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com o processo de desenvolvimento econômico e confrontar esta suposta teoria da renda da
terra de Smith com a teoria ricardiana dos rendimentos decrescentes. Dentro de todo este
contexto de ressurgimento da importância do pensamento smithiano, este trabalho irá analisar
uma possível “teoria da renda da terra” de Adam Smith. Em virtude do renascimento da
análise das idéias de Smith, esta dissertação tenta dar continuidade a trajetória de recuperação
e reinterpretação das idéias de Smith, ao mesmo tempo em que aborda um assunto que passou
despercebido por muitos economistas: o enfoque de Smith sobre a renda da terra. Neste caso,
faz-se importante analisar o pensamento de Adam Smith em relação aos rendimentos da terra
como forma de melhor compreender o enfoque do autor sobre este assunto e sua relação com
o processo de desenvolvimento de uma nação.
A importância da produtividade da terra na economia foi dada em um primeiro
momento pelos fisiocratas. A fisiocracia surgiu na França no final do mercantilismo como
uma resposta contra a excessiva interferência do estado na economia via regulações, leis,
normas, entre outros. Segundo esta corrente, o excesso de interferência do estado na economia
acabava por inibir o investimento e a riqueza privada. O início de tal corrente foi dado por
Quesnay
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em 1756. A fisiocracia, como corrente econômica, destacava-se por ver a economia
como um sistema dirigido por leis naturais
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. Dentro desta corrente, destacou-se Turgot por
analisar os rendimentos decrescentes na economia, antes mesmo de autores como Malthus e
Ricardo. Em seu Observation sur un mémoire de M. Saint – Péravy, provavelmente escrito
em 1767, o mesmo autor já analisava uma suposta teoria de redução de retornos.
Posteriormente, tal idéia acabou sendo usada por Ricardo em sua teoria da renda da terra.
Contudo, Smith, ao enfatizar os retornos crescentes, não a aplicou em sua teoria econômica.
A idéia de rendimentos decrescentes na agricultura também já tinha sido proposta por
Steuart em seu Principles (1767). Antes mesmo de Ricardo, outro autor que já abordava a
associação entre produtividade e agricultura era Anderson. Segundo Schumpeter (1964, p.
333), “[...] a associação de renda com rendimentos decrescentes, que haveria de ser uma das
mais características realizações do sistema ricardiano, foi estabelecida por Anderson”. Logo,
Ricardo não foi o único economista a abordar o tema renda da terra. Todavia, Ricardo teve a
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O início da fisiocracia é datado de 1756. Nesse ano, Quesnay publicou seu primeiro artigo sobre economia na
Grande Encyclopédie. O término desta escola deu-se quando Turgot perdeu seu alto posto no governo Francês e,
também, com a publicação em 1776 da “Riqueza das Nações”.
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A fisiocracia via a economia, assim como a física, “governada” por leis naturais que pudessem explicar o
sistema econômico. Também enfatizava o liberalismo econômico, a análise da agricultura como sendo única
atividade geradora de excedente econômico e minimizava a importância das trocas comerciais. Considerava as
atividades comerciais estéreis.