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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
JANINE RIBEIRO ISPHAIR WATZKO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA AGRESSÃO FÍSICA:
SUBSÍDIOS PARA O CUIDADO DE ENFERMAGEM
CURITIBA
2008
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JANINE RIBEIRO ISPHAIR WATZKO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA AGRESSÃO FÍSICA:
SUBSÍDIOS PARA O CUIDADO DE ENFERMAGEM
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Enfermagem, Área de
Concentração: Prática Profissional em
Enfermagem, Setor de Ciências da Saúde,
Universidade Federal do Paraná, como
parte das exigências para a obtenção do
título de Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Profª. Drª. Maria de Fátima Mantovani
CURITIBA
2008
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Watzko, Janine Ribeiro Isphair
Representações sociais da agressão física: subsídios para o cuidado
de enfermagem / Janine Ribeiro Isphair Watzko.- Curitiba, 2008.
97 f.:il.
Orientadora: Profª. Drª. Maria de Fátima Mantovani
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem. Setor de Ciências da Saúde. Universidade Federal do Paraná.
1. Agressão física. 2. Representações Sociais 3. Prática profissional de
enfermagem. I. Título.
Este trabalho é dedicado
à querida Vó Hilda. Exemplo de mulher,
esposa, mãe, avó e amiga. Você foi a
verdadeira mestre em nossas vidas.
Temos saudades.....
AGRADECIMENTOS
Ao Senhor, meu Deus, agradeço a proteção, a força e a luz lançadas em meu
caminho.
A meus pais, Amauri e Jenny, que sempre incentivaram meu caminhar na
Enfermagem, torcendo e orando por mim. Sou grata pela compreensão quando não
pude estar a seu lado.
A meu marido, Gilberto, que 20 anos compartilha comigo uma história de amor e
de amizade, história sempre fortalecida nos momentos de angústia e vitórias.
Obrigada, pelo constante estímulo e por me ensinar a manter sempre o otimismo.
À minha amada filha, Priscila, que mesmo com pouca idade, soube compreender o
escasso tempo de convivência, sempre aguardando que terminasse minha “lição”.
Você preenche meu coração de alegria e orgulho por ser sua mãe.
Às minhas queridas irmãs, Jeanie, Louise e Cristine, agradeço pelas vezes que
ocuparam meu lugar de mãe, assumindo os cuidados com minha Pri. Eu jamais
seria uma pessoa feliz sem vocês.
Ao meu cunhado, Márcio, sou grata pela valiosa ajuda durante a realização do
trabalho. Aos cunhados Júnior e Juliano agradeço a torcida e as palavras de
incentivo.
Às amigas, Amanda, Anne e Dona Gilza, sou muito grata pela generosidade e pela
torcida.
À professora doutora, Maria de Fátima Mantovani, que além de orientadora dedicada
e sempre disponível, me mostrou que laços afetivos compartilhados transcendem a
esfera acadêmica. Sou grata por tudo o que me ensinou e por ter acreditado em
meu trabalho.
Às professoras doutoras, Liliana Maria Labronici e Maria Sumie Koizumi, pelas
valiosas contribuições dadas a este estudo e pela participação na banca.
À professora doutora, Mariluci Maftum, sou grata pelas contribuições a este estudo e
pelo incentivo na arte de escrever. Agradeço a contribuição da professora doutora
Verônica Mazza quando da sua participação na banca de qualificação.
À Coordenação do Curso de Mestrado em Enfermagem, pelo apoio recebido durante
toda a trajetória de estudos.
Às professoras doutoras do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
UFPR, agradeço por compartilhar do imenso conhecimento. Em especial, a
professora doutora, Maria Ribeiro Lacerda; suas aulas serão sempre fonte de
inspiração.
À secretária do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Alcioni, obrigada
pela atenção e colaboração durante minha formação.
Aos queridos colegas do mestrado, agradeço o estímulo, as sugestões e o carinho
durante os dois anos de convivência.
Às amigas, Maria Isabel e Rute, companheiras do tema violência, sempre prontas a
me ajudar, revelando-me, em muitos momentos, como o afeto é essencial em nosso
caminho. Vocês são e sempre serão especiais.
Às queridas colegas e amigas, Isabella, Iolanda e Salete, sempre prontas a me
amparar, em todas as situações. Sou grata pela amizade e afeto de vocês.
Às colegas e amigas da Clínica da Mulher e da Criança, agradeço a compreensão
em minhas ausências e pelas vezes que assumiram parte de minhas tarefas.
À Secretaria Municipal de Saúde, na pessoa da secretária Telma Regina Bley,
agradeço a liberação para o desenvolvimento deste estudo.
Ao diretor acadêmico, Argos Gumbowski e diretor administrativo, Valdecir Bechel, da
Universidade do Contestado-Canoinhas, agradeço o apoio para a concretização
deste estudo.
À amiga Rosi, pela torcida e cuidado na formatação deste trabalho.
[...] É chegada a hora de despertar.
Aprender a lidar conosco mesmo.
Precisamos de políticas públicas que
nos ajudem no processo de cura.
Precisamos construir seres capazes
de reconstruir a si mesmos e a vida coletiva.
Capazes de rir e chorar com as dores
e as alegrias do mundo.
Participar. Sentir. Colaborar.
Cidadãos e cidadãs que reconheçam nos
órgãos públicos suas representações [...]
(Manja Coen, 2007)
WATZKO, JRI; MANTOVANI, MF. AS representações da agressão física:
subsídios para o cuidado de enfermagem. 2008. 97p. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
RESUMO
Trata-se de pesquisa descritiva que teve como objetivos identificar o perfil das
vítimas de agressão física decorrentes de causas externas atendidas no Pronto
Atendimento (PA) do município de Canoinhas-SC e apreender as representações
sociais sobre os motivos para a ocorrência deste agravo. Foi realizada no Pronto
Atendimento em 2 etapas: uma quantitativa e outra qualitativa. A quantitativa ocorreu
por meio do levantamento de 113 fichas de registro de atendimentos de agressão
física referentes ao período de janeiro de 2005 a dezembro de 2007. Foi possível, a
partir da análise dos dados, reconhecer a ocorrência de agressão física no município
e identificar o perfil das vítimas que segue a tendência apontada na literatura, com
predominância do sexo masculino - 81 (72%), entre adultos jovens - 42 (37,17%)
têm de 20 a 29 anos, seguida da faixa etária de 30 a 39 anos, com 27 (23,90%),
provenientes da área urbana - 89 (79%), vitimados com a utilização de força física -
70 (62%), seguido de ferimentos por arma de fogo e arma branca. A etapa
qualitativa se deu por meio de entrevista semi-estruturada com 16 vítimas de
agressão física, no peodo de abril a julho de 2008 e que após analisadas de acordo
com análise de conteúdo, possibilitaram emergir 3 temas: descrição da agressão
física, motivos para sua ocorrência e suas implicações. Os sujeitos descreveram a
agressão física como o resultado da falta de diálogo e de entendimento, como a
facilidade para a solução de conflitos e como reflexo da formão. Quanto às
motivações para a sua ocorrência foi apreendido dos discursos a sua utilização
como um instrumento de poder, com implicações para as vítimas representadas
como a consciência da vulnerabilidade, a ebulição de sentimentos e a experiência
da agressão. Quanto às representações sociais das vítimas de agressão física,
evidenciou-se que as mesmas perpassam por aspectos referentes à descrição do
fenômeno, e a busca de motivações e das implicações de sua ocorrência. Para os
sujeitos da pesquisa a agressão física está presente quando a capacidade de
diálogo e de argumentação são vencidas pela utilização do poder, e este fato reflete
a vulnerabilidade dos envolvidos.
Palavras- chave: agressão física, prática profissional, enfermagem
WATZKO, J.R.I.MANTOVANI, M.F. The social representations of physical
aggression: subsidies for the nursing care. Curitiba, 2008. 97 pg. Dissertation
(Masters Degree in Nursing) - Post-Graduation Program in Nursing, Universidade
Federal do Paraná.
ABSTRACT
This work is a descriptive research aimed to identify the profile of physical aggression
victims due to external causes, assisted in the Emergency Room (ER) in the city of
Canoinhas SC, and to learn the social representations about the motives for the
occurrence of this offense. The work was performed in the Emergency Room in 2
phases: one quantitative and other qualitative. The quantitative was made collecting
113 files of physical aggression assistance registers occurred within the period of
January 2005 December 2007. From the data analysis it was possible recognize
the occurrence of physical aggression in the city and identify the victims profile that
follows the tendency showed in the literature, with the predominance of male sex
81 (72%), among young adults 42 (37,17%) are between 20 – 29 years old,
followed by the age of 30 39, with 27 (23,90%), coming from the urban area 89
(79%), victimized by the physical force - 70 (62%), followed by injures from fire gun
and cutting weapon. The qualitative phase was made through semi-structured
interview with 16 victims of physical aggression, within the period of April - July 2008
and after being analysed according to the contents analysis, allowed the emerging of
3 themes: physical aggression description, motives for its occurrence and its
implications. The subjects described the physical aggressions as a result of lack of
dialogue and understanding, as an easy way to solve the conflicts and as a formation
reflex. Concerning the motivation for its occurrences it was taken from the statements
its utilization as a power instrument, with implications for the victims represented as
the consciousness of vulnerability, the feelings mobilization and the aggressions
experience. Concerning the social representations of the physical aggression victims,
it was evidenced that they pass through aspects referred to the phenomenom
description, and the search of motivations and implications of its occurrence. For the
research subjects the physical aggression is present when the dialogue and
argumentation capacity are defeated by the use of power, and this fact reflects the
vulnerability of the involved.
Key-words: physical aggression, professional practice, nursing,
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 – NÚMERO DE HOMICÍDIOS NO BRASIL DE 1993 A 2002.................22
TABELA 1 - INTERNAÇÕES POR CAUSAS EXTERNAS SEGUNDO SEXO
E TIPO DE CAUSA. BRASIL, 2000 ....................................................24
FIGURA 2 – MAPA ECOLÓGICO DA VIOLÊNCIA, ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE.........................................................................27
TABELA 2 - CARACTERIZAÇÃO DAS VÍTIMAS DE AGRESSÃO FÍSICA,
CANOINHAS 2008..............................................................................50
TABELA 3- CARACTERIZAÇÃO DO TIPO DE LESÃO, CANOINHAS 2008...........52
TABELA 4 – DISTRIBUIÇÃO DO TIPO DE LESÃO SEGUNDO O SEXO,
CANOINHAS 2008..............................................................................54
TABELA 5 – DISTRIBUIÇÃO DO TIPO DE ARMA UTILIZADO SEGUNDO O
SEXO E PROCEDÊNCIA, CANOINHAS 2008 ...................................55
FIGURA 3 - REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA AGRESSÃO FÍSICA
SEGUNDO AS VÍTIMAS CANOINHAS, 2008.....................................57
LISTA DE APÊNDICES E ANEXOS
APÊNDICE 1 - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: ETAPA
QUANTITATIVA.................................................................................83
APÊNDICE 2 - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: ETAPA
QUALITATIVA....................................................................................85
APÊNDICE 3 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............87
APÊNDICE 4 - TERMO DE CONSENTIMENTO DA INSTITUIÇÃO........................89
ANEXO 1 - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA......................................................91
ANEXO 2 - FICHA DE ATENDIMENTO DE URGÊNCIAS......................................93
LISTA DE ABREVIATURAS
ACS
Agentes Comunitários de Saúde
CAPS
Centro de Atendimento Psicossocial
CID-10
Classificação Internacional de Doenças- 10ª revisão
OMS
Organização Mundial da Saúde
SAMU
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
SIH/SUS
Sistema de Informões Hospitalares do SUS
SIM
Sistema de Informões sobre Mortalidade
SUS
Sistema Único de Saúde
UBS
Unidades Básicas de Saúde
UI
Unidade Intermediária
USB
Unidade de Suporte Básico
USF
Unidades de Saúde da Família
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................14
2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................20
2.1 CONCEITOS, ORIGEM E REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA........................26
2.2 A INCLUSÃO DA VIOLÊNCIA NA AGENDA DO SETOR SAÚDE......................32
2.3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E A VIOLÊNCIA................................................38
3 MÉTODO................................................................................................................44
3.1 TIPO DE ESTUDO..............................................................................................44
3.2 CAMPO DE INVESTIGAÇÃO .............................................................................45
3.3 UNIVERSO, AMOSTRA E SUJEITOS DO ESTUDO..........................................47
3.4 COLETA DE DADOS ..........................................................................................48
3.5 ANÁLISE DE DADOS..........................................................................................49
3.6 ASPECTOS ÉTICOS...........................................................................................50
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................51
4.1 PERFIL DAS TIMAS DE AGRESSÃO FÍSICA.................................................51
4.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA AGRESSÃO FÍSICA...................................57
4.2.1 A Descrição da Agressão física........................................................................59
4.2.2 Os motivos para a ocorrência da agressão física.............................................62
4.2.3 As implicações da agressão física para as vítimas ..........................................65
5 CONSIDERAÇÕES.................................................................................................71
6 REFERÊNCIAS......................................................................................................74
APÊNDICES E ANEXOS..........................................................................................83
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, dois processos têm produzido importantes mudanças no perfil das
doenças na população. O primeiro denomina-se transição demográfica com a
diminuição das taxas de natalidade e aumento da expectativa de vida, e o segundo
transição epidemiológica com as mudanças no perfil da morbimortalidade, neste
ocorre a diminuição da incidência de doenças infecciosas e aumento das doenças
crônicas não transmissíveis e dos agravos por causas externas (SOUZA, 2002).
O fenômeno da transição epidemiológica se configura como novo desafio
para gestores do setor saúde e para os profissionais devido ao crescimento das
causas externas, que são aquelas consideradas não naturais, lesões e
envenenamentos, englobando os acidentes e violências que as originam (OMS,
1996).
A violência, em suas variadas formas de manifestação vem sendo referida,
nos últimos anos, como um grave e relevante problema em diversos países,
inclusive no Brasil (Guimarães et. al, 2005) o que implica no reconhecimento de que
os serviços de saúde possuem um importante papel no seu enfrentamento
(REICHENHEIM; DIAS; MORAES, 2006).
Ressalta-se que o atendimento à vítima de causas externas percorre tanto
as unidades de atendimento ambulatorial como as hospitalares, entretanto, ela
aparece em maior número nas emergências hospitalares da rede pública do que nos
atendimentos ambulatoriais (SOUZA, 2002). Nesta perspectiva, os profissionais de
saúde, em especial os da enfermagem, estão em uma posição estratégica para
precocemente detectar riscos e identificar as possíveis vítimas de violência, e atuar
na prevenção.
De acordo com Deslandes (2002), são os profissionais de saúde que
convivem diariamente com a violência na demanda dos serviços, e o atendimento de
emergência pode ser visualizado como um indicador desta ocorrência no município,
ao mesmo tempo em que pode prover a primeira oportunidade para as timas
receberem suporte, assistência e proteção (DESLANDES, 1999). Entretanto, este
atendimento ao usuário em uma unidade de emergência é voltado à lesão causada
pelo trauma, e não inclui uma investigação e preocupação sobre sua origem, a qual
pode ser muitas vezes a vioncia física (LEAL; LOPES, 2005).
As informações acerca dos traumas e lesões mais freqüentes abrem para os
profissionais, inúmeras possibilidades de atuação, pois permitem o planejamento
dos serviços, a alocação de recursos e a própria avaliação da assistência prestada
e, ainda, sensibilizar os profissionais que prestam atendimento direto às vítimas na
discussão do problema das causas externas (GAWRYSZEWSKI; KOIZUMI; MELLO-
JORGE, 2004).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que aproximadamente 1,6
milhões de pessoas morrem a cada ano em decorrência da violência,
caracterizando-se em 2002, entre as principais causas de óbitos entre 15 a 44 anos,
na maioria dos países, e correspondeu a 14 % dos óbitos no sexo masculino e 7%
dos óbitos no sexo feminino desta faixa etária (OMS, 2002).
No Brasil, em 2003, 128.790 pessoas morreram por causas externas, e que
responderam pela terceira causa de óbito na população geral. Os homicídios
violência interpessoal representam quase 40% dos óbitos por causas externas,
com crescimento nas últimas décadas em todo o país (BRASIL, 2006). No estado de
Santa Catarina, no período de 1996 a 2006, 5638 pessoas morreram vítimas de
homicídios e, no município de Canoinhas, no mesmo período, ocorreram 56 óbitos
BRASIL, 2007).
Para que este quadro de elevada mortalidade e morbidade por violência no
Brasil seja compreendido na sua amplitude, é necessária a discussão de
determinados termos e conceitos como: desigualdade, injustiça, corrupção,
impunidade, deterioração institucional, violação dos direitos humanos, banalização e
pouca valorização da vida (MINAYO; SOUZA, 1999). É uma preocupação que deve
envolver as esferas social, política e econômica, haja vista que traz impacto direto à
qualidade de vida da população (PHEBO e MOURA, 2005).
A violência alcançou grande dimensão que pode ser considerada como
infrapolítica, pois é, ao mesmo tempo, causa e efeito da conjuntura (MINAYO e
SOUZA, 2003). Ela se constitui um fenômeno social e histórico de conceituação
complexa que encerra eventos de natureza diversa, relacionados às estruturas
sociais, econômicas, políticas, culturais e comportamentais, que, muitas vezes,
fundamentam e legitimam atos violentos. Este fenômeno apresenta uma forte
associação com a pobreza resultante das desigualdades sociais e da exclusão,
revestindo-se de complexidade seja pela multiplicidade de seus determinantes, ou
pela variedade de abordagens e potencialidades de intervenção (MALTA et al.
2007a). Como em uma epidemia, todos são afetados pela fonte comum de uma
estrutura social desigual, que alimenta e mantém ativos os focos de violência, em
especial, aqueles expressos nas relações intrafamiliares, de gênero, de classes e
nas instituições (MINAYO e SOUZA, 1993).
Ao reconhecer a relevância do tema, o Ministério da Saúde em 2000, reuniu
especialistas, gestores e profissionais que trabalham em serviços de urgência para
elaborar um documento estabelecendo as diretrizes e atividades para o setor saúde,
que resultou na construção de políticas intersetoriais. O documento foi pactuado no
Conselho Nacional de Saúde, e apresentado como a Política Nacional de Redução
da Morbimortalidade por Acidentes e Violências do Sistema Único de Saúde
PNRMAV/SUS (BRASIL, 2001b). Além disso, outras iniciativas surgiram no campo
da redução da violência com a implantação da Agenda do SUS como: a Política
Nacional de Atenção às Urgências, a Política Nacional de Promoção da Saúde, e a
estruturação da Vigilância de Violências e Acidentes (PIMENTA JUNIOR, 2007).
Esta política refere como princípio norteador que a promoção da saúde deve
embasar todos os planos, programas, projetos e atividades de redução da violência
(BRASIL, 2001b).
Ao incorporar a violência como problema de saúde, o setor sde assume
sua participação na busca da qualidade de vida da população, e o seu papel nas
estratégias de promão da sde e prevenção de doenças e agravos, além de
ões relativas à assistência, à recuperação e à reabilitação (SOUZA, 2002). A
violência passa a ser objeto de reflexão, também pelo papel que assume diante da
morbimortalidade, vitimizando crianças, jovens, adultos e idosos
indiscriminadamente (MINAYO e SOUZA, 1993). Sua inserção no contexto do setor
saúde es relacionada aos danos sicos e seqüelas, com a necessidade de
intervenção médica e biomédica, mas também ao elevando custo da assistência nas
emergências hospitalares e das internações das vítimas (GUIMARÃES et al., 2005).
Constata-se que mais do que uma necessidade, a atenção à violência
consiste numa demanda de saúde pública, ao mesmo tempo em que é uma
reivindicação no sentido de colocá-la na pauta para a discussão de conhecimentos,
práticas e políticas (GOMES, 1997). Portanto, levando-se em conta a tradição e a
credibilidade da saúde pública nas intervenções preventivas e promocionais no vel
dos grupos populacionais e na atenção às vítimas, as instituições e os profissionais
de saúde desempenham um papel fundamental no âmbito das políticas de
superação da violência e de suas conseqüências (MINAYO e SOUZA, 1999).
Este fenômeno desafia os saberes do campo da saúde, uma vez que o é
uma doença, não é resultado de nenhuma contaminação, e não representa nenhum
desequilíbrio orgânico. Entretanto, produz dor, sofrimento, lesões e morte
(DESLANDES, 1999).
Apesar da gravidade do problema, o que se observa é a quase inexistência
de estudos relacionados à violência e sua motivações, justificando a necessidade de
investigações e reflexões acerca da temática.
Nesta perspectiva, a compreensão do processo gerador da violência física
torna-se um instrumento necessário para que o enfermeiro, junto com outros
profissionais, possa traçar ações de combate e, conseqüentemente, atuar de
maneira positiva na promão da saúde dos indivíduos. Compreende-se que esse
fenômeno exige uma abordagem efetiva por parte dos enfermeiros, devido à
presença constante na sua práxis profissional (ALGERI e SOUZA, 2006). O
enfermeiro precisa estar preparado para o enfrentamento, detecção e prevenção
deste fenômeno, utilizando para tal uma abordagem holística, não focando seus
cuidados exclusivamente nas conseqüências físicas provocadas pelo ato violento.
De acordo com o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, da
Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002), é de responsabilidade dos
profissionais de saúde a preocupação e intervenção, de forma a identificar e
combater a violência. Entretanto, muitas vezes o profissional de saúde está pouco
atento para identificar as várias faces dos atendimentos incluídos na classificação de
causas externas, pois é comum, na emergência, desconsiderar a violência como
causa, e quando identificada considerá-la um evento normal para o tipo de pessoa
que está sendo atendida (LEAL, 2003). Os profissionais deveriam refletir sobre o
impacto da violência, na organização, no funcionamento dos serviços e nos custos
do sistema de saúde, além das repercussões para a saúde da população (FORTES,
2004).
Ao compartilhar das idéias de Agudelo (1999), para quem a violência
ameaça e nega não somente a saúde, mas o processo vital do homem por inteiro,
questionou-se as raízes deste fenômeno e suas repercussões para a saúde das
vítimas de violência física. Portanto, para dimensionar e compreender o impacto da
violência sobre a saúde são imprescinveis estudos interdisciplinares, que incluam
uma visão quantitativa e qualitativa do fenômeno. Não basta quantificar as vítimas e
os agressores, pois estes fazem parte de um contexto histórico e cultural, com suas
razões e motivações. Por isso, descobrir a magnitude e sentidos de sua ocorrência é
pré-requisito para a formulação de programas de promão e de prevenção deste
fenômeno (MINAYO, 2005). É preciso compreender seus determinantes em nível
coletivo e subjetivo, além de identificar grupos e populações de risco, contribuindo,
dessa forma, para o controle de seus processos e dinâmicas geradoras (SOUZA;
LIMA; VEIGA, 2005).
Ao desenvolver este estudo, teve-se o pressuposto de que as timas
possuem representações sobre os motivos que as levaram a sofrer violência, o que
pode ajudar a entender as expressões deste fenômeno em relação ao outro, seja em
sua individualidade ou no coletivo. Parte-se da idéia de que a perspectiva Teórica
das Representações Sociais (TRS) mostra que os indivíduos são seres de vida
social, partilham o mundo com os outros e com eles interagem continuamente, seja
na convergência ou no conflito, mas necessariamente em todas as situações que
envolvem a administração e o enfrentamento da vida (CRUZ, 2006).
Nesse sentido, Moscovici (1978) compreende que, na tentativa de explicar a
realidade, é criado coletivamente um conhecimento, o do senso comum, que
sistematiza os conceitos dispersos no cotidiano e lhes sentido, produzindo
identidade e orientando as condutas sociais. Isso significa que o sujeito é construído
pela realidade e, ao mesmo tempo, a constrói e, por fim as representações atribuem
um sentido compartilhado a esta realidade (CRUZ, 2006).
Assim, conhecer as representações das vítimas acerca da violência pode
trazer pistas para entender a lógica natural” que fundamenta as práticas sociais
implicadas nas relações dos sujeitos enquanto seres de vida social (SANTOS e
ALÉSSIO, 2006) e, nesta direção, pensou-se na seguinte questão norteadora:
Quem o as vítimas de violência física e como representam as condições
que as levaram a sofrer agressão física? Para responder esta questão, optou-se por
um estudo com abordagem quanti-qualitativa, voltada à apreensão das
representações das vítimas sobre a agressão e a construção de um perfil
epidemiológico sobre os sujeitos do estudo.
Com o fito de alcançar as respostas propuseram-se os seguintes objetivos:
Identificar o perfil das vítimas de agressão física decorrentes de causas
externas atendidas no Pronto Atendimento do município de Canoinhas
(SC).
Apreender as representações das vítimas sobre a ocorrência da agressão
física.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Na revisão de literatura será abordado o fenômeno da violência, com a
apresentação dos índices de morbimortalidade, origem, conceitos, classificações e a
trajetória de sua inserção como um problema de saúde pública. Em um segundo
momento, será discutida a utilização da Teoria das Representações Sociais para a
compreensão deste fenômeno.
2.1 EPIDEMIOLOGIA DA VIOLÊNCIA: IMPACTO E EVOLUÇÃO
A saúde e doença longe de serem fatalidade ou destino, são processos
históricos e sociais determinados pelo modo como cada sociedade vive, se organiza
e produz (BRASIL, 2006). A sde é uma necessidade do ser humano que foi e
permanece como uma das condições essenciais para o pleno exercício da vida
humana, motivo pelo qual tem permanecido como um valor para o indivíduo e a
sociedade (KIRCHHOF, 2003). Os pré-requisitos para seu alcance, apresentados na
Primeira Conferência Internacional sobre Promão da Saúde, realizada em Ottawa,
Canadá, em novembro de 1986, e reforçados pela Décima Nona Conferência
Internacional sobre Promoção da Saúde e Educação para a Saúde, realizada em
Vancouver, Canadá, em julho de 2007, são: paz, habitação, educação, alimentação,
renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e eqüidade. Neste
sentido, fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais,
comportamentais e biológicos podem tanto favorecer como prejudicar a saúde
(BRASIL,1986; UIPES, 2007).
Nessa perspectiva, a promão da saúde representa uma estratégia de
mediação entre as pessoas e o meio ambiente, com a combinação de escolhas
pessoais e possibilidades sociais, na busca da dimensão saudável do processo de
viver humano, em suas interações com o contexto ambiental (SILVA; LUNARDI;
LUNARDI FILHO; TAVARES, 2005).
A produção da saúde é um contínuo tecer, ao fortalecer conexões e criar
relações que contribuam para o bem-estar dos indivíduos e das coletividades. Essa
produção passa pelas relações dos seres humanos entre si e com o meio ambiente
em que vivem, do qual são, ao mesmo tempo, parte e agente (MENDONÇA;
INOJOSA e COSTA, 2007). Promover saúde, portanto, implica no fortalecimento dos
indivíduos, através da construção da capacidade de escolhas e do uso de
conhecimento, considerando as singularidades das vivências individuais e sociais
(SILVA; LUNARDI; LUNARDI FILHO; TAVARES, 2005).
Assim, as populações e indivíduos estão mais ou menos expostos aos riscos
de adoecer ou morrer em função de fatores associados às suas condições
biológicas, socioculturais e econômicas, mas as profundas transformações históricas
e sociais que a sociedade brasileira vem atravessando, têm levado a mudanças no
quadro epidemiológico, na produção e distribuição social dos problemas de saúde
(BRASIL, 2006).
As enfermidades infecciosas e parasitárias inseridas nos primeiros lugares
como causas de morbi-mortalidade, se sucederam as doenças vinculadas às
condições e estilos de vida, fenômeno denominado como transição epidemiológica
(MINAYO, 2004a). Neste processo, ocorreu a queda da taxa de mortalidade infantil,
a redução na mortalidade proporcional das doenças infecciosas, aumento das
doenças crônico-degenerativas, o que refletiu em um aumento da expectativa de
vida, contudo, as causas externas tornaram-se objeto de preocupação entre os
profissionais de saúde (GAWRYSZEWSKI, KOIZUMI, MELLO-JORGE, 2004).
Os acidentes e violências configuram um conjunto de eventos e lesões que
podem ou não levar a óbito, e são reconhecidos na Classificação Internacional das
Doenças (CID) como causas externas. Essas incluem uma extensão imensa de
eventos: todos os tipos de acidentes, lesões auto-provocadas voluntariamente,
agressões, eventos cuja intenção é indeterminada, intervenções legais e operações
de guerra, efeitos tardios provocados por lesões acidentais ou violentas e
complicações de assistência médica e cirúrgica (OMS, 1996).
Nos traumas que provocam enfermidades ou incapacidades, a Organização
Mundial de Saúde inclui as lesões físicas e psíquicas, os envenenamentos, os
ferimentos, as fraturas, as queimaduras e as intoxicações (MINAYO, 2005). O
indicador de mortalidade por causas externas engloba homicídios, suicídios e
acidentes fatais (MINAYO e SOUZA, 1999).
As análises das causas externas, entre elas a violência, m sendo feitas
com freqüência utilizando dados de mortalidade, por serem obtidos de maneira
sistematizada e apresentarem melhor qualidade da informão. Já a análise de
morbidade exige a criação de banco de dados especificamente desenhados para
esta finalidade (MELLO-JORGE; KOIZUMI, 2004).
É interessante destacar que, em 1930, cerca de 50% das mortes eram
causadas por doenças infecciosas ou parasitárias, já as causas externas e as
neoplasias correspondiam a 3%, e as doenças do aparelho circulatório a 12%
(BRASIL, 2006).
Desde a cada de 1960, o quadro de mortalidade geral revela a transição
das doenças infecto-parasitárias para a violência como fenômeno relevante, e o
ponto de inflexão está situado na década de 1980 que apresentou crescimento de
cerca de 29% na proporção de mortes violentas (MINAYO e SOUZA, 1999).
Em 2003, as doenças infecciosas e parasitárias respondiam por 5,2% das
mortes, as violências por 13,5%, as neoplasias por 16,2% e as doenças do aparelho
circulatório por 28,4%. No mesmo período, ocorreram 126.656 mortes violentas no
país, destacando-se as agressões com 51 mil, das quais 39.325 mortes por armas
de fogo, 108 por dia, 9 mortes a cada 2 horas, 1 morte a cada 14 minutos. Em 2004,
48.374 pessoas foram assassinadas, ou seja, 132 homicídios por dia, dos quais os
homens foram as maiores vítimas, 92 mortes em cada 100, o que representa 5,39%
do total de óbitos, apresentando uma taxa padronizada de mortalidade de 36,56 por
100 mil habitantes (BRASIL, 2006).
Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre 1990 e 2000, ocorreram
mais de 400 mil mortes por homicídios, das quais 70% por armas de fogo, número
que veio crescendo a cada ano. Em 1991, 50,3% (15.460) deles ocorreram por
armas de fogo, no ano 2000, esse percentual subiu para 68%, correspondendo ao
óbito de 30.855 pessoas. Os homicídios por arma de fogo representam a principal
causa de morte entre jovens e adultos até 39 anos no Brasil, ultrapassando inclusive
os acidentes de trânsito, evento que extermina os jovens, especialmente do sexo
masculino, com baixa renda e moradores das periferias (BRASIL, 2006; MINAYO,
2005).
Os óbitos causados pelas causas externas têm registrado um crescimento
expressivo no Brasil, atingindo principalmente homens jovens, impactando na
expectativa de vida, principalmente nas classes menos favorecidas (FORTES,
2004). O número de homicídios apresenta um crescimento freqüente (Gráfico 1),
pois de 1993 a 1995 houve um aumento acentuado, e nos anos seguintes o número
de homicídios cresce como que de forma regular, aumentando aproximadamente
5,5% ao ano (WAISELFISZ, 2004).
Número de homicídios no Brasil de 1993 a 2002
30586
32603
37128
38888
40507
41916
42914
45343
47899
49640
30000
35000
40000
45000
50000
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
FIGURA 1 – NÚMERO DE HOMICÍDIOS NO BRASIL DE 1993 A 2002
FONTE: Waiselfisz (2004, p.29)
No Brasil, as três primeiras causas de mortalidade são as doenças cardio-
vasculares, as violências e os acidentes e as neoplasias (Minayo, 2004a),
entretanto, as causas externas de mortalidade, que englobam acidentes e eventos
violentos, ocupam o primeiro lugar na faixa etária de 15 a 49 anos, e são também as
principais responsáveis por anos potenciais de vida perdidos (REICHENHEIN;
WERNECK,1994; MINAYO e SOUZA, 1999).
Em Santa Catarina, ocorreram, no período de 1996 a 2006, 5638 mortes
violentas, destacando-se as agressões com arma de fogo com 3180 ocorrências e
as agressões com arma branca com 1292 registros. No mesmo período, em
Canoinhas, ocorreram 56 homicídios com 28 agressões por arma de fogo e 19 por
arma branca (BRASIL, 2007).
Segundo Minayo e Souza (1999), este quadro de elevada mortalidade por
violência no Brasil não pode ser compreendido sem a apreensão de determinados
termos e conceitos como desigualdade, injustiça, corrupção, impunidade, violação
dos direitos humanos, bem como da banalização e pouca valorização da vida. Para
Phebo e Moura (2005), a violência é um tema que abarca fenômenos das esferas
social, política e econômica, e repercute diretamente na qualidade de vida da
população.
Os dados referentes às internações ou atendimentos de emergência não são
conseguidos facilmente, muitas vezes somente por meio de estudos específicos, por
este motivo os estudos dos índices de mortalidade revelam um panorama geral da
violência no país (GAWRYSZEWSKI, KOIZUMI, MELLO-JORGE, 2004). Para o
atendimento em pronto socorro, não existe o preenchimento de AIH (Autorização de
Internação Hospitalar), o que especificamente, em relação às lesões, subestima a
real importância da morbidade por essas causas (KOIZUMI; LEBRÃO; MELLO-
JORGE; PRIMERANO, 2000).
A morbidade por agressão física é difícil de ser mensurada, e isso se deve à
escassez de dados, a imprecisão das informões geradas através dos boletins de
ocorrência policial, a pouca visibilidade de determinados tipos de agravos ou ainda
pela multiplicidade de fatores que envolvem atos violentos. Contudo, não se pode
deixar de reconhecer que os eventos violentos inibem, modificam e enfraquecem a
qualidade e a capacidade de vida (MINAYO e SOUZA, 1999).
Dados do Ministério da Saúde (Tabela 1) mostram que, no ano 2000,
ocorreram 652.249 internações por causas externas, capítulo XX da CID-10,
destacando-se as internações por agressões com 29.880 registros para o sexo
masculino e 5.614 para o feminino, totalizando 35.494 ocorrências, respondendo por
5,4% do total de internamentos (GAWRYSZEWSKI; KOIZUMI e MELLO-JORGE,
2004).
TABELA 1 - INTERNAÇÕES POR CAUSAS EXTERNAS SEGUNDO SEXO E TIPO
DE CAUSA. BRASIL, 2000
MASCULINO FEMININO TOTAL
TIPO
N % N % N %
Acidentes de transporte 88.824 13,6
29.799 4,6
118.623 18,2
Quedas 187.896 28,8
91.433 14,0
279.336 42,8
Demais acidentes 127.607 19,6
57.572 8,8
185.179 28,4
Agressões 29.880 4,6
5.614 0,9
35.494 5,4
Lesões autoprovocadas 6.026 0,9
3.717 0,6
9.743 1,5
Indeterminado 16.645 2,5
7.229 1,1
23.874 8,7
TOTAL 456.878 70,1
195.364 29,9
652.249 100
FONTE: Gawryszewski, Koizumi, Mello-Jorge (2004, p. 997).
Esses agravos ocuparam o sétimo lugar no conjunto das internações,
incluindo-se internações por gravidez. Retirando-se essa rubrica, as causas externas
sobem para o sexto lugar. O custo dio de tratamento de pessoas feridas ou
traumatizadas por causas externas foi de R$ 506,52 (quinhentos e seis reais e
cinqüenta e dois centavos), equivalente a 3,4 salários mínimos, muito acima dos R$
403,38 (quatrocentos e três reais e trinta e oito centavos), ou a 2,7 sarios mínimos,
correspondentes ao custo médio das internações em geral (MINAYO, 2005). Assim,
pode-se afirmar que os gastos com as internações hospitalares por causas externas
o superiores àqueles decorrentes de causas naturais (MELLO-JORGE; KOIZUMI,
2004).
Os três principais meios de agressão que levaram à internação, no mesmo
período apresentado acima, foram: arma de fogo, com taxa de 0,067 por mil
habitantes e proporção de 33,2% de todas as hospitalizações; objetos cortantes e
penetrantes, com taxa de 0,053 e proporção de 26,4% e força física, com 0,030 e
14,8%, respectivamente. As lesões por arma de fogo foram responsáveis pela causa
de internação com maior taxa de mortalidade hospitalar (9,7% por cem internações)
e o maior custo (R$ 892,38) equivalente a 5,9 salários mínimos (SOUZA; LIMA e
VEIGA, 2005).
Estudo realizado por Wulkan; Parreira Junior e Botter (2005), mostrou como
principal causa do trauma facial a violência interpessoal, perfazendo um total de
48,1%, ficando evidente que a agressão é o mecanismo que resulta no maior
número de fraturas e contusões. Para Noronha et al. (1999), as agressões têm
muitos determinantes macro e microssociais que favorecem a ocorrência de conflitos
interpessoais.
Diante do exposto, o fenômeno da violência como um problema de saúde
pública é evidenciado, pois afeta a saúde individual e coletiva, exigindo a criação de
políticas para sua prevenção e controle (MINAYO, 2006).
2.1 CONCEITOS, ORIGEM E REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA
A violência não é fato novo na história da humanidade, pois diversos relatos
apresentam sua ocorrência desde os primórdios da civilizão. Entretanto, é na
atualidade que se encontram atos cada vez mais violentos na relação do homem
com o meio ambiente, deste com seus pares, seja nas relações de trabalho, sociais
ou familiares (CAMARGO e BURALLI, 1998).
É um fenômeno complexo e conhecer seus determinantes e os múltiplos
fatores envolvidos na sua gênese pode auxiliar a compreender e minimizar o seu
impacto na saúde da população (PHEBO e MOURA, 2005). Tem sua origem nas
necessidades e interesses antagônicos, os quais o geradores de um clima de
disputa de força e de poder, entretanto, percebe-se que jamais este fenômeno
atingiu os números da atualidade. Para Dias (2004), a violência é compreendida
como uma relação assimétrica de poder, com fins de dominação, exploração e
opressão. A autora afirma que este fenômeno é capaz de provocar doenças e
alterações negativas na integridade corporal, orgânica e emocional, além de
provocar a morte.
Ela é definida no Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, da OMS, como
uso intencional de força sica ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio,
contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha
qualquer probabilidade de resultar em morte, lesão, dano psicológico, problemas de
desenvolvimento ou privação (OMS, 2002, p.5). Os atos violentos intencionais
incluem o uso da força ou do poder, os quais podem resultar no aparecimento de
lesões físicas graves, bem como de distúrbios psicológicos e até óbito (PHEBO e
MOURA, 2005).
Neste sentido, Boff (1999) caracteriza nossa época pelo estigma da falta de
cuidado e pela perda da gentileza nas relações interpessoais e sociais. O autor
refere que um manto de violência pesa sobre a humanidade, e recorre-se
freqüentemente a atos violentos para resolver conflitos interpessoais e institucionais.
A ocorrência de atos violentos possui raízes em vários contextos, e
caracteriza-se por um fenômeno multicausal, em que não existe um fator de risco
que, isoladamente, possa determinar o seu aparecimento. Por este motivo, torna-se
difícil sua abordagem. É necessária uma visão ampla do assunto e que considere os
fatores relacionados ao indivíduo, às relações que desenvolve, à comunidade onde
vive, e à sociedade em geral, que atuam de forma conjunta no aparecimento de atos
violentos (OMS, 2002).
Em nível individual, alguns fatores podem influenciar a relação que o
indivíduo desenvolve com os atos violentos que ocorrem em seu cotidiano. Portanto,
aspectos biológicos, comportamentais e da história de vida podem agir aumentando
o risco ou a proteção à violência (PHEBO e MOURA, 2005).
Nos estudos científicos, existem no mínimo três correntes que buscam
explicar a origem da violência. Uma sustenta a idéia de que ela é resultante de
necessidades biológicas, outra explica o fenômeno a partir, exclusivamente, do
arbítrio dos sujeitos, e a terceira apresenta o âmbito social como o ambiente
dominante na sua produção (MINAYO, 2005).
Nesta perspectiva, o Relatório Mundial sobre Violência da Organização
Mundial da Saúde (OMS, 2002) propõe um modelo de elucidação das raízes deste
fenômeno, apresentando quatro níveis de explicação. A Figura I Modelo Ecológico
da Violência, apresenta de forma esquemática como os fatores relacionados ao
indivíduo, às relações que ele desenvolve na comunidade onde vive, inserida na
sociedade em geral, que atuam de forma conjunta na ocorrência do fenômeno e
pode ajudar a compreender sua natureza complexa (PHEBO e MOURA, 2005).
FIGURA 2 MAPA ECOLÓGICO DA VIOLÊNCIA, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE
FONTE: Phebo e Moura (2005, p.190)
O primeiro nível busca identificar os fatores biológicos e pessoais de cada
indivíduo, concentrando-se nas características comportamentais e da história de vida
que aumentam a possibilidade do indivíduo ser vítima ou agressor. Por exemplo, o
fato de ser homem e jovem pode colocar o indivíduo em maior risco de envolver-se
em cenários violentos (PHEBO e MOURA, 2005). No segundo vel, são
identificados os fatores relacionais, evidenciando-se as interações sociais entre
companheiros, colegas, parceiros íntimos, membros da família, e sua influência na
vitimização ou perpetuação da violência. O terceiro vel apresenta os fatores
comunitários e sua influência na dinâmica do evento, e são incluídos os locais de
trabalho, a escola e a vizinhança, e como problemas o desemprego, o tráfico de
drogas e armas. Em quarto lugar, são apresentados os fatores sociais mais amplos
que contextualizam os índices de violência, como as normas culturais que a
justificam, validam o uso abusivo da força pela polícia, e as normas que apóiam
conflitos políticos (MINAYO, 2006). Neste vel, encontram-se também os fatores
socioeconômicos, os quais possuem um papel de destaque na gênese dos conflitos
(PHEBO e MOURA, 2005).
Há, deste modo, uma concepção subjacente às hipóteses discutidas
anteriormente de que a violência é moldada tanto por fatores estruturais e
INDIVÍDUO
RELAÇÕES
COMUNIDADE
SOCIEDADE
institucionais, quanto por fatores culturais e interpessoais (NORONHA et al., 1999).
Isto implica preservar a idéia de que ela tem raízes sociais e culturais, manifestando-
se em contextos diferentes, entretanto, o seu aumento tem menos a ver com o
contexto no qual se manifesta e mais com as condições que lhe dão origem
(MINAYO, 2005).
Assim, ela é tanto uma conseqüência da neuroadaptação aos fatores
psicossociais e ambientais, quanto uma conseqüência dos efeitos biológicos no
desenvolvimento psicossocial (GRISSO citado por KRISTENSEN et al., 2003).
Portanto, não existem causas únicas, pois a violência é um fenômeno social e
histórico de conceituação complexa, que encerra eventos de natureza diversa
relacionados às estruturas sociais, econômicas, políticas, culturais e
comportamentais, os quais, muitas vezes, fundamentam e legitimam atos de
violência (MALTA et al., 2007a).
O conceito de violência não tem definição simples, pois envolve valores de
cada cultura, o que gera dificuldade para identificar atos violentos em diferentes
culturas (ARANHA, MARTINS, 2005). É um fenômeno que varia em suas formas de
expressão de uma cultura para outra, de um período histórico para outro em uma
mesma comunidade, assim como em seu significado para os diferentes grupos
sociais que a vivenciam (ANCHIETA e GALINKIN, 2005).
Atualmente, é identificada nos espaços públicos e privados, espresente
nas relações institucionais, grupais e interpessoais, ocorre em tempos de guerra e
de suposta paz, não existindo elementos suficientes para explicar domínio tão amplo
e com interconexões ainda pouco conhecidas (SCHRAIBER; D’OLIVEIRA e
COUTO, 2006).
Violência deriva do latim violentia, significando a qualidade de violento,
qualidade daquele que atua com força ou grande ímpeto, opressão ou tirania, ou o
uso de qualquer força contra a vontade, liberdade ou resistência da pessoa. Pode
significar, ainda, constrangimento físico ou moral exercido sobre alguma pessoa,
obrigando-a a submeter-se à vontade de outra (KRISTENSEN et al., 2003). Muitas
outras definições existem, e por ser um fenômeno que atinge todas as pessoas e as
afeta sica e emocionalmente, foge a qualquer conceituação definitiva (MINAYO,
2005). Nesse sentido, o fenômeno também é difícil de enfrentar pelos muitos
significados que possui (SCHRAIBER et al.,2005).
Em termos legais, refere-se a constrangimento físico ou moral, podendo ser
praticado por força física ou por coerção (SCHWANCK; PAULETTI; ZORZO;
GOMES, 2005).
Várias são as formas de violência, e neste estudo optou-se pela
classificação em três grandes grupos: auto-infligida, interpessoal e coletiva (Krug et
al., 2002), por entender que contempla diferentes dimensões vivenciadas pelos
profissionais de saúde, em especial pela enfermagem, e também por entender que a
clareza conceitual sobre os diversos grupos é fundamental para que se possa
reconhecê-la.
A violência auto-infligida é aquela dirigida contra si mesmo, através de
comportamento suicida ou auto-abusivo. O primeiro tipo abrange pensamentos e
tentativas de suicídio, enquanto o segundo refere-se a atos de agressão a si próprio
e auto-mutilação (MINAYO, 2006).
Outro grupo refere-se à violência interpessoal, que é aquela infligida por
outra pessoa ou grupo, este ainda pode ser subdividido em duas categorias:
violência intrafamiliar e comunitária (KRUG et al., 2002). Enquadra-se neste grupo a
violência física’, foco deste estudo, entendida como aquela que ocorre quando uma
pessoa, em relação de poder sobre outra, causa ou tenta causar dano, utilizando
força sica ou algum tipo de arma, o que pode provocar ou não lesões (BRASIL,
2001a).
Para Hermann (2007), a violência sica é entendida como qualquer conduta
que ofenda a integridade ou a saúde corporal do ser humano. Ela pode se
manifestar em graus crescentes de severidade e de várias formas, contudo, estas
não são produzidas isoladamente, e fazem parte de uma seqüência de episódios.
A agressão é definida por Gianini; Litvoc e Eluf Neto (1999), como qualquer
atitude que tem por intenção ferir ou ofender outro indivíduo, e pode ser classificada
em três aspectos: sica ou verbal, ativa ou passiva, direta ou indireta. É um
comportamento que apresenta dificuldades de investigação em função da grande
amplitude de atitudes consideradas agressivas manifestas e encobertas de critérios
subjetivos em sua interpretação como os valores e juízo, da multiplicidade de fatores
causais, com variações de acordo com gênero e idade dos envolvidos e finalmente
porque seu surgimento e evolução também variam (LEME, 2004).
A violência coletiva refere-se a ações de conjuntos maiores, que ocorre nos
âmbitos macrossociais, políticos e econômicos, na qual os atos violentos
caracterizam a dominação de grupos e do Estado (MINAYO, 2006). Dentro deste
grupo, situa-se a violência social, política e econômica (PINHEIRO e ALMEIDA,
2003).
O ato violento pode ser classificado também conforme a sua natureza:
sexual, psicológica, privação ou negligência. O abuso psicológico diz respeito a
agressões verbais ou gestuais, que causa ou visa causar dano à auto-estima, à
identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. Abuso sexual é toda ação na qual
uma pessoa em relação de poder, utilizando força sica, coerção ou intimidação
psicológica, obriga outra a manter relação sexual contra sua vontade. Ocorre em
diferentes modalidades como estupro, sexo forçado no casamento, abuso sexual
infantil, abuso incestuoso e assédio sexual. E por negligência entende-se a
ausência, abandono ou recusa de cuidados a alguém que necessita de atenção e
assistência (BRASIL, 2001a).
Sabe-se pouco sobre como as diversas dimensões da violência,
categorizadas neste estudo como auto-infligida, interpessoal e coletiva se articulam,
e sobre como estas dimensões originam uma teia complexa em que uma impulsiona
a outra (NORONHA et al.,1999).
Atualmente, este fenômeno ocorre em todos os segmentos sociais,
econômicos, culturais e políticos, e muitas vezes faz parte da forma diária de vida
das pessoas. Nesta linha ampla de compreensão do que seja a violência, pode-se
incluir em sua realidade um mero expressivo de manifestações. Afinal, passam a
ocupar espaço fatos humanos de uma diversidade enorme. Isto é, ela es em tudo
que é capaz de imprimir sofrimento ou destruição ao corpo do homem, bem como o
que pode degradar ou causar transtorno à sua integridade psíquica (MINAYO,
2005). Neste sentido, fica evidente que o tema violência deve ser reconhecido e
discutido nos diferentes contextos em que é vivenciada, entre eles o setor de sde,
buscando o seu enfrentamento.
A reflexão desenvolvida acima mostra a necessidade dos profissionais de
saúde trabalharem não com modelos epidemiológicos, mas de incluírem a
compreensão dos fatores e contextos envolvidos nos comportamentos, ações e
processos violentos (MINAYO, 2005).
2.2 A INCLUSÃO DA VIOLÊNCIA NA AGENDA DO SETOR SAÚDE
A violência tradicionalmente foi tratada no âmbito do direito criminal ou da
segurança pública, porém, a partir da década de 60, mudanças ocorreram. Destaca-
se a pediatria americana e seus estudos sobre a chamada Síndrome do bebê
espancado, caracterizando-a como um agravo para o crescimento e
desenvolvimento infantil, fazendo com que vários países reconhecessem os maus-
tratos às crianças como um problema de saúde pública. Uma década depois, vários
países criaram programas preventivos assistenciais de violência intrafamiliar
(MINAYO, 2007).
A partir da cada de 70, o movimento feminista inseriu, na pauta de
discussão, a violência contra a mulher, ao apontar a opressão e a dominação da
cultura patriarcal, dando ênfase à violência de gênero (MINAYO, 2007).
Devido a mudanças significativas nos perfis de morbimortalidade nas regiões
latino-americanas, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) recomendou, a
partir de 1993, que os países membros incluíssem a violência como tema em sua
agenda de intervenção. E a situação agravante, em muitas outras partes do mundo,
levou a Organizão Mundial da Saúde a dedicar prioridade às violências na
Assembléia Mundial de Saúde, em 1997, o que culminou na publicação do informe
Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, estimulando uma reflexão sobre a
responsabilidade do setor de saúde sobre o tema (MINAYO, 2004a).
O tema violência e saúde comou a ser pesquisado, no Brasil, na década
de 1980, evidenciando seu impacto na saúde da população brasileira (LEAL e
LOPES, 2005). A agenda do setor admitiu a discussão sobre a problemática frente a
dois aspectos: o primeiro devido à ampliação da consciência do valor da vida e dos
direitos dos cidadãos, e o segundo relacionado às mudanças nos perfis de
morbimortalidade e as demandas de atenção pelas vítimas de agressão (MINAYO,
2007). O fenômeno em estudo não é objeto restrito e específico da área de saúde,
contudo, está intrinsecamente ligado a ela, na medida em que este setor participa do
conjunto das questões e relações da sociedade (MINAYO e SOUZA, 1999).
A violência se incorporou à agenda do setor saúde, nas últimas décadas do
século XX, pautada pelo crescimento dos números de óbitos e de adoecimento por
causas externas (PIMENTA JUNIOR, 2007). Ela propicia e perpetua doenças e
sofrimentos, além de colocar a vida efetivamente em risco, motivo pelo qual é um
problema de saúde coletiva e também da assistência à saúde (SCHRAIBER et al.,
2005).
A sua abordagem exige uma articulação inter-setorial, interdisciplinar e
multiprofissional, com a participação do Estado e da sociedade civil organizada. Se
ela é um fenômeno multicausal, as possibilidades de enfrentamento provêm dos
diversos setores da sociedade. Existem múltiplas formas de atuação e o profissional
de saúde deve perceber a necessidade de se envolver em ões referentes à
promoção de saúde da população, inserindo questões pertinentes à violência nas
discussões (PHEBO e MOURA, 2005).
No Ministério da Saúde, essa compreensão motivou a concepção da rede de
prevenção de violência para o desenvolvimento de estratégias pactuadas de
vigilância, prevenção e controle das violências e fatores de risco, apoiadas na
realidade social, econômica e regional do país (MINAYO e SOUZA, 1999). Neste
contexto, tem inserido a temática da prevenção da violência na agenda do Sistema
Único de Saúde (SUS) e estimulado uma articulação intra-setorial, por meio da
mobilização de sua organizão interna, estados e municípios, instituições
acadêmicas e organizações não governamentais (MALTA et al.,2007a). Essa nova
forma de articulação requer a inclusão de instituições parceiras e atores que se
mobilizem em torno de um tema que afeta de forma negativa o cotidiano da
população, para o melhor reconhecimento de suas causas, assim como de suas
soluções potenciais (MINAYO e SOUZA, 1998).
Entre as iniciativas do Ministério da Saúde, para o controle da violência,
destacam-se a Política Nacional de Atenção às Urgências, publicada em 2003, que
contempla a dimensão assistencial do plano de enfrentamento das causas externas,
e o aprimoramento dos atendimentos pré, intra e pós-hospitalares para vítimas de
violência; a Política Nacional de Promoção da Saúde, publicada em 2006, que
propõe como missões prioritárias a redução da morbimortalidade por lesões
provocadas pelo trânsito, a prevenção da violência e o estímulo à cultura da paz; e a
estruturação da Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA), com seus dois
componentes: a notificação da violência contra mulheres, crianças, adolescentes e
idosos e o levantamento do perfil da violência atendida nas urgências hospitalares
em 39 municípios sentinelas distribuídos por todo o país (PIMENTA JUNIOR, 2007).
Além destas iniciativas, o Ministério da Saúde oficializou o documento
chamado Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e
Violências do Sistema Único de Saúde PNRMAV/SUS, através da Portaria 737, de
15/05/2001, assumindo o tema como sua responsabilidade setorial (BRASIL,
2001b). Essa Política contempla a violência em suas várias formas de expressão:
agressão física, abuso sexual, violência psicológica e violência institucional. Nela, o
fenômeno é abordado como um problema de saúde pública a ser compartilhado com
outros setores e com a definição de estratégias de promoção da saúde e prevenção
de doenças e agravos (BRASIL, 2001b).
Os princípios básicos que norteiam a referida política são:
1- a saúde entendida como um direito humano fundamental e
essencial ao desenvolvimento econômico e social;
2- o respeito e o direito à vida como valor ético da cultura e da
sde; e
3- a promoção da saúde como base para o desenvolvimento de
todos os planos, programas, projetos e atividades de
redução da violência e acidentes (BRASIL, 2001b, p.24).
O documento tamm define as seguintes diretrizes:
1- promoção da adoção de comportamentos e de ambientes
seguros e saudáveis;
2- monitorizão da ocorrência de acidentes e de violências;
3- sistematizão, ampliação e consolidação do atendimento
pré-hospitalar;
4- assistência interdisciplinar e intersetorial às vítimas de
acidentes e de violências;
5-estruturação e consolidação do atendimento voltado à
recuperação e à reabilitação;
6- capacitação de recursos humanos;
7- apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas (BRASIL,
2001b, p.25).
Após a publicação da referida política, diversas intervenções e atividades
m sendo desenvolvidas, dentre as quais:
1- vigilância: monitoramento de acidentes e violências por
meio da análise das bases de dados existentes, como o
Sistema de Informões sobre Mortalidade (SIM) e o
Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). A
análise dessas bases de dados tem servido ao
monitoramento da morbimortalidade por acidentes e
violências e à orientação de políticas públicas. Outra
iniciativa em curso consiste na implantação do Sistema de
Informação Sentinela de Violência em municípios
selecionados;
2- assistência: implantação da Política Nacional às Urgências,
sendo seu principal componente a implantação do Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU);
3- pesquisa e avaliação: contribuição para o conhecimento da
realidade local e o acompanhamento dos problemas
existentes. As iniciativas em curso abordam tanto questões
relativas à avaliação, quanto incentivo a pesquisas;
4- capacitação: de gestores e trabalhadores de saúde na
análise de dados e vigilância das violências, cursos de
especialização em vigilância de doenças e agravos não
transmisveis (MALTA et al., 2007a).
A Política Nacional de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e
Violências tem por objetivo também servir de base para a orientação curricular ou
para a educação permanente dos profissionais de saúde, pois afirma que as
universidades devem participar na formação de profissionais, capacitando-os para o
gerenciamento de situações de emergência e assistência às vítimas de acidentes e
de violências, além do desenvolvimento de medidas preventivas (BRASIL, 2001b).
Em 2004, com o objetivo de implementar a Política Nacional de Redução da
Morbimortalidade por Acidentes e Violências referente à promão e adoção de
comportamentos e ambientes seguros e saudáveis, foi assinada a Portaria
Ministerial 936, de 20 de maio de 2004, a qual define e estrutura o modelo da Rede
Nacional de Prevenção da Violência e Promão da Saúde, hoje formada por 58
núcleos em locais com taxas elevadas de morbimortalidade por causas externas.
(MALTA et al., 2007a). Destes núcleos fazem parte instituições municipais,
estaduais, acadêmicas e organizações não governamentais que trabalham com a
temática (MINAYO, 2007).
A rede tem como objetivos:
1- promover a articulação da gestão de conhecimento no desenvolvimento de
pesquisas, formulação de indicadores, disseminação de conhecimentos e
práticas bem-sucedidas, nacionais, regionais e locais;
2- implantar a troca de experiências de gestão e formulação de políticas
públicas inter e intra-setoriais;
3- fomentar o intercâmbio das práticas de atenção integral às pessoas
vivendo situações de violência e segmentos populacionais sob risco;
4- trocar experiências sobre formas de participação da sociedade civil,
organizações não governamentais e comunidades no desenvolvimento do
plano nas várias esferas de gestão;
5- acompanhar o desenvolvimento das ações de preveão da violência e
promoção da saúde nas várias esferas de gestão (MALTA et al. 2007, p. 50-
51a).
O Ministério da Saúde, por intermédio da Coordenação Geral de Doenças e
Agravos Não Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde, promoveu, em
setembro de 2005, o I Seminário Nacional de Doenças e Agravos Não
Transmissíveis e Promoção da Saúde. No seminário, foi aprovada a Agenda
Nacional de Vigilância, Prevenção e Controle dos Acidentes e Violências, o que
reflete esforços recentes da área da saúde no enfrentamento dos acidentes e
violências, em uma perspectiva dinâmica e de ampliação entre setores.
Para a efetiva implementação da referida agenda e a inserção do tema
violência no contexto da saúde pública, além de sua institucionalizão e
sustentabilidade muitos são os desafios. Um dos primeiros consiste na criação de
planos nacionais de prevenção de doenças e agravos não transmissíveis, inclusive
de prevenção da violência no nível local, articulado com as diferentes áreas e
experiências existentes. Outro desafio consiste na ampliação da capacidade da
vigilância de violências, seja pela melhoria das bases de dados, seja pela ampliação
da capacidade de análise dos dados existentes. É apontada também a necessidade
de definição de prioridades e apoio a pesquisas sobre as causas, conseqüências,
custos e atividades de prevenção da violência (MALTA et al., 2007a).
Neste contexto, a implementação da vigilância da violência torna-se um
importante instrumento para conhecer a distribuição, magnitude e tendência deste
fenômeno, por meio de fontes primárias e secundárias de informações e do
monitoramento dos fatores de risco e de proteção, com o objetivo de subsidiar o
planejamento, execução e avaliação de estratégias de prevenção e controle (MALTA
et al., 2006).
A organização da assistência à saúde depara-se com desafios como a
incorporação efetiva da prevenção da violência e construção da cultura da paz na
atenção primária, o fortalecimento da resposta assistencial de saúde à vítima da
violência em sua dimensão biopsicossocial, o atendimento às urgências e a
articulação de parcerias na busca de respostas integradas (PIMENTA JUNIOR,
2007; MALTA et al., 2007b).
A multiplicidade dos fatores determinantes dos desafios apontados implica
na definição de prioridades e no posicionamento, além do papel de contagem e
tratamento das vítimas, bem como a formulação de intervenções diante dessa
questão (PIMENTA JUNIOR, 2007).
A experiência de outros pses mostra que o sucesso das intervenções de
saúde blica, no que se refere aos fatores de risco e à redução da prevalência das
doenças e agravos não transmissíveis, entre estes as causas externas, tem sido
atribuído ao enfoque na vigilância de fatores comuns de risco e na promoção de
modos de viver favoráveis à saúde e à qualidade de vida (BRASIL, 2004).
Torna-se imprescinvel a mudança de direcionamento no enfrentamento
deste fenômeno, entendendo a violência como um processo muito mais amplo que o
ato violento e que necessita de todo o empenho de profissionais das mais diversas
áreas para seu combate efetivo, visando à implementação da promoção da saúde.
Nesta perspectiva, a compreensão do processo gerador da violência torna-
se um instrumento necessário para que o enfermeiro, em conjunto com outros
profissionais, possa traçar ações efetivas de combate, e, conseqüentemente, atuar
de maneira positiva na promão da saúde dos indivíduos.
A função tradicional dos profissionais de saúde tem sido cuidar dos agravos
físicos e emocionais gerados pelos conflitos, e hoje busca ultrapassar seu papel
apenas curativo, definindo medidas preventivas destes agravos e de promoção da
saúde, em seu conceito ampliado de bem-estar individual e coletivo (MINAYO e
SOUZA, 1998).
As repercuses para a saúde se apresentam, principalmente, como
adoecimentos, assim abordados no interior dos serviços de saúde. Isso gera uma
situação que, ao mesmo tempo, acolhe um efeito e torna sua causa invisível, isto é,
os profissionais da saúde, em especial os que fazem diagnósticos de doenças,
terminam por esgotar sua intervenção nesse plano, ficando a violência sofrida
encoberta. Por isso, há dores e sofrimentos que o são revelados, pois não
possuem nomes de doenças ou não se enquadram nos diagnósticos tradicionais e,
com isso, a resolução do problema é apenas aparente e a vítima tem reiteradas
possibilidades de agravos e danos à sua saúde (SCHRAIBER et al., 2005).
Os indivíduos sobreviventes da violência representam uma demanda
significativa para os serviços de emergência, e estes deveriam desenvolver ações
não somente voltadas ao dano físico, mas intervenções integrais (LEAL e LOPES,
2005). As unidades de serviço, muito mais orientadas para as enfermidades de
origem biomédica, são chamadas para atender as vítimas de lesões e traumas
físicos e emocionais, com o dever de equipar-se para isso (MINAYO, 2005).
Em nenhum outro serviço de sde a violência adquire visibilidade como na
emergência, porque é para a maioria das vítimas de violência a porta de entrada no
sistema público de saúde. Portanto, o atendimento de emergência é um importante
indicador da violência que ocorre na sociedade, uma vez que é para lá que acorrem
ou são levadas suas vítimas em situações de trauma ou iminência de morte. Para
muitas pessoas, é a única vez que estará, enquanto vítima de uma agressão, diante
de um profissional de saúde (DESLANDES, 1999).
2.3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E A VIOLÊNCIA
O conceito de representação social se associa historicamente à concepção
de Durkheim sobre as representações coletivas, entendidas como os primeiros
sistemas de representação que o homem fez para si do mundo, e de si mesmo,
constituindo categorias de pensamento através dos quais determinada sociedade
elabora e expressa sua realidade (GOMES e MENDONÇA, 2002).
Moscovici comou a desenvolvê-la partindo das idéias de Durkheim, em
1960, como uma tentativa de superar os modelos funcionalistas da ciência
positivista, inovando ao tratar do conceito de representação enquanto saber
compartilhado, originado no âmbito dos grupos (DANTAS e CHAVES, 2007).
As abordagens de Durkheim e Moscovici, de acordo com Farr (1995),
devem ser diferenciadas, visto que a primeira é mais apropriada para uma sociedade
menos complexa, e a segunda é voltada para a sociedade moderna, caracterizada
pela complexidade e rapidez de mudanças sócio-políticas, culturais e econômicas.
As representações sociais são um conjunto de conceitos, afirmações e
explicações que se originam na vida diária durante os processos de comunicações
interpessoais obtidas nas relações cotidianas (MOSCOVICI, 1978). Por se tratar de
uma produção coletiva, portanto partilhada, se constrói através de comunicações, da
linguagem, em suas diversas formas de expressão (Ibid., 2003). Elas se constituem
segundo Gazzinelli et al. (2005), como um conjunto aberto e heterogêneo,
continuamente refeito, ampliado e transformado durante as interações indivíduo-
indivíduo e indivíduo/sociedade. Expressam visões de mundo, explicando e
atribuindo sentido aos fenômenos dos quais se ocupam, uma vez que trabalham
com a compreensão das relações entre representões sociais e do mundo por
parte dos agentes sociais (PORTO, 2006).
Como afirma Abric (1998, p. 22):
Uma representação social é um conjunto organizado e hierarquizado de
julgamentos, atitudes e informações que um determinado grupo elabora a
respeito de um objeto. As representações sociais são resultantes de um
processo de apropriação da realidade, de reconstrução desta realidade em
um sistema simbólico. Elas são interiorizadas pelos membros do grupo
social e coletivamente engendradas e compartilhadas.
Ainda, para Moscovici (2003), a finalidade das representações sociais é
transformar o não-familiar em familiar, e esta relação estabelecida pelo autor, diz
respeito ao universo consensual no qual os grupos sociais se inscrevem. A dinâmica
das representações é, portanto, uma dinâmica de familiarização, na qual os objetos,
pessoas e acontecimentos são percebidos e compreendidos em relação a prévios
encontros e paradigmas. Segundo esta teoria, as pessoas, por meio das
representações sociais, procuram compreender o que parece estranho à sua
compreensão, podendo ser um acontecimento, uma doença, um comportamento de
alguém. Para o autor, a perspectiva individualista não era suficientemente capaz de
responder as relações informais do cotidiano da vida humana, em nível mais
especificamente social, pois deixava de captar a integração sica entre o indivíduo
e a sociedade.
Em resumo, a teoria das representações sociais parte da diversidade dos
indivíduos, das atitudes e dos fenômenos, considerando sua estranheza e
imprevisibilidade, para tentar descobrir de que forma indivíduos e grupos podem
construir um mundo estável e previsível nesse contexto (MOSCOVICI, 2003). Para
o autor (1978, p. 26), a representação social é “uma modalidade de conhecimento
particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação
entre indivíduos”.
As representações encontram-se em um referencial de pensamento
preexistente, dependendo, portanto, de um sistema de crenças, valores e imagens.
Refere-se ainda, ao universo de opiniões (de grupos, segmentos, classes sociais) e
modela a realidade a partir do conhecimento existente, criando significações e
originando novos comportamentos (MOSCOVICI, 2003). Assim sendo, as
representações são:
O conteúdo de pensamento cotidiano, e do conjunto de idéias que dá
coerência às nossas crenças religiosas, idéias políticas e as conexões que
criamos espontaneamente, assim como respiramos. Ele nos torna possível
classificar pessoas e objetos, comparar e explicar comportamentos e
objetivá-los como parte de nosso contexto social (MOSCOVICI, 1978, p.
214).
Portanto, aquilo que se pensa tem papel preponderante sobre aquilo que se
faz, e tanto as representações definem as práticas como essas (re)constroem novas
representações que operam como um sistema de interpretação da realidade, que
rege as relações dos indivíduos com o seu meio físico e social, determinando seus
comportamentos e práticas sociais (ANCHIETA e GALINKIN, 2005). Elas
apresentam quatro funções: compreender e explicar a realidade; definir e proteger a
especificidade dos grupos; orientar as práticas e comportamentos dos sujeitos e
justificar, a posteori, as práticas sociais. Da mesma forma como justificam e orientam
as práticas dos sujeitos acerca de um fenômeno, e como são apropriadas pelas
instâncias institucionais, podem justificar e orientar políticas públicas (ABRIC, 1998).
Para Spink (1995), as representações sociais possuem três dimensões: a
primeira inclui o conhecimento do senso comum e não somente o formalizado; a
segunda constitui formas de conhecimento prático que respondem a uma maneira
de interpretar a realidade, e a terceira é que são construídas pelos sujeitos sociais,
uma vez que são resultado das condições em que surgem e circulam. Embora
possam ser contraditórias, ambíguas e imprecisas, Gazinelli et al., (2005) afirmam
que podem se constituir em critérios de prevenção e controle de doenças e agravos
gerados e reproduzidos entre a população.
Com base nessa perspectiva metodológica, a compreensão do fenômeno não
ocorre apenas a partir dos enunciados das narrativas dos sujeitos, mas na medida
em que se consegue ir para além das falas e das ações em geral, e servir de base
para políticas e ações que contemplem os sujeitos para os quais estas são
destinadas.
Um fator complicador para a compreensão da violência e de suas
conseqüências é o fato de que ela não se reduz a um conjunto de práticas objetivas,
mas tamm engloba representações pessoais: as percepções individuais e sociais
da violência são elos cruciais na compreensão da gênese do fenômeno
(WIEVIORKA, 1997). Este não se situa somente no plano das práticas objetivas,
mas também considera as percepções que sobre ele circulam e as representações
que o descrevem (ALMEIDA, 2006).
Como assinala Michaud (1989), a designação de violência se reporta às
normas, entendidas como conjunto de regras e esquemas de condutas, sustentadas
como princípios para uma sociedade ou mesmo para um grupo. Assim, a não-
observância ou a transgreso dessas normas tende a ser significada como
violência, e da mesma forma que uma enorme diversidade de normas, haverá,
tamm, diversidade de violências possíveis.
Então, segundo Grundy e Weinstein (1976), citados por Galinkin (2006,
p.67), “entender um ato violento depende do envolvimento e do contexto ideológico
e social em que o ato é cometido e do lugar e da posição em que se encontram ao
atores envolvidos”.
A utilização das representações sociais, como possibilidade de
compreensão do fenômeno da violência contemporânea, evidencia ser impossível
definir o fenômeno sem se interrogar sobre os sentidos, valores e crenças que
estruturam e comandam a vida social, além do papel das representações sociais na
construção dos significados e na orientação de práticas sociais de violência.
Reconhecer e explicar as representações sociais da violência, formuladas pela
sociedade, é um recurso para avançar na apreensão da mesma (PORTO, 2006;
ALMEIDA, 2006).
Ao considerar o fenômeno, a perspectiva centrada nas representações
sociais permite captar os sentidos que os atores (agressores ou vítimas) atribuem às
suas compreensões e às suas práticas, sem, contudo, menosprezar o sistema
(ambiente, contexto, situação, estruturas), no qual, por esses atores as ações
violentas são praticadas (PORTO, 2006).
Nessa dinâmica social, “as representações sociais atuam como guias de
interpretação e organização da realidade, que possuem uma orientação prática e
que permitem ao indivíduo se situar no mundo e o dominar (ALMEIDA, 2006, p.11).
Dessa maneira, essa interpretação, por ser partilhada socialmente, pode ser
decisiva para se entender o porquê de determinadas condutas. Assim, se as
representações sociais têm uma elaboração psicológica e social do real a partir de
experiências, apreendê-las pode permitir a compreensão de como os sujeitos sociais
apreendem os acontecimentos da vida corrente (CRUZ, 2006).
Nessa perspectiva teórica, o sentido da ação do indivíduo é dado, não
apenas por sua representação do real, mas da representação que ele compartilha
com os demais membros do grupo social a que pertence, por meio do complexo
tecido das relações sociais (ALMEIDA, 2006).
Da mesma forma como justificam e orientam as práticas dos atores sociais
acerca de um fenômeno, assim também, na medida em que são apropriadas pelas
instâncias institucionais, as representações sociais podem justificar e orientar
políticas públicas (PORTO, 2006).
Neste sentido, as representações sociais referem-se à maneira do indivíduo
pensar e perceber o cotidiano, constituindo-se em um conjunto de imagens que
permite ao mesmo interpretar e dar sentido à sua vida (MOSCOVICI, 2003). São
constituídas por processos sociocognitivos e afetivos que se refletem nas interações
sociais, uma vez que os comportamentos adotados por um grupo acometido por um
dado fenômeno são resultantes do modo como eles a representam socialmente e do
significado que este adquire em suas vidas (MONTEIRO, COUTINHO e ARAÚJO,
2007).
Acontece o mesmo com a ocorrência da vioncia, que faz parte do cotidiano
social, recebendo significados diversos, os quais se pretendem identificar. A
identificação das representações sociais pode ser uma forma de acesso às
necessidades humanas e de saúde, contribuindo assim para a instrumentalizão do
campo de atuação da saúde (OLIVEIRA, 2005).
Diante da necessidade de estabelecer novas bases para o processo de
cuidar em saúde, a compreensão das necessidades representadas pelos sujeitos
individuais e coletivos e identificadas pelos profissionais nas instituições de sde,
pode ser acessada por intermédio das representações sociais. Verifica-se que a
importância da teoria das representações sociais, na análise de fenômenos que
permeiam o processo saúde-doença, está no fato de que estas possibilitam a
compreensão do conhecimento espontâneo que conduz o pensamento social acerca
destes fenômenos, neste estudo sobre a violência (OLIVEIRA, 2005).
A teoria das representações sociais pode ser considerada um instrumento
valioso para a compreensão das concepções do senso comum sobre diferentes
aspectos relacionados à saúde. Apesar de existirem outras abordagens para a
investigação destas concepções, os estudos fundamentados nesta teoria podem dar
sua contribuição pela necessidade atual de entender o binômio saúde-doença para
além da questão individual (TRINDADE, 1998).
Apoiar-se nas representações sociais implica, portanto, investigar o que
pensam os indivíduos acerca de determinado fenômeno (a natureza ou o próprio
conteúdo da representação, no caso da violência); por que pensam (que funções as
representações assumem na dinâmica social) e como pensam (quais são os
processos ou os mecanismos psicológicos e sociais que possibilitam a construção
ou a gênese desse conteúdo) (ALMEIDA, 2006).
Assim, pode-se considerar a violência como prática social cuja mediação
simbólica e representacional é constitutiva (Almeida, 2006), e nesse sentido justifica-
se o estudo da violência a partir do aporte da Teoria das Representações Sociais. A
partir deste referencial, busca-se compreender como a violência vem sendo
elaborada e internalizada, no universo dos grupos sociais, expressando-se nas
representações sociais dos fenômenos que os afetam, direta ou indiretamente
(ALMEIDA, 2006).
Completa-se 30 anos em que se estuda o campo das representações
sociais. Na primeira década, permaneceu praticamente ignorado, na segunda,
passou a ser melhor incentivado por pesquisas realizadas com os mais variados
objetos de representação. Finalmente, na terceira década, foi alvo de um
apuramento em termos teórico-conceituais (JUNQUEIRA, 2003).
Estudos de representações sociais e violência foram desenvolvidos por
Assis et al (2004); Almeida, Santos e Rossi (2006); Gomes e Fonseca (2005);
Guimarães e Campos (2007); Monteiro, Cabral e Jodelet (1999); Anchieta e Galinkin
(2005); Porto (2006); com enfoque prioritário sobre as representações de pais,
cuidadores, professores, profissionais de saúde, policiais civis. Portanto, como
estudos sobre representações sociais das próprias vítimas são praticamente
inexistentes, as reflexões aqui inseridas pretendem contribuir para descobertas
nesta temática.
3 MÉTODO
3.1 TIPO DE ESTUDO
Trata-se de um estudo de natureza quanti-qualitativa descritivo que foi
desenvolvido em duas etapas. O caráter descritivo, segundo Gil (1999), tem como
objetivo reconhecer as caractesticas de um grupo, sua distribuição por idade, sexo,
escolaridade, estado de saúde entre outros, além de ser utilizado para estudar as
condições de vida, levantar opiniões, atitudes e crenças da população.
pesquisa quantitativa, para Costa (2006), tem como centro a objetividade, e
é influenciada pelo positivismo, uma vez que considera que a realidade só pode ser
compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de
instrumentos padronizados e neutros.
A etapa quantitativa foi retrospectiva e permitiu o levantamento do perfil das
vítimas de agressão física.
A abordagem qualitativa apresenta a perspectiva na qual o mundo da
experiência passa a ser envolvido com um mundo significativo, e o ser humano
como imerso no círculo de significados que ele mesmo constrói na arte social. Ela se
preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja,
trabalha com o universo de significados, motivos aspirações, crenças, valores e
atitudes, que correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos, oferecendo uma perspectiva mais ampla ao tema em
estudo (MINAYO, 2004b).
A etapa qualitativa foi fundamentada na Teoria das Representações Sociais,
que subsidiou a apreensão do significado da violência na vida das vítimas. A escolha
das representações sociais como referencial metodológico se justifica, por ser capaz
de reconhecer as principais questões levantadas pelo sujeitos do estudo, e por se
constituírem uma forma de conhecimento socialmente elaborado e compartilhado,
cuja finalidade é a interpretação de uma realidade comum de um dado grupo social
(MOSCOVICI, 2003).
A representação social como metodologia para pesquisa, deve ser entendida
como um conteúdo mental estruturado, isto é, cognitivo, avaliativo, afetivo e
simbólico, sobre o fenômeno estudado (BRÊTAS e PEREIRA, 2006).
É importante considerar que as representações sociais, ao mesmo tempo
em que expressam visões de mundo que objetivam explicar e dar sentido a dado
fenômeno, participam da sua constituição, e embora resultem da experiência
individual são condicionadas pela inserção social dos indivíduos e grupos de
indivíduos que as produzem (PORTO, 1999). O saber é interiorizado e organizado,
constituindo-se em um sistema dominante de pensamentos e relações que se
incorporam ao saber dos grupos sociais aos quais os indivíduos pertencem
(BRÊTAS e PEREIRA, 2006).
3.2 CAMPO DE INVESTIGAÇÃO
O campo de investigação foi o Pronto Atendimento Municipal de Canoinhas
Santa Catarina, que é referência para atendimento de urgências e emergências. A
unidade recebe pacientes encaminhados dos municípios vizinhos, além daqueles
atendidos pelo SAMU, Corpo de Bombeiros e admitidos através da triagem,
caracterizando o local como adequado para a realizão do estudo, pois é neste
espaço que a violência física torna-se explícita.
O município de Canoinhas, localiza-se no planalto norte de Santa Catarina,
com divisa ao norte e ao oeste com o Estado do Paraná, ainda a oeste com os
municípios de Bela Vista do Toldo e de Irineópolis, ao sul com os municípios de
Tim Grande, Santa Cecília e Major Vieira e a leste, ainda com os municípios de
Major Vieira e Três Barras. Faz parte da microrregião do Contestado, com área de
1.172,7 km
2
, tendo aproximadamente 25 km
2
de área urbana e 1.143 km
2
de área
rural. A população é de 52.677 habitantes, dos quais 39.577 residem na área urbana
e 13.100 na área rural; a população feminina é de 26.623 e a masculina é de 26.604
(IBGE, 2007). Segundo dados do IBGE (2000), o município encontra-se entre os 299
municípios brasileiros com população entre 50.001 a 100.000 habitantes, o que
corresponde a 5,38% do total de municípios do Brasil.
No setor saúde encontra-se habilitado na Gestão Plena da Atenção Básica,
segundo a Norma Operacional Básica/96. A rede de atenção primária à saúde es
estruturada com: Policlínica Municipal; Clínica da Mulher e da Criança; Centro de
Epidemiologia; Centro de Especialidades Odontológicas; Centro de Atendimento
Psicossocial (CAPS); Farmácia Básica; Serviço Social; 9 Unidades sicas de
Saúde (UBS) na área rural, 4 UBS, em distritos e 3 UBS, na área urbana; 2
Unidades de Saúde da Família (USF) e 2 equipes de Agentes Comunitários de
Saúde (ACS) (PREFEITURA MUNICIPAL DE CANOINHAS, 2005).
Possui um Pronto Atendimento Municipal, que é referência para atendimento
de urgências e emergências, localiza-se anexo ao Hospital Santa Cruz de
Canoinhas, e conta com consultórios médicos, salas de procedimentos médicos e de
enfermagem (sala para atendimento de emergência, pequenas cirurgias, suturas,
inalações, drenagens de abscessos, gesso), leitos para observação (até 24 horas).
As principais ações desenvolvidas são: recepção, acolhimento e triagem, consulta
clínica, consulta especializada, consulta clínica com administração de medicação e
observação por período inferior a 24 horas, consultas de enfermagem,
preenchimento da ficha verde, procedimentos específicos conforme a natureza do
quadro nas situações de urgências e emergências, encaminhamento para
internamentos, serviços especializados e transferência inter-hospitalar
(PREFEITURA MUNICIPAL DE CANOINHAS, 2005).
Conta ainda com uma Unidade de Suporte Básico USB (Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência - SAMU), anexo ao Pronto Atendimento Municipal, o
qual atende os municípios de Canoinhas, Três Barras e Major Vieira. As solicitações
ocorrem por telefone, o acolhidas, avaliadas e priorizadas pela Central de
Regulação Médica de urgências que funciona 24 horas todos os dias. A cidade
conta com 1 Hospital Geral, Hospital Santa Cruz de Canoinhas, com 130 leitos,
sendo 98 destinados ao SUS. É uma instituição privada de caráter filantrópico, que
dispõe das seguintes unidades: Unidade Intermediária (UI); Maternidade / Berçário;
Centro Cirúrgico / Centro Obstétrico; Clínica Médica; Clínica Cirúrgica; Clínica
Pediátrica; Serviço de Auxílio ao Diagnóstico e Tratamento (Raios X, Laboratório de
Análises Clínicas, Banco de Sangue); Central de Esterilização de Materiais e Serviço
de Nutrição e Dietética (PREFEITURA MUNICIPAL DE CANOINHAS, 2005).
3.3 UNIVERSO, AMOSTRA E SUJEITOS DO ESTUDO
O universo da pesquisa foi constituído por 128.719 fichas de atendimentos
realizados no Pronto Atendimento Municipal nos anos de 2005, 2006 e 2007,
incluídos os atendimentos de urgência e emergência, bem como atendimentos
ambulatoriais e para realização de procedimentos cnicos. A escolha deste período
se deve à disponibilidade das fichas de registro de atendimento de urgência, porque
às dos anos anteriores encontravam-se em arquivo morto e sem possibilidade de
acesso.
Para a etapa quantitativa, foi utilizada uma amostra de 113 fichas de registro
de atendimentos de agressão física ocorridos no período de janeiro de 2005 a
dezembro de 2007. Como critério de inclusão desta etapa utilizou-se a evidência da
agressão física, com ou sem descrição da utilização de algum tipo de arma ou
material, e a delimitação da faixa etária em igual ou superior a 18 anos.
Na etapa qualitativa foram estudados 16 sujeitos vítimas de agressão física,
com idades compreendidas entre 20 e 73 anos, que aceitaram participar do estudo e
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 3). Por tratar-se
de uma população homogênea quanto à vivência de agressão, considerou-se o
índice de 10%, das 113 fichas de atendimento, representativo desta população, o
que resultou na estimativa de aproximadamente 12 sujeitos para compor o grupo de
estudo.
Os critérios de busca e inclusão utilizados nesta etapa foram idade igual ou
superior a 18 anos, vítimas de agressão física atendidas no campo de investigação
obedecendo ao percentual entre as áreas rural e urbana encontradas na etapa
quantitativa. As entrevistas foram realizadas nos domicílios das vítimas de agressão
física selecionadas para o estudo de acordo com os critérios já mencionados.
Utilizou-se a amostragem por saturação em que o pesquisador encerra a
coleta de dados quando novas entrevistas passam a apresentar repetições em seu
conteúdo, pois entende que novas falas produzem poucos conhecimentos novos,
indicando a sua saturação (TURATO, 2003). O autor afirma que outros parâmetros
podem ser utilizados para a interrupção da coleta de dados como: a avaliação de
que os elementos colhidos são suficientes para o alcance dos objetivos propostos, a
discussão com o orientador do estudo que serve como um juiz desta situação, e
ainda os colegas de atividades de pesquisa que podem apreciar esta etapa e dar
seu aval acadêmico.
3.4 COLETA DE DADOS
Para o levantamento de dados quantitativos foi elaborado um roteiro
(Apêndice 1), a partir da ficha de registro de atendimento existente (Anexo 2), com
as seguintes informões a respeito dos sujeitos do estudo: caracterização da vítima
(sexo, idade, residência) e caracterização da violência (natureza da lesão, descrição
da lesão, local, data e horário da agreso, Classificação Internacional de Doenças-
10ª Revisão (CID-10) e utilizão de arma ou outro material).
Para agrupar os eventos mórbidos decorrentes de violência foi, utilizada a
CID-10, na qual os agravos não letais são denominados, no capítulo XIX, como
“lesões, envenenamentos e algumas outras conseqüências de causas externas”,
sob os códigos S00 a T98 (OMS, 1996), e estes selecionados para o preenchimento
do roteiro.
A segunda etapa compreendeu a aproximação com os sujeitos da pesquisa
mediante entrevistas semi-estruturadas (Apêndice 2), as quais foram realizadas nos
meses de abril a julho de 2008, nos domicílios das vítimas de violência.
A entrevista semi-estruturada, segundo Costa (2006), é uma técnica
adequada para obter informações sobre o que as pessoas sabem, crêem, esperam,
sentem, desejam, pretendem fazer ou fizeram, bem como acerca das suas
explicações ou razões a respeito das coisas precedentes. Para Richardson et al.
(2008), visa-se obter do entrevistado o que ele considera relevante em determinado
fenômeno, procurando as descrições para uma determinada situação em estudo.
Ainda, para Turato (2003), é um instrumento precioso de conhecimento interpessoal,
uma vez que facilita a apreensão de uma série de fenômenos, de elementos de
identificação e construção potencial do entrevistado. Ela procura saber o que, como
e por que algo ocorre, além de obter informações detalhadas que possam ser
utilizadas em uma análise qualitativa. Nesta modalidade de entrevista, segundo
Moreira (2002), não um conjunto espefico de questões, somente alguns guias
de ordem geral, motivo pelo qual o investigador precisa questionar pontos que não
estavam programados, principalmente para esclarecer tópicos que não forem
suficientemente abordados naturalmente na entrevista.
3.5 ANÁLISE DE DADOS
Os dados quantitativos referentes à primeira etapa do estudo, foram
apresentados em tabelas e quadros e analisados descritivamente. Os dados
qualitativos obtidos mediante transcrição das entrevistas, foram analisados segundo
o método proposto por Bardin (1977), denominado de análise de conteúdo, que é
um conjunto de técnicas de análise das comunicações, as quais visam obter, por
procedimentos sistematizados de descrição do conteúdo, as mensagens indicadoras
que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção.
O objetivo principal da análise de conteúdo é a manipulação de mensagens,
que mostra os indicadores, possibilitando inferir sobre uma outra realidade que não
a da mensagem (Ibid.). É composta por três etapas, Bardin (1977, p. 95-101), a pré-
análise; a exploração do material e o tratamento dos resultados; a inferência e a
interpretação.
A primeira etapa é descrita como a fase de organizão, a qual pode utilizar
vários procedimentos como: leitura flutuante, hipóteses, objetivos e elaboração de
indicadores que fundamentem a interpretação. Tem por objetivo operacionalizar e
sistematizar as idéias iniciais para conduzir um esquema preciso do
desenvolvimento das operações sucessivas em um plano de análise. Para tanto,
foram realizadas leituras do material coletado, transcrição das respostas obtidas por
meio de entrevista e recortes dos discursos dos sujeitos do estudo.
A segunda etapa da técnica da análise de conteúdo é aquela em que as
informações são codificadas a partir dos registros, e tem por objetivo fornecer uma
representação simplificada dos dados brutos. Deve apresentar exclusão mútua,
homogeneidade, pertinência, objetividade, fidelidade e produtividade, para que seja
considerada de boa qualidade (BARDIN , 1977).
A maioria dos procedimentos de análise de conteúdo organiza-se por meio
do processo de categorização, considerada como uma operação de classificação de
um conjunto por diferenciação e reagrupamento, a partir de critérios previamente
definidos. As categorias são classes, com unidades de registro sob um título
genérico, que o agrupadas em razão das características comuns dessas
unidades. A análise por categorias funciona por operações de desmembramento do
texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos (Ibid.).
A terceira fase cronológica da análise é o tratamento dos resultados obtidos
e interpretados. Nessa fase, ocorreu a articulação das categorias obtidas nos
discursos e o referencial metodológico das representações sociais.
3.6 ASPECTOS ÉTICOS
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comide Ética em Pesquisa da
Universidade do Contestado UnC Campus Universitário de Canoinhas (CAAE
número 454/07- Anexo 1), e pela Secretaria Municipal de Saúde de Canoinhas.
Os sujeitos foram esclarecidos sobre a pesquisa, seus objetivos, riscos e
benefícios, e convidados a participar voluntariamente. A inclusão deles somente
ocorreu após a assinatura em duas vias do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Apêndice 3), sendo respeitadas as questões éticas no que concerne ao
anonimato dos participantes, a confiabilidade dos dados e a utilização dos
resultados para fins científicos.
No que diz respeito ao anonimato, as entrevistas foram identificadas com a
letra E, seguida do algarismo arábico em ordem crescente, segundo a ordem da
realização das mesmas. Exemplificando: E1 correspondeu ao primeiro sujeito
entrevistado, E2, ao segundo, e assim, sucessivamente até E16.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados foram apresentados e discutidos em dois momentos: o
primeiro se refere à apresentação do perfil das vítimas de agressão física atendidas
no campo de investigação e que sobreviveram à agressão e da caracterização das
agressões, e o segundo se refere à análise das representações sociais das timas
sobre a ocorrência da violência.
4.1 PERFIL DAS TIMAS DE AGRESSÃO FÍSICA
A tabela abaixo mostra o perfil das vítimas de agressão física atendidas no PA de
Canoinhas no período selecionado para a pesquisa.
TABELA 2 - CARACTERIZAÇÃO DAS VÍTIMAS DE AGRESSÃO FÍSICA,
CANOINHAS 2008
Características Categoria
Freqüência
%
Sexo
Feminino
Masculino
32
81
28
72
Procedência
Urbana
Rural
89
24
79
21
Faixa etária
18 a 19
20 a 29
30 a 39
40 a 49
50 a 59
60 a 69
70 a 79
80 a 89
11
42
27
10
12
07
01
03
9,73
37,17
23,90
8,85
10,62
6,19
0,88
2,66
FONTE: O Autor (2008)
Das 113 vítimas de agressões, ocorridas no período selecionado para a
pesquisa, 81 (72%), eram do sexo masculino. Esta predominância é encontrada
tamm quando se analisa a proporção de internações por causas externas,
segundo o sexo.
Em 2000, dados do Ministério da Saúde mostraram que 84,2% das timas
de agressão que necessitaram de internação eram homens (GAWRYSZEWSKI;
KOIZUMI; MELLO-JORGE, 2004).
Esses dados são similares aos encontrados em pesquisa realizada em 2004
em cinco capitais brasileiras, com o objetivo de analisar a magnitude das causas
externas, que revelou que o sexo masculino foi também o mais afetado, pois
apresentou as maiores proporções de hospitalizões por estas causas (SOUZA;
ASSIS; MINAYO; PIRES, 2007). Pitanguy (2003) reitera análises que mostram que a
violência varia quanto ao tipo de agressão sofrida: os homens adultos sofrem
sobretudo violência física, enquanto que as mulheres adultas sofrem violência
sexual.
No que se refere à faixa etária, os dados demonstram que do total de
vítimas, 42 (37,17%) têm de 20 a 29 anos, seguida da faixa etária de 30 a 39 anos,
com 27 (23,90%) das vítimas. Na ampla faixa etária de 5 a 39 anos, as causas
externas são o principal problema de vitimizão que leva à morte (MINAYO, 2005).
Estudo realizado em 2003, em São Paulo, para determinar a incidência de
trauma facial e lesões associadas também, constatou o sexo masculino como o mais
atingido, com maior incidência na faixa etária dos 20 aos 39 anos, sendo a violência
interpessoal a etiologia principal dos traumas (WULKAN; PARREIRA JUNIOR;
BOTTER, 2005). A preponderância do sexo masculino e das faixas etárias de 15 a
29 anos como vítimas indicam que estes eventos se devem, sobretudo, a lesões por
conflitos interpessoais (MINAYO, 2004a).
Em relação à procedência, 89 (79%) das vítimas era da zona urbana, fato
corroborado pela literatura que apresenta que as taxas de morbidade e mortalidade
por agressões concentram-se nas áreas urbanas (SOUZA; ASSIS; MINAYO; PIRES,
2007).
De acordo com os dados coletados, evidencia-se predomínio das taxas
masculinas sobre as femininas e das faixas etárias mais jovens, residentes na área
urbana. Os estudos de morbimortalidade por causas externas têm privilegiado as
populações masculinas, especialmente as mais jovens (SCHRAIBER; D’OLIVEIRA;
COUTO, 2006). Evidencia-se o predomínio das taxas masculinas sobre as
femininas, e um deslocamento para as faixas etárias mais jovens (SOUZA; LIMA,
2006; GUIMARÃES et al., 2005).
No Brasil, o perfil das vítimas de violência é bem delineado: jovem, do sexo
masculino, procedente das áreas periféricas das grandes metrópoles ou das áreas
urbanas (PHEBO e MOURA, 2005). O sexo masculino é o mais atingido pela
violência, o que revela que este é o grupo mais exposto aos problemas sociais, além
da cultura ainda predominantemente machista, sobretudo nos locais menos
desenvolvidos, em que o homem precisa “defender sua honra”, o que o torna mais
vulnerável (GUIMARÃES et al., 2005). Os autores referem que se visualiza maior
exposição à violência dos jovens, o que pode estar atrelado não só a desigualdades
sociais, mas também à imaturidade e à ausência de projetos de vida bem definidos.
Os dados da literatura refletem o mesmo padrão da violência, ou seja, são
os homens jovens que sofrem mais lesões e traumas, sejam eles fatais ou não
(SOUZA; LIMA; VEIGA, 2005).
TABELA 3- CARACTERIZAÇÃO DO TIPO DE LESÃO, CANOINHAS 2008
Categoria
Freqüência
N %
Ferimentos corto contusos
70 62
Sem especificação
21 18
Traumatismo Crânio Encefálico
9 8
Ferimento por Arma de Fogo
8 7
Fratura
2 2
Ferimento por Arma Branca
1 1
Entorse
1 1
FAF + FAB
1 1
Total
113 100
FONTE: O Autor (2008)
O tipo de lesão prevalente foi o ferimento corto contuso responsável por 70
(62%) das lesões pesquisadas, ferimento presente nas agressões exercidas por
meio de força física, comuns nos casos de violência interpessoal. Os atos violentos
intencionais incluem, caracteristicamente, o uso da força que pode resultar no
aparecimento de lesões físicas graves e até de óbito (PHEBO e MOURA, 2005).
Tais lesões correspondem às agressões por objetos contundentes, comuns nos
casos de espancamentos (GAWRYSZEWSKI; KOIZUMI; MELLO-JORGE, 2004).
Quanto à localizão da lesão, os registros em que não constam esta
especificação merecem destaque (41%), o que dificulta uma análise mais profunda.
Esse conjunto de informões imprecisas ou registros de pouca qualidade são
responsáveis por vários problemas, como o subdimensionamento das demais
lesões, e principalmente dificultam a tomada de decisão a partir de um perfil
epidemiológico, pois perdem seu potencial analítico (SOUZA; ASSIS; MINAYO,
PIRES, 2007). Para Guimarães et al. (2005), a ausência de dados necessários para
o esclarecimento dos eventos violentos pode ocorrer devido à carência de
formulários específicos ou pelo mau preenchimento destes.
O registro das fichas de atendimento de urgência, onde constam todas as
informações referentes ao tipo da lesão, é responsabilidade do profissional que
realiza o atendimento, o qual muitas vezes desconhece ou menospreza a
importância deste ato, devido ao reducionismo com que o modelo biomédico aborda
esta temática (MINAYO, 2004a).
Esta situação, para Souza (2002), tem efeitos sobre a qualidade da
informação porque dificulta a visibilidade do fenômeno; minimiza o investimento
necessário para enfrentar o problema; impede o planejamento das ações, como a
adequação de equipamentos, pessoal e leitos para atendimento das vítimas e
finalmente, dificulta a prevenção.
Quanto ao local da lesão, a cabeça, com 44 registros (39%), aparece como
local mais prevalente. Análise das agressões ocorridas em 2000, em São Paulo,
revelou que o segmento corpóreo mais atingido foi a cabeça (GAWRYSZEWSKI,
KOIZUMI, MELLO-JORGE, 2004). A agressão é evidenciada por meio de lesões
físicas envolvendo principalmente a cabeça, pescoço e extremidades, apresentadas
como contusões, lacerações, traumatismos crânio-encefálico e fraturas (PHEBO;
MOURA, 2005).
TABELA 4 DISTRIBUIÇÃO DO TIPO DE LESÃO SEGUNDO O SEXO,
CANOINHAS 2008
Tipo de agressão Feminino
N %
Masculino
N %
Total
Ferimentos corto contusos
23 32,86 47 67,14 100%
Ferimento por arma de fogo – FAF
- - 8 100,00 100%
Ferimento por arma branca – FAB
- - 1 100,00 100%
FAF + FAB
- - 1 100,00 100%
Traumatismo crânio encefálico – TCE
1 11,11 8 88,89 100%
Fratura
- - 2 100,00 100%
Entorse
1 100,00 - - 100%
Sem especificação do tipo de lesão
7 33,33 14 66,67
100%
Total
32
81
113
FONTE: O Autor (2008)
Com relação à distribuição do tipo de lesão segundo o sexo, destacam-se os
ferimentos por arma de fogo e arma branca no sexo masculino, com 8 registros e 1
registro, respectivamente, e nenhum para o sexo feminino. Os dados são
corroborados pela literatura que apresenta os homens como categoria mais exposta
aos ferimentos com a utilização de armas (SOUZA; ASSIS; MINAYO; PIRES, 2007).
Em uma análise sobre trauma facial, o mesmo resultado foi encontrado, uma vez
que todos os casos de ferimentos por arma de fogo ocorreram em homens. Em se
tratando da análise de mortalidade, a arma de fogo mata mais jovens do sexo
masculino que qualquer doença ou outra causa externa (PHEBO e MOURA, 2005).
Como observado em vários estudos (PERES, 2004; WAISELFISZ, 2004;
PHEBO e MOURA, 2005; MINAYO, 2006), a arma de fogo é um instrumento
importante para a ocorrência de violência, uma vez que tem grande poder fatal, é de
fácil acesso, e é usada com muita freqüência para intimidar ou para produzir lesão.
Para Njaine e Reis (2005), apesar de existir no país uma lei de 1997 que transforma
em crime o porte ilegal de armas de fogo, a indústria e o comércio de armas vem
crescendo. O impacto da violência para Brasil (2006), do sofrimento, das seqüelas e
das mortes por arma de fogo tornou-se uma questão de saúde pública e de luta pelo
direito à vida no país.
A respeito da utilização de arma branca, a literatura mostra que a maior
incidência de violência envolvendo este instrumental encontra-se entre os homens,
representados principalmente por adultos jovens (Guimarães et al., 2005), fato
constatado tamm neste estudo, visto que, as agressões com a utilização deste
instrumental ocorreram no sexo masculino com 2 registros de agressão e nenhum no
sexo feminino.
TABELA 5 DISTRIBUIÇÃO DO TIPO DE ARMA UTILIZADO SEGUNDO O SEXO
E PROCEDÊNCIA, CANOINHAS 2008
Tipo de arma
Masculino
Urbana Rural
Feminino
Urbana Rural
Total
Arma de fogo 5 3 - - 8
Arma branca
1 - - - 1
Arma de fogo + Arma branca
- 1 - - 1
Outros Materiais
3 - - 1 4
Não utilizado
55 13 25 6 99
Total
64 17 25 7 113
FONTE: O Autor (2008)
Ao analisar a distribuição do tipo de arma, segundo a procedência, destaca-
se o predomínio da arma de fogo, com 5 registros na área urbana e 3 na área rural.
Entretanto, o único registro da utilizão de arma de fogo e arma branca
concomitante, em uma mesma agressão, ocorreu na área rural. A arma de fogo
pode se constituir em uma tentativa de se proteger contra a vioncia, ao mesmo
tempo em que é o instrumento de reprodução da violência que pretende evitar
(PERES, 2004).
A arma de fogo, para Leal e Lopes (2005), principalmente entre os jovens,
tem função simbólica, pois representa masculinidade, capacidade de defesa e
demonstração de coragem. Sobreviver à violência provocada por arma de fogo ou
arma branca, segundo Oliveira (2001), pode ser considerado um “troféu”, pois o
indivíduo é “homem suficiente para correr o risco”, sua masculinidade é reforçada e
estará pronto para outro enfrentamento.
É importante destacar, que em 99 das agressões, não foi utilizado nenhum
tipo de arma, dado corroborado pela pesquisa realizada em 2004, em cinco capitais
brasileiras, que evidenciou a predominância das agressões exercidas por meio de
força física, sem a utilização de qualquer tipo de arma ou material e as agressões
por arma de fogo, seguidas daquelas perpretadas por objeto cortante e penetrante
(SOUZA; ASSIS; MINAYO; PIRES, 2007). A literatura utiliza o termo abuso físico
como o uso da força física para produzir lesões, traumas, feridas, dores ou
incapacidades em indivíduos (BRASIL, 2001b).
A grande parte das mortes por agressões corpo a corpo, por armas brancas
e armas de fogo ou por uso de outros objetos contundentes se devem, para Minayo
(2006), à violência interpessoal, originada pela exacerbação das relações sociais
entre os brasileiros.
4.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA AGRESSÃO FÍSICA
A análise do fenômeno em estudo foi realizada por meio das quatro
dimensões do tema-objeto citado por Bardin (1977, p. 66-67): dimensão I – a origem
do objeto/fenômeno, aqui denominada “motivos”; dimensão II as implicações do
objeto; dimensão III – a descrição do fenômeno; dimensão IV – o sentimento face ao
objeto. Percebe- se que essas dimensões, quando alteradas em sua seqüência,
transmitem a noção de processo: descrição do fenômeno (agressão física), origem
do fenômeno (motivos da agressão física) e suas implicações para as vítimas.
Ao analisar as entrevistas percebeu-se que os sujeitos da pesquisa
descreveram e explicaram a agressão sica de modo semelhante. Eles não
definiram a agressão, mas de suas falas foi possível apreender 3 subcategorias
FIGURA 3 - REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA AGRESSÃO FÍSICA SEGUNDO AS
VÍTIMAS, CANOINHAS, 2008
FONTE: O Autor (2008)
Ao analisar as entrevistas percebeu-se que os sujeitos da pesquisa
descreveram e explicaram a agressão sica de modo semelhante. Eles não
definiram a agressão, mas de suas falas foi possível apreender 3 subcategorias que
descrevem o fenômeno em estudo como: ‘Resultado da auncia de diálogo e
entendimento; Facilidade na solução de conflitos e Reflexo da formação’.
Quanto aos motivos para a ocorrência da agressão física, foi possível
apreender uma categoria: ‘a violência como um instrumento de poder’,
Quando questionados a respeito do que a violência representou em suas
vidas, emergiu o tema implicações da agressão física da violência, tendo como
subcategorias: ‘a consciência da vulnerabilidade; a ebulição de sentimentos e a
experiência de agressão’.
Em seguida, passa-se a discorrer sobre os resultados encontrados nos
discursos dos participantes da pesquisa, conforme os temas emergentes e as
categorias explicativas.
AGRESSÃO FÍSICA
Descrição:
Reflexo da formação
Facilidade na solução de
conflitos
Resultado da ausência de
diálogo e entendimento
Motivos:
Agressão física como um
instrumento de poder
Implicações
A consciência da
vulnerabilidade
Sentimentos relacionados
á agressão
Experiência de agressão
4.2.1 A descrição da agressão física
A descrição da agressão física foi feita pelos sujeitos do estudo de três
maneiras diferentes, as quais têm relação com a falta de calma e diálogo para
resolver conflitos, a facilidade que a agressão propicia na resolução de diverncias
e que ela resulta de aspectos ligados à formão dos sujeitos envolvidos.
Os sujeitos descrevem os episódios violentos e o envolvimento de vizinhos,
colegas, familiares, desconhecidos, policiais, companheiros, empregados, como os
responsáveis pela agressão. Na literatura, encontra-se o termo violência comunitária
como aquela que ocorre no ambiente social em geral, entre conhecidos e
desconhecidos, e considera-se suas diferentes formas de expressão como a
violência juvenil, estupros, ataques sexuais e as agressões sicas (MINAYO, 2005),
foco deste estudo.
Os depoimentos, a seguir, ilustram esta categoria:
[...] um ato de covardia, da pessoa não chegar a um comum acordo como
duas pessoas adultas, num termo que podia ser resolvido de várias formas
[...] (E8) [sic].
[...] significa duas pessoas não se entenderem e vir uma a agredir a outra,
tanto física como verbal [...] (E6) [sic].
[...] antigamente não existia este tipo de coisa, sempre tinha amizade um
vizinho com outro [...] acho muito ruim uma pessoa agredir a outra (E7) [sic].
Para Michaud (1989), a violência é um fenômeno que ocorre nas interações
sociais quando um ou mais atores agem de maneira direta ou indireta, causando
danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, tanto em sua integridade física,
como moral, patrimonial e cultural.
Os entrevistados referem que tanto problemas de relacionamento quanto
alterações de comportamento para a descrição da violência, aspecto corroborado
por Souza; Lima; Veiga (2005) ao afirmar que atualmente constatam-se mudanças
nas formas de relacionamento, nos valores, sobretudo referente ao valor da vida
humana, e na percepção de mundo, o que exige uma reflexão sobre os sentidos
deste fenômeno.
Outro aspecto citado é a falta de diálogo, evidenciando a legitimação do uso
da agressão física como forma de resolução de conflitos de interesse, seja entre
pessoas ou entre grupos, o que pode levar ao que se chama de banalização da
violência. Esse meio torna-se fácil, banal, comum, e dificilmente é abandonado
(GUIMARÃES e CAMPOS, 2007).
Acredita-se que o ciclo da violência contribui para o aprendizado de que
essa é a única forma de resolução de conflitos (ALGERI e SOUZA, 2006).
[...] maneira de tentar resolver as coisas pelo jeito mais fácil,
quer dizer que parece mais fácil, tipo assim, você não quer
conve
rsar, tentar chegar num acordo entre as partes e acha
que com soco e discussão tudo vai se resolver [...] (E13) [sic].
[...] falta de diálogo e já parte para a agressão [...] (E9) [sic].
[...] ele v
eio me agredindo, sabe, foi totalmente
inesperado, não teve conversa [...] eu falei pra ele ainda
calma, vamos conversar, ele se negou, disse que não tinha nada para
conversar comigo e que tinha uma coisa pra mim no carro [...] sim que
ele veio com uma barra de ferro de quase 2 metros e veio direto assim [...]
(E3) [sic].
Fica evidente, nas falas dos sujeitos E13 e E3, que eles representam a
agressão física como uma forma de lidar com conflitos, e como afirma Monteiro;
Cabral e Jodelet (1999), as pessoas têm dificuldade em lidar com um mínimo de
conflito social, e reagem agressivamente, evitando o diálogo entre seus pares,
precipitando a agressão física como forma de resolver suas divergências ou
diferenças.
É preciso lembrar que o conflito sempre existiu nas relações entre casais,
entre pais e filhos, entre vizinhos, entre chefes e subordinados, por exemplo. Ele não
é mau, pois faz parte das relações sociais, entretanto, quando é transformado em
intransigência, pode causar maus tratos e a morte (MINAYO, 2006). Para a autora o
problema es na incapacidade de resolver os conflitos por meio da conversa, de
explicitação civilizada dos pontos de vista diferentes, da compreensão das razões de
cada uma das partes, buscando, pela negociação uma saída pacífica.
Violência é quando as pessoas não conseguem resolver os
problemas conversando, daí partem para a briga, para discussão [...] (E11
[sic].
[...] quando as pessoas não conseguem chegar a um acordo de
forma civilizada partem pra outro tipo de solução que é a
violência, que na verdade não resolve a situação, acaba
criando mais um problema [...] (E 12) [sic].
As falas dos sujeitos E11 e E12 demonstram a ausência de busca de
alternativas, que não a agressão para a resolução de conflitos, resultado semelhante
ao encontrado por Gomes e Fonseca (2005), em estudo sobre as dimensões da
violência apreendidas no discurso de professoras e cuidadoras de crianças e
adolescentes. Estes dados são corroborados pelo estudo que procurou relacionar a
violência, etnia e cor, e encontrou predisposição dos indivíduos para sua utilização
como solução de conflitos (NORONHA et al., 1999). Os dados revelam que uma
representação social da utilização da agressão sica como resolução de conflitos e
resposta às divergências foi elaborada pelas vítimas, e esta também foi encontrada
em outros estudos, o que pode indicar uma direção para a formulação de políticas
de vigilância e controle do fenômeno.
Outra categoria, encontrada nos discursos dos sujeitos entrevistados, foi a
descrição da violência como reflexo da formação. Neste sentido, foi apontado que a
agressão sica tem sua origem no processo de educação do indivíduo, como é
observado nos depoimentos a seguir:
A violência hoje em dia vem pela formação do indivíduo, desde a raiz da
família, então no momento que os pais mostram o caminho correto para
essa pessoa ela vai ter uma formação boa, se não acontecer este fato é
lógico que ela vai se desvirtuar, vai procurar outros caminhos, e a
conduta é a principal coisa pra violência (E5 [sic].).
[...] estes tipos de elementos, que andam pelas ruas, drogado, fumante [...]
sem trabalho ou ocupação [...] sem uma orientação na vida [...] tudo perdido
(E2 [sic].).
É reproduzida no discurso do sujeito E5, a importância das relações
familiares para a prevenção da violência, quando os pais ou responsáveis mantém
um relacionamento familiar adequado e transmitem valores essenciais aos filhos. A
qualidade do convívio existente entre pais e filhos, para Phebo e Moura (2005), pode
ser determinante, tanto no envolvimento quanto no aparecimento dos desfechos
decorrentes da violência. Os autores afirmam que aquelas famílias que não
valorizam as diferenças e não promovem o diálogo, podem ensinar a seus membros
a resolver seus conflitos com violência.
A falta de afeição, a auto-imagem deteriorada, a dificuldade de relações
familiares e a orientação voltada para a violência são consideradas variáveis centrais
na discussão de comportamentos de risco, e há, segundo Assis et al. (2004), a
influência da convivência familiar sobre o crescimento e desenvolvimento de seus
membros como elo fundamental para a formão do indivíduo com auto-estima,
competência social e capacidade de estabelecer relações interpessoais positivas.
4.2.2 Os motivos para a ocorrência da agressão física
Quando solicitados a falar das motivações para a ocorrência da agressão
física, percebe-se uma tendência dos sujeitos entrevistados a explicá-las como a
utilizão do poder, seja este exercido por familiares, vizinhos, e até mesmo agentes
responsáveis pela defesa e proteção dos cidadãos como os policiais. Em estudo
realizado por Schraiber; Gomes; Couto (2005), as categorias mais referidas em
termos de agressores, tamm foram amigos, estranhos e policiais. É importante
destacar que, no conceito de violência apresentado no Relatório Mundial sobre a
Violência e a Saúde, da OMS (2002, p.5), a utilizão do poder é explicitada como:
[...] uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra
si próprio, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que
possa resultar em ou tenha alta probabilidade de resultar em morte, lesão,
dano psicológico, problemas de desenvolvimento ou privação. [grifo nosso].
Essa forma de ver os atos violentos está de acordo ou vai ao encontro do
explicitado pelos sujeitos deste estudo.
O ato violento, para Guimarães e Campos (2007), é a expressão da
imposição das necessidades, expectativas e vontades de um ator social sobre as de
outro, e apontam que diversos autores reconhecem a violência como a expressão de
conflitos em uma dinâmica de poder. A relação de poder exercida pelos agressores
foi evidenciada pelas falas a seguir:
[...] quem pratica este tipo de coisa não quer nem saber do
direito das outras pessoas, chega e vai surrando [...] (E16) [sic].
[...] mas vai falar, não tem como, o aceita, não tem como
você conversar, ele age assim, ele não aceita [...] e chegou a
me machucar, me machucou [...] (E6) [sic].
A dominão esteve presente nas falas dos sujeitos E16 e E6,
demonstrando, de acordo com Chauí (1984), que ao transformar a diferença em
assimetria, com intuito de dominação, exploração ou opressão, ocorre o
assujeitamento do outro.
Constata-se também uma representação da agressão física mais ligada às
microrrelações de poder e aos conflitos interpessoais, apresentando uma visão
socialmente mais ampla do fenômeno como as agressões que ocorrem entre
conhecidos e estranhos, cujos determinantes são macro e microssociais
(GUIMARÃES e CAMPOS, 2007; NORONHA et al., 1999).
[...] sempre acontece assim, uma pessoa ou até mais de uma
querendo se a
proveitar de outro mais fraco, ás vezes até
homem se aproveitar de mulher, adulto que surra ou se
aproveita de criança pequena [...] (E16).
[...] não dá pra conversar com ele, então a gente deixa [...] a gente
reclamava e ele agredia com palavrão e naquele dia ele passou do
palavrão, daí ele fez coisa pior (E7).
A violência é um meio e um instrumento para a conquista de poder, Arendt
(1994), porém, não a confunde com o poder, pois só existe violência quando há uma
incapacidade de argumentação e de convencimento de quem o detém.
Por sua vez, as relações sociais são permeadas por relações de poder que
se instalam nas relações de classe, gênero, etnia e cultura, e nessas relações as
assimetrias de poder constituem-se fonte permanente de tensão e conflitos sociais e
interpessoais (ALMEIDA, 2006). Diante dessas assimetrias, os atos violentos podem
se impor como resolução de conflitos e originar danos, e conforme Algeri e Souza
(2006), eles ocorrem por uso da força, coerção e dano, em relação ao outro,
presentes nas relações de poder.
Diante dessas assimetrias, os atos violentos podem se impor como
resolução de conflitos e originar danos, o que foi evidenciado quando discutida a
descrição da violência, em que os sujeitos se utilizaram da categoria facilidade na
solução de conflito para representar o fenômeno.
Estes danos podem ser causados pela força sica, como foi demonstrado
nos resultados referentes ao tipo de lesão, em que os ferimentos sem a utilização de
armas ou materiais foi prevalente, evidenciando, segundo Restrepo (1998), que as
mãos servem tanto para acariciar como para agarrar. Estas são duas facetas
extremas da possibilidade do encontro inter-humano.
[...] para eles, tipo assim, quem manda são eles [...] acham
que podem tudo, que mandam em todo mundo, e o jeito de
tirar satisfação é assim mesmo com agressão [...] (E16) [sic].
Para Aranha e Martins (2005), o poder, a força e a autoridade transformam-
se em violência quando extrapolam seus limites e se configuram como abusivos,
contrariando os interesses de uma das partes envolvidas. A agressão cometida por
agentes responsáveis pela segurança dos indivíduos, como os policiais, leva a
população a construir uma imagem negativa destes profissionais, além de
sentimentos de descrença e medo com respeito às suas ações (CARDIA, citado por
ANCHIETA; GALINKIN, 2005).
Quando falam de suas experiências, observa-se como o abuso de
autoridade está presente:
[...] o pior é que a PM (policial militar) faz isso [...] el
es
não perguntam nada, vem com chute, soco e humilhação,
aí você precisa ficar na tua pra não apanhar muito [...] (E10) [sic].
[...] tentativa
de demonstração de foa, de poder, de
querer mostrar quem manda [...] (E13) [sic].
[...] abuso de autoridade, porque no caso os policiais não
pre
cisavam agir daquele jeito, poderiam ter conversado
(E13) [sic].
Os sujeitos E10 e E13 identificam o abuso de autoridade em seus discursos
e para Novo (2006), ele é percebido como uma distorção da ação policial individual e
não como conseqüência de uma política social. Entretanto, para Monteiro; Cabral;
Jodelet (1999), resultados de uma pesquisa revelam que as representações sociais
da violência sica eso associadas indiretamente à ausência de proteção do
Estado, a um fenômeno que causa sofrimento a todos os indivíduos e em todos os
segmentos da sociedade.
Para Minayo (2006), a violência é um fato humano e social, que consiste no
uso da força, do poder e de privilégios para dominar, submeter e provocar danos a
outros indivíduos. Existem sociedades mais violentas que outras, o que evidencia o
reflexo da cultura na forma de solução de conflitos.
Da mesma forma, Aranha e Martins (2005) afirmam que a paz é um tipo de
ordenamento social em que os conflitos são resolvidos pela discussão e pelo
diálogo, sem o recurso da violência. As autoras destacam comportamentos que
ajudam a manter a paz, como: respeito pelos direitos humanos, comunicação
participativa, tolerância e solidariedade, repúdio ao racismo e a qualquer forma de
discriminação.
4.2.3 As implicões da agressão física para as vítimas
A subcategoria consciência da vulnerabilidade, como implicações da
agressão física, foi apreendida no discurso das vítimas. Portanto, na estrutura do
pensamento popular existe a certeza de que ela é parte e resultante das relações e
da vida social (MINAYO, 2005).
Na sociedade são atingidos níveis insuportáveis de desigualdade, de
preconceitos e de exclusão, com a conseqüente geração de violência (MENDONÇA;
INOJOSA; COSTA, 2007). A sociedade humana construiu uma desigualdade interna
estrutural, que é fonte de conflitos e de violência (INOJOSA, 2006).
Para Algeri e Souza (2006), o meio familiar, o ambiente comunitário, as
relações sociais na escola, as condições econômicas e sociais dos sujeitos os
tornam mais vulneráveis a sofrer ou provocar abuso. Portanto, para Minayo e Souza
(1998), a violência não é praticada apenas contra indivíduos, mas tamm contra
grupos, gêneros, etnias e até nações, caracterizando-se não somente como um
fenômeno contemporâneo, como também presente na história da constituição da
humanidade.
Para Minayo (2005), as diferentes formas de violência se articulam criando
uma expressão cultural naturalizada nas relações e nos comportamentos, atitudes e
práticas, motivo pelo qual não se conhece nenhuma sociedade totalmente isenta de
violência (MINAYO, 2006).
Esta afirmativa pode ser evidenciada nas falas a seguir:
[...] pensei que nunca ia acontecer pra mim, eu não faço mal para ninguém,
então a coisa que eu achei que não ia acontecer comigo e me aconteceu
(E2) [sic].
[...] tenho a minha consciência tranqüila [...] não fiz nada pra merecer o que
mereci (E3) [sic].
[...] o que está acontecendo? [...] o porquê disso comigo, eu não fiz nada [...]
(E5) [sic].
[...] eu tive uma boa intenção, eu não fui praticar um assalto, eu não estava
armado nem com um canivete, eu não fui pra isso, eu fui pra conversar, pra
me entender, não para mim, mas para uma pessoa pxima [...] (E3) [sic].
Para Kristensen et al. (2003), a vida tem se caracterizado por perigo e
ameaça de agressão inter e intra-espefica, um mundo brutal e imprevisível no qual
os seres humanos estão expostos. o essas experiências que vão direcionar os
organismos para interpretar as informações ambientais como potencialmente
ameaçadoras e se comportar de forma mais ou menos agressiva.
A vida para Mendonça; Inojosa e Costa (2007) é uma teia sustentada nas
relações entre indivíduos e grupos, e as rupturas em pontos dessa teia fragilizam
todas as relações. Essas rupturas da teia são expressas nas agressões e nas
mortes, ruptura total das conexões que mantêm a vida.
É o caráter eminentemente humano da violência que organiza as condições
sociais com que se manifesta, e por serem humanas, suas expressões incluem
significado e intencionalidade (MINAYO, 2005), como fica evidente nos relatos a
seguir:
[...] ninguém escapa dela [...] quando os caras vem para isso ninguém
escapa dela (E4) [sic].
[...] surgiu aquele tumulto ali que eu nem vi [...] no momento que eu ia
passando a pedra desviou do rapaz e pegou em mim [...] (E5) [sic].
[...] eu entrei sem saber, se o fosse eu podia ser qualquer outra pessoa,
eu estava no lugar errado na hora errada do lado da pessoa errada (E8)
[sic].
[...] acho que quando a pessoa não deve não precisa temer, mas com esses
caras não é bem assim, eu não devia, mas tive muito medo do que podia
acontecer naquele dia (E16) [sic].
[...] por alguns segundos de ignorância uma pessoa poderia ter prejudicado
a vida de uma família inteira [...] (E8) [sic].
A organizão do discurso em torno dos episódios de agressão física indica
que estes se encontram incorporados ao cotidiano, fazendo parte da realidade dos
entrevistados.
Em síntese, encontrou-se uma representação social de que a convivência
com a agressão física é inevitável na vida contemporânea na sociedade atual
(NOVO, 2006), e é vista como algo comum, sendo muitas vezes esperada, fazendo
parte de uma norma social (GUIMARÃES e CAMPOS, 2007).
Para Schraiber; D’Oliveira; Couto (2006), os estudos científicos recentes
sobre a temática agressão e saúde, preocupam-se em responder ao senso comum
que aponta este fenômeno como invisível, naturalizado e inevivel, tendo em vista
sua alta magnitude e da assisncia a seus múltiplos agravos à saúde. Nesta
perspectiva, Minayo e Souza (1999) afirmam que os estudiosos sobre o tema lhe
conferem um caráter de permanência em todas as sociedades, podendo ser
considerada uma resultante das interações sociais.
Outra subcategoria apreendida da fala dos sujeitos foi a ebulição de
sentimentos como medo, susto, constrangimento, raiva, vergonha, decepção,
humilhação, estando presente na maioria absoluta dos discursos, em graus diversos
de intensidade e freqüência. Para Pereira (2000), pode haver raiva, revolta, mágoa,
irritação, que nem sempre se manifestaexplicitamente para aquele que provocou
tal sentimento, e aparecer de forma difusa e em um momento diferente daquele em
que ocorreu o evento violento. Esses sentimentos fazem parte da estrutura das
representações sociais das vítimas, dos agressores, além de expressarem atitudes
que encontram para se proteger, defender ou reagir a este fenômeno psicossocial
(MONTEIRO, CABRAL, JODELET, 1999).
A expressão de sentimentos negativos o adequáveis à função do saber,
como uma forma de conhecimento que permite compreender e explicar a realidade
por meio das vivências e das relações sociais (MOSCOVICI, 1978).
A decepção foi evidenciada nas falas dos sujeitos, principalmente nas
ocorrências envolvendo familiares ou pessoas conhecidas:
[...] uma decepção muito grande [...] porque não foi um
assaltante, foi uma pessoa dentro da família que você
convive,foi o padrinho do meu filho [...] laços de família
foram totalmente desestruturados (E3) [sic].
[...] a confiança que a gente perde, não tem mais
confiança [...] nunca mais fomos amigas, amiga que nem
essa é melhor um cachorro (E9) [sic].
O medo e o susto foram observados no depoimento das vítimas, presentes
sobretudo em agressões realizadas por desconhecidos como E2 e E3 corroborando
com Novo (2006), pois o sentimento de medo é fruto da impotência e incapacidade
de agir no momento da agressão.
[...] foi um susto grande pra mim [...] e me pularam em bastante, assim fosse
talvez um ou dois a gente podia se virar, mas eram bastante (E2) [sic].
.
[...] um susto, porque como eu o esperava eu não tive reação [...] e até
um medo, não posso dizer que não porque ali ele podia ter me matado pela
violência que ele veio (E3) [sic].
O medo é apenas uma das manifestações da vivência da violência, pois o
problema não se reduz às lesões físicas, e alcança níveis incomensuráveis quando
se pensa nas relações e conexões criadas como efeito-causa e causa-efeito
(MINAYO e SOUZA, 1998).
A humilhação foi observada nas falas dos sujeitos, em especial nas vítimas
do sexo masculino como E1 e E3.
[...] eu como homem me senti humilhado de ser agredido por uma mulher
[...] fosse homem era diferente, mas mulher você sabe que tem a Lei Maria
da Penha, se bate na mulher você vai pra cadeia (E1) [sic].
[...] foi muito maior que agressão verbal [...] é uma humilhação [...] na
verdade ele poderia ter me matado (E3) [sic].
Para estes sujeitos, mais que as lesões físicas, a humilhação em ser vítima
de uma agressão gerou um impacto maior, o que pode estar relacionado à
necessidade masculina de elementos associados à honra, autoridade e poder
(SCHRAIBER; GOMES; COUTO, 2005). Chama atenção tamm o reconhecimento
da Lei Maria da Penha, como uma tentativa de enfrentamento da utilizão do
recurso da violência pelos homens, principalmente na esfera privada, discordando
da habitual permissividade social para a violência dos homens contra as mulheres, o
que pode influenciar comportamentos e impedir reações.
A vergonha e a raiva foram observadas principalmente nas falas das vítimas
do sexo feminino como E9, E7e E11:
[...] senti muita raiva e vergonha, porque quem passou por mentirosa fui eu
[...] depois também os comentários que ficam falando da gente (E9) [sic].
[...] senti muita raiva porque nunca tinha acontecido [...] senti vergonha do
que ele falou, coisa assim que nunca nem passou pela cabeça da gente [...]
e a gente tem família, é avó então ficou muito chato (E7) [sic].
[...] senti muita raiva por apanhar sem merecer, eu não fiz nada de errado
com ela [...] (E11) [sic].
Outro sentimento presente nos relatos dos sujeitos foi o constrangimento:
[...] fiquei com vergonha das pessoas que estavam passando ali e viram
aquela confusão [...] me senti muito mal, parecia que todo mundo estava me
olhando de um jeito estranho, como se eu fosse o culpado de
tudo que aconteceu [...] (E12) [sic].
O próprio termo violência traz a concepção de constrangimento exercido
sobre uma pessoa, tanto físico ou moral, como o relato do sujeito E12.
Com origem latina, o vocábulo violência vem da palavra vis que quer dizer
força e refere-se à noção de contrangimento e de uso da superioridade sica sobre
o outro, e quando são analisados os eventos violentos, descobrem-se conflitos de
autoridade, lutas pelo poder e a vontade de domínio sobre o outro (MINAYO, 2005).
A partir do relato dos sentimentos vivenciados pelos sujeitos, concorda-se
com Minayo e Souza (1998), ao afirmarem que os processos violentos inibem,
modificam e enfraquecem tanto a qualidade como a capacidade de vida.
Os sujeitos entrevistados também apontaram que as implicações da
agressão podem permanecer por algum tempo em suas merias, pois constituem
vivências carregadas de emões:
[...] não fiquei com seqüelas assim no meu corpo [...] mas ficou
espiritualmente dentro de mim porque sempre eu me lembro [...] não sai tão
fácil da gente, é uma marca que vai ficar pra sempre (E5) [sic].
[...] serve também de alerta, através do que aconteceu comigo eu posso
passar pra outras pessoas para que não aconteça o mesmo (E5) [sic].
Foram destacados também os reflexos da violência sobre a vítima e
tamm sobre seus familiares, conforme ilustra o discurso abaixo:
[...] muita preocupação com o que poderia acontecer dali para frente, se
poderia prejudicar meu emprego [...] fiquei preocupado com a minha filha,
com a minha esposa, como eu ia chegar em casa e falar acabaram de partir
minha cabeça eu tô indo para o hospital (E8) [sic].
[...] coitada da minha mãe que sofreu tudo quietinha no canto dela [...] que
maldade nós fazer a velhinha sofrer desse jeito, pois claro que ela se
preocupou com nós [...] (E14) [sic].
[...] nossa maior preocupação é o ambiente familiar que eles vivem hoje,
com um homem que é capaz de qualquer coisa [...] acabou, a família
acabou (E3) [sic].
Constatou-se tamm que os sujeitos foram unânimes em relatar que a
experiência de agressão havia sido a primeira em suas vidas, ao mesmo tempo, fica
claro conforme discutido acima a questão de sentirem-se vulneráveis ao fenômeno:
[...] essa foi a primeira vez [...] graças a Deus nunca fui agredido por
ninguém (E2) [sic].
[...] não, a gente nunca encrencou com ningm, sempre teve amizade com
todas as pessoas que moravam em volta da gente [...] (E7) [sic].
[...] não, de nenhuma maneira que eu me lembre [...] espero que seja a
última também. que não aconteça comigo e com ninguém se possível, mas
não depende da gente (E8) [sic].
Destaca-se também, que a agressão cometida pelos pais não é reconhecida
como uma vivência de violência, pois afirmam que o primeiro episódio foi aquele
referente à pesquisa, mesmo lembrando que, quando crianças, haviam apanhado.
[...] primeira vez, só apanhava do pai de criança, fazia arte e apanhava (E9)
[sic].
Segundo Schraiber et al., (2005), isto se deve às imagens remanescentes da
cultura que entendeu os castigos ou punições corporais como recursos de
socialização e práticas educativas, e não como violência. Essas características são
próprias do patriarcado, uma ideologia ou cultura de violência estrutural que legitima
a força e o poder como modo natural de convivência, tendo como exemplo evidente
a palmada pedagógica como instrumento de educação, que os pais se atribuem o
direito de usar com seus filhos (DINIZ; PONDAAG, 2006).
Os resultados apresentados acima reforçam a necessidade explicitada por
Minayo (2005), da utilização o de modelos epidemiológicos, mas da inclusão
da compreensão dos fatores e contextos específicos na abordagem dos atos
violentos. Para a autora não basta quantificar os mortos, os feridos, as vítimas e os
agressores, pois estes fazem parte de uma realidade histórica e cultural, e possuem
razões ou motivações para a ocorrência do fenômeno. Entender a sua magnitude e
seus sentidos é pré-requisito para a formulação de programas de promoção e de
prevenção.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se que a violência física es presente de forma similar nos
municípios, corroborando os achados da literatura que a indicam como um
fenômeno contemporâneo, fazendo parte da infrapolítica da sociedade brasileira.
Observou-se, na construção do perfil das vítimas de violência sica no município de
Canoinhas, a tendência nacional, com predominância do sexo masculino, entre as
faixas etárias mais jovens, residentes na área urbana, sendo vitimados por meio da
agressão interpessoal, e com a utilização de arma de fogo e arma branca.
Foi possível, a partir da análise dos dados, reconhecer a ocorrência e o perfil
das vítimas sobreviventes de agressão física no município que segue a tendência
apontada na literatura, com predominância do sexo masculino - 81 (72%), entre
adultos jovens - 42 (37,17%) têm de 20 a 29 anos, seguida da faixa etária de 30 a 39
anos, com 27 (23,90%), vitimados com a utilização de força física - 70 (62%),
seguido de ferimentos por arma de fogo e arma branca.
Destaca-se que devido ao instrumento de coleta de dados, da fase
quantitativa da pesquisa, ter sido elaborado a partir da ficha de atendimentos de
urgências utilizado no cerio do estudo, o foi possível o levantamento de outras
variáveis importantes para uma análise mais aprofundada a respeito das
características dos sujeitos. Portanto, a pesquisa aponta a necessidade de melhorias
ou de padronização dos formulários de registro do atendimento às vítimas de
violência física, com o intuito de possibilitar um mecanismo de vigilância e
acompanhamento da ocorrência do fenômeno, bem como o reconhecimento de
fatores de risco ou de proteção dos indivíduos envolvidos nos atos violentos. Outro
fato a destacar é que o perfil ora apresentado refere-se apenas as vítimas
sobreviventes da agressão e/ou atendidas neste cenário, não incluindo as que
buscaram outros serviços para o atendimento, portanto, esta pesquisa revela uma
face deste fenômeno ainda por ser descoberto e aprofundado para a determinação
de ações mais efetivas de vigilância, controle e prevenção da violência.
O reconhecimento da magnitude do agravo e a identificação dos grupos
vulneráveis podem contribuir para a formulação de políticas públicas voltadas a
promoção e proteção da saúde, e a recuperação e reabilitação dos indivíduos
expostos.
Além disso, é imprescindível que os profissionais de saúde que trabalhem
com a assistência às vítimas, possuam a habilidade de reconhecer e identificar os
indivíduos com risco potencial ou real para a ocorrência da violência. Para tanto, é
necessária a capacitação e sensibilização destes profissionais, no que se refere à
temática, bem como a inserção deste conteúdo nas grades curriculares dos cursos
de graduação, tendo em vista a magnitude e impacto do tema sobre a saúde da
população. Essa necessidade deve ser incorporada também nos programas Stricto
sensu e Lato sensu, com a finalidade de produção científica e de subsídios para o
cuidado de enfermagem.
Neste sentido, a inserção do tema da promão da saúde, da prevenção e
vigilância da violência e acidentes na agenda dos gestores em todos os níveis do
SUS é essencial para a consolidação de políticas públicas em âmbito local e
nacional.
A organização da assistência à saúde também lida com muitos desafios,
como a incorporação do tema na atenção básica, o fortalecimento das respostas
assistenciais de saúde às vítimas da violência em seu aspecto biopsicossocial, o
atendimento às urgências e a articulação de parcerias na busca de respostas
integradas.
A partir da análise das representações sociais das vítimas de agressão
física, foi possível apreender idéias e significados pelos quais procuraram descrever
e compreender as vivências individuais e as relações construídas no contexto social,
sendo possível apreender suas representações sociais. Evidenciou-se que as
mesmas perpassam por aspectos referentes à descrição do fenômeno, e a busca de
motivações e dos efeitos de sua ocorrência.
Para as vítimas, a agressão sica está presente quando a capacidade de
diálogo e de argumentação são vencidas pela utilizão do poder, e este fato reflete
a vulnerabilidade dos envolvidos. Foi evidenciado, pelos discursos, que os
agressores, familiares, amigos, companheiros, desconhecidos, policiais, eram
incapazes de resolver os conflitos por meio do entendimento e do respeito às
divergências, buscando, através da utilização da violência, o reconhecimento da
necessidade de seus atos. A questão da formação dos indivíduos também foi
lembrada como fator determinante para a ocorrência da violência.
A ocorrência do fenômeno também possibilita a ebulição de diversos
sentimentos como humilhação, decepção, raiva e revolta, vergonha,
constrangimento, susto e medo, sentimentos estes relacionados muitas vezes à
relação existente entre vítima e agressor. Então, a vergonha e o constrangimento
estiveram presentes principalmente nas falas das vítimas do sexo feminino,
enquanto a humilhação, mais referida pelos sujeitos do sexo masculino. A decepção
foi mencionada principalmente quando o agressor possuía laços de parentesco com
a vítima, e a revolta teve relação à violência perpetrada por agentes de proteção
como os policiais.
A representação social dos efeitos da violência como a vulnerabilidade foi
apreendida dos discursos dos sujeitos, ao mesmo tempo, em que ficou implícita a
impotência, com relatos permeados com indicações que a vítima não merecia ser
agredida, porém, não havia como deter os agressores.
Verificou-se, portanto, que as vítimas possuem uma representação social
sobre os motivos que as levaram a sofrer agressão física. Interpretar as
representações sociais da violência, em especial, os motivos para sua ocorrência,
pode possibilitar o reconhecimento de fatores de risco, bem como indicar possíveis
caminhos para a sua prevenção e controle. Da mesma forma, o conhecimento de
quem são as vítimas de violência e dos motivos envolvidos em sua gênese, pode
promover o melhor acolhimento destas pelos serviços de saúde, possibilitando uma
assistência humanizada e integral, com vistas a um suporte biopsicossocial.
Tendo em vista a magnitude do fenômeno violência e suas diversas
manifestações, o estudo das representações sociais de outras formas de agreso é
importante, na tentativa do reconhecimento de diferentes mecanismos envolvidos na
sua origem e na sua perpetuação. Espera-se que o estudo suscite reflexões sobre a
temática violência, contribuindo com a prática profissional da enfermagem e
trazendo subsídios que legitimem o cuidado às vítimas de agressão. O desafio que
se coloca quanto à violência, como fator de risco para a qualidade de vida, é
conseguir uma referência para a reflexão e para a ação, e que inclua, ao mesmo
tempo, o individual e o coletivo.
Portanto, para a saúde pública e para a enfermagem, busca-se o cuidado às
vítimas, ao mesmo tempo em que se procura prevenir sua ocorrência através da
identificação das motivações e da identificação dos determinantes de risco e de
proteção, formulando intervenções de forma articulada e intersetorial, e espera-se
que este trabalho contribua com subsídios para a prática profissional de
enfermagem.
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APÊNDICES E ANEXOS
APÊNDICE 1
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: ETAPA QUANTITATIVA
Instrumento de Coleta de Dados: etapa quantitativa
Caracterização da vítima:
Sexo:
Idade:
Residência:
Caracterização da violência:
Natureza da lesão:
Descrição da lesão:
Tipo de arma ou material utilizado:
CID:
Local, data e horário da agreso:
APÊNDICE 2
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: ETAPA QUALITATIVA
Instrumento de Coleta de Dados: etapa qualitativa
Sexo:
Idade:
Tipo de Agressão:
Quanto tempo após a agressão procurou o atendimento:
1. Para você o que significa a violência?
2.Você já foi agredido(a) anteriormente?
3. Para você quais os motivos que o(a) levaram ser agredido(a) ?
4. O que significa para você ser agredido(a) fisicamente?
APÊNDICE 3
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Eu,_____________________________________________________ concordo em
participar do estudo Representações sociais da violência: subsídios para o
cuidado de enfermagem que tem por objetivo “identificar o perfil das vítimas de
violência sica no município de Canoinhas SC e conhecer as representações das
vítimas sobre a ocorrência da violência”. Este estudo será desenvolvido por Janine
Ribeiro Isphair Watzko, aluna do Curso de Mestrado em Enfermagem da
Universidade Federal do Paraná/UFPR.
A minha participação acontecerá por meio da realização de uma entrevista,
previamente agendada. Não haverá qualquer tipo de desconforto ou risco em
conseqüência de minha participação no estudo. Contudo os benecios esperados
o melhor conhecimento da enfermagem em relação ao tema em questão.
Os dados somente serão utilizados pela autora do estudo mediante minha
autorização, desde que sejam mantidos o sigilo e o anonimato.
A aluna, autora da pesquisa, poderá ser procurada, no endereço: Rua Otto
Friederich 266, Bairro Tricolin, telefone (47) 36227181, para maiores
esclarecimentos.
Após ler o texto acima, compreendi a natureza do objetivo do estudo do qual
fui convidado a participar, certo de que terei acesso a todos os procedimentos,
podendo ser esclarecido de quaisquer dúvidas. Estou ciente que minha participação
é voluntária e que sou livre para interromper a participação a qualquer momento,
sem que ocorra problemas ou prejuízos.
Canoinhas, de de 2008.
___________________ ___________________
Assinatura Janine R. I. Watzko
RG pesquisadora
responsável 47-
36227181
r: Otto Friederich 266
Canoinhas – SC
APÊNDICE 4
TERMO DE CONSENTIMENTO DA INSTITUIÇÃO
Termo de Consentimento da Instituição
Venho através deste solicitar o consentimento da Secretaria Municipal de
Saúde de Canoinhas – SC para a realização da pesquisa Representações sociais da
violência: subsídios para o cuidado de enfermagem, referente ao meu projeto de
dissertação do Curso de Mestrado da Universidade Federal do Paraná UFPR, sob
orientação da professora doutora Maria de Fátima Mantovani.
A população alvo para a pesquisa serão vítimas de violência física
atendidas no Pronto Atendimento Municipal no período de janeiro de 2005 a
dezembro de 2007, selecionadas através das fichas de atendimento de urgência
preenchidas nos períodos mencionados.
Será mantido o sigilo e o anonimato dos sujeitos da pesquisa, respeitando
os preceitos éticos da Resolução CNS 196/96.
Agradeço a confiança para a efetivação do trabalho, colocando-me a
disposição para quaisquer informações adicionais.
Canoinhas, de de 2008.
Janine Ribeiro Isphair Watzko
Pesquisadora
Prof. Dra. Maria de Fátima Mantovani
Orientadora
Secretaria Municipal de Saúde
ANEXO 1
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA
ANEXO 2
FICHA DE ATENDIMENTO DE URGÊNCIAS
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo