Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes
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proporcionando um certo sentido de magia, de ligação com os Deuses, até os dias
atuais, quando ela mantém uma estreita relação com prazer, vício e crime.
(NOGUEIRA ,2003). O referido autor se reporta a Freud quando menciona que ele já
fazia menção ao uso do tóxico como objeto necessário para evitar a angústia,
oriunda dos imperativos culturais, tornando a vida mais suportável e até prazerosa.
Hoje, pode-se dizer que estas substâncias são objeto de um gozo ideal, que
contribui para um sintoma social, já que é aceito cultural e socialmente, pelo fato de
estar presente em quase todas as atividades humanas, “desde a celebração do
nascimento até o choro da morte”.
Segundo Leite (2002), a cultura de hoje exige que o sujeito se submeta ao
imperativo do consumo. Nesta lógica, o indivíduo deve encontrar a completude não
nos ideais, mas no gozo com os objetos de consumo, ou com as drogas,
constituindo assim um costume; no caso do álcool, um costume lícito e social.
O álcool emerge como promessa para se obter poder, sucesso, amor
felicidade e satisfação, afastando a idéia de sofrimento e solidão. Assim, pouco a
pouco, o jovem vai se apropriando deste costume e, quando percebe, esta
substância já está comandando completamente sua vida, “é como se a criatura se
voltasse contra o criador” (grifo nosso).
O ser humano é, segundo os preceitos da psicanálise, um ser
essencialmente angustiado, por trazer em si pulsões que o levam a lançar-se
permanentemente na busca da satisfação. Referidas pulsões são impulsos, em geral
inconscientes, que incitam a atividade do indivíduo de forma positiva ou negativa.
Todavia, diz Vitoriano (2000) que, estando o sujeito em confronto com as variáveis
culturais impostas de fora para dentro e pautado em uma multiplicidades de fatores
não controláveis, presentes em toda interação humana, vê-se obrigado, tanto ao
nível de consciente, quanto ao nível de inconsciente, a lidar com os ditos impulsos,
num jogo de forças antagônicas, numa luta entre o desejo e a defesa, tornando-se
assim um juiz de si mesmo. Neste jogo, são identificadas dois tipos de pulsões:
pulsão da vida e pulsão da morte. A primeira relacionada ao prazer, à satisfação do
desejo, enquanto a pulsão de morte se refere ao desejo destruidor de si mesmo,
corolário do abuso do álcool.