sobre os ARV, visando modificar as de cunho negativo, valorizando as
vantagens da TARV em detrimento de eventuais desvantagens.
4.2 Revelação do diagnóstico
Este tema foi investigado a partir de questões como a idade do adolescente quando
se deu a revelação do diagnóstico, quem revelou e os motivos da revelação (Tabela 8). Foi
pesquisada também a percepção acerca das vantagens e desvantagens do processo de
revelação e a reação dos jovens à revelação. Destaca-se que esse tema da pesquisa, como
trata de assunto ocorrido no passado, pode sofrer influência de processos de memória. No
caso dos adolescentes, a capacidade de memorizar fatos ocorridos na primeira infância
41
pode ser prejudicada pelo nível de maturidade cognitiva. É possível também que relatos
dos jovens sobre o tema decorram da memorização de relatos de seus familiares.
Tabela 8. Aspectos do processo de revelação do diagnóstico, segundo relatos dos jovens e
cuidadores (N=18).
Díades
Idade do
adolescente
Quem revelou
Motivos para a
revelação
A
4 anos Tia Não foi explicitado
1
C
8 anos Psicólogo do Com-Vivência Não foi explicitado
A
8 anos Avó Curiosidade
2
C
5 anos Avó e médica Curiosidade
A
7 anos Avó Não soube informar
3
C
11/12 anos Avó Problemas de adesão
A
11 anos Pais Não soube informar
4
C
11/12 anos Mãe Problemas de adesão
A
10 anos Médico Problemas de adesão
5
C
12/13 anos Médico Não soube informar
A
10 anos Descobriu sozinho Não soube informar
6
C
8 anos Psicólogo do Com -Vivência Problemas de adesão
A
8 anos Descobriu sozinho Não soube informar
7
C
7 anos Não sabia quem tinha revelado Não soube informar
A
14/15 anos Tio
Não soube informar
8
C
13/14 anos Não sabia quem tinha revelado Curiosidade
A
5 anos Mãe Curiosidade
9
C
10 anos Mãe Curiosidade
Conforme é possível observar na Tabela 8, houve divergência na maioria das díades
(n=6) no que diz respeito à idade na qual ocorreu a revelação do diagnóstico. Em cinco
casos o adolescente informou uma idade menor se comparada à que foi relatada pelo
cuidador, permitindo supor que a criança/adolescente possivelmente sabia sobre o seu
diagnóstico, enquanto o cuidador pensava que essa informação ainda seria desconhecida
por ele. As contradições entre os relatos dos integrantes das díades permitem inferir que os
processos de revelação não foram planejados e/ou se deram em contextos de pouca
comunicação.
Quanto à pessoa que informou sobre a sorologia, as respostas foram mais
consoantes. Cinco díades ofereceram respostas semelhantes ou idênticas (D2, D3, D4, D5,
e D9), duas forneceram respostas divergentes (D1 e D6) e em dois casos (D8 e D7) os
cuidadores afirmaram não saber quem havia comunicado sobre o diagnóstico para o
adolescente. As pessoas que participaram dos processos de revelação foram o próprio
42
cuidador, outras pessoas da família e profissionais de saúde. Os motivos para a revelação
foram basicamente dois: problemas de adesão ou resposta a perguntas e questionamentos
freqüentes, indícios da curiosidade da criança sobre sua condição de saúde.
Foi investigada também a reação das crianças/adolescentes à revelação, cujos
relatos estão transcritos na Tabela 9. Foram observadas duas categorias de reações: (1)
reações emocionais e psicológicas decorrentes do impacto da notícia; (2) reação do tipo
não senti nada, não foi nada”. Nota-se que os relatos incluídos na primeira categoria
foram mais freqüentes na fala dos cuidadores (oito cuidadores e quatro adolescentes),
sendo que na segunda categoria predominaram os relatos dos jovens (um cuidador e cinco
adolescentes). Esse dado pode indicar dificuldades quanto a expressar reações psicológicas
e emocionais negativas relacionadas à soropositividade por parte dos adolescentes.
Congruente com essa constatação, foi observado que para os adolescentes (na
visão deles próprios e de seus cuidadores) não falar sobre HIV/aids se traduziria em “não
se sentir soropositivo”, “não parecer que tem HIV”. A comunicação sobre HIV/aids em
casa pareceu restrita a lembrar de tomar os ARV. Um exemplo disso é uma fala de C1 que
disse eu não sei o que ele pensa”. Mesmo os cuidadores que relataram comunicação mais
aberta e franca com os adolescentes (C3 e C9) afirmaram que os jovens não gostam de
conversar a esse respeito.
Tabela 9. Relatos sobre a reação dos adolescentes à revelação (N=18).
Categorias F
Reação à revelação
Ocorrência de
reações emocionais e
psicológicas
11
“Raiva, tristeza, várias coisas misturadas. (...) até raiva da minha mãe
mesmo” (A2)
“Ele é revoltado com os pais (...) até com o irmão porque o irmão dele
não tem” (C1)
“Nos dois primeiros dias ela continuava ansiosa (...) mas depois foi
acalmando” (C3)
“(...) falou que ia morrer, que não era igual aos outros, não queria
estudar, não queria fazer nada, ficou completamente revoltado” (C7)
Ausência de reação
emocional relevante
7
“Não senti nada não” (A9)
“Ele é muito difícil de mostrar as emoções” (C6)
“Não foi nada” (A7)
A Tabela 10 apresenta a percepção de vantagens quanto a ter conhecimento do
diagnóstico, na visão dos jovens e dos cuidadores, agrupadas em categorias, com exemplos
43
de relatos. Observou-se que a maior parte dos relatos (n=13) destacou as vantagens da
revelação, tanto de cuidadores quanto de adolescentes, porém cinco participantes não
indicaram vantagens (3 cuidadores e 2 adolescentes). Uma das categorias relatou vantagem
da condição de soropositividade em função de ganho secundário, mas não o fato de o
adolescente estar informado sobre seu diagnóstico.
Tabela 10. Categorias identificadas sobre vantagens de o jovem saber sobre o diagnóstico
de HIV e freqüências de ocorrência (N=18).
Categorias F Exemplos de Relatos
Facilitação do
auto-cuidado e da
adesão
8
“Tem (...) ele tá se cuidando melhor depois que ficou sabendo. (...)
você tem liberdade de explicar as coisas que realmente importam pra
ele” (C6)
“Acho que é bom saber que tem o vírus HIV do que tomar remédio
sem saber pra que é”(A6)
Não há vantagens
5
“Não, porque eu pensei que ele ia mudar eu contando pra ele, que ia
ter responsabilidade (...) mas tá do mesmo jeito”(C4)
“(...) não achei nenhuma diferença. Nem vantagem, nem
desvantagem” (C1)
Prevenção da
transmissão para
outras pessoas
3
“(...) por ele saber ele brincava e se machucasse não deixava ninguém
tocar”(C7)
“Para poder não passar para outra pessoa, para não transmitir quando
engravidar” (A2)
Melhor
compreensão se
souber cedo
1
“Porque depois de uma certa idade fica mais difícil de entender” (A9)
Ganho
secundário
1
“Sim, eu não pago passagem de ônibus” (A1)
Investigou-se ainda a percepção de desvantagens do processo de revelação. A
maioria dos entrevistados (n=13) respondeu que não havia desvantagem, sendo sete
adolescentes e seis cuidadores. Dois entrevistados (A7 e C9) afirmaram que havia
desvantagens na revelação. Para três participantes a pergunta não foi realizada (2
cuidadores e um adolescente). Por fim, um dado adicional que corrobora a maior
percepção de vantagens em detrimento de desvantagens se deve ao fato de que cinco
cuidadores (C3, C4, C6, C8, C9) relataram ter sentido alívio após a revelação, pela redução
do ônus emocional ocasionado pela manutenção do segredo.
44
O conjunto de respostas a esse tema permite concluir sobre o predomínio de
aspectos positivos e vantajosos da revelação na percepção dos jovens e de seus cuidadores.
Tabela 11. Opinião dos jovens sobre quando e quem deveria revelar o diagnóstico (n=9).
Adolescentes
Com qual
idade?
Quem deveria
contar?
Exemplos de relatos
A1
13 anos
A2
4 anos
A3
6 ou 7 anos
A4
Quando fosse
pequena
A5
10 anos
A6
6 ou 7 anos
A8
8 ou 9 anos
Cuidadores/pais
“Não adianta nada não contar porque acha
que vai ser ruim, porque uma hora ela vai
saber e pode até ficar com raiva dos pais por
não ter falado aquilo” (A2)
“A forma mais certa a mãe, o pai. Não por
outras pessoas que não estejam envolvidas
diretamente”(A3)
“Quem tinha que contar mais eram os pais,
né? Eles sabem como são os filhos” (A5)
A7
10 anos Equipe de saúde
“Os médicos deviam falar. (...) Devia contar
com uns 10 anos, antes de ela descobrir”
A9
7 ou 8 anos Não respondeu
Nota. A ordem dos entrevistados foi modificada para melhor apresentação dos dados.
Os adolescentes reafirmaram a importância de que a revelação deveria ser feita
pelos pais ou por alguém da família que fosse mais próximo do ponto de vista afetivo.
Segundo opinião dos participantes, predominou como momento mais adequado para a
revelação idades inferior a 10 anos.
As respostas dos cuidadores também ressaltaram o papel dos familiares no processo
de revelação e a infância como um momento oportuno, sem diferenças relevantes em
comparação com os jovens. Destaca-se que muitos cuidadores enfatizaram a importância
de se prepararem para a revelação, contando com apoio das equipes de saúde.
45
Tabela 12. Opinião dos cuidadores sobre quando e quem deveria revelar o diagnóstico
(n=9).
Cuidadores Com qual idade?
Quem deveria
contar?
Exemplos de relatos
C2
Quando descobrir
C3
10 anos
C4
11 anos
C6
Desde pequeno
C8
5 anos
C9
10 anos
Cuidadores/pais
“Na minha opinião, é o seguinte: eu acho
que os pais deveriam contar” (C6)
“Eu acho que a própria pessoa, mãe ou
quem tá criando” (C8)
“Eu acho a mãe deve contar e a partir
dos dez anos se pudesse” (C9)
C1
8 ou 9 anos Psicólogos
C7
Infância
Equipe de saúde e
família
“Seria melhor que os profissionais de
saúde contassem junto com a família,
porque a família é a base” (C7)
C5
Não respondeu Não respondeu
Nota. A ordem dos entrevistados foi modificada para melhor apresentação dos dados.
4.2.1 Comunicação do diagnóstico para terceiros
Foi perguntado também sobre quem tinha conhecimento do diagnóstico. Os relatos
de jovens e cuidadores foram categorizados, conforme descrição na Tabela 13.
Observou-se que a informação do diagnóstico ainda se restringe ao âmbito da
família. Foram poucos os relatos indicando revelação para pessoas da escola, e mesmo
quando a informação tinha sido dada no contexto escolar se limitou à direção e, em alguns
casos, a professores. Os relatos sobre conhecimento de vizinhos acerca da soropositividade
indicaram conteúdos sugestivos de reações preconceituosas, que ocasionaram desconforto
aos jovens, como no caso da fala de A2.
Foi perguntado ainda aos adolescentes se havia alguém que não sabia do
diagnóstico para quem eles gostariam de contar. Sete deles responderam que não tinham
vontade de contar para ninguém. Em relação aos amigos dos jovens também é grande a
preocupação quanto ao sigilo: dois participantes (A3 e A5), apesar de terem dito que
tinham vontade de contar, referiram insegurança quanto à reação dos amigos. Essas
respostas indicam o medo do preconceito e de reações sociais desfavoráveis diante da
condição de soropositividade.
46
Tabela 13. Pessoas com conhecimento sobre o diagnóstico, segundo relatos dos
participantes (N=18).
Categorias F Exemplos de Relatos
Família
18
“Meus irmãos, meu padrasto, meu tio... Na escola ninguém sabe” (A4)
“Só minha família sabe, eu não gosto de ficar comentando” (C8)
Vizinhos
7
“Tem uns meninos lá na rua que falam, mas eu não ligo” (A5)
“Lá onde eu moro todo mundo sabe. Eu detesto isso de todo mundo
saber”(A2)
Escola
5
“Só minha família e essas três pessoas da escola” (C6)
“(...) Na escola alguns professores sabem” (A1)
Amigos
1
“Meus amigos só alguns sabem, mas reagem normalmente como se nada
tivesse acontecido” (A1)
Amigos do
cuidador
1
“Tem uma amiga aqui que sabe, porque tem horas que a gente tá pesado
com alguma coisa” (C3)
Nota. Os entrevistados deram mais de uma resposta, assim a freqüência é maior que o número de
entrevistados.
A revelação do diagnóstico poderia propiciar menor resistência e maior abertura na
comunicação sobre HIV/aids. Entretanto, o que foi relatado pelos entrevistados é que, em
muitos casos, a comunicação não ocorria e, quando se dava, era superficial (Tabela 14).
Como pode ser observado na Tabela 14, a comunicação sobre a soropositividade
parece ocorrer mais freqüentemente com o cuidador e a equipe de saúde (médicos e
psicólogos). Em alguns casos, apesar de o adolescente referir não falar com ninguém sobre
o tema HIV/aids, o cuidador relatou que procurava conversar sobre o assunto aproveitando
alguma oportunidade como reportagens, novelas e outras situações que propiciavam o
diálogo.
47
Tabela 14. Pessoas com quem os jovens conversam sobre HIV/aids, segundo relatos dos
participantes (N=18).
Categorias F
Exemplos de Relatos
Ninguém
10
“Até hoje ele não conversa sobre o assunto. É como se ele não fosse
soropositivo” (C6)
“A única coisa que fala é o remédio (...) de resto não me preocupo com
isso não. A gente não conversa sobre o assunto” (C8)
Médicos
4
“As dúvidas que eu tenho são poucas, aí eu pergunto pra médica” (A1)
“A conversa que ela tem é aqui. (...) em casa eu insisto (...) mas noto que
ela evita tocar no assunto” (C2)
Cuidador
4
“Com minha vó e aqui [com a equipe], porque abertura falta” (A3)
“Ela conversa só comigo mesmo” (C9)
Psicólogos
2
“Aqui no Com-Vivência tem os psicólogos, mas em casa não. A gente só
conversa dos medicamentos, que ele tem que tomar para ter uma vida
saudável” (C1)
“Ele conversou com o psicólogo lá no Com-Vivência, né, sobre o
problema dele, mas nem em casa ele não fazia comentários” (C6)
Amigos
1
“Meus amigos (...) mas reagem normalmente como se nada tivesse
acontecido” (A1)
Familiares
1
“Mais o meu irmão”(A8)
Nota. Os entrevistados deram mais de uma resposta, assim a freqüência é maior que o número de
entrevistados.
4.3 Estresse
Os escores obtidos pelos adolescentes na ESA estão apresentados na Tabela 15: o
escore total sobre sintomas (Stotal), fases (Ftotal) e sintomas em quatro dimensões
(psicológico, cognitivo, fisiológico e interpessoal). Com base nos pontos de corte para
definição de ocorrência de estresse, nenhum dos nove jovens estava apresentando estresse.
Com o objetivo de explorar a contribuição da escala em relação à variável estresse,
procedeu-se à análise dos escores das quatro dimensões. A Tabela 15 descreve os escores
obtidos pelos participantes. Optou-se por avaliar, com mais detalhe, apenas os sintomas, na
medida em que nenhum adolescente ultrapassou o ponto de corte para fases do estresse.
48
Tabela 15. Resultados da ESA com base nos escores obtidos pelos adolescentes (n=9).
Adolescente STotal FTotal Psicológico Cognitivo Fisiológico
Interpessoal
A1 masc
2,45 2,54
3,37
1,5 1,77
2,8
A2 fem
3,0 3,27 2,75
3,66 3,11 3,2
A3 fem
1,88 2,22 1,87 1,83 2,0 1,8
A4 masc
1,95 1,86 1,75 2,16 1,44
3,2
A5 masc
1,88 2,26 1,91 1,16 1,66
2,8
A6 masc
1,79 2,25 1,75 2,33 1,66 1,6
A7 masc
1,95 2,36 2 1,66 1,77 2,6
A8 masc
1,54 2,09 1,66 1,5 1,55 1,0
A9 fem
1,04 1,11 1,04 1,0 1,11 1,0
Nota. Pontos de corte da ESApara ausência de estresse - Rapazes: STotal<2,64; Ftotal <2,86; Psico<3,50;
Cogni<2,83; Fisio<2,89;Inter<2,60. Moças: STotal<3,11; Ftotal< 3,36; Psico<3,50; Cogni<2,83; Fisio<2,89;
Inter<2,60.
Quatro adolescentes (A1, A2, A4 e A5) obtiveram escores indicativos de estresse
em algumas dimensões. No caso de A1, mesmo que o valor do escore total tenha sido
inferior à pontuação de corte, ele apresentou sintomas de estresse em dois domínios:
psicológico e interpessoal. A2, de modo semelhante, apresentou predomínio de sintomas
indicativos de estresse nas dimensões cognitiva, fisiológica e interpessoal. A4 e A5
apresentaram escores acima do ponto de corte no domínio interpessoal.
Analisando os resultados dos nove casos, pode ser constatado que o sintoma mais
freqüente que atingiu quase a metade dos participantes foi o domínio interpessoal. Esse
dado é relevante, tendo em vista os aspectos estigmatizantes da soropositividade que
podem afetar as relações sociais.
No caso de A2, os resultados se mostraram mais evidentes tendo em vista os
escores acima do ponto de corte em três domínios. Cabe destacar que A2 recebeu
atendimento psicológico em 2007 e 2008, em função de seu interesse e de sua cuidadora,
com incentivo da médica que acompanha o caso. Além de ter iniciado medicamento anti-
retroviral injetável, o avô paterno (viúvo) passou a conviver com uma companheira que
assumiu o papel de cuidadora em 2007, o que ocasionou uma nova organização familiar. A
nova cuidadora, diferentemente da cuidadora anterior (avó materna, falecida em 2006)
fazia mais exigências pela autonomia e responsabilidade de A2 em seu tratamento. Todas
49
essas mudanças pareciam se constituir em situações estressoras. Por falta de
disponibilidade de tempo e pela distância entre a residência e o hospital, o atendimento
psicológico foi interrompido pela paciente, mesmo ainda sendo necessário.
É válido ressalvar, contudo, que como os quatro jovens não ultrapassaram o ponto
de corte no escore total, esse resultado não deve ser considerado indicativo formal de
estresse. Entretanto, é um dado que não pode ser desprezado, merecendo mais investigação
em estudos futuros, inclusive com aportes qualitativos.
4.4 Nível de conhecimento sobre HIV/aids
A adequação das respostas dos entrevistados na seção que investigava o nível de
conhecimento sobre HIV/aids foi julgada com base na quantidade de elementos corretos
que o participante incluía em suas respostas. Os temas avaliados foram definição de aids,
de HIV, as formas de transmissão do HIV, modalidades de prevenção, o que é carga viral e
CD4. Para os jovens também foi perguntado como os ARV atuam no organismo.
Foram formulados parâmetros para definir os elementos corretos que cada resposta
deveria incluir para ser considerada satisfatória ou insatisfatória. A avaliação das respostas
com base nos parâmetros estabelecidos foi conduzida separadamente por dois juízes e,
após confrontação, foi observada concordância de 77,8%.
Caso a resposta tivesse três parâmetros para ser julgada correta (ex: formas de
transmissão do HIV) podia ocorrer as seguintes marcações: + + + quando o entrevistado
apresentava os três parâmetros corretamente, + + se o entrevistado apresentava dois
parâmetros corretos, + para apenas um parâmetro correto e quando nenhum
parâmetro foi citado. Por exemplo, diante da citação das três modalidades (sexual,
sanguínea e vertical), a pessoa receberia três pontos (+ + +), se mencionasse duas,
receberia 2 pontos (+ + −). A explicação detalhada acerca dos parâmetros de julgamento
das respostas está descrita no Anexo 8. A pontuação máxima possível de ser obtida era de
12 pontos (Tabela 15).
A díade com o maior número de acertos foi D3 (dez pontos obtidos por A3 e por
C3) e com maior congruência nas respostas, com acertos e erros semelhantes, o que
permite supor a existência de bom nível comunicação entre a jovem e sua cuidadora. Essa
conclusão é reforçada por outros elementos observados na análise da entrevista da díade.
A díade que obteve o menor número de acertos foi D5 com sete pontos, sendo dois
pontos da cuidadora. C5 obteve a mais baixa pontuação entre os cuidadores. Cabe salientar
que C5 era a cuidadora do adolescente mais velho (17 anos) dentre os participantes. A
50
cuidadora informou que não estava acompanhando o tratamento do neto. Disse que A5 tem
ido sozinho às consultas e é responsável por seus medicamentos. Essas contingências
parecem ter levado a um afastamento da avó das questões relativas ao HIV/aids e podem
justificar seu baixo desempenho nas questões que avaliaram nível de informação.
Tabela 16. Avaliação do nível de conhecimento dos participantes (N=18).
Díades Aids HIV Transmissão Prevenção CV CD4 Total
A
+ + + − + + + + + − + + 10
1
C
* + − + + − − − − + + 5
A
+ − + − + + − + + − 6
2
C
+ + + + + + + + + − + 10
A
+ + + + + + − + + − + + 10
3
C
+ + + + + + − + + − + + 10
A
+ − − − − − − − − − 1
4
C
+ + + − + + − + + + + 9
A
+ − − − + + − + + − 5
5
C
− − − − + + − − − − 2
A
+ + − − − − − − − − 2
6
C
+ + + + + + − + + − + 10
A
− − + − + + − + − − 4
7
C
+ + + − + + − * + + 6
A
+ + + + + + − − − − + 7
8
C
+ − + − + + − − − − 4
A
+ − − − + − − + − − 3
9
C
+ − + − + + − + + − + 7
Nota. * Informação não investigada.
No que diz respeito ao desempenho do conjunto dos participantes, verificou-se que
estes se distribuíram em três grupos: seis participantes (dois adolescentes e quatro
cuidadores) tiveram nove ou mais acertos, seis (três adolescentes e três cuidadores) tiveram
entre cinco a sete acertos e seis entrevistados (quatro adolescentes e dois cuidadores)
tiveram um número de acertos muito baixo (de um a quatro acertos). A4, por exemplo,
obteve apenas um acerto dentre 12 possíveis. Considera-se que esse valor se deveu à
eventual resistência do adolescente em responder às perguntas. A condição de
soropositividade de A4 foi diagnosticada quando tinha 10 anos de idade, e indícios de
que ele ainda apresenta dificuldade de aceitação dessa realidade, segundo relato de sua
cuidadora. Durante a entrevista respondeu, em geral, com monossílabos, o que levou a
entrevistadora a perguntar se ele gostaria de interromper a entrevista, mas A4 afirmou que
51
não queria. A6 também teve um número baixo de acertos, entretanto, isso pode ter sido
conseqüência da dificuldade de audição que estava apresentando (infecção auditiva), além
da introversão deste jovem. Cabe destacar que A9 e A6 foram os mais jovens do grupo (12
anos), o que pode ter levado a algum nível de inibição ao responder a questões sobre
conhecimentos acerca da enfermidade.
Ao definir aids, nove participantes o fizeram corretamente. A conceituação de HIV
trouxe apenas cinco respostas adequadas. Um equívoco comum no que diz respeito ao
nível de conhecimento sobre HIV/aids foi a confusão acerca desses conceitos. Verificou-se
que nove entrevistados (entre cuidadores e adolescentes) não souberam relatar diferenças
entre HIV e aids.
Dos dezoito entrevistados apenas dois (A1 e C2) trouxeram espontaneamente a
transmissão vertical como forma de infecção pelo HIV. Esse dado é surpreendente visto
que os adolescentes entrevistados foram infectados por esta via. A transmissão pelo sangue
contaminado e pelo ato sexual desprotegido foi mais amplamente citada, modalidades que
parecem mais difundidas acerca da infecção pelo HIV.
Foi verificada ainda a ocorrência de crenças equivocadas sobre as formas de
transmissão do HIV. O erro mais comum (citado por cinco adolescentes e seis cuidadores)
foi de que a transmissão do HIV poderia ocorrer através de cortes ou feridas. Apesar de
muitos entrevistados terem recebido informações acerca das formas de transmissão em
atendimentos médicos e psicológicos, essa noção errônea parece persistir. Como exemplo,
podemos destacar a fala de C1 Olha, quando ele era menor aconteceu duas vezes, ele
caiu, machucou e a gente levou ele para o banheiro, ligou o chuveiro, ele mesmo ficou se
limpando. a gente foi fazer os curativos, com luva essas coisas assim, como vocês
mesmo fazem no hospital, né?”. Outros exemplos de concepção equivocada de risco para a
transmissão do HIV foram beijo na boca (C9) e um relato que indicava a necessidade de
higienizar mais cuidadosamente objetos de uso comum (C1).
O preservativo como método preventivo nas relações sexuais foi citado por 10
participantes (seis adolescentes e quatro cuidadores). Além disso, foram citadas outras
estratégias de prevenção tais como o cuidado ao dispensar objetos pérfuro-cortantes (C9) e
os cuidados que a mãe soropositiva deve ter como não amamentar (A3) e realizar o pré-
natal corretamente (A4).
As respostas sobre carga viral e CD4 indicaram que estes são termos com os quais
os entrevistados estão pouco familiarizados. O menor percentual de acertos foi nessas
questões. As definições foram trazidas de maneira rudimentar, com vocabulário simples
52
em cinco casos. Cinco entrevistados souberam responder apenas a um desses conceitos, e
oito participantes não souberam informar o significado de carga viral e de CD4.
Foi constatado ainda o desconhecimento acerca da atuação dos anti-retrovirais no
organismo. Três adolescentes (A4, A6, A7) relataram não saber como isso ocorria. Dentre
os seis que responderam à pergunta, três deles (A1, A3, A5) afirmaram que os ARV
matavam o vírus, o que é uma interpretação equivocada do papel dos ARV. Uma
adolescente (A2) verbalizou sobre os efeitos dos ARV, outra (A9) afirmou que os ARV
combatiam o rus. A8 afirmou que os anti-retrovirais tem a função de o deixar o vírus
entrar na célula CD 4 e A1 relatou que os anti-retrovirais impediam a multiplicação do
vírus.
Os resultados sugerem a necessidade de ações educativas permanentes, com uso de
recursos pedagógicos diversificados, tendo em vista o melhor entendimento sobre
aspectos-chave acerca do HIV/aids, com destaque para os conceitos de CD4, CV e atuação
dos ARV no organismo. Compreender bem esses aspectos pode favorecer o auto-cuidado e
a adesão ao tratamento.
4.5 Estigma
Embora não tenha sido foco explícito de investigação, ocorreram relatos de estigma
em 11 casos. Em cinco casos os relatos foram categorizados como estigma sentido e em
seis, decretado.
Seis entrevistados (dois adolescentes e quatro cuidadores) trouxeram relatos
indicativos da ocorrência de estigma decretado nas vidas destes jovens, como pode ser
observado na Tabela 17.
A maioria desses relatos ilustra casos em que pessoas de fora do círculo familiar
tiveram acesso à informação sobre o diagnóstico e passaram a apresentar diversas
manifestações de estigma e preconceito. Como exemplo podemos citar o discurso de C7 e
de A3 apresentados na tabela abaixo.
Entretanto, amostras de preconceito também foram relatadas no meio familiar do
adolescente. Duas cuidadoras afirmaram que demonstrações de preconceito dentro das
próprias famílias. Exemplificado na Tabela 17 pelo relato de C9. Esta mesma cuidadora
disse que um ex-companheiro quebrou o sigilo e que, devido a isso, A9 passou por
situações de preconceito na rua onde reside.
53
Tabela 17. Ocorrências de estigma sentido e decretado, segundo relatos das díades.
Categorias de
estigma
F Exemplos de relatos
“(...) acho que a avó dele e o avô dele contaram pros vizinhos deles. Aí os
meninos que brincavam com ele começaram a xingar ele de aidético, foi por
isso que ele se revoltou” (C7)
“Aí a coordenadora de esportes disse que quem tem HIV não pode fazer
esporte de contato (...) E a gente era muito próxima, a gente se abraçava,
beijava e aí ela falou que ia ter que fazer um exame. Ai eu peguei o folheto e
mostrei como não se transmite. Mas a partir daí ela não me beijou nem me
abraçou mais” (A3)
Decretado
6
“Quando ela vai para a casa dos avós ela se sente um pouco discriminada
porque ela tem o copo, os garfos, os pratos, tudo separado, daí ela se sente
discriminada” (C9)
“Já tive vontade de contar para um amigo (...) fiquei com vergonha e medo
dele se afastar de mim” (A5)
“Segurei tudo sozinha. Não quis contar para ninguém com medo de alguém
contar na rua e não querer ficar perto dele” (C4)
Sentido
5
“Eu tenho receio de contar e não ter o mesmo sigilo que tinha lá no outro
[colégio] (...) de vazar a informação e ser discriminada pelos colegas de sala”
(C9)
Um dos fatos referidos chamou a atenção por ter sido ocasionado por um
profissional de saúde. C5 relatou que na rua em que residem também mora uma enfermeira
do hospital onde a mãe de A5 faleceu. Segundo esta cuidadora Um dia (...) ela foi e
contou para os filhos dela e eles ficam humilhando. Ele [A5] nem fala mais com os
meninos. Eles ficam falando com ele: ‘Tem doença! Tem doença!’”.
Houve cinco relatos (três cuidadoras e dois adolescentes) em que o estigma sentido
ficou patente, como pode ser observado na Tabela 17. Entretanto, a categoria estigma
sentido ficou subjacente nas falas de quase todos os entrevistados. Nas falas dos
adolescentes ficou claro visto que a maioria deles (n=8) nunca falou sobre seu diagnóstico
a amigos ou namoradas (os) e nas falas dos cuidadores esteve presente ao mencionarem o
receio que tinham de contar para os adolescentes sobre o diagnóstico ou mesmo de
compartilhar esta informação na escola. As menções explícitas, no entanto, foram as únicas
contabilizadas na tabela acima.
54
Apesar de todos os relatos indicativos de estigma, C2 afirmou que não acredita que
este tipo de comportamento ainda ocorra e que, por isso, revela a terceiros o status
sorológico de A2, à revelia desta. “E hoje em dia não tem preconceito, lá em casa ninguém
tem preconceito, na casa da minha mãe ela é tratada como uma pessoa normal. Se alguém
perguntar responde. Quando alguém me pergunta eu falo que ela tem, mas é normal. Ela
tem que enfrentar o problema. Tem que ter pulso forte, não tem que baixar a cabeça, não
(C2)”.
Um relato que se destacou por ser um exemplo de enfrentamento adaptativo de uma
manifestação de discriminação foi apresentado por A3 e C3. A adolescente informou a
ocorrência de uma situação de preconceito em sua escola depois que seu diagnóstico foi
revelado para a direção e alguns professores. Após a informação na escola, A3 foi
impedida de continuar realizando uma prática desportiva com as colegas. Entretanto, a
despeito da dificuldade da situação, a adolescente foi com sua cuidadora conversar com os
responsáveis pela coordenação da escola e ambas tomaram atitudes no sentido de combater
a desinformação e o preconceito. Os seguintes relatos ilustram as condutas adotadas pela
díade: A minha veio aqui pegou folheto, tudo e levou para elas lerem e terem
informação. a coordenadora de esportes falou que isso ia constranger os alunos. E a
gente [A3 e a coordenadora de esportes] era muito próxima, a gente se abraçava, beijava e
ela falou que ia ter que fazer um exame. Ai eu peguei o folheto e mostrei como não se
transmite (A3)”; “A única dificuldade foi do preconceito na escola, mas ela enfrentou
muito bem. Ela disse que queria ficar (C3)”. Pode-se considerar, portanto, que houve um
enfrentamento focalizado no problema, tanto para A3 quanto para C3, que lidaram com
a situação de modo a tentar modificá-la. Vale informar que a ação da díade foi exitosa e
redundou na continuidade de realização da prática desportiva por A3.
55
Capítulo 5 – DISCUSSÃO
As dificuldades de adesão citadas pelos entrevistados estão em consonância com as
referidas na literatura (Branco, 2007, Seidl & cols., 2005) sendo que uma barreira
importante esteve relacionada a estar fora do ambiente doméstico no horário de tomar a
medicação. Este obstáculo diz respeito ao receio dos jovens de que outras pessoas
descubram o diagnóstico, o que ficou claro em diversos momentos da pesquisa. Um dado
que chamou atenção foi o fato de os cuidadores não terem mencionado essas situações,
permitindo supor que estes não tivessem conhecimento das reais dificuldades dos
adolescentes quanto à adesão.
Os dados relativos à adesão indicaram que ainda uma preponderância do papel
do cuidador na administração dos ARV para os adolescentes, assim como identificado na
prática clínica e apontado em outros estudos (Brackis-Cott & cols., 2003, Costa & cols.,
2008). Foi observado que a maioria dos cuidadores disse lançar mão de recursos tais como
alarmes e despertadores, na tentativa de lidar com o esquecimento e propiciar a
conscientização dos jovens para a necessidade do uso adequado da medicação, estratégias
sugeridas por trabalhos sobre o tema (Byrne & cols., 2002, Ministério da Saúde, 2007a).
Apesar de a presença do cuidador na adesão dos jovens ter sido bastante
evidenciada, houve um caso específico no qual se pôde verificar um maior distanciamento
entre os integrantes da díade. A5 foi o único adolescente que ia sozinho às consultas.
Apesar deste ser o adolescente mais velho (17 anos) dentre os que participaram da pesquisa
o que poderia indicar que a presença do cuidador não se fazia mais necessária , alguns
de seus comportamentos davam sinais de alerta. Segundo dados obtidos no prontuário do
jovem, este não estava realizando os exames de carga viral e CD4 com a freqüência
requisitada pelos médicos. Esses exames não eram realizados mais de um ano pelo
adolescente, enquanto que nos registros das cinco últimas consultas constava a requisição
desses exames. Sabe-se que a adesão não se restringe a tomar a medicação, mas em adotar
outros comportamentos como a freqüência às consultas e a realização de exames
necessários para a avaliação da eficácia do tratamento anti-retroviral (WHO, 2003). Esse
caso indica os desafios colocados para o cuidador para equilibrar, de um lado as condutas
de monitoramento e vigilância e, de outro, aquelas de incentivo à autonomia e
independência do adolescente (Martin & cols., 2007). Assim, o distanciamento de C5
parecia estar sendo precoce, acarretando prejuízos para o acompanhamento satisfatório de
A5. Muitos cuidadores relataram o desejo de que os adolescentes passassem a assumir para
si a responsabilidade de administrar a medicação e adotar condutas de auto-cuidado. As
56
ações dos profissionais de saúde podem ser fundamentais nesse aspecto, ao valorizar a
autonomia do jovem, enquanto estimula ações positivas do cuidador como pessoa ímpar da
rede de apoio sócio-familiar do adolescente.
Dificuldades de adesão foram evidenciadas nos relatos de atraso na ingestão dos
ARV, em situações consideradas obstáculos para a sua ingestão e nas perdas de doses,
atingindo cerca da metade dos participantes. Outro indício da ocorrência de adesão
insuficiente se deveu à própria auto-avaliação dos jovens sobre sua conduta de adesão, que
em sua maioria foi congruente com os relatos verbais de cuidadores sobre o uso dos anti-
retrovirais. Ademais, os relatos obtidos sobre a adesão dos adolescentes ao tratamento
foram consoantes com as experiências constatadas na prática clínica quanto à existência de
um sentimento de ambigüidade frente à medicação. Se por um lado são reconhecidas as
dificuldades de atingir níveis elevados de adesão sob regime terapêutico tão exigente, a
noção de que o tratamento anti-retroviral é uma necessidade para manter a boa saúde
também se mostrou presente nos discursos desses jovens. Dessa forma, é de suma
importância aumentar a compreensão dos adolescentes acerca do papel desempenhado pelo
tratamento anti-retroviral em sua saúde e na qualidade de vida (Costa & cols., 2008).
Um outro fator a ser destacado é que a adesão não se relaciona apenas a
características do indivíduo, mas também da própria doença (WHO, 2003). Dessa forma,
uma enfermidade que cause desconforto e sintomas adversos tem maior possibilidade de
obter níveis maiores de adesão do que outras que sejam assintomáticas. No caso dos
adolescentes entrevistados pode-se considerar que os problemas de adesão também se
relacionem ao fato de a maioria nunca ter apresentado problemas de saúde mais sérios
decorrentes da aids. Esse é um desafio que o tratamento em HIV/aids coloca e que difere
de outras condições crônicas: a pessoa precisa ter uma adesão de alta exigência apesar de
não sentir sintomas ou desconfortos ocasionados pela síndrome (WHO, 2003). Ademais,
falhas na adesão não trazem conseqüências adversas e negativas às condições de saúde em
curto prazo.
Dificuldades de adesão podem sofrer influência da comunicação familiar precária
sobre a enfermidade e o tratamento, déficit de conhecimentos sobre o regime terapêutico e
questões correlatas, além de níveis baixos de revelação do diagnóstico para terceiros
(Steele, Nelson & Cole, 2007). Os resultados do presente estudo indicaram que estes
fatores ocorriam comumente nas famílias de jovens soropositivos. Isto sugere a
necessidade de maior atenção médica e psicossocial a essas famílias para que se possa
57
melhorar os níveis de conhecimento e proporcionar maior abertura na comunicação dentro
do ambiente familiar.
As informações e relatos obtidos neste trabalho apontam para um déficit na
comunicação sobre HIV/aids entre adolescentes soropositivos e seus cuidadores. Essa
conclusão se baseia em diversos relatos nos quais a comunicação parecia se restringir a
lembrar o adolescente de tomar a medicação. A maioria dos cuidadores referiu que os
adolescentes se esquivavam desse tipo de conversa, dado encontrado em outros estudos
(Branco, 2007). Entretanto, indícios fortes de que os cuidadores também apresentavam
dificuldades de tocar no assunto, inclusive tendendo a postergar o momento da revelação
do diagnóstico. Assim, parece se instalar uma espécie de “pacto do silêncio” no ambiente
doméstico, situação constatada em outros estudos com cuidadores de crianças e
adolescentes HIV positivos (Seidl & cols., 2005).
As possíveis conseqüências desse silêncio incluem o aumento da vulnerabilidade,
predomínio de enfrentamento não adaptativo à condição de soropositividade, baixo nível
de conhecimento sobre HIV/aids e a descoberta do diagnóstico por outras vias (Abadia-
Barrero & LaRusso, 2006; Mellins & cols., 2002). Esta última possível conseqüência pôde
ser verificada em três casos neste estudo. Estes adolescentes referiram ter descoberto o
diagnóstico ao escutar conversas de terceiros ou mesmo ao ler informações impressas em
resultados de exames. Esses resultados demonstram a necessidade de se incentivar maior
escuta e diálogo sobre a enfermidade no contexto familiar, desenvolvendo habilidades de
comunicação entre os integrantes da díade e outras pessoas da rede de apoio social.
Os motivos citados para a revelação do diagnóstico foram dois: melhorar a adesão
do adolescente e curiosidade expressada por perguntas tais como porque tomar a
medicação, entre outros temas associados. Esses motivos correspondem às razões
encontradas por Marques e cols. (2006). Secundário a esses motivos, os cuidadores citaram
que a revelação visava também comportamentos de prevenção por parte dos adolescentes,
por estarem na puberdade, em idade de namorar e iniciar a vida sexual. A literatura
confirma essa preocupação: Wiener e Battles (2006) afirmam que como as relações sexuais
tendem a ter início na adolescência, a revelação passa a ser essencial para a prevenção da
transmissão do HIV a parceiros e preservação da saúde do próprio adolescente.
Foi possível observar que para muitos dos entrevistados o conhecimento do
diagnóstico permaneceu dentro do círculo familiar, sendo poucos os que citavam outras
pessoas como conhecedoras dessa informação. Assim, pode-se afirmar que o nível de
revelação para terceiros foi predominantemente baixo, segundo a classificação de Wiener e
58
Battles (2006). Ou seja, a revelação se restringia basicamente a pessoas da família. Mais
uma vez se torna evidente o receio da ocorrência de alguma forma de preconceito ou
rejeição por parte de pessoas que venham a conhecer o status sorológico desses
adolescentes, aspecto que indica o impacto do estigma sentido (Ayres & cols., 2006). Essa
realidade se mostra ainda mais contundente no que tange à revelação para pares dos
adolescentes (amigos e colegas da escola).
Os roteiros de entrevista não continham perguntas explícitas sobre preconceito ou
discriminação. Entretanto, relatos que indicavam o medo ou a ocorrência de ambos
estigmas sentido e decretado foram comuns. Isto parece ser reflexo do fato de que essas
reações sociais que incidem sobre pessoas que vivem e convivem com HIV/aids ainda são
relevantes e significativas. Os relatos de sete adolescentes quanto a não desejarem contar
sobre o diagnóstico para outras pessoas fazem supor que existe receio em compartilhar esta
informação devido ao potencial estigmatizante da condição de soropositividade, o que se
mostrou congruente com estudos sobre o tema (Ayres & cols., 2006, Branco, 2007, Greeff
& cols., 2008, Swendeman & cols., 2006). O estigma sentido se fez presente nos relatos de
quase todos os jovens entrevistados, e indicaram o medo de serem rejeitados e
discriminados devido ao HIV. O estigma decretado foi mais comum nos discursos dos
cuidadores. Nesse sentido, é possível concluir que, apesar da maior oferta de informação
sobre modos de infecção do HIV, das mudanças expressivas no tratamento e na qualidade
de vida, a aids continua sendo estigmatizada.
No entanto, o enfrentamento adotado pela díade 3 diante de atos preconceituosos e
discriminatórios, alimentados pela desinformação e oriundos de pessoas da instituição
escolar, ilustrou de modo exemplar o papel que jovens soropositivos e cuidadores podem
assumir na garantia de seus direitos sociais e de cidadania. O modo como a dificuldade foi
manejada e superada, garantindo que A3 não fosse excluída da prática desportiva em sua
escola, foi uma demonstração de possibilidade de enfrentamento exitoso diante de
condições sociais adversas que atingem pessoas vivendo com HIV/aids. Cabe destacar que,
no conjunto dos participantes, essa ade demonstrou nível alto de congruência em
diversas questões investigadas e na pontuação sobre conhecimento, ausência de escore
indicativo de estresse e de problemas de adesão de parte de A3 e níveis elevados de CD 4 e
carga viral indetectável sugestivos de eficácia da TARV. A cuidadora, avó materna,
participou de grupo de cuidadores e de atendimentos individuais subseqüentes no Projeto
Com-Vivência com o propósito de revelar, ela própria, o diagnóstico para a neta, dado que
mostra seu empenho e planejamento no processo de revelação. Destaca-se ainda que a
59
adolescente participou de grupos específicos para jovens soropositivos oferecidos pelo
Com-Vivência.
Os resultados obtidos com a ESA não foram significativos para nenhum
adolescente. Todavia, ao analisar os sintomas de cada participante verificou-se uma
tendência de sintomatologia relacionada a dificuldades no domínio relações interpessoais.
Este resultado indica a provável ocorrência de tensão relacionada a essa dimensão para
quatro dos jovens entrevistados. Esses dados permitem concluir sobre o impacto de uma
condição que afeta as relações sociais (Brown & Lourie, 2000), sendo condizente com a
caracterização do estresse como a falta de recursos para lidar com uma determinada
situação adversa.
Estudo sugere que adolescentes que vivenciam níveis mais baixos de revelação são
menos competentes nas relações interpessoais com seus pares (Wiener & Battles, 2006).
Dentre os nove adolescentes entrevistados apenas um revelou sua condição a amigos e dois
afirmaram que quiseram contar sobre sua soropositividade a outra pessoa, entretanto,
não o fizeram devido ao medo de sofrer rejeição. A decisão quanto a compartilhar essa
informação com outras pessoas causa ansiedade e, como não se pode ter certeza dos
desdobramentos desses eventos (Greeff & cols., 2008), esta deve ser a mais ponderada
possível. Dessa forma, o que se pode fazer é fortalecer a auto-estima e a confiança do
adolescente com o objetivo de melhorar as respostas de enfrentamento frente a momentos
adversos marcados por preconceitos e discriminação.
Foi observado que o nível de conhecimento e informações acerca do HIV/aids foi
diversificado, mas considerado relativamente baixo no conjunto dos participantes. Esta é
uma questão que chama atenção devido ao fato de a maioria dos participantes ter acesso a
informações e realizado acompanhamento psicológico, contextos nos quais este tipo de
informação é continuamente trabalhada. Foi aventada a possibilidade de que a estratégia de
investigação sobre conhecimento em HIV/aids questões abertas sobre os tópicos
investigados baixaram o nível de desempenho dos participantes. É possível que fatores
como inibição e o sentimento de estarem sendo avaliados, prejudicou o desempenho nesse
aspecto. O uso de uma modalidade de checklist, para marcar questões certas ou erradas
sobre os temas investigados, poderia ter melhorado o desempenho quanto ao nível de
conhecimento de jovens e cuidadores. De qualquer forma, sugere-se que os atendimentos
médicos e psicossociais tenham um caráter educativo permanente e que avaliem as
informações das famílias atendidas sobre o tema a fim de identificar lacunas. Ademais, é
preocupante verificar o nível de desconhecimento e as divergências entre díades sobre as
60
medicações dos jovens, a incompreensão acerca do que seja CD4 e carga viral, além dos
valores dos indicadores imunológicos e virológicos. Afinal, estudos indicam que existe
uma associação positiva entre o nível de conhecimento do cuidador relativo ao regime
terapêutico e a adesão do adolescente soropositivo (Martin & cols., 2007).
5.1 Diretrizes para o processo de revelação do diagnóstico
É possível identificar congruências entre propostas da literatura (Gerson & cols.,
2001, Mendonça, 2007) sobre como esse processo deve ocorrer. A partir dessas
convergências e dos resultados obtidos nesta pesquisa, foram elaboradas algumas diretrizes
para o processo de revelação de diagnóstico específicas para profissionais de saúde que
atuem junto a crianças e adolescentes soropositivos para o HIV. A proposta abarca vários
pontos ressaltados por outros estudos, além das sugestões dos adolescentes e cuidadores
entrevistados. O destaque para a questão da revelação se deve ao fato de ser um tema
precursor aos demais abordados nessa pesquisa.
A revelação do diagnóstico é um evento processual, que requer várias
oportunidades de diálogo para que seja realizada adequadamente. Essa visão foi
compartilhada por vários cuidadores que, como sugestões para a revelação do diagnóstico
a outras crianças e adolescentes, apontaram a necessidade de que seja realizado a partir de
um acompanhamento gradual, que não se limite a um momento único e pontual.
A decisão de proceder à revelação com ou sem a presença de um profissional de
saúde deve ser analisada junto à família. O folder “Favorecendo a comunicação entre
médicos, pacientes e acompanhantes no contexto pediátrico” (Mendonça, 2007) oferece
dicas práticas aos profissionais de saúde com vistas a aprimorar o processo de
comunicação entre médicos, acompanhantes e pacientes. A Revista Saber Viver Jovem
disponibilizada aos participantes é outro recurso de grande utilidade, tendo em vista suas
qualidades gráficas, com linguagem adequada aos adolescentes.
É importante que a preparação para a revelação do diagnóstico ocorra o quanto
antes, de modo a acompanhar cada família de perto. Três etapas são fundamentais para
uma revelação bem-sucedida: construção de conhecimento, preparação do cuidador e
preparação da criança. A construção de conhecimento e informações deve ser conjunta e
avaliar com freqüência o nível de compreensão dos cuidadores. A preparação gradual da
criança para o momento do diagnóstico, além de prover informações adequadas ao seu
nível de desenvolvimento, deve ensinar os cuidadores a lidar com a crescente curiosidade e
perguntas. Outra etapa se refere à preparação do cuidador para o evento: embora seja
61
descrito pelos mesmos como um momento de alívio, a revelação é geradora de ansiedade,
medos e angústias. Preparar o cuidador significa avaliar junto a ele as possíveis
conseqüências – positivas e negativas – deste evento e como lidar com elas.
Essa preparação visa também prover o familiar de segurança quanto à escolha que
está sendo feita. Sobretudo, prepará-lo para lidar com a criança após o momento da
revelação: como o assunto deve ser tratado em casa uma vez que a informação for aberta.
Essa preocupação com o momento pós-revelação foi demonstrada por Gerson e cols.
(2001) em relação aos comportamentos da criança ou adolescente depois da comunicação
sobre o diagnóstico. Destaca-se que é de suma importância a observação cuidadosa dos
comportamentos emitidos após a revelação, pois podem ser indicadores de desajustamento
e/ou problemas emocionais.
A relevância quanto a instruir o cuidador sobre como deve ser manejado o assunto
HIV/aids não costuma ser mencionada na literatura. Tendo em vista os dados obtidos nesta
pesquisa e em estudos relativos à população infanto-juvenil que vive com HIV/aids, após a
revelação do diagnóstico o silêncio costuma imperar. Esse tabu pode gerar dificuldades de
adaptação do jovem à sua nova condição. Ele aprende que este é um tema que não deve ser
mencionado e, por isso, não tem oportunidades para exteriorizar seus anseios ou dúvidas.
A revelação do diagnóstico deve ser o momento em que a comunicação familiar se abre
irrevogavelmente. É preciso gerar um ambiente no qual a comunicação tenha fluidez e
continuidade. Assim, ao se evitar falar abertamente sobre o assunto, ou não dar
continuidade ao tema no momento pós-revelação, está sendo utilizada uma estratégia de
enfrentamento não adaptativa, de esquiva, o que pode reduzir os benefícios potenciais do
processo de comunicação sobre o diagnóstico.
Uma questão muito comum de parte dos cuidadores é se uma idade certa para
revelar o diagnóstico. Situações específicas vivenciadas individualmente (como o
adoecimento do jovem ou morte de um dos genitores) podem indicar o momento oportuno.
No entanto, como regra geral, é possível considerar o início da alfabetização como um
parâmetro a ser observado, tendo em vista o desenvolvimento da capacidade de leitura, que
pode favorecer o acesso da criança a informações sobre o tema, levando à descoberta
casual da condição de soropositividade.
Profissionais e equipes de saúde, por sua vez, que atuam junto a crianças e
adolescentes soropositivos e suas famílias, se beneficiariam de capacitações que os
preparassem para a abordagem de temas como a revelação do diagnóstico. Tal capacitação
deve fornecer as ferramentas técnicas, relacionais e de comunicação necessárias para
62
que o profissional de saúde proceda a uma avaliação mais cuidadosa de cada caso. Por
meio dessa avaliação o profissional poderá identificar o nível de conhecimento e o preparo
psicológico dos cuidadores para a revelação. É possível que um nível adequado de
conhecimento sobre aspectos do HIV/aids e do tratamento, além das vantagens da
revelação, traga mais segurança aos cuidadores para abordar o assunto com suas crianças e
adolescentes. Ademais, medos e inseguranças dos cuidadores podem ser dirimidos a partir
de maior acesso a essas informações.
Por fim, cabe destacar que ter conhecimento sobre o problema de saúde é
considerar a criança e o adolescente como sujeitos de direitos, aspecto que não pode ser
negligenciado pelas políticas públicas na área de saúde.
63
Capítulo 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os temas apresentados e discutidos nesta pesquisa são interligados: o medo do
estigma associado ao HIV/aids dificulta o processo de revelação, enquanto a comunicação
sobre o diagnóstico é postergada muitas vezes devido ao medo do estigma. Dificuldades de
adesão, por sua vez, podem ser conseqüência do desconhecimento ou incompreensão do
diagnóstico, enquanto que este é conseqüência do receio dos cuidadores de que a criança
ou o adolescente compartilhe essa informação com outras pessoas, quebrando o sigilo e
possibilitando a ocorrência de estigma.
Pesquisas têm apontado as vantagens da revelação do diagnóstico para crianças e
adolescentes com HIV/aids, mas os cuidadores têm adiado essa decisão independente das
recomendações das equipes de saúde. A não-revelação, por outro lado, parece trazer
conseqüências negativas. A experiência de atendimento a essa clientela e os resultados de
estudos sobre o tema indicam que não associação entre conhecimento do diagnóstico e
ocorrência de problemas de ajustamento psicossocial.
Dessa forma, a revelação do diagnóstico conduzida de forma adequada, de maneira
planejada, pode favorecer a adaptação de crianças e adolescentes à soropositividade,
propiciando que estes desenvolvam habilidades de enfrentamento para lidar com essa
condição. Ademais, a partir do momento que tenham informações corretas e realistas sobre
a enfermidade, esses pacientes podem participar efetivamente do seu próprio tratamento e
compreender a importância de aderir adequadamente à medicação.
Uma limitação do estudo se referiu à avaliação do nível de conhecimento. O baixo
desempenho dos participantes pode ter sido decorrente do modo como foram formuladas as
perguntas, conforme comentado na seção de Discussão. Perguntas abertas talvez não
sejam a melhor estratégia para avaliar esse aspecto.
Além disso, a ordem dos blocos temáticos nas entrevistas pode não ter sido a ideal.
Iniciar a entrevista dos adolescentes com perguntas que avaliavam seu nível de
conhecimento pode tê-los deixado inibidos e com a sensação de estarem sendo testados
no início. Dessa maneira, a ordem dos blocos no roteiro dos cuidadores pode ter favorecido
o curso da entrevista.
Uma dificuldade que pode ter se constituído em limitação foi o número reduzido de
participantes. Ainda que seja uma pesquisa qualitativa, o número de participantes poderia
ter sido mais expressivo. Entretanto, houve dificuldades no recrutamento de participantes.
Cinco cuidadores se recusaram a participar explícita ou implicitamente. As recusas
explícitas tomaram forma de incompatibilidade de horários e as implícitas se referiram a
64
participantes que marcaram as entrevistas por telefone e não compareceram. É interessante
observar que as recusas estiveram relacionadas principalmente às mães dos pacientes. Isso
sugere a presença de dificuldade maior em abordar este tema por parte dos pais que de
outros cuidadores.
Outra limitação diz respeito a falhas na investigação do enfrentamento dos jovens
soropositivos. Tendo em vista as dificuldades que foram encontradas no contexto desses
adolescentes, como a adesão e o medo da quebra do sigilo acerca da soropositividade, o
tema enfrentamento poderia ter sido investigado. Dessa forma, sugere-se que estudos
futuros pesquisem as estratégias de enfrentamento de adolescentes com HIV/aids diante de
situações adversas que exigem esforços adaptativos.
O tema adesão merece investigações futuras, visto que esta deve atingir níveis
iguais ou superiores a 95% para que o tratamento anti-retroviral seja eficaz (Bartlett,
2000). É importante compreender se o comportamento de adesão apresenta características
típicas nas diversas faixas etárias. Sugerem-se estudos com vistas a desenvolver programas
e estratégias de intervenção mais específicas e que atendam melhor às demandas de adesão
desse segmento de pessoas vivendo com HIV/aids.
Outra variável que poderia ser investigada nesta população são as habilidades
sociais. Resultados como o do presente estudo e dados que mostram as dificuldades
interpessoais dos jovens HIV+ indicam que os adolescentes soropositivos poderiam se
beneficiar de intervenções que visem aprimorar suas habilidades sociais.
Ao contrário da revelação do diagnóstico ou da adesão ao tratamento, que podem
ser avaliadas e trabalhadas pelo profissional de saúde, o estigma está difundido em várias
esferas da vida da pessoa soropositiva. Dessa forma, é mais difícil intervir sobre o estigma,
se comparado a outros aspectos tratados no presente trabalho. Nessa perspectiva, é
fundamental que haja ões governamentais e o-governamentais e reforço das políticas
públicas para que o estigma em relação ao HIV/aids seja combatido na sociedade
brasileira.
Além dos estudos teóricos, é de extrema relevância a condução de pesquisas que
realizem ou proponham intervenções para promover a revelação do diagnóstico, o
comportamento de adesão e o enfrentamento do estigma entre crianças e adolescentes
soropositivos. também a necessidade de construção de instrumentos (escalas,
inventários) específicos para essa população, uma vez que permitiria a avaliação mais
adequada de uma série de aspectos e variáveis de interesse.
65
que jovens soropositivos infectados por transmissão vertical estão se
desenvolvendo e com mais qualidade de vida, surge a oportunidade de realização de
estudos longitudinais, que poderiam investigar temas como vivência da sexualidade,
adoção de práticas sexuais seguras, enfrentamento do estigma e relacionamento entre
pares, questões que têm emergido no atendimento a essa clientela.
Foi verificado nas entrevistas que necessidade de acompanhamento mais
próximo às famílias que convivem com o HIV/aids. Essa indicação está subjacente nos
relatos em que emergem noções errôneas sobre HIV/aids, na falta de conhecimento
demonstrada e em situações que se beneficiariam de atenção psicológica. Possivelmente o
tempo da consulta médica não é suficiente para que o paciente e seu cuidador consigam
expressar suas dúvidas e apreender todas as informações passadas. Dessa forma, subsistem
dúvidas, medos, ansiedades.
O psicólogo pode tentar suprir esta lacuna e auxiliar a família na construção de uma
base de conhecimento sobre o HIV/aids, além de prover apoio nos casos de sofrimento
emocional. A partir do momento que não se tem conhecimento adequado acerca da doença
e do tratamento, surgem expectativas que não condizem com a realidade e tendem a ser
mais pessimistas e mesmo catastróficas (tendo em vista o histórico da aids e a maneira
como a doença ainda é percebida nos dias atuais). É preciso ajustar as expectativas da
família à realidade da situação que se impõe. A aids não tem cura, entretanto existe um
tratamento altamente eficaz que tem proporcionado aos indivíduos soropositivos uma
possibilidade real de viver com dignidade, planejar e executar projetos de vida.
66
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(2006). Highly active antiretroviral therapy interruption: Predictors and virologic
and immunologic consequences. Journal of Acquired ImmunoDeficiency Syndrome,
42(5), 554-561.
Tricoli, V.A.C. & Lipp, M.E.N. (2005). Escala de stress para adolescentes. São Paulo:
Casa do Psicólogo.
Ulla, S. & Remor, E.A. (2002). Psiconeuroimunologia e infecção por HIV: Realidade ou
ficção? Psicologia: Reflexão e Crítica, 15(1), 113-119.
Unaids (2006). Aids epidemic update Global summary. Genebra, Suíça: Joint United
Nations Programme on HIV/AIDS.
Unaids (2007). Reducing HIV stigma and discrimination: A critical part of national aids
programmes. Genebra, Suíça: Joint United Nations Programme on HIV/AIDS.
Weaver, K.E., Llabre, M.M., Durán, R.E., Antoni, M.H. & Ironson, G. (2005). A stress and
coping model of medication adherence and viral load in HIV-positive men and
women on highly active antiretroviral therapy (HAART). Health Psychology,
24(1), 385-392.
Wiener, L.S. & Battles, H.B. (2006). Untangling the web: a close look at diagnosis
disclosure among HIV-infected adolescents. Journal of Adolescent Health,
38(2006), 307-309.
World Health Organization (2003). Adherence to long term therapies – evidence for
action. Genebra, Suíça: World Health Organization.
72
ANEXOS
73
Anexo 1 – Roteiro de Entrevista dos cuidadores
Universidade de Brasília/Instituto de Psicologia
Pesquisa: Pesquisa: Adesão ao tratamento, estresse e enfrentamento em jovens HIV+: efeitos do
processo de revelação do diagnóstico.
Roteiro de entrevista dos cuidadores
Identificação
Nome do adolescente: Sexo:
Nascimento: / / Escolaridade:
Nome do cuidador: Idade:
Estado civil:
Endereço: Telefone:
Escolaridade: Profissão:
Renda mensal familiar (em salários mínimos):
Número de filhos:
Idade dos irmãos:
Quantos são HIV+ na família?
Primeiramente vamos conversar um pouco sobre o uso da medicação que (nome) toma, os
anti-retrovirais.
Desde que idade (nome) toma os remédios?
Você sabe os nomes dos remédios e os horários? Quais são?
Com relação à rotina de tomar a medicação, quem lembra de pegar e tomar os remédios?
(se for o cuidador perguntar por quê)?
Sabe se ele(a) deixa de tomar alguma dose? Como?
Nos últimos 3 dias ele deixou de tomar algum comprimido? E na última semana?
E sobre atraso. Ele(a) atrasa o uso do medicamento?
Tem alguma situação que é mais comum que (nome) deixe de tomar seus remédios? (estar
fora de casa, estar triste, chateado, feliz, estar na frente de outras pessoas...)?
Adesão é quando uma pessoa faz o tratamento da maneira que foi combinado com o
médico (toma os remédios da maneira e quantidade que o médico passou, nos horários
recomendados, etc.). Qual a sua opinião sobre a adesão de (nome): muito boa, boa, regular,
ruim, péssima. Justifique sua resposta.
Adesão se refere também ao comparecimento às consultas, a fazer exames médicos, etc.
Como você avalia essas condutas de (nome)? Qual a sua opinião sobre a adesão de (nome)
nesse aspecto: muito boa, boa, regular, ruim, péssima. Justifique sua resposta.
Como você avalia a participação e independência de (nome) em seu tratamento?
Tem alguma questão do tratamento e dos cuidados de saúde de (nome) que você gostaria
de destacar? Alguma preocupação de sua parte?
Agora vamos conversar um pouco sobre como (nome) descobriu o diagnóstico dele(a)
Como aconteceu essa descoberta? (perguntar quando, quem e como)
Houve alguma situação/fato que motivou que essa informação fosse dada a ele(a)/a tomada
de decisão? (sugestão do médico, curiosidade dele(a), alguma doença oportunista,
falecimento dos pais...)?
Como foi a reação dele(a) na época em que soube do diagnóstico?
74
Quais as vantagens que você percebeu na revelação do diagnóstico para ele(a)? E
Desvantagens? E para você, quais vantagens e desvantagens?
No momento atual, o jovem conversa com alguém sobre HIV/aids?
Como o assunto é tratado em sua casa? Vocês conversam sobre isso? Com que freqüência?
Quem sabe o diagnóstico? (familiares, amigos, escola, etc.)
Como você se sentia antes da revelação? E hoje?
Pensando em outros cuidadores que tem crianças e adolescentes soropositivos, eu gostaria
de ouvir a sua opinião quanto a contar para elas. Considerando a sua experiência: quando
se deveria contar? Quem deveria contar? Como contar?
Considerando tudo que você sabe, leu e já ouviu falar, nós vamos agora conversar sobre algumas
informações relativas ao HIV/aids.
O que é HIV?
O que é aids?
Como se transmite o HIV?
Como se previne?
O que significa carga viral?
O que é CD 4?
Qual a última contagem de carga viral?
Qual a última contagem de CD4?
Às vezes as pessoas têm algumas dificuldades com relação ao tratamento do HIV/aids. Agora eu
gostaria de conversar um pouco sobre essas dificuldades e o que (nome) faz para lidar com elas.
Na sua opinião, o que (nome) acha difícil em relação à soropositividade, a viver
com HIV, ao tratamento? Tem mais alguma coisa que é difícil?
O que ele(a) faz para lidar com isso?
75
Anexo 2 – Roteiro de Entrevista dos adolescentes
Universidade de Brasília/Instituto de Psicologia
Pesquisa: Pesquisa: Adesão ao tratamento, estresse e enfrentamento em jovens HIV+: efeitos do
processo de revelação do diagnóstico.
Roteiro de entrevista dos adolescentes
Vamos começar nossa conversa com alguns temas considerando o que você já leu, ouviu falar,
conhece e sabe sobre HIV/aids.
Como você explicaria para alguém o que é aids? (pedir para explicitar respostas muito
genéricas).
Se alguém te perguntasse o que é HIV, o que você diria? (pedir para explicitar respostas
muito genéricas).
Você sabe que o HIV pode ser transmitido de pessoa para pessoa, como essa transmissão
pode acontecer?
Como prevenir a infecção pelo HIV?
Você sabe o que significa carga viral?
Você sabe dizer qual sua última contagem de carga viral?
O que é CD 4?
Qual sua última contagem de CD 4?
Como os remédios anti-retrovirais atuam? Sabe como eles agem em relação ao HIV?
Agora vamos falar um pouco sobre os remédios que você toma, a medicação anti-retroviral.
Você sabe dizer/lembra desde que idade toma os seus remédios?
O que você acha de tomar esses remédios?
Quais os nomes dos remédios que você toma? Quantos comprimidos toma por dia? (Fazer
mapa de doses?)
Quais os horários em que toma as medicações?
Nos últimos 3 dias você deixou de tomar alguma vez? Quantas?
E na última semana? Quantos comprimidos você deixou de tomar?
E quanto aos horários de uso? Você costuma atrasar o horário? Nunca, às vezes, muitas
vezes, freqüentemente. Por que atrasa?
No uso diário da sua medicação, quem se lembra dos horários, quem pega os remédios? (se
for o cuidador perguntar por quê)
Tem alguma situação em que é mais comum você deixar de tomar seus remédios? (estar
fora de casa, estar triste, chateado, feliz, estar na frente de outras pessoas...)?
Se respondeu negativamente a pergunta anterior: Tem alguma situação (pessoal, família,
amigos, escola) que está dificultando ou prejudicando o uso da sua medicação?
Adesão é quando uma pessoa faz o tratamento da maneira que foi combinado com o
médico (toma os remédios da maneira que o médico passou). Qual a sua opinião sobre a
sua adesão: muito boa, boa, regular, ruim, péssima? Explique sua resposta.
Na sua opinião, o que poderia ajudar você a melhorar ainda mais sua adesão (para os que
estão com boa adesão) / melhorar sua adesão (para os que estão com adesão insatisfatória)?
Sobre o uso da medicação, tem alguma coisa que você queira acrescentar?
76
Agora vamos falar um pouco sobre como você soube, como você descobriu o seu diagnóstico.
E como você soube do seu diagnóstico? Conta como aconteceu (caso ele não fale,
perguntar quando, quem e como).
Houve alguma situação/fato específico para que você ficasse sabendo?
Quais foram seus sentimentos/como você reagiu no momento da revelação? E hoje?
Você viu vantagens (aspectos positivos) em ficar sabendo sobre o diagnóstico? Percebeu
alguma desvantagem (aspectos negativos)?
Com quem você conversa sobre o HIV/aids?
Na sua casa esse assunto é falado/conversado?
Como você avalia suas condições de saúde antes de saber o diagnóstico?
Quem sabe sobre seu diagnóstico? (amigos, familiares, pessoas da escola, etc.)
Você gostaria de contar para alguém que ainda não sabe?
Pensando em outras crianças e adolescentes soropositivos, eu gostaria de ouvir a sua
opinião quanto a como e quando contar para elas. Considerando a sua experiência: quando
deveria contar? Quem deveria contar? Como contaria?
Agora, vamos conversar um pouco sobre as dificuldades que você percebe com relação à sua
doença e o seu tratamento, e o que você faz para lidar com elas.
O que voacha difícil em relação ao HIV e ao seu tratamento? Tem mais alguma
coisa que é difícil?
O que você faz/tem feito para lidar com isso?
O que achou de falar sobre esses temas?
77
Anexo 3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para cuidadores
Universidade de Brasília/Instituto de Psicologia
Pesquisa: Adesão ao tratamento, estresse e enfrentamento em jovens HIV+: efeitos do processo de
revelação do diagnóstico.
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Brasília, de de 2008
Estamos estudando, junto a jovens soropositivos e seus cuidadores, como ocorreu o
processo de revelação do diagnóstico de HIV cujo modo de infecção foi vertical, seus efeitos sobre
a adesão ao tratamento, os veis de estresse e o enfrentamento da soropositividade deste jovem. A
pesquisa está sendo conduzida por Camila Peixoto Pessôa Guerra ([email protected], 9123-
5360), mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade de Brasília, sob orientação da
professora Drª. Eliane Maria Fleury Seidl ([email protected], 3307-2625) do Instituto de Psicologia da
Universidade de Brasília.
Buscando alcançar os objetivos propostos, convidamos o Senhor(a) a participar do estudo,
respondendo a uma entrevista. O adolescente que está sob seus cuidados também será convidado a
participar, respondendo a uma entrevista e um questionário. A entrevista será realizada de modo
individual e será conduzida pela própria pesquisadora ou por um auxiliar de pesquisa treinado para
esse fim. A duração da entrevista é estimada em 40 minutos. Garantimos a confidencialidade e o
sigilo de todas as informações que serão fornecidas, bem como vosso anonimato.
Esclarecemos ainda que se for identificada necessidade de atendimento psicológico, e
havendo interesse e concordância sua e/ou do jovem, poderá ser oferecido atendimento específico
para ambos.
Sua assinatura abaixo indica que você leu este consentimento, esclareceu todas as dúvidas e
livremente concordou em participar nos termos indicados. Informamos que o senhor (a) pode se
recusar a responder qualquer questão que lhe traga constrangimento, podendo desistir de participar
da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo.
Caso você tenha alguma questão ou dúvida, pode perguntar agora. Se o senhor (a) tiver
dúvidas posteriores em relação a esta atividade, poderá entrar em contato através dos telefones e/ou
dos e-mails disponibilizados.
Informamos ainda que essa pesquisa foi submetida e aprovada pelos Comitês de Ética em
Pesquisa da Faculdade Ciências da Saúde da UnB (tel: 3307-3799) e da SES/DF (tel.: 3325-4955).
Os resultados dessa pesquisa poderão ser úteis para a melhoria da assistência prestada às
crianças e adolescentes soropositivos e a seus familiares. Na certeza de contar com sua
participação, agradecemos antecipadamente sua valiosa colaboração nesse trabalho.
_____________________________ ___________________________
Camila P. Pessôa Guerra Eliane M. F. Seidl
Mestranda em Psicologia/IP/UnB Profª IP/UnB
Sim, estou ciente da pesquisa e concordo em participar e responder ao questionário.
Nome:___________________________________________________________________
Tel:_____________________________________________________________________
Assinatura:_______________________________________________________________
78
Anexo 4 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para adolescentes
Universidade de Brasília/Instituto de Psicologia
Pesquisa: Adesão ao tratamento, estresse e enfrentamento em jovens HIV+: efeitos do processo de
revelação do diagnóstico.
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Brasília, de de 2008
Estamos estudando, junto a jovens soropositivos e seus cuidadores, como ocorreu o
processo de revelação do diagnóstico de HIV cujo modo de infecção foi vertical, seus efeitos sobre
a adesão ao tratamento, os níveis de estresse e o enfrentamento da soropositividade. A pesquisa
está sendo conduzida por Camila Peixoto Pessôa Guerra (camilaguerra@unb.br, 9123-5360),
mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade de Brasília, sob orientação da professora Drª.
Eliane Maria Fleury Seidl ([email protected], 3307-2625) do Instituto de Psicologia da Universidade de
Brasília.
Com esse objetivo, convidamos você a responder a uma entrevista e a um questionário. O
seu responsável também será convidado(a) a participar do estudo respondendo a uma entrevista. A
entrevista e a aplicação do questionário serão realizadas individualmente e conduzidas pela própria
pesquisadora ou por um auxiliar de pesquisa treinado para esse fim. O tempo previsto para a
realização desta atividade é de 60 minutos. Garantimos a confidencialidade e o sigilo de todas as
informações que serão fornecidas por você, bem como seu anonimato.
Esclarecemos ainda que se for identificada necessidade de atendimento psicológico, e
havendo interesse e concordância sua e de seu cuidador, poderá ser oferecido atendimento
específico.
Sua assinatura abaixo indica que você leu este consentimento, esclareceu todas as dúvidas e
livremente concordou em participar nos termos indicados. Informamos que você pode se recusar a
responder qualquer questão que lhe traga constrangimento, podendo desistir de participar da
pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo.
Caso você tenha alguma questão ou dúvida, pode perguntar agora. Se tiver dúvidas
posteriores em relação a esta atividade poderá entrar em contato através dos telefones e/ou e-mails
disponibilizados.
Informamos ainda que essa pesquisa foi submetida e aprovada pelos Comitês de Ética em
Pesquisa da Faculdade Ciências da Saúde da UnB (tel: 3307-3799) e da SES/DF (tel.: 3325-4955).
Os resultados dessa pesquisa poderão ser úteis para a melhoria da assistência prestada às
crianças e adolescentes soropositivos e a seus familiares. Na certeza de contar com sua
participação, agradecemos antecipadamente sua valiosa colaboração nesse trabalho.
_____________________________ ___________________________
Camila P. Pessôa Guerra Eliane M. F. Seidl
Mestranda em Psicologia/IP/UnB Profª IP/UnB
Sim, estou ciente da pesquisa e concordo em participar e responder ao questionário.
Nome:___________________________________________________________________
Tel:_____________________________________________________________________
Assinatura:_______________________________________________________________
79
Anexo 5 – Escala de Estresse para Adolescentes
80
81
Anexo 6 Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de
Saúde da Universidade de Brasília
82
Anexo 7 Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde do
Distrito Federal
83
Anexo 8 – Parâmetros para Considerar uma Resposta como Adequada/Correta
Conceito* Parâmetros
Quantidade de
parâmetros para
resposta correta
Aids
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida; doença;
sistema imunológico debilitado; ocorrência de
doenças oportunistas; cronicidade; diferença entre
HIV e aids, existência de tratamento; enfermidade
sem cura.
Dois elementos
corretos
HIV
Vírus da Imunodeficiência Humana; vírus;
deteriora o sistema imunológico; formas de
transmissão; diferença entre HIV e aids.
Dois elementos
corretos
Transmissão
Sexual; sanguínea; vertical
Três elementos
corretos
Prevenção
Uso do preservativo/camisinha; cuidado com
objetos pérfuro-cortantes;
profilaxia/tratamento/acompanhamento de
gestante/parturiente/lactante HIV+.
Três elementos
corretos
Carga Viral
Quantidade de cópias do vírus HIV por ml de
sangue.
Um elemento
correto
CD4
Células de defesa do organismo. O funcionamento
é prejudicado pelo HIV medida em que o vírus se
reproduz na célula CD4.
Um elemento
correto
Nota. Respostas foram consideradas corretas se apresentassem esse entendimento, ainda que com o
vocabulário menos específico ou detalhado. Pontuação máxima possível de ser obtida: 12 pontos
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