58
QUADRO 3
Mapa de necessidades x mapa de ativos
CONSEQÜÊNCIAS IDENTIFICADAS NO
MAPA DE NECESSIDADES
(CARÊNCIAS)
INGREDIENTES DA COMUNIDADE
MAPA DE ATIVOS (DESCOBERTAS)
A primeira conseqüência é que, se as pessoas
de um bairro estão sempre ouvindo dos líderes
institucionais sobre suas carências e
deficiências, muitas vezes começam a
acreditar apenas que são carentes e deficientes.
À medida que começam a acreditar nessa
idéia, se tornam pessoas dependentes.
O primeiro ingrediente: as capacidades e habilidades dos
moradores locais. O foco não estava nas necessidades e sim
nos ativos. Isso faz com que o progresso aconteça, quando se
focaliza em ativos é porque ninguém pode fazer nada com
necessidades ou carências.
O segundo efeito é que esse mapa das
necessidades tende a destruir os
relacionamentos locais, porque leva as pessoas
a dizerem: eu sou carente, eu preciso de
instituições que possam me consertar.
Portanto, os meus poderes não são necessários.
Isso enfraquece a ação cidadã local.
O segundo ingrediente: as organizações, clubes e grupos
voluntários da comunidade. Essa segunda descoberta é o
desenvolvimento da comunidade sobre o processo de criar
mais e mais conexões entre esses ativos. Uma vizinhança
frágil tem poucas conexões e relacionamentos. Uma forte
vizinhança tem conexões fortes entre cada um dos cinco
ativos.
O terceiro efeito é de essa postura reforçar a
idéia de que, para consertar a vizinhança,
deve-se categorizar o dinheiro destinado a ela
para saúde, educação, etc. Quando se conversa
com os profissionais que atendem a
comunidade, eles categorizam o dinheiro
recebido, em pacotes diferentes. Mas estão
sempre tentando juntar tudo, tentando
coordenar uma ação. Essa ênfase em
categorias não é verdadeira para a realidade de
uma vizinhança. Tudo está ligado em uma
vizinhança. Nas instituições é que as coisas
são separadas.
O terceiro ingrediente: as instituições, os negócios e as
corporações com ou sem fins lucrativos, além das instituições
governamentais - escolas, parques, bibliotecas. Essa
descoberta é de que, de modo geral, as vizinhanças se
desenvolvem numa seqüência. Desenvolvem-se melhor
quando o foco inicial é sobre seu próprio ativo. E, depois,
recursos externos entram secundariamente. As vizinhanças
utilizam melhor os recursos externos quando podem utilizar
recursos internos. Não se sabe do que precisa, até saber o que
tem.
O quarto efeito é que esse mapa de
necessidades normalmente acaba em dinheiro
fluindo para profissionais os quais vão
consertar pessoas, em vez de dinheiro para
construir sobre os recursos existentes na
vizinhança.
Em quarto lugar, está a terra e tudo o que está acima e abaixo
dela. Essa descoberta é de que as instituições externas, os
doadores e financiadores podem apoiar o desenvolvimento de
ativos internos se tiverem a compreensão correta do seu
papel. Eles têm papel fundamental nessa compreensão de dar
apoio às comunidades para o desenvolvimento dos seus
ativos, criando relações em vez de tentar consertar as pessoas
"quebradas" dentro dessa vizinhança.
O quinto efeito é que se acaba dando uma
recompensa ao fracasso. Existe uma inversão:
quando mais dinheiro flui, mais necessidades
há. Esta talvez seja a conseqüência mais
negativa.
E o quinto recurso é a economia local: como essas pessoas
compartilham, trocam, fazem escambo, comercializam ou
compram e vendem com dinheiro.
Comunidades utilizam melhor os recursos externos quando já
fazem bom uso de seus próprios recursos. O princípio é muito
simples: você não sabe do que necessita até saber o que,
efetivamente, possui. As mudanças começam de dentro para
fora, através do investimento e do apoio às qualidades e ativos
das comunidades locais.
Fonte: elaborado pela autora a partir da abordagem de McKnight (2002).