ensino médio. As idades variaram de 14 a 55 anos, e os depoimentos foram todos
obtidos em Curitiba, de agosto a setembro de 2007.
Ao contrário do procedimento com as crianças, evitamos relacionar as
montanhas à serra, centrando os depoimentos somente na noção mais abstrata.
Esta propiciava um alcance mais abrangente, em termos de relações e
simbolismos, que tínhamos como objetivo explorar. As referências e alusões à
Serra do Mar, que surgiram nos diálogos, foram sempre de iniciativa dos
entrevistados.
Para nossa surpresa, muitos logo tratavam de relatar com nostalgia suas
experiências anteriores em incursões às montanhas, fossem elas recentes ou em
anos passados. Alguns guardavam lembranças vívidas de aventuras da infância,
ou de situações inusitadas que tinham vivido. Além de referência a bons
momentos, ou à beleza dos lugares visitados, muitos destacaram, ao contrário,
aspectos relativos ao risco, ao cansaço, a animais selvagens e ao medo.
A seguir transcrevemos algumas contribuições das pessoas.
“As montanhas são uma beleza, é a serra, a natureza, lugar de bicho, pedra...
(Entrevistador: Porque lugar de bicho?) Ah, ali tem mato brabo, dá cobra, onça,
bicho grande...” (Antoninho S., vigilante, 42)
“Ih, não sei disso não. Pergunta ali pro Johny, que vai de mochila pra lá com os
amigo dele. Pra mim não tem nada lá, é lugar de aventureiro, ou de bandido, dá
roubo, assalto.” (Rita P. S., faxineira, 35)
“Montanha pra mim é tudo de bom: natureza, aventura, sair com os amigos...
Sempre vou. A gente curte muito escalar, passar uns apuros, se diverte. Mas é
bom, a gente tem que enfrentar o medo, aventurar... (Entrevistador: medo de
que?) Ah, lá tem de tudo, né. Pedra com precipício, pode se perder, se machucar.
Volta e meia morre um, ou se quebra, tem que sair carregado.” (Johny S. F.
funcionário dos Correios, 19)
“... Meu filho sempre vai, mas eu tenho medo, dá preocupação, pode acontecer
uma tragédia lá, como essas que a gente vê no jornal ... mas ele tem os
equipamento, tá acostumado. Só não deixo ir naquele Anhangava, que lá tem
bandido, dá de tudo.” [Entrevistador: como vc sabe que lá tem bandido?] Ih, tem
no jornal. Até morte já noticiou lá esse ano.” (Elio, frentista, ±40)
“Montanha? Qual delas, tem tanta... A gente vê lá na serra... Da minha casa dá
pra ver a serra toda, é alto. De manhã então é tão bonito ver o mato amarelando,
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