2.1.3 Processos e produtos das Representações Sociais
De acordo com Alves-Mazzotti (1994, p. 70) o estudo das representações sociais está
interessado em uma modalidade de pensamento social, quer em seu caráter constitutivo – como
produto, quer sob o aspecto constituinte – como processo. Ela argumenta que para estudar as
representações sociais é necessário apreender seu conteúdo e sentido por meio de seus
elementos constitutivos: informações, crenças, imagens, símbolos, valores, expressos pelos
sujeitos e obtidos por meio de questionários, entrevistas, observações, análise de documentos,
etc. Porém, ressalta que para que esses elementos constituam uma representação, eles devem se
apresentar como campo estruturado, ou seja, com a organização e hierarquização dos elementos
que configuram seu conteúdo. No que diz respeito ao estudo das representações como
processos, o interesse concentra-se na relação entre a estrutura da representação e suas
condições sociais de produção, assim como as práticas socais que induz e justifica. “Isto
geralmente requer a análise de aspectos culturais, ideológicos e interacionais, prevalentes no
grupo estudado, que possam explicar a emergência de um dado núcleo figurativo, inscrevendo-o
em uma rede de significações.”
Assim, a elaboração e o funcionamento das representações sociais devem ser compreendidos
por meio de seus processos de produção, a objetivação e a ancoragem. Esses processos,
dialeticamente conectados, expressam “a interdependência entre a atividade psicológica e suas
condições sociais de exercício” (JODELET, 1993, p.480).
Para Moscovici (2003) objetivar é descobrir a qualidade icônica de uma idéia, é reproduzir um
conceito em uma imagem. Jodelet (1993) define objetivação como uma operação imaginante e
estruturante que concretiza o que era abstrato, reabsorvendo o excesso de significações e dando
corpo aos esquemas conceituais. Essa autora distingue três fases nesse processo: a construção
seletiva, a esquematização estruturante e a naturalização. Na primeira, o sujeito se apropria das
informações e saberes referentes ao objeto, retendo alguns elementos, acrescentando novos,
enquanto outros são ignorados ou facilmente esquecidos. A triagem das informações referentes
ao objeto se faz a partir de condicionantes culturais e, sobretudo, de critérios normativos válidos
no grupo. Na esquematização, uma estrutura imaginante reproduz, de forma visível, a
organização dos elementos selecionados, de modo a proporcionar uma imagem coerente e
facilmente exprimível dos elementos que constituem o objeto da representação, permitindo ao
sujeito apreendê-los individualmente e em suas relações. O resultado dessa organização é o
chamado núcleo ou esquema figurativo, que sintetiza e concretiza os elementos da
representação, os quais se tornam "seres da natureza". (ALVES-MAZZOTTI, 1994, p. 66).
Dessa forma, “um jogo de mascaramento e de acentuação de elementos do objeto da
representação produz uma visão desse objeto marcada por uma distorção significante”,
constituindo-se em um saber que serve às necessidades, valores e interesses do grupo.
O segundo processo descrito por Moscovici, a ancoragem, “diz respeito ao enraizamento social
da representação, à integração cognitiva do objeto representado no sistema de pensamento pré-
existente” e às transformações que ocorrem num e noutro. Não se trata mais da construção
formal de um conhecimento, mas de sua inserção em um pensamento constituído (ALVES-
MAZZOTTI, 1994, p. 66).
Para Moscovici (2003) a ancoragem é um processo que transforma um objeto que é estranho e
perturbador em algo familiar, aproximando-o de nosso sistema particular de categorias,
comparando-o com uma categoria que pensamos ser apropriada. Afirma que o não-familiar tem
o poder de atrair e, ao mesmo tempo, de fazê-las se sentirem ameaçadas ao perderem seus
marcos referenciais. Diante dessa ameaça, torna-se necessário tomar uma posição frente ao
objeto, ou seja, aproximar o não-familiar a algo conhecido. Ao fazê-lo, o objeto adquire
características daquele ao qual é associado, reajustando-se para adequar-se a ele, tornando
“comum e real algo que é incomum”. Cabe ressaltar que o “real” aqui mencionado, é uma
versão do real, representado por determinado grupo, dentro do seu contexto sócio-histórico
(MOSCOVICI, 2003, p 58).
Na categorização é necessário escolher um dos paradigmas estocados na memória e estabelecer
uma relação positiva ou negativa com ele. A aproximação do não-familiar a uma categoria
conhecida se faz por meio de classificação e nomeação. Classificar significa confinar o objeto a
um conjunto de comportamentos e regras estabelecidas para os membros de determinados