1988, era de 933,6% e, em 1989, na cifra de 1.764,8% ao ano, além de
um crescente empobrecimento do país, com acentuada queda dos
salários. Não bastasse esse cenário desagradável, multiplicavam-se,
desde 1987, acusações de corrupção e escândalos financeiros, tanto
públicos como privados, tais como a existência de fraudes no projeto
federal de construção da Ferrovia Norte-Sul, que ligaria o Maranhão à
Brasília (TEIXEIRA DA SILVA, 1996b).
Diante disso, começa a surgir no cenário nacional, a partir de
1988, o Governador de Alagoas à época, Fernando Collor de Mello, o
qual toma a frente nas denúncias de improbidade administrativa e
malversação de dinheiro público contra o Presidente Sarney.
No ano seguinte, o Governador de Alagoas, oriundo das
tradicionais oligarquias nordestinas e congregando a classe
conservadora e a elite, aparece como um dos 24 candidatos
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à
Presidente da República. Ao longo da campanha presidencial, a disputa
ficou estabelecida entre ele e o candidato do PT, com discurso
fortemente de esquerda (igualdade, liberdade, bem-estar, chances para
todos) em oposição à direita, que seria a representação das elites,
concentração de riquezas e cada um por si (TEIXEIRA DA SILVA,
1996b).
Collor lançou-se candidato por um partido recente, o fraco PRN,
que o colocou, nas primeiras pesquisas, nas últimas colocações, com
apenas 1% das intenções de voto. No entanto, sua campanha apelando
para várias estratégias de mídia, tecendo várias críticas a Sarney e
intitulando-se como o ―caçador de marajás‖ e ―defensor dos
descamisados‖ foi consolidando sua imagem como um candidato além
da divisão tradicional esquerda X direita. Ele construiu sua imagem
como aquele que traria a modernidade ao país, polarizando sua visão de
mundo entre moderno X atrasado.
Não bastassem essas estratégias, de acordo com BUENO (2003),
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―Os grandes partidos, com tradição política e forte inserção eleitoral, trataram de apresentar
seus candidatos naturais: pelo PMDB, o líder da resistência contra a ditadura, Ulisses
Guimarães; no PSDB, o inatacável e progressista senador Mario Covas e, mesmo o PFL,
apresenta como candidato um dos símbolos de discordância com a ditadura, o ex-vice-
presidente e fiador da candidatura de Tancredo-Sarney, Aureliano Chaves. Os dois partidos de
esquerda, PDT e PT, apresentavam suas lideranças inequívocas: Leonel Brizola e Luís Inácio
Lula da Silva. Assim, quase o conjunto da cena eleitoral era ocupado por posições centro-
esquerda; nenhum dos candidatos, mesmo Aureliano Chaves, poderia ser acusado de ser de
direita, ou empedernidamente reacionário. Apenas o PDS, com a obrigação de defender a
ditadura e sob a liderança de Paulo Maluf, bem como o pequeno PSD, com o líder dos
proprietários rurais da UDR, ocupavam o espaço da direita‖. (TEIXEIRA DA SILVA, 1996b,
p. 353).