36
defasagem das informações relativas ao objeto representado e que são
desigualmente acessíveis de acordo com os grupos; o foco sobre certos
aspectos do objeto, em função dos interesses e da implicação dos sujeitos; a
pressão à inferência referente à necessidade de agir, de tomar posição ou de
obter o reconhecimento e a adesão dos outros – elementos que vão
diferenciar o pensamento natural em suas operações, sua lógica e seu estilo;
2) Ao nível dos processos de formação das representações, a objetivação e a
ancoragem que explicam a interdependência entre a atividade cognitiva e
suas condições sociais de exercício, nos planos da organização dos
conteúdos, das significações e da utilidade que lhe são conferidas;
3) Ao nível das dimensões das representações relacionadas à edificação da
conduta: opinião, atitude e estereótipo, sobre os quais intervêm os sistemas
de comunicação midiáticos. Estes, segundo pesquisas sobre sua audiência,
têm propriedades estruturais diferentes, correspondentes à difusão, à
programação e à propaganda. A difusão é relacionada com a formação das
opiniões; a programação com a formação das atitudes e a propaganda com a
dos estereótipos (JODELET, 2001, p.30).
A comunicação, então, se mostra uma fonte de relações de influência
determinante das RS e do pensamento social, tendo uma grande importância nos
processos representativos, já que ela é o vetor de transmissão da linguagem que é
portadora em si mesma das representações, pois “partilhar uma idéia ou uma linguagem
é afirmar um vínculo social e uma identidade” (op. cit., p.34). Neste sentido, temos que
as RS governam a linguagem e que as atividades sociais “expressam suas
representações em linguagem” (MOSCOVICI, 2003, p.373), sendo então para o autor a
linguagem um espaço onde se constroem e se transformam as RS, pois é no discurso
que ocorre um contínuo processo de trabalho social, transformando o estranho em
familiar, porque “não há representações sociais sem linguagem, do mesmo modo que
sem elas não há sociedade” (op. cit., p.219).
O universo das representações sociais é o universo consensual, sendo que a
linguagem desempenha um importante papel, facilitando associações de idéias,
reconstruções de regras e valores, em que o desconhecido passa, simbolicamente, a
conhecido. A RS é um processo cotidiano inevitável. Por isso, é preciso levar em
consideração que ações humanas são influenciadas – seja de forma positiva ou negativa
– por suas nuances, que são repassadas e negociadas por meio da comunicação. Assim:
Interrogar o discurso parece, então, fundamental, não somente porque ele é
revelador primeiro da RS (que é uma RS não-verbalizada, e sobretudo como
ter acesso a ela senão pela linguagem), mas também porque é o lugar de
expressão da RS, tanto quanto as outras práticas sociais do sujeito.
(GROSSMANN; BOCH, 2006, p.31).