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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE)
CENTRO DE HUMANIDADES (CH)
MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO
E POLÍTICAS PÚBLICAS
NEIDE AUGUSTA MARQUES
RETRATO FALADO DA VIOLÊNCIA
NA ESCOLA PÚBLICA
Fortaleza-CE
2006
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE)
CENTRO DE HUMANIDADES (CH)
MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO
E POLÍTICAS PÚBLICAS
NEIDE AUGUSTA MARQUES
RETRATO FALADO DA VIOLÊNCIA
NA ESCOLA PÚBLICA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Profissional em Planejamento e Políticas Públicas
da Universidade Estadual do Ceará (UECE), como
requisito parcial para obtenção do grau de mestre
em Planejamento e Políticas Públicas.
Orientadora: Profa. Dra. Adelita Neto Carleial.
Fortaleza-CE
2006
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3
NEIDE AUGUSTA MARQUES
RETRATO FALADO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA PÚBLICA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas
Públicas da Universidade Estadual do Ceará (UECE), como requisito parcial para obtenção
do grau de mestre em Planejamento e Políticas Públicas.
DATA DA APROVAÇÃO:____/________/______
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________
Profa. Dra. Adelita Neto Carleial (Orientadora)
Universidade Estadual do Ceará (UECE)
____________________________________
Prof. Dr. Geovani Jacó Freitas
Universidade Estadual do Ceará (UECE)
____________________________________
Prof. Dr. Rosendo Amorim
Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
Dedico este trabalho aos jovens estudantes cearenses,
e em especial, aqueles que assumiram o papel de
colaboradores especiais e experimentais deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo presente da vida lúcida.
À Daniela, Leonardo e Germano, meus queridos filhos, que sempre me
acompanham.
Aos meus pais Antonio e Isilda (em memória), que sabiamente souberam
passar seu bailado sereno diante da vida.
À minha querida orientadora, Adelita Neto Carleial, que de forma incansável
esteve sempre ao meu lado, estimulando este trabalho com sugestões, indicação de
leituras e com suas produções específicas.
Às escolas públicas do Grande Bom Jardim e da Granja Portugal, que com a
colaboração dos seus diretores, coordenadores, professores e funcionários, nos
possibilitaram estar mais próximos do mundo juvenil, conhecer seu rico universo e
suas complexas relações de convivência, dentro e fora da escola.
Às famílias dos jovens por seu consentimento à pesquisa e significativa
participação.
À amiga e colaboradora de todas as horas Luzia Jesuíno, co-participante
das idéias e textos centrais deste trabalho.
À Nohemy Rezende, por sua colaboração especial, pela leitura criteriosa
do trabalho.
Referência especial às amigas: Annuzia Gosson, Ângela Leão e Sandra
Braga, pela valiosa colaboração na definição da amostra, elaboração de tabelas
e gráficos.
Às amigas da SEDUC, Sonia Guerra e Cleria Lessa, pela colaboração em
ajudar e a pensar junto comigo.
Aos amigos Rogério Fontenele e Luzia Araújo, que se colocaram disponíveis
sempre que precisei.
6
À coordenação do Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e
Políticas Públicas da UECE, na pessoa do professor Horácio Frota.
Aos meus amigos da turma, do Curso de Mestrado Profissional em
Planejamento e Políticas Públicas da UECE.
Tu que aí choras, que é que fizestes, dize a verdade.
Tu que aí choras que é que fizeste na mocidade?
Verlaine (1844-1896). Sabedoria
RESUMO
O presente trabalho analisou o fenômeno da violência nas escolas públicas do
Grande Bom Jardim, periferia de Fortaleza, que trabalham com adolescentes. As
questões centrais desta investigação estão relacionadas ao desvendamento da
manifestação da violência dentro da escola pública, assim como seu significado na
visão dos principais atores envolvidos, considerando suas repercussões na família e
na comunidade. A pesquisa utilizou questionários, entrevistas semi-estruturadas,
observação in loco e a técnica de grupo focal, que foi aplicada com pais e
professores, e constituiu-se em instrumento de grande valia para a compreensão da
manifestação e significado da violência na escola. Esta técnica favoreceu, também,
o debate das políticas públicas educacionais do Estado relacionado ao atendimento
dessa clientela. Foi evidenciado neste estudo o fenômeno social da violência, não
apenas como um sistema institucional, genericamente considerado, mas retratado
em preto e branco, em sua especificidade espacial e temporal.
ABSTRACT
The present work stressed violence issue in public schools of “Grande Bom Jardim”,
Fortaleza-periphery, which deal with scholars. The main points of this inquiry are
related to disclosure violence manifestation from public school, as well as its meaning
accord to more important memberships, and its reverberation towards family-
community. Research based on questionnaires, half-structural interviews, target-
appointments in locus and rationale technique (RT) that was applied to parents and
teachers. RT had been consisted in many findings for understanding-meaning
violence manifestation in school. This technique also assessed educational public
policy state, these one related to attendance of audience. It was experienced in this
study the social theme (violence), not only as systemic, generically admitted, although
pointed in black-white and its idiosyncrasy whatsoever.
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO, 11
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE INVESTIGAÇÃO, 14
2.1 Discutindo a problemática, 14
2.2 Delimitação do objeto e do lócus da pesquisa, 18
2.3 Trilha metodológica de investigação, 25
3 DEFININDO OS MARCOS TEÓRICOS DE INVESTIGAÇÃO, 30
3.1 Violência como nero, 36
3.2 Violência como espécie, 38
3.3 Jovens e sociabilidades diversas, 42
3.4 Juventude e violência na escola, 44
4 POLÍTICAS PÚBLICAS PROTECIONISTAS DE EDUCAÇÃO E SUA EFICÁCIA
NO COMBATE À VIOLÊNCIA, 49
4.1 Estudo sobre a política protecionista do Estado e da sociedade civil, 53
4.2 Proteção a crianças e adolescentes na política educacional federal, 55
4.3 Poticas estaduais protecionistas e educativas para criaas e adolescentes, 59
4.4 Ações da sociedade civil de proteção a criança e adolescentes, 62
5 VIOLÊNCIA NA ESCOLA PÚBLICA EM PRETO E BRANCO, 70
5.1 O jovem e suas múltiplas visões do problema, 72
5.2 Educadores e seu cotidiano, 80
5.3 Relação dos pais com a violência na escola, 83
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS, 85
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, 88
8 ANEXOS, 97
11
1 INTRODUÇÃO
A razão ocidental remete à violência como à sua condição e ao meio,
pois tudo aquilo que não é ela própria encontra-se em “estado de
pecado” e cai então no campo insuportável o desatino.
(PIERRE CLASTRES, 1968)
O fenômeno da violência emergiu como um dos mais gritantes para os
indivíduos e sociedade, neste final de século. Embora, muitas vezes, não
aprofundado e sujeito à influência da mídia, assumiu dimensões no debate popular,
manifestado tanto nas conversas cotidianas dos cidadãos e cidadãs, como na pauta
das políticas públicas e das instituições.
Múltiplas o as respostas dadas a esta questão, incluindo uma vasta rede
de medidas, nos mais diversos níveis: individual, comunitário, governamental. As
pessoas se armam e blindam suas residências de sofisticados sistemas de
segurança, as comunidades fazem movimentos pedindo paz, o governo procura
implementar políticas e programas restritivos à violência e o tema da segurança é
incluído na agenda do dia de muitos organismos e grupos.
Os governos nacionais buscam ajustar suas economias aos desafios criados
pelo mercado global, restringindo e cortando empregos, salários e serviços estatais
gratuitos básicos. Os processos de reforma são lentos e difíceis, o que faz com que
um número cada vez maior de indivíduos e famílias experienciem empregos
precários, desemprego, deterioração na qualidade de vida e maior pobreza.
Neste sentido, a comunidade e as famílias passam a assumir cada vez mais
responsabilidades por serviços que o Estado deixa de oferecer. No Brasil, o reflexo
do que ocorre na economia mundial podem ser observados no aprofundamento das
reformas estruturais que têm agravado, de forma direta, os quadros de pobreza e
violência social, sobretudo nos grandes centros urbanos.
A problemática da violência será abordada neste trabalho como fenômeno
multifacetado, ligado à educação, cultura e campo social mais amplo, e investigado
desde a percepção da pesquisadora sobre a questão, ao estudo de suas causas e
12
manifestações na percepção dos seus principais protagonistas. Por meio dos
estudos e produções científicas dos especialistas Bernard Charlot, Éric Debarbieux
e Michel Maffesoli, procurou-se entender o conceito de violência em sua gênese e
em espécie.
Destaque será dado aos estudos sociológicos de Michel Maffesoli, que
aborda a violência na ótica social, com olhar privilegiado aos adolescentes e à
juventude, sob diversos enfoques, destacando seu envolvimento com a delinqüência
e a criminalidade, com o tráfico de drogas e armas, com as torcidas organizadas,
com os espetáculos culturais nas periferias das grandes metrópoles. Este autor
também reforça a idéia de que a violência assimila diferentes modulações em
variados momentos históricos e as regularidades que apontam para a constância de
sua manifestação.
Este fenômeno se apresenta fortemente relacionado à juventude, que
classifica seu comportamento, no que é aceito e no que é negado, focando nesta
classificação seu entendimento sobre a violência em suas múltiplas dimensões, seus
dilemas e desafios frente à criação dos espaços materiais e simbólicos, como eles
são criados e o modo como analisam as diferentes formas que a violência se
manifesta na escola.
A pesquisa retrata a violência como gênero e como espécie, e ainda, as
relações de violência que vão se dando difusamente, sob vários aspectos e
recrudescendo mimeticamente no interior das escolas públicas, em especial, as
escolas na região do Grande Bom Jardim
1
.
Serão abordados, ao longo dos capítulos, aspectos relacionados aos jovens
e suas relações no campo social da violência que tem perpassado todos os
espaços, não só o da rua, como os privados da casa e, sobretudo da escola.
Os contornos da violência também serão observados como espaço, não
de socialização de valores construtores de cidadania e de identidade, mas também
1
Área administrativa Regional V, da Prefeitura Municipal de Fortaleza inserida entre os eixos do baixo
e médio Rio Maranguapinho. Compreende os bairros Bom Jardim, Granja Portugal e mais 15 outros,
18 áreas de risco e 40 favelas. Possui uma população de 452.875 habitantes, sendo a mais populosa
regional de Fortaleza.
13
profundamente marcado pelas relações de agressão, onde os jovens reproduzem as
relações de sociabilidade extensivas à rua e seus variados significados.
Outras questões relacionadas a esta temática serão abordadas na tentativa
de compreender a percepção e o significado que os jovens têm sobre suas vidas e
como as vêem relacionando-as à violência; quais o as formas, manifestações e
situações de violência consideradas de maior incidência; em quais esferas e lugares
a violência é tida como comum ou freqüente; quais os significados que estão sendo
arquitetados como opostos à violência.
14
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE INVESTIGAÇÃO
2.1 Discutindo a problemática
Na década de 1950, os primeiros estudos sobre o fenômeno da violência
nas escolas foram realizados nos Estados Unidos. Verificaram-se diversas
dimensões e problemas decorrentes, tais como o surgimento de armas nas escolas,
inclusive arma de fogo, a disseminação do uso de drogas e a expansão do
fenômeno das gangues, eventualmente associadas ao narcotráfico.
O Brasil, na pós-modernidade, apresenta muitos vetores que estimulam
essas ocorrências porque violência tem mediações simbólicas, sendo um fenômeno
fundamentalmente cultural, decorrente de um contexto histórico desigual, atingindo
indistintamente, toda a população.
No Brasil, inúmeras escolas e suas imediações deixaram de ser áreas
protegidas ou preservadas e tornaram-se, por assim dizer, abertas à violência
cotidiana do espaço urbano, reduzindo seu papel de áreas de amparo de pais e
alunos, alterando a qualidade de seus vínculos com a comunidade. Com isso,
mudou também o foco de análise do fenômeno, tal como se apresenta no final do
milênio, em comparação com os registros dos primeiros estudos, em que a violência
era tratada nas escolas como uma questão de disciplina.
A violência não é compreendida como uma falha da racionalidade do ser
humano, mas como um fenômeno aprendido e produzido em diferentes espaços. A
escola é um deles. Nela, a violência social poderá direcionar a aprendizagem para
comportamentos violentos ou para a prática de uma cultura de paz. O
direcionamento, para esta ou aquela aprendizagem, está relacionado aos valores
programados culturalmente.
A violência como força juvenil, em algumas escolas, é canalizada para
programas culturais de incentivo à arte. Pela música, a palavra é reeditada,
expressando alternativas, como o Hip Hop, em contraposição ao uso da força física,
contra o outro. É assim no “Movimento Trocar Idéias”, com mobilização social e
aprendizagens. Lobão, ex-integrante de uma gangue e, atualmente, participante
15
desse movimento, criador de raps no bairro de Santa Terezinha, no Rio de Janeiro,
com sua letra musical anuncia o “poder da palavra”: “A minha consciência é uma
arma/ a letra do rap é minha bala/quando eu abro a boca estou puxando um gatilho/e
quando sai minha voz estou dando um tiro” (apud DIÓGENES, 1998, p. 134).
Atingir a consciência da juventude e criar esferas alternativas de
agrupamento é a tarefa central do Hip Hop. A defesa de uma revolução cultural pelo
Hip Hop torna-o um movimento político cultural. Os membros desse movimento são
organizados, têm um estatuto ideológico, criaram o jornal Alô B. Boys (1997)
desenvolvem um discurso baseado num projeto político bem definido e posto em
prática pela militância.
O movimento Hip Hop do bairro Santa Terezinha, no Rio de Janeiro ressalta
o objetivo desse movimento no que tange à dimensão da “resistência e da
identificação de um estilo de vida contra a discriminação social e racial”, conforme a
seguinte descrição:
Ah! B. Boy, não é a burguesia que vai compreender o que é burguesia.
Nós temos que mostrar para o jovem da periferia o seguinte: Cara tu
sem emprego? Tu sabes por que sem emprego? Talvez ele diga
bicho, talvez porque eu não estude ou talvez porque não trabalhe e eu
vou dizer o seguinte – Tu tá num ônibus, de repente, tem um cara sozinho
num carro importado com ar condicionado. Deu para ele notar a diferença
disso? Agora, vamos pensar. Por que aquele cara tem ar condicionado e a
gente ta aqui nesse ônibus, imprensado? A partir daí é essa relação da
origem do Hip Hop na raiz, do comportamento com o novo (JORNAL
ALÔ B. BOYS, 1997).
O movimento Hip Hop, em Fortaleza, se expressa como um dos novos
sujeitos políticos, na esfera do cotidiano da periferia, cuja marca é a expressão cultural
e, como lema, a rebeldia juvenil que ecoa do lado pobre para o lado rico da cidade.
O Hip Hop é uma manifestação lúdica, agregada à política, por isso, o lazer,
como outra prática social, constitui uma importante dimensão a ser considerada
devido à sua relevância social para os jovens. Estudos demonstram que os jovens
utilizam a recreação para tornar real um imaginário associado ao prazer, segundo as
palavras de Minayo (1999), abaixo descritas:
(...) momento privilegiado para os jovens afirmarem e reafirmarem laços
de amizade, desenvolverem sua criatividade e confrontarem consigo
mesmo, numa situação interpares, intergêneros e, por vezes, entre
estratos sociais diferenciados (MINAYO, 1999, p. 51).
16
Os jovens podem ser vítimas da violência, em muitos casos, praticada por
outra pessoa de sua faixa etária. Existem diversas gicas e formatos na violência
juvenil, sendo que muitas delas têm representado uma forma dos jovens quebrarem
com sua invisibilidade e mostrarem-se fortes, aparentemente capazes de influir, fora
das normas, nos processos sociais e políticos de seu país.
A juventude tem uma identidade porosa que clama por sua valorização e
reconhecimento. Em tendo dificuldade de inserção na família, na escola e na
sociedade, pela inoperância das instituições responsáveis pela sua proteção, faz
com que tenham que defender contando com os seus próprios recursos.
Neste contexto, os jovens muitas vezes, encontram aceitação,
reconhecimento e ganha significado nas situações de sociabilidade e de
identificação coletiva, processos identificatórios próprios, como nas gangues, galeras
ou tribos. Desenvolvem os mesmos sentimentos (do prazer, de ser acolhido, de
pertencer), e compartilham objetivos comuns, num jogo em que a cumplicidade e os
laços de amizade vão se tornando mais sólidos, originando uma relação quase
fraterna. Os jovens se vestem da mesma maneira, com as mesmas marcas de
roupa, com a mesma cor de boné e de camisas, criam uma linguagem própria, com
gírias e cumprimentos diferenciados, e são regidos por códigos de valores,
freqüentemente associados a atividades ritualísticas: coragem, força, resistência,
temeridade, lealdade ao grupo e impiedade para com os adversários, obediência à
liderança e às regras do grupo.
A arma é o fasnio para os jovens integrantes de gangues, representa ser
respeitado e reconhecido pelos colegas e pelas meninas, que gostam de “meninos
que têm arma”, representam uma forma de impor respeito, de mostrar status e valentia.
Diante de uma sociedade que manipula canais de mobilidade social e
segrega, socialmente, setores da população, e que, am de não reconhecer,
estigmatiza os principais canais de participação juvenil, atos violentos m
servindo para colocá-los nos meios de comunicação e chamar a atenção para
sua difícil vida.
Segundo Abramovay (1999), os rappers são grupos em contraponto às
gangues, cujo uso da violência é percebido como válido, desde que sejam
17
respeitadas algumas regras (por exemplo, não roubar idosos, roubar dos mais ricos,
entre outras). No entanto, é fundamental considerar que, para eles, a vida vale muito
pouco e a avaliação do crime e dos seus limites depende das circunstâncias. Não
existe uma moral a priori: são as circunstâncias que determina quem, onde e como
se pode matar ou deixar de matar (ABRAMOVAY, 1999).
Os rappers fazem o som da juventude de periferia, denunciando e
retratando, com palavras agressivas, o mundo em que vivem. Nesse sentido, o rap
não é necessariamente uma apologia da violência - senão um retrato do mundo em
que os jovens vivem. O rap surge como um importante elemento de formação da
identidade social dos jovens da periferia, além de uma via que possibilita o
afastamento dos jovens das gangues e da criminalidade.
Extrapolando-se para a sociedade, a violência em geral corre o risco de ser
banalizada e se incorporar ao “fazer e viver cotidiano”. É o que se vem observando
nos crescentes atos de corrupção, na desconsideração pelo próximo, no
individualismo exacerbado e no jogo de poderes. Constata-se, portanto, a
complexidade do fenômeno da violência, entendendo o envolvimento de elementos
subjetivos e objetivos relacionados à estrutura social e ao indivíduo, em particular.
Caracteriza-se como um fenômeno multicausal, com difícil notificação e reiteração
de ocorrências, principalmente quando as vítimas são crianças e adolescentes e o
lócus é a família e/ou a escola.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura,
UNESCO, organizou e divulgou o Mapa da Violência: Os Jovens do Brasil
(WAISELFISZ, 1998), tendo como objetivo traçar um panorama sobre a evolução da
mortalidade na juventude brasileira e, mais especificamente, da mortalidade
derivada de situações violentas, caracteriza os novos núcleos dinâmicos da violência
no país, o que vem servindo de subsídios às políticas públicas assistenciais.
A pesquisa citada aponta que, 3,2% das mortes acontecidas no Brasil, no
ano de 1998, foram originadas pela ão de algum tipo de arma de fogo, as quais
o responsáveis por 25,5% do total de óbitos por causas externas e por 61,2% do
total de homicídios. A elevada taxa nacional de 18,6 mortes por armas de fogo em
100.000 habitantes é semelhante à de mortes por acidentes de transporte
(19,6/100.000 habitantes).
18
Entre os jovens, a taxa de óbitos por armas de fogo (36/100.000) é bem
maior e superior à taxa de óbitos por acidentes de transporte (21,4/100.000).
Outros dados disponibilizados pelo Sistema de Informação para a Infância e
a Adolescência (SIPIA, 2000), indicam que, de 6.741 notificações relacionadas à
violência, em 28 municípios cearenses, 51,77% das vítimas eram adolescentes do
sexo masculino e 48,235 do feminino, com 62,25% de cor “parda”. Desse universo,
46,48% dos casos referem-se à violação dos direitos fundamentais, (liberdade,
respeito e dignidade): 40 aprisionamentos, 2.056 atos atentatórios ao exercício da
cidadania, 67 discriminações, 170 práticas institucionais irregulares, 424 casos de
violência física, 219 atos de violência psicológica e 165 de violência sexual.
Considerando essa problemática para uma reflexão crítica com vistas a
contribuir com o planejamento educacional para a juventude, levantam-se as
seguintes perguntas de partida para investigação:
a) Como o fenômeno da violência vem se manifestando no interior das
instituições escolares blicas em Fortaleza que trabalham com
estudantes adolescentes?
b) Qual o significado da violência, na escola pública, para os atores envolvidos?
c) A escola para jovens seria um espo aberto ao exercio da vioncia?
2.2 Delimitação do objeto e do lócus da pesquisa
Minha caminhada como educadora do Estado, desde 1980, tem me
proporcionado aprendizagens significativas que muito contribuíram para minha
formação pessoal e profissional. As experiências docentes vividas, junto aos
adolescentes, me impulsionaram a percorrer um processo investigativo, relacionado
à violência que vem ocorrendo nas escolas públicas de periferia e seu entorno.
Tenho imagens obtidas de observações diretas e de encontros sistemáticos
mantidos com jovens estudantes, desde 1994. Imagens que compõem, como uma
colcha de retalhos, uma visão de mundo de uma comunidade/grupo expressa em
suas representações imagético–simbólicas, que se apresentam de forma variada e
que podem ser tipificadas em regimes e estruturas (DURAND, 1989).
19
Minha trajetória oferece indicativos preciosos para a análise compreensiva
da complexidade do fenômeno que focamos neste estudo, a violência na escola,
presente na prática social e no simbolismo das organizações educativas.
O impulso que me moveu a realização deste trabalho foi reforçado pela
crença que o jovem, em sua individualidade, é um ser que deseja, aspira, sonha,
pulsa e quer ser feliz.
Como um ser social, entretanto, o jovem está sujeito a cumprir ou
descumprir determinações, normas, nem sempre de seu agrado.
O dever ser do jovem nem sempre é decidido por ele pprio. Este é o bailado
do “eu” e do nós”: a ciranda cadenciada do querer e do dever, da necessidade com a
obrigação, do uno no ltiplo, a transgressão ou a disciplina, e d a luta social no
cotidiano miúdo, para viver ou sobreviver.
Intitulado Retrato Falado da Violência na Escola Pública, o presente trabalho
de pesquisa foi desenvolvido no município de Fortaleza, espaço marcado por fortes
contrastes expressos em significativas desigualdades sociais, com rebatimento
diversificado no modo de viver e representar a cidade, por seus habitantes.
Fortaleza tem oscilado seu índice de crescimento nos anos 70 e 80 do século
passado
2
, mas a concentração de renda da sua população aumenta
significativamente, de modo que os 10% mais pobres ganham, em média, 0,76% do
salário mínimo, enquanto os 10% mais ricos ganham em torno de 45,7 salários
mínimos (IBGE, 2000).
A leitura do texto “Opulência e Miséria nos Bairros de Fortaleza” (CARLEIAL,
ARAÚJO, 2003), ofereceu conhecimentos sobre as diferenças sociais nos bairros de
Fortaleza. Segundo as autoras, estas diferenças se acentuaram na década de 90,
intensificando a mobilidade espacial de famílias médias e abastadas, para áreas
afastadas do centro da cidade ou de bairros do perímetro central, descentralizando o
2
Segundo dados do IBGE, na década de 70, a população de Fortaleza cresceu 69,5%; dez anos
depois, o crescimento populacional foi de 53,26%. Também é significativa a expansão da indústria do
turismo na cidade, fato que põe Fortaleza, na atualidade, no terceiro pólo turístico do Nordeste
(Conforme BARREIRA, I, 1998).
20
comércio e a localização de postos de trabalho, construindo-se residências e
apartamentos para o leste, área de expansão urbana.
De acordo com a mesma fonte, a pobreza tem se estendido a todas as
partes da Cidade, universalizando a miséria nos bairros. Fortaleza torna-se uma
cidade cheia de contrastes, um espaço de oposições, onde se discriminam uns, ao
mesmo tempo em que privilegiam outros.
A fragmentação do espaço tornou-se visível na escala de setores
censitários, evidenciando as heterogeneidades e as homogeneidades dos espaços
intraurbanos, inerentes aos bairros de Fortaleza. Expressa essa realidade social a
reestruturação urbana onde bairros tidos como ricos comportam ilhas de pobreza e,
os considerados pobres, traços de riqueza, revelando uma apropriação do espaço
urbano de modo desigual e articulado.
Os impactos sociais de um desenvolvimento econômico injusto se refletem
numa urbe carregada do signo da desigualdade social, presente nas imagens e
representações sociais dos diversos segmentos populacionais.
É nesse quadro de conflitos e tensões sócio-econômicas que este trabalho
pretende observar o comportamento de jovens estudantes em escolas públicas na
periferia de Fortaleza, especialmente nos bairros do Grande Bom Jardim.
O que se pretende é descobrir elementos que constituem o fenômeno,
tornando visível sua natureza para poder reconhecê-lo no momento de lidar com ele,
na escola pública. Objetivou-se estudar essa problemática em seu caráter paradoxal:
as ambivalências de suas interpretações pelos atores envolvidos, suas
manifestações e seus elementos constitutivos, contextuais e localizados.
A violência em gênero é um fenômeno social, entendido como sendo
manifestações em atos violentos que, no sentido jurídico, provocaria no outro, pelo
uso da força, um constrangimento físico ou moral (FERREIRA, 1986, p. 1779). A
violência nas escolas é uma espécie, particular, delimitada pelas infrações
cometidas por ou contra alunos, professores ou funcionários, incluindo amplas
formas ameaçadoras até o uso de arma, bem como aquelas dirigidas contra bens
materiais (vandalismo).
21
A inclusão de alunos, professores e mães, nesta pesquisa, foi
metodologicamente pensada como possibilidade de se chegar a percepções de
experiências culturais espeficas, como modo de delimitar, a partir do que acontece
dentro da dinâmica social desses lugares, um “modo próprio” particular ou universal
capaz de produzir uma trama significativa de violência dentro desse contexto, com
enfoque na juventude.
Isto porque se entende que, a condição social, dos jovens e de suas famílias
é o substrato do desenvolvimento de uma ética grupal, conforme argumenta
Maffesoli (1987a), ou seja, do reconhecimento cultural e do imaginário, produtor de
significados acerca das mais distintas práticas sociais, dentre as quais, as violentas.
O primeiro procedimento, nesse processo investigativo, foi o exercício da
observação direta, nas escolas, assistindo oficinas pedagógicas, acompanhando as
atividades didáticas, verificando a diversidade cultural expressa por atitudes e
comportamentos dos jovens estudantes, priorizando aqueles relativos ao campo
específico da violência manifestado na escola. A questão central, dessa etapa de
observação, era pensar sobre o que os jovens estudantes de escolas públicas
consideravam e verbalizavam como sendo violência. Como se articula a trama da
violência na escola, e quais os significados que ela possui.
A partir da observação direta e das respostas obtidas, foram se delineando
alguns elementos constitutivos e contextuais capazes de repensar a associação
entre os temas violência na escola pública e juventude, em uma análise
interpretativa na busca de significados.
Considerando as perguntas de partida deste processo investigativo,
construiu-se a seguinte hipótese de estudo: A escola é hoje vivida como espaço de
vulnerabilidade social. Isso porque, a escola não é espaço de socialização de
valores construtores de cidadania e de identidade, mas, é também, profundamente
marcada pelas relações de violência, onde os jovens reproduzem as relações sociais
e de poder, da sociedade em geral, com seus variados significados, quase sempre
fora do controle dos educadores.
Esta investigação tem como objetivos: desfiar, cientificamente, o fenômeno
da violência na escola pública pela observação, classificação e análise de sua
22
manifestação e significada; interpretar o significado desta problemática na visão dos
atores envolvidos.
Partiu-se do pressuposto que a criminalidade e a violência estão presentes
em todas as partes, mas nas periferias urbanas e nas favelas encontra maior
exacerbação, dado as condições de exclusão social em que vive grande parte da
população dessas localidades.
Como as comunidades periféricas estão mais fragilizadas e, por isso, mais
expostas à violência, é comum se fazer o raciocínio simplista de que a pobreza é a
principal causa da violência. A princípio, quando se estabelece uma relação direta
entre pobreza e violência, corre-se o risco de fazer uma análise unilateral e
simplificada, considerando lógicas as pessoas em um contexto socioespacial de
privação buscar a satisfação de suas necessidades apenas por meio da
transgressão e da criminalidade. Na verdade, tal associação rápida entre pobreza e
violência cai em um determinismo fatalista que as Ciências Sociais muito
recusam como modelo aceitável de explicação do comportamento criminoso e/ou
violento (ZALUAR, 1985; COELHO, 1988, PAIXÃO, 1988).
Além disso, essa associação simplificada da realidade social não permite
compreender as variadas formas de manifestação da violência, todas originadas na
estrutura da sociedade brasileira, tais como: a doméstica (MINAYO, 1994); aquelas
entre atores de grupos sociais tidos como socialmente incluídos; e a de pessoas de
classe média (PORTO, 1997).
Portanto, pensar a violência em suas múltiplas manifestações requer partir
do pressuposto que este fenômeno social pode causar vítimas e algozes de forma
indistinta. Este fenômeno pensado em sua especificidade, especialmente a violência
praticada e sofrida pelos jovens estudantes de escolas públicas, requer a superação
das noções cristalizadas no senso comum, para apreender de forma adequada a
complexa rede de fatores que intervêm na explicação da delinqüência juvenil.
Um modelo teórico-explicativo interessante foi empregado por Assis (1997),
na pesquisa que investigou a delinqüência juvenil a partir da trajetória de vida de
jovens infratores e de seus irmãos ou primos não infratores. Esse modelo incorpora
três níveis de análise distintos, a saber: o estrutural, o sócio-psicológico e o
23
individual. No primeiro, incluem-se fatores como a desigualdade social, a
desestruturão das instituições públicas e as facilidades oriundas do crime organizado.
No outro extremo, o nível individual tem-se as características de
idiossincrasias predispondo o indivíduo à transgressão, especialmente aquelas que
conformam a chamada personalidade anti-social. No nível intermediário, no
sociopsicológico, estão compreendidas nas relações do jovem com seu meio mais
imediato (família, amigos, escola, comunidade).
A rede causal da delinqüência juvenil é passível de múltiplas interações em
que as condições estruturais e individuais são fatores de risco que contribuem para a
ocorrência da delinqüência juvenil. Assis sustenta que a gênese da violência está
imediatamente associada a três variáveis de teor sócio-psicológico: a) A vinculação
social problemática do jovem às instituições que têm como função contribuir para a
sua formação e supervisão (a família, a comunidade, a escola); b) As condições em
que se o processo de construção da auto-imagem do jovem; c) A influência do
grupo de pares com que convive, mais imediatamente, e as inter-relações que esse
grupo estabelece na sociedade.
Entender a violência, entre os jovens, a partir desse modelo em três níveis,
com relativo prevalecimento do nível intermediário sobre os demais, é uma forma
interessante de responder à necessidade enunciada anteriormente de podermos
estabelecer mediações entre o problema macroestrutural da exclusão/desigualdade
social e a prática da violência. Sobretudo quando consideramos, por exemplo, que
grande parte da insuficiência dos mecanismos tradicionais de socialização e controle
social sobre os jovens se deve à sua própria fragilidade sob o impacto das condições
sociais adversas a que estão submetidos.
Assim, as escolas públicas de bairros periféricos e favelas, por exemplo, que
são constantemente invadidas pela violência do espaço urbano, deixando de
representar locais seguros para seus alunos, tem sua missão pedagógica e
formadora amplamente comprometida e, muitas vezes, funcionam como espaços de
reprodução de violências. Também, a desestruturação familiar e as relações
intrafamiliares pautadas pela violência, que têm importância decisiva na exposição
dos jovens ao universo da delinqüência, são, muitas vezes, a contra-face das
24
relações precárias que as famílias pobres mantêm com o Estado, o mercado de
trabalho e o restante da sociedade.
As práticas violentas também ocorrem nas famílias dos estratos superiores
de renda, que dispõem de maiores recursos materiais para resolver os reveses de
seus jovens custeando o acesso à educação, à saúde, ao lazer, ao esporte, entre
outros. Entretanto, estes mecanismos nem sempre são suficientes para evitar a
ocorrência de episódios violentos entre os jovens de famílias de classe média e
média alta, tendo em conta o sem número de crimes violentos entre estes jovens
que são, cotidianamente, noticiados pela mídia. Os atos de violência desses jovens
não são geralmente considerados como problemas sociais, por não pertencerem ao
público alvo dos programas sociais, já que estes estão reservados para jovens
pobres e excluídos.
Fundamentalmente, estes episódios chamam atenção para o fato de que, o
próprio processo de construção da identidade juvenil envolve dificuldades que
atingem os jovens de todos os estratos sociais e estão além do controle social que a
família, a escola e a comunidade podem exercer.
A localização das escolas, contempladas nessa pesquisa, foi delimitada
levando-se em consideração o desempenho negativo do Índice de Desenvolvimento
Humano por Bairro (IDHM-B), sendo escolhido o Grande Bom Jardim, área
geográfica com índice de apenas 0,440, abaixo de Fortaleza (0,508) portanto, de
baixa qualidade de vida local.
Os bairros pesquisados, Bom Jardim e Granja Portugal compreendem uma
população de 71.876 pessoas (15,87% do total) uma área de 615,60 habitantes por
hectares, o que corresponde 9,70% do total da Região V do município de
Fortaleza (IBGE/PMF SEPLA, 2004). Estes bairros apresentam 35,89% (164,11
habitantes) de não alfabetizados com idade igual a 15 anos e mais, maior que o total
de Fortaleza, com 13,77% (IBGE – SEPLA, 2000).
A pesquisa estimou uma amostra aleatória simples da ordem de 225 alunos
de cinco escolas públicas do Estado, sendo Escolas de Ensino Fundamental e
Médio. No bairro Bom Jardim foram pesquisadas Santo Amaro, São Francisco de
25
Assis, Professor Jociê Caminha de Meneses e São Vicente, e no bairro da Granja
Portugal, a escola Michelson Nobre da Silva.
Por escola, foram pesquisados de 30 a 50 alunos variação que corresponde
às especificidades locais. Na Escola do Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Jociê
Caminha de Menezes foram consultados 46 alunos/as, correspondendo a um
percentual de 20,4%; 51 alunos/as na EEFM São Francisco, referente a um
percentual de 22,7% da amostra; 49 adolescentes da EEFM Santo Amaro somando
um percentual de 21,8%; na EEFM São Vicente, foram envolvidos 43 alunos (as)
correspondendo a 19,1%; 36 alunos/as da EEFM Michelson Nobre da Silva, na
Granja Portugal, correspondendo a 16% do universo pesquisado.
A amostra contemplou grupos de alunos na faixa etária de 14 a 21 anos, de
ambos os sexos. O percentual de 52,9% foi do sexo feminino e 47,1% do sexo
masculino, distribuído nos três turnos: manhã, tarde e noite. Os alunos que
cursavam o ensino regular nas e séries e ensino médio corresponderam a
90,7% da amostra, enquanto que o Programa Tempo de Avançar 6,2% e o Sistema
de Telensino, com apenas 1,8% da amostra.
Além dos alunos, participaram como informantes 40 (quarenta) profissionais
de educação da rede estadual blica de ensino, que trabalham na área delimitada
para este estudo, 33 (trinta e três) pais de alunos e 9 (nove) outros segmentos
sociais que integram a comunidade local e prestam serviços à escola. Para a
delimitação destes profissionais adotou-se o critério de escolha aleatória, tomando a
relação total dos profissionais de cada uma das unidades escolares, e sorteando 7
(sete) nomes, além do diretor da unidade escolar. Foram selecionados, em média, 7
(sete) pais por escola, ao acaso, para comporem as sessões grupais, desde que
estes tivessem filhos cursando as e séries do ensino fundamental, e ensino
médio das escolas pesquisadas.
2.3 Trilha metodológica da investigação
Esta pesquisa compreendeu duas abordagens complementares, pom
diferentes pelas características de seus resultados e estratégias adotadas: a
abordagem extensiva e a compreensiva, tentando articular os benefícios e superar
as limitações de cada uma delas, quando utilizadas individualmente.
26
Schofield e Anderson (1984) afirmam que a pesquisa quantitativa
geralmente se concentra na testagem de hipóteses, que são uma pequena parte de
uma perspectiva teórica mais ampla. Esta metodologia segue mais perto das
ciências naturais tradicionais do que a pesquisa qualitativa, com ênfase nos
procedimentos experimentais e os métodos de análise estatística. A pesquisa
quantitativa caracteriza-se pela padronização, precisão, objetividade e confiabilidade
das medidas do mesmo modo que a reprodutividade e a generalidade de seus
resultados. Assim, a pesquisa quantitativa se caracteriza, o somente por uma
concentração em obter números, mas, também, pela geração de números que sejam
apropriados para testes estatísticos (SCHOFIELD; ANDERSON, 1984, p. 8-9).
A abordagem quantitativa adotada nesta pesquisa, por definição permite
aferir a magnitude dos fenômenos, a sua extensão, todavia, possibilita a exploração
do seu significado substantivo. Por outro lado, os seus benefícios constituem no
poder da representatividade e interferência do universo analisado.
As técnicas qualitativas têm a vantagem de centrarem-se no seu maior
poder explicativo dos fenômenos que estão analisados, sem, contudo, possibilitar
sondagens de maior escopo e conseqüentemente inferências mais abrangentes. A
combinação destas duas abordagens, como um todo integrado, favorece o
desvendamento dos significados substantivos das informações obtidas.
A abordagem extensiva objetiva trabalhar com a representatividade e a
inferência dos dados, a partir de uma metodologia indutiva. Neste sentido, foram
estruturados questionários semi-abertos dirigidos a uma amostra da população
considerada relevante para a pesquisa: jovens estudantes de escolas públicas dos
bairros Grande Bom Jardim e Granja Portugal, pertencentes a V regional de Fortaleza.
A abordagem compreensiva procura trabalhar o sentido e o conteúdo das
manifestações da vida social próprias à atividade dos sujeitos que interagem em
função dos significados individuais, sociais, culturais. O paradigma compreensivo
centra-se nas representações, na procura de sentido, nas intenções, nas motivações
e nos valores dos atores sociais.
Como parte dos procedimentos metodológicos, foi utilizada a técnica de
grupo focal. Esta técnica é de natureza qualitativa, não-diretiva, e cujo resultado
27
visa o controle da discussão de um grupo de pessoas com características comuns.
Foi inspirada em técnicas de entrevista o-direcionada e técnicas grupais usadas
na psiquiatria, das quais foi possível obter informações num contexto dialógico.
Segundo Barreira (1998), é uma cnica de entrevista oral, que se fundamenta
numa interação desigual de entrevistador e entrevistado, cujas informações ali
construídas têm um caráter sigiloso e confidencial, que poderão revelar ou não as
identidades das falas.
O processo de construção do conhecimento mesclou a abordagem e visão
metodológica utilizando em alguns momentos, aspectos da pesquisa qualitativa,
trabalhando as questões de natureza mais subjetiva, e em outros, dados
quantitativos, para mensurar a incidência de violência na escola.
Os primeiros passos dados, ao longo do processo de pesquisa, constaram
de revisão da literatura especializada, acompanhada de listagem documental e
construção teórica que permitiu a atualização dos temas da violência na escola, das
políticas públicas e dos anseios da sociedade por paz e segurança social.
A pesquisa documental e a bibliográfica ofereceram base compreensiva para
o permanente confronto dialético com os dados empíricos levantados. O produto
dessa etapa diz respeito à construção de uma abordagem que fundamentou a
análise estabelecida no entrelaçamento da empírica com a teoria.
O segundo momento manifestou-se numa síntese relacional que constou da
sistematização dos dados empíricos, à luz da construção teórica confrontativa e
complementar, oportunizando uma síntese com proposições.
Compreender os sentidos da violência vivida pelos diversos atores
educacionais foi um esforço considerado no decorrer desta pesquisa para perceber
os diferentes significados que a comunidade escolar atribuiu a essa problemática.
No campo emrico, inicialmente, buscou-se sensibilizar a comunidade escolar
para o desenvolvimento da pesquisa, informando seus objetivos, metodologia a ser
adotada e a importância de contar com essa parceria; depois contatos estabelecidos e
reuniões nas unidades educativas, agendadas, previamente, para esclarecimentos
sobre a pesquisa, a definão dos envolvidos e demais acertos necesrios ao processo
investigativo, baseado em planejamento e confiança.
28
A seleção dos participantes do grupo focal foi criteriosa e a mais específica
possível considerando que, pessoas muito diferentes podem influenciar a discussão inibindo-
a, ou criando constrangimentos (BARBOSA, 1998; DALLAGNOL; TRENCH, 1999).
A amostra foi definida pelo objeto do estudo considerando os critérios de
seleção, assim especificados: pais de alunos matriculados nas escolas pesquisadas,
professores que compõem o corpo docente, educadores que integram os núcleos
gestores das referidas escolas e integrantes da comunidade local.
Observou-se uma variação dos participantes em relação à idade, origem
étnica, estado civil, religião e classe social, o que enriqueceu o olhar crítico sobre a
problemática investigada, revelando suas possíveis diferenças, ainda que cada
grupo tenha sido selecionado a partir de um traço comum.
O processo compreendeu coleta e organização de dados colhidos pela
primeira vez, e dados disponíveis com o pesquisador em documentos, livros,
artigos e outros. Para o trabalho de campo foram utilizados instrumentos de
investigação visando a obtenção de dados para análise conjunta dos resultados da
pesquisa. Utilizou-se, primeiramente, a observação sistemática do fenômeno em
estudo, e em seguida, a aplicação de questionários semi-abertos, constando de três
partes: a primeira voltada para traçar o perfil do jovem entrevistado, com questões
socioeconômicas, entre outras. A segunda engloba questões gerais sobre a atuação
dos alunos, relacionadas às suas relações no interior da escola. A terceira parte
refere-se a questões sobre a manifestação do fenômeno da violência na escola e
seu entorno, direcionadas ao jovem estudante do Grande Bom Jardim (Anexo 1).
O emprego da técnica de grupo focal envolveu o corpo técnico das escolas
pesquisadas, professores e pais. Além de entrevistas com diretores, coordenadores
e funcionários.
Foram realizadas 10 (dez) sessões grupais de discussão sobre o tema, cada
qual com um objetivo e uma metodologia específica destinada aos seguintes grupos:
educadores que fazem parte do núcleo gestor, professores e pais.
Cada sessão, em média, durou 1 hora e 30 minutos, sendo marcado o
horário conforme a solicitação das participantes. Houve o cuidado de respeitar o
29
início e o término do horário previsto, seguindo a orientação dos autores Barbosa
(1998) e Dall’agnol e Trench (1999).
Todas as narrativas e discussões foram gravadas em fita cassete e
transcritas após os encontros. Ficou estabelecido com os/as colaboradores/as que
após a textualização dos debates, eles/as validariam os registros. As falas colhidas
integraram o estudo de natureza qualitativa.
Foram consideradas, para constatar a veracidade ou não das hipóteses, as
informações coletadas, confrontando o referencial teórico sobre o fenômeno da
violência na escola e os resultados encontrados. O estudo debruçou-se sobre a
leitura do conteúdo teórico e da releitura das entrevistas, assim como dos relatos
gravados, transcritos e sistematizados pelo método de associação de idéias
(GUARESCHI, apud SPINK, 1993).
30
3 DEFININDO OS MARCOS TEÓRICOS DA INVESTIGAÇÃO
A violência na escola também é fonte de vida e se manifesta de
várias maneiras, propondo considerá-la como uma forma de reunir
tudo o que se refere à luta, ao combate, à parte sombria que sempre
atormenta o corpo individual ou social.
(MAFFESOLI, 1987a, p.15).
Para estudar a violência na escola é preciso, primeiramente, conceituar o
que se entende por violência de modo geral e especificamente. A história menciona
a violência como um dos fenômenos sociais mais singulares (SOREL, 1992).
Na verdade, percebe-se que se trata de fenômeno complexo por sua ambivalência
e heterogeneidade.
Michaud (1989) pressupõe fatos e ações, maneira de ser da força, do
sentimento ou de um elemento natural, algo, ou alguém, que “force outro alguém a
agir contra a sua vontade" (p. 8). Pode-se dizer que violência, como dano físico, é
facilmente identificável, e mais visível e palpável, mas quanto à violação às normas,
quase que qualquer coisa pode ser considerada uma violência, podendo haver
tantas formas de violência quantas forem às espécies de normas.
Sorel (1992) lembra que a força tem por objetivo impor a organização de
certa ordem social na qual uma minoria governa, enquanto a violência tende a
destruição dessa ordem. A violência envolve desconsideração, anulação do
interesse profundo, próprio, singular, ou mesmo coletivo, na medida em que se
expande em um número de pessoas reunidas em grupo ou comunidade com sua(s)
vontade(s). A violência espraia-se, em oposição à paz preconizada, perturbando ou
pressionando à ordem imposta e até aceita, por alguns (SOREL, 1992, p.23).
Na visão de Koller (1999), todo o ato violento tem em comum o fato de ser
caracterizado, por alguns elementos, como: “Ações e, ou omissões que podem
cessar impedir, deter ou retardar o desenvolvimento pleno dos seres humanos”
(KOLLER, 1999, p. 33).
A autora assinala, ainda, que existem três papéis no ato da vioncia que podem
ser confundidos, mesclados ou não: o papel de vítima, o de autor e o de testemunha.
31
Brunel (1997) remete a noção de violência ao vigor, potência, profanação,
transgressão, à força em ação, e ao mesmo tempo, refere-se à quantidade,
abundância, essência ou caráter essencial de uma coisa. Em concordância com esta
concepção sobre violência, Max Weber diz que é preciso compreender a violência
“(...) como manifestação maior do antagonismo existente entre vontade e
necessidade” (in MAFFESOLI, 1987a, p.14).
Por sua vez, Michael Maffesoli (1987a) entende a violência como uma
centralidade subterrânea, vendo nela modulões que ele agrupa em três modalidades:
violência dos poderes institdos, anima e banal. A vioncia do poder instituído refere-
se ao descaso do poder oficial em relão aos demais; a força que oprime que ignora o
direito dos afetos, desejos e vontades. A vioncia amica refere-se ao fenômeno como
estruturante do fato social, num movimento de duas mãos: como destruição e construção,
numa íntima correlão entre si. A vioncia banal é uma discorncia íntima, interna, que
se expressa por uma arte de fachada, da ironia, do cômico.
Considerando o paradoxal na idéia de violência, Maffesoli (1987a) diz que a
violência é uma forma envolvente que tem suas modulações paroxístas e suas
manifestações minúsculas. O autor lembra o halo de mistério que envolve o fenômeno
dizendo: “(...) misteriosa violência que nos obscurece, que ocupa nossa vida e nossas
discussões, que perturba nossas paixões e razões” (MAFFESOLI, 1987ª, p. 9).
Para Chesnais (1981) existem várias concepções de violência, as quais
devem ser hierarquizadas segundo o seu custo social. Para o autor, o referente
empírico deste conceito é a violência física, inclusive as violências sexuais, que pode
resultar em danos irreparáveis à vida dos indivíduos e, conseqüentemente, exige a
reparação da sociedade mediante a intervenção do Estado.
A segunda conceão abrangeria a violência econômica, que se refere somente
aos prejzos causados ao patrimônio, à propriedade, especialmente àqueles resultantes
de atos de delinqüência e criminalidade, contra os bens, como o vandalismo
3
.
3
Segundo Chesnais, os franceses se identificam tão intimamente com o seu patrimônio e seus bens
que, muitas vezes, reagem mais intensamente quando esses são violados do que quando a sua
própria pessoa sofre a violência. Daí esta tendência de atribuir à violência uma conotação econômica,
confundindo-a com delinqüência. Fica claro, nas palavras do autor, que o seu entendimento de
violência econômica não se refere às desigualdades na estrutura de posições no mercado nem aos
déficits de cidadania resultantes das assimetrias sociais (1981, p. 13).
32
Uma terceira concepção tem por foco a idéia de autoridade, que possui forte
conteúdo subjetivo. Trata-se da chamada violência simbólica, que se expressa na
imposição "letima" e dissimulada, com a interiorização da cultura dominante,
reproduzindo relações opressivas do mundo social e do trabalho. O dominado pode
ou não se opor ao seu opressor, que, às vezes não se tem reação, quando o
oprimido considera a situação natural e ou inevitável; outras vezes, a vítima não se
percebe como alvo deste processo, mas ao contrário.
Este tipo de violência pode ser exercido por diferentes instituições da
sociedade: o Estado, a mídia, a escola e outros. Como algum exemplo de violência
simbólica tem-se: a) imposição familiar por uma carreira para os filhos; b) pressão
para a mulher casar; c) discriminação velada para mulheres descasadas; d) forçar
uma religião aos filhos.
A educação, no entanto, es no centro desta discussão. Teoricamente, através
da educão o jovem pode tornar-se capaz de distinguir quando essendo tima da
violência simlica e tornar-se um ator social que vá contra a sua legitimação.
Devido à necessidade sócio-econômica, os pais precisam inserir-se nos
mercado de trabalho e com isso, vêm se distanciando cada vez mais do papel de
educar, reduzindo significativamente a idade que seus filhos vão para a escola. A
escola configura-se como o principal agente educacional da sociedade pós-
moderna. E, lamentavelmente, ao invés do que se espera a escola, muitas vezes,
não forma cidadãos e legitima o poder simbólico da classe dominante.
Bourdieu e Passeron (1970) explicam este processo pela ão pedagógica,
que perpetua a violência simbólica através de duas dimensões arbitrárias: o conteúdo
da mensagem transmitida e o poder que instaura a relação pedagógica exercido por
autoritarismo. A autoridade pedagógica que visasse destruir a violência simbólica
destruiria a si própria, pois ela mesma é um poder que legitima a violência simlica.
Os alunos não reconhecem seus professores como autoridade, como
também legitima as mensagens que por eles são transmitidas, recebendo e
interiorizando as informações. Isto garante uma reprodução cultural e social da
classe dominante, uma vez que, geralmente, os professores pertencem a esta
classe ou, então reproduzem os valores dela. Como foi dito, a violência simbólica
33
é estabelecida a partir do momento em que se hierarquizam os cargos na escola,
pois, assim como a mensagem transmitida não é natural, esta relação hierárquica de
poder também é arbitrária.
No Brasil, o conteúdo trabalhado nas escolas, geralmente, é aquele que
interessa à perpetuação da hegemonia cultural da classe média e alta: a realidade
do branco, urbano e bem sucedido é passada como exemplo natural de sucesso; as
peculiaridades regionais são trabalhadas a título de curiosidade; quanto aos hábitos
e costumes do índio e do negro, indissociáveis do que poderíamos chamar de
cultura brasileira, são transmitidas como algo à parte dos costumes da classe
dominante, tornando-nos alienados quanto à sua presença no nosso cotidiano.
A violência, sendo um fenômeno comum na vida em sociedade, não se
deixa definir de maneira simples, tampouco consensual. No entanto, apesar das
muitas visões sobre o fenômeno, a idéia de violência incorporou, tradicionalmente,
um conteúdo de coerção, agressão ou violação de indivíduos ou grupos sociais no
que diz respeito à sua integridade física ou moral e a seus direitos.
Uma das formulações mais abrangentes e afeitas à compreensão deste teor
da violência, na atualidade, talvez seja aquela proposta por Michaud (1989):
violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores
agem de maneira direta ou indireta; maciça ou esparsa, causando danos a
uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física,
seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações
simbólicas e culturais (MICHAUD, 1989, p. 11).
Um outro aspecto fundamental da questão está na relatividade do significado
da violência como categoria empírica, quando a violência nomeia práticas que se
inscrevem entre as diferentes formas de sociabilidades possíveis em um dado
contexto sociocultural e, por isso, está sujeita aos deslocamentos de sentido
conforme varie este contexto.
Por outro lado, o que se denomina como violência varia, também, no tempo,
sendo “flexíveis e mutantes os contornos do que uma sociedade, segundo
determinadas épocas e determinados ambientes socioculturais, nomeia como
violência” (PORTO, 1997, p.197). Por determinação recíproca, haveria algo de novo
também nas próprias manifestações da violência, por ser um fenômeno
34
sociocultural. Neste sentido, pode ser associado à nova configuração social,
igualmente desprovido de referência fixa.
Entretanto, esta pluralização na apreensão da violência, em si, sinalizaria
mudanças na própria natureza do social, que teria passado a se constituir sem refencia
fixa, tornando-se multi-referenciado e fragmentado valorativamente (PORTO, 1997).
Em outras palavras, a multiplicidade de percepções sobre a violência far-se-ia
acompanhar pela multiplicação de manifestações de uma nova violência,
autonomizada em face de posveis sentidos originários, sem objeto, despolitizada,
pronta para ser empregada como mero recurso de ação.
No Brasil, esta nova modalidade de violência está relacionada, em grande
parte, mas não exclusivamente, às atividades das redes de crime organizado que se
estruturaram a partir dos anos de 1980. É um fenômeno típico dos grandes centros
urbanos, ligados ao aumento do mercado das drogas e das redes do narcotráfico
que se organizam segundo a lógica de mercado, nutrindo-se da possibilidade de
auferir grandes lucros econômicos à margem do Estado e resolvendo qualquer
conflito pela violência (ZALUAR apud ABRAMOVAY et al., 2002, p. 25).
Segundo Wieviorka (l997) o novo paradigma da violência é marcado pelo
seu teor infrapolítico, ou seja, pelo fato de que esta violência se manifesta em
esferas que estão aquém do Estado e seus protagonistas, em vez de tentar aceder
às instituições políticas, visam mantê-las à distância, privatizando a violência e
diluindo o seu caráter político original. Neste sentido, a violência não se manifesta
como conseqüência de uma relação conflitual, como tradicionalmente, mas “parece
autonomizar-se, tornar-se um fim em si, lúdica, puramente destruidora ou auto-
destruidora” (WIEVIORKA, l997, p.12).
Ainda, nas palavras de Wieviorka (1997),
Não reduzamos a violência infrapolítica exclusivamente às suas
dimensões de violência privada, instrumental; sob vários aspectos a
violência gratuita, lúdica, eventualmente ligada ao gosto do risco, a um
desejo de aventura, ao esforço para produzir ou atingir um acréscimo de
sentido, es, também, relacionada com esse vel, bem como aquele que
constitui o contrário da busca de sentido, e implica muito na abolição de
qualquer tipo de sentido no puro prazer de uma violência desenfreada
(WIEVIORKA, l997, p. 32).
35
Neste contexto, algumas das novas formas de violência aparecem como
vazias de conteúdos de sentido (juízo de valor) e, como sugere Porto (1997), sua
utilização pode ser percebida como mera questão de oportunidade ou eficácia
segundo a lógica de ação diferenciada dos atores sociais.
Uma vez que as interões resultantes das novas formas da vioncia
instrumentalizada e banalizada engendram seu pprio contexto, a violência sem
objeto, destituída de sentido, pode, pela emoção, pelo jogo, se constituir em um
fim em si mesma, sendo indiferente se seres humanos são objetificados”
(PORTO, 1997, p.197).
Uma primeira conclusão resulta da revisão teórica feita até aqui, que é a
compreensão sobre a violência como sendo, do ponto de vista geral, de natureza
opressiva, constrangedora, produtora de sofrimento, portanto, uma força, fixa ou
não, que sustenta o sistema dominante, mas, por outro lado, pode ser uma pressão
que rompe a ordem, dependendo do nível de desenvolvimento da sociedade. Esta
condição se expressa no espaço onde a força é exercida, podendo ser dentro ou
fora das instituições, como a escola, a família, a casa. Esta espacialização da
violência, portanto, se dá na esfera pública e privada.
Neste sentido, haveria uma flexibilidade da violência que faz a interface
entre o público e o privado, cuja manifestação infrapolítica se espelha em toda a
generalidade da sociedade.
Esta força também chamada de violência pode ser física, econômica ou
simlica, motivada por paixões ou banal sem razão aparente. Ela produz algo,
uma ação, uma revolta, uma crise, entendida como positivo ou não, mas resultado
de contradições que são inerentes às sociabilidades existentes e não se constitui
um paradoxo.
Os agentes da violência podem ser as instituições sociais, como o Governo,
a escola; ou grupos, como as gangues juvenis; ou o indivíduo isolado. Ações
violentas podem acontecer significando respostas às necessidades econômicas,
culturais ou pressões grupais, mas em todos existiria a vontade de exercê-la, uma
deliberação, uma decisão que foi posta em prática.
36
O vitimado da violência, diretamente, é o indivíduo e, indiretamente, o grupo
do qual faz parte e, por conseguinte, a sociedade onde vive.
A violência como uma ação social
4
restrita à sociedade capitalista moderna,
não se restringe à determinada classe social, podendo ser encontrada nos grupos
de renda alta, média e baixa. Como uma ação social, a violência suplanta a
questão da sobrevivência e situa-se no apelo ao consumo ou contra ele.
Não é mais o discurso de que os pobres, em geral, e os jovens, em
particular, roubam para sobreviver ou para ajudar a família. Vivencia-se uma
sociedade de consumo, “onde tudo se torna objeto” (BAUDRILLARD, 1981), crise de
autoridade, de valores e ética, desagregação do tecido social, enfim, vivemos em
uma sociedade do aqui e do agora, da realização dos desejos, no país em que as
palavras e as regras de convivência foram desmoralizadas, formando as condições
para o aparecimento e difusão do viver trágico.
3.1 Violência como gênero
O termo violência vem do latim violentia que deriva da raiz vis, significando
força, vigor, potência, emprego da força física: “Mais profundamente, a palavra vis
significa a força em ação, o recurso de um corpo para exercer sua força e, portanto,
a potência, o valor, a força vital”, salienta Michaud (1989, p.8).
O homo violens é apresentado por Roger Dadoun (1998) como fruto da
violência originária da gênese, descrita no texto bíblico e cristalizada de forma
simbólica no imaginário humano. A história da humanidade permeada de crimes,
massacres e genocídios, não deixam dúvida sobre a presença da violência nas mais
distintas formas de organização social.
Toda a história de horror da humanidade leva Dadoun (1998) a concluir que
o homem é “fundamentalmente, primordialmente, um ser de violência, homo violens
(p. 101). Não se trata de discutir se o homem é bom ou não por natureza, como
queria Rousseau (1983), mas perceber que a violência é uma arma, ou melhor, um
instrumento a serviço do homem que traz na sua essência o desejo de dominação,
4
Ação social no sentido weberiano é concebida quando os indivíduos agem orientados pelas
expectativas dos outros dentro de uma conduta racional e com sentido para os envolvidos.
37
de poder, insaciável libido dominandi, segundo Maquiavel, na sua obra O Príncipe,
para permitir o domínio de uns sobre outros.
Na compreensão de Arendt, analisando o conceito no âmbito da política,
violência distingue-se por seu caráter instrumental se diferenciando de poder que é
uma “habilidade humana não apenas para agir, mas para agir em concerto”, ou seja,
é uma ação sempre coletiva (ARENDT, 2000, p. 36).
Para o senso comum a violência é resultado do sentimento de ódio, visto
como sentimento irracional, e assim, o homem violento é visto como alguém
desumanizado. Mas, Arendt entende que o homem num campo de concentração,
sob tortura ou passando fome, também está sofrendo um processo de
desumanização. No entanto desumanizar para a autora não significa dizer o mesmo
que transformar o homem em animal: “o mais claro indício da desumanização não
são o ódio e violência, mas a sua ausência conspícua” (ARENDT, 2000, p.47).
O homem que sofre alguma doença ou vive na miséria não expressa ódio
automaticamente. Não é porque ele passa fome que ele odeia a sociedade, nem
porque está com uma doença incurável, por exemplo. Com relação a este
sentimento no homem, a autora afirma: “(...) o ódio aparece apenas onde razão
para supor que as condições poderiam ser mudadas, mas não são. Reagimos com
ódio apenas quando nosso senso de justiça é ofendido” (ARENDT, 2000, p.47).
O processo de desumanização é analisado sob dois enfoques
complementares, sob o foco de quem pratica o ato desumano (senso comum) e
sob o foco daquele que teve a sua humanidade retirada por um processo
exterior (o campo de concentração).
Nos dois casos o homem se torna impotente diante da situação em que
vive. O primeiro, por não decodificar a realidade e utilizar-se da força, ao invés da
razão, ação tipicamente moderna e previvel. E o segundo, por estar sob o jugo de
uma ão totalizante, o mal radical. Arendt diz que a violência é, portanto, uma reação à
impotência. E acrescenta que quando algm faz justiça com as próprias mãos, não
deve ser considerado inumano ou meramente emocional, porque a violência é o agir
sem argumentar, sem o discurso ou sem contar com as conseqüências, é o único modo
38
de reequilibrar as balanças da justa (ARENDT, 2000, p. 48). Ela identifica na redução
cada vez maior da esfera pública o ponto primordial para o aumento da violência.
Na sua alise nem a vioncia nem o poder o fenômenos naturais,
eles fazem parte do campo político das relões humanas. Estão vinculados à
ação do homem. No entanto, diferentemente de Weber, ela entende que poder e
violência caminham em sentidos opostos. Quanto menos poder, no sentido da
democracia participativa, mais vioncia. A vioncia é um instrumento de
destruição do poder, não de criação. No pensamento de Arendt, a violência
tem sentido quando: (...) é uma re-ação e tem medida, como no caso da legítima
defesa. Perde sua rao de ser quando se racionaliza e se converte em prinpio
de ação(ARENDT, 2000, p. 6).
A violência entra em cena sempre que os homens são incapazes de agir em
conjunto, incapazes de realizar trocas, de participar de processos de reciprocidade.
Gilberto Velho (2000) reafirma esta iia:
A própria noção do outro ressalta que a diferença constitui a vida social, à
medida que essa se efetiva através da dinâmica das relações sociais. Assim
sendo, a diferença é, simultaneamente, a base da vida social e fonte
permanente de tensão e conflito (VELHO, 2000, p. 11).
É a divisão social do trabalho que promove cada vez mais a individualização
do sujeito. Quanto mais se aperfeiçoa o processo de divisão do trabalho, como
mostra Durkheim (1995), mais as diferenças entre os indivíduos são ressaltadas.
Quanto mais cada indivíduo adquire uma função específica na sociedade, mais ele
se diferencia de seus pares. Assim, a violência na sociedade contemporânea muda
de fisionomia e de escala, porque é o produto de sociedade nas quais, também,
mudou a administração de todos os aspectos da vida social, a tecnologia e os meios
de comunicação de massa, como a mídia (MICHAUD, 1989, p.16)
3.2 Violência como espécie
Debarbieux (1996) analisando historicamente a tradição de estudos
específicos sobre a violência no ambiente escolar, chama a atenção para relevantes
mudanças tanto no que é considerada violência como, também, no olhar a partir do
qual o tema é abordado.
39
O autor identifica uma fase na qual as análises recaíam sobre a violência do
sistema escolar, especialmente por parte dos professores contra os alunos
(punições e castigos corporais).
Para Debarbieux, as crianças foram “disciplinadas”, inclusive pela força,
desde a antiguidade até épocas mais recentes, por exemplo, a palavra hebraica
mûsar significa, ao mesmo tempo, instrução e correção, castigo. Os gregos
defendiam que se a infância e a juventude não eram idades da loucura, eram idades
de falta de razão e de excessos. Essas concepções justificariam a pedagogia
aplicada em tempos passados, na qual as penalidades físicas e psíquicas eram
empregadas com freqüência. No século XX, as punições diminuíram,
consideravelmente, mas não desapareceram totalmente, e os professores ainda as
aplicaram até a década de 1970, na Europa (DEBARBIEUX, 1996, p. 32).
Charlot refere-se à dificuldade em definir violência na escola, porque esta
remete aos “fenômenos heterogêneos, difíceis de delimitar e de ordenar”, e,
também, porque desestrutura “as representações sociais que têm valor fundador:
aquela da infância (inocência); a da escola (refúgio de paz); e a da própria
sociedade, pacificada no regime democrático” (CHARLOT, 1997, p. 1). Esse autor
amplia o conceito de violência na escola, classificando-a em três níveis:
a) Violência: golpes que produzem ferimentos, violência sexual, roubos,
crimes em geral, vandalismos.
b) Incivilidades: humilhações, palavras grosseiras, faltas de respeito.
c) Violência simbólica ou institucional: compreendida como a falta de sentido
de permanecer na escola por tantos anos; o ensino como um desprazer,
que obriga o jovem a aprender matérias e conteúdos alheios aos seus
interesses; as imposições de uma sociedade que não sabe acolher os
seus jovens no mercado de trabalho; a violência das relações de poder
entre professores e alunos. A negação da identidade e da satisfação
profissional dos professores, com sua obrigação de suportar o
absenteísmo e a indiferença dos alunos.
O produto desta reflexão teórica, do ponto de vista específico da escola,
identifica a violência como sendo de natureza física e simbólica, como, também,
40
incivilidades. Está associada a ltiplas ocorrências com características e atributos
das vítimas e dos agressores, dependendo de dinâmicas sociopolítico-culturais
singulares, como: situações diversas relacionadas a questões de gênero,
masculinidade e sexismo; a composição étnica e racial; a família, como
condicionante ou antecedente de personalidades violentas; características do
ambiente em que se situa a escola.
A violência localiza-se ao mesmo tempo fora e dentro da escola. Existe mal-
estar em relação às instituições sociais gestoras das políticas públicas. Nesse caso,
as escolas seriam os locais onde ocorreriam às interações dos grupos prejudicados
e insatisfeitos, agravadas pelas formas convencionais de participação e de
representação política, muito criticada e rejeitada, e em especial, pelos jovens.
Sob um outro ângulo, o das variáveis endógenas, portanto, da natureza e
dos atores do ambiente escolar, destaca-se como fatores variáveis na
potencialização de violências: a idade e a série ou nível de escolaridade dos
estudantes; as regras e a disciplina dos projetos pedagógicos das escolas, bem
como o impacto do sistema de punições; a gestão com suas tensões internas; a
carência de recursos humanos e o tratamento autoritário dado aos alunos; os
professores por banalizar a violência e não dar atenção especialmente às
incivilidades (humilhações, palavras grosseiras e faltas de respeito), o que contribui
para o desrespeito aos direitos dos alunos à proteção, perdendo o momento
pedagógico de educar contra culturas de violência.
No contexto escolar, reconhece-se a existência de vulnerabilidade negativa
(riscos e obstáculos)
5
, significando certa fragilidade diante de distintos processos
contemponeos, em particular as exclusões sociais e a atitude do poder público para a
educão, como a perda de prestígio e de poder aquisitivo pelos professores.
Nomeia-se, tamm, a vulnerabilidade da escola, frente ao aumento de
condutas delinqüentes, incivilidades e do desemprego nas famílias nos bairros pobres.
5
Frisa-se vulnerabilidade negativa, considerando a literatura recente sobre o conceito, que também
enfatiza a parte positiva, ou seja, o estoque disponível de conhecimento próprio, como o capital
simbólico, social e cultural que, no caso das escolas, é singular (ABRAMOVAY; CASTRO, 2003).
41
Outro aspecto que contribui para a vulnerabilidade escolar, segundo
Abramovay e Castro (2003), é seu despreparo para receber o impacto da
massificação escolar, a presença na escola de jovens vítimas da crise social e
partícipe da violência, ou seja, jovens negativamente afetados por experiências de
exclusão e pertencimento a gangues.
Num outro contexto, considerando a associação da vulnerabilidade com a
desigualdade social e a segregação juvenil, faz-se necessário esclarecer cenários
complexos da relação juventude e violência. Essa relação é percebida como o
produto de dinâmicas sociais, pautadas por desigualdades de oportunidades:
segregações, uma inserção deficitária na educação e no mercado de trabalho;
ausência de oportunidades de lazer, carência de formação ética e cultural em
valores de solidariedade e de cultura de paz; e distanciamento dos modelos que
vinculam esforços a êxitos (ABRAMOVAY; CASTRO, 2003).
A combinação desses fatores tem sido responsável por situar os jovens, na
escola e na comunidade, à margem da participação democrática que colabore na
construção de identidades sensíveis à diversidade cultural e à solidariedade por
compromissos de cidadania, assim como no fortalecimento de auto-estima e de um
sentimento de pertencimento comunitário.
Em decorrência, muitos ficam relegados às influências que nascem de sua
interação cotidiana nas ruas, com outros que partilham das mesmas carências,
existindo casos em que eles são atraídos pelo mundo do crime e das drogas,
passando a valorizar símbolos e práticas autoritárias de imposição de poder, ou de
protagonismo negativo.
Outros jovens, menos capazes para lidar com o sistema de exclusão e de
oportunidades existente na sociedade, pela sociedade, mostram-se mais
suscetíveis a processos consolidados de desigualdades sociais que atentam contra
sua possibilidade de ascender a certos níveis de bem-estar. Nesse sentido, o
enfoque de vulnerabilidade social constitui ferramenta lida para compreender a
situação dos jovens, especialmente aqueles de camadas populares, e da sua
relação com a violência.
42
3.3 Jovens e sociabilidades diversas
Na perspectiva de averiguar o modo de ser violento do jovem na escola, faz-
se necessário uma leitura sucinta do conceito de juventude e suas diversas
contextualizações, para uma melhor compreensão e aprofundamento do nosso
objeto de estudo.
Historicamente, verifica-se que, em diferentes momentos e localidades, o
conceito de juventude constituiu-se em função de um modo de inserção dos
indivíduos em um determinado contexto social (VERMELHO, 1994).
Para a juventude aristocrática e urbana da Idade média, o conceito de
juventude era utilizado para identificar período de vida “romântico”, ligado aos
estudos, às atividades artísticas e às paixões que, muitas vezes, terminavam
tragicamente (AIRES, 1981).
Para Aires, no ocidente judaico-cristão, contemporâneo, a juventude significa
uma etapa de vida cuja missão seria buscar o sustento próprio para realizar o
casamento, constituir família e, então, procriar. O autor refere-se à juventude como
sendo uma categoria sociológica estreitamente relacionada ao processo de
preparação dos indivíduos para que possam assumir o papel social do adulto, tanto
do ponto de vista da família e da procriação, quanto profissional, de completos
direitos e responsabilidades. Desta forma, Aires estende a juventude dos 15 aos 24
anos de idade, e compreende também duas faixas distintas: 15 a 19 e 20 a 24 anos.
A visão que se tem da juventude é, quase sempre, baseada em estereótipos
construídos a partir de opiniões com pouca fundamentação científica, nas quais ela
aparece como uma categoria genérica que procura abarcar um grupo social bastante
numeroso e complexo.
Na verdade, uma imprecisão em se falar de juventude como se fosse um
conjunto homogêneo. O modo de vida, os problemas e as necessidades dos jovens
variam de acordo com o tempo social, o local onde vivem, sexo, faixa etária e classe
social. Não juventude, mas sim diferentes juventudes relacionadas à condição
socioeconômica.
43
As etapas relativas ao ser jovem e a experiência de aprendizado, nessa
fase, tornam-se comprimidas por pressões relativas ao ingresso do jovem no
mercado de trabalho. Este aspecto agrava-se à medida que ocorre o envolvimento
ou o aumento da vulnerabilidade dos jovens ao mundo da droga, da prostituição e
das várias práticas de violência, tanto material quanto simbólica.
Tommasi (1996), entretanto, considera os jovens não como problema mas
as possíveis soluções frente às dificuldades, e assim registra:
Pressupondo que o universo juvenil seja constituído de indivíduos apáticos
e sem interesses, que passam a maioria de seu tempo, na melhor das
hipóteses, sem fazer nada e, na pior, ocupados em atividades criminosas.
Nesse panorama, a proposta de considerar os jovens não mais como
problema e sim como “parte da solução”, elaborada pelas fundações e
apropriada por muitas ONGs, tem operado uma mudança considerável no
discurso e nas práticas de ação com jovens (TOMMASI, 1996, p. 5).
Scaramussa (apud COSTA, 2000) refererindo-se à juventude, faz uma
reflexão sobre seu momento atual, com a seguinte afirmação:
Mesmo vivendo em uma época de mudanças aceleradas em todos os
campos, tecnológico, moral e político, muitos jovens estão à procura de
elementos e de experiências que os ajudem a encontrar o sentido da
própria existência e a construir um projeto de vida (SCARAMUSSA apud
COSTA, 2000, p. 233).
A juventude é marcada pela vulnerabilidade psicoemocional, que é uma das
características desta fase da vida. Os jovens pertencentes aos segmentos pobres
dos bairros periféricos e das favelas, desprovidos de quase todos os meios de
reconhecimento social, são os mais vulneráveis. Isso decorre não da privação
material que enfrentam, mas também da exclusão simbólica em que estão
submetidos, do sentimento de não pertencimento, pelo fato de não corresponderem
aos padrões estéticos que são valorizados pela sociedade, em geral, onde o acesso
a determinados serviços e bens de consumo (escolas, clubes, óculos, roupas de
marca, carros do ano) é a senha para a inclusão.
De acordo com Levisky (1998), o jovem para atingir o status de adulto deve
ter suplantado alguns pré-requisitos definidos pela sociedade. Por exemplo, em
sociedades indígenas, um jovem alcança seu reconhecimento como adulto a partir do
momento em que adquire suas funções reprodutoras e es apto à caça ou à guerra.
44
Nesta perspectiva, qualquer que seja o contexto sociocultural, o jovem está
sempre sujeito um período de transição, crise, desequilíbrio e de mudanças.
Estas características são devidas tanto às mudanças fisiológicas, que se processam,
quanto às repercussões psicológicas de inserção do jovem na comunidade adulta
(LEVISKY, 1998, p. 26).
3.4 Juventude e violência na escola
O célebre economista e escritor canadense, Galbraith (1976), é reconhecido
como céptico perante as extravagâncias mais fascinantes da teoria econômica,
quando o justificadas pelos dados empíricos. Por outro lado, demonstra
preocupações muito intensas de natureza pedagógica e é portador assumido de
visões próprias da sociedade, com mensagens interessantes que oferecem
oportunidade para apreciação de posicionamentos teóricos, como em sua citação
sobre a existência social. Para o autor, existir implica numa dinâmica de
enfrentamento contínuo de problemas, que tendo sido alcançadas soluções, muitas
vezes, estas geram problemas decorrentes dos anteriores:
A existência social é um processo. Quando um de seus problemas é
resolvido, outros surgem muitas vezes gerados pelas soluções
anteriormente encontradas e aplicadas. Temos como hábito, é claro,
reivindicar soluções. O mais das vezes, a melhor delas será apenas um
sucesso temporário, embora ninguém deva minimizar a importância de um
sucesso. No entanto, o importante é voltar nossa atenção e pensar que,
como ondas na praia, continuam vindo (GALBRAITH, 1976, p. 632).
Um dos problemas que vem ocorrendo, com mais freqüência, nos últimos
dez ou vinte anos, é um tipo de violência, conhecida como intimidação por colegas
nas escolas. Isso se transformou num problema que vem despertando interesse em
muitos países: Escandinávia, Japão, Reino Unido, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia,
Canadá e Estados Unidos (SMITH et al., 1999).
Os tipos de intimidação variam, podendo ser: física, como bater, chutar,
socar, tomar os objetos pessoais; verbal, caracterizada quando implicância,
insulto, incluindo as novas formas, como intimidação por e-mail e por telefone;
exclusão social, como a ordem “você não pode brincar conosco”; formas indiretas e
relacionais, como espalhar boatos maldosos, que podem estar relacionados à raça,
denominada intimidação racista como caçoadas e xingamentos. Outro tipo de
45
intimidação é a homófoba, quando pessoas recebem agressões ou são
ridicularizadas devido a sua orientação sexual.
Este termo difere pouco de país para país. Nos EUA é conhecido como
bullying. Na França, chamam de harcèlement quotidien; na Itália, de prepotenza ou
mesmo de bullismo; no Japão, de ijime; na Alemanha, de agressionen unter
schülern; e, em Portugal, de maus-tratos entre os pares. No Brasil, é adotado como
intimidações com colegas.
A intimidação, geralmente, é vista como um subconjunto de comportamentos
agressivos, sendo caracterizada por sua natureza repetitiva, onde a mesma vítima é
tomada como alvo inúmeras vezes. Além disso, por uma ou mais razões, a vítima
não consegue se defender com facilidade: ele ou ela pode estar em minoria, pode
ser de menor tamanho ou força física, ou apresentar menos flexibilidade psicologia
que o autor ou os autores da intimidação. A definição de “abuso de poder sistemático”
(SMITH; SHARP, 1994), também consegue captar bem essas características.
muitas indicações que sugerem que fatores múltiplos e interatuantes têm
forte impacto sobre o surgimento da agressão e dos comportamentos anti-sociais
nos jovens. Dentre estes, estão os fatores genéticos como o temperamento, e
fatores ambientais como a experiência de disciplina pouco eficaz, falta de afetividade
por parte dos pais e de orientação parental em casa.
Como exemplo de violência dentro da escola, registra-se a ocorrência numa
escola pública de Fortaleza, em junho 2006
6
. Durante uma festa junina, alunos
integrantes de gangues se agrediram, resultando em morte de um jovem. O Jornal
Diário do Nordeste, de grande circulação no Ceará publicou a seguinte matéria:
Um estudante de 15 anos foi atingido pelo disparo e teve morte imediata.
Policiais da Companhia de BPM (Antonio Bezerra) apurou que estava
havendo um festival de quadrilhas juninas na escola, quando, de repente,
iniciou-se um corre-corre. Em meio ao tumulto, foram ouvidos vários disparos.
O rapaz, de 15 anos foi encontrado morto no pátio, pximo a uma sala de aula.
A polícia o descarta a hitese de uma briga entre gangues (DIÁRIO DO
NORDESTE, edição 12.6.2006, p.15).
Na intenção de compreender atos de violências como o citado, relacionados
ao comportamento agressivo, Kaukiainen et al. (1999) percebem a inteligência social
6
JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE, Fortaleza, 12/6/2006.
46
relacionada à agressão, em especial, a agressão indireta de jovens que apresentam
problemas de comportamento e podem agir de forma agressiva, tornando-se timas
provocadoras. Quando escolhem amigos indisciplinados têm mais chances de vir a
se tornar “igual” a estes, ou gravitar rumo a grupos anti-sociais, onde desfrutarão de
alto status no grupo de pares.
Hargreaves (1967), numa investigação pioneira de grupos delinqüentes nas
escolas secundárias, identificou alunos que eram reconhecidos como líderes, mas
que, ao mesmo tempo, eram impopulares e temidos pelos colegas em geral. Esses
jovens haviam alcançado alto status no seu grupo de pares devido ao seu talento
para brigas, seu comportamento permanentemente agressivo e sua postura anti-
social e antiescola.
Debarbieux e Montoya (1998) afirmam que a violência grupal vem aumentando,
geralmente se trata de mais de um aluno contra uma única vítima. Conseqüentemente,
quando a agreso é provocada por um grupo, a responsabilidade é dividida, e os
integrantes do grupo se tornam mais ousados. Esse estudo observou que a violência
grupal é mais comum na França, onde causa maiores traumas e tem forte inflncia
sobre a perceão da comunidade escolar como um todo, no que se refere,
principalmente, à sua organização e relações de convivência.
Farrington (1995) em seu estudo sobre o desenvolvimento delinqüente,
realizado na Universidade de Cambridge, acompanhou 411 jovens e adultos do sexo
masculino, provenientes da zona sul de Londres, com idades entre 8 a 32 anos. Ele
verificou que os mais importantes indicadores motivadores de possível delinqüência
eram comportamentos anti-sociais na infância, impulsividade, baixos níveis de
inteligência e desempenho escolar, criminalidade na família, pobreza e cuidados
parentais deficientes. Nas idades de 8 a 10 anos, os maiores indícios isolados de
delinqüência juvenil oficializada (ou seja, condenações nas idades entre 10 e 16
anos) eram comportamentos rebeldes, atrevimento e desonestidade.
Em seu estudo, Farrington (1995) verifica que os meninos quando na infância
ou na adolescência aparecem na categoria dos intimidadores e agressivos, tendiam a
cometer mais infrações na idade adulta. Viviam em circunstâncias familiares piores,
apresentavam maior tendência a entrar em conflito ou a serem violentos em relação a
47
seus companheiros de trabalho ou sua mulher, tinham maior probabilidade de
desemprego, de serem autuados por dirigirem bados, a consumirem drogas e a
cometerem um maior número de delitos envolvendo violência.
Outros fatores possuem íntima relação com a juventude e violência na
escola, como as desigualdades e o não-acesso à riqueza e cidadania, ou seja, a
exclusão social, responsável pelos baixos indicadores de rendimento na
aprendizagem e de conflitos no gerenciamento escolar.
Os trabalhos destinados aos adolescentes realizam um disciplinamento do
sujeito através da formação de uma determinada individualidade: o adolescente
comportado, cujo corpo docilizado está pronto para voltar-se para a escola, para o
mercado, assimilando os dispositivos disciplinares de forma menos resistente, dando
continuidade à perpetuação de um poder que não cessará de perceber, olhar e
firmar-se como positividade.
É nestes termos que a adolescência pode ser compreendida como um produto
dos efeitos de poder do saber escolar. A instituição escolar com sua prática e seu
discurso científico organizado no interior de uma sociedade como a nossa disciplinadora
e contraditória, cria um tipo de aluno apropriado para ela (FOUCAULT, 1999, p. 171).
As relações entre professores e alunos propiciariam sociabilidades e certo
“autoritarismo pedagógico”, observado nos comportamentos repressivos por parte
dos professores, em sala de aula, e pelas “violências simbólicas”, acometidas,
algumas vezes, por eles, como não dar aula, ou ministrar com qualidade discutível,
ou ainda não discutir sua autoridade nas relações interpessoais com os alunos.
Compreender essa situação implica em aceitar a escola como um lugar que
se expressa numa extrema tensão entre forças antagônicas. O professor imagina
que a garantia do seu lugar se dá pela manutenção da ordem, mas a diversidade
dos elementos que compõe a sala de aula impede a tranqüilidade da permanência
nesse lugar. Ao mesmo tempo em que a ordem é necessária, o professor
desempenha um papel violento e ambíguo, pois se, de um lado, ele tem a função de
estabelecer os limites nas sociabilidades, das obrigações, de outro, ele desencadeia
novos dispositivos para que o aluno, ao se diferenciar dele, tenha autonomia sobre o
seu próprio aprendizado e sobre sua própria vida (GUIMARÃES, 1996; p. 78-79).
48
A violência na escola perpassa por vetores que transversalizam a dinâmica
escolar e, em particular, a ação do professor. O professor na qualidade de agente
privilegiado, invariavelmente assume o teor normativo/confrontativo.
Guimarães (1996) oferece-nos pistas adicionais para a compreensão dessa
dinâmica confrontativa, quando define que a escola, como qualquer outra instituição,
está planificada para tratar as pessoas como se elas fossem iguais, seguindo uma
compreensão de que quanto mais igual, mais fácil de dirigir.
Nessa concepção, a homogeneização é exercida através de mecanismos
disciplinares, ou seja, de atividades que esquadrinham o tempo, o espaço, o
movimento, gestos e atitudes dos alunos, dos professores, dos diretores, impondo
aos seus corpos uma atitude de submissão e docilidade. Assim como a escola tem
esse poder de dominação que não tolera as diferenças, ela também é recortada por
formas de resistência que não se submetem às imposições das formas do dever-ser.
A escola contemponea tem se apresentado, cada vez mais, como um espo
de confrontos que, em muito, ultrapassam aqueles relativos ao embate
intelectual/cultural. É possível supor, então, que em seu âmbito padeçam de certa
ambigüidade ou ineficia, aqueles que a fazem, cotidianamente. Trata-se de uma
crise, ao mesmo tempo, paradigtica e ética.
Conforme ressalta Arendt (1992),
A crise da autoridade na educação guarda a mais estreita coneo com a crise
da tradão, ou seja, com a crise de nossa atitude perante o âmbito do passado.
É sobremodo dicil para o educador arcar com esse mediador entre o velho e o
novo, de tal modo que sua própria profissão lhe exige um respeito
extraordirio pelo passado. (ARENDT, 1992, p. 243-244).
No texto intitulado “A crise na educação”, Arendt (1992) considera a ética
paradigmática que assola a educação escolar contemporânea como sendo
estratégia do desrespeito pelo passado, pela tradição corporificada no legado
cultural. Esse aspecto tem influenciado a precariedade das relações sociais, dentro e
fora da escola.
Nas escolas, a violência vem sendo acumulada ao longo do tempo,
ocasionando danos irreparáveis e traumas profundos nas vítimas, e ainda,
instalando um sentimento de impunidade no perpetrador, mesmo entendendo que
alguns destes podem vir a ser vítimas, também.
49
4 POLÍTICAS PÚBLICAS PROTECIONISTAS DE EDUCAÇÃO E SUA
EFICÁCIA NO COMBATE À VIOLÊNCIA
A violência é sempre um tema da atualidade, especialmente a violência
juvenil, cuja maior evidência se verifica, no cotidiano social, pela ação das gangues,
dos grupos organizados do tráfico de drogas, dos queimadores de mendigos, dos
homicidas de grupos étnicos, ou simplesmente pelos atos agressivos intrafamiliares
e intraescolares.
A violência infanto-juvenil não está restrita aos adolescentes em conflito com
a Lei ou às classes menos favorecidas da sociedade, ela também circunda uma
expressiva faixa da população de outras classes sociais, protegidas por muros e
outros aparatos de segurança. Enquanto as medidas de proteção aos adolescentes
visam criar atitudes voltadas à formação da cidadania e inclusão social, as medidas
sócio-educativas relacionadas às políticas públicas assumem, prioritariamente, um
formato voltado para aspectos punitivos ou recuperadores de conduta.
As condutas agressivas das crianças e adolescentes são influenciadas por
fatores individuais familiares e ambientais. Entre os fatores individuais encontra-se a
questão do temperamento, do sexo, da condição biológica e da condição cognitiva.
A influência de fatores familiares decorre da relação direta do contexto interacional
(das interações entre seus membros), da eventual psicopatologia e/ou desajuste dos
pais, e do modelo educacional doméstico.
A televio, os videogames, a escola e a situação cio-econômica podem ser
os elementos ambientais relacionados à conduta agressiva. Embora esses três fatores
(individuais, familiares e ambientais) sejam inegavelmente influentes, eles não atingem
todas as pessoas por igual e nem submetem todos à mesma situação de risco.
De qualquer forma, hoje se acredita que a agressividade pode aparecer
em idades pré-escolares e, quando se manifesta, tende a continuar. Além disso,
quando a agressividade é combinada com outras condutas problemáticas e
desadaptadas, a evolução poderá ser muito pior.
50
Vários autores buscam explicar as causas da violência. Uns o de opinião
que o homem tem uma predisposição inata para a violência, nasce e cresce num
ambiente violento, porque também a sociedade é violenta.
Outros partem do princípio que as atitudes de violência estão relacionadas
aos graves distúrbios, ocorridos pela desintegração da relação dos pais por
separações, rejeições e outras interferências com os nculos emocionais existentes
entre a criaa e as figuras parentais. A densidade demográfica e o desenvolvimento
econômico, social e cultural de uma sociedade, o tamm relacionados como
fomentadores das desigualdades e, conseqüentemente, dos desvios às normas.
A violência pode ser revestida de diversas formas, mas num sentido restrito
pode ser definida como uma ruptura brusca da harmonia num determinado contexto,
podendo ser sob a forma de utilização da força física, psíquica, moral, ameaçando
ou intimidando os outros. Pode ser também considerada de âmbito público ou
privado: quanto à primeira, é mais visível, influi e distorce a imagem da sociedade; e
a segunda é mais fechada, como é o caso da violência familiar, com o cônjuge ou
com os descendentes.
A violência, ao tomar formas distintas e abrangentes, na relação homem e
sociedade, tem colocado grandes desafios ao poder público na condução das
políticas voltadas ao enfrentamento e prevenção dos problemas dela decorrentes.
A realidade brasileira apresenta-se bastante heterogênea na conformação e
estrutura dos sujeitos sociais, nas diversas formas organizativas, nas práticas
culturais, na configuração do seu estado de pobreza e nas relações de poder entre
homens e mulheres.
Os valores, o acesso aos recursos produtivos e a participação efetiva nas
esferas de decisão, bem como as implicações delas decorrentes, sinalizam a
perspectiva de gênero na análise político-institucional (práticas, interesses, objetivos,
agendas, mecanismos, orçamentos) e, portanto, para realizar propostas de mudança
institucional com o objetivo mais igualitário e democrático.
A partir do enfoque de gênero, é importante debater o conceito de violência
no contexto social e nas atividades reprodutivas não remuneradas e as produtivas
51
inseridas no mercado de trabalho. A sociedade complexa de hoje aumentou o grau
de incerteza dos indivíduos e das organizações, colocando a educação diante do
imperativo de avançar nas aprendizagens que este novo cidadão está a exigir para
ter acesso e reduzir desigualdades sociais.
Com estes condicionantes não é mais possível pensar a escola como o
único espaço de aprendizagem. O cidadão contemporâneo requer, para seu trânsito
no exercício da cidadania, circular em diversos espaços de aprendizagem visando à
sua maior sociabilidade, o desenvolvimento da capacidade de estabelecer trocas e o
exercício da tolerância na pluralidade.
uma riqueza de possibilidades contida na complementaridade mais
orgânica entre o sistema escolar e as oportunidades de aprendizagem
implementadas por outros sujeitos e espaços, potencializando as oportunidades de
escolhas, de trajetórias de desenvolvimento, de trânsito e de circulação de crianças
e adolescentes. O novo modo peculiar de aprendizagem, difuso e descentrado,
constitutivo desta sociedade complexa, deverá ampliar outras oportunidades de
sociabilidade e convivência.
Vários municípios no Brasil estão operando ou buscando implementar
uma rede de serviços pós-escola multisetoriais envolvendo, sobretudo, educação,
cultura, esportes e assistência social para constituir a jornada de tempo integral
exigida pela LDB.
Contudo, para responder às demandas de aprendizagem e sociabilidade
requeridas na contemporaneidade, há um outro avanço democrático e irrecusável na
conjuntura das políticas sociais, verificado na articulação e convivência mais
orgânica entre programas e serviços públicos estatais e serviços públicos não
estatais, de iniciativa da comunidade e sociedade civil, como uma tendência à
expansão de ações de educação pública.
Essa tendência traz em seu escopo o compromisso político com a inclusão e
a eqüidade social: a qualidade da educação e da escola pública; a gestão
democrática; a participação e o fortalecimento da sociedade organizada em seus
diferentes segmentos.
52
A componente educação é central na implementação dos programas e
projetos, dado o caráter preventivo e educativo, em todas as faixas e estratos
sociais. As escolas e órgãos de educação e proteção social assumem um papel
relevante na execução e articulação das políticas sociais, baseados nos dispositivos
da Constituição Brasileira de 1988, na Redação dada pela Emenda Constitucional
14, de 1996, que outorga a todo cidadão brasileiro o direito ao ensino fundamental
gratuito com a seguinte recomendação:
O dever do Estado para com a educação pública se efetivado mediante a
garantia de: ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive,
sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade
própria (Art. 208, I, redão dada pela Emenda Constitucional 14, de 1996).
A lógica da legislação e do direito constitucional era colocar todas as
crianças e adolescentes na escola, colaborando desta forma para a ampliação do
processo de escolarização e socialização deste segmento populacional.
No tocante às reformas na área educacional, podemos afirmar que a
promulgação da Lei 9.424 de Diretrizes e Bases da Educação, aprovada em 20
de dezembro de 1996 trouxe novos desafios para o Sistema público de ensino,
quanto à reorganização de sua rede escolar, as inovações na gestão administrativa
e pedagógica e a ampliação do acesso, prioritariamente para as demandas do
ensino fundamental. As demandas da educação infantil e do ensino médio foram
gradativamente expandidas, conforme a disponibilidade de recursos financeiros,
condições de infra-estrutura da rede física e de recursos humanos disponíveis nas
redes municipal e estadual.
Através de um mecanismo habilidoso, foi criado o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF), no
qual se agrupou maior parte dos recursos públicos vinculados à educação
redistribuídos entre as esferas de governo estadual e municipal proporcionalmente às
matrículas registradas no ensino fundamental. A Lei 9.424/96, que regulamentou o
FUNDEF, aprovada unanimemente por acordo entre os partidos no Congresso,
adotou os seguintes objetivos proclamados: justiça social, eqüidade educativa,
descentralização, melhoria da qualidade do ensino e valorização do magistério.
53
Ao estabelecer um padrão de distribuição dos recursos públicos em favor do
ensino fundamental, através do FUNDEF, o governo federal permitiu o
estabelecimento de uma disputa entre os demais níveis e modalidades da educação
básica em função das verbas públicas vinculadas. Nos Municípios, as pressões
ainda incidem sobre o financiamento da educação infantil e do ensino fundamentais
de jovens e adultos. No caso dos Estados, as dificuldades maiores referem-se ao
financiamento do ensino médio, cuja demanda e matrículas tiveram uma grande
expansão nos últimos anos.
A destinação exclusiva dos recursos do FUNDEF para o ensino fundamental
regular, acentuou descontinuidades e desigualdades existentes no interior da
educação básica. Para minimizar esta situação foi instituído outro Fundo semelhante
ao anterior, destinado à educação básica como um todo. Ambas as propostas
apontam para a necessidade de investimentos maiores e seguros para a educação
básica em seu conjunto. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) prevê a ampliação
do acesso à escola, redução da pobreza, melhoria na a distribuição de renda e
direito à cidadania.
Olhando o contexto social em que se encere grande parte das escolas
públicas e os s fatores sociológicos e psicológicos que colaboram diretamente para o
insucesso escolar, não impedimento para que os alunos possam aprender num
meio harmonioso e progredir nas aprendizagens.
4.1 Estudo sobre a política protecionista do Estado
Impulsionados pelo processo de democratização dos anos 1980, vários
movimentos sociais propugnaram por um novo paradigma de proteção à criança e
ao adolescente
7
, inscrito nos artigos 227 e 228 da Constituição Federal de 1988, que
7
A legislação brasileira considera como criança a pessoa com idade entre zero e doze anos, e
passíveis apenas da aplicação de medidas protetoras quando cometem infração (delinqüência) ou
se encontram em situação de risco, de acordo com o art. 101 da Lei 8.069/90, que é o Estatuto
da Criança e do Adolescente. A adolescência, por sua vez, se considera para pessoas entre os
doze e os dezoito anos, encontrando-se as mesmas sujeitas à aplicação das mesmas medidas
protetoras e à aplicação de medidas sócio-educativas (art. 112 do mesmo Estatuto da Criança e do
Adolescente). Concomitantemente, a legislação imputa aos pais as medidas previstas no art. 129 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, em caráter administrativo, possibilitando ainda a aplicação de
multa por infração ao art. 249 da mesma lei.
54
traz em sua formulação os principais pilares da proteção integral de crianças e
adolescentes, que não mais segrega os ricos dos pobres, considerando todas
cidadãs e todos cidadãos.
Esse paradigma estabelece para crianças e adolescentes o reconhecimento
da dignidade e de liberdade inerentes à pessoa humana; dos direitos iguais e
inalienáveis de todos os membros da família; de cuidados e proteção especiais que
a criança necessita em virtude de seu desenvolvimento; de um ambiente harmonioso
de desenvolvimento na família e na comunidade; do dever do Estado em garantir
esses direitos nas políticas públicas; da criança e do adolescente como prioridade
absoluta na família, na sociedade e no Estado.
Assim, a garantia e defesa da universalização do acesso de toda a
população, de toda família aos serviços sociais, compõem a proteção integral
prevista na Lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).
Esta Lei propõe-se a organizar um sistema de garantia de direitos, ao propor
políticas integradas, descentralizadas, ramificadas nos municípios, e participativas,
com os diversos conselhos existentes: de direito, tutelares e do FUNDEF. De igual
importância, articula conferências e fóruns de defesa dos direitos da criança e do
adolescente, nos diversos espaços e segmentos do governo e sociedade.
A referida Lei é um importante ponto de partida para a política de proteção à
criança e ao adolescente, entendidos como sujeitos de direitos. Sua aprovação
resultou de uma intensa atividade dos movimentos sociais, envolvendo grupos e
instituições ligados ao Fórum Nacional de Crianças e Adolescentes, e com o apoio
de vários setores relevantes da sociedade civil, tornando-se o referencial jurídico
legítimo para a população infanto-juvenil.
O ECA (Lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990) determina:
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais. (Art.5)
55
O ECA é o instrumento que condensa todo um conjunto de procedimentos
legais de cuidados com a infância e a juventude, universalizando o acesso aos
programas e obrigando o poder público a tratar essa questão com absoluta prioridade.
4.2 Proteção à criança e adolescentes na política educacional federal
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9.394/97,
estabeleceu a progressiva extensão da obrigatoriedade do ensino médio como dever
do Estado. Nesta mesma direção, o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei
10.172/2001, sancionado pelo Congresso Nacional, definiu metas para a educação
no Brasil para os próximos dez anos assegurando, entre muitos outros avanços,
elevação global do nível de escolaridade da população, melhoria da qualidade do
ensino em todos os níveis, redução das desigualdades sociais e regionais,
ampliação do atendimento na educação infantil, no ensino médio e no superior.
O Artigo 35 da LDB considera o ensino médio como última etapa da
educação básica, com duração mínima de três anos, com as seguintes finalidades:
a) a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no
ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
b) a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a
novas condições de ocupação ou aperfeoamento posteriores;
c) o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico;
d) a compreensão dos fundamentos científico-tecnogicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.
Estas finalidades foram transferidas para o Plano Nacional de Educação,
concebidas em metas para um horizonte de 10 anos, a contar do período de sua
aprovação. Outras atribuições foram também definidas no cumprimento das metas
decenais do PNE, considerando uma reavaliação de suas metas em quatro anos, no
sentido de monitorar os resultados e fazer os ajustes necessários, especialmente
56
para a garantia do acesso ao ensino médio a todos aqueles que concluíram o ensino
fundamental, em idade regular.
Com intuito de situar a abrangência deste desafio nacional, recorremos aos
dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios, do Instituto Brasileiro
de Geografia e de Estatística (PNAD/IBGE, 2001). Os dados apontam que a
população brasileira, na faixa etária entre 15 e 17 anos, demanda regularmente o
ensino médio, e constitui em torno de 10.308.707 pessoas. Deste universo, apenas
37%, cerca de quatro milhões de jovens, encontravam-se, efetivamente,
matriculados neste nível de ensino. Outros 10%, em torno de um milhão de jovens,
ainda estavam cursando o ensino fundamental, freqüentando cursos na modalidade
de educação de jovens e adultos, ou mesmo cursos profissionais.
Comparando estes dados, com o total da população desta faixa etária,
constata-se que mais de cinco milhões de jovens que deveriam estar cursando o
ensino médio, sequer estavam matriculados na escola.
Observa-se ainda que, neste mesmo ano, um milhão e 500 mil alunos
concluíram o ensino fundamental em idade regular e outros 900 mil com idade
superior a 17 e 18 anos, aumentando a demanda pelo ensino médio. Uma das
razões que vem provocando a distorção idade/série e a elevada exclusão dos jovens
do ensino médio tem sido o não ingresso neste nível de ensino, logo após a
conclusão do ensino fundamental.
Em decorrência da universalizão e regularização do fluxo de alunos no
ensino fundamental, as preses sobre o ensino dio, com reduzidos recursos
financeiros definidos para sua manutenção e funcionamento, provocaram sérias
dificuldades aos gestores públicos, especialmente para garantir as condões no
oferecimento de vagas, no prazo de cinco anos, em torno de 50%, e
universalização, em dez anos.
Os desafios da educação básica são incomensuráveis no sentido de
assegurar o acesso das crianças e adolescentes ao sistema escolar, com as
garantias que são estabelecidas na LDB:
A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando,
assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
57
cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores (art.22).
Some-se a isto, o déficit de atendimento das demandas de ensino médio em
todo País, que ampliam seriamente os indicadores de exclusão social e de mão de
obra não escolarizada para suprir as exigências do mercado de trabalho e do capital.
A Lei 8.069 de 13 de julho de 1990 que dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) entrou para a história política e social do Brasil ao
dotar os adolescentes como pessoas que têm direitos.
A institucionalização do ECA implica não apenas na garantia de direitos, mas
também a democratização do Estado, num processo de participação da sociedade na
gestão pública, principalmente através da implementação de conselhos paritários,
com poder deliberativo. O ECA estabelece, portanto, uma nova relação de poder que
traduz, evidentemente, na arena política, conflitos vigentes não só entre o instituinte e
o instituído, mas a emerncia de tensões entre atores que entram em cena e aqueles
que vinham detendo o poder hegemônico, segundo Costa (2000).
Este Estatuto coloca outras possibilidades de intervenção no contexto das
políticas públicas, ao substituir as políticas e ações setorizadas por políticas
integradas, consistentes e emancipatórias. As ações de atendimento às demandas
do ECA são atualmente intersetorializadas e compartilhadas com setores
organizados da sociedade civil (ONG).
Tirar o Estatuto do papel é uma operação que, além de implicar mudanças
no panorama legal dos Estados e Municípios, requer ao mesmo tempo, corajosos e
amplos reordenamento institucional dos Órgãos e setores que atuam na área.
Os programas em andamento compreendem ações socioeducativas que
favorecem a discussão e a reflexão sobre um comportamento saudável para a
juventude, conforme quadro a seguir:
58
Quadro 1 - Programas Nacionais de Educação com foco na Inclusão Social 2006
ÓRGÃO FEDERAL
RESPONSÁVEL
PROGRAMAS/FOCOS
Ministério da
Educação
Projeto Alvorada tem como objetivo reduzir as desigualdades regionais, por
meio da melhoria das condições de vida das áreas mais carentes do Brasil.
O indicador utilizado para medir o grau de desigualdade foi o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD, aceito internacionalmente como
um indicador síntese do grau de desenvolvimento da população,
considerando três dimensões básicas: a renda, a longevidade e a
educação.
Ministério do
Desenvolvimento
Social e Combate à
Fome
Tem como programas sociais: Fome Zero; Bolsa Família; Programa de
Atenção à Pessoa Idosa; Programa de Atenção Integral à Família; Atenção
às Pessoas Portadoras de Deficiência; Programa de Combate à Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes; Atenção à Criança de Zero a Seis
Anos; Programa de Erradicação do Trabalho Infantil; e Programa Agente
Jovem de Desenvolvimento Social e Humano. Dentre os programas de
segurança alimentar estão: Restaurante Popular, Programa do Leite e
Cisternas.
Secretaria de
Educação
Continuada,
Alfabetização e
Diversidade -
SECAD/MEC
Tem por objetivo contribuir para a redução das desigualdades educacionais por
meio da participão de todos os cidadãos, em especial de jovens e adultos,
em políticasblicas que assegurem a amplião do acesso à educação
continuada. Além disso, a Secretaria responde pela orientão de projetos
político-pedagógicos voltados para os segmentos da população tima de
discriminação e de violência. Os programas da SECAD são: Brasil
Alfabetizado, Conexões de Saberes, Diversidade na Universidade e Escola
Que Protege.
Secretaria para a
Inclusão Social -
Ministério de Ciência
e Tecnologia -
SECIS/MCT
Tem suas ações estruturadas em quatro programas do Plano Plurianual – PPA
(Difusão e Popularização da Ciência; Cncia e Tecnologia Para Inclusão
Social; Sociedade da Informação; e, Arranjos Produtivos Locais) e possui
quatro Programas: Centros Tecnológicos Vocacionais (CVT); Tecnologias
Sociais; Difusão e Popularizão da Ciência; e, Arranjos Produtivos Locais
(APL). Dentre os projetos inseridos nos programas do SECIS destaca-se o
Projeto C&T Jovem, cuja idéia é estimular jovens talentosos e interessados na
ciência e na tecnologia a investirem na carreira científica.
Fonte: Governo Federal, 2006.
A inovação da política social do atual governo é a inclusão de crianças em
programas sociais que levam em conta a diversidade da população brasileira, com
uma visão voltada a vários grupos que merecem atenção afirmativa e
individualizada, como por exemplo, os quilombolas, negros e indígenas.
Garantindo a formulação de políticas públicas e sociais como instrumento de
cidadania, os programas/projetos contribuem para a redução das desigualdades
educacionais por meio da participação de todos os cidadãos, em especial dos jovens.
Outras ões de cater social m sendo desenvolvidas no estado do Ceará,
com a participação de diferentes atores sociais, contando com os diversos veis de
Governo, o Poder Legislativo, o Judiciário, o Ministério Público, empresas blicas e
59
privadas, e o terceiro setor, de maneira co-responsável, buscando a proteção de
crianças e jovens no desenvolvimento de suas competências e habilidades.
4.3 Políticas estaduais protecionistas e educativas para crianças e adolescentes
Alguns desafios colocados no Plano de Governo 2003/2006 voltam-se para
a ampliação do acesso do jovem às escolas públicas do Estado, com permanência e
qualidade. Nesse redesenho do papel ou função social da escola, a segurança dos
alunos e demais atores escolares é um ponto de referência no planejamento
curricular e na nova forma de seu gerenciamento, que cada vez mais requer a
participação efetiva da comunidade e uma aproximação real no sentido de
resolutividade dos problemas existentes.
As ações que as escolas estão desenvolvendo no sentido de minimizar os
problemas referentes à violência ainda estão distantes de uma situação desejável, o
que o significa minimizar as responsabilidades diretas do Estado no atendimento
às necessidades básicas do cidadão, que respondem por grande parte dos conflitos
na convivência social.
Nesta perspectiva, Debarbieux (2002) faz a seguinte afirmação:
A violência nas escolas deve ser analisada macro e microssociologicamente,
enfatizando que suas causas são tanto exógenas relacionadas ao bairro,
ao sistema econômico, a falhas familiares ou de políticas públicas quanto
endógenas – associados os graus de organização local, nos quais os atores
não são apenas agentes impotentes, manipulados por forças políticas
externas, nem tampouco populações, em si mesmas, representam um
perigo (DEBARBIEUX, 2002, p.74).
É no cotidiano que a escola se debate permanentemente com o processo de
ensino em todas as suas dimensões endógenas e fatores exógenos. interação
no espaço escolar, de convivência continuada entre diferentes atores, mas nem
sempre de respeito pelos direitos e diferenças.
Na esfera estadual, existem diversos programas voltados para a juventude,
no que se refere ao enfrentamento da violência. O projeto “Amor à Vida: educando
pela paz” é um deles, que vem sendo desenvolvido pelas Secretarias: da Ação
Social (SAS), da Educação Básica (SEDUC), e da Saúde (SESA), em parceria com
o MEC/Secretaria Especial dos Direitos Humanos/ INPAZ. Compreende ões
60
cio-educativas voltadas para a prevenção da violência juvenil e uso indevido de
drogas, entre outros.
Este projeto busca promover a construção de uma cultura de paz, com
vivências de valores éticos, morais e religiosos, e contribuir para o fortalecimento
dos grêmios estudantis nas escolas. Contempla todos os municípios da rede pública
de ensino do Estado, beneficiando adolescentes e jovens na faixa etária de 12 a 24
anos, de ambos os sexos. Conta também com a participação de pais, responsáveis,
educadores sociais, lideranças comunitárias, organismos colegiados, técnicos e
profissionais de saúde na disseminação de uma cultura de paz através de práticas
saudáveis de convivência humana.
A Escola Novo Milênio/Projeto de Qualidade na Educação Básica no Ceará
(período de 2003/2006) tem como objetivo principal o incentivo da qualidade e da
eficiência nos serviços educacionais públicos, de forma integrada ao contexto
estadual. Compreende estratégias que contribuem para a participação e mobilização
social, a autonomia escolar, fortalecimento e definição de laços institucionais entre
escolas, comunidades, municípios e o Estado.
Outro projeto desenvolvido pela SEDUC com apoio do Banco Mundial
(BIRD) é a “Ampliação da Jornada Escolar” que tem como desafio a inclusão social.
Compreende ações setoriais e intersetoriais, que objetivam ofertar oportunidades
adicionais de aprendizagem, otimizando de forma criativa os espaços, métodos e
conteúdos da escola, mobilizando toda a comunidade para o desafio de promover o
sucesso do aluno.
O referido programa envolve projetos intersetoriais, no âmbito das políticas
públicas que complementam as atividades escolares. Dentre eles:
a) Escola em tempo integral, que contempla alunos da rede municipal de
ensino do Estado;
b) Segundo tempo na escola, proporcionando ao aluno a sua participação
em atividades educativas diversas e complementares aquelas propostas
no Projeto Político Pedagógico da escola (sendo atendido em turno
diferente ao que está matriculado);
61
c) Sala de apoio pedagógico espefico (Educação Especial), que atende
alunos que requerem cuidados especiais e uma educação diferenciada;
d) Internet nas escolas, um projeto de monitoria ofertado por estudantes
capacitados na área tecnológica, para o trabalho com seus pares.
O programa desenvolve, ainda, o projeto “Escola Fora da Escola,
promovido pela SEDUC em parceria com o Centro Federal de Educação
Tecnológica do Ceará (CEFET), em que alunos estudantes do CEFET prestam
monitoria às escolas públicas do Estado em diferentes áreas do conhecimento,
como: Matemática e Língua Portuguesa; Arte-Educação, com aulas de
Musicalização, Artes Visuais, Artes Cênicas e Dança; Esporte Educacional;
preservação do meio ambiental, com a proposta “Escola Verde”. Os alunos
monitores do CEFET atuam, também, no reforço escolar de alunos defasados.
Estes projetos favorecem aos estudantes aprendizagens significativas, ricas
em valores morais, éticos, religiosos, que despertam nos alunos comportamentos
preventivos e saudáveis (longe das drogas, de brigas entre gangues, por exemplo).
A Secretaria da Educação Básica com essa proposta que tem como foco a
qualidade do ensino (2003-2006), vem desenvolvendo programas/ações nessa
direção, conforme se pode ver no quadro abaixo:
Quadro 2 - ões de Educação do Estado com foco na qualidade do ensino 2003/2006
PROGRAMAS/
PROJETOS/AÇÕES
DESCRIÇÃO
Programa d
e melhoria da
qualidade do ensino
Capacitação de líderes de informática dos CREDE, através do SADRE
(Sistema de Acompanhamento do Desempenho da Rotina Escolar).
Projeto Escola Ativa
Tem como objetivo melhorar a qualidade da educação nas classes
multisseriadas da área rural, com envolvendo de municípios.
Projeto Patativa
Projeto piloto, objetivando a informatização, a modernização e a
revitalização dos centros de multimeios através de módulos.
Projeto Escola Fora da
Escola
Apoio aos alunos das escolas públicas em atividades de reforço escolar
em Língua Portuguesa e Matemática, e desenvolvimento de projetos nas
áreas de esporte, artes, lazer e promoção à saúde. Parceria
SEDUC/CEFET.
Fórum Cearense de
Enfrentamento da
Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes
Promoção de ões de prevenção, articulação e mobilização em torno
da temática: Violência Sexual Infanto-Juvenil. Parceria
SEDUC/SESA/ONG.
Colônias de Férias
Capacitação de profissionais para atuarem no atendimento às escolas
para realização de atividades nos meses de férias: janeiro e julho.
Fonte: Governo do Estado do Ceará, 2005.
62
O Plano Estadual de Educação do Ceará assume desafios e contempla
metas e estratégias de ação para serem executadas no peodo de 2003/2006, no
contexto da política pública de educação. Tais metas podem ser entendidas como
protecionistas, pois visam garantir direitos sociais e, com isso, prevenir a violência
na escola. Embora sejam observadas ações prioritárias na formulação dos Planos e
programas governamentais, não se pode aferir resultados no combate à violência
nas escolas pesquisadas. Fica evidente que entre o planejamento e a ação existe
uma longa travessia.
4.4 Ações da sociedade civil de proteção a criança e adolescentes
Para situar a ação da sociedade civil no contexto das políticas públicas faz-
se necessário retomar os principais aspectos que alteraram profundamente os
cenários nacional e internacional, nos quais a participação dos diversos segmentos
sociais foi relevante. Os fatores históricos ocorridos no final dos anos 90 alteraram a
rota das sociedades em âmbito mundial, como a globalização econômica e cultural;
a reforma estrutural do Estado; a supremacia de políticas neoliberais; o agravamento
da degradação social desses processos decorrentes.
No contexto dos movimentos sociais, algumas características claramente
distintivas que se relacionam ao surgimento e ao desenvolvimento das ONG,
demarcando uma área característica de sua formação que as distingue de outras
formas associativas, como os sindicatos, as associações de bairro ou os grupos de
base religiosa ou política. No Brasil e na América Latina esses movimentos foram
formados por uma geração de intelectuais oriundos dos estratos dios da
sociedade, que tinham vivido a experiência do exílio ou da luta contra a ditadura, em
sua maioria.
Segundo Oliveira (2002),
(...) as ONG e suas relações internacionais foram um importante elemento
para colocar a sociedade brasileira em compasso com as novas
complexidades e seus paradigmas, gerados primariamente alhures,
lembrando que para este campo (nem estatal, nem empresarial) a
importação é a contemporaneidade defasada (OLIVEIRA, 2002).
No caso brasileiro, a despeito das oposões ao termo, o fato é que na
primeira metade dos anos 1980 as organizações o-governamentais haviam se
63
tornado uma realidade através das experiências organizativas e participativas da
sociedade civil. Atualmente, com mais de três décadas após seu surgimento na
América Latina, podemos destacar que suas atividades cobrem os mais diversos
campos da execão dos projetos sociais. Podemos resumir as principais
caractesticas fundadoras das ONG brasileiras e latino-americanas ao longo de
sua atuão:
1) Valorização da competência técnica, a profissionalização da militância e a
especialização;
2) Tendência à multiplicação e à diversificação;
3) Perspectiva internacional;
4) Autonomia em relação ao Estado (Ciência e Saúde Coletiva - 2004).
Um fato concreto observado na implementação das ações de apoio e
proteção aos jovens é a articulação dos diferentes setores do governo, estadual e
federal, com a sociedade civil, sobretudo no que se refere as ONG.
A Organização Não Governamental ONG, “Desatando os s”,
desenvolve uma mobilização política na cidade do Rio de Janeiro, suprapartidária,
cujo objetivo é motivar cidadão a voltar a se interessar por Política. Possibilita a
melhoria do nível de representação no poder Executivo e no Legislativo (vereadores,
deputados estaduais, federais, e senadores).
A Agenda Social Rio consiste no encontro de pessoas, movimentos
populares, grupos e instituições da sociedade civil e do governo para refletir, discutir
e desenvolver ações comprometidas com o enfrentamento da desigualdade e com a
construção de uma sociedade mais solidária, democrática e cidadã. Mobiliza e
articula diversos setores da população do bairro Grande Tijuca, no Rio de Janeiro
com o objetivo de integrar bairros e favelas, fortalecendo o diálogo entre eles. Suas
iniciativas localizam-se nas áreas de educação, economia solidária, juventude e
comunicação e, ainda, na elaboração da memória das favelas e de suas
organizações comunitárias.
64
Outra iniciativa de extrema relevância no cenário carioca, é o “Grupo Cultural
de AfroReggae”, que desenvolve atividades com o objetivo de tirar os jovens do
caminho do tráfico.
Outro exemplo de ação da sociedade civil é o da Amigos Associados de São
Gonçalo dos moradores do Município de São Gonçalo/RJ (AMASG), que em 2002,
por iniciativa particular formaram esta associação. Os moradores cansados do
abandono em que se encontrava o município passaram a acompanhar as atividades da
mara municipal e as audiências públicas. Esse acompanhamento era feito sem que
tivessem conhecimentos e instrumentos legais de como proceder com as informações
que obtinham, e também sem que estivesse vinculados a nenhuma entidade.
No estado do Ceará destaca-se o movimento Hip Hop Cultura de Rua”
(MCR) que é uma organização política com fortes apelos culturais que através da
música rap, da dança break, da arte do grafite, e do Dj, canalizam as formas de luta
e organização da juventude da periferia do Brasil.
No município de Fortaleza, a Associação Curumins, entidade não
governamental, de utilidade pública, desenvolve a missão de possibilitar às crianças
e adolescentes em situação de rua, meios para a construção de sua cidadania.
A ação educativa proposta na Associação Curumins está voltada para o
desenvolvimento integrado de crianças, adolescentes, famílias e comunidades,
bem como na complementaridade ao trabalho da escola. Esfundamentada na
teoria sistêmica e na utilização da concepção de educação popular desenvolvida
por Paulo Freire. Essa metodologia é correlacionada ao contexto social das
crianças, dos adolescentes e das famílias, e também a uma prática educativa de
natureza emancipatória.
Para isso, as meninas e os meninos participam de oficinas de arte e cultura,
como: música, teatro, bricolagem, dança; de modalidades esportivas, como por
exemplo: skate, futebol de salão, vôlei, futsal. Participam também de vivências
lúdico-pedagógicas, atividades de reforço escolar, inclusão digital e de formação
humana, as quais abordam temáticas sobre família, trabalho infantil, educação,
identidade, sexualidade, meio ambiente, drogas, cultura de paz, entre outros temas.
65
Vale ressaltar o trabalho por seu caráter de complementaridade e de
articulação interinstitucional que congrega esforços e potencializa resultados. Por
meio de uma ação em rede, como forma de manter uma participação efetiva junto às
principais instâncias de representação social na área da infância e do adolescente
no Ceará, a Associação Curumins vem realizando o monitoramento e a
implementação de políticas blicas, contribuindo para o fortalecendo do sistema de
garantias de direitos.
As ações desenvolvidas por esta Associação têm uma perspectiva
complementar com as demais instituições de defesa e promoção dos direitos,
permitindo, assim, uma maior sinergia nas ações e eficácia dos resultados, pautadas
na transparência da relação com os parceiros e a sociedade, tanto no que concerne
às ações educativas realizadas, quanto à aplicação dos recursos. Essa experiência
e os resultados alcançados garantiram a aquisição do Título de Utilidade Pública
Federal e do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social.
Entendendo a escola como espaço privilegiado do saber, onde se
desenvolve um conjunto de ações voltadas para a valorização da vida do jovem, em
processo de mudança, a comunidade do Grande Bom Jardim criou o Centro de
Defesa da Vida Herbert de Sousa (CDVHS), com objetivo de contribuir para a
construção de uma cultura de paz e não violência nas escolas da região.
O CDVHS desenvolve programas e projetos através da rede de informação
e conhecimento sobre desenvolvimento local integrado e sustentável - Rede DLIS,
que foi concebida como uma rede em torno do desenvolvimento local integrado e
sustentável. Tem como objetivos gerais: a) gerar maior qualificação e consistência à
questão do desenvolvimento local; b) facilitar e ampliar a interlocução entre atores
heterogêneos que trabalham e operam com o tema; c) propiciar acesso a
informações úteis e serviços relevantes para pessoas/organizações interessadas ou
envolvidas na promoção no desenvolvimento local; d) Fomentar uma cultura de
trabalho cooperativo em amplo espectro - trabalho em rede conjuga em maior ou
menor grau elementos sob diferentes ênfases e em diversas formulações e
iniciativas, constituindo a sua referência temática.
66
O CDVHS conta com parcerias, em especial, de pais e comunitários, com
grande mobilização das entidades e moradores do bairro, que instituíram o Conselho
Popular do Grande Bom Jardim, espaço para debates, com temas como: construção
de uma cultura de paz e não violência; dimensões do desenvolvimento local; Plano
Diretor e a política ambiental da região.
Esta ONG ganhou expressão por reunir homens e mulheres, das mais
variadas classes sociais e culturas, na defesa dos direitos humanos e a preservação
do meio ambiente, ou, de modo ainda mais simples e direto, para oferecer ajuda aos
mais frágeis e vulneráveis onde quer que eles se encontrem.
A participação da sociedade civil na esfera pública - via conselhos e outras
formas institucionalizadas é destaque no contexto das análises do protagonismo
civil e das poticas sociais. Nos fundamentos dessas organizações não se tem a
pretensão de substituir o Governo, como normalmente se pensa, mas de lutar para
que este cumpra suas obrigações de propiciar educação, saúde e demais serviços
sociais com qualidade, e para todos.
Outras ões também o desenvolvidas pelos jovens estudantes e
moradores do Grande Bom Jardim, como oficinas, encontros para troca de
experiências em cultura de paz; feiras de socieconomia solidária; seminários sobre
o tema “Democracia e Comunicação”; movimentos estudantis em favor da paz; e
programas, como: Programa “Primeiro Emprego e Consórcio Social da Juventude”;
“Galeria de Fotos”, e publicações, como o “Jornal Viva a Cidade” e a revista “Urbe
e Humanidade”.
O CDVHS, através do projeto Clube da Paz nas Escolas, vem realizando
oficinas com as temáticas de cultura de paz e direitos humanos em dez centros
educacionais do Grande Bom Jardim. Durante as oficinas, foi lançado o vídeo "Arte
da Paz" e a cartilha “Idéias e Atitudes de Paz", com o objetivo de agregar mais
jovens ao Clube da Paz de sua respectiva escola.
Ferramentas como as citadas vêm sendo utilizadas no curso “Jovens
multiplicadores da Paz”, como instrumento para disseminar uma cultura de paz entre
a juventude do Grande Bom Jardim. Vários alunos participaram da gravação do
67
vídeo "Artes da Paz", que incentiva o uso da criatividade e de atividades lúdicas para
amenizar o problema da violência nas escolas da região.
A disseminação da cultura de paz está sendo adotada pelas escolas São
Francisco de Assis (Granja Portugal) e Santo Amaro, contempladas nesta pesquisa.
A meta é reduzir os altos índices de violência registrados na região sudoeste de
Fortaleza, onde estão localizadas estas escolas.
Para atingir esta meta, as escolas desenvolvem uma proposta pedagógica
voltada para a cultura de paz, que contempla as dimensões do ser humano a partir
dos quatro pilares da educação contemporânea, preconizados pela UNESCO:
aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a conhecer.
O CDVHS conseguiu fomentar, no Grande Bom Jardim, uma cultura
associativista, representada no fortalecimento de iniciativas comunitárias, apoio à
emergência de novos grupos sociais organizados e recuperação do papel de
mobilização popular das associações de moradores. Isto se revela hoje nos
seguintes dados:
mais de 100 grupos comunitários existentes no Grande Bom Jardim
promovendo iniciativas comunitárias variadas nas áreas de educação,
saúde, moradia e outras;
mais de 5 novos grupos sociais emergentes incorporando na cultura
comunitária o debate sobre novos temas e desafios como a economia
solidária, a equidade nas relações de gênero, democratização dos meios
de comunicação, preservação do meio ambiente e desenvolvimento local;
mais de 20.000 pessoas associadas ou atendidas direta ou
indiretamente pelos grupos comunitários através dos projetos sociais ou
mobilizações populares, representando aproximadamente 10% da
população do Grande Bom Jardim;
média anual de 5 campanhas de mobilizão popular na luta pela efetivão
dos direitos ecomicos, sociais, culturais, poticos e sociais, particularmente
pelo direito à educão, documento civil e segurança pública.
68
O CDVHS Comunitário conseguiu, também, sensibilizar e provocar a
atenção por parte dos governantes para a realidade de pobreza e injustiça social em
que vivem aproximadamente 175.000 pessoas (IBGE, 2000).
Pela primeira vez, no processo histórico do Grande Bom Jardim as
autoridades públicas trataram demandas sociais de forma coletiva e politizada,
diminuindo o clientelismo político e o mero assistencialismo costumeiramente
adotado. Isto se revela hoje nos seguintes dados:
Demanda por acesso à escola pública foi negociada com as secretarias
municipal e estadual de educão em audiências e encontros de
negociação, garantindo vagas para mais de 5.000 crianças e adolescentes;
Ausência de documento civil por parte de famílias pobres foi assegurada,
após semirios, campanhas de mobilização popular e audiências com o
Poder Judiciário do Estado do Ceará, Defensoria blica e Ouvidoria do
Estado, garantindo a distribuição de cerca de 1.000 registros de
nascimento, estando atualmente pendentes casos especiais;
Baixa infra-estrutura no sistema viário e o número reduzido de
transportes coletivos foi superada após intensa mobilização popular que
organizou passeatas, bloqueio de estradas e audiências de negociação
com a Prefeitura de Fortaleza e Governo do Estado, viabilizando a
ampliação e a pavimentação da avenida Osório de Paiva e vias de
acesso, além do aumento da frota de ônibus que serve à população e da
instalação de um sistema integrado de transporte coletivo através de
terminal rodoviário;
Baixo nível de empregabilidade da população local, em função da baixa
escolaridade e qualificação profissional, vem sendo enfrentado por
investimentos em programas de capacitação profissional, depois de
seminário realizado no bairro com o Secretário Estadual de Trabalho e
Ação Social e sua equipe técnica, qualificando em média 500
trabalhadores e trabalhadoras anualmente.
69
Estes dados relacionados demonstram um novo patamar político,
organizacional e cultural do Grande Bom Jardim, que superou seu isolamento
(condição de ser um bairro marginalizado) pela sua interlocução mais qualificada
com o governo e a sociedade civil organizada. Estes efeitos revelam a construção de
uma identidade política e territorial dos menos favorecidos, transformando-os em
sujeitos capazes de promover uma melhor qualidade de vida.
A construção de uma cultura de paz implica num processo de crescimento e
valorização do ser humano, e a compreensão deste conceito remete o educador a
buscar um entendimento mais profundo da natureza humana, das relações
interpessoais que existem nas ações preventivas e nos vínculos que vão sendo
tecidos com a rede social de prevenção.
O paradigma da cultura de paz enfatiza a dimensão humanizadora da
educação, encarando-a, antes de tudo, como um processo de conhecimento,
crescimento e desenvolvimento do próprio educador, para que possa ser um agente
multiplicado junto a seus alunos e à comunidade.
Entretanto, o desafio de transformar as pequenas vitórias garantidas neste
processo em um novo patamar de organização e de mudanças mais profundas em
sua condição social, econômica e política num futuro próximo, ainda representa um
limite a ser superado.
70
5 VIOLÊNCIA NA ESCOLA PÚBLICA EM PRETO E BRANCO
A vioncia nas escolas é um fenômeno real que entrou na agenda
política da nação na última década do século passado, e se transformou em
objeto da política social preventiva. Trata-se de uma queso complexa, na qual
podem ser identificadas rias causas e que demanda ainda análises e estudos
mais aprofundados.
No desenvolvimento desta pesquisa, tendo como cenário o ambiente
escolar, observou-se que se trata de um fenômeno que vem se ampliando em
proporções significativas, tanto de forma endógena, na relação aluno e aluno; aluno
e professor; diretor e demais funcionários que trabalham na escola; quanto de
natureza exógena, aluno e comunidade e aluno e diferentes contextos sociais.
Observou-se que o policiamento instalado no ambiente escolar, ainda é
sinônimo de segurança e ordem, e é desmandado como a solução para coibir a
“marginalidadenas proximidades da escola. Freqüentemente, a segurança é de
responsabilidade dos vigias que, simultaneamente, atuam na função de porteiros e
protetores do patrimônio escolar.
O que se verifica é uma deficiência ou carência de pessoal encarregado da
segurança: o descaso e a falta de policiamento agravam ainda mais a
vulnerabilidade da escola.
Neste cenário, as agressividades entre pares, ou seja, entre alunos,
representam uma das modalidades de violência mais freqüente nas escolas, com
ampla multiplicidade de sentido, abrangendo desde formas de sociabilidade juvenil
até condutas brutais. Esse fenômeno aparece com escasso debate sobre as
relações entre professores e alunos e dos professores entre si ou entre diretores,
professores e funcionários do corpo escolar.
Os efeitos dessa violência apresentam-se em diferentes formas:
a) quanto às escolas: banalização da violência no espaço escolar, assim
como seu silenciamento; vulnerabilidade da escola a violências várias,
macrossociais; perda de legitimidade como lugar de produção e
71
transmissão de saberes; problemas nas relações entre professores e
alunos; baixo rendimento escolar; maior repetência entre os alunos que
se envolvem em atos de violência;
b) quanto aos alunos: baixa auto-estima; falta de perspectivas em relação ao
futuro e de percepção do lugar da escolaridade em sua vida profissional;
desejo de se fazer aceitar no grupo de referência; formas de representar
e viver a masculinidade; repercussões em alguns traços de personalidade;
c) quanto à falia: contexto familiar marcado pela falta de diálogo; violência
dostica; falta de interesse dos pais no desenvolvimento escolar dos jovens;
d) na rua: exposição à mídia e a programas de violência; visualização de
diversas criminalidades.
Este fenômeno social, em certo sentido, pode ser compreendido de forma
“positiva”, da díade violência/autoridade. Como instituinte das relações institucionais,
assemelha-se à proposição foucaultiana sobre o poder. Foucault (1987) defende
esta idéia com as seguintes palavras:
Temos que deixar de descrever sempre os efeitos de poder em termos
negativos: ele “exclui”, reprime”, “recalca”, censura”, “abstrai”, “mascara”,
“esconde”. Na verdade o poder produz; ele produz realidade; produz
campos de objetos e rituais da verdade. O indivíduo e o conhecimento que
ele se pode ter originam-se nessa produção (FOUCAULT, 1987, p.172).
Esta idéia remete à inerência da autoridade no papel de educar. O poder do
professor, em sala de aula, é um procedimento natural. Está relacionado à
prevenção, à produção, ao ato de criar e permite a emancipação. A política social da
educação e do conhecimento se inscreve em aprender e conhecer, um dos
fundamentos da cidadania, e é vivenciada na relação professor e aluno. Educação e
conhecimento são compreendidos como efeito de poder.
Neste capítulo, serão abordados os principais aspectos sobre a violência e
os efeitos de poder que ela exerce nas escolas públicas do Grande Bom Jardim, na
percepção dos próprios alunos, professores, diretores e pais, ressaltando alguns
pontos contraditórios sobre as múltiplas visões do problema.
72
Este estudo remete para um fator social resultante das transformações na
atualidade, que é a imporncia subjetiva dos grupos de pares e da dia, em
detrimento das relações sociais tradicionais, como a falia, vizinhança, clubes e igreja.
A sociedade pós-moderna, segundo Maffesoli (1997) vive a individualização
e a pluralização dos estilos de vida, decorrentes da perda dos sistemas de valores e
dos significados homogêneos. A miséria, o desemprego, as desigualdades sociais, a
falta de oportunidades para os jovens e a presença insuficiente ou inadequada do
Estado na resolução de problemas como estes, têm aumentado consideravelmente
a violência. Entretanto, não se trata de um fenômeno circunscrito a fatores
estruturais, apenas de ordem cio-econômica, inscreve-se, também, em âmbito
cultural e psicossocial dos indivíduos, dos grupos e da sociedade.
Para Heitmeyer (1992), uma sociedade com desigualdades sociais, onde o
mercado e os interesses do Estado prevalecem sobre o bem comum, pode levar o
indivíduo, especialmente os jovens que se encontram em fase de mudança, a
processos desintegradores
8
e, se essa desintegração for sentida e percebida como
perda do sentimento de pertencer a um grupo, e de diminuição do espaço
participativo e consensual, ela pode se manifestar por meio de atos de violência.
Os diferentes atores sociais que participaram da pesquisa evidenciam esta
idéia, quando fazem referência ao momento atual em que estão vivendo.
5.1 O jovem e suas múltiplas visões sobre o problema
Para os jovens, a escola, em geral, é excluída do contexto da violência,
porque eles não têm comprovação das incidências de atos de violência. É um
espaço onde, geralmente, não se vê nem se ouve falar sobre atos violentos e
pessoas sendo vitimadas.
A percepção da violência, do que é violento, para os jovens é sempre um
esteriótipo: é o outro, o desconhecido, o outro lugar, o estranho.
8
Heitmeyer define processos desintegradores como “(a) redução das relações com outras pessoas e
instituições; b) diminuição da participação real nas instituições sociais; e c) diminuição do consenso e
das percepções coletivas das normas e valores” (1992, p.109).
73
Os alunos têm uma vio do todo diferente da parte. Para eles, a escola em que
estudam não é violenta, mas o seu entorno seria. Eles o teriam uma visão de totalidade
da violência nas escolas, mas seu olhar é claro quanto ao seu lugar de estudo.
Gráfico 1 Violência na escola e no bairro, segundo a opinião dos alunos entrevistados -
Grande Bom Jardim, 2005
Fonte: Pesquisa Direta
Nota: As respostas podem não somar 100%, porque houve entrevistado que disse que há violência
na escola e no bairro (dupla resposta).
Na opinião de 78,6% dos alunos entrevistados, não existe violência no
interior das escolas em que estudam. A pesquisa indica que 88% dos entrevistados
consideram que a violência está localizada fora da escola.
Nos depoimentos, de forma reiterada, os jovens entrevistados revelam
vivenciar situações violentas fora da escola, cujo fenômeno aparece como um
elemento relevante no dia-a-dia dos entrevistados, que assistem cenas grotescas e
bizarras como brigas, agressões e assassinatos. Eis algumas de suas falas:
“A gente não pode passar de um lado para o outro da rua, se passar pode
acontecer alguma coisa... como arrastão, tiroteio. A violência está em
qualquer lugar, bem pertinho de nós” (Aluna da Escola Michelson).
“Outro dia, meu colega levou uns tabefes na cara e pontapés por todo o
corpo, mas conseguiu chegar em casa, no Beco da Pecheira. Na rua é
assim, essa coisa de bater em todo mundo. Qualquer coisinha leva pro
lado da violência" (Aluno da Escola São Vicente).
"A pracinha é olhada de longe... é rodeada de gangue, de marginais. Outro
dia furaram um, e uma mulher foi atingida com uma bala perdida na sala da
casa dela. Ela hoje anda de cadeira de rodas... é uma tristeza" (Aluna da
Escola Santo Amaro).
20,8
78,6
0,3
10,7
1,3
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Violência na escola Violência no bairro
Sim Não Não respondeu
74
Na enumeração das violências que mais ocorrem fora da escola aparecem,
em primeiro lugar, os assaltos, com cerca de 60%. A respeito desse tipo de
violência, os jovens relatam estar relacionado aos problemas sociais existentes na
comunidade, como a fome, a falta de moradia e de oportunidades para o trabalho.
A ocorrência de homicídios aparece em seguida, na opinião dos jovens, com
um percentual de 26,7%. Para eles, este tipo de violência é decorrente das
condições socioeconômicas, em que se encontram as famílias pobres, que moram
nas periferias das grandes cidades (espaços que oferecem maior risco e real perigo
de vitimização) e, principalmente, pela ausência de políticas públicas efetivas de
atenção às necessidades básicas de sobrevivência para essa população.
Em terceiro lugar, estão as discussões seguidas de agressão, com
aproximadamente 19,5% das opiniões dos jovens. Eles acreditam que isso é um
comportamento corriqueiro e “aceito” por jovens e adultos (vítimas ou agressores),
no dia a dia de suas vidas (Gráfico 2).
Gráfico 2 Tipo de violência que mais se manifesta no bairro, segundo a opinião dos
estudantes das escolas pesquisadas - Grande Bom Jardim, 2005
Fonte: Pesquisa Direta
Todos os pesquisados indicam o assalto como a violência principal, nos
diversos bairros do Grande Bom Jardim, seguida de homicídio, o que mostra uma
situação interbairros de certa correspondência, ressaltando-se o espaço do entorno da
escola Michelson com maior mero de homicídios; as vizinhanças de Santo Amaro,
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Assalto Estupro Homicídio Discussão Agressão
Jociê Caminha o Francisco Michelson Santo Amaro São Vicente
75
onde há um número significativo de discussões; e, com maiores ocorrências de
assalto, os bairros onde estão as escolas Jociê Caminha, Michelson e Santo Amaro.
Pode-se inferir, a partir da análise desses dados, que os alunos pesquisados
tendem a identificar violência como força física, palpável e possível de ser vista.
Com essa perspectiva é evidente que a violência tem espaço privilegiado fora da
escola, mas para 29% dos alunos entrevistados há uma compreensão de que existe,
também, violência no interior da escola.
Ao analisar a violência, na percepção dos jovens estudantes do Grande Bom
Jardim, verifica-se que para a maioria a escola não se inclui no contexto da violência
geral, mas sim como um espaço onde se verificam poucos atos violentos com
situações de agressões físicas e ou outros de vitimação. A escola é percebida,
geralmente, como um espaço de convivência saudável, com oportunidade de
aquisição de conhecimentos e habilidades significativas, e experiências
enriquecedoras, necessárias ao seu desempenho na sociedade. Um aluno descreve
esta percepção, com as palavras:
A escola favorece muitos eventos para os alunos, como futebol, karatê,
futsal e outros. Todos trabalham com o mesmo objetivo, desde o vigia, até a
família, tendo apego, amor, união e harmonia. Todos querem ganhar
conhecimento e melhorar na vida, e viver num mundo melhor (Aluno da
Escola Jociê Caminha).
Entretanto, contrariamente, apresentam muitas críticas sobre o sistema
escolar e os professores, e são mais críticos, ainda, em relação à precariedade das
condições materiais e humanas em que se encontram as instituições educacionais.
A queixa sobre o descaso com o prédio escolar e os equipamentos é assumida,
também, como responsabilidade deles próprios, alunos, que os depredam e os
destroem. A fala de uma aluna reflete este quadro:
Os professores o ligam pra nada, não ensinam coisas boas. Tudo é largado,
sem nenhum cuidado. A escola fica na periferia, numa área de risco e traz para
dentro dela a violência. Pode haver tiroteio, arrastão, pode entrar morador
embriagado ou revoltado com a vida que leva, e jovens, muitas vezes,
lombrados com o uso da droga, que, em geral, estão metido em gangues. As
salas, os banheiros, e por toda a parte tem pichações, carteiras e móveis
quebrados e pátios caindo aos pedaços (Aluna da Escola Michelson).
Quanto às situações de violências presenciadas pelos estudantes na escola,
aparecem aquelas relacionadas aos seguintes aspectos: violência verbal, agressão
76
física, assaltos seguidos de furto. Esta contradição reaparece quando 47,8% dos
alunos afirmam ter presenciado situações de violência na escola, relacionadas à
discussão como um fato real, em segundo lugar a situações que dizem respeito à
agressão física com 25,3% de afirmações, e em terceiro lugar, vítimas de assalto
com 19,8% da amostra (Gráfico 3).
Gráfico 3 Situações de violência nas escolas, presenciadas pelos estudantes das escolas
pesquisadas - Grande Bom Jardim, 2005
Fonte: Pesquisa direta.
A interferência de múltiplos fatores nas idéias e reações que os jovens
possuem sobre a violência, segundo Chesnais (1981), dificulta a objetivação do
tema em questão. Os alunos incorporam em seus argumentos apenas os eventos
fatais, entendendo-os como parte da violência, mas ao mesmo tempo como
elementos mais adequados para a formulação de indicadores desse fenômeno,
dado o grau de impregnação do senso comum em todas as elaborações ideológicas.
Gráfico 4 Violências sofridas pelos estudantes das escolas pesquisadas
– Grande Bom Jardim, 2005
Fonte: Pesquisa direta.
19,8%
47,8%
25,3%
7,1%
Assalto Discussão Agressão física Outros
45,0%
23,5%
9,6%
7,0%
6,0%
8,9%
Foi intimidado (bullying) Teve objetos roubados
Envolveu-se em briga entre turmas Envolveu-se em atos de vandalismo
Andou armado Outros
77
Em relação a situações sofridas pelos jovens, um grupo que corresponde a
45% do total, afirma ter sofrido intimidação por colegas, ou seja, foram humilhados,
receberam ameaças ou sofreram agressão moral/psicológica. Outros 23,5% da
amostra tiveram objetos roubados e sentem-se humilhados; 9,6% deles participaram
de briga entre turmas; 7% envolveram-se em atos de vandalismo; e, 6% afirmaram
ter andado armados.
As intimidões geralmente ocorrem com o objetivo de insultar ou perseguir os
outros pelo uso do poder ou força. Trata-se de um femeno social de agressão
continuada entre alunos, que afeta as escolas, comunidades e toda a sociedade.
Esses dados permitem uma conclusão: a violência na escola assume
efetivamente duas formas: simbólica, nas agressões morais; econômicos e
vandalismo, atos cometidos contra a propriedade coletiva (patrimônio público).
Um aspecto relevante que decorre das conclusões precedentes é que,
apesar do efeito negativo da pobreza, onde é possível observar um acentuado
declínio no bem-estar e na saúde, pode-se constatar que nem todos os
adolescentes submetidos a tais experiências apresentam maiores problemas no seu
desenvolvimento biopsicosocial.
Gráfico 5 Condições de bem-estar na escola, segundo a opinião dos estudantes
das escolas pesquisadas - Grande Bom Jardim, 2005
Fonte: Pesquisa direta.
Com todas as dificuldades próprias da fase de desenvolvimento em que se
encontram, e apesar de suas condições socioeconômicas precárias, o jovem
89,4
7,6
3,0
61,3
25,3
13,3
78,2
16,0
5,8
70,3
24,9
4,8
81,7
9,8
8,4
78,7
17,3
4,0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Professor está
preparado para
trabalhar violência
Sente-se
discriminado na
escola
Na escola
respeito entre as
pessoas
Percebe
sinceridade nas
pessoas
liberdade de
expressão em sua
escola
Sente-se seguro
dentro da escola
Sim Não Não responderam
78
pesquisado tem uma idéia positiva da escola em que estuda, sentindo-se seguro em
seu interior (78,7%), com liberdade para expressar suas idéias e opiniões (81,7%%),
e, consideram os professores preparados para trabalhar o tema violência (89,4%)
nas diferentes áreas do conhecimento.
Percebe-se que os jovens pesquisados têm elevada auto-estima e uma relação
humana baseada no respeito com os outros e a consigo mesmo. Dizem gostar da
escola, mas ao mesmo tempo se contradizem, quando 61,3% se sentem discriminados
em seu interior. Essa sensão aponta para a compreensão da percepção do aluno
sobre a vulnerabilidade da escola para a violência. Estes alunos sentem-se
constrangidos, temerosos, inseguros e sofrem por serem discriminados, portanto, o
timas de violência simbólica, que pode transformar-se em agressão sica.
É possível constatar que, embora se encontrem numa área de risco, com
ocorrência de atos violentos, 75,1% dos alunos entrevistados relataram combater
individualmente situações de intimidação, sabendo resistir às pressões do grupo, diante
de imposições que não quer para si. Eles têm esperança no futuro, quando, 92% dos
estudantes expressaram sua capacidade de fazer escolhas e 85,5% do universo
pesquisado têm condições de seguir o caminho almejado, com projetos de vida
traçados, que os animam a cada dia (Gráfico 6).
Gráfico 6 Atitudes prepositivas individuais, segundo a opinião dos estudantes das escolas
pesquisadas - Grande Bom Jardim, 2005
Fonte: Pesquisa direta.
78,2
18,7
3,1
93,8
3,6
2,6
75,1
21,8
3,1
85,5
12,8
1,6
92,0
5,3
2,7
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Discuto sobre
violência ,
respeitando as
diferenças
Meu
relacionamento
é baseado no
respeito.
Resisto às
pressões do
grupo
Tenho um
projeto de vida
Fo escolha
para minha vida
Sim Não Não responderam
79
A atitude de resistir às pressões do grupo, evidenciado por 75,1% dos
alunos entrevistados, refere-se a uma força individual, podendo ser compreendida
como a integração de dois elementos: a atitude de resistir à destruição, ou seja,
preservar a integridade em circunstâncias difíceis; e a atitude de reagir
positivamente, apesar das dificuldades que encontra.
Alunos que resistem às pressões do grupo, geralmente, possuem
autoconfiança, lutam por suas aspirações, sem nunca perder o senso de integridade.
Os problemas e mudanças que a vida lhes apresenta são como oportunidades para
que cresçam e aprendam, mesmo diante das ameaças e inferências do contorno
social, que não podem ser evitadas e delegadas a outrem.
Gráfico 7 Sentimentos dos estudantes diante de uma situação de violência na escola -
Grande Bom Jardim, 2005
Fonte: Pesquisa direta.
A violência para esses estudantes representa uma problemática que causa
muita indignação, é um sentimento que está presente em 36,5% deles, como o de
maior freqüência. Em segundo lugar, aparece o medo, como um sentimento vivido
por 28,2% dos entrevistados, e, em terceiro lugar, o sentimento de raiva, com 23,1%
do universo pesquisado.
Tem-se como segunda conclusão desse estudo que a violência na escola
pública no Ceará se deu contra a propriedade, o que sinaliza manifestações de uma
nova violência, banalizada e pronta para ser empregada como mero recurso de
ação. Uma violência que parece autonomizar-se e tornar-se um fim em si mesmo.
23,1%
28,2%
36,5%
12,2%
Raiva Medo Indignação Outros
80
Analisando os dados da pesquisa relacionados à violência nas escolas
chega-se a uma terceira conclusão: a força individual positiva não significa
diminuição das situações de violência para com ela. Talvez as forças coletivas sejam
que pudessem contrapor-se à violência. Certamente esta conclusão servirá de pista
para outros estudos.
5.2 Educadores e seu cotidiano
Na opinião dos professores, alguns fatores relacionados ao ambiente familiar
interferem diretamente no comportamento dos alunos, o mais indicado ao
relacionamento entre pares, professores, diretores e funcionários e ainda,
dificuldades na aprendizagem.
Para os professores, as questões familiares são as principais causas das
dificuldades que os estudantes enfrentam. Em seus relatos, destacaram: a omissão
dos pais, que se distanciam dos problemas escolares de seus filhos; pais coniventes
com os erros dos filhos, não impondo limites; a família transferindo sua
responsabilidade para a escola; não incentivo dos pais pelo estudo de seus filhos.
Consideram ainda na ambiência familiar, carências múltiplas relativas ao
desemprego, à miséria, à exclusão social e à falta de tempo para dedicar-se aos
filhos, entre outros.
Um fato que merece destaque no depoimento dos docentes refere-se ao
relato de um professor sobre um trabalho escrito em sala de aula, demonstrando um
sentimento negativo de um jovem da periferia quanto ao futuro e perspectivas de
vida. Na redação, o aluno registrou que seu maior sonho era morrer aos 19 anos,
restando apenas três anos para concretizá-lo.
Em conversa com o professor, posteriormente, esse aluno disse não se sentir
amado de verdade pelas pessoas que o cercam. Não consegue estabelecer uma
convivência com o outro. Tem medo de se aproximar dos colegas, agravado pelo
sentimento de não ser notado por eles, o que o deixa triste e isolado. Considera sua
namorada tudo para ele e por isso procura sempre estar ao seu lado. E acrescenta
que, antes que ela o traia prefere morrer, pois tem medo que ela não o ame.
81
A pesquisa realizada constata e este relato corrobora com a idéia de que, os
professores estão mais próximos dos alunos que os diretores, e mesmo sentindo-se
perturbados pelos conflitos na escola, se interessam em trabalhar temas relevantes
para a vida de seus alunos. Entretanto, a escola ainda não encontrou o seu caminho
para o enfrentamento da violência, como afirma um dos professores entrevistados:
A escola ainda não conseguiu desenvolver um trabalho direcionado à
violência de forma eficaz. uma preocupação nesse sentido, com
projetos desenvolvidos nas escolas, mas são ões isoladas e com
descontinuidade (Prof. Escola D).
No convívio diário da sala de aula, as demonstrações de rebeldia por parte
do aluno (por exemplo: recusar-se responder às indagações do professor), são
percebidas pelo aluno como descortesia, mas para o docente, é violência. Sem
dúvida alguma, aqui se evidenciam percepções distintas sobre o fenômeno
violência: uma sob a ótica dos professores, e a outra, dos alunos.
Diretores e professores, em sua maioria, consideram que os problemas
cotidianos ocorridos na escola estão relacionados à rebeldia e à indisciplina, formas
de violência que são enfrentadas por eles em seu dia-a-dia, por exemplo: situações
de bagunça dentro da sala de aula, como “conversinhas”, ”risinhos”, “guerrinhas de
papel”; entrar atrasado em sala de aula chamando atenção para si; empurrar ou
chutar colega, sem motivo aparente, causando tumulto; desrespeitar funcionários na
escola, descumprindo normas estabelecidas pela instituição escolar.
A compreensão da violência física e simbólica aparece de forma clara no
relato dos professores e diretores das escolas, ao falarem sobre os problemas
relacionados à violência e com os quais se confrontam no cotidiano. Revelam suas
percepções quanto à natureza de cada um desses problemas e suas conseqüências
no campo social. Nos depoimentos, esses atores identificam os sinais de incivilidade
enfrentados em seu trabalho na escola:
Os alunos sempre estão se “pegando” na escola, brigam, discutem e se
agridem fisicamente por nada... De repente, é tapa e pontapé pra todo
lado, e, às vezes, acertos na hora da saída (Prof. Escola B).
A palavra da professora comunga com a afirmativa de Porto, mencionada no
segundo capítulo: “a violência sem objeto, destituída de sentido pode, pela emoção,
82
pelo jogo, se constituir em um fim em si mesmo, sendo indiferente se seres humanos
são objetificados”. (PORTO, 1997, p. 197). Assim, diz o professor:
Como conseqüência da banalização da violência por si mesma, segue-se a
do indivíduo, a coisificação do ser humano. A mídia leva ao consumo, a
massificação do indivíduo, e este se percebe como uma estátua, que pode
ser destruída, sem valor. Esta banalização está na cabeça de todos, é uma
idéia geral, mesmo com todo engajamento da família, escola e governo
(Prof. Escola C).
As falas dos diretores revelam maior variedade de problemas que as dos
professores, explicitando um vel de gravidade que não mencionado no relato destes:
consumo de drogas e álcool, extorsão, ataques verbais contra professores, alardes
quanto a bombas. Os problemas indicados dizem respeito às categorias: vandalismo,
violênciasica entre alunos, indisciplina, violência verbal entre alunos e roubos.
Os ataques físicos e verbais entre alunos representam a maioria dos
problemas, seguidos de vários tipos de danos causados pelos alunos aos pertences
pessoais de outros e, em menor grau, ataques verbais (indisciplina) e físicos
cometidos pelos alunos contra os adultos da escola.
Os professores enumeraram situações diversas de violência na escola,
sendo a indisciplina (ataques verbais e físicos) e vandalismo os mais freqüentes
enfrentados por eles, na escola. O termo “briga entre alunos” foi muito freqüente nas
respostas. Para eles, as brigas e os xingamentos são “coisas deles”, “natural da
idade”. As causas desse “problema disciplinar” estariam no ambiente familiar e na
estrutura econômica em que vivem. O vandalismo, também, figurou com destaque
na lista das incivilidades cometidas por alunos nas escolas, ocorrendo em situações
de danos ao equipamento ou às instalações escolares, frases insultuosas escritas
nas paredes da escola ou nos equipamentos escolares e danos a objetos
pertencentes aos professores.
Para eles, os diversos tipos de agressões que os alunos cometem uns contra
os outros continuam sendo a forma mais comum de violência testemunhada pelos
professores, seguida de danos a equipamentos e hostilidade dirigida contra os adultos.
83
5.3 Relação dos pais com a violência na escola
A família é uma organização social complexa, um microcosmo da sociedade,
onde se vivem as relações primárias e se constroem processos identificatórios. É
também um espaço onde se definem papéis sociais de gênero, cultura de classe e
se reproduzem as bases do poder. É ainda o lócus da política, misturada no
cotidiano das pessoas, nas discussões dos filhos com os pais, nas decisões sobre o
futuro, que ao mesmo tempo tem o mundo circundante como referência e o desejo e
as condições de possibilidade, como limitações. Por tudo isso, é o espaço do afeto
e, também, do conflito e das contradições.
Esses fatores influenciam o perfil das famílias em seus diferentes estratos
sociais. Nas famílias de estratos sociais populares, público alvo desta pesquisa,
observou-se que, em relão à composão familiar, é a e quem cria a falia sem
parceiro e, ainda, com a presea de outros parentes habitando no mesmo domilio.
A opinião de es das escolas pesquisadas, em relação à família, revela a
necessidade de um cotidiano familiar baseado no diálogo, em expressões de carinho
e afeto, sem conflitos, brigas e discussões. Pode-se dizer que suas falas refletem o
usual dos relacionamentos humanos, mormente das interações entre pais e filhos:
A violência parte de dentro de casa. Tenho um vizinho que não tem diálogo
com a família. Seu pai morreu e sua mãe está sempre na rua namorando.
Esta dificuldade o levou a ser marginal, e isso é triste! Com meus filhos eu
converso, mostro como a vida é o que é o certo e o que é errado (Mãe
Escola D).
As dificuldades enfrentadas, no dia a dia, como a morte do responsável pela
família ou o comportamento sexual desregrado, aparecem para alguns como
motivadores da delinqüência, impedindo o indivíduo de superá-los pelas atividades
normais, como o trabalho e o enquadramento nas normas sociais. Isso mostra o
peso do ambiente familiar e social na conformação dos papéis desempenhados
pelas pessoas:
O adolescente quando não tem boa convivência em casa, não recebe
atenção dos pais, tudo pode acontecer, como foi o caso de um sobrinho
meu que se envolveu com drogas, com gangues e que pensava em se
matar (Mãe Escola B).
84
Os pais aparecem nas opiniões como responsáveis pelos desmandos
cometidos pelos filhos. A sua ausência ou omissão tem um peso significativo no
imaginário das entrevistadas, denotando uma crença de que existiriam dependência
e incapacidades dos filhos viverem com suas próprias competências e habilidades. A
fala de uma mãe refere-se a esta análise:
Tenho quatro filhos e dou carinho a todos eles, pois recebendo uma educação
com bons princípios, eles serão capazes de enfrentar, sem fraqueza tudo que
estiver lá fora. Procuro estabelecer o diálogo porque quando em casa
violência, o filho certamente será violento fora (Mãe Escola A).
A transmissão de valores morais e exemplos de vida, segundo as mães
entrevistadas, podem moldar os comportamentos dos filhos dentro dos costumes
aceitos pela sociedade. Elas não transferem a responsabilidade para professores,
para o governo ou para a vizinhança:
Conquistei um menino bastante sofrido, que na época tinha 12 anos. Aos
seis anos foi abandonado pela mãe e, em seguida, sofreu agressões da
madrasta. Esta dor o fez fugir da família, sem rumo e dinheiro. Veio
conversar comigo, pedindo abrigo. Após consultar minha família, aceitei-o
na condição de respeitar e aceitar meu marido e filhos, como irmãos. Hoje
está com 15 anos e estudando. Chama-me de mãe, e sempre que precisa
busca o diálogo (Mãe Escola C).
As soluções referidas pelas mães para graves problemas, como o
abandono, maus tratos, insegurança e indefinições sobre a vida, são indicados nos
valores da maternidade responsável, podendo ser encontradas dentro da instituição
familiar. Esta pesquisa mostrou que diferentes atores, alunos, pais e professores
responsabilizam a desagregação familiar como um dos principais problemas
geradores de violência. As mães entrevistadas, entretanto, vêem que as razões da
violência em geral estão na família, mas também nela estariam as formas de
superação desse problema, inclusive sugerindo modos de vida de paz.
85
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do referencial teórico e da análise dos resultados obtidos, o
fenômeno social, violência, sob o ponto de vista geral, é compreendido como de
natureza opressiva, constrangedora, produtora de sofrimento, portanto, uma força,
fixa ou não, que sustenta o sistema dominante, mas, por outro lado, pode ser uma
pressão que rompe a ordem, dependendo do nível de desenvolvimento da
sociedade. Esta condição se expressa no espaço onde a força é exercida, podendo
ser no interior ou fora das instituições, como a escola, a família, a casa. Esta
espacialização da violência, portanto, ocorre na esfera pública e privada.
Este fenômeno pode expressar-se de forma física (agressões), econômica
(depredações) ou simbólica (intimidações), motivada por paixões ou sem razão
aparente, portanto, vazia de sentido. A violência produz algo, uma ação, uma
revolta, uma crise, entendido como positivo ou não, mas resultado de contradições
que são inerentes às sociabilidades existentes e não se constitui um paradoxo.
Os agentes da violência podem ser as instituições sociais, como o Estado, a
escola; ou grupos, como as gangues juvenis; ou o indivíduo isolado. Tais ações
violentas podem significar respostas às necessidades econômicas, culturais ou
pressões grupais, mas em todos existiria a vontade de exercê-la, uma deliberação,
uma decisão que foi posta em prática.
A pesquisa revela, na ótica dos atores sociais envolvidos, em especial, dos
jovens estudantes do Grande Bom Jardim, a validação da hipótese de estudo
levantada. Neste sentido, a escola não é apenas um espaço de socialização de
valores constitutivos da cidadania e de identidade, mas um espaço em que se
reafirma e reproduzem relações sociais e de poder da sociedade em geral, com seus
variados significados. Neste sentido, pode-se dizer que a violência na escola é um
fenômeno social com diferentes dimensões de natureza multicausal, envolvendo
fatores estruturais e culturais, que a contextualizam no cerne de um ambiente teórico
e de relações mais complexas. Este fenômeno social localiza-se, ao mesmo tempo,
dentro e fora da escola, atingindo gestores, alunos, docentes e suas famílias.
86
A partir do arcabouço teórico e das reflexões gestadas no decorrer deste
trabalho, observou-se certo mal-estar em relação às instituições sociais gestoras das
políticas públicas, motivado pela contradição inerente que marcam essas políticas
em sua implementação. Se, por um lado, a escola representa, ou é apresentada no
discurso oficial, como uma possibilidade de mobilidade social na estratificação de
classes, por outro, no seu interior se reproduzem mecanismos de exclusão social e
de negação da “terra prometida”. A escola seria o local onde ocorreriam interações
dos grupos prejudicados e insatisfeitos, agravadas pelas formas convencionais de
participação e de representação política, muito criticada e rejeitada, e em especial,
pelos jovens.
Como elemento de destaque referente ao fenômeno estudado neste
trabalho, tem-se a banalização da violência. Numa visão parcial, corre-se o risco
associar a violência, somente, à transgressão dos direitos. Isso leva a pensar que
não se pode tomar as teorias como válidas em qualquer contexto. Cabem aos
pesquisadores buscar dentre as teorias em vigor aquelas que ajudam a entender a
realidade em estudo.
Santos conduz a uma reflexão sobre a refencia estrutural do papel do Estado
nas últimas décadas, que recoloca a questão da violência em outros contextos:
(...) a pós-modernidade é um fantasma que passeia por castelos modernos,
o que pode dar uma pista de que não como precisar o fim do moderno e
o começo o pós-moderno. Entre a modernidade e pós-modernidade há mais
diferenças que semelhanças, menos prolongamentos que rupturas
(SANTOS, 1997, p. 111).
Neste contexto histórico de transição é que deve ser analisado o fenômeno
social em foco a violência. A percepção de uma nova maneira de ver e ser no
mundo e suas crises não é questão que implica uma posição individual, mas se
insere na pauta de governos e instituições sociais. Como indivíduos, como
sociedade, como civilização e como ecossistema planetário, cabe aqui dizer que,
uma ruptura paradigmática, ou seja, a passagem do paradigma da modernidade
para o da pós-modernidade, que precisa ser considerada e compreendida como
fator de mobilização social.
Ao concluir este estudo, é possível elaborar algumas reflexões, ainda que
demandem análises e estudos mais aprofundados: a) A violência em gênero é um
87
fator social resultante das transformações na atualidade, possui importância
subjetiva por parte dos grupos de pares e da mídia, em detrimento das relações
sociais tradicionais, como a família, vizinhança, clubes e igreja. Como desconstruir
este fenômeno e instalar uma cultura de paz?; b) a violência na escola, percebida
em sua especificidade é um fenômeno real, que entrou na agenda política da nação,
na última década do século passado, e se transformou em objeto da política social
preventiva. Em se tratando de uma questão complexa, com foco em várias causas,
em que abordagens/ foco devem ser investigadas os próximos estudos sobre este
tema?; c) a escola gera uma espécie de desiluo coletiva em relação aos benefícios
da escolarizão e, conseqüentemente, em relação a ela própria. Esse processo é
alimentado pela exclusão continuada que nela acontece, à medida que a
democratização do ensino amplia o acesso à escolaridade, mas mantém as condições
desiguais de permancia e de êxito escolar. Como as instituições públicas podem
implementar conjuntamente, com as energias dos rios atores sociais, ações de
impacto na dirão de uma educão inclusiva, que melhore a vida da populão?
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8 ANEXOS
ANEXO 1 OFICIO ENCAMINHADO AO ALUNO SOBRE PESQUISA SOBRE A
MANIFESTAÇÃO E SIGNIFICADO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA:
“RETRATO FALADO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA PÚBLICA”
Estimado (a) Aluno (a),
Solicito sua colaboração no sentido de responder este questionário que faz
parte de uma pesquisa em Escolas Públicas Estaduais com o objetivo de:
Analisar como o fenômeno da violência vem se manifestando no interior
das escolas públicas do município de Fortaleza/ CE, que trabalham com
estudantes adolescentes.
Perceber o significado da violência, na escola pública, na visão de alunos,
pais, professores e funcionários.
Entendendo ser o questionário um dos instrumentos mais importantes da
pesquisa, espero contar com sua valiosa colaboração no preenchimento do mesmo,
com os seguintes lembretes:
VOCÊ NÃO SERÁ IDENTIFICADO (A), portanto não necessidade de
colocar seu nome no questionário.
Assinale com um X as opções escolhidas.
Para as questões abertas, as respostas deverão ser respondidas por
extenso nas lacunas.
Na oportunidade, ressalto a importância de sua colaboração, esclarecendo
que quanto mais as respostas traduzirem a sua opinião verdadeira, maior serão as
possibilidades de que possamos ajudar a escola a ter sucesso, o que é muito bom
para todos os alunos.
Esclareço, ainda, que além de você e de familiares, também serem ouvidos
pais, professores, funcionários, técnicos e especialistas de educação.
Agradeço a sua colaboração.
Neide Augusta Marques
ANEXO 2 QUESTIONÁRIO ELABORADO COM O ALUNO SOBREPESQUISA SOBRE
A MANIFESTAÇÃO E SIGNIFICADO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA:
“RETRATO FALADO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA PÚBLICA”
Prezado (a) aluno (a),
VOCÊ NÃO SERÁ IDENTIFICADO/ A
1. DADOS SOBRE A ESCOLA QUE ESTUDA
1 Nome da escola ________________________________________________________
2 Turno: ( ) manhã ( ) tarde ( ) noite
3 Série/ ciclo que estuda (_______________________)
( ) ensino regular ( ) tempo de avançar ( ) telensino
4 Tempo de estudo: Total (_____ anos)
2. DADOS PESSOAIS DO ALUNO
5 Idade: (________ anos)
6 Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
7 Naturalidade (nasceu em qual cidade): ______________________________________
8 Bairro: ______________________________Distrito: ___________________________
9 Quanto tempo reside nesta cidade? ________________________________________
10 Seu estado civil atual é:
( ) solteiro ( ) casado ( ) outros
11 Tem filhos? Caso Sim, quantos? (__________)
12 Tem irmãos? Caso Sim, quantos? (__________)
13 Com quem você mora?
( ) pais ( ) irmãos ( ) sozinho ( ) companheiro (a) ( ) outros
14. Situação ocupacional:
( ) empregado ( ) não trabalho
15 Se empregado, que tipo de atividade? _____________________________________
3. VIOLÊNCIA NA ESCOLA E NO BAIRRO
16. Você acha que há violência na escola em que estuda?
( ) Sim ( ) Não
Por que? ___________________________________________________________
17. Você acha que a violência se manifesta no bairro em que você mora?
( ) Sim ( ) Não Como? _______________________________
18. Tipo de violência que mais se manifesta no bairro em que você estuda?
( ) Sim ( ) Não
100
19. Se a situação for afirmativa, qual tipo?
( ) assaltos ( ) estupros ( ) homicídios
( ) discussões ( ) agressões físicas
( ) outros, especifique_________________________________________________
20. O que você sentiu diante dessa situação?
( ) raiva ( ) medo ( ) indignação
( ) outros, especifique:_________________________________________________
21. Você já se envolveu em alguma situação de conflito?
( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, qual? _____________________________________________
22. Marque com um X a resposta relacionada a possíveis situações de violência
vivenciada por você:
PERGUNTAS SIM NÃO
Recebeu ameaças de colegas (intimidação)
Sofreu agressão moral/ psicológica (intimidação)
Foi humilhado (intimidação)
Teve objetos roubados
Envolveu-se em briga entre turmas/ galeras
Envolveu-se em atos de vandalismo
( ) outra situações de violência, especifique:_______________________________
23. Marque com um X sua opinião sobre as condições de bem-estar na escola que
estuda.
PERGUNTAS SIM NÃO
O professor está preparado para trabalhar o tema violência?
Sente-se discriminado na escola?
Há respeito entre as pessoas em sua escola?
Percebe sinceridade nas pessoas?
Há liberdade de expressão em sua escola?
Sente-se seguro dentro da escola?
24. Assinale com um X a resposta relacionada às atividades que você vem vivenciando e
que considera então sendo significativas para a sua vida.
PERGUNTAS SIM NÃO
Discuto sobre o tema violência, respeitando as diferenças.
Meu relacionamento é baseado no respeito.
Resisto às pressões do grupo de colegas.
Tenho um projeto de vida, que me anima a cada dia.
Sou capaz de fazer escolhas para minha vida.
p
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