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547-548). Estes detalhes do livro que são apresentados, anunciam a característica
da Heráldica, tão importante para uma representação suassuniana. A distribuição
dos títulos de nobreza pelo personagem Dr. Pedro Gouveia teria o seguinte
resultado: Quaderna passaria a ser Rei das Armas na Ordem de Distinção do Reino
do Cariri, aceito então, por preferência de Quaderna, na verdade, na condição de
cavaleiro
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. E, ainda, Conde da Pedra do Reino, nomeado com o seu próprio
brasão. Para Samuel, Dr. Pedro Gouveia reconhece suas raízes fidalgas o
condecorando com o título de Comendador da Ordem do Templo de São Sebastião
e Barão de Guarupá também com o seu próprio brasão. Clemente, mesmo com o
sangue tapuia que não há nada de fidalgo, também aceita o seu título pesquisado
pelo doutor de Visconde de Caicó (SUASSUNA, 1976, p. 555). A distribuição de
títulos de nobreza na obra de Suassuna é uma forma de representar os valores
romanescos medievais.
Outro assunto relevante para o fechamento da trama romanesca de
Suassuna é narrada pelo personagem Quaderna: a expedição do tesouro. Ele
descreve:
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Foi entre 1920 e 1930 que ouvi falar com mais exatidão sobre esse
fabuloso tesouro dos Garcia-Barretos. Vou contar, primeiro a parte que o
pessoal considera mais real e de fato, e depois a parte da legenda que, a
meu ver, é mais segura do que a primeira. Ocorre que, desde 1907 ou
1908, o comportamento de meu Padrinho começou a ficar meio estranho.
Ele sempre fora um homem trancado, ríspido e autoritário, austero e
religioso. De repente, deu para ficar meio fanático, atacado de mania
religiosa, o que começou a pertubar suas relações com a primeira mulher.
Passou a frequentar as procissões da Vila, não normalmente, como tinham
feito seu Pai, seu avô e ele mesmo, a princípio, mas sim vestido de roupa
roxa e de balandrau à mão. Na Quaresma, deu para cobrir a cabeça com
sacos, polvilhando-se inteiramente de cinza da cabeça aos pés. Entregava-
se então a terríveis jejuns e penitências. Começou, também, a preparar o
túmulo no qual pretendia ser sepultado. Escolhera, para isso, não o
Cemitério da nossa Vila, mas um lajedo enorme que ele mandou escavar e
no qual começaram a trabalhar todos os canteiros daqui, homens
habituados a lidar com a construção das amuralhadas cercas-de-pedra
sertanejas. Depois, comecei a frequentar o Seminário. Habituei-me então a
organizar aqui as festas anuais dedicadas ao Divino Espírito Santo. Meu
padrinho consentiu em aparecer nessas festas para ser coroado Imperador
do Divino. Comparecia a elas acompanhado por seu filho mais moço,
Sinésio, que, muito novo ainda, era coroado Príncipe no mesmo palanque
que o Pai. Seguiam-se cavalhadas, desfiles, Naus-catarinetas, cortejos,
procissões, tudo ao som da música de rabecas, violas, pífanos e tambores.
Parece que tudo isso ia subindo à cabeça de Dom Pedro Sebastião sem
que nós suspeitássemos de nada. E o tempo foi passando. [...] Dom Pedro
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Esta opção de Quaderna, o personagem principal, é mais uma escolha do autor pela influência de seus valores
cavaleirescos já abordados.
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Op. Cit. Pág: 90.