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FABIANE MARIA ZAT
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE E DOENÇA:
IMPLICAÇÕES NA GINÁSTICA LABORAL E ERGONOMIA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO (UCDB)
MESTRADO EM PSICOLOGIA
CAMPO GRANDE-MS
2009
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FABIANE MARIA ZAT
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE E DOENÇA:
IMPLICAÇÕES NA GINÁSTICA LABORAL E ERGONOMIA
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Psicologia da Universidade
Católica Dom Bosco, como exigência parcial
para obtenção do título de Mestre em
Psicologia, área de concentração: Psicologia da
Saúde, sob a orientação da Profa. Dra. Angela
Elizabeth Lapa Coêlho.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO (UCDB)
MESTRADO EM PSICOLOGIA
CAMPO GRANDE-MS
2009
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Ficha Catalográfica
Zat, Fabiane Maria
Z38r Representações sociais de saúde e doença: implicações na
ginástica laboral e ergonomia / Fabiane Maria Zat ;
orientação Angela Elizabeth Lapa Coêlho. 2009.
115 f.: + anexos
Dissertação (Mestrado em psicologia) Universidade
Católica Dom Bosco. Campo Grande, 2009
1. Psicologia da saúde 2. Ergonomia 3. Saúde e trabalho 4.
Trabalhadores Treinamento físico 5. Qualidade de vida no
trabalho I. Coelho, Ângela Elizabeth Lapa II. Título
CDD-616.08
Bibliotecária responsável: Clélia T. Nakahata Bezerra CRB 1/757.
A dissertação apresentada por FABIANE MARIA ZAT, intitulada “REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS DE SAÚDE E DOENÇA: IMPLICAÇÕES NA GINÁSTICA LABORAL E
ERGONOMIA”, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em PSICOLOGIA
à Banca Examinadora da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), foi
........................................... .
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Profa. Dra. Angela Elizabeth Lapa Coêlho
(orientadora/UCDB)
____________________________________________
Prof. Dr. Pericles Saremba Vieira (UPF)
____________________________________________
Profa. Dra. Anita Guazzelli Bernardes (UCDB)
____________________________________________
Profa. Dra. Heloisa Bruna Grubits Freire (UCDB)
Campo Grande-MS, de de 2009.
Dedico este trabalho, primeiramente a Deus,
por me dar a dádiva da vida.
Ao meu amado esposo Alcione Korte
companheiro de vida, pelo amor e pela força.
Aos meus queridos pais Teolindo Zat e Zélia
Castioni Zat, aos meus irmãos Rosane Zat
Sander e Leandro Luiz Zat, pela
maravilhosa experiência do convívio e do
aprendizado. E, em especial, a minha amada
sobrinha Andressa Nicole Sander.
A minha querida Orientadora Profª Drª
Angela Elizabeth Lapa Coêlho, pelos
ensinamentos e pelo carinho nesta linda
caminhada.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus, luz maior em minha vida, que guia os meus passos
nesta caminhada terrena;
Também agradeço a minha querida Orientadora, Profª Drª Angela Elizabeth Lapa
Coêlho que, com muita sabedoria, orientou-me durante esta importante etapa de formação;
Em especial, estendo meus agradecimentos ao meu esposo Alcione Korte, pessoa a
quem amo e admiro profundamente, por todo apoio e dedicação que demonstra comigo,
durante todo este tempo que estamos juntos;
Agradeço também aos meus pais Teolindo Zat e Zélia Castioni Zat, pessoas
formidáveis, a quem devo a vida e o que de mais precioso pude aprender nela. Aos meus
irmãos Rosane e Leandro, a minha sobrinha Andressa Nicole e aos demais familiares, em
especial ao Jaime, Aldiciane, Graciele e Márcio;
Agradeço também aos meus colegas, amigas e amigos queridos que, em muitos
momentos, foram pessoas determinantes para que eu pudesse até aqui chegar, através do
apoio, dos conselhos, das conversas e dos exemplos. Entre tantos que gostaria de nominar,
vou agradecer em especial às Professoras Ms. Norma Rejane Santos Ribas e a Drª Mirian
Lange Noal, pela oportunidade e pelo carinho dispensado;
Agradeço a todas as empresas pelas quais trabalhei, tendo a oportunidade de aplicar
meu trabalho da forma como idealizo e acredito, assim como a todos os trabalhadores, com os
quais tanto aprendi;
Também estendo meu profundo agradecimento a todas as pessoas que fizeram parte
deste estudo, secretárias e secretário de curso da Universidade Católica Dom Bosco, pois sem
a contribuição deles, esta dissertação não teria sido realizada;
Estendo ainda meus agradecimentos aos Professores Dr. Pericles Saremba Vieira, Drª
Anita Guazzelli Bernardes e Drª Heloísa Bruna Grubits Freire, membros da banca;
E à UCDB, pela bolsa auxílio e pela oportunidade exercer o meu trabalho com
docente.
Não sei se a vida é curta ou longa demais pra
nós, mas sei que nada do que vivemos, tem
sentido se não tocamos o coração das pessoas.
Cora Coralina (18891985)
RESUMO
O trabalho tem um papel relevante na vida das pessoas, embora em cada época, fosse
atribuído a ele um sentido diferente. Tem sido crescente a preocupação relacionada às
condições de trabalho, bem estar do trabalhador, e não somente à produtividade. Este estudo
teve como objetivo a análise das representações sociais de saúde e doença no ambiente de
trabalho. A pesquisa foi realizada em uma universidade particular, situada no estado do Mato
Grosso do Sul, e participaram dez secretárias (os) de curso dessa instituição. Os participantes
responderam a uma entrevista estruturada, com dados sociodemográficos, questões
relacionadas à representação social de saúde e doença, entendimento sobre ginástica laboral e
ergonomia. A análise dos dados foi qualitativa, de acordo com o embasamento teórico das
representações sociais. Com este estudo, constatamos que a representação social de saúde é
entendida como sentir-se bem, ter qualidade de vida; e a doença, como algo ruim, prejudicial.
Constatou-se também que a maioria dos trabalhadores é sedentária, embora acreditem e
apóiem programas de promoção à saúde e prevenção à doença, como a ginástica laboral e a
ergonomia. De um modo geral, todos relacionam a promoção e a prevenção como uma
consequência das atitudes tomadas, estilo de vida adotado, embora a minoria adote essas
medidas no seu cotidiano. Acredita-se que este estudo auxiliará principalmente na adesão, por
parte dos trabalhadores, quanto a intervenções futuras relacionadas à promoção da saúde,
como a ginástica laboral e a ergonomia.
Palavras-chave: Representações sociais. Saúde. Doença. Trabalho. Ginástica laboral.
Ergonomia.
ABSTRACT
Labour has a relevant role in people's lives, although in different times it was given a different
meaning. The concerns related to working conditions and workers’ welfare have also been
growing, besides the concern related to productivity. This study aimed to analyze the social
representations of health and disease in the workplace. The research was conducted in a
private university, located in the state of Mato Grosso do Sul, and ten secretaries of different
courses from that institution took part in it. Participants answered a structured interview, with
sociodemographic data, questions related to social representation of health and disease,
understanding of gym work and ergonomics. The data analysis was qualitative, according to
the theoretical basis of social representations. In this study, we found that the social
representation of health is understood as feeling good, as in having quality of life; and
sickness as something bad, harmful. It was also found that the majority of workers are
sedentary, even though they believe and support programs to promote health and disease
prevention, such as gym work and ergonomics. In general, everybody sees promotion and
prevention as a result of actions taken, life style that they lead, although the minority adopts
such measures in their daily lives. It is believed that this study will mainly promote
acceptance, by the workers, in future interventions related to health promotion, such as gym
work and ergonomics.
Keywords: Social representations. Health. Disease. Labour. Gym work. Ergonomics.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Demonstração visual da tendinite........................................................................46
FIGURA 2 - Demonstração visual da tenossinovite.................................................................47
FIGURA 3 - Demonstração visual da bursite...........................................................................48
FIGURA 4 - Demonstração visual da artrite. ...........................................................................49
FIGURA 5 - Demonstração visual da Síndrome do Túnel do Carpo.......................................50
FIGURA 6 - Demonstração visual da cervicalgia. ...................................................................51
FIGURA 7 - Demonstração visual da lombalgia......................................................................51
LISTA DE SIGLAS
UCDB Universidade Católica Dom Bosco
AMERT´s Afecções Músculos Esqueléticas Relacionadas ao Trabalho
AEPS Anuário Estatístico da Previdência Social
CAT Comunicação de Acidente de Trabalho
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho
CLT Consolidação das Leis Trabalhistas
DMO Distúrbio Músculo-esquelético Ocupacional
DORT Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho
DRT Delegacia Regional do Trabalho
DTC Distúrbio por Trauma Cumulativo
EPI Equipamento de Proteção Individual
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FUNDACENTRO Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do
Trabalho
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
LER Lesão por Esforço Repetitivo
LTC Lesão por Trauma Cumulativo
OIT Organização Internacional do Trabalho
PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PIB Produto Interno Bruto
POI Programa de Obesidade Infantil
PGL Programa de Ginástica Laboral
SIPAT Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho
SMT Saúde Mental do Trabalhador
SSO Síndrome da Sobre Carga Ocupacional
SSST Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho
UBSs Unidades Básicas de Saúde
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................15
2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................................18
2.1 O PROCESSO SAÚDE E DOENÇA..........................................................................19
2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO ...........................................................24
2.2.1 Organização do trabalho...................................................................................31
2.2.2 Processo evolutivo da saúde do trabalhador ....................................................38
2.2.3 Doenças ocupacionais ......................................................................................42
2.2.4 Fatores que influenciam nas condições de trabalho: ergonomia e
ginástica laboral................................................................................................53
2.3 SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.............................................................58
2.3.1 Representação social de saúde e doença ..........................................................61
3 OBJETIVOS.......................................................................................................................64
3.1 OBJETIVO GERAL....................................................................................................65
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................................65
4 MÉTODO...........................................................................................................................66
4.1 LOCAL........................................................................................................................67
4.2 PARTICIPANTES ......................................................................................................67
4.3 INSTRUMENTO ........................................................................................................67
4.4 PROCEDIMENTOS E ASPECTOS ÉTICOS............................................................68
4.5 PROCEDIMENTOS E ANÁLISE DOS RELATOS..................................................68
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES.....................................................................................70
5.1 SOCIODEMOGRÁFICOS DOS PARTICIPANTES .................................................71
5.2 QUANTO À DISPONIBILIDADE DE PLANO DE SAÚDE DOS
PARTICIPANTES ......................................................................................................74
5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS .................75
5.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CONDIÇÕES DE SAÚDE DOS
PARTICIPANTES ......................................................................................................79
5.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE PROBLEMAS DE SAÚDE E MEDIDAS
ADOTADAS ...............................................................................................................81
5.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE DORES E DESCONFORTOS
MUSCULARES APRESENTADOS PELOS PARTICIPANTES .............................85
5.7 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE SAÚDE...............................................................88
5.8 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE DOENÇA............................................................92
5.9 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADESÃO DOS PARTICIPANTES A
PROGRAMAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA
DOENÇA NO TRABALHO .......................................................................................95
5.10 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE GINÁSTICA LABORAL...................................96
5.11 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ERGONOMIA ....................................................99
5.12 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DA GINÁSTICA LABORAL E
DAS INTERVENÇÕES ERGONÔMICAS EM SEU POSTO DE
TRABALHO .............................................................................................................101
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................104
REFERÊNCIAS....................................................................................................................108
APÊNDICES .........................................................................................................................116
ANEXO..................................................................................................................................120
15
1 INTRODUÇÃO
16
As pessoas empregam grande parte de suas vidas desenvolvendo tarefas ocupacionais.
No trabalho, passamos a maior parte do nosso dia, dedicando-nos a ele por longas jornadas.
Dessa relação, resultam muitas conquistas e realizações, assim como problemas relacionados
às condições de trabalho e principalmente às questões de saúde e doença. O presente estudo
teve por objetivo analisar as representações sociais de saúde e doença no trabalho, com o
intuito de entender e sugerir melhoramentos quanto aos programas de cuidados com a saúde
do trabalhador.
No decorrer da história, o trabalho assumiu diversas conotações, quanto a sua
finalidade e importância. Durante a Antiguidade, servia para garantir o sustento e a produção
de bens de consumo particulares; no período feudal, utilizou-se a troca de mão-de-obra por
moradia e alimentação; com a revolução industrial, na qual impera o sistema capitalista, a
utilização do trabalho tem fins de produção em série, visando ao lucro e a venda da força de
trabalho. O sistema capitalista ainda impera nos tempos atuais, porém muitas políticas
voltadas à melhoria das condições de trabalho têm sido implantadas, como a gestão
participativa, satisfação dos colaboradores, programas relacionados à prevenção de doenças e
promoção da saúde, como a ginástica laboral, ergonomia, entre outras. Acredita-se que as
representações sociais podem auxiliar no entendimento de como os trabalhadores entendem
esses programas acima mencionados, possibilitando assim, maior probabilidade de adesão
caso venham ser implantados (HUBERMAN, 1982).
Meu interesse pelo tema vem desde a faculdade de Educação Física, quando iniciei
meus estudos relacionados à ginástica laboral. Desde o início de minha carreira profissional,
venho desenvolvendo trabalhos em empresas, com a prática da ginástica laboral e da
ergonomia, assim como a realização de especializações nessas áreas. Logo, a proposta do
Mestrado em Psicologia vem ao encontro dos meus anseios profissionais e do
desenvolvimento do tema “Representações Sociais de Saúde e Doença: Implicações na
Ginástica Laboral e Ergonomia”.
Dessa forma, este estudo foi construído da seguinte maneira: o referencial teórico está
dividido em três partes. Na primeira, foram abordados os aspectos relacionados à saúde e à
doença, principalmente sobre à promoção da saúde e prevenção da doença. A segunda parte
contempla um breve levantamento histórico do trabalho, durante a Antigüidade, a Idade
Média, a revolução industrial e o capitalismo, além de fatores que influenciam nas condições
17
de trabalho, como a ginástica laboral e a ergonomia. E, finalizando, a revisão bibliográfica: a
terceira parte versa acerca das representações sociais, como elas são construídas nas relações
de trabalho e nos sentidos atribuídos à saúde e doença.
No capítulo referente aos objetivos deste estudo, estão contemplados os objetivos
gerais e específicos. No capítulo seguinte, estão descritos os passos metodológicos, como o
local, os participantes, o instrumento, assim como os procedimentos e os aspectos éticos da
pesquisa.
O capítulo referente aos resultados e discussões deste estudo contempla a apresentação
dos dados sociodemográficos dos participantes, assim como a análise dos relatos obtidos por
meio da entrevista estruturada. Finalizando, foram apresentas as considerações finais sobre o
trabalho realizado.
18
2 REFERENCIAL TEÓRICO
19
Muito se tem discutido acerca das condições de trabalho vivenciadas pelos
trabalhadores, principalmente quanto às questões de saúde e de doença no trabalho. Embora
tenham ocorrido melhoras significativas referentes às condições de trabalho, além da inserção
de profissionais e programas, que atuam na promoção da saúde e prevenção de doenças, a
realidade de muitos trabalhadores ainda requer mudanças e melhoramentos.
No que se refere à participação nos programas de prevenção, muitas vezes, o
trabalhador é um agente passivo, só recebe instruções, não tendo espaço para expressar o seu
entendimento do trabalho, da saúde e da doença. Essa é a grande preocupação deste estudo,
conhecer as representações atribuídas pelos trabalhadores à saúde e à doença. Contudo, antes
de descrever sobre questões mais amplas envolvendo o trabalho e as representações sociais,
faz-se necessário discutir questões relacionadas ao processo de saúde e doença, maneiras
como têm sido vistas e formas de atuação.
2.1 O PROCESSO SAÚDE E DOENÇA
A concepção de saúde e doença vem sofrendo alterações ao longo dos tempos. Para a
Organização Mundial de Saúde (2001, p. 13), a saúde é definida como “[...] um estado de
bem-estar físico e mental completo, e não como a mera ausência de doenças”. Considerou-se
esta definição bem avançada para a época em que foi elaborada, no ano de 1948 (SCLIAR,
2002). Atualmente, entretanto, de acordo com Segre e Ferraz (1997), essa definição tornou-se
irreal e ultrapassada, pois atingir o perfeito bem-estar seria algo utópico, já que se acredita na
impossibilidade de atingir simultaneamente a perfeição física, mental e social.
Para Kawamoto (1995), o maior equívoco ao tentar conceituar saúde é defini-la como
a não doença, considerando que a maioria dos sistemas de saúde baseia-se no entendimento de
que para se obter saúde precisa-se eliminar a doença. Essa é uma visão muito reducionista de
saúde, pois dá a impressão que basta eliminar os sintomas da doença para o usuário ser
saudável.
De acordo com Fontes (1995, p. 71), a definição de saúde pode ser compreendida
como:
[...] um estado de equilíbrio dinâmico que envolve as realidades físicas e
psíquico-mentais dos indivíduos em suas interações com o meio ambiente
20
natural e social. Portanto, a saúde e a doença, sob o ponto de vista holístico,
são ambas, partes integrantes da auto-organização de um sistema vivo.
De acordo com Jonas, Márquez e Silva (1993), o processo de saúde e de doença pode
ser avaliado a partir de duas visões, a holística, também citada por Fontes (1995), e a
reducionista. A visão holística compreende que os aspectos inerentes do indivíduo
influenciam e são influenciados pela estrutura social e suas implicações. Já a visão
reducionista considera a saúde um estado, dissociando indivíduo e contexto social, ou seja,
separatista. As doenças são consideradas como o resultado das condições orgânicas, as quais
não são alteradas pelos aspectos sociais e psicológicos.
No contexto da promoção da saúde e da prevenção da doença, torna-se coerente
considerar que a definição de saúde não pode ser vista como uma definição unicamente
técnica, mas sim ampla e generalizada, ao alcance de todos. Conceituar saúde implica
entendimento subjetivo individual, de acordo com as vivências de cada um. Contudo, não se
pode adotar um modelo de saúde padronizado para todas as pessoas, torna-se necessário
envolvê-las, sejam elas profissionais, pacientes, familiares ou sociedade. Deve-se procurar
abordar a saúde como uma conquista possível de ser adquirida e melhorada de acordo com
atitudes tomadas.
As concepções de saúde apresentadas pela VIII Conferência Nacional da Saúde (1986
apud PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2002, p. 83) defendem que saúde é o resultado “[...]
das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde”. Em
concordância com essa definição, Jonas, Márquez e Silva (1993) argumentam que as
condições que determinam o estado de saúde dependem dos aspectos ambientais, ecológicos e
sociais.
Conforme Jonas, Márquez e Silva (1993), Kawamoto (1995) e a VIII Conferência
Nacional da Saúde (1986 apud PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2002), as condições de saúde
são resultantes das interações entre as diferentes variáveis, das condições políticas,
econômicas e culturais. Além disso, a saúde também é determinada pelas características
genéticas de cada pessoa, as quais não poderão ser modificadas, porém poderão apontar para a
necessidade de um acompanhamento ou estratégias de prevenção (JONAS; MÁRQUEZ;
SILVA, 1993).
21
O que nos leva a um entendimento de que os conceitos de saúde e doença estão
interligados de forma muito estreita, refletindo no processo vital das pessoas. Saúde pode ser
entendida como um caminho de vida, no qual existe a harmonia entre todas as esferas que
constituem cada pessoa. Por sua vez, a doença ocorre quando, por algum ou vários motivos,
ocorrem alterações, que desencadeiam os processos patológicos (JONAS; MÁRQUEZ;
SILVA, 1993).
Para Nahas (2003), na maioria das vezes, a saúde está associada à mera ausência de
doenças ou a um estado de equilíbrio, o que é considerado um equívoco, pois as pessoas
nunca serão totalmente saudáveis, nem totalmente doentes. O autor argumenta que existem
níveis de saúde e de doença. Dessa forma, as condições que se apresentam no contexto no
qual a pessoa está inserida, vão influenciar no seu comportamento e, consequentemente, no
seu estilo de vida que, de acordo com o autor, depende do equilíbrio entre cinco domínios:
controle do estresse, nutrição, atividades físicas, comportamento preventivo e interações
sociais. Todo esse conjunto de fatores, condições sociais, características genéticas e estilo de
vida vão influenciar no estado de saúde das pessoas.
Portanto, não podemos atribuir as condições de saúde ou doença a uma única causa, ou
simplesmente a sintomas, pois eles são reflexos de um conjunto de aspectos do contexto
social. Jonas, Márquez e Silva (1993) defendem que estar saudável vai muito além de não
estar doente, e que os problemas sociais se refletem na população por meio do adoecimento.
Para os autores, ter uma boa saúde implica em manter o vigor físico e mental, os quais são
particulares de cada pessoa.
Scliar (2002) destaca algumas etapas necessárias para se atingir resultados positivos
dentro do processo educativo em saúde. De acordo com o autor, no decorrer das conversas
estabelecidas com a população, deve-se: “[...] informar as pessoas, para que informadas,
adotem uma atitude positiva, que deve gerar um comportamento; esse comportamento
idealmente, deveria ser introjetado sob forma de hábito [...]” (SCLIAR, 2002, p. 95). As
mudanças se dão de forma lenta e gradativa, porém é a tomada de consciência e a adoção de
hábitos adequados que vão determinar as condições de saúde das pessoas.
Para melhorar as condições de saúde, além de modificações na estrutura social e no
comportamento preventivo, a Organização Mundial da Saúde (1948 apud QUEIROZ, 2003)
aponta para a necessidade de mudanças da percepção médica de saúde e doença,
22
principalmente no que tange ao modelo médico hegemônico, baseado no hospital e na
indústria farmacêutica. Para que ocorram mudanças nessa área, a saúde deve estar
contemplada em uma visão mais abrangente, com a integração do bem-estar psicológico e
social. Também deve existir uma readequação quanto aos serviços de saúde, incluindo “[...]
cobertura universalizada, hierarquizada, integrada, regionalizada e descentralizada, sob o
controle da comunidade [...]” (QUEIROZ, 2003, p. 75), podendo assim garantir efetivamente
o direito a saúde.
Percebe-se que a área médica está cada vez mais fracionada, no âmbito de suas
especialidades, o que aponta para um enorme risco: a fragmentação da pessoa que busca
atendimento. Para Fontes (1995, p. 9) “[...] as propriedades das partes somente podem ser
compreendidas a partir da dinâmica do todo”. Segundo o autor, o modelo reducionista e o
avanço da indústria farmacêutica têm sido útil no diagnóstico e tratamento de muitos casos,
mas a saúde da população em geral, principalmente dos mais carentes economicamente, só irá
melhorar se forem observados e melhorados os aspectos sociais e fatores ambientais. Como
afirma Fontes (1995, p. 23):
A área da saúde, no capitalismo, não escapa aos interesses monopolistas das
elites, mantendo a população politicamente desinformada e,
consequentemente, alienada e dependente do poder dominante das classes
mais abastadas. A questão se torna ética para os profissionais da saúde, mas
é política em suas raízes sociais.
A atenção à saúde deve ser integral, contemplando os três níveis de atenção básica à
saúde, atenção primária, secundária e terciária, sendo que no primeiro nível ocorre à
promoção da saúde e a proteção específica, já o segundo, implica no diagnóstico precoce e no
pronto atendimento e o terceiro consiste na reabilitação (KAWAMOTO, 1995). Mas quando a
saúde passa a ser vista como um bem de consumo, uma mercadoria, a qual pode ser
“comprada”, por meio dos recursos econômicos, tem-se como consequência, um crescente
aumento de muitas patologias, apesar do avanço das ciências médicas e farmacêuticas. De
acordo com Lima, A. (2005), a base do sistema de saúde é científica e tornou-se fria e
impessoal, o usuário é visto como um mero portador da síndrome patológica, ou seja,
prevalece a visão reducionista à holística, característica do modelo biomédico.
Contudo, para que os cuidados com a saúde tenham realmente uma visão holística,
torna-se necessário que sejam levados em consideração os aspectos da individualidade, do
23
social e do ecológico, tanto na prevenção, quanto no diagnóstico e no tratamento. Mas para
que essa mudança de concepção ocorra, primeiramente, deve-se ampliar a forma de
pensamento e adequar as medidas de intervenção, além de políticas públicas voltadas para a
prevenção, não fazendo do processo de adoecimento a engrenagem que movimenta a indústria
farmacêutica e, principalmente, o paciente deve passar de objeto para sujeito da ação.
Segundo Lima, A. (2005, p. 13):
As explicações biomédicas são aproveitadas quando estão, de certa forma,
relacionadas com os saberes preexistentes e quando se adaptam às
necessidades ditadas pelas condições atuais de vida. E, dentro do mesmo
contexto, sugere-se que a complexidade da saúde exige novas formas de
interação com a dinâmica popular com o objetivo de procurar novas
alternativas e soluções, individuais e coletivas, para problemas apresentados
pelo grupo.
Um sistema efetivo de assistência em saúde depende da atenção dada aos aspectos que
determinam as condições de prevenção da doença e promoção da saúde. E os profissionais da
área da saúde precisam entender o papel na sociedade onde atuam, assim como a inclusão de
novos valores culturais no contexto social, ou seja, além dos profissionais, a população
também participar ativamente desse processo.
Nesse sentido, julga-se necessário a ampliação do entendimento dos conceitos de
promoção da saúde e prevenção de doença. De acordo com Teixeira (2002), o conceito de
promoção da saúde foi empregado pela primeira vez por Sigerist, um historiador, em 1945,
definindo-a como uma das tarefas essenciais da Medicina. Esse conceito foi retomado duas
décadas depois em 1960, apresentando o conceito positivo de saúde, no sentido de incentivar
a prevenção das doenças, por meio de hábitos e comportamentos saudáveis, assim como
atuando diretamente nos fatores de risco. Já nos anos de 1970, constatou-se não ser suficiente
atuar na cura da doença, mas sim que era necessário intervir na causa do adoecimento.
Na Inglaterra, Estados Unidos e Canadá entre os anos de 1920 e 1950, o movimento
da Medicina preventiva surge como uma crítica a Medicina curativa. Esse movimento propôs
uma reforma na concepção dos profissionais e dos órgãos de atenção à saúde, introduzindo a
epidemiologia dos fatores de risco como critério da causalidade do adoecimento (AROUCA,
1975 apud CZERESNIA, 2003). O conceito de prevenção foi definido por Leavell e Clarck
(1976 apud CZERESNIA, 2003) como uma ação antecipada, embasada no domínio da
história natural, com o propósito de inviabilizar a evolução da doença.
24
Existem quatro grandes eixos dentro do enfoque da promoção da saúde, apresentados
pelo Informe Lalonde, documento oficial do Governo do Canadá publicado em 1974,
(TEIXEIRA, 2002), os quais são: biologia humana, meio ambiente, estilo de vida e
organização da atenção à saúde. Mas só com a Carta de Ottawa, em 1986, é que o conceito de
promoção da saúde foi definido, como: “[...] o processo de capacitação da comunidade para
atuar na melhoria da qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle
deste processo.” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1986 apud BUSS, 2000, p.
165).
A partir da Carta de Ottawa, são incorporadas cinco grandes campos de ação, como
métodos da promoção da saúde: elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis;
Criação de ambientes favoráveis à saúde; reforço da ação comunitária; desenvolvimento de
habilidades pessoais; e reorientação dos sistemas e serviços de saúde. Esses campos
favorecerem as pessoas a ter condições de conhecer e controlar os fatores determinantes das
suas condições de saúde, por meio do ambiente favorável, do acesso à informação e das
oportunidades de fazer escolhas saudáveis (BUSS, 2000).
As condições de vida das pessoas relativas a saúde e a doença dependem, em grande
parte, das suas condições de trabalho, função desempenhada, base salarial, jornada de
trabalho, local, horário, segurança e satisfação. As medidas relacionadas à promoção da saúde
no trabalho devem levar em conta os aspectos mencionados por Scliar (2002), a informação
que, por meio de atitudes positivas, gera novos comportamentos e conseqüentemente novos
hábitos. Mas para isso, primeiramente, torna-se necessário entender o universo do trabalho,
que será abordado no próximo item.
2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO
O trabalho tem sido o tema de muitos estudos realizados por
profissionais/pesquisadores de áreas distintas. Isso se dá devido a sua complexidade e
importância, que perpassa toda vida das pessoas, e ocupa parte central do nosso cotidiano
(GUARESCHI, 2007).
De acordo com o Ministério da Saúde, são considerados trabalhadores todas as
pessoas que exerçam “[...] uma atividade de trabalho, independentemente de estar inserido no
25
mercado de trabalho formal
1
ou informal
2
, inclusive na forma de trabalho familiar e/ou
doméstico [...]” (BRASIL, 2001, p. 7). Neste estudo, porém, deter-nos-emos ao trabalho
formal.
O trabalho é um termo utilizado para definir a ocupação das pessoas, sendo este
definido de várias maneiras. De acordo com Albornoz (1976 apud GUARESCHI; GRISCI,
1993, p. 29), o trabalho têm várias significações: ”[...] no grego existe uma palavra para
fabricação e outra para esforço, oposta ao ócio. O latim distingue labore, a ação de labor, e
operare, o verbo que corresponde a opus, obra.”
Percebemos que o trabalho se relaciona com as formas de ocupação do ser humano,
sejam elas desempenhadas de forma predominantemente física (braçal) ou intelectual. Além
de ter como característica principal existir uma objetividade, ou seja, antes do seu início já se
sabe qual é o fim esperado (MARX, 1985).
Para Guareschi e Grisci (1993, p. 22), o trabalho tem uma concepção bem diversa, mas
que pode ser entendido como “[...] a ação transformadora, consciente e desejante, que o
trabalhador exerce sobre a natureza, com ou sem auxílio de uma máquina”. Ou seja, é um ato
pensado previamente e que tem um objetivo final, e esta é a grande diferença entre o trabalho
humano e o trabalho dos animais, pois o humano é pensado previamente e o animal é
instintivo. Como afirma Marx (1985, p. 202):
Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na
mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do
processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes, idealmente,
na imaginação do trabalhador.
O trabalho tem uma relação direta com a própria existência da pessoa, pois ela tem que
conseguir seu alimento e sua sobrevivência por meio do seu próprio esforço. No passado, a
pessoa era responsável por produzir tudo o que necessitava, roupas, alimento, moradia, sendo
muitas vezes, o trabalho recompensado com mercadorias (escambo), uma espécie de troca. O
1
Trabalho formal se caracteriza quando o trabalhador contribui para o instituto de previdência e possui carteira
de trabalho assinada. O que lhes garante proteção de lei e vantagens trabalhistas (MENEZES FILHO;
MENDES; ALMEIDA, 2004).
2
Trabalho Informal: é uma forma de trabalho onde não existem vínculos ou benefícios fornecidos por uma
empresa, além do trabalhador não possuir carteira assinada nem renda fixa (MENEZES FILHO; MENDES;
ALMEIDA, 2004).
26
trabalho era de maneira informal e os acordos eram por meio de contratos verbais. Como
afirmam Garcia e Silva (2001, p. 2):
O trabalho é, dentro da história da humanidade, um elemento que se
confunde com a própria vida, já que é ele o instrumento utilizado pelo
próprio homem a fim de satisfazer as suas necessidades mais primárias, ou
seja, de saciedade corporal e, portanto, de sobrevivência, ou seja, o homem
interage junto aos recursos naturais a ele disponíveis a fim de buscar junto a
estes elementos que lhe propiciam assegurar a sua existência.
Percebemos a direta relação do trabalho com o ambiente no qual está inserido,
utilizando-se tanto de recursos naturais como a criação de novos mecanismos. A seguir,
debateremos brevemente, os períodos históricos e o papel que o trabalho ocupou durante a
Antiguidade, a Idade Média e a Revolução Industrial.
Na Antiguidade, segundo Arendt (2000), as pessoas eram classificadas segundo a sua
ocupação e divididas em corpo e alma, de acordo com a sua posição social. Os que possuíam
posses e tinham a sua disposição escravos para o trabalho braçal, disponibilizavam de tempo
para apreciar as belas artes, logo, dizia-se que a alma dominava o corpo, sendo dessa maneira,
considerados superiores aos demais. Já as pessoas que dependiam do seu trabalho para
sustentar a si próprios e suas famílias eram consideradas seres inferiores e o corpo dominava a
sua alma. Detinham-se na maior parte do tempo às tarefas necessárias a suprir suas
necessidades primárias, não tendo direito de aprimorar-se na arte e nas relações sociais e
políticas.
Para um melhor entendimento, torna-se necessário ampliar a discussão a respeito das
formas de ocupação e definir, segundo Arendt (2000), o entendimento de labor, trabalho e
ação. A autora define labor como um processo biológico necessário para a sobrevicência
humana. Já o trabalho é considerado a capacipade de transformar coisas naturais em
artificiais, embora o trabalho não seja considerado a essência da pessoa, mas sim, algo
imposto, conseqüência do processo cultural. E finalizando, a ação, pode ser definida, como a
necessidade das pessoas em viver entre seus semelhantes, resultante da sua natureza social.
Ainda na Antiguidade, a sociedade estava dividida entre pessoas livres e não livres, ou
ainda, entre indivíduos superiores e inferiores. Essa denominação se dava pelo tipo de
ocupação (intelectual ou braçal, respectivamente) existindo uma possibilidade, mesmo que
remota, de uma pessoa considerada inferior, passar a ser superior, fato esse praticamente
impossível no período feudal (Idade Média) (GARCIA; SILVA, 2001).
27
Na Idade Média, as pessoas também eram separadas em estratos sociais, seguindo esta
ordem de importância: sacerdotes, guerreiros e trabalhadores. É nesse período que impera o
regime feudal, ou seja, grandes propriedades dirigidas pelos senhores feudais (guerreiros) e o
trabalho era desenvolvido por camponeses (trabalhadores), os quais serviam aos senhores
feudais (HUBERMAN, 1982).
De acordo com Huberman (1982), o estrato dos sacerdotes (clero) era composto, por
membros da igreja, bispos, sacerdotes, abades e ainda o papa (representante maior). De
acordo com o autor, a igreja utilizava-se da espiritualidade para intervir de forma
apaziguadora em conflitos, na tentativa de retardá-los ao máximo. Embora os representantes
da igreja condenassem os lucros, o clero entrava em contradição, pois a igreja era a grande
detentora de bens materiais e fazia parte da sociedade feudal, juntamente com nobres,
dispondo, desta maneira, de muita influência e prestígio junto ao rei e a sociedade.
Os guerreiros formavam outro estrato, a qual era constituída por nobres, príncipes,
duques e guerreiros propriamente ditos, os quais trocavam favores militares e proteção ao rei,
por terras (feudos). Essas propriedades eram regidas pelos senhores feudais, eram eles que
determinavam à legislação vigente em cada sistema feudal. As terras eram trabalhadas por
camponeses e agricultores, que arrendavam as terras dos senhores feudais, contraíam assim,
uma série de obrigações que eram o pagamento pelo arrendamento. Esses agricultores eram os
formadores do terceiro estrato, também denominados servos, existindo uma relação de
subordinação entre esses e os donos do feudo. Os trabalhadores, nessa época, não tinham
direitos, eram considerados propriedade, tendo pouca distinção entre eles e qualquer outro
animal, eram considerados “gado humano” (HUBERMAN, 1982).
Percebe-se que a relação com o trabalho, tanto na Antiguidade quanto na Idade Média,
está atribuída aos grupos subordinados, tendo esses uma relação com o trabalho apenas para
suprir as necessidades, sejam elas dos seus senhores ou próprias (GARCIA; SILVA, 2001).
Essa relação começa a se modificar com o início das cruzadas quando passa a existir a troca
de produtos ou mão de obra por dinheiro, dando início, assim, ao mercantilismo.
As cruzadas dão início ao mercantilismo e as pessoas envolvidas com esse tipo de
tarefa eram transportadores de matéria prima de uma região para outra, contribuindo assim
para o surgimento de novas aldeias, futuras cidades, e uma significativa mudança econômica e
do conceito de trabalho. Na Idade Média, as mercadorias eram comercializadas, basicamente
28
na forma de escambo, fossem elas por trabalho ou outra mercadoria. A partir de então, a
aquisição das mercadorias passa a se dar pela moeda e logicamente passa a existir a cobrança
de juros e taxas, os quais eram condenados pela igreja durante o feudalismo. Já a relação de
trabalho que antes era para suprir as próprias necessidades e dos seus senhores, desperta no
camponês o desejo de produzir além do necessário para poder comercializar, e os senhores
feudais passam a aceitar o pagamento pelo arrendamento de suas terras em dinheiro, o qual
era feito estritamente com trabalho (HUBERMAN, 1982).
De acordo com Garcia e Silva (2001), os camponeses rumam para as cidades em busca
de liberdade e trabalho, formando um novo grupo, que nesse período passa a ser a detentora
do conhecimento na transformação da matéria-prima em produto. Com isso, podemos fazer
uma reflexão e analisar que o trabalho passa a ser fracionado, desempenhado por muitas
“mãos” e o trabalhador deixa de ser o criador da obra (produto) e passa a ser responsável por
uma parte nesse processo. E indo além, as mesmas pessoas que eram responsáveis pela
produção e comercialização, agora passam a exercer apenas parte desse processo.
Três marcos revolucionários foram fundamentais para que o trabalho assumisse
características de bem social e suporte do capital, sendo eles a revolução francesa, a revolução
industrial e a revolução protestante (HENDERSON, 1979). Embora neste estudo, vamos nos
deter brevemente apenas na revolução industrial.
Durante os séculos XVII e XVIII, ocorre a transição entre o trabalho de manufatura
(realizado de forma artesanal), para o de maquino-fatura (processo industrial) e o trabalhador
passa a ser submetido ao regime da máquina e da gerência, ou seja, o trabalho passa a ser uma
forma de dominação. Consolida-se assim, o capitalismo e a revolução industrial, os quais
aprimoram cada vez mais seus objetivos de controle da produção e obtenção de lucros
(GARCIA; SILVA, 2001).
O movimento denominado revolução industrial teve origem na Europa, atingindo seus
países em épocas e ritmos diferentes, na segunda metade do século XVII, a Inglaterra foi o
primeiro país a tornar-se industrializado. Mas, a industrialização da Europa se deu
predominantemente a partir de 1900 (HENDERSON, 1979).
Esse processo provocou significativas influências nos sistemas de organização do
trabalho e na extrutura social. A Revolução Industrial passou por fases marcantes que
gradativamente foram modificando o cenário econômico mundial, um marco fundamental foi
29
à criação das primeiras máquinas de ferro que utilizavam o vapor como força motriz, logo
após, também surgiram o barco a vapor, as locomotivas, o telégrafo e os telefone. A fase
seguinte da revolução industrial teve início em 1850, com a aceleração dos processos
industriais e a descoberta de novas fontes de energia, como a eletrecidade e o petróleo. E na
passagem do milênio, ocorreu a mudança da era industrial para a da informação, com a
ascenssão da revolução técnológica (GARCIA; SILVA, 2001).
Embora desde a Antiguidade nunca tenha havido preocupação quanto à saúde do
trabalhador, é na revolução industrial que essa situação se agrava. Como afirma Minayo-
Gomez e Thedim-Costa (1997, p. 22):
Com o advento da Revolução Industrial, o trabalhador "livre" para vender
sua força de trabalho, tornou-se presa da máquina, de seus ritmos, dos
ditames da produção que atendiam à necessidade de acumulação rápida de
capital e de máximo aproveitamento dos equipamentos, antes de se tornarem
obsoletos.
Percebe-se que os trabalhadores tornam-se reféns do método de trabalho industrial,
sendo submetidos a condições desumanas de trabalho como falta de higiene, longas jornadas,
subalimentação, baixos salários, promiscuidade, expostos às máquinas que ofereciam altos
riscos de acidente, sendo, na maioria das vezes, mutilados ou mortos por elas (DEJOURS,
1992).
Paralelamente ao avanço acentuado dos processos de produção, também progridem os
movimentos trabalhistas na luta por melhores condições de trabalho que envolvem: jornada de
trabalho, férias, décimo terceiro salário, segurança, entre outros aspectos. Na França, a partir
de 1890, são criadas legislações referentes à saúde dos trabalhadores (DEJOURS, 1992).
Na busca por melhores condições de trabalho, os americanos Mary Parker (1868-
1933) e Chester Barnard (1886-1961) foram defensores pioneiros da pespectiva humanista na
administração, destacando a relevância do entendimento dos comportamentos, das
necessidades, das atitudes, das interações sociais e os processos de grupo no local de trabalho.
Baseado na perspectiva humanista destaca-se o movimento das relações humanas, o qual
demonstrou por meio de estudos científicos que os trabalhadores se tornavam mais produtivos
quando eram incentivados positivamente (DAFT, 2005).
30
No Brasil, durante o primeiro mandato do Governo Vargas, visando garantir
minimamente o sustento dos trabalhadores e suas famílias, foi criada a Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), em 1943, sendo esta a maior legislação trabalhista do país. A CLT é
representada pela carteira de trabalho, o que busca garantir o reconhecimento dos direitos do
trabalhador quanto a benefícios, férias, décimo terceiro salário, Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço (FGTS), aposentadoria, entre outros (BRASIL, 2007).
Segundo dados do Ministério do Trabalho, os procedimentos de segurança e saúde no
trabalho estão descritos nas 33 Normas Regulamentadoras (NR). A NR n. 1 (Disposições
Gerais), artigo 1.1.:
As Normas Regulamentadoras - NR, relativas à segurança e medicina do
trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e
pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos
órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados
regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho CLT (BRASIL, 2007).
Ainda, segundo a mesma NR, cabe a Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho
(SSST) atuar em nível nacional, quanto a coordenar, orientar, controlar, supervisionar as
atividades relacionadas a saúde e segurança no trabalho. Já em instâncias regionais, essa
função compete à Delegacia Regional do Trabalho (DRT) (BRASIL, 2007).
Torna-se importante ressaltar que cabe ao empregador disponibilizar condições de
saúde e segurança no trabalho e ao empregado cumprir as disposições legais e
regulamentadoras tais como: usar o Equipamento de Proteção Individual (EPI), que deve ser
fornecido pelo empregador; submeter-se a exames médicos previstos nas NRs, assim como
colaborar com as suas aplicações (NR n. 1) (BRASIL, 2007).
Também consta nas NRs, especificamente a NR n. 5, a necessidade da criação da
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (CIPA), tendo como objetivo
prevenir acidentes e doenças provocadas pelas tarefas ocupacionais, de modo a tornar possível
o trabalho e promover os cuidados com a saúde. A CIPA também é responsável, entre outras
tarefas, pela realização da Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (SIPAT),
durante a qual são desenvolvidas palestras, debates, discussões sobre saúde, segurança do
trabalho entre outros temas fundamentais para a prevenção da doença e a promoção da saúde
no trabalho (BRASIL, 2007).
31
Segundo Cañete (1996), há necessidade de ações efetivas relacionadas à promoção da
saúde, pois grande parte dos esforços e investimentos, tanto das políticas públicas ou
empresariais, se referem a tratamentos curativos e/ou paliativos, e o enfoque relacionado à
prevenção ainda refere-se muito ao discurso. Esse tipo de intervenção (preventiva) refere-se a
uma esfera de âmbito mais abrangente envolvendo aspectos filosóficos, religiosos, étnicos,
culturais, entre outros, exigindo assim um entendimento e provável mudança de concepções
tanto do trabalhador, quanto da empresa.
A NR n. 7 refere-se ao Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
(PCMSO), e é uma norma regulamentadora a qual devemos nos deter mais especificamente,
pois refere-se diretamente ao tema deste estudo. O objetivo da NR n. 7 (BRASIL, 2007):
Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de
todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como
empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional -
PCMSO, com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto
dos seus trabalhadores.
Segundo a mesma NR, o PCMSO deverá considerar as questões individuais e
coletivas referentes à saúde do trabalhador e a relação com o trabalho, assim como deter-se
nas questões relacionadas à prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce das doenças
ocupacionais, sendo elaborado com base nos riscos à saúde que as tarefas exercidas oferecem.
O seu desenvolvimento deve incluir obrigatoriamente a realização de exames admissionais,
periódicos, de retorno ao trabalho, mudança de função e demissional, incluindo nos
respectivos exames: avaliação clínica (abrangendo anamnese ocupacional, exame físico e
mental) e exames complementares (especificados nas NRs).
As condições de conforto e segurança oferecidas aos trabalhadores, dependem, em
grande parte, da organização e estruturação do trabalho. Portanto, faremos uma abordagem
acerca desta temática.
2.2.1 Organização do trabalho
A organização do trabalho é entendida como o processo de definição de tarefas e
responsabilidades, define-se quem é responsável por determinada tarefa, como esta deve ser
32
feita e em quanto tempo. Couto (2002, p. 127) entende a organização do trabalho como: “[...]
todo conjunto de ações feitas pelo gestor e pelos facilitadores para que a prescrição de
trabalho (objetivos, planos e metas) ditada pela direção da organização seja cumprida”.
As formas de organização do trabalho são as mais distintas, mas, geralmente,
envolvem: Tecnologia, Máquinas, Manutenção, Matéria Prima, Material, Método, Meio
Ambiente e Mão-de-obra. Quando existe algum tipo de falha em qualquer um desses itens,
surgirão problemas no resultado operacional, podendo até, haver sobrecarga de trabalho.
Esses tipos de problemas podem ser minimizados e até evitados, se for aplicada à ergonomia
organizacional, a qual estrutura a organização do trabalho (COUTO, 2002).
No movimento pós-guerra dos anos 1920, o modelo administrativo das empresas foi
influenciado fortemente pelas abordagens tayloristas, fordista, fayolista e toyotista. Essas
abordagens favoreceram a disputa de força entre o patronato e a classe trabalhadora, gerando
assim um modelo de organização de trabalho baseado no autoritarismo e no capitalismo
(KANAANE, 1999).
Segundo Navarro e Padilha (2007), ao longo de todo o desenvolvimento do processo
de trabalho no sistema capitalista, ocorreram perdas progressivas do controle do trabalhador
sobre os processos de produção, ou seja, a desapropriação do contole sobre o próprio trabalho.
O que variou, foram as formas desse fenômeno ocorrer de acordo com os métodos de
organização do trabalho e dos sistemas de produção.
A abordagem taylorista foi a responsável pelo desenvolvimento da administração
científica, criada nos Estados Unidos por Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Nesse
sistema, a organização do trabalho caracterizava-se por curtos ciclos e mínima demanda de
autonomia na execução da tarefa, justamente por ser altamente sistematizado e mecanizado
uma das maiores críticas a esse sistema, refere-se ao desperdício do potencial do trabalhador,
pois este não é estimulado a aprimorar suas capacidades de liderança, assim como as suas
habilidades físicas e mentais ficam restritas à tarefa que executa (KROEMER; GANDJEAN,
2005).
Influenciado pelas modificações provocadas pelo sistema taylorista, o empresário
americano Henry Ford (1863-1947), desenvolveu a partir de 1931, em suas fábricas
automotivas da Ford Motor Company, a linha de produção em série. O enfoque de produção
em massa, enfatizado por esse sistema, deu um enfoque ainda maior à especialização e
33
fragmentação do trabalho (MACIEL, 2008).
De acordo com Navarro e Padilha (2007), os trabalhadores resistiram ao sistema
fordista, pois sentiram os efeitos nefastos do trabalho mecanizado e rotinizado, com aumento
significativo nos níveis de absenteísmo, paralizações e sabotagens. Em contraposição aos
problemas gerados pelo sistema fordista com os trabalhadores, ocorreram consideráveis
aumentos de salário.
Enquanto isso na Europa, o francês Henry Fayol (18411925) foi o responsável pela
criação dos princípios administrativos, que diferentemente da administração científica de
Taylor, que enfoca a produtividade do trabalhador, o sistema fayolista aborda os princípios
administrativos, focados na organização total, incluindo unidade de comando, divisão do
trabalho, unidade de direção e escala hierárquica. Fayol também identificou cinco funções
básicas da administração; planejamanto, organização, comando, coordenação e controle
(DAFT, 2005).
Com o declínio dos sistemas tayloristas e fordista, suge no Japão, logo após a Segunda
Guerra Mundial, nas fábricas automobilísticas da Toyota, um novo modo de organização
produtiva, o toyotismo. Esse método foi baseado no que Taylor e Ford já haviam
desenvolvido nos Estados Unidos, porém tentando corrigir algumas falhas estruturais e se
adequar às novas necessidades de mercado em um mundo cada vez mais globalizado
(NAVARRO; PADILHA, 2007).
Para Antunes (1999), as principais características do sistema toyotista, se referem à
produção de acordo com a demanda, com a presença de estoques mínimos, assim como a
valorização da qualificação e polivalência do trabalhador. O regime toyotista também
implantou novos padrões de gestão e de controle da qualidade, primando à gestão
participativa e a qualidade total, sendo o responsável por significativas inovações no campo
organizacional, embora tenha contribuiu com o enfraquecimento das organizações sindicais,
representantes das classes trabalhadoras.
Mediante todas as influencias que os movimentos taylorista, fordista, fayolista e
toyotista provocaram no universo empresarial e na relação com o trabalho, a organização do
trabalho continua apresentando constantes inovações de acordo com as necessidades e
tendências. Atualmente, a principal característica do novo local de trabalho é que ele está
pautado em ações e idéias em vez de máquinas e ativos físicos. Isso tem provocado
34
modificações no local de trabalho e nas suas características, assim como o trabalhador dos
novos tempos também está se adequando a esse perfil de trabalho (DAFT, 2005).
Para Daft (2005), o novo local de trabalho está organizado em células, diferente do
modelo anterior que era constituído pela hierarquia. Na organização em redes, a informática e
a tecnologia da comunicação têm viabilizado esse modo de trabalho, mudando assim o
enfoque e as prioridades. Nesse cenário, as organizações têm valorizado a mudança e a
velocidade à estabilidade.
A organização do trabalho tem rompido com muitos paradigmas no universo
empresarial. O conceito de administração baseado na subordinação tem migrado para visões
que buscam a cooperação. A administração embasada na hierarquia (formato pirâmide, com
cargos superiores e inferiores) está ultrapassada e não cabe no contexto atual (HESSELBEIN,
1999). As estruturas administrativas devem ser fluídas e flexíveis:Dirigido para a missão,
baseado nos valores, orientado pela demografia. Aprender a conduzir as pessoas, e não
reprimi-las. A administração é uma ferramenta e não um fim. O ato de seguir é uma
demonstração de confiança. (HESSELBEIN, 1999, p. 20).
As pessoas devem sentir-se bem no seu local de trabalho, sentir-se valorizadas, sentir
que fazem parte daquele contexto, e não como peças de uma engrenagem, as quais são
substituídas ao primeiro sinal de desgaste. O desempenho dos trabalhadores está intimamente
relacionado aos seus valores e os da organização na qual trabalha (cultura, clima
organizacional, entre outros). A satisfação do trabalhador vai muito além das necessidades
econômicas. Quando ele está comprometido com a organização, percebe que o seu trabalho é
relevante e valorizado e buscará, cada vez mais, crescer junto com a empresa.
Segundo Kanaane (1999), o mundo do trabalho vem se modificando
significativamente nesse início do século XXI. A organização do trabalho está se adaptando
às novas necessidade globais, pode-se dizer que o trabalho de uma forma geral estará sub-
dividido em três classes: 1ª classe: envolverá os grupos de projetos; 2 ª classe: trabalho em
tempo parcial ou sazonal e 3 ª classe: trabalho individual ou em grupos familiares.
Os profissionais que se encaixarem na primeira classe terão de ser extremamente
qualificados e eficazes, associar-se-ão para desenvolverem projetos específicos e por um curto
período de tempo. Possivelmente, esta será a classe mais bem remunerada. Os profissionais
que constituem essa classe devem apresentar características como: capacidade de desenvolver
35
trabalho em equipe, adaptação ao novo, competência técnica e inter-pessoal, domínio de
idiomas, alta experiência e qualificação profissional, capacidade de lidar com pressão, além
de outras características, devem manter o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.
Já a segunda classe, será composta por profissionais ou prestadores de serviços gerais,
os quais não necessitarão de grande capacidade técnica, mas terão que possuir habilidade em
distintas áreas e flexibilidade para se adaptarem a diferentes locais e tipos de trabalho, como
supermercados (nas mais diversas funções: caixa, repositor, etc.), indústria do turismo,
cuidador de crianças, entre outras tarefas. Essa categoria caracteriza-se pelo trabalho informal,
desempenhando atividades em locais diferenciados, inclusive nos finais de semana.
E finalizando, a terceira classe de trabalhadores, que se caracterizará por um número
cada vez maior de profissionais que passarão a desempenhar suas atividades profissionais, nas
próprias casas. Esse fenômeno tem se tornado cada vez mais frequente por dois principais
motivos, primeiramente pela facilidade e possibilidades oferecidas pelas tecnologias da
informação e comunicação (videofone, fax, celular, computador, teleconferências virtuais,
etc.) e segundo, para evitar a necessidade de deslocamento, driblando assim o trânsito, pontes
aéreas, entre outras. O tempo perdido com o deslocamento será reaproveitado no trabalho ou
descanso. Esses profissionais precisarão estar aptos para lidarem com várias demandas
culturais simultaneamente, estarem ligados a resultados, pensar estrategicamente, ser pró-
ativos, saber lidar com incertezas e extrema habilidade para lidar com as tendências do
mercado.
A princípio, aparentam ser significativos os benefícios proporcionados pelas condições
de trabalho domiciliar, pela praticidade e conforto. Embora, seja necessário destacar que
existe o risco que essa condição de trabalho, provoque uma sobrecarga ainda maior ao
trabalhador, pois não existirá uma separação entre o ambiente de trabalho e o de descanso,
nem mesmo da carga horária ou dias de trabalho.
Para Diniz (2008), as empresas estão modificando sua forma de administrar.
Atualmente, é necessário envolver os funcionários no processo de gestão, independentemente
da sua posição hierárquica. A denominada gestão participativa tem essa finalidade nas
organizações, estimulando para que exista um verdadeiro compromisso de cumplicidade, um
clima organizacional favorável ao crescimento profissional de cada trabalhador e,
consequentemente, da empresa.
36
Navarro e Padilha (2007) discutem que o trabalho e as suas formas de organização
desempenham papel fundamental na vida das pessoas, sendo sua centralidade muito mais
abrangente que a esfera econômica, como fonte de renda, mas que tem significativa
interferência na esfera psíquica, exercendo influência na saúde, tanto pela ausência dele, em
caso de desemprego, como pela aposentadoria. Embora seja necessário destacar que o
contexto de trabalho e suas formas de organização tenha sido a causa do adoecimento de
muitos trabalhadores.
Baseado nos altos índicies de adoecimento ocupacional e pelos novos conceitos de
gestão participativa, a qual propõe ter funcionários comprometidos com a organização e
motivados com o seu trabalho, surge o espaço para a intervenção de novas áreas de atuação
profissional no ambiente empresarial, entre essas possibilidades existe a ginástica laboral e a
ergonomia. A ginástica laboral visa além da prevenção de lesões, a motivação e o
comprometiomento do trabalhador. Já a ergonomia vem principalmente para atender e
regulamentar a legislação vigente, referente à saúde e à segurança no trabalho. Mas, é
importante ressaltar que existe a ergonomia organizacional, a qual se preocupa com a
organização do trabalho (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA, 2007).
De acordo com Kroemer e Grandjean (2005), a organização do trabalho deverá ser
planejada, respeitando as capacidades dos trabalhadores, de forma que a tarefa apresente
desafios o suficiente para ser estimulante, porém sem ser complexa ao extremo, a ponto de
causar desânimo e sobrecarga. Objetiva desta forma, dar mais autonomia ao trabalhador,
reduzir o tédio e monotonia ocupacional, assim como a tarefa deve ser gratificante e permitir
o aprimoramento dos seus potenciais, preservando a saúde e prevenindo o adoecimento dos
trabalhadores. Kroemer e Grandjean (2005, p. 181) também destacam os ganhos em se adotar
tais medidas organizacionais:
O que é básico nessas duas melhorias é a premissa, já mencionada, de que
haverá uma redução de absenteísmo, rotatividade de pessoal e estresse
social, e de que as novas condições vão atrair mais trabalhadores. Portanto, a
longo prazo, o resultado é o aumento da produtividade.
Torna-se importante destacar que a organização do trabalho deve proporcionar aos
trabalhadores autonomia sobre as tarefas executadas, participação, responsabilidade e
interação social. Principalmente, para tarefas altamente sistemáticas, monótonas e repetitivas,
combatendo assim a robotização e a mecanização do trabalhador. Quando o trabalhador tem a
37
dimensão da importância do seu trabalho (mesmo quando este é fragmentado) para o
resultado ou produto final, aumenta consideravelmente seu sentimento de satisfação no
trabalho, trazendo inúmeros benefícios como motivação, melhora do clima organizacional,
combate ao tédio e monotonia, menores índices de absenteísmo, maior produtividade e com
melhor qualidade (KROEMER; GANDJEAN, 2005).
Embora existam inúmeras áreas organizacionais que se preocupam em melhorar as
condições de trabalho das pessoas, ainda são fortes os interesses capitalistas e escravocratas,
sendo o trabalhador muitas vezes obrigado a concentir com perda dos direitos sociais
duramente conquistados, na tentativa de conseguir ou manter a empregabilidade. O modelo
atual de organização capitalista tem exigido trabalhadores ágeis, que assumam riscos
continuamente, que sejam abertos a mudança, não tem causado apenas sobrecarga de trabalho,
mas tem acarretado grande impacto na vida pessoal e profissional, assim como nas condições
de saúde e no processo de adoecimento, refletindo-se em um aumento crescente das doenças
ocupacioanis (NAVARRO; PADILHA, 2007).
Dentro do contexto da organização do trabalho, deve-se sistematizar e organizar
momentos de pausas para descanso, reposição do aporte energético e hídrico, assim como
promover a descontração e melhorar os níveis de motivação e atenção. As pausas devem ser
condizentes com as características da tarefa executada.
Segundo Kroemer e Grandjean (2005), para tarefas que exigem muito esforço físico,
as pausas deverão ser curtas e freqüentes, podendo ser no próprio local de trabalho ou com a
mudança de tarefa. Para tarefas predominantemente cognitivas, as pausas deverão ser mais
raras e com duração maior, de preferência fora do posto de trabalho. De acordo com os
autores, juntamente com as características especiais da tarefa, existem diferentes tipos de
pausas, como por exemplo: pausas espontâneas, que são as pausas feitas por iniciativa dos
próprios trabalhadores, sem interferir no fluxo de trabalho. As pausas disfarçadas são
consideradas quando o trabalhador faz uma tarefa secundária, paralelamente à principal. Já as
pausas que fazem parte da natureza do trabalho são todas as interrupções que surgem na
operação de uma máquina ou provocadas pela própria organização do trabalho. E finalizando,
as pausas prescritas pela gerência, como pausas para lanche e almoço, assim como as pausas
para realização da ginástica laboral.
Dentro do âmbito das gestões administrativas e da organização do trabalho, a
38
preocupação com a saúde e a segurança dos trabalhadores, a responsabilidade social e
ambiental, assim como evitar o presenteísmo
3
e reduzir os níveis de absenteísmo
4
, tem
apresentado uma crescente parcela de importância. Esses requisitos estão sendo contemplados
atualmente, pois são resultantes dos inúmeros movimentos sindicais promovidos pelos
próprios trabalhadores, ao longo da história e, mais recentemente, tem sido uma exigência das
empresas clientes e da legislação vigente.
Conforme as questões relacionadas à organização do trabalho vão evoluindo, emergem
aspectos os quais passam a exigir atenção, um dos principais relaciona-se com as condições
de trabalho e as consequências provocadas nas condições de saúde e de adoecimento dos
trabalhadores. A seguir abordaremos o processo evolutivo da saúde do trabalhador.
2.2.2 Processo evolutivo da saúde do trabalhador
Os aspectos relacionados à saúde do trabalhador referem-se a um campo do saber que
busca compreender as relações entre saúde e doença, produzidos pelos processos de trabalho.
Entendem-se a saúde e doença como processos dinâmicos, relacionados de maneira estreita
com o desenvolvimento produtivo, em momentos históricos determinados (BRASIL, 2001).
De acordo com esse entendimento, Mendes e Dias (1991) afirmam que as relações de
trabalho interferem na forma como os trabalhadores definem o processo de saúde e
adoecimento. Os autores sugerem que é fundamental entender como e porque se desenvolvem
os mecanismos de adoecimento no trabalho e quais alternativas podem ser adotadas para
combater a doença e promover a saúde.
Para compreender o processo saúde/doença e construir práticas de vigilância em
saúde, torna-se necessário conhecer o contexto na qual as pessoas estão vivendo, como
características demográficas, traços culturais, aspectos políticos, dados socioeconômicos e
epidemiológicos, assim como as condições sanitárias que fazem parte daquele espaço
territorial. As ações a serem desenvolvidas devem se apresentar na seguinte ordem:
informação, decisão e ação. Ou seja, primeiramente deve-se conhecer a realidade das pessoas,
prioridades, problemas, para em um segundo momento, decidir quais as medidas mais
3
Presenteísmo significa estar sempre presente ao trabalho, porém doente (CHIAVENATO, 1993).
4
Absenteísmo é a ausência temporária do trabalho por motivo de doença (CHIAVENATO, 1993).
39
adequadas e no terceiro passo, pô-las em ação (BRASIL, 2001).
Relacionando-se à saúde dos trabalhadores, deve-se levar em consideração os diversos
riscos
5
, aos quais estão ou poderão estar expostos durante o trabalho, sejam eles de ordem
ambiental ou organizacional. Como afirma o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001, p. 9):
Assim, as ações de saúde do trabalhador, devem ser incluídas formalmente
na agenda da rede básica de atenção à saúde. Dessa forma, amplia-se a
assistência já ofertada aos trabalhadores, na medida em que passa a olhá-los
como sujeitos a um adoecimento específico que exige estratégias também
específicas de promoção, proteção e recuperação da saúde.
A saúde como bem maior do trabalhador é condição indispensável para o seu convívio
social e o desenvolvimento das relações de produção. Para tanto, torna-se necessário entender
como vêm sendo tratadas as questões referentes à saúde do trabalhador no decorrer dos
tempos.
Com a consolidação da revolução industrial, os aspectos relacionados ao adoecimento
no trabalho foram identificados, surgindo assim movimentos trabalhistas que vão lutar por
melhores condições de trabalho. Durante o século XIX, na Inglaterra, a Medicina do Trabalho
surge como especialidade médica, com profissionais atuando dentro das fábricas, na tentativa
de minimizar os riscos provocados pelo trabalho (MENDES; DIAS, 1991).
Porém, Dejours (1992, p. 14) afirma que à classe operária do século XIX, não cabia
falar em saúde “[...] antes, é preciso que seja assegurada a subsistência, independentemente da
doença. A luta pela saúde, nesta época, identifica-se com a luta pela sobrevivência: viver para
o operário é não morrer [...]”. Isso mostra o quanto as questões de saúde ficam em segundo
plano quando está em questão a subsistência, fato esse que, em muitas situações, perdura até
os dias atuais.
As condições de trabalho relacionadas à saúde sofrem modificações principalmente a
partir da Primeira Guerra Mundial (19141918), quando o movimento operário tenta
conseguir melhorias da relação saúde-trabalho. Os resultados mais significativos foram
obtidos onde o número de trabalhadores era mais numeroso e o trabalho tinha valor
econômico estratégico. Em 1913, algumas empresas passam a adotar os exames pré-
5
Risco pode ser entendido como toda situação real ou possibilidade de perigo (FERREIRA, 1989).
40
admissionais. Em 1916, ocorre a redução da jornada de trabalho para oito horas por dia (com
surpreendente aumento de produção) e em 1919, as doenças ocupacionais são reconhecidas,
assim como a indenização e o cuidado aos doentes. Também em 1919, é criada a lei referente
à atenuação dos perigos e da insalubridade, a qual é modificada em 1951, prevendo o uso
obrigatório de dispositivos de segurança nas máquinas. Durante a Segunda Guerra Mundial,
foi institucionalizada a Medicina do Trabalho (1946), a Previdência Social (1945) e os
Comitês de Higiêne e Segurança (1947) (DEJOURS, 1992).
Na primeira metade do século XIX, na Inglaterra, surgiu a Medicina do Trabalho, que
se caracterizou por ser centrada exclusivamente na figura do médico, sendo este uma pessoa
de inteira confiança do empresário e que se dispunha a defendê-lo. A prevenção e a
responsabilidade dos riscos provocados pelo trabalho à saúde do trabalhador, também eram
tarefas exclusicas do médico (MENDES; DIAS, 1991).
Segundo Mendes e Dias (1991), a preocupação com o oferecimento dos serviços
médicos aos trabalhadores começa a se refletir no cenário internacional, inclusive para a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), a qual foi criada em 1919. Sendo assim, em
1953, a OIT, por meio da Recomendação n. 97, referente à “Proteção da Saúde dos
Trabalhadores”, fomenta a qualificação para a Medicina do Trabalho, além de estudos sobre
as diretrizes gerais da organização de serviços médicos do trabalho.
Mesmo com a atuação de profissionais da Medicina nos locais de trabalho, continuam
ocorrendo sérios danos à saúde dos trabalhadores. A atuação profissional do médico deixa de
ser exclusivamente relacionada ao processo de saúde e doença dos trabalhadores e estende-se
ao ambiente de trabalho, isso torna-se possível com a intervenção de outros profissionais.
Surge, assim, a saúde ocupacional que tem características multi e interdisciplinar, ou seja,
existe a atuação de vários profissionais relacionados à saúde e à segurança no trabalho
(MENDES; DIAS, 1991).
A saúde ocupacional surge sob o amparo da saúde pública, trazendo uma visão bem
mais abrangente que o modelo apresentado pela Medicina do Trabalho. Pode-se dizer que
houve uma ampliação da medicina do trabalho para a saúde ocupacional, contribuindo para a
construção de respostas racionais e científicas, para problemas de saúde provocados pelo
ambiente e processos de trabalho (BRASIL, 2005).
Ampliando-se os olhares, ou seja, com os diferentes profissionais que passam a atuar
41
na saúde ocupacional, tornou-se possível melhorar algumas condições de trabalho, embora o
trabalhador continuasse sendo objeto da ação. Surgem movimentos sindicais para lutar pela
participação dos trabalhadores nas questões relacionadas à saúde e à segurança do trabalho,
ou seja, a luta para se tornar sujeito da ação, pois são eles que mais conhecem as situações
concretas do cotidiano, manifestadas pelo sofrimento, doença e morte. Como conseqüência do
movimento dos trabalhadores, ocorrem significativas mudanças no mundo do trabalho,
principalmente as provocadas pela nova legislação adotada nos aspectos de saúde e segurança
do trabalhador. Essas novas medidas caracterizaram a transição dos termos saúde ocupacional
para saúde do trabalhador (MENDES; DIAS, 1991).
A saúde do trabalhador é conceituada como a área de conhecimento que contempla
aplicação e conhecimento técnico acerca dos múltiplos fatores que envolvem a saúde do
trabalhador e de seus familiares, mesmo sendo provocadas por aspectos externos ao ambiente
de trabalho. Essa área de conhecimento considera as diferentes manifestações e variações do
processo de adoecimento que afetam os trabalhadores, assim como variadas maneiras de
atuação e enfrentamento (BRASIL, 2005).
O processo saúde-trabalho passou a ser analisado não como um simples impacto do
trabalho sobre os trabalhadores, mas como consequência da relação de produção, determinada
socialmente pela dialética entre capital e trabalho. Hoje, as condições de ambiente de saúde e
segurança no trabalho passam a ser compreendidas como garantias essenciais para a qualidade
de vida das pessoas e direito de cidadania (FRIAS JÚNIOR, 1999).
De acordo com Oliveira e Vasconcellos (1992), existe uma multiplicidade de
instituições formadoras de opinião dos profissionais que atuam na saúde do trabalhador. De
um lado, a formação convencional, tentando suprir os interesses patronais de um mercado de
trabalho, ou seja, prima pelo cumprimento da legislação, sendo representada no Brasil pela
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho
(FUNDACENTRO). Por outro lado, observamos o processo de formação dentro da concepção
da saúde pública
6
, promovido pelas universidades.
Nesse cenário, percebe-se que existe uma fragmentação de concepções no âmbito da
saúde do trabalhador, resultando em ações estanques, não integradas, desenvolvidas por
distintas instituições, distanciadas constitucionalmente. Destaca-se a necessidade de uma
6
Saúde pública: consistem em ações de saúde sobre as pessoas e sobre o ambiente (SCLIAR, 2002).
42
integração das ações para a saúde do trabalhador, por parte dos órgãos que a coordenam,
assim como dos diferentes profissionais que nela atuam (OLIVEIRA; VASCONCELLOS,
1992).
Segundo Mendes e Dias (1991), cabe mencionar a necessidade de uma visão que
busque integrar os interesses individuais e coletivos, assim como os biológicos e sociais,
tecnológicos e políticos, particulares e gerais, contemplando as reivindicações dos
trabalhadores, bem como os interesses patronais e as ações dos profissionais que atuam na
saúde do trabalhador.
O principal objetivo das estratégias voltadas para a saúde do trabalhador, seja por parte
da organização, dos profissionais da área da saúde ou dos trabalhadores, relaciona-se à
prevenção e combate às doenças ocupacionais. As doenças ocupacionais são patologias
resultantes de movimentos repetitivos, posturas inadequadas, sobrecarga de trabalho entre
outros aspectos.
2.2.3 Doenças ocupacionais
Para Dejours (1992), a manifestação de doenças, é a única forma que o trabalhador
tem de expressar que alguma coisa no seu ambiente ocupacional, não anda bem e que está lhe
causando sofrimento. Essa situação tem sido crescente e tem exigido medidas preventivas e
corretivas, tanto por parte dos governantes quanto das empresas.
De acordo com o Ministério da Previdência Social, no seu Anuário Estatístico da
Previdência Social (APES), do ano de 2007, as doenças ocupacionais são enfermidades
desencadeadas ou agravadas no exercício da tarefa laboral, sejam elas temporárias ou
permanentes. As doenças ocupacionais são classificadas como acidentes de trabalho,
independente se forem registrada a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) junto ao
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ou não (BRASIL, 2008).
O Brasil é considerado um dos paises do mundo com maiores índices de acidentes de
trabalho e doenças ocupacionais, o que tem gerado custos elevados. De acordo com dados do
Serviço Social da Indústria (2004), são gastos anulmente R$5,9 bilhões em benefícios
previdenciários, sendo que as empresas chegam a R$26 bilhões perdidos com horas de
trabalho perdidas, recuperação da saúde, retreinamento, reinserção no mercado de trabalho,
43
licenças, entre outros fatores, o que representa perda anual de 4% do Produto Interno Bruto
(PIB).
As doenças com maior número de registros no Brasil são as Lesões por Esforços
Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT)
(BRASIL, 2008). Essas doenças podem ter origem atribuída a várias causas de ordem física,
pela repetição de movimento, posturas inadequadas, fatores insalubres aos quais os
trabalhadores estão expostos, aspectos psicológicos, entre outros. Nascimento e Moraes
(2000, p. 23) definem as doenças ocupacionais, de ordem física, como:
Afecções que podem acometer os ossos, tendões, sinóviais, músculos,
nervos, fácias e/ou ligamentos. Afecções estas que podem se apresentar de
forma isolada ou associada, tendo como manifestações clínicas, dor,
inflamação e distúrbios neurovasculares, que podem, por vezes, levar a
degradação da funcionalidade e, em casos mais graves, ao desequilíbrio
emocional.
O termo LER foi amplamente utilizado para diagnosticar diversas condições
dolorosas, porém, tem como causa principal o movimento repetitivo realizado em qualquer
ambiente. Sendo assim, quando mencionarmos alguma afecção músculo esquelética adquirida
apenas no ambiente de trabalho, tornou-se mais correto usarmos o termo DORT. Embora,
como apresentado por Mendes e Leite (2008, p. 17), “[...] todos os DORT são LER, mas nem
todas as LER são DORT”.
Atualmente são empregados inúmeros termos e siglas para designar adoecimentos
provocados por degenerações físicas. Os termos mais difundidos são a LER e a DORT.
Usualmente, os termos são utilizados em conjunto DORT/LER ou LER/DORT
7
(NASCIMENTO; MORAES, 2000).
Também, de acordo com Nascimento e Moraes (2000) e Mendes e Leite (2008),
podem ser encontradas na literatura, as seguintes denominações: Síndrome da Sobre Carga
Ocupacional (SSO); Distúrbio por Trauma Cumulativo (DTC); Afecções Músculos
Esqueléticas Relacionadas ao Trabalho (AMERT´s); Lesão por Trauma Cumulativo (LTC);
Distúrbio Músculo-esquelético Ocupacional (DMO), entre outras.
7
Será adotado neste trabalho o termo LER/DORT quando nos referimos as doenças ocupacionais, provocadas
por degenerações físicas.
44
As LER/DORT evoluem de forma gradativa e particular, de acordo com as
características de cada pessoa. Para Lima, A. (2005), as patologias ocupacionais devem ser
prevenidas e tratadas com muita seriedade e responsabilidade, pois além de serem processos
dolosos, podendo causar a invalidez do trabalhador, também acarretam prejuízos de ordem
psicológica, como angústia, depressão e incertezas quanto ao futuro.
Um dos grandes motivos para as organizações e a previdência social estar investindo
em medidas para reduzir e combater a incidência das LER/DORT tem sido o alto custo
gerado, como afirma Lima, A. (2005, p. 98):
Essa preocupação tem sido muito considerada por governos e organizações,
pois é uma das maiores causas de absenteísmo e afastamento por doença
funcional registradas pelos órgãos responsáveis de previdência social. E que
gera um custo altíssimo, tanto para os governos quanto para as empresas
particulares que têm de conviver com funcionários acometidos por esses
problemas até a aposentadoria.
A causa das LER/DORT é de origem multifatorial, como sobrecarga mecânica, devido
à repetição de movimentos, posturas inadequadas, condições ambientais desfavoráveis como
temperatura, umidade, entre outros, assim como os aspectos de ordem emocional. Existem
pessoas com maior pré-disposição ao desenvolvimento desse tipo de patologias, ou seja,
apresentam um perfil psicológico, principalmente, quando atuando em cargos de chefia, ou de
grande responsabilidade e tensão, com intenso ritmo de trabalho e raros momentos de
descanso.
De acordo com Melo (1998), independente do tipo de patologia apresentada, as
LER/DORT apresentam sintomas semelhantes, classificadas nos seguintes graus de evolução:
a) Grau ou Fase 0: o trabalhador está exposto a uma situação de trabalho inadequada.
Ele começa a apresentar desconforto, sensação de peso, acentuando-se no final do
expediente, ou durante os picos de produção. O desconforto tende a diminuir ou até
cessar com o repouso, ou com a redução do ritmo de trabalho. Nesse caso, devem
ser realizadas investigações e intervenções ergonômicas no posto de trabalho, a fim
de reduzir o risco ergonômico. Assim, o trabalhador deverá participar de atividades
de prevenção das patologias ocupacionais bem como a de ginástica laboral, além de
praticar exercícios físicos, realizar exames médicos e fisioterápicos periodicamente,
usar equipamentos de segurança e adotar postura adequada de trabalho;
45
b) Grau ou Fase I: neste estágio, o desconforto persiste e se intensifica, não cessando
com o repouso, apenas é minimizado, persistindo por longos períodos, surgindo
com mais frequência no ambiente de trabalho, não apenas durante os picos de
produção ou no final do expediente. A dor é leve e fugaz, podendo ser detectada em
exames clínicos quando se comprime à massa muscular envolvida, tendo que haver
então mudanças no ambiente de trabalho. Deve ser efetuada à Comunicação de
Acidentes de Trabalho (CAT) e encaminhar para tratamento e o prognostico é bom;
c) Grau ou Fase II: nesta fase, existe provável redução na produção de trabalho,
devido à dor ser intensa e persistente, mesmo fora do trabalho. A pessoa passa a
apresentar dificuldades ou restrições em realizar atividades domésticas e cuidados
na higiene pessoal. A dor é mais localizada, com irradiação no segmento corporal
afetado, apresentando nodulações e redução de sensibilidade, podendo ser
acompanhada de calor e parestesias (formigamento). Neste estágio, o tratamento é
medicamentoso, apresentando prognóstico variável;
d) Grau ou Fase III: nesta fase, a pessoa apresenta dor intensa e irradiação bem
definida, a produtividade torna-se mínima, o afastamento é inevitável, e o retorno
improvável, gerando medo quanto à seguridade do cargo, associada à alteração no
relacionamento familiar, podendo desenvolver angústia e depressão profunda. A
pessoa apresenta edema, hipertrofia muscular e perda de sensibilidade, trazendo
muita dor quando apalpada a região afetada, com freqüente perda de força
associada a parestesias. Há paroxismos, ou seja, crises noturnas, prejudicando
consideravelmente a qualidade do sono e o prognóstico grave;
e) Grau ou Fase IV: nesta fase, torna-se notável a perda de força e limitação dos
movimentos, associada à atrofia do membro. É anulada a capacidade de trabalho e a
invalidez é caracterizada pela impossibilidade nas atividades do trabalho e muitas
vezes, domiciliares, trazendo alterações psicológicas. O edema persiste e poderão
surgir deformações e o prognóstico é sombrio.
Os sintomas e quadros evolutivos, apresentados nas diferentes fases de evolução das
doenças ocupacionais, são típicos em diferentes distúrbios patológicos. Apresentaremos a
seguir, os que ocorrem com maior frequência no ambiente ocupacional. De acordo com Gann
(2005), a tendinite, a tenossinovite e a bursite são descritas como:
46
a) Tendinite:
É uma inflamação instalada nos tendões, a qual pode ter origens distintas como a
origem mecânica, decorrente dos movimentos repetitivos, sobrecarga de esforço físico.
Também pode ter origem química, provocada por desidratação, alimentação incorreta e
toxinas no organismo, pois quando as estruturas tendíneas não estão suficientemente
drenadas, aumentará o atrito, desencadeando a inflamação. A seguir, a Figura 1 apresenta uma
demonstração visual da tendinite.
FIGURA 1 - Demonstração visual da tendinite.
Fonte: Clínica Deckers (2008).
b) Tenossinovite:
É considerada uma inflamação nos tecidos sinoviais, que envolvem os tendões, em sua
passagem por túneis osteofibrosos, polias e locais em que a direção da força é mudada. Dessa
forma, deve-se evitar o movimento repetitivo de longa duração, atitude a qual deve ser menor
ainda se o movimento for feito com peso. A Figura 2 demonstra como pode ocorrer o
47
processo inflamatório nos tendões, denominado tenossinovite.
FIGURA 2 - Demonstração visual da tenossinovite.
Fonte: Grupo Marimar (2008).
c) Bursite:
É um processo inflamatório, que acomete as bursas, que são pequenas bolsas,
constituídas de fibras colágenas e revestidas de membrana sinovial, estão localizadas entre as
estruturas articulares. Quando ocorre fricção excessiva, provocada pelas atividades
desempenhadas, pode desencadear a médio e longo prazo um processo inflamatório.
Existem várias bursas pelo nosso corpo, porém o local de maior incidência no
ambiente ocupacional é no ombro, principalmente para os trabalhadores que realizam
movimentos com os braços de amplitude que vão acima da linha do ombro, pressionando
então as bursas e, no caso de bursite confirmada, agrava em muito o processo inflamatório. É
de suma importância, estar atento aos sinais desse processo, e se for diagnosticado no estado
inicial, as chances de recuperação são maiores e mais rápidas. A Figura 3 apresenta a
48
visualização da bursite.
FIGURA 3 - Demonstração visual da bursite.
Fonte: Medicina Geriátrica (2008).
Além das doenças ocupacionais de ordem física, já mencionadas, de acordo com Gann
(2005), existem outras, que se manifestam de forma bastante significativa no contexto de
trabalho, como a artrite, a Síndrome do Túnel do Carpo, a Cervicalgia e a Lombalgia. A
seguir estão descritos os conceitos e esquemas visuais dessas patologias:
a) Artrite:
De acordo com Nieman (1999), as artrites são um conjunto de doenças reumáticas que
acometem as estruturas articulares, ocasionando dor, aumento do volume articular, assim
como limitação dos movimentos. Por ser uma patologia crônica, perdura por toda vida,
portanto é considerada uma das patologias ocupacionais mais onerosas. A Figura 4 apresenta
o esquema visual da artrite.
49
FIGURA 4 - Demonstração visual da artrite.
Fonte: Biomet (2009a, 2009b).
b) Síndrome do Túnel do Carpo:
Ocasionada pela inflamação do nervo mediano, o qual é responsável pelo movimento
do dedo polegar e sensação no dedo médio, indicador e parte da parte da mão. Nascimento e
Moraes (2000) definem como uma neuropatia compressiva muito comum. Ocorre uma
compressão no nervo mediano desencadeado por fatores que determinam o aumento do
volume das estruturas que passam no túnel do carpo ou por alterações da forma do túnel. O
túnel do carpo é um forame por onde passa nervo mediano, juntamente com os tendões
flexores. Dessa forma, quando realizamos muitos movimentos repetitivos e forem
requisitados os tendões flexores, ocorrerá uma resposta de dor com o respectivo aumento de
volume, desencadeando uma compressão no nervo mediano impossibilitando a sua utilização.
A Figura 5 ilustra a Síndrome do Túnel do Carpo.
50
FIGURA 5 - Demonstração visual da Síndrome do Túnel do Carpo.
Fonte: Mais Educação (2008).
c) Cervicalgia:
De acordo com Nascimento e Moraes (2000), a cervicalgia caracteriza-se por ser uma
dor localizada na região cervical da coluna. Ocorre com muita frequência, tanto por posturas
inadequadas, movimentos repetitivos, vícios posturais adotados no local de trabalho, ou fora
dele. Quando não tratada e combatida, a cervicalgia poderá evoluir para um
cervicobraquialgia, que é uma dor localizada na região cervical, com irradiação para os
membros superiores, por pinçamento de raiz nervosa. A Figura 6 apresenta a localização
anatômica da cervicalgia.
d) Lombalgia:
A lombalgia é frequentemente diagnosticada como a doença ocupacional que provoca
maior incidência de queixas e de dores. É caracterizada pelas dores localizadas na região
lombar, pode ser resultante de posturas viciosas no trabalho, lazer, em casa ou no dormir,
além de pegar peso de forma inadequada e outros (NASCIMENTO; MORAES, 2000). A
representação visual da lombalgia está ilustrada na Figura 7.
51
FIGURA 6 - Demonstração visual da cervicalgia.
Fonte: Osteopatia (2008).
FIGURA 7 - Demonstração visual da lombalgia.
Fonte Lazarini (2008).
52
De acordo com Araújo (1998), as pessoas que desenvolvem LER/DORT, em geral,
ficam extremamente fragilizadas, pois sofrem inúmeros danos físicos, muitas vezes
irreparáveis, além de abalos emocionais significativos, semelhantes à depressão. Esse é um
quadro provocado por razões como a restrição ao trabalho, as fortes dores sentidas e a
possibilidade de não desenvolver atividades rotineiras. Ainda segundo o autor, o trabalhador
quando adoece, é vítima de desconfiança, pois muitas vezes, as queixas são consideradas
fingimento, ou estratégia para denunciar a empresa. Torna-se, então, extremamente
complicado para o trabalhador desempenhar outra função dentro da empresa, ou até mesmo
conseguir um novo trabalho.
Dessa forma, as doenças de ordem física são provocadas ou agravadas por aspectos de
caráter psicossomático, assim como podem ocorrer de maneira inversa. Seligmann-Silva
(1994) afirma que as relações de trabalho podem tanto fortalecer a saúde do trabalhador
quanto provocar o seu adoecimento. Segundo a autora, tem sido crescente o número de
pesquisas relacionadas à Saúde Mental do Trabalhador (SMT), assim como a ocorrência de
distúrbios de natureza psicossocial, como o estresse e a estafa profissional ou o burnout, as
quais serão discutidas a seguir.
De acordo com a Associação Brasileira de Stress (2009), o estresse é uma reação do
organismo, causada por reações psicofisiológicas, que se manifestam quando a pessoa se
confronta com situações desconhecidas, as quais podem provocar angústia, medo, pavor,
ansiedade. Para Seligmann-Silva (1994), no caso específico do estresse vinculado ao trabalho,
é importante identificar aspectos estressores no ambiente ocupacional, além de considerar que
o apoio social é o principal aspecto protetor. Nesse sentido, a ginástica laboral e a ergonomia,
são importantes estratégias para minimizar os efeitos nocivos do estresse.
Já a síndrome da estafa profissional, também denominada como burnout, é uma
conseqüência decorrente de prolongados níveis de estresse no trabalho, provocando exaustão
ou estafa emocional, dificuldade de relacionamento e distanciamento das relações pessoais, e
redução do sentimento de realização pessoal. As dimensões organizacionais, as características
individuais, o trabalho e a sociedade, são considerados os principais fatores de risco para o
desenvolvimento dessa síndrome (TRIGO; TENG; HALLAK, 2007).
Para as organizações, a maior preocupação com as doenças ocupacionais, se dá devido
aos altos custos gerados. Embora seja necessário destacar que o maior prejudicado é o
53
trabalhador, pois além de desenvolver a patologia e sofrer as conseqüências muitas vezes,
torna-se uma vítima, pois compromete a sua capacidade de trabalho, sua subsistência,
interferindo de forma significativa nas suas condições de saúde ou doença.
Para combater os efeitos nocivos do trabalho e o surgimento das doenças
ocupacionais, as organizações têm investido em áreas como a ergonomia e a ginástica laboral.
Mas é preciso enfatizar que tais recursos devem estar associados a outras medidas
organizacionais, como gestão participativa, questões salariais, valorização das pessoas, entre
outras, além de atenderem as necessidades dos trabalhadores e não apenas aos interesses
capitalistas.
2.2.4 Fatores que influenciam nas condições de trabalho: ergonomia e
ginástica laboral
São inúmeros os fatores que podem influenciar nas condições de trabalho, porém aqui
abordaremos a respeito da ergonomia e da ginástica laboral, respectivamente. Faremos um
breve levantamento histórico e conceitual sobre os dois temas, além de relacioná-los às
questões de saúde e doença no trabalho.
Couto (2002) considera que a ergonomia pode ser definida como o trabalho
interprofissional que, baseado num conjunto de ciências e tecnologias, procura o ajuste entre o
ser humano e seu ambiente de trabalho de forma confortável e produtiva, basicamente
procurando adaptar o trabalho às pessoas.
Para Iida (1993), a ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho à pessoa. Nesta
definição, o trabalho tem uma acepção bastante ampla, abrangendo não apenas as atividades
que envolvem máquinas e equipamentos utilizados para transformar os materiais, mas
também toda a situação que envolve o relacionamento físico e os aspectos organizacionais, de
como esse trabalho é desenvolvido e controlado, para produzir os resultados desejados. De
acordo com o autor, ergonomia é o estudo do relacionamento entre a pessoa e o seu trabalho,
equipamento e ambiente e, particularmente, a aplicação dos conhecimentos de Anatomia,
Fisiologia e Psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento.
Para a Associação Brasileira de Ergonomia (2007), a ergonomia é definida como:
54
A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica relacionada
ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos
ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos
a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema.
A ergonomia surge em 1950, em países socialmente mais desenvolvidos e
industrializados. É importante que se destaque que até 1960, as fábricas e postos de trabalho
eram constituídos sem qualquer consideração sobre o ser humano que iria trabalhar ali. Na
atualidade, ainda existem muitos fabricantes de equipamentos que ainda desconhecem as
características do ser humano e acabam construindo assim aparelhos inadequados aos
trabalhadores.
De acordo com Kroemer e Grandjean (2005), a ergonomia envolve questões
relacionadas a condições antropométricas dos postos de trabalho, intensidade e tempo da
jornada de trabalho, condições ambientais (luminosidade, ventilação, ruídos, temperatura),
estresse, monotonia, ou seja, tem uma visão bem abrangente do universo que envolve o
trabalho e, principalmente, o trabalhador.
Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia (2007), a ergonomia, nas suas mais
diversas formas de intervenção, está pautada em três domínios: físico, cognitivo e
organizacional. O físico está relacionado às características antropométricas, fisiológicas,
anatômicas e biomecânicas das atividades físicas desempenhadas pelos trabalhadores, no
cumprimento de suas tarefas laborativas. Os trabalhos realizados nessa área incluem estudos
relacionados à postura, movimentos repetitivos, distúrbios músculo-esqueléticos, entre outros
aspectos relacionados aos aspectos físicos do trabalhador.
O segundo domínio de especialização da ergonomia, o cognitivo, refere-se aos
processos mentais, ou seja, tomada de decisões, raciocínio, respostas motoras, informações
visuais, sonoras, sensoriais e outros elementos ou sistemas. Os estudos nesta área envolvem
análises para investigar a carga mental provocada pela tarefa de trabalho, assim como as
tomadas de decisão, interações entre pessoa-máquina e níveis de estresse. Para aplicar a
ergonomia cognitiva, torna-se necessária a realização de treinamentos que capacitem os
trabalhadores para um melhor desempenho das atividades que exigem relação com programas
ou sistemas mecânicos.
Já o terceiro domínio, refere-se à organização do trabalho, descrição e definição de
tarefas, funções, horários, ritmo, estrutura do contexto de trabalho. Nesse tópico, está incluída
55
a comunicação, o projeto de trabalho, o trabalho em grupo, o projeto participativo, o trabalho
cooperativo, a cultura organizacional, organização em rede, a gestão participativa, além de
outros aspectos que se enquadram no domínio da ergonomia organizacional.
De acordo com a Associação Brasileira de Ergonomia (2007), a ergonomia é
classificada de acordo com o momento do processo em que ela é utilizada e de acordo com a
sua finalidade. Dentre os vários tipos de ergonomia, iremos discutir os mais relevantes, dentro
das características deste estudo: Ergonomia de Concepção, de Correção e de Conscientização.
A Ergonomia de Concepção é a que se utiliza no momento da criação de um projeto,
objeto, equipamento ou ambiente. Esse é o momento mais adequado para se desenvolver um
projeto/produto adequado às características e necessidades de seus usuários, embora seja
necessário um maior conhecimento do profissional, pois requer prever uma situação, a qual
ainda é hipotética. É considerada uma ergonomia preventiva, é muito eficaz e apresenta boa
relação custo benefício.
A Ergonomia de Correção ocorre quando se realiza a intervenção ou adequação de um
equipamento, produto ou estação de trabalho, já existente, buscando corrigir anomalias
existentes, as quais interferem nas condições de trabalho, no que se refere ao conforto e à
segurança, contribuindo com um provável aumento de produtividade, proporcionado pelas
boas condições de trabalho. Assim como nos demais tipos de ergonomia, mas nesta em
especial, por se tratar de situações reais de trabalho, torna-se indispensável envolver o
trabalhador no processo de avaliação e adequação, aplicando assim a macroergonomia. Esse
tipo de intervenção requer que o ergonomista detenha muito conhecimento e experiência para
realizar as adaptações e adequações, apresentando soluções criativas e viáveis
economicamente.
E a Ergonomia de Conscientização é considerada uma etapa complementar às demais,
pois sensibiliza os trabalhadores/usuários para a utilização correta dos recursos oferecidos
pela organização, para a realização das tarefas de trabalho, por meio de treinamentos e
capacitações periódicos. A aplicação da Ergonomia de Conscientização é indispensável,
embora em muitas situações, ela não seja aplicada. Não basta disponibilizar um ambiente de
trabalho com recursos ergonômicos, se os trabalhadores não souberem adequá-los as suas
características físicas e necessidades.
56
Para Kroemer e Grandjean (2005), a ergonomia auxilia na melhora das condições de
saúde dos trabalhadores, pois intervém na redução de movimentos repetitivos, na melhora das
posturas adotadas na realização das tarefas, na adequação às condições visuais, de
temperatura, de ruído e vibração. Também se preocupa com a organização da rotina de
trabalho para amenizar os efeitos psicológicos, provocados pela rotina de trabalho ou da
máquina utilizada. Os bons resultados referentes às adequações ergonômicas também vão
depender de fatores relacionados a como os trabalhadores vão aceitar essas intervenções e
sugestões, receber apoio da empresa e participar de outros programas relacionados, como a
ginástica laboral.
Segundo Polito e Bergamaschi (2002), a ginástica laboral surgiu na Polônia em 1925 e
no Japão em 1928. No Brasil, a experiência pioneira ocorreu no Vale dos Sinos, estado do Rio
Grande do Sul, em 1979. Depois desse período, caiu no esquecimento, ressurgindo na década
de 1990. A partir dessa década, a ginástica laboral teve como objetivo amenizar problemas
como estresse, LER/DORT, proporcionando aos funcionários um estilo de vida mais
saudável.
O termo pode ser definido como a prática de exercícios físicos no local de trabalho,
atuando de forma preventiva e terapêutica. A ginástica laboral é um repouso ativo que
aproveita as pausas regulares durante a jornada de trabalho para exercitar e relaxar os grupos
musculares mais requeridos durante o trabalho, tendo como objetivo a prevenção da fadiga e
das doenças ocupacionais (LER/DORT). Contudo, a ginástica laboral pode ser entendida
como uma atividade física, realizada no local de trabalho, com exercícios de compensação
para movimentos repetitivos, para ausência de movimento e para posturas incorretas no local
de trabalho (POLITO; BERGAMASCHI, 2002).
Pelo fato da ginástica laboral ser uma atividade coletiva, realizada durante a jornada de
trabalho, e os profissionais de Educação Física, responsáveis pelo seu planejamento e
aplicação, desenvolvem atividades lúdicas, cooperativas, promovendo a interação e integração
dos trabalhadores, o que contribui nos aspectos psicológicos dos participantes. Para Cañete
(1996), a ginástica laboral estimula a motivação, melhora o clima organizacional, reduz os
níveis de tensão, principalmente por promover as interações sociais e ter caráter humanizador.
A ginástica laboral pode ser classificada de acordo com o horário e a finalidade. A
ginástica laboral preparatória é aquela realizada no início da jornada de trabalho, ou nas
57
primeiras horas e tem duração de aproximadamente cinco a 15 minutos, de acordo com a
disponibilidade da empresa. Tem como principais objetivos, aquecer a musculatura que será
mais requerida durante as atividades laborais, assim como despertar e motivar os
trabalhadores para a jornada de trabalho (LIMA, V., 2003).
Outra classificação é a ginástica laboral compensatória ou de pausa, realizada durante
o expediente de trabalho, preferencialmente após o pico de produção, ou de acordo com a
viabilidade de horários da empresa. Tem como objetivo compensar as estruturas musculares
mais requeridas, impedir a instalação de vícios posturais, evitar e combater as doenças
ocupacionais, além de promover o relaxamento e o desligamento da tarefa (POLITO;
BERGAMASCHI, 2002).
Os tipos de ginástica laboral preparatória e/ou compensatória são as mais utilizadas,
embora seja importante mencionar que existem outros tipos, como a de relaxamento, a qual
visa restabelecer o equilíbrio muscular, geralmente realizada no final do expediente de
trabalho e tem uma duração maior (até 30 minutos). Já a ginástica laboral de manutenção é
realizada fora do horário de trabalho, com um programa de condicionamento físico
complementar, podendo ser realizada na própria empresa, com academias corporativas,
equipes desportivas, de corrida, entre outras atividades que atendam às preferências dos
participantes. Vale a pena ressaltar que medidas que visam melhorar o condicionamento
físico, ou seja, o combate ao sedentarismo, são fundamentais para promover a saúde e
prevenir/combater as doenças (MENDES; LEITE, 2008).
A aplicação da ginástica laboral tem se tornado uma importante ferramenta na
promoção da saúde e na prevenção da doença, quando atinge seus objetivos, reduzindo dores
e desconfortos musculares, níveis de absenteísmo, assim como a melhora da consciência
postural dos trabalhadores, motivação e melhora do espírito de equipe desenvolvido entre os
participantes. Outro aspecto relevante da ginástica laboral é que o profissional acompanha o
trabalhador durante as atividades, vai até o seu posto de trabalho periodicamente, o que
promove o estreitamento de laços e relação de confiança entre profissional e trabalhador.
Tanto na ginástica laboral quanto na ergonomia torna-se indispensável, ouvir o que o
trabalhador tem a dizer, quais são as suas contribuições e necessidades, quais as
representações sobre o trabalho, à saúde e a doença. Para entender melhor esta relação,
precisamos ampliar as discussões referentes às representações sociais.
58
2.3 SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
De acordo com Queiroz (2003), Émile Durkhein (1858-1917) foi a primeira pessoa a
empregar o termo representações coletivas, no ano de 1957, em sua obra: “As formas
elementares da vida religiosa”. Também estudou, juntamente com outros autores, como
Marcel Mauss, várias sociedades primitivas, observando em profundidade a relação do
pensamento com a lógica social. O conceito de representação coletiva, já era entendido como:
[...] um conjunto de idéias, saberes e sentidos provenientes da estrutura
social mais ampla, que os indivíduos incorporam, combinam e representam
com a função de promover a cooperação. O conjunto das representações
individuais nunca chegaria à essência das representações coletivas que, além
de serem independentes e autônomas, transcendem qualitativamente às
primeiras (QUEIROZ, 2003, p. 28).
Durkhein afirmava que o ser humano pensa, percebe e sente o mundo em que vive, a
partir dos mecanismos de organização da realidade que o cerca, desta forma pode-se dizer que
a realidade externa, ou social, influencia a pessoa (QUEIROZ, 2003).
Os estudos relacionados às representações coletivas realizados por Durkhein
representaram um grande avanço para a sociologia, pois começava, já naquela época, a
considerar a complexidade que envolve o fenômeno social. Os estudos de Durkehein serviram
de base para Moscovici, que, em 1961, na França, deu origem a Teorias das Representações
Sociais, na obra “Representação Social da Psicanálise” (ESPÍRITO SANTO, 2005).
Inserida no campo da Psicologia Social, a Teoria das Representações Sociais busca
compreender como se dá a construção do conhecimento no contexto social. As representações
sociais constituem-se de instâncias privilegiadas no processo de investigação científica, pois
apresentam em seu contexto elementos do pensar social, buscando no cenário do senso
comum, da dinâmica e diversidade do pensamento, mecanismos para compreender a relação
indivíduo e sociedade (MOSCOVICI, 2003).
Para Jodelet (1985 apud SPINK, 1993), as representações sociais são formas de
entendimento do conhecimento prático, dirigidas para a comunicação e compreensão do
cenário social no qual estamos inseridos. Essas formas de conhecimento manifestam-se de
diversas maneiras, por meio da fala, das atitudes, das imagens, dos conceitos, das teorias, da
cultura e da arte. São socialmente construídas e compartilhadas, criam uma realidade comum,
59
a qual possibilita a comunicação, sendo assim consideradas, fenômenos sociais, indo muito
além das construções cognitivas, pois perpassam pelo afeto, pela ação e pelas formas de
comunicação nas quais circulam.
As representações sociais são definidas como uma forma de conhecimento construído,
elaborado e partilhado socialmente, apresentando uma visão prática e contribuindo para a
construção de uma realidade que é comum a um determinado conjunto social. Ou seja, as
representações sociais são fenômenos construídos no coletivo para o coletivo (SPINK;
FREZZA, 2004).
Por representações sociais entendemos um tipo de saber, socialmente negociado,
contido no senso comum e na dimensão cotidiana, que permite a pessoa uma visão de mundo
e a orienta nos projetos de ação e nas estratégias que desenvolve em seu meio social. As
representações sociais são conhecimentos culturalmente carregados, que adquirem sentido e
significado pleno apenas se forem levados em consideração a situação e o estágio evolutivo
em que se manifestam (QUEIROZ, 2003).
Segundo Guareschi (2007, p. 30), o objetivo das teorias das representações sociais está
voltado para a análise de como se formam os conhecimentos, “[...] como pensamentos, com
que pensamos, a partir do que pensamos [...]”. As representações sociais não podem ser
consideradas uma realidade à parte, nem tampouco uma cópia do mundo, mas sim uma
construção simbólica deste.
As representações sociais são próprias de cada lugar, de cada pessoa, oriundas do
senso comum, o que não desmerece a sua complexidade e relevância científica. Para Spink
(1993), as representações sociais são conhecimentos práticos constituídos a partir das relações
sociais, além de servirem como referência que permite dar sentido ao mundo e as ferramentas
que possibilitam a comunicação. Para tanto, exploram o presente, mas trazem em suas
construções resquícios de crenças e saberes históricos. Como afirma Guareschi (2007, p. 33):
Inseridas na história e na cultura, as representações sociais se manifestam
nos discursos públicos e no pensar social sobre fenômenos, que tocam de
maneiras fundamentais as realidades sociais, como a realidade política,
ecológica ou ligada à saúde.
Sendo essas representações constituidas de diferentes formas, com concepções
elaboradas de acordo como assimilam os acontecimentos que vivenciam e a realidade na qual
60
pertencem, seus respectivos grupos, e o modo como respondem. As representações sociais são
realidades em si mesmas, uma associação dos saberes e práticas, construídas individualmente,
elaborando de forma simbólica a maneira como vêem o mundo, sendo que essas construções
influenciam a sua forma de agir (GUARESCHI, 2007).
Para Minayo (1995), deve-se prestar muita atenção na construção das representações
sociais, pois exigem necessariamente uma reformulação de alguns paradigmas até então
estabelecidos, relacionados a trajetórias ideológicas, ético-culturais. Logo, as representações
sociais não devem ser estudadas de forma fracionada, devem sim, estar interligadas, como é
sugerido por Rosseti-Ferreira, Amorim e Silva (2004), essa teia de sentidos interligados,
amarrados, relacionadas com o individual e com o coletivo. Conforme Jodelet (1989 apud
SPINK, 1993, p. 304):
[...] as representações sociais devem ser estudadas articulando elementos
afetivos, mentais, sociais, integrando a cognição, a linguagem e a
comunicação às relações sociais que afetam as representações sociais e à
realidade material, social e ideativa sobre a qual elas intervêm.
O grande desafio é entrar nessa complexidade de representações sociais para buscar
compreender melhor o sentido dado pelos trabalhadores à saúde e à doença, como um reflexo
das representações do contexto social no qual estão inseridos e atuando. O papel da teoria das
representações sociais consiste em validar o conhecimento produzido no senso comum como
científico. “O vasto campo do senso comum, das ciências populares, permite-nos agarrar essas
representações ao vivo, compreender como são geradas, comunicadas e colocadas em ação na
vida cotidiana.” (GUARESCHI, 2007, p. 35). Assim como os sonhos podem servir de
instrumentos para compreender o inconsciente, as representações sociais servem de elemento
para entender o cotidiano, o agir das pessoas e efetivar a construção do real.
De acordo com Guareschi (2007), as representações sociais apresentam dois sentidos
complementares. Em primeiro lugar, são teorias construídas com base no conhecimento
compartilhado socialmente, a partir das relações cotidianas. Em segundo, as representações
sociais estão interessadas em estudar e explicar, por meio do discurso público e cotidianos, os
diferentes fenômenos sociais que ocorrem nos diferentes contextos.
Um fator que influencia de forma ampla o contexto social são as condições de saúde e
doença da população. Para que se apresentem medidas efetivas de melhoramento no campo da
61
saúde, torna-se necessário compreender a forma como os sujeitos sociais entendem as
representações de saúde e de doença.
2.3.1 Representação social de saúde e doença
De acordo com Sevalho (1993), a representação de saúde e doença sempre esteve
pautada pela inter-relação dos corpos com as demais coisas que o cercavam, podendo derivar
de elementos naturais ou sobrenaturais. Os povos primitivos associavam os aspectos
referentes à saúde e doença a fenômenos sobrenaturais e à magia. No decorrer da história, a
representação esteve relacionada à religião, sendo a saúde consequência da vontade divina e a
doença uma forma de punição, maldição ou castigo. Porém, durante os séculos XIX e XX,
com o surgimento da clínica médica e o desenvolvimento da microbilogia, aspectos
biológicos também passam a fazer parte da representação de saúde e doença.
Para Enumo (2003), as representações sociais de saúde e doença refletem o modo
como as pessoas entendem esse processo, a relação entre saúde e doença e o seu contexto
social. O entendimento deve ir além das narrativas da pessoa a respeito do seu entendimento
de saúde ou doença, deve-se levar em conta o contexto social, os substratos políticos,
econômicos, culturais e ainda o reconhecimento e valorização do senso comum, do entender e
conhecer de cada pessoa, para que programas de intervenção sejam desenvolvidos. Isso torna
favorável a adesão às práticas preventivas e melhora a comunicação entre os profissionais de
saúde e o usuário.
Entender as representações de saúde e de doença pode ser um meio para chegar à
origem de como se adoece. Para Sato (1996), tradicionalmente, as medidas de conhecimento
das situações de saúde têm estado desvinculadas daquelas que visam combater os agravos e as
condições que a geram, seja por motivos técnicos ou políticos, interferindo nas condições de
saúde e favorecendo o desenvolvimento da doença. Dessa forma, os esforços não estão
voltados para a promoção da saúde ou da prevenção da doença e sim para as formas de
tratamento.
Outra forma de representar o estado de saúde ou de doença se dá por meio dos
sintomas. Para muitas pessoas, estar doente é quando se está impossibilitado de exercer suas
funções devido ao agravo dos sintomas, “[...] contudo, nem todas as doenças provocam
62
sensações de mal-estar. Existem estados patológicos que não despertam sensações e que,
muitas vezes, as pessoas não têm consciência deles [...]” (SERPA, 2007, p. 56), podendo
gerar assim um agravo patológico, além de dificuldade no diagnóstico e tratamento.
Boltanski (2004), em seu estudo sobre as Classes Sociais e o Corpo, discute que para
as classes sociais mais baixas, a doença só é percebida quando a pessoa se sente incapaz de
exercer suas funções sociais, principalmente, no que se refere ao exercício do trabalho. Já a
saúde está atrelada ao cumprimento das tarefas cotidianas, entendidas pela pessoa como
obrigatórias. Nessa percepção, a saúde está dissociada da pessoa e relacionada ao contexto
social, por meio da capacidade de executar tarefas, já nas camadas sociais mais elevadas, o
entendimento de saúde está atrelado às sensações e sintomas apresentados pela pessoa.
Todas as pessoas produzem representações de tudo o que vivenciam e, no processo
saúde/doença, esse processo também ocorre principalmente no adoecimento. Tem-se, então, a
necessidade de construir o próprio entendimento da doença, o que de certa forma faz parte do
processo de aceitação. Para Boltanski (2004), muitas vezes o paciente, incapaz de reproduzir
o discurso do médico, constrói o próprio discurso baseado nas palavras do médico. Porém, na
grande maioria das vezes, o discurso elaborado pelo paciente não é partilhado, deixando assim
de auxiliar nas medidas de promoção, prevenção, tratamento e cura. É necessário que exista
uma sintonia entre o pensar dos profissionais de saúde e a representação do usuário.
Existiram e existem, ao longo da história da humanidade, inúmeras teorias que tentam
compreender e explicar o processo saúde-doença e sua representação social. Fonseca (1997)
discute que basicamente essas teorias estão dividas em três: a Teoria da Unicausalidade, a
Teoria da Multicausalidade e a Teoria da Determinação Social do Processo Saúde Doença.
Na Teoria da Unicausalidade, o entendimento e a representação do processo saúde-
doença dava-se a partir de uma única causa, a que se dava fora do organismo da pessoa. Ou
seja, nessas circunstâncias a pessoa não tinha controle sobre a saúde ou a doença, pois era
vítima de forças sobrenaturais externas, que agiam no seu corpo. Nessa forma de
entendimento, a representação social era de que as condições de saúde e doença não estavam
relacionadas às condições do corpo.
Com a evolução das forças produtivas e da ciência, ocorreram mudanças nas causas
atribuídas ao processo de adoecimento, principalmente na era bacteriológica. Com as doenças
transmissíveis, a causalidade é conseqüência de microorganismos, ocorrendo assim, uma
63
grande mudança no entendimento das causas do adoecimento: se no primeiro as causas eram
exclusivamente externas ao corpo das pessoas, no segundo momento, passam a ser atribuídas,
exclusivamente, ao funcionamento biológico e físico-químico. A representação social da
causa do adoecimento está vinculada ao corpo, independente dos aspectos externos.
A Teoria da Unicausalidade foi perdendo espaço quando os problemas de organização
social passam a atrair atenção para as condições de saúde das pessoas, evoluindo assim para a
Teoria Multicausal, surgida no final do século XIX e consolidada no século XX. Nessa
proposta, o processo saúde-doença possui várias causas, sendo consequência tanto dos
aspectos sociais quanto fatores psicobiológicos da pessoa. Nesse caso, a representação social
de saúde ou doença é constituída tanto das condições internas quanto externas das pessoas.
Ainda assim, as Teorias Unicausal e Multicausal não conseguem justificar o
surgimento da doença, evoluindo para uma nova teoria, a Teoria da Determinação Social do
Processo Saúde Doença. Nessa teoria, a causa do adoecimento deve ser buscada no contexto
social, nas formas de organização e construção da vida social, entendendo a saúde e a doença
como expressões do processo social. Nesse processo, pode-se entender como cada classe
social cria seus próprios padrões de saúde e doença, seja pelas condições negativas (infra-
estrutura, saneamento, alimentação, fatores econômicos, segurança, etc.), as quais oferecem
risco, ou positivas (possibilidade de sobrevivência, por meio dos recursos oferecidos). O
processo de construção das representações sociais sofre a influência das classes sociais
(BOLTANSKI, 2004).
Para analisar o processo saúde-doença no contexto social, deve-se levar em conta os
aspectos individuais ou singulares e os grupos sociais. Vale ressaltar que saúde e doença, no
contexto social, manifestam-se por meio de diferentes fenômenos sociais, de maior ou menor
intensidade dependendo do local e época em que ocorrem (FONSECA, 1997).
É nesse sentido, de entender as representações atribuídas à saúde e à doença no
trabalho, que esta pesquisa foi realizada. Acreditamos que esse é um caminho viável e
possível para elaborar e sugerir programas de intervenção como a ginástica laboral e a
ergonomia e se obter maior adesão por parte dos (as) trabalhadores (as).
64
3 OBJETIVOS
65
3.1 OBJETIVO GERAL
Analisar as representações sociais de saúde e doença de secretárias (os) das
Coordenações de Curso de uma universidade.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Verificar o perfil sociodemográfico das (os) secretárias (os) das Coordenações de
Curso.
Identificar as doenças ocupacionais relatadas pelos (as) participantes.
Identificar a representação social sobre a ergonomia.
Identificar a representação social sobre a ginástica laboral.
66
4 MÉTODO
67
Este é um estudo descritivo, de caráter qualitativo. De acordo com Marques et al.
(2006), a pesquisa qualitativa caracteriza-se por não possibilitar que os dados encontrados
possam ser matematizados, sendo, dessa forma, predominantemente utilizada nas áreas das
ciências sociais, principalmente em estudo que abordam as representações sociais.
4.1 LOCAL
A presente pesquisa foi realizada em uma Universidade particular, situada no estado
do Mato Grosso do Sul, nos setores de Coordenação de Cursos.
4.2 PARTICIPANTES
A instituição conta com 11 secretárias (os) de Curso que foram convidados a participar
desta pesquisa. Dez
8
pessoas concordaram em participar, sendo, nove do sexo feminino e um
do sexo masculino.
4.3 INSTRUMENTO
Para coleta de dados, utilizou-se entrevista estruturada. A entrevista foi elaborada pela
autora, composta por perguntas fechadas, abordando dados sociodemográficos (idade, sexo,
estado civil, grau de escolaridade, papel na estrutura familiar, renda familiar, estilo de vida,
prática de exercícios físicos, incidência de doenças ocupacionais, entre outros) e perguntas
abertas relacionadas à representação social de saúde e doença, conhecimento sobre ginástica
laboral e ergonomia (APÊNDICE A).
Os dados sociodemográficos estão relacionados a forma como as pessoas constituem
as representações sociais, pois compartilham desse conhecimento com grupos diferentes. A
entrevista foi escolhida como uma estratégia adequada para este tipo de estudo.
8
Num total de 11 pessoas que trabalham nessa função. Uma pessoa preferiu não fazer parte do estudo, embora
tenha solicitado ser entrevistada.
68
4.4 PROCEDIMENTOS E ASPECTOS ÉTICOS
Inicialmente, marcamos uma reunião com a responsável pelo setor de Gestão de
Pessoas, solicitando a autorização para realização da pesquisa. A reunião foi realizada,
ocasião em que foi efetuada a entrega do documento de solicitação, cópia do projeto e
explicação dos objetivos deste estudo, além da Folha de Rosto para Pesquisas com Seres
Humanos, do Ministério da Saúde, para ser assinada.
Após a autorização da instituição, o projeto foi encaminhado para análise, junto ao
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo sido aprovado (ANEXO).
Quando se obteve o resultado do CEP, entrou-se em contato com os coordenadores
dos Cursos, solicitando permissão para convidar as secretárias e secretário de Curso para
participarem do estudo. Com a devida autorização, convidamos os participantes pretendidos a
fazerem parte do estudo, sendo aceito pela maioria
9
.
Para as pessoas que consentiram em fazer parte deste estudo, em um primeiro
momento foram explicados os objetivos da pesquisa e agendado o dia e horário para a
realização da entrevista. Antes de iniciarmos a entrevista, foi entregue aos participantes o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B), de acordo com a Resolução n.
196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) (BRASIL, 1996).
As entrevistas foram realizadas no próprio local de trabalho e na sala dos professores
pertencente ao bloco onde se localiza o setor de trabalho do (a) participante. As entrevistas
foram gravadas após o consentimento do participante.
Após o término de todas as entrevistas, as fitas K7 foram transcritas na íntegra. Num
segundo momento, foram identificadas as respostas de cada uma das perguntas realizadas.
Dando seqüência, foi feita a análise dos relatos.
4.5 PROCEDIMENTOS E ANÁLISE DOS RELATOS
Para análise dos conteúdos das entrevistas, foram seguidos os seguintes passos:
9
Apenas um(a) secretário(a) de curso, preferiu não fazer parte do estudo.
69
a) Transcrição das entrevistas na íntegra;
b) Disposição dos relatos de acordo com cada pergunta realizada;
c) Leituras sucessivas do material para identificar os temas que emergiram em cada
questão;
d) Escolha das palavras que sintetizassem o conteúdo das falas dos participantes;
e) Escolha dos trechos dos relatos que representassem os temas elencados;
Durante o processo de transcrição, análise e discussão dos relatos foram utilizadas
para identificar os participantes do estudo, as seguintes siglas: a todos foi atribuída a letra “P”,
correspondente à participante seguida do número de identificação, escolhido pela ordem das
entrevistas realizadas. Essa foi a forma utilizada para identificar os participantes, sem revelar
sua identidade, preservando assim o seu anonimato.
Os dados sociodemográficos obtidos com a realização da entrevista foram tabulados,
utilizando-se de frequência, apresentados na forma de tabela. Posteriormente, foram
analisados e discutidos de acordo com a literatura estudada.
A análise dos relatos teve como base a Teoria das Representações Sociais, que utiliza
as construções coletivas, constituídas nas inter-relações cotidianas, extraindo dos relatos dos
participantes as representações sociais por eles constituidas. Essa forma de análise é embasada
em autoras como Jodelet (2005) e Arruda (2002).
70
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
71
Os participantes deste estudo foram as secretárias e o secretário de Curso de uma
universidade particular do estado do Mato Grosso do Sul. Este estudo teve como propósito
analisar a representação social de saúde e doença dos participantes, com o intuito de termos a
disposição elementos que possam auxiliar em medidas que visem trabalhar a promoção da
saúde e a prevenção da doença no ambiente de trabalho.
A seguir, iremos apresentar a análise dos dados sociodemográficos e das entrevistas,
as quais foram divididas de acordo com as perguntas realizadas. A primeira discussão refere-
se aos dados sociodemográficos.
5.1 SOCIODEMOGRÁFICOS DOS PARTICIPANTES
Antes de apresentarmos os dados sociodemográficos, será feita uma rápida descrição
sobre a carga horária de trabalho. A jornada de trabalho de todos os participantes é de 44
horas semanais, sendo que, de segunda a quinta, a jornada de trabalho é de nove horas diárias
e, na sexta, oito horas de trabalho, ressaltando que os trabalhadores têm uma hora de intervalo
para almoço. Os que ainda estão frequentando o curso superior permanecem na instituição nos
três turnos, dois desempenhando as tarefas laborais e um estudando.
De acordo com Dejours (1992), no decorrer da história, a carga horária de trabalho
sofreu significativas modificações, o número de horas trabalhadas reduziu e o rendimento
aumentou. Daft (2005) argumenta que a eficiência tem se sobreposto ao tempo de execução
das tarefas ocupacionais, para tanto, são imprescindíveis as boas condições de trabalho.
A qualidade da execução da tarefa ocupacional não depende só do tempo e das
condições de trabalho, mas também é influenciada por aspectos que envolvem a vida do
trabalhador. Algumas questões referentes aos dados sociodemográficos foram perguntadas a
cada participante, para que fosse possível conhecer um pouco mais da sua realidade, como
aspectos relacionados à idade, escolaridade, renda familiar, tempo na instituição e tempo na
função. Os dados sociodemográficos auxiliarão para entendermos a realidade dos
participantes, em relação ao trabalho e as representações sociais.
No Quadro 1, iremos apresentar os dados sociodemográficos de cada participante, com
os dados de cada pergunta realizada.
72
QUADRO 1 - Dados sociodemográficos dos participantes da pesquisa
Partici-
pante
Idade
(ano)
Estado
civil
Escolari-
dade
Tempo
de
insti-
tuição
(anos)
Tempo
na função
(anos)
Renda da
família
(R$)
N° de
pessoas
com
quem
mora
P1 21 S SC 5 5 1.200,00 10
P2 43 C SC 10 4 1.500,00 4
P3 37 C SC 16 9 1.500,00 5
P4 40 C SC 4,5 2 4.000,00 4
P5 24 C SI 3 3 1.400,00 2
P6 33 S SC 10 9 1.500,00 5
P7 34 D SC 6 6 1.500,00 4
P8 39 C SI 4 1 2.000,00 4
P9 33 S SI 3,5 3,5 1.500,00 2
P10 23 S SI 1,25 0,25 6.000,00 2
Legenda: solteiro (S); casado (C); divorciado (D); superior completo (SC); superior incompleto (SI).
A idade dos participantes do estudo variou entre 21 e 43 anos, sendo que nove pessoas
entrevistadas são do sexo feminino e uma do sexo masculino. Quanto ao estado civil, quatro
pessoas são solteiras, cinco são casadas e uma é divorciada. De todos os participantes, cinco
tem filhos, em média dois por pessoa.
Quanto à escolaridade, seis pessoas concluíram o nível superior, quatro estão na
universidade. Apenas uma pessoa com nível superior possui pós-graduação em nível de
especialização. O Curso de formação predominante é a Pedagogia, com quatro participantes,
seguida pela Publicidade e Propaganda, com dois participantes, além de Serviço Social,
Psicologia, Administração de Empresas e Engenharia Sanitária e Ambiental, cada uma
escolhida por um dos participantes deste estudo. Percebeu-se nos relatos dos participantes que
a grande maioria deles só ingressou em um curso superior, após iniciar suas atividades
laborais nessa instituição, devido à disponibilização de bolsas de capacitação aos seus
colaboradores. O auxílio financeiro ajuda as pessoas que não tenham possibilidades a se
formarem em um curso superior.
73
O tempo que cada um dos participantes está na instituição variou entre um ano e três
meses, para a pessoa que está há menos tempo, como a pessoa participante P10. E de 16 anos,
para a pessoa que está há mais tempo, como é o caso da pessoa participante P3.
Com esses dados, podemos analisar como alguns dos participantes mantêm o vínculo
empregatício com a instituição por longos períodos, o local, o contexto e a relação com o
trabalho interferem nas representações que o trabalhador e de seus familiares constituem. Isso
pôde ser identificado em uma das entrevistas realizadas, na qual a participante P3 comentou
que a filha estava em dúvida quanto ao curso escolhido, mas a instituição tinha que ser a que a
mãe trabalha, percebe-se que a filha construiu a sua representação social da universidade
associada a do trabalho da mãe.
Quanto aos anos que os participantes estão atuando diretamente na função de
secretária (o) de Curso, constatou-se o tempo de três meses para a pessoa que está atuando na
função há menos tempo. Já a pessoa que está a mais tempo na função, desempenha esse
trabalho há nove anos. O tempo na instituição e na função propiciara diferentes formas de
relação e de representação.
Os dados referentes à renda familiar apresentam mudanças significativas de pessoa
para pessoa. Em média, as famílias disponibilizam, aproximadamente, R$ 2.200,00, oscilando
entre R$ 1.200,00 à R$ 6.000,00, considerando que o número de pessoas por família variou
entre duas e dez pessoas. A renda por pessoa, de acordo com o número de integrantes por
família, é de R$ 120,00 para a família com menor renda e R$ 3.000,00 para a família com
maior renda financeira. A família com menor renda também é a mais numerosa e a de maior
renda é composta pelo menor número de pessoas, dessa forma pode-se inferir que a renda
familiar provoque significativas interferências nas possibilidades e prioridades de cada
família, assim como nas representações sociais.
Constatou-se que a maioria dos participantes assume junto a suas famílias
responsabilidades, sejam elas de auxílio financeiro, educacional, de assistência à saúde, entre
outros. Todas as pessoas entrevistadas moram com pessoas da família, sejam pais, irmãos,
sobrinhos ou companheiros (as). Todos contribuem financeiramente com suas famílias, em
graus de responsabilidade diferentes, embora a grande maioria seja responsável por grande
parte do sustento familiar. O trabalho representa para a maioria dos participantes, o
mecanismo de sustentação familiar.
74
As diferenças entre as rendas familiares das pessoas participantes podem ter
contribuído decisivamente no item abordado na próxima questão, referente à disponibilidade
de plano de saúde. Para muitas famílias, é inviável ter esse recurso, pois poderiam estar
comprometendo a subsistência dos familiares e a representação social de plano de saúde
também está relacionada a dispor de condição financeira elevada.
O objetivo da próxima questão foi de identificar se os participantes dispõem de plano
de saúde e quais as formas de atendimento à saúde, buscadas por eles.
5.2 QUANTO À DISPONIBILIDADE DE PLANO DE SAÚDE DOS
PARTICIPANTES
Quando os participantes foram perguntados se disponibilizavam de plano de saúde,
cinco responderam que tinham e os outros cinco, responderam que não. Aliás, uma
reivindicação unânime por parte dos participantes foi que a instituição oferecesse um plano de
saúde mais econômico, pois para muitos, a mensalidade do plano de saúde disponibilizado
compromete o orçamento familiar, tornando-se dessa forma inviável.
Percebeu-se que as pessoas que não têm plano de saúde buscam o atendimento com o
médico do trabalho da própria instituição, além do atendimento nas clínicas-escola. Porém,
quando existe uma maior urgência ou gravidade, os participantes deste estudo buscam os
serviços do atendimento público, geralmente nos bairros onde residem, como relatado em
seus depoimentos:
Pelo SUS! Geralmente, eu vou, no do meu bairro mesmo, lá tem um Posto
de Saúde. É o mais próximo lá de casa, que nós temos, aí quando precisa,
eles encaminham, ! (P1)
Não! Não tenho! É! Pelo SUS, no posto de saúde! Bom! Quando eu tô aqui,
é aqui mesmo! Com o médico do trabalho... E quando o caso é assim, um
pouquinho mais grave, a gente vai no posto de saúde. (P2)
Em alguns casos, os participantes têm que esperar por muito tempo por um
atendimento especializado, conforme relato a seguir:
75
Tem que esperar muito porque como é agenda, às vezes demora três meses,
dois, três meses, quatro meses, depende da disponibilidade da agenda do
médico. (P5)
Nesse caso, torna-se necessário destacar que, dependendo da situação, esse tempo de
espera pode comprometer significativamente a qualidade de vida dos usuários, por terem de
enfrentar longos períodos de desconforto, dor e angústia, além do risco de evolução do quadro
patológico. Percebemos que a maioria das pessoas que não tem plano de saúde, realmente
espera pelo atendimento, pois apenas um afirma buscar o atendimento particular. Todo esse
cenário de dificuldades encontradas pelas pessoas, para conseguirem atendimento de saúde,
influencia na forma como são constituidas as representações sociais de saúde e doença.
Kawamoto (1995) descreve sobre os níveis de aplicação de medidas preventivas à
doença, nos quais apresenta o período pré-patogênese, fase de promoção e proteção específica
à saúde, e período de patogênese, fase de diagnóstico e reabilitação. Considerando que a
maioria das pessoas ainda busca o atendimento médico quando apresenta sintomas e que, em
alguns casos, precisa esperar de três a quatro meses para ser atendida, podemos concluir que
são raras as intervenções em nível preventivo, ou durante a fase pré-patogênese.
Outra medida fundamental a ser trabalhada, em se tratando de prevenção da doença e
promoção da saúde, refere-se à prática de exercício físico. Com o objetivo de identificar a
incidência de práticas físicas na rotina dos participantes, foi realizada a próxima questão.
5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS
Tendo em vista que a prática de exercícios físicos tem se tornado uma importante
ferramenta na promoção da saúde e na prevenção da doença, como discutido por Nahas
(2003) procuramos identificar se os participantes realizavam algum exercício físico, no seu
dia-dia, assim como buscamos analisar as representações sociais de exercício físico.
Os relatos dos participantes deste estudo apontam que apenas um dos entrevistados
pratica exercícios físicos regularmente, ou seja, mantém uma rotina semanal, e nove são
sedentários. Pode-se perceber, de acordo com o relato de uma das pessoas participantes que a
representação social do exercício físico está vinculada a uma necessidade e não a uma medida
de promoção ou prevenção, como afirma em seu depoimento:
76
Eu vejo a importância para o bem estar mesmo, né? a saúde, ao corpo. Mas
não é nada de... Ah, eu tô precisando!!! ... né! (P1)
Com esse relato a participante estava referindo-se a sua forma física e boas condições
atuais de saúde. Este relato aponta para a necessidade de trabalhar a conscientização da
importância da prática de exercícios físicos, para manter o bom estado de saúde, ou seja, atuar
para a prevenção da doença e não apenas na reabilitação.
De acordo com os relatos dos participantes, foram identificados dois motivos
principais que levam ao sedentarismo, a falta de tempo e a falta de motivação. Três
participantes afirmam não praticar exercícios físicos pelo primeiro motivo, falta de tempo,
pela dificuldade em conciliar seus horários de trabalho, estudos e as tarefas familiares. A
seguir são apresentados alguns exemplos desses relatos:
Ah! Eu vejo que é muito importante praticar e eu sinto muita falta. Eu não
tenho tempo mesmo! É um pouco de relaxismo de minha parte! (P2)
Eu sei disso, mas é muito complicado porque eu acordo com tudo
atribulado, se eu for sair para caminhar [...]. (P7)
Atualmente não pratico por falta de tempo. (P10)
A falta de disponibilidade de tempo dos participantes para realização de exercícios
físicos, fora do turno de trabalho, pode ser atribuída aos seguintes aspectos: todos os
participantes fazem suas refeições na própria instituição, pois não dispõem de tempo para
voltar a suas casas; quatro ainda estão cursando o nível superior, permanecendo na instituição
durante os três turnos; cinco pessoas têm filhos, na sua grande maioria ainda crianças ou
adolescentes, o que requer grande tempo de dedicação e obrigações para com eles, além das
ocupações domésticas e administração de suas casas.
O outro motivo, apontado pelos participantes foi a falta de motivação para a realização
ou continuação das práticas físicas em sua rotina. A seguir, estão alguns relatos dos
participantes:
Faço caminhada um dia, daí já desanimo. E assim vai. Não tenho muita
sequência não. (P3)
Olha eu gosto muito de hidro. Mas ultimamente eu ando muito preguiçosa.
Não, não indo regularmente, né? Agora entrou o período de férias então... a
parada. (P5)
77
Eu sinto a necessidade de ir embora, eu quero ir pra casa. Eu não agüento
mais ficar aqui pra fazer academia. Só que daí quando eu chego em casa já
é muito tarde pra mim ir pra uma academia. (P6)
Sim. Praticava natação. Já faz algum tempo. Mas eu praticava. Só que é
assim, eu começo e paro. (P8)
Para Scliar (2002), inicialmente, as pessoas precisam ter a informação, depois a
atitude/comportamento, para só então, esse comportamento se tornar um hábito. Identificou-se
pelos relatos que os participantes têm a informação da importância dos exercícios físicos, em
muitos casos, até iniciam a prática, mas por uma série de fatores, como falta de tempo,
motivação, entre outros, raramente dão continuidade. Sendo assim, para poucas pessoas, as
práticas físicas se tornam um hábito.
Torna-se necessário resaltar que muito embora as pessoas tenham a informaçõa de que
a prática de exercícios físicos é importante para manter um bom estado de saúde e prevenir o
adoecimento, muitas vezes a rotina de trabalho e obrigações familiares, dificultam a
disponibilização de tempo para essa prática.
As pessoas, após interromper as práticas físicas, sentem falta dos benefícios que
obtinham com essa prática, como apontado pelos participantes em alguns relatos:
É e eu sinto falta! Porque agora eu percebo, já está bem mais complicado.
(P2)
Vixi! Quando eu tava fazendo, tava me sentindo muito bem! Tava sentindo
assim... Nossa! Saía, chegava em casa animada. Me sentindo muito bem!
(P3)
Mas eu sei que é muito importante [...]. Teve uma época que eu fazia
academia de manhã e caminhava 30 minutos no ginásio (academia escola) e
a minha qualidade de vida nesta época era muito diferente. Tenho
consciência disso. (P7)
Problema é de saúde mesmo. De, por ser sedentária, o organismo não
funciona direito. Tenho problema de intestino. É constipado alguns dias. E
é isso. (P8)
A falta de motivação para praticar exercícios físicos pode ser trabalhada com
informações a respeito da importância e necessidade dessa prática, na promoção da saúde e
prevenção da doença. Mas para que os benefícios possam ser constatados, deve-se manter a
regularidade das práticas físicas, ao longo da vida.
78
Também cabem aos órgãos governamentais relacionados à saúde ocupacional,
instituições empregadoras e profissionais da área da Educação Física, adotar medidas para que
a conscientização, realmente leve à prática de exercícios físicos regulares, destaca-se que para
trabalhar com informação e conscientização é necessário conhecer as representaçãoes das
práticas físicas para as pessoas. Foi identificado que os participantes estão cientes da
importância dos exercícios físicos para o seu bem estar, inclusive já praticaram, mas não se
sentem motivados para persistir. Nessas circunstâncias, pode ser viabilizada pela instituição
empregadora a adequação de espaços físicos já existentes, para possibilitar a prática de
exercícios físicos no próprio local de trabalho, de preferência durante a sua jornada de
trabalho. Essa medida iria ao encontro de uma das reivindicações dos participantes do estudo,
que afirmam não praticar exercícios físicos por não disponibilizarem de tempo.
Na instituição, existe o Projeto Academia Escola, que já tem uma boa participação de
alunos e funcionários da instituição. Esse projeto disponibiliza aos seus freqüentadores, aulas
de ginástica, musculação e atividades na piscina. Também vem sendo realizado o Programa
de Ginástica Laboral (PGL), que era realizada pelo Curso de Terapia Ocupacional e, a partir
do segundo semestre de 2008, foi assumida pelo Curso de Educação Física.
Para combater a falta de motivação, que de acordo com a representação social dos
participantes é uma justificativa para não realizarem exercícios físicos, poderiam ser
viabilizadas, além das sessões de ginástica laboral, formas de incentivo e acompanhamento,
para que às pessoas mantenham práticas regulares de exercícios físicos. Provavelmente, essas
medidas iriam auxiliar de forma positiva na adesão às atividades e contribuiriam na redução
de dores, afastamentos, faltas no trabalho, entre outros benefícios agregados, assim como no
processo de gestão administrativa, que está pautado na liderança e na capacidade de adaptação
às novas necessidades (HESSELBEIN, 1999).
Para que novas medidas sejam apontadas e as decisões tomadas possam surtir o
resultado esperado, torna-se necessário conhecer as necessidades dos trabalhadores e a sua
realidade. Baseados nesse entendimento foram realizados questionamentos sobre as condições
de saúde dos trabalhadores.
79
5.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CONDIÇÕES DE SAÚDE DOS
PARTICIPANTES
Com o objetivo de identificar as condições atuais de saúde e as representações sociais
dos participantes de acordo com os seus relatos, foram feitas algumas questões sobre o tema.
Essas informações são fundamentais para apontar as medidas necessárias para viabilizar a
promoção da saúde e a prevenção à doença, no contexto do trabalho. Foram apontadas pelos
participantes deste estudo, quatro respostas sobre suas condições de saúde. Sendo elas: muito
boa, boa, com problema/dor e fragilizada.
Percebemos que apesar de alguns participantes terem alguns sintomas leves, ou até
apresentar problemas mais sérios como as LER/DOR, eles não os consideraram doença. De
um modo geral, eles relataram ter muito boas ou boas condições de saúde, como demonstram
os relatos de alguns participantes:
Eu considero que eu tenho uma saúde muito boa. Graças a Deus! Exames
periódicos, eu sempre estou fazendo, regular, uma vez por ano. (P2)
São boas. São boas sim. Assim, não sei se a questão que você vai ficando
com mais idade, ou pelo estresse do dia a dia mesmo, eu tive problema de
LER. Eu tive afastada... (P3)
Boas. Estou acima do peso. Isso eu sei, tem certas coisas que dificultam tipo
assim, às vezes eu fico um pouco ofegante, cansada devido ao peso, coisa e
tal. Mas assim eu faço idéia de que tenho uma, uma saúde muito boa. É
difícil eu pegar gripe, é difícil eu ter algum problema de saúde.
Normalmente quando eu tenho que me ausentar do serviço é pra algum
exame rotineiro mesmo, que é ginecologista, dores de cabeça que às vezes
sinto. (P5)
É importante que as pessoas tenham claro que para continuar com boas condições de
saúde e de acordo com as representações sociais dos participantes, percebe-se que para ser
saudável é preciso, fazer exames periódicos, não se estressar e estar com o peso ideal, tornam-
se necessárias algumas medidas de promoção e prevenção. Como afirma Nahas (2003), para a
maioria das pessoas, a saúde é entendida como a ausência de doenças, a saúde depende de um
equilíbrio entre vários fatores, como nutrição, práticas físicas, comportamento preventivo,
controle do estresse, questões econômicas, interações social, entre outros inúmeros fatores. Já
para outros participantes, a representação social das condições de saúde estão relacionadas à
problema/dor e fragilidade, como identificamos em seus relatos:
80
Fragilizada. Fragilizada!!! Tanto emocional quanto biológica [...] Eu me
sinto depressiva às vezes [...]. Tem vezes que eu fico em casa, tem dias que
eu fico pior sabe? Na época das férias. Quando, quando a minha dor
aumenta muito que eu preciso tirar licença, então eu fico assim [...]. É o dia
inteiro só na cama porque eu não tenho ânimo para fazer nada. (P4)
Olha, fisicamente hoje eu tô com problema. Eu sinto muitas dores no braço.
(P6)
[...] Eu penso assim!!! Eu tô bem! Mas aí na mesma hora que eu penso que
tô bem, eu tô bem por quê? Eu não tenho assim aquela doença que eu tenho
que ir direto pro hospital, sabe? Alguma coisa assim que debilite, sabe? Eu
tenho que trabalhar, eu consigo trabalhar ainda. Na mesma hora eu penso
nas minhas dores. Aí, na mesma hora isso não é saúde. Teve época da
minha vida que eu não sentia dores, eu com 23, 24 anos, eu não sentia
dores, é a melhor coisa da vida. (P7)
Nos relatos dos participantes, percebe-se que os problemas de saúde são apresentados
de forma dicotômica, em físicos e psicológicos, tanto relacionadas a causas originárias no
âmbito ocupacional, como no âmbito familiar. Esses relatos vêm ao encontro das concepções
de Dejours (1992), que apontam que as pessoas, muitas vezes, por não terem condições de se
expressarem emocionalmente, de desabafarem seus problemas, suas angústias, frustrações,
vão acumulando sentimentos, dores até não suportarem mais, ou chegarem ao esgotamento.
Nesse sentido, as formas e condições de trabalho interferem de maneira significativa.
Para Queiroz (2003), o enfrentamento das situações apontadas no parágrafo anterior
requer uma visão mais ampla que apenas a doença ou o processo de adoecimento, que
contemple os aspectos psicossociais. Portanto, é necessário que os gestores em saúde,
profissionais, trabalhadores e administradores das organizações tenham uma visão ampla, não
reducionista do processo saúde e doença, além de levarem em conta as representações sociais
dos trabalhadores.
Fontes (1995) defende que a doença tem sido a engrenagem das indústrias
farmacêuticas, embora tenha provocado o aumento de gastos operacionais de muitas
empresas. Acredita-se que tanto pela viabilidade econômica, quanto pelo retorno obtido, as
instituições de trabalho que investirem na promoção da saúde, no próprio ambiente
ocupacional, terão resultados satisfatórios e economicamente viáveis.
81
5.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE PROBLEMAS DE SAÚDE E MEDIDAS
ADOTADAS
Com o propósito de ampliar o entendimento sobre as condições de saúde, questionou-
se a existência de problemas de saúde que, eventualmente, possam ter acometido os
participantes deste estudo. Assim como se buscou entender quais foram as medidas adotadas
no combate à doença e suas representações sociais.
De acordo com as respostas dos participantes, quatro afirmam não ter apresentado
problemas de saúde, ao longo de suas vidas, como se pode constatar nos seguintes relatos:
Não! Só coisinhas assim, dor de cabeça, nada de mais, normal! Neste caso,
quando são coisas que eu considero simples, eu venho no médico, aqui
mesmo no trabalho. Aí quando eles passam remédio, aí eu vou no posto e
pego. (P2)
Não. Não muito! Quando eu era pequena, só assim na infância que era
muita dor de cabeça que eu tinha. Dor de garganta, enxaqueca. Mas depois
que você começa, que a mente fica mais ocupada, não tem tempo pra ficar
doente não. (risos). Ah, vou... Tento verificar, o que que é que tá
acontecendo. Se é estresse no serviço, junto com a faculdade, com
problemas de casa, essas coisa né? Junta tudo, aí não há corpo nem mente
que aguente. (P5)
Mais grave não. (P6)
Não! (P7)
Percebe-se que as representações de problemas de saúde das pessoas que fazem parte
deste estudo vinculam-se a situações com um grau de gravidade maior, patologias mais
graves. Quando estão apresentando sintomas como dores de cabeça, estresse, fadiga, dores,
não os consideram como uma doença, mas como algo normal.
Uma pessoa afirma ter apresentado apenas os problemas mais simples, como gripes,
dores de cabeça. Quando apresenta esses sintomas, geralmente procura resolvê-los de forma
caseira, com chás e remédios naturais.
Os demais participantes afirmam já ter apresentado algum problema de saúde no
decorrer de suas vidas. As principais patologias que os trabalhadores relataram, foram as
LER/DORT (tendinite), Síndrome de Sjögren, nódulo mamário, lúpus discóide, depressão,
82
dores/desconfortos musculares, problemas de coluna. Os relatos sobre os problemas de saúde
revelam situações de doença graves. A seguir, está o relato de um dos participantes:
Foi no [...]. Na verdade ele começou na mão depois subindo, subindo. Tive
um problema sério no cotovelo e pro final foi muito serio aqui. (Toca o
ombro com a mão para mostrar local da dor). No ombro. Que travava
também. Repetitivo. É duas vezes que eu tirei licença bem grande mesmo
por conta!!! Quase um ano. Queimação. Queimava. Parecia que estava...
Formiga. Parecia que tava jogando coisa quente assim no meu braço. Sem
contar, que eu tinha que ficar fazendo massagem o tempo todo. Travava
meu pescoço. Teve época de eu ficar travadinha com o pescoço. Perda de
força! Não conseguia segurar as coisas não. Caia. Aí quando voltei da
minha última vez, eu comecei a fazer acupuntura. Foi excelente pra mim.
Eu nunca mais tive crise. Agora quando começa a me dar crise, eu tive uma
crise esse ano e não fui. Mas eu fui na fisio. Fiz uma semana diretão assim
de massagem, relaxamento e não voltei. Mas para mim o que resolve,
fisioterapia não é, é acupuntura. (P3)
Nessa parte do relato da participante P3, observamos a menção a sintomas de níveis
avançados das LER/DORT, como queimação, formigamento e perda de força. De acordo com
Melo (1998), as parestesias (formigamentos e queimação) são sintomas característicos do
grau II de evolução, já a perda de força é um sintoma típico do grau IV, o último na escala de
evolução das LER/DORT. A evolução das LER/DORT pode acarretar como consequência ao
trabalhador, a incapacidade física, tanto para o desenvolvimento das tarefas ocupacionais
como diárias. Em níveis crônicos, a dor é constante e a incapacidade física pode se tornar
permanente (OLIVEIRA, 2001).
Todos os tratamentos relacionados às LER/DORT devem estar associados ao
afastamento da tarefa de trabalho e/ou à readequação do posto de trabalho, que de acordo com
Chiavenato (1993), as faltas ao trabalho são definidas como absenteísmo. A pessoa que
apresenta os sintomas de LER/DORT, ou até mesmo quem não apresenta sintomas, mas está
exposto a situações de risco, como movimentos repetitivos e posturas inadequadas, deverá
realizar a prevenção da patologia, com alongamentos preparatórios e compensatórios,
educação postural, ingestão de líquidos, entre outras medidas preventivas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (1997 apud PESSINI;
BARCHIFONTAINE, 2002, p. 87), ocorrem “[...] cerca de 160 milhões de casos de doenças
ocupacionais por ano, dos quais 30 a 40% podem levar a uma doença crônica e 10% à
incapacidade permanente de trabalhar.” Cerca de 5 a 10% dos trabalhadores nos países em
83
desenvolvimento e 20 a 50% nos países industrializados têm acesso a um serviço de saúde
ocupacional adequado.
A mesma participante (P3) também relatou o seu sentimento em relação patologia e a
reação das pessoas, e identificou-se que a representação social da patologia está associada ao
sentimento de dúvida e descrédito, como descrito em seu relato:
Aí ficam achando que você tá inventando, que você não tá sentindo nada,
né! Porque ninguém tá vendo nada, não tem nada ali aparente. Porque a
pessoa tem que ver né! Então você fica assim, parece que você tá [...]. (P3)
As LER/DORT tendem a causar além dos danos físicos, inúmeros abalos psicológicos
ao trabalhador pela impossibilidade de realizar as suas tarefas diárias. De acordo com a
concepção de Araújo (1998), o trabalhador, muitas vezes, sofre preconceito por parte de
colegas de trabalho, da chefia e da própria família, que muitas vezes não acreditam, supondo
que se está usando a doença como uma desculpa para não trabalhar ou se beneficiar com
indenizações.
Uma das pessoas participantes (P4) relatou que teve diagnóstico de fibromialgia,
depressão, Síndrome de Sjögren e nódulo mamário. A participante P8 relatou ter lúpus
discóide, já os participantes P9 e P10 relacionaram problemas de saúde referentes a dores
musculares e na coluna, conforme relatos a seguir:
É assim, eu vinha fazendo tratamento de fibromialgia já algum tempo, né! E
não estava obtendo resultados. É, semestre passado eu fiquei uns três meses
afastada daqui. Foi aí que a gente começou a fazer novos exames, novos
tipos de exame até descobrir que eu tenho Síndrome de Sjögren [...]. Agora
tirei nódulo da mama, procurei médico, fiz o que tinha que ter feito. O
diagnóstico foi negativo e... mas assim... qualquer problema de saúde eu
vou direto ao médico. Busco logo! (P4)
Tá. Tá porque eu já algum tempo... Já faz o que? Tá com... A minha filha tá
com... Mais ou menos cinco anos que eu tenho problema de lúpus. Lúpus
discóide. Que a gente, que é asa de borboleta. Ele dá na face, na região
daqui (mostra no rosto). E essa doença tem muito a ver com estado, com
meu emocional. Eu tenho que tá bem pro lúpus não reagir. Não posso ficar
estressada [...]. (P8)
Tenho sentido o ombro esquerdo ultimamente. Teve uma vez que ele me
incomodou muito. Procurei o médico da [...] (instituição), ele passou
antiinflamatório, eu tomei e aliviou. (P9)
84
Sim. Machuquei a coluna e tratei com “shiatsu”
10
. (P10)
Para possibilitar um maior entendimento, iremos descrever resumidamente o conceito
e as causas da Síndrome de Sjögren e do lúpus discóide. De acordo com Felberg e Dantas
(2006), a Síndrome de Sjögren é uma doença sistêmica inflamatória crônica, auto-imune, que
afeta principalmente as glândulas lacrimais e salivares, provocando xeroftalmia (olhos secos)
e xerostomia (boca seca). Também pode afetar as glândulas sudoríparas, glândulas mucosas
do trato respiratório, gastrointestinal e uro-genital.
O lúpus discóide está sempre limitado à pele, apresentando inflamações cutâneas,
principalmente na face, nuca e couro cabeludo. Existem outros dois tipos de lúpus, o
sistêmico (considerado o mais grave, por afetar praticamente todos os órgãos e sistemas) e o
lúpus induzido por drogas, provocado pelo uso de certas drogas ou medicamentos. As causas
desencadeadoras do lúpus não são totalmente conhecidas, embora seja suposto que podem ser
de ordem genética ou ambiental, medicamentos, exposição a raios ultravioletas e o estresse. É
por causa desse último fator associado à causa, o estresse, que o lúpus pertence também ao
capítulo das doenças psicossomáticas (BALLONE, 2003).
De acordo com as idéias defendidas por Dejours (1992), a organização do trabalho
pode influenciar diretamente nos aspectos psicossociais dos trabalhadores, principalmente no
que tange as representações sociais, assim como a sobrecarga de trabalho, o clima
organizacional, a monotonia do trabalho, entre outros fatores. Portanto, uma estruturação
adequada do contexto de trabalho poderá refletir de forma bastante positiva nas condições de
saúde dos trabalhadores.
Quanto às medidas de enfrentamento e combate aos sintomas de doença, cinco
participantes afirmaram que buscam atendimento médico. Desses, metade procuram o médico
do trabalho e os demais, outros locais de atendimento, como Unidades Básicas de Saúde
(UBSs), Hospitais Universitários e atendimento particular, contribuindo dessa forma com a
melhora nas condições de saúde e ausência de doenças. Também encontramos as seguintes
formas de combate à doença: medicação caseira (1), atendimento fisioterápico (1), acupuntura
(1) e shiatsu (1).
10
A palavra SHIATSU é japonesa e significa pressão ("ATSU") com os dedos ("SHI"). Shiatsu é uma forma de
manipulação administrada pelos polegares, dedos e palmas, sem o uso de qualquer instrumento mecânico ou
de outro tipo para aplicar pressão na pele humana, corrigir disfunções internas, promover e manter saúde e
tratar doenças específicas (TATAGIBA, 2008).
85
São variadas as formas adotadas pelas pessoas para enfrentarem os sintomas e as
doenças. Os sintomas são manifestados pelas dores e desconfortos, que são sinais de alerta do
nosso corpo, para algo que não está bem.
5.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE DORES E DESCONFORTOS
MUSCULARES APRESENTADOS PELOS PARTICIPANTES
Buscando articular as condições de saúde relatadas pelos participantes e a ocorrência
de alguns sintomas, foi perguntado aos participantes se sentiam algum tipo de dor ou
desconforto corporal. Três dos participantes afirmaram não sentir nenhum tipo de dor ou
desconforto corporal, conforme os relatos a seguir:
Eu não sinto nada! Eu nem sinto dor [...] (risos). (P1)
Não. Eu to cheinha, mas eu [...]. Tá tudo bem comigo. (P5)
Não, eu não sinto desconforto. Mas é devido à doença que ela meio que
bagunça meu organismo. Sabe, por exemplo, é [...]. A medicação que eu
tomo ela ataca o rim. Só que graças a Deus o meu não atacou, porque,
porque eu fiquei com o remédio mais caro. (P8)
Mesmo que os participantes afirmassem não sentir dores ou desconforto, percebe-se
nas falas que, em alguns momentos, esses desconfortos ocorrem, seja pelo acúmulo de
trabalho, ou até em consequência de alguma patologia, como é o caso da participante P8.
O desconforto é o primeiro sintoma que ocorre quando estamos expostos a uma
situação de trabalho inadequada ou quando está sendo desencadeada uma disfunção orgânica.
Se não tratada, poderá evoluir para quadros clínicos mais graves, causando desgaste à pessoa,
abalos emocionais, custo operacional, entre outros problemas associados. Torna-se necessário
investigar a causa do desconforto e intervir antes que os sintomas evoluam. Onde a
representação social de doença é construída como algo visto e que precisa ser tratado.
Quanto aos participantes que afirmam sentir desconforto corporal, foram identificados
sete pessoas, um número considerável de participantes. A seguir o relato de um dos
participantes:
86
Sim! É na coluna! Na área lombar [...] na parte de baixo. Eu acho que é
falta de exercício! Isso, porque quando eu estou em pé ou caminhando, eu
não sinto, só quando eu sento, aí eu sinto dor. (P2)
A representação social de desconforto corporal foi atribuída ao sedentarismo. De
acordo com Nahas (2003), o exercício físico é um componente fundamental para aliviar as
tensões e desconfortos corporais, pois usa o excesso de adrenalina, reduzindo assim os níveis
de ansiedade, produzidas por sua tarefa laboral. Há a construção da representação social de
doença como a falta de exercício.
Os participantes P3 e P4 relatam os níveis do desconforto corporal e quais as
limitações provocadas, nos relatos a seguir:
Eu acho que desconforto [...]. Aqui né. (mostrando o ombro) Que não passa
de vez [...]. É. Direito. E nas pernas né. Eu sinto bastante cansaço. Chego
em casa com bastante dor. (P3)
Tenho. No ombro, hoje eu tava de um jeito que eu nem podia fazer assim ó
(faz movimento com os ombros para cima e para baixo). Tava com dor de
ouvido por causa da tendinite aqui no ombro (No ombro direito). Eu sinto
muito cansaço nas minhas pernas. Não sei se é de ficar muito tempo assim
parada, que a gente fica né! Mal, mal posicionada na verdade né! Aí eu
sinto muita dor nas minhas pernas. (P4)
A participante P7 relatada sintomas que poderiam manifestar a exisitência de doenças,
de acordo com o relato:
Ombro esquerdo (mão dominante). Esporadicamente as costa. Às vezes tem
formigamento. Às vezes tem perda de força. Às vezes se eu pegar uma
panela de pressão vazia, eu não dou conta de segurar. Às vezes eu acordo e
estou deitada em cima desse braço (direito), aí eu sinto que posso dormir
em cima desse (esquerdo, o que apresenta maior dor). Aí eu já fico me
policiando, e interfere muito na qualidade do meu sono. (P7)
Como descrito em nossa revisão de literatura, os sintomas das LER/DORT são
classificados em graus ou fases. De acordo com Melo (1998), os sintomas identificados no
depoimento da participante são característicos das fases II, III e IV. Considerando que a
última fase de evolução é o estágio IV, contata-se que o nível de evolução da LER/DORT da
participante P7 é preocupante. Se não for tratado brevemente, poderá evoluir para a
incapacidade física, impossibilitando-a de trabalhar, assim como de realizar atividades
cotidianas.
87
Os demais participantes apontam em seus relatos que sentem desconforto corporal na
região lombar e cervical, como descrito, nos relatos a seguir:
Muitas dores aqui nessa parte lombar. (P6)
Ombro esquerdo e às vezes no pescoço (cervical). (P9)
Sim. Sinto somente dores na coluna. (P10)
É provável que a origem das dores e desconfortos esteja associada aos movimentos
repetitivos e às posturas adotadas no ambiente ocupacional, assim como à inatividade física,
pois 90% dos participantes são sedentários. De acordo com Araújo (1998), as dores e os
desconfortos podem estar sendo provocadas ou influenciadas por hábitos diários, como ingerir
pouca água, pouco tempo para descanso, acúmulo de tarefas, no trabalho e em suas próprias
casas, entre outros.
Para Cañete (1996), as dores e desconfortos corporais são sinais de alerta, de que algo
não está bem, apontam para a existência ou aproximação de uma ameaça à integridade do
organismo, seja ela estrutural ou funcional. Em muitas situações, a dor também é um pedido
de ajuda silencioso.
Além do tratamento medicamentoso, sob orientação e prescrição médica, a dor poderá
ser combatida, inicialmente por meio de estudos e adequações ergonômicas, no local de
trabalho, com o intuito de diminuir os esforços e os movimentos repetitivos e melhorar as
posturas de trabalho. E pode ser complementada com a prática da ginástica laboral, para
preparar/aquecer e compensar as estruturas musculares mais requisitadas durante a tarefa
ocupacional, durante todos os processos de intervenção junto aos trabalhadores, deve-se levar
em consideração as suas representações sociais.
Estudos científicos têm comprovado a eficácia da ginástica laboral na redução de
dores e desconfortos. Em estudo realizado por Proença, Mendes e Leite (1998), com
funcionários públicos da cidade de Curitiba, PR, foi constatado que, após a implantação do
PGL, a incidência de algias musculares reduziu de 57%, para 14%.
Para identificar como é feito o combate às dores e desconfortos, foi perguntado aos
participantes deste estudo se os mesmos faziam uso de medicação. A afirmação negativa foi
apresentada por quatro (40%) pessoas e afirmativa por seis (60%).
88
Quanto ao uso de medicação, os antiinflamatórios são os mais utilizados pelos
participantes: quatro pessoas. Também é feito o uso de medicação para combater a
hipertensão arterial, ansiedade, Síndrome de Sjögren, problemas estomacais e circulatórios,
entre outros.
De acordo com Queiroz (2003), o uso da medicação é uma forma de amenizar os
sintomas e não o problema, pois se não for tratada a causa do desconforto, não se irá obter os
resultados desejados. O alívio proporcionado pelo uso da medicação dura enquanto estiver
agindo no organismo da pessoa, após, retorna a mesma situação anterior, que evolui
gradativamente.
As estratégias adotadas pelas pessoas para enfrentar as dores, os sintomas, as doenças
e também para cuidar da saúde, da vida, estão atreladas à maneira como visualizam o mundo
que circunda a sua volta, das representações sociais de saúde e doença que são construídas ao
longo de suas vidas.
5.7 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE SAÚDE
As representações sociais são teorias empregadas para analisar como se formam os
conhecimentos, a partir do senso comum. Para analisar as representações sociais de saúde, de
secretárias e secretário de Curso, foi realizada a seguinte pergunta: “O que é saúde para
você?”. As falas dos participantes foram agrupadas em categorias: bem estar e qualidade de
vida; prática de exercícios físicos; capacidade de trabalho; realização de exames clínicos
periódicos; conscientização; e ausência de dor, as quais foram identificadas e extraídas dos
relatos dos participantes.
Seis participantes deste estudo têm a representação social de saúde, associada ao bem
estar e a qualidade de vida como podemos identificar, nos seguintes relatos:
Saúde! É estar bem com a vida, de bem com o corpo, a mente, né! Saúde,
em resumo era isso. De bem com a vida! Tem tanta gente mal por aí! Tem o
espiritual, o físico, esse conjunto aí se refere a uma boa saúde. (P1)
Bem estar, qualidade de vida. É eu me sentir bem. Feliz, sabe? É saúde pra
mim !!! (P4)
89
Saúde pra mim é qualidade de vida. É praticar exercícios porque melhora
muito a auto-estima a gente se sente mais disposto. (P9)
Saúde é, acho que é bem estar. Você proporcionar a uma outra pessoa
satisfação. Acho que se você está bem contigo, com sua saúde, você acaba
influenciando outras pessoas também. Então, saúde pra mim, seria estar
bem comigo mesmo. (P10)
Ao analisarmos os relatos, podemos perceber que a representação social de saúde foi
contruída com base na sensação de bem estar, sentir-se bem por inteiro, sentir-se bem em
todos os aspectos, sentir-se feliz. A relação de saúde com sensação de bem-estar, também foi
encontrada por Espírito Santo (2005), em estudo realizado com professores de Educação
Física que atuam em academias do Rio de Janeiro e por Santos et al. (2005), em pesquisa
realizada com nefrologistas e pacientes com problemas renais crônicos, na cidade de Aracaju,
SE. Analisando os conteúdos, podemos identificar que os relatos estão em consonância com a
definição da Organização Mundial da Saúde (2001).
A representação social de saúde também foi associada, pela participante P9, à prática
de exercícios físicos, pois melhora sua auto-estima, fazendo uma relação com os benefícios
promovidos pelos exercícios físicos, como, discutido por Cañete (1996). Em estudo realizado
por Espírito Santo (2005), a representação de saúde também esteve associada à prática de
exercícios físicos, as pessoas que fizeram parte do estudo, também eram praticantes de
exercícios físicos, além de serem profissionais de Educação Física.
A representação social de saúde também foi relacionada às relações sociais, tanto na
esfera pessoal, quanto profissional. Para que as pessoas encontrem, em seu ambiente de
trabalho, condições favoráveis ao bem estar e às boas interações sociais, torna-se necessário
ter uma organização do trabalho que possibilite tais condições. Daft (2005) defende que, para
oferecer boas condições de trabalho às pessoas e à própria organização empresarial, a
organização do trabalho deve se dar em redes, com o envolvimento e a participação de todos,
com pessoas criativas, participativas e com grande capacidade de readaptação.
Para alguns dos participantes, a representação social de saúde está vinculada à idéia de
poder trabalhar, como apresentado pela participante em seu relato:
A saúde é muito importante, né! Porque sem ela nós não podemos
trabalhar. A gente sempre tem que estar procurando um médico para
cuidar da saúde. Alimentação, esporte! (P2)
90
A participante aponta que saúde é importante para que se possa trabalhar. Expressa,
dessa forma, a relação entre saúde/corpo e trabalho, assim como o valor do trabalho, pois para
ela o trabalho é fundamental para manter o seu sustento e de sua família, logo, sem ele, suas
condições de saúde ficariam prejudicadas. A relação da saúde com a capacidade de trabalho
também foi encontrada por Bercini e Tomanik (2002), em estudo realizado com as mulheres
dos pescadores em Porto Rico, Paraná. De acordo com Boltanski (2004), a concepção de
corpo como ferramenta de trabalho é uma característica muito forte no contexto do trabalho,
principalmente pelas classes sociais menos favorecidas, pois as representações são
constituídas a partir da realidade das pessoas e no caso, esta realidade refere-se a um contexto
de trabalho, onde as pessoas necessitam do esforço do seu corpo para subsidiarem a própria
subsistência.
A representação social de saúde está em consonância com o modelo biomédico. A
participante P2 afirma realizar exames clínicos periódicos, para saber como estão as suas
condições de saúde, sem esperar apresentar os sintomas. Atitude altamente positiva, que se
enquadra perfeitamente no conceito de saúde preventiva: adotar medidas para permanecer
saudável. A participante (P2) também relacionou a importância da alimentação e da prática de
exercício físico, embora seja sedentária. Nesse aspecto, existe a consciência, sabe-se da
importância e necessidade de praticar exercícios físicos, mas não existe a atitude, ou seja, a
prática (NAHAS, 2003).
Já o entendimento da participante P6 aponta para a importância e necessidade de
trabalhar a conscientização junto aos trabalhadores, pois a representação social de saúde, na
verdade, foi uma representação social de doença, além de apresentar uma visão dicotômica,
de acordo com o seu relato, descrito a seguir:
É estar bem psicologicamente e fisicamente. É assim, eu acho que gripe,
essas coisas, é tudo normal. Para mim o que seja mais grave que isso, que
você tem... Seja impedido de se locomover, de sair, fazer as coisas. Você
pode fazer aquilo que você pode que você gosta de fazer. Isso pra mim é
saúde. (P6)
As pessoas entrevistadas não consideram os sintomas como manifestações do processo
de adoecimento, pois enquanto puderem se locomover e trabalhar consideram-se saudáveis.
Essa representação social aponta para a necessidade de um trabalho de conscientização, pois
as pessoas só procuram auxílio, tratamento, quando os sintomas estão insuportáveis ou que as
91
deixem impossibilitadas de trabalhar. Nesse caso, não ocorre a prevenção da doença, somente
o combate à doença. Quanto à promoção da saúde, ela não é considerada, pois como já
apresentamos, até o entendimento de saúde é a representação social de doença.
A participante P7, que entende saúde como a ausência da dor, apresenta em seu relato:
Viver sem dor! (P7)
Nesse relato, percebe-se o quanto a dor e o desconforto tem influenciado nas
condições de vida e de trabalho da participante, a ponto de relacionar saúde à não doença, a
possibilidade de não sentir dor. A doença é vista dentro do modelo biomédico. A saúde
também foi relacionada à não doença em estudo realizado com portadores de Diabetes Melito,
por Lima, A. (2005).
De acordo com Scliar (2002), desde 1948, a saúde não é entendida como a mera
ausência de doenças. Portanto, a construção das representações sociais das pessoas aponta,
inicialmente, para a necessidade de se combater a doença, para a reabilitação, para só
posteriormente, retomar a promoção da saúde, pois para quem está sentindo dor, a prioridade
é eliminar esse mal, para só então se voltar para a concepção de um conceito de saúde mais
abrangente, mais totalitário.
Também pode ser considerado redundante o entendimento de saúde apresentado no
relato abaixo:
Saúde é tudo. Acho que a gente tem que tá, sabe, muito bem. Saúde em
primeiro lugar, o resto a gente corre atrás (8P).
Para Nahas (2003), a saúde não é obra do acaso, atribuída à sorte ou azar, mas sim,
uma conseqüência direta das atitudes adotadas no cotidiano, do estilo de vida adotado pelas
pessoas. Como pode-se identificar, em muitas situações, as representações sociais de saúde
são consideradas algo divino.
Embora este estudo tenha sido realizado no contexto de trabalho, apenas uma
participante (P2) relacionou a representação social de saúde à capacidade de trabalho, e uma
participante (P7) à não doença. Os demais participantes construíram suas representações em
contextos mais amplos, relacionados a sentimentos de felicidade, de bem estar, de qualidade
92
de vida, apontando a saúde a algo essencialmente fundamental em suas vidas, modificando a
aconstrução das representações sociais.
5.8 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE DOENÇA
Com o intuito de ampliar e aprofundar os conhecimentos acerca do binômio
saúde/doença, assim como com o objetivo de identificar e analisar a representação social de
doença, foi realizada a pergunta: “O que é doença para você?”.
Foram várias as representações empregadas pelos participantes para descrever doença,
embora sejam unânimes em afirmar que a doença é algo ruim, dano, sofrimento, dor, mal
estar, tristeza, ou seja, relacionada a sentimentos negativos. Percebe-se que o entendimento de
doença está sempre ligado a uma perda, ou a uma vivência dolorosa, como podemos observar
nos relatos dos participantes:
É mal estar [...] quando você não está bem consigo mesmo, nem com as
outras pessoas. Eu considero que seja doença, né! Por que se você não está
bem com você, nem com os outros [...]. É que depende assim, como você
está, ou como convive com as pessoas, você não vive bem né! Da maneira
como as pessoas te tratam! Até no seu trabalho atrapalha! Da maneira
como você está visto. (P2)
É ruim. Doença pra mim é quando você não tá bem. Você ta com... tá com
algum problema no seu organismo. Então, por exemplo, é tá com algum
problema. Ou seja ele interno, externo [...]. (P8)
Doença é você não tá bem fisicamente, mentalmente e isso afeta em todos
os processos. Com as suas relações sociais e com o seu dia a dia. (P5)
Os participantes associaram o entendimento de doença ao sentimento de mal estar,
embora um dos participantes faça menção ao estado emocional, às relações sociais, a como se
sente e a como é tratado por seus colegas de trabalho e familiares.
Os participantes construíram as suas representações de doença ancoradas em
sensações negativas, ao sentimento de mal estar, tanto nas relações internas, consigo próprio,
quanto relacionando-se com as demais pessoas. A representação de doença foi relacionada
com os aspectos orgânico-biológicos, psicológicos e sociais. De acordo com Alves e Rabelo
(1999), a representação social da doença é construída como uma forma das pessoas se
posicionarem e enfrentarem as situações de doença.
93
A representação social de doença também foi construída com base no sentimento de
dor, segundo o relato dos participantes, descritos a seguir:
Doença pra mim? É sentir dor. Uma doença [...]. Tem dias que eu falo: eu
não vou agüentar de tanta dor, sabe? De tanto desconforto. Por que existe
sabe? Essas indagações assim. Você fica se perguntando, por que eu?
Sofrendo. Por que isso aconteceu comigo, sabe? Tem dia que eu choro,
tem... Eu venho trabalhar para esquecer um pouco. E, aí vou tomando meus
remédios, até... Procurando confiar, esquecer [...]. (P4)
A dor é a doença! (P7)
Por meio dos relatos, percebe-se que as representações sociais de doença, revelam que
o que não é sentido, não é considerado doença. Assim, é importante observarmos que uma das
participantes (P4) aponta em sua fala, um profundo sofrimento, angústia, na qual o trabalho
parece ser a fuga de um sofrimento maior e a doença, assim como os remédios, uma forma de
demonstrar a sua tristeza e frustrações. A representação social de doença foi construída com
base na dor, mas revela um universo muito mais amplo e complexo, pois por meio da dor, a
participante expõe um profundo estado de tristeza, de insatisfação, de angústias, de revoltas e
de sofrimento. As representações compartilhadas pela participante denotam uma insatisfação
com o contexto social que a cerca, além de demonstrar a vontade de esquecer os seus
problemas e angústias.
A entrevistada P3 apresenta em seu relato, através de sua vivência, o sentimento de
inutilidade e invalidez provocado pelas limitações impostas pela doença:
É sofrimento. É ficar bem para baixo mesmo. Eu tô dizendo isso por mim.
Pelo que eu sentia na época [...] que eu tava doente né! Eu senti inválida.
Hoje eu posso dizer que a gente pode. Que é possível. Até então [...]. Que é
possível. No momento que eu estava doente eu achava que não. Eu ia
acabar tendo que aposentar daquele jeito... Quando eu retornei ao
trabalho, sabe? Eu criei uma força assim que eu queria continuar
trabalhando... eu não queria mais sair né? É, então, que eu tava contando
que foi quando eu retornei da licença. Que tava me sentindo muito mal.
Tava até com... Eu tive medo mesmo, de ficar depressiva pela situação
difícil. Que eu voltei, criei uma força que eu queria trabalhar. Que eu não
queria mais ficar daquele jeito, me sentindo inválida. Então eu comecei a
buscar tratamento alternativo. E aí que comecei a fazer acupuntura. E acho
que não só a minha força de vontade... Eu começava a sentir dor e me
irritava. E quanto mais eu me irritava, eu mais sentia dor (3P).
94
As participantes P3 e P4 compartilharam a representação social de doença, relacionada
ao sofrimento, ao sentimento de invalidez, provocados pelo trabalho. Enfrentou a doença pela
necessidade de se sentir capaz, de retornar ao trabalho, manifestando assim, em seu relato,
uma outra representação social: que só quando as pessoas estão aptas para o trabalho, são
consideradas úteis. A relação de doença e capacidade de trabalho, também foi encontrada em
estudo realizado por Santos et al. (2005), no qual a limitação ou incapacidade de trabalhar foi
atribuída por 41,6% dos participantes, para identificar o estar doente.
Dano, tristeza e a causa da doença também são representações sociais de doença
apresentadas nos relatos dos participantes, conforme exemplo a seguir:
Ai doença! A doença é algum dano, algo prejudicial ao meu bem estar, aí
me proporciona alguma doença, ? (P1)
Tristeza. Porque doença é uma coisa que não é boa. Te desmotiva, de
muitas coisas. Nós também temos uma parcela de responsabilidades por
ficarmos doente. (P9)
Eu não vejo doença, por exemplo, a depressão assim é uma doença. Mas
acho que o que chegou você a ter essas depressão acho que é a maior
doença. Uma insatisfação de alguma coisa. É algo que não te deixa bem
consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor. (P10)
Torna-se importante ressaltar que são várias as concepções que compõem a construção
das representações sociais de doença para as pessoas, embora todas elas estejam associadas
aos malefícios provocados por ela. A representação social de doença foi construída com base
na causa do adoecimento.
De acordo com Enumo (2003), o entendimento das representações sociais de saúde e
doença reflete como as pessoas entendem esse processo. Porém, devem ir além dos relatos e
serem associadas ao contexto social no qual cada pessoa está inserida.
Para a prevenção e o combate à doença, são necessárias ações conjuntas, que contem
com o comprometimento e envolvimento de cada uma das pessoas, por meio de suas atitudes.
Assim como o papel que cabe a instituição, disponibilizando e viabilizando o acesso a
programas de promoção da saúde e prevenção de doenças.
95
5.9 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADESÃO DOS PARTICIPANTES A
PROGRAMAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA
DOENÇA NO TRABALHO
A implantação de um programa ou medida de prevenção de doenças, ou de promoção
da saúde só atingirá seus objetivos, se forem adotadas medidas conjuntas realacionadas as
condições de trabalho e as representações dos trabalhadores. Dessa forma, buscou-se
identificar a possível adesão dos participantes aos programas de promoção da saúde no
trabalho, bem como identificar as medidas oferecidas para promover a saúde no trabalho.
Esta é uma questão que visa identificar quais representações sociais de promoção da
saúde e prevenção da doença dos participantes e a partir delas elaborar medidas para
promover a saúde e prevenir a doença. Assim como analisar a participação das pessoas.
Quando perguntados sobre a participação em iniciativas ou programas institucionais,
que visam à promoção da saúde, cinco participantes, responderam que participavam de um
PGL, conforme os relatos a seguir:
Aqui tem a ginástica laboral. Olha! Com relação à [...] como a gente estava
falando, normalmente nós temos reuniões, né! (P1)
Sim. Aqui, na instituição foi essa ginástica laboral, algumas palestras
também que teve. A gente tá sempre participando. (P5)
Sim. Ginástica laboral a gente já participou. (P6)
Aqui nós tínhamos a ginástica laboral, que se não me engano era o pessoal
da TO (Terapia Ocupacional) que fazia, só. (P7)
Sim. Eu participo das aulas laborais. (P9)
A representação social de medidas de promoção da saúde e prevenção da doença é
amplamente associada a prática da ginástica laboral. Polito e Bergamaschi (2002), defendem
que a ginástica laboral tem fins preventivos e terapêuticos.
Outros dois participantes construíram a representação social de promoção da saúde no
trabalho com base nas atividades desenvolvidas pela CIPA e também às atividades e palestras
que são realizadas anualmente, durante a SIPAT, de acordo com os relatos a seguir:
96
Eu já participei da CIPA, né. (Quando questionada sobre a participação na
ginástica laboral) Sim. Sempre quando tem eu participo e corro atrás, brigo
com o povo: vamos participar! (P3)
Participo aqui na instituição, sempre que tem. E esse ano, a semana da
SIPAT [...]. A gente tem muito treinamento para funcionários, mas nessa
questão aí não! (P2)
As atividades desenvolvidas pela CIPA são importantes no processo de promoção da
saúde, prevenção do adoecimentos, dos acidentes no trabalho e na construção das
representações sociais. A CIPA conta com a colaboração de trabalhadores, que são eleitos
pelos próprios colegas de trabalho, para representá-los junto a essa comissão, assim como
auxiliam na divulgação e orientação das medidas adotadas pela CIPA.
Diniz (2008) argumenta que, no atual conceito de organização do trabalho, tornou-se
necessário envolver os trabalhadores no processo de gestão da empresa e na tomada de
decisões. Portanto, o envolvimento de trabalhadores, junto a medidas adotadas pela CIPA é
fundamental para que se identifiquem os propósitos dessa comissão, como no caso, identificar
que a CIPA incentiva a promoção da saúde no ambiente ocupacional, modificando dessa
forma as representações sociais de saúde e doença e interferindo nas ações individuais e
coletivas, as quais poderão resultar efetivamente em uma melhora das condições de saúde e
redução da incidência de doenças.
Também identificamos por meio dos relatos de três participantes, que eles nunca
haviam participado ou se envolvido em programas de promoção da saúde.
Conhecer os motivos que levaram esses trabalhadores a não se envolverem em
programas relacionados à promoção da saúde pode ser uma alternativa para tentar envolvê-los
e estimulá-los a participar. Na busca por esclarecimentos que possam auxiliar na criação e
adoção de medidas de promoção à saúde, formulamos a próxima pergunta.
5.10 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE GINÁSTICA LABORAL
Buscando identificar e analisar as representações sociais de ginástica laboral,
perguntamos aos participantes: “O que é ginástica laboral para você?”. A representação social
97
de ginástica laboral é entendida pelos participantes deste estudo, como o alongamento e o
relaxamento, assim como atividades de promoção da saúde e prevenção da doença, conforme
os relatos a seguir:
Ginástica laboral! Significa alongamento e vêm nos auxiliando em nossa
postura, na pausa, alongamento, a mente, então ela trabalha com esta
questão. Significa uma promoção da saúde (risos)! E a prevenção do
adoecimento! (P1)
Ah! Eu acho muito importante, nós tínhamos uma menina que vinha dar
ginástica laboral para nós, duas vezes por semana. É muito importante,
você relaxa, é uma forma de trabalhar bem. É [...] nós fazíamos
relaxamento, quando você está tenso, aí você ia na ginástica e relaxava. É!
Quando a gente tá tenso na correria do trabalho [...]. (P2)
Bem, pelo que nós fizemos já, acredito que seja assim uma forma de você tá,
sei lá, esticando seu corpo, relaxando seu corpo, suas ferramentas de
trabalho, suas pernas, seus braços, sua mente, sem seu corpo em si.
Deixando ele mais relaxado pra, pra eu não ter doenças, assim físicas
mesmo, né? (P5)
Ginástica, atividade física, alongamento, para promover, pra facilitar ou
pra diminuir os seus nervos, seus ossos pra você poder trabalhar bem. Mas
ligada ao alongamento de musculatura do braço, da perna, dos ombros, do
pescoço. Pra você relaxar. Postura correta. (P6)
É um momento de tranqüilidade de relaxamento, os alongamentos são
ótimos, parece assim que você volta [...] te dá um gás. É muito bom! (P7)
É uma ginástica feita com técnico, com um professor, né? Da área, que dá
alguns exercícios de alongamento pros [...] para as pessoas que estão ali.
(P8)
Um estudo semelhante, realizado por Konrath (2006), com trabalhadores do Centro
Universitário FEEVALE, analisou a representação social do trabalho, para um grupo de
praticantes da ginástica laboral. A representação social da ginástica laboral foi semelhante,
sendo descrita como uma prática que visa promover o relaxamento, a saúde e a qualidade de
vida.
Já para os demais participantes deste estudo, quatro pessoas, a representação social da
ginástica laboral foi construída com base nas pausas na rotina de trabalho, nos momentos de
descontração e interação social com os colegas, de acordo com os depoimentos que seguem:
Acho que seria não só a prevenção [...]. Mas, você [...] só de você sair aqui
98
do seu posto, você encontra com seus colegas de trabalho, você tem aquele
momento ali, que por mais que [...] que por mais que você não tá né, ali né.
Como se diz? No momento ali para você descontrair mesmo, mas você já
[...]. Uma pausa que você encontra, que você acaba brincando, mesmo às
vezes não podendo, você brinca [...]. (P3)
É uma pausa no trabalho. É um cuidar de si, entendeu? É fazer um
alongamento, dar uma relaxada, descontrair né! (P4)
Eu acho que é um momento de descontração com os colegas de trabalho,
quanto você também dá uma revigorada assim. Logo após o almoço você
está meio desanimada, aí você vai lá e faz. Parece que te dá um pouco mais
de energia. (P9)
Então eu acho que ginástica laboral pra mim é uma forma de eu estar
melhorando, acho que, meu ritmo de trabalho, conhecer novas pessoas, sair
do seu ambiente de trabalho. (P10)
Os relatos dos participantes estão de acordo com os relatos encontrados por Konrath
(2006), onde a representação ginástica laboral aponta que essa prática pode ser uma
ferramenta de interação social entre os colegas, assim como, promoção do alívio de dores e
desconfortos. Por proporcionar um momento de descontração, no qual as interações sociais
sejam incentivadas, a ginástica laboral interfere nas formas de relação dos trabalhadores entre
si e com o contexto de trabalho, assim como nas representações sociais.
De acordo com os relatos dos participantes deste estudo, é possível constatar que os
benefícios promovidos pela ginástica laboral vão além do alívio dos desconfortos musculares,
mas estimulam a motivação e as interações sociais entre os participantes. Podem, portanto,
influenciar positivamente nos hábitos diários de seus participantes, resultando em uma
significativa contribuição na promoção da saúde e prevenção da doença.
De acordo com Cañete (1996), a ginástica laboral deve ter caráter humanizadora, que
realmente se proponha a aplicar medidas que promovam a motivação, a integração e a
valorização dos trabalhadores. Deve ser voluntária, para não se tornar mais uma obrigação.
Também deve ser prazerosa, para que os participantes se envolvam, despertando assim o
interesse e o hábito.
Contudo, é provável que ocorra redução nos níveis de absenteísmo, o que tende a gerar
considerável diminuição de custos operacionais, os quais poderão ser revertidos em medidas
efetivas de promoção da saúde na empresa, criando um benéfico ciclo de custo benefício para
a organização e os trabalhadores.
99
Cañete (1996) afirma que a ginástica laboral, aliada à ergonomia, parece ser a forma
encontrada para melhorar as condições de trabalho e lidar com os altos índices de
adoecimento no trabalho. Por isso, também foram analisadas quais são as representações
sociais de ergonomia para os participantes deste estudo.
5.11 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ERGONOMIA
Foi feita uma pergunta aos participantes deste estudo, sobre o entendimento acerca da
ergonomia. Por meio dos relatos, percebeu-se que três participantes não souberam responder o
que é ergonomia e os demais participantes conheciam o conceito. As representações sociais
de ergonomia partilhadas pelos participantes deste estudo se referem à criação de
equipamentos adequados, posturas de trabalho, conforto e ambiente de trabalho adequado.
Uma das pessoas participantes construiu seu entendimento acerca das representações
sociais de ergonomia, embasado na evolução da criação e fabricação de equipamentos, como
descrito em seu relato:
Ergonomia! Significa evolução na indústria que fabrica equipamentos, na
estrutura mesmo elétrica, hãm... Auxilia mesmo na evolução dos
equipamentos... Nós temos aquele apoio de braço, que ficou ótimo para nós
empregados. (P1)
A representação social de ergonomia foi construída com base na evolução da máquina
e da indústria. Pode-se dizer que foi feita uma associação da ergonomia com a evolução dos
recursos disponibilizados nos produtos que são desenvolvidos e melhoria nas condições de
trabalho. Os estudos ergonômicos estão sendo desenvolvidos de forma cada vez mais ampla e
em inúmeras etapas no processo de produção, definindo assim, os tipos de ergonomia citadas
em nossa revisão bibliográfica (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA, 2007).
Três participantes construíram a representação social de ergonomia, com base no
comportamento individual, nas posturas adotadas e no conforto, e não às condições de
trabalho, como mencionado nos relatos a seguir:
Ergonomia, eu acho que tem a ver aqui com meu posicionamento. Com
100
minha forma de atender o telefone, minha forma de sentar. (P3)
Postura. Postura correta. Que nós não estamos tendo aqui (risos). Aqui tá
tudo errado! (P4)
Para outros três participantes, a representação social de ergonomia é constituída acerca
das necessidades de melhoramentos do posto de trabalho, conforme relatos a seguir:
A cadeira até que eu gosto. A cadeira onde eu sento, tem aquele apoio pros
braços. Mas a luz sempre tá queimada, sempre fraca. O computador é
muito ruim também, a imagem, é, é escuro, é cansativo. O ambiente é
cansativo, é pesado. Os móveis são velhos assim, então, não te dá assim,
uma alegria, um conforto total para trabalhar assim. Porque você meio que
se deprime em ver: uma mesa velha, uma cadeira rasgada, um computador
lento né. (P5)
Equipamentos adequados pro trabalho. Ferramenta, mesas, móveis. Tudo
adequado pra que você desenvolva seu trabalho sem que você tenha
qualquer seqüela do seu trabalho. (P6)
Eu acho que seria, por exemplo, em termos de equipamentos de trabalho.
Acho que seria aquilo feito e adequado pro seu tipo de trabalho. (P10)
Ah, é relacionado ao trabalho, é a empresa te proporcionar um ambiente
para você poder trabalhar bem. (P7)
Nesses relatos, identifica-se que foram compartilhadas representações sociais do
trabalho, as quais são construídas com base nas condições do posto de trabalho, do mobiliário,
dos fatores ambientais, da qualidade dos equipamentos utilizados, os quais influenciam
diretamente nas condições de trabalho, podendo interferir na segurança, no conforto e bem-
estar do trabalhador. Iida (1993) afirma que a ergonomia é o estudo da relação da pessoa com
o seu ambiente de trabalho e equipamentos, possibilitando ao trabalhador, por meio de
dispositivos de regulagens, adequar os equipamentos às suas características físicas.
O trabalhador, por permanecer no local de trabalho diariamente, conhece as
dificuldades e as deficiências apresentadas, tendo condições de apontar os aspectos que
precisam ser melhorados. Logo, a sua participação no processo de readequação e
melhoramento das condições de trabalho é indispensável.
As representações sociais de ergonomia foram construídas com base nas experiências
vividas pelos participantes no próprio local de trabalho, ao mencionarem as posturas adotadas
na execução das tarefas laborais, equipamentos adequados e uso correto dos mesmos, assim
101
como o posto de trabalho deve oferecer segurança e conforto aos trabalhadores. Couto (2002)
afirma que a ergonomia prima pela segurança e conforto no trabalho, por meio do ajuste
harmonioso entre ser humano e ambiente.
Já outros três participantes afirmaram já ter ouvido falar em ergonomia, mas que não
saberiam defini-la, como relatam a seguir:
Sim, já ouvi falar, mas eu não entendo muito bem. (P2)
Ergonomia? Eu sabia! (risos) Esqueci. Mas eu sabia o que [...]. (P8)
Não saberei te explicar. (P9)
O fato de algumas pessoas não saberem o que é ergonomia aponta para a necessidade
de trabalhar a ergonomia de conscientização com os trabalhadores. De acordo com as
definições apresentadas pela Associação Brasileira de Ergonomia (2007), a ergonomia de
conscientização contempla a orientação e a capacitação dos trabalhadores para o uso correto
dos recursos ergonômicos disponibilizados no local de trabalho.
Independente do momento em que aplicamos os conceitos ergonômicos torna-se
necessário envolver o trabalhador nesse processo, por meio de sugestões, conscientização,
entre outros aspectos, principalmente as representações sociais. Pois muitas vezes, o posto de
trabalho apresenta recursos ergonômicos, os quais não são utilizados de forma correta, por
falta de orientação e capacitação.
A ergonomia, quando aliada à ginástica laboral, pode ser uma medida eficaz para
melhorar as condições de trabalho, assim como provocar influências na construção das
representações sociais. Com este intuito, foi realizada a próxima pergunta.
5.12 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DA GINÁSTICA LABORAL
E DAS INTERVENÇÕES ERGONÔMICAS EM SEU POSTO DE
TRABALHO
Essa pergunta teve como objetivo analisar a opinião dos participantes, sobre a prática
da ginástica laboral e das intervenções ergonômicas. Acredita-se que esse tipo de informação
poderá auxiliar na aplicação da ginástica laboral e da ergonomia no futuro.
102
Percebeu-se que todas as pessoas entrevistadas consideram importante a prática da
ginástica laboral e as intervenções ergonômicas, principalmente, por ser um momento de
descontração, uma pausa na rotina de trabalho. Pela rotina atribulada, os trabalhadores não
dispõem de tempo para cuidar da própria saúde, de acordo com os relatos a seguir:
Eu acho muito importante, que deveria ter em todos os setores. Que é muito
importante porque você trabalha bem. Eu acho que a gente tendo a
ginástica laboral, ia ser bom, pois é uma forma de trabalhar a prevenção.
(P2)
É bastante importante porque a gente se sente mais é acomodado no
ambiente de trabalho. E também te deixam um pouco mais disposto, mais à
vontade. (P9)
Eu acho ótimo! Porque se for esperar que a gente a cada uma hora, duas
horas, uma hora e meia pare, levante, alongue faça. Não faz. Não faz
porque não dá tempo. tá estranhando que o telefone não tá tocando. É
assim né, às vezes eu tô com dois telefones juntos, entendeu? A gente não,
não tem tempo de se cuidar, de parar e de fazer. Eu acho muito importante,
porque pelo menos uma vez assim sabe a gente pára e se cuida um pouco.
(P4)
Eu acho que é essencial. Hoje em dia é realmente essencial. (P10)
É gostoso! Dá, dá uma relaxada boa assim. Você vê que seu corpo tá tenso
[...]. (P5)
A representação social acerca da prática da ginástica laboral e das intervenções
ergonômicas compartilhadas pelos participantes desse estudo são amplamente positivas, pois
demonstra que as pessoas estão abertas a esse tipo de intervenção.
As adaptações ergonômicas já são realizadas pelo setor de segurança do trabalho, o
qual tem sido muito bem aceito pelos trabalhadores, como apresentados nos relatos. Porém
podemos aprimorar o trabalho se levarmos em conta às representações sociais dos
trabalhadores, para que de forma conjunta possam ser otimizados os recursos organizacionais,
humanos e ergonômicos, contribuindo para promover a saúde, prevenir a doença e as relações
no e com o trabalho.
Além das questões relatadas, ao término da entrevista, foi perguntado aos participantes
do estudo se gostariam de contribuir com mais alguma informação, por meio da seguinte
pergunta: Você gostaria de complementar com mais alguma informação? Os participantes
foram unânimes em afirmar que são favoráveis as iniciativas da empresa no que se refere a
103
promoção da saúde e prevenção da doença, como as intervenções ergonômicas e a prática da
ginástica laboral, embora ressaltem que seja necessário uma reorganização nas tarefas de
trabalho, para favorecer a participação, assim como destacaram serem favoráveis a realização
de outros estudos semelhantes a este.
104
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
105
As constantes modificações do ambiente ocupacional têm provocado transformações
sistemáticas no cotidiano dos trabalhadores, o ritmo de trabalho tem se intensificado, assim
como as exigências quanto à eficiência e agilidade de execução também. As condições de
trabalho foram modificando-se e, de modo geral, vêm sendo melhoradas, mas ainda não são
suficientes e eficientes a ponto de elimimar os efeitos nocivos, provocados pela execução da
tarefa ocupacional, ainda causem grande impacto na saúde dos trabalhadores.
Considerando os inúmeros prejuízos causados pelas doenças ocupacionais na vida dos
trabalhadores, assim como os altos custos gerados, tanto às organizações empregatícias,
quanto aos sistemas de saúde, nota-se a necessidade do desenvolvimento de estudos que
visem aprofundar os conhecimentos acerca do universo do trabalho, das percepções
construídas pelos trabalhadores sobre saúde e doença, para que possibilite melhores condições
de intervenções eficazes no que tange à melhora das condições de saúde, segurança e conforto
do trabalhador.
Assim, na busca de reforçar os parâmetros que nortearam este estudo, faz-se
necessário descrevermos os pontos fundamentais da pesquisa, como: os dados
sociodemográficos, a representação social de saúde, de doença, de ginástica laboral e de
ergonomia.
Tem sido crescente a utilização das teorias das representações sociais, na realização de
estudos relacionados a diferentes áreas, em especial nos estudos relacionados à saúde. Essa
escolha se dá, por inúmeros motivos, mas principalmente, pelo fato de que as representações
sociais construídas pelas pessoas norteiam suas ações.
Considerando a premissa de que o trabalhador comungue de um contexto de trabalho,
no qual as pessoas só se consideram doentes quando não conseguem trabalhar, torna-se difícil,
implantar medidas e programas que visem à promoção da saúde e prevenção da doença. Foi
constatado que as representações sociais de saúde dos participantes deste estudo estão
relacionadas ao bem-estar e à qualidade de vida, assim como relacionadas à prática de
exercícios físicos, embora a maioria dos participantes seja sedentária. A representação de
saúde também foi atribuída à capacidade de trabalho, à prevenção e à não doença.
a representação social de doença foi construída com base em sentimentos negativos,
como dano, sofrimento, dor, mal-estar e tristeza, assim como a inutilidade e a causa do
106
adoecimento. A representação social de doença construída pelos participantes deste estudo é
semelhante à representação de doença de outros grupos de trabalhadores já estudados.
Com relação à possível adesão em programas de promoção da saúde e prevenção da
doença, os participantes se mostraram favoráveis, embora alguns tenham afirmado que nunca
se envolveram em nenhuma atividade dessa natureza. A ginástica laboral, as atividades
desenvolvidas pela CIPA e as atividades realizadas durante a SIPAT foram identificadas
como medidas de promoção e prevenção já adotadas no local onde trabalham.
A ginástica laboral é entendida pelos participantes como a prática de alongamento e
relaxamento, que visa à promoção da saúde e à prevenção da doença. Os trabalhadores
identificam a ginástica laboral como uma quebra na rotina de trabalho, além de promover
momentos de descontração e integração social entre os participantes. Essa concepção é
altamente positiva, pois demonstra o quanto a prática da ginástica laboral poderá influenciar
nas melhores condições de trabalho, melhorando o clima organizacional e, possivelmente,
reduzindo níveis de estresse no trabalho.
No que se refere à ergonomia, alguns participantes não souberam expressar qual o seu
entendimento sobre essa temática. A representação social de ergonomia para os demais
participantes esteve ancorada no contexto de trabalho, atribuindo o conceito à evolução da
máquina (equipamentos) e da indústria, assim como às posturas adotadas na execução das
tarefas ocupacionais e ao conforto. Os melhoramentos realizados no posto de trabalho
também foram associados à ergonomia.
Embora as pessoas tenham diferentes concepções acerca do mesmo tema, todos os
participantes consideram importantes e são favoráveis a implantação do PGL e às
intervenções ergonômicas realizadas nos postos de trabalho.
A proposta deste estudo está inserida no Programa de Mestrado em Psicologia, da
UCDB, no qual já foram realizados outros trabalhos abordando as representações sociais de
saúde e doença. Foram realizados estudos envolvendo pessoas com retinopatia diabética
(LIMA, A., 2005), cuidadores domiciliares (SANTOS, 2006), cuidadores de pessoas que
freqüentam as Clínicas Escolas da UCDB (VERONESE, 2007), pessoas vivendo com
hipertensão e diabetes (SERPA, 2007) e crianças e adolescentes vivendo com obesidade,
participantes do Programa de Obesidade Infantil (POI) (GARCIA, 2008). Esses trabalhos
107
primaram pelo aprofundamento e ampliação dos aspectos relacionados à saúde e à doença, em
uma perspectiva integral do ser humano, utilizando-se das concepções construídas pelos
participantes, valorizando sua forma de pensar.
Enfatizando que os resultados apresentados são referentes a secretárias e secretário de
uma instituição de ensino superior, destacamos a necessidade de serem realizados outros
estudos envolvendo trabalhadores e o âmbito ocupacional, para que seja possível a adoção de
medidas eficazes no que se refere à promoção da saúde e prevenção da doença. Também
acreditamos que sejam necessárias adequações no contexto ocupacional, no que se refere às
gestões administrativas e organizacionais.
Pelos relatos, foi possível identificar que os trabalhadores estão sobrecarregados
emocionalmente e que a entrevista serviu como uma forma de desabafo, um momento de
partilha. Os participantes estão abertos a medidas que visam melhorar as condições de saúde e
de trabalho. Este estudo me proporcionou uma visão integrada do contexto de trabalho e do
trabalhador, sob o prisma das representações sociais de saúde e doença, possibilitando
maiores condições para adequar programas de promoção e prevenção, como a ginástica
laboral e a ergonomia às necessidades dos trabalhadores.
108
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SPINK, M. J. P.; FREZZA, R. M. Práticas discursivas e produção de sentidos: a perspectiva
115
da psicologia social. In: SPINK, M. J. P. (Org.). Práticas discursivas e produção de sentidos
no cotidiano: aproximações teóricos metodológicas. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2004. p. 17-39.
TATAGIBA, I. G. O que é Shiatsu? Disponível em:
<http://www.cdof.com.br/shiatsu1.htm>. Acesso em: 2 out. 2008.
TEIXEIRA, M. B. Empoderamento de idosos em grupos direcionados à promoção da saúde.
2002. 105 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) Fundação Oswaldo Cruz, Escola
Nacional de Saúde Pública; 2002.
TRIGO, T. R.; TENG, C. T.; HALLAK, J. E. C. Síndrome de burnout ou estafa profissional
e os transtornos psiquiátricos. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 34, n. 5, p. 223-
233, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rpc/v34n5/a04v34n5.pdf>. Acesso em:
12 maio 2009.
VERONESE, M. A. As representações sociais do cuidador para os familiares de usuários
atendidos pelas clínicas-escola da Universidade Católica Dom Bosco. 2007. 80 f. Dissertação
(Mestrado em Psicologia) Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, 2007.
116
APÊNDICES
117
APÊNDICE A Instrumento de coleta de dados
ROTEIRO DA ENTREVISTA
1) Identificação:
Idade:.......................................................................................................................................
Sexo:........................................................................................................................................
Estado civil:.............................................................................................................................
Escolaridade:...........................................................................................................................
Tempo que atua nesta função:.................................................................................................
Qual a sua jornada de trabalho? ..............................................................................................
Tem plano de saúde?...............................................................................................................
Pratica algum exercício físico? Qual? Com que freqüência? .................................................
Papel na que ocupa na estrutura familiar:...............................................................................
Renda familiar:........................................................................................................................
Número de pessoas que moram com você:.............................................................................
2) Como você considera as suas condições de saúde?
3) Já apresentou algum tipo de problema de saúde? O que você fez? Quando isso aconteceu?
4) Sente desconforto em alguma parte do corpo?
5) Você faz uso de alguma medicação? Qual (is)?
6) O que é saúde para você?
7) O que é doença para você?
8) Já participou ou participa de algum programa de promoção da saúde no trabalho? Qual?
9) O que é ginástica laboral para você?
10) Você já participou de atividades de ginástica laboral?
11) O que é ergonomia para você?
12) O que você acha sobre a prática da ginástica laboral e das intervenções ergonômicas em
seu posto de trabalho?
13) Você gostaria de complementar com mais alguma informação?
118
APÊNDICE B Termo de Consentimento
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
11
1. TITULO DO PROJETO DE PESQUISA:
REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE SAÚDE E DOENÇA: IMPLICAÇÕES NA GINÁSTICA LABORAL E
ERGONOMIA
2. PESQUISADOR(A)
Nome: Fabiane Maria Zat
CPF: 949963930-68 RG: 6075510401SSP/RS Telefone: (67) 9292-0162
Endereço: Rua Suécia nº190 Bairro Planalto Cidade: Campo Grande/MS
3. ORIENTADOR (A):
Nome: Profª Drª Angela Elizabeth Lapa Coêlho
CPF: 308688744-34 RG: 183924 SSP/PB Telefone: (67) 3312-3585
Endereço: Av. Tamandaré nº 6000 Jardim Seminário Cidade: Campo Grande/MS
4. OBJETIVOS DA PESQUISA:
Objetivo Geral: Analisar as representações sociais de saúde e doença para secretárias de curso de uma
universidade, situada no Mato Grosso do Sul. Objetivos Específicos: Verificar o perfil sócio
demográfico das (os) secretárias (os) das Coordenações de Curso; Analisar a representação social de
saúde e doença; Analisar a compreensão sobre a ergonomia e a ginástica laboral.
5. JUSTIFICATIVA DA PESQUISA:
O sistema capitalista ainda impera nos tempos atuais, porém muitas políticas voltadas à melhoria das
condições de trabalho, têm sido implantadas, como a gestão participativa, satisfação dos
colaboradores, programas relacionados à prevenção de doenças e promoção da saúde, como a ginástica
laboral, ergonomia, entre outros. Acredita-se que as representações sociais podem auxiliar no
entendimento de como os trabalhadores entendem esses programas acima mencionados, possibilitando
assim maior probabilidade de aceitação que estes virem a ser implantados.
6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:
Inicialmente marcamos uma reunião com setor de Gestão de Pessoas, solicitando a autorização para
realização da pesquisa na instituição. Primeiramente, solicitou-se reunião com a chefia do setor, para
entregado do documento de solicitação, cópia do projeto e explicação dos objetivos deste estudo, além
da Folha de Rosto para Pesquisas com Seres Humanos, do Ministério da Saúde. O projeto foi
autorizado pela instituição e foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB), para análise.
11
O modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é de responsabilidade do pesquisador e seu
conteúdo deve responder a dois critérios fundamentais: assegurar ao pesquisador a autonomia para publicação
dos resultados alcançados pela pesquisa e assegurar aos sujeitos que serão submetidos à pesquisa o direito de
se manifestar e apoiar ou não o que estiver sendo apresentado na posposta.
119
Posteriormente convidaremos as (os) secretárias (os) de curso a fazerem parte desta pesquisa. Em
seguida agendaremos a data e local para a realização das entrevistas.
Durante todo o tempo de pesquisa estaremos realizando observações e anotações no diário de campo,
referentes à situação de trabalho, comentários, queixas, as quais poderão servir de apoio na análise das
informações coletadas.
7. POSSÍVEIS DESCONFORTOS E RISCOS:
Por investigar a representação social de saúde e doença, através de entrevistas, as pessoas que
participarão deste estudo, poderão sentir-se desconfortáveis e/ou fragilizadas por abordarem temas
relacionados as suas próprias condições de saúde ou doença. Sentimentos provocados pelo trabalho
como angústia e medo, poderão ocorrer.
8. POSSÍVEIS BENEFÍCIOS ESPERADOS:
Terão oportunidade de falarem sobre suas concepções relacionadas ao trabalho, às condições de saúde
e doença, apontar suas necessidades e sugerir melhoramentos das condições de trabalho. Além de
receberem a devolutiva deste estudo, que possivelmente, apontará alternativas para minimizar os
efeitos maléficos do trabalho, assim como sugestões de melhoramento.
Considerando as informações constantes dos itens acima e as normas expressas na Resolução nº
196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde consinto, de modo livre e esclarecido,
participar da presente pesquisa na condição de participante da pesquisa, sabendo que:
1. A participação em todos os momentos e fases da pesquisa é voluntária e não implica quaisquer tipos
de despesa e/ou ressarcimento financeiro. Em havendo despesas operacionais, estas deverão estar
previstas no Cronograma de Desembolso Financeiro e em nenhuma hipótese poderão recair sobre o
sujeito da pesquisa e/ou seu responsável;
2. É garantida a liberdade de retirada do consentimento e da participação no respectivo estudo a
qualquer momento, sem qualquer prejuízo, punição ou atitude preconceituosa;
3. É garantido o anonimato;
4. Os dados coletados só serão utilizados para a pesquisa e os resultados poderão ser veiculados em
livros, ensaios e/ou artigos científicos em revistas especializadas e/ou em eventos científicos;
5. A pesquisa aqui proposta foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB), que a referenda e
6. O presente termo está assinado em duas vias.
Campo Grande-MS ......./......../.........
1) ........................................................................
Nome e assinatura do (a)
( ) Sujeito da pesquisa
( ) Responsável pelo participante
Meio de contato: ........................................
2) ........................................................................
Nome e assinatura do (a) pesquisador (a)
3) ........................................................................
Nome e assinatura do(a) orientador(a)
120
ANEXO
121
DECLARAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
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