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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
Walery Costa dos Reis
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL:
uma avaliação do Projeto “Escola de Informática e Cidadania” da Mineradora
“Y” situada no Estado do Pará
Natal/RN
2010
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Walery Costa dos Reis
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL:
uma avaliação do Projeto “Escola de Informática e Cidadania” da Mineradora
“Y” situada no Estado do Pará
Natal/RN
2010
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Walery Costa dos Reis
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL:
uma avaliação do Projeto “Escola de Informática e Cidadania” da Mineradora
“Y” situada no Estado do Pará
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós Graduação em
Administração da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, como requisito
parcial para a obtenção de título de Mestre
em Administração, sob orientação do Profº.
Dr. Washington José de Souza. Área de
concentração: Gestão Organizacional.
Natal/RN
2010
RESUMO
O tema Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é relativamente recente no meio
acadêmico nacional e no mundo dos negócios como prática de gestão. Pela carência de
socialização de experiências e de clareza de conceitos, ocorrem desvios no
entendimento do tema e na condução das intervenções. Procurou-se averiguar, nesta
pesquisa, o desenvolvimento do Projeto de Responsabilidade Social Empresarial
―Escola de Informática e Cidadania‖ de uma Mineradora situada no Estado do Pará,
objetivando avaliá-lo e posteriormente compreendê-lo. Para isso, buscou-se descrever as
características e estrutura da Escola, identificar as linhas e diretrizes adotadas por esse
Projeto e identificar a influência e resultados do mesmo na vida de alunos, professores e
egressos da Escola. Caracteriza-se por um estudo de caso com abordagem qualitativa de
caráter descritivo, realizada através de entrevistas estruturadas numa amostra de 21
membros da Escola divididos entre professores, alunos e egressos. Utilizou-se da
análise de conteúdo categorial, tendo como eixo para a interpretação dos dados a
Responsabilidade Social, a Inclusão Digital e a Educação. Os resultados obtidos
informam que a infraestrutura tem desafios a enfrentar, apontam disparidades entre a
concepção e a prática das categorias explicitadas no Projeto Político-Pedagógico da EIC
e a influência que, mesmo sob limites, alcança a vida dos professores, alunos e egresso.
Constatou-se que ações de Responsabilidade Social desta empresa, quando voltadas
para este Projeto, não ficaram evidenciadas. Por este prisma, essas ações permaneceram
somente no discurso assistencialista e não estruturantes, sendo assim, a empresa não
está cumprindo o seu papel de elemento transformador da realidade da sua clientela e da
população que vive no seu entorno.
Palavras Chave: Responsabilidade Social. Educação. Inclusão Digital
ABSTRACT
The subject Responsibility Enterprise Social (RSE) is relatively recent in the half
national academic and the world of the management businesses as practical. For the lack
of socialization of experiences and clarity of concepts, shunting lines in the agreement
of the subject and the conduction of the interventions occur. It was looked to inquire, in
this research, the development of the project of Social Responsibility Enterprise
―School of Computer science and Citizenship‖ of a situated company in the State of
Pará, objectifying to evaluate it and later to understand it. For this, one searched to
describe the characteristics and structure of the School, to identify to the lines and lines
of direction adopted for this Project and to identify to the influence and results of the
same in the life of pupils, professors and egresses of the School. It is characterized for a
study of case with qualitative boarding of descriptive character, carried through
interviews structuralized in a sample of 21 divided members of the School between
professors, pupils and egresses. It was used of the analysis of categorical content,
having as axle for the interpretation of the data the Social Responsibility, the Digital
Inclusion and the Education. The gotten results inform that the infrastructure has
challenges to face, point disparities between the conception and practical of the
categories characterized in the Politician-Pedagogical Project of the EIC and the
influence that, exactly under limits, the life of the professors, pupils reaches and egress.
One evidenced that Social action for damages of this company when come back toward
this project, they had not been evidenced. For this prism, these actions had only
remained in the assistencialist speech and not structural, being thus, the company is not
fulfilling its paper of transforming element of the reality of its clientele and the
population that lives in it‘s around.
Keywords: Social Responsibility. Education. Digital Inclusion
À minha esposa, Patrícia,
aos meus Pais, Salomão e Alba, e
aos meus irmãos, Victor e Vinícius
pelo amor e incentivo concedidos.
Dedico-lhes este trabalho como exemplo
de dedicação, força e coragem de vencer, pois,
a vida é linda demais.
AGRADECIMENTOS
Agradecer é compartilhar a alegria da realização de um projeto de vida, sonho e
desafio perseguidos com determinação, vontade e movidos pelo desejo do conhecimento e
aprendizagem, do qual pessoas importantes participaram.
Inicialmente, compartilho dessa alegria com nosso grande Deus, por sempre me guiar,
estar presente em todos os momentos de minha vida e iluminar minhas ideias.
Agradeço à minha esposa, por ser minha incentivadora, pelo apoio intelectual e afetivo
que me sustentou nos momentos de dificuldades.
À UFRN, representada pelos Professores Miguel Añez , José de Arimatés de Oliveira
e equipe, pela realização do Mestrado em Belém e por ter acreditado nos alunos deste curso.
Ao Professor Washington de Souza por ser meu orientador e confiar na minha
capacidade.
Aos professores Mauro Leme e José Arimatés, pelas sugestões e contribuições no
momento da qualificação do projeto, as quais enriqueceram esta pesquisa.
Aos professores do Mestrado, pelos conhecimentos compactuados com os mestrandos.
Aos amigos e professores do CESUPA, Eunápio Dutra do Carmo, Francisco da
Conceição e Júlio Patrício, pelo apoio e estímulo na pesquisa.
À professora Vera Germano, Diretora da EIC, pelas suas contribuições no momento da
pesquisa de campo.
A todos os alunos da EIC em Vila dos Cabanos, por serem gentis nas entrevistas.
Ao CESUPA, por incentivar a formação de professores e ter nos dado a oportunidade
de realizar um sonho.
E a todos que, diretamente ou indiretamente, contribuíram para tornar esse sonho
realidade.
―A humildade exprime uma das raras certezas de que
estou certo: a de que ninguém é superior a ninguém‖.
(Paulo Freire)
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Lista de Empresas Associadas.................................................................................20
Quadro 2: Síntese das Interfaces entre idéias e experiências de Owen e a agenda da Gestão
Social.........................................................................................................................................23
Quadro 3: Antiga x Nova Lógica Econômica...........................................................................32
Quadro 4: Ética do Dinheiro x Nova Ética Social....................................................................33
Quadro 5: Taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais 1996/2001..................49
Quadro 6: Diferenças das Pedagogias......................................................................................55
Quadro 7: Profissionais que atuam na Escola de Informática e Cidadania 2010.................66
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Proporção de domicílios que possuem equipamentos TIC (%)............................47
Figura2: Proporção de domicílios com computador e Internet............................................47
Figura 3: Motivos para a falta de computador no domicílio................................................48
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12
2 RESPONSABILIDADE SOCIAL: ANTECEDENTES HISTÓRICOS ........................ 21
2.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL E SEUS PARADIGMAS ........................................ 26
2.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL NO BRASIL ............................................................... 33
2.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL, INCLUSÃO DIGITAL E EDUCAÇÃO ................... 36
3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 59
4 RESULTADOS DA PESQUISA ....................................................................................... 64
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA .................................................................................................. 64
4.2 ESCOLA DE INFORMÁTICA E CIDADANIA ............................................................. 64
4.3 LINHAS E DIRETRIZES DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DO CURSO ...... 70
4.4 INFLUÊNCIA E RESULTADOS DO PROJETO ―ESCOLA DE INFORMÁTICA E
CIDADANIA‖ NA VIDA DE PROFESSORES, ALUNOS E EGRESSOS. ......................... 83
5 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 94
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 97
APÊNDICES ........................................................................................................................ 104
12
1 INTRODUÇÃO
A complexidade dos negócios, proveniente do processo de globalização e da
velocidade das inovações tecnológicas e da informação, impõe ao empresariado novas
maneiras de realizar transações, pois o ambiente organizacional deixa de ser estático e
conservador, para ser dinâmico e arrojado. Este cenário provoca crescentes disparidades entre
empresas em função do aumento da competitividade.
Para responder a esse desafio, Ashley (2005) afirma que governos, empresas e
sociedade devem se organizar para trazer respostas visando a um desenvolvimento sustentável
que englobe aspectos econômicos, sociais e ambientais. Isso porque as ações empresariais
precisam se sustentar nesse tripé para atenderem às necessidades do presente, sem
comprometer as necessidades das gerações futuras. Logo, é oportuno a interação entre essas
três esferas de poder.
Sendo assim, para a autora, o mundo empresarial na Responsabilidade Social uma
estratégia considerável para aumentar seu lucro e potencializar seu desenvolvimento. Essa
tendência decorre da conscientização do consumidor, proveniente do acesso à informação e
divulgação da mesma. Logo, a procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o
meio ambiente ou comunidade, valorizando aspectos éticos ligados à cidadania, vem tomando
espaço no ambiente empresarial. Além disso, essas transformações mostram que o
crescimento econômico só será possível se estiver alicerçado às estratégias empresariais
competitivas por meio de soluções socialmente corretas, ambientalmente sustentáveis e
economicamente viáveis.
Nota-se, então, uma crescente conscientização de que as organizações podem e devem
assumir um papel mais amplo dentro da sociedade. Desta forma, Ventura (2003) conceitua
Responsabilidade social como o compromisso que uma organização deve ter para com a
sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo,
ou alguma comunidade, de modo específico, agindo pró-ativamente e coerentemente no que
tange ao seu papel específico na sociedade e à sua prestação de contas para com ela,
assumindo, assim, além das obrigações estabelecidas em lei, também obrigações de caráter
moral, mesmo que não diretamente vinculadas às suas atividades, mas que possam contribuir
para o desenvolvimento sustentável dos povos. Assim, numa visão expandida,
responsabilidade social é toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da
qualidade de vida da sociedade.
13
Segundo Bowen (1957 apud Oliveira, 1984, p.205), um dos autores clássicos dessa
área, há cinco tipos de público beneficiado com a responsabilidade social: fornecedores,
funcionários, clientes, competidores e outros com os quais a empresa mantenha relações
comerciais. Dentre essas categorias, a empresa deveria escolher apenas uma como principal,
que seria a razão para a existência da mesma, enquanto as outras representariam apenas
despesas e seriam subvalorizadas.
Na contemporaneidade, Ashley (2005) atesta que a responsabilidade social assume
outras características, englobando o público interno e externo, além do investimento na
preservação ambiental, porém sem privilegiar uma categoria em particular. pelo menos
sete vetores, são eles: apoio ao desenvolvimento da comunidade na qual atua; preservação do
meio ambiente; investimento no bem-estar dos funcionários e dependentes e em um ambiente
de trabalho agradável; comunicações transparentes; retorno aos acionistas; sinergia com os
parceiros; e satisfação de clientes e consumidores. Esses vetores focam o processo de gestão
empresarial para o fortalecimento da dimensão social da empresa.
No que concerne ao público externo, especificamente às comunidades, entende-se que
a empresa deve promover ações não somente assistencialistas como também estruturantes,
voltadas para estas. Desta forma, a Empresa Mineradora retratada neste trabalho, apresenta
programas sociais de apoio às comunidades vizinhas, pois acredita que o bom relacionamento
com essas comunidades, permite caminhos que vão ao encontro do desenvolvimento.
Um desses programas sociais, desenvolvidos por esta empresa, é o EIC (Escola de
Informática e Cidadania). Este programa visa à educação como forma de combater e superar
problemas de comunidades, possibilitando reflexões em grupo, debates, propostas,
planejamento, execução de um plano de ação e conclusão de um Projeto social, desenvolvido
de modo participativo, visando unir esforços e talentos para mudar o cenário da realidade.
Desta forma, o Projeto de pesquisa aqui apresentado tem como tema Responsabilidade social
Empresarial: uma avaliação do Projeto ―Escola de Informática e Cidadania‖ da Mineradora
―Y‖ situada no Estado do Pará. Pretende-se, então, avaliar esse Projeto de Responsabilidade
Social Empresarial desenvolvido por esta Empresa.
Refletir sobre Responsabilidade Social Empresarial se torna uma ação valorosa por
alguns motivos: o assunto é debatido por programas, políticas e ações mundiais ligadas às
Nações Unidas, como a Agenda 21 e o PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), empresas aderiram a esta reflexão social e, além disso, o tema tem
como princípio básico o respeito ao ser humano. Agora, discutir esse tema em um contexto
amazônico se torna um diferencial, pois além de ser uma região conhecida mundialmente, sua
14
história merece destaque, pelo seu processo de desenvolvimento focado no econômico com
descaso ao social.
Para Loureiro (2002) a história da região tem sido, da chegada dos primeiros europeus
à Amazônia até os dias atuais, uma trajetória de perdas e danos. Parece algo paradoxal, pois
tem sido vítima de sua própria exuberância, riqueza e magia.
A Amazônia no passado foi lugar com elevada quantidade de índios. Além disso,
Loureiro (2002) afirma que era caracterizada como fonte geradora de lucros com as ―drogas
do sertão‖ (gengibre, de guaraná e outros) e a borracha. Recentemente, de meados da
década de 40 em diante, veio sendo mais explorada ainda; seja com o ouro em Serra Pelada,
que serviu para pagar parte da dívida nacional; seja como geradora de energia elétrica para
exportar para outras partes do Brasil e subsidiar os grandes projetos desta região; seja como
fronteira econômica na qual recebeu milhões de brasileiros que fugiam da crise econômica e
buscavam por um futuro melhor.
Se, por um lado, a região amazônica é talvez a maior província mineral de todo o
planeta e produz ferro e outros minerais para ajudar o país a manter positiva a sua balança
comercial; por outro lado, é vítima do processo histórico político de abandono das classes
pobres pelo Estado brasileiro. Além disso, a região vem se configurando em um espaço onde
se registra o conflito no campo, a miséria urbana e o desperdício de recursos naturais.
Para Monteiro (2005), dos primeiros séculos da colonização aos governantes, políticos
e planejadores dos dias atuais, o trajeto da Amazônia tem sido de dificuldades, pois um
esforço para modificar aquela realidade original. A idéia se passa pela tentativa de domesticar
o homem e a natureza da região para adaptarem-se às expectativas e a visão do homem de
fora.
De acordo com essa visão externa e de brasileiros também, os valores culturais do
homem da região amazônica (índios, negros e caboclos) são restritamente considerados, pois
são tidos como primitivos e pobres e, portanto, inferiores. Assim, são vistos como pessoas que
nada têm a contribuir com o desenvolvimento desse local, desta forma, esses grupos étnicos
não têm sido priorizados nas políticas públicas da região.
Projetos bilionários foram instalados em prol da ocupação da Amazônia. Segundo
Monteiro (2005), com o golpe militar, em 1964, o Estado autoritário, a partir da convergência
da geopolítica com a doutrina de segurança Nacional, formulou uma doutrina de intervenção
interna, era imperioso ―ocupar‖ a Amazônia.
A partir daí, deu-se início à política desenvolvimentista em que grandes projetos
entraram em ão e milhões de toneladas de metais eram produzidos. Nos anos seguintes, a
15
produção de ferro atingiu 69,5 milhões de toneladas e os outros metais foram no mesmo
caminho sendo produzidos milhões de toneladas de ouro, manganês, alumínio dentre outros.
Por outro lado, os danos ambientais foram constantes: poluição de rios, degradação
dos solos, contaminação das águas superficiais e de lençóis freáticos por arsênio e manganês.
Os danos sociais também foram constatados, são eles: fome, miséria, exclusão social,
doenças, pobreza e etc. Esses danos foram provenientes do descaso com a população local e
concentração excessiva de renda. Logo, o preço pago pela população foi alto por tantos
acontecimentos drásticos.
Concomitante ao contexto histórico da Amazônia, com destaque ao descaso social,
traz-se também para a discussão políticas, estratégias ou planos internacionais vinculados as
Nações Unidas nos quais o Brasil encontra-se envolvido e que são estruturados para refletir
sobre questões sócio-ambientais. Desta forma se organizam para combater a miséria, as
mazelas oriundas da globalização e o descaso com o meio ambiente. Dentre outros, esses são
conhecidos como a Agenda 21 e o PNUD.
Para Fonseca (2005), um dos principais resultados da conferência Eco-92, ocorrida
no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992 foi a Agenda 21, ou seja, um documento que estabeleceu
a importância de cada país se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma
como os governos, empresas, ONG‘s e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no
estudo de soluções para os problemas sócio-ambientais. Ressalta-se que cada país desenvolve
a sua Agenda 21 e, no Brasil, as discussões são coordenadas pela Comissão de Políticas de
Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional (CPDS).
De acordo com Silva (2005, p.4), ex-Ministra do Meio Ambiente, as ações prioritárias
da Agenda 21 brasileira são programas de inclusão social (com o acesso de toda a população à
educação, saúde e distribuição de renda):
A ciranda da Agenda 21 abre espaço para todos. Propõe o exercício da cidadania
ativa, onde diferentes grupos sociais estudem, analisem e discutam a vida de sua
localidade. Como decorrência, juntos desenhem o cenário futuro desejado, no qual
cada parceiro tenha claro sua parcela de responsabilidade e os meios necessários
para a implementação das ações consensuadas pelo grupo. Essas ações,
coletivamente pensadas, passam então a compor o Plano Local de Desenvolvimento
Sustentável, que é um dos resultados de um processo de Agenda 21.
Além da Agenda 21, as Nações Unidas dispõem de outro programa que também
discute temas-chave, principalmente no que concerne ao desenvolvimento dos países que
fazem parte deste bloco. O programa é denominado de PNUD (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento) e seus objetivos principais são: erradicar a extrema pobreza e a
16
fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia
das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV,
malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer uma parceria
mundial para o desenvolvimento.
Aprovado desde 2000, o PNUD, que está presente em 166 países, trabalha ao lado de
governos, iniciativa privada e sociedade civil, com o objetivo central de combater a pobreza e,
ainda, estreita a relação entre países para que possam juntamente criar conhecimentos e
compartilhar experiências e recursos. Ajuda também as pessoas a construírem uma vida
íntegra e trabalha conjuntamente nas soluções que buscam fortalecer capacidades locais e
acessibilidade a recursos humanos, financeiros e técnicos.
No Brasil, atua mais de quatro décadas, criando e desenvolvendo projetos. Busca
também estudar desafios específicos deste país, através de uma visão integrada de
desenvolvimento. Os temas centrais de atuação do PNUD Brasil são a modernização do
Estado, o combate à pobreza e à exclusão social, a conservação ambiental e o uso sustentável
de recursos naturais:
O PNUD também apoia o fortalecimento da responsabilidade social corporativa
através do Pacto Global (uma iniciativa do Sistema ONU), fornece assessoria
técnica na elaboração e implementação de ferramentas de monitoramento e
avaliação de programas de transferência de renda, importantes para reduzir a
pobreza. (PNUD, 2009, P.1)
A situação do planeta, em particular da Amazônia Oriental, foco desses organismos
internacionais, é sensível no que concerne a esses temas centrais e espera por respostas
urgentes. As ações do PNUD e da Agenda 21 sinalizam estratégias que evidenciam a
capacidade das empresas do setor privado em promover o desenvolvimento, reforçando seu
papel que é gerar renda para a população menos favorecida e criar emprego. Além disso, suas
contribuições são bem vindas para possibilitar a criação de possíveis caminhos que levem a
um mundo consciente e com valores pautados no homem e no meio ambiente.
Uma das possibilidades da construção desse caminho se por vias da
Responsabilidade Social empresarial cujo tema vem sendo debatido pela comunidade
acadêmica e empresas, no Brasil, desde meados de 1970. Dentre outros motivos, essa
discussão se pela necessidade de valorizar o ser humano e a sociedade como um todo,
dentro de uma conduta ética e transparente.
É relevante lembrar que a RSE não é tratada aqui como a única forma e nem a melhor
maneira de resolver os problemas sociais que são discutidos pelo PNUD Brasil ou a Agenda
21, até porque essa discussão deve ser feita também com a contribuição de outras esferas de
17
poder. Desta forma, dentre outros caminhos, verifica-se que no contexto empresarial, a RSE
pode ser aquela que tenha um grande respaldo, desde que suas políticas e diretrizes sejam
estruturantes e não somente assistencialistas.
O construto dessa nova mentalidade direciona ações que envolvem de forma sistêmica
os funcionários, clientes, governo, comunidade e concorrentes. Isso porque não perpassa por
atuações isoladas e fraturadas, mas sim por um conjunto de iniciativas e políticas que
representam uma oportunidade da empresa demonstrar-se cidadã e comprometida com o
desenvolvimento local.
Pressupõe-se que a gene dessa oportunidade está no ser humano. Para César (2008)
princípios como solidariedade e consciência são fundamentais para a criação de uma
―consciência de cidadania‖, pois, de acordo com Fischer (2002), essa consciência obtida pelos
empresários deverá ir além de simples obrigações trabalhistas, atuando principalmente em
função do bem-estar de seus funcionários e de suas famílias, proporcionando a estes
satisfação e realização, tanto pessoal quanto profissional, auferindo, dessa maneira, maior
produtividade em razão do envolvimento de funcionários motivados e engajados em suas
atividades.
Com os investimentos que a empresa realiza em saúde, educação, alimentação, criação
de ambientes, que favorecem o relacionamento e progresso de empregados, ela estará
colhendo, a médio e longo prazo, reconhecimento e dedicação. Externamente, preocupa-se em
investir na comunidade em que está inserida, seja através de ações, seja através de projetos
sociais, educacionais, ambientais e outros.
Há uma preocupação com o discurso empresarial voltado ao social, pois, a maior parte
desses discursos afirma que desenvolve ações nesta perspectiva, porém, na prática não ocorre
bem assim. Para evitar esse fenômeno conhecido como modismo e para que as instituições
que verdadeiramente fazem uso de programas sociais sejam reconhecidas, o Instituto Ethos
(2009) revela que as empresas detentoras de políticas centradas na Responsabilidade Social
devem estar pautadas em indicadores. No Brasil os indicadores mais conhecidos são o
Relatório Anual de Responsabilidade Social, os Indicadores Ethos, o Balanço Social do
IBASE e as normas da ISO 14000 e SA 8000.
A mídia contribui também para essa ideia de modismo, pois bilhões de reais são
investidos em propagandas pesadas com o intuito de passar uma imagem séria e correta sobre
os preceitos sociais. Para César (2008, p.31) a Responsabilidade Social Empresarial adapta-se
às condições de realização do lucro das empresas quando correlacionada ao Marketing Social,
18
por meio do qual a ação social do empresariado tornou-se um ―diferencial de
competitividade‖ no mercado. Ainda, sobre isso, diz:
De fato, é necessário reconhecer que o Marketing Social faz parte do conjunto das
estratégias de gestão empresarial, a fim de agregar valor à marca e à linguagem
institucional das corporações, criando condições de legitimidade para sua atuação no
mercado e na sociedade, como demonstram as campanhas de divulgação na mídia.
No contexto amazônico, especificamente no Pará, não deve ser diferente. É possível
que empresas realizem ações organizadas e centradas no social, ou realizem apenas atos
isolados e sem expressividades, ou ainda, não apresentem nenhum tipo de ação, porém,
investem no marketing para divulgar uma imagem duvidosa. Então, para respaldar suas
iniciativas, a empresa tem a opção de contar com Instituições sérias para orientá-las, como
Instituto Ethos, IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e GIFE
(Grupos de Instituições, Fundações e Empresas). Para o Instituto Ethos (2009) uma das
diretrizes de sua missão é disseminar a prática da responsabilidade social empresarial,
ajudando as instituições a:
1. compreender e incorporar de forma progressiva o conceito do comportamento
empresarial socialmente responsável;
2. implementar políticas e práticas que atendam a elevados critérios éticos,
contribuindo para o alcance do sucesso econômico sustentável em longo prazo;
3. assumir suas responsabilidades com todos aqueles que são atingidos por suas
atividades;
4. demonstrar a seus acionistas a relevância de um comportamento socialmente
responsável para o retorno em longo prazo sobre seus investimentos;
5. identificar formas inovadoras e eficazes de atuar em parceria com as comunidades
na construção do bem-estar comum;
6. prosperar, contribuindo para um desenvolvimento social, econômico e
ambientalmente sustentável.
Das empresas associadas ao Instituto Ethos, apenas 0,94% correspondem às paraenses.
Esse valor equivale a 13 empresas. Destaque-se aqui que as mesmas não estão classificadas de
acordo com o seu porte e nem de suas atividades comerciais envolvidas, são elas:
19
Quadro 1: Lista de Empresas Associadas
PARÁ
ALBRÁS
ALUNORTE
AMA CONSULTORIA
AMAZÔNIA EVENTOS
BELÉM SHOPPING IGUATEMI
CONSULTER
DAMAZÔNIA CHOCOLATES
ECO FLORESTAL
GLOBE METAIS S/A
HOSPITAL SANTO ANTONIO
JORNAL O LIBERAL
LAZER & CIA.
REDE CELPA
Fonte: Instituto Ethos (2009)
A Mineradora ―Y‖, uma das empresas associadas ao Instituto Ethos, desenvolve
projetos que fazem parte de seu programa de Responsabilidade Social direcionados às
comunidades vizinhas que são carentes. Além disso, de acordo com esta Empresa, esses
projetos são implementados porque acreditam que o bom relacionamento entre a comunidade,
empresa e poder público resulta no melhor caminho para o desenvolvimento social.
Um desses projetos fomentados por esta Mineradora com repercussão no
município de Barcarena - Pa é o Escola de Informática e Cidadania (EIC). O mesmo trabalha
a Ação Social por intermédio da educação com vistas a mudar a vida dos professores, alunos e
egressos. Dada a importância deste tema, emerge a seguinte questão, que define o problema
de pesquisa do presente Projeto: Como tem sido desenvolvido o Projeto de
Responsabilidade Social Empresarial “Escola de Informática e Cidadania” da
Mineradora “Y”?
A pesquisa proposta tem como objetivo geral avaliar o projeto de Responsabilidade
Social Empresarial ―Escola de Informática e Cidadania‖ desenvolvido pela Mineradora ―Y‖.
Para atender essa perspectiva será necessário: a) descrever as características e estrutura da
Escola sede do Projeto ―Escola de Informática e Cidadania‖; b) identificar as linhas e
diretrizes adotadas pelo Projeto de Responsabilidade Social Empresarial ―Escola de
Informática e Cidadania‖, e c) identificar a influência e resultados do Projeto ―Escola de
Informática e Cidadania‖ na vida de alunos, educadores e egressos da escola.
A justificativa para discutir-se sobre esse tema é que o mesmo ainda está sendo tratado
de modo circunscrito em nossa região, talvez por ser considerado relativamente novo e ainda
não ter tido muitas oportunidades de ser discutido regionalmente. As tendências para a
20
construção desse cenário vêm desencadeando uma série de dúvidas, questionamentos e
perspectivas em relação aos investimentos nesse quesito. Além disso, para GUZZO (2003,
p.5)
Esse assunto passou a ter maior visibilidade no Estado do Pará, no final de 1999 e
início de 2000, quando foi criada a Câmara Setorial de Responsabilidade Social que
passou a interagir com as empresas no sentido de criar estímulos e incentivos nesse
processo de mudança cultural das organizações que deixam de ser apenas uma figura
de retórica na mídia, para assumirem verdadeiramente um compromisso com as
questões sociais, que tanto afligem essa comunidade excludente.
Sabe-se, então, que toda mudança leva tempo, e esse tempo deve ser otimizado e
aproveitado para desenvolver a prática da conscientização social, através de debates,
seminários, colóquios, cursos, conferências ou mesmo na mídia em geral, nas universidades e
também em programas de governo, que passaram a beneficiar camadas vulneráveis da
sociedade.
Quando se fala em conscientização, é porque remete a um dos caminhos pelo qual a
sociedade e as empresas deixarão o discurso de lado, e partirão para a prática da gestão social
responsável, que significa de certa forma colocar o Estado do Pará em um grau mais elevado
em relação a outros estados do país.
Ressalte-se também a relevância acadêmica, social e pessoal, respectivamente, sendo
que a primeira se dá pelo fato de contribuir com informações e conhecimentos para que outras
pesquisas sejam feitas e aguce de alguma maneira a vontade de outros acadêmicos discutirem
sobre esses assuntos para diversos fins, como tomada de decisão, desenvolvimento local e
outros.
A segunda é de cunho social, pois a Amazônia, especificamente o Estado do Pará,
apresenta um histórico de descaso com temas sociais. Desta forma, este trabalho apontará
caminhos para que essas questões possam ser discutidas.
A terceira, e não menos importante, foca a questão pessoal. Por ser amazônida,
contribuir com reflexões que ajudem no debate da Responsabilidade Social me faz pensar que
outro mundo é possível. Assim, além das justificativas supracitadas, ressalte-se o viés em que
o tema está sendo tratado, pois optou-se em estudar também o lado que na maioria das vezes é
esquecido e espera por respostas, a comunidade.
21
2 RESPONSABILIDADE SOCIAL: ANTECEDENTES HISTÓRICOS
De acordo com Hobsbawm (1979), nos séculos XV e XVI, a atividade econômica no
Reino Unido concentrava-se na terra. Essa era usada por pessoas que moravam por perto e
produziam para sua subsistência e pouco para o comércio. A vida do homem comum no reino
unido foi mantida a partir de díspares fontes de recursos, situadas no trabalho extensivo e não
intensivo. Logo, o sustento de todos estava relacionado à contribuição produtiva de cada
membro da família.
Nesse contexto, para Laslett (2000 apud Souza e Oliveira, 2006), havia uma perfeita
harmonia entre a indústria e agricultura, desta forma a unidade familiar o sofrera ainda
qualquer tipo de intimidação. Ocorre que o surgimento da burguesia proveniente pelo
aumento do comércio fez com que findassem as relações feudais e patriarcais. As fábricas
surgiram produzindo volumes superiores ao trabalho manufaturado e com maior qualidade, de
modo que a única alternativa do artesão foi aderir ao trabalho fabril. Esse momento marca a
Revolução Industrial, quando teve seu início em meados do século XIX. Além disso, foi
considerado um marco preponderante para mudanças inerentes às esferas políticas
econômicas e sociais, pois o capitalismo rompe essas relações de trabalho outrora
estabelecidas.
A expressão Revolução Industrial é usualmente empregada para assinalar mudanças
sociais e econômicas que marcam a transição de um modo de vida centrado em
atividades estáveis na agricultura e no comércio para um outro centrado na
velocidade das descobertas mecânicas e no emprego de máquinas complexas em
amplas instalações fabris, submetendo o campo à cidade (SOUZA e OLIVEIRA,
2006, P.5)
Em sincronia com a Revolução Industrial, nascem as bases da reflexão social com
Robert Owen. Esse momento histórico mostra que o social, pensado e discutido hoje nas
organizações públicas e privadas, tem raízes nas estruturas ideológicas que surgiram no século
XVIII e XIX tendo como base o chamado Socialismo Utópico. Entre outros, destacam-se:
Owen, Saint-Simon e Fourier:
O cerne do pensamento de Owen está em dois textos, tendo sido utilizada como
fonte, para a síntese a seguir, a edição de Gatrell (1970). A New View of Society
possui quarto ensaios. O primeiro, On the Formation of Character, foi escrito em
1812 e publicado no início de 1813. O segundo, The Principles of the Former Essay
Continued and Applied in Part to Practice, foi escrito e publicado no final de 1813.
O terceiro e quarto ensaios The Principles of the Former Essay Applied to a
Particular Situation e The Principles of the Former Essay Applied to Government
foram escritos simultaneamente e publicados para venda, como segunda edição, em
1816, alcançando ampla circulação tanto entre as principais lideranças políticas,
literárias e religiosas da Grã-Bretanha, quanto entre governantes da Europa e dos
Estados Unidos. O outro texto, Report to the County of Lanark, escrito em 1820, é
22
considerado o primeiro enunciado de princípios socialistas publicado no Reino
Unido, o que fornece a Owen a condição de pioneiro teórico do socialismo.
(SOUZA e OLIVEIRA, 2006, P.8)
É pertinente destacar o nome de Robert Owen (1771 1858). Dentre outros
empreendedores da época, este contribuiu para o tema, pois observando o Quadro 2 fica claro
que suas ideias embasavam o construto da Responsabilidade Social Empresarial, logo, de
acordo com Souza e Oliveira (2006) por tratar de assuntos da esfera pública e privada de uma
maneira sagaz, Owen ficou conhecido como um inovador social.
Ressalte-se também, que os pontos discutidos nas obras de Owen são atuais. Isso
porque falam sobre saúde, educação, moradia, bem-estar, trabalho infantil, emancipação
humana e outros. Tais pontos precisam ser discutidos em uma sociedade capitalista, onde se
encontra o individualismo, a exploração, a ganância, a prepotência, a competição, a
arrogância e outros. Para combater essas características, Owen estrutura argumentos de
Gestão Social correlacionados com a agenda contemporânea adotada no Brasil.
Fonte: (SOUZA e OLIVEIRA, 2006, P.12)
Para Souza e Oliveira (2006) os ensaios escritos por Owen vêm mostrar que a origem
da miséria pode ser localizada na ignorância daqueles que governam e daqueles que são
governados. A saída, ou a resposta para os problemas, está na formação do ser humano. Além
disso, tanto as experiências de Owen quanto aquelas hoje estruturadas na concepção da
Responsabilidade Social podem ser lidas como inovações ou progressos conquistados pelo
homem. Basta agora fortalecer cada vez mais essa base para poder construir ambientes
empresariais conscientes e favoráveis para a qualidade de vida humana e bem estar social.
Sob a óptica de Owen, a Responsabilidade Social Empresarial foca discussões como:
23
mudança social gradativa: políticas que possam articular projetos de cunho social e
que visam medidas estruturantes e não somente assistencialistas para possibilitar a mudança
social gradativa;
controle do trabalho infantil: possibilitar educação às crianças e combater
incisivamente o trabalho infantil;
instituição de normas de convívio social: Formulação de códigos de éticas e de
condutas nas organizações para que o comportamento e princípios morais possam ser
discutidos e valorizados entre os colaboradores;
cooperação da classe privilegiada ao bem estar: contribuição empresarial para
combater a exclusão social e proporcionar qualidade de vida aos colaboradores da
organização;
ação social vinculada aos resultados econômicos: articulação comprometida com o
social e que enaltece concomitantemente a imagem da empresa.
Constata-se então que os pontos discutidos por Owen são perceptíveis em
ambientes empresariais atuais. Isso porque, são colocados em prática com vistas a possibilitar
mudanças na sociedade e na organização, logo, a reflexão é atual.
Compreender a Responsabilidade Social Empresarial torna-se necessário, pois,
algumas vezes é confundida com outros conceitos. Schommer (2000), então destaca que
muitos termos estão associados ao investimento social das empresas, sendo usados com
significados diversos dentro do Brasil e em relação a outros países. Veja abaixo para melhor
entendê-los:
Filantropia Empresarial: para Schommer (2000) o termo filantropia significa
amor ao homem ou à humanidade, pressupondo uma ação altruísta e desprendida. É também
relacionada à caridade, uma virtude cristã. A ação filantrópica empresarial pode ser
caracterizada como uma ação social de natureza assistencialista, caridosa e
predominantemente temporária. A filantropia empresarial é realizada por meio de doações de
recursos financeiros ou materiais à comunidade ou às instituições sociais.
Cidadania Empresarial: de acordo com Tenório et. al. (2006) a expressão
cidadania empresarial é muito utilizada para demonstrar o envolvimento da empresa em
programas sociais de participação comunitária, por meio do incentivo ao trabalho voluntário,
do compartilhamento de sua capacidade gerencial, de parcerias com associações ou fundações
e do investimento em projetos sociais nas áreas de saúde, educação e meio ambiente.
Atualmente, o conceito de voluntariado empresarial começa a ser utilizado como se
fosse sinônimo de cidadania empresarial. É importante destacar que o voluntariado é
24
uma forma de atuação específica da empresa junto à comunidade, enquanto o
conceito de cidadania empresarial representa uma atuação social bem mais ampla,
ou seja a ação voluntária contribui para a cidadania empresarial, assim define o
papel do voluntariado.( Szazi apud Fernando Tenório, 2006, p.30).
Responsabilidade Social: atualmente, a literatura a respeito da responsabilidade
social corporativa nos sugere algumas interpretações distintas para esse conceito. Em visão
mais simplificada, pode significar o cumprimento das obrigações legais e o comprometimento
com o desenvolvimento econômico, além disso, Schommer (2000) diz que envolve
compromissos com a cadeia produtiva da empresa: fornecedores, funcionários, clientes, além
das comunidades, ambientes e sociedade. Nos anos 90 essa idéia ficou conhecida como a
teoria dos stakeholders da empresa, conjunto de pessoas que dependem da organização para
alcançar seus objetivos.
Oliveira (1984) afirma que a Responsabilidade Social tem recebido muitas
significações e interpretações e, embora seja um tema em crescente discussão nos ambientes
acadêmicos, empresarial e governamental, a definição do que compreende a Responsabilidade
Social não é um consenso:
Para uns, é tomada como responsabilidade legal ou obrigação social; para outros, é o
comportamento socialmente responsável em que se observa a ética, e para outros,
ainda, não passa de contribuições de caridade que a empresa deve fazer. Há também
os que admitem que a Responsabilidade Social é exclusivamente a responsabilidade
de pagar bem seus funcionários e dar-lhes um bom tratamento. Logicamente,
Responsabilidade Social das empresas é tudo isto, muito embora não o seja
isoladamente. (OLIVEIRA, 1984, p.204).
O autor define a Responsabilidade Social das empresas como:
A capacidade de a empresa colaborar com a sociedade, considerando seus valores,
normas e expectativas para o alcance de seus objetivos. No entanto, o simples
cumprimento das obrigações legais, previamente determinadas pela sociedade, não
será considerado como comportamento socialmente responsável, mas como
obrigação contratual óbvia, aqui também denominada obrigação social.
(OLIVEIRA, 1984, p.205).
Para o Instituto Ethos (2009, p. 13):
A noção de responsabilidade social decorre da compreensão de que a ação
empresarial deve, necessariamente, buscar trazer benefícios para a sociedade,
propiciar a realização profissional dos empregados, promover benefícios para os
parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. A adoção de
uma postura clara e transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos
éticos da empresa fortalece a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se
positivamente no conjunto de suas relações.
Diversos institutos e organizações oferecem apoio a empresas que desejam orientação
para desenvolver projetos internos ou externos ligados à Responsabilidade Social. O Instituto
25
Ethos, por exemplo, auxilia as organizações e lista uma série de ―instruções‖ para que a
empresa atue responsavelmente.
Na estruturação de um projeto de Responsabilidade Social interna voltado para a
Saúde, Segurança e Bem-estar dos empregados de uma empresa, por exemplo, o Ethos
recomenda que as empresas desenvolvam programas que ofereçam planos de saúde completos
e flexíveis; recompensem funcionários e familiares pela prática de um estilo de vida saudável;
promovam check up de saúde para funcionários e familiares; incentivem a prática esportiva
dos funcionários em academias ou clubes; e encorajem a participação de funcionários em
programa de ajuda aos portadores de vícios, como consumo exacerbado de álcool, fumo e
drogas.
Já no que concerne à Responsabilidade Social Externa, o Instituto Ethos também
propõe um conjunto de ações. Como exemplo, para um projeto que visa atingir a comunidade,
como um projeto de cunho educacional, o Instituto Ethos descreve algumas ações que podem
ser realizadas pelas empresas como: oferecer apoio às escolas locais; doar equipamentos
novos ou usados; convidar alunos e professores das escolas para visitar e conhecer os
trabalhos desenvolvidos pela empresa; incentivar os funcionários a servirem de mentores para
os alunos, na área pessoal, profissional ou acadêmica; criar intercâmbio com as escolas,
através de estágios para os alunos; e outros.
Rico (2000) afirma que ―O investimento na área educacional, a médio e longo prazo,
significa investir no elemento humano, que poderá permitir ao empresariado a possibilidade
de buscar, no mercado de trabalho, o ―talento profissional‖ que será o seu diferencial na
competição e no mercado de trabalho. Projetos dessa natureza são bem vindos para a
construção de um Brasil melhor.
No que concerne aos tipos de abordagens ou escolas de pensamento Kreitlon (2004)
define como três, são elas: a abordagem normativa identificada também como Business
Ethics, a abordagem contratual também intitulada de Business & Society e por fim a
abordagem estratégica, caracterizada como Social Issues Management.
A escola normativa, que entre os anos 70 e 80 caracterizou o campo da corrente
identificada como da ética empresarial, surgiu como resposta a práticas condenáveis de muitas
empresas no tocante ao compromisso social, procurando estabelecer parâmetros éticos em que
se espera que uma organização deva aplicá-los em suas atividades empresariais.
Esta escola pode ser considerada precursora no processo de definição do que venha a
ser responsabilidade social, tendo uma origem filosófica, com grande influência acadêmica
26
desta área, assim como é caracterizada por um viés normativo, na medida em que apresenta
um parâmetro capaz de estabelecer qual comportamento empresarial se coaduna com o da
postura ética, enquanto agente moral.
A escola da abordagem contratual, também conhecida como Business & Society, ou
seja, mercado e sociedade, surge a partir do momento em que a filantropia passa ser
substituída por uma atividade cada vez mais inserida nas práticas institucionais da empresa e,
no início da década de 80, esta corrente se consolida enquanto escola de pensamento dedicada
a explicar o conceito de responsabilidade social.
A abordagem contratual à RSE apóia-se, basicamente, sobre três grandes pressupostos
teóricos: a) empresa e sociedade são parte de um mesmo sistema, e estão em constante
interação; b) ambas estão ligadas entre si por um contrato social; c) a empresa está sujeita ao
controle por parte da sociedade.
A última escola, que surgiu conjuntamente com a anterior, sendo intitulada de escola
da gestão de questões sociais, ou Social Issues Management , parte do pressuposto de que a
empresa pode tirar proveito econômico de suas atividades sociais, pelo fato de que a atuação
social das empresas não está dissociada de suas práticas empresariais.
Esta abordagem baseia-se em três argumentos principais, todos de caráter utilitário: a)
a empresa pode tirar proveito das oportunidades de mercado decorrentes de transformações
nos valores sociais, se souber antecipar-se a eles; b) o comportamento socialmente
responsável pode garantir-lhe uma vantagem competitiva; c) uma postura proativa permite
antecipar-se a novas legislações, ou mesmo evitá-las.
2.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL E SEUS PARADIGMAS
Quando Kuhn (1991) escreveu sobre paradigmas, a discussão tomou um caráter
rigoroso, pois a idéia geral era de um modelo padrão. Após estudos de vários cientistas
sociais, cujos conceitos foram sintetizados por Barker, a idéia teve uma conotação diferente,
ou seja, paradigma é ―um conjunto de regras e regulamentos (escritos ou não) que produzem
duas coisas: estabelecimento ou definição de fronteiras e o comportamento dentro destas
fronteiras para obtenção de sucesso‖.
Para Berndt e Coimbra (1995), a palavra paradigma está associada a uma visão da
realidade, uma visão de pressupostos que nos auxilia a predizer comportamentos dessa
realidade mutável, cuja história nos mostra através da constante evolução do conhecimento.
Novos paradigmas surgem quando os velhos não abrangem mais todo o campo de soluções
27
dos problemas existentes, principalmente quando estes são novos.
Tenório (2006) entende que a análise da Responsabilidade Social Empresarial deve ser
conduzida sob a ótica dos paradigmas das sociedades industrial e pós-industrial. Ressalte-se
que a primeira surgiu com a Revolução Industrial na Inglaterra, no século XVIII e a segunda,
de acordo com Drucker (2000), provém do conjunto de situações provocadas pelo advento da
indústria, tais como o desenvolvimento tecnológico, a difusão da escolarização, o aumento da
média de vida da população e a difusão da mídia. Destaque-se ainda que o primeiro momento
compreende o início do século XX até a década de 1950 e o segundo estende-se da década de
50 até os dias atuais.
Segundo Tenório (2006), nesse primeiro período, a sociedade experimentava a
transição da economia agrícola para a industrial, a ideologia econômica vigente era o
liberalismo. Desta forma, a visão clássica de responsabilidade social empresarial incorporava
os princípios liberais, que estavam pautados nas idéias de Adam Smith, David Ricardo e
outros cuja abordagem pairava no sentido do lucro, da mais valia sobre a renda e do egoísmo
sobre a caridade, logo, o interesse próprio é o que dominava.
A função social das empresas se restringia à maximização do lucro, à geração de
empregos e aos pagamentos de impostos. A respeito da função social empresarial Friedman
(1985 apud Tenório, 2006, p.15) escreve:
Ultimamente um ponto de vista específico tem obtido cada vez maior aceitação o
de que os altos funcionários das grandes empresas e os líderes trabalhistas m uma
responsabilidade social além dos serviços que devem prestar aos interesses de seus
acionistas ou de seus membros. Esse ponto de vista mostra uma concepção
fundamentalmente errada do caráter e da natureza de uma economia livre. Em tal
economia só uma responsabilidade social do capital usar seus recursos e
dedicar-se a atividades destinadas a aumentar seus lucros até onde permaneça dentro
das regras do jogo, o que significa participar de uma concepção livre, aberta, sem
enganos ou fraude.
Esse tema é interessante para discussão. Pois, até hoje, é possível encontrar empresas
que pensem da mesma maneira, essas não atentam para o viés do lucro social e sim o lucro
econômico-financeiro, empresas atuais, porém com mentalidades do culo XX, certamente
pode ser um dos problemas quando se trata do entendimento do tema.
Fischer (2002) declara que o tema da função social da empresa na economia capitalista
alimenta polêmicas desde a Revolução Industrial. A fase do capitalismo monopolista
acrescentou ingredientes ao debate, quando a expansão da economia industrial deu contornos
nítidos aos desequilíbrios na distribuição de renda e à distância social entre os incluídos e os
excluídos dos mercados em que se dão as relações econômicas de produção. Assim, com a
mudança do processo produtivo induzido pela evolução tecnológica, os trabalhos artesanais
28
deram vagas para as máquinas, surgindo então desemprego, miséria, etc. Após a revolução
industrial, no século XIX, surge no início do século XX a Administração Científica.
Para Tenório (2006) a administração científica representou a aplicação da ideologia
liberal no chão de fábrica. O objetivo de maximização do lucro estava presente em todos os
processos empresariais que buscavam a otimização da produção‖, quanto mais se produzia, o
operário era mais valorizado, nesse momento o homem é visto como um objeto e não como
um ser que pensa e tem sensações.
Dessa forma, no início do século XX, a responsabilidade social limitava-se ao
filantropismo representado por doações de empresários ou criações de fundações como a
Ford, Rockfeller e outras. Ações que até hoje são encontradas, pois a filantropia ainda é uma
forma de ajudar uma comunidade ou uma escola. Ressalte-se por outro lado, que a
industrialização trouxe degradação da qualidade de vida, problemas ambientais, e
precariedade das relações de trabalho, logo, tornou-se necessário discutir sobre essas
questões, pois o povo clamava por melhorias.
O segundo momento, o qual se estende da década de 50 até os dias atuais, é iniciado
com o New Deal implementado. De acordo com Rodrigues (1995) esse foi criado por
Roosevelt em 1933, como forma de superar a depressão econômica dos Estados Unidos, desta forma,
a economia americana passou por um processo de crescimento e de acumulação de capital, período
esse marcado pelo Keynesianismo, ou seja, intervenção do Estado na economia, estendendo-se até a
década de 70, estrutura conhecida como Estado do bem-estar social (Welfare State).
Ainda para Rodrigues (1995) o Welfare State tornou-se sistema social em que o estado
político considera o bem-estar individual e social dos cidadãos sua responsabilidade, ou a
nação ou estado caracterizado por esse sistema social.
Segundo esta concepção, todo o indivíduo teria o direito, desde o nascimento, a um
conjunto de bens e serviços que deveriam ser fornecidos diretamente através do Estado ou
indiretamente, mediante seu poder de regulamentação sobre a sociedade civil. Esses direitos
iriam desde a cobertura de saúde e educação em todos os níveis, até o auxílio ao
desempregado, à garantia de uma renda mínima a recursos adicionais para sustentação dos
filhos etc. Mesmo assim, Fischer (2002, p.218) destaca:
Neste contexto de relativo equilíbrio, alguns analistas, refletindo sobre as condições
determinantes da pujança econômica das nações tem sido categóricos em
recomendar que as empresas deveriam restringir sua função social ao papel para o
qual tinham sido criadas e estavam posicionadas no mercado. Isto é, a produção de
riqueza sob forma de produtos e serviços disponibilizados aos consumidores e
clientes; a multiplicação do capital investido, sob forma de lucro; e à geração dos
empregos necessários para realizar tal produção e comercialização.
29
Nota-se, então, que analistas solicitavam a restrição da participação de empresas no
social, pois o fato de gerar empregos para a sociedade, lucro, produção e riqueza para o país
seria considerado suficiente e tido como contribuição por parte dessas empresas na sociedade,
o que as levava a limitar-se a essas ações.
Nesse bojo econômico Toffler (1995 apud Tenório, 2006) demonstra que a sociedade
industrial buscava, basicamente, sucesso econômico. a sociedade pós-industrial busca o
aumento da qualidade de vida; a valorização do ser humano; o respeito ao meio ambiente; a
organização empresarial de múltiplos objetivos; e a valorização das ações sociais, tanto das
empresas quanto dos indivíduos. Desta forma, ressalte-se a importância da mudança de
mentalidade no ambiente empresarial, uma vez que a sociedade pós-industrial vem com essa
nova abordagem.
Para Lucci (2003) a diferença entre a sociedade atual e a anterior é percebida
nitidamente pelo setor de serviços, que absorve hoje cerca de 60% da mão-de-obra total, mais
que a agricultura e a indústria juntas, isso porque o trabalho intelectualizado e criativo é bem
mais valorizado do que simples execução de tarefas e trabalhos manuais. Antes, a
padronização de mercadorias era algo muito marcante, principalmente através de movimentos
repetitivos e precisos, hoje se valoriza mais a criatividade, a intelectualização e a
simultaneidade, por se fazerem várias ações ao mesmo tempo e de maneira sistêmica.
Os primeiros estudos teóricos sobre a Responsabilidade Social, desenvolvidos a partir
dos pressupostos conceituais da sociedade pós-industrial, surgem em 1950, entretanto é a
partir de 1970 que os trabalhos desenvolvidos a respeito do tema ganham destaque. As
empresas passam a compor suas ações de forma organizada, pois uma massa crítica é formada
com o intuito de estruturar uma nova consciência capaz de mudar realidades.
Para Souza (1995, p. 22) as empresas precisam se posicionar diante desse contexto
social:
Toda grande empresa é, por definição, social. Ou é social ou é absolutamente anti-
social, portanto, algo a ser extirpado pela sociedade‖. Afirma também que ―uma
empresa que não leva em conta as necessidades do país, que não leva em conta uma
crise econômica, que seja absolutamente indiferente à miséria e ao meio ambiente,
não é uma empresa, é um tipo de câncer.
Singer (2002 apud Tenório, 1996, p.24) acredita que houve aumento significativo dos
problemas sociais com a retomada da ideologia liberal em 1980, o que resultou no
aparecimento de ONG‘s. Já em 1990 a ideologia Neoliberal continua com o debate da
Responsabilidade Social Empresarial. Para Barbosa e Rebaça (2001) a RSE é estruturada a
30
partir do compromisso da empresa com a sociedade, ou seja, as ações não estão limitadas ao
pagamento de impostos, lucros e empregos. Mas, sim abrangem uma atuação pautada no
equilíbrio ecológico, crescimento econômico e desenvolvimento social.
Para Melo Neto e Fróes (2001) esse viés está pautado na racionalidade social, pois a
mesma surge não para substituir a lógica econômica globalizante, mas para atenuar seus
efeitos e diminuir seus riscos sistêmicos, sendo assim, suas características são:
as empresas como principais agentes;
foco na comunidade e não na sociedade: o foco das ações sociais não é a sociedade,
considerada amplamente e sim a comunidade local, cada unidade produtiva da empresa
interage com a comunidade mais próxima;
ênfase na prática da solidariedade empresarial e não local ou regional: a empresa
como foco irradiador da solidariedade individual através do trabalho voluntariado e não da
local ou regional que exige uma mobilização social maior;
desenvolvimento da comunidade a partir das ações sociais empresariais: ações
sócio-educativas com elevada solidariedade social objetivam desenvolver a comunidade;
a empresa como grande investidor social, e não o Estado ou a sociedade: a função
do Estado continua tendo grande importância, principalmente porque só ele é capaz de
implementar políticas sociais abrangentes e que atinjam toda a sociedade, porém não mais
como antigamente.
Essa racionalidade social surgiu a partir da expansão da racionalidade econômica,
fruto da adoção indiscriminada da nova lógica econômica globalizante, pois esta se encontra
pautada no rearranjo espacial das atividades produtivas no mundo, através da fragmentação e
migração de cadeias produtivas, fato que trouxe efeitos perversos que se agravaram com o
aumento dos custos ecológicos e sociais.
Furtado (1999) destaca alguns problemas gerados pela distribuição espacial da
atividade econômica, essência da globalização:
concentração de renda;
conflitos entre regiões;
forte utilização de tecnologias intensivas;
desemprego e exclusão social;
substituição do bem estar coletivo pelo individualismo, e
controle por grandes grupos privados do capital fixo reprodutivo do país.
Percebe-se que esses problemas são fruto do capitalismo. Desta forma, se por um lado
as empresas lucram, contribuem para o crescimento econômico de um país; por outro lado,
31
geram diversas situações como as que foram supracitadas. Entende-se que o fenômeno da
globalização não prima pelos valores locais, e sim pelos valores globais postos pela empresas
transnacionais. Com a expansão das mesmas no contexto neoliberal, os Estados de acordo
com Furtado (1999) perdem a soberania sob a nova lógica produtiva global.
Então, para o mesmo autor, o Estado, principal gestor da racionalidade econômica
tradicional, cede lugar às empresas multinacionais e transnacionais, como principal agente da
nova realidade econômica. O econômico assume controle sobre o político, e o social
desmantela-se na nova racionalidade econômica, ocasionando o desaparecimento de
movimentos sociais, o esvaziamento da solidariedade social e a perda do poder de forças
sociais. O quadro 3 abaixo ilustra essas duas racionalidades.
Ressalte-se que o contexto que se discute aqui refere-se ao neoliberalismo, logo, não
se pode dizer que o Estado está totalmente desprovido de poder. Nesse momento uma
reformulação e o mesmo cede lugar às empresas. A crise do ano de 2008-2009 prova que o
Estado encontra-se bem estruturado, pois injetou dinheiro em muitas economias para que as
mesmas pudessem sobreviver e evitar o seu desaparecimento.
Quadro 3 - Antiga x Nova Lógica Econômica
Racionalidade econômica tradicional
Seu principal agente é o Estado e as empresas
nacionais
É defendida no espaço nacional
Fortalece o sistema econômico nacional
O núcleo decisório está no Estado
Domínio do político sobre o econômico
Emergência de movimentos sociais
Baseia-se na idéia de solidariedade social
Fortalecimento das forças sociais
Prevalece a visão macroeconômica baseada em
políticas públicas
Maximização das vantagens relativas próprias
Fonte: Melo Neto e Fróes (2001, p.5)
Para Melo Neto e Fróes (2001), a lógica da administração dual de ambas as
racionalidades (social e econômica), baseia-se no balanceamento de ações políticas,
econômicas, sociais e culturais. Desta forma, o ideal é que as duas possam se complementar,
isso porque existirão momentos que uma será melhor do que a outra e vice-versa, ou ainda,
32
uma poderá substituir a outra. Então, entende-se que as relações deverão ser de diversos tipos,
porém jamais conflituosas.
Na mesma linha de raciocínio, Santos (2000) acredita que a tríade poder-consumo-
dinheiro é fator de competitividade gerado no mercado. Essa tríade é base para a
caracterização de duas éticas: a do dinheiro e a social, que trazem consequências interessantes
para a discussão da Responsabilidade Social.
A busca incessante do dinheiro, para fins exclusivos de consumo, sem respeitar
princípios humanos, é a razão principal do comportamento da sociedade. Isso acontece porque
essa busca desenfreada contribui para o aumento da competitividade e do individualismo
como prática dominante. Essa ação caracteriza a ―ética do dinheiro‖.
Santos (2000) afirma que essa ação desenfreada desencadeia uma série de desmontes
sociais: a quebra da solidariedade social, a generalização da violência, a ampliação do medo e
do desamparo, a exacerbação da desigualdade, o aumento da desigualdade social e a
contaminação do caráter das pessoas. É quando a ética do dinheiro transforma-se na ―ética da
irresponsabilidade social‖.
Para deter tal destruição social, o autor sugere a criação de uma nova ética que possa
atenuar a ética perversa do dinheiro. Nesse bojo, começa a se expandir no mundo a nova ética
da Responsabilidade Social, espírito da cidadania empresarial. Veja no quadro 4 abaixo, suas
características:
Quadro 4 Ética do Dinheiro x Nova Ética Social
Ética do dinheiro
(Irresponsabilidade Social)
Nova ética social
(Responsabilidade Social)
Promove o individualismo
Promove associativismo
Ênfase na competição e competitividade
Ênfase na solidariedade
Prevalece o discurso único do mercado
Prevalece o debate civilizatório
Banalização dos problemas sociais
Priorização dos problemas sociais
Adoção de comportamentos antiéticos
Adoção de comportamentos éticos
Gera alienação
Gera participação e resgata a cidadania
Deterioração do trabalho
Enobrecimento e revigoramento do trabalho
Contaminação do caráter das pessoas
Exaltação do caráter das pessoas
Ampliação das desigualdades
Redução das desigualdades
Fonte: Melo Neto e Fróes (2001, p.16)
Boff (2000 apud Melo Neto e Fróes, 2001, p.16) destaca que ―a civilização vive em
um profundo mal estar, que se materializa em ocorrência do fenômeno do descuido, do
descaso e do abandono‖. Este trecho mostra o quanto o homem precisa ainda aprender a ter
33
compromisso com a vida. O autor enumera um conjunto de descuidos caracterizado por este
estado de mal-estar:
o desinteresse pela vida das crianças, muitas vezes ainda usadas como mão-de-obra
para o mercado mundial;
o descaso pelo planeta terra;
o descuido pelo destino da população vítima da vulnerabilidade social;
o abandono dos sonhos de generosidade, agravados pela hegemonia do
neoliberalismo com o individualismo e a expansão da propriedade privada;
o desmazelo da forma de organizar a habitação, muitas famílias ainda vivem em
locais desprivilegiados e insalubres;
desleixo com a dimensão espiritual do ser humano.
Com esses descuidos, torna-se necessário refletir no Brasil sobre a Responsabilidade
Social Empresarial embasada na nova ética social, possibilitando caminhos para a cidadania,
onde prevalecerá o debate civilizatório a favor da solidariedade, comportamento ético,
diminuição dos problemas sociais e outros. Observe então como se o desdobramento da
Responsabilidade Social no Brasil.
2.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL NO BRASIL
Segundo Alves (2005), no Brasil a emergência de questões sociais, através de
manifestações provenientes das contradições entre a burguesia e o proletariado vem desde a
Primeira República, quando o país se encontrava em expansão urbana e industrial. Nesse
momento, os empresários rejeitavam a regulação do Estado e mobilizavam a força policial
para combater os movimentos operários. As ações sociais que pairavam nesse contexto eram
meramente assistencialistas no âmbito fabril, como creche, moradia, alimentação e construção
de vilas operárias.
No Estado Novo o tema social deixou de ser tratado como caso de polícia. Para Santos
(1987) o Estado passou a enfrentar esse problema, pois a Era Vargas é caracterizada pela
intervenção em políticas públicas trabalhista, sindical e previdenciária, porém sob o prisma de
uma ―cidadania regulada‖.
Neste contexto, o empresário adensa a via assistencialista e estrutura iniciativas
existentes em empresas. De acordo com Cesar (2008), a partir desse momento são criados
complexos assistenciais como SESI-SENAI, mas mesmo assim, ainda dependiam da
regulamentação e condução do Estado.
34
Com a consolidação do capitalismo monopolista no Brasil, pela via da modernização
conservadora, período que abre com o golpe militar de 1964, o Estado promoveu a
privatização de serviços sociais, como a saúde e previdência, continuando a combinação entre
assistência e repressão que se volta tanto para favorecer os investimentos privados no campo
social, tornando-os lucrativos, como para subordinar os trabalhadores aos requisitos de
aumento da produtividade nas organizações (Santos, 1987).
Para Cesar (2008), a ideia de Responsabilidade Social Empresarial, no decorrer dos
anos 1990, ganhou consistência, pois a mesma foi traduzida como um conjunto de atividades
que a empresa realiza para atender, internamente, às necessidades de seus colaboradores e,
externamente, às demandas das comunidades, em termos de alimentação, saúde, educação,
preservação do meio ambiente, desenvolvimento comunitário e outras.
As empresas, em seu discurso ético e social, sustentavam a ideia de ―inserção cidadã‖.
Essa visibilidade motivou a realização, por parte do IPEA, de estudos que compunham a
pesquisa Ação Social das mesmas, dentre esses estudos, dois foram feitos com o intuito de
acompanhar o envolvimento empresarial no campo social.
Em pesquisa realizada em 1999, com 445 mil empresas da região Sudeste, detectou-se
que 95 mil delas realizaram ações sociais em benefício de comunidades e 78 mil
desenvolveram ações apenas para empregados. em 2003, com 420.447 mil empresas da
região Sudeste, notou-se que houve um acréscimo de 6% dessas que atuam de forma
voluntária, em benefício de comunidades, essas empresas destinaram cerca de R$ 3,1 bilhões
no atendimento das mesmas, o que corresponde a 0,35% do PIB.
De acordo com Cesar (2008), ―os dados levantados com essa pesquisa são reveladores
de injeção de recursos na área social de origem privada, com fins públicos‖. Essa ação prova
que a própria sociedade está buscando caminhos alternativos para superar dificuldades e
mazelas deixadas no percurso da história.
Neste contexto, o Estado passa por uma reforma. De acordo com Cesar (2008, p.21):
Na tentativa de superar, em tese, o enfoque minimalista dos ajustes estruturais
macroeconômicos, a reforma do Estado, defendida por Bresser Pereira (1998), parte
do pressuposto de que em várias áreas, inclusive a social, o Estado poderia ser mais
eficiente, caso utilizasse estratégias gerenciais e estabelecesse parcerias com
organizações públicas não governamentais para executar os serviços por ele
apoiados. No campo dos serviços considerados ―não-exclusivos‖ do Estado,
portanto, as atividades passaram a ser exercidas por meio de organizações sociais,
entidades de direito privado e de caráter público não-estatal. Cabe, então, ao Estado
prover os recursos básicos de seu funcionamento, incentivando, porém, a captação
de recursos no mercado, para gerar condições de auto-sustentabilidade para os
serviços.
35
Montaño (2002) enfatiza que, diante da nova ordem social, o cidadão poderá contar
com várias instituições como: entidades filantrópicas, entidades de direitos civis, movimentos
sociais, organizações não governamentais, instituições religiosas, agências de
desenvolvimento social, órgãos autônomos da administração pública descentralizada,
fundações e institutos sociais de empresas.
Nesse momento o papel das empresas entra em consonância com as medidas
governamentais de fortalecimento da sociedade civil. Desta forma, essas empresas se
tornaram parceiras do Estado no combate à pobreza e à exclusão social. Posteriormente
alguns programas foram criados, como o Programa Comunidade Solidária do governo FHC e
o Programa Fome Zero do governo Lula.
César (2008, p.23) destaca que essa situação é interessante e merece atenção, pois o
empresariado critica o modelo estatal de Gestão Social:
Cabe destacar, no entanto, que a crítica ao modelo estatal de gestão social é bem
mais contundente, por parte do empresariado. Na literatura empresarial existente
sobre o tema da Responsabilidade Social, em geral acrítica e apologética, é
recorrente a ideia de que diante da incompetência do Estado, na busca de soluções
inovadoras para os problemas sociais, os empresários, mais confiantes em sua
capacidade de decisão e ação, chamaram para si o exercício da Responsabilidade
Social. Nessa perspectiva, o Estado aparece como malfeitor e culpado pela
destruição dos alicerces econômicos.
Esse argumento é reflexo de uma visão empresarial. Ocorre que o Estado, em
momentos de crise, é o único a socorrer as empresas, então, dizer que é incompetência,
incorre no erro de responsabilizá-lo sempre por tudo. As reformas defendidas por Bresser
Pereira foram decisivas para contrapor o argumento, sem contar que as empresas devem se
responsabilizar também pela sociedade civil.
Para Cherques (2003), a responsabilidade social empresarial está em voga. Um
número cada vez maior de empresa vem admitindo responsabilidades que transcendem
aquelas exigidas por lei e regulamentos. É verdade que a estabilidade e a integração social
têm preocupado empresários desde o advento dos distritos industriais, mas uma diferença
substancial naquilo que se assiste hoje: a capacidade de controle parece não mais dar conta
dos riscos associados à atividade econômica.
Ainda, o mesmo constata que:
As empresas estão sendo chamada à responsabilidade, isso porque, havendo-se
equivocado sistematicamente sobre o futuro da economia e da sociedade, veem-se
na contingência de reavaliar o peso dos efeitos das suas atividades e corrigir a sua
conduta. Elas estão sendo responsabilizadas pela indiferença, pelo equívoco e pela
imprudência que nos trouxeram à situação de risco físico e espiritual em que nos
encontramos, risco que, se efetivado, pode transtornar a vida econômica tal como
idealizamos (HERMANO ROBERTO THIRY CHERQUES, 2003, p.10).
36
Benthan (1995 apud Cherques, 2003) afirma que a responsabilidade é a obrigação de
responder pela própria conduta, é o que torna, ainda, pessoas passíveis de sanção, de castigo,
reprovação e culpa; além de sujeitos e objetos da ética, do direito, das ideologias e da fé.
Então, a responsabilidade social deve compreender o dever de pessoas, grupos e instituições
em relação à sociedade como um todo, ou seja, em relação a pessoas, grupos e instituições.
Nesse mesmo contexto, observa-se que o Estado, atuando isoladamente, não possui
condições para resolver os problemas sociais. Surgem os novos cidadãos exigentes e
preocupados com a conjuntura a que estão submetidos, conscientes de seu poder de escolha e
com novas perspectivas em relação às organizações. As novas expectativas apresentadas pelos
cidadãos refletem uma mudança progressiva no papel das empresas, em que se espera retorno
à comunidade face ao lucro obtido com os negócios.
De acordo com o Instituto Ethos de Responsabilidade Social (2009), a gestão
empresarial que tenha como referência apenas os interesses dos acionistas revela-se
insuficiente no atual mercado. Os tempos atuais requerem uma gestão balizada pelos
interesses e contribuições de um conjunto maior de partes interessadas, envolvendo os demais
públicos da empresa. Assim, para o Ethos, ―a busca de excelência por parte dessas passa a ter
como objetivos a qualidade nas relações e a sustentabilidade econômica, social e ambiental.‖
Então, entende-se que a responsabilidade seria do Estado por receber impostos dos
cidadãos, porém, a partir desse novo paradigma, o pós-industrial, as empresas viram a
necessidade de ter atenção voltada ao ser humano (potencialidade humana), qualidade de vida
e o desenvolvimento sustentável. Logo, a responsabilidade passa a ser de todos, Estado,
sociedade e empresas.
2.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL, INCLUSÃO DIGITAL E EDUCAÇÃO
Para Ianni (1996) uma das principais características do cenário inaugurado no final dos
anos 80 com a hegemonia do neoliberalismo é a ausência de fronteiras nacionais, esse
processo é denominado de globalização. Friedman (2007) entende que a globalização não se
restringe apenas às transações comerciais e termos econômicos, mesmo sendo esses aspectos
os principais focos deste fenômeno. Porém, é fato que, além das relações econômicas, esse
processo envolve as demais áreas que integram as sociedades, como os âmbitos cultural,
37
social e político, além disso, acelera a expansão da comunicação entre os países e
velocidade ao acesso às informações.
Nesse contexto, Balboni (2007) afirma que a rápida evolução das tecnologias da
informação (microeletrônica, computação e telecomunicações), impulsionada pela
globalização, vem provocando alterações nas bases da sociedade brasileira, transformando a
organização do modelo econômico, a participação política e a interação social. Este novo
cenário que desperta a dependência do homem com as estruturas eletrônicas da informação é
também conhecido como ―sociedade da informação‖. Bell (1973), nos anos 70, conceituou a
sociedade da informação como uma sociedade que trata a informação como mercadoria, que
passa a ser produzida em maior quantidade do que os bens de consumo.
Recentemente, Castells (1999) descreve o conceito como uma forma de organização
social, na qual a geração, processamento e transmissão de informação se transformam na
principal fonte de produtividade e poder. Usa-se então normalmente para definir o novo
contexto no qual a sociedade está inserida, onde as atividades humanas estão cada vez mais
dependentes das infraestruturas eletrônicas da informação.
Para Dowbor (2001) tudo indica que a sociedade não enfrenta apenas uma revolução
tecnológica. Na realidade, o conjunto de transformações parece estar levando a uma sinergia
da comunicação, informação e formação, criando uma realidade nova, que está sendo
designada como "sociedade do conhecimento". De certo modo, o processo reflete os
primeiros passos do homo culturalis, em contraposição ao homo economicus dos séculos XIX
e XX. Ainda, o mesmo destaca as dificuldades enfrentadas pelos países subdesenvolvidos em
lidar com essa situação, pois, são os países mais pobres que possuem uma educação limitada:
Entrar neste universo da modernidade cibernética, quando somos um país em grande
parte subdesenvolvido, envolve dificuldades. De certa forma, precisamos traçar
caminhos próprios, e não basta aplicarmos fórmulas desenvolvidas para países ricos.
É útil lembrar alguns dados. Os gastos públicos por aluno nos ensinos pré-primário,
primário e secundário, em 1990, foram de 2.419 dólares por ano nos países ricos,
contra 263 dólares nos países do terceiro mundo. "De uma forma geral, constata a
Unesco, são os países mais pobres que fornecem a educação mais limitada". Ou seja,
os que deveriam gastar mais em educação para alcançar os mais ricos, são
justamente os que gastam menos. A esperança de vida escolar em certos paises é
inferior a 500 dias, enquanto atinge 3.100 dias no Canadá. (Ladislaw Dowbor, 2001,
p.9)
Nessa mesma linha de raciocínio, Balboni (2007) acredita que a falta de uma
infraestrutura de telecomunicações eficiente pode representar diferentes formas de exclusão:
por um lado, pode se traduzir pela dificuldade de participação de um país no processo de
desenvolvimento tecnológico; de outro, corresponde à exclusão social e econômica dos
38
indivíduos que não têm acesso a essa tecnologia. De maneira geral, os diferentes níveis de
acesso dos indivíduos e dos países ao poder da tecnologia é uma fonte de desigualdade na
sociedade brasileira.
Segundo Sacristan (2001), a globalização acelera, dinamiza e fortalece o processo de
comunicação entre países, por outro lado, impõe comportamentos de forma agressiva e
desigual entre diferentes civilizações, aumentando as diferenças entre elas, principalmente
porque é a minoria, em diversos países, que tem acesso aos meios de informação digital.
Desta maneira, surge a preocupação de que somente indivíduos ―incluídos‖ na sociedade
atual, com conta no banco, trabalho e educação formal, possam usufruir das facilidades
trazidas por essas tecnologias. Aqueles à margem desta sociedade, desempregados ou
analfabetos funcionais possuem poucas chances de participar da rede, e dependem de políticas
inclusivas de seus governantes que viabilizem essa interação. Corre-se, portanto, o risco de
transformar uma ferramenta potencialmente inclusiva e democrática em mais um indutor da
pobreza e da miséria no mundo. Então, o que vem então a ser a ―inclusão digital?‖.
Destaca Luca (2004) que a inclusão digital e o combate à exclusão social e econômica
estão diretamente ligados, em uma sociedade onde o conhecimento é considerado riqueza e
poder. Desta forma, para que a mesma possa se desenvolver sob o âmbito sócio, político e
econômico, é necessário o domínio das chamadas TICs tecnologias de informação e
comunicação e acesso à internet.
Para Castells (1999) a internet está para o desenvolvimento da inclusão digital como
a eletricidade está para a industrialização. Além disso, o autor destaca as incompreensões
reais em países do terceiro mundo, pois muitos problemas assolam na área da saúde, educação
e tecnologia. Desta forma, chegar à discussão da internet revela ser um desafio para países em
desenvolvimento, observe (2001, p.269):
Desenvolvimento sem a Internet seria o equivalente à industrialização sem
eletricidade na era industrial. É por isso, que a declaração frequentemente ouvida
sobre a necessidade de se começar com ―os problemas reais do Terceiro Mundo‖
designando com isso: saúde, educação, água, eletricidade e assim por diante antes
de chegar a Internet, revela uma profunda incompreensão das questões atuais
relativas ao desenvolvimento. Porque, sem uma economia e um sistema de
administração baseados na Internet, qualquer país tem pouca chance de gerar os
recursos necessários para cobrir suas necessidades de desenvolvimento, num terreno
sustentável sustentável em termos econômicos, sociais e ambientais.
Ainda para Luca (2004), a inclusão digital deve favorecer o uso da tecnologia de
forma consciente, que torne o indivíduo capaz de decidir quando, como e para que utilizá-la.
Observando o ponto de vista de uma comunidade, a inclusão digital significa aplicar as
39
tecnologias a processos que contribuam para o fortalecimento de suas atividades econômicas,
de sua capacidade de organização, do nível educacional e da autoestima de seus integrantes,
de sua comunicação com outros grupos, de suas entidades e serviços locais e de sua qualidade
de vida.
Iniciativas de promoção da inclusão estariam, então, diretamente relacionadas à
motivação e à capacidade para a utilização das TICs de forma crítica e empreendedora,
objetivando o desenvolvimento pessoal e comunitário. A ideia é que, apropriando-se destes
novos conhecimentos e ferramentas, os indivíduos possam desenvolver uma consciência
histórica, política e ética, associada a uma ação cidadã e de transformação social, ao mesmo
tempo em que se qualificam profissionalmente.
Para Cruz (2004) o acesso às tecnologias da informação e da comunicação, também
chamado inclusão digital, está relacionado, no mundo atual, aos direitos básicos à informação
e à liberdade de opinião e expressão. A exclusão digital é uma das muitas formas de
manifestação da exclusão social. Não é um fenômeno isolado ou que possa ser compreendido
separadamente, pois se trata de mais uma consequência das diferenças existentes na
distribuição de poder e de renda. Num momento em que empresas e governos migram
informações e serviços para os meios eletrônicos, o excluído digital passa a ter dificuldade de
conhecer e de exercer seus direitos de cidadão.
Esse fenômeno não pode estar relacionado simplesmente com a aquisição de
computadores e outros aparatos tecnológicos. A inclusão pressupõe a socialização de
conhecimento precedida da capacitação de seres humanos para o devido uso dessas
ferramentas. Também é preciso estar preparado para usar estas máquinas, não somente com
capacitação em informática, mas com uma preparação educacional que permita usufruir de
seus recursos de maneira plena e consciente, instigando sentimentos voltados ao
companheirismo, solidariedade, fidelidade a sua comunidade e ajuda mútua.
Percebe-se então, que Cruz (2004, p.10) vai além quando pensa em uma inclusão que
promova desenvolvimento social, intelectual, econômico e político de uma comunidade:
As tecnologias da informação e da comunicação precisam se tornar ferramentas que
contribuam para o desenvolvimento social, intelectual, econômico e político do
cidadão. Do ponto de vista de uma comunidade, isto significa aplicá-las a processos
que contribuam para o fortalecimento de suas atividades econômicas, de sua
capacidade de organização, do nível educacional e da auto-estima de seus
integrantes, de sua comunicação com outros grupos, de suas entidades e serviços
locais e de sua qualidade de vida.
Segundo Valente (1999) o conceito de inclusão digital parece se adaptar a diferentes
cenários e a evoluir com o tempo, de acordo com os desafios que se apresentam à sociedade.
40
Warschauer (2006), por exemplo, recrimina a disparidade que na sociedade entre aqueles
que têm acesso à Internet e aqueles que não têm, ou a separação entre os ricos e pobres em
informação. Para ele o conceito é mais amplo, envolvendo o tema da inclusão social de
populações excluídas mediante o uso das novas tecnologias digitais. Resnick (2001) também
corrobora que o acesso à informação não é suficiente, e defende a relevância da fluência
tecnológica para garantir que o aprendiz saiba como construir significados através do uso
ferramentas digitais.
Silveira (2001, p. 33) compreende a inclusão digital como a ―universalização do
acesso ao computador conectado à Internet, bem como ao domínio do conhecimento básico
para manuseá-lo com autonomia‖. Delgadillo et al. (2005, p.7) completam, afirmando que
inclusão digital envolve ―a apropriação social das novas tecnologias digitais para atender às
necessidades das comunidades, para promover a formulação de políticas públicas, a criação
de conhecimentos, a elaboração de conteúdos apropriados e o fortalecimento das capacidades
das pessoas‖. A partir da conceituação dos autores, observa-se então que a exclusão digital é
evidenciada em decorrência da exclusão social. Para isso, políticas sociais devem ser
direcionadas para compensar esse desnível abissal e objetivar o maior acesso à educação
formal, essa compreensão da inclusão digital deve ser entendida como um direito do cidadão.
Balboni (2007) destaca que no Brasil, a política de socialização das novas tecnologias
da informação e da comunicação vem sendo enfatizada desde o Governo Fernando Henrique
Cardoso (FHC) como prioridade para o governo brasileiro. Essa preocupação se manifestou
inicialmente durante a privatização do Sistema Telebrás, na Lei Geral de Telecomunicações e
em seu Plano de Metas de Universalização. Destaca-se que ainda nesse momento inicial, a
―inclusão digital‖ foi compreendida apenas com o simples acesso aos serviços de
telecomunicações, isso ficou nítido com o crescimento de telefones fixos e posteriormente a
explosão do uso de celulares.
O lançamento do Programa Sociedade da Informação (SOCINFO) pelo Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT), em 15 de dezembro de 1999, foi um divisor de águas na
discussão da evolução da Internet e sua relevância para o desenvolvimento do país. O
programa, organizado por um conjunto de ações integradas pelo 1º, 2º e 3º setor, foi a
primeira iniciativa consolidada de âmbito nacional, para incentivar a utilização de serviços
avançados de computação, comunicação e informação, assim como democratizar o acesso da
população às tecnologias da informação e contribuir para o incremento da competitividade do
país no mercado global‖ (TAKAHASHI, 2000).
41
Nesse período, destaca-se também o Programa Nacional de Informática na Educação
(PROINFO), criado em abril de 1997 pelo Ministério da Educação. Esse programa
incentivava o uso das TICs em escolas públicas de ensino médio e fundamental O programa
foi responsável pela instalação de laboratórios de informática em mais de 52 mil escolas
públicas. Ressalta-se que algumas escolas ficaram com os laboratórios fechados por falta de
equipamentos e professores capacitados, esse tipo de problema ecoa em projetos desse porte.
no Governo Luis Inácio Lula da Silva, em 2003, a inclusão digital passou a ser
referendada como um dos principais requisitos para o desenvolvimento do Brasil. As
iniciativas adotadas pelo governo federal foram estruturadas por uma articulação ministerial
com resultados significativos, porém ainda inexpressivos diante do tamanho da exclusão
digital brasileira.
Em 2007 outras propostas foram pensadas devido ao aparecimento de novas demandas
na área social e tecnológica. Desta forma, alguns programas surgiram como o GESAC -
Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão, proporcionando internet via satélites
a escolas, telecentros, ONGs, comunidades distantes e bases militares fronteiriças. Possui
3.530 pontos de presença em todo o país, atendendo cerca de 2.200 municípios brasileiros,
além de ser parceiro de diversos programas de inclusão digital do Governo. A próxima fase
do GESAC em 2010 prea instalação de 11.919 pontos de conexão à Internet via satélite.
Serão atendidos locais que não possuem conexão por ADSL, escolas públicas rurais e
telecentros montados a partir dos kits encaminhados pelo Ministério das Comunicações a
prefeituras de todo o país. Outros programas foram também implementados como:
Computador para Todos, Programa Banda Larga nas Escolas, Programa Computador Portátil
para Professores, Projeto Computadores para Inclusão, Quiosque do Cidadão, e etc.
Balboni (2007) afirma que a inclusão digital é compreendida pelo o Governo Federal
como um ―direito de cidadania e, portanto, objeto de políticas públicas para sua promoção‖.
Essas políticas têm como referência os direitos coletivos, incorporando a preocupação anterior
em atender às necessidades individuais dos cidadãos. Tendo isso em vista, foi criado o Comitê
Técnico de Inclusão Digital (CTID), responsável pela promoção da cidadania e da
participação social, desta forma, uma série de metas e diretrizes foi estabelecida, são elas:
- construir infraestrutura de inclusão digital voltada para uso público e comunitário: a
infra-estrutura deve possibilitar a participação de todos os cidadãos da sociedade civil;
- pluralidade de modelos sob mesmas diretrizes: as ações de inclusão digital deverão
ser estruturadas de acordo com as peculiaridades regionais, desta forma, deverá mapear as
especificidades do público alvo, principalmente se for de áreas rurais;
42
- segmentação de públicos: todos os seguimentos serão atendidos, principalmente as
crianças, jovens e adultos nas escolas;
- construção de infraestrutura a ser apropriada pela sociedade: os projetos de inclusão
digital devem ter em foco as comunidades, entende-se então que esses constituirão espaços
multifuncionais geridos comunitariamente;
- as iniciativas de inclusão digital devem ter comprometimento com o
desenvolvimento local: o estímulo à produção e à sistematização dos conhecimentos locais
deverão ser aproveitados e valorizados para a apropriação tecnológica pelas comunidades
envolvidas;
- integração da inclusão digital a outras iniciativas e políticas: as iniciativas das ações
pautadas na inclusão digital deve ser uma articulação entre os 3 setores, ou seja, Estado,
Empresas Privadas e ONGs;
- avaliação: considera que as ações de inclusão digital devam ser avaliadas
permanentemente. A política de inclusão digital deve incluir a criação de sistema de avaliação
das ações e indicadores de inclusão digital;
- utilização de software livre: entende que se deva enfatizar a utilização de software
livre.
As iniciativas para inserir a população de baixa renda são valorizadas nesse Governo,
pois todas essas estão inclusas no Programa Brasileiro de Inclusão Digital, que busca priorizar
as classes mais vulneráveis sob a ótica social, incentivando a aquisição e a utilização de
computadores nas escolas, destaca Santos (2005 apud Balboni 2005, p.34):
O governo brasileiro está desenvolvendo o Programa Brasileiro de Inclusão Digital
para estimular uma política pública de inclusão digital. A idéia é induzir e fomentar
a implementação de espaços públicos de acesso comunitário por governos
municipais, estaduais, iniciativa privada e sociedade civil, priorizando o uso de
software livre para ampliar a proporção de cidadãos, sobretudo os de classe C, D e
E, com acesso às tecnologias da informação e comunicação. São diferentes
iniciativas que vão desde o oferecimento de linhas de financiamento específicas para
subsidiar a venda de computadores, a reciclagem de computadores descartados para
serem destinados a telecentros e escolas, entre outros, a instalação de telecentros
voltados para diferentes segmentos da sociedade zonas rurais, grandes centros
urbanos, micro e pequenos empresários , passando pelo levantamento das
iniciativas de inclusão digital em curso no país.
A Bridges.org é uma entidade sem fins lucrativos, da África do Sul, criada para ajudar
na melhora da qualidade de vida nos países em desenvolvimento com a informática e as
comunicações. Ela definiu 12 critérios para avaliar se existe acesso real à tecnologia:
- acesso físico: os computadores e telefones precisam ser acessíveis e estar disponíveis
ao usuário;
43
- adequação: as soluções tecnológicas devem ser adequadas às condições locais de
vida;
- preço acessível: o custo da tecnologia e de seu uso precisa estar de acordo com a
capacidade que a maioria das pessoas e organizações tem de pagar por elas;
- capacidade: as pessoas precisam conhecer o potencial de uso da tecnologia de
maneira ampla, de forma a poder empregá-la criativamente nos diversos momentos de sua
vida;
- conteúdo relevante: é necessário haver conteúdo adequado aos interesses e às
atividades da comunidade local, bem como linguagem acessível;
- integração: a tecnologia não pode se tornar uma dificuldade na vida das pessoas, mas
deve se integrar ao dia-a-dia da comunidade;
- fatores socioculturais: questões como nero e raça não podem ser barreiras ao
acesso à tecnologia;
- confiança: as pessoas precisam ter condições de confiar na tecnologia que usam e
entender suas implicações no que diz respeito a questões como privacidade e segurança;
- estrutura legal e regulatória: as leis e regulamentos devem ser elaborados com o
objetivo de incentivar o uso da tecnologia;
- ambiente econômico local: deve haver condições que permitam o uso da tecnologia
para o crescimento da economia local;
- ambiente macroeconômico: a política econômica deve dar sustentação ao uso da
tecnologia, em questões como transparência, desregulamentação, investimento e trabalho;
- vontade política: os governos precisam de vontade política para fazer as mudanças
necessárias para uma adoção ampla da tecnologia, com base em forte apoio da população.
Os critérios da Bridges.org mostram como a questão da inclusão digital vai muito além
do acesso físico à tecnologia e da capacitação em informática. As empresas podem também
contribuir para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e para construir uma sociedade
mais justa.
Seguindo essa linha de raciocínio, em 2003, especificamente entre os dias 10 e 12 de
Dezembro, a União Internacional de Telecomunicações (UIT), agência da Organização das
Nações Unidas (ONU), organizou em Genebra a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da
Informação (WSIS, na sigla em inglês). Essa conferência reuniu mais de 10 mil pessoas de
176 países no Palácio das Exposições (Palexpo), entre outros assuntos discutidos, o que
revelou destaque foi o problema da exclusão digital. Nesse momento foram apresentadas as
experiências de sucesso ao redor do mundo para combatê-la, atrelado a esse discurso foi então
44
necessário refletir sobre a contribuição das tecnologias de informação e comunicação para a
redução da desigualdade social.
No último dia, foi divulgada uma declaração final, atrelada ao desafio de usar a
tecnologia para promover as metas de desenvolvimentos previstas na Declaração do Milênio,
da ONU: a erradicação da pobreza extrema e da fome; a conquista da educação primária
universal; a promoção da igualdade entre os sexos e da valorização da mulher; a redução da
mortalidade infantil; a melhora da saúde materna; o combate à Aids, à malária e a outras
doenças; a garantia da sustentabilidade ambiental; e o desenvolvimento de parcerias globais
para se alcançar um mundo mais pacífico, justo e próspero. O relatório traz uma lista de
princípios essenciais para uma sociedade da informação que beneficie a todos:
- melhora do acesso à infraestrutura de informática e comunicação, bem como à
informação e ao conhecimento;
- elevação da capacidade de acesso;
- aumento da confiança e da segurança no uso da tecnologia;
- criação, em todos os níveis, de um ambiente que incentive a adoção da tecnologia;
- desenvolvimento e ampliação das aplicações da tecnologia;
- incentivo e respeito à diversidade cultural;
- reconhecimento do papel dos meios de comunicação;
- atenção às dimensões éticas da sociedade da informação;
- incentivo à cooperação internacional e regional.
É interessante discutir esses princípios explícitos em Genebra como também os
critérios da entidade sem fins lucrativos Bridges.org, uma vez que ainda o Brasil enfrenta
sérios problemas de ordem estrutural, sendo a desigualdade de renda é o primeiro deles, o
outro é a exclusão digital. Nos relatórios da pesquisa feita em 2009 pelo IPEA, detectou-se
que o rendimento médio dos 20% da população mundial mais rica é cerca de 50 vezes
superior ao rendimento médio dos 20% mais pobres, e equivale a três quartos do rendimento
global. No outro extremo, os 40% mais pobres detêm somente 5% do rendimento mundial, e
correspondem aproximadamente a 2 bilhões de pessoas que vivem com menos de 2 dólares
por dia.
Para Weissheimer (2006) cerca de 1% dos brasileiros mais ricos (1,7 milhão de
pessoas) detém uma renda equivalente à renda dos 50% mais pobres (86,5 milhões). Esse
dado ilustra bem a situação da desigualdade social no Brasil, que, apesar de alguns avanços
nos últimos anos, continua ostentando o nada honroso título de uma das nações mais
desiguais e injustas socialmente do planeta.
45
Segundo análise divulgada, também neste relatório, pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao Ministério do Planejamento, o Brasil perde apenas para
Serra Leoa, na África, no item distribuição de renda, em uma lista de 130 países. Conforme o
Radar Social elaborado pelo Ipea, para avançar no combate à desigualdade, o Brasil precisa
alcançar um nível sustentável de crescimento econômico e um modelo de desenvolvimento
que viabilize a inserção da população no mercado de trabalho, aliado a um conjunto de
políticas públicas para atacar o atual nível de desigualdade. Que políticas seriam estas? O Ipea
apresentou algumas sugestões: aceleração da reforma agrária, ampliação da rede de proteção
social, da Previdência, da assistência social, programas de transferência de renda, elevação
dos padrões de educação e combate à discriminação racial e de gênero. De modo geral,
defende uma política econômica e um modelo de desenvolvimento que combine crescimento
com geração de emprego e renda.
Em novembro de 2003, a União Internacional das Telecomunicações (UIT) divulgou
um estudo sobre a inclusão digital no mundo. O Brasil ficou em 28.º lugar, empatado com a
Rússia, o México e as Ilhas Maurício. O estudo identificou 64 países com condições de
inclusão melhores que o Brasil. A classificação teve como base o Índice de Acesso Digital
(IAD), que leva em consideração:
- a disponibilidade de infraestrutura;
- o poder aquisitivo do usuário;
- o nível educacional do usuário;
- a qualidade dos serviços;
- o uso efetivo da Internet.
Além dessas constatações, outra pesquisa feita pelo Centro de Estudos sobre as TICs
(CETIC) no Brasil em 2008 evidencia que o número de computadores no mundo também
deixa clara a desigualdade social. Observando a figura 1 abaixo, verifica-se que o computador
portátil (notebook) está presente em apenas 3% dos domicílios brasileiros em área urbana, e, na
área rural, esse número cai para 1%. Apesar da baixa expressividade dos notebooks no total
Brasil, a penetração do equipamento chega a 31% na classe A e a 26% na faixa de dez salários
mínimos ou mais.
Comparando os perfis dos domicílios com computadores portáteis e dos domicílios que
possuem computadores de mesa, verifica-se que a diferença entre a penetração desses
equipamentos cai na medida em que aumenta a classe social do domicílio. No total Brasil, a cada
domicílio com notebook tem-se cerca de oito que possuem computadores de mesa (diferença entre
os 3% de domicílios com computador portátil e 23% com computador de mesa). Enquanto na
46
classe A, essa proporção passa para um a cada três (os computadores de mesa têm presença em
89% dos domicílios de classe A). Nas classes D e E e na faixa ―até um salário mínimo‖, o registro
passa a ser nulo, demonstrando a influência determinante da renda e da classe social na posse de
notebooks.
Figura 1: Proporção de domicílios que possuem equipamentos TIC (%)
Fonte: CTIC 2008, p.5
Com relação ao acesso à Internet, a diferença também chama a atenção: enquanto nas
áreas urbanas a penetração do acesso chega a 20% dos domicílios, nas áreas rurais esse
percentual cai para apenas 4%. A pesquisa continua identificando que o acesso ao computador
e à Internet é fortemente determinado pela renda, pela classe social e pela região do país. O
acesso à Internet está presente em 25% dos domicílios da região Sudeste e cerca de 20% nos
domicílios das regiões Sul e Centro-Oeste. Nas regiões Norte e Nordeste, a proporção de
domicílios com acesso à rede não ultrapassa 7%. Observe a figura 2 abaixo:
Figura2: Proporção de domicílios com computador e Internet
Fonte: CTIC 2008, p.7
47
Dentre os domicílios brasileiros sem computador, a principal barreira para a posse
continua sendo o custo, uma vez que 75% dos entrevistados disseram não ter condições
financeiras para comprar o equipamento. Mesmo nos domicílios classificados entre as faixas
superiores de renda (cinco salários mínimos), mais de 40% apontam o custo como razão para
não ter um computador em casa.
A figura 3 mostra que o segundo motivo mais citado como barreira à posse do
computador no domicílio, com 34% das menções, foi não tenho necessidade/ interesse‖,
seguido por ―falta de habilidade‖, com 29% das menções.
Da mesma forma que o custo é limitante para a posse do computador, a falta de
habilidade é determinante para viabilizar o uso do computador e da Internet. Considerando as
regiões do país, observa-se que a região Norte é a única em que a declaração ―falta de
habilidade/ não sabe usar o computador‖ é superior a ―não tenho necessidade/ interesse‖.
Enquanto 28% dos entrevistados dessa região declararam a falta de habilidade como barreira
para adquirir um computador para o domicílio, somente 20% disseram não ter necessidade ou
interesse. Na região Nordeste, observa-se um empate entre os dois motivos.
O mesmo comportamento pode ser observado entre as áreas urbana e rural. Na área
rural, assim como na região Norte, a falta de habilidade tem maior peso que a falta de
necessidade, 35% contra 33%, respectivamente.
Nas áreas urbanas, temos em segundo lugar, logo atrás do custo elevado/ não tem
como pagar‖ com 74% das declarações, a falta de necessidade/ interesse‖ com 34% e,
então, a ―falta de habilidade‖, com 27%.
Figura 3: Motivos para a falta de computador no domicílio
Fonte: CTIC 2008, p.9
Tendo o Brasil, como sua marca básica, as desigualdades sociais e regionais, não
poderia ser diferente com o analfabetismo. Como mostra o quadro 5, as regiões com menor
48
desenvolvimento econômico e de economia pouco diversificada são as que apresentam os
piores indicadores. Assim, o Nordeste brasileiro tem a maior taxa de analfabetismo do País,
com um contingente de quase oito milhões de analfabetos, o que corresponde a 50% do total
do País.
Fonte: IPEA (2005).
Sobre a educação, o Radar Social 2005 aponta que, em 2001, 12,4% da população é
analfabeta, ou 14,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais, sendo que o índice chega assim
como a desigualdade de renda, onde as maiores taxas de analfabetismo se encontram nas
regiões Nordeste 24,3%. Vale ressaltar que o IBGE considera alfabetizada qualquer pessoa
capaz de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhece, diferentemente
da tendência atual internacional, que considera alfabetizadas somente as pessoas com 4 anos
ou mais de estudos.
A exclusão digital acompanha o cenário de exclusão social no país, fazendo com que a
população de regiões mais ricas, próximas aos centros urbanos, com nível de escolaridade
mais alta e mais jovem tenha mais acesso à infraestrutura de telecomunicações e aos serviços
de Internet.
De acordo com o Instituto Ethos (2009), a educação é um dos indicadores de
Responsabilidade Social. Dessa forma, a possibilidade da inclusão digital como ensino
complementar ou continuado, faz com que as ações de Responsabilidade Social fiquem
fortalecidas e consolidadas no campo social e organizacional.
Dentre os muitos obstáculos à inclusão digital no Brasil, alguns dizem respeito a
problemas mais básicos que levam a outras formas de exclusão social, como a má distribuição
de renda e a baixa taxa de escolaridade. O acesso à Internet, um dos pré-requisitos para a
inclusão digital, depende da disponibilidade de computadores e de telefonia. Nos dois casos,
um dos principais desafios está no preço.
Além do acesso físico à infraestrutura, precisam ser vencidas as barreiras do
conhecimento. O incluído digital precisa estar capacitado para usar a tecnologia e ter um grau
49
de educação, no sentido amplo, que permita aplicá-la de forma efetiva. Ligada a esta questão,
é necessário haver conteúdo relevante para ser acessado por meio dos recursos tecnológicos.
Para Valente (1999) a utilização de computadores na educação é tão remota quanto o
advento comercial dos mesmos. Esse tipo de aplicação sempre foi um desafio para os
pesquisadores preocupados com a disseminação dos computadores na sociedade brasileira.
em meados da década de 50, quando começaram a ser comercializados os primeiros
computadores com capacidade de programação e armazenamento de informação, apareceram
as primeiras experiências do seu uso na educação. Por exemplo, em 1955, foram usados em
cursos de pós-graduação; em 1958, como máquina de ensinar, no Centro de Pesquisa Watson
da IBM e na Universidade de Illions.
Para Leite e Braga (2009) a inserção de programas de informática nas escolas
brasileiras pode ser uma das vias de apoio ao processo de aprendizagem. Além disso, pode
também proporcionar melhorias das condições de vida, reduzir as diferenças que o sistema
educacional oferece atualmente aos seus alunos e impulsionar a mobilidade social, assim a
educação ganha destaque por analistas e agentes sociais (Leite e Duarte 2005).
A utilização da informática na educação no Brasil começou com algumas experiências
na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Universidade Federal do Rio Grande do
SUL - UFRGS e da Universidade de Campinas - UNICAMP. Nos anos 80, estabeleceu-se por
meio da criação de uma identidade própria de raízes sólidas e relativa maturidade.
O termo Informática na Educação tem assumido alguns significados dependendo da
visão educacional e da condição pedagógica em que o computador é utilizado. De acordo com
Valente e Almeida (1997), Informática na Educação significa a inserção do computador no
processo de aprendizagem dos conteúdos curriculares de todos os níveis e modalidades de
educação.
A introdução da informática na educação, segundo a proposta de mudança pedagógica,
como consta no programa brasileiro, exige uma formação bastante ampla e profunda dos
educadores. Não se trata de criar condições para o professor simplesmente dominar o
computador ou o software, mas sim auxiliá-lo a desenvolver conhecimento sobre o próprio
conteúdo e sobre como o computador pode ser interagido no desenvolvimento desse
conteúdo. Mais uma vez a questão da formação do professor mostra-se relevante no processo
de introdução de informática na educação, exigindo soluções inovadoras e novas abordagens
que fundamentam o curso de formação.
Para entender este cenário, Valente (2009) explica que mudança é a palavra de ordem
na sociedade atual. Os meios de produção e serviço passam por profundas mudanças,
50
caracterizadas como uma mudança de paradigma - do paradigma da produção em massa para
a produção enxuta. Essas mudanças implicam alterações nos diversos segmentos da
sociedade, afetando a maneira de atuação e ação das pessoas. Elas demarcam a passagem para
a sociedade do conhecimento, na qual fatores tradicionais da produção como matéria prima, o
trabalho e o capital terão um papel secundário. O conhecimento e, portanto seus processos de
aquisição assumirão papel de destaque, de primeiro plano. Essa valorização do conhecimento
demanda uma nova postura de profissionais em geral, e, portanto requer o repensar dos
processos educacionais, principalmente aqueles que estão diretamente relacionados com a
formação de profissionais e com os processos de aprendizagem.
O autor afirma também que esses processos educacionais não podem ser vistos como
uma educação voltada ao paradigma Fordista, ou seja, baseado no empurrar a informação para
o aluno. Observe:
A escola pode ser vista como uma linha de montagem, em que o aluno é o produto
que está sendo educado ou ―montado‖ e os professores são os montadores, que
adicionam informação ao produto. Além disso, existe a estrutura de controle do
processo de ―produção‖, formada por diretores, supervisores que verificam se ―o
planejamento da produção‖ traduzida em termos de métodos, currículo e disciplinas,
está sendo cumprido. A educação atual opera com base no racional em que ―se tudo
for realizado de acordo com o plano, a linha de montagem deve produzir alunos
capacitados‖. Caso contrário, existem as ões corretoras, como a recuperação ou a
competência. (JOSÉ ARMANDO VALENTE, 1999, p.35)
Quando o assunto é educação, mesmo que esteja correlacionado com outras áreas do
conhecimento, não se pode deixar de comentar as reflexões dos grandes pensadores, um deles
com certeza é Paulo Freire que viveu intensamente comprometido com a vida humana e lutou
incisivamente por uma educação que liberta e não oprime. Assim, julga-se necessário discutir
suas idéias, uma vez que, no âmbito educacional, qualquer atitude empreendedora ou técnica
pedagógica inovadora certamente terá como finalidade atingir as constatações observadas por
este grande autor.
Freire (1987) destaca que a educação é uma forma de intervenção no mundo, e que
deve existir sempre uma troca mútua de conhecimentos, onde quem ensina aprende ao ensinar
e quem aprende ensina ao aprender, além disso, a educação é um encontro entre
interlocutores, que procuram no ato de conhecer a significação da realidade e na práxis o
poder da transformação. Dessa forma, na organização que aprende, a ação pode e deve ser
muito mais que um processo de treinamento ou domesticação, deve ser sim, um processo que
nasce da observação e da reflexão e culmina na ação transformadora. O autor ressalta ainda
que a educação não deve ser uma educação bancária, onde esse tipo de ensino se caracteriza
pela presença de um professor depositante e um aluno depositário da educação.
51
Para Freire, (1987, p.80):
enquanto a prática bancária implica uma série de anestesia, inibindo o poder criador
dos educandos, a educação problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo,
implica num constante ato de desvelamento da realidade. A primeira pretende
manter a imersão; a segunda, pelo contrário, busca a emersão das consciências, de
que resulte a inserção crítica na realidade
Então, nessa óptica, Freire (1987) destacou algumas constatações que retratam o
cotidiano educacional de muitas faculdades no que concerne à postura do educador e do
educando em sala. Nota-se então a instrumentalização comportamental, pois, a falta de
autonomia mostra que ambos procuram se adaptar ou se ajustar a uma ação em que um fala e
o outro somente escuta, são elas:
1) o educador é o que sabe de tudo; os educandos, os que não sabem nada;
2) o educador é o que pensa; os educandos, os pensados;
3) o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam amavelmente;
4) o educador é o que educa; os educandos, os que são educados;
5) o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a
prescrição;
6) o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados;
7) o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na
atuação do educador;
8) o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, jamais ouvidos nesta
escolha, se acomodam a ele;
9) o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe
antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações
daquele;
10) o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos.
Ainda, o autor entende que ao contrário da ―bancária‖, a educação problematizadora
responde à essência do ser da consciência. O antagonismo entre as duas concepções, uma, a
―bancária‖, que serve à dominação; outra, a problematizadora, que serve à libertação, toma
corpo exatamente aí. Enquanto a primeira, necessariamente, mantém a contradição educador-
educandos; a segunda realiza a superação. Para manter a contradição, a concepção ―bancária‖
nega a dialogicidade como essência da educação e se faz antidialógica; para realizar a
superação, a educação problematizadora situação gnosiológica afirma a dialogicidade e se
faz dialógica.
52
Entende-se com isso o papel fundamental do professor em possibilitar caminhos
alternativos que vão de encontro a esta educação instrumentalista. Ocorre que se este faz parte
de uma sociedade opressora e ainda concorda como tal. Freire (1987, p.17) menciona que suas
ações estarão voltadas para o oprimido, veja:
Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o
significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os
efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da
libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca;
pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. Luta que, pela
finalidade que lhe derem os oprimidos, será um ato de amor, com o qual se oporão
ao desamor contido na violência dos opressores, até mesmo quando esta se revista
da falsa generosidade referida.
É relevante ressaltar aqui, para efeito de entendimento, a idéia de oprimido. Este é
uma pessoa que tem medo da consciência crítica, da discordância e de correr riscos, talvez por
receio da desordem ou então da liberdade, Paulo Freire refletia sobre isso, porque o seu
método está pautado na politização e na conscientização do indivíduo através da educação,
assim, poderia de uma vez por todas, solucionar as contradições do mundo humano, sejam
estruturais, superestruturais e interestruturais, do contrário, o oprimido de hoje, certamente
será o opressor de amanhã.
Esse, na verdade é o grande dilema na pedagogia do oprimido, ou seja, essa dualidade
que se instala na interioridade do ser. Pois, se o mesmo não procurar a liberdade, não será
autêntico, são eles e ao mesmo tempo são o outro introjetado neles, como consciência
opressora. A luta se trava em expulsar ou não o opressor dentro de si entre se desalienarem ou
se manterem alienados. Entre seguirem prescrições ou terem opções. Entre serem
espectadores ou atores. Entre atuarem ou terem a ilusão de que atuam, na atuação dos
opressores. Entre dizerem a palavra ou não terem voz, castrados no seu poder de criar e
recriar, no seu poder de transformar o mundo. (Freire 1987).
É por isso que é importante crer tanto nos homens oprimidos quanto nos opressores.
Isso porque os mesmos devem ser vistos como capazes de pensar corretamente também. O
diálogo, a reflexão e a comunicação são preceitos pautados na valorização humana, assim,
não outro caminho senão a prática de uma pedagogia humanizadora. Por acreditar no ser
humano é que Freire (1987) detecta que a relação educador-educandos na escola ou em
qualquer nível, deve ser a mais especial possível.
De acordo com Toffler (1985) o mundo hoje vive na era da informação. Desta forma,
a escola precisa se modernizar também. David et. al. (2001) afirmam que a educação formal,
por muitos anos estava mais voltada para a certeza do passado do que o futuro provável.
53
Assim, os professores e alunos terão que aprender a aprender, pois, a educação é vista como
um processo e não um produto, ainda, um processo de construção e reconstrução da
experiência, e de melhoria permanente da eficiência individual.
Esse novo momento clama mudanças. Isso porque, uma nova cultura passa a ser
escrita e vivenciada, então, novos procedimentos foram sistematizados, principalmente no
que tange ao relacionamento interpessoal entre alunos e professores, a frieza, a falsidade, a
dissimulação e manipulações que existiam antes deram lugar ao espírito de equipe que
aperfeiçoou a força humana para a busca da socialização dos saberes.
Diferente da pedagogia tradicional, na qual o aluno é um sujeito passivo e mero
receptor de informações, a pedagogia moderna incentiva a construção do conhecimento tanto
pelo aluno, quanto pelo professor. David et. al. (2001) chama este de facilitador ou mediador,
pois, é quem estimulará, conduzirá e orientará a aprendizagem.
Sendo assim, o processo de ensino e aprendizagem de acordo com Moran et. al. (2000)
é ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do
seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e
comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e
tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Rogers (1977) por sua vez, constrói algumas
afirmativas que traduzem a concepção de aprendizagem, são elas:
1) a capacidade natural do ser humano em aprender;
2) a percepção do aluno no momento do aprendizado, pois interage quando a matéria a
ser estudada corrobora com seus objetivos;
3) a aprendizagem que envolve mudança na vida pessoal suscita reações adversas
tanto de si como da parte do outro;
4) as aprendizagens que ameaçam o próprio ser são mais facilmente percebidas e
assimiladas;
5) por meio de ações que se adquirem aprendizagem mais expressivas;
6) a aprendizagem é facilitada quando o aluno participa responsavelmente do seu
processo;
7) a aprendizagem autoiniciada, que envolve o aprendiz, seus sentimentos e sua
inteligência, é a mais duradoura;
54
8) o aprendizado socialmente mais útil, no mundo atual, é a do próprio processo de
aprendizagem, que é proporcionado por uma constante abertura à experiência e a
incorporação dentro de si à mudança.
Esse processo de aprendizado é proporcionado com base nos princípios da pedagogia
moderna, ou seja, na pedagogia que permite a construção do conhecimento e não na
reprodução do mesmo. Bolzan (1998) resume essa diferença paradigmática, veja no quadro
abaixo:
Quadro 6 Diferenças das Pedagogias
PEDAGOGIA TRADICIONAL
PEDAGOGIA MODERNA
Enfoca o conhecimento como um produto
pronto, acabado e inquestionável.
Contextualiza o conhecimento a partir de sua
gene histórica.
Valoriza a disciplina como reprodução de
letras, palavras, texto e vivência do professor.
Valoriza a reflexão e a vivência do aluno em
sua realidade.
Privilegia a memória e a repetição do
conhecimento acumulado.
Privilegia a intervenção no conhecimento.
Utiliza a síntese moldada para repassar as
informações aos docentes.
Estimula a análise das informações a partir de
argumentos embasados e ideias.
Enfatiza o não questionamento
Enfatiza a crítica, a reflexão, a curiosidade, o
questionamento, a incerteza e a inquietação.
Exige uma resposta única e verdadeira.
Possibilita reflexões divergentes.
Desenvolve as ações da disciplina curricular
de maneira limitada sem interação com outras
áreas do conhecimento.
Percebe o conhecimento de forma
transdisciplinar, ou seja, correlacionando com
outras áreas do conhecimento.
Utiliza o espaço em sala de aula para repassar
somente a disciplina e tê-la como dada.
Valoriza-se o encontro em sala de aula de uma
forma qualitativa para que o tempo seja
valorizado e os estudos sejam orientados.
Tem a pesquisa como uma ação
instrumentalizada onde se sobrepõe a
capacidade intelectual do aluno.
Incentiva a pesquisa como atividade coligada
à extensão e uma forma de construir
conhecimentos
Exige um professor culto que ministra com
segurança o conteúdo programático
Requer um professor inteligente, acessível,
responsável e capaz de estimular a dúvida.
O professor é tido como principal fonte de
informação para repassar o conhecimento
O aluno deve adquirir autonomia para buscar
outras fontes de informações e pesquisa.
Fonte: Bolzan (1998, p.16).
55
As caracterizações da pedagogia moderna citadas acima são postas com vistas a
preparar as pessoas para a sociedade, para serem pessoas éticas e terem cidadania. Por isso, a
faculdade tem grande importância na vida do ser humano. Isso requer que essas instituições
acompanhem com a mesma veemência as transformações provenientes da sociedade global.
Essa perspectiva da educação, moderna e que liberta, discutida pelos autores acima, dá
base para os estudos do empreendedorismo voltados a esta área. Isso porque o mesmo não
pode ser notado aleatoriamente e sim contextualizado até mesmo para que suas ideias sejam
concebidas e estruturadas na vida das pessoas, nos seus empreendimentos ou em seus locais
de trabalhos, assim, as discussões terão sentido.
Pinchot III (1989, p. 71) revela que ―inovação o quer dizer invenção, invenção é o
ato de gênio ao criar algo potencialmente útil. Em inovação isso é apenas o começo. Quando a
invenção é feita, a segunda metade da inovação começa: transformar, implementar e
desenvolver‖. Sendo assim, as empresas precisam de pessoas que criem, inovem e participem
em equipes dos processos decisórios para torná-las competitivas no mercado globalizado, seja
através de um produto ou serviço novo.
Para isso, a faculdade precisa repensar a formação dos jovens. Isso porque o mundo
precisa de cidadãos empreendedores que possam pensar em ideias inovadoras capazes de
solucionar os problemas como a miséria, fome, corrupção, doenças, desmatamento e outros.
Assim, os jovens necessitam estar preparados para criar, correr risco sem correr perigo,
inovar, ter liberdade para se expressar, e outros.
A pedagogia moderna e centrada na inovação e criatividade provoca mudanças na
abordagem educacional, pois para Leite e Braga (2009) o papel a ser desempenhado pelo
computador no processo educacional é o de provocar modificações pedagógicas profundas ao
invés de ―automatizar o ensino‖, ou seja, o de criar ambientes educacionais usando o
computador como recurso facilitador do processo de aprendizagem.
Ainda o mesmo autor afirma que o desafio está na substituição do aluno como mero
receptor de informação para ser agente de transformação, observe:
Mudança da abordagem educacional seria a de transformar uma educação centrada
no ensino e na transmissão da informação, para uma educação em que o aluno
pudesse realizar atividades através do computador e, assim, aprender. Embora a
mudança pedagógica tenha sido o objetivo de todas as ações dos projetos de
Informática na educação, os resultados obtidos nas escolas públicas de ensino ainda
não foram suficientes para sensibilizar ou alterar o sistema educacional como um
todo. Diagnósticos de análises realizadas na última década tornaram evidente que as
mudanças pedagógicas necessárias não dependem simplesmente da instalação dos
computadores nas escolas. É necessário repensar a questão da dimensão do espaço e
do tempo da escola. A sala de aula deve deixar de ser o lugar das carteiras
enfileiradas para se tornar um local em que professor e alunos possam realizar um
56
trabalho diversificado em relação a conhecimento e interesse. O papel do professor
deixa de ser o de ‗entregador‘ de informação para ser o de facilitador‘ do processo
de aprendizagem. O aluno deixa de ser passivo, de ser o receptáculo das informações
para ser ativo aprendiz, construtor do seu conhecimento. (LEITE E BRAGA, 2009,
p.55).
Para Dowbor (2001) mudam-se as tecnologias, mais também muda o mundo que deve
ser estudado, desta forma é preciso mudar as próprias formas de ensino. A informática não é
apenas a chegada de novas máquinas. E neste caso, não resolve sequer a mentalidade do
"manual de instruções": a compreensão das novas dinâmicas ainda está em plena construção.
Desta forma modifica-se a função do educando, que deve se tornar sujeito da própria
formação, frente à diferenciação e riqueza dos espaços de conhecimento nos quais deverá
participar. A educação vista neste prisma tende a se tornar de certa forma orientada pela
demanda, sendo que construir o seu próprio universo de conhecimento passa a ser uma
condição central da inserção social das pessoas.
Ainda Dowbor (2001) afirma que se precisa penetrar nas transformações tecnológicas
para entender sob que forma os seus efeitos podem ser invertidos, levando a um processo
reequilibrador da sociedade, quando hoje tendem a reforçar as polarizações e a desigualdade.
Trata-se, em outros termos, de trabalhar de maneira séria e sem ilusões o fato das novas
tecnologias terem dois gumes, pois tanto podem servir para a elitização e o aprofundamento
das contradições sociais, como para gerar, através da democratização do conhecimento, uma
sociedade mais justa e mais equilibrada.
O grande desafio da educação é o de mobilizar as suas forças para reconstruir uma
convergência entre o potencial tecnológico e os interesses humanos. O mundo da educação,
no Brasil, juntando alunos e professores, representa cerca de 40 milhões de pessoas. É uma
força. O novo peso do conhecimento no planeta, e da educação nos processos de reprodução
social podem constituir uma poderosa alavanca de humanização social. (Valente e Almeida,
1999).
Dowbor (2001 P.15) destaca que a educação é importante para o cidadão ter acesso
aos seus direitos, veja:
A luta pelo acesso aos espaços de conhecimento vincula-se ainda mais
profundamente ao resgate da cidadania, em particular para a maioria pobre da
população, como parte integrante das condições de vida e de trabalho. O Relatório
Mundial sobre a Informação da Unesco insiste muito sobre este ponto: o acesso à
informação, neste mundo complexo que vivemos, é vital inclusive para o cidadão
poder ter acesso aos outros direitos humanos. Neste sentido deve-se batalhar por
uma educação pública, aberta e transparente.
Gentili e Alencar (2002) afirmam que ―a cidadania deve ser pensada como um
conjunto de valores e práticas cujo exercício não somente se fundamenta no reconhecimento
57
formal dos direitos e deveres que a constituem na vida cotidiana dos indivíduos‖. Pois, não
basta que se defina um conceito formalmente. Mais importante que isso é a prática dessa
definição. Cidadania significa, além do reconhecimento dos direitos e deveres dos cidadãos, o
cumprimento dos mesmos por parte da sociedade Um outro aspecto importante é que a
cidadania tem na igualdade uma condição de existência. Igualdade de direitos, de deveres, de
oportunidades. Igualdade, enfim, de participação social e política.
Para Luz (2007) nesse contexto de indefinição, os ―cidadãos‖ enfrentam justas
dificuldades relativas ao exercício destes direitos e deveres por muitas vezes desconhecê-lo
por completo, pois, se o indivíduo não tem uma definição do que seja a cidadania, obviamente
não poderá exercê-la de forma plena. Concomitante a esta indefinição no conceito de
cidadania, a democracia tampouco poderá acontecer uma vez que ela se faz na participação
dos cidadãos, ou seja, a cidadania deve ser pensada como condição fundamental para a
existência de uma sociedade democrática.
A complexidade do mundo globalizado, a amplitude das comunicações, provocam
essa indefinição relativamente à cidadania. Se ser cidadão significa, conforme a
origem grega, em termos bastante genéricos, ser o habitante da cidade, isso implica
no pertencimento a determinado espaço geográfico. Mas o que se pode perceber é
que para a globalização não existem barreiras. Ao extrapolar estes limites faz
desaparecer as peculiaridades de cada espaço e também dos indivíduos implicados.
Serão todos ―cidadãos do mundo‖, sujeitos indefinidos socialmente. A rapidez das
transformações sociais provoca igualmente transformações individuais. Isso exige
readaptação, reeducação. É neste ponto que a escola precisa também ser repensada,
principalmente os professores, responsáveis diretos por promover essa readaptação
exigida pelas transformações tecnológicas. Dessa forma, é necessário que valores e a
forma de disseminá-los sejam repensados, inclusive no que se refere à cidadania
(LUIZ MOLINA LUZ, 2007, p.88)
De acordo com Cabral (2008) a educação é um meio de construção e reconstrução de
valores e normas que dignificam as pessoas e as tornam mais humanas. "Numa educação
ética, é preciso resgatar e incorporar os valores de solidariedade, de fraternidade, de respeito
às diferenças de crenças, culturas e conhecimentos, de respeito ao meio ambiente e aos
direitos humanos." (Siegel, 2005, p. 41).
A educação para a cidadania pretende fazer com que cada pessoa seja um agente de
transformação. Isso exige uma reflexão que possibilite compreender as raízes históricas da
situação de miséria e exclusão em que vive boa parte da população. A formação política, que
tem no universo escolar um espaço privilegiado, deve propor caminhos para mudar as
situações de opressão. A idéia de educação deve estar intimamente ligada às de liberdade,
democracia e cidadania. A educação não pode preparar nada para a democracia a não ser que
também seja democrática.
58
Ainda, Cabral (2008) atesta que na tentativa de propor uma educação comprometida
com a cidadania, os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN elegeram, com base em textos
constitucionais, princípios pelos quais pode ser orientada a educação escolar, observe a
seguir:
- dignidade da pessoa humana, que implica no respeito aos direitos humanos, repúdio
à discriminação de qualquer tipo, acesso a condições de uma vida digna, respeito mútuo nas
relações interpessoais, públicas e privadas;
- igualdade de direitos que se refere à necessidade de garantir que todos tenham a
mesma dignidade e possibilidade de exercício da cidadania;
- participação, que como princípio democrático, traz a noção de cidadania ativa, isto é,
da complementaridade entre a representação política tradicional e a participação popular no
espaço público, compreendendo que não se trata de uma sociedade homogênea e sim marcada
por diferenças de classe, étnicas, religiosas, etc;
- co-responsabilidade pela vida social, que implica em partilhar com os poderes
públicos e diferentes grupos sociais, organizados ou não, a responsabilidade pelos destinos da
vida coletiva.
São estes pontos que o professor necessita para trabalhar o conceito de igualdade e
democracia dentro do âmbito escolar. A educação escolar necessita ser um instrumento básico
para o exercício da cidadania. Ela, entretanto, não constitui a cidadania, mas sim uma
condição indispensável para que a cidadania se constitua.
É necessário ensinar as crianças e jovens não apenas a ler e a escrever, mas a olhar o
mundo a partir de novas perspectivas. Ensinar a ouvir, falar e escutar, a desenvolver atitudes
de solidariedade, a aprender dizer não ao consumismo imposto pela dia, a dizer não ao
individualismo e sim à paz.
Educar para a cidadania é adotar uma postura, é fazer escolhas. É despertar para as
consciências dos direitos e deveres, é lutar pela justiça e não servir a interesses seculares. É
uma urgência que grita e que deveria ecoar nos corações humanos e não nos alarmes das
propriedades que tentam proteger a vergonha do que a civilização humana construiu. Para
alcançar isso, não se pode ficar somente no ensinar para a cidadania. É preciso construir o
espaço de se educar na cidadania. preciso plantar a semente da educação para colher os
frutos da cidadania". (Freire 1987).
59
3 METODOLOGIA
Para Godoy (1995) ―a expressão Ciências Sociais costuma ser usada para indicar
diferentes áreas do conhecimento que se preocupam com os fenômenos sociais, econômicos,
políticos, psicológicos e culturais educacionais‖, ou seja, aqueles que englobam relações de
caráter humano e social. Ainda, a pesquisa nessa área, nos últimos trinta anos, vem sendo
abordada também sob o viés qualitativo. Isso porque esta não procura enumerar, medir ou
mensurar os episódios estudados, e sim parte de questões ou focos de interesses amplos, que
vão se definindo a partir do momento que o estudo se desenvolve.
Para Godoy (1995), a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos
sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a
situação estudada. Tal fato procura compreender os fenômenos a partir da perspectiva dos
sujeitos que será observada na ―pesquisa de campo‖, expressão usada no enfoque qualitativo
para diferenciar os estudos conduzidos em ―campo‖, ou seja, no ambiente natural dos sujeitos,
daqueles desenvolvidos em situações de laboratórios ou ambiente controlados pelo
investigador.
No concernente às apresentações, as mesmas foram descritas sem serem pré-julgadas.
Para isso, foram levados em conta a causalidade e a intersubjetividade dos sujeitos, além
disso, os estudos se apropriaram do conhecimento por meio do círculo compreensão -
interpretação - nova compreensão. De acordo com Masini (1991) essa ação revela ser uma
abordagem inacabada e não definitiva; logo, essas características remetem ao estudo do
método fenomenológico.
Segundo Vergara (2004), ―a fenomenologia consiste no estudo do fenômeno,
entendido este como aquilo que se manifesta como é‖. Para Moreira (2002 apud Vergara
2004) o que propicia a compreensão de um dado fenômeno são as essências, ou seja, o sentido
verdadeiro das coisas. Ainda, a perspectiva fenomenológica busca reintegrar o mundo da
ciência ao mundo da vida.
O método fenomenológico é o escolhido ao estudo proposto. Pois, permite explorar
situações, valores e práticas com base na visão de mundo dos próprios sujeitos. Além do mais,
possibilita desbravar conhecimentos, ao invés de verificar o saber conceituado. Para isso,
Vergara (2004) afirma que o pesquisador precisa ter habilidade para interagir com o
pesquisado, isso porque ele deve conduzir a entrevista sob a forma de um diálogo e ter
cuidado com possíveis desvios relacionados à autenticidade do relato.
60
A pesquisa analisou uma unidade social, que é a Escola de Informática e Cidadania.
Desta forma, esse ambiente foi observado para que o pesquisador mostrasse a multiplicidade
de dimensões presentes em uma determinada situação, uma vez que, a realidade é complexa,
por esse motivo o tipo de pesquisa a ser trabalhado é o Estudo de Caso.
Godoy (1995) atesta que o Estudo de Caso se caracteriza como um tipo de pesquisa
cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente, além disso, o pesquisador
geralmente utiliza uma variedade de dados coletados em diferentes momentos. Por meio de
variadas fontes de informação, o Estudo de Caso tem como técnicas principais de pesquisa a
observação e a entrevista.
No que tange à observação, o mesmo autor afirma que esta tem papel essencial.
Quando observada, procura-se aprender aparências, eventos e comportamentos, destacando
ainda que a observação foi participante. Neste caso, o pesquisador se colocou na posição dos
outros elementos envolvidos no fenômeno em questão.
As visitas, para planejamento e execução da coleta de dados, foram realizadas entre os
meses de fevereiro a abril de 2010. Para isso, o registro da observação foi feito por um
gravador ou caderno especialmente direcionado para receber anotações, posteriormente, os
dados foram utilizados para enriquecer a interpretação qualitativa.
Quantos aos fins, segundo Gil (1987) e Vergara (2004), esta pesquisa foi classificada
como exploratória, por ser realizada em uma área de pouco conhecimento sistematizado, no
caso, a escola envolvida no projeto. Foi também descritiva, por buscar identificar e descrever
as características do universo de estudo, composto por pessoas e ambiente que foram olhados
holisticamente, visando à compreensão ampla do fenômeno que está sendo estudado. Desta
forma, os dados da realidade foram considerados importantes, por isso foram examinados.
Já quanto aos meios, a pesquisa foi:
bibliográfica: utilizada na fundamentação teórica;
documental: uma vez que foi utilizada como fonte documentação o Projeto Político
e Pedagógico da EIC;
telematizada: uma vez que foram feitas consultas via internet; e
como pesquisa de campo: devido à coleta de dados primários através de entrevistas,
e observação participativa.
No que concerne ao universo e à amostra deste estudo, entende-se que este tem como
unidade de análise a Escola de Informática e Cidadania, onde ocorrem as aulas deste Projeto
fomentado pela Mineradora ―Y‖. Esta escola, está localizada em Vila dos Cabanos -
61
Barcarena - Pa, município de Belém, especificamente na Rua Antônio Manoel Meninéia
Q113 L1.
Entende-se aqui também que o projeto é fomentado pela Mineradora ―Y‖, empresa do
ramo de indústria, sediada em Barcarena - Pa, na qual o pesquisador tem fácil e cordial
acesso. Por sua vez, esta se destaca pela sua história na Amazônia, especificamente na região
citada acima, e por fazer parte do desenvolvimento da mesma, além disso, sob o aspecto
econômico e financeiro tem apresentado forte crescimento nos últimos anos (tanto em número
de funcionários quanto em faturamento). Sob o aspecto social, a empresa desenvolve projetos
nos quais a comunidade que fica em seu entorno, faz parte, por tudo isso que foi citado, este
pesquisador atesta que é um universo perfeito para objeto de estudo.
No que tange à coleta de dados, Gil (1987) afirma que a fase de pesquisa bibliográfica
é fundamental, pois, muitos dados importantes na pesquisa social provêm de fontes de
―papel‖. Sendo assim, as informações foram coletadas por meio de livros, dicionários,
dissertação, material publicado em periódicos que abordem questões que acrescentem ao
assunto estudado.
As entrevistas individuais foram feitas por pautas abertas e semi-estruturadas com 21
membros da EIC, divididos entre professores provenientes do Projeto, alunos e egressos. Essa
quantidade foi importante para detectar informações e, a partir disso, poder estruturar as
categorias de análises que apareceram no decorrer da pesquisa. Os encontros foram agendados
através de contatos pessoais com a empresa e a escola.
Esse instrumento de coleta de dados é adequado para este tipo de pesquisa e serviu,
principalmente, para atingir os objetivos da mesma. Sendo assim, as entrevistas foram
conduzidas pelo autor, na escola, entre os meses de fevereiro a abril de 2010. Laville e Dionne
(1999) recomendam que se deva fazer emergir valores subjacentes e pressupostos assumidos
nas respostas dos entrevistados de modo a tentar, não entender o porquê das ões (ou das
práticas), mas também tentar encontrar padrões comuns aos entrevistados.
Para tal, antes de cada entrevista foi explicado ao entrevistado o objetivo e a relevância
da pesquisa, a importância de sua colaboração e a confidencialidade dos dados informados.
As entrevistas foram feitas com perguntas abertas e semiestruturada, buscando-se obter maior
espontaneidade do entrevistado, desta forma, foram observados e anotados suas opiniões,
sensações e manifestações corporais nas expressões orais, como tonalidade da voz e ênfase
em palavras.
O roteiro foi elaborado de forma a cobrir os pontos colocados nas perguntas da
pesquisa, porém, as entrevistas foram conduzidas de forma a capturar aspectos que surgissem
62
naturalmente e a reduzir a interferência do pesquisador no levantamento das questões
relevantes da perspectiva dos próprios entrevistados, logo, a espontaneidade foi valorizada.
A investigação empírica foi realizada por meio da análise das transcrições das
entrevistas da pesquisa. As pesquisas bibliográfica e documental se justificam na medida em
que servem de base e referência para o esclarecimento de questões a respeito do tema.
Complementarmente aos meios de coleta de dados supracitados, realizou-se a
observação informal e participativa, a fim de buscar informações adicionais sobre a realidade
social dos atores sociais em seu próprio contexto, conforme observado por Cruz Neto (1994,
apud Castro, 2004). Adicionalmente, acredita-se que o resultado da análise serviu de auxílio
para os membros da escola e aos executivos da referida organização (e talvez de outras
organizações) em suas ações e direcionamentos futuros.
O tratamento e a análise de dados ocorreram através do conteúdo. Pois para avaliar o
Projeto de Responsabilidade Social Empresarial ―Escola de Informática e Cidadania‖
desenvolvido pela ALBRAS, foi necessário analisar o conteúdo obtido através das entrevistas
que foram feitas aos sujeitos da pesquisa, além disso, possibilitou perceber o caráter subjetivo
das respostas, uma vez que foi a partir delas, que a avaliação do Projeto pôde ser feita.
Ademais, para não prejudicar a análise, o conteúdo das falas foi transcrito ipsis litteris.
As nuanças referentes à tonalidade da voz ou a movimentos corporais foram evidenciadas e
foram sublinhadas as palavras que se queria ressaltar. Posteriormente, os trechos transcritos e
os comentários anotados ao longo das entrevistas foram analisados e agrupados de modo a
evidenciar categorias de análise.
Segundo Bardin (1977) a análise de conteúdo desenvolveu-se nos Estados Unidos a
partir do início do século XX. Nesta época o rigor científico invocado é o da medida, e o
material usado é essencialmente jornalístico. Ainda, o autor confirma que o primeiro nome
que de fato ilustra a história da análise de conteúdo é o de Lasswell, fez análises de imprensa
e propaganda desde 1915 aproximadamente.
Posto isso, Bardin (1977) destaca que a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas
de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição
do conteúdo das mensagens isto é, qualquer transporte de significações de um emissor para
um receptor controlado ou não por este, pode ser decifrado pelas técnicas de análise de
conteúdo, logo, para P. Henry e S. Moscovici (1968 apud Bardin, 1977) tudo o que é dito ou
escrito é susceptível de ser submetido a uma análise de conteúdo.
A análise de conteúdo abrange três etapas: pré-análise, exploração do material e
tratamento dos dados e interpretação. A primeira refere-se à seleção do material e à definição
63
dos procedimentos a serem seguidos. A segunda diz respeito à implementação destes
procedimentos, e, a terceira, recorre à geração de inferências e resultados da investigação.
As categorias para análise foram definidas sob a forma de grade aberta. Para Tesch
(1990), essas são identificadas conforme vão surgindo ao pesquisador. Procede-se ao
rearranjo das categorias durante o andamento da pesquisa, assim, estabelecem-se categorias
finais de análise. O autor conceitua categorias como classes que reúnem um grupo de
elementos sob um título genérico. Tal agrupamento, efetuado em razão de seus caracteres
comuns, implica em isolá-los para em seguida agrupá-los.
64
4 RESULTADOS DA PESQUISA
Esta pesquisa tem o propósito de avaliar o Projeto de Responsabilidade Social
Empresarial Escola de Informática e Cidadania‖ desenvolvido pela ALBRAS S.A. O estudo
foi dividido em tópicos, são eles: análise descritiva, Escola de Informática e Cidadania, linhas
e diretrizes do Projeto político-pedagógico do curso e influência e resultados do Projeto na
vida de alunos e egressos.
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA
A análise dos dados obtidos por meio de entrevista com professores, egressos e alunos
informa que a Escola é composta por 8 professores e 85 alunos com idade entre 10 e 50 anos.
A entrevista se deu com 21 pessoas: 1 diretor, 4 professores, 2 egressos e 14 alunos. A
diretora da instituição referida é Assistente Social, possui 48 anos e dirige a Escola há mais de
5 anos, está à frente das atividades e projetos desenvolvidos para atender às necessidades das
comunidades vizinhas. Os professores possuem o grau completo, atual ensino médio, com
exceção de um deles que está terminando, têm idade entre 20 e 26 anos, não atuam em outra
Escola e fizeram os cursos promovidos pela Escola de Informática. Dos dois egressos
entrevistados, um tem 38 anos e trabalha como secretário da Escola e o outro tem 40 anos e
trabalha como assistente da diretora para assuntos referentes aos cursos. Os alunos têm idade
entre 14 e 35 anos, a maioria estuda na Escola Pública de ensino médio e fundamental
Eduardo Angelim situada na comunidade.
Ainda com relação ao perfil dos alunos, as informações mostram que eles são das
comunidades que ficam ao redor da ALBRAS, a maioria proveniente da zona rural. Na sua
maioria, são filhos de pais assalariados (renda mensal entre 1 e 2 salários mínimos). Segundo
os educadores, ―os pais muitas vezes não julgam a educação importante‖ o que pode
justificar, em parte, o fato de haver alunos desinteressados pelo estudo.
4.2 ESCOLA DE INFORMÁTICA E CIDADANIA
A Escola de Informática e Cidadania está localizada em Vila dos Cabanos - Barcarena
- Pa, município de Belém, especificamente na Rua Antônio Manoel Meninéia Q113 L1. É
uma escola de porte pequeno (unidades que contam com número entre 2 e 5 salas de aula).
Possui na sua estrutura sica: 1 (uma) sala da Diretoria com 1(um) banheiro, 1 (uma) sala da
Secretaria, 5 (cinco) salas de Informática, 1 (uma) sala de professores (com 1 banheiro
feminino e 1 banheiro masculino), 1(um) refeitório e banheiros (1 masculino e 1 feminino)
65
para os alunos. Não biblioteca para consultas a livros ou para pesquisas. Em relação aos
recursos humanos, a unidade de ensino conta, atualmente, com o quadro de funcionários
abaixo indicado.
Quadro 7: Profissionais que atuam na Escola de Informática e Cidadania - 2010
Cargo
Número de Profissionais por área
de atuação
Diretora
01
Vice-diretora
01
Professor (a)
08
Secretária
01
Auxiliares de Secretaria
02
Auxiliares de serviços
básicos
03
Auxiliar pedagógico
01
Total de Funcionários que
atuam na EIC
17
Fonte: O autor
De acordo com Valente e Almeida (1999) a adequação do espaço físico e
equipamentos disponíveis nas escolas têm relação direta com o nível de aprendizagem e de
motivação dos alunos. No caso da Escola de Informática e Cidadania, detectou-se que as
condições de funcionamento são consideradas relativamente adequadas e em conformidade
com o que o projeto pretende atender, ou seja, o prédio é limpo, com serviço de manutenção
periódica, equipado de recursos materiais e pedagógicos, como aparelhos de vídeo, televisão e
computadores, refeitório mobiliado, salas de aulas arejadas com o mobiliário em condições
relativas de uso e em número suficiente.
A Escola funciona com atendimento a adolescentes, jovens e adultos. Em relação ao
número de alunos, contava, em março de 2010, com 85 alunos matriculados, distribuídos nos
níveis dos cursos promovidos pela mesma. No que concerne à administração, ressalte-se que
é feita por meio de gestão compartilhada entre direção, auxiliares pedagógicos e de serviços.
A direção da unidade vem tentando abrir espaço para maior participação da
comunidade local, por entender que esse é o melhor caminho para que a população usuária se
sinta envolvida com as propostas de trabalho em conjunto que podem se estabelecer, fazendo
com que os pais se interessem pela vida escolar e profissional dos filhos e passem a ter a
Escola como um ponto de referência e de apoio. Além disso, aproveita a situação para
envolver a comunidade em outros Projetos como ―Driblando a Exclusão Social‖, ―Educação-
Concientização-Empreendedorismo‖ e outros.
66
Em entrevista informal e assistemática com a diretora, a mesma menciona que até a
sua chegada ao cargo da direção geral, a Escola era mais distante da comunidade e que foi a
atual gestão que promoveu essa abertura que ainda se mostra tímida, mas, aos poucos vem
tendo receptividade das pessoas da comunidade, pois, ao encontrarem um ambiente
acolhedor, passam a ―ver a escola com outros olhos‖. Essa é uma situação que sinaliza uma
atuação democrática e aberta da direção da unidade que adota um modelo de gestão que tenta
beneficiar a população local, como também incentivar o desenvolvimento das atividades
escolares da própria instituição. Desta maneira, ganham a Escola, a comunidade e os alunos,
que, ao se aproximarem em busca de apoio, foram auxiliados por profissionais que
atuam.
O esforço da gestão traduziu-se em resultados positivos para a Escola. Por esse motivo
se tornou referência na comunidade e passou a oferecer aos alunos a possibilidade de
crescimento e perspectivas de futuro, antes inimagináveis. Desta forma, foi interessante
estabelecer uma parceria com a comunidade local e, principalmente, com os pais, ação que
pode fazer a diferença no resultado do rendimento escolar dos alunos e na importância da
instituição como ponto de apoio e referência para a população do entorno.
Quanto às instalações da Escola, constatou-se que a empresa mineradora fornece
computadores, maquinários, móveis e equipamentos usados, assim como incentiva a
participação do jovem da comunidade, nos cursos pela ação do ―apadrinhamento‖, ou seja,
funcionários da empresa se responsabilizam pelo curso de alunos mediante uma taxa que é
paga para a Escola com a finalidade de custear os gastos, patrocinando, então, este aluno. Esta
ação não é obrigatória, mas, sim voluntária. Observou-se que vem acontecendo com
frequência esse ato. Os cursos de informática custam em média R$ 50,00 e R$ 60,00 para
quatro meses de curso. Na maioria das vezes, o aluno não tem essa quantia para pagar, desta
forma, a diretoria da Escola conjuntamente com seus assessores vão em busca de recursos
para ajudar jovens necessitados e sem condições financeiras.
Ficou evidente, também, que a empresa apoia a Escola com maquinários usados e
alguma ajuda de custo, como é o caso da ação do ―apadrinhamento‖; porém, a mesma precisa
se sustentar, tendo que buscar outras maneiras de obtenção de recursos para ajudar jovens sem
condições de pagar o curso, sendo assim, o discurso da Responsabilidade Social já vai ficando
enfraquecido, uma vez que se distancia do conceito de Responsabilidade elaborado por
Benthan (1995 apud Cherques, 2003) quando afirma que responsabilidade é a obrigação de
responder pela própria conduta. Ainda, é o que torna pessoas passíveis de sanção, castigo,
reprovação e culpa e sujeitos e objetos da ética, do direito, das ideologias e da fé. Então, a
67
responsabilidade social deve compreender ao dever de pessoas, grupos e instituições em
relação à sociedade como um todo, ou seja, em relação a pessoas, grupos e instituições.
As informações colhidas sinalizam que as condições pedagógicas do Projeto não
são boas. Verificou-se que os alunos conseguem ter uma aula razoavelmente interessante,
com conhecimentos não muito diversificados e metodologias pouco atraentes. Além disso,
reconhecem que os computadores são ultrapassados, daí ocorrerem algumas vezes problemas
técnicos ou operacionais. Mesmo assim, os alunos não inibem a vontade de estudar e
aprender, suas dificuldades parecem ser superadas com a vontade de sonhar, crescer e vencer,
uma vez que passaram ou passam por situações difíceis, e, desta forma, cada oportunidade
parece ser a última. Esses argumentos ficam evidenciados nas falas dos alunos abaixo:
Olha, está bom, mas, não tão bom, pode melhorar mais. Não está bom porque às
vezes um computador dá problema, mas tudo bem. (aluno 1)
É bom porque muita gente não tem esse lugarzinho pra treinar no computador, eu
acho bom, está legal. (aluno 2)
Alguns computadores não estão funcionando, tem dias que um não vai com a
minha cara de vez em quando. Vou aprender muito ainda, aqui é bacana tem ar
condicionado a gente não fica no calor, o ambiente é muito bom, às vezes que o
computador fica preguiçoso, se tivesse que melhorar, outro aparelho né, mas es
bom. (aluno 3)
A gente tem um pouco de dificuldade com relação às nossas máquinas, mas a gente
tem a ajuda de pessoas que ajudam a EIC e ajudam a gente, mas levamos com todas
as dificuldades. (aluno 4)
Em relação aos monitores, vejo que alguns são lentos, mas é muito legal ele, não é
por causa disso que vou deixar de aprender. (aluno 5)
Não é excelente, mas é bom, o mais importante é aprender. (aluno 6)
Eu gosto daqui eu mexo num computador, coisa que eu não tenho em casa e não
tenho dinheiro pra comprar, aqui também tem um espaço bem calmo e tranquilo, eu
gosto. (aluno 7)
Os computadores dão problemas às vezes, mas eu gosto daqui. (aluno 8)
Está bom, acho maravilhoso, acho legal o computador o rapaz que aula, é
maravilhoso. (aluno 9)
Tudo bom porque cada um fica com um computador, não tem duas pessoas no
computador, até agora está tudo ok. (aluno 10)
Os educadores e egressos corroboram com essa opinião. Além disso, estar nesse
momento com os alunos parece ser um aprendizado mais para si próprio do que para eles. A
sensação de compartilhamento de aprendizagens e experiências certamente é a força motriz
desses encontros. Essa constatação fica evidenciada nas falas dos entrevistados abaixo:
68
O Projeto é bem abrangente, objetivo onde busca fazer a inclusão social e busca
incluir as pessoas daqui da comunidade. O local ainda é carente devido os
computadores serem reciclados, são melhorados e depois reutilizados ajudando as
pessoas a aprenderem a informática, então computadores que iam para o lixo, hoje
ajudam as pessoas a crescerem na informática. (educador 1)
Para mim é bom, porque é uma maneira da gente esincluindo a comunidade em
uma era digital, porque hoje em dia é muito difícil para você ter uma quantia para
pagar um curso. A gente faz pesquisa na comunidade e que é um custo muito
alto. com as instalações da escola, não, ela é vinculada especialmente para a
comunidade e para os menos favorecidos. Pela aparência dos computadores estão
mais ou menos acabados, que através do conteúdo que tem dentro deles, os
programas são bons e não excelentes, isso é o principal, você pode achar que isso é
uma carroça mais temos o Pentium 4, é bem legal. (educador 2)
O Projeto tem que avançar e melhorar em termos de tecnologia, temos que pegar
computadores melhores, é um Projeto que tem bastante ênfase na comunidade e esse
é o principal objetivo. O foco do Projeto não está nos computadores, mesmo assim,
precisamos de computadores de melhor qualidade, às vezes o mouse problema.
(educador 3)
A gente pode perceber que falta bastante coisa, mas a sala é bastante climatizada
para os alunos que vem de longe e tal e como a gente sempre conversa com os
alunos a capa do computador em si não é aquilo que agente procura, mas sim os
programas e o que está dentro dele, é que nem o ser normal, a gente não deve olhar o
físico, mas sim o interior dele. (educador 4)
No tempo que eu estudei na EIC tinha os computadores doados e reaproveitados,
mas os computadores são de bom tamanho, dá para manuseá-los. (egresso 1)
O fato de apoiar com maquinários usados e ajudas de custo não garante que a
empresa se preocupa efetivamente com o social. A política da Responsabilidade Social seria
reconhecida se a empresa, de fato, se responsabilizasse pela vida de cada aluno, ou seja, seu
desenvolvimento pessoal, econômico, profissional. Aliás, esse termo, Responsabilidade
Social, vem sendo utilizado de maneira equivocada. Para Schommer (2000) o termo
filantropia significa amor ao homem ou à humanidade, pressupondo uma ação altruísta e
desprendida. É também relacionada à caridade, uma virtude cristã. A ação filantrópica
empresarial pode ser caracterizada como uma ação social de natureza assistencialista, caridosa
e predominantemente temporária. A filantropia empresarial é realizada por meio de doações
de recursos financeiros ou materiais à comunidade ou instituições sociais.
Para Tenório et al (2006) a expressão cidadania empresarial é utilizada para
demonstrar o envolvimento da empresa em programas sociais de participação comunitária,
por meio do incentivo ao trabalho voluntário, do compartilhamento de sua capacidade
gerencial, de parcerias com associações ou fundações e do investimentos em Projetos sociais
nas áreas de saúde, educação e meio ambiente.
69
Nos dias de hoje, o conceito de voluntariado empresarial começa a ser utilizado
como se fosse sinônimo de cidadania empresarial. É importante destacar que o
voluntariado é uma forma de atuação específica da empresa junto à comunidade,
enquanto o conceito de cidadania empresarial representa uma atuação social bem
mais ampla, ou seja, a ação voluntária contribui para a cidadania empresarial, assim
define o papel do voluntariado. ( Szazi apud Fernando Tenório 2006, 30).
Atualmente, a literatura a respeito da responsabilidade social corporativa sugere
interpretações distintas para esse conceito. Em visão mais simplificada, pode significar o
cumprimento das obrigações legais e o comprometimento com o desenvolvimento econômico
e social da comunidade, concepção essa não utilizada pela empresa.
Os computadores doados são máquinas que não mais servem para o uso da empresa.
Quando encontrados nessa situação, são enviados para a manutenção, e posteriormente,
remetidos para a Escola. Fica explicitado na fala do educador 3 que o foco do Projeto não está
nos computadores, porém, é relevante ressaltar que a empresa poderia fornecer computadores
novos, não necessariamente de ponta, pois os cursos não necessitam de máquinas com alta
potência, mas de máquinas que possam durar mais tempo para serem valorizadas pelos
professores, alunos e egressos.
É perceptível o desgaste dos computadores. Além disso, muitas vezes, eles ficam
subutilizados por não funcionarem e por ser dificultosa a logística para o conserto. Esses
computadores também apresentam problemas com acesso à internet, o que é mais um
agravante para o usufruto dessas máquinas.
As salas de aula são pequenas, com 4
, o que não parece ser problema para eles,
uma vez que não foi mencionado nas falas. Talvez o uso do condicionador de ar, como é
mencionado na fala do aluno 3, compense essa observação por ser um aparelho que poucas
famílias possuem, desta forma, a utilização do mesmo na Escola pode passar a sensação de
conforto.
A questão da infraestrutura deve ser relevada, porque é a imagem da empresa que está
sendo exposta também e não somente da Escola. Se a visão do aluno é relativamente
favorável, deve-se lembrar que a maioria não tem condições de ter um computador ou sequer
pagar um curso, desta forma, o que vier para ele será lucro. A visão dos responsáveis pelo
Projeto deve ser diferenciada, principalmente da empresa que lucra bilhões de dólares por
ano, portanto, contribuir com equipamentos novos e de qualidade seria o mínimo a ser feito
para pessoas que fazem parte de uma região tão explorada por esta empresa, quando o
interessante seria o acompanhamento do aluno em seu crescimento pessoal e profissional.
70
4.3 LINHAS E DIRETRIZES DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DO CURSO
A Escola de Informática e Cidadania tem uma história pautada na responsabilidade
com a formação de pessoas, respeitando as peculiaridades regionais. Além disso, vem
percorrendo uma trajetória que aponta para uma formação com qualidade técnica e política,
capaz de intervir nas comunidades vítimas de vulnerabilidade social. Vista como referência na
comunidade, a Escola também é reconhecida como articuladora das causas sociais, ponto de
encontro das redes locais e apoio para o acesso a algumas ferramentas tecnológicas e
apropriação das mesmas, valorizadas no mundo do trabalho.
De acordo com o Projeto Político-Pedagógico (2005), documento que estrutura o
curso, desde a concepção e características, as linhas e diretrizes estão centradas em duas
categorias com vistas à cidadania, uma delas é a educação e, a outra, é a inclusão digital. A
primeira torna os alunos pessoas críticas, pois seu método de aprendizagem permite fazer das
pessoas cidadãos ativos e bem informados, comprometidos com a mudança social e capazes
de exercer o papel de agentes de transformação em suas comunidades, multiplicando as boas
experiências e exemplos. Esse método se baseia em conceitos do renomado educador
brasileiro Paulo Freire, que acreditava que a educação deveria ser usada como ferramenta para
a mudança social e a formação cidadã. Ele defendia o desenvolvimento da consciência crítica
a partir do diálogo ativo entre aluno e professor. De acordo com Freire (1987), os alunos
devem ser estimulados a refletir sobre o mundo à sua volta, questionar e propor mudanças,
visando à transformação de suas vidas e a de suas comunidades. A proposta pedagógica foi
cuidadosamente pensada para refletir as teorias de Freire e adaptá-las à era digital.
a segunda categoria trata da inclusão digital e pretende passar a técnica para os
alunos, não de maneira aleatória, mas sim, vinculada a um discurso social capaz de abranger a
situação de vulnerabilidade da comunidade que fica ao entorno da escola, pois o profissional
do século XXI precisa não somente localizar o conhecimento, como também acessá-lo, de
maneira que possa ser agente de mudança para poder transformar sua realidade de forma
empreendedora, uma vez que a sociedade do conhecimento é a sociedade que estuda,
conhece, muda e inova.
Essas duas categorias expressam para a comunidade a possibilidade de ter autonomia e
de participar ativamente da vida e da sociedade com o intuito de obtenção da cidadania. Para
Souza (1994), quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da
tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social. Ainda,
para Dallari (1998, p.10) a cidadania relaciona-se a direitos e deveres, observe:
71
Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de direitos. Direitos à vida, à
liberdade, à propriedade, à igualdade de direitos, enfim, direitos civis, políticos e
sociais. Mas este é um dos lados da moeda. Cidadania pressupõe também deveres. O
cidadão tem de ser cônscio das suas responsabilidades enquanto parte integrante de
um grande e complexo organismo que é a coletividade, a nação, o Estado, para cujo
bom funcionamento todos têm de dar sua parcela de contribuição. Somente assim se
chega ao objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais amplo, ou seja, o
bem comum.
Para Demo (1988) a cidadania é a qualidade social de uma sociedade organizada sob a
forma de direitos e deveres majoritariamente reconhecidos. Trata-se de uma das conquistas
mais importantes da história: os direitos humanos que hoje parecem óbvios, mas cuja
conquista demorou milênios e traduzem a síntese dos direitos que o homem pode ter.
Ao lado dos deveres, aparece, sobretudo, o compromisso comunitário de cooperação e
co-responsabilidade. Cidadania pressupõe o Estado de direito que parte, pelo menos na teoria,
da igualdade de todos perante a lei e do reconhecimento de que a pessoa humana e a
sociedade são detentoras inalienáveis de direitos e deveres.
Ao se questionar a cidadania, detectou-se entendimento em direitos e deveres. Ainda
assim, observou-se que o conceito vai além disso, conforme as falas dos alunos abaixo:
É ter meus direitos atribuídos a mim e a todos. (aluno 1)
Cooperar com a sociedade, ser cidadão cumprir regras, cumprir com seu dever
dentro da lei, participar dos Projetos da sociedade com a comunidade. (aluno 2)
Ajudar as comunidades, cada um arrecada um quilo de alimento não perecível e
entregamos em cada casa. (aluno 3)
É um misto de companheirismo, solidariedade, amizade, fidelidade. Acredito que
juntando dá uma boa cidadania. (aluno 4)
Acredito que ser cidadão é ajudar os outros, ajudar as pessoas que estão precisando é
fazer o que a EIC está fazendo com a gente, sendo cidadão com a gente. (aluno 5)
Cidadania é ajudar as pessoas, mesmo porque a EIC fornece ajuda para nós, né.
(aluno 6)
É ajudar o próximo muito mais, eu ajudo ela e ela me ajuda. (aluno 7)
É poder ser feliz. (aluno 8)
É dar conta de nossos compromissos sociais. (aluno 9)
A cidadania tem, também, o sentido de companheirismo, solidariedade, amizade e
felicidade conforme fala o aluno 4. Desta forma, deixa de ser conceito pragmático e mostra
que ações podem fazer a diferença, como ajudar a comunidade, expressão do aluno 3, dar
conta dos compromissos sociais, fala do aluno 9 e ajuda mútua.
72
Os educadores 1, 2, 3 e 4 corroboram com a concepção embasada em direitos e
deveres do cidadão. Já o egresso 1 trouxe à tona reflexão sobre a pouca lembrança da
cidadania por parte da sociedade, desta forma é interessante que o cidadão resgate sua
dignidade e repasse seus conhecimentos adquiridos ao longo da vida para outras pessoas
como forma de contribuição e respeito, conforme menciona o egresso 2 abaixo:
Para mim é o dever, é saber o direito e os deveres do cidadão. (educador 1)
A gente trabalha bem focado na cidadania com os alunos, ser cidadão é quando você
cumpre seus direitos e deveres. (educador 2)
É o cidadão exercer seus direitos e deveres, cada um fazer a sua parte e não esperar
pelos outros. (educador 3)
É quando você é ajudado e quando tu ajudas, é quando você a dificuldade do
outro e tenta ajudar e ele vê a tua e tenta te ajudar. Quando eu tô dando aula e algum
aluno não entende o outro vai lá e ajuda. (educador 4)
Pensar nas pessoas como cidadãos é o objetivo da EIC, porque hoje é muito difícil
se falar na cidadania. (egresso 1)
É a pessoa ter sua dignidade dentro da sociedade, a qual leva oportunidade de
conhecimento para as pessoas como forma de contribuição e respeito. (egresso 2)
Demo (1941) destaca que a educação, como formação à cidadania, deve ser entendida
como uma ação para o desenvolvimento humano, dentro de uma ótica tradicional de que o
desenvolvimento de um país depende de uma composição favorável de recursos, aparecendo
entre eles também os humanos, ao lado dos econômicos, físicos, ecológicos e etc. Em seu
ápice, há de se dizer que um país será tão desenvolvido quanto mais desenvolvidos forem seus
recursos humanos. A educação é entendida como formação à cidadania nas falas abaixo,
quando é perguntado o modo que a cidadania está presente no Projeto:
Ajudando as pessoas, contribuindo com a educação e ensinar para elas como se deve
seguir o caminho, até arranjar um bom emprego e seguir a vida. (aluno 2)
Eu estudo aqui e estudar é um direito nosso. (aluno 5)
Aqui posso estudar e sonhar. (aluno 7)
o fato de estarmos aqui, é um exemplo de cidadania, temos direito da
aprendizagem. (aluno 9)
Na multiplicação do conhecimento. (educador 1)
Fomos nos lixões conversar com as pessoas, pessoas que pensavam estar esquecidas
da sociedade, s resgatamos essas pessoas para vir trabalhar com agente e fazer
parte da sociedade, dando conhecimento e aprendizagens na área de informática e na
parte de escolas. (egresso 2)
73
Nas falas dos alunos 2, 5 e 7 ênfase na educação, nas falas do aluno 9, educador
1 e egresso 2, o conhecimento e a aprendizagem vem à tona como subcategorias da educação
que vêm sendo valorizadas por esses. Esta relação torna-se importante, pois evidencia o
entendimento desses atores sobre a cidadania no contexto do Projeto.
Segundo Freire (1987) a função insubstituível da educação é de ordem política, como
condição à participação, como incubadora da cidadania, como processo formativo. Se um país
cresce sem educação não se desenvolve. Este efeito qualitativo que é da ordem dos fins na
sociedade perfaz o cerne do fenômeno educativo. A educação é precisamente condição
necessária para desabrochar a cidadania, com vistas à formação do sujeito do
desenvolvimento num contexto de direitos e deveres.
Esses entrevistados conseguem enxergar a contribuição da educação e da inclusão
digital para a cidadania, diferentemente dos entrevistados abaixo que responderam
estritamente com base na concepção da palavra ou na ajuda mútua e transformação, de
maneira que não dialoga com as categorias do Projeto:
Ajuda as pessoas a serem cidadãos, tem pessoas que m com o costume ruim e nós
ajudamos a elas serem diferentes, não conhecer a informática, mas a terem a
cidadania. (aluno 1)
Todos se ajudam, uns aos outros. (aluno 3)
Só o início do curso já é uma cidadania que está sendo feita com agente. (aluno 4)
É sermos amigos e quando podemos ajudar o colega ao lado. (aluno 6)
Nós somos transformados para a vida e para o mundo. (aluno 8)
Eu estou aqui porque alguém pagou né, então isso é um ato de cidadania, eles nos
proporcionaram esta chance então vamos aproveitar e repassar para outras pessoas.
(aluno 10)
Ela está presente porque um sempre ajuda o outro e ajuda no conhecimento do
outro, tentamos ajudar para que todos consigam uma coisa melhor. (educador 4)
Essa maneira restrita mostra fragilidades de entendimento de cidadania por parte de
alunos e educadores. Não que essas percepções estejam erradas, porém, pensar na cidadania
de maneira aleatória é uma reflexão, por outro lado, contextualizá-la no Projeto é outra
reflexão articulada com as categorias do mesmo. Percebeu-se então que certa dificuldade
de compreensão deste assunto, que está posto no Projeto Político-Pedagógico (2005) como
forma de adquirir autonomia para que o aluno tenha condições de tomar decisão.
De acordo com Demo (1941), fazem parte do projeto de cidadania componentes como:
74
1. a noção de formação, não de adestramento, pois parte da potencialidade do
educando, assumindo-o como interessado primeiro do processo;
2. a noção de participação, de autopromoção, de autodefinição, ou seja, o conteúdo
central da política social, entendida como realização da sociedade participativamente
desejada;
3. a noção de sujeito social, não de objeto, de paciente, de cliente, de elemento;
4. a noção de direitos e deveres, sobretudo os fundamentais, tais como os direitos
humanos, os deveres de cidadão, o direito à satisfação das necessidades básicas, o
direito à educação, etc. Isso fica explícito na expressão abaixo do educador 2 quando
mostra que uma tentativa de resgate por parte da Escola para que o jovem possa
refletir sobre sua situação e posteriormente melhorá-la:
A gente faz pesquisas na comunidade, ou seja, verificamos qual é a casa que tem
uma condição melhor e outras que não tem, fazemos uma lista das pessoas que tem
mais necessidades, pessoas com problemas nas ruas, violência, o que estão fazendo
e perguntamos o que eles poderiam fazer para melhorar a situação, pedimos para
digitar e depois vamos discutir sobre isso, o que a EIC pode ajudar e o que podemos
fazer. (educador 2)
5. a noção de democracia, como forma de organização sócio-econômica e política
mais capaz de garantir a participação como processo de conquista;
6. a noção de liberdade, igualdade e comunidade, que leva à formação de ideologias
comprometidas com processos de redução da desigualdade social e regional, com o
desenvolvimento, a qualidade de vida e o bem estar culturalmente definidos, com a
satisfação das necessidades básicas e a garantia dos direitos fundamentais, inclusive
justiça e segurança pública. Percebeu-se esta reflexão na fala do egresso 1 abaixo,
quando a Escola se propõe a trabalhar com famílias vítimas da vulnerabilidade social
para tentar reduzir as desigualdades e proporcionar qualidade de vida pelas vias da
aprendizagem:
A Escola pretende trabalhar com a classe social principalmente a de nível mais
baixo, de baixa renda, pessoas de baixa escolaridade, mas que tenham vontade de
aprender. (egresso 1)
7. a noção de acesso à informação e ao saber, como instrumentos de crescimento da
economia e da sociedade, bem como a participação política;
8. a noção de acesso a habilidades capazes de potencilizar a criatividade do trabalho,
visto aqui como componente cultural, mais do que como simples elemento produtivo.
75
Não se pode subestimar o efeito político da educação, pois não se pretende captá-lo
como impacto imediato, a exemplo dos impactos de ordem sócio-econômica. A formação da
cidadania é um processo lento e profundo, que leva gerações. Planta-se uma geração, não uma
parede ou um pátio. É outra dimensão, comprometida em construir ―gente‖, para além de
trabalhadores treinados, pessoas bem comportadas, seres informados. Esta tarefa se realiza
por baixo do torvelinho diário, efêmero e rotineiro, perdendo-se no horizonte das dimensões
infinitas da sociedade (Demo, 1941).
Neste sentido, cabe aqui questionar com base na categoria educação: quem está sendo
educado? Tem-se a compreensão que a abordagem, ao voltar para a prática docente, tem uma
delimitação (professores reflexivos e formação de alunos ético-cidadãos), um tempo/espaço
(descontinuidades - mudanças / sociedade amazônica e o plano local e global), que
contextualiza o trabalho, procurando apontar para a necessidade da reflexão na relação
prática-teoria-prática do saber-fazer e do saber-ser docente.
Assim, são necessários profissionais que tenham idéias e ideais, que sejam agentes
ativos nas conquistas sociais, que busquem sempre informações a partir da leitura crítica da
sociedade para identificar oportunidades, a partir da observação do comportamento da
sociedade viva e do seu ambiente imprevisível e instável.
De acordo com o Projeto Político-Pedagógico (2005) a missão da escola é transformar
vidas e fortalecer comunidades de baixa renda, através da capacitação nas tecnologias da
informação e comunicação e de um aprendizado complementar voltado à prática da cidadania
respeitando a diversidade regional, que forma os contextos sócio-econômicos e culturais.
Ainda de acordo com este documento, o objetivo geral do Projeto da EIC está focado
em promover a conscientização de pessoas e comunidades para a construção de uma
sociedade justa, igualitária e sustentável. os específicos estão centrados na comunidade,
conscientização e tecnologia, são eles:
- proporcionar um processo de conscientização dos sujeitos e uma reflexão sobre sua
realidade com a sociedade e seus aspectos;
- favorecer e potencializar a criação de um espaço para discussões, formação de
lideranças, planejamento e desenvolvimento de ações comunitárias;
- disponibilizar o acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC);
- oferecer capacitação de qualidade para o uso e apropriação social das TICs pelas
comunidades;
- favorecer a construção de conhecimentos, a fim de que os sujeitos e as comunidades
exerçam sua cidadania e garantam seu desenvolvimento social, político e econômico;
76
- melhorar as chances de inserção no mundo do trabalho através do desenvolvimento
de habilidades e ampliação do conhecimento.
Essas são algumas bases para uma educação humanística e transformadora, que
aprende com a mudança e a diversidade e estão fundamentadas nos seguintes princípios
estruturados por Freire (1997):
Participação: conviver para protagonizar e apreender;
Identidade: conhecer para se encontrar e gostar;
Qualidade: apontar indicadores para melhorar e inovar;
Resgate: avaliar para colaborar e recomeçar.
Essa concepção corresponde ao desenho das trajetórias flexíveis e criativas do aluno,
pois colaboram para o seu desenvolvimento como pessoa humana, portanto, autônoma e
crítica, que, ao se estabelecer em espaços de relações de aprendizagem, cria possibilidades de
ampliação dos sentidos de ser, de interpretar e de intervir no mundo e na comunidade.
A metodologia da EIC prevê que, ao final dos quatro meses do curso básico
(Windows, Word, Excel, Power Point e o Acces), os alunos já tenham usado a tecnologia para
levantar soluções para um problema da comunidade que eles próprios escolheram enfrentar e
superar. Esse processo envolve reflexões em grupo, debates, propostas, planejamento,
execução de um plano de ação e conclusão do "projeto social‖, desenvolvido de modo
participativo, tendendo unir esforços e talentos para mudar o cenário da realidade.
Os temas eleitos pelas turmas incluem desde abuso sexual, gravidez na adolescência,
violência doméstica, direitos humanos, uso de drogas, criminalidade e precariedade dos
serviços de saúde e educação. São temas presentes no cotidiano das comunidades vítimas da
vulnerabilidade social. Então, apoiados pelos educadores, os alunos usam as habilidades
técnicas e sociais que aprenderam em sala de aula para mobilizar suas comunidades, fazer
campanhas de conscientização e pesquisas, e trabalhar juntos para atingir um fim específico.
Isso fica claro nos comentários dos alunos, pois quando perguntados sobre as
aprendizagens adquiridas no Projeto, disseram que adquiriram o conhecimento técnico, pelo
manuseio do computador, através da digitação de textos e manipulação de softwares.
Conforme falas abaixo:
Aprendi a mexer nos computadores, terei uma chance de emprego grande na
sociedade. (aluno 2)
77
Nosso professor explica muito bem sobre Word, Excel, Power point e
empreendedorismo. (aluno 4)
Gosto de ver figuras no computador e digitar textos. (aluno 5)
Sei a origem do computador, para que serve a origem dele. (aluno 7)
Aprendi a digitar, ligar o computador, ter amigos, coisas da vida, muita coisa. (aluno
9)
Envolvem-se em temas sociais, expressando sentimentos de solidariedade, como é o
caso do aluno 8, ajudando o próximo, conforme evidenciado nas falas dos alunos 1, 3, 6 e 10:
Muitos dos alunos ainda estão aprendendo algo, tem muitos que não m paciência,
precisam aprender a esperar, eles chegam aqui desmotivados e precisam aprender a
ter paciência e gostar do que faz. (aluno 1)
Aprendi muitas coisas, ajudar as pessoas na comunidade, ajudei muitas pessoas
por aí, lá em casa com a minha mãe, ela sempre diz para eu ajudar as pessoas. (aluno
3)
Aprendemos dinâmicas, brincadeiras, participamos de eventos, fazemos pesquisas,
tudo isso. A gente aprende a ter amigos, fazer as coisas juntas, aprendemos todos os
dias coisas diferentes, trabalhos diferentes. (aluno 6)
Amizade, a mexer em coisas novas, solidariedade, a gente faz textos, trabalhos, a ler,
muitas coisas no Word. (aluno 8)
Aprendemos a ser pessoas de bem, aprendemos a ser amigos e ajudar os outros.
(aluno 10)
As falas dos alunos ficaram divididas, ou seja, enquanto alguns disseram que
aprendem o conhecimento técnico, que seria nesse caso a utilização dos softwares, outros
disseram que se envolvem em temas sociais e ajuda mútua. Essas reflexões não estão
equivocadas, porém, seria interessante que os alunos aliassem tanto a aprendizagem técnica
quanto a social. Expressam, todavia, as duas de forma separada, transmitindo a sensação de
que existem alunos que só vão para a Escola com o intuito de aprender a manusear o
Windows, Word, Excel, Power Point e Acces e outros, que estão interessados em se envolver
também na obra social.
Essa ação não deve ser foco do Projeto. De acordo com o Projeto Político-Pedagógico
(2005), a tecnologia deverá ser usada para atrair os jovens e a partir disso, aliar esse
conhecimento técnico a sua realidade social para fazerem esses dois conhecimentos
interagirem na sua vida pessoal, profissional e na sua comunidade.
Talvez, esta situação seja devido à forma de condução do curso pelos educadores, pois
é preciso passar esse entendimento para os alunos com clareza, do contrário a Escola poderá
ser vista como um simples espaço de conhecimento técnico, fato que não reflete na sua
78
missão. A constatação da forma de condução foi possível após entrevista com os
educadores, desta forma, observou-se que os mesmos têm conhecimento do que o Projeto
propõe, mesmo assim, o educador 2 ainda foca o conhecimento técnico, conforme fala abaixo:
Ter mais empenho em tudo, como utilizar o computador, mostro para os alunos que
mexer no computador não é um bicho de sete cabeças, não é difícil. Eles se
inscrevem, mas acham que vai ser em vão, então eu chego e falo para eles que vão
conseguir. Eu consegui, não sabia nada, então eles conseguem também. Vou mostrar
para eles que é fácil, basta querer, como eu quis, aprendi a ligar o computador, criar
uma pasta, abrir um programa, é fácil. (educador 2)
Diferentemente do educador 1 e 3 e do egresso 2 que falam do conhecimento técnico
como também da solidariedade, amizade, campanhas educativas sobre violência, gravidez na
adolescência, drogas, isso fica evidenciado nas falas abaixo:
Solidariedade, o Projeto é bastante solidário, e também em relação ao objetivo
quando se trata de cidadania, ajuda mútua. Poder passar o que nós aprendemos para
outras pessoas, pois as comunidades são carentes e precisam de ajuda, nós podemos
ajudar assim através da multiplicação do conhecimento que adquirimos nos cursos
de informática e projetos da Escola. (educador 1)
Comunicação, questões do dia a dia sobre violência, gravidez na adolescência,
falamos sobre os projetos sociais, além da parte de informática, manutenção,
Windows, Word, Excel, Power Point, empreendedorismo, desenvolvimento de
equipe. (educador 3)
Aprendemos a elaborar campanhas educativas com a escola e a comunidade para
formular projetos como o de reciclagem, preparar a coleta seletiva, nas próprias
casas divulgando tudo através da EIC, além dos cursos de informática que
aprendemos também e que foram importantes para o nosso trabalho. (egresso 2)
Essas falas são interessantes, pois mostram a consonância do aspecto social com o
técnico. Essa mesma interação deve ser levada para a discussão da inclusão digital, pois a
discussão que vem sendo estruturada neste trabalho mostra que a inclusão digital não é
somente ter acesso a quinas ou aparelhos eletrônicos, a compreensão vai além dessa ideia,
pois, Luca (2004) afirma que desafios como a baixa escolaridade, baixa renda e limitação do
próprio conhecimento precisam ser superados para depois se pensar no acesso às tecnologias.
Desta forma, fica claro então que a exclusão social deve ser combatida para, depois se
repensar de forma consistente na inclusão digital.
Delgadillo et al. (2005, p.7) completam, afirmando que inclusão digital envolve ―a
apropriação social das novas tecnologias digitais para atender às necessidades das
comunidades, para promover a formulação de políticas públicas, a criação de conhecimentos,
a elaboração de conteúdos apropriados e o fortalecimento das capacidades das pessoas‖
79
Essa reflexão fica evidenciada nas falas abaixo quando é perguntada a concepção da
inclusão digital. Para os alunos 2, 7, 8 e 10 a inclusão não deve ser meramente técnica, ou
seja, somente ter acesso a computadores.
Vir para o curso e ser incluído na sociedade através da informática e participar e ser
cidadão na sociedade pela participação na informática. (aluno 2)
Incluir uma sociedade na era da informática. (aluno 7)
Inclusão é quando todos têm o direito de ter informação. (aluno 8)
É uma ação muito importante porque une as pessoas à tecnologia. (aluno 10)
Os educadores 1, 2, 3 e 4 como também os egressos 1 e 2 corroboram com esta
reflexão. Para eles a inclusão social deve ser valorizada, pois tem muita gente esquecida,
desacreditada e à margem da sociedade, desta forma, esse processo precisa ser reconhecido e
bem desenvolvido com vistas ao fortalecimento das capacidades das pessoas para
posteriormente envolver os alunos na era digital. Assim completa o raciocínio dos autores
citados acima, como fica confirmado nas falas abaixo:
Fazer a inclusão através de recursos, os computadores da EIC é uma ferramenta para
nós fazermos a inclusão de pessoas na área da informática. Muitas pessoas de baixa
renda não m condições de comprar um computador, então tem o projeto
apadrinhar que é pessoas que trabalham e apadrinham uma pessoa, pagam o curso
para uma pessoa, então no final do curso esse padrinho ou madrinha conhece o
aluno, então propõe a inclusão social através disso. Um computador é uma
ferramenta de inclusão para a comunidade, porque hoje até para você trabalhar
varrendo rua você tem que ter conhecimento de informática, se você vai a um banco
tem que ter conhecimento em informática, para tirar dinheiro, colocar dinheiro, o
celular por exemplo, tem pessoas assim que eles não têm noção, quando vão
conhecendo percebem que isso não é um bicho de sete cabeças. (educador 1)
Para mim é incluir a sociedade na era digital, é a pessoa conhecer mais sobre o
computador, a informática. Hoje em dia a gente vai para um lugar e sempre uma
máquina lá, mostrar para elas que a sociedade tem que ser incluída no Brasil inteiro,
tem muita gente excluída mesmo, tem muita gente esquecida, pessoas passando
fome, às vezes falta um bom currículo, então devem ser incluídas em forma de
conhecimento. (educador 2)
É ser incluída digitalmente para ser incluída socialmente, para não ficar excluída
tenho que me capacitar na tecnologia, não só na informática, vem desde a um assistir
de televisão até atender o celular. Eu tenho que conhecer os termos tecnológicos
para não ficar excluída da sociedade. (educador 3)
Eu acho que é quando você consegue trazer aquelas pessoas que não sabem
realmente e incluir num projeto que eles podem aprender e passar cada vez mais uns
aos outros sem excluir ninguém desde aqueles que não sabem até aqueles que
sabem. (educador 4)
É quando você está incluso no meio da informatização, da era digital, na década de
80. Na minha infância era muito difícil uma criança de 10 a 12 anos ter acesso a uma
escola de informática, porque os cursos eram caros, difíceis em ter, uma região
pobre dificilmente poderia ter um curso de informática que desse oportunidade às
80
pessoas. Eu fiz, mas com muito sacrifício tinha que me deslocar de um local distante
para ir até a escola e fazer, não é fácil, então ela promove essa oportunidade as
pessoas. (egresso 1)
É você está incluído dentro da sociedade e da globalização da informática, que se
você não tiver bem informado no dia a dia você não acompanha os demais, fica para
trás. (egresso 2)
Por outro lado, alunos que enxergam a inclusão digital de forma restrita, ou seja,
somente o fato de ter acesso ou saber manusear computadores. Para Cruz (2004) esse
fenômeno não pode estar relacionado simplesmente com a aquisição de computadores e
outros aparatos tecnológicos. A inclusão pressupõe a socialização de conhecimento precedida
da capacitação de seres humanos para o devido uso dessas ferramentas. A visão contrária fica
explicitada nas falas dos alunos 1, 3, 4, 5, 6 e 9 abaixo:
É preciso incluir a tecnologia na vida das pessoas, porque daqui a pouco vamos
precisar dela para tudo, os celulares é um exemplo disso. (aluno 1)
É quando aprendemos a mexer no computador. (aluno 3)
É o que todos nós estamos fazendo aqui, estamos aprendendo a mexer no
computador e ter acesso às informações. (aluno 4)
Eu acredito que é incluir a informática em um lugar onde não tenha a digitação, não
tenha um conhecimento básico em informática, como a gente que não tem condições
para pagar um curso. (aluno 5)
Inclusão digital é quando a pessoa sabe mexer no celular, em qualquer máquina e
tem o conhecimento bem nesse assunto, tem muitas pessoas da minha comunidade
que não são incluídas, porque não sabem nada sobre isso. (aluno 6)
É ter condições de ter um computador e saber mexer nele para aprender, pesquisar e
crescer. (aluno 9)
As variáveis de aprendizagem, conhecimento e inclusão social vieram à tona nesta
pesquisa de campo, quando perguntado aos alunos, educadores e egressos o modo como o
Projeto é considerado de inclusão digital. Isso mostra a complexidade desse assunto, pois
pretende proporcionar conhecimento para a sociedade e possibilitar aprendizagens técnicas e
sociais de forma crítica e empreendedora.
De acordo com Reis (1974) o comportamento de aprendizagem pode ser analisado em
termos de estímulos, resposta e reforço. O primeiro é qualquer agente ou mudança ambiental
capaz de influenciar o comportamento individual. O segundo é a mudança de comportamento
que ocorre na presença de um estímulo, e o terceiro é a condição que faz com que o indivíduo
associe uma determinada resposta a um estímulo específico. Esse estímulo é proporcionado
pela Escola, no momento em que a mesma incentiva aos jovens a participar do curso de
81
informática e em outros projetos promovidos por esta. Essa constatação fica evidenciada na
fala do educador abaixo:
Através da informática e cidadania pelos outros projetos que usamos aqui também, é
uma forma de inclusão. Pessoas que trabalham fazendo fretes em supermercados,
reparando motocicletas por 10 ou 30 centavos, a gente tenta incluir ele mostrando
que se ele estudar um ano e participar dos nossos projetos de dança, futebol, teatro e
palestras ele terá coisas melhor lá na frente. (educador 2)
O estímulo ao aluno faz com que o mesmo tenha vontade de aprender. Essa mudança
de comportamento fica constatada, quando mostram vontade e satisfação em participar dos
cursos da Escola de Informática e Cidadania conforme falas dos alunos 4, 5, 7 e 8 abaixo:
Ter oportunidade em aprender cada vez mais em um computador, esse projeto me
fez ter essa oportunidade, se não fosse por ele, certamente não teria isso. (aluno 4)
Tenho agora planos para o futuro, isso é muito bom, porque estou aprendendo a
mexer nessa máquina, meus pais estão orgulhosos de mim, sabendo mexer então é
porque estou incluído. (aluno 5)
Antes eu não sabia nada, hoje sei mexer no computador e sou bem mais informado.
(aluno 7)
Agora toda a minha família gosta de me ver aprendendo a digitar, meus pais não
tiveram educação, hoje eu posso ter. (aluno 8)
Sobre aprendizagem, Vigotsky (1984) atesta que o indivíduo deve estar inserido em
um grupo social para aprender o que seu grupo produz. O conhecimento surge primeiro no
grupo, para, depois, ser interiorizado. A aprendizagem ocorre no relacionamento do aluno
com o professor, com outros alunos e com a comunidade. Nessa abordagem o homem é visto
como alguém que transforma e é transformado nas relações que acontecem em uma
determinada cultura tornando a aprendizagem um produto de trocas recíprocas, que se
estabelecem durante toda a vida, entre indivíduo e meio, cada aspecto influenciando o outro.
Essa troca de aprendizagens entre alunos, professores e comunidade é percebida
quando os alunos mostram a preocupação em socializar o conhecimento com outros alunos e
com a comunidade, pois reconhecem que estão sendo ajudados, desta forma, querem repassar
esta ação para outras pessoas também. Esta constatação é percebida nas falas abaixo:
Aqui nos ensinam a informática pra gente, estão nos ajudando com conhecimentos.
Eles nos ensinam para que na frente a gente ajude nossas comunidades e essas
tenham pelo menos um pouco desse conhecimento que eles nos passaram. (aluno 1)
Com as aulas de informática e com a participação de cursos de informática,
aprendemos juntos com os professores e alunos e depois ensinamos. (aluno 2)
Ele chama pessoas sem condições para estarmos juntos e aprendermos
conjuntamente mais sobre a informática. (aluno 3)
82
A segunda variável encontrada foi conhecimento. De acordo com Scharf (2007) o
conhecimento está dentro das pessoas e, por isso, se torna complexo e imprevisível. Além
disso, pode ser comparado a um sistema vivo, que cresce e se modifica à medida que interage
com o meio ambiente. Da combinação da contextualização das informações, das experiências
e do processo de aprendizagem durante o processo é que surge o conhecimento.
Segundo Davenport e Prusak (1998) o conhecimento corresponde a uma série de
informações assimiladas e estruturadas pelo indivíduo, que lhe permite entender o mundo.
Além disso, é o recurso básico para a tomada de decisões mais estruturada, inteligente e
equilibrada. Desta forma, possibilita crescimento para as pessoas e uma melhor qualidade de
vida, é o que ficou explícito nas falas abaixo do aluno 6 e dos egressos 1 e 2:
Esse projeto pretende passar conhecimento nessa área pra gente, acho legal, pois
ajudam a pessoas a crescerem. Os garotos daqui gostam de falar sobre os trabalhos
no computador, sempre é uma novidade, inclusão digital e quando isso acontece.
(aluno 6)
Proporcionam as pessoas um mundo melhor, um conhecimento melhor, uma vida
melhor. (egresso 1)
Esse projeto vem com experiência de outras turmas e vem dando certo porque
usamos o conhecimento daqui e o computador para mudar a vida das pessoas.
(egresso 2)
A inclusão social é a terceira variável encontrada nas falas do educador 1, 3 e 4. Nesse
momento é mostrado como o Projeto é concebido. O educador 1 relata que é feita uma análise
da realidade do aluno e, a partir disso, são identificados possíveis problemas em sua
comunidade e posteriormente discutidos conjuntamente com a turma. A solução proveniente
da discussão é levada à comunidade com o intuito de mudar a realidade. Essa ação mostra que
a inclusão social não está restrita ao uso de tecnologias e há uma preocupação com a
comunidade, observa-se mais uma vez que esta reflexão vem de um educador.
os educadores 3 e 4 deixam claro que o foco do Projeto está em ajudar pessoas
que não têm condições e precisam ser incluídas na sociedade. Isso faz com que as
comunidades tenham acesso a conhecimentos e aprendizagens obtidas nos cursos e projetos
da Escola conforme falas abaixo:
Pegando os temas da realidade da comunidade, por exemplo, pegamos uma turma e
fazemos uma análise da realidade daquela pessoa, porque recebemos pessoas de
várias comunidades e cada uma tem uma realidade diferente, então nós vamos fazer
uma pesquisa né, sobre ―qual é o problema de sua comunidade?e vamos discutir e
83
procurar saber, ―por que isso acontece?―qual a sua opinião sobre isso?‖ E o que
você precisa saber para mudar a realidade da sua comunidade? Então, pegamos esses
assuntos para fazer a inclusão digital, eles digitam esse trabalho e aprendem,
colocam o teórico da informática na realidade deles, escrevem um texto de coisas
bem reais. (educador 1)
O projeto fala disso o tempo todo, acesso a pessoas da comunidade a ter acesso à
tecnologia, isso traz benefícios de todas as formas. (educador 3)
Porque muitas das pessoas daqui além de não ter condições, traz pessoas que tenham
ou não dificuldades e inclui todos. Nosso objetivo é capacitar as pessoas para dar
aula depois. (educador 4)
Com isso, constatou-se que as 3 variáveis: aprendizagem, conhecimento e inclusão
social estão nas falas acima dos alunos, educadores e egressos, porém, de maneira aleatória e
não consensual.
Quando perguntado sobre a concepção da inclusão digital, notaram-se disparidades
nas respostas, pois os alunos 1,3,4,5,6 e 9 responderam que estavam somente relacionada ao
uso de computadores, os alunos 2,7,8 e 10 falaram da junção do uso de computadores e da
inclusão social corroborando com a opinião dos educadores e egressos. Não houve
consonância entre os entrevistados no sentido de juntar as variáveis técnicas e sociais.
Essa mesma reflexão foi percebida quando perguntado de que modo a inclusão
digital estava presente no Projeto. Os alunos 4, 5, 7 e 8 responderam através de
aprendizagens, pois aprenderam a manusear o computador. Os alunos 1, 2, 3 e 6, como
também os egressos 1 e 2 responderam através do conhecimento adquirido nas aulas e nos
projetos sociais, pois levam para sua vida pessoal e profissional. os educadores 1, 3 e 4
responderam através da inclusão social, uma vez que o projeto se preocupa também com a
vulnerabilidade social com vistas à inclusão digital.
As três variáveis não podem ser vistas separadamente. No Projeto Político
Pedagógico (2005) as três estão em consonância, pois devem ser concebidas conjuntamente
nas ações da Escola de Informática e Cidadania. Uma vez que a inclusão digital vai além do
uso de máquinas e consegue atingir a sua essência valorizando as pessoas. As falas não
transcendem essa reflexão coesa.
4.4 INFLUÊNCIA E RESULTADOS DO PROJETO ―ESCOLA DE INFORMÁTICA E
CIDADANIA‖ NA VIDA DE PROFESSORES, ALUNOS E EGRESSOS.
O projeto de Responsabilidade Social ―Escola de Informática e Cidadania‖ dessa
empresa de mineração, de certa forma, trouxe para professores, egressos e alunos benefícios
importantes para a vida ou para a carreira profissional dos mesmos. Essa comprovação ficou
84
evidenciada nas falas abaixo quando foi solicitado, aos alunos, para descreverem suas
experiências na Escola:
Pra mim foi muito bom porque para quem nunca nem sabia ligar o computador e
não sabia nada, eu aprendi muita coisa, hoje eu sou aluno daqui, aprendi de onde
surgiu, gostei muito, foi excelente. (aluno 1)
Com a exclusão que a informática proporciona na sociedade é importante juntar esse
projeto para aliar a inclusão e a informática com a educação na sociedade. (aluno 2)
É bom porque dia após dia a gente aprende uma nova história né. Apesar da minha
idade gosto de estar aqui e até agora aprendemos muito, está legal. (aluno 3)
Eu estou aprendendo muito, muito mesmo porque eu fiz um curso de informática e
não aprendi quase nada, aprendo muito aqui e está sendo bom para qualificar o meu
currículo. (aluno 4)
Eu estou adorando porque é o primeiro curso que estou fazendo, estou aprendendo
com meus colegas, é uma satisfação muito grande estar aqui pelo trajeto que a gente
percorre né, longe, mas isso não torna uma barreira, está sendo muito bom. (aluno 5)
É bom porque eu nunca mexi num computador agora estou aprendendo, todo mundo
está aprendendo. (aluno 6).
Para mim está sendo ótimo, porque eu estou fazendo um curso que eu queria. Quero
trabalhar e ter um futuro melhor, com um serviço melhor, geralmente quando a
gente vai procurar um serviço, eles pedem logo a informática, para qualquer coisa
que você vá fazer precisa da informática, está sendo maravilhoso. (aluno 7)
Está sendo muito boa porque eu parei de estudar, mas estou motivada para voltar e
aprender, então vamos começar por aqui né, tem muitas coisas novas para gente.
(aluno 8)
Olha eu estou achando gratificante porque o que a gente aprende aqui, vamos levar
para o nosso trabalho, o que eles fazem aqui é muito interessante para ajudar as
pessoas que não têm oportunidade. (aluno 9)
A expectativa positiva dos alunos sobre a possibilidade de transformarem para melhor
suas vidas, vai ao encontro do que mencionam estudiosos, dentre eles Wertheim (2002), sobre
a capacidade que a Escola tem de transformar a realidade das pessoas. As informações dos
alunos apontam para uma situação indicada pela literatura como desejável: a capacitação que
o Projeto propõe e a troca de conhecimentos e aprendizagens que são adquiridos no mesmo
podem significar para esses jovens essa força transformadora da realidade em que vivem e a
chance da redução das desigualdades.
Os educadores afirmaram também que a experiência é positiva, pois o Projeto ajudou
nos aspectos profissional e pessoal. Além disso, proporciona conhecimentos e capacitação na
área da informática. Ainda, propõe interação com a comunidade. Isso ficou constatado nas
falas dos educadores abaixo:
85
A minha experiência no projeto é muito importante porque eu ingressei nele quando
eu tinha 17 anos, o projeto me ajudou tanto na questão profissional, quanto na minha
experiência de vida mesmo em relação à família e à vida em si, aprendi sobre os
computadores e tudo que eu aprendi foi por causa dos cursos desse projeto.
(educador 1)
A minha experiência é bem exercida pelo que aprendi no período em que estudei. A
gente faz o curso e aprende muita coisa, mas depois que eu passei a entrar nesse
processo de multiplicação, que eu fui conhecer mais ainda, me aprimorar naquilo
que eu queria que é informática né, então passei por capacitações, gostei e continuo
estudando ainda mais. Minha experiência foi muito boa, me relaciono com muitos
alunos e pessoas da comunidade. (educador 2)
Para mim sempre é um processo de crescimento. Foi fascinante fazer o curso porque
estava em cybers o tempo todo e não sabia nada, procurava as teclas e hoje estou
aqui como educadora, então é fascinante a informática. (educador 3)
Pra mim foi uma coisa que eu não esperava particularmente, mas foi uma
experiência boa porque além de aperfeiçoar os conhecimentos e outras coisas, eu
acabei sendo professora, me capacitei e foi bom porque além de ajudar eu aprendo
com eles também. (educador 4)
Os egressos corroboram com a opinião dos alunos e professores e afirmam que o
diferencial da Escola está em pregar as questões sociais por dentro da informática. Para eles,
estudar nesta Escola foi uma oportunidade interessante para seu desenvolvimento, essa
percepção foi tida a partir das falas abaixo:
Eu descobri que ela tem um diferencial entre as outras escolas de informática, o fato
dela pregar a questão social dentro da informática, se você vai à outra instituição que
ensine a informática básica, ela não vai demonstrar o fato de uma convivência
social, vai mostrar o básico de uma informática mesmo, ou seja, como operar ou
manusear um computador e a EIC não visa só à informática básica, mas sim a
convivência social também. (egresso 1)
Foi algo muito interessante, fiquei surpreso dentro desses padrões ter condições de
trabalhar e estudar, foi gratificante. (egresso 2)
Alunos, educadores e egressos gostam de trabalhar ou estudar na Escola, pois
relação de respeito e compromisso com o Projeto. Em relação às experiências adquiridas, as
opiniões dos entrevistados mostram que suas vidas passam por um processo de
transformação, uma vez que o Projeto alimenta sonhos pessoais e profissionais.
Talvez seja um dos grandes desafios da Escola atingir essas dimensões, pois alunos
chegam muitas vezes sem saber escrever, comunicar-se e interagir. Trabalhar essas
fragilidades sem exposições e de maneira sutil requer respeito ao ser humano. Mostrar seus
limites e apontar suas possibilidades exige habilidade pedagógica do educador. A Escola é um
lugar especial e da mesma maneira que foi ajudado, agora, procura ajudar e multiplicar o
conhecimento adquirido.
86
A ―EIC‖ tenta desempenhar o papel que se espera de uma Escola de ensino
complementar na atualidade: o de suprir as deficiências do ambiente de origem dos alunos
com a oferta de oportunidades educacionais inovadoras, porém, o desenvolvimento de suas
ações esbarra em fragilidades uma delas é a capacitação do educador, pois os mesmos têm
o ensino médio, desta forma, suas atuações são limitadas, as outras são de ordens estruturais e
financeiras. Essa se pelo fato da Escola não ter estabilidade financeira. Isso fica
evidenciado na procura de outros parceiros, e aquela é devido à estrutura comprometida, uma
vez que é de pequeno porte e constituída de equipamentos desgastados e usados.
Além das experiências evidenciadas pelos alunos, educadores e egressos da Escola,
verificou-se também a importância do Projeto na vida dos mesmos. Essas constatações são
interessantes para mostrar a influência dessas ações na perspectivas de cada um dos
entrevistados.
Os alunos sinalizam a importância do Projeto para a obtenção de novos
conhecimentos com vistas à aquisição de empregos. Isso fica confirmado nas falas abaixo:
Agora né, ninguém mais está sendo empregado se não tiver um curso de informática
ou saber dirigir, essas coisas. Eu chego num lugar e as pessoas me perguntam se eu
sei mexer no computador, eu digo que sei um pouco, porque a gente nunca deve
falar que a gente sabe muito, eu digo que sei mexer no computador porque é a era
da informática e a era da tecnologia e a gente está precisando disso. (aluno 1)
Me ajuda muito, pois quando acabar o projeto aqui eu pretendo arranjar um trabalho
para ficar bem de vida e ensinar as outras pessoas. (aluno 2)
Quando eu terminar esse curso vai ampliar assim o mercado de trabalho porque já
tenho o 2º grau. (aluno 3)
Esse curso está sendo uma grande experiência na minha vida e vou esperar as
oportunidades, tinha dificuldades em falar, estou fazendo outros cursos aqui
também, não pretendo parar aqui e vou fazer outros cursos avançados. (aluno 4)
É muito importante porque venho pra cá para aprender novos assuntos e trazer
minha filha que precisa de novos conhecimentos. (aluno 5)
Está trazendo conhecimentos, porque ajuda bastante, hoje em dia se você não tiver o
curso de informática nenhuma empresa vai te querer lá. (aluno 6)
Aprender coisas que eu não tinha nem idéia, eu estou aprendendo aqui até a ler que
eu não sabia, minha filha me alertou para isso. (aluno 7)
Tudo, ele tem muita importância, porque eu ainda não estou trabalhando em nada,
com o conhecimento dele eu vou voltar a trabalhar. (aluno 8)
um consenso nas falas dos alunos sobre a aquisição de emprego. Diante desta
situação, constata-se certa restrição, pois o Projeto Político-Pedagógico (2005) não pretende
somente essa conquista, e sim outras relacionadas ao desenvolvimento pessoal, como:
87
- proporcionar um processo de conscientização dos sujeitos e uma reflexão sobre sua
realidade com a sociedade e seus aspectos;
- favorecer e potencializar a criação de um espaço para discussões, formação de
lideranças, planejamento e desenvolvimento de ações comunitárias;
- disponibilizar o acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC);
- oferecer capacitação de qualidade para o uso e apropriação social das TICs pelas
comunidades;
- favorecer a construção de conhecimentos, a fim de que os sujeitos e as comunidades
exerçam sua cidadania e garantam seu desenvolvimento social, político e econômico;
- melhorar as chances de inserção no mundo do trabalho através do desenvolvimento
de habilidades e ampliação do conhecimento.
No que concerne aos educadores e egressos, verificou-se que se preocupam não
somente com o emprego, mas também com o desenvolvimento pessoal, o trabalho em equipe
e a liderança. Isso ficou evidenciado nas falas abaixo:
Tem uma importância muito grande, pelo fato de ter proporcionado novos
conhecimentos na área da informática e em outras áreas, como trabalhar em equipe,
manutenção, liderança, quando se fala no perfil do coordenador. (educador 2)
É uma grande experiência, tinha muita vergonha de ir à frente, conversar e passar
para as pessoas, hoje em dia já leciono com tranquilidade. Tenho coragem.
(educador 3)
Muita com certeza, ele é a base de tudo que eu sou praticamente hoje, se eu sou
alguém profissionalmente hoje é por causa dele, então eu procuro passar para meus
alunos, que trabalhar na EIC é a gratificação que esse projeto traz para a melhoria
não profissional mais como pessoa mesmo, porque antes não falava nada e não
sabia nada, hoje eu dou aula e estou dando até entrevista. Então é gratificante
uma pessoa sair daqui com um pensamento que ela pode fazer melhor na frente
então é muita gratificação. (educador 4)
Uma importância boa que fez a gente levar adiante esse aprendizado que a gente
conheceu e adquiriu e permitiu outras pessoas que precisam de uma oportunidade
para poder se desenvolver. (egresso 1)
Foi importante para a minha grade curricular de aprendizado de ter novas
experiências, por exemplo, eu estudei em outras escolas de informática e pegava
apenas o conhecimento básico da informática, mas não a questão da cidadania, já
tinha experiência, mas pude buscar mais e coletar informações sobre a cidadania.
(egresso 2)
Ainda assim, percebe-se que as falas dos alunos, educadores e egressos acima apenas
tangenciam os objetivos propostos pelo Projeto, pois perpassam pela construção de
conhecimentos, desenvolvimento social, acesso às Tecnologias da informação e comunicação,
capacitação de qualidade, processo de conscientização dos sujeitos e formação de lideranças,
planejamento e desenvolvimento de ações comunitárias.
88
Fato interessante a ser observado em uma das respostas desta pergunta, é a dificuldade
passada pelo educador 1, pois mostra que esses não recebem incentivo financeiro da empresa
ou da Escola. Desta forma, o trabalho é voluntário:
Ah para mim é muito importante porque até mesmo em casa, eu tive muitas
dificuldades logo no início quando eu entrei. Porque esse trabalho é voluntário,
venho todas as manhãs, a gente não recebe nada no mês então o papai reclamava,
meu irmão dizia que eu não ia ganhar nada, aqui a gente não recebe, mas tem cursos
que se agente pagasse seria mais de 1.000,00 e aqui a gente é capacitado, então isso
é o mais importante para mim, eu aprendo e ainda ensino. (educador 1)
Esta fala serve para mostrar que a empresa de mineração não está preocupada com o as
atividades da Escola. Desta forma, a Responsabilidade Social é questionada, pois não
responsabilidade efetiva com os atores do projeto. Deveriam ser tomadas medidas
estruturantes para conceber ações que dessem suporte para o desenvolvimento das atividades
da Escola. Agindo assim, os educadores não passariam por esta situação e nem mesmo os
alunos, uma vez que teriam apoio da empresa ou Escola, porém, conforme fala acima, isso
não acontece.
Ainda analisando as falas acima, percebeu-se que tanto alunos como educadores e
egressos reconhecem que adquirem conhecimentos nas áreas da informática e social e
aprendem muito com a interação proporcionada pela Escola. Partindo desse ponto de vista,
foi perguntada a perspectiva de cada entrevistado após o conhecimento obtido no Projeto.
Essa pergunta é interessante, pois tudo que foi assimilado outrora precisa posteriormente ser
colocado em prática.
Sendo assim, nas falas dos alunos 1, 4, 5, 9 e 10 há, além da perspectiva de aquisição
de emprego, o incentivo a outras pessoas, sejam amigos, familiares, conhecidos ou membros
da comunidade, a estudar na Escola, como também pretendem socializar os conhecimentos
obtidos. Essa atuação é interessante, uma vez que mostra a solidariedade presente nas ações
desses alunos, conforme falas abaixo:
Pretendo acabar o curso e tentar entrar em outros e pretendo ajudar as outras pessoas
também e arranjar um bom emprego. (aluno 1)
Pretendo ser professor aqui na Escola de Informática e ajudar amigos. (aluno 4)
Quero fazer esse curso para me formar e ajudar minha família. (aluno 5)
Eu vou chamar as pessoas que ainda não têm esse curso para repassar para elas,
atualizá-las e conseguir um trabalho para mim, formar as outras pessoas, incentivar a
estudar e se formar e trabalhar para ser independente. (aluno 9)
Quero ajudar outras pessoas da minha comunidade, aprendo aqui que devemos ser
solidários. (aluno 10)
89
Os alunos 2, 3 e 6 apresentam foco específico na aquisição de emprego. Desta forma,
o mercado de trabalho é almejado por esses com o intuito de serem bem sucedidos na vida
pessoal e profissional. O conhecimento adquirido na Escola, nesse momento, base para
aqueles que querem um emprego melhor, isso fica evidenciado nas falas abaixo:
Eu penso para o meu futuro muitas coisas, pretendo ser uma advogada bem
sucedida e esse conhecimento vai ser muito importante. (aluno 2)
Não sei se você percebeu, mas eu tenho um pouco de dificuldade eu fico um pouco
nervoso, mas eu pretendo fazer alguma coisa pra eu acabar com isso, faço outro
curso também, rotinas administrativas, e faço esse de informática porque eu quero
uma coisa bem melhor para mim, um serviço bem melhor do que os outros que eu
trabalhava. (aluno 3)
Hoje em dia o mercado cobra muito um curso de computação, nem que seja o
básico, é o meu caso, fui chamada para entrevista que eu não tenho o básico,
então houve essa oportunidade e vim fazer, estou desempregada e sei que isso vai
me ajudar muito no mercado de trabalho. (aluno 6)
os alunos 7 e 8 pretendem aprimorar os conhecimentos na área de informática,
aprofundando-se em outros cursos. Esta ação não será possível na Escola, pois a mesma
proporciona cursos básicos como Windows, Word, Excel e Power Point. Desta forma, o aluno
terá que procurar outra Escola de Informática para se especializar no assunto. Essa
perspectiva de aprimoramento fica comprovada nas falas abaixo:
Aprimorar mais o meu conhecimento na área de informática. (aluno 7)
Eu penso em não parar por aqui, continuar para aprender porque tem muitas coisas
diferentes, não quero ficar só no básico. (aluno 8)
Os educadores e egressos corroboram com as mesmas perspectivas dos alunos, pois
pretendem continuar repassando conhecimentos para esses com o intuito de instigá-los a
mudar a realidade social. Isto fica claro nas falas abaixo:
Quero continuar me capacitando e passar os conhecimentos para os outros.
(educador 1)
Minha perspectiva é que eu aprenda mais ainda, não basta só o que eu tenho, que eu
conheça mais outras coisas da realidade. Tem gente parado na comunidade sem
fazer nada, vendo o que está acontecendo e não sabe de outras coisas. Mas eu,
nesse projeto, estou vendo a realidade de cada um, espero que isso mude, que a
escola a oportunidade para essas pessoas que não têm preferência, é excluída da
sociedade, a meta é incluir essa pessoa, essa é minha perspectiva que todos
consigam uma coisa melhor, inclusive eu para mudar a sua realidade. (educador 2)
Uma importância boa que fez a gente levar adiante esse aprendizado que a gente
conheceu e adquiriu e permitiu outras pessoas que precisam de uma oportunidade
para poder se desenvolver. (egresso 1)
Penso em buscar e ampliar mais conhecimento, fazer outros cursos. (egresso 2)
90
Vale aqui ressaltar que os alunos são estimulados a buscar conhecimentos para mudar
a realidade, porém os gestores e educadores da Escola, como também os gestores da empresa
mineradora, não acompanham os resultados para que essa iniciativa possa ser legitimada
como estruturante. Assim, não saberão se estão no caminho certo e adotando a estratégia
adequada, pois o objetivo da Escola não é somente repassar o conhecimento como uma
educação bancária de acordo com Freire (1987), mas sim promover transformação para a
mudança social.
Freire (1987) destaca que a educação é uma forma de intervenção no mundo e que
deve existir sempre uma troca mútua de conhecimentos, onde quem ensina aprende ao ensinar
e quem aprende ensina ao aprender. Além disso, a educação é um encontro entre
interlocutores, que procuram no ato de conhecer a significação da realidade e na práxis o
poder da transformação. Dessa forma, na organização que aprende, a ação pode e deve ser
muito mais que um processo de treinamento ou domesticação, deve ser, sim, um processo que
nasce da observação e da reflexão e culmina na ação transformadora. O autor ressalta ainda
que a educação não deve ser uma educação bancária. Este tipo de ensino se caracteriza pela
presença de um professor depositante e um aluno depositário da educação.
A transformação é percebida quando perguntado o resultado do Projeto na vida dos
alunos, educadores e egressos da Escola, ou seja, o que foi feito em suas vidas, na família e na
comunidade com os conhecimentos adquiridos. Os alunos 3, 4, 5, 6, 8 e 9 disseram que
incentivaram familiares a ingressar no curso, ajudaram suas comunidades com o que foi
aprendido na Escola e repassam com orgulho os conhecimentos. Esta constatação ficou
comprovada nas falas abaixo:
Ajudo os meus vizinhos da comunidade com que aprendo aqui. (aluno 3)
Eu repasso para o meu cunhado, que comprou um computador e não sabe mexer, na
comunidade também. (aluno 4)
Tive a oportunidade de ajudar muitas pessoas. (aluno 5)
Penso sempre em novas ideias e coisas novas para minha casa e família. (aluno 6)
Falei para minhas amigas e meu filho do que eu aprendi e repasso com muito
orgulho para eles. (aluno 8)
Ainda estou acabando aqui, mas incentivo meus pais para vir fazer o curso também.
(aluno 9)
Isso é interessante, pois esse é o objetivo principal do Projeto: adquirir conhecimentos
e aprendizagens para socializar e interagir com a comunidade, com vistas à mudança social.
91
Esta é uma maneira de ajudar e incluir outras pessoas no Projeto. No que concerne à
mudança, o aluno 2 revela que houve uma mudança interna, pois segue um caminho escolhido
por si próprio, respeitado por seus amigos e familiares, além disso, mostra para o irmão o
caminho a ser seguido. Tal verificação ficou evidenciada na fala abaixo:
Eu ensinei a meus amigos a respeitarem as pessoas, que não devem fazer nada de
errado, porque roubar não é o caminho certo, já falei para os meus irmãos, o
caminho certo que estou seguindo é esse agora. (aluno 2)
Os alunos também mostram que utilizam os conhecimentos para consertar o
computador ou pesquisar assuntos para a consecução de trabalhos da Escola formal, o que
ficou constatado nas falas abaixo:
Eu estava na Escola e precisaram de mim uma vez porque o computador quebrou,
eu fui lá e consertei. (aluno 1)
Pego informações para amigos e Escola, gosto de pesquisar trabalhos da Escola.
(aluno 7)
Deve-se fazer uma ressalva na fala do aluno 7, quando ressalta que utiliza seus
conhecimentos para fazer trabalho da Escola. Refere-se à Escola formal que fica na
comunidade e não a de informática. De acordo com a diretora, a Escola de Informática e
Cidadania, recebe alunos que estejam estudando em escola formal, ou seja, no ensino
fundamental ou médio. Além disso, a mesma complementou que o aluno é estimulado a
continuar os estudos, isso ficou evidenciado nas falas abaixo:
Os alunos devem estar estudando, os educadores fazem as visitas nas escolas
próximas daqui e os alunos são indicados, eles vem aqui preenchem uma ficha
respondem perguntas sobre a renda da família e outras perguntas e se inscrevem.
(diretora)
Incentivamos nas palestras que os alunos precisam estudar para se instruírem, dessa
forma devem se esforçar para se preparar para a vida. (diretora)
Essas falas, de certa forma, contrastam com o que foi percebido na pesquisa, pois,
foram encontrados alunos que não estavam estudando no ensino formal. Este fato pode
mostrar que a EIC não tem controle ou rigidez no momento da inscrição do aluno. Isto pode
ser ainda problema de supervisão. O aluno pode até ter se matriculado na EIC, e, por algum
motivo, deixou de frequentar a escola formal sem supervisão.
Além disso, o incentivo é feito somente com palavras, nas palestras promovidas pela
EIC. Por se tratar de uma comunidade vítima da vulnerabilidade social, seria interessante que
92
fossem incentivadas outras formas, uma delas, através de trabalhos específicos e estruturantes
com as famílias para que pudessem realmente incentivar o jovem a ingressar no ensino formal
e complementar.
O incentivo à educação formal deveria ser estimulado pela EIC. De acordo com o
PNUD (2009), uma das dimensões do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é a
educação formal, que, por sua vez, é um dos indicadores de qualidade de vida. Desta forma, a
educação complementar não deve suplantar a formal, do contrário, as ações da EIC estariam
indo de encontro às dimensões do IDH.
Voltando à análise dos resultados do Projeto na vida dos alunos, educadores e
egressos, percebeu-se que os educadores corroboram as opiniões dos alunos, pois também
ajudaram familiares, comunidades e amigos. Os conhecimentos estão sendo utilizados para
montar computadores, como também, para discutir temas relacionados à cidadania e
desemprego, essa evidenciação ficou constatada nas falas dos educadores 1, 2 e 3.
As pessoas não conseguem perceber as dificuldades dos outros, já ajudei, minhas
tias e familiares. Agora por exemplo estou repassando tudo que aprendi aqui dentro
mesmo, tive aula em 2005 e estou dando aula hoje após ser capacitada. (educador 1)
É bem interessante essa pergunta, até já falei com meus pais, eu consegui montar um
computador através do conhecimento daqui, ensinei meus familiares que estão
parados e até mesmo coisas que eu trabalho aqui eu ensino na minha comunidade,
temas que eu falo aqui, falo também na comunidade, temas como o desemprego e
cidadania. (educador 2)
Passo os conhecimentos para familiares e amigos. (educador 3)
Fato que merece destaque é a fala do educador 4. Esta mostra que a empresa
mineradora em questão divulgou o projeto em rede nacional, dessa forma, ficou conhecido,
uma vez que não tinha tanta expressividade na comunidade. A reflexão que se faz desta
situação é que a empresa se preocupou em divulgar o Projeto para mostrar à sociedade a
prática da Responsabilidade Social, porém, não se preocupou em estruturá-lo:
Foi mudar a visão que a minha família tinha da EIC, a minha família tinha uma
visão ruim, pois, eu era instrutora daqui e a localidade é muito ruim, eu vinha de
bicicleta para EIC e estudava à tarde, dividia meu tempo com a família, o colégio e a
EIC, assim eu consegui trabalhar mais de 2 anos na EIC, então é dessa forma, né.
Eles tinham a visão que o projeto não era uma coisa muito séria, então eu fui me
envolvendo, envolvendo a minha família e a família de outras pessoas, pois a EIC
estava sendo reconhecida pelo jornalzinho da comunidade, ou uma programação que
a Fundação Vale fez que passou em rede nacional, ajudou muito, a visão deles
mudou, o fato daquelas pessoas que falavam mal desse projeto, e agora, verem a
divulgação, deu mais importância para confiar nos filhos para vir para e também
nos educadores. (educador 4)
93
Para os egressos, os resultados também foram satisfatórios, pois passaram o
conhecimento para familiares, comunidades e conhecidos. O egresso 2, que trabalha na EIC
como assessor da Diretora, acrescenta que hoje consegue bolsas para alunos que não têm
condições de pagar o curso. Essa ação é conveniente, uma vez que esse egresso foi ajudado
pela Escola e hoje ajuda outros jovens a ingressar no curso, é uma maneira interessante de
repassar esta boa ação. Essas constatações ficaram evidenciadas nas falas abaixo:
Eu levei para casa, minha esposa e filha fizeram aqui, falar para outras pessoas que vale
a pena fazer. (egresso 1)
A minha esposa fez e meus filhos, eu fui buscar trinta bolsas (vagas) para apadrinhar
garotos da pastoral do menor, pois tem muitas crianças que querem fazer o curso, mas
o têm condições de pagar. Consegui as 30 vagas e os trinta padrinhos para fazer o
curso, foi muito gratificante porque um dia eu fui ajudado pela Escola, hoje eu tento
ajudar outros jovens. A comunidade retribui de uma forma positiva. (egresso 2)
Mesmo com os problemas detectados de infraestrutura e compreensão do Projeto,
observou-se que os professores, alunos e egressos são transformados e colaboram para que
outras pessoas sejam também agentes de transformação social. Essa observação é relevante,
pois mostra a vontade de mudança social desses atores.
94
5 CONCLUSÃO
Valente e Almeida (1999) afirmam que a adequação do espaço físico e equipamentos
disponíveis nas escolas têm relação direta com o nível de aprendizagem e de motivação dos
alunos. Os resultados da pesquisa atestam que a infraestrutura da Escola de Informática e
Cidadania tem desafios a enfrentar. As salas de aula são pequenas, sem iluminação adequada
e os computadores, maquinários, móveis e equipamentos são defasados e desgastados. Desta
forma, a estrutura descrita pelos alunos, educadores e egressos indica que a mesma não é
favorável para a continuidade do projeto, de forma estruturada e organizada. Mesmo nesta
situação, alunos, educadores e egressos atestam que, de certa forma, a infraestrutura atende às
necessidades e perspectivas.
Esse reconhecimento em atender necessidades e perspectivas advém de pessoas
vítimas de vulnerabilidade social. Então, qualquer melhoria, ou ação cidadã feita para eles,
será bem-vinda. Por outro lado, a empresa mineradora deveria realizar maiores investimentos
para ser considerada socialmente responsável no tocante ao projeto sob análise.
A Escola deveria acompanhar a vida desses atores para verificar se realmente está
sendo colocado em prática o que vem sendo discutido nas aulas, ou então, evidenciar o
compromisso em inseri-los no mercado de trabalho. Deveria, também, mostrar na íntegra a
acepção do conceito de Responsabilidade Social, citado anteriormente. Porém, não é assim
que tem se mostrado.
A empresa é uma organização de renome internacional e detentora de lucros
consideráveis. Certamente não lhe causaria maiores perdas atender às necessidades de uma
comunidade, ou de pequenos grupos formados por esta. Além disso, essas ações estão
estruturadas no Projeto de Responsabilidade Social da mesma, logo, devem ser
implementadas de forma adequada, com vistas ao cumprimento de obrigações legais e ao
comprometimento com o desenvolvimento social e econômico da comunidade (TENÓRIO,
2006).
No que concerne às linhas e diretrizes do Projeto Político-Pedagógico (2005), pode-se
afirmar que foram identificadas duas categorias: inclusão digital e a educação. A primeira está
presente no projeto, pois, sua concepção vai além da utilização de simples máquinas. Sendo
assim, busca estimular a inclusão social para que os alunos pensem em ações inovadoras e
criativas em seu benefício e em prol da comunidade. A segunda está pautada nos constructos
de Freire, quando pensa que a educação liberta, transforma e muda. Uma educação que está
95
centrada, não somente no professor, mas também no aluno, promovendo o processo de ensino
e aprendizagem e valorizando o conhecimento.
As duas categorias visam à cidadania. Desta forma, o Projeto atua com o intuito de
que os alunos adquiram autonomia para tomar decisão, pois com a educação, podem
participar ativamente da vida e da sociedade, conhecendo direitos e deveres. Formam-se,
então, pessoas ativas e agentes de mudanças capazes de transformar o mundo e de se
posicionar diante de problemas oriundos da sociedade.
Os resultados autorizam afirmar que disparidades entre a concepção das categorias
de análise e a maneira com que as mesmas são entendidas pelos alunos no Projeto. Alunos
não conseguem enxergar a contribuição da educação e da inclusão digital para a cidadania e
posteriormente para suas vidas. A educação deve fazer com que sejam pessoas críticas. A
inclusão digital proporciona o conhecimento técnico e, também, os envolve em temas sociais
e a cidadania promove sua autonomia para que tenham condições de tomar decisões na sua
vida pessoal e profissional como também na comunidade, porém, o entendimento que alguns
tinham no que concerne à inclusão digital estava restrito ao manuseio de máquinas. Já no que
concerne à cidadania, alguns responderam que se relacionava especificamente a direitos e
deveres, sem saber explicar o porquê.
Tal fato pode estar relacionado à maneira com que essas categorias estão sendo
trabalhadas na Escola, pois os professores não parecem preparados e capacitados. Além disso,
não possuem formação adequada, todos que foram entrevistados possuem somente o ensino
médio, não têm experiência em ministrar aulas e se capacitou apenas através do Curso de
Informática feito na EIC. A Escola, de maneira branda, os incentiva a continuar seus estudos,
mesmo assim, ainda não apareceu nenhum educador com formação superior ou especializada
nas áreas tecnológicas, isso evidencia uma falha pedagógica do Projeto.
A atuação dos funcionários é restrita ao apadrinhamento. Para eles, essa ação é uma
forma de exercitar a solidariedade. Souza (1995) afirma que essas atividades não resolvem
definitivamente os problemas sociais, além disso, o fato de pagar o curso para o aluno de
maneira aleatória, não reflete um ato solidário. Para Espingn (1997), a solidariedade é
definida tanto positiva como negativamente. Ela exige uma série de deveres e
responsabilidades em relação à comunidade como um todo. Também garante ao indivíduo um
conjunto de direitos e expectativas em relação à comunidade.
Influências e resultados do Projeto na vida dos alunos, professores e egressos foram
identificados. Desta forma, pode-se afirmar que mudanças ocorreram na vida dessas pessoas.
De fato, conseguem utilizar o computador adequadamente, ajudam a comunidade, amigos e
96
familiares, estão conscientes dos problemas que circundam a comunidade, possuem espaço
para discussões de formação de lideranças, planejamento e desenvolvimento de ações
comunitárias e exercitam algum grau de cidadania.
Essas mudanças mostram que a Escola, mesmo sob limites, se esforça para colocar em
prática os constructos do Projeto Político-Pedagógico. Sendo assim, os alunos passaram a
enxergá-la como uma aliada ao combate à vulnerabilidade social.
Retomando o objetivo geral desta investigação, os resultados autorizaram afirmar que
a infraestrutura tem desafios a enfrentar, disparidades entre a concepção e a prática das
categorias explicitadas no Projeto Político-Pedagógico da EIC e a influência, mesmo sob
limites, alcança a vida dos professores, alunos e egressos, perante a situação discutida acima.
Desta forma, a pergunta: Como tem sido desenvolvido o projeto de Responsabilidade
Social Empresarial ―Escola de Informática e Cidadania‖ da Mineradora Y‖? é respondida a
partir da análise de duas abordagens estruturada por Kreitlon (2004) no marco referencial
deste trabalho. As ações de Responsabilidade Social desta empresa, quando voltadas para este
projeto e sob uma perspectiva da Escola Busines & Society (Mercado e Sociedade) utilitarista
e menos flexível ficam de certa forma evidenciadas, pois, com auxílio dado por esta
mineradora, a mesma se projeta nestas ações e ganha o respaldo da comunidade. Porém, sob o
ponto de vista da abordagem da Escola “Business & Society” (Mercado e Sociedade) crítica e
rigorosa, essas ações não ficaram evidenciadas, pois, esta abordagem leva a empresa
estabelecer um outro tipo de relação mais respeitosa e comprometida com a comunidade .
Apesar de ter atingido os objetivos a que se propunha esta pesquisa, alguns fatores
foram restritivos e limitantes para sua consecução. Um desses aspectos refere-se ao fato de
existir uma diversidade de termos que envolvem a Responsabilidade Social e o outro se
relaciona a dificuldade em conseguir acesso a representantes da Empresa, logo, limitou o
contraponto na análise realizada.
Há novas perspectivas de pesquisa, pois entende-se que poderão ser realizados estudos
em outros projetos desta Mineradora, que envolvem o tema ambiental ou que trate da
Responsabilidade Social interna com o viés focado nos funcionários, acionistas, clientes,
comportamento e cultura.
97
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104
APÊNDICE A
ROTEIRO DE ENTREVISTAS AOS EDUCADORES, ALUNOS E EGRESSOS.
1. Como você descreve a sua experiência no projeto Escola de Informática e Cidadania?
2. Qual a sua opinião em relação às instalações do projeto Escola de Informática e
Cidadania?
3. Que aprendizagens por você adquiridas podem ser atribuídas ao projeto Escola de
Informática e Cidadania?
4. O que é cidadania em sua opinião?
5. De que modo a cidadania está presente neste Projeto?
6. Que importância tem este projeto na sua vida?
7. Quais são suas perspectivas após o conhecimento obtido no projeto Escola de
Informática e Cidadania?
8. O que você já fez na sua família, na sua vida ou na comunidade com os conhecimentos
que adquiriu aqui no Projeto?
9. O que é inclusão digital para você?
10. De que modo este Projeto, em sua opinião, é de inclusão digital?
105
APÊNDICE B
ROTEIRO DE ENTREVISTAS A DIRETORA DA ESCOLA.
1. Como é feita a seleção dos alunos para ingressar na Escola?
2. Quais são os critérios desta seleção?
3. Qual o perfil desses alunos?
4. Os alunos estudam em outra Escola?
5. O aluno é estimulado a cursar ou a continuar os estudos? Se sim de que modo?
6. A Escola aceita alunos que não estejam estudando?
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