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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DO CLEO
HABITACIONAL SANTA MARTA-SM
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Cláudio Antunes Jacques
Santa Maria, RS, Brasil
2008
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AVALIAÇÃO PÓS-OCUPÃO DOCLEO HABITACIONAL
SANTA MARTA-SM
por
Cláudio Antunes Jacques
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil, na Área de Concentração em Construção Civil e
Preservação Ambiental, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Engenharia Civil.
Orientador: Prof. Dr. José Mario Doleys Soares
Santa Maria, RS, Brasil
2008
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Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Tecnologia
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Dissertação de Mestrado
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPÃO DO CLEO HABITACIONAL SANTA
MARTA-SM
elaborada por
Cláudio Antunes Jacques
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Engenharia Civil
Comissão Examinadora
________________________________________
José Mario Doleys Soares, Prof. Dr.
(Presidente/Orientador)
_________________________________________
Lizandra Garcia Lupi Vergara, Profa. Dra. ( UFSM)
__________________________________________
Ricardo de Souza Rocha, Prof. Dr. (UFSM)
Santa Maria, 05 de dezembro de 2008.
DEDICO
Aos meus pais Marcolino (in memorian) e Alda,
meus primeiros mestres e construtores de várias obras,
inclusive do alicerce de minha formação escolar e humana.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Universidade Federal de Santa Maria e aos seus magnânimos Professores
pela oportunidade de exercer meu idealismo e poder contribuir com uma pílula de
conhecimento a esta área, que é uma das necessidades básicas do ser humano - a habitação.
Ao ilustre Professor Orientador Dr. José Mario Doleys Soares, pela paciência e
tolerância durante a indicação dos caminhos do saber e suas orientações.
A minha família, por entenderem os momentos de esforço e a divisão de atenções
quando da realização das tarefas.
Aos colegas de graduação e de mestrado, pelos auxílios nas pesquisas e nas dúvidas
surgidas durante o aprendizado.
Ao pároco da minha Igreja, pelas preces e nçãos de força e persistência, que com
ajuda dos mestres anjos, me deram sustentação para atingir este nível de esclarecimento.
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Gradução em Engenharia Civil
Universidade Federal de Santa Maria
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DO NÚCLEO HABITACIONAL
SANTA MARTA – SM
A
UTOR
:
C
LÁUDIO
A
NTUNES
J
ACQUES
O
RIENTADOR
:
J
OSÉ
M
ARIO
D
OLEYS
S
OARES
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 05 de dezembro de 2008.
Este trabalho tem com objetivo principal fazer uma Avaliação Pós-Ocupação do
Núcleo Habitacional Santa Marta (COHAB - Santa Marta), após vinte e oito anos de sua
implantação, compreendendo dois enfoques. O primeiro, avaliou o nível de satisfação dos
usuários através de um detalhado questionário que apontou pontos positivos e negativos, com
ênfase para a qualidade deficiente de alguns componentes das unidades habitacionais que
apresentaram deterioração com pouco tempo de existência. Como conseqüência, foram
ajuizados processos judiciais para ressarcimentos dos prêmios dos seguros em quase
seiscentas casas, do total de oitocentas e setenta e duas. O segundo enfoque foi a avaliação
técnica do projeto e de patologias encontradas. A conclusão aponta para um projeto com área
e dimensões internas das moradias aquém da necessidade dos usuários e poucas patologias
resultantes, após a intervenção dos moradores. Como aspecto positivo, o sistema construtivo
adotado – alvenaria de tijolos vazados com reforço de cintas de concreto - resultou em
estabilidade construtiva no decurso da existência das habitações. Também foi constatada a
evolução do loteamento, que está se dirigindo para a descaracterização da estética inicial, com
efetivação de reformas e aumentos nas edificações, de acordo com a demanda das famílias e
com a dinâmica do mercado imobiliário. Ainda, foram incluídas sugestões para melhorias nas
unidades de dois e três dormitórios e para futuros empreendimentos habitacionais similares.
PALAVRAS – CHAVE: Avaliação Pós-Ocupação, Habitações, Conjunto Habitacional.
6
ABSTRACT
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Gradução em Engenharia Civil
Universidade Federal de Santa Maria
SANTA MARTA HABITACIONAL NUCLEUS (SM) POST-
OCCUPANCY EVALUATION
A
UTHOR
:
C
LÁUDIO
A
NTUNES
J
ACQUES
A
DVISER
:
J
OSÉ
M
ARIO
D
OLEYS
S
OARES
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 05 de dezembro de 2008.
This work has as a main objective to perform a Post-Occupancy Evaluation of the Housing
Nucleus of Saint Marta (COHAB - Santa Marta), after twenty eight years of its implantation,
comprehending two approaches. The first one evaluated the level of satisfaction of the users
through a detailed questionnaire that pointed positive and negative aspects, emphasizing the
deficient quality of some components of the housing units that presented deterioration within
a short period of existence. As a consequence, court processes were judged to the reparation
of the insurance prizes in almost six hundred houses, from the total of eight hundred and
seventy two. The second approach was the technical evaluation of the project and of the found
pathologies.
The conclusion points to a project with housing area and internal dimensions smaller than the
necessity of the users, and to little pathologies resultant to the residents’ intervention. As a
positive aspect, the adopted constructive system - hollow bricks masonry reinforced with
concrete braces - resulted in constructive stability throughout the dwellings’ existence. It was
also detected the evolution of the land division, which is being directed to the
decharacterization of the initial aesthetics, with the execution of reforms and increases in
constructions, according to the demand of the families and the real estate market dynamics.
Was included suggestions to enlargement in units of two and three bedrooms, and to futures
projects.
Key-Words: Post-Occupancy Evaluation, Housings, Housing Units.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 2. 1 – Esquema - resumo dos sistemas construtivos usados no Brasil, a
partir de 1960 ................................................................................................................... 25
QUADRO 2.1 – Quadro comparativo de custos dos sistemas construtivos divulgados -
adaptação (IPT/SP, 1998) ................................................................................................. 27
FIGURA 2.2 - APO - Ciclo de realimentação do processo de produção e uso
(ORNSTEIN, 1992) ......................................................................................................... 29
FIGURA 2.3 - Classes Primárias de Objetos da Produção do Ambiente Construído
(AMORIN; PEIXOTO/CDCON, 2003) ........................................................................... 32
FIGURA 2.4 – Visão do Processo Construtivo (CDCON) ................................................ 34
QUADRO 2.2 - Níveis de Avaliação Pós-Ocupação (PREISER, 1988) ............................ 38
FIGURA 2.5 – Os seis níveis de serviços de avaliação para o caso brasileiro ................... 39
FIGURA 2.6 – Vantagens da APO de acordo com o nível do processo ............................ 40
FIGURA 2.7 – Fluxograma de atividades ......................................................................... 43
FIGURA 2.8 – Modelo de processo para APO sugerido pelo convênio NUTAU/
FINEP ............................................................................................................................... 44
FIGURA 3.1 – Situação do Núcleo Habitacional Santa Marta- Santa Maria/RS
(Cohab/RS, 1980) ............................................................................................................ 48
FIGURA 3.2 – Planta Geral do Núcleo Habitacional Santa Marta (Cohab/RS, 1980) ....... 50
FIGURA 3.3 – Plantas Baixas das casas 2D e 3D e suas edificações originais .................. 54
QUADRO 4.1 – Quantificação dos modelos das unidades habitacionais visitadas ............ 57
QUADRO 4.2 – Componentes das unidades habitacionais, na entrega ............................. 58
QUADRO 4.3 – Dados coletados sobre infra-estrutura urbana e acessibilidade ................ 59
QUADRO 4.4 – Características dos lotes ......................................................................... 60
QUADRO 4.5 – Características da unidade habitacional e aspectos sociais ...................... 61
QUADRO 4.6 – Conceitos sobre aspectos ambientais ...................................................... 61
QUADRO 4.7 – Informações sobre desempenho estrutural .............................................. 62
QUADRO 4.8.1 – Questões sobre janelas substituídas ..................................................... 62
QUADRO 4.8.2 – Questões sobre janelas originais restantes ........................................... 63
QUADRO 4.9.1 – Questões sobre portas externas substituídas ......................................... 63
QUADRO 4.9.2 – Questões sobre portas externas originais restantes ............................... 64
QUADRO 4.10 – Piso original e possíveis patologias ...................................................... 64
QUADRO 4.11 – Informações sobre comportamento da cobertura ................................... 65
QUADRO 4.12 – Alterações nos forros internos e troca de materiais ............................... 65
QUADRO 4.13 – Alterações nos banheiros e patologias apresentadas .............................. 66
QUADRO 4.14.1 – Dados sobre instalações hidrossanitárias ........................................... 66
QUADRO 4.14.2 – Dados sobre instalações elétricas ....................................................... 67
QUADRO 4.15 – As divisórias internas ........................................................................... 67
QUADRO 4.16 – Informações sobre adequação dimensional, física e formal ................... 68
QUADRO 4.17 – Dados sobre ampliações, modificação interna e evolução ..................... 68
QUADRO 4.18 – Opiniões sobre conforto higrotérmico .................................................. 69
QUADRO 4.19 – Informações sobre durabilidade dos componentes ................................ 69
FIGURA 5.1 – Tipos de pisos originais das casas ............................................................. 72
FIGURA 5.2 – Tipos de pavimento no passeio público .................................................... 72
FIGURA 5.3 Avaliação sobre a Infra-estrutura do Bairro ................................................. 73
FIGURA 5.4 – Percentuais do Conceito Muito Bom para a infra-estrutura urbana ........... 74
FIGURA 5.5 – Avaliação sobre acesso a setores da infra-estrutura urbana ....................... 75
FIGURA 5.6 – Percentuais constatados nas dimensões dos lotes - testada e
profundidade .................................................................................................................... 76
FIGURA 5.7 – Percentuais relativos à drenagem .............................................................. 76
FIGURA 5.8 – Dados relativos à conformação dos lotes ................................................. 77
FIGURA 5.9– Preferências na proteção do terreno ........................................................... 77
FIGURA 5.10 – Incidência e tipos de árvores nos lotes .................................................... 78
FIGURA 5.11 – O uso da unidade habitacional ................................................................ 79
FIGURA 5.12 – Idade das construções ............................................................................. 79
FIGURA 5.13 – Percentuais relativos à renda familiar ..................................................... 80
FIGURA 5.14 – Percentuais e valores reais sobre cômodos da residência, quanto a
aspectos ambientais ......................................................................................................... 80
FIGURA 5.15– Incidência de trincas em paredes e fundação e deformação em
fundações ......................................................................................................................... 81
FIGURA 5.16 – Valores reais e percentuais sobre materiais de janelas substituídas ........ 82
FIGURA 5.17 – Quantificações sobre tipo de cobertura constatada e nos casos de
substituições .................................................................................................................... 82
FIGURA 5.18 - Percentuais relativos ao piso e quantificações das deformações ............... 83
FIGURA 5.19 – Alterações constatadas nos forros e seus materiais .................................. 83
FIGURA 5.20.a – Percentuais de alterações constatadas nos banheiros e seus materiais ... 84
FIGURA 5.20.b – Percentuais de patologias nos banheiros, informadas pelos usuários ... 84
FIGURA 5.21 – Problemas nas instalações hidrossanitárias e incidência de alterações ..... 85
FIGURA 5.22 – Problemas nas instalações elétricas e incidência de alterações ............... 87
FIGURA 5.23 – Alterações realizadas pelos moradores ................................................... 86
FIGURA 5.24 – Incidências sobre adequação funcional e seus conceitos ......................... 87
FIGURA 5.25 – Necessidade de aumentar a casa ............................................................. 87
FIGURA 5.26 – Conceitos sobre aparência física e formal da casa ................................... 88
FIGURA 5.27 – Incidências sobre aspectos técnicos nas obras e tipos de pisos
resultantes ........................................................................................................................ 89
FIGURA 5.28 – Avaliações sobre conforto relativo à temperatura, no verão e no
inverno ............................................................................................................................. 89
FIGURA 5.29 – Indicativos para substituição de peças e componentes ............................ 90
FIGURA 5.30 – Fissura em ligação de paredes – nova com antiga ................................... 91
FIGURA 5.31 – Fissura devido à janela substituida ......................................................... 91
FIGURA 5.32 – Fissuras nas paredes por deslocamento da fundação ............................... 92
FIGURA 5.33.a – Fissuras nas paredes por deslocamento da fundação, vista externa ....... 92
FIGURA 5.30.b – Fissuras nas paredes por deslocamento da fundação, vista interna ...... 93
FIGURA 5.34 – Deteriotrização – Tacos e beirais de madeira .......................................... 94
FIGURA 5.35 – Deteriotrização de componentes e mau desempenho de seus materiais -
porta e reboco .................................................................................................................. 94
FIGURA 5.36 – Deformações no piso por acomodamento do solo ................................... 95
FIGURA 5.37 – Esquema do sistema construtivo e detalhe das micro-estacas e viga de
fundação aparentes ........................................................................................................... 96
QUADRO 5.1 – Fontes de critérios para áreas úteis mínimas em m², incluindo
dormitórios, sala, cozinha, banheiro e área de serviço. ...................................................... 99
QUADRO 5.2 – Comparativo entre dimensões de compartimentos de conjuntos
habitacionais .................................................................................................................... 100
FIGURA 5.38 – Unidade com 3 dormitórios utilizando móveis com dimensões
comerciais ........................................................................................................................ 101
FIGURA 5.39– Planta geral do loteamento e Instituições Sociais ..................................... 103
FIGURA 5.40 – Avenida Manuel Malmann Filho, vista a partir da rótula com a
BR 287 ............................................................................................................................ 104
FIGURA 5.41 – Vias de escoamento: Rua 2, Rua 5 e Rua 6 ............................................. 104
FIGURA 5.42 – Praças de lazer – as Quadras Verdes (SQ3-QV2 e SQ1-QV1 ) . ............. 105
FIGURA 5.43 – Escoamento pluvial/cloacal colapsado e floramento de água
servidas ............................................................................................................................ 106
FIGURA 5.44 – Exemplos de melhorias 01 e 02 . ............................................................. 107
FIGURA 5.45 – Exemplos de melhorias 03 e 04 .............................................................. 109
FIGURA 5.46 – Melhoria 05 - Exemplo de melhoria no fundo do terreno ........................ 110
FIGURA 5.47 Exemplo de melhoria constatada em esquina, com pavimento,
aproveitando possibilidade de acesso independente .......................................................... 112
FIGURA 5.48 – Fotografia de satélite mostrando os acréscimos de área construída nos
lotes do conjunto Santa Marta (GoogleEarth) ................................................................... 113
FIGURA 5.49 Planta geral do loteamento, com casas originais e instituições sociais
previstas ........................................................................................................................... 114
FIGURA 5.50 – Amostras de alterações estéticas a partir da unidade original..................115
FIGURA 5.51 – Transmutações ocorridas no estilo das unidades........................................ 116
FIGURA 5.52 a e b – Proposta de melhoria para unidade 2D e 3 D ................................ 117
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A – Questionário aplicado aos moradores ..................................................... 126
SUMÁRIO
RESUMO ...................................................................................................................... 5
ABSTRACT ................................................................................................................... 6
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .......................................................................................... 7
LISTA DE APÊNDICES ................................................................................................ 11
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 18
2.1 Programas Habitacionais no Brasil ......................................................................... 20
2.2 Avaliação Pós-Ocupação e a qualidade do processo ............................................... 29
3 NÚCLEO HABITACIONAL SANTA MARTA – CARACTERÍSTICAS ............... 47
3.1 Considerações ........................................................................................................... 47
3.2 Características Gerais .............................................................................................. 49
3.2.1 Sistema Viário ........................................................................................................ 50
3.2.2 Infra-estrutura ......................................................................................................... 51
3.2.3 Áreas Verdes ........................................................................................................... 51
3.2.4 Lotes e Habitações .................................................................................................. 55
4 NÚCLEO HABITACIONAL SANTA MARTA - ESTUDO DE CASO ................... 55
4.1 Metodologia proposta ............................................................................................... 55
4.2 Determinação da Amostra ...................................................................................... 56
4.3 Entrevistas com moradores ..................................................................................... 56
4.4 Vistoria Técnica dos imóveis .................................................................................... 70
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS E EVOLUÇÃO DO CONJUNTO
HABITACIONAL .......................................................................................................... 71
5.1 Nível de satisfação dos Usuários .............................................................................. 71
5.1.1 Descrição do imóvel ................................................................................................ 71
5.1.2 Entrega da casa ........................................................................................................ 71
5.1.3 Característica do conjunto habitacional .................................................................... 72
5.1.4 Características do Lote ............................................................................................ 75
5.1.5 Características da unidade habitacional .................................................................... 78
5.1.6 Aspectos ambientais ................................................................................................ 80
5.1.7 Avaliação do desempenho estrutural ........................................................................ 81
5.1.8 Piso ........................................................................................................................ 82
5.1.9 Forro ...................................................................................................................... 83
5.1.10 Banheiro ................................................................................................................ 84
5.1.11 Instalações Hidrossanitárias ................................................................................... 85
5.1.12 Instalações Elétricas ............................................................................................. 85
5.1.13 Paredes divisórias internas ..................................................................................... 86
5.1.14 Adequação dimensional, física e formal ................................................................. 87
5.1.15 Ampliação, Modificação interna e evolução .......................................................... 88
5.1.16 Conforto Higrotérmico .......................................................................................... 89
5.1.17 Durabilidade .......................................................................................................... 89
5.2 Análise das patologias das unidades residenciais .................................................... 90
5.2.1 Fissuras por ligação das paredes ............................................................................. 90
5.2.2 Fissura por enfraquecimento da parede ................................................................... 91
5.2.3 Fissura por distensão ............................................................................................... 92
5.2.4 Deteriorização de materiais e componentes ............................................................. 93
5.2.5 Deformações no piso por acomodamento do solo .................................................... 95
5.3 Análise do projeto das unidades habitacionais ....................................................... 96
5.3.1 Sistema construtivo e adequação das especificações as obras ................................... 96
5.3.2 A concepção da moradia e possibilidades de ampliações ......................................... 98
5.3.3 Mobiliário interno ................................................................................................... 100
5.4 Evolução do conjunto habitacional .......................................................................... 102
5.4.1 Melhorias habitacionais - alterações e ampliações funcionais .................................. 106
5.4.2 Alterações estéticas das unidades ............................................................................ 114
5.4.3 Transformações estéticas, descaracterizando a unidade original ............................... 115
6 CONCLUSÕES ........................................................................................................... 119
6.1 Diagnóstico ............................................................................................................... 119
6.2 Sugestões para projetos futuros ............................................................................... 121
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 123
APÊNDICE .................................................................................................................... 126
1 INTRODUÇÃO
A habitação popular é um dos grandes desafios para a Arquitetura, Engenharia e
Economia, enquanto ciências integradas. É destinado à área de habitação popular o conjunto
de materiais e espaços que representam baixo custo e normalmente associados ao fraco
desempenho e rejeição de lugares com problemas de topografia e morfologia.
É de extrema importância a avaliação econômica como passo para distorcer as idéias
corriqueiras sobre aplicabilidade de baixos valores a moradias de caráter social, uma vez que
é uma premissa da pesquisa científica o aperfeiçoamento de tal conceito. Essa preocupação é
um dos assuntos que a indústria de construção civil brasileira quer ver resolvido (TECHNE,
nº 64/2002).
De junho de 1995 a dezembro de 2001 foram desenvolvidos 11 projetos de Avaliação
de Pós-Ocupação em Habitações de Interesse Social, representando um investimento direto da
FINEP de R$1,7 milhão de reais, abrangendo seis estados brasileiros, conforme a própria
Fundação. Em vista do descompasso, o problema é ainda maior devido às dimensões
territoriais do Brasil. Segundo Abiko e Ornstein (2002), as instituições públicas continuam a
ser os principais agentes do processo habitacional, através de seus órgãos e Empresas. No Rio
Grande do Sul foram contempladas com projetos de APO as cidades de Caxias do Sul,
Pelotas, São Gabriel, Entre Rios, Santa Cruz , Porto Alegre e Santa Maria.
O conjunto habitacional popular tem um regramento mais flexível em função da
questão social latente, pois a fiscalização é omissa a alterações nas composições originais.
O resultado dessa atitude dos Órgãos Oficiais é que a população se sente à vontade
para solucionar questões familiares quanto às edificações, em suas visões empíricas e leigas,
levando a problemas de desconforto conseqüentes de suas ões, embora estes aspectos, na
maioria das vezes, não é percebido conscientemente. A solução errada pode ser primordial
para a família, em vez de uma solução tecnicamente mais adequada e tecnicamente correta,
mas que está além da capacidade dos envolvidos em concebê-la.
Abiko e Ornstein (2002) asseguram que “a gravidade do problema habitacional não
nos permite descartar as soluções existentes (...) Trata-se não somente de um patrimônio
material como de um patrimônio social de relações humanas consolidadas por mais de
décadas”. É oportuno afirmar que as medidas cnicas estão atreladas ao comportamento
15
cultural, e a APO Avaliação Pós-Ocupação pode ser usada para interferir no processo
positivamente.
Gil (1987, apud CRUZ E RODRIGUES, 2006) afirma que a ciência pode ser
caracterizada como uma forma de conhecimento verificável porque sempre possibilita
demonstrar a veracidade das informações e, também é falível, porque reconhece sua própria
capacidade de errar. Pode-se acrescentar que a extensão do erro é o limite de novo acerto em
ciência, porquanto o conhecimento não é um fato estanque, é evolutivo.
A diferença, no entanto, está situada entre a vontade de estabelecer planejamentos
sociais e urbanos baseados nas informações e necessidades verdadeiras e na constatação de
desleixo e desprezo pelas carências que distam dos interesses das classes dominantes,
portanto, a negação da verdadeira realidade social pelas autoridades constituídas.
Teoricamente não haverá negação, pois será uma estupidez tal fato. A justificativa divulgada
na imprensa de que o problema é maior do que a capacidade de solução por todas as partes
envolvidas torna-se, então, uma argumentação resignatória, que cobre com o manto do
descaso a responsabilidade pela injustiça social.
Conforme Harvey (1993) a respeito da justiça social territorial, afirma que recursos
extras devem ser alocados para ajudar a superar as dificuldades especiais decorrentes de
ambiente sico e social. Esse papel está reservado ao Estado, seja qual nível r, em função
de capacidades de recursos e prioridades sociais.
Sobre os aspectos da veracidade Cervo e Bervian (1983) já afirmavam que o todo é
o conjunto de processos que “o espírito humano deve empregar na investigação e
demonstração da verdade”, reforçando o modo de pensar dos outros autores.
Nesse ponto, a metodologia projeta-se sobre um fio tênue de definições o
matemáticas, em se tratando das ciências humanas, nas quais a pesquisa científica procura
respostas dentro das suas características limitações.
Invariavelmente se chegará a um consenso sobre a conceituação desse tipo de pesquisa
e sua relevância no âmbito técnico, quanto à imprescindibilidade deste trabalho.
A questão da qualidade do material de construção empregado nas obras, refletindo-se
na durabilidade das habitações de caráter social é um dos enfoques objeto de procura de
discernimentos. O senso geral é que o material mais barato torna a obra mais econômica, o
que, num primeiro momento, é fato. Com o passar dos anos é que se sobressaem as falhas
decorrentes do uso do imóvel e da aplicação de componentes de qualidade duvidosa, cuja
manutenção e seu respectivo custo aviltam o custo global da edificação, especialmente neste
16
caso, em que as características com base na simplicidade de projeto não têm folgas para
absorção da majoração nos custos.
Este é o princípio regente da Avaliação Pós Ocupação – a revelação do custo-
benefício como identidade da edificação habitável. Desse modo, a análise de experiências
realizadas por diversas Instituições e autores é importante, de maneira que seja possível
aplicar metodologia semelhante em Santa Maria.
O ciclo da APO tem como uma das principais característica a retroalimentação,
apresentando aos objetos estudados a possibilidade de qualificação, tanto in loco, quanto em
projetos futuros. A consciência dos benefícios da aplicação deste método em qualquer tipo de
edificação resultou em prática constante nos EUA e Europa, e está se tornando crescente no
Brasil desde 1975, por iniciativa do IPT/SP, na contracorrente da falta de hábito de avaliação
dos prédios no decorrer do seu uso (DEL CARLO e ORNSTEIN, 1990, p.5), justificando
ainda mais a realização de tais estudos em habitações sociais, tendo em vista ser uma área
frágil na questão financeira.
Estas e inúmeras outras questões poderão ser respondidas pelo estudo das relações do
cidadão com o ambiente construído e seus comportamentos, tornando a APO um instrumento
indispensável no avanço das qualificações das construções, mas, inclusive, no aprimoramento
da visão sistêmica no âmbito técnico, podendo envolver profissionais de todas as áreas, com a
participação integrada dos usuários, adequando-se aos objetivos deste trabalho.
O objetivo geral deste trabalho é a análise pós-ocupação das habitações do conjunto
Santa Marta, em Santa Maria,/RS.
Os objetivos específicos são divididos em duas abordagens:
a) Sob o ponto de vista dos usuários:
Identificar o nível de satisfação dos usuários quanto a :
- compartimentação e funcionalidade do imóvel;
- localização do imóvel no lote e no plano geral;
- falhas construtivas;
- desempenho dos materiais pelo uso;
- aspectos de conforto térmico, de iluminação, acústico, de ventilação;
b) Sob o ponto de vista técnico:
Caracterizar o sistema construtivo estrutural e as respectivas instalações.
Analisar os projetos arquitetônicos quanto à funcionalidade e possibilidades de
expansão futura.
Avaliar o desempenho dos materiais, historicamente.
17
Comparar dimensões úteis com outros conjuntos habitacionais semelhantes.
Descrever as alterações realizadas pelos usuários e seus motivos.
Analisar as alterações em vista da legislação (código de obras).
O presente trabalho possui a seguinte estrutura:
Este primeiro Capítulo faz uma introdução ao tema e apresenta o trabalho em seus
aspectos gerais.
O segundo Capítulo abrange uma revisão da literatura sobre APO, apresentando breve
histórico sobre as realizações na área habitacional de interesse social no Brasil e conclusões
de diversos pesquisadores sobre o assunto, incluindo exemplos de estudos em conjuntos
habitacionais em algumas cidades, onde a aplicação da metodologia de APO teve resultados
significativos.
No Capítulo 3 é descrito o projeto do Núcleo Habitacional Santa Marta, em suas
características gerais e específicas quando da implantação, abrangendo a urbanização e as
unidades residenciais.
O Capítulo 4 apresenta o Estudo de Caso APO - Núcleo Habitacional Santa Marta ,
que é o objeto deste trabalho, incluindo os tópicos: metodologia proposta, determinação da
amostra, entrevista com moradores e apresentação dos dados coletados, vistoria cnica dos
imóveis e registros pertinentes.
No Capítulo 5 é realizada a análise dos resultados dos levantamentos e da evolução do
conjunto habitacional, abrangendo a opinião dos usuários, as patologias encontradas, o projeto
original e sua adequação as especificações e as alterações realizadas pelos usuários e as
tecnicamente adequadas, enquanto propostas.
O Capítulo 6 apresenta o diagnóstico final e conclusões deste estudo de caso,
indicando sugestões para o aprimoramento do padrão edificatório em casos semelhantes, ou
seja, habitações de interesse social, resguardados os fatores condicionantes locais.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Historicamente, os conceitos sobre habitação sofreram alterações, de acordo com o
momento político ou enfoque de abordagem da questão habitacional.
O que era antes uma edificação classificada como cortiço, ou seja, uma sub-habitação
que abrigava as populações migrantes dos interiores rurais, e que viriam a adensar as
periferias das grandes cidades, na procura de emprego, na realidade era um amontoado de
compartimentos geminados que se pode definir como a evolução das senzalas escravistas,
para, momentos depois, se transformarem em favelas, hoje em dia oficializadas como atração
turística. A favela é um cancro urbano e antropológico, sintoma maior do fracasso do Estado
como regrador do delineamento da qualidade de vida dos cidadãos.
A Conferência da ONU realizada em Istambul em 1996, sobre Assentamentos
Humanos, resultou no documento Agenda Habitat, que apontou como co-responsáveis pelo
déficit habitacional toda a sociedade, em seus setores organizados (Soares, 2001 apud
BERNY, 2006). Essa ratificação da necessidade de atendimento ao problema da habitação
acontece tardiamente, uma vez que dezenas de milhões de moradias dignas deixaram de ser
construídas, para, em seus lugares, as cidades serem “banhadas por um mar de favelas”.
Segundo Siebert et al. (2003), 30 % da população da cidade de São Paulo reside em
cortiços, e 7 % em favelas, enquanto que no Rio de janeiro a população favelada cresce mais
que a população total.
Na visão de Duarte (1996, p.181) as favelas transformaram-se em verdadeiras cidades
auto-suficientes, desenvolvendo engrenagens complexas, dinâmicas sociais particulares,
linguagem espacial peculiar e mecanismos próprios de economia, poder e dominação”. Onde
o Estado fracassou, outras formas de organização preponderaram.
Vê-se, claramente, que se o Estado é um ordenador, o sistema econômico é um dos
propulsores da evolução habitacional, pois em países com economias avançadas e
historicamente estáveis o problema da moradia já tem solução, significando que o
planejamento cumpre o seu papel antevisor e diretivo, como deve ser.
A origem rural de um país como o Brasil, criou uma cultura do suprimento
habitacional vinculado ao meio produtivo. Tanto o escravo, como o agregado rural, tinham a
19
moradia próxima do trabalho - o primeiro com a senzala; o segundo, com a casa próxima da
sede da fazenda.
Com evolução industrial e o crescimento das cidades, aquele princípio da moradia do
trabalhador próxima ao meio produtivo foi incorporado à malha urbana em todas as grandes
cidades do mundo, ao redor das fábricas, que receberiam milhares de trabalhadores.
Os conjuntos habitacionais planejados eram denominados “cottage system” sistema
de casas-, concebidos com muito maior qualidade do que as moradias rurais, tornando-se um
atrativo para os trabalhadores migrantes. Nesse momento histórico iniciou-se o déficit
habitacional, que estava em 2007 em torno de 8 milhões de moradias ( SINDUSCON/SP,
2008 ). A migração de famílias inteiras era maior do que a oferta de emprego e moradias.
Os conjuntos habitacionais criados para os trabalhadores na época da revolução
industrial, especialmente no primeiro mundo, foram sementes urbanísticas adequadas a uma
nova visão macro-econômica, o capitalismo, que chegou aos dias atuais com inteira
aprovação dos planejadores modernos, pois define a questão função-locomoção.
Até esse nível de qualificação das moradias para os operários, muitos caminhos foram
percorridos e diversas questões negativas foram superadas para melhorar as condições de
sanidade e custos das habitações pleiteadas pela população carente e trabalhadora. A
participação conjunta dos novos senhores do capitalismo e dos governos, sensíveis aos
reclames, resultou em legislação própria para a qualificação das moradias e facilidade ao
acesso a financiamentos para os trabalhadores, de maneira a amenizar a situação caótica
habitacional.
A problemática é reforçada pelo adágio popular “quem casa, quer casa”, que reflete o
crescimento populacional e a progressão geométrica do vínculo família-moradia,
independente da classe social dos interessados. Então, a partir de certo momento, a casa do
cidadão de renda menor foi denominada “casa popular”, assim tipificada nos Códigos de
Obras dos Municípios, e limitadas a 80 m² de área construída.
A Lei 3615/72 do Município de Porto Alegre e suas alterações posteriores (até
servindo de modelo a inúmeros municípios do Estado do Rio Grande do Sul) condicionava a
denominação de casa popular ao limite de áreas internas dos compartimentos, e as
construções de habitações coletivas ou unifamiliares deveriam ser realizadas por empresas ou
cooperativas habitacionais vinculadas ao Sistema Nacional da Habitação e respectivo gestor
dos recursos, o Banco nacional de Habitação - BNH, criado em 1965 e que, em 22 anos de
atuação, financiou cerca de 4,5 milhões de habitações de todos os tipos.
20
Essa forma de controle e regramento da área habitacional trouxe avanços até a quebra
do Sistema, cujo direcionamento foi desviado para outras faixas de mutuários, deixando
aqueles de baixa renda sem mais possibilidade de acesso aos financiamentos. No momento
econômico seguinte, com inflação extrema, todo o processo tornou-se inviável.
Nos dias atuais, o conceito de habitação de interesse social, tomou forma que
extrapola o simples enfoque de tipologia habitacional, ou seja, de que materiais e sistema
tecnológico que a edificação é construída. O conceito se amplia para a participação dos
futuros moradores na decisão dos detalhes da obra e seus aspectos sistêmicos, como
sustentabilidade, economia doméstica, possibilidade de participação na obra em si, aspectos
relacionados com a economia do local de construção, trabalho, renda, e outros como a criação
da cultura da responsabilidade participativa e o envolvimento da capacidade financeira da
família.
A Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (2002) define a
habitação de interesse social como aquela destinada a famílias que possuem renda até
R$2.000,00, tendo foco principal, aquelas com faixa salarial até R$600,00.
Entretanto, o Estado de São Paulo, através da Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Desenvolvimento Urbano (CDHU) e as legislações do Município de São
Paulo, enquadram as famílias com renda até doze salários mínimos aptas aos programas de
habitação de interesse social (São Paulo, 1992). É uma extensão bastante larga para os
padrões atuais de renda da população.
2.1 Programas Habitacionais no Brasil
O êxodo rural teve início a partir da liberação dos escravos, que, naturalmente,
refugiaram-se na vida urbana, longe de seus antigos opressores, para constituírem os
aglomerados periféricos de sub-habitações nas grandes cidades, originando o grande problema
habitacional no Brasil, durante o Segundo Reinado.
Neste período iniciou-se a Industrialização, e, havendo afluxo de operários e suas
famílias, tornou-se necessário a construção de vilas operárias, em processo ordenado pelo
Governo, havendo inclusive isenção de impostos, no entanto, com o controle de preços de
aluguéis e estabelecimento de cotas para construções e substituições de cortiços.
21
No início do culo 20 muitas cidades se remodelaram, com alargamento de avenidas
e construções de redes de água e esgoto, sendo necessárias demolições de casas e sub-
habitações irregulares, que por este fato não foram reconstruídas no mesmo número.
No Rio de Janeiro foram demolidos cerca de 3.000 cortiços e estalagens para obras de
urbanização, causando desalojamento da população, que se alojou em barracos nos morros,
dando origem ao fenômeno das favelas. Então, pressionados pela sociedade, a Prefeitura
construiu escassas 120 unidades habitacionais de dois pavimentos independentes, destinados a
operários, sendo considerado um dos primeiros conjuntos habitacionais criados por um
Governo, que, cada vez mais assume o problema habitacional.
Desse modo, alguns centros econômicos e produtivos das cidades tiveram núcleos
habitacionais proximamente construídos, como, por exemplo, a Vila Belga (1907) dos
ferroviários em Santa Maria, RS, inspirada nos conjuntos de moradia europeus e as Vilas
Operárias, próximas aos Distritos Industriais, como é o caso do Conjunto Habitacional Santa
Marta, objeto deste estudo.
A partir dos anos trinta os Órgãos Governamentais desenvolvem políticas de
atendimento habitacional às classes produtivas, especialmente aos trabalhadores das indústrias
e dos transportes, em detrimento da população carente e sem renda, que viriam a alargar a
ocupação de morros e baixios nas grandes cidades. É compreensível que o crescimento
geométrico da população veio acelerar a problemática da moradia.
Normalmente os Estados mais ricos do país é que tem as soluções mais eficazes para o
déficit habitacional, a exemplo de projetos executados em São Paulo e Rio de Janeiro
projetos Cingapura e Favela – Bairro, que foram expostos na Segunda Conferência das
Nações Unidas para os Assentamentos Humanos - o Habitat II (BONDUKI, 1997).
Entretanto, apesar dos esforços, essas mesmas cidades têm os maiores problemas de moradia,
inicialmente derivados do êxodo rural.
Segundo Campos Filho (1992. p.56), a maior parte do espaço urbano brasileiro teve
origem predominantemente clandestina ou legalmente irregular, com todos os problemas daí
decorrentes.
O saneamento habitacional ganhou forças a partir da firmação dos Institutos de
Aposentadorias das diversas classes de trabalhadores IAPI, IAPTEC, IBOEx, etc. que
abriram financiamentos para construção e aquisição de casa própria, a partir da década de
quarenta, centrados no planejamento de conjuntos habitacionais coletivos, visando diminuir
custos.
22
O Primeiro Congresso Brasileiro de Arquitetos ocupou-se do tema habitação social,
nesta época, apontando recomendações, publicadas pela Revista Acrópole, em 1945:
A necessidade de centralizar o equacionamento de problema habitacional e
descentralizar a sua execução; lembravam a necessidade de um programa progressivo,
em contraposição a um plano global; preconizavam a criação de recursos próprios
para viabilizar os programas, bem como a necessidade de desapropriar terrenos de
utilidade pública, calculando-se o valor da desapropriação com base no valor da infra-
estrutura e o no valor de mercado, necessariamente especulativo; recomendavam,
também, que conjuntos fossem construídos nos bairros existentes e não na periferia
das cidades; sugeriam o apoio das indústrias de materiais de construção para que esta
pudesse responder à crescente demanda sem especular com preços e sem encarecer o
custo da obra; apoiavam os conjuntos e desaconselhavam as casas isoladas que
elevavam o custo final da unidade; denunciavam a ação das firmas particulares
envolvidas na construção de casas, cujo objetivo final era o lucro e, não, a solução do
problema. E profetizavam: o dinheiro barato é a pedra angular do financiamento de
qualquer plano de casa popular.
Note-se que a questão é atemporal, apresentando os mesmos percalços na atualidade,
tanto quanto naquela época.
Em 1946, o governo mais um passo na solução do problema, com a criação da
Fundação da Casa Popular, objetivando “proporcionar a brasileiros, ou estrangeiros com mais
de dez anos de residência no país ou com filhos brasileiros, a aquisição ou construção de
moradia própria, em zona urbana ou rural”. Era também estendido o financiamento à
indústrias que construíssem residências a seus trabalhadores, numa ação que construiu cerca
de cinco mil casas em 45 cidades até 1960.
A emissão de leis e decretos foi concomitante com a criação da Fundação da Casa
Popular, na tentativa de conter o avanço da proliferação de sub-habitações, como o Dec. 8.938
de 20/01/1946, proibindo “construção de favelas no meio urbano”. No ano seguinte foi
constituída a Comissão para Extinção de Favelas, resultando em auto-extinção.
No governo de Jânio Quadros foram criados o Instituto Brasileiro e o Conselho
Federal da Habitação, na busca de preencher a lacuna habitacional com a construção e venda,
em curto espaço de tempo, de casas populares isoladas, dando ênfase ao sistema construtivo
pré-fabricado, inclusive para exportação.
Em l963, o então Presidente João Goulart chama a atenção sobre o fato de haver
especulação imobiliária crescente no país e as classes menos favorecidas terem pouco acesso
à moradia, ensejando haver necessidade da elaboração urgente de diretrizes e políticas
habitacionais em que o Poder Legislativo teria papel preponderante.
23
Com a criação do BNH em 1965 houve um impulso na produção de habitações,
embora houvesse problemas de fluxo de caixa para suprir uma defasagem existente
décadas, o que levou o sistema a ocupar áreas suburbanas e urbanas com deficiência na infra-
estrutura, muito mais baratas que áreas nobres, numa tentativa de baratear os custos finais dos
empreendimentos. Essa atitude, no entanto, tomou forma de especulação ao criar áreas
desocupadas entre a malha urbana e o novo conjunto habitacional, que deveria ter ligações
infra-estruturais valorizando um espaço antes desprovido de tais recursos.
O reforço à nova visão de produção habitacional surgiu com a criação das COHABs -
Companhias Estaduais de Habitação – implementadas em quase todos os Estados e muitas em
atividade até hoje, dando dinamismo ao setor. Apesar de algumas realizações não terem sido
aceitas pelos usuários, por se tratarem de habitações distantes dos centros urbanos e pela
qualidade baixa dos materiais, o saldo é positivo no que se refere ao volume de construções e
ao suprimento da demanda.
Entretanto, o número de moradias necessárias não parou de aumentar, fazendo com
que os Órgãos responsáveis pelo setor criassem outras soluções como os Programas
Habitacionais, baseados em orçamentos fechados e exclusivos para a moradia popular.
Houve, então, a implantação do PROFILUB Programa de Financiamento para Lotes
Urbanizados, e o PROMORAR Programa que revitalizou a vida comunitária através de
reconstrução de moradias e melhoria de infra-estrutura urbana em áreas carentes de
salubridade. Ambos os programas foram executados com recursos próprios e através do BNH.
Na década atual firmou-se o conceito de administração participativa, tanto na
destinação dos recursos como na execução das obras de interesse social, de modo que as
Prefeituras estão se associando aos Estados e, ambos ao Governo Federal, com o objetivo de
atingir a demanda com mais eficiência, mas, também, agilizar as realizações.
Programas Federais como o MORAR BEM e PSH Programa de Suplementação
Habitacional, e Habitação Indígena, em que a Caixa Econômica Federal, enquanto Agente do
Governo, destina a fundo perdido um bom percentual para a construção das moradias, com a
participação do Estado, ou de Prefeitura, e até mesmo de Cooperativas Habitacionais na
complementação do valor restante.
A Secretaria Estadual de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Rio Grande do Sul
executa Programas em parceria com as Prefeituras Municipais e Cooperativas Habitacionais,
desde 1999, atendendo famílias com renda até cinco salários mínimos:
- Programa Moradia Popular – conveniado com Prefeituras em 1999, 2000 e 2001;
- ProCoop - conveniado com Cooperativas Habitacionais, iniciado em 2001 e 2002;
24
- ProComunidade – conveniado com Prefeituras a partir de 2003;
- Programa Cheque-Casa – conveniado com Prefeituras a partir de 2002, para quantias
significativas de recursos depositados diretamente na conta bancária do
beneficiário, para utilização imediata;
- Programa Minha Casa conveniado com Prefeituras para habitações novas e
melhorias como construção de sanitários, realizados em etapas, a partir de 2003;
- Convênio com a Caixa Econômica Federal Resolução 460 para reformas e
melhorias, integralizado em 2004.
As Instituições Conveniadas participam com recursos de contrapartida e selecionando
os beneficiários conforme um perfil sócio-econômico e prioridades relacionadas, e demais
elementos necessários à obra, como local da moradia, infra-estrutura, o projeto da casa e suas
adequações, documentações e gerenciamento da obra, seja direto ou indireto.
A Secretaria Estadual de Habitação e Urbanismo repassa os recursos de sua alçada, e
suporte técnico como orientação e fiscalização da obra, além de todos os meios
documentais para a concretização do Convênio.
Embora, na história da construção de moradias de interesse social no país muitos
sistemas construtivos já tivessem sido implantados, e daí resultado em conclusões diversas
sobre o custo-benefício de tais iniciativas, o que prepondera nos dias atuais é o sistema
convencional, com poucas inovações tecnológicas. Quando diferencial, tem respaldo no
sistema que mais se adapta à região onde está localizado o empreendimento.
Levantamentos realizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD
(2007), divulgados em 21 de outubro de 2008 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) apontam para 54 milhões de pessoas morando em habitações inadequadas, no país, o
equivalente a 34,5 % da população urbana. Revela que, em cada três brasileiros, um o tem
condições dignas de moradia. Nas regiões metropolitanas, o adensamento excessivo
concentra-se em São Paulo (2,2 milhões), Rio de Janeiro (1 milhão).
Mais gravemente estão situadas, em termos relativos, as regiões metropolitanas de
Belém (16,6%), São Paulo (11,7%) e Salvador (10,6%). Estes dados justificam as
preocupações de todos os setores da sociedade envolvidos com a questão habitacional.
2.1.1 Sistemas Construtivos
Pode-se registrar os sistemas construtivos utilizados no Brasil, a partir da década de
1960 a a atualidade, em função do material utilizado, primordialmente nas paredes, no
esquema da Figura 2.1.
25
O primeiro ponto significativo que a maior parte dos sistemas construtivos citados
apresenta é o fato de terem sido aplicados comercialmente, demonstrando que em certa
época da situação econômica do país eram apropriados e cumpriam com suas expectativas,
tanto no campo social quanto no comercial. As diferenças dos processos e cnicas eram e
continuam sendo de domínio exclusivo dos empreendedores, e reside o caráter do
empreendimento privado.
I) BLOCOS
II) MADEIRAS
III) PLACAS CIMENTÍCIAS
PLACAS COM NÚCLEO DE ISOPOR
IV) MOLDADAS IN LOCO
PAREDES DE SOLO-CIMENTO
V ) PRÉ – ESTRUTURADAS
Figura 2. 1 Esquema - resumo dos sistemas construtivos usados no Brasil, a partir de
1960
COMUNS
CERÂMICOS
MACIÇOS
VAZADOS
SOLOCIMENTO
ESTRUTURAIS
CERÂMICA
CONCRETO
CONCRETO COM CINZAS
AUTOTRAVADOS
SÍLICO-CALCÁRIO
PAINÉIS MISTOS
PINUS
BAMBU / FIBRA/ COMPÓSITOS
PAINÉIS DE MADEIRA NATIVA
CHAPAS BLOCKBOARD
CONCRETO CONV. COM COLUNAS
CONCRETO CELULAR ARMADO
PLACAS NERVURADAS
CONCRETO ESPUMOSO
CONCRETO CELULAR BOMBEADO
ARGAMASSA ARMADA SOPRADA
CONCRETO ARMADO COM FORMAS DE TÚNEL
CASAS DE PVC
METÁLICAS CASA FÁCIL/USIMINAS
CONCRETO ARMADO- Parafusadas
26
Essa grande variedade de sistemas construtivos aplicados no país, dos quais se
sobressaem aqueles que conseguiram estender a metragem construída, por seus méritos, sejam
eles por apresentarem ótima rentabilidade durante as obras, seja por terem sido aceitos sem
reservas.
Como as fontes que apresentam valores têm uma defasagem no tempo, uma pesquisa
mais apurada, em que os resultados sejam mais realísticos e contextualizados à nossa época,
pode ser necessária para atualizar os dados.
Entretanto, os sistemas explorados constituem, por si, informações valiosas para
estabelecer um referencial de que muitas opções perfeitamente exeqüíveis para a questão
habitacional. Basta que haja definições sobre a afinidade ao local em que foram e devem
continuar sendo aplicados, envolvendo duas variáveis iniciais: o custo de produção e o
sistema adequado à região.
Constata-se que os sistemas aplicados, em maior número, decorrem de iniciativa
privada, com a participação dos poderes públicos nos custos das obras, evidentemente,
objetivando o suprimento habitacional.
Avaliações posteriores feitas pelos próprios construtores apontam que há dúvidas
sobre a durabilidade de alguns sistemas, pois apresentaram patologias, com o passar do
tempo, em obras realizadas no centro do país. No conjunto Tancredo Neves, em Santa
Maria/RS, inúmeras casas apresentaram rachaduras e outros problemas, sendo objetos de
processos judiciais, pela insegurança resultante. Estas avaliações estão sendo conduzidas
pelos empreiteiros para uma retomada atual nos sistemas que historicamente deram certo.
Uma das premissas é a adoção do sistema seco, ou seja, com componentes
industrializados, que, supostamente, é mais eficiente em todos os aspectos, desde o projeto
até a execução, sem descuidar da durabilidade, e especialmente, como empreendimento
lucrativo. Talvez o ponto de conflito, neste caso, é a movimentação da economia local, que
pode ficar prejudicada, pois se os componentes são produzidos num local e transportados para
aquele onde serão construídas as casas, será criado um vazio econômico no comércio de
materiais de construção na cidade ou região.
O Quadro 2.1 apresenta um conjunto de componentes de processos e sistemas
construtivos divulgado pelo IPT/SP, em 1998, comparando os sistemas e seus custos, do qual
27
se conclui que os valores menores de mão-de-obra ( M.O.) e equipamentos podem diminuir o
custo da produção, quanto na execução, como no custo total das obras.
Mais atualmente, têm-se os estudos técnicos desenvolvidos a partir dos protótipos
criados pelas Universidades e Fundações, os quais ainda estão dando respostas, para as quais
deve ter-se o direito e dever de ter acesso, e inclusive, participar dos resultados das pesquisas
em futuros trabalhos, com ênfase para os materiais alternativos.
QUADRO COMPARATIVO DE CUSTOS DOS SISTEMAS COSTRUTIVOS
\ CUSTOS
SISTEMAS\
PRODUÇÃO / FABRICAÇÃO (%) EXECUÇÃO/MONTAGEM (%) RELÃO CUSTOS TOTAL
M.O. EQUIPAM. MATERIAIS
M.O. EQUIPAM. MATERIAIS
M.O. EQUIPAM. MATERIAIS
Celular Espumoso in loco (Neocon)
28 14 58 30 16 54 - - -
Blocos Solocimento (A. Gutierrez)
20 1 79 - - - - - -
Módulos Madeira Blockboard (Stella)
15 0 85 6 3 91 - - -
Painéis Modulares Madeira (Cateiro)
14 14 72 33 17 50 20 15 65
Placas pré-mold de concreto (Premium)
56 8 42 43 2 55 44 3 53
Concr. Celular Bombeado In loco (C.S.)
25 10 65 25 0 75 - - -
Mista Madeira-Estr.Metál. (EpotecFertig)
30 10 60 32 5 63 - - -
Chapa Cimentícia Wall Etemit
- - - 15 0 85 15 0 85
Argam. Arm. Soprada c/miolo Poliest. (HT)
5 0 95 64 0 36 41 0 89
Microconcreto Armado núcleo Isopor (Icoma)
18 12 70 67 0 33 25 10 65
Placas de concreto armado (Itakis)
30 10 60 20 0 80 - - -
Conc. Arm. com Blocos cerâm. Int. (MLC)
25 8 67 38 12 50 30 10 60
Blocos Intertravados (TravaBlocos)
25 25 50 35 0 65 30 10 60
Bloco Hidrosílico Calcário (Prensil)
40 20 40 58 38 4 - - -
Concr. Armado Forma Túnel (Sergus)
- - - 25 7 68 25 7 68
Estrut. Concr. Arm. Parafusadas (Unienge)
33 17 50 25 25 50 30 20 50
Fonte: Adaptação do Catálogo de processos e sistemas construtivos – IPT, 1998 – nº 2515.
Quadro 2.1 – Quadro comparativo de custos dos sistemas construtivos divulgados.
A grande maioria dos projetos encontrados tem nas técnicas comprovadas o seu
suporte, embora muitos possam ser executados a partir de um volume de obras em que
sejam economicamente viáveis, não só pelo custo dos materiais como também pelo processo
de criação dos componentes, ou da própria execução da obra.
A lista de materiais alternativos inclui as cinzas de carvão de usinas termoelétricas
agregado ao concreto na confecção de blocos, o bambu como elemento integral ou
desfibrilado para compor argamassa, a borracha de pneus, em forma de escamas para compor
placas de concreto e até mesmo garrafas pet vazias, como enchimento ou criadoras de vazios
28
internos em blocos cimentícios. Ainda o solocimento, usado na antiguidade na construção
de fortalezas, e hoje, na confecção de tijolos e paredes portantes.
Todos esses materiais constituem alternativas para baratear custos, através da
reciclagem, sempre procurando não diminuir as características otimizadoras dos materiais
tradicionais no resultado da edificação.
Não se chegou, até o momento, ao ponto de comparar todos esses sistemas e soluções
amiúde, adiante do que já foi descrito, mesmo porque as pesquisas ainda estão em andamento,
na busca constante por processos construtivos diferenciados.
Cada caracterização dos sistemas construtivos apresentados contém fases do processo,
desde a confecção de componentes, até o acabamento final, em suas especificidades. Entre si,
eles são diferentes, pelo que foi possível classificá-los por categorias. Também aqui a
adequação à localidade em que está inserido o processo construtivo e seu respectivo sistema é
a variante definidora da qualidade de seus atributos e a potencialidade de sua aplicação local.
Para determinar as vantagens e desvantagens de cada sistema construtivo,
comparativamente, deve-se colher dados, em função da localidade de aplicação do sistema,
sobre algumas variáveis que importam e que poderão ser objetos de novas pesquisas:
a) a localidade, propriamente dita;
b) as matérias primas, jazidas, e compostos disponíveis;
c) qualidades e avaliação de materiais comprovadamente eficazes;
d) avaliação dos sistemas existentes adequados;
e) custos de produção;
f) custos de transporte;
g) avaliação ou treinamento de mão de obra;
h) possível criação de novo método construtivo ou novo sistema;
i) questões de infra-estrutura.
29
2.2 Avaliação Pós-Ocupação e a qualidade do processo
Ornstein (1995) considera a APO como um instrumento para diagnosticar e
recomendar, segundo uma visão sistêmica e re-alimentadora, visando modificações e
reformas no ambiente objeto de avaliação e para aprofundar o conhecimento sobre este
ambiente, tendo-se em vista futuros projetos similares”. O Fluxograma da Figura 2.2
representa a visão dessa autora.
Fluxograma da APO
Figura 2.2 - APO - Ciclo de realimentação do processo de produção e uso (ORNSTEIN,
1992)
Pode haver dois tipos de avaliação do ambiente construído:
a) Avaliação Técnica abrangendo ensaios em laboratório ou in loco, ou seja, com ou
sem o controle das condições ambientais de exposição.
b) Avaliação a partir do ponto de vista dos usuários (comportamental).
Esses procedimentos surgiram nos anos quarenta nos EUA, com a criação do Centro
de Pesquisas Midwest Psychologial Fiel Station, na cidade de Oskaloosa, cujo corpo técnico
* PLANEJAMENTO
* DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS
ESTUDO PRELIMINAR
CONSTRUÇÃO
* USO
* OPERAÇÃO
* MANUTENÇÃO
IDENTIFICAÇÃO DO ESTUDO DE CASO
COLETA DE DADOS
ORGANIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES
ALTERNATIVAS A)
B)
C)
DETALHAMENTO
ESPECIFICAÇÕES
DE PROJETO
FASE 1- PRODUÇÃO
FASE 2 - USO
30
era constituído por psicólogos, antropólogos e arquitetos, estendendo-se para a Europa, Ásia e
América Latina, ocorrendo, nesta última, pesquisas periódicas a partir da cada de setenta.
Entretanto, um hiato no conhecimento referente ao comportamento do ser humano com
relação ao ambiente construído e vice-versa.
No Brasil, os processos construtivos são bem conhecidos, mas a visão sistêmica do
processo é comprometida pela ausência de pesquisas quanto ao uso, operação e manutenção
das edificações, resultando na redução da vida útil dos ambientes construídos e falhas em
projetos de futuros edifícios semelhantes.
Bonin (1988, p.3) coloca a dificuldade de obtenção de níveis aceitáveis de custo
relativo à qualidade ambiental, por falta de integração dos diversos agentes intervenientes no
processo produtivo da edificação, incluindo a manutenção. Na Bélgica, segundo Motteau
(1987, p.12), foram apontados em seqüência as origens das patologias nos edifícios: projeto
(45 %), construção (22%), materiais (12%), diversos fatores (11%) e por último, o uso (10%).
Esse conjunto pode ter os valores alterados em conseqüência da aplicação da APO.
A diversidade metodológica ainda não possibilitou adquirir-se padrão único de
estratégia, em vista de aspectos que estão sendo continuamente redesenhados e testados, no
entanto, com avanços significativos em relação à amostragem de usuários e ambientes e
procedimentos de coletas de dados, devido a trabalhos teóricos.
Aspectos comportamentais se medem através de técnicas quantitativas consagradas em
pesquisas sociais, segundo Kidder (1987) que auxiliam na interpretação dos níveis de
satisfação dos usuários quanto à qualidade, consideradas multi-análises, envolvendo os
usuários e mantenedores (relativo ao uso), e os profissionais envolvidos na produção
(incluindo clientes).
Nos EUA foram realizados mais de 1300 estudos de APO objetivando o
aprofundamento da metodologia científica direcionando a um eixo central com base na
pesquisa aplicada, visando soluções e recomendações (SERRA, 1989). Dos estudos resultou a
classificação em dois tipos de pesquisa: a pesquisa seccional, que considera estudos de casos
semelhantes, comparando-os, e a pesquisa longitudinal, realizada em um caso apenas, mas ao
longo do tempo.
Esta metodologia objetiva diagnosticar aspectos negativos e positivos através da
avaliação de fatores técnicos, funcionais, econômicos, estéticos e comportamentais do
ambiente em uso, a partir da opinião de técnicos, projetistas, clientes e usuários, visando
minimizar e corrigir problemas detectados e estabelecer programas de conscientização do
público usuário, em edificações privadas e públicas. Ainda, visa realimentar o ciclo do
31
processo de produção-uso, dando condições aos agentes envolvidos a integrar-se no processo
todo, desde a detecção das patologias até a tomada de decisões futuras.
A APO realizada nos países desenvolvidos es vinculada à forte organização das
normas técnicas para todo tipo de produto industrializado e comercializado, aliada à
conscientização e à responsabilidade dos envolvidos, incluído os governos, tornando possível
projetar a vida útil de ambientes construídos e seus materiais, mediante seguimento de
parâmetros e especificações preestabelecidas, a partir de metodologias e ensaios
rigorosamente científicos.
No Brasil, o termo avaliação está associado a repressão, ao controle, que reporta a uma
situação de vinte anos de ditadura, fazendo travar as iniciativas nesta área de estudo.
Consequentemente criou-se uma cultura dissimulante que obstaculizou o avanço da pesquisa
de APO, deixando-nos atrasados na construção de conhecimento e de métodos. Del Carmo e
Ornestein (1990, p.11) afirmam “a avaliação permanente é parte integrante do processo
democrático (...)”, apontando que esta é uma prática que também deve ser aprendida.
A avaliação do produto edificação não pode ser vista como uma crítica demolidora ou
mesmo definidora de nível de competência, por que se sabe que as técnicas evoluem, os
métodos e processo se modificam e os materiais aumentam de qualidade com o passar dos
anos. O ambiente construído sofre todas estas alterações a partir dos componentes da
construção, que podem ser classificados e ter suas inter-relações definidas. Assim, pode-se
diferenciar numa edificação, de qualquer tipologia, três aspectos fundamentais, sintetizadas no
gráfico da Figura 2.3.
- os produtos da construção;
- os produtos para a construção e
- os processos construtivos.
Estas três grandes classes de objetos compartilham diversos conjuntos de propriedades
que devem ser descritas para a completa caracterização dos objetos. Elas constituem um
conjunto especial de entidades, os atributos.
Por sua vez, para valorar-se estes atributos, ainda é preciso um sistema de unidades e
grandezas. Estes constituem o núcleo comum para descrever qualquer objeto. Um objeto só
pode ser adequadamente definido pela associação de, no nimo, duas facetas, mas uma
definição precisa certamente incluirá diversas facetas. a constituição de uma classe se
por um conjunto específico de facetas.
32
Nesta concepção, produtos para a construção são materiais e componentes que passam
por um processo de transformação, ou seja, serão processados fisicamente (cortados,
dobrados, etc.) ou quimicamente e incorporados a um elemento da construção. Correspondem,
de modo geral, à categoria de insumos básicos de outros sistemas, tal como o Sinapi, mas
excluem os recursos humanos e equipamentos, bem como todos os produtos que não sejam
incorporados à construção, tais como formas, combustível, etc. Estes estarão contemplados na
classe de agentes.
Figura 2.3 Classes primárias de objetos da produção do ambiente construído
(AMORIN; PEIXOTO/CDCON, 2003)
Embora possa parecer contraditório utilizar o termo “produto” para uma entrada de um
processo, optou-se por mantê-lo por acreditar que seja uma referência consagrada. É
interessante destacar a diferença entre um produto para a construção básico como tábua” e a
faceta “material”.
Enquanto o primeiro tem um conjunto de atributos, entre eles sua composição, a faceta
material aborda apenas o componente básico. Por exemplo, “madeira” é uma referência a
33
um material, “tábuas” ou mesmo madeira em toras” ou “madeira em bruto” o diferentes
insumos (produtos para a construção) que podem ser incorporados à construção.
A definição de produto para a construção necessita, no mínimo, da associação entre a
faceta materiale a faceta característica de atributo comercial”, em geral embalagem, ou a
faceta “forma”, ainda que esta seja “amorfa”. No primeiro caso, tem-se o exemplo do
cimento, em sacos ou a granel; no segundo, a areia, em que a forma é usualmente
representada pela sua granulometria.
Como se percebe na Figura 2.3 existem aspectos que estão relacionados a mais de uma
ou a todas as classes primárias sugeridas. Mas um ponto fundamental são as diferenças de
natureza entre elas. Elementos e espaços, objetos que compõem as “entidades do ambiente
construído”, são fisicamente definidos, “processos construtivos” são objetos virtuais com
agentes materializados ainda que partes deles não necessariamente sejam agentes físicos,
enquanto atributos são qualidades ou propriedades associadas a estes objetos, podendo ser
mensuráveis (quantitativas) ou qualitativas.
Uma constatação interessante é que os produtos para a construção o apresentam
nenhuma faceta exclusiva, sendo todas elas compartilhadas com outras classes. Isso leva à
constatação de que não é necessário desenvolver uma abordagem de classificação específica
para este conjunto, pois ele poderá ser definido a partir da associação entre facetas
estruturadas pelas outras classes.
Esta visão difere num ponto importante daquela que se depreende dos modelos de
especificação e classificação para a construção mais comum no Brasil, adotados por vários
métodos de orçamentação e controle. Em geral, eles se baseiam no conceito de insumos”,
que engloba tanto materiais e produtos consumidos no processo construtivo como os recursos
humanos e equipamentos. No enfoque adotado, “produtos para a construção” são
considerados como objetos da construção, mas que se definem plenamente a partir de sua
inserção em um processo, para a obtenção de um elemento do ambiente construído.
Em outras palavras, para se configurar como produto para a construção, um objeto
deve ser um elemento associado ao processo de suprimentos ou a seus subprocessos, ou a um
dos processos executivos na obra. O Processo Construtivo pode ser representado conforme
fluxograma apresentado na Figura 2.4.
Na busca de uma tecnologia apropriada, cujo conceito nasceu na década de 60, com a
obra Small is Beautiful “do economista E.F. Schumacher (1993), na qual a tecnologia é
34
comparada à “face humana”, num simbolismo retirado da ordem social e econômica em que
os moradores de baixa renda estão imersos. O caráter dessa comparação está apoiado na
importância da autonomia e produção locais para cobrir necessidades locais da comunidade
envolvida, quando a construção da moradia vincula-se à construção de uma cultura social.
Figura 2.4 – Visão do Processo Construtivo (CDCON)
Conforme Kger (2003) surgiram características sicas visando definição das
tecnologias apropriadas, tais como:
O baixo custo;
O uso de materiais locais;
O uso intensivo de mão-de-obra;
Pequena escala de produção;
Podem ser entendidas, controladas e conduzidas autonomamente pela comunidade;
De simples execução;
São implementadas em comunidades;
Usam recursos descentralizados;
São flexíveis para adaptações;
35
Não incorrem em royalties, patentes, taxas, etc.
A Declaração de Limuru, Kenya, onde ocorreu o encontro de representantes de 40
países e 57 ONGs, objetivando a proposição de soluções para a questão da moradia, sendo
este ano (1987) declarado Ano Internacional de abrigo aos Sem-Teto” expressa a
preocupação de manter o entorno social vinculado ao morador:
Quanto aos fatores sócio-econômicos do desenvolvimento de um sistema construtivo,
deve-se almejar como objetivo primordial a entrega de moradias adequadas à
população, ou seja, habitações tais que, além de oferecer abrigo às intempéries,
proporcionem aos seus moradores tanto o acesso a uma infra-estrutura sica quanto
possibilidade de crescimento econômico e social.
Quanto aos aspectos ambientais, Kruger (1998) aponta os seguintes itens, em relação à
tecnologias apropriadas
:
1. Adequação da construção ao clima;
2. Adequação ao uso de recursos naturais e uso de materiais locais;
3. Medidas para racionalização da construção;
4. Medidas para auto-ajuda;
5. Medidas para redução do custo final da habitação.
A aplicação destes enfoques está condicionada à tipologia das edificações,
especialmente se sua caracterização fugir da prática consensual de tecnologia apropriada em
condições normais de construção.
A Proposta de Norma de Desempenho Térmico em Habitação de Interesse Social,
realizada por pesquisadores da UFSC( 2000), estabelece uma divisão do território nacional em
oito zonas climáticas a partir de uma adaptação da Carta Bioclimática de Givoni (1992), para
definir o Zoneamento Climático Brasileiro, que aponta os problemas climáticos dominantes
em cada região, permitindo, assim, a recomendação de estratégias técnicas no momento de
elaboração do projeto.
Os limites aceitáveis de indicadores do desempenho rmico adaptados do método de
Mahoney (RORIZ et al, 1999) associam as estratégias de condicionamento passivo indicadas
por Givoni (1992), estabelecendo requisitos mínimos de projeto, considerando os seguintes
parâmetros: a) tamanho das aberturas para ventilação; b) proteção das aberturas; c) vedações
externas (tipo de parede externa e cobertura, considerando-se transmitância térmica, atraso
térmico e absorvância à radiação solar); d) estratégias de condicionamento térmico passivo.
36
Além disso, a possibilidade alternativa de criação de equações preditivas da
temperatura interna a partir da constatação da temperatura externa, conforme Komeno (2002)
e o método do IPT/SP, refinando o delineamento do sistema construtivo para qualquer região
do país, adequadamente.
O segundo aspecto, referente ao uso de materiais locais e uso de recursos naturais é
uma lógica plausível, pois a utilização de infra-estrutura logística, o uso racional de energia e
matéria-prima terão reflexos notórios no conjunto da obra.
Racionalizar a construção como um todo é a diretriz básica do planejamento de caráter
sistemático, quando os procedimentos casuais são substituídos por métodos e recursos
técnicos atualizados.
De acordo com Bruna (1983), há duas maneiras de racionalizar os procedimentos
operacionais na construção civil: mantendo o nível de tecnologia aplicada, no entanto,
aperfeiçoando as operações artesanais, ou tornar a produção mecanizada. A escolha sobre um
ou outro caso envolve diversas facetas, sendo indicado aquele que, certamente, trará menos
custo e mais benefício.
Assim, num país onde há bastante mão-de-obra, embora desqualificada, é importante a
opção pela manutenção de muitos empregos, em detrimento à mecanização, restringidora de
postos de trabalho, incidindo diretamente sobre a questão social, podendo gerar
desestabilização em diversos setores, uma vez que o setor da construção civil é o que mais
emprega no país.
Utilização de novos sistemas construtivos ou de sistemas já consagrados demandam
investimentos para estruturas de produção, que até poderão utilizar instalações iniciais
existentes, mas, comprovadamente retém a expansão da o-de-obra, resultando
possibilidades de lucros para o empreendedor, porém não atingindo os objetivos centrais
desejados nesse tipo de problemática habitacional, que é o aspecto humano.
Krüger (2003) coloca claramente esta constatação:
Na habitação social, experiências desastrosas com habitação em massa
comprovaram a ineficácia da industrialização de grande porte. Como exemplo,
poderíamos citar os mega-projetos dos países do hemisfério norte, em que o alto
custo dos painéis-fachada em relação aos painéis-parede levaram à construção de
edificações profundas, geminadas em linha, com pouca variabilidade, o que
acabou resultando em estruturas monótonas, em total desatenção a aspectos sócios-
culturais e estéticos (p. 65).
Na análise do autor, a formatação de um sistema construtivo elimina a possibilidade de
participação do usuário em processo mais aberto, onde podehaver a mescla do processo
37
tradicional com a integração de elementos construtivos, dando oportunidade para pequenas
especializações, aproximando-se, portanto do conceito de tecnologia apropriada, situando-se
entre a grande produção industrializada e a construção tradicional.
Sobre as medidas de auto-ajuda que se considerar as capacidades econômicas dos
futuros usuários das moradias e sua cultura técnica relacionada à construção, donde proverá o
planejamento para racionalização do processo construtivo.
Finalmente, as medidas para redução do custo da construção, além dos itens
anteriores, envolvem o controle do desperdício de toda natureza, incluindo os recursos
naturais.
Para Ornstein e Romero (1992) há duas etapas contidas no ciclo de vida de uma
edificação. A primeira é de curta duração e envolve o planejamento, projeto e a construção; a
segunda é mais longa e representa o objetivo da obra: para ser usada. Nessa etapa é que se
situa o estudo em pauta, que servirá para retratar o desempenho do produto em uso,
associado às propriedades e ao comportamento do mesmo. A idade limite para o imóvel está
relacionada à utilização normal, lhe assegurando a vida útil prevista no tempo que atenda às
necessidades dos usuários, sejam eles de que tipo forem - pessoas, animais, objetos
(CSTC, 1979, p.6).
O CTSB (Paris), pioneiro no desenvolvimento de critérios para avaliação de pós-
ocupação, influenciou muitos institutos de pesquisa em todo o mundo ao elaborar uma lista de
14 itens relacionados ao desempenho de edifícios e seus materiais:
* Segurança estrutural: sobre resistência mecânica ou fadiga de materiais;
* Segurança ao fogo: riscos e difusão, proteção e tempo de resistência ao fogo;
* Segurança de uso: sobre agressividades de materiais perigosos, mal colocados ou
de intrusos.
* Estanqueidade: características da água e gases, ar e poeira e suas mobilidades.
* Conforto higrotérmico: controle da temperatura do ar, radiação térmica,
velocidade, limites de variação, condensação.
* Pureza do ar: ventilação, controle de odores.
* Conforto Acústico: controle do ruído, contínuo ou intermitente, inteligibilidade do
som, tempo de reverberação;
* Conforto Visual: aspectos de espaços e iluminação e ofuscamento controles;
texturas, orientações, interno-externo, distorções, limitações- barreiras, contrastes.
* Conforto tátil: sobre superfície rugosidade, pegajosidade, temperatura de contato,
flexibilidade, estática elétrica.
38
* Conforto Antropodinâmico: relacionado com as pessoas, rampas, ventos, portas
janelas e equipamentos- sobre manuseios.
* Higiene: instalações para cuidados corporais, suprimento de água, limpeza e
evacuação de resíduos.
* Adaptação ao uso: geometria dos espaços, número, interrelação; previsão de
serviços e equipamentos; mobiliário e flexibilidade.
* Durabilidade: conservação do desempenho por tempo adequado.
* Economia: Custo global adequado: custo de projeto e construção (produção) + custo
de manutenção + custo de operação.
Naturalmente estes aspectos devem ser relacionados ao contexto social, econômico,
cultural, tecnológico e das condições físico-climáticas em que se apresentam.
Do ponto de vista técnico, os ensaios de componentes realizados em laboratório ou
através de modelos matemáticos, transportam as necessidades dos usuários para grandezas
mensuráveis sob condições de exposição plenamente conhecidas e são definidos valores
mínimos aceitáveis – os critérios de desempenho.
Porém, quando as medidas físicas ou comportamentais são realizadas no próprio local
em que ocorrem, o controle das múltiplas variáveis inter-agentes, o que as torna mais
complexas do que as anteriores, entretanto resultando em informações mais ricas quanto as
relações ambiente- comportamento.
Segundo Preiser (1988), a avaliação pós-ocupação é um processo que utiliza uma
conduta sistemática e rigorosa, com diversas técnicas de pesquisa e níveis (Quadro 2.2), após
a edificação ter sido ocupada por um determinado período de tempo.
Níveis de APO Etapas do Planejamento Etapas da Condução Etapas da Aplicação
Indicativo
Reconhecimento e
viabilidade
Início de coleta de dados Relatório de decisões
Investigativo
Planejamento de recurso
Monitoração e gerenciamento
procedimento de coleta de dados
Recomendação de plano
de ações
Diagnóstico
Planejamento de pesquisa Análise dos dados Revisão de resultados
Quadro 2.2 - Níveis de Avaliação Pós-Ocupação (PREISER, 1988)
39
APO - Indicativa ou de curto prazo: visita ao ambiente estudado e entrevistas
selecionadas com usuários-chave, indicação dos aspectos positivos e negativos do
objeto estudado.
APO - Investigativa ou de médio prazo: trata-se do nível anterior acrescido da
explicitação de critérios referenciais de desempenho.
APO Diagnóstico ou de longo prazo: define detalhadamente critérios de
desempenho, utiliza técnicas sofisticadas de medidas correlacionando aquelas
físicas com as respostas dos usuários, tendo-se em mente a estrutura organizacional
da entidade. Para tanto, exige recursos bem maiores do que os anteriores.
Com base na prática os pesquisadores nacionais (SERRA,1989) sugerem o
desdobramento destes três níveis em seis, condizentes com a realidade brasileira, em que os
três primeiros são avaliações físicas e os demais são APOs propriamente ditas, considerando o
ambiente, tanto do ponto de vista técnico, como dos usuários.
A Figura 2.5 explicita os seis níveis propostos, que, embora não sejam rígidos para a
determinação das ações, servem como referência.
Níveis
Atividades
Prazos
Nível 1
Avaliação Física
Nível 2
Avaliação Física
DIAGNÓSTICO
Aspectos construtivos, funcionais e de conforto
ambiental
DIAGNÓSTICOS E RECOMENDAÇÕES
Aspectos construtivos, funcionais e de conforto
ambiental
Realizada pela equipe
técnica em 20 dias
Realizada pela equipe
técnica em 30 dias
DIAGNÓSTICO, RECOMENDAÇÕES E ESPECIFI-
CAÇÕES TÉCNICAS PARA REALIZAÇÃO DOS
SERVIÇOS PROPOSTOS (Caderno de Encargos)
Aspectos construtivos, funcionais e de conforto ambiental
Realizada pela equipe
técnica em 40 dias
Nível 3
Avaliação Física
AVALIAÇÃO FÍSICA – NÍVEL 2 + ASPECTOS
COMPORTAMENTAIS
Diagnósticos e Recomendações
Realizada pela equipe
técnica em 60 dias
Nível 1
APO
AVALIAÇÃO FÍSICA – NÍVEL 3 + ASPECTOS
COMPORTAMENTAIS
Diagnóstico, recomendações e especificações técnicas
Para realização dos serviços propostos (Caderno de
Encargos)
Níve
l 2
APO
Realizada pela equipe
técnica em 90 dias
Prazos em aberto
APO
NÍVEL 2 + ACOMPANHAMENTO DAS
INTERVENÇÕES E DIRETRIZES PARA PROJETO,
CONSTRÃO, USO, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO
Nível 3 (especial)
APO
40
Figura 2.5 – Os seis níveis de serviços de avaliação para o caso brasileiro
As vantagens dos serviços de avaliação abrangem vários aspectos para a qualificação
do ambiente construído, dentre os quais:
propor recomendações sobre problemas técnicos- construtivos, funcionais e
comportamentais para o objeto em estudo;
envolver projetistas, clientes e usuários no processo de avaliação e tomada de
decisões;
conscientizar os principais agentes na manutenção e conservação;
controlar a qualidade do ambiente no decorrer do uso, interferindo em custos e
operações;
desenvolver manuais de manutenção e uso;
desenvolver plano diretor para readequação a novas tecnologias;
desenvolver manuais/diretrizes de projeto, critérios e padrões para novos
empreendimentos semelhantes;
O conjunto de vantagens que a APO oferece em cada nível do processo, foi indicado
por Ornstein (1992), expressos na Figura 2.6.
Nível de APO Vantagens
Indicativa
(Nível 1)
detecta e propõe soluções de pequeno porte e/ou setoriais para problemas técnicos e
funcionais;
envolve todos os participantes do processo de avaliação e tomada de decisão, ou seja,
projetistas, clientes e usuários;
abrange todos os envolvidos no uso e manutenção do edifício com o propósito de
conservar e otimizar o desempenho do patrimônio, assim como o bem-estar dos
ocupantes;
minimiza custos de manutenção do edifício.
Investigativa
(nível 2)
aprimora e afere qualitativamente a metodologia de APO;
detecta e propõe soluções que se relacionam até mesmo com reciclagem e substituição de
componentes do edifício, com base em problemas técnicos e funcionais;
propõe treinamento e conscientização dos usuários, para conservação e manutenção do
edifício;
apresenta recomendações para minimizar custos de operação e manutenção.
41
Diagnóstico
(nível 3)
mede e aprimora qualitativamente a metodologia de APO;
propõe um plano de manutenção do edifício objeto da APO, com intuito de otimizar seu
desempenho durante sua vida útil prevista;
desenvolve um plano de re-arranjo dos espaços físicos do edifício;
desenvolve um plano de ações tecnológicas voltadas à fase de projeto, padrões e normas
para projetos futuros de edifícios semelhantes.
Figura 2.6 – Vantagens da APO de acordo com o nível do processo
Segundo Rossi e Freeman (1989), os condicionantes para essa área de pesquisa e
consultoria derivam, com muita ênfase, da participação do usuário, cuja intensidade pode
variar, facilitando ou dificultando a pesquisa. De modo geral, atribuíram as seguintes
considerações:
participação reduzida do usuário no processo;
receptividade e comunicação usuário-avaliadores dificultosa, sem critérios;
comunicação difícil entre projetistas, clientes e avaliadores, comprometendo o
resultado;
qualidade precária das informações e pouca familiaridade dos pesquisadores obre
APO;
dificuldade quanto a imparcialidade do avaliador;
produto final configurado como relatório excessivamente analítico, pouco atrativo
para o usuário, que se sente à margem do resultado da pesquisa;
pouca disseminação de leitura no âmbito da APO, para leigos.
Estes condicionantes estão relacionados à idéia “dos preconceitos e mitos de
avaliação” relacionados com valores culturais e aos comportamentos das populações-alvo da
pesquisa, que precisam ser trabalhados para amenizar as dificuldades.
A complexidade da pesquisa poderá exigir uma equipe multidisciplinar para
atendimento às questões pontuais do trabalho a ser realizado. Assim, havendo um
Coordenador Geral, a equipe deverá contar com consultores nas seguintes especialidades:
- planejamento urbano;
- arquitetura;
- psicologia;
- engenharia;
- estatística;
42
- economia;
- conforto ambiental;
- reparos estruturais, etc.
Rossi e Freeman (1989) apontam ainda que, para cada estudo de caso deverá haver um
pesquisador responsável gerenciando as ões de estagiários seniors treinados em APO nos
levantamentos de campo, tabulações, produção de gráficos e desenhos, e auxiliados por
estagiários contratados para levantamentos específicos junto aos usuários.
Naturalmente, a quantidade de membros na equipe está relacionada com a capacidade
da Instituição Patrocinadora de dotar os recursos humanos e orçamentários para o estudo em
questão.
O orçamento de uma pesquisa tem ligação direta entre o projeto (extensão e grau de
aprofundamento) e a disponibilidade orçamentária do cliente ou Instituição, e pode variar em
função das características do ambiente construído, sua localização e complexidade dos
aspectos de desempenho a serem medidos, incluindo o número de participantes da equipe de
pesquisa e seu modus operandis.
Da mesma forma, o prazo para a realização da pesquisa segue as mesmas variáveis
anteriores, mas, de forma geral o período varia entre quatro e doze meses, sendo que, para
edifícios isolados, sugere-se de sessenta a noventa dias.
O produto final da APO dependerá dos objetivos do cliente, numa extensão que requer
organização e formato para um indivíduo o diretor de uma empresa, por exemplo- até uma
comunidade inteira, de vários segmentos. De qualquer forma que se apresentar o resultado da
pesquisa, é consensual que seja muito claro, conciso e atraente para as partes interessadas.
De acordo com Ornstein e Romero (1992) as atividades da APO podem ser divididas
em etapas interligadas, pelas quais a pesquisa evolui, graficadas no fluxograma da Figura 2.7.
O modelo de processo para APO proporcionado pelo convênio NUTAU/FINEP, da
USP, para conjuntos habitacionais (edifícios de apartamentos, unidades habitacionais, áreas
livres, escola) está diagramado na Figura 2.8.
43
Figura 2.7 – Fluxograma de atividades - Ornstein e Romero, 1992.
CADASTRO
ATUALIZADO DOS
AMBIENTES
CONSTRUÍDOS
CADASTRO
ATUALIZADO DO
MOBILIÁRIO E
EQUIPAMENTOS
LEVANTAMETO E
TABULAÇÃO DE
DADOS/
INFORMAÇÕES
COLETADAS JUNTO
AOS USUÁRIOS
PLANEJAMENTO
PROJETO
CONSTRUÇÃO
LEVANTAMETO
TÉCNICO FUNCIONAL/
CONSTRUÇÃO
LEVANTAMETO DE
NORMAS, CÓDIGOS E
ESPECIFICAÇÕES
EXISTENTES
USO E
MANUTENÇÃO
LEVANTAMENTO DA
MEMÓRIA DO
PROJETO E
CONSTRUÇÃO
PARA O
AMBIENTE
CONSTRUÍDO/
ESTUDO DE
CASO
REALIMENTAÇÃO DO PROCESSO PROJETUAL
DIAGNÓSTICO
RECOMENDAÇÕES E
DIRETRIZES PARA
FUTUROS PROJETOS
SEMELHANTES E
NORMAS TÉCNICAS
DETERMINAÇÃO DE
ÍNDICES COMPARATIVOS
E PADRÕES REFERENCIAIS
QUANDO NÃO EXISTEM
NORMAS PARA EFEITO
COMPARATIVO
44
Figura 2.8 – Modelo de processo para APO sugerido pelo convênio NUTAU/FINEP -
USP.
Critérios de desempenho e/ou
indicadores de qualidade
- Normas
- Códigos
- Diretrizes de projeto
- Experiências profissionais
- Literatura
- Critérios metodológicos
Avaliação técnica (pelos especialistas)
- Entrevistas com técnicos da companhia habitacional
- Leitura de projetos, especificações técnicas, Planilhas de
custo
- Seleção amostral para aplicação de roteiro/Checklist
técnico
- Medições in loco: conforto térmico, iluminação e acústica
(ruído)
- Cálculos e simulações sobre conforto ambiental e consumo
energético
- Levantamento de mobiliário, equipamentos
eletrodomésticos e louças sanitárias nos apartamentos
- Cálculo de índices de obstrução nos apartamentos
- Reunião com técnicos da companhia para discussão dos
resultados
Aferição da satisfação dos usuários
- Entrevistas com pessoas chaves o conjunto
- Seleção amostral
- Aplicação e análise do questionário pré-teste
- Aplicação e análise do questionário definitivo
- Questionários
- Observações
- Mapas comportamentais em áreas livres/
condominiais
Tabulação de dados
População oriunda da favela (OF)
X
População com inscrição regular (IR)
Cruzamentos entre respostas
APO
Diagnósticos
Áreas do conhecimento objeto
de avaliação
Caracterizaç
ão
sócioeconômica do
conjunto e do bairro
Sistema construtivo e
instalações patologias
Funcionalidade
Inserção do conjunto
no contexto urbano
Resultados
Recomendações para o
estudo de caso
Conforto ambiental
Térmica
Conservação de energia
Iluminação
Acústica
Segurança con
tra incêndio
Diretrizes para futuros
projetos
Ventilação
Ambiente construído
X
Comportamento humano
Vídeo para divulgação
científica
Economia do edifício
Custos x benefícios
Banco de dados
Relatório Final
Outros aspectos inseridos
- Manutenção
- Gestão condominial
-
Privacidade, etc.
45
Este fluxograma (Fig.2.7) serviu de orientação para a avaliação pós-ocupação do
Conjunto Habitacional São Luiz I, na cidade de São Paulo, realizado pela faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, em 1996 e 1997 por uma equipe
multidisciplinar de profissionais das áreas envolvidas (HABITARE, 2003), sendo considerada
uma das pesquisas de APO mais completas do Brasil, na área de habitação de interesse social.
Em razão disso, o questionário aplicado aos moradores serviu de base para o questionário do
estudo em execução, com as devidas adaptações.
A abrangência da análise, naquele estudo de caso, garantiu respostas a indagações
percebidas pelo corpo técnico e sentida pelos moradores, que puderam, a partir da realização
do trabalho minucioso, trazer à luz informações valiosas sobre a qualidade do produto
moradia-edificação e sobre a qualidade moradia-vivência.
As conclusões revelam que a APO tem condições de apresentar um resultado
transformador nos processos construtivos habitacionais e, para o caso, podem ser resumidas
nos seguintes itens:
1. Encontraram-se especificações e arranjos internos facilmente corrigíveis;
2. Os planos de financiamento devem ser mais longos para famílias de renda até 10
salários mínimos ou mais;
3. O “padrão popular oficial” de prédios descompassa com o sistema construtivo
“inteligente” adotado (alvenaria estrutural);
4. Para a cidade de São Paulo, a verticalização é necessária (densificação);
5. As unidades carecem de mais espaços para uso de novos eletrodomésticos e
depósito de materiais diversos;
6. Pequenas mudanças internas são necessárias para acomodar novos bitos e
instalações daí de correntes;
7. Há inadequação entre compartimentos e os móveis do mercado;
8. Os custos do edifício são 50% do total, portanto que se dimensionar a qualidade
de todo o conjunto;
9. As alterações propostas adicionam de 6% a 13 % ao valor original do projeto e
haveria melhores acomodações aos moradores.
Na APO realizada em 2001 no Conjunto Habitacional Pedro Junqueira, em Poços de
Caldas, pela Equipe da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais ( HABITARE,
2003), foi utilizado o “critério de amostragem” na seleção das habitações. A metodologia da
pesquisa envolveu a participação da COHAB/MG com a cedência de documentos gráficos e
46
especificações e também a comunidade, através de alguns moradores voluntários, que
pleiteavam a revelação de alguns problemas para, assim, receberem ajuda na solução dos
mesmos.
A análise das plantas e documentos originais foram mesclados a entrevistas com os
proprietários das casas escolhidas, quando foram levantadas informações a partir de modelos
de plantas e fotografias que os entrevistadores levavam em mãos. Nesse momento eram
constatadas as alterações realizadas sobre o projeto original em rios aspectos, com base em
um questionário que “constituiu-se de uma maneira simplificada e objetiva, o qual apresenta
questões rotineiras”, citado por Miglioranzi e Cervini (2003) no I Congresso Brasileiro sobre
Habitação Social, em Florianópolis, SC.
Despertaram interesse aos pesquisadores as inovações que estavam ocorrendo nas
residências, a partir das necessidades familiares, tanto de natureza funcional quanto de
natureza estética, e que estavam conduzindo o Conjunto Habitacional a uma nova feição, uma
nova identidade, com o pressuposto de que os moradores desejavam transformá-lo num bairro
com características próprias e desvinculado da original estética repetitiva e despersonalizada.
Esse enfoque ficou sendo a principal conclusão do trabalho que também apresentou a
constatação de um processo de mudança cultural em andamento nos moradores, muitos dos
quais trabalhando em bairros elegantes, e desejosos de trazer o conforto exemplar para o seu
local de moradia.
Os autores concluem, afirmando:
O homem e o ambiente não podem ser considerados de maneira isolada como duas
identidades independentes, pois estas duas podem ser transformadas pela capacidade
humana em espaços habitados e socializados. Conclui-se, assim, que uma grande e
urgente necessidade de rever conceitos de imposição de ambientes tipificados e a
relação destes com o homem, que devem ser consideradas como um conjunto de
dados produzidos socialmente e moldados pela cultura de uma sociedade e não
somente idéias para ganhar a especulação imobiliária e os interesses dos grandes. O
grande fato que norteia é a construção de um quadro de vida que seja efetivamente
mais humano.
3 NÚCLEO HABITACIONAL SANTA MARTA – CARACTERÍSTICAS
3.1 Considerações
No Núcleo Habitacional Santa Marta percebe-se o volume significativo de alterações
realizadas nas habitações originalmente concebidas nos anos 80, ensejando vários
questionamentos quanto aos motivos de tantas modificações. Dentre eles, estão motivos
relacionados ao desempenho de materiais ou ao sistema construtivo? Seriam questões de
projeto ou de funcionalidade? As edificações mostraram-se adequadas à população alvo?
O crescimento urbano, fruto da migração das pessoas, particularmente do campo para
a cidade dentro do próprio município, é uma forte realidade. As cidades de médio e grande
porte m a tendência a exercerem a função de centros regionais, oferecendo atrativos como
novas oportunidades de trabalho, estudo e negócios a moradores de toda uma região, que
depositam nelas suas esperanças de crescimento pessoal e expectativas de melhoria na
qualidade de vida.
Via de regra, os migrantes assentam moradia nas periferias urbanas, onde a expansão
da cidade se faz por obviedade em áreas com essa vocação, visto que áreas centrais, com
evolução verticalizada, são de acesso economicamente mais difícil para os novos moradores
de baixa renda.
A realidade apresenta outra nuance: as oportunidades nem sempre correspondem à
expectativa das pessoas, pois demandam preparo, formação e cultura para a abertura e
aceitação dos aspectos objetivos que fazem parte do crescimento.
No sentido antropológico, o antigo morador da cidade, o novo morador (migrante) , a
habitação e as oportunidades de crescimento, das quais o trabalho e o aperfeiçoamento fazem
parte, são elementos que devem estar inter-relacionados otimizadamente, formando um
conjunto social e cultural.
Da quebra dessa integração resultam as sub-moradias, os empregos informais, as
invasões imobiliárias e uma cadeia de infortúnios. Quando o planejamento urbano e
econômico de uma cidade, através de seus administradores locais ou governamentais,
contempla a integração desses elementos correlacionados, é de se esperar que a qualidade de
vida dos moradores melhore.
48
Historicamente, a cidade de Santa Maria, além de apresentar verticalização edilícia
permanente, tem expandido sua área urbana periférica nas direções leste, oeste e sul, visto
que, ao norte, defronta-se com o maciço da Serra Geral, o que obstaculiza sua expansão. Em
valores ecológicos, porém, este é um aspecto positivo.
Os planejadores da Companhia de Habitação do Estado do Rio Grande do Sul
COHAB/RS - juntamente com a CEDIC Companhia Estadual para Desenvolvimento da
Indústria e Comércio, no auge de suas atuações, conseguiram unir dois fatores cruciais para o
desenvolvimento econômico-cultural e da qualidade de vida de parte da população,
localizando próximos o Distrito Industrial- DI - e o Núcleo Habitacional Santa Marta (Figura
3.1), numa área apropriada para os dois empreendimentos, na zona oeste da cidade. As
habitações foram locadas em terreno cuja topografia é favorável, em posição protegida dos
ventos dominantes de leste em relação ao D.I., localizado mais a oeste.
Figura 3.1 – Situação do Núcleo Habitacional Santa Marta- Santa Maria/RS (Cohab/RS,
1980)
49
3.2 Características Gerais
Previsto no programa intitulado PROHAP- Programa de Habitação Popular (anos 70),
o projeto Santa Marta destinava-se a ser um loteamento de caráter popular, para famílias com
renda até 5 salários mínimos vigentes à época e para uso exclusivamente residencial, com
todas as habitações financiadas pela COHAB/RS. Um dos critérios de escolha dos moradores,
em caso de empate, era a preferência por família com maior número de filhos.
O conjunto habitacional teve o ante-projeto urbanístico aprovado pela Prefeitura
Municipal no início da década de 1970 e, cerca de dez anos depois, em 1980, foi assente em
área de 33,514 Ha, parte do total de 264,807 Ha que constituía a antiga Fazenda Santa Marta.
As primeiras chaves das casas começaram a ser entregues em setembro daquele ano.
De acordo com informações prestadas pelo Sr. Laci Vargas, antigo líder comunitário e
igualmente morador pioneiro:
“A demora na execução das obras, primeiro durante a execução da infra-estrutura,
que esteve parada alguns anos; depois, durante a execução das casas, deveu-se a
problemas com a Empreiteira inicial, que entrou em falência. Quando a segunda
Empreiteira reiniciou os trabalhos, alguns ajustes orçamentários e alterações nas
especificações tiveram que ser realizados, talvez porque a inflação, naqueles dias,
era galopante.”
O Plano Geral previu três setores – as Super-Quadras - periféricos a um núcleo central
no qual se localizam as Instituições Sociais como Posto de Saúde, Posto Policial, Igrejas,
Associação de Bairro, Escola Estadual, Centro de Tradições e Folclore, Creche, APAE,
Mercado de Gêneros Alimentícios e outros.
As Super-Quadras foram concebidas com diversas Quadras dispondo de lotes com
área referencial mínima de 250,00 m², incluindo também dois espaços com dimensões
semelhantes as quadras, destinados ao lazer, em cada uma.
A Figura 3.2 ilustra a Planta Geral do Núcleo Habitacional Santa Marta.
50
Figura 3.2 – Planta Geral do Núcleo Habitacional Santa Marta (Cohab/RS, 1980)
3.2.1 Sistema Viário
A integração à malha urbana se faz através de seis ruas do bairro Jockey Club que se
ligam transversalmente à avenida principal de acesso ao Conjunto Habitacional, denominada
Av. Manuel Mallmann Filho, possuindo no seu início uma rótula de ligação com a BR 287,
estrada que liga Santa Maria a São Pedro do Sul e cidades posteriores, fazendo com que o
Conjunto Santa Marta tenha mais opções de acessibilidade.
O sistema viário do loteamento é constituído pela avenida citada e mais duas ruas
paralelas principais, de fluxo de escoamento local, no sentido norte-sul; quatro ruas de mesma
função, no sentido leste-oeste; e demais ruas de entorno de quadra, com gabarito de 12,00 m,
sendo 7,00 m de pista de rolamento e passeios com 2,50 m em cada lado.
O loteamento foi projetado com todas as vias calçadas com pedra basálticas de
formato irregular e meio-fios de peças de concreto, e assim executado.
51
3.2.2 Infra-estrutura
O processo da execução do loteamento seguiu a seqüência convencional antes das
construções das casas, tendo sido implantadas as redes de energia, de água e esgotamento
pluvial em todo o traçado da malha viária, realizados pelas concessionárias estatais com sede
na cidade, bem como sido executado todo o calçamento da maior parte das ruas.
As ligações das redes ao sistema existente na cidade seguiram os parâmetros técnicos
normatizados à época sendo que o sistema de esgoto caracteriza-se por admitir fossa ptica e
ligação do líquido à canalização pluvial. Esta é dirigida a uma grande tubulação coletora ao
largo da BR 287, a qual escoa o material para o Arroio Cadena, afluente do Rio Vacacaí.
3.2.3 Áreas Verdes
Em cada Super-Quadra foi destinado dois conjuntos para lazer do tamanho de quadras
de lotes, denominadas QVs, podendo comportar as massas verdes de uso comum aos
moradores juntamente com os equipamentos para lazer, esporte e contemplação.
A legislação previa um mínimo de 10% da área do loteamento para verdes, e embora
os planejadores distribuíssem o percentual em toda a extensão do mesmo, parte dessa
quantificação foi buscada em área da divisa do Projeto, pertencente ao todo da antiga Fazenda
Santa Marta, fração de terras ao Noroeste, de matrícula 64.488, identificado na Figura 1.
3.2.4 Lotes e Habitações
Os lotes, próprios para habitação popular, foram delimitados com 250,00 m², variando
em alguns locais em vista da adequação ao desenho das quadras, daí terem a área modificada
para maior, sem haver modificação no preço, visto que o valor era estipulado para a moradia
de dois ou de três dormitórios. No entanto, a grande maioria dos lotes foi fixada com essa área
mínima exigida pela legislação e entregues aos moradores sem qualquer cercamento.
52
As unidades habitacionais foram concebidas com dois dormitórios (610 unidades) e
três dormitórios (262 unidades), com áreas em planta de 30,75 e 37,00 m²,
respectivamente, apontadas na Figura 3.3, e projetadas com as seguintes especificações
gerais:
a) fundações de alvenaria de pedra, sapatas e estacas Strauss com detalhes
apresentados pela empreiteira e que deveriam ser aprovados pela COHAB-RS;
b) lajes, vigas e escadarias, em concreto armado;
c) alvenarias externas e internas em tijolos de barro, maciços, tendo havido liberdade
para execução de pavimentos superiores, que poderiam ser com blocos cerâmicos
de 2, 4 ou 6 furos redondos, seguindo a EB-19;
d) opção para uso de blocos de concretos colados com resistência média de 25
kgf/cm² em paredes não estruturais, sendo de 14 cm para paredes externas e de 9
cm x 20 cm x 40 cm em paredes internas; no caso de paredes estruturais, 19 cm de
largura e resistência de 35kgf/cm².
e) a cobertura especificada era de telhas de cimento-amianto, tipo Canalete 90,
dispensando madeiramento;
f) Os forros internos poderiam ser optados entre as alternativas: forrinho de madeira
de pinho, chapas de madeira mineralizadas e chapas de gesso cartonado;
g) as tubulações foram definidas como sendo de PVC, embutidas nas paredes e fixas
com argamassa e grampos, tanto para hidráulicas como para elétricas; as
tubulações de esgoto interna foram especificadas como PVC, porém as externas
admitiam as manilhas de barro vitrificado;
h) foram definidas esquadrias de madeira nos compartimentos sociais e de ferro nas
dependências de serviço;
i) os pisos internos deveriam ser de tacos de madeira: canela escura, guatambú,
guajuvira ou peroba, sendo admitidas alternativas como pisos vinílicos, nas suas
varias formas; os pisos frios deveriam ser de cimento desempenado;
j) os revestimentos das alvenarias foram especificados como emboço interno e
externo com posterior execução de argamassa fina; no banheiro, cozinha e área de
serviço teriam uma barra impermeável de escaiola, com altura de 1,50 m;
53
k) o contra-piso foi idealizado como de concreto, e, em caso de confecção de subsolo,
devido ao desnível de terreno, uma laje de concreto faria a função;
l) a especificação prevê que as casas deveriam ser pintadas, com tinta tipo Chafer
Caiação” nas paredes externas. Internamente, receberiam um fundo isolante com
óleo de linhaça e posterior acabamento com tinta solúvel em água, tipo Turmalina
ou similar; os demais materiais teriam pinturas à óleo ou adequadas aos mesmos;
m) as casas deveriam ser entregues com todos os aparelhos e instalações funcionando
corretamente, inclusive com calçadas no pátio executadas.
Evidencia-se o rebatimento das plantas no processo de locação aos lotes, visto que, por
serem apenas dois modelos, em função do número de dormitórios (2 ou 3), estabeleceu-se o
critério de adequação à orientação solar e a outros condicionantes locais, como posição do
lote em relação à quadra, topografia do terreno e outros específicos. Desse modo, a fachada de
uma casa pode ter a janela de um lado ou de outro, dependendo do rebatimento de planta
adotado.
As alterações provenientes da falência e troca de Empreiteira, conforme depoimento do
líder comunitário, teve reflexos na qualidade da execução dos pisos, que, de lajes de concreto,
foram alterados para assoalhos de madeira, originando o que ficou caracterizado como “vícios
construtivos” e inúmeros processos de ressarcimento via Apólices de Seguro, que foram
abertos na 4ª Vara Cível, tiveram ganho de causa para os moradores, assim caracterizados:
1º processo – 266 casas;
2º processo – 253 casas;
3º e 4º processos – 75 casas.
Do total de 872 casas, 594 tiveram suas qualidades construtivas questionadas e
respaldadas através de perícia judicial (inspeção), e seus beneficiários ressarcidos,
particularmente devido à troca de materiais da especificação original por outros de qualidade
e tipologia inferior.
A Figura 3.3 mostra as Plantas Baixas das casas de dois dormitórios (2D) e três
dormitórios (3D) e suas edificações originais.
54
Figura 3.3 - Plantas Baixas das casas 2D e 3D e suas edificações originais.
Legenda:
D – dormitório
Cz – cozinha
S - sala
B- banheiro.
4 NÚCLEO HABITACIONAL SANTA MARTA – ESTUDO DE CASO
As possibilidades de aprendizado sobre pós-ocupação que o Núcleo Habitacional
Santa Marta apresenta revelam-se, nitidamente, nos visuais estampados nas edificações
alteradas. Não obstante, e circunstancialmente, as habitações originais que resistem a qualquer
mudança, também despertam o pesquisador para o estabelecimento de novas referências no
conhecimento.
Este caso oferece condições para o balizamento do custo-benefício de um loteamento
desse porte, tanto a nível global, quanto pormenorizado, resultando em uma contribuição ao
desenvolvimento da cidade, a partir dos objetivos propostos.
4.1 Metodologia proposta
A metodologia proposta para este trabalho, em sua primeira etapa, envolve os
moradores das casas contempladas na amostra, cuja opinião sobre as moradias darão
elementos indicadores para abordagem técnica, em uma segunda etapa.
Não obstante, a oportunidade de registrar tecnicamente alguns aspectos poderá ser
realizado concomitantemente, por ocasião das entrevistas aos moradores.
Para a efetivação do planejado foi esboçado um roteiro metodológico, assim
constituído:
a) Contato com técnicos do Órgão responsável pelo Empreendimento para obtenção de
documentos técnicos – plantas, orçamentos, etc;
b) definição do universo das unidades habitacionais a serem estudadas;
c) obtenção de dados socioeconômicos e projetos executivos completos do conjunto;
d) visitas de reconhecimento ao local e registros fotográficos;
e) apresentação da área de estudos para participantes dos levantamentos de campo e
dos diagnósticos;
f) formulação e aplicação do questionário pré-teste para aferir níveis de satisfação dos
moradores;
g) formulação e aplicação dos formulários definitivos para o número de moradores
resultado dos cálculos de amostragem;
56
h) leitura dos projetos executivos, especificações técnicas e planilhas de custos
originais;
i) pré-testes das vistorias técnicas, incluindo levantamento do mobiliário,
equipamentos;
j) aplicação definitiva das vistorias técnicas em percentual da amostra;
l) análise comparativa entre satisfação do usuário (questionário) e resultados das
vistorias técnicas;
m) análise e avaliação das alterações/evoluções do conjunto habitacional;
n) diagnóstico final;
o) diretrizes e recomendações para futuros projetos semelhantes; e
p) inserção de mídia sobre o trabalho.
4.2 Determinação da Amostra
O conjunto habitacional possui 872 casas, das quais 610 com 2 dormitórios e 262 com
3 dormitórios. Para determinação do número amostral, optou-se por uma proporcionalidade
distribuída entre os dois tipos de edificações, em quantidade superior ao determinado por uma
escolha formulada:
Se n/N = amostra, onde n≥30 e N a população total 30/872 = 0,034 =3,4 %.
Para representatividade maior, justifica-se a elevação da quantia para 20%,
abrangendo os dois tipos de casas:
Para 2 dormitórios: 122 unidades.
Para 3 dormitórios: 53 unidades.
Total de habitações a serem analisadas: 175.
4.3 Entrevistas com moradores
O instrumento para medir o vel de satisfação dos usuários do conjunto habitacional
foi o questionário (Apêndice A) aplicado pela equipe de seis alunos pesquisadores, cada qual
responsável por um Setor da malha urbana, onde foram distribuídas, aleatoriamente, trinta
unidades habitacionais, sendo 9 com três e 21 com dois dormitórios.
57
O procedimento previu entrevista com o morador, de modo a ser possível algum
esclarecimento padronizado, em caso de dúvidas sobre as questões. Reunião anterior entre os
pesquisadores definiu o padrão de atitude em possíveis questões polêmicas, reforçado com
reuniões de avaliação durante o processo.
Essa etapa transcorreu com ampla recepção e colaboração dos moradores,
demonstrando satisfação pelo interesse de uma Instituição Educacional e de seus integrantes
em realizarem este estudo, caracterizado pelos objetivos construtivos qualitativos.
A aplicação do questionário, nos meses de maio e junho, considerou os dias com clima
favorável, a disponibilidade de horário dos pesquisadores e também dos próprios moradores,
que, por vezes, levou a entrevista para fins de semana e feriados, numa situação de conforto
para os trabalhos.
As respostas obtidas foram tabuladas em quadros, separados por blocos de assuntos, a
seguir transcritos.
a) DESCRIÇÃO DO IMÓVEL
O Quadro 4.1 apresenta os modelos de unidades habitacionais pesquisadas. Das 175
unidades previstas no cálculo da amostra, foram visitadas 167 casas, deixando-se de avaliar
apenas 8 moradias, em função de impedimentos diversos.
Unidade habitacional modelo
2 dormitórios 3 dormitórios Original Modificada
97 70 15 152
Quadro 4.1 – Quantificação dos modelos das unidades habitacionais visitadas
b) COMO A CASA FOI ENTREGUE
Todas as unidades foram entregues prontas para moradia, com paredes divisórias
internas e instalações adequadas e em funcionamento.
58
Houve opções no revestimento do piso nas demais peças, no entanto, cozinha e
banheiro receberam cimento alisado em todas as unidades, cujas esquadrias eram de ferro,
diferentemente da sala e dormitórios, que eram de madeira, de acordo com o Quadro 4.2.
Piso
Cimeto alisado 167
tacos 75
assoalho 92
outro 0
Paredes internas
com 167
sem 0
Aberturas
madeira 167
ferro 0
Instal. Hidr./Etricas
com 167
sem 0
Forro
madeira 140
aglomerado 27
Estrutura do telhado
madeira 167
metálica 0
Quadro 4.2 – Componentes das unidades habitacionais, na entrega
c) CARACTERÍSTICAS DO CONJUNTO HABITACIONAL
A condição urbana do conjunto está identificada na infra-estrutura, cujas opiniões dos
moradores foram registradas no Quadro 4.3, incluindo acessibilidade, pavimentações e
arborização.
59
Pavimentação da rua
Asfalto
2
Paralelepípedo
0
Pedra irregular 165
Saibro 0
Passeio público (calçada)
Sim
165
Não
2
Tipo de pavimentação do passeio público
Pedras 31
Grama
12
Brita
5
Concreto 35
Outros 84
Arborização passeio público
Sim
101
Não 66
Infraestrutura Urbana do bairro
Muito boa
Boa Ruim Inexistente
Não soube
dizer
Centro comunitário 0 18 25 76 48
Praça 3 45 63 10 46
Transporte 25 129 12 0 1
Creche
14
136
6
0
8
Escola
23
132
5
0
7
Posto de saúde 12 116 35 0 4
Posto policial 3 77 70 6 11
Mercado 14 136 17 0 0
Farmácia 10 125 28 0 4
Padaria 15 111 23 15 3
Iluminação pública
2
111
54
0
0
Abastecimento de água
3
126
3
8
0
0
Coleta de lixo 20 141 6 0 0
Telefone público 3 78 62 3 21
Acessibilidade quanto a
Muito boa Boa Ruim Péssimo
Trabalho 8 144 14 1
Comércio
7
111
41
8
Serviços
3
117
41
6
Educação
13
144
10
0
Lazer
4
81
60
22
Transporte coletivo 23 139 5 0
Saúde
5 120 42 0
Quadro 4.3 – Dados coletados sobre infra-estrutura urbana e acessibilidade
d) CARACTERÍSTICAS DO LOTE
Enfocando ainda as características, o Quadro 4.4 apresenta dados referentes aos lotes,
enfocando dimensões, drenagem, topografia e vegetações.
60
Dimensões da testada
7,00m
0
8,00m
2
9,00m 0
10,00m 158
11,00m 4
>11,00m 3
Dimensões da profundidade
10,00
-
15,00m
0
15,00
-
20,00m
9
20,00
-
30,00m
158
Drenagem
Seco 98
Úmido 60
Alagadiço 9
Topografia
Plano 122
Acident./Incl. 45
Nível do terreno em relação a rua
Acima
70
No nível
92
Abaixo 5
Inclinação do terreno
Longitudinal
(frente/fundo)
Nivelado 135
Aclive 20
Declive 11
Transversal
(lado a lado)
Nivelado 153
Aclive 6
Declive 8
Proteção do terreno
C
ercado
59
Murado
105
Não possui 3
Possui árvores no terreno
Sim 128
Não
39
Tipo de árvore
Pequena 19
Média 50
Grande
8
Frutífera
50
Quadro 4.4 – Características dos lotes
e) CARACTERÍSTICA DA UNIDADE HABITACIONAL
As unidades habitacionais foram caracterizadas pela idade de construção, distinguindo
o número de casas originais das reformadas encontradas na amostra, o tipo de uso destinado à
edificação pela família, e dados em relação à renda, indicados no Quadro 4.5
61
Idade da construção (em anos)
Original
8
Reformada 159
até 3 14
até 4 3
até 5 10
até 6
4
até 7
3
mais de 7
125
Origem da última moradia Área de risco
Sim 3
Não
164
Situação atual Aluguel
Sim
44
Não
123
Uso da unidade habitacional
Unifamiliar 142
Multifam
iliar
14
Misto
11
Renda familiar
( em reais)
0-400 7
401-700 27
1000-1500 43
1500-2000 33
mais de 2000 22
Quadro 4.5 – Características da unidade habitacional e aspectos sociais.
f) ASPECTOS AMBIENTAIS
É importante a avaliação ambiental, especialmente em casos de alterações na edificão
original, em que o morador aponta conceitos sobre a orientação solar, registrados no Quadro 4.6.
Orientação solar
Quartos
muito boa boa ruim péssimo
23 116 26 2
Salas 17 119 26 5
Cozinha/Banheiro 11 118 34 4
Quadro 4.6 – Conceitos sobre aspectos ambientais
g) AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ESTRUTURAL
Os aspectos sobre desempenho estrutural são apresentados no Quadro 4.7, como
existência de trincas, passagem de água e vento por frestas e algum fato deformativo.
62
As paredes apresentam trincas:
Sim 87
Não 80
Há passagem de vento por
algerozas
Sim
4
Não 163
Há passagem de água de chuva
Sim
18
Não 149
A fundação possui trincas
Sim
13
Não 154
Fundação sofreu deformação
Sim
15
Não 152
Quadro 4.7 – Informações sobre desempenho estrutural
h) JANELAS SUBSTITUÍDAS
Os componentes janelas tiveram atenção dividida em dois enfoques: as esquadrias
substituídas por motivos diversos – Quadro 4.8.1, e as originais restantes, que ainda
resistem ao tempo, Quadro 4.8.2, ambas funcionais em mesmas unidades.
Passagem de água – chuva forte
Sim
19
Não 148
As janelas fecham perfeitamente
Sim 16
Não 151
São ideais quanto à segurança
Sim 107
Não 60
Ideais quanto à ventilação
Sim 152
Não
15
Ideais quanto à iluminação
Sim 159
Não 8
Algum tipo de ruído – vento forte
Sim 26
Não 141
Sofreu deterioração/desgaste
Sim
68
Não 99
Material
Ferro 113
Madeira 46
PVC 0
Misto 0
Quadro 4.8.1 – Questões sobre janelas substituídas
63
i) JANELAS ORIGINAIS RESTANTES
Passagem de água – chuva forte
Sim
0
Não 7
As janelas fecham perfeitamente
Sim 4
Não 3
São ideais quanto à segurança
Sim 3
Não 4
Ideais quanto à ventilação
Sim 6
Não
1
Ideais quanto à iluminação
Sim 6
Não 1
Algum tipo de ruído – vento forte
Sim 4
Não 3
Sofreu deterioração/desgaste
Sim
4
Não 3
Material
Ferro 3
Madeira 4
PVC 0
Misto 0
Quadro 4.8.2 – Questões sobre janelas originais restantes
j) PORTAS EXTERNAS SUBSTITUÍDAS
As portas externas tiveram a mesma atenção que as janelas, subdivididas em dois
grupos, visto que também foram discriminadas pelos moradores, informando suas qualidades ,
como naquelas substituídas – Quadro 4.9.1 e as restantes originais- Quadro 4.9.2.
Passagem de água – chuva forte
Sim 24
Não 136
Fecham perfeitamente
Sim
119
Não 39
Sofreram alguma deterioração
Sim
90
Não 69
Ruído p/ fechamento c/vento
Sim 17
Não
123
Material
Ferro 104
Madeira 28
Outro 4
Quadro 4.9.1 – Questões sobre portas externas substituídas
64
k) PORTAS ORIGINAIS RESTANTES
Passagem de água – chuva forte
Sim 0
Não 7
Fecham perfeitamente
Sim 6
Não 1
Sofreram alguma deterioração
Sim 6
Não 1
Ruído p/ fechamento c/vento
Sim
2
Não 5
Material
Ferro 2
Madeira 5
Quadro 4.9.2 – Questões sobre portas externas originais restantes
l) PISOS
Os dados coletados sobre os pisos enfocaram a manutenção do tipo original e sua
durabilidade no tempo e possíveis patologias, indicados no Quadro 4.10.
Revestimento original
Sim 97
Não 70
O piso sofreu alguma das seguintes
patologias/deformações
Fissuras
40
Inclinação 40
Outros 61
Não 26
Quadro 4.10 – Piso original e possíveis patologias
m) TELHADO
No item cobertura foram enfocados os aspectos sobre o desempenho funcional nas
intempéries e sua duração, além do comportamento do material em relação ao clima, como
indicado no Quadro 4.11.
65
Infiltração de água p/ cobertura
Sim
51
Não
116
Problemas cobertura – ventos/chuva
Sim
53
Não
118
Cobertura é favorável – calor
Sim 134
Não
33
Beiral
20 a 30 cm 17
30 a 40 cm
76
40 a 50 cm
73
> 50 cm
1
Tipo de cobertura
Metálica 0
Fibrocimento
19
Telha
147
Outra
1
Estrutura
Metálica
0
Madeira
167
Trocou cobertura original
Sim 65
Não
102
Se trocou, qual o material utilizado
Metálica
0
Fibrocimento
12
Telha
52
Outra
1
Quadro 4.11 – Informações sobre comportamento da cobertura
n) FORRO
Quanto ao forro interno, foram coletadas informações sobre a qualidade do
componente e troca de materiais, tanto por motivo de restauração, como também de
prevenção, fazendo os números ficarem desencontrados, como mostra o Quadro 4.12, pois a
quantificação de materiais supera as alterações ( patologias) constatadas.
Houve alguma alteração
Sim 76
Não 91
Qual o tipo de material utilizado
Madeira 79
PVC 9
Outro 18
Quadro 4.12 – Alterações nos forros internos e troca de materiais
66
o) BANHEIRO
O banheiro, por ser uma área sensível quanto à umidade teve a consulta dirigida para
este enfoque, e suas alterações, como indicado no Quadro 4.13.
Alteração no revestimento
Sim 136
Não 31
Qual o material utilizado
Cerâmico
125
PVC 0
Outro 11
O banheiro sofreu alguma das seguintes patologias
Umidade
68
Aprodrecimento 29
Outros
7
Não 63
Quadro 4.13 – Alterações nos banheiros e patologias apresentadas
p) INSTALAÇÕES HIDROSSANITÁRIAS
No que concerne as instalações hidrossanitárias e elétricas, o questionamento levou a
dados expressivos quanto a alterações, anotados nos Quadros 4.14.1 e Quadro 4.14.2.
Sofreram alterações
Sim
104
Não
63
Necessitou algum tipo de manutenção
Sim
113
Não
54
O morador fez a própria alteração
Sim
84
Não
23
Houve algum dos seguintes problemas nas
instalações hidráulicas
Mau funcionamento dos aparelhos
16
Pequena pressão no chuveiro 35
Pequena pressão descarga vaso 25
Entupimentos 55
Vazamentos 55
Mau cheiro 36
Alteração do consumo de água 16
Outros 25
Quadro 4.14.1 – Dados sobre instalações hidrossanitárias
67
q) INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
Instalações Elétricas: alterações
Sim 84
Não 83
Houve algum problema nas instalações elétricas
Choques 4
Falta de interruptores 10
Falta de tomadas 43
Pouca iluminação 7
Outros 42
Quadro 4.14.2 – Dados sobre instalações elétricas
r) DIVISÓRIAS INTERNAS (paredes)
As divisórias internas foram concebidas no projeto original da mesma forma que o
material das paredes externas, exclusivamente de alvenaria, tal como revela o Quadro 4.15.
Qual o material utilizado nas divisórias
Alvenaria 167
Madeira 0
PVC 0
Outros
0
O morador fez alteração interna
Sim
146
Não 21
A casa possui paredes duplas
Sim
0
Não 137
Quadro 4.15 – As divisórias internas
s) ADEQUAÇÃO DIMENSIONAL, FÍSICA E FORMAL
Sob o enfoque de adaptação ao uso, foram solicitadas aos moradores avaliações
quanto ao nível de satisfação (Quadro 4.16), revelando inclusive a adequação dos mesmos ao
projeto original, em alguns aspectos, e ficando desconfortáveis, em outros.
68
Peça
O tamanho de cada pa é adequada Avaliação
Sim Não Ótimo Bom Ruim Péssimo
Sala
97 70 10 92 58 7
Dormitório
91 76 14 76 71 6
Cozinha
87 80 11 75 76 5
Banheiro
80 87 4 76 79 8
Necessita de aumento na casa
Sim
149
Não 18
O morador fez a própria alteração
Sim 143
Não 24
Como você classifica a aparência da casa
Muito boa 12
Boa 127
Ruim 24
Péssima 4
Quadro 4.16 – Informações sobre adequação dimensional, física e formal
t) AMPLIAÇÃO, MODIFICAÇÃO INTERNA E EVOLUÇÃO
Os dados coletados a partir do enfoque sobre a qualidade e tipologia dos materiais
usados nas modificações revelaram, inclusive, que houve acréscimo significativo no número
de cômodos e área construída, como indica o Quadro 4.17.
Dificuldade de ligação entre paredes
Sim
30
Não 101
Dificuldade de abrir novas aberturas
Sim 16
Não 105
Alteração de instalação elétrica e
hidráulica
Sim 104
Não 24
Qual o tipo de piso de cada peça
Sala de estar
Cerâmico
Vinílico
Madeira
Forração
Cimento
59
7
101
0
0
Dormitórios 58 5 101 2 1
Cozinha 147 2 2 0 16
Sanitário 147 2 2 0 16
Área de serviço
107 1 4 0 31
Garagem 86 0 0 0 31
Número atual de cômodos
Sala 202
Quartos
394
Outros
479
To
tal
1075
Original 868
Diferença 207
Quadro 4.17 – Dados sobre ampliações, modificação interna e evolução
69
u) CONFORTO HIGROTÉRMICO
O Quadro 4.18 informa como se comporta a unidade habitacional sob aspectos
climáticos, na opinião dos moradores.
Como é a temperatura da casa no verão
Muito boa 2
Boa 115
Ruim 46
Péssimo 4
Como é a temperatura da casa no inverno
Muito boa
1
Boa 90
Ruim 73
Péssimo 3
Cômodo que não pegue sol
Sim 67
Não 100
Como é a ventilação
Muito boa
10
Boa 145
Ruim 12
Péssimo 0
Quadro 4.18 – Opiniões sobre conforto higrotérmico
v) DURABILIDADE
No item durabilidade dos componentes da edificação a incidência maior das
informações apontou para o desgaste das peças durante os 28 anos de existência do conjunto
residencial (Quadro 4.19).
Houve necessidade de reposição de peças devido à:
Ferrugem Desgaste
Quebra de
reboco
Quebra de
aparelhos
Quebra de
ferragens
outros
31 106 24 23 61 34
Quadro 4.19 – Informações sobre durabilidade dos componentes
70
4.4 Vistoria Técnica dos imóveis
Por ocasião da entrevista, os pesquisadores registraram os casos em que a avaliação
técnica deveria ser feita, no decorrer da etapa seguinte, dividida em dois enfoques:
levantamentos amostrais sobre as ampliações e reformas executadas, registro das patologias
encontradas.
O ponto de referência para a vistoria técnica foi o próprio usuário da moradia, cujo
convívio com o objeto do estudo é o maior indicador de constatações sobre a qualidade e
durabilidade dos materiais e do sistema construtivo do qual usufrui. Deste modo, as
patologias puderam ser localizadas, quantificadas, registradas e catalogadas, para análise mais
detalhada, tanto no local, como posteriormente, através de fotografias. A apresentação dos
dados da vistoria técnica são apresentados junto com a análise, no Capítulo 5.
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS E EVOLUÇÃO DO CONJUNTO
HABITACIONAL
5.1 Nível de satisfação dos usuários
5.1.1 Descrição do imóvel
Da amostra pesquisada de 167 unidades habitacionais, sendo 97 de dois dormitórios e
70 de três dormitórios, constatou-se que apenas 15 unidades permanecem com suas
características originais, havendo sido feito modificações em 152 moradias, ratificando a
leitura visual da crescente descaracterização do conjunto habitacional como um todo, e as
demandas familiares por melhor acomodamento.
As unidades são de alvenaria convencional, com estrutura da cobertura de madeira e
telhas cerâmicas, com janelas de ferro tipo basculante na cozinha e banheiro, e as demais
janelas em dormitórios e sala , sendo de madeira, tipo guilhotina, mesmo material das portas
internas e externas. Os pisos encontrados foram de dois tipos: cimento alisado nas cozinhas e
banheiros, e variando entre assoalho e tacos nas salas e dormitórios. Os forros também
tiveram variação entre madeira forrinho convencional- e madeira aglomerada tipo prensada
e mineralizada com cimento.
5.1.2 Entrega da casa
As casas foram entregues aos moradores com os componentes previstos nas
especificações, com instalações elétricas e hidráulicas funcionando, guardadas as alterações
liberadas pela fiscalização, o que inclui os dados revelados, diferenciando, em algumas
unidades, a execução de pisos, de acordo com a solução de alicerce e topografia do terreno.
Assim, em terrenos mais acidentados, a colocação de assoalho foi preferida; em terrenos mais
planos, os tacos de madeira puderam ser colocados, embora em menor quantidade, como
mostra a Figura 5.1.
72
Figura 5.1 – Tipos de pisos originais das casas
5.1.3 Característica do conjunto habitacional
Tendo sido o loteamento entregue com arruamento, meios-fios, energia e esgotamento
pluvial, a pavimentação geral das ruas foi de pedra irregular de basalto, sendo que apenas
duas casas da amostra apresentaram via frontal com pavimento asfáltico (na avenida).
Os passeios públicos, pavimentados de acordo com os moradores, tem um perfil
diverso, como aponta a Figura 5.2, em números reais da amostra.
Figura 5.2 – Tipos de pavimento no passeio público
73
O maior volume de revestimentos nos passeios, definidos como outros, possui
diversidade de aplicação de materiais cerâmicos.
Quanto à infra-estrutura urbana, níveis indicados na Figura 5.3, apresenta uma
aceitação concentrada no conceito bom, em que os usuários revelam estarem contentes com
esses elementos do bairro.
Figura 5.3 Avaliação sobre a Infra-estrutura do Bairro
O Centro comunitário foi apontado pelos moradores como inexistente tendo sido
implantado, em seu lugar, o Posto de Saúde. As funções exercidas pelo então Centro
Comunitário, cuja concepção abrange uma série de suportes à comunidade, atualmente são
exercidas parcialmente pela Associação dos Moradores, que realiza reuniões e atividades
eventuais, conforme os entrevistados.
O posto de Saúde, embora tenha atendimento satisfatório, deixa a desejar na questão
do período de atendimento, pois funciona em horário comercial, ocasionando deslocamento
de pessoas para o Posto do Bairro Tancredo Neves ou PA, do Bairro Patronato. Para as
famílias de baixa-renda, isto é tido como transtorno.
As praças de lazer obtiveram escore baixo devido ao abandono, uma vez que “a
manutenção é inversamente proporcional ao vandalismo” afirmam os moradores.
74
Uma queixa bastante genérica é a respeito do Posto Policial, apontado como deficiente
em presença extensiva de militares, demorando no atendimento, quando a população o solicita
nas proximidades de suas residências, o que implica na sensação elevada de insegurança
pública. Essa assertiva está demonstrada no gráfico, que juntamente com o telefone público,
divide os escores entre bom e ruim.
O destaque positivo é para o transporte coletivo, cujo nível de satisfação (80%)
superou os demais itens, em função do trajeto dos ônibus de diversas linhas incluir o conjunto
Santa Marta.
Os demais aspectos da infra-estrutura possuem uma boa qualificação, na opinião dos
moradores.
Considerando o conjunto de 14 itens relacionados à infra-estrutura urbana, a avaliação
dos moradores contabilizou os percentuais distribuídos do conceito muito bom explicitados no
gráfico da Figura 5.4, destacando-se Transporte (17%) , Escola Estadual (16 %), Coleta do
lixo (14 %) e Mercado e Padaria (10 %).
Figura 5.4 – Percentuais do Conceito Muito Bom para a infra-estrutura urbana
O grau de facilidade para a população chegar aos locais de destino acessibilidade -
foi apontado, em sua maioria, como positivo, considerados os setores: trabalho, comércio,
serviços, educação, lazer, transporte coletivo e saúde .
75
A Figura 5.5 mostra que o conjunto habitacional apresenta uma distribuição uniforme
de setores para atendimento da população, destacando-se três setores de maior facilidade de
acesso - transporte, educação e trabalho, integrados entre si.
Figura 5.5 – Avaliação sobre acesso a setores da infra-estrutura urbana
5.1.4 Características do Lote
Como visto nas descrições iniciais, os lotes possuem a dimensão mínima padrão de
10,00m x 25,00 m (95%), excetuando-se aqueles raros que receberam uma configuração
diferenciada para efeito de enquadramento no desenho urbano, comprovados no levantamento
realizado e identificado nos percentuais da Figura 5.6.
76
Figura 5.6 – Percentuais constatados nas dimensões dos lotes- testada e profundidade
Sob o aspecto da drenagem, o resultado da consulta aponta para uma questão tida
como problemática pelos moradores: o esgotamento pluvial e cloacal. No caso de terrenos
mais baixos que o nível da rua, o fluxo de águas tende à jusante, tornando o terreno do
vizinho de fundos úmido ou alagadiço, invariavelmente tendo sido necessário a execução de
drenos de profundidade média para contornar o problema.
Como indicado na Figura 5.7, os lotes considerados úmidos e alagadiços pelos
moradores somam 41% dos casos deste item, podendo ser considerado alto, em termos de
saúde pública, pois o teor de umidade é favorável a proliferação de doenças, particularmente
aquelas derivadas de fungos.
Figura 5.7 – Percentuais relativos à drenagem
77
A caracterização topográfica do assentamento é de uma coxilha da antiga Fazenda
Santa Marta, no sentido transverso do montante, cujo planejamento, mostrado na planta geral,
adotou um desenho de quadras e lotes mais favorável em relação à topografia e situações de
drenagem urbana. Este fato está comprovado no percentual relativo à topografia, inclinação
do terreno e nível do terreno em relação à rua, apontados no gráfico da Figura 5.8.
Figura 5.8 – Dados relativos à conformação dos lotes
Os imóveis foram entregues sem qualquer cercamento dos lotes. Atualmente, sob
iniciativa dos moradores, e demonstrado na pesquisa, pode-se apontar dois tipos de proteção,
muro ou cercas, estas sendo de grades de ferro ou simples cercas aramadas com vedação
vegetal.
Por necessidade de segurança e estética, a proteção ocorre também com a utilização
conjunta desses elementos. A Figura 5.9 identifica o percentual de uso dos elementos de
proteção, onde 63 % representam muros.
Figura 5.9 – Preferências na proteção do terreno
78
O perfil geológico do solo condiciona a existência ou não de árvores nos lotes,
independente da vontade dos moradores, uma vez que, no tempo da existência do loteamento,
diversos moradores tentaram, em vão, manter árvores frutíferas, sem sucesso. O fato,
particular em alguns lotes, deveu-se ao solo arenoso pouco profundo, seguido por um subsolo
argiloso e impermeável, causador do excesso de umidade entre as duas camadas, e
conseqüente apodrecimento das raízes. Não sendo uma regra, porém, a vegetação se faz
presente nos terrenos onde as condições são propícias, tendo sido registrados na pesquisa,
como mostra a Figura 5.10.
Figura 5.10 – Incidência e tipos de árvores nos lotes
5.1.5 Características da unidade habitacional
Embora a concepção do projeto tenha sido residencial, uma alteração mínima ocorreu,
como acontece em loteamentos semelhantes, quando um percentual dos moradores estende a
residência a outro familiar, tornando-a multifamiliar, bem como o uso simultâneo comercial
passa a servir de apoio à sobrevivência de algum membro da família. A Figura 5.11
contempla este fato.
79
Figura 5.11 – O uso da unidade habitacional.
As alterações realizadas pelos moradores na edificação sejam reformas, sejam
aumentos, pode-se afirmar comprovadamente demonstrado na Figura 5.12, concentram-se em
período além dos sete anos passados, com 79 %, claramente vinculados ao crescimento do
número de pessoas da família e suas necessidades de moradia. Atente-se que, pela data de
constituição do loteamento 28 anos, formou-se uma nova geração de moradores na Santa
Marta.
Figura 5.12 – Idade das construções.
Em relação à renda familiar dos moradores, verifica-se incidência preponderante até 5
salários mínimos vigentes, para os quais foi criado o loteamento, mantendo esta condição na
80
atualidade, sendo superado unicamente por uma faixa de 13 % (acima de 2000 reais de
salário), conforme atesta a Figura 5.13, estratificando os dados.
Figura 5.13 – Percentuais relativos à renda familiar
5.1.6 Aspectos ambientais
A avaliação dos usuários quanto à orientação solar, englobando tanto o projeto
original quanto as reformas e ampliações, tem um conceito amplo aceitável, apontado na
Figura 5.14, sendo que, a avaliação se repete para os cômodos da residência.
Figura 5.14 – Percentuais e valores reais sobre cômodos da residência, quanto a aspectos
ambientais
81
5.1.7 Avaliação do desempenho estrutural
As alterações vistas nas casas e citadas pelos moradores, foram quantificadas na
pesquisa, que expressas na Figura 5.15, podem ser comparadas. Enquanto que as trincas nas
paredes aparecem em mais da metade das unidades da amostra( 52 %), as trincas presentes em
fundações estão em número diminuto (8%), portanto, não havendo correlação. Ademais, as
trincas podem ter origens diversas, especialmente se forem superficiais.
No entanto, a semelhança dos dados quanto à deformação nas fundações estabelece
vinculo no segundo caso. Este item será analisado por ocasião da vistoria técnica.
Figura 5.15– Incidência de trincas em paredes e fundação e deformação em fundações
A substituição dos componentes das residências revela o desgaste prematuro dos
mesmos, quando os usuários deram preferência para os mais duráveis, como atesta a Figura
5.16, que mostra a troca de esquadrias em todas as unidades da amostra (167).
Semelhante fato ocorreu com as portas, visto que restaram poucas originais. O
componente substituto preferido é a porta metálica industrializada, tal como as janelas, e suas
quantificações, informadas pelos moradores é semelhante, insejando que a troca foi feita
simultaneamente.
Fato inverso ocorreu quanto à avaliação da cobertura original por parte dos moradores.
Os dados coletados revelam, na Figura 5.17, que o telhado cerâmico, de telha francesa, tem
cumprido sua função, utilizadas em ampla maioria das unidades consultadas, não havendo
necessidade de substituição em 61% dos casos. Eventualmente, os moradores substituiram
madeiras da estrutura, corrigindo flexões.
82
Figura 5.16 – Valores reais e percentuais sobre materiais de janelas substituídas
Nos casos de trocas de material (39 %) a preferência recaiu sobre as telhas cerâmicas
em sua maioria, no entanto, tipo romana ou portuguesa, expressões de atualidade, formando
conjunto com as alterações nas fachadas das casas.
Figura 5.17 Quantificações sobre tipo de cobertura constatada e nos casos de
substituições
5.1.8 Piso
A pesquisa demonstrou que o revestimento original do piso ainda persiste no tempo
em 58 % das habitações, todavia, as substituições motivadas por deformações, cuja incidência
é apontada na Figura 5.18, recebendo a denominação de outros, dos quais é significativa a
83
participação de agentes biológicos como fungos e cupins e consequentes apodrecimentos,
conforme os usuários. Os materiais substitutos estão indicados em outro capítulo (p. 88).
Figura 5.18 - Percentuais relativos ao piso e quantificações das deformações
5.1.9 Forro
Durante as entrevistas com os moradores foi expresso que as modificações realizadas
nos forros das casas tinham motivação concentrada no apodrecimento por ão de agentes
biológicos e insetos, no que resultou, conforme a Figura 5.19, em amplo percentual de
substituição dos materiais, havendo, no entanto, preferência pelo forrinho de madeira, mais do
que outros.
Figura 5.19 – Alterações constatadas nos forros e seus materiais
84
5.1.10 Banheiro
A simplicidade do revestimento destinado aos banheiros cimento alisado no piso e
escaiola nas paredes ensejou aos moradores a substituição por material mais moderno, uma
vez que no período, a indústria da cerâmica aprimorou-se vertiginosamente, dando opções
variadas aos usuários, como atestam os dados da Figura 5.20.a.
Figura 5.20.a – Percentuais de alterações constatadas nos banheiros e seus materiais
No entanto, outros motivos foram determinantes para tal fato, uma vez que as
patologias surgidas nos banheiros (Figura 5.20.1), conforme os moradores, oportunizaram a
substituição dos revestimentos.
Figura 5.20.b – Percentuais de patologias nos banheiros, informadas pelos usuários
85
5.1.11 Instalações Hidrossanitárias
Os moradores enfrentaram diversos problemas nas instalações hidrossanitárias,
conforme dados da Figura 5.21, tornando inevitável a intervenção nas instalações (62%) , seja
para correção, seja para acréscimos vinculados às reformas e aumentos da área construída.
A manutenção foi necessária no dobro de casas em que que não houve problemas nas
instalações, sendo revelado que o próprio morador tomou a si esta tarefa. Note-se que dois
extremos quanto ao fluxo entupimentos e vazamentos foram os problemas com maior
incidência apresentados pelos entrevistados.
Figura 5.21 – Problemas nas instalações hidrossanitárias e incidência de alterações
5.1.12 Instalações Elétricas
Foram apontados problemas relativos às instalações elétricas por 63% dos moradores
da amostra, concentrando em dois pontos: a falta de tomadas e outros casos, que engloba o
desgaste aparente da fiação, particularmente. No primeiro caso, deve-se ao fato de que o
número de aparelhos eletrodomésticos cresceu e variou bastante no período, exigindo mais
tomadas na cozinha das casas.
As alterações realizadas para suprir os aumentos de construção oportunizaram troca da
fiação, no entanto, permanecendo com as instalações originais em igual número (50%)
86
conforme expressa a Figura 5.22, revelando confiança por parte dos usuários e que o projeto
foi adequado, por parte dos empreendedores.
Figura 5.22 – Problemas nas instalações elétricas e incidência de alterações
5.1.13 Paredes divisórias internas
A preferência nas alterações internas (Figura 5.23), amplamente realizadas pelos
próprios moradores, recaiu pela manutenção do sistema construtivo – alvenaria, também
seguida nos casos de ampliações.
Figura 5.23 – Alterações realizadas pelos moradores
87
5.1.14 Adequação dimensional, física e formal
A adequação das dimensões de projeto, de maneira geral tem a opinião dividida pelos
moradores, entre sim e não, conforme a Figura 5.24, com leve tendência para aprovação. Da
mesma forma o resultado da consulta em que foram solicitados conceitos para os diversos
cômodos, o equilíbrio permaneceu entre as faixas bom e ruim, revelando um certo e normal
acomodamento nas respostas.
Figura 5.24 – Incidências sobre adequação funcional e seus conceitos
A Figura 5.25 expressa a necessidade que os moradores tiveram para aumentar os
imóveis, pois a ampla maioria ( 89%) realizou obras, e por iniciativa própria (86%). Estes
dados revelam contradição com os anteriores, pois a necessidade de aumento foi bem maior
do que o mediano conceito de adequação dimensional, significando que, na realidade, as casas
estavam pequenas para as famílias.
Figura 5.25 – Necessidade de aumentar a casa
88
Após as reformas e aumentos a avaliação sobre a aparência das residências foi
expressa no sentido ambíguo de aparência estética geral e aparência física e formal, porquanto
os moradores tiveram alguns aspectos das suas necessidades satisfeitas, e reveladas na Figura
5.26.
Figura 5.26 – Conceitos sobre aparência física e formal da casa
5.1.15 Ampliação, modificação interna e evolução
Ao realizarem os aumentos, os moradores tiveram que fazer adaptações à construção
existente e acabada, porém, como registra a Figura 5.27, não demonstraram dificuldades nas
ligações entre paredes, por apresentarem materiais diferentes nas ligações, e nas aberturas das
paredes para colocação de esquadrias. Neste caso, houveram elogios para a resistência das
paredes.
As alterações resultaram em nova situação quanto aos pisos, com ênfase para as
cerâmicas, pela sua praticidade e facilidade de colocação, especialmentes nos aumentos.
89
Figura 5.27 – Incidências sobre aspectos técnicos nas obras e tipos de pisos resultantes
5.1.16 Conforto Higrotérmico
A avaliação dos moradores sobre o conforto higrotérmico, conforme a Figura 5.28
concentra-se entre boa e ruim, tanto no verão quanto no inverno, havendo leve
preponderância para aprovação.
Figura 5.28 – Avaliações sobre conforto relativo à temperatura, no verão e no inverno
5.1.17 Durabilidade
Os motivos para substituição de componetes e peças dos imóveis estão indicados na
Figura 5.29, onde se destacam o desgaste e quebras de ferragens, revelando fragilidade dos
90
componentes e possível baixa qualidade, esta sugerida por parte dos entrevistados, os quais
referiram-se à pouca idade da construção para haver tais ocorrência.
Figura 5.29 – Indicativos para substituição de peças e componentes
5.2 Análise das patologias das unidades residenciais
Durante as entrevistas com os moradores foram registradas doze habitações com
patologias notórias e que mereceriam análise técnica, sendo agrupadas por tipologia.
5.2.1 Fissuras por ligação das paredes
Embora o tenha havido dificuldade na maior parte das ligações entre paredes dos
aumentos com as da casa original, conforme os usuários, o percentual menor apresentou sinais
de trabalhabilidade das partes, retratado na Figura 5.30, caso em que um banheiro foi
acrescentado à lateral da edificação, visivel externamente. Note-se que a construção recebeu
uma laje de cobertura, representada pela aba aparente.
A principal causa está nas diferentes fundações a original, realizada através de
micro-estacas; a do aumento, realizada com sapata corrida, em terreno nivelado por meio de
aterro superficial. Neste, como em casos semelhantes, o acomodamento do material
depositado, através dos anos, acaba causando mobilidade na área construida sobre o mesmo,
aparecendo a fissura e acentuando-se mais ainda se a carga sobre os alicerces for elevada e a
91
sapata não for calculada de acordo. A amarração com grampos de aço não evitaria a
fissuração.
Figura 5.30 – Fissura em ligação de paredes – nova com antiga
5.2.2 Fissura por substituição de janela
A Figura 5.31 identifica uma fissura próxima da janela tipo industrializada, metálica,
que foi objeto de substituição, havendo necessidade de aumento da abertura na parede para
colocação desta esquadria. A ação enfraqueceu as amarrações originais da alvenaria,
enfraquecendo a parede como um todo, fazendo surgir as reações em forma de fissura.
Segundo o morador, este fato ocorreu tempos depois de a nova janela ter sido colocada.
92
Figura 5.31– Fissura devido à janela substituida
5.2.3 Fissura por movimentação das fundações
As fissuras ocorridas por distensão apresentada na Figura 5.32 deveram-se por
deslocamento a nível de fundação, pois atingiu várias paredes da mesma casa (SQ3 Q9 C10),
que foi construída em terreno de acentuado declive, havendo várias marcas da movimentação
da estrutura, tanto internamente como na fachada.
Figura 5.32 – Fissuras nas paredes por deslocamento da fundação
A Figura 5.33.a e 5.33.b seqüência de fotos da mesma unidade apresenta um caso
de fissuras por deslocamento de fundação em que uma das microestacas cedeu, ocorrendo a
fissuração por forças de reação negativa, ou seja flexão em balanço.
Figura 5.33.a – Fissuras nas paredes por deslocamento da fundação, vista externa
93
Figura 5.33.b – Fissuras nas paredes por deslocamento da fundação, vista interna
5.2.4 Deteriorização de materiais e componentes
Os materiais formadores dos componentes da construção estão sujeitos a desgastes
pelo uso, no entanto, estão sujeitos também à deteriorização através do tempo razoável pela
sua própria condição e característica, bem como de influências externas. Neste caso, o período
de 28 anos de existência do conjunto habitacional pode representar um tempo pequeno para
certos materiais, sob condições adequadas de manutenção.
A Figura 5.34 identifica componentes que poderiam durar mais - tacos de madeira -
pois encontram-se internamente, porém, por consequência de umidade do contrapiso sua vida
útil ficou reduzida. Mostra, ainda, casos de materiais externos - como madeiras dos beirais -
que, se não tiverem manutenção ideais, não resistirão ao tempo, tais como os exemplos
encontrados.
94
Figura 5.34 – Deteriorização – Tacos e beirais de madeira
O motivo para substituição dos componentes, especialmente portas e janelas, está no
desempenho dos materiais ou de sua construção. A Figura 5.35 ilustra uma porta original com
desenquadramento, resultando em fresta aparente, o tendo sido substituida em razão de
existir uma área coberta que dá guarida as intempéries. A segunda imagem mostra a parede de
um banheiro em que o fraco desempenho dos materiais foi determinante para expansão da
umidade.
Figura 5.35 Deteriotrização de componentes e mau desempenho de seus materiais-
porta e reboco
95
5.2.5 Deformações no piso por recalque do solo
A Figura 5.36 apresenta dois exemplos de afundamento do terreno ou do aterro
executado. O primeiro é uma calçada externa em que a cerâmica assentada apresenta
rachaduras devido ao movimento do solo, seguindo a linha da canalização de esgoto, o que
sugere possível vazamento na tubulação. A outra foto mostra a substituição do piso original,
(executado com cimento alisado) por cerâmica, que apesar do tratamento, ainda assim
apresenta pequeno afundamento. Este registro identifica outra questão: o botijão de gás está
ao lado do lavatório, revelando, claramente, problemas de espaços internos.
Figura 5.36– Deformações no piso por recalque do solo
Na constatação das patologias apontadas na pesquisa dois aspectos a serem
considerados:
1. Em 167 unidades da amostra (19,15% do universo), foram encontradas 12 casas
com patologias passíveis de registro (7,32 % da amostra e 1,38% do universo),
com algumas situações semelhantes, agrupadas na análise técnica.
2. A grande maioria dos usuários fez restaurações a contento, portanto, não se
podendo registrar os defeitos apresentados, sendo que as unidades que
apresentaram as patologias analisadas guardam a maior parte das características
originais, com poucas intervenções.
96
5.3 Análise do projeto das unidades habitacionais
5.3.1 Sistema construtivo e adequação das especificações às obras.
O sistema construtivo adotado é o motivo do sucesso relativo à estabilidade das
edificações, em sua ampla maioria, pois a estruturação das unidades habitacionais, na base e
no topo das paredes, através de cintas de amarração constituíram acerto no projeto.
A Figura 5.37 identifica o esquema do sistema construtivo e as estacas-broca de
fundação.
Figura 5.37 Esquema do sistema construtivo e detalhe das estacas e viga de fundação
aparentes
As fundações escolhidas para execução das casas levaram em conta o perfil do
subsolo, que apresenta em toda a região uma estratificação superficial arenosa, com cerca de
1,00 m de profundidade, para, em seguida apresentar uma camada resistente de argila
compacta, podendo variar entre dois tipos: argissolo distrófico típico, avermelhado, arenítico,
e o argissolo bruno acinzentado alítico, siltito. Esta subcamada foi condição adequada para
execução de estacas-broca em todas as casas vistoriadas, encimadas por uma viga de
fundação, enquadrando-se nas especificações, a partir do consentimento da Fiscalização das
obras.
97
Os contrapisos encontrados nas casas estão restritos à cozinha e banheiro, realizados
em concreto e acabados com cimento queimado, além do especificado, que deveria ser
somente desempenado.
Os pisos foram construídos de maneira diversa à especificação, pois a opção de
executar estacas-broca , ao invés de alicerce corrido, fez a empreiteira optar por assoalhos de
madeira (com porão ventilado) em percentual significativo das casas. Portanto, o uso de pisos
com tacos de madeira ou vinílicos exigiria uma laje de concreto como contrapiso na sala e
dormitórios, fato que encareceria a obra.
As alvenarias tanto interna como externamente foram executadas com blocos
cerâmicos de 6 furos, assentadas com argamassa de traço forte e rebocadas em ambas as
faces, tal como nas especificações.
As tubulações das instalações hidrossanitárias e elétricas seguiram os padrões
especificados, incluindo as manilhas de barro vitrificado, usadas no esgotamento cloacal
externo, muitas das quais substituídas por material de PVC pelos moradores, devido à
vazamentos.
A especificação previu um reservatório de fibrocimento, que foi instalado sob o
telhado, com 250 litros de capacidade, muitos dos quais trocados por outro de maior volume,
ou que foram isolados devido a problemas de pressão na rede interna de água. Nestes casos a
alimentação ficou direta.
Os forros internos de madeira e caixas do telhado, do mesmo material, tiveram uso
solicitado e aprovado pela Fiscalização, juntamente com as chapas de madeira mineralizadas e
gesso acartonado, que eram opções permitidas.
A cobertura do telhado, especificada como Canalete 90, de Fibrocimento, sem
madeiramento, foi descartada. A telha cerâmica tipo francesa foi a escolha definida, cuja
estrutura feita em madeira recebeu o ponto correto, embora as guias de 10 cm projetadas se
revelaram, no período, como frágeis, devido as flexões observadas em telhados e depoimentos
de moradores.
As esquadrias de madeira eram usuais à época, cujo tamanho pequeno está adequado
às dimensões dos compartimentos das casas e seguiram as especificações, incluindo as
esquadrias metálicas no banheiro e cozinha. Atualmente, inúmeras casas tiveram suas
esquadrias trocadas por peças metálicas industrializadas, em função de apodrecimento por
intempéries, fungos ou cupins. Da mesma forma, os assoalhos foram trocados por pisos
cerâmicos com utilização de aterros e contra-piso de concreto, por causa dos mesmos
elementos degradadores. Estes foram os geradores dos processos judiciais, visando
ressarcimento pelo seguro.
98
As pinturas, após 28 anos, sofreram alterações e sobre-camadas, tornando a caiação
original irreconhecível.
5.3.2 A concepção da moradia e possibilidades de ampliações
O projeto das unidades tem a tipologia destinada a mutuários de baixa-renda, na época
designada habitação popular”, enquadrando-se, portanto, na NBR 12721 versão 2006 na
terminologia “Residência Popular”, para projetos padrões (RPQ1) cujo valor do CUB base
janeiro/2008 regional está indicado em R$ 681,91 o m² (Revista do CREA/RS, nº 42, p.34).
Já, o CUB Ponderado, no mesmo mês, foi estipulado em R$ 957,57. Assim, o custo de
construção das casas, nessa data, seria:
- 2 dormitórios (30,75 m
2
): R$ 20.968,73, equivalente a 21,89 CUB Ponderado.
- 3 dormitórios (37,00 m²): R$ 25.230,67, equivalente a 26,35 CUB Ponderado.
A Lei Municipal 3941/95, de 27.12.1995, de Santa Maria, estabelece alguns
parâmetros sobre os projetos de habitações unifamiliares, assim descritos:
Art. 98 - As habitações unifamiliares estão isentas do disposto nos Capítulos III, IV
e VII no que for aplicável, executando-se (*) o Art. 51, os incisos II do artigo 77 e I,
II e III do artigo 79, deste Código”-
CAPÍTULO III - Materiais e Elementos de Construção
CAPÍTULO IV – Circulações
CAPÍTULO VII - Iluminação e Ventilação dos Compartimentos
*Art. 51 - Os materiais e elementos de construção deverão satisfazer às normas de
qualidade e segurança relativas à sua aplicação na construção, ao que dispõe a
ABNT e legislação pertinente em relação a cada caso, ficando seu emprego sob
responsabilidade do profissional que deles fizer uso.
Art. 77 - As cozinhas de uso privativo das unidades autônomas residenciais deverão ter:
I - Pé direito de 2,40 m (dois metros e quarenta centímetros);
*II - Paredes até a altura de 1,50 m (um metro e cinqüenta) e pisos revestidos com
material liso, lavável e impermeável;
III - Tampo com cuba;
IV - Permitir no mínimo a instalação, de um refrigerador, um fogão e um balcão de
pia, garantindo acesso aos mesmos com largura não inferior a 0,80 m (oitenta
centímetros), observadas as seguintes medidas mínimas conforme Anexo 03.
a) refrigerador - 0,70m x 0,70m
b) fogão - 0,60m x 0,60m
c) balcão para pia - 1,00m x 0,55m
Art. 79 - Os Sanitários deverão ter no mínimo o seguinte:
*I - Pé direito de 2,20 m (dois metros e vinte centímetros);
*II - Paredes até a altura de 1,50 m (um metro e cinqüenta centímetros) e pisos
revestidos com material liso, lavável, impermeável e resistente;
*III - Vaso sanitário e lavatório;
IV - Dimensões tais que permitam a instalação dos aparelhos, garantindo acesso
com largura não inferior a 0,60 m (sessenta centímetros). Observadas as seguintes
medidas mínimas conforme Anexo 05:
a) lavatório - 0,50m x 0,40m
99
b) vaso - 0,40m x 0,60m
c) bidê (uso opcional) - 0,40m x 0,60m
d) local para chuveiro com largura tal que permita a inscrição de um circulo com
diâmetro mínimo de 0,80 m (oitenta centímetros).
Parágrafo Único - Pelo menos um dos sanitários de cada unidade residencial
deverá obedecer o que prevêem os incisos III e IV, ficando os demais sanitários,
quando houverem, liberados dos mesmos.
Esta norma, tais como os Códigos de Obras de outros municípios, embora flexibilizem
as dimensões internas das residências unifamiliares, deixando ao bom senso do morador ou do
projetista o dimensionamento das peças, as realizações e estudos anteriores servem de
referência como critérios para áreas úteis recomendáveis aos diversos compartimentos, como
mostra o Quadro 5.1.
Fonte de Critérios
1 Dorm.
2 moradores
2 Dorm.
4 moradores
3 Dorm.
6 moradores
Silva
(1)
26,32 34,12 41,92
Boueri Fº
(2)
45,80 57,80 65,80
Espanha – M.O.P.U.
(3)
36,00 56,00 65,80
IPT/SP
(4)
35,00 43,00 51,00
Residencial Gameleira /MG
(5)
- 42,00 -
Residencial Santa Paula/ES
(6)
- 54,19 67,42
Projeto Cingapura/ SP
(7)
- 41,36 -
Vila dos Ofícios/PR ChabCT
(8)
- 43,00 66,00
Voordt
(9)
- - 84,00
CDHU/SP (especial) - 52,42
(10)
52, 62
(11)
CDHU/SP (básico) - 37,87
(12)
-
Legislação PMSP -1994 e 1996 - 36,00 -
(1) Silva,1982; (2) Boueri Filho,1989; (3
) ; (3) Ministério de Obras
blicas y Urbanismo, Espanha apud
Coelho e Pedro, 1998 p.344; (4) IPT,1987; (5),(6),(8) AU,1997; (7) Pivetta e Gentile,1998; (9) Voordt,1990;
(10) CDHU/Copromo Piratininga; (11) CDHU Brasilândia; (12) Pivetta e Gentile,1998
Quadro 5.1 – Fontes de critérios para áreas úteis mínimas em m², incluindo dormitórios,
sala, cozinha, banheiro e área de serviço.
Verifica-se no quadro que as recomendações de menores áreas úteis totais (2 dorm. - 4
moradores, 34,12 m²; e 3 dorm. 6 moradores, 41,92 m²) ultrapassam as áreas brutas dos
100
modelos do conjunto Santa Marta (30,75 e 37,00 m², respectivamente) , mesmo se forem
excluídas as áreas de serviço, estando de acordo com as opiniões dos usuários, que sentiram
as habitações pequenas.
De outro modo, comparam-se as áreas úteis dos compartimentos de projetos
executados ou previstos em legislação com as áreas das unidades do conjunto Santa Marta,
incluindo outros executados na cidade, expressos no Quadro 5.2.
Percebe-se que o projeto em estudo tem as menores áreas úteis, apesar de ter sido
concebido aproximadamente na mesma época em projetos similares, na própria cidade.
Conj. Habitacional
Compartimentos
-
Área útil em
Sala Cozinha
Banh. 1º Dorm. 2º Dorm.
3º Dorm.
A.Serv
Total
Fernando Ferrari/ SM-
2D
11,55 3,80 2,66 8,12 6,44 - - 32,57
Fernando Ferrari/SM –
3D
8,00 6,46 2,66 7,59 7,00 6,00 - 37,71
Tancredo Neves/ SM 12,96 6,58 3,00 8,25 6,54 - - 37,33
PAR-M.Parque/SM-
2D
11,69
3,53 2,55 9,00 7,00 - - - 33,77
Santa Marta -2D 9,76 3,57 2,75 5,76 5,52
- -
27,36
Santa Marta – 3D 5,52 7,91 3,12 6,25 5,50 4,83
-
33,13
CDHU- Piratininga 13,18 8,44 2,81 13,18 13,18
-
1,63 52,42
CDHU-Brasilândia 16,73 9,05 2,88 8,12 6,94 6,94 1,96 52,62
Silva- 1982 10,50 3,57 2,40 7,75 7,80 7,80 2,10 41,92
Boueri Filho- 1989 15,00 7,20 4,20 14,00 12,00 8,00 5,40 65,80
IPT/SP – 1987 12,00 10,00 2,50 9,00 8,00 8,00 1,50 51,00
Portugal –Legislação
10,00-16,00
6,00 3,50 10,50 9,00 9,00 3,50 51,50
Voordt – 1990 25,52
6,84 5,71 13,34 10,56 7,92 - 69,89
Espanha – Legislação
12,00-18,00
6,00 ( - ) 12,00 7,00 7,00 - (44,00)
Cingapura/SP 12,60
6,88 3,59 8,44 7,79 - 2,50 41,80
CDHU- básico 11,78 4,87 3,04 8,18 8,18 - 1,82 37,87
Quadro 5.2 Comparativo entre dimensões de compartimentos de conjuntos
habitacionais
5.3.3 Mobiliário interno
Como conseqüência da concepção de projeto, quanto às dimensões dos
compartimentos, os usuários tiveram que adaptar o tamanho dos móveis, suprimindo alguns
ou forçados a optarem por um tipo alternativo. O levantamento de amostra do mobiliário
101
conduz à análise gráfica, da Figura 5.38 onde fica demonstrada a dificuldade de fluxo no caso
de uso de móveis tamanho padrão, encontrados em lojas populares.
Os dormitórios comportam apenas as camas e um roupeiro de menor dimensão
comercial, sendo que o terceiro dormitório não admite nem este móvel. A sala somente
admitirá sofás de porte menor que o convencional, pois se estes forem usados, causarão
conflito de locação. A cozinha, para este modelo de residência (3 dormitórios) tem dimensões
um pouco mais folgadas que o modelo de dois dormitórios, mas o conjunto mobiliário deve
ser justaposto com muito critério para mobilidade do usuário, visto que a possibilidade de
utilização de armários aéreos. No caso do sanitário, o lavatório e o vaso, se colocados juntos,
excluem a possibilidade de haver box para banho, por isso o lavatório foi colocado,
originalmente, no lado externo.
Figura 5.38 – Unidade com 3 dormitórios utilizando móveis com dimensões comerciais
102
5.4 Evolução do conjunto habitacional
Com o passar de tempo os conjuntos habitacionais podem ter suas faces alteradas em
vista dos fenômenos sociais e econômicos que a população está sujeita. Na visão de Gremas e
Fontanille (1993), “a associação entre o querer-fazer e de poder-fazer são inerentes à
impulsividade e ao caráter de independência” vinculados aos signos estéticos e à apreensão
semântica possível do objeto transformado.
Não foi diferente com o Núcleo Santa Marta, ao revelar as nuances habitacionais
ocorridas em mais de duas décadas de existência, tanto no aspecto estético como anatômico-
funcional, reflexos de alterações culturais e comportamentais, transpondo para o visual
urbanístico e para leitura semiótica das formas e das cores das habitações e da vizinhança,
como local de moradia e vivência, resultando em assimetria composicional.
Numa leitura subseqüente, pode-se afirmar que a transformação edilícia do conjunto é
gradual e distribuída, porém, constante.
A área central do conjunto foi reservada para instalação de instituições importantes
para a comunidade, e, como parte da evolução estrutural do loteamento, os prédios foram
construídos e, atualmente cumprem o seus papéis sociais, tais como apontados na Figura 5.39,
da Planta Geral do Loteamento.
A Avenida Principal, denominada Manuel Malmann Filho (Figura 5.40), recebeu
pavimento asfáltico, e as demais vias mantém o pavimento de pedra basáltica irregular com
meios-fios executados desde o lançamento. Os passeios públicos possuem revestimentos
variáveis, assentados em épocas distintas, conforme o tipo de material mais usado naquele
momento, e analisados nos dados coletados.
103
Escola Estadual de 1º grau, Igreja Católica, APAE, Escola Infantil Municipal (Creche)
Posto de Saúde Municipal, Antigo Mercado/ Conselho Tutelar/ Cohab/RS, Centro de Tradições Folclóricas,
Posto Policial Militar.
Figura 5.39 – Planta geral do loteamento e Instituições Sociais
104
Figura 5.40 – Avenida Manuel Malmann Filho, vista a partir da rótula com a BR 287
Percebe-se que o uso de materiais convencionalmente duráveis como concreto nos
meios-fios e pedra de basalto no calçamento (Figura 5.41) determinou a conservabilidade das
obras em mais de duas décadas de existência, necessitando, atualmente, de manutenção em
alguns pontos do arruamento, especialmente nas ruas de fluxo mais acentuado e onde o
transporte coletivo e de cargas realizam percurso.
Figura 5.41 – Vias de escoamento: Rua 2, Rua 5 e Rua 6
105
Atualmente as arborizações de ruas e pracinhas de lazer demonstram terem sido
realizadas pelos próprios moradores, fato este explicitado pela tipologia da vegetação
introduzida: muito variada e sem planejamento.
Tornou-se exceção a praça da Super Quadra 3 (Quadra Verde tipo 2) que foi a única
que recebeu verba federal para execução do projeto de urbanização, através de calçamentos,
quadra de esporte e brinquedos infantis, por estar em localização próxima à zona de expansão
conhecida como Nova Santa Marta, pelo que serviria as duas comunidades.
A Figura 5.42 ilustra as diferenças entre essa praça com tratamento e a Quadra Verde
tipo 1 (da Super Quadra 1), cuja conformação plástica, estética e funcional é de caráter
espontâneo, como as demais.
Figura 5.42 – Praças de lazer – as Quadras Verdes (SQ3-QV2 e SQ1-QV1)
O sistema pluvial/cloacal, em casos de colapso, como mostrado na Figura 5.43, tem
inconvenientes de saneamento e causa transtornos rua-abaixo. É freqüente a mescla da
umidade natural proveniente do lençol freático com o líquido proveniente do esgoto cloacal
evadido das tubulações e fossas sépticas, especialmente nesse tipo de topografia ondulada,
que oportuniza afloramentos com facilidade.
106
Figura 5.43 – Escoamento pluvial/cloacal colapsado e afloramento de água servidas
5.4.1 Melhorias habitacionais - alterações e ampliações funcionais
Para os usuários que sentiram as casas com espaços inadequados, a reação foi o
aumento dos compartimentos e o aumento da área total edificada, por vezes dobrando e até
triplicando a área construída original. Essa motivação está comprovada nos dados coletados
na entrevista com os moradores, quanto ao nível de satisfação, demonstrada na análise da
avaliação dos moradores e na comparação das áreas internas, apresentado no Quadro 5.2 , p.
100 –(Comparativo entre dimensões de compartimentos de conjuntos habitacionais).
A amostra revelou que, em dia, os moradores aumentaram suas casas em 59,00 m²,
quase duas vezes a área original, traduzidos em mais conforto para as famílias, e, embora a
quantidade de tipos de melhorias seja enorme, algumas podem ser destacadas, como mais
rotineiras e preferenciais.
As Figuras 5.44 a 5.47 fornecem exemplos de ampliações pós-ocupação constatadas,
em que o aumento das áreas dos compartimentos foi a preocupação principal. As fotografias
apresentam aparências similares àquelas resultantes das reformas.
107
Figura 5.44 – Exemplos de melhorias 01 e 02
A melhoria 01 teve como foco o aumento da sala, com deslocamento das aberturas,
definindo, assim, um novo acesso para a residência, e possibilitando um pequeno aumento
também na cozinha.
O exemplo 02 indica a preocupação com o abrigo para o carro, sem se importar com a
vedação das aberturas laterais ao ser construído o telhado da garagem, obstruindo a
108
luminosidade, insolação e comprometendo até mesmo a aeração dos compartimentos de
caráter principal como sala e dormitório.
A melhoria 03 ( Fig. 5.45 ), um aumento, aponta uma solução com foco na
comodidade dos espaços para dormitório e copa/cozinha e uma área de serviços ao fundo da
casa, trazendo, entretanto, uma cobertura (Área de Serviço) vedando a possibilidade de
insolação no dormitório. Estes três espaços dobram a área construída da residência, embora,
na fachada, pouco se nota o aumento realizado.
O exemplo 04 é uma ampliação com reforma interna, alternando o uso de um
dormitório com a cozinha, que também é circulação para chegar-se ao novo banheiro, cujo
espaço original foi transformado em despensa. O abrigo para o carro da família, apesar de
aberto, obstaculiza iluminação para os compartimentos principais laterais.
109
Figura 5.45 – Exemplos de melhorias 03 e 04
O exemplo 05, da Figura 5.46, (Dormitório de casal, Banheiro e Garagem/lazer),
aproveitando o limite do fundo do terreno, apresenta bom dimensionamento em relação aos
móveis e funcionalidade interna, porém, apesar de ser uma solução muito usada até em
habitações não populares, deixa a desejar no aspecto ventilação, pois não permite aeração
cruzada, oportunizando a formação de bolor nas paredes ao fundo.
110
Figura 5.46 – Melhoria 05 - Exemplo de melhoria no fundo do terreno
111
A melhoria constatada 06, da Figura 5.47, em unidade residencial de esquina, dotou a
casa original de pequenas alterações, com aumento da sala e construção da área externa, não
apenas protegendo a fachada, como alterando a volumetria do conjunto edificado, no qual o
aumento construído forma composição com o antigo, porém, havendo preferência em criar
um apartamento independente, com dois pavimentos e acesso independente. A posição do
terreno oportunizou a construção da garagem para dois carros, transformando a moradia
unifamiliar em multifamiliar, embora, no caso, com membros da mesma família.
A opção deste aumento proporcionou acréscimo de 102,96 na área da edificação
original, resultando no total de 139,96 m² de construção.
Estes são exemplos extraídos de pontos diversos do loteamento, sem critério
específico, servindo apenas para demonstrar a criatividade dos moradores e a busca do
suprimento das necessidades imediatas da família quanto a espaços para acomodamento e
funcionalidade, alguns, no entanto, de forma leiga nas soluções apresentadas.
112
Figura 5.47 Exemplo de melhoria 06, em esquina, com pavimento, aproveitando
possibilidade de acesso independente
113
As diversas melhorias, realizadas por todo o loteamento, podem ser visualizadas em
sua grandeza transformadora através da fotografia obtida por satélite, mostrada na Figura
5.48, onde os acréscimos construtivos ocupam espaços vazios dos lotes, compondo com as
unidades residenciais originais o suprimento da demanda familiar.
A Figura 5.49 identifica a Planta Geral, com as unidades projetadas e as instituições
sociais, no setor central, oportunizando comparação entre o projetado e a evolução do
loteamento.
A transformação notória, entretanto, ocorreu dentro do plano geral e nas divisas do
núcleo habitacional, ao contrário das circunvizinhanças, que foram objeto de ocupações
clandestinas, hoje em processo de regularização fundiária.
Figura 5.48 Fotografia de satélite mostrando os acréscimos de área construída nos
lotes do conjunto Santa Marta (GoogleEarth)
114
Figura 5.49 A planta geral do loteamento, com casas originais e instituições sociais
previstas
5.4.2 Alterações estéticas das unidades
Amostras de alterações estéticas a partir da unidade original, em que os moradores
foram realizando de acordo com as demandas de cada núcleo familiar, podem ser observadas
na Figura 5.50.
115
a)
b)
c) d)
Figura 5.50 Amostras de alterações estéticas a partir da unidade original: a) A
Unidade Habitacional original (3Dorm); b) Aumento do lado direito:
novo acesso à casa com acesso lateral extensão da sala; c) Aumento de
ambos os lados: garagem e wc; d) Ampliação vertical com base no original,
de esquina acesso independente, pela lateral
5.4.3 Transformações estéticas, descaracterizando a unidade original
As transmutações ocorridas no estilo das unidades tiveram origem, não apenas no
programa de necessidades do usuário, mas também por razões de mercado imobiliário
informal, quando os índices de construção previstos na legislação são desconsiderados (Figura
5.51).
a) b) c)
116
d) e) f)
g) h) i)
Figura 5.51 Transmutações ocorridas no estilo das unidades: a) Modificação estética,
funcional e substituição de materiais e componentes; b) Alteração da planta,
de acordo com a locação da casa original e sua disposição no lote; c) Aumento
total frontal - aproveitamento do aclive, utilizando o recuo de jardim; d)
Ordem na desordem: descaracterização total, porém mantendo o alinhamento
no pav. Superior; e) Descaracterização completa da construção original,
mantendo o recuo do jardim; f) Setor Social no térreo; Intimo no
pavimento: a verticalização como opção de aumento; g) Ampliação
empírica, sem responvel técnico; h) O gradeamento: preocupação com
segurança; i) Transmutação em etapas: pavimento, “esperas” para o 2º,
com linguagem estética própria
O presente estudo de caso comporta a possibilidade de sugestões para melhorias
habitacionais, apesar de haver condicionantes físicos, estruturais e ambientais, além das
específicas necessidades de cada família.
Entretanto, de maneira geral, igualmente se pode dar exemplos que esclarecem algum
ordenamento técnico adequado à tipologia edilícia apresentada por este conjunto habitacional,
quanto aos aumentos e reformas pleiteadas expressamente nos casos constatados.
A sugestão apresentada na Figura 5.52.a respeita o condicionante orientação solar e o
recuo para o jardim frontal (alinhamento), aumentando lateralmente as áreas dos
compartimentos e dando condições para incluir abrigo para o carro da família. A reforma
interna prevê o reposicionamento das aberturas, de maneira a torná-las desimpedidas de
qualquer obstáculo vedante, mantendo as condições de iluminação e aeração.
117
Figura 5.52.a – Proposta de melhoria para unidade de 2 dormitórios
118
A proposta apresentada na Figura 52.b considera igualmente os condicionantes –
orientação solar, recuo para jardim – e tem como critério o mesmo anterior, ou seja, o
aumento do bloco original na sua lateralidade, deixando para a construção do espaço múltiplo
garagem- churrasqueira posição mais ao fundo, sem comprometer aberturas da parte frontal.
119
Figura 5.52.b – Proposta de melhoria para unidade de 3 dormitórios
6 CONCLUSÕES
6.1 Diagnóstico
Sob o ponto de vista dos usuários ficou nítido que os mesmos esperavam mais sobre
os benefícios e qualidades construtivas das unidades habitacionais, pois o nível de satisfação
registrada na pesquisa sobre a compartimentação e funcionalidade dos imóveis é baixa, aliado
aos dados sobre as amplas reformas (89%) e substituição de componentes e materiais de
construção. Estas constatações são ratificadas pelos processos jurídicos encaminhados à
justiça, tendo como base a insatisfação dos usuários quanto à qualidade dos materiais e a
durabilidade dos mesmos, pois 68% dos mutuários recorreram à justiça para obtenção do
prêmio do seguro - 594 dos 872 imóveis.
Quanto à localização do imóvel no lote e no plano geral o registro significativo
de insatisfações, visto que o fato de as famílias saírem de uma situação de aluguel para casa
própria, em sua ampla maioria, suplantou qualquer aspecto negativo.
As falhas construtivas citadas pelos moradores são aquelas que, de fato, incomodaram
em função da qualidade dos materiais e foram corrigidas no decorrer do tempo, tais como
estrutura do telhado e cobertura (39%), esquadrias de madeira substituídas por metal (68%),
substituição de pisos de madeira corroídos por cerâmica (46 %).
O forro foi substituído em 54% das casas, havendo preferência por madeira em 83 %
dos casos. O fato mais acentuado foi a troca de revestimentos dos banheiros, ficando em 81%
da amostra, dentre os quais a ampla maioria (92%) optou por cerâmica.
A opinião dos moradores sobre aspectos de conforto (térmico, de iluminação, acústico,
de ventilação) revela a aceitação geral média, dividida entre boa e ruim, no verão em 69%
bom e 28 % ruim; no inverno, em 54% bom e 44% ruim.
Quanto à avaliação técnica, o primeiro ponto constatado na análise dos projetos
arquitetônicos é a funcionalidade relacionada às dimensões internas. A vistoria nas
120
residências confirmou a análise das plantas sobre a pequena dimensão dos compartimentos.
Ao se abrir uma porta de dormitório, por exemplo, era comum bater-se em um roupeiro.
Viu-se, com freqüência, a transformação da função de um compartimento em outro,
com outros móveis assentados. A decorrência desses fatos acarretou expansões das peças
e/ou ampliações com novas áreas construídas, dimensionadas adequadamente às necessidades
dos usuários e seu mobiliário. Entretanto, muitas vezes, as ampliações e reformas constatadas
denotam terem sido realizadas por leigos, sem orientação técnica. O quadro 5.2 (p.100)
compara as áreas internas dos diversos loteamentos, incluindo similares construídos na
cidade, revelando que as dimensões poderiam ser maiores.
Nas 167 unidades da amostra (19,15% do universo), foram encontradas 12 casas com
patologias passíveis de registro (7,32 % da amostra e 1,38% do universo), agrupadas por
semelhança.
A grande maioria dos usuários já fez as restaurações a contento, portanto, não se
podendo registrar os defeitos apresentados, sendo que as unidades que apresentaram as
patologias analisadas guardam a maior parte das características originais, com poucas
intervenções.
O sistema construtivo estrutural, de ótimo desempenho, e as respectivas instalações,
em conformidade com os projetos e com a aprovação da Fiscalização das Obras, como
indicado nas Especificações Gerais, recebeu algumas alterações sob o manto da coerência
econômica, pois a topografia com relevo acidentado seria suficiente para encarecer algumas
soluções utilizadas nos alicerces e pisos da área mais plana do loteamento, onde foi adotada a
fundação tipo sapata corrida, com pedras e aterramento compactado e contra-piso de concreto,
com execução de pisos de tacos.
Na parte mais acidentada do terreno (2/3 da área do loteamento) as estacas broca
foram a solução ideal, com a conseqüente economia no restante da estruturação da obra. No
entanto, esta opção acabou levando à colocação de assoalhos e outros componentes com
madeiras de péssima qualidade, resultando nos processos jurídicos citados.
A incidência mínima de patologias nas alvenarias retrata a boa qualidade deste
componente construtivo. Assim, tal como a opinião dos moradores, a análise técnica resultou
positiva neste aspecto.
No quesito funcionalidade interna, comparativamente com outros conjuntos
habitacionais construídos, o núcleo Santa Marta apresenta uma das menores áreas internas,
pelo que, era de se esperar que houvesse aumentos de área construída, chegando a uma média
por moradia de 53,00 m², nas unidades de dois dormitórios e 91,20 nas unidades de três
dormitórios. No entanto, se for considerada uma dia geral, tem-se 59,00 por unidade,
121
totalizando uma projeção de 51.448,00 m², sobre a área de projeto de 28.451,50 m²,
indicando um aumento de quase o dobro da área construída.
Sob o ponto de vista da legislação, pode-se afirmar que o projeto em si e a construção
do loteamento, teve conformidade à época e de está de acordo com o atual Código de Obras
LM Nº 3941/95, da cidade.
No entanto, os índices construtivos do Plano Diretor, que prescreve ocupação xima
usual de 50% da área construída projetada sobre o lote (em torno de 125,00 m²), têm esses
valores superados, em muitos casos.
6.2 Sugestões para projetos futuros
Pode-se reunir algumas sugestões para futuros projetos, a partir da realidade
pesquisada:
a) Aumento de áreas internas funcionais, tendo como referência a disposição de
mobiliário padrão comercial;
b) Conceber o projeto com garagem para veículo familiar, ou, pelo menos, com
orientação de como acrescentá-la no futuro;
c) Entregar, com a chave da casa, um manual de manutenção e orientações básicas
para aumentos, por critérios gerais;
d) Em loteamento deste porte, cada caso é particular, ensejando que órgãos públicos
tenham equipe de técnicos orientadores para benefício dos moradores e do bairro;
e) Novas pesquisas para determinação de um padrão atual mínimo de área útil
adequada à realidade local e a produção de móveis.
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25/12/2007.
126
APÊNDICE – Questionário aplicados aos moradores.
CONJUNTO HABITACIONAL SANTA MARTA – Santa Maria/RS
DESCRIÇÃO DO IMÓVEL
Registro Nº______
Unidade habitacional Modelo : 2 Dormitórios ( ) 3 Dormitórios ( ) Original ( ) Modificada ( )
Localização: Super Quadra _________________ Quadra:__________________
Endereço Rua: ______________________________________________________ Nº ________
Outros dados: _________________________________________________________________
A CASA FOI ENTREGUE COM:
( ) piso em cimento alisado ( ) Piso de tacos ( ) instalações elétricas e hidráulicas
( ) com paredes internas ( ) sem paredes internas forro em: ( ) concreto ( ) madeira
( ) abertura de madeira ( ) aberturas metálicas estrutura do telhado: ( ) metálica ( ) madeira
CARACTERÍSTICA DO CONJUNTO HABITACIONAL
a) A casa foi construida em mutirão
( ) Sim ( ) Não
b) Localização relativa ao centro da cidade
( ) Interna ( ) Próxima ( ) Distante
c) Esgoto
( ) Fossa ( ) Fossa + Rede Pluvial ( ) Rede Cloacal ( ) Sem este serviço
d) Tipo de pavimentação da rua
( ) Asfalto ( ) Paralelepípedo ( ) Pedra irregular ( ) Saibro
e) Passeio público (calçada)
( ) Sim ( ) Não
f) Tipo de pavimentação do passeio público (calçada)
( ) Pedras ( ) Grama ( ) Brita ( ) Outro ( ) Não possui
g) Possue arborização no passeio público
( ) Sim ( ) Não
h) Infra-estrutura urbana do bairro
Muito Boa
Boa Ruim Inexistente
Centro Comunitário ( ) ( ) ( ) ( )
Praça ( ) ( ) ( ) ( )
Transporte ( ) ( ) ( ) ( )
Creche ( ) ( ) ( ) ( )
Escola ( ) ( ) ( ) ( )
Posto de Saúde ( ) ( ) ( ) ( )
Posto Policial ( ) ( ) ( ) ( )
127
Mercado ( ) ( ) ( ) ( )
Farmácia ( ) ( ) ( ) ( )
Padaria ( ) ( ) ( ) ( )
Iluminação Pública ( ) ( ) ( ) ( )
Abastecimento de água ( ) ( ) ( ) ( )
Coleta de Lixo ( ) ( ) ( ) ( )
Telefone Público ( ) ( ) ( ) ( )
i) Acessibilidade quanto ao:
Muito Boa
Boa Ruim Péssimo
Trabalho ( ) ( ) ( ) ( )
Comércio ( ) ( ) ( ) ( )
Serviços ( ) ( ) ( ) ( )
Educação ( ) ( ) ( ) ( )
Lazer ( ) ( ) ( ) ( )
Transporte Coletivo ( ) ( ) ( ) ( )
Saúde ( ) ( ) ( ) ( )
CARACTERÍSTICA DO LOTE
a) Dimensões da testada
( ) 7,00m ( ) 8,00m ( ) 9,00m ( ) 10,00m ( ) 11,00m ( ) >11,00m
b) Dimensões da profundidade
( ) 10,00 - 15,00m ( ) 15,00 - 20,00m ( ) 20,00 - 30,00m
c) Drenagem
( ) Seco ( ) Úmido ( ) Alagadiço
d) Topografia
( ) Plano ( ) Acidentado/Inclinado
e) Inclinação do terreno
Nívelado Aclive Declive
Longitudinal (frente/fundo) ( ) ( ) ( )
Transversal (lado a lado) ( ) ( ) ( )
f) Nível do terreno em relação a rua
( ) Acima ( ) No nível ( ) Abaixo
g) Proteção do terreno
( ) Cercado ( ) Murado ( ) Não possui
h) Possui árvores no terreno
( ) Sim ( ) Não
i) Tipo de árvores existente
( ) Pequeno porte ( ) médio porte ( ) grande porte ( ) Frutífera
128
CARACTERÍSTICA DA UNIDADE HABITACIONAL
a) Uso da unidade habitacional
( ) Unifamiliar ( ) Multifamiliar (mais de uma família) ( ) Misto (com comércio junto)
b) Idade da construção (em anos)
( ) Original ( ) Reformada ( ) Até 3 ( ) Até 4 ( ) Até 5 ( ) Até 6 ( ) Até 7 ( ) + de 7
c) Número de habitantes na residência
( ) 0 - 12 anos ( ) 12 - 18 anos ( ) 18 - 60 anos ( ) Acima de 60 anos
d)Tempo que mora na casa:_______________________________________________________________
e) Origem da última moradia
Cidade________________________________________________________________________________
Interior________________________________________________________________________________
Outro_________________________________________________________________________________
Área de risco ( ) sim ( ) não
Aluguel ( ) sim ( ) não
f) Renda familiar (em R$)
( ) 0 - 400 ( ) 401 - 700
( ) 701 - 1000 ( ) 1000 - 1500 ( ) 1500 - 2000 ( ) + 2000
g) Profissão dos moradores _______________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
ASPECTOS AMBIENTAIS
a) Orientação solar
Muito Boa
Boa Ruim Péssima
Quartos ( ) ( ) ( ) ( )
Sala ( ) ( ) ( ) ( )
Cozinha / Banheiro ( ) ( ) ( ) ( )
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ESTRUTURAL
Paredes
a) As paredes apresentam trincas?
( ) Sim ( ) Não
b) Há passagem de vento por alguma parede?
( ) Sim ( ) Não
c) Há passagem de água da chuva em algum ponto das paredes?
( ) Sim ( ) Não
Fundação/alicerce
a) A fundação possui trincas?
( ) Sim ( ) Não
129
b) Sofreu deformação ou deslocamento?
( ) Sim ( ) Não
FECHAMENTO DE JANELAS
a) Existe passagem de água pelas janelas em caso de chuva forte?
( ) Sim ( ) Não
b) As janelas fecham perfeitamente?
( ) Sim ( ) Não
c) As janelas são ideais quanto a segurança?
( ) Sim ( ) Não
d) As janelas são ideais quanto a ventilação?
( ) Sim ( ) Não
e) As janelas são ideais quanto a iluminação?
( ) Sim ( ) Não
f) As janelas apresentam algum tipo de ruído em dias de vento forte?
( ) Sim ( ) Não
g) As janelas sofreram alguma deteriorização ou desgaste?
( ) Sim ( ) Não
h) Material
( ) Ferro ( ) Madeira ( ) PVC ( ) Outro
FECHAMENTO DE PORTAS EXTERNAS
a) Existe passagem de água pelas portas externas em caso de chuva
forte?
( ) Sim ( ) Não
b) As portas fecham perfeitamente?
( ) Sim ( ) Não
c) As portas sofreram alguma deteriorização?
( ) Sim ( ) Não
d) As portas apresentam algum tipo de ruído para fechamento ou em
dia de vento?
( ) Sim ( ) Não
e) Tipo
( ) Ferro ( ) Madeira ( ) Outro
PISO
a) A casa possui algum tipo de revestimento original ?
130
( ) Sim ( ) Não
b) Onde?
_______________________________________________________
c) O piso sofreu alguma das seguintes patologias/ deformações?
( ) Fissuras ( ) Inclinação ( ) Outros ( ) Sem patologias
TELHADO
a) Há infiltração de água pela cobertura?
( ) Sim ( ) Não
b) Houve algum problema na cobertura devido a ações de ventos ou chuvas?
( ) Sim ( ) Não
c) Quanto ao calor, a cobertura é favorável?
( ) Sim ( ) Não
d) Beiral
( ) 20 a 30 cm ( )30 a 40 cm ( ) 40 a 50cm ( ) > 50 cm
e) Tipo de cobertura:
( ) Metálica ( ) Fibrocimento ( ) Telha ( ) Outra
f) Estrutura:
( ) Metálica ( ) Madeira
g) Trocou a cobertura original?
( ) Sim ( ) Não
h) Qual o tipo de material utilizado?
( ) Metálica ( ) Fibrocimento ( ) Telha ( ) Outra
FORRO
a) Houve alguma alteração?
( ) Sim ( ) Não
b) Qual o tipo de material utilizado:
( ) Madeira ( ) PVC ( ) Outro
BANHEIRO
a) Houve alguma alteração no revestimento?
( ) Sim ( ) Não
b) Qual o material utilizado:
( ) Cerâmico ( ) PVC ( ) Outro
c) O banheiro sofreu alguma das seguintes patologias?
( ) Umidade ( ) Apodrecimento ( ) Outros ( ) Sem patologias
131
DIVISÓRIAS INTERNAS ( Paredes)
a) Qual o material utilizado nas divisórias:
( ) Alvenaria ( ) Madeira ( ) PVC ( ) Outros
b) O morador fez alteração interna ?
( ) Sim ( ) Não
c) A casa possui paredes duplas?
( ) Sim ( ) Não
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
a) Sofreu alguma alteração?
( ) Sim ( ) Não
b) Qual? ______________________________________________________________________________
c) Houve algum dos seguintes problemas nas instalações elétricas:
( ) Choques
( ) Falta de interruptores
( ) Falta de tomadas
( ) Pouca iluminação
( ) Outros
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS
a) Sofreram alterações?
( ) Sim ( ) Não
b) Houve algum dos seguintes problemas nas instalações hidráulicas:
( ) Mau funcionamento dos aparelhos
( ) Pequena pressão no chuveiro
( ) Pequena pressão na descarga do vaso
( ) Entupimentos
( ) Vazamentos
( ) Mau cheiro
( ) Alteração do consumo de água
( ) Outros
c) Houve necessidade de algum tipo de manutenção?
( ) Sim ( ) Não
d) Qual?_______________________________________________________________________________
e) O morador fez a própria alteração?
( ) Sim ( ) Não
ADEQUAÇÃO DIMENSIONAL, FÍSICA E FORMAL
a) O tamanho de cada peça abaixo são adequadas:
132
Sala ( ) Sim ( ) Não Avaliação: ( )Ótimo ( )Bom ( )Ruim ( ) Péssimo
Dormitório ( ) Sim ( ) Não
( )Ótimo ( )Bom ( )Ruim ( ) Péssimo
Cozinha ( ) Sim ( ) Não ( )Ótimo ( )Bom ( )Ruim ( ) Péssimo
Banheiro ( ) Sim ( ) Não ( )Ótimo ( )Bom ( )Ruim ( ) Péssimo
b) Houve a necessidade de aumentar a casa?
( ) Sim ( ) Não
c) O morador fez a própria alteração?
( ) Sim ( ) Não Se Sim, quantos m²:___________
d) Como você classifica a aparência da casa
( ) Muito Boa ( ) Boa ( ) Ruim ( ) Péssima
AMPLIAÇÃO, MODIFICAÇÃO INTERNA E EVOLUÇÃO
a) Ao construir a ampliação da casa, houve alguma dificuldade de ligação entre as paredes
antigas e as novas, por utilizarem materiais diferentes?
( ) Sim ( ) Não
b) Ao construir a ampliação, surgiu algum problema na abertura de novas portas
e/ou janelas?
( ) Sim ( ) Não
c) Ao construir a ampliação foi feita alguma alteração nas instalações elétricas e
hidráulicas?
( ) Sim ( ) Não
d) Qual o tipo de piso de cada peça
Cerâmico Vinílico Madeira Forração Cimento
Sala de Estar ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Dormitórios ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Cozinha ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Sanitário ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Área de Serviço ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Garagem ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
e) Número atual de cômodos
( ) Sala ( ) Quartos ( ) Outros
CONFORTO HIGROTÉRMICO
a) Como é a temperatura da casa no verão?
( ) Muito Boa ( ) Boa ( ) Ruim ( ) Péssimo
b) Como é a temperatura da casa no inverno?
( ) Muito Boa ( ) Boa ( ) Ruim ( ) Péssimo
c) Como é a ventilação?
( ) Muito Boa ( ) Boa ( ) Ruim ( ) Péssimo
d) Existe algum cômodo que o pegue sol?
( ) Sim ( ) Não
133
DURABILIDADE
a) Houve a necessidade de reposição de peças devido à
( ) Ferrugem
( ) Desgaste
( ) Quebra de reboco
( ) Quebra de aparelhos (louças do banheiro)
( ) Quebra de ferragens (portas e janelas)
( ) Outros
b) Cite ponto forte da casa: _______________________________________________________________
c) Cite ponto negativo: ________________________________________________________________
d) Outras observações que achar necessário:
...............................
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