Para Bergman (1998), os processos de objetivação e de ancoragem estarão
presentes na dinâmica que dará origem às representações sociais, emergindo da
interação de valores, idéias e práticas, no momento em que os indivíduos buscam
compreender o ambiente físico e social no qual estão inseridos. É assim, que torna-se
possível identificar um movimento circular na gênese das representações sociais: ao
mesmo tempo que elas surgem a partir da tentativa de dar significado ao contexto social
no qual o indivíduo está inserido, essas mesmas representações terminam por servir
como sistemas que dão origem a esses valores, idéias e práticas. Esse círculo vicioso
torna impossível a tarefa de determinar se as representações sociais são causas ou
conseqüências dos valores, idéias e práticas. Esse círculo vicioso parece indicar, então,
que a construção da realidade surge a partir da influência mútua entre indivíduo e meio.
Wagner (1995) exemplifica esse círculo vicioso, ao considerar que as diferentes
condições sociais existentes em grupos ou sociedades terão como conseqüência
diferentes representações sociais resultantes das necessidades dos grupos ou sociedades
de lidar com novos fenômenos ou problemas. Assim, observamos a influência do meio
sobre as representações sociais de indivíduos e grupos, representações essas que irão
influenciar a realidade em que vivem.
É por isso que a expressão representações sociais pode levar a diferentes
interpretações. Por um lado, destacam-se os processos pelos quais um conhecimento se
desenvolve coletivamente, através do discurso e da comunicação. Por outro, pode ser
entendido como o produto final desse processo, ou seja, o conhecimento coletivamente
distribuído e individualmente acessível. Em outras palavras, “as representações sociais
definem tanto os estímulos como as respostas que elas evocam” (FLATH &
MOSCOVICI, 1983, p. 337), servindo assim para identificar as fronteiras existentes
entre diferentes grupos, com base na visão de mundo que possuem.
Nos termos de Souza Filho,
“como as coletividades humanas tendem a passar de grupo psicológico
para grupo sociológico devido à regularidade de interações sociais, as
representações sociais, por sua vez, também tenderiam a estabilizar-se
e a tornar-se consensuais no interior de cada grupo, em um universo
comum. Destarte, ao transformar objetos externos dados quanto a
significados, funções e características, se produziriam um código e
uma identidade, socialmente partilhados e afirmados, face aos outros
grupos. Numa fase posterior, as representações sociais podem tornar-
se um ‘fato social’, como pretendia Durkheim, e aparecer, seja na
forma de atitudes e opiniões, seja de modelos sociais estruturados,
mais ou menos duráveis historicamente” (1998, p. 560).