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Com a consolidação do capitalismo monopolista no Brasil, pela via da modernização
conservadora, período que abre com o golpe militar de 1964, o Estado promoveu a
privatização de serviços sociais, como a saúde e previdência, continuando a combinação entre
assistência e repressão que se volta tanto para favorecer os investimentos privados no campo
social, tornando-os lucrativos, como para subordinar os trabalhadores aos requisitos de
aumento da produtividade nas organizações (Santos, 1987).
Para Cesar (2008), a ideia de Responsabilidade Social Empresarial, no decorrer dos
anos 1990, ganhou consistência, pois a mesma foi traduzida como um conjunto de atividades
que a empresa realiza para atender, internamente, às necessidades de seus colaboradores e,
externamente, às demandas das comunidades, em termos de alimentação, saúde, educação,
preservação do meio ambiente, desenvolvimento comunitário e outras.
As empresas, em seu discurso ético e social, sustentavam a ideia de ―inserção cidadã‖.
Essa visibilidade motivou a realização, por parte do IPEA, de estudos que compunham a
pesquisa Ação Social das mesmas, dentre esses estudos, dois foram feitos com o intuito de
acompanhar o envolvimento empresarial no campo social.
Em pesquisa realizada em 1999, com 445 mil empresas da região Sudeste, detectou-se
que 95 mil delas realizaram ações sociais em benefício de comunidades e 78 mil
desenvolveram ações apenas para empregados. Já em 2003, com 420.447 mil empresas da
região Sudeste, notou-se que houve um acréscimo de 6% dessas que atuam de forma
voluntária, em benefício de comunidades, essas empresas destinaram cerca de R$ 3,1 bilhões
no atendimento das mesmas, o que corresponde a 0,35% do PIB.
De acordo com Cesar (2008), ―os dados levantados com essa pesquisa são reveladores
de injeção de recursos na área social de origem privada, com fins públicos‖. Essa ação prova
que a própria sociedade está buscando caminhos alternativos para superar dificuldades e
mazelas deixadas no percurso da história.
Neste contexto, o Estado passa por uma reforma. De acordo com Cesar (2008, p.21):
Na tentativa de superar, em tese, o enfoque minimalista dos ajustes estruturais
macroeconômicos, a reforma do Estado, defendida por Bresser Pereira (1998), parte
do pressuposto de que em várias áreas, inclusive a social, o Estado poderia ser mais
eficiente, caso utilizasse estratégias gerenciais e estabelecesse parcerias com
organizações públicas não governamentais para executar os serviços por ele
apoiados. No campo dos serviços considerados ―não-exclusivos‖ do Estado,
portanto, as atividades passaram a ser exercidas por meio de organizações sociais,
entidades de direito privado e de caráter público não-estatal. Cabe, então, ao Estado
prover os recursos básicos de seu funcionamento, incentivando, porém, a captação
de recursos no mercado, para gerar condições de auto-sustentabilidade para os
serviços.